As Situações Didáticas de Leitura - CEDAC

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As situações didáticas papel e propõe aos alunos o desafio de compor um texto, permitindo que enfrentem

os problemas vividos por qualquer escritor no que se refere à linguagem que utiliza-
Este caderno é composto de quatro partes, cada uma delas relativas a um tipo especí-
rá: que palavras usar, como organizá-las para que aquilo que se quer expressar fique
fico de situação didática. As situações serão abordadas, num primeiro momento, con-
claro, bem escrito e adequado à situação comunicativa em que tal texto se insere.
siderando as aprendizagens mais importantes que propiciam, as condições didáticas
Nessas situações, os alunos aprendem algumas das práticas comuns aos escritores
que devem ser garantidas e as etapas necessárias a seu encaminhamento. Em segui-
quando estão às voltas com a produção de um texto: planejar previamente o que se
da, há exemplos de atividades que ocorreram em salas de aula de diferentes municí-
vai escrever, refletir sobre a melhor forma de realizar essa escrita e reler o que já
pios do Brasil, que consideramos como referências para outras que possa ser propos-
escreveu para aprimorar o texto.
tas no contexto de um projeto didático, de uma sequência de atividades ou atividade
habitual de leitura ou de escrita. Esses exemplos são apresentados primeiramente
na íntegra e, em seguida, alguns trechos referentes às intervenções realizadas pelos
professores são destacados e comentados. Nesses comentários procuramos desvelar
a intencionalidade do professor ao realizar tais intervenções. As situações didáticas Escrita pelo aluno página 102
que apresentaremos são: Nas situações em que escrevem por si mesmos, os alunos colocam em jogo todos os
conhecimentos já construídos sobre o sistema de escrita e sobre as convenções da
língua – que letra usar, quando introduzir espaços entre as palavras, como ocupar o
espaço do papel. Para o professor, essas são situações valiosas para observar aquilo
Leitura pelo professor página 8 que cada aluno já sabe sobre a escrita. Para os alunos, é possível sistematizar o que
já sabem sobre o funcionamento da escrita, de forma a melhor dominá-la. Mesmo
Ao ler para os alunos textos que estes não têm condições de ler sozinhos, o professor
que se trate de um momento em que a escrita cabe ao aluno, ele não estará sozinho
não apenas promove o acesso ao texto como garante uma experiência compartilhada
nessa empreitada, pois poderá contar com a ajuda de colegas, quando estiver tra-
entre todo o grupo. Dessa forma, permite que os alunos conheçam diferentes gêneros
balhando em duplas ou quartetos, com quem discute diferentes ideias sobre o uso
textuais, considerando seus usos sociais. Além disso, por meio de seu comportamento,
e a função das letras, confronta o que sabe, troca informações sobre como escrever.
fornece a eles um modelo de leitor: mostra a melhor forma de dar voz a um texto e
O professor também tem um papel importante nessa situação, propondo questões e
compartilha com os alunos os problemas, os prazeres e as estratégias de que um leitor
trazendo informações que favoreçam aos alunos acionarem todos os conhecimentos
lança mão para construir um sentido para o texto.
que já construíram.
As situações didáticas apresentadas podem ocorrer em diferentes contextos: ora
o professor realiza a atividade habitual de leitura de contos para seus alunos; ora
Leitura pelo aluno página 36 a leitura do professor ocorre no contexto de uma sequência de atividades em que
são estudados determinado tema; em outro momento os alunos devem escrever
Cumpridas algumas condições, os alunos podem realizar algumas atividades de leitu- por si mesmos as legendas para acompanhar imagens como parte do produto
ra antes mesmo de dominar o funcionamento do sistema alfabético de escrita. Criar final de um projeto didático a que o grupo se dedica; ou, ainda, numa atividade
momentos em que isso ocorra com frequência na sala de aula favorece aos alunos co- ocasional em que se dedicam à preparação de um alimento e devem ler a lista de
locar em jogo todos os conhecimentos que já construíram sobre o sistema de escrita, ingredientes de uma receita.
além de permitir que aprendam a ler. Isto é, que compreendam que ler é atribuir sen-
tido aos textos escritos e que é possível fazer isso quando se conta com informações Como parte da coleção Formação na Escola as Situações Didáticas formam uma coletâ-
sobre o texto que permitam antecipar o que pode estar escrito e, depois, verificar se nea de referências para a realização de aulas diversificadas. Permitem ao leitor com-
tais antecipações são pertinentes. preender melhor o funcionamento das atividades propostas nos outros cadernos da
coleção – Projetos, Sequências de Atividades e Atividades Habituais – nos quais são feitas
várias citações das situações didáticas aqui desenvolvidas. Sugerimos que a leitura
desse caderno ocorra de modo articulado com a leitura dos outros e esperamos que o
professor possa refletir sobre cada situação didática e, assim, planejar mais detalha-
Escrita por meio do professor página 78
da e intencionalmente o encaminhamento de suas aulas.
Mesmo antes de dominarem o sistema de escrita alfabético, as crianças já têm con-
dições de produzir textos escritos, se para isso contarem com alguém que desem-
penhe o papel de escriba de sua produção. Nessa situação, o professor assume esse
Leitura pelo professor

Ao refletirmos sobre o ensino da leitura, é comum pensarmos na capacidade que uma para que ela realmente atinja os objetivos propostos, com que frequência deve ser
criança vai desenvolvendo de compreender, sozinha, o que as letras representam e de realizada, que tipo de material usar, qual deve ser o seu tempo de duração para que
reconhecer seu traçado para, então, conseguir compreender uma mensagem escrita. seja produtiva – enfim, é preciso refletir sobre tal atividade como uma situação didá-
Independentemente das questões metodológicas envolvidas, é bastante comum associar- tica, a qual só atingirá o que é esperado se forem consideradas as condições que a
mos a aprendizagem da leitura com o aprender a juntar as letras por si mesmo e à tornarão uma atividade realmente produtiva para aquele que aprende.
capacidade de expressar oralmente um texto escrito.
Nesse mesmo contexto, uma atividade trivial, como a leitura de histórias para crian-
ças pequenas, uma prática antiga e carregada de intimidade e de afeto, mais próxima Condições didáticas
do contexto familiar e dos rituais que antecedem o momento de a criança dormir,
Para que a leitura de contos realmente contribua para a entrada das crianças no uni-
manteve-se por muito tempo marginal e desassociada do ensino da leitura. Tratadas
verso literário, é interessante observar alguns cuidados que facilitem que esse ingresso
como mais uma prática característica dos cuidados com a infância, essa atividade não
se dê de maneira tranquila. A escolha das primeiras histórias, o tempo destinado à
era relacionada à aprendizagem formal da leitura.
atividade, o modo de tratar o texto são aspectos que podem contribuir para o maior
O prazer das crianças pequenas ao ouvirem um adulto contando ou lendo uma histó- envolvimento das crianças.
ria contribuiu para que essas atividades entrassem nas salas de aula, especialmente
Já assinalamos que não é recomendável trabalhar com textos de vocabulário empobre-
na educação infantil e nos primeiros anos da escolaridade básica. Como uma “conta-
cido. Tal orientação convive com a preocupação de, inicialmente, buscar histórias com
minação” das práticas familiares, as situações em que professores leem histórias para
trama linear, de estrutura canônica, ou seja, que se caracterizem por apresentar um
crianças pequenas são consideradas uma prática corriqueira há algum tempo.
estado inicial de equilíbrio, um conflito que rompe tal situação e desencadeia vários
Estudos em psicologia infantil evidenciaram que as histórias infantis, especialmente episódios até que se alcance a resolução e se restabeleça o equilíbrio inicial. Os textos
os contos tradicionais, têm um valor importante no desenvolvimento emocional das devem apresentar fórmulas tradicionais em seu início (era uma vez) e fim (foram felizes
crianças, por permitir lidar com sentimentos conflituosos que fazem parte de seu para sempre) como ocorre nos contos de fadas clássicos. São também recomendáveis
universo psíquico e também porque permitem acesso a um universo fantástico que as histórias de repetição, em que uma frase ou situação se repete pelo livro todo, e os
enriquece a imaginação dos pequenos. contos de acúmulo, em que a cada nova personagem que surge na história, repete-se
No entanto, é recente o reconhecimento da importância da leitura para as crianças para a sequência de todas as que já apareceram antes. Por sua estrutura narrativa muito
a aprendizagem da leitura e da escrita, o que foi impulsionado por pesquisas recentes, simples, pela possibilidade de antecipar e repetir juntos as partes que se repetem, esses
que lançaram luz na relação direta existente entre a participação de crianças pequenas contos têm uma aceitação ótima entre os leitores iniciantes – e entre os mais experien-
em práticas mediadas pela escrita de um lado e o sucesso na alfabetização de outro1. tes também!
Tal relação emprestou outro colorido à leitura que o professor realiza para seus alunos. É a partir dessas histórias com um enredo mais simples que é possível favorecer o
Hoje sabemos que imaginar uma criança de 4 anos acompanhando a leitura em voz alta avanço dos alunos como leitores de literatura, preparando-os para o acesso a histórias
feita por sua professora, seu olhar de surpresa, os sentimentos de satisfação, alegria ou mais complexas, em que a trama linear deixa lugar a outras em que várias aventuras
medo provocados e seus pedidos constantes para ouvir novamente a história signifi- se desenvolvem concomitantemente, vividas por personagens secundárias, ao mesmo
cam, também, imaginar uma criança em processo de aprendizagem da leitura, de modo tempo que acontece a trama principal. A vivência como leitores de contos de estrutura
semelhante àquela que arduamente enfrenta as letras para compreender um texto. canônica possibilitará que se divirtam com transgressões a esse gênero, como histórias
em que aparecem bruxas boas e princesas más. Tais possibilidades de ruptura com as
É preciso, porém, definir com maior clareza em que sentido a leitura de um adulto
expectativas dos leitores são interessantes porque permitem que eles comparem essas
contribui para formar leitores e escritores, que habilidades relacionadas à aprendi-
histórias com os contos já conhecidos e tomem consciência de que nem sempre deter-
zagem da linguagem escrita são favorecidas pelo ato singelo de ler uma história para
minadas características se repetem necessariamente em todas as histórias.
uma criança. Mesmo que a leitura do professor se inspire, num primeiro momento, em
práticas familiares carregadas de afeto, ao fazer parte da rotina da sala de aula essa Ao longo da vida escolar, o contato frequente dos alunos com os textos literários amplia
prática passa a ser reconhecida como uma situação de ensino e requer a reflexão dos sua experiência de leitores, proporcionando os elementos necessários para enfrentar
educadores para que realmente cumpra seu papel. Dito de outra forma: ao fazer parte textos cada vez mais complexos.
das situações que favorecerão a aprendizagem, é preciso que se reflita sobre qual o A simplicidade da trama, apontada como um critério que deve ser considerado ao es-
aprendizado que essa leitura propicia, quais as condições que devem ser garantidas colher o que ler para crianças pequenas, não deve ser, no entanto, o único critério. É
1
Referência ao trabalho das professoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky publicado no Brasil com o título Psicogênese da Língua importante, além disso, que o professor busque textos que encantem, que emocionem,
Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
que divirtam, no caso da leitura de textos literários.

