Os Espacos de Lazer Na Cidade
Os Espacos de Lazer Na Cidade
Os Espacos de Lazer Na Cidade
ABSTRACT: Given the diversity of possibilities for thinking of leisure in the city, this
study dedicates itself to doing it with a focus on urban planning. As a goal, the study
tried to analyze, through urbanistic legislation and other documents, how the city of
Belo Horizonte has planned its leisure areas. Has a qualitative approach, combining
Bibliographic and documentary research. In the latter, we find planning on leisure
spaces from categories: accessibility, spatial distribution, repair/ maintenance and the
construction of new leisure space. The analysis of the documents indicates, in the
Master Plan, leisure is treated with the sport, but also appears elsewhere in the
document. Questions about leisure had increased visibility when the debate was carried
out by different sectors of society, the Conference of Municipal Urban Policy.
1
Mestre em Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa
(CNPq) ORICOLÉ.
2
Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais (FaFiCH/UFMG) .
Introdução
Em um país com alto grau de desigualdade social como o Brasil tem sido
apontada a necessidade de estudos que buscam verificar como o lazer vem sendo
planejado e proposto pelo Poder Público. A questão fundamental deste estudo é como se
olhar sobre a política urbana de Belo Horizonte: há espaço para o lazer dentro do
planejamento urbano?3
considerarmos que, no início do século XX, menos de 10% dos brasileiros viviam nas
cidades. A partir da lógica capitalista o Brasil inicia neste período seu processo de
decididamente nas cidades, que se tornaram “o lugar onde tudo e todos se acumulam”,
grande massa trabalhadora. Esta última, muitas vezes, precisou se acomodar em locais
3
Dissertação defendida em março de 2010 no Programa Interdisciplinar de Mestrado em Lazer da
Universidade Federal de Minas Gerais, de autoria de Amanda Carolina Costa Silveira, sob a orientação da
Profª. Drª. Regina Helena Alves da Silva.
concentravam todos os benefícios, das áreas periféricas onde não existia infraestrutura
urbana. Este rápido panorama é importante para podemos perceber que determinados
problemas urbanos não aparecem apenas no decorrer das ultimas décadas do século XX
com o imenso crescimento de algumas cidades. Mas é importante ressaltarmos que estes
(LOPES e PERES, 2006). Isso porque, durante muito tempo, a cidade se estruturou em
torno do trabalho fabril, mas a partir deste momento ela precisa se estruturar para
dos direitos humanos na busca de uma nova forma de convivência entre seus munícipes.
Mais tarde, em julho de 2001, o Congresso Federal aprovou a Lei Federal nº. 10.257,
urbano, principalmente em relação aos espaços destinados ao lazer, depende do uso que
analisar como a cidade de Belo Horizonte planejou seus espaços de lazer, a partir da
nesta cidade. Enfatizando que o espaço público é local privilegiado de vivência social e
práticas de lazer, julgamos necessário verificar de que forma o lazer tem sido inserido
para o lazer.
urbanizou de forma bastante acelerada e muitas de suas cidades são hoje palco de uma
série de desajustes urbanos. Mas esse é um problema que afeta vários países em todo o
mundo, não sendo específico do Brasil. De acordo com Santos (2005), a América
Latina, desde o início de sua história européia, ou seja, desde a sua colonização, sempre
foi um continente aberto aos ventos do mundo, sempre foi permeável ao novo. A
aceitação mais fácil e mais pronta dos modelos de modernização tem-lhe permitido
saltar etapas, percorrendo, em muito menos tempo, caminhos que ao velho continente
acelerada, as cidades brasileiras foram alvo de várias intervenções urbanas, desde o seu
(2006), a presença popular nos espaços urbanos compunha uma realidade escrita em
negativo, ou seja, os usos populares dos espaços da cidade não se ajustavam ao padrão
daquela época foram marcadas pela intolerância social e pela repressão e perseguição às
planejamento territorial foi, até meados do século XX, dominado pelo enfoque físico-
Somente a partir do final dos anos 1970 e, com mais vigor nos anos 1980,
cidades. De acordo com Santos Júnior (2001), o centro dessa agenda tinha por base uma
desenvolvimento econômico.
