As Situações Didáticas de Leitura - CEDAC
As Situações Didáticas de Leitura - CEDAC
As Situações Didáticas de Leitura - CEDAC
os problemas vividos por qualquer escritor no que se refere à linguagem que utiliza-
Este caderno é composto de quatro partes, cada uma delas relativas a um tipo especí-
rá: que palavras usar, como organizá-las para que aquilo que se quer expressar fique
fico de situação didática. As situações serão abordadas, num primeiro momento, con-
claro, bem escrito e adequado à situação comunicativa em que tal texto se insere.
siderando as aprendizagens mais importantes que propiciam, as condições didáticas
Nessas situações, os alunos aprendem algumas das práticas comuns aos escritores
que devem ser garantidas e as etapas necessárias a seu encaminhamento. Em segui-
quando estão às voltas com a produção de um texto: planejar previamente o que se
da, há exemplos de atividades que ocorreram em salas de aula de diferentes municí-
vai escrever, refletir sobre a melhor forma de realizar essa escrita e reler o que já
pios do Brasil, que consideramos como referências para outras que possa ser propos-
escreveu para aprimorar o texto.
tas no contexto de um projeto didático, de uma sequência de atividades ou atividade
habitual de leitura ou de escrita. Esses exemplos são apresentados primeiramente
na íntegra e, em seguida, alguns trechos referentes às intervenções realizadas pelos
professores são destacados e comentados. Nesses comentários procuramos desvelar
a intencionalidade do professor ao realizar tais intervenções. As situações didáticas Escrita pelo aluno página 102
que apresentaremos são: Nas situações em que escrevem por si mesmos, os alunos colocam em jogo todos os
conhecimentos já construídos sobre o sistema de escrita e sobre as convenções da
língua – que letra usar, quando introduzir espaços entre as palavras, como ocupar o
espaço do papel. Para o professor, essas são situações valiosas para observar aquilo
Leitura pelo professor página 8 que cada aluno já sabe sobre a escrita. Para os alunos, é possível sistematizar o que
já sabem sobre o funcionamento da escrita, de forma a melhor dominá-la. Mesmo
Ao ler para os alunos textos que estes não têm condições de ler sozinhos, o professor
que se trate de um momento em que a escrita cabe ao aluno, ele não estará sozinho
não apenas promove o acesso ao texto como garante uma experiência compartilhada
nessa empreitada, pois poderá contar com a ajuda de colegas, quando estiver tra-
entre todo o grupo. Dessa forma, permite que os alunos conheçam diferentes gêneros
balhando em duplas ou quartetos, com quem discute diferentes ideias sobre o uso
textuais, considerando seus usos sociais. Além disso, por meio de seu comportamento,
e a função das letras, confronta o que sabe, troca informações sobre como escrever.
fornece a eles um modelo de leitor: mostra a melhor forma de dar voz a um texto e
O professor também tem um papel importante nessa situação, propondo questões e
compartilha com os alunos os problemas, os prazeres e as estratégias de que um leitor
trazendo informações que favoreçam aos alunos acionarem todos os conhecimentos
lança mão para construir um sentido para o texto.
que já construíram.
As situações didáticas apresentadas podem ocorrer em diferentes contextos: ora
o professor realiza a atividade habitual de leitura de contos para seus alunos; ora
Leitura pelo aluno página 36 a leitura do professor ocorre no contexto de uma sequência de atividades em que
são estudados determinado tema; em outro momento os alunos devem escrever
Cumpridas algumas condições, os alunos podem realizar algumas atividades de leitu- por si mesmos as legendas para acompanhar imagens como parte do produto
ra antes mesmo de dominar o funcionamento do sistema alfabético de escrita. Criar final de um projeto didático a que o grupo se dedica; ou, ainda, numa atividade
momentos em que isso ocorra com frequência na sala de aula favorece aos alunos co- ocasional em que se dedicam à preparação de um alimento e devem ler a lista de
locar em jogo todos os conhecimentos que já construíram sobre o sistema de escrita, ingredientes de uma receita.
além de permitir que aprendam a ler. Isto é, que compreendam que ler é atribuir sen-
tido aos textos escritos e que é possível fazer isso quando se conta com informações Como parte da coleção Formação na Escola as Situações Didáticas formam uma coletâ-
sobre o texto que permitam antecipar o que pode estar escrito e, depois, verificar se nea de referências para a realização de aulas diversificadas. Permitem ao leitor com-
tais antecipações são pertinentes. preender melhor o funcionamento das atividades propostas nos outros cadernos da
coleção – Projetos, Sequências de Atividades e Atividades Habituais – nos quais são feitas
várias citações das situações didáticas aqui desenvolvidas. Sugerimos que a leitura
desse caderno ocorra de modo articulado com a leitura dos outros e esperamos que o
professor possa refletir sobre cada situação didática e, assim, planejar mais detalha-
Escrita por meio do professor página 78
da e intencionalmente o encaminhamento de suas aulas.