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No entanto, não é apenas por meio dos textos literários que o professor garantirá uma ra de um texto informativo, ou apenas para garantir a fluência oral. Uma boa leitura em
formação abrangente para a leitura. O professor também deve ler para as crianças em voz alta é fundamental para garantir o envolvimento dos alunos com aquilo que é lido.
outras situações, como aquelas em que a turma se dedica a ler textos que ampliarão
seus conhecimentos sobre um tema de estudo. Nesses casos, é importante buscar 2. Preparar o ambiente para a leitura
textos que preservem as características de textos expositivos que circulam socialmente,
É interessante preparar a sala de aula para garantir um clima mais propício à leitura.
que contenham informações fidedignas e interessantes, tratadas numa linguagem
De acordo com o espaço e com o texto que será lido, o professor pode criar um lugar
científica, evitando-se aqueles em que o tema é abordado de maneira superficial e com
mais aconchegante, organizando as crianças sentadas numa roda a sua volta. Para
um vocabulário empobrecido. Com isso queremos dizer que a leitura que o professor
evitar que a leitura seja interrompida, pode confeccionar um cartaz para pendurar
realiza deve estar de acordo com propósitos claros, compartilhados com os alunos, que
na porta, avisando que naquele momento o grupo está lendo. O importante é garantir
correspondem aquelas que têm os leitores quando, socialmente, buscam a leitura.
que a atividade, de alguma forma seja ritualizada, especialmente quando ela ocupa
Outro aspecto a ser observado no planejamento da leitura para crianças pequenas diz um lugar fixo na rotina da sala de aula. Se a leitura for uma atividade habitual que se
respeito ao tempo da atividade. É importante levar em conta que, quando ainda não repete diariamente ou semanalmente – ler histórias no final do dia ou em um dia fixo
construíram uma vivência mais consolidada em relação aos textos, elas têm um tempo da semana, por exemplo –, as crianças terão mais facilidade de se preparar para ela.
de concentração limitado. Não é recomendável exigir que acompanhem textos muito
longos. É interessante escolher, inicialmente, histórias ou outros textos mais curtos ou
3. Conversar sobre o que será lido
considerar a possibilidade de realizar a atividade em mais de um dia, lendo parte do
material a cada vez. Nesse caso, é preciso decidir o melhor momento para interromper Antes da leitura, é interessante que o professor conte aos alunos o que o levou a
a leitura, mantendo nas crianças a expectativa de retomarem a história no dia seguinte decidir-se pela leitura daquele texto e, se for o caso, apresente alguns dados sobre o
e assegurando que se recordem do início quando a atividade for retomada. autor e o ilustrador, quando se trata de um livro ilustrado. Nesse momento inicial,
também poderá compartilhar algumas características do portador de onde o texto foi
retirado, mostrando-o aos alunos. No caso de um livro de contos, poderia mostrar os
vários contos, o índice, a capa e a contracapa. Se for uma notícia, seria interessante
Etapas necessárias trazer o jornal e o caderno em que a notícia foi publicada. Se o livro for ilustrado, é
interessante nessa conversa inicial apresentar algumas de suas ilustrações, o modo
1. Conhecer o texto e preparar a leitura em voz alta como elas dividem o espaço da página com o texto escrito, explorando também
algumas características das imagens, como tipo de traço, uso das cores etc.
Antes da aula, o professor deve se dedicar a ler o texto, procurando antecipar o que
encantará seus alunos, bem como pontos que possam dificultar a leitura – passagens Ainda antes da leitura, o professor também pode propor uma conversa sobre as expec-
mais difíceis, trechos que requerem que façam inferências ou palavras pouco conhe- tativas dos alunos em relação ao texto, suscitadas pelas informações que apresentou
cidas. É importante que procure sanar suas próprias dúvidas quanto ao significado de à classe, por algumas características das imagens, do título ou daquilo que já conhe-
algumas palavras ou sobre passagens que considere pouco claras, antes do momento cem do autor, do gênero ou do tema do texto.
de apresentar o texto aos alunos. Buscar informações sobre o autor e o ilustrador, no
Esse é o momento de combinar como será a leitura, que tipo de interrupção é
caso de um livro ilustrado, bem como sobre as produções anteriores de ambos enrique-
pertinente, lembrando que elas deverão se restringir às que contribuam para que os
ce a aproximação dos alunos ao que será lido. O professor deve definir o modo como as
alunos se envolvam com a leitura, e como será feita a apreciação das ilustrações, se
ilustrações serão apresentadas aos alunos: se vai fazer isso enquanto lê a história ou ao
ao longo da leitura ou após terminá-la.
final da leitura. No caso de textos não literários, a leitura prévia também é importante,
tanto para garantir a compreensão do que está escrito quanto para identificar passa-
4. A leitura
gens que demandarão explicações adicionais aos alunos ou, ainda, para decidir sobre
o uso de materiais que apoiem e ampliem aquilo que é apresentado no texto, como o Enquanto lê, o professor empresta voz ao texto e garante o acesso dos alunos ao seu
uso de mapas para indicar a localização de países em apoio a um texto expositivo, ou o conteúdo. A entonação e o tom adequados, a clareza na pronúncia das palavras, a
uso de fotos ou reproduções de obras de arte, quando se lê uma biografia de um autor. dramaticidade criada em determinadas passagens, o ritmo que a história requer são
ingredientes que contribuem para o envolvimento do grupo.
Além de aproximar-se do conteúdo do texto, o professor precisa preparar sua leitura
em voz alta, buscando a melhor entonação, mudando o modo como lê quando inter- Outro cuidado é o de ler a versão integral, sem substituir palavras por outras conhecidas.
preta a fala de uma personagem, quando quiser enfatizar as emoções que acompa- Em qualquer leitura, é comum o leitor enfrentar termos que não são conhecidos e
nham cada evento da história, para dar destaque a uma informação relevante na leitu- isso não implica uma restrição à compreensão. Pelo contrário, o texto oferece um