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Para tanto era apontado como
de um Plano Diretor devidamente aprovado pela Câmara Municipal. Esse plano deveria
em algumas das mais importantes cidades do país, fortaleceu o movimento pela reforma
urbana na sociedade brasileira. O Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257, que entra
para melhorar a qualidade de vida das cidades e dos seus habitantes. O Estatuto aparece
ou nacional. O prazo máximo para a sua aprovação à época fora estipulado até outubro
de 2006.
Souza ressalta que planejar e gerir uma cidade não é planejar e gerir apenas
ou, sobretudo coisas (substrato espacial, mobiliário urbano etc.), mas sim planejar e
gerir relações sociais (2004, p. 178, grifos do autor). Partindo desse pressuposto,
acreditamos ser necessário pensar na cidade como o local que deve satisfazer as
que vise transformar a sociedade, garantindo o bem-estar dos cidadãos e o direito deles
à cidade, com tudo que ele representa. Nesse sentido, é através da política urbana que se
social da cidade.
muito além das conhecidas e consagradas limitações ao direito à propriedade até então
abordado pela primeira vez na constituição vigente (FREITAS, 2007). Esse autor afirma
se pode dizer da cidade. Na visão dele - considerando-se que dois terços da população
brasileira residem em municípios com mais de vinte mil habitantes - vislumbra-se nesse
e do Estado, esteja pautada por medidas que persigam a concretização de tais direitos.
Esta discussão é fundamental dado que o lazer, no Estatuto da Cidade, aparece como
Assim, interessa-nos aqui refletir sobre o lazer a partir da ótica dos direitos
sociais, destacando que ele apareceu, pela primeira vez, na Constituição Federal de
1988 como um deles. Nossa intenção é discutir os direitos não a partir de um discurso
das desgraças da vida -, nem de um discurso técnico que coloca a pobreza como
gerenciamento político (TELLES, 2006). Mas sim, como recomenda essa autora,
“colocar os direitos na ótica dos sujeitos que os pronunciam” (p.178), recusando a idéia
de que esses direitos são apenas respostas às necessidades e carências dos pobres. Tem,
apontado como uma das funções sociais da cidade e, portanto, precisa ser considerado
no planejamento urbano. Neste estudo entendemos o lazer como proposto por Gomes
(2004), ou seja, nosso ponto de partida é a cultura vista como um campo de produção
humana em várias perspectivas e o lazer como uma de suas dimensões. Assim, o lazer
autora), como o jogo, a brincadeira, a festa, a viagem, o esporte, as formas de arte, entre
outras, incluindo ainda o ócio. Segundo Gomes lazer pode ser entendido como:
relacionada a apenas um dos seus conteúdos culturais, como por exemplo, o esporte, o
cultural. O que verificamos, com maior freqüência, é a simples associação dele com
atividades. Esse caráter parcial e limitado que se observa quanto ao conteúdo dificulta o
grandes centros urbanos e na sua importância na qualidade de vida das pessoas nas
o como um direito social, como um interesse comum dos cidadãos. Tomado como um
direito social, o lazer deve ser alvo de atendimento por parte do Estado com o intuito de
garantir o bem-estar das populações. Para isso, é importante pensar em espaços de lazer
visto que, como esclarece De Pellegrin, eles se caracterizam “como espaço de encontro,
que foi na gestão de 1993-1996 que se elaborou e aprovou o Plano Diretor de Belo
do Solo). Durante o período compreendido entre agosto de 1995 e agosto de 1996, tais
Projetos de Lei tramitaram na CMBH a fim de passar pelo processo de aprovação. Foi
então constituída uma Comissão Especial para apreciar e propor emendas a esses
4
Para mais informações sobre esse processo de elaboração do Plano Diretor de Belo Horizonte e da nova
LPOUS, bem como sobre a realização das Conferências Municipais de Política Urbana, consultar
dissertação intitulada Um olhar sobre a política urbana de Belo Horizonte: há espaço para o lazer dentro
o planejamento urbano?de autoria de Amanda Carolina Costa Silveira (2010).
cidade.