Mesmo antes de dominarem o sistema de escrita alfabético, as crianças já têm con-
dições de produzir textos escritos, se para isso contarem com alguém que desem-
penhe o papel de escriba de sua produção. Nessa situação, o professor assume esse
Leitura pelo professor
Ao refletirmos sobre o ensino da leitura, é comum pensarmos na capacidade que uma para que ela realmente atinja os objetivos propostos, com que frequência deve ser
criança vai desenvolvendo de compreender, sozinha, o que as letras representam e de realizada, que tipo de material usar, qual deve ser o seu tempo de duração para que
reconhecer seu traçado para, então, conseguir compreender uma mensagem escrita. seja produtiva – enfim, é preciso refletir sobre tal atividade como uma situação didá-
Independentemente das questões metodológicas envolvidas, é bastante comum associar- tica, a qual só atingirá o que é esperado se forem consideradas as condições que a
mos a aprendizagem da leitura com o aprender a juntar as letras por si mesmo e à tornarão uma atividade realmente produtiva para aquele que aprende.
capacidade de expressar oralmente um texto escrito.
Nesse mesmo contexto, uma atividade trivial, como a leitura de histórias para crian-
ças pequenas, uma prática antiga e carregada de intimidade e de afeto, mais próxima Condições didáticas
do contexto familiar e dos rituais que antecedem o momento de a criança dormir,
Para que a leitura de contos realmente contribua para a entrada das crianças no uni-
manteve-se por muito tempo marginal e desassociada do ensino da leitura. Tratadas
verso literário, é interessante observar alguns cuidados que facilitem que esse ingresso
como mais uma prática característica dos cuidados com a infância, essa atividade não
se dê de maneira tranquila. A escolha das primeiras histórias, o tempo destinado à
era relacionada à aprendizagem formal da leitura.
atividade, o modo de tratar o texto são aspectos que podem contribuir para o maior
O prazer das crianças pequenas ao ouvirem um adulto contando ou lendo uma histó- envolvimento das crianças.
ria contribuiu para que essas atividades entrassem nas salas de aula, especialmente
Já assinalamos que não é recomendável trabalhar com textos de vocabulário empobre-
na educação infantil e nos primeiros anos da escolaridade básica. Como uma “conta-
cido. Tal orientação convive com a preocupação de, inicialmente, buscar histórias com
minação” das práticas familiares, as situações em que professores leem histórias para
trama linear, de estrutura canônica, ou seja, que se caracterizem por apresentar um
crianças pequenas são consideradas uma prática corriqueira há algum tempo.
estado inicial de equilíbrio, um conflito que rompe tal situação e desencadeia vários
Estudos em psicologia infantil evidenciaram que as histórias infantis, especialmente episódios até que se alcance a resolução e se restabeleça o equilíbrio inicial. Os textos
os contos tradicionais, têm um valor importante no desenvolvimento emocional das devem apresentar fórmulas tradicionais em seu início (era uma vez) e fim (foram felizes
crianças, por permitir lidar com sentimentos conflituosos que fazem parte de seu para sempre) como ocorre nos contos de fadas clássicos. São também recomendáveis
universo psíquico e também porque permitem acesso a um universo fantástico que as histórias de repetição, em que uma frase ou situação se repete pelo livro todo, e os
enriquece a imaginação dos pequenos. contos de acúmulo, em que a cada nova personagem que surge na história, repete-se
No entanto, é recente o reconhecimento da importância da leitura para as crianças para a sequência de todas as que já apareceram antes. Por sua estrutura narrativa muito
a aprendizagem da leitura e da escrita, o que foi impulsionado por pesquisas recentes, simples, pela possibilidade de antecipar e repetir juntos as partes que se repetem, esses
que lançaram luz na relação direta existente entre a participação de crianças pequenas contos têm uma aceitação ótima entre os leitores iniciantes – e entre os mais experien-
em práticas mediadas pela escrita de um lado e o sucesso na alfabetização de outro1. tes também!
Tal relação emprestou outro colorido à leitura que o professor realiza para seus alunos. É a partir dessas histórias com um enredo mais simples que é possível favorecer o
Hoje sabemos que imaginar uma criança de 4 anos acompanhando a leitura em voz alta avanço dos alunos como leitores de literatura, preparando-os para o acesso a histórias
feita por sua professora, seu olhar de surpresa, os sentimentos de satisfação, alegria ou mais complexas, em que a trama linear deixa lugar a outras em que várias aventuras
medo provocados e seus pedidos constantes para ouvir novamente a história signifi- se desenvolvem concomitantemente, vividas por personagens secundárias, ao mesmo
cam, também, imaginar uma criança em processo de aprendizagem da leitura, de modo tempo que acontece a trama principal. A vivência como leitores de contos de estrutura
semelhante àquela que arduamente enfrenta as letras para compreender um texto. canônica possibilitará que se divirtam com transgressões a esse gênero, como histórias
em que aparecem bruxas boas e princesas más. Tais possibilidades de ruptura com as
É preciso, porém, definir com maior clareza em que sentido a leitura de um adulto
expectativas dos leitores são interessantes porque permitem que eles comparem essas
contribui para formar leitores e escritores, que habilidades relacionadas à aprendi-
histórias com os contos já conhecidos e tomem consciência de que nem sempre deter-
zagem da linguagem escrita são favorecidas pelo ato singelo de ler uma história para
minadas características se repetem necessariamente em todas as histórias.
