2020 LianadeAndradeEsmeraldoPereira

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB)


CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
DOUTORADO INTERINSTITUCIONAL (DINTER CDS-UnB/UFCA)

LIANA DE ANDRADE ESMERALDO PEREIRA

MIGRAÇÃO AMBIENTAL COMPULSÓRIA EM HIDROTERRITÓRIOS:


IMPACTOS NAS FAMÍLIAS OCASIONADO PELO CINTURÃO DAS ÁGUAS, NA
REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

BRASÍLIA - DF
2020
2

LIANA DE ANDRADE ESMERALDO PEREIRA

MIGRAÇÃO AMBIENTAL COMPULSÓRIA EM HIDROTERRITÓRIOS:


IMPACTO OCASIONADO NAS FAMÍLIAS PELO CINTURÃO DAS ÁGUAS, NA
REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

Tese submetida ao Centro de Desenvolvimento


Sustentável da Universidade de Brasília (UnB),
como parte dos requisitos necessários para a
defesa do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Sustentável, área de
concentração em Política e Gestão da
Sustentabilidade.

Orientadora: Profa. Dra. Izabel Cristina B. B.


Zaneti.

BRASÍLIA - DF
2020
3

LIANA DE ANDRADE ESMERALDO PEREIRA

MIGRAÇÃO AMBIENTAL COMPULSÓRIA EM HIDROTERRITÓRIOS:


IMPACTO OCASIONADO NAS FAMÍLIAS PELO CINTURÃO DAS ÁGUAS, NA
REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

Tese submetida ao Centro de Desenvolvimento


Sustentável da Universidade de Brasília (UnB),
como parte dos requisitos necessários para a
defesa do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Sustentável, área de
concentração em Política e Gestão da
Sustentabilidade.

Defesa em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________
Prof. Dra. Izabel Cristina B. B. Zaneti
Orientadora (UnB-CDS)

_________________________________________________________
Profa. Dra. Cristiane Gomes Barreto
Examinadora Interna (UnB-CDS)

_________________________________________________________
Profa. Dra Claudia Pato
Examinadora Externa (UnB/Faculdade de Educação)

_______________________________________________________
Profa. Dra Suely Salgueiro Chacon
Examinadora Externa (UFC/PPGAPP)
4

_________________________________________________________
Prof. Dr. José Luiz Andrade
Suplente (UnB-CDS)
5

A dona Maria Ferreira Nobre de Macedo (in


memoriam), moradora da Chapada, caririense,
mãe de Regivânia, Reginilton, Ricardo,
Francisco e Regivaldo, e aos moradores e
moradoras das comunidades Baixio das
Palmeiras, Muquém, Chapada e Oitis. Ao
professor Augusto, colega do DINTER (in
memoriam).
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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço ao meu Deus que me permitiu chegar até aqui; ao Espírito
Santo que me inspirou em todos os momentos; e a Jesus Cristo, razão da minha fé, que colocou
em meu caminho tantas pessoas valiosas, as quais estão contidas em vários momentos desta
obra. A Ele toda a glória, honra e louvor!
Expresso meus agradecimentos à minha abençoada família nuclear e extensa:
Meus pais, especialmente, minha mãe Lianira, que intercede por mim continuamente e
me cobre com suas orações. Sua vida é preciosa para mim. E minha irmã Joyce, minha amiga,
que é uma eterna incentivadora.
Meu esposo Ophir e meus filhos Tiago, Lucas e Felipe por me estimularem com suas
palavras, compreenderem as minhas ausências e assumirem minhas tarefas domiciliares para
que eu pudesse me dedicar a construção desta tese. Vocês me deixaram muito feliz, meus filhos,
por terem me acompanhado até a comunidade, possibilitando-me partilhar este momento da
minha vida com vocês. Estendo os agradecimentos a Pâmela Tavares, namorada do meu filho
Tiago, ambos estudantes de direito, que participou das visitas, agregando informações e
criando, juntamente com Tiago, um projeto versando sobre a comunidade.
Agradeço à minha orientadora, Izabel Zanetti, excelente profissional, pessoa
espetacular, carismática e acolhedora, que representou o impulso que eu precisava para
caminhar e avançar neste trabalho. As suas palavras “eu tenho orgulho de você”, foram
fundamentais para eu acreditar, e ainda ecoam em minha vida como um grito de guerra. Minha
colega do DINTER diz que nós somos a tampa e a panela (risos).
Algumas pessoas foram especiais, pois me introduziram na história da comunidade e
possibilitaram que eu desenvolvesse o apego ao lugar. Por isso, quero também agradecer:
À Mônica Martins, que me apresentou a situação do Baixio e caminhou junto comigo
nas ruas e casas do distrito; sonhou o meu sonho; e agregou-se à equipe do projeto Resistência
no Baixio das Palmeiras. Obrigada pelos riquíssimos diálogos, por compartilhar ideias, pelas
trocas afetivas, por todos os ensinamentos; enfim, você foi minha coorientadora;
Aos meus colegas do Doutorado Interinstitucional (DINTER): Geovani (conduziu-me a
primeira visita à comunidade, as primeiras conversas com moradores, compartilhou bibliografia
e eventos associados ao meu tema), Augusto (in memoriam, ajudou-me a estabelecer uma rede
de contato com gestores/técnicos do projeto), Cristiano (pelas brincadeiras, quem diria? Sempre
tão sério), Ildisvan (sempre nos socorrendo na tecnologia de informação), Ingrid (nossos
momentos de descanso foram inesquecíveis!), Milton (nosso grupo de estudo foi muito
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produtivo) e Waléria (muito atenciosa com o desenvolvimento do meu trabalho).


Experimentamos muito mais do que uma simples convivência acadêmica. Estudamos e
torcemos juntos uns pelos outros, partilhamos problemas, palavras de ânimo, esperança e
conforto; compartilhamos preocupações e conquistas.
Sou grata a todos que caminharam comigo e contribuíram na minha formação nesses
quatro anos de curso:
Os professores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável
(CDS/UnB) que me apresentaram o real significado de sustentabilidade e contribuíram para a
minha mudança de percepção; especialmente, ao professor Sabourin, que através de sua
disciplina de métodos qualitativos, auxiliou na construção da matriz analítica deste trabalho,
desempenhando um papel muito importante na nossa turma, pois, além do conhecimento,
possui muita empatia com seus estudantes. Sou-lhe muito grata pelas contribuições neste
trabalho.
Os secretários do Centro de Desenvolvimento Sustentável; especialmente, Luciana que
vibrou comigo quando consegui a orientadora. Seu ato, naquele dia, foi inestimável.
Os professores da banca, através da professora Cristiane Barreto, a quem agradeço pelas
valiosas considerações na qualificação que me fizeram exercitar a capacidade de interpretar a
terminologia da psicologia de uma forma mais clara;
A coordenadora do DINTER pela UnB, professora Doris Sayago, que me instigou a
conhecer a psicologia ambiental e foi essencial para a implementação deste doutorado; e
Ao coordenador do DINTER pela UFCA, professor-reitor Ricardo Ness, pelas
preocupações e cuidados no acompanhamento desta turma, durante todo este período;
especialmente para mim, o senhor foi um grande incentivador.
Nesta jornada, algumas pessoas, com as quais tive o prazer de interagir, cruzaram meu
caminho, possibilitaram a criação de uma rede de contatos com pesquisadores da área de
Psicologia Ambiental e áreas afins, compartilharam saberes, materiais de estudo e experiências
que enriqueceram, sobremaneira, este trabalho. Assim, agradeço:
À professora Isolda Gunther, do Laboratório de Psicologia Ambiental da UnB, que me
apresentou a escala de apego e identidade de lugar de Hidalgo e Hernandez (2001).
À professora Ada Mourão, da Universidade Federal do Piauí, por sua disponibilidade
em me orientar na adaptação da escala de apego e identidade de lugar à realidade do meu
trabalho.
Às professoras Sylvia Cavalcante (que revisou a primeira escrita sobre psicologia
ambiental) e Karla Martins, do Laboratório de Relações Humano-Ambientais (LERHA) da
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Universidade de Fortaleza. Ambas me acolheram durante um ano e possibilitaram a minha


imersão na temática ambiental.
À professora Avani Torrres, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, por ter sido
tão acessível em entender meu trabalho e me esclarecer o conceito de hidroterritório, tema
transversal desta pesquisa.
À professora Suely Chacon, da Universidade Federal do Ceará, idealizadora do
DINTER, com a qual tive o prazer de conhecer, conviver e aprender. A qual, carinhosamente,
ajudou-me a delimitar o trabalho com ideias preciosas e revisou um artigo com tema em sua
área.
Ao professor Paulo Cesar de Almeida, da Universidade Estadual do Ceará, que, desde
o meu mestrado, orienta-me na análise quantitativa das minhas pesquisas.
Ao estatístico Anderson Diógenes Gomes, da Universidade Federal do Cariri, que
contribuiu com a finalização do tratamento dos dados quantitativos deste trabalho.
À professora Júlia Bucher- Maluschke, do Instituto de Psicologia da UnB, minha
orientadora do mestrado, por ter se disponibilizado a conversar comigo sobre a temática família
abordada neste trabalho;
Ao professor Gustavo Massola, do Instituto de Psicologia da USP, pela contribuição na
definição de conceitos de psicologia ambiental que foram utilizados nesta tese.
À professora Zulmira Bomfim, do Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental
(LOCUS) da UFC, por ter me auxiliado em alguns encaminhamentos desta pesquisa; e
À professora Gleice Elali, do Grupo de Estudos Pessoa e Ambiente, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, pelo referencial compartilhado.
Da mesma forma, há várias pessoas dos grupos de estudo, pesquisa e cultura dos quais
participei que agregaram conhecimentos, ações e vivências enriquecedoras à minha história
acadêmica nestes quatro anos. De modo, que sou muito grata:
À Rede Latinoamericana de Psicologia Rural, através de pesquisadores como Fernando
Landini, Concepcion Quintanar, Alexandra Méndez e Laís Leite por me apresentar as conexões
entre psicologia e ruralidades.
Às turmas de mestrado/doutorado em Psicologia da Universidade de Fortaleza
(UNIFOR), dos semestres 2018.2 e 2019.1, por me integrarem às suas disciplinas Inter-relação
Pessoa-Ambiente e Métodos de pesquisa na relação pessoa-ambiente, possibilitando-me
conhecer e compreender o alcance da Psicologia Ambiental em áreas interdisciplinares, como
arquitetura; especialmente, através das arquitetas Marília Diógenes, Cibele Parreiras, Larissa
Porto e Roberta Tomaz; a designer de moda Marta Sorelia e o monitor-psicólogo, Artur Baquit.
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À turma de mestrado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional


Sustentável (PRODER) da UFCA, através dos professores Laudeci Martins, Josier Ferreira e
Paulo Renato, pelo aprendizado proporcionado nas disciplinas Redes e Territórios e Métodos
Quali e Quanti. Ao professor Paulo Renato agradeço também por me ajudar a interpretar os
gráficos e por ter sido meu professor. Sinta-se satisfeito porque, finalmente, eu aprendi algo!
(risos).
À equipe do Projeto de Cultura Resistência no Baixio das Palmeiras: Psicologia, Saúde
e Meio Ambiente, que abraçaram a comunidade com comprometimento e responsabilidade
através das ações desenvolvidas, especialmente: os acadêmicos de medicina Hellen Lima,
Leonardo e João Neto; os acadêmicos de psicologia Talita, Suellen, Mirna e Thais; a minha
colega docente Jennifer de Nadae, que possibilitou as atividades no primeiro ano; e, com muita
gratidão, a psicóloga de formação e servidora técnica-administrativa, minha adjunta, Sabrina
Suerli, que junto comigo não mediu esforços para o êxito deste projeto, investindo recursos
próprios e dias de descanso para assistir a comunidade em suas necessidades, contribuindo para
a conclusão da pesquisa;
À equipe de colaboradores da Pro-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), da qual faço
parte, especialmente, Ledjane Sobrinho, minha “chefe” e, particularmente, minha amiga, por
todo o apoio, confiança e estímulo para a finalização desta tese.
Aos mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia (PPGB/UFCA)
Marcos e Arysa (Innovare), Cicera, Hemerson, Bárbara Larissa, pela revisão, normalização e
valiosas sugestões neste e em outros trabalhos produzidos neste período. Alguns estiveram na
comunidade e outros a conheceram por meio dos escritos; e
Aos gestores/técnicos da SRH, SOHIDRA, COGERH, SEMADT, APA, ICMBio,
SAAEC, Geopark Araripe e Secretaria de Agricultura pelos esclarecimentos fornecidos sobre
o projeto CAC.
Primordialmente, ofereço os meus sinceros agradecimentos aos moradores e lideranças
do distrito Baixio das Palmeiras que possibilitaram a consecução desta pesquisa, são eles:
O Liro Nobre, professor, pesquisador e “agricultor”, como faz questão de enfatizar;
pioneiro no movimento de luta e resistência, criador do projeto Casa de Quitéria. Apresentou-
me o conceito de justiça ambiental. Sua atuação é reconhecida dentro e fora da comunidade!
O Sr. Assis Nicolau, apelidado pela equipe do projeto de ‘Garoto Propaganda’, pois nos
acompanhava em todas as visitas, introduzia-nos às casas e apresentava-nos com entusiasmo e
reconhecimento pelo trabalho realizado.
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A Unidade Básica de Saúde (UBS), especificamente a equipe da Estratégia de Saúde da


Família (ESF) do distrito, através da enfermeira responsável Keila Formiga que luta
incansavelmente pela melhoria das condições de saúde da localidade; as agentes comunitárias
de saúde (ACSs) e Raquel, administradora do posto e criadora do grupo Nós Mulheres.
A Escola Rosa Ferreira Macedo, através da coordenadora Cristina Nobre que demandou
as atividades com adolescentes, as quais foram enriquecedoras. Pessoa muito comprometida
com a educação.
A dona Nina, moradora da Chapada, representante do Grupo das Fuxiqueiras, que se
reúne para conversar, partilhar e produzir com muita satisfação belíssimos trabalhos;
A Associação Rural do Baixio das Palmeiras, através do presidente Sr. Assis Santos e
do secretário sr. Zé de Teta, que nos acolheram em suas reuniões e forneceram valiosas
informações.
O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, por meio de seu representante,
Raimundo (Joca) que nos possibilitou participar em suas reuniões e desenvolver ações do nosso
projeto.
Os moradores do Baixio das Palmeiras, representados aqui pelo Sr. Zé Izídio e Dona
Ana, moradores das Palmeiras, cujas filhas serão desapropriadas, que, no princípio, receberam
a mim e aos demais membros do projeto Resistência com desconfiança em sua casa por acharem
que fazíamos parte da equipe do rio; mas, depois nos acolheram de tal forma que me
presentearam com um produto de sua terra.
Os moradores do Baixio do Muquém, representados pelo Sr. Zé Lira, que compartilhou
a sua história com muita emoção, e possibilitou-me neste relato sentir o impacto psicossocial
dessa obra em sua vida.
Em resumo, a todos os moradores da comunidade, ressalto minha admiração quanto à
riqueza natural, humana e linguística que na mesma encontrei. Mesmo sendo uma não-nativa,
desenvolvi apego a esse lugar, de tal forma que optei por manter neste trabalho o vocábulo
nordestino que tanto admiro.
Agradeço também à professora Sarita Bezerra que contribuiu com a revisão textual deste
trabalho, de forma tão presente. Obrigada pelas importantes sugestões! Imagino que a leitura
deve lhe ter sido agradável, por ter expressado o desejo de um dia conhecer a comunidade deste
estudo.
Por fim, sou grata à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pelo fomento a esta pesquisa.
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Foi um trabalho minucioso destacar uma a uma das inúmeras mãos que teceram este
produto, mas, não poderia ser menos do que isso, afinal, todos vocês com seus saberes, palavras,
crenças, atitudes e afetos colocaram um pouco de si neste trabalho. Caso tenha esquecido de
citar alguém, por favor, perdoe-me!
Todavia, deixo também para todos esses anônimos. Meu muito obrigada!!!
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RESUMO

O presente estudo visa discutir a implementação do projeto hídrico Cinturão das Águas do
Ceará (CAC) e a migração compulsória ocasionada na região do Cariri Cearense. No trecho
que abrange o município do Crato, as comunidades empoderadas do distrito Baixio das
Palmeiras, através da mobilização e participação dos equipamentos sociais comunitários,
formaram uma hidroresistência denominada Fórum Popular das Águas, com o objetivo de
proteger seu hidroterritório. O estudo tem como questão norteadora: quais os impactos na
relação pessoa e ambiente provocados pela migração compulsória para os moradores atingidos
pelo Projeto Cinturão das Águas do Ceará (CAC)?A metodologia adotada foi a abordagem
multimétodos, incluindo instrumentos de abordagem mista, tais como observação participante,
entrevistas, aplicação de survey baseado em uma escala adaptada de apego e identidade de lugar
e autobiografia ambiental. A amostra foi composta por gestores do projeto, lideranças
comunitárias, as comunidades atingidas, e os moradores que tiveram ou que terão suas casas
desapropriadas. Para análise dos dados, utilizou-se análise de conteúdo, discurso do sujeito
coletivo, tratamento estatístico e autobiografia ambiental. Os resultados do estudo
demonstraram diferentes perspectivas na interação da pessoa-ambiente. Os pontos de
convergência são o reconhecimento da importância de um empreendimento que se propõe a
garantir segurança hídrica; a falta de habilidade na estratégia de abordagem aos moradores; a
morosidade dos órgãos de gestão na execução da obra; e a falta de transparência nas
informações. O sofrimento ocasionado pela violação dos direitos humanos dos atingidos,
impactaram os modos de vida, bem como a saúde física e mental da comunidade, além de causar
danos ambientais. A existência de fortes vínculos de apego e identidade de lugar, se observa
tanto em nativos como em não nativos, nos homens, mais do que nas mulheres, e na faixa etária
de 50 anos em diante. O conflito socioambiental instalado alcançou, como externalidade
positiva, a modificação estrutural do projeto, de forma a diminuir o quantitativo de imóveis
desapropriados. Conclui-se que o enraizamento e pertencimento dos habitantes em relação à
casa, à vizinhança e ao patrimônio natural do lugar está evidenciado na coesão social e
satisfação residencial com o espaço apropriado. As ações de mitigação precisam contemplar as
relações psicoafetivas das pessoas no território; construir relações cooperativas e de
corresponsabilização na gestão partilhada de recursos hídricos; fortalecer a gestão integrada dos
recursos hídricos, a participação ativa e informada da sociedade, incluir programas de educação
ambiental para crianças, jovens e comunidade a fim de promover a compreensão das condutas
humanas no ambiente, pois as relações afetivas com o lugar tendem a reverberar em
comportamentos pró-ambientais. Desta forma, o diálogo interdisciplinar sobre as questões
ambientais precisa incorporar as contribuições da psicologia ambiental e da psicologia rural,
tanto para mitigar quanto para prevenir danos ambientais. O Projeto CAC minimizou os
impactos sociais e desconsiderou os psicológicos na vida das comunidades atingidas, portanto,
recomenda-se que as políticas públicas voltadas para diminuir a vulnerabilidade devam
incorporar estes impactos e ter um novo olhar nas discussões sobre política hídrica, gestão
ambiental, planejamento territorial e projetos de desenvolvimento, de forma a adotar medidas
que considerem os impactos psicossociais nos cidadãos implicados nessas ações.

Palavras-chave: Políticas Públicas. Migração compulsória. Hidroterritório. Hidroresistência.


Psicologia Ambiental.
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ABSTRACT

The present study aims to discuss the Ceará Water Belt (CWB) water project implementation
as well as the compulsory migration brought about in the Cariri region in Ceará. In the stretch
that encompasses the municipality of Crato, the Baixio das Palmeiras district’s empowered
communities, through the mobilization and participation of community social institutions,
formed a hydroresistance social grassroots called The Popular Water Forum, whose objective
is to protect its hydroterritory. The study’s guiding question is: what are the impacts on the
relationship between person and environment caused by compulsory migration for residents
affected by the Ceará Water Belt (CBW) Project? The methodology that was adopted was the
multi-method approach, including mixed approach instruments, such as participant observation,
interviews, survey application based on a scale adapted of attachment and place identity and
environmental autobiography.The sample consisted of project managers, community leaders,
affected communities, and residents who had or will have their homes expropriated. For data
analysis, content analysis, collective subject discourse, statistical treatment and environmental
autobiography were used. The study results showed different perspectives on the person-
environment interections.The convergence points are the recognition of the importance of an
enterprise that aims to ensure water security; lack of skill in approaching residents; the
management bodies sluggishness in carrying out the work; and lack of transparency of
information. The suffering caused by the human rights violation of those who are affected, ways
of life are also affected, as well as the physical and mental health of the community, in addition
to causing environmental damage. The existence of attachment strong bonds and place identity,
is observed in both natives and non-natives, in men, more than in women, and in the age group
of 50 years onwards.The socio-environmental conflict instituted reached, as a positive
externality, the project structural modification, in order to reduce the amount of expropriated
properties. It is concluded that the rooting and belonging of the inhabitants in relation to the
house, the neighborhood and the natural heritage of the place is evidenced in social cohesion
and residential satisfaction related to the appropriate space. Mitigation actions need to
contemplate the people’s psycho-affective relationships in the territory; build cooperative and
co-responsability relationships when it comes to shared management of water resources;
strengthen integrated water resources management, the active and informed participation of the
society, include Environment Education programs for children, youth and for the community
people with the aim of promoting the understanding of the human behavior in the environment,
because the affective relationships with the place tend to reverberate in pro environmental
behaviors.Therefore, interdisciplinary dialogue on environmental issues needs to incorporate
the environmental psychology and rural psychology contributions, both to mitigate and to
prevent environmental damage. The CWB Project downplayed the social impacts as well as
disregarded the psychological ones in the lives of the affected communities, consequently, it is
recommended that public policies aimed at reducing vulnerability should incorporate these
impacts and have a new perspective in discussions on water policy, environmental management,
territorial planning and development projects, so as to adopt measures that consider all the
psychosocial impacts on the citizens involved in such actions.

Keywords: Public policy. Compulsory migration. Hydroterritory. Hydroresistance.


Environmental Psychology.
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RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo discutir la implementación del proyecto de agua del Cinturón
de Aguas de Ceará (CAC) y la migración obligatoria causada en la región de Cariri Cearense.
En el tramo que abarca el municipio de Crato, las comunidades empoderadas del distrito de
Bajío de las Palmeras, a través de la movilización y participación de los equipamientos sociales
comunitarios, formaron una hidroresistencia llamada Foro Popular de las Aguas, con el objetivo
de proteger su hidroterritorio. El estudio tiene como pregunta orientativa: ¿cuáles son los
impactos en la relación entre las personas y el medio ambiente causados por la migración
obligatoria para los residentes afectados por el Proyecto Cinturón de las Aguas de Ceará
(CAC)? La metodología adoptada fue el enfoque multimétodos, incluyendo los instrumentos
de aproximación mixta, tales como la observación participante, las entrevistas, aplicación de
encuesta basada en una escala adaptada de apego e identidad del lugar y la autobiografía
ambiental. La muestra fue compuesta por gerentes de proyectos, líderes comunitarios, las
comunidades afectadas y los residentes que tuvieron o tendrán sus hogares expropiados. Para
el análisis de datos, se utilizaron análisis de contenido, discurso de sujeto colectivo, tratamiento
estadístico y autobiografía ambiental. Los resultados del estudio demostraron diferentes
perspectivas en la interacción de la persona-medio ambiente. Los puntos de convergencia son
el reconocimiento de la importancia de una empresa que tiene por objeto garantizar la seguridad
del agua; la falta de habilidad en la estrategia de acercarse a los residentes; el retraso de los
órganos de dirección en la ejecución de la obra; y la falta de transparencia en la información.
El sufrimiento causado por la violación de los derechos humanos de los afectados, afectó las
formas de vida, así como la salud física y mental de la comunidad, además de causar daños
ambientales. La existencia de fuertes lazos de apego e identidad del lugar se observa tanto en
nativos como en no nativos, en hombres, más que en mujeres, y en el grupo de edad de 50 años
en adelante. El conflicto socioambiental instalado logró, como externalidad positiva, la
modificación estructural del proyecto, con el fin de reducir el número de propiedades
expropiadas. Se concluye que el enraizamiento y pertenencia de los habitantes en relación a la
casa, a la vecindad y al patrimonio natural del lugar se evidencia en la cohesión social y la
satisfacción residencial con el espacio adecuado. Las acciones de mitigación deben contemplar
las relaciones psicoafectivas de las personas en el territorio; construir relaciones de cooperación
y corresponsabilidad en la gestión compartida de los recursos hídricos; fortalecer la gestión
integrada de los recursos hídricos, la participación activa e informada de la sociedad, incluir
programas de educación ambiental para los niños, los jóvenes y la comunidad con el fin de
promocionar la comprensión de las conductas humanas en el medio ambiente, ya que las
relaciones afectivas con el lugar tienden a reverberar en los comportamientos proambientales.
Por lo tanto, el diálogo interdisciplinario sobre las cuestiones ambientales debe incorporar las
contribuciones de la psicología ambiental y la psicología rural, tanto para mitigar como para
prevenir daños ambientales. El Proyecto CAC redujo los impactos sociales y no tuvo en cuenta
los impactos psicológicos en la vida de las comunidades afectadas, por lo tanto, se recomienda
que las políticas públicas destinadas a reducir la vulnerabilidad incorporen estos impactos y
examinen de nuevo los debates sobre políticas hídricas, gestión ambiental, planificación
territorial y proyectos de desarrollo, a fin de adoptar medidas que consideren los impactos
psicosociales en los ciudadanos involucrados en estas acciones.

Palabras-clave: Políticas Públicas. Migración obligatoria. Hidroterritorio. Hidroresistencia.


Psicología Ambiental. Apego e identidad del lugar.
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura esquemática do trabalho............................................................... 32


Figura 2 - Mapa da Região Metropolitana do Cariri (em amarelo) ............................ 34
Figura 3 - Pirâmide etária do munícipio de Crato - CE (2010) ................................... 35
Figura 4 - Matrículas na Educação básica no município de Crato - CE em 2017....... 36
Figura 5 - Características ambientais do município de Crato - CE (2017) ................. 37
Figura 6 - Bacias hidrográficas do Estado do Ceará e bacia do Salgado..................... 38
Figura 7 - Esquema de distribuição das águas da Fonte Batateira............................... 39
Figura 8 - Mapa Divisão das Comunidades do Baixio das Palmeiras......................... 41
Figura 9 - Quantitativo de famílias residentes no território pesquisado...................... 43
Figura 10 - Infográfico do Marco Legal do CAC (Parte I) ........................................... 54
Figura 11 - Infográfico do Marco Legal do CAC (Parte II) .......................................... 55
Figura 12 - Mapa dos Conflitos Hídricos....................................................................... 63
Figura 13 - Mapa de localização da área de estudo....................................................... 95
Figura 14 - Resumo da metodologia.............................................................................. 97
Figura 15 - Órgãos visitados.......................................................................................... 98
Figura 16 - Categorias analisadas.................................................................................. 99
Figura 17 - Estratégias metodológicas para o alcance do segundo objetivo.................. 100
Figura 18 - Visão geral da metodologia utilizadas para contemplar o terceiro objetivo.. 103
Figura 19 - Reunião na Associação Rural do Baixio das Palmeiras................................ 107
Figura 20 - Atividades do projeto na casa de Quitéria.................................................... 108
Figura 21 - Atividades realizadas na Unidade Básica de Saúde do Baixio das
Palmeiras..................................................................................................... 108
Figura 22 - Atividade ‘A teia’ realizada na Escola de Ensino Fundamental Rosa
Ferreira de Macêdo...................................................................................... 109
Figura 23 - Atividades realizadas na Unidade Básica de Saúde do Baixio do Muquém.. 109
Figura 24 - Reunião no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato
do Baixio do Muquém.................................................................................. 110
Figura 25 - Estrutura da metodologia do trabalho para objetivo quatro........................ 111
Figura 26 - Imóveis atingidos no Baixio do Muquém................................................... 112
Figura 27 - Imóveis atingidos na Chapada do Baixio.................................................... 112
Figura 28 - Imóveis atingidos no Baixio dos Oitis........................................................ 113
16

Figura 29 - Imóveis atingidos no Baixio das Palmeiras................................................. 113


Figura 30 - Linha do Tempo do CAC............................................................................ 122
Figura 31 - Linha do Tempo do Fórum Popular das Águas........................................... 125
17

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Resposta da comunidade a desapropriação promovida pelo CAC................ 126


Gráfico 2 - Bases de apoio social para organização do FOPAC.................................... 128
Gráfico 3 - Principais atores sociais de mobilização para reduzir os efeitos
mitigadores da desapropriação..................................................................... 130
Gráfico 4 - Membros das famílias mais afetadas pelo processo de migração
compulsória................................................................................................. 132
Gráfico 5 - Como a comunidade teve acesso à informação do projeto CAC................ 132
Gráfico 6 - Como se deu a negociação para as mudanças no projeto CAC..................... 134
Gráfico 7 - Participação da comunidade no movimento de hidroresistência................. 136
Gráfico 8 - Por que as famílias afetadas optaram por permanecer na comunidade....... 138
Gráfico 9 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao lugar por localidade..... 147
Gráfico 10 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao apego ao lugar por
gênero.......................................................................................................... 148
Gráfico 11 - Distribuição de respostas a questões referentes ao apego ao local por faixa
etária............................................................................................................ 149
Gráfico 12 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao apego ao lugar por
natividade.................................................................................................... 150
Gráfico 13 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por localidade.. 152
Gráfico 14 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por gênero........ 153
Gráfico 15 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por faixa etária. 154
Gráfico 16 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por natividade.. 155
Gráfico 17 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por
localidade..................................................................................................... 156
Gráfico 18 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por gênero... 158
Gráfico 19 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por faixa
etária............................................................................................................ 159
Gráfico 20 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por
natividade.................................................................................................... 160
Gráfico 21 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por
localidade..................................................................................................... 162
18

Gráfico 22 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por


sexo.............................................................................................................. 163
Gráfico 23 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por
faixa etária................................................................................................... 164
Gráfico 24 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por
natividade.................................................................................................... 165
19

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Matriz de análise do trabalho....................................................................... 29


Quadro 2 - Conceitos relacionados à ocorrência de apego ao lugar................................ 79
Quadro 3 - Quadro conceitual do tópico sobre Psicologia Ambiental e relação pessoa-
ambiente...................................................................................................... 92
Quadro 4 - Identidade.................................................................................................... 105
Quadro 5 - Apego ao lugar............................................................................................. 105
Quadro 6 - Coesão Social.............................................................................................. 105
Quadro 7 - Satisfação residencial................................................................................... 105
Quadro 8 - Falas dos entrevistados acerca da importância do projeto CAC................... 115
Quadro 9 - Falas dos entrevistados acerca da manutenção da obra e gestão das águas 117
Quadro 10 - Falas dos entrevistados acerca dos problemas causados pela execução da
obra.............................................................................................................. 117
Quadro 11 - Falas dos entrevistados acerca das propostas de melhorias para novas
execuções..................................................................................................... 119
Quadro 12 - Falas do técnico Brachyphyllum que teve sua casa desapropriada................ 120
Quadro 13 - Satisfeitos com a mudança da casa............................................................... 178
Quadro 14 - Insatisfeitos com a mudança da casa............................................................ 179
Quadro 15 - Descontentamento a respeito da abordagem do pessoal do rio..................... 179
Quadro 16 - Representação da casa.................................................................................. 180
Quadro 17 - Espaço Construído/Espaço Natural.............................................................. 182
Quadro 18 - Relação com a história de vida..................................................................... 183
Quadro 19 - Elementos ambientais.................................................................................. 184
Quadro 20 - Sensações e sentidos.................................................................................... 185
Quadro 21 - Fontes de influência..................................................................................... 187
20

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterização da amostra........................................................................... 111


Tabela 2 - Quantitativo de moradores pesquisados por comunidade........................... 140
Tabela 3 - Distribuição do número de moradores, segundo as características sociais. 141
Tabela 4 - Distribuição do número de moradores, segundo as características
econômicas.................................................................................................. 142
Tabela 5 - Distribuição do número de moradores, segundo condições de moradia..... 143
Tabela 6 - Distribuição do número de moradores, segundo condições de saúde e
qualidade de vida......................................................................................... 143
Tabela 7 - Distribuição do número de doenças por moradores...................................... 144
Tabela 8 - Comparação das médias da escala e dos domínios..................................... 145
21

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEA Avaliação de Equidade Ambiental


ANA Agência Nacional das Água
ANOVA Análise de Variância
APA Área de Proteção Ambiental
BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento
CAC Cinturão das Águas do Ceará
CBHs Comitês de Bacias Hidrográficas
CDS Centro de Desenvolvimento Sustentável
CE Ceará
CF Constituição Federal
CIPP Complexo Industrial e Portuário do Pecém
COEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
COM-VIDA Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida
CONDEMA Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
CRAJUBAR Crato, Juazeiro e Barbalha
DF Distrito Federal
DICP Divisão de Conformidade de Pagamento
DINTER Doutorado Interinstitucional
DIS Diagnóstico de Impacto Social
DNOCS Departamento Nacional de Obras contra as Secas
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
EIA Estudo de Impacto Ambiental
ESF Estratégia de Saúde da Família
FETRAECE Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará
FLONA Floresta Nacional do Araripe
FOPAC Fórum Popular das Águas
FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
FUP Faculdade UnB Planaltina
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
22

IDH Índice de Desenvolvimento Humano


IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas
IGMA Instrumento Gerador de Mapas Afetivos
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
LERHA Laboratório de Estudos das Relações Humano-Ambientais
LOCUS Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental
MAM Movimento dos Atingidos por Barragens
MPCE Plano Estadual de Conivência com a Seca
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidades
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PE Pernambuco
PERH Plano Estadual de Recursos Hídricos
PIB Produto Interno Bruto
PIRSF Projeto de Integração do Rio São Francisco
RENAP Rede Nacional de advogados populares
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RJ Rio de Janeiro
SAAEC Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato
DAS Secretaria de Desenvolvimento Agrário
SEMAC Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano
SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente
SEMADT Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Territorial
SIGERH Sistema de Gestão dos Recursos Hídricos
SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SISAR Sistema Integrado de Saneamento Rural
SOHIDRA Superintendência de Obras Hidráulicas
SRH Secretaria dos Recursos Hídricos
STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS Unidade Básica da Saúde
23

UFC Universidade Federal do Ceará


UFCA Universidade Federal do Cariri
UFPI Universidade Federal do Piauí
UFRN Universidade Federal de Rio Grande do Norte
UnB Universidade Federal de Brasília
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNIFOR Universidade de Fortaleza
URCA Universidade Regional do Cariri
24

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 27
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DE PESQUISA............ 34
2.1 A CIDADE DO CRATO: ASPECTOS GEOGRÁFICOS E
SOCIODEMOGRÁFICOS.......................................................................... 34
2.2 CONHECENDO O DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS.................... 40
3 GESTÃO DAS ÁGUAS NO ESTADO DO CEARÁ E O PROCESSO
DE IMPLEMENTAÇÃO DO CAC NO DISTRITO BAIXIO DAS
PALMEIRAS............................................................................................. 44
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DAS ÁGUAS NO ESTADO DO
CEARÁ........................................................................................................ 44
3.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO DAS ÁGUAS...... 48
3.3 O PROJETO CINTURÃO DAS ÁGUAS DO CEARÁ (CAC) E SUA
INSERÇÃO NO DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS......................... 51
4 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO HIDROTERRITÓRIO
BAIXIO DAS PALMEIRAS E O PROCESSO DE MIGRAÇÃO
COMPULSÓRIA....................................................................................... 57
4.1 HIDROTERRITÓRIO E HIDRORESISTÊNCIA....................................... 57
4.2 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM HIDROTERRITÓRIOS............ 59
4.3 HIDRORESISTÊNCIA NO HIDROTERRITÓRIO BAIXIO DAS
PALMEIRAS: O FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI............ 64
4.4 MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA EM HIDROTERRITÓRIO...................... 70
5 MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA, DESTERRITORIALIZAÇÃO E A
RELAÇÃO PESSOA-AMBIENTE SOB A ÓTICA DA
PSICOLOGIA............................................................................................ 76
5.1 INTERAÇÃO PESSOA-AMBIENTE E SUAS IMPLICAÇÕES NO
COMPORTAMENTO EM PROL DO TERRITÓRIO................................ 76
5.2 OS VÍNCULOS AFETIVOS COM O AMBIENTE: APEGO E
IDENTIDADE DE LUGAR........................................................................ 78
5.3 APROPRIAÇÃO DE ESPAÇO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS............ 82
5.4 FAMÍLIA, COMUNIDADE E CASA: REDES DE APOIO....................... 85
5.5 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO PROCESSO DE MIGRAÇÃO
COMPULSÓRIA......................................................................................... 89
25

6 PERCURSO METODOLÓGICO............................................................ 94
6.1 LOCAL DE ESTUDO................................................................................. 94
6.2 INSTRUMENTOS DE COLETAS E ANÁLISE DE DADOS DE
ACORDO COM OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................... 96
6.2.1 Procedimentos metodológicos gerais........................................................ 96
6.2.2 Métodos referentes ao primeiro objetivo.................................................. 96
6.2.3 Métodos referentes ao segundo objetivo................................................... 99
6.2.4 Métodos referentes ao terceiro objetivo................................................... 102
6.2.5 Métodos referentes ao quarto objetivo..................................................... 110
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................. 115
7.1 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO CAC NAS COMUNIDADES DO
DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS: A VISÃO DOS GESTORES
PÚBLICOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO............................................ 115
7.2 A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DE HIDRORESISTÊNCIA FÓRUM
POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, FRENTE AOS CONFLITOS
GERADOS PELO CAC NO BAIXO........................................................... 124
7.3 RELAÇÕES DE APEGO, IDENTIDADE DE LUGAR, COESÃO
SOCIAL E SATISFAÇÃO RESIDENCIAL DOS MORADORES O
DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS, ATINGIDOS............................. 140
7.3.1 Perfil socioeconômico................................................................................. 140
7.3.2 Discussão dos resultados da escala............................................................ 144
7.3.2.1 Apego ao lugar............................................................................................. 146
7.3.2.2 Identidade.................................................................................................... 151
7.3.2.3 Coesão Social............................................................................................... 155
7.3.2.4 Satisfação Residencial................................................................................. 161
7.3.3 Discussão dos resultados............................................................................ 165
7.4 RESISTIR E/OU MIGRAR: APROPRIAÇÃO DE ESPAÇO NO
HIDROTERRITÓRIO BAIXIO DAS PALMEIRAS.................................. 177
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 188
REFERÊNCIAS......................................................................................... 194
APÊNDICE A - Termo de Autorização de Uso de Imagem........................ 213
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos
Participantes da Pesquisa............................................................................. 214
26