que foi elaborada e aprovada juntamente com o Plano Diretor, contém normas para a
Belo Horizonte, foi criada a Conferência Municipal de Política Urbana (CMPU). Tal
Conselho Municipal de Política Urbana (COMPUR), que tem, dentre suas atribuições, a
realização, a cada quatro anos, destas Conferências (Lei 7.135/96, art. 80). Dentre os
5
Compõem a legislação urbanística, além do Plano Diretor e da LPOUS, o Código de Posturas, o Plano de
Classificação Viária, o Código de Obras, as leis ambientais e as leis de proteção do patrimônio histórico e
cultural (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2001-2002).
contida na construção de propostas de alteração nas leis 7.165 e 7.166, ambas de 1996,
considerando-se que a cidade ainda não havia absorvido o impacto das proposições
nelas contidas. Foram feitas resoluções acerca de cada tema e propostas de ajuste no
sobre a cidade. Ela teve início em outubro de 2001, tendo terminado somente em
outubro de 2002. Tal conferência teve várias fases: 1 – O Ciclo de Palestras; 2 – As Pré-
diagnóstico da cidade que somos; desenvolvimento das propostas para a cidade que
Todo esse processo produziu rico material sobre a cidade. No ano de 2009
foi realizada a III CMPU6, com certo atraso, se formos levar em conta que tais
aqui que estas são duas formas de debate, embate e interesses diferentes. Em cada uma
delas existe um tipo de representação política, ou seja, são atores diferentes, debatedores
diferentes.
6
Esta Conferencia não é objeto deste trabalho.
Queremos frisar aqui que o que estamos chamando de Política Urbana é todo
consideramos como política urbana não somente o documento final, a lei stricto sensu,
mas sim esse entremeio, esse emaranhado, o processo de pensar a cidade. Entendemos
também que a Política Urbana pode ser entendida como resultante de um espaço público
que não é consensual. Ao contrário, um espaço público que mostra uma imensa
conflitos. Uma noção de espaço público constituído pela discussão, embate, conflito,
importantes para este trabalho7 não nos baseamos apenas no rastreamento de termos
campos de futebol, áreas verdes, parques, praças, etc. Delimitamos, assim, os espaços
que podem ser considerados espaços para a vivência do lazer, embora nem sempre
fossem apontados como tal. Selecionamos, ainda, outros termos que, apesar de
7
-‐
Projeto de Lei nº. 314/95, referente ao Plano Diretor de Belo Horizonte;
- Atas de reuniões da Comissão Especial formada por vereadores da Câmara Municipal de Belo
Horizonte (CMBH), constituída para proceder a estudos sobre o Plano Diretor;
- Atas de Audiências Públicas realizadas na CMBH para a aprovação dos projetos de Lei do Plano
Diretor e da LPOUS, realizadas entre agosto de 1995 e agosto de 1996.
- Legislação Urbanística:
Lei 7.165/96 - Plano Diretor de Belo Horizonte.
Lei 7.166/96 – LPOUS de Belo Horizonte.
Lei 8.137/2000 - Altera as leis nº. 7.165 e 7.166.
- Instrumento de monitoramento da Política Urbana de Belo Horizonte:
Anais da I Conferência Municipal de Política Urbana, 1999.
Anais da II Conferência Municipal de Política Urbana, 2001/2002.
No caso dos espaços públicos, não podemos afirmar que eles foram
planejados para possibilitar a vivência do lazer, já que também servem a vários outros
fins. Mas não podemos deixar de considerar o tratamento que é dado aos espaços
públicos nos documentos analisados, pois se estes têm múltiplos usos, existe a
retomada da qualidade dos espaços de uso público da cidade para que estes deixem de
Essas quatro categorias não foram escolhidas por acaso. Elas refletem o
nosso entendimento sobre o que são espaços de lazer em uma cidade e correspondem ao
que denominamos elementos constitutivos dos espaços de lazer. Melhor definindo, não
estamos nos referindo apenas aos espaços físicos onde as pessoas podem estar - ocupar
um pedaço - para vivenciar o seu lazer. Estamos nos referindo a uma série de questões
8
A própria Legislação Urbanística caracteriza-os da seguinte forma:
o Equipamentos comunitários: “equipamentos públicos destinados à educação, saúde, cultura,
lazer, segurança e similares” (LPOUS, art. 21, § 2º).
o Espaços livres de uso público: “espaços livres de uso público são áreas verdes, praças e
similares” (LPOUS, art. 21, §4º).
o Centralidades: “são os espaços de convivência para a comunidade local ou regional, como
praças, largos e similares, bem como os monumentos e as demais referências urbanas” (Plano
Diretor, art. 13, § 2º).
que nos permitem identificá-los como espaços onde direito ao lazer se manifesta.