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo professor


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contexto em que é possível inferir significados para as palavras difíceis. Enquanto o O que a criança aprende a partir da leitura do professor
professor lê, o grupo de alunos compartilha a história e coloca em jogo importantes
Quando o professor propicia que as crianças tenham acesso a diversos materiais escritos
comportamentos de leitores. Um deles é a possibilidade de preencher lacunas criadas
por meio de sua leitura, possibilita que elas se comportem como leitoras antes mesmo
por palavras que não conhecem, inferindo seu significado. O fato de estarem em
de dominarem o funcionamento do sistema alfabético de escrita. E como leitoras, terão
grupo permitirá que uns ajudem os outros nessa aprendizagem, compartilhando tais
a oportunidade de conhecer a linguagem utilizada em diferentes gêneros textuais, de
estratégias.
refletir sobre seus usos e funções, desde que tais atividades preservem o sentido social
No entanto, se o não entendimento de determinadas palavras dificultar a compre- da leitura: ler uma notícia publicada num jornal, por exemplo, deve estar a serviço da
ensão do texto, é importante que as crianças interrompam a leitura para perguntar. necessidade de se informar sobre determinado tema atual; ler um artigo científico per-
Quando não for possível inferir o significado, o dicionário é um recurso, mas tem o mitirá aprender sobre um assunto de interesse da turma; ler uma receita garantirá que
inconveniente de interromper o fluxo da narrativa. Como alternativa, o próprio pro- consigam preparar certo alimento; ler uma história permitirá um momento de fruição.
fessor pode oferecer a informação solicitada.
Essa atividade centralizada na figura do professor, além de propiciar aos alunos acesso a
O professor pode interromper a leitura em determinado ponto, escolhido previamente, determinado material escrito, permitirá que vivenciem ou observem no professor os com-
para que os alunos imaginem o que acontecerá a partir dali. Ao antecipar os aconteci- portamentos que leitores mais experientes costumam realizar em situações como essa.
mentos da história, um leitor coloca suas expectativas, pensando sobre possibilidades No caso dos contos, os alunos poderão observar o uso de recursos relacionados à leitura
abertas pelo enredo criado pelo autor. No entanto, para garantir que essa atividade em voz alta, como mudança no tom de voz e no ritmo para enfatizar o que ocorre na
seja realmente produtiva, é conveniente observar o tempo de concentração dos alu- narrativa, além da possibilidade de ler novamente trechos não compeendidos ou consi-
nos. Mesmo que algumas interrupções sejam possíveis ou necessárias, elas devem derados interessantes. Poderão ainda vivenciar outras práticas de leitores, especialmente
durar o mínimo possível e não ser muito frequentes. a possibilidade de comentarem com os colegas aquilo que a história lhes suscitou.
Ao ler textos de um mesmo gênero com frequência, o professor propicia que os alunos
5. Comentar o que foi lido se familiarizem com as características do gênero. Assim, é comum que as crianças já
Depois da leitura, o momento é de explorar a opinião dos alunos sobre o que foi lido. O se preparem para ouvir um conto de fadas quando determinado texto se inicia pelo
que acharam? Divertiram-se? Lembraram-se de outra história? Não se trata de avaliar tão conhecido “Era uma vez”, e tal expectativa inclui imaginar que ocorrerão lutas en-
sua compreensão, mas de propor uma conversa informal, destinada a compartilhar tre o mal e o bem, surgirão elementos mágicos, provavelmente os personagens serão
as impressões suscitadas pelo texto. Quando o professor também se coloca, compar- bruxas, princesas e príncipes encantados.
tilhando com os alunos aquilo de que mais gostou, essa conversa fica ainda mais rica. Ler contos para crianças é uma atividade fundamental: “A leitura de histórias é um
No caso da leitura de um texto destinado a estudar determinado tema, a ênfase da momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, de pensar e de agir e o
conversa final não é a apreciação subjetiva, pois não se trata de saber se os alunos universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em ou-
gostaram ou não, já que o objetivo que moveu a leitura não é a fruição, como costuma tros tempos e lugares que não o seu (...) As instituições de educação infantil podem
ocorrer com os textos literários. Nesse caso em que se adquirem novos conhecimen- resgatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que
tos, a conversa posterior é fundamental para os alunos avaliarem aquilo que aprende- frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação
ram, se as questões que tinham foram sanadas, se é preciso buscar novos textos ou se sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas,
o que aprenderam com essa leitura está de acordo com aquilo que já sabiam. contribuindo na construção da subjetividade e da sensibilidade das crianças”2.

Independentemente do gênero textual lido, a conversa que ocorre após a leitura é É importante buscar contos que sejam interessantes do ponto de vista literário,
importante para garantir que os alunos compartilhem interpretações sobre determi- evitando aqueles em que a linguagem é simples ou infantilizada, para que os alu-
nadas passagens ou sobre o texto como um todo e possam chegar a um sentido cons- nos realmente tenham acesso a uma produção que amplie seu repertório de possibi-
truído conjuntamente sobre o que foi lido. lidades de compreensão e de expressão. É inegável que o contato com uma linguagem
mais rebuscada é um fator decisivo para enriquecer o vocabulário e repertório de
Compartilhar leituras com os alunos contribui para que o grupo se constitua numa
formas expressivas verbais das crianças.
comunidade de leitores, ou seja, seus membros não apenas leem juntos, mas apren-
dem a partir da leitura, trocam impressões, recomendam textos uns para os outros, Além das aprendizagens mencionadas acima, a prática usual de leitura coloca o pro-
viajam pelos prazeres da literatura e, consequentemente, têm espaço para trocar as fessor como modelo privilegiado diante de seus alunos. E é atuando como modelo que
marcas que essa experiência compartilhada deixou em cada um. poderá comunicar a relação prazerosa que é possível estabelecer com os textos, bem
como observar o valor da leitura, conteúdos fundamentais para formar leitores.
2
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, volume 3, pág. 143. Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo professor


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Leitura de um texto expositivo O Lobo- Guará 3 o exemplo