APÊNDICE C - Linha de tempo do Cinturão de Águas do Ceará............... 216


APÊNDICE D - Roteiros de entrevistas...................................................... 222
APÊNDICE E - Linha do Tempo do Fórum Popular das Águas do Cariri
(FOPAC)...................................................................................................... 224
APÊNDICE F - Pesquisa sobre a relação do morador com sua habitação
e comunidade............................................................................................... 226
APÊNDICE G - Portfólio do Projeto de cultura: “Resistência no Baixio
das Palmeiras: Psicologia, Saúde e Meio Ambiente..................................... 231
APÊNDICE H - Linha do tempo do CAC: infográfico............................... 238
APÊNDICE I - Linha do tempo do Fórum Popular das Águas:
infográfico................................................................................................... 241
ANEXO A - Cinturão de Águas do Ceará (CAC): histórico......................... 243
ANEXO B - Projeto Cinturão de Águas do Ceará (CAC)............................ 244
ANEXO C - Ata da 1º Reunião Extraordinária do ano de 2010 do
Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente do Município de Crato
- CE.............................................................................................................. 249
ANEXO D - Parecer e relatório de vistoria.................................................. 259
ANEXO E - Autorização para licenciamento ambiental.............................. 264
ANEXO F - Relatório de esclarecimento de ocorrências do projeto CAC... 266
ANEXO G - Cordel: O Baixio Preocupado................................................. 269
ANEXO H - Regras de transcrição de acordo com Marcushi....................... 272
ANEXO I - Parecer da Plataforma Brasil..................................................... 274
ANEXO J - Carta de Anuência do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais
de Crato, CE................................................................................................. 277
ANEXO K - Autorização da Associação para o desenvolvimento da
pesquisa....................................................................................................... 278
ANEXO L - Carta de anuência da Unidade Básica de Saúde do Muquém
e a Unidade de Saúde da Família Baixo das Palmeiras, Crato, CE................ 279
27

1 INTRODUÇÃO

As questões ambientais têm-se tornado o foco de estudos científicos e agendas políticas


há algum tempo. Seja por mudanças climáticas, devastação ambiental, uso indevido dos
elementos naturais ou no contexto de programas de desenvolvimento, o ser humano se debruça
sobre o meio natural como um espectador, muitas vezes, inconsciente de que faz parte desse
macrossistema.
A própria educação tem feito adaptações metodológicas e de conteúdo para acompanhar
as mudanças estruturais e dinâmicas das relações do indivíduo com seu ambiente, buscando
gerar conhecimentos e conscientizar as pessoas sobre a responsabilidade na convivência com
os outros e com o planeta.
Dessa forma, esse trabalho se propõe a refletir sobre sustentabilidade, partindo da
perspectiva da Psicologia Ambiental. Acreditamos que essa área do conhecimento favorece o
estabelecimento do diálogo sobre como a relação pessoa-ambiente é importante ao discutir
sobre sustentabilidade, reconhecendo-se o elo que as torna uma unidade relacional, que,
portanto, para ser interdisciplinar, faz-se necessário pensar sobre essa conexão de forma
integrada e integradora.
Na perspectiva de aliar a área do doutorado em desenvolvimento sustentável com a
psicologia, minha área de formação, escolheu-se, como objeto de estudo, o deslocamento
compulsório de moradores de quatro comunidades rurais, em consequência do Cinturão das
Águas do Ceará (CAC), que faz parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PIRSF)
com as bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Este estudo teve como foco parte do trecho 1 da obra, Jati-Cariús, que se desenvolve
pela região do Cariri, interceptando o território da Bacia do Salgado e da Bacia do Alto
Jaguaribe, intervindo nas comunidades Baixio das Palmeiras, Oitis, Muquém e Chapada do
Baixio, no município do Crato. O tema deste trabalho, portanto, agrega vários assuntos
importantes acerca do Cinturão das Águas do Cariri, tais como: migração compulsória, a
disputa pelo hidroterritório e quais os impactos da implementação desse projeto hídrico na
relação pessoa-ambiente nas famílias afetadas nos seus respectivos territórios.
Primeiramente, compreende-se por migração o processo de deslocamento de um lugar
para o outro, cujos motivos são diversos, uns favoráveis, outros desfavoráveis. Esses serão
tratados na perspectiva de desterritorialização, uma vez que está relacionada à perda residencial
(desapropriação) de forma obrigatória.
28

Sobre o elemento ambiental que foi trabalhado nesse estudo, temos como objeto central
o processo de migração compulsória. Como justificativa desse processo, está a construção de
um projeto hídrico que tem como objetivo promover garantia hídrica para abastecer localidades
com déficit hídrico, seja em pequenas cidades ou metrópoles.
Sobre a pauta social abordada nesse estudo, explanamos quais as consequências sociais
e psicológicas da chegada desse empreendimento nas quatro comunidades pesquisadas. Foi
observado que, quando o projeto adentrou as localidades supracitadas, gerou uma mobilização
social, a princípio intracomunitária e, posteriormente, agregando diversos segmentos da
sociedade na luta pelo território, que é possuidor de riqueza hídrica, patrimonial e social. A
força da integração social dessas comunidades foi destacada em pesquisas e reconhecida por
gestores.
A contingência, ou seja, a relação de dependência entre os eventos ambientais e eventos
comportamentais suscitados pelo projeto, forçou o deslocamento das famílias que, por uma
coação situacional, tiveram que deixar seus lares. Essa circunstância gerou um impacto que é
compreendido neste estudo como consequências sociais, físicas, ambientais e psicológicas para
as famílias realocadas, uma vez que a desterritorialização impacta tanto os vínculos sociais
quanto afetivos, através do rompimento com o lugar de habitação, interferindo no bem-estar e
na qualidade de vida das pessoas.
Entender a gestão dos recursos hídricos no contexto das políticas públicas e de seus
projetos, na forma de execução em comunidades rurais, trouxe questionamentos sobre a reação
das pessoas em uma situação percebida como ameaçadora para o ambiente de moradia.
Ambiente esse percebido de inúmeras formas por diferentes pessoas e em diferentes contextos,
através de uma multiplicidade de variáveis que influenciarão os sentimentos de apego ao lugar,
de pertencimento e consequentemente desencadearão ações participativas da comunidade em
prol do lugar de habitação.
Outro fator de destaque no contexto migratório reside na força desse ambiente
comunitário que atuou como suporte funcional, criando e fortalecendo alianças em prol do
objetivo compartilhado por muitos: reduzir os efeitos danosos do projeto na região. Essa ação
coletiva demonstrou empoderamento através da participação nas negociações.
Estudos sobre movimentos migratórios podem ser encontrados no contexto da
geografia, psicologia e sustentabilidade, concebidas neste trabalho como áreas a serem
integradas.
Visto esse panorama, considera-se o seguinte problema de pesquisa: Como as obras do
Cinturão das Águas do Ceará afetam a relação pessoa-ambiente nas famílias rurais residentes
29

no município do Crato-CE, distrito Baixio das Palmeiras, região do Cariri? Quais as


consequências da obra, ao nível psicológico e social, nas vidas dos atingidos?
Logo, colocam-se como objetivo geral desta tese analisar o impacto da migração
compulsória na relação pessoa-ambiente das famílias residentes nas comunidades do Baixio das
Palmeiras, Chapada do Baixio, Oitis e Muquém, em uma perspectiva intergeracional, em
virtude do projeto Cinturão das Águas do Ceará (CAC).
Como objetivos específicos, listamos: 1) Investigar a percepção dos gestores sobre a
implementação do projeto CAC e os desdobramentos no hidroterritório Baixio das Palmeiras;
2) Examinar a atuação do movimento de hidroresistência Fórum Popular das Águas do Cariri,
descrevendo a formação e o papel do mesmo enquanto agente mobilizador da comunidade,
frente aos conflitos gerados pelo CAC no hidroterritório Baixio das Palmeiras; 3) Diagnosticar
as relações de apego, identidade de lugar, coesão social e satisfação residencial dos moradores
do distrito Baixio das Palmeiras, atingidos pelo CAC; e 4) Avaliar as implicações do processo
de implementação do projeto Cinturão das Águas do Ceará nas comunidades atingidas, a partir
da vivência dos moradores que já foram ou serão desapropriados.
A seguir, na matriz de análise apresentada no Quadro 1, faz-se o registro dos principais
conceitos a serem trabalhados de acordo com os objetivos específicos, alguns autores que tratam
da temática, as variáveis a serem estudadas e as técnicas de coleta e tratamento dos dados.
Quadro 1 - Matriz de análise do trabalho
Objetivo Variáveis Técnica de coleta Tratamento
de dados
Investigar a História: Pesquisa Gravação e transcrição das
percepção dos Origem da obra, documental: entrevistas.
gestores sobre a beneficiários, (notícias,
implementação do influências externas e documentos Análise do conteúdo.
projeto CAC e internas, oficiais, ata de
seus externalidades reuniões).
desdobramentos positivas e negativas Linha do tempo.
no hidroterritório da implementação Entrevista semi-
Baixio das nas comunidades estruturada.
Palmeiras. investigadas.
Atores a
Eventos marcantes: entrevistar:
Primeiras ações do Gestores/ técnicos
governo na do governo.
comunidade acerca
do CAC;
Reação das
comunidades com a
chegada do
empreendimento.
Examinar a História: Observação Gravação e transcrição das
atuação do Formação do Fórum Entrevista semi- entrevistas.
movimento de Popular das Águas. estruturada.
hidroresistência Discurso do Sujeito Coletivo
30

Fórum Popular Elementos Atores a Linha do Tempo do Fórum


das Águas do associados: entrevistar: Popular das Águas do Cariri.
Cariri, enquanto Participação social, Lideranças
agente empoderamento e comunitárias.
mobilizador da consciência
comunidade, ambiental.
frente aos conflitos
gerados pelo CAC
no hidroterritório
Baixio das
Palmeiras.
Objetivo Variáveis Técnica de coleta Tratamento
de dados
Diagnosticar as Apego ao lugar e Formulário Análise dos dados do
relações afetivas identidade de lugar; socio-econômico formulário socioeconômico.
de apego, coesão social e Escala de apego
identidade de satisfação ao lugar Análise dos resultados
lugar, coesão residencial. Atores a estatísticos da escala de apego
social e satisfação entrevistar: e identidade de lugar.
residencial dos Moradores
moradores do residentes das
distrito Baixio das quatro
Palmeiras, comunidades
atingidos pelo pesquisadas.
CAC.
Avaliar as Apropriação de Autobiografia Gravação e transcrição dos
implicações do Espaço; Ambiental. relatos autobiográficos
processo de Pertencimento; ambientais.
implementação do Enraizamento e Atores a
projeto Cinturão Justiça ambiental. entrevistar: Análise da Autobiografia
das Águas do Moradores ambiental.
Ceará nas diretamente
comunidades atingidos que
atingidas, a partir serão
da vivência dos desapropriados.
moradores que já
foram ou serão
desapropriados.
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Justifica-se que a construção de uma tese representa também a nossa construção. É um


processo que envolve conhecer o objeto/sujeito do estudo de forma teórica e prática,
desenvolvendo-se, na medida em que deste se apropria, com afetividade e identidade. Para
algumas pessoas é fundamental o estabelecimento dessa conexão, pois, somente assim, o estudo
será interessante e agradável, e, portanto, potencializador. O encontro entre a sustentabilidade
e a psicologia ambiental, foi o momento inicial.
Logo em seguida, uma exploração introdutória fez-se necessária, a fim de conhecer o
ambiente e apresentar-me às pessoas com as quais desenvolveria a pesquisa, resultando,
reciprocamente, na promoção e compartilhamento de experiências afetivas e promotoras de
saúde. Em minha concepção, pesquisa e extensão precisam acontecer concomitantemente,
31

atreladas ao ensino; e, assim, contribuir na formação da próxima geração, pois a educação é um


instrumento poderoso de mudança.
Foi gratificante perceber que o sentimento inicial de desconfiança em relação a nós,
pesquisadores, foi substituído por uma calorosa acolhida. Não saíamos das comunidades sem
uma sacola de manga ou um saco de fava; e “ai” de nós se não fôssemos visitar “aquela”
moradora, pois nos esperava com um sorriso no rosto, um pedaço de bolo e um copo de suco.
Que prazer foi ouvir as histórias contadas, oferecer apoio emocional e suporte psicológico. E a
comparação do bombeamento do sangue nas veias e artérias com os canais de irrigação?
Inesquecível escutar aquele estudante de medicina ensinar de forma prática aos moradores a se
cuidarem! Bem como observar as voluntárias da psicologia planejando as ações com tanto
entusiasmo.
Com certeza, as nossas realidades não são as mesmas; não tenho a pretensão de dizer
que eu sei o que eles estão passando, porque, eu não sei. Mas eu posso dizer que faço parte
dessa história que está sendo vivida, contada e recontada. Também posso afirmar que, apesar
de a pesquisa estar concluída, continuaremos o que começamos. Não quero fazer parte do grupo
que, como eles dizem: “vão lá, fazem suas pesquisas e vão embora!”. Muitos, inclusive, sem
se despedir. Como aprendemos na Unidade Básica de Saúde: “quem bebe da água do Baixio,
nunca mais vai embora”.
Esta pesquisa mudou a minha vida. Possibilitou enxergar facetas de realidades, até
então, desconhecidas. Mas também esquecidas. Como neta de agricultores que viveu a infância
pendurada em um pé de manda de seriguela ou goiabeira, revivi as memórias de minha infância,
praticando autobiografia ambiental. E, no presente, tornei-me mais consciente dos prejuízos das
obras governamentais para a qualidade de vida das pessoas. Antes, não tinha a menor ideia,
mas, ao participar do Fórum Internacional de Injustiça Hídrica em Fortaleza, pude conhecer os
moradores deslocados pela construção do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e
ver a fumaça tóxica saindo do complexo e indo em direção aos moradores que serão novamente
realocados. Ouvir o barulho das máquinas, fez-me entender o porquê da luta contra a injustiça
ambiental que esconde a banalização do sofrimento humano. Assim, pude compreender que,
infelizmente, enquanto as leis e políticas forem planejadas por detrás de uma mesa de escritório,
o quadro permanecerá o mesmo.
Mas, de uma coisa eu tenho certeza: minhas aulas não serão as de outrora. No curso de
medicina introduzi o conteúdo de psicologia ambiental, no qual discutimos sobre a existência
e o significado desse vínculo entre o ser humano e o seu ambiente. No curso de administração
discutiremos mais ainda sobre responsabilidade socioambiental. E não ficaremos somente em
32

sala de aula, vamos ao campo, onde a vida acontece! Foi pensando nisto que levei meus filhos
para conhecerem a comunidade: ouvir o relato das pessoas e participar de oficinas com elas.
O doutorado está finalizando! Considero-me um pouco menos ignorante e ingênua de
quando nele adentrei. Finalmente, respondo a grande pergunta: qual foi a motivação para este
trabalho? A força advinda desses moradores, fortalecidos pelas relações comunitárias de
respeito, solidariedade e confiança. Quero continuar aprendendo com as comunidades
pesquisadas.
Cientificamente, esta tese se justifica pela possibilidade de dar contribuições, sob o
paradigma da psicologia ambiental, para o estudo das comunidades afetadas pelo deslocamento
involuntário e da sua relação com o meio ambiente. Além, de contribuir para discussão sobre
Psicologia e Sustentabilidade. Destaca-se o modo como o padrão comportamental coletivo,
através da atuação das associações, influenciou a comunidade a responder diante de um projeto
de alteração ambiental, com resistência e mobilização. É um elemento importante para
compreender a potencialidade interacional de grupos comunitários.
Socialmente, a possibilidade de desenvolver um projeto de cultura nas comunidades,
levando educação em saúde e possibilitando aconselhamento psicossocial, trouxe contribuições
para todos os envolvidos. Enquanto as comunidades se beneficiam, a equipe também, pois
desenvolve sua formação prática e humana. Todos saem fortalecidos nessa vinculação.
O esquema apresentado na Figura 1 retrata o delineamento seguido neste trabalho.
Figura 1 - Estrutura esquemática do trabalho

Fonte: elaborada pela autora (2020).


33

Partindo de tudo que aqui foi ilustrado até então, construímos este trabalho.
Inicialmente, no primeiro capítulo, será feita a descrição do contexto da pesquisa que apresenta
o delineamento geográfico da região a ser estudada. O cenário da pesquisa é o distrito Baixio
das Palmeiras, no município do Crato, Ceará; especificamente, as comunidades Baixio das
Palmeiras, Baixio do Muquém, Chapada do Baixio e Baixio do Oitis.
O segundo capítulo abordará questões teóricas sobre as políticas hídricas do Estado do
Ceará e suas práticas que resultaram na implementação do projeto CAC e seus desdobramentos
na região do Cariri, especificamente no hidroterritório Baixio das Palmeiras. No contexto da
escassez hídrica no nordeste brasileiro, surgem as políticas hídricas, frente à necessidade de
amenizar o problema da ausência de água e garantir uma igualitária distribuição regional
hídrica.
No terceiro capítulo, falaremos sobre Conflitos territoriais, participação social e o
surgimento de movimentos de resistência, abordando também a história do movimento de
hidroresistência denominado Fórum Popular das Águas (FOPAC). Buscou-se entender as
circunstâncias sob as quais a comunidade veio a participar da tomada de decisão relativa ao
percurso do trajeto e outras medidas mitigatórias dos danos a serem provocados pela obra.
No quarto capítulo, trabalharemos elementos psicológicos para entender o processo de
migração compulsória, tendo como foco os processos psicossociais de apego, apropriação e
identidade de lugar, coesão social e satisfação residencial, envoltos na vinculação dos
moradores com sua comunidade. Quando se aborda sobre percepção ambiental, é possível
compreender como as experiências físicas do indivíduo com seu entorno, incorpora aspectos
psicossociais, socioculturais e históricos que mobilizam o indivíduo a adotar determinados
comportamentos em seu ambiente.
No quinto capítulo, serão ilustrados os procedimentos metodológicos optados para a
realização desse estudo. No sexto capítulo, trabalharemos a percepção dos gestores e dos
movimentos sociais no processo de implementação das obras do CAC nas comunidades
trabalhadas e como esses verificam o impacto da situação de conflito gerada por esse processo
nos locais pesquisados.
No sétimo capítulo, ilustraremos os processos psicológicos envoltos na migração, a
partir da análise das escalas aplicadas e do processo de autobiografia ambiental,
compreendendo a relação entre os moradores e o seu local de moradia e como esta foi afetada
pela chegada do CAC nas comunidades. Por fim, nas considerações finais, abordaremos os
principais resultados dessa pesquisa, as respostas aos objetivos propostos e demais observações
pertinentes.
34

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DE PESQUISA

2.1 A CIDADE DO CRATO: ASPECTOS GEOGRÁFICOS E SOCIODEMOGRÁFICOS

O Baixio das Palmeiras é um distrito rural localizado na cidade do Crato, no interior do


Ceará. O município de 1.176 km² contava, no último censo realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, com uma população de 121.428 pessoas 1. Destas,
83,1% viviam em domicílios considerados zona urbana e 16,9% em domicílios classificados
rurais. Ainda conforme o censo do IBGE (2010), a densidade demográfica de Crato é de 103,21
hab./km², sendo o 6º município mais populoso do estado do Ceará. O Índice de
Desenvolvimento Humano do município no último censo foi de 0,713 (IBGE, 2017), sendo o
único município da região do Cariri a ter IDH alto.
Figura 2 - Mapa da Região Metropolitana do Cariri (em amarelo)

Fonte: Ceará ([201-]).

1
O total previsto para 2019 foi de 132.123 pessoas (IBGE, 2020).
35

O Crato faz parte da Região Metropolitana do Cariri (RMC) (Figura 2), que integra
também os municípios de Juazeiro do Norte, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Caririaçu, Farias
Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri. A RMC foi criada no ano de 2009, partindo da
conurbação CRAJUBAR (Crato, Juazeiro e Barbalha) e adicionando algumas cidades
circunvizinhas. Um dos objetivos da referida criação foi transformar a região citada em um polo
de desenvolvimento econômico, potencializando setores como o comércio de bens e serviços,
setor industrial, agricultura e o turismo religioso e de natureza (IBGE, 2017).
A pirâmide etária do município de Crato, tendo como base o Censo realizado pelo IBGE
em 2010, demonstra a predominância da população do sexo feminino: 63.812 (52,55% do total)
em relação ao total de homens: 57.616 (47,45% do total). As faixas etárias predominantes são:
20 a 24 anos, 15 a 19 anos e 10 a 14 anos, conforme se observa na Figura 3.
Figura 3 - Pirâmide etária do município de Crato - CE (2010)

Fonte: IBGE (2017).

O município, como tantos outros no País, apresenta uma considerável concentração de


renda. Ao observar o índice de Gini2 da renda domiciliar per capita, o Crato possui índice
0,5746. Já acerca do Produto Interno Bruto (PIB), foi visto que no levantamento feito em 2018,
o rendimento do município foi de aproximadamente R$ 1.419.549.000,00, tendo como PIB a
renda per capita de R$ 11.120 (CEARÁ, 2018). No entanto, de acordo com os dados do IBGE,
em 2017, o salário médio mensal era de 1.9 salários mínimos, a proporção de pessoas ocupadas

2
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ibge/censo/cnv/ginice.def. Acesso em: 21 jul. 2020.
36

em relação à população total era de 15.1% e 43% da população apresentava rendimentos


mensais de até meio salário mínimo por pessoa.
Salienta-se ainda, entre os dados econômicos do município de Crato, a participação dos
setores econômicos no Produto Interno Bruto (PIB), cujo rendimento é assim apresentado: a
agropecuária possui equivalência de 5,83% do PIB do município, a indústria possui 15,05% e
o setor de serviços 79,12%, conforme mostra o IBGE e IPECE. Essa tendência também aparece
na cidade vizinha, Juazeiro do Norte.
Dentre os indicadores educacionais do município, sublinha-se que a taxa de
escolarização de 6 a 14 anos de idade chega a 97,8 % (IBGE, 2010). Considerando os dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), divulgados
pelo IPECE (CEARÁ, 2018), o número de matrículas no Ensino Básico no município em 2018
totalizou 30.702, sendo a maior parte delas no Ensino fundamental, com 18.349 (Figura 4).
Figura 4 - Matrículas na Educação básica no município de Crato - CE em 2017

Matrículas
20000
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
Ensino infantil Ensino fundamental Ensino médio
matrículas 6801 18349 5552
Fonte: elaborada pela autora com base em Ceará (2018).

Na Figura 5 destaca-se as características ambientais do município de Crato, de acordo


com as informações da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME)
e Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), divulgadas por meio do Sistema de Informações
Geossocioeconômicas do Ceará do IPECE (CEARÁ, 2018). Como pode ser observado, o
município possui dualidades entre o clima semiárido, característico do estado do Ceará, e o
clima tropical, advindo da região da Chapada do Araripe, que se configura como uma das áreas
de proteção ambiental (APA) do Ceará.
37

Figura 5 - Características ambientais do município de Crato - CE (2017)


Clima Tropical, quente, semiárido e brando. Tropical,
quente e subúmido.

Pluviometria Histórica (mm) 1.091


Aspectos
climáticos
Temperatura média (°C) 24° a 26°

Período chuvoso janeiro a maio

Bacia hidrográfica Bacia do Alto Jaguaribe e Bacia do


Salgado.

Relevo Chapada do Araripe, serras secas e


Componentes sertões .
ambientais
Solos Argissolos, latossolos e neossolos.

Carrasco, floresta caducifólia, espinhosa


Vegetação (caatinga arbórea), floresta subcaducifólia e
tropical.

Fonte: elaborada pela autora com base em Ceará (2018).

Nessa região está localizada a Floresta Nacional do Araripe (FLONA Araripe), a


primeira floresta nacional a ser criada em território brasileiro, por meio do Decreto nº 9.226, no
dia 2 de maio de 1946 (BRASIL, 1946). De acordo com Alves, Bezerra e Matias (2011, p. 2),
a FLONA Araripe:

Localiza-se no topo da Chapada do Araripe – centro da Região Nordeste do Brasil, no


extremo sul do estado do Ceará, abrangendo parte dos municípios de Santana do
Cariri, Crato, Barbalha, Missão Velha e Jardim. Possui uma área de 38.262 hectares
e relevo tabular, variando entre 760 a 920 metros. Apresenta média pluviométrica de
1.000 mm por ano e temperatura que varia de 15 a 25º C. Seu solo é originário do
período cretáceo, predominando o tipo latossolo.

No que se refere ao potencial hídrico local, a grande maioria dos rios do Ceará é
temporária, fato que dificulta a implantação de empreendimentos que exijam uma maior
garantia de água, tal como a obra a que nos referimos mais à frente deste estudo. Destarte,
ressaltamos a importância da Bacia Hidrográfica do Salgado (Figura 6) para o equilíbrio
ecossistêmico do município, como aponta Sobreira Neto (2019, p. 92) “A sub-bacia do
Jaguaribe é composta por 27 municípios e drena uma área de 24.538 km², o equivalente a 16%
do território cearense. Mesmo tendo só 18,31% de suas terras inseridas nesta bacia”.
38

Figura 6 - Bacias hidrográficas do Estado do Ceará e bacia do Salgado

Fonte: Brito (2013).

Para Sobreira Neto (2019, p. 92):

[...] nesses últimos 20 anos, devido ao processo de crescimento populacional em


direção da encosta da Chapada do Araripe, aumentaram, consideravelmente, não só o
número de construções habitacionais, como também abertura e pavimentação de
estradas, o que resulta na ocorrência, cada vez maior, do escoamento superficial das
águas das chuvas, acelerando os processos erosivos na encosta [...] Como
consequências, acontecem o assoreamento dos rios e a diminuição da recarga hídrica
dos aquíferos da Chapada do Araripe. Não bastasse isso, registramos o aumento de
lançamento de efluentes urbanos e industriais nas águas superficiais, que provocam a
poluição dos principais rios da cidade do Crato.

Como pode ser observado no parágrafo anterior, é inegável a importância da estrutura


hídrica presente na região do Cariri para o crescimento da cidade do Crato. O Rio Salgado
configura-se como o principal afluente da margem direita do Rio Jaguaribe e desenvolve-se no
sentido sul-norte, até encontrar o Rio Jaguaribe, logo a jusante da barragem do açude Orós. As
nascentes localizam-se no sopé da Chapada do Araripe. Sua oferta hídrica superficial é
determinada pelos 13 açudes, com uma capacidade de acumular 447.410.000 m3 de água e
drena uma área de 12.865 km2, conforme monitoramento da Companhia de Gestão dos
39

Recursos Hídricos (COGERH), vinculada ao Governo do Estado do Ceará (SOBREIRA NETO,


2019).
No território onde se localiza a cidade do Crato se destacam os rios Batateiras e
Grangeiro, que nascem no sopé da Chapada do Araripe, são uns dos principais afluentes do Rio
Salgado. Sobreira Neto (2019, p. 94) assinala que o Rio Batateira (Figura 7), distante em média
8,5 km de sua confluência com o Rio Salgado, “[...] é o rio mais expressivo da região do Cariri.
Sua nascente fica localizada no Sitio Luanda, a uma altitude de 765 metros, próximo ao
encontro entre as rochas da Formação Exu e Formação Arajara”.
Figura 7 - Esquema de distribuição das águas da Fonte Batateira

Fonte: Gonçalves (2001).

Segundo Rocha (2013), o Cariri Cearense tem como destaques o contraste da riqueza
natural da água, elemento crucial na formação do território Cariri; beleza da chapada do
Araripe; a preservação da Floresta Nacional do Araripe (FLONA); a conservação do Geopark
Araripe (primeiro da América Latina); e uma cultura popular alicerçada na religiosidade e nas
manifestações dos saberes tradicional.
40

O povoamento do Cariri, que começa a ocorrer em meados do século XVIII, teve como
grande impulsionador a facilidade no acesso à água e terras férteis para a agricultura, acrescenta
Rocha (2013), acompanhadas pela dominação econômica e política das oligarquias agrárias,
como pôde ser observado no esquema de distribuição das águas da Fonte Batateira,
demonstrado acima, do qual muitos sítios pertenciam a coronéis. Anterior à chegada dos
colonizadores na região, como afirma Ceará (2020), constatou-se a existência do povo indígena
Kariri.
No caso do Baixio das Palmeiras, Nobre (2015) afirma que na atualidade, são
encontrados artefatos dos povos Kariri nas comunidades, em especial na comunidade Muquém,
que tem seu nome baseado no nome do chefe indígena que pertencia a essa localidade. O
processo de povoamento do distrito começou a ocorrer no final do século XIX, com a chegada
dos primeiros engenhos de açúcar no local.
Uma parcela do município do Crato integra ainda a Área de Proteção Ambiental (APA)
da Chapada do Araripe, uma área de 972.605,18 hectares, criada pelo Decreto s/n de 04 de
agosto de 1997. Essa unidade de conservação federal é gerida pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), localizada na cidade do Crato - CE (ICMBio, 2013).
Também se localiza no município o Parque Estadual do Sítio Fundão, que tem dentre suas
finalidades a conservação de recursos ambientais e culturais, apresentando flora nativa dos
biomas da Caatinga e do Cerrado, corpos d'água de grande valor para a população local e fauna
silvestre variada. O Parque Estadual do Sítio Fundão faz parte do Geossítio Batateira, ligado ao
Geopark Araripe e está vinculado ao Conselho de Políticas Ambientais do Estado do Ceará
(ICMBio, 2013).
Como pode ser visto até então, o município do Crato está localizado em um território
rico em diversidade e cultura, que é o Cariri Cearense. Dentre os distritos rurais existentes, o
presente estudo dará destaque ao Baixio das Palmeiras, uma das localidades rurais diretamente
atingidas pelas obras do Cinturão das Águas do Ceará, como poderá ser visto adiante.

2.2 CONHECENDO O DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS

O território do Distrito Baixio das Palmeiras (Figura 8), território desta investigação, é
situado ao sul do município do Crato, interior do estado do Ceará na Região Nordeste do Brasil.
O Distrito foi instituído por meio da Lei Municipal nº 1.540, de 05/05/19943, ato legislativo que

3
Sob a mesma Lei, o distrito de Padre Cícero passou a denominar-se Bela Vista e foram extintos os distritos de
Muriti e Lameiro (IBGE, 2017).
41

cria os distritos de Baixio das Palmeiras, Belmonte, Campo Alegre, Monte Alverne e Santa
Rosa, no município de Crato. Em divisão territorial datada de 1995, que permanece atualmente,
o município é constituído de 10 distritos: Crato, Baixio das Palmeiras, Belmonte, Campo
Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista, Ponta Serra, Santa Fé e Santa Rosa (IBGE,
2017).
Figura 8 - Mapa Divisão das Comunidades do Baixio das Palmeiras

Fonte: elaborada pela autora (2020).


42

O Distrito Baixio das Palmeiras é composto por dez comunidades rurais. Seus
moradores, mormente agricultores, constituem famílias que ocupam um território com
considerável nível de recursos hídricos e biodiversidade integrada à Chapada do Araripe.
Nessas localidades, os moradores “[...] vivem, em sua maioria, da agricultura familiar e
partilham uma história e um intenso cotidiano de vivências e práticas” (VENÂNCIO, 2017, p.
14). Ressalta-se sobre a formação do referido território que:

As comunidades do Distrito Baixio das Palmeiras estão distribuídas nas bordas de


uma persistente ladeira que se inicia no Muquém e nos leva, sem cessar a declividade,
até comunidades como Barro Vermelho, Barro Branco e Baixio dos Cordas, já no
município de Barbalha. As citadas comunidades são próximas e mantêm relações
estreitas, envolvendo religiosidade, cultivo, manifestações culturais e
organizações políticas. Os limites, materializados em árvores ou curvas nos muitos
caminhos, foram construídos de acordo com processos socioterritoriais. As pequenas
aglomerações de moradias obedecem a duas lógicas que foram conformando o espaço
como está organizado hoje: os latifúndios antigos, com dezenas de moradores que
construíam casas nas proximidades dos cultivos de algodão e roças de mandioca,
milho e feijão, e os pequenos proprietários que foram construindo casas em torno das
suas moradias, mediante o crescimento da família (BRITO, 2016, p. 174, grifo nosso).

Segundo Martins (2020), a história desse distrito perpassa por várias lutas, em especial
no que se refere ao direito à terra. A situação de trabalho dos primeiros agricultores situados
nessa localidade era muito precária, sendo que em alguns casos eles não possuíam remuneração,
mas apenas parte da produção como soldo mensal. Tal realidade modifica-se com o advento
das lutas sindicais, quando na década de 1970 se cria a base sindical do Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato (STTR).
Nas comunidades, delimitadas geograficamente como foco do estudo, há um notório
“[...] engajamento comunitário desde a década de 1960 do século XX, quando alguns
agricultores estiveram envolvidos diretamente na formação e consolidação do sindicato rural
da cidade de Crato” (NOBRE, 2017, p. 23). Entre as iniciativas associativas e de auto-
organização dos moradores do distrito, destacam-se: a Associação Rural do Baixio das
Palmeiras, Grupo de Mulheres (Nós Mulheres), o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais do Crato (STTR), o Fórum Popular das Águas do Cariri (FOPAC) e a Casa de Sementes
Crioulas do Baixio das Palmeiras (NOBRE, 2017).
No Baixio das Palmeiras, e em outros territórios da Região do Cariri, há comunidades
tradicionais que datam a formação do País, num complexo de atores que vão de descendentes
43

de pessoas antes escravizadas e sesmeiros4 que chegaram durante o período colonial a indígenas
que já habitavam tal território e que até hoje travam disputas pela ocupação e uso das terras.
Sendo possível rememorar sua história a partir de acontecimentos como a chegada das missões
portuguesas, o trabalho nos engenhos de rapadura, as grandes secas, a criação e ataque ao
Caldeirão do Beato José Lourenço5, o milagre do Padre Cícero etc. (LEITE; LEITE, [201-]).
Isso reforça o entendimento de como se dão as dinâmicas internas das comunidades
pesquisadas.
O distrito supramencionado tem saído da invisibilidade que anteriormente se
apresentava e recebido alguns estudos diante do contexto de conflitos e a resistência frente aos
impactos decorrentes das obras realizadas para a extensão da Transposição do Rio São
Francisco, o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), cujo cenário será abordado nesta pesquisa.
Esta pesquisa foi realizada nas comunidades Baixio das Palmeiras (sede do distrito com o
mesmo nome), Baixio do Muquém, Chapada do Baixio e Baixio dos Oitis, as quatro
diretamente afetadas pelo problema. Igualmente, as quatro comunidades têm um total de 318
famílias, conforme Figura 9.
Figura 9 - Quantitativo de famílias residentes no território pesquisado
Baixio das Palmeiras
Baixio do Muquém Baixio dos Oitis Chapada do Baixio
(sede do distrito)

122 famílias 87 famílias 41 famílias 68 famílias

Fonte: elaborada pela autora com base em Nobre (2017).

Dentre esses moradores, atualmente 72 famílias foram notificadas como público a ser
desapropriado nas quatro comunidades citadas acima, sendo dezoito pessoas, a princípio, que
perderam casas e os demais irão perder terrenos e/ou benfeitorias. Os moradores relatam que
não receberam informação prévia sobre o processo de desapropriação, e só souberam que iriam
ser desapropriado com a chegadas dos trabalhadores da terceirizada VBA empreendimentos
para demarcação da área a ser desapropriada (NOBRE, 2017).
A seguir, faremos a contextualização da obra que gera a situação aqui estudada,
abordando primeiramente a trajetória das políticas hídricas no estado do Ceará, o conceito de
hidroterritório e ilustrando a trajetória do eixo 1 do CAC no distrito Baixio das Palmeiras.

4
Segundo Ceará (2020), o processo de povoamento branco inicia-se a partir da sessão das sesmarias, áreas
consideradas abandonadas que eram entregues pelo governo português aos sesmeiros, que eram responsáveis
por cultivar plantações nessa área.
5
A comunidade rural Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no município do Crato, foi uma comunidade liderada
pelo Beato José Lourenço e era vista pelos flagelados da seca como um local de bênçãos. Foi vítima de um ataque
bélico estatal, onde dois aviões e 200 soldados metralharam o território. Disponível em
http://memorialdademocracia.com.br/card/comunidade-do-caldeirao-e-massacrada. Acesso em: 21 jul. 2020.
44

3 GESTÃO DAS ÁGUAS NO ESTADO DO CEARÁ E O PROCESSO DE


IMPLEMENTAÇÃO DO CAC NO DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS

Este capítulo objetiva compreender aspectos históricos das políticas de gestão das águas
do Ceará e como essas reverberam no processo de implementação das obras do Cinturão das
Águas do Ceará no distrito Baixio das Palmeiras. Por fim, será apresentado o Cinturão das
Águas do Ceará, marcos importantes e como chegou até as comunidades estudadas.