uma criança. Mesmo que a leitura do professor se inspire, num primeiro momento, em
práticas familiares carregadas de afeto, ao fazer parte da rotina da sala de aula essa Ao longo da vida escolar, o contato frequente dos alunos com os textos literários amplia
prática passa a ser reconhecida como uma situação de ensino e requer a reflexão dos sua experiência de leitores, proporcionando os elementos necessários para enfrentar
educadores para que realmente cumpra seu papel. Dito de outra forma: ao fazer parte textos cada vez mais complexos.
das situações que favorecerão a aprendizagem, é preciso que se reflita sobre qual o A simplicidade da trama, apontada como um critério que deve ser considerado ao es-
aprendizado que essa leitura propicia, quais as condições que devem ser garantidas colher o que ler para crianças pequenas, não deve ser, no entanto, o único critério. É
1
Referência ao trabalho das professoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky publicado no Brasil com o título Psicogênese da Língua importante, além disso, que o professor busque textos que encantem, que emocionem,
Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
que divirtam, no caso da leitura de textos literários.
Independentemente do gênero textual lido, a conversa que ocorre após a leitura é É importante buscar contos que sejam interessantes do ponto de vista literário,
importante para garantir que os alunos compartilhem interpretações sobre determi- evitando aqueles em que a linguagem é simples ou infantilizada, para que os alu-
nadas passagens ou sobre o texto como um todo e possam chegar a um sentido cons- nos realmente tenham acesso a uma produção que amplie seu repertório de possibi-
truído conjuntamente sobre o que foi lido. lidades de compreensão e de expressão. É inegável que o contato com uma linguagem
mais rebuscada é um fator decisivo para enriquecer o vocabulário e repertório de
Compartilhar leituras com os alunos contribui para que o grupo se constitua numa
formas expressivas verbais das crianças.
comunidade de leitores, ou seja, seus membros não apenas leem juntos, mas apren-
dem a partir da leitura, trocam impressões, recomendam textos uns para os outros, Além das aprendizagens mencionadas acima, a prática usual de leitura coloca o pro-
viajam pelos prazeres da literatura e, consequentemente, têm espaço para trocar as fessor como modelo privilegiado diante de seus alunos. E é atuando como modelo que
marcas que essa experiência compartilhada deixou em cada um. poderá comunicar a relação prazerosa que é possível estabelecer com os textos, bem
como observar o valor da leitura, conteúdos fundamentais para formar leitores.
2
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, volume 3, pág. 143. Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998
Neste exemplo, os alunos de uma classe de Educação Infantil de uma escola municipal de Arari (MA) acompanham [...]
a leitura feita pela professora de um texto com informações sobre o lobo-guará. Essa leitura ocorreu no contexto de um
Professora – Vocês acham que o lobo-guará é muito grandão?
projeto de estudo sobre animais brasileiros. No final desse trabalho, as crianças apresentaram seminários sobre os animais
estudados para os colegas de outra classe. As crianças estão sentadas nas cadeiras organizadas em semicírculo, de frente Paulo – Não! Ele é pequeno!
para a lousa; a professora está em pé de frente para elas.
Luís – Do tamanho da onça!
antes da leitura comentário Professora – Qual o animal que nós escolhemos?
Professora – Será do tamanho da onça? Ele pesa de 20 a 23 kg, então ele
para que os alunos
antecipem
1
página 33
Ricardo – A onça! é um animal pequeno. Vamos ver as curiosidades de vocês – apontando as
perguntas escritas na lousa. O que ele come? Vocês já me responderam que
o que será lido Professora – A onça? Foi, Ricardo?
ele come carne, come inseto e come frutas. (Essas respostas foram encontradas
Crianças – O lobo-guará! durante a leitura do texto.) Ele corre muito? Será que ele é veloz como a anta?
Professora – Foi o lobo-guará. Vocês lembram do animal que nós Crianças – É!
estudamos antes do lobo-guará? – e aponta para uma lista de animais
Professora – Vocês ouviram eu falar aqui que ele é um bicho muito veloz?
afixada na parede da classe, ao lado da lousa. – Qual foi?
Paulo – Ouvimos!
Crianças – A anta!
Professora – Ouviram? Eu disse isso? Agora vocês precisam ficar atentos comentário durante a leitura
Professora – A anta. Muito bem! Hoje nós vamos estudar sobre o lobo-
antes da leitura
para que os alunos
comentário
2 guará. Alguém já ouviu falar alguma coisa sobre ele?
e observar se o texto vai dizer se ele sai à noite para comer; se ele dorme de
dia ou dorme à noite. Posso ler? Prestem bastante atenção.
4
página 35
para que os alunos
antecipem o que será lido
antecipem página 34 Crianças não respondem.
o que será lido Crianças – Pode!
Professora – Nadinha sobre o lobo-guará? O que vocês querem saber sobre ele?
A professora continua a leitura.
Luan – Estudar.
[...]
Professora – Estudar o quê? Quais as curiosidades que vocês têm sobre
Professora – Existe lobo-guará no Brasil?
esse animal?
Crianças – Existe!
Roseane – O que ele come.
Professora – Muito bem, existe lobo-guará no Brasil! Mas nós não comentário após a leitura
Professora – O que ele come, muito bem!