Neste exemplo, os alunos de uma classe de Educação Infantil de uma escola municipal de Arari (MA) acompanham [...]
a leitura feita pela professora de um texto com informações sobre o lobo-guará. Essa leitura ocorreu no contexto de um
Professora – Vocês acham que o lobo-guará é muito grandão?
projeto de estudo sobre animais brasileiros. No final desse trabalho, as crianças apresentaram seminários sobre os animais
estudados para os colegas de outra classe. As crianças estão sentadas nas cadeiras organizadas em semicírculo, de frente Paulo – Não! Ele é pequeno!
para a lousa; a professora está em pé de frente para elas.
Luís – Do tamanho da onça!
antes da leitura comentário Professora – Qual o animal que nós escolhemos?
Professora – Será do tamanho da onça? Ele pesa de 20 a 23 kg, então ele
para que os alunos
antecipem
1
página 33
Ricardo – A onça! é um animal pequeno. Vamos ver as curiosidades de vocês – apontando as
perguntas escritas na lousa. O que ele come? Vocês já me responderam que
o que será lido Professora – A onça? Foi, Ricardo?
ele come carne, come inseto e come frutas. (Essas respostas foram encontradas
Crianças – O lobo-guará! durante a leitura do texto.) Ele corre muito? Será que ele é veloz como a anta?
Professora – Foi o lobo-guará. Vocês lembram do animal que nós Crianças – É!
estudamos antes do lobo-guará? – e aponta para uma lista de animais
Professora – Vocês ouviram eu falar aqui que ele é um bicho muito veloz?
afixada na parede da classe, ao lado da lousa. – Qual foi?
Paulo – Ouvimos!
Crianças – A anta!
Professora – Ouviram? Eu disse isso? Agora vocês precisam ficar atentos comentário durante a leitura
Professora – A anta. Muito bem! Hoje nós vamos estudar sobre o lobo-
antes da leitura
para que os alunos
comentário
2 guará. Alguém já ouviu falar alguma coisa sobre ele?
e observar se o texto vai dizer se ele sai à noite para comer; se ele dorme de
dia ou dorme à noite. Posso ler? Prestem bastante atenção.
4
página 35
para que os alunos
antecipem o que será lido
antecipem página 34 Crianças não respondem.
o que será lido Crianças – Pode!
Professora – Nadinha sobre o lobo-guará? O que vocês querem saber sobre ele?
A professora continua a leitura.
Luan – Estudar.
[...]
Professora – Estudar o quê? Quais as curiosidades que vocês têm sobre
Professora – Existe lobo-guará no Brasil?
esse animal?
Crianças – Existe!
Roseane – O que ele come.
Professora – Muito bem, existe lobo-guará no Brasil! Mas nós não comentário após a leitura
Professora – O que ele come, muito bem!
Tiago – Se ele come carne...
achamos a resposta para essas perguntas, as curiosidades – apontando
as perguntas na lousa – se ele é muito veloz; se sai à noite para comer,
5
página 35
para favorecer a
recuperação
se dorme de dia ou de noite. Este livro aqui não deu para matar nossa do que foi lido
Professora – Muito bem! Mais outras perguntas, que mais vocês
querem saber? curiosidade, mas eu vou pesquisar e, na próxima aula, vou trazer outro livro
que fale sobre o lobo-guará, está bom?
Paulo – Se ele corre muito forte.
Professora – Se ele corre muito. O que mais? i n t e rv e n çõ e s
antes da leitura
Kleberson – Se ele come onça. comentário
para que os alunos
Luís – Se ele sai à noite para comer...
1 antecipem o que será lido
Nesse trecho, a professora prepara a leitura, trazendo algumas in-
A professora vai anotando na lousa as perguntas das crianças sobre o Professora – Qual o animal que nós
formações que a localizam em um trabalho maior que o grupo está
escolhemos?
lobo-guará. desenvolvendo. Ela retoma com a turma o estudo que vêm reali-
zando sobre animais, indicando o cartaz afixado na sala de aula. Ao Ricardo – A onça!
Vera Lúcia – Se ele dorme na mata. situar a leitura, dá aos alunos pistas quanto ao objetivo: pesquisar Professora – A onça? Foi, Ricardo?
informações científicas para aprender sobre o animal estudado.
Professora – Agora eu vou ler e vocês vão ficar atentos para ver se vão Crianças – O lobo-guará!
achar alguma resposta para essas perguntas: se dá para saber como ele Trata-se de ler para estudar e, como ocorre nas situações desse Professora – Foi o lobo-guará. Vocês
tipo, o objetivo da leitura fica delimitado: é preciso atenção às in- lembram do animal que nós estudamos
come, como ele se alimenta, como ele vive. formações veiculadas, pois, provavelmente, haverá a necessidade antes do lobo-guará? – e aponta para uma
Inicia a leitura do texto. de recuperá-las, o que farão no seminário em que compartilharão lista de animais afixada na parede da classe,
o que aprenderam. Ao lembrar os animais que já foram estudados, ao lado da lousa. – Qual foi?
durante a leitura comentário
Professora – “...e o lobo-guará está sob séria ameaça de extinção”. – Vocês ela também dá dicas: essa leitura, provavelmente, seguirá passos
Crianças – A anta!

3 sabem o que quer dizer extinção? É desaparecer, qualquer hora a gente pode semelhantes aos de outras já realizadas, terá objetivos parecidos
para ampliar o vocabulário
e, como veremos a seguir, tratará de assuntos semelhantes, que
dos alunos página 34 não ver mais o lobo-guará, só ouvir falar que existia no Brasil, lá onde é o
descrevem o modo de vida do animal, sua relação com ambiente e
hábitat dos lobos, lá no Cerrado, onde eles moram. Acontece que homem com os outros seres vivos que aí habitam, entre outros etc19.
vem destruindo esse lugar, o Cerrado, e o lobo-guará está desaparecendo. Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentários 1 e 2; exemplo 2, comentário 2;
19

exemplo 3, comentário 2.

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo professor


32 33
Leitura de um texto expositivo O Lobo- Guará 3 o exemplo

antes da leitura No entanto, ela escolheu explicar o significado da palavra, pro-


comentário vavelmente por saber que seus alunos ainda têm um tempo de
para que os alunos
antecipem o que será lido 2 concentração curto e é melhor garantir que a interrupção seja
breve para que se dediquem com empenho à construção do sig-
As crianças dizem não saber nada sobre o lobo-guará. A pro-
Professora – A anta. Muito bem! Hoje nós nificado do novo texto 21.
fessora muda sua pergunta inicial: O que querem saber? Com
vamos estudar sobre o lobo-guará. Alguém já
esse questionamento, traz para a conversa as expectativas das 21
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 3, comentário 2; exemplo 3, comentário 3.
ouviu falar alguma coisa sobre ele? durante a leitura
crianças sobre o texto. Tais expectativas relacionam-se à expe- comentário
Crianças não respondem. para que os alunos
4
riência anterior com o gênero textual, os textos expositivos, e
Professora – Nadinha sobre o lobo-guará? com o tema: textos que descrevem o modo de vida de um ani- antecipem o que será lido
O que vocês querem saber sobre ele? mal específico. As crianças não sabem nada sobre o lobo-guará, A professora interrompe a leitura para chamar a atenção para uma infor-
mas sabem que textos que abordem hábitos de qualquer animal Professora – Ouviram? Eu disse isso? Agora
Luan – Estudar. mação que será lida e que pode responder a uma das dúvidas levantadas
trazem informações sobre sua alimentação, sua rapidez, sobre o vocês precisam ficar atentos para ver se o
inicialmente pelos alunos. Dessa forma, faz um alerta para as crianças,
Professora – Estudar o quê? Quais as período do dia em que se mantém ativo. texto vai dizer se ele sai à noite para comer;
permitindo que se mantenham preparadas para receber a resposta.
curiosidades que vocês têm sobre esse animal? se ele dorme de dia ou dorme de noite. Posso
Levantam temas que observaram ser frequentes nos textos que Outra possibilidade interessante de garantir essa atenção aos objetivos de- ler? Prestem bastante atenção.
Roseane – O que ele come.
leram sobre outros animais. Ao anotar essas perguntas, a profes- finidos para a leitura é interrompê-la, de tempos em tempos, para discutir
Professora – O que ele come, muito bem! sora não apenas valoriza-as como expectativas válidas para um Crianças – Pode!
se até aquele ponto alguma das informações buscadas foi encontrada.
Tiago – Se ele come carne... texto como esse, como cria objetivos para a leitura: são questões A professora continua a leitura.
Nesse caso, em vez de antecipar uma informação que será lida, propõe-se
Professora – Muito bem! Mais outras que todos esperam que o texto venha a responder e anotá-las que os alunos controlem o que já leram, ou seja, a professora poderia in-
perguntas, que mais vocês querem saber? na lousa permite voltar a elas após a leitura para averiguar se terromper a leitura em determinado ponto para perguntar: “Nesse trecho,
foram respondidas. há uma resposta para alguma das perguntas que levantamos no início?”.
Paulo – Se ele corre muito forte.
Com toda essa conversa e também ao anotar as perguntas for- A partir dessa intervenção, se espera que os alunos recuperem o trecho
Professora – Se ele corre muito. O que mais?
muladas, a professora favorece uma leitura mais comprometida que leram e avaliem se está relacionado às expectativas iniciais.
Kleberson – Se ele come onça.
por parte dos alunos, que entram na situação com objetivos claros Além desse questionamento, pode-se fazer outra pergunta para garantir
Paulo – Se ele sai à noite para comer... para guiar sua compreensão20. que os alunos tenham controle sobre a compreensão do que foi lido até
A professora vai anotando na lousa as aquele momento: “O que aprendemos até aqui?” Dessa forma, possibi-
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentários 1, 2 e 3; exemplo 2,
20