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DAS ÁGUAS NO ESTADO DO CEARÁ

As relações humanas, com seu espaço físico, político, econômico e cultural, determinam
importantes elementos de análise da estruturação da realidade, tanto ao nível local, quanto
global. No caso do nordeste brasileiro, a ocupação territorial e as migrações fornecem
importantes informações sobre as interações sociais no e com o território.
A escassez hídrica, nesta região, tornou-se objeto de análise por meio da literatura,
ciência e política. Compreender os fatores climáticos para desenvolver ações de combate à seca
e prover mecanismos para manutenção da população no campo, evitando-se a superpopulação
nas grandes cidades, passa a ser alvo de políticas públicas no âmbito estadual e federal.
Para Howllet, Ramesh e Perl (2013), política pública é o resultado de uma deliberação
governamental, podendo a mesma gerar ações estratégicas possíveis ou não de serem
concretizadas. Por ser um processo composto de decisões oriundas de vários espaços, no
conteúdo dessas estratégias devem ser abordados vários fatores, como as necessidades do
público-alvo interventivo, relações entre os atores políticos envolvidos na construção da
política, conflitos políticos, histórico da área em que a política se localiza, entre outros.
Logo, quando se analisa uma política pública, é preciso levar em consideração o
contexto socioeconômico e político no qual a mesma está vinculada. Tem-se que levar em
consideração que essas ações podem gerar, em alguns casos, efeitos não intencionados, capazes
de serem nocivos a determinados grupos populacionais (HOWLLET; RAMESH; PERL, 2013).
Para isso, faz-se necessário compreender as peculiaridades do fenômeno da seca no contexto
nordestino.
A questão das secas é uma problemática histórica nessa região, em especial na vida das
comunidades interioranas. Historicamente, essa ocorrência climática tem sido vista como um
fator limitante do crescimento econômico da região, bem como condição importante para
45

compreender aspectos relacionados à situação de vulnerabilidade social na qual os sertanejos


estavam envolvidos.
A seca não pode ser associada apenas à questão climática, uma vez que os seus efeitos
são agravados em virtude da estrutura sócio-política dominante que mantêm o Nordeste em
uma situação de sujeição. Assim, é necessário desconstruir a concepção de que a seca é a
responsável pela pobreza e mazelas do Nordeste, isso porque não falta água nessa região, o que
há, na verdade, é a ausência de soluções para resolver a má distribuição da mesma e os
obstáculos de aproveitamento desse recurso (FILGUEIRA, 2011).
Segundo Bursztyn (2008), a partir da necessidade do “combate à seca”, há um século,
esse fenômeno vem sendo alvo de medidas do Estado. Exemplo disso é a criação do
Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) e de outros órgãos e agências que
foram implantados pelo governo a fim de apresentar à população programas e soluções para a
falta de água. Quando observadas as principais ações estratégicas desses espaços, é vista a
predominância da construção de obras de infraestrutura, o que serviu somente para reforçar e
manter a estrutura de poder dominante local.
É nesse contexto que surgiu a “indústria da seca”, um conjunto de ações e serviços de
combate aos efeitos da seca que beneficiavam outras pessoas que não as diretamente implicadas
com a escassez hídrica, ou seja, um conjunto de políticas públicas inócuas que apenas
reforçavam e mantinham as relações de interdependência entre o poder central e os grupos
dominantes locais (CHACON, 2007).
Tal modelo tem vínculo direto com as relações de autoritarismo e paternalismo que
permeiam a história do Nordeste. No caso do Ceará, as relações paternalistas sempre foram um
instrumento essencial para a legitimação do poder. A exploração paternalista depende da
relação da exploração do capital, gerando relações de reciprocidade assimétricas, pois o
paternalismo e clientelismo contribuem para a situação de dominação e opressão dos que a ela
se submetem, através de laços sociais de afetividade, simbólicos e imaginários, apoiados “[...]
sob o jugo da desigualdade e do tributo” (SABOURIN, 2011, p. 48).
Assim, o processo de modernização na década de 1980 não representou o fim da relação
de interdependência entre o poder central e os poderes locais, tendo em vista que os novos
coronéis modernizados se adaptaram às novas formas de paternalismo e clientelismo. Observa-
se então que o conjunto de políticas públicas inócuas que representaram a “indústria da seca” e
embasava o discurso de “combate à seca” possuíam como público-meta aqueles que não eram
realmente afetados pelo problema em questão e serviam apenas como instrumentos de
46

favorecimento dentro do jogo político para dar suporte ao sistema dominante, legitimador e
opressor (BURZSTYN, 2008; CHACON, 2007).
Na década de 1990, começa a emergir nas grandes instituições de fomento e em vários
espaços de discussão a temática sobre desenvolvimento sustentável, na qual a prerrogativa da
necessidade do uso racional dos recursos naturais, promoção da superação de situações de
desigualdade social e promoção de um desenvolvimento econômico que não desconsiderasse
questões sociais e ambientais estavam em alta. Partindo disso, o Estado torna-se um ator
importante na promoção de políticas públicas que proporcionem sustentabilidade nos três
âmbitos supracitados.
Mas, como é observado por Chacon (2007), quando se refere às políticas hídricas, a
pauta do desenvolvimento sustentável foi apropriada para legitimar a criação de projetos de
infraestrutura pautados nas necessidades dos grandes centros urbanos, para suprir a demanda
de abastecimento. Como também para atender os pré-requisitos das instituições de fomento
internacional, que começaram a pautar sustentabilidade em seus editais. Tal movimento limitou
ainda mais a participação do sertanejo, que seria o real interessado em ações de mitigação dos
efeitos da seca, no processo da formulação das políticas de gestão das águas.
Atualmente, entende-se que, na verdade, o combate à seca, arranjo institucional viável
nas décadas passadas, é substituído pelo novo paradigma de convivência com o semiárido, em
um contexto em que se discute sustentabilidade, mudanças climáticas e adaptação ambiental.
Em linhas gerais, a condução das políticas referente à pasta de recursos hídricos é
realizada atualmente com o apoio de vários instrumentos. O principal deles é a Política Estadual
de Recursos Hídricos, instituída pela Lei Nº 11996, sancionada em 24/07/1992, que, segundo
Ceará (1992), objetiva traçar estratégias para assegurar condições para utilização, planejamento
e gerenciamento dos recursos hídricos de forma integrada, descentralizada e participativa,
compreendendo a água como recurso natural e essencial.
Também é importante ressaltar a criação de órgãos governamentais específicos da pasta,
como a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e Superintendência de Obras Hidráulicas
(SOHIDRA), no ano de 1987, e em 1993 a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(COGERH), que estão tornando possível uma estrutura de gestão especializada para tratar da
pauta. Mais adiante, em 1994, começam a ser implementados os Comitês de Bacias
Hidrográficas (CBHs), instâncias responsáveis pela integração e planejamento de ações das
políticas de Recursos Hídricos a nível social (SABOIA, 2015).
Com a definição da unidade de gestão bacia hidrográfica em 1994, como unidade de
gestão de Recursos Hídricos, o comitê de bacia se torna a instância principal no que diz respeito
47

a participação social nos processos decisórios sobre a gestão das águas, tendo caráter
deliberativo e consultivo a responsabilidade pela integração e planejamento de ações das
políticas de Recursos Hídricos (CHACON, 2007).
Casarin e Santos (2011, p. 83) afirmam que o comitê de bacia se configura como um
“[...] espaço privilegiado para a negociação de conflitos e de estabelecimento de regras de
convivência com a água”. Nesses espaços de deliberação dos processos de gestão das águas, é
preciso ter representação tanto do poder público quanto da sociedade civil organizada. Essas
instâncias possuem poder consultivo (emissão de pareceres), normativo (estabelece normas) e
deliberativo (toma decisões). Tais prerrogativas demonstram que, para que haja de fato uma
gestão participativa das águas, é necessário o estímulo à participação, em especial do terceiro
setor, nesses comitês. São estruturas que têm potencial em, a partir do estímulo à participação
efetiva da sociedade civil, aproximar as reais necessidades das populações que vivem em um
território de bacia, do planejamento pautado pelos gestores de políticas públicas estaduais
(CASARIN; SANTOS, 2011).
A proposta de convivência com o semiárido traz um novo enfoque de adaptação às
condições naturais do clima, (NASCIMENTO et al., 2014) que implica conhecer as
características do bioma para desenvolver atividades produtivas, considerando-se as
especificidades locais, tais como aproveitar a energia solar, abundante no nordeste brasileiro,
como potencial energético (MALVEZZI, 2014), valorizando, portanto, a integração entre
território e recursos hídricos (TORRES; LIMA; VIANNA, [2007]).
As estratégias de convivência com o semiárido têm como foco aproveitar saberes,
provenientes dos camponeses, para criação de tecnologias de baixo custo que orientem a
população a lidar com os limites e potencialidades climáticas da região onde vivem,
possibilitando aos camponeses transformarem as formas de manejo dos problemas climáticos
enfrentados. A base da convivência é conhecer bem o clima e as peculiaridades do mesmo,
adaptando-se de forma inteligente a esse e interferindo no ecossistema de maneira responsável
e respeitável (SILVA; SAMPAIO, 2014).
Camponeses têm, por excelência, uma capacidade de ler e prever fenômenos naturais,
isso porque convivem de forma direta com a natureza há muitos anos. No caso dos nordestinos,
as práticas de convivência com o semiárido possibilitam o manejo das condições climáticas de
estresse hídrico, como pode ser observado no contexto cearense dos “profetas da chuva”.
Algumas técnicas comuns no escopo das tecnologias sociais são a coleta da água da chuva, a
implantação de cisternas, o formato de cultivo a partir do sistema Mandala e a construção de
barreiros, cacimbões e tanques. As tecnologias sociais promovem autonomia nas comunidades,
48

quanto a segurança hídrica, proporcionando também a democratização do acesso à água


(SILVA; SAMPAIO, 2014).
Acerca disso, Saboia (2015 p. 138) ilustra que no Ceará existe um Plano Estadual de
Convivência com a Seca, no qual uma das estratégias prioritárias é o processo de integração de
bacias, cujas construções “alteram o território e acentuam a transformação da primeira em
segunda natureza”. Essas grandes obras não garantem que as populações em estado de pobreza
hídrica irão, de fato, serem atendidas, e isso é questionado por vários movimentos sociais que
visam compreender a qual público essas estratégias realmente atendem (SABOIA, 2015).
A pauta da oferta de água possui mais protagonismo do que a da demanda e da qualidade
desse insumo. Ligando isso à perspectiva que se tem da água como insumo importante para a
alimentação do setor produtivo e modernização da economia, percebe-se que as grandes obras
hídricas favorecem o abastecimento de notáveis empreendimentos, conforme é visto no caso
dos perímetros irrigados, a exemplo o do Apodi, que abastece grandes agroindústrias (SABOIA,
2015).
Vê-se que o modelo atual de gestão das águas no Ceará ainda atende à “[...] manutenção
do modelo de desenvolvimento, sendo permeada por processos políticos, econômicos,
ideológicos e territoriais, necessários à reprodução do capital nacional e internacional”
(SABOIA, 2015, p. 162).
O ideal de combate à seca, mesmo com a criação de políticas públicas de recursos
hídricos e com a tentativa de aproximar a população dos processos decisórios pelos comitês de
bacia, não proporcionou êxito na promoção da qualidade de vida dos camponeses (SILVA;
SAMPAIO, 2014).
A base da convivência é conhecer bem o clima e as peculiaridades do mesmo,
adaptando-se de forma inteligente a esse clima (tendo em vista ser impossível adaptá-lo às
demandas humanas), e interferindo no ecossistema de forma responsável e respeitável (SILVA;
SAMPAIO, 2014). Perante o ilustrado até então, é compreensível a necessidade de abordar a
percepção de desenvolvimento e sustentabilidade, bem como o processo desse trabalho no
âmbito da gestão das águas.

3.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO DAS ÁGUAS

Como é apresentado por Sachs (2009), a noção de desenvolvimento é tradicionalmente


relacionada ao crescimento econômico de um determinado território. Porém, o que se constatou
posteriormente foi que o crescimento desenfreado é promotor de situações de vulnerabilidade
49

socioambiental. Tais reflexões começam a ganhar força na década de 1970, com os debates
fomentados na Conferência de Estocolmo.
Com o avançar das discussões em espaços de debate e com o advento da publicação do
Relatório de Brundtland (CMED, 1988), a noção de desenvolvimento, aos poucos, foi sendo
dissociada da ideia de crescimento econômico. Começam a ser consideradas questões
relacionadas às esferas social, ambiental, cultural, política, ética e territorial. Logo, surge a
necessidade de uma nova conceituação de desenvolvimento, a ser estruturada através da
harmonização da justiça social, economia e ética com o meio ambiente.
Os debates sobre os modelos de desenvolvimento econômico e como os mesmos podem
promover situações de desigualdade social começam a ganhar mais força. Arrighi (1997)
questiona se há a possibilidade de alguma mudança social ante o modelo vigente, pois, ainda
que seja possível alguma mobilidade dentro da economia capitalista mundial, os países em
desenvolvimento ficam à margem nesse processo.
Já na perspectiva do desenvolvimento como mito, defendido por Furtado (1985), o
desenvolvimento econômico e os padrões de produção e consumo não podem ser generalizados.
O autor percebeu os contrastes e contradições desse modo de produção capitalista, que na
realidade é um sistema de crises e problemas que mantém situações de desigualdade extrema e
subordinação das classes vulneráveis aos que concentram o poder. Assim, o desenvolvimento
atrelado ao crescimento da economia surge apenas para legitimar os países desenvolvidos nas
suas práticas hegemônicas, excludentes e devastadoras do meio ambiente.
De outra via, a pauta da discussão entre desenvolvimento e sustentabilidade começa a
emergir nas obras de Ignacy Sachs. Tendo como origem a noção de Ecodesenvolvimento. O
autor pauta que a ética planetária e a solidariedade são imprescindíveis para garantir o direito
de todos ao desenvolvimento equilibrado do meio ambiente. Assim, a solidariedade com as
gerações atuais e futuras perpassa pelo respeito à biodiversidade e pela responsabilidade de sua
conservação (SACHS, 2009).
O autor reflete sobre a forma que o sistema econômico neoliberal, que obteve sua
escalada em meados dos anos 1980, compreende os bens naturais, como sendo recursos à serem
usados para proporcionar o progresso econômico e satisfazer as necessidades humanas. O uso
desordenado e a inequidade ao acesso a esses recursos apontam a necessidade de mudança de
paradigma. É necessário um novo modelo de desenvolvimento pautado no uso racional do meio
ambiente (SACHS, 2009).
Tal realidade é estabelecida pela a agenda 2030, que se constitui em um plano de ação
para todas as pessoas de todas as nações, visando o fortalecimento de políticas e práticas
50

sustentáveis em prol da proteção da vida no planeta. É também um dos objetivos definidos do


Desenvolvimento Sustentável (ODS), considerando-se as particularidades das nações,
respeitando-se as suas limitações e potencialidades, reconhecendo o vínculo entre
Desenvolvimento Sustentável e os demais processos econômicos, sociais, políticos e
ambientais e tratando sobre a disponibilidade e versão sustentável da água e saneamento para
todos. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2015).
É válido ressaltar que as situações de vulnerabilidade ambiental expressas anteriormente
também implicam em vulnerabilidade social. No que se refere à pasta de gestão ambiental no
Ceará, nas últimas décadas intensificaram-se os conflitos referentes ao acesso e uso da água no
Brasil, como a construção de açudes e barragens, a exemplo do Castanhão (CANUTO; LUZ;
LAZZARIN, 2013) e outras consideráveis construções, como o Complexo Industrial e
Portuário do Pecém (ADECE, 2018) e o projeto da Usina de Urânio em Quiterianópolis
(DAMASCENO, 2019). Rigotto, Aguiar e Ribeiro (2018) expõem as inúmeras situações de
agravo à saúde, bem como desrespeito aos direitos humanos, decorrente dos empreendimentos
supracitados.
No caso deste estudo, existe um conflito socioambiental que envolve o acesso e uso da
água no contexto de um ambiente rural. Destaca-se que é necessário compreender os conflitos
socioambientais estabelecidos, dentro de uma dinâmica que envolve o modo de vida e produção
da população rural no território. Para os camponeses, a utilização da água está condicionada à
uma visão desta como elemento que garante o direito à vida.
Lopes (2015, p. 26) dimensiona a gestão de águas segundo os parâmetros de
sustentabilidade, apresentados por Sachs (2009), ao afirmar que a mesma é

[...] regulada a partir da institucionalização de uma política Federal que se preocupa


em utilizar racionalmente o recurso (sustentabilidade ambiental); alocá-lo para haver
acessibilidade de todos, por meio do uso doméstico ou até mesmo para desenvolver
atividades produtivas, como a agricultura (sustentabilidade social e econômica); além
de promover uma gestão participativa e descentralizada (sustentabilidade política e
institucional).

Ao observar como as políticas relacionadas à água são elaboradas e conduzidas, tanto


na realidade nacional quanto no contexto cearense, é visível a predominância da perspectiva de
água como recurso, inclusive na forma que a política é nomeada: ‘Recursos Hídricos’. Santos
(2018) constata a inexistência de uma definição clara do conceito de recursos hídricos nas
resoluções governamentais.
51

E justamente a junção da perspectiva de água como recurso com a busca incessante pelo
crescimento econômico (algo que também é objetivado na construção de obras hídricas) e a
falta de estratégias para aproximar a população da construção da agenda política da pauta que
evidencia a necessidade de se pensar ações estatais promotoras de conflitos. Martins (2020)
afirma que no processo de elaboração de uma ação de infraestrutura de larga escala, é possível
haver efeitos danosos à comunidade afetada, sendo a desapropriação um dos mais
emblemáticos, como o que ocorreu no projeto CAC, que será apresentado a seguir.

3.3 O PROJETO CINTURÃO DAS ÁGUAS DO CEARÁ (CAC) E SUA INSERÇÃO NO


DISTRITO BAIXIO DAS PALMEIRAS

Para compreender como se deu o processo de planejamento do Cinturão das Águas do


Ceará (CAC), é preciso abordar inicialmente o Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PIRSF). Fazendo parte do pacote de obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), esse projeto, que comporta seis trechos de obras, busca deslocar parte da
água do rio São Francisco para as bacias hidrográficas da região Nordeste, visando garantir o
abastecimento de água às áreas de quatro estados: Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande
do Norte. Segundo o Ministério da Integração Nacional (2018), serão beneficiados cerca de 12
milhões de pessoas em 390 municípios desses estados nordestinos.
O empreendimento tem a extensão total de 477 quilômetros, divididos em dois trechos:
Leste e Norte. Para viabilizar a distribuição da água pela região, o projeto prevê, de acordo com
o Governo Federal, a construção de 04 túneis, 13 aquedutos, 09 subestações de bombeamento,
27 reservatórios e a recuperação de açudes (AVEIRO, 2014).
O CAC, nesse contexto, é uma extensão do Projeto de Integração do São Francisco,
tendo seu início a partir do Trecho I do Eixo Norte do Projeto de Transposição das Águas do
Rio São Francisco, mais precisamente na Barragem Jati, localizada nas imediações da cidade
de Jati, na Bacia do Salgado, no Ceará. O projeto é composto pelo canal principal (dividido em
três trechos) e também por três ramais - Ramal Leste, Ramal Oeste e Ramal Litoral (Anexo A).
Neste estudo, será destacado o Trecho 1, onde estão presentes as comunidades que serão
estudadas.
O Trecho 1, também chamado de Jati-Cariús, intercepta a Região do Cariri de Leste a
Oeste, margeando a Chapada do Araripe, cruzando nove municípios, incluindo o município do
Crato, local onde a pesquisa foi desenvolvida, como pode ser visto nos mapas do Anexo B.
Segundo o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do
52

CAC (CEARÁ, 2010), esse trecho tem perspectiva de atender ao abastecimento humano, a
indústria, a perenização de rios e reservatórios.
As obras iniciaram em junho de 2013 com previsão de conclusão em 36 meses. No
entanto, em decorrência de questões políticas e econômicas, as obras sofreram atrasos,
prorrogando-se o tempo de conclusão. Em caráter de urgência, fez-se um trecho emergencial
que conduz as águas do São Francisco até o riacho Seco em Missão Velha, continuando até rios
Salgado, Jaguaribe, e finalmente, açude Castanhão (RODRIGUES, 2019). Com a finalização
das obras do Eixo Norte do PIRSF e o investimento de 41 milhões de reais, destinados pelo
Ministério da Integração Nacional, é esperado o retorno das obras no mês de junho, como consta
em uma matéria do jornal O Povo6. Segundo informações colhidas no site do Governo do
Estado7, o eixo emergencial já está apto para aduzir as águas advindas do eixo norte, que
garantirá abastecimento para Região Metropolitana de Fortaleza, Baixo e Médio Jaguaribe e
bacia do Salgado.
No EIA/RIMA (CEARÁ, 2010) da obra são descritas as características de execução do
empreendimento, aspectos gerais da região que será interceptada pela obra, como também as
questões climáticas, hidrológicas, geológicas, geotécnicas e antrópicas, área de abrangência,
avaliação de impactos e medidas de mitigação desses impactos. A opção pela alternativa
locacional 5, entre as justificativas apresentadas para construção do canal, se deu: (1) por não
interceptar áreas de preservação ambiental; (2) por ser um trajeto favorável para construção, na
qual o transporte gravitacional da água é possível, topologicamente falando; (3) pela redução
de custos energéticos; (4) e por ser a opção com menor demanda de desapropriação e realocação
de atingidos.
No que se refere às medidas mitigatórias, consta o programa de comunicação social que
prevê como estratégia de ação a realização de palestras informativas, divulgação de medidas de
prevenção de acidentes e interferência no sistema viário e curso de capacitação para obreiros.
Porém, durante o período de execução da obra, esse programa não foi executado. Os moradores
não tiveram acesso às palestras informativas, não houve informes prévios para a população
sobre o que era o CAC e porque ele seria construído naquela área, como também a comunidade
não foi chamada a participar ativamente das primeiras audiências públicas realizadas sobre as
obras (MARTINS, 2020).

6
Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/2020/05/12/com-injecao-de-mais-r--41-1-milhoes--
obras-do-cinturao-das-aguas-devem-ser-retomadas-em-junho.html. Acesso em: 20 jul. 2020.
7
Disponível em: https://www.ceara.gov.br/2020/07/07/conheca-o-caminho-das-aguas-do-rio-sao-francisco-no-
ceara/. Acesso em: 20 jul. 2020.
53

As primeiras informações sobre as obras ficaram restritas às instâncias do primeiro


setor, como o Conselho Estadual de Meio Ambiente (COEMA) e entidades públicas que
participaram das primeiras audiências sobre o processo, que apesar de serem audiências
públicas, não foram amplamente divulgadas nas comunidades afetadas, voltando-se mais para
os representantes da gestão municipal das cidades contempladas. Alguns fatores foram
levantados na 1ª reunião extraordinária do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
do Município do Crato, ocorrida em dezembro de 2010 (Anexo C). Foi falado sobre as áreas de
interesse social que seriam interceptadas pelo CAC, sobre a localização do empreendimento
estar localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe e sobre a
necessidade de se pensar em políticas compensatórias (CONDEMA, 2010).
As comunidades atingidas nesse município só passam a ter conhecimento sobre a obra
com a chegada dos trabalhadores da empresa terceirizada, que começaram os primeiros
levantamentos topográficos acerca da área afetada pela obra. Nobre (2017) afirma em sua
pesquisa que os moradores perceberam uma movimentação incomum na comunidade.
Perceberam que os trabalhadores, sem pedir permissão prévia ou informar o propósito da
demarcação, estavam realizando seu trabalho em suas propriedades. E isso ocasionou
sentimento de indignação por parte dos moradores, que se sentiram invadidos.
A audiência pública com os moradores para esclarecimento sobre o que seria o CAC só
ocorreu a pedido da comunidade, como todas as outras audiências realizadas. A mesma
situação-problema pode ser observada na construção do complexo Castanhão, conforme
evidencia Braz (2011), sendo inclusive a mesma equipe de profissionais que realizou o
cadastramento das famílias desapropriadas.
Na pesquisa de Brito (2016) é demonstrado que, após o início do levantamento
topográfico, as audiências e reuniões realizadas com a comunidade foram obtidas através de
denúncia das lideranças comunitárias ao Ministério público federal, não havendo registro de
nenhuma audiência convocada pela SRH ou pela terceirizada contratada para prestar
informações sobre a obra e suas reverberações.
Conforme o levantamento documental feito pela pesquisadora, foi possível se chegar a
três produtos: um infográfico contendo documentos importantes para compreender como se
chegou à implementação do CAC, a linha do tempo do CAC e a linha do tempo do Fórum
Popular das Águas do Ceará, sendo que esse último produto será apresentado no próximo
capítulo.
Como pode ser visto na Figura 10, ao pensar nos marcos legais do processo de
implementação do CAC, devemos primeiramente nos reportar à Lei nº. 3.365 de 21 de junho
de 1941, que assegura legalmente casos de desapropriação por utilidade pública. Em seguida,
o decreto nº 95.733, de 12 de fevereiro de 1988, que versa sobre os processos de compensação
54

ambiental de obras que possam causar prejuízos socioambientais. A própria criação da Política
Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
Figura 10 - Infográfico do Marco Legal do CAC (Parte 1)

Fonte: elaborado pela autora (2020).

No âmbito local é visto que o projeto CAC foi apresentado pela primeira vez, como
também o seu Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA),
na Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano, em 2010. Sendo essa primeira apresentação
realizada para os membros dessa autarquia. No mesmo ano, ocorre a primeira apresentação do
CAC ao Conselho Municipal da Defesa do Meio Ambiente do Município do Crato
(CONDEMA), onde a pauta principal foi expor o projeto CAC para esse conselho.
Em 2012, foi emitido um parecer (Anexo D) da Superintendência Estadual do Meio
Ambiente do Ceará (SEMACE), que consistia na análise técnica do EIA/RIMA da obra.
Também nesse ano, por parte do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade, o
projeto teve o licenciamento ambiental aprovado (Anexo E).
55

No ano seguinte, a partir de denúncias feitas pela população atingida sobre a forma de
condução da obra na comunidade, foi realizada a primeira auditoria da obra, por parte do
Tribuna de Contas da União (TCU) e uma nota de esclarecimento da Secretaria Municipal de
Meio Ambiente e Controle Urbano do Crato sobre os impactos socioeconômicos e ambientais
do projeto ao ser implantado na região, sendo essa nota também fruto da situação de conflito
gerada pelo empreendimento, que será esmiuçada no próximo capítulo.
Na Figura 11, constam os documentos mais recentes sobre o andamento do CAC na
cidade do Crato. Foi elaborada uma versão atualizada de apresentação do CAC pela SRH em
2015, como também a ficha técnica do empreendimento e a inclusão do CAC como projeto
estratégico no Planejamento Estratégico da SRH referente aos anos de 2015 a 2022.
Figura 11 - Infográfico do Marco Legal do CAC (Parte 2)8

Fonte: elaborado pela autora (2020).

8
Ver documento referente ao ‘Relatório de esclarecimento de ocorrências do projeto CAC’ no Anexo F.
56

Em 2016, foi feito um relatório pela Secretaria de Planejamento e Gestão do Ceará sobre
a aplicação de uma metodologia chamada “Gestão de Investimento Público”, no processo de
implementação. Em 2017, a obra passa novamente por uma auditoria do TCU. Em 2018, foram
repassadas informações pelo Ministério da Integração Nacional sobre o investimento previsto
para a obra e durante 2019, foram encontrados três documentos: um emitido pela SRH sobre a
situação física e financeira dos três trechos da obra, um oficio da Procuradoria Geral da Justiça,
com a notificação de para uma audiência pública requerida pela comunidade sobre as medidas
compensatórias da obra e um documento da SRH sobre a atuação situação de desapropriação
dos lotes do trecho 1.
No que concerne a participação dos moradores das comunidades atingidas nas
discussões sobre o processo de implementação da obra, é visto pelo levantamento feito por
Martins (2020) que a primeira audiência junto à comunidade ocorreu no ano de 2012. Também
é em 2012 que surge o movimento social “Somos Todos Baixio das Palmeiras”, movimento de
cunho reivindicatório onde os moradores das comunidades afetadas pelo CAC relatam os
problemas vivenciados por eles por conta do iminente processo de desterritorialização.
Nas quatro dissertações encontradas que abordam o CAC (BRITO, 2016; TAVARES,
2016; NOBRE, 2017; MARTINS, 2020), são ilustrados relatos do incomodo dos moradores
com a forma com que foram abordados no início do processo, em especial na abordagem inicial
do processo de medição da área afetada. Segundo os relatos, os trabalhadores entraram nos
domicílios sem pedir permissão aos moradores. Foi a partir dessa visita técnica que os
moradores ficaram sabendo sobre o CAC e que seriam desapropriados. E esse problema de
comunicação inicial se tornou o estopim das situações de conflito entre moradores, estado e
empresa terceirizada. As temáticas Conflitos socioambientais e Migração Compulsória serão
trabalhadas no capítulo seguinte.
57

4 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO HIDROTERRITÓRIO BAIXIO DAS


PALMEIRAS E O PROCESSO DE MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA

Neste capítulo, abordaremos aspectos teóricos sobre os conceitos de hidroterritório e


conflito socioambiental. Iniciaremos falando sobre hidroterritórios e ilustrando porque
consideramos as comunidades afetadas pelo CAC como hidroterritórios. Em seguida, traremos
a discussão sobre aspectos teóricos de conflitos e as especificidades dos conflitos ambientais.
Por fim, é trazida uma breve explanação sobre a situação de conflito deflagrada com a chegada
do CAC no Baixio das Palmeiras, além da conceituação de o que é um processo de migração
compulsória.

4.1 HIDROTERRITÓRIO E HIDRORESISTÊNCIA

É possível afirmar que quando se tem territórios em que a água é motivo de luta,
disputada por posse e controle do recurso, pode-se denominá-los hidroterritórios. Este conceito
foi definido por Torres (2007, p. 14) como “[...] aqueles territórios demarcados por questões de
poder político e/ou cultural oriundas da gestão da água, assumindo assim, o papel determinante
em sua ocupação”. É expressão de um fenômeno social no qual a dominação territorial é
estabelecida pelo controle da água que possui tanto valor simbólico como econômico.
Segundo Torres, Lima e Vianna ([2007]) e Torres (2007), os arranjos territoriais
estabelecidos pela gestão dos recursos hídricos no Nordeste podem ter três configurações: (1)
hidroterritórios privados, em que a água é reconhecida como mercadoria, excetuando-se os
serviços de tratamento e distribuição; (2) hidroterritórios de águas livre como os de
comunidades indígenas, nos quais se verifica a socialização do bem coletivo; (3) e
hidroterritórios de luta, cuja a disputa sobre o recurso comum se estabelece entre diversos atores
sociais pela dominação da água para determinados fins como o agronegócio.
Observa-se, segundo os mesmos autores, o papel articulador da água na produção de
energia, agricultura e desenvolvimento industrial; definindo, consequentemente a formação
territorial. Ou seja, água, energia e alimentos são recursos indispensáveis à sociedade.
Entretanto, as ações de gestão e planejamento são analisadas setorialmente, destaca Rodrigues
(2017), portanto, desconectadas, o que contribui para uma visão fragmentada dos problemas
ambientais.
A distribuição irregular da água e o uso irracional dos recursos hídricos, acrescido dos
fatores geoclimáticos, são responsáveis pela crise da água, salienta Silva (2012). Outros
58

motivos estão associados à percepção da água quanto recurso, como moeda de troca (TORRES;
LIMA; VIANNA, 2007), mercadoria (TORRES, 2007; CHACON, 2007; NOBRE, 2017), a
falta de integração da Política Nacional dos Recursos Hídricos com outras políticas, a saber a
política ambiental e de desenvolvimento territorial e a ausência de saneamento básico.
Bordalo, Ferreira e Silva (2017) ressaltam que determinados conflitos se estabelecem
pela disputa da água em um contexto onde o uso para uma atividade acontece em detrimento
de outra que termina sendo prejudicada. Exemplo disso é o projeto CAC, que vai levar água
para cidades com escassez hídrica próximas a capital, e também será usada para abastecer o
consumo da população de Fortaleza, bem como para as atividades agroindustriais e de turismo.
Entretanto, irá fechar os poços e destruir nascentes da região, o que trará riscos socioambientais
pelas alterações a serem feitas na chapada.
Torres, Lima e Viana (2007) destacam a importância dos recursos hídricos na formação
do território, na gestão da água e na perspectiva integradora de convivência com o semiárido.
Pensando nisso, estabeleceu-se o comitê de bacias como mecanismo de gestão, visando a
promover uma maior equidade nos interesses múltiplos na utilização do recurso hídricos para
alguns e bem livre para outros.
Como afirma Afonso (2013), foi a partir da Lei 9.433/97 que a descentralização da
gestão das águas começa a ser discutida a nível nacional. A participação da sociedade civil no
processo de gerenciamento das águas a partir do Comitê de Bacia e a delimitação da Bacia
Hidrográfica como unidade de gestão são tidas como instrumentos importantes para o uso
racional pelos usuários através da cobrança da água, a ser adotada como competência pelo
Comitê de bacias, que definirá também a metodologia de cálculo e o valor a ser cobrado.
Segundo a mesma autora, as comunidades rurais questionam a paridade na formação do
comitê de bacias entre sociedade civil e Estado, de forma que as leis instituídas desconsideram
as particularidades dos saberes e vivências da população com a água e a terra, elementos
constituintes do modo de viver desses povos (AFONSO, 2013).
No caso do Ceará, a discussão sobre os comitês de Bacia inicia em 1992, com a criação
do primeiro comitê de bacia do estado, o comitê do território Curu, em virtude da Lei estadual
nº 11.996/92, que institui a Política Estadual de Recursos Hídricos. Frente às pesquisas
realizadas, o plano mencionado reforçou que a gestão do uso da água deve ser realizada de
forma participativa e descentralizada. É válido ressaltar que a PERH foi a primeira lei de gestão
das águas no âmbito nacional, servindo como modelo para a PNRH.
Posteriormente, o Ceará foi dividido em 11 regiões hidrográficas (Salgado, Alto
Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Baixo Jaguaribe, Banabuiú, Metropolitanas, Curu, Litoral, Acaraú,
59

Coreaú e Poti-Longá). No mesmo ano, também foi instituído o Sistema de Gestão dos Recursos
Hídricos (SIGERH) pela Lei Estadual n°11.996, porém, foi somente em 1993 que ele se
consolidou, quando através do governo do Estado do Ceará foi inaugurada a Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH), pela Lei nº 12.217. Essa companhia tinha
os seguintes princípios norteadores: a integração, descentralização e a participação dos Comitês
de Bacia, onde se encontram os principais atores envolvidos na gestão, que são Estado e
usuários da água (LINS, 2011).
É importante ressaltar que as políticas ambientais não podem ignorar a relação entre
dinâmicas sociais e preservação da natureza, pois uma gestão eficiente contempla a inserção
geográfica, formas de apropriação do contexto das relações sociais estabelecidas com o
território; compreendendo os significados atribuídos pelos atores ao seu ambiente (BECKER,
2005; ARGENTA, 2018).
Quando essas particularidades não são levadas em consideração, pode-se eclodir
situações de conflito no processo de gestão das águas. Os conflitos, fenômeno decorrente de
intervenções ambientais de impacto, reproduzem- se por todo o Brasil na medida em que as
relações de poder continuam assimétricas, mantendo “[...] os mesmos mecanismos desiguais de
distribuição do acesso ao meio ambiente e da divisão dos custos, riscos e impactos resultantes
das práticas dominantes de apropriação dos recursos naturais” (ZHOURI; ZUCARELLI, 2008,
p. 4).

4.2 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EM HIDROTERRITÓRIOS

Discutir o acesso, uso e a gestão das águas é envolver-se historicamente em questões,


sobretudo, políticas e econômicas, e por conseguinte, sociais. Torres (2016) afirma que, ao
longo da história, alguns bens naturais foram subestimados e negligenciados como elementos
indispensáveis à vida na terra, como a água, a qual foi utilizada como mecanismo de controle e
domínio territorial com o objetivo de “[...] mapeamento da água para fins de povoamento e/ou
estratégias de guerra” (TORRES, 2016, p. 93).
Bordalo, Ferreira e Silva (2017) elencam os atores envolvidos nesses conflitos como
agentes públicos responsáveis pela gestão, grupos privados interessados na apropriação e os
agricultores campesinos. O grande problema se estabelece pelo uso da água na atividade
industrial que, por consumir elevada quantidade, gera um risco socioambiental e,
consequentemente, um conflito hídrico.
60

Dessa forma, por conta da abundância de água em um território, estabelece-se um


conflito e, consequentemente, resistência; ou melhor, hidroresistência, uma vez que o território
adquire uma condição de proeminência em virtude da sua capacidade produtiva e assim, o
controle desse hidroterritório provoca mudanças estruturais e sociais no espaço ocupado e sob
a tutela do Estado.
De acordo com Torres (2007), a luta estabelecida no sentido de movimento, mobilização
em prol de negociar as possibilidades de territorialização decorrentes de conflitos por água,
denomina-se hidroresistência, o que neste trabalho é provocada pelo projeto hídrico do CAC.
Bordalo, Ferreira e Silva (2017, p. 327) discutem a engendrada rede de poder em torno
de territórios hídricos, concebidos como hidroterritório, ou seja, como “[...] um fenômeno social
no qual existe o controle do território, trazendo à tona conflitos e movimentos espaciais e
temporais”. Torres (2007) exemplifica os conflitos em hidroterritórios como aqueles
provocados nos territórios referentes à disputa por estoque de água, ou por posse e controle de
água, como acontece na implantação de um canal e na construção de açudes e barragens.
Antes de abordar hidroresistência e conflitos socioambientais, percebe-se a necessidade
de apresentar a conceituação de conflito socioambiental. Segundo Barbanti Junior (2001), ao
se falar sobre conflito, duas escolas se destacam: o marxismo e o funcionalismo, aquela está
voltada às questões socioestruturais e à relação econômica; esta, possui foco em uma percepção
estática da realidade, mais voltada à compreensão da natureza humana do conflito.
No Brasil, o tema conflito socioambiental começa a ganhar mais atenção nos anos 1990,
quando surge a Rio 92 e a criação da Agenda 21. Neste momento, começou-se a discutir até
que ponto a agenda de defesa do meio ambiente atendia a razões éticas ou se devia a manutenção
do establishment político e empresarial; em especial, pensando nas agências de fomento
internacionais, que começam a incluir a noção de sustentabilidade em seus editais (BARBANTI
JUNIOR, 2001).
Visto a escalada de empreendimentos geradores de conflitos socioambientais, começa-
se a se preocupar com a origem e formas de “conter” tais conflitos. Para compreender essa
dimensão, é preciso se ater a três elementos: a ação dos agentes envolvidos no processo, a
determinação dos processos estruturais e o contexto político-cultural e suas mudanças. Ao se
falar de conflito ambiental, também é necessária a compreensão do processo de formação dos
movimentos sociais em torno da questão ambiental geradora do conflito (BARBANTI
JUNIOR, 2001).
No século XXI, a temática dos conflitos ambientais começa a ganhar ainda mais força.
O modelo clássico de economia foi percebido como insustentável e o Desenvolvimento
61

Sustentável aparece como uma alternativa ao mesmo, permitindo harmonizar o progresso


humano com os limites que os recursos naturais determinam. Nesse contexto, os conflitos
socioambientais surgem em função de superposição de usos, de percepções diferentes de um
determinado espaço geográfico ou recurso natural e com a incompatibilidade de interesses sobre
o uso do mesmo território ou pela utilização dos recursos naturais entre indivíduos ou grupos
independentes (BRITO et al., 2011).
No contexto brasileiro, os primeiros estudos sobre conflitos tiveram como base a
Sociologia das ações. Entre os autores citados com referências importantes para entender as
correntes sobre conflitos socioambientais no Brasil, serão utilizados dois: Paul Little e Henri
Acselrad.
Little (2006, p. 91) define conflitos ambientais como “[...] um conjunto complexo de
embates entre grupos sociais em função de seus distintos modos de inter-relacionamento
ecológico”. Para o mesmo autor, ao tratar sobre conflito não se deve ficar restrito aos aspectos
econômico ou político do mesmo, mas também a aspectos interdisciplinares, como a cultura e
a identidade.
Para Little (2001), essa modalidade de conflito é gerada a partir de disputas, que ocorrem
entre grupos sociais, podendo esses ser do mesmo território ou de territórios diferentes. O
conflito surge não apenas materialmente, por expressões no território, mas também
subjetivamente. O autor também afirma que os conflitos podem acontecer tanto pelo controle
de um determinado recurso natural como dos usos desse recurso.
Para isso, uma das metodologias de análise de conflito sugerida por Little (2006) é a
etnografia dos conflitos. O autor relata a importância do olhar da antropologia ao lidar com
situações de conflito que existem em grupo sociais que são historicamente marginalizados,
como, por exemplo, povos indígenas. Para ele, “[...] a etnografia dos conflitos socioambientais
explicita as bases latentes dos conflitos e da visibilidade a esses grupos marginalizados”
(LITTLE, 2006, p. 92).
Um elemento fundamental citado por Little (2006) para etnografia do conflito é por o
mesmo como foco central do estudo estudando todos os atores sociais e recursos ambientais
que perpassam essa situação. O estudioso compreende que para analisar um conflito é preciso
avaliar três dimensões: mundo biofísico, mundo humano e relacionamento entre os dois
mundos. Outra estratégia relatada para melhorar a compreensão desse processo é o mapeamento
das interações políticas.
62

Um conflito pode vacilar durante anos entre os estágios latentes e manifesto: pode
haver momentos do conflito ficar muito “quente” e depois perder sua visibilidade,
para posteriormente “esquentar” de novo. O entendimento da dinâmica interna do
conflito inclui a identificação das polarizações das posições e o mapeamento das
alianças e coalizões, sempre sob a observação que, durante o longo percurso do
conflito, as posições dos distintos grupos podem mudar de tal forma que antigos
aliados se transformam em inimigos ou vice-versa (LITTLE, 2006, p. 92).