Tiago – Se ele come carne...
achamos a resposta para essas perguntas, as curiosidades – apontando
as perguntas na lousa – se ele é muito veloz; se sai à noite para comer,
5
página 35
para favorecer a
recuperação
se dorme de dia ou de noite. Este livro aqui não deu para matar nossa do que foi lido
Professora – Muito bem! Mais outras perguntas, que mais vocês
querem saber? curiosidade, mas eu vou pesquisar e, na próxima aula, vou trazer outro livro
que fale sobre o lobo-guará, está bom?
Paulo – Se ele corre muito forte.
Professora – Se ele corre muito. O que mais? i n t e rv e n çõ e s
antes da leitura
Kleberson – Se ele come onça. comentário
para que os alunos
Luís – Se ele sai à noite para comer...
1 antecipem o que será lido
Nesse trecho, a professora prepara a leitura, trazendo algumas in-
A professora vai anotando na lousa as perguntas das crianças sobre o Professora – Qual o animal que nós
formações que a localizam em um trabalho maior que o grupo está
escolhemos?
lobo-guará. desenvolvendo. Ela retoma com a turma o estudo que vêm reali-
zando sobre animais, indicando o cartaz afixado na sala de aula. Ao Ricardo – A onça!
Vera Lúcia – Se ele dorme na mata. situar a leitura, dá aos alunos pistas quanto ao objetivo: pesquisar Professora – A onça? Foi, Ricardo?
informações científicas para aprender sobre o animal estudado.
Professora – Agora eu vou ler e vocês vão ficar atentos para ver se vão Crianças – O lobo-guará!
achar alguma resposta para essas perguntas: se dá para saber como ele Trata-se de ler para estudar e, como ocorre nas situações desse Professora – Foi o lobo-guará. Vocês
tipo, o objetivo da leitura fica delimitado: é preciso atenção às in- lembram do animal que nós estudamos
come, como ele se alimenta, como ele vive. formações veiculadas, pois, provavelmente, haverá a necessidade antes do lobo-guará? – e aponta para uma
Inicia a leitura do texto. de recuperá-las, o que farão no seminário em que compartilharão lista de animais afixada na parede da classe,
o que aprenderam. Ao lembrar os animais que já foram estudados, ao lado da lousa. – Qual foi?
durante a leitura comentário
Professora – “...e o lobo-guará está sob séria ameaça de extinção”. – Vocês ela também dá dicas: essa leitura, provavelmente, seguirá passos
Crianças – A anta!
3 sabem o que quer dizer extinção? É desaparecer, qualquer hora a gente pode semelhantes aos de outras já realizadas, terá objetivos parecidos
para ampliar o vocabulário
e, como veremos a seguir, tratará de assuntos semelhantes, que
dos alunos página 34 não ver mais o lobo-guará, só ouvir falar que existia no Brasil, lá onde é o
descrevem o modo de vida do animal, sua relação com ambiente e
hábitat dos lobos, lá no Cerrado, onde eles moram. Acontece que homem com os outros seres vivos que aí habitam, entre outros etc19.
vem destruindo esse lugar, o Cerrado, e o lobo-guará está desaparecendo. Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentários 1 e 2; exemplo 2, comentário 2;
19
exemplo 3, comentário 2.
perguntas das crianças sobre o lobo-guará. comentário 2; exemplo 3, comentário 1. lita-se que os alunos observem se as informações veiculadas no trecho
Vera Lúcia – Se ele dorme na mata. lido respondem a alguma das questões levantadas no início e também
Professora – Agora eu vou ler e vocês vão que fiquem atentos a novas informações que, apesar de não terem sido
ficar atentos para ver se vão achar alguma antecipadas, são interessantes para ampliar o conhecimento que têm
resposta para essas perguntas: se dá para sobre o animal estudado.
saber como ele come, como ele se alimenta, No trecho lido pode constar, por exemplo, a informação de que o lobo-guará
como ele vive. só se reproduz quando conta com vastas extensões de terra para percorrer.
Não há nenhuma pergunta inicial sobre os hábitos reprodutivos do animal,
mas essa informação poderia ser percebida pelo grupo como importante,
durante a leitura
comentário pois revela um aspecto relevante de seu modo de vida22.
para ampliar o vocabulário
dos alunos 3 Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentário 7; exemplo 2, comentários 5 e 6.
22
após a leitura
Nesse caso, a interrupção da leitura é importante já que o termo “extin- comentário
para favorecer a recupe-
5
Professora – “...e o lobo-guará está sob ção” é fundamental para que as crianças compreendam o que está escri-
séria ameaça de extinção”. – Vocês sabem to a seguir. Sabendo disso, a professora informa o significado, garantindo ração do que foi lido
o que quer dizer extinção? É desaparecer, assim que os alunos tenham acesso a uma informação que teriam difi- Ao assinalar que há informações que não foram respondidas, a pro-
qualquer hora a gente pode não ver mais o Professora – Muito bem, existe lobo-
culdade de encontrar sozinhos, pois o texto, provavelmente, não traz os fessora indica algo importante sobre os textos científicos, voltados
lobo-guará, só ouvir falar que existia no Brasil, guará no Brasil! Mas nós não achamos a
elementos suficientes para permitir a realização de uma inferência a esse para ampliação de conhecimentos sobre qualquer tema: eles nem
lá onde é o hábitat dos lobos, lá no Cerrado, resposta para essas curiosidades da turma
respeito. sempre suprem todas as curiosidades do leitor. Podem responder a
onde eles moram. Acontece que homem – apontando as perguntas na lousa – se ele
algumas questões, trazer informações que não estavam previstas
vem destruindo esse lugar, o Cerrado, e o Ela também poderia propor aos alunos que tentassem dizer o que sabem é muito veloz; se sai à noite para comer, se
e, também, deixar dúvidas e curiosidades em aberto, que apontam
lobo-guará está desaparecendo. sobre esse termo ou buscassem no dicionário o significado. Por se tratar dorme de dia ou de noite. Este livro aqui não
para a necessidade de novas pesquisas, como promete a professora.