perguntas das crianças sobre o lobo-guará. comentário 2; exemplo 3, comentário 1. lita-se que os alunos observem se as informações veiculadas no trecho
Vera Lúcia – Se ele dorme na mata. lido respondem a alguma das questões levantadas no início e também
Professora – Agora eu vou ler e vocês vão que fiquem atentos a novas informações que, apesar de não terem sido
ficar atentos para ver se vão achar alguma antecipadas, são interessantes para ampliar o conhecimento que têm
resposta para essas perguntas: se dá para sobre o animal estudado.
saber como ele come, como ele se alimenta, No trecho lido pode constar, por exemplo, a informação de que o lobo-guará
como ele vive. só se reproduz quando conta com vastas extensões de terra para percorrer.
Não há nenhuma pergunta inicial sobre os hábitos reprodutivos do animal,
mas essa informação poderia ser percebida pelo grupo como importante,
durante a leitura
comentário pois revela um aspecto relevante de seu modo de vida22.
para ampliar o vocabulário
dos alunos 3 Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentário 7; exemplo 2, comentários 5 e 6.
22

após a leitura
Nesse caso, a interrupção da leitura é importante já que o termo “extin- comentário
para favorecer a recupe-
5
Professora – “...e o lobo-guará está sob ção” é fundamental para que as crianças compreendam o que está escri-
séria ameaça de extinção”. – Vocês sabem to a seguir. Sabendo disso, a professora informa o significado, garantindo ração do que foi lido
o que quer dizer extinção? É desaparecer, assim que os alunos tenham acesso a uma informação que teriam difi- Ao assinalar que há informações que não foram respondidas, a pro-
qualquer hora a gente pode não ver mais o Professora – Muito bem, existe lobo-
culdade de encontrar sozinhos, pois o texto, provavelmente, não traz os fessora indica algo importante sobre os textos científicos, voltados
lobo-guará, só ouvir falar que existia no Brasil, guará no Brasil! Mas nós não achamos a
elementos suficientes para permitir a realização de uma inferência a esse para ampliação de conhecimentos sobre qualquer tema: eles nem
lá onde é o hábitat dos lobos, lá no Cerrado, resposta para essas curiosidades da turma
respeito. sempre suprem todas as curiosidades do leitor. Podem responder a
onde eles moram. Acontece que homem – apontando as perguntas na lousa – se ele
algumas questões, trazer informações que não estavam previstas
vem destruindo esse lugar, o Cerrado, e o Ela também poderia propor aos alunos que tentassem dizer o que sabem é muito veloz; se sai à noite para comer, se
e, também, deixar dúvidas e curiosidades em aberto, que apontam
lobo-guará está desaparecendo. sobre esse termo ou buscassem no dicionário o significado. Por se tratar dorme de dia ou de noite. Este livro aqui não
para a necessidade de novas pesquisas, como promete a professora.
de uma leitura voltada ao estudo, em que normalmente há a preocupa- deu para matar nossa curiosidade, mas eu
ção com o significado preciso das palavras do texto, todas essas alterna- É importante, também, salientar que os textos expositivos deixam vou pesquisar e, na próxima aula, vou trazer
tivas são produtivas. informações sem resposta por muitos motivos: às vezes, porque outro livro que fale sobre o lobo-guará, está
seu alcance é limitado, ou, ainda, porque algumas informações po- bom?
A consulta ao dicionário, interessante por permitir que os alunos conhe- dem não ser conhecidas pelos cientistas. Nesse caso, é importante
çam e compreendam os usos desse portador, tem o inconveniente de conversar com as crianças sobre o fato de que, mesmo que saibam
implicar procedimentos complexos de busca que talvez não sejam do- muito sobre determinado tema, os estudiosos não dominam tudo.
minados pelos alunos dessa classe. Além de usarem a ordem alfabética, Algumas perguntas ainda podem ficar sem respostas e isso também
precisarão ficar atentos às palavras que aparecem no alto de cada página acontece com as perguntas das próprias crianças. Com isso, podem
como indício para a localização do vocábulo procurado, à distribuição das aprender que o conhecimento é limitado e sempre provisório, mes-
palavras nas colunas, à presença de abreviaturas de significado complexo mo que a busca de conhecimento não o seja. É importante que ad-
etc. Como alternativa, a professora poderia se encarregar da consulta ao quiram a noção de que, quando nos dedicamos a aprender sobre
dicionário na presença dos alunos. Isso tornaria a busca mais ágil e, ao determinado tema, algumas perguntas podem ficar sem resposta23.
mesmo tempo, permitiria que as crianças observassem os passos neces-
sários para chegar à palavra buscada. 23
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 1, comentário 10.

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo professor


34 35
Leitura pelo aluno

Mesmo antes de os alunos compreenderem o sistema de escrita alfabético, é importante que Etapas necessárias
o professor planeje situações com distintos objetivos em que eles possam ler por si mesmos.
Para que as crianças que ainda não leem convencionalmente possam dedicar-se à leitura, 1. Antes da aula: decisões do professor
é necessário que contem com muitas informações sobre o que diz o texto, que podem Para essas situações, é importante que o professor selecione textos sobre os quais os
ser fornecidas pela professora ou pelo material em que o texto está inserido, sua diagra- alunos tenham muitas informações, tanto no que se refere ao tema tratado como ao
mação, títulos e subtítulos, imagens que o acompanham etc. Além das informações do gênero textual, sua função e características.
texto, os leitores se valerão, nesses momentos, do que já sabem sobre o funcionamento
da escrita, do conhecimento que construíram sobre as letras e os sons a ela associados, e Além disso, é preciso buscar textos cuja organização permita que antecipem possíveis
das palavras já conhecidas. Todas essas informações permitem que os leitores iniciantes significados em cada uma de suas partes. Para isso, é mais interessante escolher aque-
realizem atividades de leitura, como localizar em que parte de um texto pode estar escri- les organizados de maneira mais simples e que não sejam extensos. As listas, legendas
ta uma informação solicitada pela professora, encontrar determinada palavra no meio de que acompanham ilustrações, títulos e índices de livros que contenham vários assuntos
outras ou, ainda, sabendo o que está escrito em dois ou três itens, conseguir identificá-los, são especialmente indicados para tais situações.
mesmo que não lhes tenha sido indicado em que ordem estão escritos. Escolhido o texto, é importante definir também que tipo de desafio será proposto. Dife-
Apesar de essas situações envolverem a leitura autônoma, os alunos não enfrentarão rentes perguntas envolvem níveis de dificuldade variados, alguns deles mais apropria-
sozinhos o caminho necessário para dar sentido ao texto proposto. O professor tem dos para a bagagem de conhecimento de cada aluno. Em alguns casos, é possível propor
um papel importantíssimo nessa busca, tanto por escolher situações e textos em que a algumas crianças que leiam O QUE está escrito em determinado trecho do texto. Para
seja possível ao conjunto dos alunos realizar o desafio proposto, quanto por estar outras, porém, tal desafio está além de suas possibilidades e será mais produtivo de
próximo no momento em que eles se dediquem à atividade, formulando perguntas busquem ONDE ESTÁ ESCRITA determinada informação. Em outras situações, ainda, é
pertinentes que favoreçam sua reflexão e fornecendo informações importantes para interessante que as crianças se dediquem a escolher, entre duas possibilidades, QUAL
que cada um consiga realizá-la. É QUAL, ou seja, o professor informa o que está escrito em dois trechos, sem mostrar o
que está em cada um deles e elas têm de identificá-los.
Tais situações devem fazer parte de um trabalho mais abrangente, voltado para a for-
mação de leitores, em que a leitura do aluno ocorre paralelamente ao desenvolvimento Como em outras situações de aprendizagem, as propostas de leitura autônoma não são leituras
de outras formas de leitura na sala de aula: a leitura realizada pelo professor, em que ele solitárias. Ao contrário, é muito produtivo propor que os alunos se organizem em pequenos
se encarrega de ler para seus alunos, e a leitura compartilhada, em que o professor lê e grupos – duplas ou quartetos –, para que troquem informações sobre as letras e confrontem
os alunos acompanham o texto em seus exemplares. Isso é importante, pois, contando suas hipóteses de leitura. Organizar previamente as duplas de trabalho é bastante importante.
com um modelo de leitor experiente, com quem interagem enquanto ele lê, as crianças
observam vários comportamentos que poderão reproduzir quando lerem sozinhas. 2. O professor explica a proposta

Essas propostas de leitura fazem parte de um marco em que se entende que a aprendi- Antes de propor a leitura aos alunos, o professor explica exatamente o que devem
zagem do funcionamento do sistema de escrita deva ocorrer ao mesmo tempo que se fazer: descobrir se determinada palavra se encontra numa lista, localizar onde está
permite que os alunos vivenciem diferentes práticas de leitura, em variados contextos, escrita uma informação previamente solicitada ou decidir, entre várias possibilidades
reproduzindo o modo como a leitura é realizada em diferentes situações sociais. dadas, em qual dos trechos está escrita cada palavra.