Assim, para entendermos esses espaços de lazer não estamos pensando apenas no seu
cidadãos têm de usufruir desses espaços, o que nos leva à discussão a respeito da
acessibilidade. Para tal é necessário que os espaços sejam distribuídos de tal forma que
ordenamento da ocupação e do uso do solo, este deve assegurar, entre outras questões, a
Dentre os vários fatores arrolados que precisam ser levados em conta para
melhorar a qualidade de vida no município (art. 6º) estão: a alta concentração espacial
9
Conforme o artigo 7º do PDBH, encontra-se que Área Central é a área delimitada pela Avenida do
Contorno e Hipercentro é a área compreendida pelo perímetro iniciado na confluência das avenidas do
Contorno e Bias Fortes, seguindo por esta, incluída a Praça Raul Soares, até a Avenida Álvares Cabral,
por esta até a Rua dos Timbiras, por esta até a Avenida Afonso Pena, por esta até a Rua da Bahia, por esta
até a Avenida Assis Chateaubriand, por esta até a Rua Sapucaí, por esta até a Avenida do Contorno, pela
qual se vira à esquerda, seguindo até o Viaduto da Floresta, por este até a Avenida do Contorno, por esta,
em sentido anti-horário, até a Avenida Bias Fortes e por esta até o ponto de origem. Ou seja, a Área
central inclui o Hipercentro.
(inciso XV).
periferia e, estando afastados das áreas centrais, ficam desatendidos em muitos aspectos,
Plano Diretor destaca, entre as diretrizes de intervenção pública nos centros e nas
centralidades (art. 13), que se deve estimular o surgimento de centros para fora do
lazer. Como asseguram Peres Neto; Castro (2007), tem havido um movimento de
Lazer (art. 39), diz o inciso II: “promover a distribuição espacial de recursos, serviços e
10
De acordo com o art. 13 do Plano Diretor, os Centros são as concentrações de atividades comerciais e
de serviços dotadas de ampla rede de acesso e grande raio de atendimento (§ 1º). Já Centralidades são os
espaços de convivência para a comunidade local ou regional, como praças, largos e similares, bem como
os monumentos e as demais referências urbanas (§ 2º).
regiões do Município”.
fato, é uma diretriz necessária e positiva em termos do lazer. Afinal, uma melhor
distribuição espacial possibilitará um maior acesso ao lazer por toda a população belo-
horizontina. Entretanto, sobre isso precisamos nos ater com maior atenção. Lemos et al
bairros caracterizados por uma população de média e baixa rendas correspondem aos
pontos de maior incidência dos campos de futebol. Deste modo, falar que se deve
num diagnóstico posterior, poder-se-ia concluir que o plano atingiu o seu objetivo, mas,
Aliás, um dos objetivos dessa Conferência foi fazer um diagnóstico da cidade em seus
vários aspectos.
periferias. Em um dos seus textos, que trata da Distribuição das Atividades e Centros
fornecidos para a discussão geral sobre a cidade, como: da população total do município
HORIZONTE, 2001-2002). Isso quer dizer que as vilas, favelas e conjuntos de interesse
social são as áreas onde mais pessoas vivem num mesmo espaço e, mesmo assim, são as
mais desatendidas nos diversos setores, inclusive com reclamações gerais de ausência
nas vilas e favelas; o reduzido número de espaços culturais públicos nas periferias; a
11
Foi elaborado um Caderno de Textos destinado a subsidiar o primeiro momento das pré-conferências
tanto temáticas quanto regionais, quando os participantes se dedicaram à discussão geral sobre a cidade.