de uma leitura voltada ao estudo, em que normalmente há a preocupa- deu para matar nossa curiosidade, mas eu
ção com o significado preciso das palavras do texto, todas essas alterna- É importante, também, salientar que os textos expositivos deixam vou pesquisar e, na próxima aula, vou trazer
tivas são produtivas. informações sem resposta por muitos motivos: às vezes, porque outro livro que fale sobre o lobo-guará, está
seu alcance é limitado, ou, ainda, porque algumas informações po- bom?
A consulta ao dicionário, interessante por permitir que os alunos conhe- dem não ser conhecidas pelos cientistas. Nesse caso, é importante
çam e compreendam os usos desse portador, tem o inconveniente de conversar com as crianças sobre o fato de que, mesmo que saibam
implicar procedimentos complexos de busca que talvez não sejam do- muito sobre determinado tema, os estudiosos não dominam tudo.
minados pelos alunos dessa classe. Além de usarem a ordem alfabética, Algumas perguntas ainda podem ficar sem respostas e isso também
precisarão ficar atentos às palavras que aparecem no alto de cada página acontece com as perguntas das próprias crianças. Com isso, podem
como indício para a localização do vocábulo procurado, à distribuição das aprender que o conhecimento é limitado e sempre provisório, mes-
palavras nas colunas, à presença de abreviaturas de significado complexo mo que a busca de conhecimento não o seja. É importante que ad-
etc. Como alternativa, a professora poderia se encarregar da consulta ao quiram a noção de que, quando nos dedicamos a aprender sobre
dicionário na presença dos alunos. Isso tornaria a busca mais ágil e, ao determinado tema, algumas perguntas podem ficar sem resposta23.
mesmo tempo, permitiria que as crianças observassem os passos neces-
sários para chegar à palavra buscada. 23
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentário 10.
Mesmo antes de os alunos compreenderem o sistema de escrita alfabético, é importante que Etapas necessárias
o professor planeje situações com distintos objetivos em que eles possam ler por si mesmos.
Para que as crianças que ainda não leem convencionalmente possam dedicar-se à leitura, 1. Antes da aula: decisões do professor
é necessário que contem com muitas informações sobre o que diz o texto, que podem Para essas situações, é importante que o professor selecione textos sobre os quais os
ser fornecidas pela professora ou pelo material em que o texto está inserido, sua diagra- alunos tenham muitas informações, tanto no que se refere ao tema tratado como ao
mação, títulos e subtítulos, imagens que o acompanham etc. Além das informações do gênero textual, sua função e características.
texto, os leitores se valerão, nesses momentos, do que já sabem sobre o funcionamento
da escrita, do conhecimento que construíram sobre as letras e os sons a ela associados, e Além disso, é preciso buscar textos cuja organização permita que antecipem possíveis
das palavras já conhecidas. Todas essas informações permitem que os leitores iniciantes significados em cada uma de suas partes. Para isso, é mais interessante escolher aque-
realizem atividades de leitura, como localizar em que parte de um texto pode estar escri- les organizados de maneira mais simples e que não sejam extensos. As listas, legendas
ta uma informação solicitada pela professora, encontrar determinada palavra no meio de que acompanham ilustrações, títulos e índices de livros que contenham vários assuntos
outras ou, ainda, sabendo o que está escrito em dois ou três itens, conseguir identificá-los, são especialmente indicados para tais situações.
mesmo que não lhes tenha sido indicado em que ordem estão escritos. Escolhido o texto, é importante definir também que tipo de desafio será proposto. Dife-
Apesar de essas situações envolverem a leitura autônoma, os alunos não enfrentarão rentes perguntas envolvem níveis de dificuldade variados, alguns deles mais apropria-
sozinhos o caminho necessário para dar sentido ao texto proposto. O professor tem dos para a bagagem de conhecimento de cada aluno. Em alguns casos, é possível propor
um papel importantíssimo nessa busca, tanto por escolher situações e textos em que a algumas crianças que leiam O QUE está escrito em determinado trecho do texto. Para
seja possível ao conjunto dos alunos realizar o desafio proposto, quanto por estar outras, porém, tal desafio está além de suas possibilidades e será mais produtivo de
próximo no momento em que eles se dediquem à atividade, formulando perguntas busquem ONDE ESTÁ ESCRITA determinada informação. Em outras situações, ainda, é
pertinentes que favoreçam sua reflexão e fornecendo informações importantes para interessante que as crianças se dediquem a escolher, entre duas possibilidades, QUAL
que cada um consiga realizá-la. É QUAL, ou seja, o professor informa o que está escrito em dois trechos, sem mostrar o
que está em cada um deles e elas têm de identificá-los.