Em todas as situações propostas, é importante que os alunos tenham um objetivo, ou Nesse momento, o professor também deve fornecer o máximo de informação possível
seja, eles devem buscar uma informação previamente solicitada para realizar determi- sobre o tema tratado: deve dizer, por exemplo, que se trata de um texto que trará infor-
nado propósito. Como veremos numa das situações comentadas, caberá aos alunos loca- mações sobre o tamanduá e que os alunos devem localizar a parte em que se abordará
lizarem o título de uma história na cópia do índice de um livro, já que essa informação sua alimentação; ou informar que se trata de uma lista de frutas; ou do título de uma
é necessária para que encontrem a página e possam ler tal história. Como parte desses história já conhecida dos alunos, sem, no entanto, dizer qual é. Se for o caso, deve indicar
objetivos compartilhados por professor e alunos, há o propósito didático, que o professor aos alunos para prestarem atenção em determinadas informações não verbais que acom-
deve ter sempre em mente, de que nessas atividades os alunos desenvolvam alguns com- panham o texto, como as imagens ou a diagramação, as quais podem contribuir para a
portamentos de leitores, como considerar a letra inicial para selecionar rapidamente um realização da proposta.
item numa lista, sem necessitar ler detidamente todas as palavras; buscar entre palavras
A importância desse momento está em garantir que os alunos contem com muitas
parecidas, que se iniciem pela mesma letra, por exemplo, indícios que as diferenciem e
informações contextuais – fornecidas pelo material e pelo professor – que permitam
permitam certificarem-se de qual é uma e qual é outra. Além disso, também é importante
que antecipem com maior precisão o que pode estar escrito, facilitando-lhes a leitura.
que o professor tenha claro que tais atividades estão voltadas para favorecer avanços nos
conhecimentos das crianças sobre o sistema alfabético de escrita.

ciclo 1 | situações didáticas


36 37
3. Levantamento oral do que pode estar escrito Ao propor a leitura a crianças que ainda não leem convencionalmente, sugerimos que o façam
por antecipações e verificações, e não pela decodificação letra a letra, tarefa que além de im-
Em seguida, é interessante que o professor converse com os alunos sobre as informações
possível por ainda não dominarem as correspondências grafo-fônicas convencionais, cria uma
que já têm sobre o tema ou sobre aquilo que poderá estar escrito no trecho que deve ser
ideia artificial e empobrecida da leitura: a de que se deve buscar o sentido do que está escrito na
buscado. Ao trabalhar a leitura de uma lista de frutas, por exemplo, o professor pode pro-
junção das letras, sem que o leitor traga aquilo que imagina estar escrito para contribuir nessa
por que, antes de começarem, os alunos digam os nomes das frutas que imaginam que
construção. Uma leitura centrada na decodificação letra por letra também não é econômica,
constarão na lista, confirmando se cada uma das sugeridas está ou não na lista. Ao propor
pois sobrecarrega nossa atenção com informações irrelevantes. As informações relevantes são
a leitura de uma lista de títulos de histórias já conhecidas da turma, pode relembrar quais
aquelas que contribuem para a construção de um sentido para o texto. Se, a cada palavra lida,
foram eles, evitando mencioná-los na mesma ordem em que se encontram escritos na lista.
nossa atenção é absorvida pela decodificação letra por letra, provavelmente chegaremos ao
Além de criar um clima mais propício para a leitura, pois os alunos se sentirão mais segu- fim da frase sem recordarmos de seu início, ou seja, decodificamos, mas não compreendemos.
ros ao contar com tais informações, como as frutas que compõem a lista que vão ler, essa
Durante a leitura, espera-se que os alunos antecipem o que pode estar escrito em determinado
intervenção favorece que usem seu conhecimento sobre as letras para certificarem-se de
trecho e que tenham elementos para justificar tal escolha. Em nosso exemplo da lista de frutas,
que, em determinado trecho, está escrito realmente aquilo que acham que está escrito.
se uma criança indicar que em determinado local está escrita a palavra MELANCIA, é impor-
Pode parecer que, ao propormos tais atividades, esperamos que as crianças adivinhem o que tante que reflita sobre os motivos que a levaram a essa antecipação. Ela pode ter pensado que o
está escrito. Não é isso. A proposta é que usem os conhecimentos já construídos sobre a re- nome dessa fruta começa com a mesma letra de MELINA, uma de suas colegas; pode, também,
lação entre letras e sons e sobre as palavras cuja forma escrita já conhecem para que anteci- ter usado outras informações, como a letra final. O importante é que seu conhecimento das
pem o que pode estar escrito no texto que têm em mãos. Na lista de frutas do exemplo, uma letras contribua para que dê sentido à palavra escrita.
criança poderia atribuir a uma palavra o nome ABACAXI e, ao ser questionada sobre o motivo
É fundamental que o professor contribua para essa reflexão e traga novas questões que permi-
que a leva a tal escolha, justificaria dizendo que identifica o som A quando diz a palavra e
tam que a leitura se dê de forma a considerar, ao máximo, as informações escritas. No exemplo
sabe que tal som se associa à letra A, mesmo que ainda não seja capaz de compreender por
anterior, diante da explicação de que a escolha se deve à letra M inicial, o professor deve con-
que são usadas as demais letras da palavra. Ou seja, a criança lê, antecipando possíveis con-
firmar que MELANCIA realmente se inicia pela letra M, validando a informação utilizada pela
teúdos e, também, utiliza outros indícios oferecidos pelas letras para verificar se sua escolha
criança. Porém, deve indicar que há outras palavras na lista que também se iniciam por M e
é realmente acertada. Em nosso exemplo, o fato de só existir uma palavra que se inicia por
perguntar como se pode saber em qual delas está escrita a palavra buscada. Ao realizar inter-
A na lista de frutas lhe dá a certeza de que ali deve estar escrita a palavra ABACAXI – o que
venções como essa, o professor valoriza as informações já utilizadas pelo aluno, quando forem
só se tornou possível porque a professora informou o nome das frutas que compõem a lista.
adequadas, e propõe que considere também outros indícios para realizar a leitura em que as
Caso houvesse outra palavra iniciada pela mesma letra, a criança teria de buscar outros indí-
verificações tenham lugar.
cios, como a letra final da palavra, para escolher qual das duas é a palavra buscada. Como se
pode ver, não se trata de uma adivinhação cega, pois o tempo todo o leitor iniciante estará se Como se pode perceber, o professor não assiste passivamente à atividade das crianças.
apoiando nas letras e em outros indícios gráficos para dizer o que pode estar escrito. Enquanto elas leem, ele faz perguntas para ampliar-lhes o olhar, informa-as sobre o
que está escrito, orienta-as para que realizem consultas nas fontes de informação
Essa forma de ler contraria a ideia de que a única leitura possível é aquela em que se decifra letra por
existentes na classe. Nessas atividades, o professor tem o papel de incentivar os alu-
letra para então associar um significado à palavra. Leituras por antecipação e verificação, como a que
nos para que usem o que sabem, questioná-los para que ampliem seus conhecimentos
descrevemos, estão muito mais próximas da que um leitor experiente faz ao ler qualquer texto.
e orientá-los para o uso de procedimentos utilizados pelos leitores mais experientes.