Logo, é preciso analisar as estratégias utilizadas pelos grupos sociais abordados para
lidar com a situação conflitante e pensar a resolução a partir desse estudo. Little (2006, p. 62)
afirma que assim “[...] a etnografia dos conflitos sociais se insere plenamente no paradigma
ecológico: tem foco nas relações; usa uma metodologia processual; e contextualiza o
conhecimento produzido”.
Já para Acselrad (2004), conflitos socioambientais ocorrem quando nos mesmos se
envolvem diversos grupos sociais, que tem seus próprios modos de apropriação e
ressignificação do território. Para este autor, quatro dimensões são importantes para entender
conflitos: apropriação simbólica, apropriação material, durabilidade e interatividade. E quanto
ao tipo de conflito, ele traz duas classificações: conflito por distribuição de externalidades e
conflito pelo acesso e uso dos recursos naturais.
Quando partirmos para a compreensão do conflito a partir do conceito de hidroterritório,
como destaca Brito (2013), os conflitos por água surgem quando o arranjo territorial sofre
alguma mudança, resultando na construção de uma barragem, de um perímetro irrigado, de
canais de transposição, dentre outros. Projetos de integração de bacias hidrográficas, por
exemplo, quando incorporadas ao território, resultam numa nova configuração territorial,
podendo fortalecer ou enfraquecer determinados territórios, provocar desterritorialização e/ou
criar novas territorialidades.
Torres (2007) assevera a força existente de territórios criados em torno da disputa pela
água, denominados de hidroterritórios, variando o tamanho de acordo com a origem e trajetória
da água. A concepção da água como valor econômico fundamenta o seu uso estratégico na
demarcação de territórios, gerando as disputas entre pequenos e grandes usuários (AFONSO,
2013).
Portanto, as decisões relativas a investimentos que reverberem em impactos ambientais
e sociais, precisam ser exaustivamente discutidas com todas as instâncias envolvidas, incluindo
a sociedade civil e, principalmente, as populações atingidas por essas obras. Participação social
também é um índice importante na promoção da sustentabilidade, estando vinculada à dimensão
social da sustentabilidade.
63

Segundo Sachs (2009), uma das experiências mais comuns para que o
Ecodesenvolvimento seja alcançado mais facilmente é o aproveitamento dos sistemas
tradicionais de gestão de recurso combinados com a organização de um processo participativo
de identificação das necessidades, dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da
biodiversidade, tendo isso como caminho para melhoria da vida da população, a partir da
negociação com os stakeholders (atores locais). O êxito dessa estratégia está na transformação
dos resultados da negociação em um contrato entre os atores envolvidos, gerando uma “gestão
negociada e contratual dos recursos”, apontada por Sachs como pedra fundamental para o
Desenvolvimento Sustentável.
Sobre o motivo dos hidroconflitos, Martínez (2012) assinala que não está associado à
questão da escassez hídrica, mas corrobora com o entendimento de Rocha que diz: “Os conflitos
existem porque há interesses divergentes de quem domina a água devido aos seus múltiplos
usos: abastecimento humano e animal, assim como uso em atividades produtivas (indústria,
agricultura, por exemplo)” (ROCHA, 2013, p. 28).
Martínez (2012) evidencia a importância da água para o desenvolvimento econômico e
social e para garantir a sobrevivência do ecossistema, de forma que essa conexão envolve tanto
interesses geoeconômicos como geopolíticos que podem acarretar conflitos ou cooperação. Os
conflitos por consumo ou acesso à água, pela qualidade e quantidade da mesma e pela
distribuição irregular geram tensões hidroambientais. No caso do Ceará, como pode ser
observada na Figura 12, são listados 22 conflitos hídricos, que possuem motivações tanto
referente ao acesso às águas, quanto a privação do direito a terra por consequência de um projeto
hídrico.
Figura 12 - Mapa dos Conflitos Hídricos

Fonte: elaborada pela autora (2020).


64

Como é visto no mapa, os conflitos deflagrados pela chegada do CAC na cidade do


Crato também fazem parte dessa modalidade. A obra fez com que fossem fomentadas diversas
ações comunitárias de resistência, sendo o Fórum Popular das Águas do Cariri (FOPAC), uma
das mais emblemáticas ações de hidroresistência, como poderá ser visto adiante.

4.3 HIDRORESISTÊNCIA NO HIDROTERRITÓRIO BAIXIO DAS PALMEIRAS: O


FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI

Como foi falado no capítulo anterior, apesar das promessas de melhorias feitas aos
afetados pelas consequências da seca, o CAC suscitou resistências da população das
comunidades atingidas. Em especial, aos moradores de comunidades que se localizam no lote
3, do Eixo Jati-Cariús (Eixo 1) da obra, principalmente os do distrito do Baixio das Palmeiras.
É nesse território onde há a maior concentração de atingidos pelo CAC, especialmente em
quatro comunidades: Baixio das Palmeiras (sede do distrito), Chapada do Baixio, Baixio do
Muquém e Baixio dos Oitis (NOBRE, 2017).
As quatro comunidades citadas comportam 318 famílias, distribuídas da seguinte forma:
Baixio das Palmeiras (sede do distrito): 87 famílias, Baixio dos Oitis: 41 famílias, Chapada do
Baixio: 68 famílias e Baixio do Muquém: 122 famílias (NOBRE, 2017). Além disso, estima-se
que no total 168 habitações do lote 3 serão afetadas pela passagem do sistema adutor, sendo 11
famílias localizadas na zona urbana do Crato e 157 família em comunidades rurais que estão
no percurso do CAC, sendo as comunidades supracitadas parte dessa área afetada.
Como é mostrado na análise do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA) feita por Martins (2020), apesar de haver uma ideia no plano de
mitigação de agravos, no sentido de estimular a transparência do processo por meio de um plano
de comunicação, esse plano de comunicação não foi executado como previsto, sendo que todo
o processo de informação sobre o problema e esclarecimentos à comunidade sobre o CAC se
deu a partir dos esforços dos movimentos sociais locais.
Também, não ocorreu, inicialmente, convite aos moradores para participação em
espaços de deliberações, como o Comitê de Bacia do Salgado, para discutir sobre o CAC, seus
impactos e como o processo de desapropriação iria acontecer. Logo, para os moradores
afetados, o processo de desterritorialização e, decorrente disso, migração, é compreendido
como algo imposto por um agente externo, não permitindo aos moradores das comunidades a
decisão do rumo das suas vidas.
65

Segundo a definição de hidroresistência adotada por Torres (2007), pode-se falar que a
reação da comunidade ao projeto CAC é denominada de hidroresistência, que são “[...]
movimentos sociais que lutam pela água de seu hidroterritório” (TORRES, 2007, p. 65).
Hidroterritório, como foi trabalhado no tópico anterior, é um termo específico utilizado para
denominar território que possui particularidades em relação à gestão da água. Elemento
historicamente disputado, a água favorece a luta de classes pelo seu domínio, de acordo com os
interesses em conflito, seja para o agronegócio, abastecimento humano, agricultura familiar ou
dessedentação animal.
Apesar de o EIA/RIMA apresentar um estudo onde afirma ampla aceitação das
comunidades ao CAC, estudos como o de Nobre (2015, p. 17) explanam que a maioria dos
moradores das comunidades afetadas no Baixio das Palmeiras afirma que não foram abordados
por essa pesquisa. Visto a chegada da obra, que foi vista pelos populares como processo
impositivo, e do consequente abalo na relação cultura/espaço, a reação da população começou
a girar em torno da Associação Rural do Baixio das Palmeiras.
Isso começou a partir da percepção dos moradores de uma intensa movimentação de
veículos oficiais do governo estadual nas estradas do Baixio. Com o surgimento dos primeiros
estudos de campo e o desconforto gerado pela abordagem inicial dos trabalhadores da empresa
terceirizada contratada, surge o primeiro movimento de resistência comunitária relacionado ao
CAC, o ‘Somos Todos Baixio das Palmeiras’ (NOBRE, 2017; TAVARES, 2016). Outra
produção da comunidade, como forma de dar visibilidade a problemática instaurada, foi a
poesia escrita pelo Didi, morador da comunidade da Chapada, intitulada ‘O Baixio preocupado’
(Anexo G).
Após diversas denúncias realizadas e tendo em vista a pressão dos moradores que faziam
parte do movimento social de resistência, foi realizada em 2012 a primeira reunião com
membros da SRH e da VBA com os moradores das comunidades afetadas, realizadas no Baixio
do Muquém. Nessa ocasião, foi comunicado que 113 casas faziam parte do trajeto da obra e
que as mesmas seriam desapropriadas, partindo do marco legal da Lei de desapropriação por
utilidade pública.
Em 2013, após modificações feitas no projeto, no que se refere ao trajeto da obra, o
número de casas atingidas diminuiu para 28 casas. À pedido dos membros do Somos Todos
Baixio das Palmeiras, acontece uma nova reunião de esclarecimento do processo pela SRH,
onde foi informado o novo quantitativo de casas a serem desapropriadas (NOBRE, 2017).
Vale ressaltar que esse número é flutuante, sendo modificado ao longo dos anos do
processo de desterritorialização. Atualmente, segundo o último levantamento feito pelos
66

membros da Associação Rural do Baixio das Palmeiras, o trajeto conta com 18 famílias que já
foram ou estão sinalizadas para serem desapropriadas nas quatro comunidades de abrangência
da pesquisa e, mais recentemente, duas casas da comunidade Romualdo.
Como demonstra Martins (2020), desde 2012 os moradores têm realizado diversas
práticas de resistências, definidas pela autora como práticas de mobilização social, de
comunicação social, de cultura e realizadas por parceiros. Práticas essas que encontram
sustentação nos vínculos sociais morador-comunidade e morador-território.
Tavares (2016) apresenta em sua dissertação um estudo sobre a gênese do movimento
‘Somos Todos Baixio das Palmeiras’, o movimento social de base promotor dos principais atos
de resistência às obras do CAC. Para a autora, foi a partir da percepção inicial dos moradores
ligados à Associação Rural do Baixio das Palmeiras acerca dos possíveis danos que o
empreendimento traria a comunidade, quanto à forma impositiva e invasiva de comunicação
sobre a desapropriação e ao zelo pela memória desse território, que os moradores se uniram à
resistência.
Tendo a água e a terra como elementos de forte simbolismo para suas trajetórias de vida,
o movimento se fortaleceu na defesa do seu território de vida. A defesa pela indenização justa
e por clareza nos processos de gestão da obra não minimiza a dor real causada pela iminente
fragmentação dos laços entre os moradores desapropriados e o seu lugar, no caso, as
comunidades do Baixio das Palmeiras. Por ter na água e no seu acesso uma carga simbólica
expressiva, o conflito eclodido nesse hidroterritório pode ser considerado um conflito
socioambiental hídrico (TAVARES, 2016).
Da mesma forma, segundo as definições de hidroterritórios elencadas por Torres, Lima
e Vianna (2007), pode-se classificar o Baixio das Palmeiras como hidroterritório de luta, onde
os que nele residem lutam contra a dominação com fins econômicos, seja para agronegócios ou
complexos industriais. Sendo assim, entende-se que a luta pela água é também luta pela terra,
pelo território em que se habita e com o qual se estabelecem relações identitárias e culturais.
É nesse contexto de hidroresistência que se ergue o Fórum Popular das Águas, criado
em novembro de 2015, surgido diante da necessidade de reunir outras comunidades para
promover os questionamentos sobre o CAC, além do distrito do Baixio das Palmeiras. Como é
ilustrado por Brito (2016), Nobre (2017) e Martins (2020), o Fórum Popular das Águas do Cariri
(FOPAC) é uma iniciativa dos moradores das comunidades atingidas pelo CAC no distrito
Baixio das Palmeiras, zona rural do município do Crato, Ceará. A criação dessa instância
ocorreu durante o IV Seminário das Associações Rurais do Baixio das Palmeiras, em 2015,
como deliberação derivada dos grupos de trabalho do evento.
67

O Fórum é definido como “[...] espaço alternativo em relação à questão hídrica no estado
do Ceará pautando a água como um direito fundamental contribuindo para uma gestão hídrica
que seja ecológica, social e cidadã” (NOBRE, 2017, p. 185). Como demonstra Martins (2020),
a criação dessa instância supriu a demanda inicial por um espaço de comunicação,
monitoramento e acompanhamento de todos os processos referente ao CAC e a seus
desmembramentos, como também apoio ao público atingido pelas obras.
À vista disso, o Fórum Popular das Águas do Cariri surge como uma forma expressiva
de hidroresistência que reúne, além das comunidades afetadas diretamente pelo CAC,
movimentos sindicais, movimentos sociais de base, associações, dentre outros. O Movimento
dos Atingidos por Barragens (MAB), a Cáritas do Crato, a Comissão Pastoral, a Rede Nacional
de advogados populares (RENAP), a URCA, a UFCA e outras organizações contribuíram para
a implementação do Fórum.
Como demonstrado no estudo de Nobre (2017), o FOPAC surgiu durante a realização
do IV Seminário das Associações Rurais do Baixio das Palmeiras, que ocorreu no ano de 2015.
O Fórum surgiu como consequência de vários debates realizados pelos moradores integrantes
do movimento “Somos Todos Baixio das Palmeiras” e é visto como espaço importante não
somente para discutir os impactos socioambientais do CAC no Baixio das Palmeiras, mas
também para se falar sobre aspectos relacionados a democratização do acesso à água.
Em seu processo de criação, foi elaborado um documento chamado ‘Carta de Princípios
do Fórum Popular das Águas do Cariri’, onde foram definidos os seguintes objetivos: “1º)
Debater e publicizar a campanha através de debates com as comunidades e a sociedade em
geral; 2º) Possibilitar o acesso à campanha; e 3º) Fortalecer a luta com os parceiros [...]”
(DANTAS; CAVALCANTE; DAMASCENO JUNIOR, [2017]).
Partindo disso, o surgimento dos movimentos sociais de resistência ao CAC é visto
pelos moradores envolvidos como promotor de empoderamento das comunidades envolvidas.
Isso porque, os indivíduos e grupos transformam-se em protagonistas das relações as quais estão
submetidos, abandonando a passividade por meio da valorização, da conscientização e da
informação sobre o problema da água. Dessa forma, a partir de processos de participação, as
comunidades são empoderadas, resistindo e lutando pelos seus direitos.
A mobilização exercida pela população da comunidade, em decorrência dos efeitos da
abordagem inicial do Projeto Cinturão das Águas do Ceará, demonstrou a força da integração
social em atitudes de envolvimento e participação, na medida em que houve uma percepção
coletiva de ameaça ao território.
68

Percebe-se, portanto, o fortalecimento da comunidade em relação aos seus direitos como


cidadãos que, como tais, têm características de participação social (DOWBOR, 2014), na qual
as práticas sociais contribuem para a incorporação das normas e valores da comunidade
(PUTNAM, 2006).
Putnam (2006) descreve uma comunidade cívica como sendo aquela em que a cidadania
é exercida pela participação nos negócios públicos, em uma relação igualitária de direitos e
deveres iguais, bem como reciprocidade e cooperação, afirmando que “[...] os cidadãos
virtuosos são prestativos, respeitosos e confiantes uns nos outros, mesmo quando divergem em
relação a assuntos importantes” (PUTNAM, 2006, p. 102).
Da mesma forma, Almeida (2015) reforça o papel do engajamento para uma governança
com qualidade, uma vez que “[...] incrementar a participação cidadã na gestão pública
contribuiria para desenvolver uma cultura cívica, associativa e mais colaborativa, consolidando,
assim, o regime democrático vigente” (ALMEIDA, 2015, p. 269).
Quando o assunto envolve a questão da água é que os conflitos são mais evidentes, como
demonstra Torres (2007) ao refletir sobre a utilização da água como recurso para legitimação
do poder. Sobre a utilização do termo “sustentabilidade” para dar respaldo a ações
ambientalmente e socialmente nocivas, Chacon (2007, p. 111) ressalta: “A apropriação da
noção de sustentabilidade pelo discurso oficial procura legitimar a definição de prioridades
quanto ao uso dos recursos naturais”.
A atuação do Fórum Popular das Águas pode ser percebida como um processo de
educação ambiental na medida em que, metodologicamente, foi utilizado para promover
conhecimentos e conscientização dirigidos ao compromisso e à ação social, não somente na
comunidade afetada pelo projeto, mas também na população em geral. Como ressalta Castro
(2010), a relação entre desenvolvimento e meio ambiente tem sido temática central da educação
para o desenvolvimento sustentável, dando enfoque, a partir da década de 1990, às questões
sociais, políticas e econômicas na adoção de um modelo que requer mudanças de atitudes e
práticas dos cidadãos.
Dantas, Cavalcante e Damasceno Junior (2017) comentam que a organização da
comunidade se deu através da associação rural, lutando por seus direitos, tornando público seus
questionamentos e desafios, como a questão da destruição de suas fontes naturais, além de não
poderem ter acesso a água do canal.
Jacobi (2006) destaca algumas características a serem observadas na noção de
participação: primeiro a quem se destina, ou seja, sob a ótica dos interessados e não da
perspectiva dos interesses estatais; segundo, o desafio de articular democracia política e
69

participação social de forma a promover uma maior permeabilidade da gestão às demandas


sociais, promovendo a participação heterogênea e uma representatividade mais ativa.
Sabourin (2002) destaca a atuação das coletividades territoriais que aqui são definidas
como coletividades humanas com dinâmicas sociopolítica e econômica, historicamente
construídas em volta de uma identidade social, desenvolvendo atividades comuns ou
complementares, estrategicamente ligados por relações de proximidade, sejam sociais,
geográficas ou culturais.
Quando se trata de participação envolvendo comunidades rurais, a natureza das relações
comunitárias possui especificidades a serem consideradas, pois como ressalta Quintanar (2009),
são mais personalizadas e, portanto, contribuem para superar as adversidades através de
estratégias de enfrentamento e resolutividade.
Méndez-Sastoque (2016) destaca que comunidades rurais campesinas, quase sempre,
estão em desvantagem nas relações de poder e, consequentemente, necessitam desenvolver
algumas competências. Pode-se citar comunicação assertiva e dialógica; como também,
habilidade de participação efetiva e negociação. Essas competências proporcionam uma melhor
capacidade decisória, de forma a minimizar as assimetrias, permitindo exercer a democracia
que pressupõe a discussão dos atores em igualdade de condições sobre as políticas públicas a
eles destinadas. Portanto, efetivamente, o primeiro passo consiste em perceber-se capaz de
expressar suas reivindicações, para então fazê-lo.
Essas questões apontam para a integração do ser humano com o seu meio ambiente de
forma que se percebam conectados e, a partir de então, desenvolvam uma consciência ética da
sua atuação (MORIN, 2002; CAPRA, 1986), podendo se apropriarem deste espaço que,
segundo Sauvé (1996), é um lugar para habitar, conhecer e cuidar, ao mesmo tempo que é
projeto comunitário e meio vivencial partilhado.
Vidal e Pol (2005) entendem que quando as pessoas se apropriam dos seus espaços são
capazes de desenvolver ações de forma comprometida, pois se sentem engajadas aos mesmos.
Stokols (1995) reforça essa verdade, demonstrando que as pessoas adotam comportamentos
ecologicamente adequados quando são afetadas pessoalmente pelas questões ambientais.
Dessa forma, todo o processo educativo desenvolvido nas reuniões das associações,
sindicatos e outros espaços de convivência da comunidade, manifestado na relação dialética
entre os agentes comunitários e os membros da comunidade, promoveu uma maior
conscientização dos direitos como cidadãos, difundindo uma ética socioambiental e
promovendo o desenvolvimento comunitário (CARVALHO, 2002).
70

Suaréz (2010) considera dois elementos determinantes da participação como reação às


condições ambientais, quais sejam, a interpretação da situação como condição de risco e/ou
perigo, e a percepção da autocapacidade de controle e influência dos sujeitos sobre as
condições. Então, frente aos problemas decorrentes da questão hídrica, a população local deixa
de ser apenas receptora das decisões que lhe são impostas, mas surge como sujeito ativo e
modificador do processo no qual está inserida, em virtude não apenas de sua conscientização,
mas também de seu efetivo controle e participação nos projetos, soluções e nas tomadas de
decisões.
Destarte, é imprescindível a atuação e o envolvimento das comunidades atingidas pelos
conflitos ambientais, em razão do relacionamento estabelecido entre elas e o espaço geográfico
no qual convivem, permitindo, pois, a discussão em busca de melhores soluções para a
problemática, com base na construção de conhecimentos acerca dos limites e das capacidades
da natureza consubstanciado com suas necessidades e realidades locais.
Sendo assim, as comunidades passam a ter um papel ativo na medida em que, através
da educação ambiental, não há a imposição das deliberações, mas sim participação de forma
consciente e voluntária, de modo que há trocas de conhecimentos e valores entre os diversos
interessados que lhes permitem a transformação cooperativa e solidária da realidade,
objetivando o bem-estar comum. Então, há o deslocamento do comportamento individual
desses para prática de ações cooperativas (BERLINCK et al., 2003).
Portanto, é nesse sentido de processo de construção de valores e atitudes entre todos os
atores sociais envolvidos nos conflitos hídricos que se insere a atuação do Fórum Popular das
Águas do Cariri, movimento de resistência ao projeto CAC, como já explanado acima.

4.4 MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA EM HIDROTERRITÓRIO

Carvalho e Medeiros (2005, p. 54), quando abordam sobre conflitos espaciais


relacionados às migrações compulsórias, ou seja desterritorializações provocadas pela
“territorialização” de barragens; e sobre as discussões em torno do “direito social e jurídico ao
lugar”, reconhecem que tratar desse assunto adquire um caráter de importância, principalmente,
em locais onde existe restrição hídrica. Pois, apesar dos danos causados, tal investimento se
apresenta como recurso estratégico. E, ao se discutir sobre esse assunto, é necessário considerar
o uso da água, a questão energética e a territorialização-desterritorialização da sociedade
(CARVALHO, 2006).
71

Situações como essas podem ser observadas em casos emblemáticos, como o do


processo de desapropriação ocasionado pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Marin
e Oliveira (2016), apresentaram que, desde o ano 2008, há inconsistências nos documentos de
base da obra e no EIA/RIMA, como também dúvidas sobre a legalidade do licenciamento
ambiental. As advertências feitas por essas especialistas foram ignoradas, e a defesa da
construção do empreendimento ganhou forças no cenário político local. Com o advento da obra,
os moradores da cidade de Altamira começaram a sentir os efeitos da ação, como o
encarecimento do custo de vida, precarização das condições vitais e impactos nas vidas dos
povos indígenas.
Sobre os processos causadores de vulnerabilidade ambiental, como os supracitados,
Coutinho (2015) ressalta a inexistência de uma classificação adequada para migrantes
ambientais em órgãos de gestão. Porém, destaca a denominação da ONU sobre migração
humana causada por questões ambientais, desastres naturais e mudanças climáticas. Ressalta
também que a origem da maioria dos migrantes ambientais remete a regiões mais pobres, países
em desenvolvimento e com maior vulnerabilidade social.
Vlassopoulos (2010), ao discutir sobre as barreiras institucionais de reconhecimento e
assistência de migrantes ambientais forçados, evidencia o incremento de publicações e
discussões nessa área, provocado pelo aumento de deslocamentos ambientais forçados. Esse
fenômeno causa inúmeros problemas socioeconômicos e políticos que, muitas vezes, são
ignorados como se não fossem responsabilidade de alguém. A mesma autora elenca causas e
consequências dessas migrações e ressalta a necessidade de elaboração de políticas públicas em
defesa das vítimas.
Ao descrever as causas e consequência, a autora já designa possíveis soluções. Há as
migrações forçadas por degradação ambiental, como a poluição, desertificação,
desflorestamento; a ocasionada por desastres naturais, que necessitam de assistência
humanitária; e a causada por “perseguição ambiental”, que ocorre, por exemplo, em conflitos
armados ou populações deslocadas por barragens desassistidas pelas autoridades
governamentais, gerando sofrimento humano (VLASSOPOULOS, 2010). Visto esse contexto,
torna-se necessário conceituar migração e desterritorialização.
Um dos significados do termo migração explicitado por Bueno (2001) define-o como
mudança de lugar. Esse conceito se relaciona com terminologias equivalentes à deslocamento
e desterritorialização. Mondardo (2009), por sua vez, dialoga com Haesbart (2014) sobre as
especificidades entre desterritorialização opcional ou compulsória; das classes dominantes ou
72

das subalternas; interna ou externa. As discussões giram em torno de alguns aspectos, tais como:
pode-se considerar toda migração como desterritorialização?
Trazendo essa reflexão para o contexto da pesquisa: o distrito Baixio das Palmeiras,
destaca-se que uma expressiva quantidade de moradores, que foram ou estão em processo de
desapropriação por conta das obras do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), está optando por,
ao invés de mudar-se para a cidade, construir uma moradia em comunidades circunvizinhas,
sendo somente um morador que migrou da zona rural para a cidade do Crato. Esse fenômeno
não se repete, por exemplo, no município vizinho, Barbalha, em que alguns moradores foram
para uma agrovila e outros se dispersaram. Isso aponta que para estudar sobre processos de
migração ambiental compulsória e desterritorialização, é preciso se atentar não somente ao
processo de deslocamento, mas também, aos fatores sociais e culturais que estão atrelados ao
processo.
Dessa feita, Mondardo (2009, p. 4) ressalta que “[...] a mudança, por mais simples (nada
simples) que seja de deslocamento, de um lugar para o outro, já acarreta, em algum nível, uma
‘desterritorialização’, especialmente, para as classes menos privilegiadas e hegemonizadas da
sociedade”. Ou seja, movimentos de mudanças como o pesquisado (comunidade-comunidade)
também podem acarretar consequências físicas, sociais e subjetivas na vida do sujeito afetado.
O mesmo autor acrescenta a força da identidade de determinados grupos que mantém sua
coesão.
E o que provoca essa estreita relação intergrupal ou intracomunitária? Utilizando-se os
conceitos discutidos no capítulo anterior, pressupõe-se que as relações afetivas com o lugar,
vivenciada ao longo dos anos, resultam na formação da identidade, ao mesmo tempo em que
esse espaço se torna significativo, tanto de maneira simbólica como funcional.
Higuchi e Theodorovitz (2018) explicam que os comportamentos adotados pelas
pessoas em prol de tomar posse ou apropriar-se de um lugar, denotam territorialidade e
manifestam atitudes de personalização, sinalização e defesa da ocupação e/ ou posse
assegurada. Esse processo se caracteriza por abranger diversos fatores: pessoais, sociais ou
contextuais, como pode ser observado nas variáveis trabalhadas no capítulo anterior.
Segundo Altman (1975), a personalização do território é mais importante do que o
território em si. Essa conquista é gradativa e ocorre concomitante ao desenvolvimento de outros
processos interligados, como o pertencimento e enraizamento. As pessoas que habitam em um
território agem delimitando fronteiras de acesso e separação, e também de uso dos recursos
disponíveis. Portanto, nesse lugar coexistem espaços privados, públicos e semi-públicos. Em
uma situação conflitiva, permeada por um projeto governamental que implique
73

desterritorialização, muito provavelmente, serão manifestas reações em defesa desse ambiente,


dependendo do grau de apego, identidade e apropriação de espaços existentes.
Torres (2007) assinala que o território é dotado de forças ambíguas de criação,
(des)construção e reprodução, estabelecendo-se, muitas vezes, uma luta de classes.
Principalmente, quando envolvem questões ambientais e o elemento em disputa é a água, esse
jogo de forças é mais evidente. Nesse caso, o que está em disputa é um hidroterritório que
reflete um movimento sociopolítico e econômico, historicamente constituído.
Essa ideia vem ao encontro do que Haesbert (2014) destaca sobre o poder associado ao
controle do território, percebendo-se como um espaço sobre o qual se exerce um domínio
político, e como tal, um controle de acesso. Para esse autor, o poder é a perspectiva mais
difundida em relação ao conceito de território, contudo, não apenas o poder tradicional, “poder
político”, mas também o poder no sentido mais concreto, de dominação, quanto ao sentido mais
simbólico, de apropriação.
Ainda sobre esse jogo de forças, Bertini (2014, p. 50), ao estudar sobre o processo de
desterritorialização que ocorreu em Jaguaribara por conta da construção do Castanhão, destaca
que há “[...] a percepção da desigualdade social e o sofrimento advindo da situação de exclusão
(Jaguaribara não é contra o progresso. É contra a injustiça desse povo do poder)”. Fica evidente
que a luta não se estabelece contra o que é colocado como “progresso”, mas que isto aconteça
com o menor prejuízo possível e oferecendo toda a assistência necessária, cumprindo-se as
determinações normativas, legais e morais.
Zandomenico (2019, p. 14) denuncia que

Os processos sociais que naturalizam o sofrimento de determinados grupos são


agravados também pela ausência ou ineficiência de políticas públicas que não levam
em conta o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população, produzindo
novas vulnerabilidades e injustiças sociais.

Segundo Ferreira e Bomfim (2013, p. 93), “[...] o conceito de vulnerabilidade diz


respeito à fragilidade do indivíduo ou sociedade em se proteger contra determinada situação de
risco, ameaça ou problema, o que a deixa mais susceptível aos efeitos negativos do fator
estressante”. Ou seja, uma situação de vulnerabilidade socioambiental pode eclodir de um
processo promotor de exclusão, como o caso estudado aqui.
Deve-se ressaltar que o termo vulnerabilidade pode ser compreendido, segundo Barreto
et al. (2017), por três campos: social, ambiental e risco. As autoras afirmam que o social
compreende as questões socioeconômicas envoltas no processo; ambiental tem relação com a
74

fragilização dos ambientes naturais e situações de falta de acesso ou dificuldade em acessar


recursos naturais em um território; e o risco, por fim, seriam as reverberações geradas pelos
problemas ocasionados pelas duas instâncias supracitadas.
Logo, as situações de vulnerabilidade socioambiental são geradas pela correlação entre
problemas sociais e ambientais. E, na maioria das vezes, têm correlação com injustiça
ambiental. Segundo Acselrad, Mello e Bezerra (2009) o conceito de Justiça Ambiental se refere
ao entendimento da necessidade de se promover a equidade nos processos decisórios referentes
às políticas públicas e ações que possuam foco no meio ambiente, nas quais o estímulo à
participação social, o combate a situações em que o excedente de impactos ambientais se torne
dispensado em territórios de grupos minoritários; e a promoção do direito a um ambiente sadio
e seguro sejam os principais objetivos.
A participação social é uma prerrogativa da gestão pública democrática, assegurada
mundialmente como um direito humano, porém, em alguns casos, os mecanismos de
participação social são utilizados de forma perversa, a partir da cooptação e da manipulação,
pelos gestores. Já o processo de injustiça social é compreendido pelos autores como

[...] mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto de vista econômico e social,
destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento às populações de
baixa renda, aos grupos nacionais discriminados, aos povos étnicos tradicionais, às
populações marginalizadas e vulneráveis (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009,
p. 41).

Uma das ocorrências apontadas como situação de injustiça ambiental é o caso de


expropriação de comunidades por conta de grandes projetos hidroviários. As situações
promotoras de injustiça ambiental desvelam exploração socioambiental realizada em ambientes
que habitam populações vulneráveis que sofrem os riscos e as consequências danosas da
construção de aterros sanitários, projetos hídricos, dentre outros.
Visto tais situações, em alguns territórios, como no caso do Baixio das Palmeiras,
surgem movimentos sociais em prol da justiça ambiental. Acselrad (2004) elenca fatores que
mobilizam as pessoas a agirem em prol da coletividade, tais como: ações do sistema de poder
consideradas ilegítimas e injustificáveis; grupos sociais que adotavam condutas fatalistas,
porém estão modificando sua postura em busca de justiça; e indivíduos que se percebiam
impotentes diante de determinadas situações, mas ficaram empoderados. Elementos subjetivos
também são importantes para entender a defesa do território.
Valera e Vidal (2010) demonstram que a territorialidade humana é responsável tanto
pela identidade individual como grupal. Essa identidade é expressa na capacidade de ocupar e
75

sinalizar um território, como acontece em ambientes de trabalho em que os profissionais trazem


acessórios pessoais para sua estação de trabalho. Outra característica é a personalização que
implica em imprimir características pessoais aos ambientes próprios para “sentir-se em casa”.
“O sentimento de estar em casa é defendido por alguns autores como característica essencial do
enraizamento” (MASSOLA; SVARTMAN, 2018, p. 77).
Assim sendo, essas caracterizações são formas importantes que contribuem para o
desenvolvimento de um sentido pessoal. Logo, faz-se necessário abordar os elementos
subjetivos que estão postos em situações de conflitos socioambientais, a partir do estudo
psicológico da relação pessoa-ambiente.
76

5 MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA, DESTERRITORIALIZAÇÃO E A RELAÇÃO


PESSOA-AMBIENTE SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA

Neste capítulo trabalharemos como os processos de migração compulsória e


desterriteriorização podem influir na relação pessoa-ambiente dos moradores afetados.
Primeiramente, serão trabalhados aspectos teóricos da Psicologia Ambiental sobre a relação
entre territorialidade, sustentabilidade e psicologia. Em seguida, serão esmiuçadas as categorias
de análise que serão abordadas nesse estudo: apego ao lugar, identidade de lugar, apropriação
do espaço e redes de apoio social (coesão social). Por fim, serão abordados reflexões teóricas
sobre os aspectos psicossociais de um processo de migração compulsória.

5.1 INTERAÇÃO PESSOA-AMBIENTE E SUAS IMPLICAÇÕES NO


COMPORTAMENTO EM PROL DO TERRITÓRIO

Não há como estudar ambiente de forma fragmentada sem haver unidade e cooperação
de várias áreas da ciência a partir da interdisciplinaridade, sendo que esta deve ir além do
método. Neste tópico, e no seguinte, serão trabalhados os conceitos advindos da Psicologia
Ambiental.
As relações dos indivíduos com seu ambiente têm sido objeto de estudo de algumas
disciplinas, notadamente a psicologia ambiental. Os processos psicossociais relacionam os
significados às percepções, emoções e à cognição com os comportamentos evidenciados nos
diversos espaços de vida. Esses espaços de interação do ser humano com seu ambiente
propiciam o surgimento de elementos importantes na relação pessoa e ambiente, como
pertencimento, apropriação e territorialidade.
Acerca da Psicologia Ambiental, Kruse (2004) afirma que os estudos iniciais dessa área
partiam do local, sem se reportar tanto para o global, e isso corrobora com a perspectiva da
psicologia ambiental dos EUA nos anos 1960. A necessidade de sair do estudo das relações
pessoa-ambiente a partir dessa perspectiva e da compreensão do global nos estudos de
Psicologia Ambiental surge em meados dos anos 1980, com a chegada das grandes conferências
ambientais e o fenômeno das mudanças climáticas.
Visto o reconhecimento do desenvolvimento como um processo de continuidade e
transformação da realidade e dos problemas ambientais crescentes, como o aquecimento global,
desmatamento progressivo, entre outros, as dimensões humanas e psicológicas desses
fenômenos começam a ser abordadas (KRUISE, 2004).
77

Entre os elementos estudados pela Psicologia sobre a relação pessoa-ambiente,


compreende-se a percepção como um processo psicológico que envolve interação do indivíduo
com o seu meio, tanto por mecanismos perceptivos como pela cognição (DEL RIO;
OLIVEIRA, 1999), relacionando as sensações às interpretações que fazemos de aspectos da
realidade por meio de vivências, experiências, crenças e valores. Ressalta- se que ao tratar de
Psicologia Ambiental destacam-se os significados atribuídos pelas pessoas ao seu ambiente,
tanto nos aspectos físicos quanto nos socioculturais (KUHNEN, 2011).
A noção de territorialidade a partir da psicologia ambiental possui foco nas relações que
abrangem o homem com seu território, entendendo-se nesse conceito a definição de território
como lugar, percebido para além dos limites físicos (CAVALCANTE; NÓBREGA, 2011);
envolvendo dimensões material e simbólica (HAESBART, 2003); e intrínseco às relações
sociais (RAFFESTIN, 1993). Tais relações podem traduzir-se em experiências de valência
positiva ou negativa que vão influenciar a percepção desse espaço apropriado, e,
consequentemente, a identidade de lugar e afetividade em relação a ele, influenciando as
condutas em prol do ambiente (RIBEIRO; CUNHA; HIGUCHI, 2013).
Logo, um espaço, ao ser transformado em lugar a partir da atribuição de valores e
sentidos ao mesmo, influencia no bem-estar do indivíduo. Isso ocorre desde uma perspectiva
macro, como as vivenciadas em bairros e conjuntos habitacionais, até uma perspectiva micro,
tendo como exemplo maior a relação do sujeito com a própria habitação. Nesse sentido,
habitação e indivíduo prosseguem vivendo no cotidiano. A casa é construída e a representação
habitacional vai se tornando mais complexa ao incorporar os arranjos, mobiliários, etc., ou seja,
ao equipá-la. Essa casa faz parte do território onde o sujeito vive e constrói laços significativos.
Um território pode assumir diferentes formas de significação, sendo o mesmo fruto de relações
de poder, de bases materiais e imateriais, culturais e econômicas. Para Saquet (2017, p. 148), o
território é um “[...] produto histórico com conjuntos de patrimônios, através dos quais se
concebem novas esferas de desenvolvimento sustentável”.
Trazendo à memória que toda relação traz impactos positivos e negativos, é preciso
compreender que o território também pode ser um espaço de tensão, em especial quando um
fator externo traz ameaça ao mesmo. Ferreira (2018) destaca que a resistência sociocultural
predomina, justamente, na luta pela manutenção dos aspectos de vida que marcam as tradições
desses grupos. Segundo este autor, são “[...] nos espaços geográficos onde materializamos as
relações sociais e de poder, mas são também onde recriamos e resistimos” (FERREIRA, 2018,
p. 226). O território está para além da geografia, acrescenta o mesmo autor, pois envolve
aspectos comportamentais, culturais, estéticos, cognitivos e sociais.
78

Como pode ser observado até então, o ambiente é composto por aspectos físico, social,
político e espiritual. Logo, é importante abordar como o vínculo afetivo está imbricado na
relação pessoa-ambiente. Para isso, serão abordadas as categorias que serão discutidas nessa
pesquisa: apego ao lugar, identidade de lugar e apropriação do espaço.