tais como cinemas, teatro e centros poliesportivos. Reza o texto que os espaços públicos
grande número de espaços culturais e de lazer nessa região como ponto positivo.
positivos em relação à distribuição espacial das áreas de lazer, na parte dos temas gerais
regiões da cidade; afirmam que há criação de novas praças na periferia; que existem
áreas de lazer regionais, como o Parque das Mangabeiras e o Parque Lagoa do Nado e
que os pontos positivos acima citados foram poucos, quando comparado com os pontos
negativos levantados.
são exaltados como pontos positivos pelos participantes. Entretanto, em quase todas as
regional. Isso não é apontado apenas pelas Regionais Centro-Sul e Pampulha, que são
foram os que mais se queixaram da ausência de espaços de lazer. Esta região é uma das
(RODARTE et al, 2008) e é bastante afastada da região central do município, sendo que
é nesta última onde se concentra a maioria dos espaços de lazer de Belo Horizonte. Os
áreas verdes que podem ser transformadas em parques e áreas de lazer, reclamaram da
insuficiência dos espaços de lazer. Isso foi citado por doze vezes, no item Tema Livre,
Alguns espaços de lazer que são referência para os moradores dessa região,
realizada por Rodarte et al (2008) como a única UP da região Norte com baixo Índice
etc.). Com tantas demandas em tantos setores desatendidos pelo Poder Público, os
questões relacionadas aos espaços de lazer são lembradas como algo importante e
diferentes das outras regionais. Merece destaque o fato de a população que vive nessas
Venda Nova, Nordeste e Barreiro, sobretudo. Tal realidade explica, pelo menos em
parte, os contrates entre essas regiões e a disparidade nos pontos exaltados pelos
participantes.
região no seu aspecto econômico e social sustentável com setores que priorizam a
cultura, lazer, esporte e turismo na orla a lagoa. Ou seja, percebemos que há intenção de
melhorar a qualidade de vida urbana, a alta concentração das atividades urbanas. Para
tal é preciso preconizar a descentralização dessas atividades, inclusive dos espaços para
lazer em várias regiões da Capital e consideram, dentro das próprias regionais, essa
O Plano Diretor, em seu Artigo 10, assinala como diretrizes da política urbana,
uma das diretrizes de intervenção pública nos centros e nas centralidades, é estabelecer
de lazer, mas sim a acesso aos equipamentos comunitários e aos espaços públicos, é
entre eles os de lazer; já os espaços públicos também podem abrigar diversos usos,
como a apropriação do espaço para fins de lazer. Assim, tais diretrizes podem nos
vias de ligação às áreas de adensamento preferencial e aos pólos de emprego (inciso I).
Entretanto, percebemos que a ênfase dada a essa questão ainda é pequena, quando
às formas de esporte e lazer, mediante oferta de rede física adequada (inciso III). Desse
modo, a questão da acessibilidade aos locais de lazer aparece como uma das diretrizes
direito constitucional.
Diretor. Importante destacar que nessa Conferência a questão do acesso passou a ser
2006).
obstruir os acessos de uso coletivo, tais como avenidas, alamedas, travessas, ruas,
escadarias, becos ou passagem de uso comum, além dos espaços de uso coletivo já
existentes, como praças e áreas de lazer, ainda que não derivados de parcelamento
aprovado.
parte, na região Centro-Sul. Eis o que nos diz este trecho a esse respeito:
Além desses fatores que dificultam a utilização dos espaços públicos, apontam
urbana.
Pampulha. Com o vimos, isso foi bastante ressaltado pelos participantes das pré-
os espaços serem centralizados, por exemplo, já é um fator agravante para o acesso, pois
fatores socioeconômicos”.