4. Antecipar o que pode estar escrito e confirmar o que foi lido


5. Retomar coletivamente o que foi lido
É sabido que, ao lerem, os leitores experientes não se atêm à decodificação letra por letra
Após o momento em que os alunos, individualmente ou em duplas, se dedicaram a
daquilo que está escrito. Fazem isso selecionando e processando apenas algumas letras até
realizar suas leituras, é interessante que o professor retome coletivamente a ativi-
o momento que lhes seja possível antecipar o que diz aquela palavra para, então, saltar à se-
dade, permitindo assim que todos observem as estratégias utilizadas pelos colegas.
guinte. A informação fornecida pelas letras é utilizada apenas na medida em que contribua
Como tais estratégias, em geral, referem-se ao uso das letras como indícios ou pistas
para elucidar a nova palavra, que, por sua vez, deve fazer sentido com aquilo que já foi lido.
de leitura que indicam que ali pode ou não estar escrita determinada palavra, essa
Ao lermos, antecipamos o que deve estar escrito a seguir e usamos as letras, entre outras socialização contribui para que as crianças troquem conhecimentos sobre o sistema
pistas gráficas, para verificar se essa antecipação é correta. A leitura é um processo dinâmico de escrita.
e ativo, em que o leitor vai construindo o sentido, utilizando o que já leu e todo seu conheci-
mento linguístico, para realizar boas antecipações e ser ágil na sua verificação.

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo aluno


38 39
Leitura de títulos de histórias conhecidas 1 o exemplo

Esta atividade ocorreu numa classe de Educação Infantil, com crianças de 6 anos, de uma escola da rede pública Pedro – É daqui – e também lê, passando o dedo embaixo de OS
do município de São José dos Campos (SP), em que a professora propõe periodicamente atividades nas quais os alunos SAPATINHOS VERMELHOS.
são desafiados a ler. Para esta aula, ela organizou a classe em duplas e entregou a cada uma alguns títulos de histórias
Professora – Tiago, mas por que você acha que é esse? Olha esse aqui
escritos em tiras de cartolina, as quais foram dispostas nas mesas de cada dupla. A professora lia os títulos em voz alta e os
– e mostra a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE CHUMBO. – Também
alunos deveriam localizá-los nas tiras dispostas em suas mesas. Todos os títulos foram escritos em letra de forma maiúscula,
começa com O.
a mais conhecida pelas crianças.
Tiago – Mas aqui – apontando O SOLDADINHO DE CHUMBO – tem dois O.
Professora – Mas OS SAPATINHOS VERMELHOS também não tem dois Os?
seleção de textos comentário Alguns títulos que constavam da atividade
Pedro, em dúvida, seleciona a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE
e planejamento da
atividade
1
página 42
••
••
OS SAPATINHOS VERMELHOS
O SOLDADINHO DE CHUMBO
CHUMBO – É esse!
•• O ESQUILO ROEDOR Professora – É esse? Como começa VERMELHOS, Pedro?
•• PETER PAN Pedro – É com V!
•• PEQUENO POLEGAR
Professora – Onde tem VERMELHOS nessas duas tiras? – e separa as tiras
com O SOLDADINHO DE CHUMBO e OS SAPATINHOS VERMELHOS das demais.
Dupla formada por Caio e Willian
Tiago – Aqui! – apontando o V na palavra VERMELHOS.
para a coordenação dos comentário
A professora pede que localizem o título PETER PAN.
Professora – Será que aqui está escrito VERMELHOS? Vamos ler?
conhecimentos dos alunos
integrantes da dupla
2
página 42
Caio – É o E.
Tiago lê, passando o dedo sobre OS SAPATINHOS VERMELHOS.
Willian – É o P.
Professora – É o E ou o P?
Dupla de Natália e Luan
Os dois ficam pensativos, observando as tiras.
A professora pede que localizem o título O ESQUILO ROEDOR. comentário para que os alunos deem
Professora – Vejam se tem algum título que começa com E.
Willian – Peter Pan tem o P – e pega a tira onde está escrito PEQUENO POLEGAR.
Natália rapidamente localiza a tira correta. 4
página 44
significado às partes
do texto
Professora – Onde está, Natália? Aqui? Por quê?
Professora – E esse começa com P?
Natália – Porque tem R – e aponta ROEDOR.
Willian rapidamente seleciona outra tira onde está escrito PETER PAN.
Luan – Começa com O e termina com R –, lendo o título O ESQUILO ROEDOR
Professora – Então leia para mim. e aumentando a voz para marcar que nessa última palavra tem a letra R.
Willian lê, passando o dedo embaixo do título – PETER PAN. Professora – E onde começa ESQUILO, Luan?
Professora – É esse, Caio? Luan aponta o O em O ESQUILO.
Caio fica em dúvida – Tem que ter o E. Professora – ESQUILO começa com O, Luan?
Professora – E essa palavra tem o E? Luan rapidamente aponta o E em O ESQUILO.
Caio aponta o E na primeira sílaba de PETER e lê – PETER PAN. Professora – Ah! E onde acaba ESQUILO?
Luan e Natália apontam o O final de ESQUILO.
Dupla formada por Tiago e Pedro Professora – E onde começa ROEDOR?
para que os alunos comentário A professora pede que localizem o título OS SAPATINHOS VERMELHOS. Luan aponta o E em ESQUILO. Ao mesmo tempo, Natália aponta o R
usem indícios adequados
para ler
3
página 43
Tiago rapidamente seleciona a tira onde estava escrito o título procurado. em ROEDOR.
Professora – Você acha que é esse? Por quê? Professora – Luan, se aqui antes era ESQUILO agora pode ser ROEDOR também?
Tiago – Porque tem O. Luan – Ah não! É aqui – e aponta o R em ROEDOR.
Professora – Então lê pra mim. Professora – É isso! E a Natália disse para mim que ROEDOR começava
e terminava com R. Não foi? – e encerra a discussão com essa dupla depois
Tiago lê, passando o dedo embaixo de OS SAPATINHOS VERMELHOS.
de validar uma justificativa dada no início.
Professora – É assim que lê? Por onde a gente começa?