5.2 OS VÍNCULOS AFETIVOS COM O AMBIENTE: APEGO E IDENTIDADE DE LUGAR

Os primeiros estudos sobre apego ao lugar remontam ao trabalho dos psiquiatras Fried
e Gleicher sobre renovação urbana, em West End, Boston, como resultado de uma pesquisa
sobre percepção ambiental e saúde mental (HOLZER, 2016; HIDALGO; HERNÁNDEZ, 2001;
GIULIANI, 2004). Os resultados indicavam que as reações a um deslocamento forçado eram
semelhantes à perda de um parente próximo (FELIPPE; KUHNEN, 2012), trazendo sofrimento
e angústia aos moradores forçados à realocação (HIDALGO; HERNÁNDEZ, 2001).
As definições de apego ao lugar são abrangentes, pois existe uma diversidade de
abordagens se propondo a tratar desse aspecto. Neste trabalho, será utilizada a definição de
apego ao lugar de Hidalgo e Hernández (2001), que definem esse fenômeno como resultado da
vinculação emocional entre pessoa e lugares específicos. Vínculo, esse, que precisa ser
compreendido de forma multidimensional, abordando todos os aspectos que circunda a
interação do sujeito com determinado ambiente.
Giuliani (2004) apresenta três processos que caracterizam o apego e podem ser
complementares: o apego funcional, que está relacionado à possibilidade do lugar atender as
demandas individuais e grupais, havendo predominância do cognitivo em relação ao afetivo; o
apego simbólico, relacionado ao significado atribuído ao lugar, considerando-se as emoções e
relacionamentos significativos; e apego ao lugar derivado dos sentimentos propiciados pelo
lugar quanto à segurança e ao conforto, resultante da familiaridade com o local sob uma
proporção temporal (ALVES; KUHNEN; BATTISTON, 2015; ELALI; MEDEIROS, 2011;
LIMA; BOMFIM, 2009).
Outra perspectiva na análise do apego ao lugar é abordada por Rosa (2014), ao destacar
que existe o apego individual relacionado às histórias de vida, vivências e memórias construídas
no lugar que são elementos importantes na estabilização do eu; e o apego grupal estabelecido
pelas pessoas em relação à representatividade de um lugar significativo.
A autora acrescenta que o afeto é uma dimensão central no apego ao lugar, mas não é a
única, pois a cognição, estruturada em valores e crenças, e o comportamento tipificado em
79

atitudes de cuidar e manter a proximidade com o lugar, evidenciam essa relação positiva com
o lugar.
Sobre os ambientes de desenvolvimento de apego, Hidalgo e Hernandez (2001) e Rosa
(2014) dividem em espaço físico e social. O físico se refere a ambientes significativos com os
quais se busca proteção e abrigo, e remete às necessidades hierárquicas de Maslow e à teoria
dos fatores higiênicos e motivacionais de Herzberg (ROBBINS, 2005). A dimensão social
destaca as interações estabelecidas com a vizinhança que influenciam o sentimento de apego.
Os mesmos autores apresentam que os níveis de apego são diferenciados em relação à casa,
vizinhança/bairro e cidade. Esses níveis, também são destacados por Brancaleone (2008) ao
abordar padrões de relações comunitárias no território.
Felippe e Kuhnen (2012) apresentam 23 indicadores de apego ao lugar (Quadro 2), tais
como conforto, dificuldade para substituí-lo, desejo de proximidade/envolvimento, segurança,
dentre outros. Tais elementos são destacados por Giuliani (2004) quando define apego ao lugar
como vínculo relativamente duradouro entre pessoa e ambiente, pela constituição de
importância deste, em razão de sua singularidade; pelo desejo de proximidade ao lugar; pelo
sentimento de segurança e conforto através do contato; e pelo sofrimento em função da
separação.
Quadro 2 - Conceitos relacionados à ocorrência de apego ao lugar
Indicadores de apego ao lugar
1 Conforto
2 Conhecimento do lugar
3 Desejo de defender o lugar
4 Desejo de proximidade e/ou envolvimento
5 Dificuldades para substituição do local
6 Felicidade
7 Grau de atração
8 Grau de cuidado com o lugar
9 Grau de influência do lugar sobre os acontecimentos
10 Mobilidade para a interação social
11 Percepção de controle e possibilidade de ação
12 Prazer
13 Preferência
14 Satisfação de interesses e necessidades
15 Segurança
16 Sensação de dependência
17 Sentido de lar
18 Sentimento de enraizamento
19 Sentimento de identificação
20 Sentimento de orgulho pelo lugar
21 Sentimento de perda e/ou deslocamento pela separação
22 Sentimento de pertencimento
23 Sentimento de propriedade
Fonte: Felippe e Kuhnen (2012, p. 613).
80

Segundo Santoro (2014), o apego ao lugar constitui-se uma variável antecedente e tem
um papel determinante em relação à satisfação e lealdade com o lugar, bem como ao
comportamento pró-ambiental.
O comportamento ecológico pode ser manifesto através de atitudes voltadas à
sustentabilidade e proteção do ambiente (PATO; TAMAYO, 2006). Segundo Stokols (1978),
as representações internas do indivíduo, em relação ao ambiente, tanto cognitivas como
afetivas, mobilizam no sentido de adotar comportamentos visando a melhoria do ambiente. Do
mesmo jeito que o apego ao lugar, a identidade de lugar também predispõe o indivíduo à adoção
de comportamentos de defesa e cuidado com o ambiente.
De acordo com Gómez (2015), a identidade com o lugar compreende o estabelecimento
de um vínculo socioespacial que produz sentimentos de pertencimento ao entorno físico e
concreto e à comunidade que o habita. Portanto, o processo perceptivo é fundamental na
compreensão da dinâmica da construção da identidade, seja individual, social ou de lugar. O
senso de pertencimento, de continuidade e segurança trazem estabilidade ao indivíduo e
impulsionam a adoção de atitudes pró-ambientais (TUAN, 1983; MOURÃO; CAVALCANTE,
2011).
Mourão e Cavalcante (2011) descrevem a formação e os elementos constitutivos da
identidade de lugar, forjada na conexão com o processo perceptivo, construída na interação do
indivíduo com seu entorno físico e social, compreendendo tanto a cognição como a afetividade
e o sentimento de pertencimento ao ambiente simbolicamente significativo. Está atrelado às
vivências, memórias e aos atos de investimento emocional que almejam a satisfação das
necessidades e desejos.
As autoras acrescentam que, além da dimensão temporal, ou seja, da percepção vincular-
se à interpretação das experiências psicológicas dos indivíduos de acordo com o momento
sócio-histórico vivido e do próprio estágio do ciclo de vida humano em que se encontram, há
uma dimensão espacial, vinculada aos lugares expressivos e emocionalmente relevantes para o
sujeito.
A identidade de lugar, portanto, acontece em longo prazo, pois, comparando-se com o
apego, é resultante das experiências e interações com o lugar e seus habitantes ao longo do
tempo de moradia, destacam Hernández, Hidalgo, Salazar-Laplace e Hess (2007) e Hidalgo e
Hernández (2001). Da mesma forma, o significado do lugar, para o indivíduo, é incorporado à
sua própria identidade, sendo absorvido pelo nexo estabelecido entre o homem e seu ambiente.
81

Dessa forma, ao estudar o comportamento das pessoas nas situações, deve-se considerar
as atividades praticadas naquele contexto histórico-social específico, a especificação do lugar,
as experiências anteriores e o objetivo da pessoa pretendido/obtido naquela situação.
Percebendo-se isso, pode-se afirmar que a identidade do indivíduo se constitui na
medida da convivência com seu espaço. O vínculo entre a pessoa e seu espaço é uma construção
social de lugares investidos afetivamente e apropriados. Segundo Moranta e Pol (2005), a
relação das pessoas com seu espaço possui uma dimensão psicossocial que inclui a questão da
exclusão e inclusão de pessoas e grupos; os significados e vínculos com seu entorno e a relação
entre as experiências e à noção de lugar.
Logo, a identidade de lugar é uma subestrutura da identidade pessoal, construída a partir
da interação do indivíduo com seu entorno físico e social. Está relacionada à percepção de um
conjunto de cognições e ao estabelecimento de vínculos emocionais e de pertencimento,
relacionado aos entornos significativos para o sujeito, configurando-se como processo dinâmico
e mutável (HERNÁNDEZ et al., 2010).
Esse processo possui relação com às vivências e atos de investimento emocional no
lugar, tendo em vista a satisfação das necessidades e desejos; bem como apresenta um aspecto
temporal, relacionado ao desenrolar da vida e espacial, que está ligado ao lugar ou lugares com
os quais a pessoa se sente vinculada a partir da apropriação. Para um ambiente ser significativo
precisa satisfazer necessidades, exigências e desejos. Logo, a função identitária de lugar é
elaborar um cenário interno para proteção da identidade (HERNÁNDEZ et al., 2010).
Nesse sentido, Castello (1999) destaca a importância de se inserir a percepção ambiental
em metodologias de análise e intervenções ambientais. O autor traz como exemplo a concepção
do projeto MAB-UNESCO em 1983, cuja noção de ambiente ainda estava locada nas divisões
meio natural e meio construído, para além dos elementos psicológicos da relação dos afetados
com o ambiente, de forma que não haviam as visões integral e integradora do ambiente, trazidas
à tona pela interdisciplinaridade.
Para isso, sugere-se a inclusão da população nos processos de planejamento e tomada
de decisão em casos de ações que fomentem o surgimento de situações de conflito
socioambiental. Como a pesquisa de Del Rio (1999), realizada sobre a área portuária do Rio de
Janeiro, onde foi observado que as pessoas do entorno se manifestaram a favor da comunidade
participar de planos para a área. Outro exemplo emblemático, agora em território cearense, foi
a construção do açude Castanhão, que culminou na transferência de todos os moradores da
extinta cidade de Jaguaribara para a cidade planejada chamada Nova Jaguaribara. Como pode
ser visto no estudo de Braz (2011), o poder público não promoveu espaços de participação para
82

que os moradores da cidade atingida opinassem de forma ativa sobre o processo, logo o
processo de mudança e adaptação a nova cidade foi promotor de sofrimento aos atingidos.
O apego ao lugar e identidade de lugar não são um mecanismo automático que se
transferem de um lugar para o outro; ou seja, a construção de Nova Jaguaribara, apesar das
casas serem idênticas as anteriores e ter sido mantida a mesma vizinhança, os moradores
manifestaram sofrimento psicológico com a mudança (BERTINI, 2014). As memórias foram
construídas na antiga moradia. As pessoas que se mudaram carregaram Jaguaribara junto, em
um processo de desterritorialização e reterritorialização, segundo Haesbart (2007) e Mondardo
(2009). Esses processos atingiram a comunidade como um todo.
Visto o que foi apresentado, é notória a importância dos vínculos afetivos e sociais no
processo de apropriação do espaço. Elemento que será abordado no próximo tópico.

5.3 APROPRIAÇÃO DE ESPAÇO: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

O conceito de apropriação de espaço foi apresentado pela primeira vez por Perla
Korosec em uma Conferência de Psicologia Arquitetural em Estrasburgo (POL, 2002b). É
definido como um processo psicossocial presente nas relações do sujeito com seu ambiente, no
qual a pessoa se projeta no espaço de tal forma que o percebe como um prolongamento de si
mesmo (CAVALCANTE; ELIAS, 2011), estruturado em torno de “[...] práticas e relações
afetivas que a pessoa mantém com um lugar determinado” (MOSER, 2018, p. 91).
Esse processo surge em oposição à ideia de alienação de Marx, em que o produto do
trabalho realizado não pode ser apropriado pelo trabalhador. Portanto, a “[...] apropriação
reflete uma relação com a natureza mediada pelo trabalho, pela qual a humanidade, por sua
própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza” (MASSOLA; SILVA
JUNIOR, 2019, p. 3).

O uso do conceito de apropriação em psicologia remonta às visões marxistas


abordadas pela psicologia soviética liderada por Lev Semionovich Vigotsky e
continuada por Aleksei Nicolaevich Leontiev. Sob esse ponto de vista, a apropriação
é entendida como um mecanismo básico do desenvolvimento humano, pelo qual a
pessoa se apropria da experiência generalizada do ser humano, o que se especifica nos
significados de “realidade” (POL; VIDAL, 2005, p. 282, tradução nossa).

Segundo Chombart de Lauwe (1976, p. 32, tradução nossa), a apropriação de espaço


“[...] corresponde a um conjunto de processos psicológicos que se situam numa relação sujeito-
objeto, entre o sujeito (indivíduo ou grupo) que se apropria do espaço e os objetos dispostos em
83

torno dele na vida cotidiana”. Moser (2018) destaca a importância do espaço pessoal e
privacidade na qualidade de vida das pessoas. Ou seja, o quanto é importante a delimitação dos
territórios, que através de objetos, como fotografias e móveis, revelam a apropriação desse
espaço. Tais elementos reasseguram a identidade pessoal e oferecem segurança, estabilidade e
continuidade ao indivíduo, o que é relevante tanto para a constituição psíquica como para as
trocas realizadas entre os membros da família.
Altmann (1975) reforça a importância do território como forma de exercer controle da
própria vida, tendo como função a preservação e regulação da privacidade, elementos
importantes para a saúde mental e o funcionamento social de muitas pessoas. A apropriação de
espaço possibilita a construção da identidade de lugar (MOURÃO; CAVALCANTE, 2006;
ARCARO; GONÇALVES, 2012) e a personificação como processos complementares
(JERÔNIMO; GONÇALVES, 2013).
A apropriação, destaca Serfaty-Garzon (2003), revela tanto o ato como as motivações
inconscientes do fazer, as vicissitudes das relações individuais no espaço habitado, a
historicidade presente no espaço e as ambiguidades do conceito de posse. “Este espaço é, muitas
vezes, apropriado pelo coletivo (cultura); outras, pelo sujeito, enquanto ser singular e cuja
particularidade se expressa na forma como ele se apropria do espaço. O fato é que, no espaço
apropriado, o sujeito se reconhece” (JERÔNIMO; GONÇALVES, 2013, p. 118).
A apropriação, segundo Cavalcante e Elias (2011) acontece de duas formas. Uma delas
é por ação/transformação que compreende comportamentos explícitos de demarcação e
ocupação territorial. Envolve também atitudes de reivindicação, delimitação e defesa diante das
ameaças. Esse comportamento de defesa, segundo Felippe e Kuhnen (2012), é indicativo de
apego ao lugar. Pol (2002b, p. 124, tradução nossa) explicita que “[…] o componente de ação-
transformação é de base comportamental. Mediante a ação sobre o ambiente, a pessoa e a
comunidade transformam o espaço, deixando sua marca, e o incorporam em seus processos
cognitivos e afetivos de forma ativa e atualizada”.
Na apropriação por identificação simbólica, Cavalcante e Elias (2011) expõem que o
sujeito reconhece e dá significado ao espaço, personalizando-o através de processos simbólicos,
cognitivos, afetivos e interativos que transformam o espaço em lugar. Pol (2002b) ressalta o
papel da apropriação na formação da identidade, suscitando apego.

Pela interação simbólica, a pessoa e o grupo se reconhecem no ambiente e, por meio


de processos de categorização de si, atribuem suas qualidades como definidoras de
sua própria identidade. O espaço apropriado passa a ser um fator de continuidade e
estabilidade do self, bem como um fator de estabilidade de identidade e coesão de
grupo. Como tal, eles geram “apego” ao lugar (POL, 2002b, p. 124, tradução nossa).
84

Segundo Santoro (2014), as relações emocionais com o lugar podem vir a gerar
enraizamento e criar o apego ao lugar. Massola e Svartman (2018) apresenta várias concepções
do termo enraizamento, tais

[...] como habitação por longo tempo em um lugar; sentimento de estar “em casa” em
um lugar; familiaridade que provém da frequência recorrente a um lugar; forma não-
consciente de vínculo com um lugar que é sentido como a “casa” ou o “lar”; relação
com o passado e com a tradição do grupo ou do povo que fundamenta o sentido de
identidade pessoal. É às vezes tomado como uma relação restritiva com o
socioambiente e, às vezes, como uma relação enriquecedora que fomenta o
crescimento identitário (MASSOLA, 2018, p. 112).

Segundo Bruno et al. (2018, p. 213), “[...] este senso de pertencimento ao lugar, que
toca fundo tanto pessoalmente como coletivamente, é a condição necessária para que se possa
ir além do apego emocional e estabelecer conexões entre seu ambiente local e os demais níveis
ambientais, em diferentes escalas locais e globais”. Massola e Svartman (2018) apresentam a
metáfora da árvore em que da mesma forma que ela precisa dos nutrientes advindos do solo,
assim também, o passado e a biografia estão para a identidade psicossocial, representando a
nutrição de um corpo em crescimento.
Consequentemente, Jerônimo e Gonçalves (2013, p. 122) confirmam que “[...] o
reconhecer-se em um lugar refere-se à soma das lembranças, sentimentos, vivências e
significados dos sujeitos que habitam um mesmo espaço”. Machado (1999, p. 119) salienta que
“[...] o enraizamento do homem ao lugar é um aspecto que não pode mais ser colocado de lado
pelos pensadores preocupados com o espaço humano”.
Portanto, sejam estudiosos, gestores ou até mesmo, membros da família precisam
compreender a dimensão temporal dos espaços, para um melhor entendimento das reações das
pessoas frente a ameaças, ou outras situações que possam levar a perda do território, tanto físico
quanto simbólico-afetivo. No contexto rural, o sentido de pertencimento, participação e a
própria resiliência comunitária são suportes de sobrevivência frente a situações conflitivas
(ACOSTA, 2009), muitas vezes, ancoradas em um contexto de exclusão social que
desconsidera a realidade e as necessidades locais.
Pinheiro (2019) descreve três tipos de ambientes rurais. Para este estudo, destaca-se
apenas o ambiente rural socioambiental, por ser o Baixio das Palmeiras assim classificado. Esse
tipo de ambiente é constituído por espaços e tempos diferenciados, formado por múltiplos atores
que articulam práticas sociais e ambientais, recriando um lugar em que as relações com a
natureza estão associadas às relações sociais.
85

Marques et al. (2018) ao comentarem sobre os deslocamentos forçados pela hidrelétrica


de Itá, em Santa Catarina, destacam os prejuízos sofridos tanto pelas famílias deslocadas como
pelas que estão vivendo no entorno, pois as perdas envolvem não apenas as modificações
territoriais, mas também o aniquilamento dos lugares significativos, nos quais há o afastamento
dos laços sociais, familiares e dos amigos de infância.
Além do apego social, as pessoas se sentem ligadas à dimensão física dos lugares, pois,
como explicam Hidalgo e Hernandes (2001), esses dois componentes do apego se tornam um
sentimento geral em relação ao local de residência. Tuan (2012), ao descrever o conceito de
topofilia, afeição ao lugar, relaciona não somente afetividade à casa em que se habita, mas aos
pertences e ao próprio bairro, reforçando essas relações de reciprocidade entre homem e
natureza.
Hidalgo e Hernandes (2001) complementam que a maioria dos estudos focados em
apego ao lugar abrangem também as relações de vizinhança. Por sua vez, Chombart de Lauwe
(1976) reforça que, da mesma forma, as pesquisas sobre apropriação do espaço-habitação não
podem ser estudadas sem referência ao que cerca a casa e, mais amplamente, ao bairro e à
cidade.
Percebe-se, portanto que a apropriação de espaço em relação ao ambiente casa traz
implícita todas as relações familiares e sociais que são vivenciadas no entorno. Na comunidade
em estudo, verificou-se a proximidade física entre os parentes, e um suporte social muito forte
em relação a vizinhança, os quais fortalecem os sentimentos derivados e constituintes da
apropriação como apego, identidade, enraizamento e pertencimento, que serão abordados no
próximo tópico.

5.4 FAMÍLIA, COMUNIDADE E CASA: REDES DE APOIO

O sentimento de família e a delimitação dos espaços públicos e privados, foi uma


construção histórica, conforme descrito por Ariés (1978). Bucher (1986) compreende o
conceito de família como uma unidade sistêmica, historicamente construída, sendo também
base do processo de individuação de seus membros que se diferenciam e exercem suas funções
através de subsistemas, atravessando diversas mudanças ao longo do ciclo de vida. Esse envolve
as fases do desenvolvimento familiar relacionadas aos momentos evolutivos pelos quais os
membros de uma família percorrem, desde a saída do jovem de casa até os estágios tardios da
vida, nos quais se convive com as perdas das capacidades mentais e físicas (CARTER;
MCGOLDRICK, 1995).
86

Do mesmo modo que as famílias, Jerônimo e Gonçalves (2013) e Lidz (1983) destacam
o processo de formação da identidade humana, do nascimento até a morte, seguindo os estágios
do ciclo vital, envolvendo reconhecimento de si e estruturação da personalidade, e
influenciando a percepção e o comportamento (ROSA, 2014).
Dessa forma, compreende-se que as relações familiares constituem o primeiro núcleo
de formação de identidade, na medida em que o indivíduo se apropria do mundo, através das
atividades nele desenvolvidas e interações estabelecidas. De acordo com o estágio do
desenvolvimento, as experiências vividas com os lugares construirão um significado e/ou serão
ressignificadas (ROSA, 2014; PINHEIRO; GURGEL, 2011).
Segundo Tuan (1983), como a sensação de tempo afeta a sensação de lugar, este não
representa somente a dimensão espacial, mas também a relação com as pessoas do entorno,
sabendo-se que a dimensão temporal também exerce a sua influência, pois a percepção dos
membros da família, de faixas etárias diferentes, é diferenciada. Por exemplo, a criança ou o
jovem não “sente” a casa da mesma forma que o idoso. Martins e Szymansky (2004) descrevem
as várias camadas de ambientes com as quais as pessoas estão interconectadas, e a casa
constitui-se no microssistema de relações face a face.
Portanto, apropriar-se de uma casa, destaca Serfaty-Garzon (2003), é um movimento no
sentido de dotar aquele espaço (abrigo) de um sentido pessoal que vai para além das paredes,
de forma que “[...] para alguns, espaços públicos, espaço de trabalho ou local de estudo são
mais investidos do que a casa, enquanto para outros a apropriação da casa faz fronteira com o
projeto de uma vida” (SERFATY-GARZON, 2003, p. 6, tradução nossa).
Vilela-Petit et al. (1976) expõem que, ao mesmo tempo em que o indivíduo se apropria
de um espaço, registrando nele a sua presença, sua marca é também por ele, de certa forma,
apropriada. Assim, é como se aquele espaço fosse um reflexo ou representação de si mesmo.
Tal proposição é também corroborada por Feldman e Stall (1994, p. 172, tradução
nossa), ao afirmarem que “[…] apropriação do espaço é conceituada como um processo
interativo, através do qual os indivíduos transformam propositalmente o ambiente físico em um
lugar significativo e, por sua vez, se transformam”.
Tuan (1983) acrescenta que a mudança de tempo afeta a percepção sobre o ambiente,
pois na medida em que se desenvolve familiaridade com o entorno, o espaço se transforma em
lugar. A partir dessa interação é que se desenvolve a identidade, que, em pessoas idosas, tende
a ser preservada (FREIRE; VIEIRA, 2006).
Habitar, segundo Moser (2018, p. 91), é “[...] uma conduta de apropriação e expressão
de si (identitária). Dá um significado ao espaço habitado e produz um sentimento de segurança”.
87

Na percepção individual, ocupa a representação de lugar de abrigo e proteção. Ferrara (1999)


descreve o sentimento de proteção física, que é sentido quando se ergue uma casa que irá
permitir ao morador o reconhecimento do seu espaço individual. Em algumas situações, essa
percepção acontece antes mesmo da casa estar pronta, pois vai desde a escolha do portão, da
cor das paredes e de outros aspectos físicos da moradia.
As experiências da pessoa com sua casa, mais exatamente na concepção de lar, trazem
consigo outros elementos agregadores, definidos por Moser (2018) como: centralidade, na
perspectiva de ancoragem e enraizamento; continuidade, no sentido de estabilidade e
segurança; privacidade, na perspectiva de intimidade e refúgio; e identidade de si e diferenças
interindividuais, como uma construção formada na relação com os outros que converge para as
relações sociais e familiares em um contexto sociocultural.
Como reforça Stokols (1990, p. 642, tradução nossa), a “[...] a qualidade de um ambiente
é medida a partir da riqueza de seus significados psicológicos e socioculturais além do nível de
conforto, segurança e desempenho. Fulmer (1995) ressalta que o modelo de parentesco adotado
por famílias agrárias, apoiada por uma densa rede de parentesco que permanece habitando em
uma mesma propriedade por gerações, é considerado uma força. As famílias ampliadas
proporcionam uma rede de apoiadores que sustenta seus membros tanto economicamente
quanto socialmente.
O grupo família, seja extenso ou nuclear, destaca Quintanar (2009), além do apoio que
oferece para a formação do conceito e imagem de si mesmo, através da participação
comunitária, favorece para as novas gerações a construção de uma identidade social sólida e
permanente,e também provê seus integrantes de um suporte emocional importante para os
enfrentamentos dos problemas diários.
McGoldrick (1995) enfatiza que as tradições culturais são relevantes para a geração
mais idosa, relacionadas aos hábitos alimentares, celebração das festas e ritos, por exemplo, do
mesmo modo que a rede de apoio familiar, através dos padrões de relacionamento estabelecidos
com amigos e parentes, traz segurança nos estágios posteriores da vida. Isso pôde ser visto no
capítulo anterior, quando a variável faixa etária foi analisada. Portanto, o desarraigamento
geográfico para o idoso é uma força muito poderosa; é um dos eventos nodais do ciclo de vida,
como o divórcio e a aposentadoria (FRIEDMAN, 1995).
Quintanar (2009) ratifica o papel da família nas comunidades rurais, oferecendo suporte
financeiro e moral em épocas de crises e de problemas dos membros da família. Outra função
social, acrescenta a autora, é de regular as relações interpessoais e sociais, provendo as novas
gerações de normas, valores e informações para sua atuação no meio social. “Na família rural
88

essa função é muito visível, dadas as relações de parentesco filial ou político de algumas
famílias com outras” (QUINTANAR, 2009, p. 25, tradução nossa).
Nessa cultura comunitária são escolhidos os representantes que irão resolver os
problemas comuns. E as relações família e comunidade contribuem para um conceito favorável
e uma identidade étnica sólida. Os sentimentos associados aos lugares, como a estima de lugar,
segundo Bomfim (2003), podem ser potencializadores (positivos) ou despotencializadores
(negativos), e atuarem de forma a influenciar as ações individuais, de maneira que, destaca
Ferreira (2006), instigará as decisões em relação a migrar de um lugar. Quando se prevalece a
estima positiva e o enraizamento que está estabelecido, o partir podem gerar situações de
sofrimento, dificuldade de adaptação e luto pela separação, ocasionando desequilíbrio
emocional e, muitas vezes, acompanhado de adoecimento físico.
No caso do território abordado, há um estudo sobre a categoria afetividade e o processo
de desapropriação dos moradores de duas comunidades do distrito Baixio das Palmeiras: Baixio
das Palmeiras (sede) e Baixio do Muquém. O estudo realizado por Martins (2020) utilizou como
uma das ferramentas metodológicas o Instrumento Gerador de Mapas Afetivos (IGMA), criado
por Bomfim (2008, p.253) objetivando a “[...] compreensão psicossocial e sociocultural na
relação entre subjetividade e espaço construído, enfatizando o afeto como grande agregador da
percepção e do conhecimento sobre a cidade”.
Com o instrumento, é possível mapear cinco estimas de lugar: Afetividade,
Pertencimento, Insegurança, Destruição e Constrates, sendo as duas primeiras promotoras de
afetos potencializadores, insegurança e destruição promotoras de estimas despotencializadoras
e os contrastes tanto podem ser potencializadores, como despotencializadores (BOMFIM,
2010).
O mapeamento afetivo feito por Martins (2020), no que se refere aos moradores em
processo de desapropriação das comunidades Baixio das Palmeiras e Muquém, apontou a
predominância de três estimas: Contraste, Pertencimento e Agradabilidade. Sendo que o
Contraste estima de lugar, referente a sentimentos ambíguos acerca de um lugar, estava situado
no polo pertencimento-insegurança.

Nos contrastes analisados, vemos que os sentimentos e sentidos expressos pelos


moradores sobre o lugar estão situados na estima pertencimento, enquanto os
sentimentos e sentidos despotencializadores, situados principalmente na insegurança,
dizem respeito ao contexto vivenciado e a preocupação em não conseguir continuar
morando na mesma comunidade. Os contrastes também apontaram que, apesar do
contexto adverso, o apego e a identificação com o lugar faz com que eles tenham
forças para defender seu território, apesar de ser um processo que também gera
desgaste para a saúde de quem está nas linhas de frente (MARTINS, 2020, p. 169).
89

Reforçando a necessidade de compreensão do afeto na relação pessoa-ambiente,


Giuliani (2004) aponta que esse elemento constitui-se em um fator importante que promove ou
dificulta o equilíbrio, bem-estar material e espiritual. “Além disso, outros desfechos de apego
podem ser postulados em um nível de envolvimento social e mobilidade, e no de bem-estar e
saúde mental” (GIULIANI, 2003, p. 149). No próximo tópico, será abordado sobre os aspectos
psicossociais que podem estar envoltos na hidroresistência.

5.5 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO PROCESSO DE MIGRAÇÃO COMPULSÓRIA

Estudos evidenciam os prejuízos na subjetividade das pessoas desterritorializadas


(BERTINI, 2014; MARQUES et al., 2018; BRAZ, 2011; CARVALHO; SILVA, 2018).
Ressalta-se que a saúde mental é um componente essencial da qualidade de vida. Carvalho e
Silva (2018, p. 16) expõem que “[...] a cada minuto, um brasileiro é obrigado a deixar sua casa
em função de desastres naturais e projetos ambientais, segundo o Observatório de migrações
forçadas, ocorrendo maior incidência na região Nordeste, Sudeste e Sul, respectivamente; e em
menor proporção, Norte e Centro-Oeste do país.
Levando em consideração a saúde mental dos moradores, Marques et al. (2018)
destacam que “[...] os agricultores identificam o território como uma extensão do corpo e da
identidade, como espaço de vida, trabalho, relações sociais, lutas e intenso investimento
subjetivo” (p. 38). Os autores acrescentam que a perda do território equivale a perda de si
mesmo, sendo considerada para os moradores desapropriados como se fosse a morte. Em
virtude disso, acrescentam que, apesar dos estudos sobre sofrimento ambiental serem recentes,
os achados da pesquisa revelam que não se pode separar a subjetividade das relações com o
meio ambiente, interações socioculturais e trabalho.
Imber-Black (1995) destaca sobre o surgimento de sintomas nas famílias, derivados de
estressores como falta de apoio social, rompimentos relacionais e isolamento, dentre outros.
Zandomenico (2019) ressalta que os indivíduos, atualmente, estão cientes de que alterações
feitas no ambiente interferem em sua qualidade de vida.
Wiesenfeld e Giuliani (2004, p. 404) expõem a importância de considerar a dimensão
psicossocial da sustentabilidade, “[...] donde no es posible concebir um lugar de convivencia y
habitabilidade sin el componente psicossocial”. Os componentes psicossociais, acrescentam os
autores, envolvem enraizamento, sentimento de pertencimento e sentido de comunidade como
dimensões de suporte necessários para o desenvolvimento da sustentabilidade. Martins (2020,
p. 108) entende a dimensão de impacto psicossocial em processo de desapropriação como “[...]
90

consequências do empreendimento que altera os modos de vida e de subjetivação da população


atingida”.
Giuliani (2004) descreve que na relação de apego entre a pessoa e seu ambiente, este é
o protagonista, pois causa sentimentos de conforto e segurança, como também pode causar
sofrimento, caso haja separação. É dessa forma, destacam Felippe e Kuhnem (2012), que essa
interação é concebida sob uma perspectiva sistêmica, transacional, cuja unidade de análise é a
pessoa inserida no ambiente, ou seja, o todo é mais do que a soma das partes.
Compreender a relação pessoa e ambiente, portanto, reflete na forma de entender o
sofrimento provocado nas pessoas quando da necessidade de abandonar sua moradia,
principalmente na situação de migração forçada.

Decerto que as pessoas não reagem da mesma forma quando submetidas a situações
similares. Temos que observar o contexto social, a história de vida, etnia, gênero e
faixa etária como alguns fatores que interferem na percepção do indivíduo diante de
circunstâncias inesperadas (PEREIRA; ZANETTI, 2019a, p. 54).

Massola e Svartman (2018b) evidenciam estudos que associam desenraizamento como


motivador de estresse e causador de adoecimento na contemporaneidade. A família pode sofrer
com a desterritorialização, mas, especialmente para os mais velhos, a casa é vista como se fosse
um ente querido. Como pode ser visto nesta fala: “É tudo na vida da gente. É um lar”
(MESOBLATTINIDAE, 2019, informação verbal) (M. Palmeiras).
E é por esse motivo que eles sofrem as consequências com mais intensidade, “[...]
causando transtornos nas pessoas, principalmente nos idosos que, devido morar tantos anos na
mesma residência e na comunidade, e por ter relações de afeição com o lugar onde residem,
sentem-se abalados com a hipótese de serem desterritorializados” (OLIVEIRA; TAVARES;
PIANCÓ, 2017, p. 3).
A compreensão das especificidades do contexto rural é importante também para avaliar
quais os aspectos psicossociais envoltos na apropriação do espaço. Em ambientes agrícolas,
Pinheiro, Gurgel e Pinheiro (2019) salientam que, pela interconexão existente entre ambiente
de trabalho e convívio familiar, intensificam-se as interações entre os moradores que
compartilham atitudes de colaboração e solidariedade, além da proximidade com a natureza.
A Psicologia rural tem desenvolvido estudos sobre o vínculo pessoa-ambiente rural,
uma vez que essa interação tem suas especificidades bem delimitadas pela dinâmica da relação
intra e interpessoal e com a natureza. A qualidade dessa convivência, alicerçada nos
91

sentimentos favoráveis ou desfavoráveis em relação ao lugar, influencia na qualidade de vida e


nos comportamentos em prol do território.
O camponês, apresenta Moura (1988), corroborando com Quintanar (2009), é um
cultivador da terra, com modo de vida diferenciado que prioriza sua família. Para ele, possuir a
terra não tem o sentido de um bem privado, mas seu valor está na possibilidade de produção
para manutenção do sustento da família, pois não visam o crescimento econômico, mas a
sobrevivência do núcleo familiar. No ambiente no qual o camponês vive, existe
responsabilidade para com a natureza, que é doadora dos recursos básicos de suprimento
familiar, e onde se observa cooperação e solidariedade entre as famílias da vizinhança.
Sabourin (2011) destaca que em comunidades rurais, pode-se observar a reciprocidade
do tipo ajuda mútua em vários aspectos da interação social, como organização de festas e
distribuição compartilhada de tarefas. Reciprocidade, define o autor, é solidariedade,
dependência mútua e mutualidade.
Pol (2002a) discute que a sustentabilidade se tornou um valor social que atua nas crenças
individuais e, consequentemente, converge para comportamento pró-ambiental. Destaca-se que
não é uma ação individual, mas também coletiva, de forma que o conceito de sustentabilidade
apresentado na Rio-92, ressalta a solidariedade e equidade como elementos constituintes
necessários.
Portanto, para se pensar em ações com foco em Sustentabilidade, é preciso priorizar a
melhoria da qualidade de vida das pessoas, sem esgotar a capacidade de suporte do ecossistema,
observando os níveis de bem-estar atingidos pelas pessoas. Como também, lidar com equilíbrio
com as três dimensões da sustentabilidade: ambiental, econômica e social. Pol (2002a) discute
algumas ideias sobre sustentabilidade destacando que é possível preocupar-se com o meio
ambiente, ao mesmo tempo em que se busca a satisfação das necessidades básicas, e “[...] a
preocupação com o meio ambiente é mais dependente da qualidade das relações sociais na
comunidade do que do nível de riqueza” (POL, 2002a, p. 58), de forma que evidencia a relação
entre solidariedade e coesão social.
Pol (2002a) acrescenta a importância de uma rede consolidada de relações sociais e uma
identidade social bem estabelecida, de lugar na viabilização da sustentabilidade. Gunther (2009)
ressalta a possibilidade de contribuição da Psicologia Ambiental em encontrar meios de trazer
à tona mudanças comportamentais que assegurem a sustentabilidade humana.
Felippe e Kuhnen (2012) destacam o papel dos laços afetivos com os lugares no sentido
de formar uma identidade pessoal, gerar pertencimento e promover cuidado ambiental.Como
destaca Méndez (2015, p. 308, tradução nossa) “A partilha de um território dá sentido de
92

identidade grupal pois proporciona às pessoas conhecimentos experiências comuns, além de


ajudar a organizar e gerir a vida cotidiana tanto de indivíduos como de grupos sociais”.
Giuliani (2004) reforça que o ambiente que promove segurança e conforto intervêm na
forma de interação com o lugar. Todos esses elementos são importantes para se entender o
processo metodológicos adotados durante o desenvolvimento desse estudo.
Com fins de fechamento do tópico e síntese dos conceitos trabalhados até aqui, n
ilustraremos os principais conceitos da psicologia ambiental trabalhados nesta tese.
Quadro 3 - Quadro Conceitual do tópico sobre Psicologia Ambiental e relação pessoa-
ambiente
Conceito trabalhado Definição geral Autores
Lugar O lugar é um espaço dotado de significados e Tuan (1983).
apropriado pelo sujeito, influenciando
diretamente em sua construção como sujeito e
no seu bem-estar.
Território “[...] produto histórico com conjuntos de Saquet (2017); Ferreira (2018).
patrimônios, através dos quais se concebem
novas esferas de desenvolvimento
sustentável” (SAQUET, 2017, p. 148).
Apego ao Lugar Resultante da vinculação afetiva pessoa- Hidalgo e Hernandez (2001);
ambiente, o apego deve ser percebido de Rosa (2014); Giuliani (2004).
forma dimensional, compreendendo as
peculiaridades da relação entre o humano e o
lugar.
Comportamento ecológico Comportamentos que se manifestam partindo Pato e Tamayo (2006); Stokols
das representações internas do indivíduo (1978).
relacionadas ao ambiente, que mobilizam o
indivíduo na adoção de ações que favoreçam a
melhoria do ambiente.
Identidade de lugar “[...] a identidade de lugar é construída a partir Gómez (2015); Mourão e
dos espaços de pertencimento, envolvendo Cavalcante (2011); Moranta e
tempo de exposição ao lugar e possibilidade de Pol (2005).
transformá-lo em busca de satisfação”
(MOURÃO; CAVALCANTE, 2011, p. 215).
Apropriação do Espaço a “[...] apropriação reflete uma relação com a Pol (2002b); Cavalcante e Elias
natureza mediada pelo trabalho, pela qual a (2011); Felippe e Kuhnen
humanidade, por sua própria ação, medeia, (2012); Massola e Silva Júnior
regula e controla seu metabolismo com a (2019).
natureza” (MASSOLA; SILVA JUNIOR,
2019, p. 3)
Enraizamento “[...] este senso de pertencimento ao lugar, que Massola e Svartman (2018);
toca fundo tanto pessoalmente como Santoro (2014); Bruno et al.
coletivamente, é a condição necessária para (2018); Machado (1999).
que se possa ir além do apego emocional e
estabelecer conexões entre seu ambiente local
e os demais níveis ambientais, em diferentes
escalas locais e globais” (BRUNO et al., 2018,
p. 213).
Ambientes rurais Ambiente característico de comunidades
rurais, que deve ser entendido através da
concepção de ruralidades, visto os aspectos
intrínsecos a cada comunidade rural.
93

Habitar “[...] uma conduta de apropriação e expressão Serfaty-Garzon (2003); Moser


de si (identitária). Dá um significado ao (2018); Ferrara (1999).
espaço habitado e produz um sentimento de
segurança” (MOSER, 2008, p. 91)
Fonte: elaborado pela autora (2020).
94

6 PERCURSO METODOLÓGICO

A presente tese é resultado de uma pesquisa ação participante; com caracterização


exploratória-descritiva; e natureza mista, utilizando-se da abordagem multimétodos, defendida
por Gunther, Elali e Pinheiro (2008) por usar dois ou mais métodos de pesquisa definidos em
função do objeto e dos objetivos almejados.
Segundo Silva e Menezes (2001), a modalidade de pesquisa exploratória e descritiva
permite maior aprofundamento sobre o tema ao possibilitar o contato com as pessoas que
tiveram experiências com o fenômeno, e ao propiciar relações entre variáveis. Considera-se
também como participante, pois propicia a interação entre pesquisadores e membros da situação
investigada.
Quanto ao procedimento técnico, constitui-se em “[...] uma pesquisa de campo que
consiste na observação de fatos, tais como ocorre espontaneamente na coleta de dados e no
registro de variáveis, presumivelmente, relevantes para ulteriores análises” (RUIZ, 2006, p. 50).
As técnicas de coleta e análise de dados utilizadas buscaram atender aos quatro objetivos
específicos desse estudo e serão descritas adiante.