Tais situações devem fazer parte de um trabalho mais abrangente, voltado para a for-
mação de leitores, em que a leitura do aluno ocorre paralelamente ao desenvolvimento Como em outras situações de aprendizagem, as propostas de leitura autônoma não são leituras
de outras formas de leitura na sala de aula: a leitura realizada pelo professor, em que ele solitárias. Ao contrário, é muito produtivo propor que os alunos se organizem em pequenos
se encarrega de ler para seus alunos, e a leitura compartilhada, em que o professor lê e grupos – duplas ou quartetos –, para que troquem informações sobre as letras e confrontem
os alunos acompanham o texto em seus exemplares. Isso é importante, pois, contando suas hipóteses de leitura. Organizar previamente as duplas de trabalho é bastante importante.
com um modelo de leitor experiente, com quem interagem enquanto ele lê, as crianças
observam vários comportamentos que poderão reproduzir quando lerem sozinhas. 2. O professor explica a proposta
Essas propostas de leitura fazem parte de um marco em que se entende que a aprendi- Antes de propor a leitura aos alunos, o professor explica exatamente o que devem
zagem do funcionamento do sistema de escrita deva ocorrer ao mesmo tempo que se fazer: descobrir se determinada palavra se encontra numa lista, localizar onde está
permite que os alunos vivenciem diferentes práticas de leitura, em variados contextos, escrita uma informação previamente solicitada ou decidir, entre várias possibilidades
reproduzindo o modo como a leitura é realizada em diferentes situações sociais. dadas, em qual dos trechos está escrita cada palavra.
Em todas as situações propostas, é importante que os alunos tenham um objetivo, ou Nesse momento, o professor também deve fornecer o máximo de informação possível
seja, eles devem buscar uma informação previamente solicitada para realizar determi- sobre o tema tratado: deve dizer, por exemplo, que se trata de um texto que trará infor-
nado propósito. Como veremos numa das situações comentadas, caberá aos alunos loca- mações sobre o tamanduá e que os alunos devem localizar a parte em que se abordará
lizarem o título de uma história na cópia do índice de um livro, já que essa informação sua alimentação; ou informar que se trata de uma lista de frutas; ou do título de uma
é necessária para que encontrem a página e possam ler tal história. Como parte desses história já conhecida dos alunos, sem, no entanto, dizer qual é. Se for o caso, deve indicar
objetivos compartilhados por professor e alunos, há o propósito didático, que o professor aos alunos para prestarem atenção em determinadas informações não verbais que acom-
deve ter sempre em mente, de que nessas atividades os alunos desenvolvam alguns com- panham o texto, como as imagens ou a diagramação, as quais podem contribuir para a
portamentos de leitores, como considerar a letra inicial para selecionar rapidamente um realização da proposta.
item numa lista, sem necessitar ler detidamente todas as palavras; buscar entre palavras
A importância desse momento está em garantir que os alunos contem com muitas
parecidas, que se iniciem pela mesma letra, por exemplo, indícios que as diferenciem e
informações contextuais – fornecidas pelo material e pelo professor – que permitam
permitam certificarem-se de qual é uma e qual é outra. Além disso, também é importante
que antecipem com maior precisão o que pode estar escrito, facilitando-lhes a leitura.
que o professor tenha claro que tais atividades estão voltadas para favorecer avanços nos
conhecimentos das crianças sobre o sistema alfabético de escrita.
Esta atividade ocorreu numa classe de Educação Infantil, com crianças de 6 anos, de uma escola da rede pública Pedro – É daqui – e também lê, passando o dedo embaixo de OS
do município de São José dos Campos (SP), em que a professora propõe periodicamente atividades nas quais os alunos SAPATINHOS VERMELHOS.
são desafiados a ler. Para esta aula, ela organizou a classe em duplas e entregou a cada uma alguns títulos de histórias
Professora – Tiago, mas por que você acha que é esse? Olha esse aqui
escritos em tiras de cartolina, as quais foram dispostas nas mesas de cada dupla. A professora lia os títulos em voz alta e os
– e mostra a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE CHUMBO. – Também
alunos deveriam localizá-los nas tiras dispostas em suas mesas. Todos os títulos foram escritos em letra de forma maiúscula,
começa com O.
a mais conhecida pelas crianças.
Tiago – Mas aqui – apontando O SOLDADINHO DE CHUMBO – tem dois O.
Professora – Mas OS SAPATINHOS VERMELHOS também não tem dois Os?
seleção de textos comentário Alguns títulos que constavam da atividade
Pedro, em dúvida, seleciona a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE
e planejamento da
atividade
1
página 42
••
••
OS SAPATINHOS VERMELHOS
O SOLDADINHO DE CHUMBO
CHUMBO – É esse!
•• O ESQUILO ROEDOR Professora – É esse? Como começa VERMELHOS, Pedro?
•• PETER PAN Pedro – É com V!
•• PEQUENO POLEGAR
Professora – Onde tem VERMELHOS nessas duas tiras? – e separa as tiras
com O SOLDADINHO DE CHUMBO e OS SAPATINHOS VERMELHOS das demais.
Dupla formada por Caio e Willian
Tiago – Aqui! – apontando o V na palavra VERMELHOS.
para a coordenação dos comentário
A professora pede que localizem o título PETER PAN.