de forma diferente das outras regiões, grande parte dos seus equipamentos e locais de
acesso da população carente aos espaços de lazer tais como Zoológico, Palácio das
(MARCELLINO, 2004) aos espaços de lazer. Isso porque, embora a garantia de acesso
aos locais de lazer esteja expressa no Plano Diretor, os participantes das Pré-
Conferências indicaram que ainda há muito que ser feito para democratizar o acesso da
econômico contribui muito para a vivência desigual desse direito e para a apropriação
baixa freqüentação da população e identificação dela com os espaços de lazer, uma das
Cidade que Queremos, uma das diretrizes aprovadas diz o seguinte: “criar e garantir ou
segurança for considerada no planejamento urbano e for colocada em prática por meio
de políticas públicas, a presença das pessoas nos espaços de uso público para fins de
para a sociabilidade e apropriação mais rica da cidade. Mas, para isso, os espaços de
lazer sem condições de uso precisam ser recuperados e todos eles precisam ser alvos de
reflexão.
espaços são encontradas vários momentos. Nas diretrizes de intervenção pública na área
promover a recuperação de áreas públicas e verdes (art. 11, § único, II). Nas diretrizes
fim, nas diretrizes relativas ao meio ambiente: “recuperar e manter as áreas verdes,
aparece a palavra lazer. Mas as outras expressões usadas, tais como: áreas públicas e
vivência do lazer.
relativo à manutenção e/ou recuperação dos espaços de lazer. Por outro lado, menciona-
expressão espaços de lazer não aparece nos anais e sim espaços públicos esportivos.
Estes incluem os centros poliesportivos, os campos de futebol, etc., espaços esses muito
manutenção dos espaços de lazer de Belo Horizonte. Mas o documento A cidade que
somos: síntese apresenta informações importantes acerca dessa questão no item Espaços
Ambientais.
Por outro lado, mesmo com o crescimento da cidade, de acordo com o item
esse trecho:
quatro temas foram abordados os seguintes pontos positivos: preservação dos parques e
Entretanto muitos pontos negativos foram indicados pelos participantes dessas Pré-
carência de uma gestão do espaço público que englobe a participação popular e a falta
desatenção com os espaços públicos da periferia (ou seja, maior preservação de áreas
dessas áreas, sendo que a preservação e manutenção de áreas verdes é maior na região
espaços de lazer. É importante ressaltar esta questão, pois espaços que poderiam ser
freqüentação, além de levar a população a não identificá-los como locais propícios para
espaços, como áreas verdes, praças e parques, podem ser apropriados para a vivência do
lazer, mas eles não são, nos documentos analisados, nomeados como tal. Assim,
estariam incluídos, mas também outros espaços, tais como quadras poliesportivas,
campos de futebol, cinemas, teatros, entre outros. Isso posto, a proposição poderia ter
cidadãos, nas atividades e práticas de lazer que ali poderiam ser desenvolvidas para e
pela população em geral. No caso do Plano Diretor, na parte específica que trata do
lazer (art. 39) juntamente com o esporte, não há nenhuma diretriz acerca da recuperação
que os espaços existentes, além de escassos e centralizados, muitas vezes não estejam
que esse ponto seja incluído na próxima reformulação do Plano Diretor de Belo
o Nas diretrizes relativas ao meio ambiente: “criando novos parques e praças” (art.
vale, mediante a implantação de áreas verdes e de lazer” (art. 23, inciso V);
inciso II);
de futebol e áreas de lazer em todas as regiões do Município” (art. 39, inciso X).
o No plano de urbanização das áreas ocupadas por favelas, que deve conter as
VII);
indicação de tratamento urbanístico e paisagístico dessas áreas para que elas sejam
prática de esportes em seu interior e em sua orla. O espaço da lagoa estava bastante
da Lagoa – que foi construído para ser um pólo de lazer e turismo de Belo Horizonte -,
Lazer, o que vem ao encontro de uma diretriz básica do Plano Diretor de Belo
12
ADEMG: Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais. Tem por finalidade a administração
de estádios próprios ou de terceiros, mediante convênios, observada a política formulada pela Secretaria
de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes. Informação disponível em:
<http://www.ademg.mg.gov.br>. Acesso em 20/10/2009.
Ao abordar este tema nos deparamos, no Plano Diretor, com uma diretriz
relativa à elaboração de um plano de urbanização das áreas ocupadas por favelas (Art.