6.1 LOCAL DE ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido no município do Crato, que fica localizado no sul
do estado do Ceará, na Região Metropolitana do Cariri. Segundo o Ceará (2018), o município
fica localizado na área de abrangência da Chapada do Araripe e da Bacia Hidrográfica do
Salgado. Dentre os dez distritos rurais que compõem esse município, localiza-se o espaço desta
pesquisa: o distrito rural Baixio das Palmeiras.
Na base de dado do IPECE, a criação do distrito é datada no ano de 1994. Porém, como
apontado nos estudos de Nobre (2015), as primeiras habitações do distrito remetem ao século
XIX, com a ascensão da pecuária e dos engenhos na região do Cariri. Atualmente, o distrito
conta com 10 comunidades, entre elas, Baixio das Palmeiras, Baixio do Muquém, Baixio dos
Oitis e Chapada do Baixio, que são as comunidades que estão na área de abrangência do CAC
nesse distrito.
O território mencionado tem como base econômica a agricultura familiar, apesar do
declínio dessa prática nos últimos anos. Possui população aproximada de 2.428 habitantes. Sua
rede comunitária consta de vários equipamentos públicos (unidades básicas de saúde, escolas,
ilha digital) e sociais (capelas, associações comunitárias, espaços recreativos, casa de cultura).
95

É constituído, segundo Nobre (2017), por dez comunidades rurais, dentre as quais: Baixio dos
Oitis, Baixio do Muquém, Chapada dos Baixios e Baixio das Palmeiras (sede do distrito), que
fazem parte do delineamento geográfico da pesquisa. O mapa ilustrado abaixo possibilita a
localização da área de estudo.
Figura 13 - Mapa de localização da área de estudo

Fonte: elaborada pela autora (2020).

Nas quatro comunidades pesquisadas, residem 318 famílias, sendo entre essas 25
diretamente afetadas pela construção do CAC e notificadas que serão desapropriadas. Além
dessas famílias, também fizeram parte da amostra da pesquisa representantes da gestão estadual,
lideranças comunitárias e moradores que perderão terrenos ou benfeitoria. A distribuição do
96

público-alvo abordado está especificada em cada objetivo específico da pesquisa, sendo os


métodos de coleta e análise de dados descritos a seguir.

6.2 INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS DE ACORDO COM OS


OBJETIVOS ESPECÍFICOS

6.2.1 Procedimentos metodológicos gerais

Todas as entrevistas realizadas nesta pesquisa foram gravadas e transcritas, utilizando-


se os critérios do especialista Marcuschi (1986) (Anexo H), com o consentimento dos
entrevistados que assinaram tanto Termo de Autorização de Uso de Imagem (Apêndice A),
quanto o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B).
A fala dos gestores entrevistados serão representadas por nomes de plantas fósseis da
Bacia do Araripe; o discurso das lideranças comunitárias, serão retratados por nomes de fósseis
de peixes, e os relatos dos moradores que foram ou serão desapropriados, serão simbolizados
por nomes de insetos; todos encontrados na Bacia do Araripe, extraídos do livro de Saraiva et
al. (2015). A opção pelo uso desses nomes é a valorização das espécies características da fauna
e flora caririense. O projeto de doutorado foi submetido e aprovado, sob o parecer n. 3.315.043
da Comissão de ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri
(Anexo I), de acordo com a resolução n. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
2012).

6.2.2 Métodos referentes ao primeiro objetivo

Diante do primeiro objetivo de investigar a percepção dos gestores sobre a


implementação do projeto CAC e os desdobramentos no hidroterritório Baixio das Palmeiras,
realizou-se um estudo exploratório-descritivo de forma a compreender e descrever a dinâmica
das relações político-econômica e socioambientais estabelecidas em torno do projeto.
Na figura 14, ilustraremos de forma resumida as fases da metodologia escolhida. Como
ilustrado, após levantamento bibliográfico e documental, procederam-se as entrevistas com o
público incluído nesse objetivo: gestores públicos que lidaram diretamente com o CAC.
97

Figura 14 - Resumo da metodologia

Fonte: elaborada pela autora (2020).

No caso desta pesquisa, a amostra é constituída por 12 gestores/técnicos, formalmente


entrevistados, sendo sete do município do Crato, um do município de Barbalha e quatro de
Fortaleza. O critério para inclusão na amostragem foi ter participado em algum momento da
implementação inicial do projeto.
No primeiro momento, entrou-se em contato com lideranças comunitárias que sugeriram
e encaminharam a pesquisadora para alguns gestores. Concomitante as entrevistas, foram
realizadas visitas às comunidades, especificamente Baixio das Palmeiras e Baixio do Muquém,
para estabelecimento de vínculo e, ao mesmo tempo, apresentar a proposta de pesquisa
desenvolvida. Aspectos considerados relevantes por Minayo et al. (2011) na pesquisa de
campo. Nesse sentido, Bressan e Lajús (2017) destacam a importância de conhecer as famílias
no desenvolvimento dos projetos de forma a averiguar as discrepâncias entre o que foi projetado
e a real necessidade da comunidade.
Como estratégia metodológica, durante o levantamento documental, fez-se o contato
com alguns técnicos de órgãos governamentais, como geógrafo, geólogo, engenheiro
agrônomo, analista ambiental, analista em gestão de recursos hídricos, dentre outros, sendo as
entrevistas conduzidas por indicação, usando-se a técnica de amostragem bola de neve
(snowball sampling).
Baldin e Munhoz (2011, p. 32) definem essa técnica como sendo “[...] uma forma de
amostragem não-probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os participantes iniciais de
98

um estudo indicam novos participantes que, por sua vez, indicam novos participantes e, assim
sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo (o ponto de saturação)”.
Durante a visita aos órgãos, também foram obtidas algumas informações de natureza
informal, que serão apresentadas segundo a relevância da temática. Os órgãos visitados serão
representados na Figura 15:
Figura 15 - Órgãos visitados

Fonte: elaborada pela autora (2020).

Na coleta de dados, as informações documentais foram obtidas através de atas de


reuniões, das pesquisas online nos sites oficias do Governo do Estado do Ceará, como o Diário
oficial do Estado, a COGERH, a SRH e Assembleia Legislativa; do Governo Federal através
da Agência Nacional das Águas (ANA) e Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES); e de
jornais como Diário do Nordeste, Tribuna do Ceará e Globo.
De acordo com Zanella (2013), a análise documental envolve a investigação de
documentos internos e/ou externos. Assim, relatórios, manuais e atas são documentos oficiais
que, dependendo do objeto de estudo, são muito relevantes para a pesquisa.
A revisão bibliográfica ofereceu suporte à pesquisa, especialmente pelos artigos
científicos publicados em relação à temática estudada. No levantamento de dados também se
utilizou a técnica da entrevista, que é um procedimento comum em trabalho de campo, no qual
o pesquisador busca por informações presentes nas falas dos atores sociais (MINAYO et al.,
2011).
A análise dos dados concernente as referências da linha do tempo sobre o Cinturão da
Águas do Ceará (Apêndice C), de cunho qualitativo, foi estabelecida no recorte temporal, uma
década depois da atuação do projeto, delimitado entre os anos de 2010 a 2020. Sua construção
99

ocorreu mediante mapeamento de fontes de informação nos canais supraformais, compostos de


periódicos eletrônicos, a própria internet e portais de informação científica. Para tanto,
empregou-se nas plataformas de pesquisa as estratégias de busca, utilizando como descritores:
‘CAC’, ‘notícias’, ‘mês’ e ‘ano’.
Mediante esse processo de busca, os documentos recuperados de maior repercussão
direcionam-se mais às notícias de sites (Diário do Nordeste, Cariri Revistas, G1, O Povo etc.).
Logo após, têm-se as informações de artigos científicos, dissertações, relatórios e vídeos. A
proposta da linha do tempo objetivou propiciar uma visão holística das ocorrências e
desenvolvimento do projeto CAC.
Os dados obtidos pelas entrevistas com os gestores foram apresentados através da
análise de conteúdo de Bardin (2009), segundo categorias definidas a posteriori, as quais são
constituídas pelos processos de codificação, categorização e inferência. Dessa forma, foram
criadas as categorias de acordo com o assunto das falas dos técnicos e gestores entrevistados,
como consta na Figura 16:
Figura 16 - Categorias analisadas

Fonte: elaborada pela autora (2020).

Portanto, as supracitadas categorias definidas constituem o instrumento de análise,


permitindo conhecer a natureza, variantes e situações das comunidades e do ambiente estudado.

6.2.3 Métodos referentes ao segundo objetivo

De uma forma geral, o esquema abaixo (Figura 17) demonstra as estratégias


metodológicas utilizadas para contemplar o segundo objetivo.
100

Figura 17 - Estratégias metodológicas para o alcance do segundo objetivo

Fonte: elaborada pela autora (2020).

Quanto ao segundo objetivo, que é examinar a atuação do movimento de


hidroresistência Fórum Popular das Águas do Cariri, frente aos conflitos gerados pelo CAC no
hidroterritório Baixio das Palmeiras, utilizou-se como métodos de coleta de dados, a observação
participante e a entrevista semiestruturada.
Segundo Minayo et al. (2007), a observação participante pressupõe contato direto com
o fenômeno para obtenção das informações no próprio contexto dos atores envolvidos. O
pesquisador torna-se parte da vida dos observados (TORRES; NEIVA, 2007).
Para isso, foram frequentadas reuniões mensais do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais do Crato (STTR Crato) (Anexo J), da Associação de Moradores do Baixio
das Palmeiras (Anexo K) e desenvolvidas ações de educação em saúde desenvolvidas na
Unidade Básica da Saúde (UBS) (Anexo L) do Baixio do Muquém e Baixio das Palmeiras
Além disso, foram feitas visitas domiciliares para realização de entrevistas
semiestruturadas, levantamento documental e ações de intervenção em educação em saúde na
comunidade.
A amostra se constituiu de 13 moradores, sendo 5 mulheres e 7 homens, do distrito
Baixio das Palmeiras, no município do Crato (CE), que ocupam posições estratégicas de
liderança na comunidade, tais como representantes das associações do Baixio do Muquém,
Chapada do Baixio, Baixio dos Oitis e Baixio das Palmeiras; Sindicato Rural do distrito Baixio
das Palmeiras; Grupo Nós Mulheres; Casa de Quitéria; agente de saúde da Estratégia de Saúde
da Família (ESF) do distrito; e liderança religiosa. Para composição desta amostra, uma lista
101

foi elaborada por um informante-chave, que, segundo Bisol (2012), trata-se de sujeitos que
apresentam amplo contato com os indivíduos de um determinado espaço, sendo que nesse
contexto encaixa-se os moradores das comunidades.
A entrevista, de acordo com Günther (2008), apresenta-se de várias formas e
modalidades, e, por requerer um contato pessoal, possibilita uma perspectiva mais abrangente
através da observação que proporciona verificar “[...] o comportamento verbal e não-verbal, a
aparência e as condições gerais de saúde, permitindo combinar informações de diferentes
fontes” (GÜNTHER, 2008, p. 60).
Apesar do roteiro pré-estabelecido (Apêndice D), os relatos procederam de forma
espontânea, propiciando uma conversa informal que possibilitou a compreensão da
representação da comunidade na vida de seus moradores. A coleta de dados se deu de abril a
novembro de 2019, período também da realização das atividades do projeto Resistência no
Baixio das Palmeiras na comunidade. A análise dos dados foi realizada através da construção
de uma linha do tempo de atuação do Fórum Popular das Águas (Apêndice E), desde o início
de 2015 até 2019. Para sua construção, foram analisados documentos como atas, convites,
dissertações, ofícios e relatórios fornecidos pelo próprio fórum; já os documentos como
cartazes, notas e programação de eventos deu-se a partir da pesquisa no motor de busca Google,
utilizando o termo ‘Fórum Popular das Águas’ e restringindo o ano de 2015 (data de sua
criação) até 2019.
As entrevistas foram apresentadas segundo a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC) de Lefevre e Lefevre (2003), que tem como fundamento:

[...] a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos. A proposta


consiste basicamente em analisar o material verbal coletado extraindo-se de cada um
dos depoimentos, artigos, cartas, papers, as ideias centrais e ancoragens e as suas
correspondentes expressões-chave; com as ideias centrais/ancoragens e
expressões-chave semelhantes compõe-se um ou vários discursos-síntese que são os
Discursos do Sujeito Coletivo (LEFEVRE; LEFEVRE, 2003, não paginado, grifo
nosso).

Através dessa técnica, o conteúdo das respostas individuais, as quais apresentam


sentidos semelhantes, são agrupadas em categorias (expressões-chave) semânticas gerais;
posteriormente, são retirados trechos das falas dos respondentes que corroboram com as
categorias (ideias centrais); em seguida, pode-se encontrar no corpo das falas marcas
discursivas que podem ter relação com uma teoria ou ideologia (ancoragem); por fim, mediante
leitura técnica, extraiu-se o depoimento síntese no singular, que vai representar a coletividade,
ou seja, todo o grupo entrevistado (Discurso do Sujeito Coletivo - DSC).
102

6.2.4 Métodos referentes ao terceiro objetivo

Quanto ao objetivo de diagnosticar as relações de apego, identidade de lugar, coesão


social e satisfação residencial dos moradores das comunidades pesquisadas, utilizou-se como
instrumento de coleta de dados um survey, baseado na escala de apego ao lugar e identidade,
com um formulário socioeconômico acoplado.
Segundo Paranhos et al (2013, p.10) “a pesquisa de survey tem múltiplas finalidades.
Sempre que o pesquisador estiver interessado em identificar opiniões, atitudes, valores,
percepções”. O método de pesquisa de survey possui três funções: exploração, descrição e
explicação. Estudos feitos a partir dessa técnica podem ser categorizados como transversais,
quando se estuda uma ocasião específica, podendo fazer também comparativos entre as
amostras; e longitudinais, quando se estuda um grupo por uma longa quantidade de tempo.
Optou-se pela abordagem quantitativa, que segundo Barbosa (2001), possibilita
alcançar um número maior de respondentes, ao utilizar uma escala, em grande parte numérica,
na qual a numeração de variáveis é processada estatisticamente.
A amostra foi escolhida de forma aleatória simples, entre os moradores das
comunidades, que foram atingidos. O critério de inclusão definiu ser morador das comunidades
a serem afetadas pela passagem do projeto hídrico Cinturão das Águas do Ceará.
Inicialmente, os primeiros moradores que participaram da resolução do survey estavam
entre aqueles que seriam ou foram desapropriados; posteriormente, expandiu-se para lideranças
comunitárias participantes do processo de mobilização e resistência. Após essas primeiras
aplicações, percebeu-se que o conceito de atingido era muito mais abrangente, pois, segundo
Martins (2020), não é somente o sujeito desapropriado que tem impactos diretos, mas toda a
comunidade do entorno do empreendimento de alto impacto.
Visto essa observação, resolveu-se ampliar a amostra de participantes da pesquisa.
Como critérios de exclusão da pesquisa, foi optado pela exclusão de pessoas menores de 18
anos, levando em consideração a necessidade de autorização prévia dos responsáveis para a
participação desse grupo na pesquisa; e portadores de deficiência intelectual ou transtorno
mental.
Na figura abaixo, apresenta-se uma visão geral da metodologia quantitativa empregada
para consecução deste objetivo.
103

Figura 18 - Visão geral da metodologia utilizada para comtemplar o terceiro objetivo

Fonte: elaborada pela autora (2020).

O instrumento utilizado no processo de coleta de dados foi uma pesquisa de survey


exploratória e transversal, a partir de uma adaptação da escala de apego e identidade de lugar
de Hernandez et al. (2007) (Apêndice F), e da aplicação de um formulário socioeconômico. A
escolha desses materiais justifica-se a partir de Spink (2003, p. 74): “A sensibilidade para com
as diferenças sociais, culturais e contextuais e a integração dessa sensibilidade às explicações
psicológicas vão ser refletidas na escolha dos instrumentos de pesquisa”. Originalmente, essa
escala foi construída pelos autores com doze itens: 8 de apego e 4 de identidade de lugar. Mas,
após aplicação, descobriu-se equivalências, ficando ao final com 6 itens de apego e 3 itens de
identidade de lugar (RUIZ; HERNÁNDEZ; HIDALGO, 2015).
O formulário sociodemográfico está dividido em cinco blocos de perguntas, contendo
dados referentes à caracterização sociodemográfica do entrevistado, à caracterização
socioeconômica com informações sobre escolaridade, trabalho e renda; às condições de saúde;
e à moradia e qualidade de vida. Na elaboração do instrumento da pesquisa, alguns elementos
devem ser considerados, como destaca Gunther (2003) o grau de complexidade dos conceitos
a serem desenvolvidos; a relação entre as características da população-alvo e os conceitos; e o
tamanho da amostra que indicará qual o instrumento mais adequado.
A preocupação inicial da pesquisadora foi a adequação da escala original de apego e
identidade de lugar de Hernández et al. (2007) aos objetivos da pesquisa, no processo de
formulação do survey. Em seguida, tornar a linguagem acessível à amostragem escolhida, que
104

são moradores de comunidade rural. A adaptação da escala foi feita com a colaboração da
professora Ada Raquel Teixeira Mourão, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que utilizou
a escala em sua tese ajustando-a aos seus objetivos (MOURÃO,2014).
A escala utilizada na pesquisa foi desenvolvida utilizando-se a escala Likert de 5 escores
no intervalo de 1 (nem um pouco) até 5 (com toda certeza). O entrevistado assinalava um único
item de acordo com seu grau de satisfação. Os itens das questões receberam as seguintes
classificações, de acordo com as informações a serem coletadas: sobre a cidade; sobre a
comunidade; sobre os moradores; sobre a casa; e sobre o Fórum Popular das Águas.
Esses itens continham informações referentes aos processos psicossociais de apego ao
lugar (itens 1, 2, 4, 5 a 12, 16 a 18); identidade de lugar (3, 9, 13 a 15); coesão social (19 a 25,
31 a 35), satisfação residencial (26 a 30); e informações referentes ao Fórum Popular das Águas
(31 a 35)
Os dados serão apresentados em tabelas e/ou gráficos. Foram calculadas as medidas
estatísticas, média e desvio padrão de idade, tempo de vivência na comunidade e tempo de
residência na casa atual. A escala utilizada para avaliar as categorias apego, identidade de lugar,
coesão social e satisfação residencial foi construída com cinco alternativas, onde o número 1
representa o maior nível de discordância e o número 5 o maior nível de concordância ao item
(1 a 5).
A associação entre a escala e as variáveis: idade, sexo, escolaridade, trabalho, tipo de
trabalho, renda per capita familiar, local de nascimento, procedência, tempo de vivência na
comunidade e tempo de residência na casa atual será verificada pelos testes não paramétricos
de χ2 e de razão de verossimilhança. Para analisar a força das associações, a escala foi
transformada em apenas duas categorias: insatisfeito e satisfeito, quando foram calculadas as
medidas razão de chances e de proporções.
A comparação das médias da nova escala com as variáveis sexo, escolaridade, trabalho,
tipo de trabalho, local de nascimento e procedência foi feita pelos testes paramétricos t de
Student e ANOVA, ou pelos não paramétricos de Mann-Whitney e Friedman. Para todas as
análises inferenciais foram consideradas como estatisticamente significantes aquelas com
p<0,05. Os dados foram processados no SPSS 20.0, licença número 10101131007.
O teste de fidedignidade, avaliado pelo coeficiente alfa de Cronbach, utilizado como
técnica para aferir a confiabilidade de um instrumento de medição, neste estudo, constatou que
todas as dimensões estudadas possuem consistência interna, no mínimo aceitável, conforme
relatório técnico emitido pela DeltaStat (2020).
105

A análise dos dados foi feita de modo descritivo. Foi realizada a análise da distribuição
das respostas às variáveis: localidade, sexo, faixa etária e natividade, agrupadas por perguntas
referentes ao apego ao local, identidade e coesão. Os elementos foram avaliados a partir das
respostas aos seguintes tópicos:
Quadro 4 - Identidade
Categorias: Identidade
03 Esta cidade tem a ver com a minha história pessoal
14 Esta comunidade é parte da minha identidade
28 Esta casa tem a ver com a minha história de vida
29 Esta casa é parte da minha identidade
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Quadro 5 - Apego ao lugar


Categorias: Apego ao lugar
01 Eu gosto de viver nesta cidade
05 Eu gosto de morar nesta comunidade
06 Eu me sinto apegado à comunidade onde moro
26 Eu gosto de morar nesta casa
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Quadro 6 - Coesão Social


Categorias: Coesão Social
19 Os moradores da minha comunidade são unidos
22 Nossa comunidade participa ativamente das atividades que dizem respeito a todos
23 Nossa comunidade mobilizou a sociedade em prol dos nossos direitos
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Quadro 7 - Satisfação residencial


Categorias: Satisfação residencial
26 Eu gosto de morar nesta casa
27 Eu me arrependeria se tivesse que mudar para outra casa
28 Esta casa tem a ver com a minha história de vida
29 Esta casa é parte da minha identidade
Fonte: elaborado pela autora (2020).

A coleta de dados se deu de abril a dezembro de 2019, através de visitas às casas e


presença nas reuniões das comunidades. Foram aplicados 150 questionários, seguindo os
critérios de exclusão e inclusão da pesquisa estipulados. Foram feitas aplicações tanto nas
residências dos moradores atingidos, residentes nas quatro comunidades foco da pesquisa
(Baixio das Palmeiras, Baixio do Muquém, Baixio do Oitis e Chapada dos Baixios), como
também houve aplicações em moradores que frequentavam as Unidades Básicas de Saúde
106

(UBS) do Baixio das Palmeiras e do Baixio do Muquém. Todas as aplicações foram feitas de
forma individual.
Antes de iniciar a aplicação, a pesquisa foi dividida em dois momentos. No primeiro
momento, estabeleceu-se contato com lideranças da comunidade para explicar o trabalho e
solicitar o apoio. No encontro inicial, algumas lideranças informaram sobre a necessidade de
suporte emocional à comunidade e indagaram sobre as contribuições da pesquisa nesse intuito.
Foram informados de que havia sido feita a submissão de um projeto de cultura, com foco em
educação em saúde, intitulado Resistência no Baixio das Palmeiras: Psicologia, Saúde e Meio
Ambiente (Apêndice G), o qual aguardava-se o resultado e foi aprovado.
Portanto, concomitante à aplicação do instrumento da pesquisa, houve o
desenvolvimento de atividades nas comunidades em quatro campos de trabalho: nos postos de
saúde do Baixio das Palmeiras e do Baixio do Muquém; na escola Rosa Ferreira de Macêdo;
na casa de Quitéria, projeto desenvolvido por um geógrafo, agricultor e morador do Baixio das
Palmeiras; e na base do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato (STTR),
localizada no distrito.
No segundo momento, antes de entrar em campo, houve o processo seletivo da equipe
para realizar o projeto na comunidade. Inicialmente, convidou-se uma colega psicóloga que
pudesse colaborar. Em seguida, realizou-se a divulgação do projeto e a seleção propriamente
dita. Foram escolhidos 4 estudantes de medicina da Universidade Federal do Cariri, ex-alunos
da pesquisadora/professora, sendo que três já conheciam as comunidades de atividades
anteriores; e sete estudantes de psicologia do Centro Universitário Leão Sampaio. No segundo
semestre, a equipe de psicologia ficou com quatro estudantes, mas foi acrescida de uma
psicóloga que também desenvolvia pesquisa e atividades no distrito.
A equipe passou por treinamento constituído de três etapas:
1. informações sobre o projeto Cinturão das Águas e a realidade das comunidades afetadas;
2. indicação de leitura do livro Hacia uma Psicología Rural Latinoamericana de Fernando
Landini, de modo a equipar os participantes da equipe de conhecimento sobre as
especificidades da população rural;
3. apresentação da pesquisa, de forma a instrumentalizá-los na aplicação para que
estivessem preparados para tirar dúvidas, lidarem com demandas situacionais e
capacitá-los para desenvolver uma atitude de acolhimento e habilidade de observação.

Como ressalta Gunther (2008), na aplicação de entrevista é importante considerar as


limitações como o custo necessário, o tempo para completar as entrevistas e as habilidades
107

sociais que são requeridas de um aplicador. Portanto, foi vista a necessidade selecionar e
capacitar os aplicadores previamente. Priorizou-se capacitar a equipe na abordagem de fazer
perguntas e obter respostas, como salienta Gunther (2008); e, principalmente, e o mais
importante, o acolhimento, devido à situação atual da comunidade; às outras pesquisas nas
quais foram participantes; e à abordagem inadequada pelos técnicos representantes da empresa
licitada para a obra.
Após a capacitação, fez-se a primeira visita às comunidades, denominada de abordagem
piloto, na qual a equipe, ao encerrar a atividade, discutiu sobre as aplicações realizadas.
Percebeu-se, primeiramente, que as pessoas solicitavam a leitura do instrumento, o que foi feito
na maioria absoluta das aplicações. Identificou-se a necessidade de acrescentar na alternativa 1
a palavra de jeito nenhum, pois embora possua um significado equivalente a nem um pouco,
facilitava a compreensão de algumas assertivas. Outra questão importante foi assegurar a
utilização de um tempo hábil, de acordo com a necessidade do morador, para que pudesse
responder as questões adequadamente.
Acerca dos locais de realização de atividades comunitárias desenvolvidas durante a
escrita da tese e de locais de aplicação do instrumento, cita-se:
1. No Baixio das Palmeiras:
• A sede da associação rural que recebeu o nome de Associação Rural do Baixo
das Palmeiras. Organização atuante e comprometida com a comunidade;
Figura 19 - Reunião na Associação Rural do Baixio das Palmeiras

Fonte: dados da pesquisa (2019).


108

• Casa de Quitéria, projeto com o objetivo de preservar elementos da história e


memória do distrito. O nome é em homenagem a uma antiga moradora de
referência na comunidade (NOBRE, 2015);
Figura 20 - Atividades do projeto na casa de Quitéria

Fonte: dados da pesquisa (2019).

• Unidade Básica de Saúde que recebeu o nome UBS Baixio das Palmeiras;
Figura 21 - Atividades realizadas na Unidade Básica de Saúde do Baixio das Palmeiras

Fonte: dados da pesquisa (2019).

2. No Baixio do Muquém:
• Escola de Ensino Fundamental Rosa Ferreira de Macêdo, que atende à demanda
de ensino fundamental de várias comunidades do distrito, incluindo as
comunidades pesquisadas;
109

Figura 22 - Atividade ‘A teia’ realizada na Escola de Ensino Fundamental Rosa Ferreira de


Macêdo

Fonte: dados da pesquisa (2019).

• Unidade Básica de Saúde intitulada UBS Baixio do Muquém, atende à demanda


tanto dessa comunidade como de comunidades circunvizinhas;
Figura 23 - Atividades realizadas na Unidade Básica de Saúde do Baixio do Muquém

Fonte: dados da pesquisa (2019).

• Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato - STTR Crato, no


qual foram realizadas reuniões de base sindical, todos os meses na escola da
comunidade.
110

Figura 24 - Reunião no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato do


Baixio do Muquém

Fonte: dados da pesquisa (2019).

As atividades nas unidades básicas de saúde eram desenvolvidas todas as sextas-feiras,


pela manhã. Já na escola Rosa Ferreira de Macêdo, essas eram desenvolvidas nas tardes das
sextas-feiras. As atividades na Casa de Quitéria aconteciam aos sábados ou domingos pela
tarde; e as atividades da associação e sindicato eram realizadas no segundo e terceiro domingo
de cada mês, respectivamente.

6.2.5 Métodos referentes ao quarto objetivo

Quanto ao quarto objetivo, que foi avaliar as implicações do processo de implementação


do projeto Cinturão das Águas do Ceará nas comunidades atingidas, a partir da vivência dos
moradores que já foram ou serão desapropriados, utilizou-se o instrumento da autobiografia
ambiental. Abaixo, serão descritos o local onde a pesquisa será desenvolvida, critérios de
amostragem e dados sobre o instrumento da coleta de dados.
Como panorama das estratégias metodológicas optadas neste estudo, foi feito um quadro
síntese, demonstrado na Figura 25.
111

Figura 25 - Estrutura da metodologia do trabalho para o objetivo quatro

Fonte: elaborada pela autora (2020).

A amostra dessa etapa da pesquisa corresponde a 72 pessoas que, segundo dados da


associação, foram ou serão desapropriadas, sendo incluídos moradores que perderam terrenos
e benfeitorias, apesar de não perderem casas; e moradores que perderam sua habitação por
completo e que tiveram ou terão que realizar migração. Abaixo, ilustraremos a caracterização
da amostra (Tabela 1):
Tabela 1 - Caracterização da amostra
Localidade Número de entrevistados (as)
Baixio das Palmeiras 39
Baixio do Muquém 13
Baixio dos Oitis 06
Chapada dos Baixios 11
Romualdo 03
Fonte: elaborado pela autora (2020).

É válido ressaltar que é um número variável, visto que com as negociações e


modificações no traçado, ocorreram mudanças. A informação pertinente aos moradores do
Romualdo foi veiculada recentemente por representantes da associação das Palmeiras. Além
disso, a informação mais recente, proveniente da associação, contabiliza que 18 já foram
indenizados.
Nas figuras abaixo, serão ilustradas as áreas de impacto imobiliário nas quatro
comunidades pesquisadas: Muquém (Figura 26), Chapada (Figura 27), Oitis (Figura 28) e
Palmeiras (Figura 29).
112

Figura 26 - Imóveis atingidos no Baixio do Muquém Figura 27 - Imóveis atingidos na Chapada do Baixio

Fonte: elaborada pela autora (2020).

Fonte: elaborada pela autora (2020).


113

Figura 28 - Imóveis atingidos no Baixio dos Oitis Figura 29 - Imóveis atingidos no Baixio das Palmeiras

Fonte: elaborada pela autora (2020).


Fonte: elaborada pela autora (2020).
114

A escolha da amostra foi intencional, delineada pelo Obaichthys decoratuss,


representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETRAECE), seccional Crato,
que fez o acompanhamento dos pesquisadores em todas as visitas residenciais.
Levando em consideração que este estudo é qualitativo, modalidade que pressupõe a
compreensão de um fenômeno específico e delimitável, sendo adequado a um grupo de pessoas
afetadas pelo mesmo fenômeno (MINAYO; SANCHES, 1993), procurou-se um método que
abarcasse as especificidades do processo de migração compulsória estudado. Por isso, foi
selecionado como instrumento de coleta de dados a autobiografia ambiental.
A autobiografia ambiental é um instrumento utilizado para avaliar as relações pessoa-
ambiente, através de narrativas da história pessoal em relação aos ambientes significativos,
tendo o ambiente como protagonista (ELALI; PINHEIRO, 2008).
Dessa forma, o relato possibilita o resgate da memória, das vivências naquele lugar,
contribuindo para a compreensão dos afetos, pensamentos e comportamentos nele
experienciados. Elali e Pinheiro (2008) colocam como vantagem desse método a possibilidade
de aflorar temas de interesse do indivíduo e peculiaridades significativas; tendo a desvantagem
de não seguir um roteiro pré-estabelecido, o que pode dificultar comparações, exigindo um “[...]
esforço introspectivo dos participantes” (p. 229).
Os mesmos autores estruturam o instrumento em três partes: elementos textuais,
conteúdo explícito e fontes de influência. Os elementos textuais informam sobre as
características do texto, tais como foco discursivo, estrutura textual, estrutura temporal, fluidez,
intencionalidade, entre outros. No conteúdo explícito descrevem-se as situações e fatos
escolhidos; os principais elementos ambientais que aparecem, demonstrando a presença do
ambiente na história de vida do sujeito; e as sensações e sentidos presentes no relato, referindo-
se a sensações e sentimentos agradáveis ou desagradáveis. Quanto às fontes de influência,
identificam-se elementos que interferem nas relações da pessoa com o seu ambiente.
115

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES

7.1 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO CAC NAS COMUNIDADES DO DISTRITO


BAIXIO DAS PALMEIRAS: A VISÃO DOS GESTORES PÚBLICOS ENVOLVIDOS
NO PROCESSO

Como apresentado no capítulo metodológico, foram realizadas entrevistas


semiestruturadas com 12 gestores públicos que estavam envolvidos no processo de
implementação do eixo 1 do CAC. As entrevistas transcorreram de forma espontânea e
informal, sendo a pergunta geradora: “Qual sua percepção sobre o Projeto CAC e seus
desdobramentos?”. Este padrão repetiu-se em todas as entrevistas realizadas.
Todos os gestores e técnicos foram receptivos, entretanto, na Secretaria de Recursos
Hídricos (SRH), alguns técnicos entrevistados retiraram o seu consentimento posteriormente,
apesar de enviar a transcrição das entrevistas realizadas por e-mail e, particularmente, tendo
observado que as informações prestadas foram puramente técnicas, sem nenhum
comprometimento profissional ou pessoal. Os técnicos que pediram para terem os seus relatos
retirados não compõem a amostra final da pesquisa.
As respostas obtidas foram divididas em quatro categorias: a importância do projeto; a
manutenção da obra; problemas na execução e propostas de melhoria para novas execuções.
No discurso dos representantes dos órgãos relacionados à questão hídrica, destaca-se a
importância do projeto CAC como garantia de abastecimento humano, incluindo-se também a
destinação da água para as indústrias da região, como pode ser observado no Quadro 8:
Quadro 8 - Falas dos entrevistados acerca da importância do projeto CAC
Transcrição das falas
“A proposta é o abastecimento humano. Aliás, hoje a gente tá até mudando muito essa fala do abastecimento
humano, é o CONSUMO humano. Por exemplo, o Crato. Num posso dizer “vou botar água no Crato só pra
pessoa beber em casa”. Precisa dessa água pra indústria, pro comércio, pra praças, pra essas coisas tudo (+).
Então, assim a gente tá botando pra consumo humano” (ARAUCARIA CARTELLI, H, 2019, informação verbal).
“... que a prioridade constitucional é o abastecimento humano... Agora tem que ter responsabilidade de oferta
hídrica. Nós precisamos ter segurança hídrica” (ARAUCARITES VULCANOI, 2019, informação verbal).
“... eu vejo o projeto como uma obra estratégica para o desenvolvimento do estado [...] e nos dá uma segurança
hídrica, no abastecimento dessas cidades [...] porque há a possibilidade também de trabalhar com pequenos
agricultores [...]. Uma vez suprida essa necessidade para abastecimento humano, há a possibilidade de você
utilizar também essa água para irrigação” (ARAUCARIOSTROBUS SP, H, 2019, informação verbal).
“ASPECTO MAIOR, no caso do CAC, é (+) GARANTIR O ABASTECIMENTO D’ÁGUA (+) a uma série
de CIDADES E COMUNIDADES (+) ao longo de um trecho de (+) quase 1.500 quilômetros de extensão [...]
Eu, por exemplo, eu defendo o canal. Eu acho que o canal é uma obra imprescindível pra (+) PRA NÓS aqui
da Bacia Sedimentar do Araripe. Evidentemente não só pra nós, mas pra todo o:: /.../ Inhamuns (+) nós temos
uma vulnerabilidade muito grande com relação (+) a::: às nossas forças de abastecimento da água (+)”
(RUFFORDIA GOEPPERTII, H, 2019, informação verbal).
“/.../ Nós tamos tomando emprestado água de outras bacias, (+) então não posso negar a NECESSIDADE disso,
do projeto. Agora, (+) podemos (+) CRITICAR é a EXECUÇÃO da obra. Então, num posso deixar de
116