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo aluno


40 41
Leitura de títulos de histórias conhecidas 1 o exemplo

i n t e rv e n çõ e s comentário
para que os alunos usem
sobre a seleção de textos e bons indícios para
planejamento da atividade
comentário
3 suas escolhas.
1 A professora sabe que o desafio colocado não envolve a
A professora pede que localizem o título
A professora selecionou o material a ser usado para leitura das crianças. Ela adivinhação, mas a atribuição de significado ao que está escrito.
Alguns títulos que constavam da atividade OS SAPATINHOS VERMELHOS.
escolheu títulos conhecidos dos alunos. As histórias foram lidas em classe e Isso faz com que ela não se contente com a resposta certa e
• OS SAPATINHOS VERMELHOS possuem elementos que favorecem a antecipação de seu significado: apre- peça para Tiago justificar sua escolha. A resposta do aluno Tiago rapidamente seleciona a tira onde
sentam indícios nos quais os alunos poderão se apoiar para atribuir sentido faz com que ela aponte outro título, considerando o mesmo estava escrito o título procurado.
• O SOLDADINHO DE CHUMBO
a cada um dos textos, como palavras estáveis, ou partes orais e escritas iguais critério utilizado por ele – o outro título se inicia pela mesma Professora – Você acha que é esse? Por quê?
• O ESQUILO ROEDOR
às dos nomes de colegas da classe. Ao mesmo tempo que facilita a leitura ao letra. Ao fazer isso, propõe que o menino e seu colega busquem
Tiago – Porque tem O.
• PETER PAN buscar garantir a presença dessas pistas escritas, a professora também cria outros indícios, além da letra inicial, para verificarem se sua
antecipação está realmente correta. Os argumentos usados pelos Professora – Então lê pra mim.
• PEQUENO POLEGAR algumas dificuldades ao escolher mais de um título que se inicie pela mes-
ma letra, criando a necessidade de as crianças considerarem outras variáveis alunos não são suficientes para decidir por um ou outro título. Tiago lê, passando o dedo embaixo de OS
além da letra inicial. Faz isso, provavelmente, porque seus alunos já estão Ela então propõe perguntas que fazem com que a dupla volte SAPATINHOS VERMELHOS.
habituados a considerá-las em outras atividades. Dessa forma, propicia que seu olhar para dentro do texto. Isso ocorre quando pergunta a Professora – É assim que lê? Por onde a
a leitura seja uma tarefa possível de ser realizada pelos alunos, mesmo que um dos alunos qual a letra inicial de VERMELHOS. gente começa?
eles ainda não saibam ler convencionalmente, levando-os a colocar em jogo
Pedro – É daqui – e também lê, passando o
conhecimentos já construídos e permitindo que avancem na construção da A professora sugere que considerem outras informações, além dedo embaixo de OS SAPATINHOS VERMELHOS.
compreensão do sistema alfabético de escrita. daquelas que espontaneamente utilizam – as duas crianças usa- Professora – Tiago, mas por que você
Antes da atividade, a professora também buscou ajustar o tipo de desafio que ram as letras iniciais e finais do título. Como sabem o início da acha que é esse? Olha esse aqui – e mostra
ofereceria aos alunos: o problema estabelecido era determinar qual era o título palavra VERMELHOS, podem usar essa informação como indício a tira onde está escrito O SOLDADINHO DE
pedido, sem que esse desafio pudesse ser resolvido pela adivinhação, mas sim para decidir qual dos dois títulos é o buscado. Fazendo isso, a CHUMBO. – Também começa com O.
pela atribuição de significado ao que estava escrito por meio do jogo entre an- professora dá uma pista importante para coordenar estratégias
de antecipação e de verificação, propondo que outras partes do Tiago – Mas aqui – apontando O
tecipação e verificação24.
para a coordenação texto, além do início e fim, adquiram o valor de indícios que SOLDADINHO DE CHUMBO – tem dois O.
comentário Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 6, comentário 1.
24
permitem ratificar ou não o significado atribuído a um texto 26. Professora – Mas OS SAPATINHOS
dos conhecimentos dos
integrantes da dupla 2 26
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 2, comentários 1 e 2; exemplo 3, comentário 3;
VERMELHOS também não tem dois Os?
Diante da demanda da professora, os integrantes da dupla acionam o que sa- exemplo 4, comentário 4; exemplo 5, comentários 4, 5 e 7. Pedro, em dúvida, seleciona a tira onde está
A professora pede que localizem o título escrito O SOLDADINHO DE CHUMBO – É esse!
bem sobre o sistema de escrita e cada um deles considera que o título deva se
PETER PAN. Professora – É esse? Como começa
iniciar por letras diferentes, embora as duas façam parte da sílaba inicial. A
Caio – É o E. professora formula uma pergunta que explicita esse conflito: qual das duas? VERMELHOS, Pedro?
Willian – É o P. Como a dupla não consegue, por si só, sair do impasse, faz uma nova per- Pedro – É com V!
gunta: “Algum título começa pela letra E?” Ao trazer esse questionamento,
Professora – É o E ou o P? Professora – Onde tem VERMELHOS
oferece um critério que permite aos alunos sair do impasse, oferecendo-lhes
Os dois ficam pensativos, observando as tiras. nessas duas tiras? – e separa as tiras com O
uma dica para que coordenem as diferentes opiniões com o material de lei-
SOLDADINHO DE CHUMBO e OS SAPATINHOS
Professora – Vejam se tem algum título tura que têm em mãos. Se não existe um título que se inicie por E, é melhor
VERMELHOS das demais.
que começa com E. abandonarem essa opção, considerando a outra possibilidade.
Tiago – Aqui! – apontando o V na palavra
A professora propõe que os alunos reflitam sobre a decisão que tomaram: eles VERMELHOS.
Willian – Peter Pan tem o P – pega a tira sabem que o título deve se iniciar por P e ela favorece que observem que não há
onde está escrito PEQUENO POLEGAR. Professora – Será que aqui está escrito
somente um título iniciado por essa letra. Caio ainda não se convenceu de que
VERMELHOS? Vamos ler?
Professora – E esse começa com P? sua ideia inicial não se concretizou num título – é como se dissesse: “Deve haver
um título com E”. Em vez de sugerir que o aluno abandone essa ideia, a profes- Tiago lê, passando o dedo sob OS
Willian rapidamente seleciona outra tira
sora propõe que ele observe que no título escolhido essa letra também aparece. SAPATINHOS VERMELHOS.
onde está escrito PETER PAN.
Professora – Então leia para mim. Interessante perceber que a professora não dá a resposta mesmo diante de
Willian lê, passando o dedo embaixo do duas ideias pertinentes, que revelam que os alunos estão considerando letras
título – PETER PAN. que podem ser associadas ao início do título buscado e estão pensando de
acordo com a hipótese silábica que formularam. Se ela dissesse: “São as duas,
Professora – É esse, Caio?
PETER PAN começa com o P e o E, que formam o PE”, resolveria rapidamente
Caio fica na dúvida – Tem que ter o E. o problema de identificar o título correto. Porém, essa saída simples não favo-
Professora – E essa palavra tem o E? receria que as crianças, presas à ideia de que uma letra expressa uma sílaba
inteira, vivenciassem o conflito resultante de seus conhecimentos. A atuação
Caio aponta o E na primeira sílaba de
da professora diante do conflito permitiu que as duas crianças observassem
PETER e lê – PETER PAN.
que se o P é o indício que permitiu diminuir consideravelmente o número de
alternativas possíveis, também é possível identificar a presença do E no início
da palavra como um indício para leitura.
Com certeza, Caio e Willian ainda precisam de tempo para compreender
que a sílaba é composta pelas duas letras, mas pelo modo como a profes-
sora interveio, deixou dúvidas, especialmente em Caio, que permitiram
que a reflexão para compreender o funcionamento do sistema de escrita
continue sendo realizada25.
Ver outras intervenções desse tipo no exemplo 4, comentário 5.
25

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo aluno


42 43
Leitura de títulos de histórias conhecidas 1 o exemplo

para que os alunos


comentário
deem significado às
partes do texto 4
Considerando as respostas de Natália, tem-se a impressão de
A professora pede que localizem o título O
que o desafio proposto a ela foi pequeno, dada a facilidade com
ESQUILO ROEDOR.
que o resolveu. Diante disso, a professora coloca outros proble-
Natália rapidamente localiza a tira correta. mas, propondo que a dupla identifique cada palavra do título, ou
Professora – Onde está, Natália? Aqui? Por seja, que observe a relação entre a parte e o todo nesse texto, no
quê? caso o título como um todo e as palavras que o compõem.
Natália – Porque tem R – e aponta Já Luan responde às perguntas da professora de outra maneira:
ROEDOR. parece que se atém a nomear as letras iniciais e finais. Para ele,
Luan – Começa com O e termina com os novos desafios propostos também propiciam que abandone
R –, lendo o título O ESQUILO ROEDOR e essa resposta pouco reflexiva e passe a associar as letras e o
aumentando a voz para marcar que nessa sentido dado ao texto e a cada uma de suas partes.
última palavra tem a letra R.
Isso fica particularmente evidente quando a professora faz a se-
Professora – E onde começa ESQUILO, guinte pergunta a Luan: “Se aqui antes era esquilo, agora pode
Luan? ser roedor também?”. Com isso, ajuda o aluno a buscar coerên-
Luan aponta o O em O ESQUILO. cia no significado que atribui a cada palavra, responsabilizando-
Professora – ESQUILO começa com O, -se por uma leitura em que se pauta nas letras para definir o
Luan? que, em cada parte, está escrito, em vez de dizer palavras alea-
toriamente e mudar de ideia também aleatoriamente. Ao propor
Luan rapidamente aponta o E em O tal pergunta, provavelmente, a professora se baseia no que sabe
ESQUILO. sobre os conhecimentos de Luan: em situações anteriores, essa
Professora – Ah! E onde acaba ESQUILO? criança já deve ter demonstrado compreender que, quando de-
Luan e Natália apontam o O final de terminada sequência de letras – uma palavra – está associada
ESQUILO. a um significado, não pode ser associada também a outro, ou
seja, não se pode ler uma coisa e depois outra na mesma palavra
Professora – E onde começa ROEDOR?
escrita e que sequências de letras diferentes correspondem a
Luan aponta o E em ESQUILO. Ao mesmo significados diferentes. Apesar de tais conhecimentos parece-
tempo, Natália aponta o R em ROEDOR. rem óbvios para aqueles que leem convencionalmente, não o são
Professora – Luan, se aqui antes era para crianças em fase de construção da compreensão da leitura.
ESQUILO, agora pode ser ROEDOR também? É preciso que a professora esteja atenta ao que as crianças já
Luan – Ah, não! É aqui – e aponta o R em sabem para que suas intervenções sejam realmente produtivas,
ROEDOR. como nessa situação.

Professora – É isso! E a Natália disse para


mim que ROEDOR começava e terminava
com R. Não foi? – e encerra a discussão com
essa dupla depois de validar uma justificativa
dada no início.

ciclo 1 | situações didáticas Leitura pelo aluno


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