Professora – Será que aqui está escrito VERMELHOS? Vamos ler?
conhecimentos dos alunos
integrantes da dupla
2
página 42
Caio – É o E.
Tiago lê, passando o dedo sobre OS SAPATINHOS VERMELHOS.
Willian – É o P.
Professora – É o E ou o P?
Dupla de Natália e Luan
Os dois ficam pensativos, observando as tiras.
A professora pede que localizem o título O ESQUILO ROEDOR. comentário para que os alunos deem
Professora – Vejam se tem algum título que começa com E.
Willian – Peter Pan tem o P – e pega a tira onde está escrito PEQUENO POLEGAR.
Natália rapidamente localiza a tira correta. 4
página 44
significado às partes
do texto
Professora – Onde está, Natália? Aqui? Por quê?
Professora – E esse começa com P?
Natália – Porque tem R – e aponta ROEDOR.
Willian rapidamente seleciona outra tira onde está escrito PETER PAN.
Luan – Começa com O e termina com R –, lendo o título O ESQUILO ROEDOR
Professora – Então leia para mim. e aumentando a voz para marcar que nessa última palavra tem a letra R.
Willian lê, passando o dedo embaixo do título – PETER PAN. Professora – E onde começa ESQUILO, Luan?
Professora – É esse, Caio? Luan aponta o O em O ESQUILO.
Caio fica em dúvida – Tem que ter o E. Professora – ESQUILO começa com O, Luan?
Professora – E essa palavra tem o E? Luan rapidamente aponta o E em O ESQUILO.
Caio aponta o E na primeira sílaba de PETER e lê – PETER PAN. Professora – Ah! E onde acaba ESQUILO?
Luan e Natália apontam o O final de ESQUILO.
Dupla formada por Tiago e Pedro Professora – E onde começa ROEDOR?
para que os alunos comentário A professora pede que localizem o título OS SAPATINHOS VERMELHOS. Luan aponta o E em ESQUILO. Ao mesmo tempo, Natália aponta o R
usem indícios adequados
para ler
3
página 43
Tiago rapidamente seleciona a tira onde estava escrito o título procurado. em ROEDOR.
Professora – Você acha que é esse? Por quê? Professora – Luan, se aqui antes era ESQUILO agora pode ser ROEDOR também?
Tiago – Porque tem O. Luan – Ah não! É aqui – e aponta o R em ROEDOR.
Professora – Então lê pra mim. Professora – É isso! E a Natália disse para mim que ROEDOR começava
e terminava com R. Não foi? – e encerra a discussão com essa dupla depois
Tiago lê, passando o dedo embaixo de OS SAPATINHOS VERMELHOS.
de validar uma justificativa dada no início.
Professora – É assim que lê? Por onde a gente começa?
i n t e rv e n çõ e s comentário
para que os alunos usem
sobre a seleção de textos e bons indícios para
planejamento da atividade
comentário
3 suas escolhas.
1 A professora sabe que o desafio colocado não envolve a
A professora pede que localizem o título
A professora selecionou o material a ser usado para leitura das crianças. Ela adivinhação, mas a atribuição de significado ao que está escrito.
Alguns títulos que constavam da atividade OS SAPATINHOS VERMELHOS.
escolheu títulos conhecidos dos alunos. As histórias foram lidas em classe e Isso faz com que ela não se contente com a resposta certa e
• OS SAPATINHOS VERMELHOS possuem elementos que favorecem a antecipação de seu significado: apre- peça para Tiago justificar sua escolha. A resposta do aluno Tiago rapidamente seleciona a tira onde
sentam indícios nos quais os alunos poderão se apoiar para atribuir sentido faz com que ela aponte outro título, considerando o mesmo estava escrito o título procurado.
• O SOLDADINHO DE CHUMBO
a cada um dos textos, como palavras estáveis, ou partes orais e escritas iguais critério utilizado por ele – o outro título se inicia pela mesma Professora – Você acha que é esse? Por quê?
• O ESQUILO ROEDOR
às dos nomes de colegas da classe. Ao mesmo tempo que facilita a leitura ao letra. Ao fazer isso, propõe que o menino e seu colega busquem
Tiago – Porque tem O.
• PETER PAN buscar garantir a presença dessas pistas escritas, a professora também cria outros indícios, além da letra inicial, para verificarem se sua
antecipação está realmente correta. Os argumentos usados pelos Professora – Então lê pra mim.
• PEQUENO POLEGAR algumas dificuldades ao escolher mais de um título que se inicie pela mes-
ma letra, criando a necessidade de as crianças considerarem outras variáveis alunos não são suficientes para decidir por um ou outro título. Tiago lê, passando o dedo embaixo de OS
além da letra inicial. Faz isso, provavelmente, porque seus alunos já estão Ela então propõe perguntas que fazem com que a dupla volte SAPATINHOS VERMELHOS.
habituados a considerá-las em outras atividades. Dessa forma, propicia que seu olhar para dentro do texto. Isso ocorre quando pergunta a Professora – É assim que lê? Por onde a
a leitura seja uma tarefa possível de ser realizada pelos alunos, mesmo que um dos alunos qual a letra inicial de VERMELHOS. gente começa?