JUSTIFICAR a obra. A obra, é em alguns momentos, ela será necessária, até porque a alternativa a ela era você
des-con-cen-trar a riqueza ou poder, as oportunidades do Estado do Ceará /.../” (BRACHYPHYLLUM INSIGNE,
H, 2019, informação verbal).
“/.../ o CAC, ele pode até ajudar numa coisa que investe (+) no Ceará em termos de (incompreensível), mas o
principal /.../ é pra complemento e abastecimento humano /.../. (+) Agora onde ele talvez possa (+) usar a
agricultura, que tem todo um potencial (+) /.../ que vai dar uma garantia, associada com à (+) a (+) /.../ água
subterrânea que já tem, complementando (+) seria nessa parte. /.../ a OBRA já tá com quase cinco anos, não sei
quanto, e começou a gerar emprego desde quando (+) nós começamos a trabalhar na topografia (+) e começou
gerando, gerou MAIS TRANSPORTES, gerou mais ÔNIBUS passando /.../ gerou todo uma gama de serviços,
/.../ empregos. /.../” (TOMAXELLIA BIFORME, H, 2019, informação verbal).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como pode ser observado nos discursos dos gestores entrevistados, o CAC é visto pelos
operadores da política pública como um instrumento de promoção de crescimento econômico,
pois com a chegada das águas aduzidas pela obra nas comunidades cearenses, será possível
promover melhorias no abastecimento humano, fortalecimento do setor agropecuário e geração
de emprego e renda. A grande questão em relação à destinação da água transposta é
efetivamente o uso que dela se dará, para que se garanta que os beneficiários sejam os que
efetivamente dela precisam, como destacam Coelho (1985) e Chacon (2007).
Para se promover a segurança hídrica, precisa-se de fiscalização na gestão da água de
forma a garantir a qualidade e quantidade da água a ser consumida. Como destacam Ituarte e
García (2016), é preciso uma gestão conjunta de abastecimento e saneamento que leve em
consideração a formação de equipes multidisciplinares, a preferência por tecnologias
inovadoras e flexíveis com base na sustentabilidade e a adaptação das estratégias utilizadas
anteriormente ao contexto físico e social da área de trabalho.
Essa dimensão é, muitas vezes, negligenciada, pois se desenham projetos sem
efetivamente estudar o impacto social no local onde vai ser implementado, acreditando-se que
as pessoas veem o mundo da mesma forma em todos os lugares. Como foi apontado
anteriormente no estudo de Martins (2020) no caso do EIA/RIMA do CAC, os determinantes
socioeconômicos da área de impacto foram trabalhados de forma meramente descritiva.
Conforme Tomaxellia biforme (2019, informação verbal), o projeto traria benfeitorias
como a implantação de vários mini-hortos. Questiona-se, por sua vez, se essa benfeitoria
compensará, efetivamente, as perdas sofridas e se corresponderá as necessidades e/ou desejos
da comunidade. Acrescenta o mesmo entrevistado que a concepção de desenvolvimento para
esses projetos difere da almejada pela população local.
Observa-se, não obstante, a sinalização por analistas ambientais da necessidade de
atentar para o uso do recurso da água de forma ordenada, tanto pelas pessoas como pelas
instituições, como pode ser observado no Quadro 9:
117

Quadro 9 - Falas dos entrevistados acerca da manutenção da obra e gestão das águas
Transcrição das falas
“Tem atividades econômicas que são compatíveis com a produção do recurso hídrico. Então, a ideia é buscar
com todo conhecimento que a gente tem, aquilo que hoje tá na moda, que se fala tanto de desenvolvimento
sustentável. Então, que as atividades econômicas sejam compatíveis com a biodiversidade e com a vida humana,
é isso que nós queremos” (BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H,2019, informação verbal).
“A nossa sociedade antiecológica, a maneira como fomos colonizados, os hábitos que desenvolvemos e, mais
recentemente, com essa globalização, nós queremos viver de uma maneira incompatível com o nosso potencial
ecológico” (BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019, informação verbal).
“Toda atividade tem o problema de quanto comporta o equilíbrio de estabelecer uma cultura, uma exploração
do recurso em cima da capacidade de suporte daquele recurso. A gente nunca avalia isso [...] você cai até os
limites de esgotar aquilo que você tem. Você nunca fica satisfeito, entendeu?” (BRACHYPHYLLUM
CASTILHOI, H, 2019, informação verbal).
“Do mesmo modo que se busca a segurança hídrica, as pessoas necessitam ter garantias quanto ao fornecimento
e manutenção da água e de seu território. Os entrevistados, gestores de órgãos governamentais, reconhecem a
necessidade da manutenção da obra, da qualidade hídrica e da verificação, se os condicionantes estão sendo
cumpridos” (TOMAXELLIA BIFORME, H, 2019, informação verbal; FRENELOPSIS SP, H, 2019, informação
verbal; BRACHYPHYLLUM OBESUM, H, 2019, informação verbal).
“Precisa receber tanto um cuidado técnico com relação (+) à:: MANUTENÇÃO DA OBRA (+) em si, como
também de:: de alguns, alguns riscos de (+) acesso a:: por exemplo, animais (+) tipo (+) gado, bode, ovelha,
enfim e:: a pessoas mesmos chegarem e colocarem, fazerem retirada d’água (+) de /.../ forma imprópria ...”
(BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019, informação verbal).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como pode ser observado nas falas, há uma preocupação sobre o equilíbrio entre a obra
e o território natural em seu entorno. Alguns reconhecem as raízes da lógica da exploração dos
espaços naturais, sendo que dois trazem essa preocupação de forma mais enfática, falando sobre
o esgotamento dos recursos naturais proveniente desse sistema. Um dos entrevistados fala sobre
a noção de desenvolvimento sustentável como “moda”, isso reforça o que é percebido por
Chacon (2007) sobre a incorporação do termo Desenvolvimento Sustentável por algumas
iniciativas públicas e privadas, para atender às exigências de agências internacionais de
fomento.
Outro ponto notável nas falas analisadas é que, ao mesmo tempo em que se reconhece
a importância do projeto, alguns gestores e técnicos ressaltam as problemáticas causadas pela
execução da obra, como é exposto no Quadro 10:
Quadro 10 - Falas dos entrevistados acerca dos problemas causados pela execução da obra
Transcrição das falas
“As pessoas chegaram e começaram a entrar nas propriedades, nos quintais da casas, mais especificamente no
Baixio (+) e isso provocou muito mal-estar. Então, faltou por PARTE DESSE SETOR da Secretaria de Recursos
Hídricos, da empresa contratada (+), um diálogo melhor (+), isso é:: mais do que reconhecido, um diálogo
melhor com a comunidade (+) e: (+) COM OS AFETADOS mais diretamente (+). E isso provocou uma série
de outros problemas e outras discussões, e até hoje rola alguma coisa nesse sentido. É porque, de repente, a
abordagem ela não (+) não é tão apropriada pra você tratar com pessoas,...” (RUFFORDIA GOEPPERTII, H,
2019, informação verbal).
“/.../ Essas pessoas da engenharia sabe, elas são muito: cartesianas (+) elas não OLHAM (+) pra lagartixa, fica::
sabe, a obra quando vem os impactos ambientais, nunca o engenheiro (+) tem sentimento ambiental. Tá aí
Brumadinho, tá aí, é só isso (+) sabe? Ele::: tá construindo um açude, não quer saber da população impactada
com a poeira que vai sair, que faz 200 anos que mora lá, e que vai se impactar, não quer saber disso. (+) Ele
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quer construir (+) A EMPRESA. (+) Então, quando:: quando: o (+) Estado vai construir, não é o Estado (+)
,mas o Estado é responsável sim pelo entendimento, (+) e houve essa falha, e que causou um dano ENORME
ao processo” (ARAUCARITES VULCANOI, H, 2019, informação verbal).
“O que aconteceu foi que a empresa que tá contratada pra ELABORAR o projeto pra - - fazer topografia, essas
coisas..., chegou já invadindo as terra do pessoal. Chegaram derrubando cerca, árvore, fazendo picado no meio
da mata... Aí a comunidade (+) se armou contra eles” (ARAUCARIA CARTELLI, H, 2019, informação verbal).
”Então, (+) lá houve esse tipo de conflito (+). A empresa não qualificou os seus quadros devidamente pra
trabaLHAR (+) com aquelas pessoas (+). AÍ VOCÊ CHEGA (+) a uma comunidade, extremamente (+)
extremamente, extremamente é é é é:: TRADICIONAL, (+) que tem vivências ,(+) vivências SOCIAIS (+)
MUITO FECHADAS (+),e, de repente, VOCÊ ABRE isso aí pra dizer que ELE VAI SER DESAPROPRIADO
QUE ELES VÃO SER (+) REALOCADAS. (+) ISSO É UM CHOQUE!” (ARAUCARIOSTROBUS SP, H,
2019, informação verbal).
“[...] foi uma audiência pública MUITO diferente da que houve (+) em Missão Velha, que era só os meninos
do 5º ano e tal. Então aqui as perguntas eram ‘Vem cá, (+) quanto vão pagar pela terra? Como? /.../ Então, por
conta disso, de ser uma (+) além da Com-vida (Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida), tem um
outro fator (+), um: eles têm um sindicato rural atuante. Então o:: (+) pra você ter uma ideia, (+) acho que foi a
primeira delegacia sindical - - se não foi a primeira foi uma das primeiras - - criada a partir no Sindicato dos
Trabalhadores Rurais do Crato. Então, o pessoal tem uma consciência sindical /.../ Então, o que houve aqui no
Baixio que nós tivemos lá (+) é que aqui no Baixio havia um sindicato organizado, havia uma Com-vida
estruturada. Então, as pessoas, a começar dos estudantes do Fundamental II, passando pelos pais (+) deles, o
nível do pessoal era muito melhor e eles MUITO mais unido, lá não! /.../ Inclusive, QUANDO a empreiteira
chegou invadindo as propriedades, antes que (+) alguém tenha sido indenizado, eles chegaram (enfiando
máquinas) e tal... e num sei o quê. ‘Pera! Num é assim não! Pode parar, pode parar! Quem são vocês? Num é
do estado, nós num conversamos com vocês não, num vimos vocês na reunião e tal’. ‘Não, nós estamos aqui
fazendo uma topografia simples’. ‘Tinha que ter vindo, comunicado - oh! vai passar, as pessoas são essas’ /.../”
(BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019, informação verbal).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Em síntese, todos os entrevistados reconheceram que a abordagem de comunicação


adotada pelos executores da obra foi inadequada e que essa falha na comunicação e
esclarecimento dos fatos foi um dos fatores que fomentou as situações de conflito que existiram
até então. Também nas entrevistas, a dualidade das competências Estado-Terceirizada foi
exposta, cujos problemas na abordagem da população se deve à forma de comunicação da
terceirizada, sem eximir a parcela de erro do Estado nesse processo.
Vale ressaltar dois elementos importantes trazidos nesses discursos sobre a percepção
dos gestores acerca do impacto da obra nas comunidades: a noção do trabalho da engenharia
como algo cartesiano, no sentido de focado na operacionalização; e a expressão comunidade de
“vivências sociais muito fechadas”. Na primeira expressão, podemos refletir sobre como o
trabalho planejamento e implementação de um empreendimento de grande impacto carece de
um olhar humanizado. Martins (2020, p. 168), ao realizar o mapeamento afetivo dos moradores
de duas comunidades atingidas pelo CAC, apontou em suas considerações que é necessário um
olhar ampliado sobre todas as condicionalidades que envolvem um processo de desapropriação,
pois “[...] desapropriação não é só sobre indenização, mas sobre jornadas de vidas que serão
drasticamente modificadas por algo inesperado e não requerido”.
Sobre a segunda expressão, é possível verificar que o Estado desconhecia a força dos
vínculos sociais existentes no distrito. Essas vivências sociais ditas fechadas, na realidade, são
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uma expressão do forte senso de pertencimento ao lugar expresso pela comunidade, como
também de sua grande capacidade de mobilização social em vista de um bem comum, no caso,
as comunidades afetadas. Essas temáticas serão trabalhadas de forma ampliada no tópico 7.3.
Ressalta-se, portanto, a importância de atentar para os aspectos humanos na prospecção
de projetos hídricos de forma a capacitar a equipe que irá ao campo, e garantir o respeito às
pessoas que habitam nos territórios atingidos, pois, como ressalta Chacon (2007), quando se
utilizam os modelos de desenvolvimentos adotados em outras regiões, as políticas públicas
serão equivocadas.
Quanto à referência ao aspecto humano de perda do território; ao respeito à privacidade
das pessoas; bem como à garantia do direito de informação, foram identificadas algumas
questões. Dentre elas, destaca-se, além da sinalização do problema, propostas de melhorias para
novas execuções, como mostra o Quadro 11:
Quadro 11 - Falas dos entrevistados acerca das propostas de melhorias para novas execuções
Transcrição das falas
“Quando você vai (+) o poder público (+), quando você CHEGA a uma comunidade (+), você tem que levar
profissionais capacitados, que saibam EN-TEN-DER a comunidade (+) e mais, VOCÊ FAZER ENTENDER,
(+) QUE É O QUE É PRINCIPAL: (+) AS PESSOAS ENTENDEREM (+) O QUE É QUE (+) AQUELE
PROJETO (+) VAI TRAZER (+), não só desse, particularmente, MAS COMO DE toda uma SOCIEDADE. (+)
Porque aqui prevalece (+) o direito público e não o direito privado (+). Então, TEM QUE SE FAZER
ENTENDER ISSO. (+) Agora, quando você vai abordar... (+) aí (+) TÁ A DIFERENÇA do profissional que
tem uma experiência (+) e vivência em desapropriação” (ARAUCARIOSTROBUS SP., H, 2019, informação
verbal).
“Vê-se, normalmente só a parte técnica e faltou a humana. Deveria ter sido feito trabalho nas escolas, com a
comunidade para explicar. A educação ambiental deve ser antes da execução, e não durante” (JAGUARIBA
WIESEMANIANA, H, 2019, informação verbal).
“Então, eu... eu... eu... defendo que os valores de desapropriação têm que considerar (+) esses elementos todos
e, de repente, (+) esse estudo (+) desse valor, ele tem que ser feito por uma equipe que tenha (+) uma visão
também, do imaterial, como um bem (+) com um valor, pra poder (+) é... assim você (+) possa minimizar um
pouco (+) o sofrimento e a dor, ou a perda, melhor dizendo, que essa família vai ter com o (+), vamos dizer
assim, com a aquisição pelo governo /.../ dessa área que ele tanto (+) estimava. Quer dizer, tem a terra (+) e tem
os valores (+) imateriais que estão sobre esse ambiente” (RUFFORDIA GOEPPERTII, H, 2019, informação
verbal).
“Eu não me lembro. Não sei se teve. Até me interessa, curiosidade de ficar sabendo, de algum transtorno assim,
(+) de alguém que... que (+) ... ficou insatisfeito, transtorno familiar ou:: ficou na miséria, porque PIOROU (+).
Eu não sei de ninguém que possa ter piorado (+) de vida, de família, por conta disso. Eu não (+) me lembro se
houve algum, não tenho conhecimento. (+) É até bom saber essas coisas, porque, se tiver (+), eu acho que é um
caso de (+) o governo /.../ saber o que tá acontecendo, o social tem que dar resultado. Eu acho que até deveria
ter uma ouvidoria, uma coisa pra saber o que (+) teve” (TOMAXELLIA BIFORME, H, 2019, informação verbal).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como pode ser observado, foi reconhecida pela maioria dos entrevistados a necessidade
de se compreender as dinâmicas internas da comunidade e seus valores imateriais em um
processo de desapropriação. Elementos como a falta de preparo dos profissionais executores da
obra, ausência de ações em educação ambiental e falhas na comunicação sobre a condução da
obra são trazidos como alguns pontos de reflexões sobre as consequências do processo no
distrito afetado.
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Logo, cabe a reflexão sobre a necessidade da interdisciplinaridade na construção da


equipe, como também de um instrumento avaliativo de impacto que compreenda os elementos
subjetivos envoltos em um processo de desapropriação. A nível nacional, já existe uma
discussão sobre o modelo de Avaliação de Equidade Ambiental (AEA), proposto por Acserald,
Mello e Bezerra (2009), como uma possibilidade de superar as limitações do EIA/RIMA.
Internacionalmente, temos o exemplo do modelo de Diagnóstico de Impacto Social/Barcelona
(DIS/BCN), idealizado por Moreno e Pol (1999) como complemento ao EIA/RIMA, no qual
elementos sociais e simbólicos são mapeados para compreensão da realidade da comunidade
afetada.
Chama-se atenção para a fala de Tomaxellia biforme (H, 2019, informação verbal), que
demonstra não haver uma análise dos danos no processo de implementação de uma obra desse
porte. Mesmo havendo alguns estudos acadêmicos sobre o distrito afetado, o entrevistado
desconhece a dimensão dos impactos. A ignorância quanto às consequências de um
megaempreendimento na vida das pessoas não advém da falta de conhecimento a respeito, pois
há inúmeros trabalhos científicos que abordam a temática. É vista a necessidade do contato com
a realidade, do ir ao campo, do sair do gabinete e entrar em contato com a realidade (ALVES,
1953).
O analista ambiental Brachyphyllum insigne (2019, informação verbal) além de
conhecer o projeto do Cinturão e analisar na perspectiva de técnico, também teve sua família
atingida pela obra do PIRSF, e, portanto, consegue transitar entre ambos os aspectos. No
Quadro 12, expõe-se algumas de suas falas:
Quadro 12 - Falas do técnico Brachyphyllum que teve sua casa desapropriada
Transcrição das falas
“Eles (+) resolveram (+) ... lá tinha um túnel, então, quando chegaram pra cavar o túnel, esse cidadão, que era
vaqueiro mesmo, ele disse: ‘Doutor, esse negócio vai cair! ’, e o engenheiro perguntou: ‘Cê é engenheiro?’. Ele
disse: ‘Não, senhor, eu sou vaqueiro! Mas eu conheço serviço mal feito.’ E, de fato, quando eles tinham cavado,
acho que num tinha 200m, ele “puff”! ((gesticula com as mãos)). Sorte que foi domingo à tarde e num tinha
gente no serviço, mas teve perdas econômicas, perderam máquinas, etc. e tal (+). Então teve coisa desse tipo.
Uma coisa que eles não previam, por exemplo, o que fazer com... (+) com o material oriundo da escavação.
Eles esqueceram que quando a gente cava um buraco, sai terra, e o que é que vou fazer com essa terra?”
(BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019, informação verbal).
“/.../ então, outra coisa que aconteceu, pra você ter uma ideia, era assim: ‘Olha, (+) é preciso fazer o ca-das-tra-
men-to (+) das propriedades afetadas’. Tá! Nós fizemos esse cadastro TRÊS VEZES; primeira vez (+) pediram
os documento, a gente tirou cópia de TUDO e levou (++). Aí demora, sei lá, uns seis meses e tal. Eles dizem:
‘Olha, vamos precisar fazer o cadastro.’ ‘DE NOVO? MAS JÁ FOI FEITO!’. ‘Não ... mas é porque aquele
pessoal sumiu, levou o material’. Cadê (+) o controle? Cadê o acompanhamento das obras e tal? Então, tem
1002 problemas (+), tem erro de projeto, tem erro de execução, erro de acompanhamento (+), todos os ERROS
POSSÍVEIS! E aí o custo: quem pagou o custo disso tudo? Nós todos! A nação brasileira, dava pra ter feito
aquilo com muito menos custo (+), se fosse mais bem executado /.../” (BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019,
informação verbal).
“/.../ porque aconteceu com a gente lá, eles chegaram cortando arame (+) acabando com a cerca, os animais (+)
tudo SOLTO /.../ PELO AMOR DE DEUS! É uma coisa horrível” (BRACHYPHYLLUM INSIGNE, H, 2019,
informação verbal).
Fonte: elaborado pela autora (2020).
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Como pode ser observado, o entrevistado teve vários contratempos por conta da obra.
Na primeira fala, vê-se a necessidade de aproximação entre os saberes da comunidade e dos
técnicos. Em seguida, é vista a morosidade do processo de cadastramento para recebimento da
indenização, o que também está acontecendo nas comunidades do Baixio das Palmeiras, que
ainda estão no processo de negociação e cadastramento das famílias. Por fim, são trazidos os
danos materiais do processo, algo que se repete em várias comunidades afetadas por grandes
obras.
E um último aspecto a ressaltar é a percepção de gestores/técnicos sobre a relação do
morador com seu território, destacando-se:

[...] a importância da relação com a terra. Aquela mangueira que foi plantada porque
dá frutos e ele vive através disso.... Não tem como avaliar o impacto psicológico. Os
jovens não são tão impactados quanto os mais velhos. Os pais de família que não
morreram, ainda estão impactados pelo Castanhão (JAGUARIBA WIESEMANIANA,
H, 2019, informação verbal).

QUANTO VALE ISSO? Essa é a grande pergunta! Quanto é que vale esse ambiente,
essa ligação fortemente (+) construída ao longo de tanto tempo por um grupo familiar
que, de repente, (+) às vezes até passa GERAÇÕES, duas, três gerações, pode, em
alguns casos até existir isso. A família se reúne naquele ambiente pra se alimentar, pra
lanchar, pra brincar com a garotada e tal. /.../ Lá no Baixio mesmo é possível encontrar
várias famílias, não só uma, várias famílias com histórias diferentes (+), de relação
com esse ambiente que eles, de repente, estão perdendo (RUFFORDIA GOEPPERTII,
H, 2019, informação verbal).

Como pode ser notado nas falas, somente com o contato direto com a população e com
suas histórias de vida, os gestores puderam perceber que o impacto do CAC atravessava as
questões econômicas, trazendo danos também na esfera psicológica e social. Rodrigues et al.
(2012) ressalta a importância de aproximar o gestor da população local, de forma a preencher
lacunas no processo de gestão. Dessa forma, portanto, “[...] o reconhecimento das percepções
torna-se extremamente relevante para fornecer subsídios ao processo de gestão e formulação de
políticas públicas” (RODRIGUES et al., 2012, p. 101).
As entrevistas, aliadas à análise documental feita anteriormente, também
proporcionaram uma compreensão cronológica dos fatos relativos ao planejamento, à
implementação e à avaliação do projeto, expostas na mídia social. A linha do tempo (Figura
30), ilustrada a seguir, permite um maior conhecimento cronológico do projeto CAC,
mediatizado nas redes de comunicação. Tal linha do tempo fora construída partindo de relatos
de moradores, mapeamento artigos jornalísticos e de quatro dissertações realizadas nas
comunidades pesquisadas. A versão ampliada da linha do tempo estará disponível no Apêndice
H.
122

Figura 30 - Linha do Tempo do CAC

Fonte: elaborada pela autora (2020).


123

Como pode ser observado, apesar da obra ter sido apresentada pela primeira vez no
Crato na 1º Reunião Extraordinária do ano de 2010 do Conselho Municipal de Defesa do Meio
Ambiente do município, a comunidade atingida só tem conhecimento a respeito em 2012, com
as primeiras visitas dos funcionários da terceirizada contratada pelo governo do estado para
medição das áreas afetadas. Sem haver um diálogo inicial com os moradores, os funcionários
adentraram as residências e iniciaram as marcações. Tanto em Brito (2016), quanto em Tavares
(2016), Nobre (2017) e Martins (2020) há relatos de moradores falando sobre o incômodo e
indignação que essas visitas, referenciadas pelos moradores como invasões, lhe acometeram.
No mesmo ano, em resposta às demarcações e à falta de esclarecimento por parte do
governo do estado, os moradores, amparados pela Associação Rural Baixio das Palmeiras,
iniciam o movimento Somos Todos Baixio das Palmeiras. Como afirma Tavares (2016, p. 97),
a criação desse movimento “[...] representa a resistência e a mobilização social que aponta
alguns fios de esperança para a Comunidade Baixio das Palmeiras e para a organização e a luta
no município do Crato em torno da questão da água”.
O movimento segue suas atividades e pautas reivindicatórias até que, em 2015, é criado
o Fórum Popular das Águas do Cariri (FOPAC), estratégia que, como demonstra Brito (2016),
reune várias entidades locais para debaterem sobre os meandros das políticas de recursos
hídricos na região do Cariri, como também para realizar o controle social do andamento das
obras do CAC nas comunidades locais. Apesar de no momento atual está passando por um
período de desmobilização, o FOPAC é um espaço muito importante para o fortalecimento das
lutas da comunidade acerca dos impactos trazidos pelas obras, como também instrumento
importante para educação ambiental local, conforme será demonstrado no próximo capítulo.
Entre os anos de 2015 a 2018, foram realizadas diversas ações na comunidade, para
além das audiências requisitadas pela mesma, a fim de que o governo do estado trouxesse
esclarecimentos sobre os trâmites da obra. Nobre (2017) ilustra que várias atividades artísticas
e culturais floresceram nesse processo, como também grupos para pensar questões de gênero
no processo de condução da obra, a exemplo o grupo Nós Mulheres. Também foi nesse período
que foi criada a Casa de Quitéria, um espaço de difusão de cultura e preservação da memória
local.
Por fim, nos dias atuais (2018-2020), os atos dos movimentos sociais diminuem
gradativamente, mas a fiscalização sobre o processo de cadastramento dos afetados e
pagamentos das indenizações continua. Segundo Martins (2020), o processo de cadastramento
dos moradores encontra-se em finalização, muitos desses já estão notificados sobre a
desapropriação e já buscam novas moradias. Um fato intrigante prospectado pela autora é o fato
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de a maioria dos moradores optarem por se manter no distrito Baixio das Palmeiras, mudando
para propriedades próximas de suas antigas moradias. Na pesquisa, a autora aponta que isso
tem relação direta com o alto índice de sentimento relacionados à estima pertencimento na
comunidade.
Pode-se verificar os atrasos relativos à execução da obra, seja por motivos orçamentários
ou políticos. Tal atraso impacta na vida das pessoas que estão aguardando a indenização ou o
desfecho da obra para darem seguimento as suas vidas. Atualmente, a preocupação maior gira
em torno do pagamento das indenizações e dos efeitos do pós-obra nas comunidades afetadas.

7.2 A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DE HIDRORESISTÊNCIA FÓRUM POPULAR DAS


ÁGUAS DO CARIRI, FRENTE AOS CONFLITOS GERADOS PELO CAC NO BAIXIO
DAS PALMEIRAS

Os resultados nesse tópico serão apresentados de duas formas: por meio da linha do
tempo do Fórum Popular das Águas e das entrevistas analisadas a partir do método do discurso
do sujeito coletivo. No primeiro momento, a fim de caracterizar o movimento do Fórum Popular
das Águas do Cariri no seu processo de formação, será utilizada a linha do tempo construída a
partir de ofícios, atas, projetos, relatórios, notas, cartazes e programação de eventos do referido
fórum.
Analisando a linha de tempo (Figura 31), é possível compreender a trajetória de suas
ações desde sua fundação em 2015 até o ano de 2019. Como pode ser observado na ilustração,
a maior parte das ações do FOPAC foi concentrada entre os anos de 2015 e 2017. Durante esses
anos ocorreram várias atividades importantes para consolidação da resistência comunitária,
como audiências públicas, seminários das Associações Rurais do Baixo das Palmeiras,
Seminário das Águas do Cariri, lançamento do livro ‘Baixio das Palmeiras: Apontamentos
geográficos e historiográficos’, e o desenvolvimento das dissertações de Brito (2016), Tavares
(2016) e Nobre (2017). A versão ampliada da linha do tempo estará disponível no Apêndice I.
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Figura 31 - Linha do Tempo do Fórum Popular das Águas

Fonte: elaborada pela autora (2019).


126

Na descrição do fórum como movimento de mobilização social, empoderamento e


participação social, as falas dos respondentes das entrevistas realizadas com as lideranças serão
apresentadas na forma de DCS e organizadas pelas questões mais relevantes.
Observa-se a importância da hidroresistência dos moradores diante da implantação do
projeto de forma a reivindicar esclarecimentos e dirimir as dúvidas suscitadas. Nesta etapa,
serão apresentados resultados referentes às entrevistas realizadas com lideranças comunitárias
acerca dos impactos sociais do CAC e do processo de formação dos movimentos de resistência
ao processo de desapropriação decorrente da obra.
No gráfico abaixo (Gráfico 1) é visto que referente à resposta da comunidade atingida
ao processo de desapropriação ocasionado pelo CAC, a maior porcentagem é referente ao
processo de mobilização social, seguido da indignação dos moradores com o processo, o que
motivou a mobilização, o elemento surpresa, sentimento de preocupação com o ambiente físico
da comunidade e a falta de informações.
Gráfico 1 - Resposta da comunidade a desapropriação promovida pelo CAC

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Diante da pergunta: “Como a comunidade respondeu à ameaça de deslocamento


compulsório tratado como um problema ambiental?”, destaca-se o papel da associação e do
Fórum como mobilizador. A fala abaixo ilustra a necessidade dessa instância no processo de
informação e conscientização sobre a obra.

A Associação Rural do Baixio mobilizou a comunidade pra que esse impacto fosse
menor. Primeiramente, foi com reuniões, daí partiram pra caminhadas na rua, luta,
contato com a mídia, mobilização nas ruas, na estrada, em eventos com a participação
de pessoas de várias idades, jovens, idosos e mulheres. É nessa situação aqui que
127

acontece os movimentos. Então a gente procurou se organizar em comunidade, depois


foi mobilizando outros órgãos, pessoas representantes de empresas e do governo pra
que tivesse reuniões aqui e realmente explicassem essa situação melhor e fortalecesse
nossa luta. Inclusive nas primeiras reuniões, fizemos seminários grandes na escola da
comunidade pra explicarem realmente o que era. O Fórum é quem organiza os
movimentos. A partir do movimento, a gente fazia o chamamento para os eventos e
as pessoas compareciam. Então, esse Fórum articula, a gente aqui articula pro povo
participar (DSC 1a, 2020, informação verbal).

O fórum foi um resultado dos esforços coletivos para obter mais informações sobre os
trâmites da obra; informações que só foram acessadas por conta do empenho dos grupos sociais,
visto que os problemas iniciais da execução do CAC foram ocasionados por conta da falta de
informações sobre o que era o CAC, qual o seu propósito e porque aquele território estava sendo
atingido. Como foi visto no tópico anterior, os problemas na comunicação entre as entidades
executoras da obra e os moradores são também reconhecidos pelos gestores, que também
reconhecem a existência de movimentos de resistência ao CAC nas comunidades estudadas.
Logo, o FOPAC é um instrumento agregador.
Muitos dos discursos dos moradores revelam os seus sentimentos e percepções sobre a
obra, de forma que permite compreender como e por que se deu a formação do Fórum. O
elemento surpresa, a falta de uma comunicação oficial efetiva e a prestação de informação sobre
a condução do processo também são recorrentes nos discursos.

(H, Muquém): /.../ praticamente a comunidade estava (incompreensível) de num saber


DE NADA e ao:: momento (+) de imediato chega...chegou o órgão do governo pra
fazer uma obra com um VOLUME de desapropriação. Nessa envergadura ficou
totalmente (+) a: as pessoas (+), como dizem nós mesmo, a ver navios sem saber o
que fazer (CLADOCYCLUS GARDNERI, 2019, informação verbal).

A partir desse primeiro momento, no estabelecimento de um conflito baseado em falta


de informação, informações díspares e, com certeza, na insegurança do futuro, muitos se uniram
para colaborar com a população do distrito. A partir da análise dos relatos apurados, foi
observado que a população em questão possui grande habilidade em mobilização e articulação.

Quando a Associação e o Sindicado não tinham mais capacidade de negociação com


os órgãos governamentais, houve a necessidade de formar o Fórum Popular das Águas
para agilizar o trâmite da comunicação entre a comunidade e o governo. Foi uma
construção coletiva, como um encaminhamento político do seminário que houve, a
partir das oficinas, do debate e dos parceiros, para os moradores entenderem o impacto
dessa obra. O Fórum é um instrumento de luta com relação aos danos que vem pra
gente, não só aqui na comunidade, mas também na comunidade do Monte Alverne,
Poço Dantas e Barbalha. Ele é composto por várias pessoas, até pesquisadores,
professores, advogados e assistentes sociais (DSC 7a, 2020, informação verbal).
128

Essas articulações foram necessárias para a manutenção do processo de mobilização que


permaneceu forte graças as parcerias estabelecidas e ao apoio recebido pela sociedade civil,
ministério público, entre outros. Como pode ser visto no gráfico a seguir (Gráfico 2), apesar da
mobilização inicial da comunidade também ser bastante importante, a ampla adesão dos
parceiros foi relevante para a popularização do FOPAC.
Gráfico 2 - Bases de apoio social para organização do FOPAC

Fonte: elaborado pela autora (2020).

As discussões político-econômicas, fundamentadas sob a égide do desenvolvimento


como crescimento econômico, embasam a consecução dos projetos hídricos, mas que, na
verdade, se constituem em desenvolvimento excludente, pois somente abrange parte da
população. Como foi abordado em Martins (2020), a montagem da agenda política da pasta de
gestão das águas no Ceará é diretamente influenciada pelos modelos macroeconômicos de
vigência. Quando esse modelo prima pela percepção de água como recurso para se alcançar o
desenvolvimento e monetizam este, estratégias que possam reforçar setores como o
agronegócio e complexos industriais podem ganhar protagonismo, em detrimento das
populações afetadas.
Quando é observado o efeito colateral da ação governamental planejada, nesse caso as
desapropriações geradas pelo CAC, é possível afirmar que na verdade, não é somente uma terra
que se perde ou uma casa que será destruída em uma desapropriação, mas toda uma história de
relações sociais e memória coletiva. Isso pode ser confirmado pelo seguinte discurso do
morador da Chapada: “/.../ tem a devastação (+) não só da natureza, mas de todo um ambiente
de uma comunidade (+) o derlocamento de pessoas que não vai conhecer seu vizinho da direita
nem da esquerda, ‘e: isso tudo a-feta’”(PARAELOPS CEARENSES, 2019, informação verbal).
129

Wanderley (2001) ressalta que em consequência de “[...] análises setoriais descontínuas


e deslocadas dos processos mais abrangentes da sociedade atual, são construídas políticas que
não consideram a lógica econômica e a coesão social anteriores às situações de ruptura
representadas pela exclusão” (WANDERLEY, 2001, p. 22). Almeida (2015) assevera que a
exclusão social impede a participação dos atores na esfera pública e que somente a inclusão
social pode assegurar o exercício pleno da cidadania.
Política pública essa, quando se fala sobre o CAC, criada em função de um problema
que não é da comunidade, conforme Calamopleuros Cylindricus argumenta no sentido de que
proporcionar água para outros não pode acontecer em detrimento da comunidade perder sua
água.

(H, Palmeiras): /.../ a comunidade, pra pra comunidade e pra mim e pra minha família
foi (+) o pior impacto que a gente já teve na comunidade (+) porque:: (+) a gente não
não quiria (+) que deixasse de passar (+) a... a obra aqui, mas que ela respeitasse os
direitos da gente (+)... quer dizer, procura-se afetar menos as ...as condições de
moradia, é... é... é... respeitasse e... e comunicasse a gente /.../ aí eles foram vendo que
a comunidade era organizada, que a comunidade não aceitava do jeito que eles
queriam. (+) ninguém tava impatano que o governo fizesse a obra dele, que é uma
obra que vai servir pra algumas comunidade, pra algum povo de outro lugar. Agora
que nois não justifica (+) é que (+), pa servir a outras comunidades de fora, fosse
preciso matar a nossa (+). Isso nois não vamo aceitar! Nem aceitemo e nem vamo
aceitar (+) que pa salvar outras pessoas lá de fora seja preciso matar nois aqui, ‘acabar
com a nossa comunidade’. Disso o governo pode ficar certo, que nois não vamos
aceita. Aceita (+) a conversa e a modifica, a ampliar, tudo isso nois aceita (+), e foi
dito na promotoria do Crato (CALAMOPLEUROS CYLINDRICUS, 2019, informação
verbal).

O discurso de gestão participativa esconde arbitrariedades que são determinantes na


manutenção da vulnerabilidade socioambiental nas comunidades atingidas; principalmente em
áreas rurais, que além de conviverem com condições climáticas adversas, ainda enfrentam a
lógica perversa da exclusão (SAWAIA, 2001) omitindo-os do processo de participação e
tomada de decisão e, implicando-os, ainda mais, como “objetos” resultantes de injustiça
ambiental.
Quando perguntado sobre como se deram as negociações com os atores envolvidos no
planejamento do projeto, a comunidade desvela a exclusão vivida, percebida e sentida:

(H, Muquém): EM NENHUM MOMENTO, em nenhum momento ((repete


afirmando)) toda reuniões que nós fomos com promotor na área do estado, na área
federal (+) e os defensores público também, nós dissemos que num queria que a obra
fosse feita, nós queria (+) que a comunidade pudesse ser ouvida, porque, do jeito que
tava ,só o governo era quem tinha a voz e a vez, e a comunidade só ia ficar só com a:
(+) depreciação de suas terras e suas moradias /.../ (CLADOCYCLUS GARDNERI,
2019, informação verbal).
130

(H, Chapada): Através de audiência, (+) aqui nessa própria escola mesmo, eles
apresentaram um gráfica aí mermo (+). Mermo sem a gente entender os gráfico deles
(+), mas aí /.../ se comprometero a fazer umas restrições em alguns (+) trechos da
obra, diminuir num canto pra avançar mais pra cima (PARAELOPS CEARENSES,
2019, informação verbal).

Ressalta-se a importante atuação da associação no sentido de ser a voz e dar visibilidade


a luta da comunidade, inclusive, atuação que permitiu mitigar os efeitos danosos do projeto
para o distrito. Como pode ser observado a seguir, tendo como base os dados coletados nas
entrevistas, (Gráfico 3), a grande mobilizadora do processo de participação social local foi a
Associação Rural Baixio das Palmeiras, tendo tanto moradores como colaboradores também,
só que em menor escala.
Gráfico 3 - Principais atores sociais de mobilização para reduzir os impactos socioambientais
da desapropriação

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Historicamente, o conflito por água permeia as relações sociopolíticas, agravado,


atualmente, pelas discussões referentes à sustentabilidade ambiental que esconde, muitas vezes,
a real intencionalidade das práticas desenvolvidas.

Entretanto, em um país com uma cultura política marcada por relações clientelistas e
paternalistas, a implantação de um modelo de gestão participativa acaba sendo
permeada por contradições e ambiguidades. Além dos conflitos e divergências de
interesses, os agentes envolvidos confrontam-se com as assimetrias de poder, de
conhecimentos e de habilidades, com a legitimidade das representações, com práticas
arraigadas de gestão tecnocrática e centralizada, enfim, com toda a ordem de
dificuldades (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2004, p. 51).
131

Percebe-se a falta de transparência nas informações, uma vez que a comunidade a ser
atingida desconhecia totalmente o que estava por acontecer.

(H, Muquém): Olha, a informação inicial e outras que ele queria (+) de ter havido
reuniões na comunidade num foi feita nenhuma reunião (+) por parte do governo na
comunidade, toda a reunião que houve, que o governo veio, foi que nós provocamo o
governo pra que ele viesse, certo? (CLADOCYCLUS GARDNERI, 2019, informação
verbal).