42, § único, IV c), que diz respeito à instalação de equipamentos urbanos e comunitários
Nessa lei, em seu artigo 21, consta, em relação aos loteamentos, que é
público. No parágrafo 5º desse mesmo artigo, afirma-se que o percentual que deve ser
estrutura. O que ocorre recorrentemente, então, é a venda ilegal de lotes não servidos de
cartoriais.
mais longe que o tratamento do reconhecimento e registro dos lotes: há toda uma
extensão de áreas públicas a serem revertidas a bem da população”. Diz esse trecho:
construção de moradias implica pensar que a moradia não se restringe a apenas a casa,
mas inclui a residência e seu entorno. Outro ponto importante é que não basta destinar
desses. Isso se relaciona diretamente com a terceira questão que queremos destacar:
destinar áreas para a construção desses equipamentos não deve ser visto como mera
formalidade, uma obrigação de cumprir os percentuais exigidos pela lei, mas sim como
uma necessidade das comunidades. Nessa perspectiva, devem ser criadas áreas coletivas
que atendam às demandas da população. Para isso, é preciso pensar em uma a política
habitacional que leve em consideração as várias dimensões da vida humana, dentre elas,
o lazer. Isso ainda se configura como um desafio para as grandes cidades do nosso país,
recorrente: solicitam que áreas ociosas / vazias sejam transformadas em espaços de lazer
que possam ser apropriados pela população. Assim, o fenômeno lazer teve notoriedade
Acreditamos que isso se explica porque essa região já concentra grande parte dos
duas se destacaram, em relação aos Espaços Públicos: ampliar a oferta de espaços que
de uso público.
da criação de novos espaços tenham tido como resultado a elaboração de uma diretriz
Considerações Finais
necessita de mais espaços de lazer e esperam que eles estejam mais bem distribuídos
e culturais, em recuperar o hipercentro para que ele seja lugar de permanência e ponto
espaços de lazer.
diversas vezes questões referentes ao lazer indica que, embora o tema tenha sido
abordado apenas de forma indireta nos cadernos de textos, ele foi considerado uma
questão importante para a cidade, haja vista o destaque dado pelos participantes das pré-
conferências.
indicou que a demanda por espaços de lazer é muito mais frequente que por postos de
saúde, escolas, etc., o que contraria uma proposição comum de que existe uma escala de
prioridades segundo a qual, dentre todas as necessidades humanas, o lazer se situa entre
realizada por Lemos et al (2004), que constataram que, nos conjuntos de centros
situados nas regionais, grande parte das demandas do Orçamento Participativo é voltada
Entretanto, apesar de ter sido uma questão tão falada nas conferências,
ainda é tratado de forma restrita. O lugar que o direito ao lazer ocupa na formulação da
que o debate acerca do lazer ganhe visibilidade e mobilizem-se esforços para que ele
com o quadro exposto, esse tema ganha maior visibilidade quando é debatido pela
resta dúvida de que o espaço urbano é um espaço político, palco de diferentes interesses
históricos. Assim, fazemos nossas as palavras de Souza quando diz que “é óbvio que
mecanismos de gestão precisam ser entendidas como uma teia de relações permeadas
esta zona de tensão que constitui as cidades e seus espaços a partir de um amplo
discutem as intervenções que vem sendo propostas para o lazer na cidade, cabe agora
REFERÊNCIAS
. Lei nº. 8.137, de 21 de dezembro de 2000. Altera as leis nº. 7.165 e 7.166,
ambas de 27 de agosto de 1996, e dá outras providências. Disponível em:
<http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxon
omiaMenuPortal&app=regulacaourbana&tax=15478&lang=pt_BR&pg=5570&taxp=0
&>. Acesso em: 20 jun. 2010.
LEMOS, Celina Borges (Coord.). Belo Horizonte Século XXI. Módulo 2: A questão
intra-urbana. Sub-módulo: O Município e suas representações socioculturais e
urbanísticas. 2004. (Relatório de pesquisa). Disponível em:
<http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/pbh/arquivos/mod2parte1.pdf>. Acesso em: 10
dez. 2009.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade. Uma introdução crítica ao planejamento
e à gestão urbanos. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 560 p.
TELLES, Vera da Silva. Direitos sociais: afinal do que se trata? Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 2006. 194 p.