eles ainda não saibam ler convencionalmente, levando-os a colocar em jogo
Pedro – É daqui – e também lê, passando o
conhecimentos já construídos e permitindo que avancem na construção da A professora sugere que considerem outras informações, além dedo embaixo de OS SAPATINHOS VERMELHOS.
compreensão do sistema alfabético de escrita. daquelas que espontaneamente utilizam – as duas crianças usa- Professora – Tiago, mas por que você
Antes da atividade, a professora também buscou ajustar o tipo de desafio que ram as letras iniciais e finais do título. Como sabem o início da acha que é esse? Olha esse aqui – e mostra
ofereceria aos alunos: o problema estabelecido era determinar qual era o título palavra VERMELHOS, podem usar essa informação como indício a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE
pedido, sem que esse desafio pudesse ser resolvido pela adivinhação, mas sim para decidir qual dos dois títulos é o buscado. Fazendo isso, a CHUMBO. – Também começa com O.
pela atribuição de significado ao que estava escrito por meio do jogo entre an- professora dá uma pista importante para coordenar estratégias
de antecipação e de verificação, propondo que outras partes do Tiago – Mas aqui – apontando O
tecipação e verificação24.
para a coordenação texto, além do início e fim, adquiram o valor de indícios que SOLDADINHO DE CHUMBO – tem dois O.
comentário Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 6, comentário 1.
24
permitem ratificar ou não o significado atribuído a um texto 26. Professora – Mas OS SAPATINHOS
dos conhecimentos dos
integrantes da dupla 2 26
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 2, comentários 1 e 2; exemplo 3, comentário 3;
VERMELHOS também não tem dois Os?
Diante da demanda da professora, os integrantes da dupla acionam o que sa- exemplo 4, comentário 4; exemplo 5, comentários 4, 5 e 7. Pedro, em dúvida, seleciona a tira onde está
A professora pede que localizem o título escrito O SOLDADINHO DE CHUMBO – É esse!
bem sobre o sistema de escrita e cada um deles considera que o título deva se
PETER PAN. Professora – É esse? Como começa
iniciar por letras diferentes, embora as duas façam parte da sílaba inicial. A
Caio – É o E. professora formula uma pergunta que explicita esse conflito: qual das duas? VERMELHOS, Pedro?
Willian – É o P. Como a dupla não consegue, por si só, sair do impasse, faz uma nova per- Pedro – É com V!
gunta: “Algum título começa pela letra E?” Ao trazer esse questionamento,
Professora – É o E ou o P? Professora – Onde tem VERMELHOS
oferece um critério que permite aos alunos sair do impasse, oferecendo-lhes
Os dois ficam pensativos, observando as tiras. nessas duas tiras? – e separa as tiras com O
uma dica para que coordenem as diferentes opiniões com o material de lei-
SOLDADINHO DE CHUMBO e OS SAPATINHOS
Professora – Vejam se tem algum título tura que têm em mãos. Se não existe um título que se inicie por E, é melhor
VERMELHOS das demais.
que começa com E. abandonarem essa opção, considerando a outra possibilidade.
Tiago – Aqui! – apontando o V na palavra
A professora propõe que os alunos reflitam sobre a decisão que tomaram: eles VERMELHOS.
Willian – Peter Pan tem o P – pega a tira sabem que o título deve se iniciar por P e ela favorece que observem que não há
onde está escrito PEQUENO POLEGAR. Professora – Será que aqui está escrito
somente um título iniciado por essa letra. Caio ainda não se convenceu de que
VERMELHOS? Vamos ler?
Professora – E esse começa com P? sua ideia inicial não se concretizou num título – é como se dissesse: “Deve haver
um título com E”. Em vez de sugerir que o aluno abandone essa ideia, a profes- Tiago lê, passando o dedo sob OS
Willian rapidamente seleciona outra tira
sora propõe que ele observe que no título escolhido essa letra também aparece. SAPATINHOS VERMELHOS.
onde está escrito PETER PAN.
Professora – Então leia para mim. Interessante perceber que a professora não dá a resposta mesmo diante de
Willian lê, passando o dedo embaixo do duas ideias pertinentes, que revelam que os alunos estão considerando letras
título – PETER PAN. que podem ser associadas ao início do título buscado e estão pensando de
acordo com a hipótese silábica que formularam. Se ela dissesse: “São as duas,
Professora – É esse, Caio?
PETER PAN começa com o P e o E, que formam o PE”, resolveria rapidamente
Caio fica na dúvida – Tem que ter o E. o problema de identificar o título correto. Porém, essa saída simples não favo-
Professora – E essa palavra tem o E? receria que as crianças, presas à ideia de que uma letra expressa uma sílaba
inteira, vivenciassem o conflito resultante de seus conhecimentos. A atuação
Caio aponta o E na primeira sílaba de
da professora diante do conflito permitiu que as duas crianças observassem
PETER e lê – PETER PAN.
que se o P é o indício que permitiu diminuir consideravelmente o número de
alternativas possíveis, também é possível identificar a presença do E no início
da palavra como um indício para leitura.
Com certeza, Caio e Willian ainda precisam de tempo para compreender
que a sílaba é composta pelas duas letras, mas pelo modo como a profes-
sora interveio, deixou dúvidas, especialmente em Caio, que permitiram
que a reflexão para compreender o funcionamento do sistema de escrita
continue sendo realizada25.
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 4, comentário 5.
25