Burzstyn (2008) e Ituarte (2009) descrevem a questão da gestão dos recursos naturais
como potencializador de conflitos permeados por diversas concepções sobre os valores
atribuídos a eles, sendo, muitas vezes, deslocado o recurso de um lugar para desenvolver
atividade produtiva em outro: “O debate e o conflito em torno da qualidade da água, muito
provavelmente, virão à tona cada vez mais, assim como a oposição das comunidades
locais/regionais ao ver suas heranças naturais destruídas em prol do desenvolvimento de
atividades de produção externa” (ITUARTE, 2009, p. 92, tradução nossa).
Burzstyn e Persegona (2008, p. 13) afirmam que “[...] a gestão do meio natural (hoje
recursos naturais) sempre foi a base dos sistemas econômico, social e político e serviu de pano
de fundo para os conflitos entre os povos”. Conflitos, esses, estabelecidos pela inapropriada
gestão das políticas, como omitir da comunidade o projeto que a afetava diretamente. Segundo
destaca, o morador da Chapada, Paraelops cearenses (2019, informação verbal): “Na realidade,
quando a comunidade (+) teve conhecimento da obra, foi por... (+)... foi de surpresa, porque
eles já chegaram (+) atrás dos quintal das pessoas, invadino as (+) as propriedades pra fazer al-
gumas demarcações”.
Tais dados corroboram com o que foi apresentado por Nobre (2017) e Martins (2020)
em seus estudos. O primeiro autor, que em sua dissertação focou nos impactos da chegada do
CAC na organização social da comunidade, apresentou algumas falas, apontando a aflição
gerada pelas medições que foram realizadas sem aviso prévio e nem consentimento dos
moradores. A segunda autora, que direcionou seu estudo para compreender os impactos
psicossociais do CAC, a partir da categoria afetividade, ilustrou que todos que foram abordados
por ela na pesquisa afirmaram que a abordagem inicial causou sentimento de insegurança,
indignação e aflição.
Verificou-se na comunidade, por parte das lideranças comunitárias e agentes de saúde,
a percepção de que os idosos foram os mais afetados, inclusive com prejuízos na saúde física e
mental, afetando o sono e ocasionando depressão nesta população, conforme pode ser
132

observado no discurso e Gráfico 4 a seguir. Os dados apresentados nesse gráfico são


provenientes dos discursos dos sujeitos entrevistados nessa etapa.
Os idosos são os mais afetados, porque passou toda essa vida aqui nessa comunidade,
eles se abalam muito mais, eles sofrem muito mais, porque eles têm uma maior
identificação com o seu terreno, nasceu, cresceu e viveu ali, e se viam obrigados a sair
pra outro canto, aí ficou todo mundo apavorado. Esse projeto vem pra danificar a
história que foi construída há tanto tempo, realmente, mexe muito na história, isso aí
é muito complicado porque vai mexer com o sentimento das pessoas, então, os idosos
sentem mais (DSC 2a, 2020, informação verbal).

Gráfico 4 - Membros das famílias mais afetadas pelo processo de migração compulsória por
meio da desapropriação

Fonte: elaborado pela autora (2020).

No gráfico abaixo (Gráfico 5) é mostrado que a maioria dos sujeitos abordados nesse
estudo ficaram sabendo sobre o CAC a partir da chegada dos trabalhadores da empresa
terceirizada para medição das propriedades a serem desapropriadas, em seguida alguns
souberam por representantes da SRH, da terceirizada da obra e dos movimentos sociais na
comunidade.
Gráfico 5 - Como a comunidade teve acesso à informação do projeto CAC

Fonte: elaborado pela autora (2020).


133

Questiona-se, portanto, a real efetividade da participação da comunidade, conforme


apresentado no EIA/RIMA, uma vez que o relato das lideranças desvela desconhecimento da
comunidade em relação ao projeto.

Se temos informações sobre a obra, foi a comunidade que buscou através da


Associação Rural do Baixio das Palmeiras. Um dos primeiros órgãos que nos
assessorou foi a Escola Estado da Paraíba do Crato, tendo como representante o
professor Paul Bento. Buscamos informações na APA, sendo o representante Willian
Brito, que na época era chefe. A Universidade Regional do Cariri, através de Roberta
Piancó, nos assessorou com várias de suas pesquisas na comunidade, a Promotoria,
Defensoria Pública através do procurador doutor Emanuel e o Ministério Público para
obter informações pela justiça e exigir que eles viessem mostrar o projeto e enviasse
informações, porque ninguém nem sabia quem ia ser indenizado, hoje todo mundo já
sabe. Tivemos audiência com a Secretaria de Direitos Humanos realizada na Câmara
Municipal, forçando ainda mais esse direito à informação. Provocamos audiência com
o pessoal da SDA, pois o próprio município não tinha conhecimento, pois na época,
o atual prefeito assinou a anuência talvez sem nem ter conhecimento. Hoje a
comunidade ainda luta contra a falta de informação, porque o próprio estado sempre
negou, como ainda hoje nega (DSC 9B, 2020, informação verbal).

Carvalho (1998) e Chacon (2007) salientam que a participação como oferta estatal se
constitui na generalização do discurso da participação, da democracia e da cidadania, mas
historicamente foi restrita a determinados grupos. Silva, Ferreira e Santos (2017) discutem que
o problema da governança da água não está na escassez do recurso natural, mas na capacidade
de desenvolver políticas mais eficazes que promovam a participação social, possibilitando aos
cidadãos discutirem sobre os seus problemas.
Toda essa mobilização, em prol do direito a participação e tomada de decisão, saiu das
discussões internas no âmbito da associação comunitária e alcançou proeminência ao atingir
outras camadas da sociedade civil, que acionaram o poder público local para que a situação
fosse esclarecida. E somente através das reuniões e audiências públicas, a maioria dessas
convocadas à pedido da comunidade ou por meio de denúncias ao Ministério Público Federal,
foi que a comunidade, ao saber do que se tratava, pode negociar, conforme apresenta o Gráfico
6 abaixo.
134

Gráfico 6 - Como se deu a negociação e informação para as mudanças no projeto CAC após
as primeiras medições

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Desta forma, conseguiram algumas conquistas em relação ao desenho do projeto inicial,


como redução do número de casas, além de algumas propostas que reduzissem os efeitos
danosos que ocorrerão no período da construção.

(H, Palmeiras): /.../ teve muitos (+) embates, teve muitos (+) é:: os seminários, os
seminários veio muito pra (+) é:: reformular o projeto, que eles queriam, que o projeto
passasse com 100 metro de um lado e de outro (+) então teve (+) toda essa contestação
da comunidade. /.../ o Ministério Público, o Ministério Público ajudou muito (+) nessa
questão também (+) é::: inclusive teve a reunião agora a pouco que (+) tá po Ministério
Público também (+) retornar /.../ uma situação. /.../ teve audiências pública, Câmara
de Vereadores, então, ESSES FATORES contribuiu muito pra que:: fosse realmente
revisto algumas coisas desse projeto (SANTANACLUPEA SILVASANTOSI, 2019,
informação verbal).

A comunidade, além do cuidado com seu meio ambiente, matas nativas, inúmeras
plantas medicinais e aves existentes na localidade, manifesta a preocupação com as
modificações a serem realizadas pela obra no relevo da chapada.

(H, Muquém): EM NENHUM MOMENTO, em nenhum momento ((repete


afirmando)) toda reuniões que nós fomos com promotor na área do estado, na área
federal (+) e os defensores público também, nós dissemos que num queria que a obra
fosse feita, nós queria (+) que a comunidade pudesse ser ouvida, porque do jeito que
tava só o governo era quem tinha a voz e a vez, e a comunidade só ia ficar só com a:
(+) depreciação de suas terras e suas moradias /.../ (CLADOCYCLUS GARDNERI,
2019, informação verbal).

Shiva (1997, p. 11) destaca que


135

[...] a lógica perversa de financiar a conservação da biodiversidade com um pequeno


percentual de lucros gerados por sua destruição significa legitimar a destruição, e
reduzir a conservação a algo para ser apenas contemplado, em vez de algo que é a
base da vida e da produção. Nem a sustentabilidade ecológica nem a sustentabilidade
de meios de vida podem ser garantidas sem uma solução justa para a questão de quem
controla a biodiversidade.

O diálogo entre economia e ecologia é complicado, destacam Burszstyn e Burszstyn


(2012), uma vez que ao agregar o ambiente às discussões, surgem questionamentos sobre o
“bem livre”, ou seja, recurso disponível em abundância que não pode ser objeto de apropriação
do mercado, por exemplo, o ar e a água (AFONSO, 2013).
“Só recentemente, com a evidência de que os recursos ambientais (ar, água, solo, etc.)
são bens essenciais a serem preservados em sua qualidade, passou a ser questionada a ideia de
que o bem livre não deve constituir objeto de preocupação da economia” (BURSZSTYN;
BURSZSTYN, 2012, p. 45). Gradativamente, torna-se importante a discussão sobre a gestão
das águas, de forma a promover a utilização eficiente da água para todos os segmentos sociais,
trazendo à mesa de negociação poder público e sociedade civil.

A gestão participativa de recursos hídricos deveria promover também uma gestão


participativa do planejamento e ordenamento territorial...E quaisquer ações no sentido
de promover a gestão territorial sustentável deveriam ser consideradas como formas
de beneficiar a gestão de recursos hídricos, e como um processo educativo sobre
gestão ambiental em sentido amplo (SAITO, 2011, p. 4).

Como salienta Méndez-Sastoque (2016), a competência para comunicação dialógica


precisa ser aprendida, superando a verticalidade das relações, partindo do princípio de acreditar
possuí-la para, então, ser treinado no desenvolvimento dessa habilidade, e , assim, utilizando-
se do direito à livre expressão, aprenderão a denunciar as injustiças, a negociar e tomar decisão,
“Isto porque, além da falta de tradição na participação social, há ausência também de vivência
da explicitação e resolução consensuada de conflitos” (BERLINCK et al., 2003, p. 45). Além
de que as pessoas precisam aprender a participar (MÉNDEZ-SASTOQUE, 2016).
Essa aprendizagem é processual, iniciada pelo Fórum, mas que não atingiu a totalidade
dos moradores. Como pode ser visto no gráfico a seguir (Gráfico 7), os números referentes à
participação da comunidade no movimento de resistência, por meio de participação em
reuniões, passeatas, seminários locais, atividades promovidas pelo FOPAC e atividades
culturais, são bastante expressivos, demonstrando a força do engajamento comunitário.
136

Gráfico 7 – Participação da comunidade no movimento de hidroresistência

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Os moradores relatam que o grande engajamento aconteceu no início, quando da procura


por informações, e assim houve uma maior mobilização. Com o desenrolar das negociações, o
movimento foi enfraquecendo, apesar das lideranças estarem até o momento articuladas no
sentido de garantir os direitos dos atingidos.

O envolvimento no primeiro momento foi de praticamente 100%. Mas, à medida que


alguém vai recebendo sua indenização, esse número vai diminuindo, com algumas
variações entre 90 e 80% dos atingidos que ainda não foi indenizado. Foi notado que
eles queriam pagar primeiro alguém da liderança que tivesse grande poder de
convencimento nos demais, mas não aceitamos. Também tentaram indenizar aquelas
pessoas que tinham mais acirramento com eles para contê-la, estratégia de empresa,
do governo. A medida que vão indenizando, as pessoas vão perdendo o interesse pela
luta, como em trechos que a luta continua, mas não como no início (DSC 11D, 2020,
informação verbal).

Véras (2001, p. 33) salienta que “[...] cidadania é também o direito de permanecer no
lugar, no seu território identitário, o direito a seu espaço de memória. Dessa forma, as
associações atuam como responsáveis por fomentar em seus membros, segundo Putnam (2006),
os hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público.
Cribb e Cribb (2007) destacam que para que haja desenvolvimento sob a perspectiva da
sustentabilidade ambiental, as pessoas precisam mudar seus comportamentos, suas atitudes e a
própria concepção de meio ambiente, de forma a conhecer os problemas ambientais e suas
consequências para a vida humana. Perceberem-se, portanto, parte desse ambiente (CAPRA,
1996; MORIN, 2002). Isso pode ser notado em alguns relatos dos moradores, conforme
demonstrado a seguir.
137

(H, Palmeiras): E os (+) os próprios agricultores, eles dizem o seguinte: ‘não faz o
menor sentido.. é:: (+) eu (+) moro aqui (+) ,trabalho minha terra aqui do lado, aí
minha casa vai ser atingida, eu vou morar numa outra comunidade, como é que eu
vou trabalhar na minha terra?’ /.../ você ter relações ainda, não capitalistas, por
exemplo, o cara plantou o feijão, a primeira (+) a primeira colheita do feijão, ele dá
pro vizinho, ele dá pro amigo (+) Então, tem muito disso aqui, porque todo mundo se
conhece (+) mas aí essa é a ideia de desenvolvimento, esse era um discurso que eles...
que eles apresentaram /.../ (NEOPROSCINETES PELNALVA, 2019, informação
verbal).

Como ressalta Almeida (2015, p. 1057), “[...] quando há regularidade nos


procedimentos, mesmo que a decisão caminhe em direção oposta a que prevaleceu, há a
consciência de que a autonomia política foi respeitada; que é o que não acontece quando há
irregularidades”. No caso do FOPAC, a situação gerada pelo conflito fez com que a resistência
surgisse, como forma de defender o território e também obter esclarecimentos sobre o que de
fato o CAC significava e como ele seria implementado.
Portanto, na verdade, essa tese procura ser mais uma voz alardeando que as políticas
públicas precisam servir a quem delas precisa, no efetivo alcance de uma gestão participativa
de processos promotores de migração compulsória, como a desterritorialização. E tal
empreendimento somente poderá ser alcançado na medida em que os idealizadores e
planejadores aproximarem-se da população. “Conhecer como as pessoas percebem, vivenciam
e valoram o ambiente em que se acham inseridos ou que almejam é uma informação crucial
para que os gestores de políticas públicas e de áreas afins possam planejar e atender as
demandas sociais” (KUHNEN, 2011, p. 253).
E talvez, dessa forma, os gestores possam entender o que existe naquele território capaz
de promover resistência que, segundo Torres (2007, p. 44), é o movimento de levante contra
“as firmas” e contra o Estado, patrocinadores da “[...] invasão institucionalizada em favor das
grandes empresas em detrimento do interesse das populações locais”.
Compreender as relações simbólico-afetivas com o lugar poderá promover uma gestão
mais eficiente e mais integradora, do mesmo modo que o olhar para si mesmo, para sua própria
realidade familiar, a ligação dos seus parentes com o território, principalmente dos idosos, quem
sabe, poderá aproximar a realidade de quem executa e de quem se submete à legislação.
Estudos sugerem que a interação pessoa-ambiente é importante na constituição da
subjetividade, pois “[...] habitar é uma demanda básica do ser humano e compõe sua
territorialidade, ou seja, a apropriação e o pertencimento” (ALBUQUERQUE; GUNTHER,
2019, p. 17).
138

(H, Palmeiras): Identidade! Identidade com o local é o fator fundamental. Nosso


lugar, graças a Deus (+), todos que vem aqui, gosta desse lugar, do Baixio das
Palmeiras, todo mundo que vem aqui. /.../ Se as pessoas gosta de fora, vem e gosta
dessa lugar, imagina nois (+) que já mora aqui desde quando ((ri)) nascemo. Então
,isso, a identidade (+), é o fator fundamental de nois não querer sair daqui de jeito
nenhum. Nois quer ficar aqui, construir nossa história aqui, mesmo que seja obrigado
a mudar de local, mais nois quer (+) permanecer aqui nessa comunidade, porque aqui
((fala emocionalmente)) /.../ nois não quer ir pra fora, nois quer ficar aqui e (+) só sai
daqui quando Deus nos chamar (SANTANACLUPEA SILVASANTOSI, 2019,
informação verbal).

O gráfico abaixo é demonstrativo dos sentimentos predominantes nestas comunidades


que as impelem a lutar pelo direito de permanecer.
Gráfico 8 - Por que as famílias afetadas optaram por permanecer na comunidade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Portanto, na verdade, o que a comunidade reivindica é o seu território de vida


(QUINTANAR, 2009). É o direito de permanecer, questionando a real necessidade de migrar,
ou a conveniência de ter que fazê-lo para satisfazer outrem.
Os moradores reafirmam, portanto, seus laços afetivos que os tornam pertencentes ao
lugar e permitem que adotem comportamentos em defesa do território. Como ressaltam
Hernández et al. (2010), a identidade de lugar é importante no desenvolvimento de
comportamentos pró-ambientais.

Os laços de família, pois aqui foi onde nós criamos nossos filhos, foi onde educamos
nossos filhos, você tem uma geração aqui, tem pai e mãe, avós, tudo, então isso nos
cativa e nos une mais. É uma questão de afetividade, você continua com o seu umbigo
enterrado ali naquele local (DSC 4, 2020, informação verbal).
139

Scannell e Gifford (2010) discutem que a “Evidência adicional de que o apego a um


local se baseia em emoção vem da literatura sobre deslocamento, quando os indivíduos devem
deixar seus lugares, como no caso de um desastre ou guerra, imigração ou realocação” (p. 3).
Por fim, além de o FOPAC ter sido um instrumento importante para a defesa do
território, foi espaço importante para discutir estratégias de preservação do ambiente do
entorno, como também a necessidade de mitigar os danos a flora e fauna local. Como é apontado
no discurso do morador e líder comunitário do Muquém, Obaichthys decoratuss (2019,
informação verbal), os questionamentos sobre até que ponto a água é considerada um bem
comum pelo poder público são constantes:

(+) NADA VEM PRA GENTE, pra o agricultor, principalmente aqui. O pessoal fala
muito que não vem (+) benefício da água. Só que a gente já andou vendo, fazendo
alguma coisa. A gente tem o direito (+)! Nois temos o direito de... de ter (+) o ponto
d’água, e isso tem um custo, tem um gasto, tem toda uma elaboração de documentação
pra que você tenha um ponto da água que se chama outorga, que é um ponto de direito
que a gente tem (+), que não é tão fácil de a gente adquirir porque tem gastos. A gente
tem que ter gastos com essa questão (+) mas a gente (+) tem direito sim, porque a
água é universal, é um direito da humanidade, então a gente tem o direito. Como esse
direito? Restrito? Sim, porque a gente sabe: o poder de fogo é menor (+) devido à
questão do poder (+) financeiro. Até odeio essa questão, porque a gente sabe que o
país tem esse lado, manda quem tem e a gente tem que obedecer. Mas a gente tem que
discutir, a gente tem que chamar pra discutir, porque eu acho que (+) é a voz e a vez
de nois, e nois tem que falar, nois tem que bater assim, de frente, tem que discutir, da
melhor maneira que a gente sabe (+), com a comunicação que a gente tem, o
conhecimento que a gente tem, por ser agricultor, por ser da roça (+) mas a gente TÁ
VENDO e a gente tá aprendendo (+) e a gente tem que discutir (+), tem que debater.

A preocupação com o acesso à água e a preservação dos recursos naturais também


aparece em Martins (2020), quando em uma das falas analisadas pela autora, um morador fala
sobre o temor acerca do futuro de áreas simbólicas, como o Olho D’água do Muquém, lugar
que deu origem a comunidade. Em Brito (2016), vemos que surgiram algumas iniciativas com
o foco em educação ambiental, também na escola da localidade do Muquém, onde foi criada a
Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA), além de ações sobre a
preservação dos espaços naturais da comunidade, da cultura da agroecologia e do cultivo de
sementes crioulas.
140

7.3 RELAÇÕES DE APEGO, IDENTIDADE DE LUGAR, COESÃO SOCIAL E


SATISFAÇÃO RESIDENCIAL DOS MORADORES DO DISTRITO BAIXIO DAS
PALMEIRAS, ATINGIDOS PELO CAC

No presente tópico serão apresentados os resultados e a discussão dos dados referentes


a aplicação do Survey. Inicialmente, apresentaremos o perfil socioeconômico da amostra,
seguido dos índices apurados a partir da aplicação do instrumento de pesquisa, referente as
quatro categorias elencadas: apego, identidade de lugar, coesão social e satisfação residencial.
Em seguida, será feita a discussão de cada categoria, tendo como base os dados
levantados.

7.3.1 Perfil socioeconômico

Participaram deste estudo 150 moradores. É válido ressaltar que este estudo compreende
moradores afetados pela obra em três vertentes: moradores que serão desapropriados,
moradores que perderão bens imobiliários, como terrenos e benfeitorias, mas não passíveis de
desapropriação; e lideranças comunitárias.
Os dados da Tabela 2 correspondem ao quantitativo de moradores pesquisados por
comunidade, demonstrando haver uma prevalência de moradores entrevistados da localidade
Baixio das Palmeiras.
Tabela 2 - Quantitativo de moradores pesquisados por comunidade
Lugar
Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem válida acumulativa
Válido Baixio do Muquém 51 34,0 34,0 34,0
Baixio das Palmeiras 61 40,7 40,7 74,7
Chapada 22 14,7 14,7 89,3
Baixio dos Oitis 16 10,7 10,7 100,0
Total 150 100,0 100,0
Fonte: elaborada pela autora (2020).

A Tabela 3 expressa as características sociodemográficas dos moradores. Encontrou-se


que a maioria pesquisada é do sexo feminino (59,3%), com maior proporção de pessoas com
50 anos ou mais, tendo a raça preto/parda apresentado 76,7%. Observa-se, portanto, a
141

predominância de pessoas de idade intermediária e idosos, corroborando os escritos de


Quintanar (2009) sobre a prevalência de idosos em comunidades rurais.
Conforme pode ser constatado, a maior parte dos moradores possui apenas um filho
(27,3%), equiparando-se o quantitativo de quem tem de quatro acima, a quem não possui
nenhum (20,7%). Observa-se que a comunidade possui um perfil elevado de nativos (82,7%)
em relação aos não-nativos (17,3%). Considera-se nativo aquele que sempre residiu na
comunidade, seu lugar de origem. Os não-nativos foram divididos em quatro faixas de tempo
de acordo com o tempo de moradia na localidade.
Os moradores nativos têm uma forte ligação com o lugar. Um dos indicadores apontados
nos discursos dos moradores, durante a aplicação do instrumento, é que possuem descendências
dos índios Cariris que habitaram essa terra, “[...] ricas em recursos hídricos e constituídas por
uma grande biodiversidade em fauna e flora” (NOBRE, 2015, p. 23). Essa vinculação dos
habitantes dessas comunidades à sua habitação e vizinhança é reconhecida fora da localidade,
conforme declaração de um gestor local.
Tabela 3 - Distribuição do número de moradores, segundo as características sociais
Características N° %
Sexo
Masculino 61 40,7
Feminino 89 59,3
Faixa etária
18 a 25 anos 12 8,0
26 a 33 anos 25 16,7
34 a 41 anos 21 14,0
42 a 49 anos 18 12,0
50 anos ou mais 74 49,3
Etnia
Branco 31 20,7
Preto/pardo 115 76,7
Quilombola 1 0,7
Número de filhos
Nenhum 31 20,7
1 41 27,3
2 23 15,3
3 24 16,0
4 ou mais 31 20,7
Religião
Católico 135 90,0
Outra 15 10,0
Estado civil
s/ companheiro 56 37,6
c/ companheiro 93 62,4
Nasceu na comunidade
Sim 124 82,7
Não 26 17,3
Tempo na comunidade em anos
2 a 24 24 16,4
25 a 49 61 41,8
142

50 a 59 32 21,9
60 a 81 29 19,9
Fonte: elaborada pela autora (2020).

Na Tabela 4, a escolaridade dos moradores apresentou predominância no ensino médio,


com 36% (54 moradores), seguido pelo Fundamental 1 (antigo primário), com 30,7% (46
moradores), e 15,3% (23 moradores) com nível superior. Observa-se que há predominância de
agricultores (43%), o que já era esperado pela especificidade da residência em área rural. A
renda mensal individual de até 1 salário mínimo é recebida por 60,8% e a renda mensal per
capita familiar de até 1, e de 2 a 3 salários mínimos não apresenta diferença estatística, sendo
de 38,4%.
Tabela 4 - Distribuição do número de moradores, segundo as características econômicas
Características N° %
Escolaridade
Não estudou 8 5,3
Fundamental 1 46 30,7
Ensino médio 54 36,0
Superior 23 15,3
Trabalha
Não 48 32,2
Sim 101 67,8
Profissão
Agricultor 64 43,0
Funcionário público 21 14,1
Comércio/autônomo 14 9,4
Aposentado/pensionista 11 7,4
Outras categorias 18 12,1
Renda mensal individual SM
Até 1 90 60,8
2a3 26 17,3
3a4 10 6,8
5 ou mais 2 1,4
Nenhuma 20 13,5
Renda mensal familiar SM
Até 1 56 38,4
2a3 56 38,4
3a4 25 17,1
5 ou mais 9 6,2
Fonte: elaborada pela autora (2020).

Em relação às condições de moradia (observe a Tabela 5), os dados são indicativos de


predominância de casas de alvenaria, mas ainda existem 26 casas de taipa e 3 que são mistas,
parte taipa, parte alvenaria. Os imóveis próprios correspondem a 90,7%. A comunidade é bem
abastecida quanto ao fornecimento de água, pois 64% recebe água da Sociedade Anônima de
Água e Esgoto do Crato (SAAEC).
143

Uma outra forma de abastecimento da comunidade é através do Sistema Integrado de


Saneamento Rural (SISAR) que é uma organização formada pelas associações comunitárias
que possuem sistema de abastecimento de água e esgoto, pertencentes a mesma bacia
hidrográfica. A comunidade também possui muitos poços artesianos, 32,7%, que além de
prover água para as residências, ainda a garante para outros membros das famílias e até para
vizinhança.
De acordo com Sabourin (2011), esse compartilhamento adotado na comunidade
caracteriza-se por reciprocidade do tipo ajuda mútua que é “[...] uma forma de solidariedade
necessária à produção de bens materiais, portanto essencial para a sobrevivência de várias
comunidades” (SABOURIN, 2011, p. 121).
Sabourin (1999) exemplifica como ajuda mútua o mutirão e o manejo das fontes de
águas comunitárias. Na comunidade do Muquém, por exemplo, a ilha digital e o poço de saúde
foram construídos em sistema de mutirão em terreno cedido por um morador. Existem também
poços compartilhados que abastecem várias casas da comunidade do Baixio das Palmeiras.
Tabela 5 - Distribuição do número de moradores, segundo condições de moradia
Características N° %
Tipo de moradia
Alvenaria/tijolo 119 80,4
Outra 29 19,6
Situação da moradia
Próprio 136 90,7
Outra 13 8,7
Abastecimento de água
Rede pública (SAAEC) 96 64,0
Outra 53 35,6
Tipo de rua
Calçada/pedra 43 29,3
Terra 104 70,7
Fonte: elaborada pela autora (2020).

A Tabela 6 demonstra a utilização do serviço dos postos de saúde das comunidades


entrevistadas. A Unidade Básica de Saúde (UBS) é muito atuante na comunidade, propiciando,
além dos atendimentos, ações integradas aos projetos, visando a saúde e qualidade de vida dos
moradores. São desenvolvidos projetos de plantas medicinais, quintais produtivos e
permacultura. A Equipe de Saúde da Família é receptiva e permite autonomia nas atividades.
Tabela 6 - Distribuição do número de moradores, segundo condições de saúde e qualidade de
vida
Condições de Saúde N° %
Serviço de saúde
Posto de saúde 113 77,4
Outro 33 22,6
144

Alguém da família com deficiência


Sim 31 21,1
Não 116 78,9
Pratica atividade física
Sim 55 37,2
Não 93 62,8
Mobilidade/transporte
Carro próprio 19 12,8
Bicicleta 5 3,4
Moto 24 16,2
A pé 9 6,1
Ônibus 11 7,4
Topic/van 51 34,5
Fonte: elaborada pela autora (2020).

Na Tabela 7, tem-se um quadro geral relativo às condições de saúde da amostra


pesquisada, no qual há prevalência de problemas de hipertensão e diabetes. Decerto que
pesquisar o perfil sociodemográfico da comunidade também requer uma atenção à saúde das
pessoas, como parte fundamental da qualidade de vida e bem-estar.
Tabela 7 - Distribuição do número de doenças por moradores
Doenças N° %
Cardíaco 22 14,7
Depressão 30 20,0
Diabetes 40 26,7
Ansiedade 34 22,7
Hipertensão 68 45,3
Alcoolismo 14 9,3
Câncer 11 7,3
Fonte: elaborada pela autora (2020).

Após a apresentação dos dados demográficos, trabalharemos a discussão dos resultados


da escala aplicada. Como dito anteriormente, tal atividade se deu com moradores afetados pela
obra em quatro comunidades do distrito Baixio das Palmeiras, como pode ser observado a
seguir.

7.3.2 Resultados da escala

A comparação das médias da escala total e de seus domínios apego ao lugar, identidade
de lugar, coesão social e satisfação residencial relacionadas à habitação e comunidade dos
moradores, está apresentada na Tabela 8, abaixo.
145

Tabela 8 - Comparação das médias da escala e dos domínios


Esc total Apego Identidade Coesão Satisfação
Variável Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP
Ρ ρ ρ Ρ Ρ
Sexo 0,106 0,003 0,264 0,672 0,794
Masculino 67,3±8,6 64,2±8,5 74,8±14,2 64,3±13,2 75,4±14,7
Feminino 65,3±6,7 60,2±7,2 72,2±13,6 63,4±11,7 76,0±12,1
Faixa etária 0,0001 0,052 0,007 0,0001 0,317
18 a 25 anos 58,6±13,3 56,7±7,6 60,0±28,0 54,5±18,9 72,5±16,5
26 a 33 anos 62,9±7,3 63,1±9,7 72,8±12,1 54,5±10,5 72,4±15,7
34 a 41 anos 66,1±5,4 59,6±5,9 71,9±11,4 65,9±9,8 77,8±8,3
42 a 49 anos 66,7±6,3 61,1±6,7 73,8±16,2 64,3±10,5 80,0±12,4
50 anos ou mais 68,3±6,2 63,1±7,8 75,8±9,6 67,6±10,3 75,9±12,9
Raça 0,707 0,856 0,739 0,409 0,329
Branca 66,4±6,9 62,0±8,1 74,0±12,6 65,1±12,7 73,5±13,7
Preto/pardo 65,9±7,6 61,8±7,8 73,0±14,3 63,0±12,1 76,1±13,0
Número de filhos 0,066 0,204 0,130 0,134 0,246
Nenhum 65,6±11,0 62,4±9,5 71,2±17,5 62,8±14,9 75,4±16,7
1 63,4±6,5 59,3±7,6 70,4±13,8 60,1±11,9 75,3±13,3
2 63,4±11,0 63,1±8,8 72,1±12,9 64,6±12,9 81,5±9,4
3 67,4±6,0 62,7±6,4 75,2±15,4 66,7±9,6 73,5±9,6
4 ou mais 68,1±6,0 63,1±6,6 78,3±6,6 66,6±10,7 74,3±13,5
Religião 0,237 0,964 0,915 0,023 0,798
Católico 66,4±7,6 61,8±7,8 73,2±14,2 64,5±12,2 75,7±13,1
Outra 63,9±6,9 61,7±9,5 73,6±10,0 56,9±11,2 76,6±13,9
Estado civil 0,664 0,468 0,040 0,480 0,973
S/companheiro 65,8±9,2 61,2±8,3 70,2±17,6 64,8±12,5 75,8±14,0
C/companheiro 66,4±6,4 62,2±7,8 75,1±10,8 63,3±12,2 75,9±12,7
Nasceu na comunidade 0,743 0616 0,028 0494 0,829
Sim 66,2±7,7 62,0±7,7 74,4±13,5 63,4±12,6 75,7±13,4
Não 65,7±7,3 61,1±9,1 67,8±14,3 65,3±10,9 76,3±12,1
Tempo na comunidade 0,0001 0,013 0,0001 0,002 0,040
2 a 24 anos 59,8±10,6 58,0±8,8 60,2±21,3 57,1±15,3 70,6±15,9
25 a 49 anos 66,5±6,2 62,7±7,7 75,2±11,0 62,3±12,1 78,1±11,8
50 a 59 anos 69,1±5,4 64,6±8,2 75,7±10,9 67,5±9,6 78,2±12,4
60 a 81 anos 67,2±7,0 60,6±6,4 77,0±8,6 68,1±10,3 72,7±13,6
Escolaridade 0,012 0,489 0,337 0,008 0,272
Não estudou 68,8±7,4 64,6±8,7 75,0±7,5 67,9±12,3 75,6±19,3
1ª a 4ª série 68,5±6,5 62,6±8,0 75,9±10,5 68,3±10,6 76,7±12,5
5ª a 8ª série 62,8±7,7 60,8±6,6 68,1±7,9 59,4±13,3 70,7±11,9
Ensino médio 64,3±8,3 60,6±8,3 72,5±16,2 60,4±12,5 75,1±13,9
Superior/pós 67,4±5,9 63,0±7,5 73,2±11,6 64,5±11,6 79,7±10,9
Trabalho 0,125 0,105 0,008 0,930 0,494
Não trabalha 64,7±8,7 60,2±7,1 68,9±17,3 63,6±12,2 74,7±14,1
Trabalha 66,8±6,9 62,5±8,2 75,3±11,5 63,8±12,4 76,3±12,8
Renda familiar 0,702 0,342 0,057 0,389 0,727
Até 1 s.m 65,0±8,1 61,1±7,8 71,8±15,5 61,4±12,1 77,2±12,8
De 1 a 2 s.m 66,5±7,9 61,6±8,5 74,7±12,9 64,9±13,1 74,6±13,2
De 3 a 4 s.m 66,8±5,0 61,4±5,5 77,0±7,5 65,2±10,4 74,610,8
5 s.m ou mais 65,4±8,5 66,2±8,4 63,3±20,1 61,5±12,2 75,0±20,1
Alguma deficiência 0,264 0,792 0,149 0,238 0,956
Sim 64,7±7,1 61,5±8,4 70,0±14,3 61,2±11,9 75,9±13,6
Não 66,4±7,7 61,9±7,9 74,0±13,8 64,1±12,3 75,8±13,6
Pratica atividade física 0,756 0,701 0,793 0,397 0,022
Sim 66,3±6,1 62,1±7,7 73,6±11,8 62,6±11,6 79,1±12,8
146

Não 65,9±8,4 61,6±8,2 73,0±15,1 64,4±12,8 74,0±13,2


Tempo de moradia 0,010 0,158 0,162 0,019 0,155
1 a 10 anos 64,3±6,6 61,7±8,1 72,7±11,4 60,3±13,4 71,9±12,7
11 a 20 anos 64,2±9,4 59,6±6,3 69,6±20,2 61,6±12,9 77,0±14,4
21 a 30 anos 68,1±4,2 63,3±6,8 74,5±8,5 66,6±10,7 78,1±9,5
31 a 40 anos 68,5±7,3 63,2±9,3 76,3±10,8 67,4±10,3 77,2±13,8
Fonte: elaborado pela autora (2020).

As variáveis que não influenciaram essa relação, tanto na escala total como em cada um
dos seus domínios, foram as seguintes: raça (p>0,320), número de filhos (p>0,060), renda
familiar (p>0,055) e a existência de alguma deficiência (p>0,148). Após essa exposição geral,
iremos lidar com as peculiaridades de cada categoria.

7.3.2.1 Apego ao lugar

Como é afirmado por Hidalgo e Hernández (2011), o apego ao lugar é uma dimensão
estudada, quando se trabalha com relação pessoa-ambiente na Psicologia Ambiental, que se
refere aos vínculos estabelecidos com o lugar, mais necessariamente a força desses vínculos e
como esses influenciam na forma que o sujeito lida com o seu ambiente de entorno. Seja ele
um espaço privado, como a casa; ou espaço público, como locais de convívio comunitário.
Em seu estudo, os autores supracitados afirmam que a compreensão de apego ao lugar
não deve se restringir ao ambiente social, pois elementos correlacionados à satisfação
residencial também são indicadores relevantes para compreender o vínculo sujeito-casa. No
caso deste estudo, foram levadas em consideração tanto a relação dos moradores atingidos pelo
Cinturão das Águas do Ceará (CAC) com sua comunidade, quanto a relação dos mesmos com
seus locais de moradia. É válido ressaltar que no universo deste estudo estão sendo
compreendidos moradores que serão ou já foram desapropriados, e moradores que perderam
propriedades (terrenos e benfeitorias), porém, não serão desapropriados.
Seguindo os critérios definidos para análise quantitativa dos dados, esta análise está
distribuída entre as seguintes variáveis: localidade, gênero, faixa etária e natividade. Antes de
iniciá-la, é importante ressaltar que a amostra de atingidos nas comunidades Oitis e Chapada
do Baixio é menor do que nas comunidades Muquém e Palmeiras, e isso também pode incidir
no quantitativo apresentado.
No Gráfico 9, referente à localidade, partindo da proposta de estudo de Hidalgo e
Hernández (2001), que determinou a compreensão de apego dividindo-se em casa,
bairro/vizinhança/comunidade e cidade, é observado que os moradores das comunidades
147

Muquém e Palmeiras são mais apegados ao espaço comunidade, do que à casa e à cidade,
respectivamente. Um fato relevante sobre os moradores das comunidades supracitadas é que os
mesmos, quando desapropriados, preferiram construir suas novas casas na mesma comunidade
de origem ou numa comunidade vizinha.
Os moradores de Oitis e Chapada do Baixio, por outro lado, apresentam um apego maior
à casa; em seguida, à comunidade, sendo a cidade o item de menor pontuação, em especial na
Chapada do Baixio. Os sujeitos que já foram desapropriados nas comunidades Oitis e Chapada
do Baixio apresentam verossimilhança nas medidas de casa e comunidade.
As assertivas apresentadas nos itens referentes a categoria apego ao lugar são: eu gosto
de viver nesta cidade; eu gosto de morar nesta comunidade; eu me sinto apegado à comunidade
onde moro; e eu gosto de morar nesta casa.
Gráfico 9 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao apego ao lugar por localidade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Em relação a variável gênero (Gráfico 10), foi observado que o sexo masculino
apresentou maior média no domínio apego (p=0,003), enquanto que a menor faixa etária (de 18
a 25) teve a menor média na escala total (p<0,0001). Isso contrariou o que foi percebido na
pesquisa de Hidalgo e Hernández (2001), os idealizadores da escala, em Santa Cruz de Tenerife
(Espanha). Na pesquisa realizada por eles, as mulheres possuem mais apego ao lugar do que os
homens. Entretanto, sinaliza-se que o contexto daquela pesquisa possuía algumas
148

especificidades, não sendo um ambiente rural. A citação desta pesquisa se dá pela expectativa
prévia de que o resultado daria maior apego nas mulheres.
Gráfico 10 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao apego ao lugar por gênero

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Quanto aos níveis de apego em relação ao gênero, percebe-se, conforme o Gráfico 10,
que os homens também são mais apegados à comunidade do que à casa e à cidade. Hidalgo e
Hernández (2001) reforçam o papel que o apego de lugar possui para desenvolver identidade
de lugar e também o sentimento de comunidade. Foi notado que os homens expressaram mais
falas com a temática de sofrimento do que as mulheres, na autobiografia, na qual alguns homens
falam sobre terem desenvolvido sintomas depressivos ao ter que deixar sua casa, visto que os
mesmos construíram as casas com as próprias mãos e viveram por muito tempo dos frutos de
sua terra. Vale ressaltar que os moradores com companheiro tiveram médias quase iguais às
dos sem companheiros na escala total e nos domínios apego.
No que se refere ao apego relacionado à variável faixa etária, é visto que pessoas com
idades intermediárias e idosos apresentam um maior índice de apego ao lugar do que jovens.
Como pode ser visto no Gráfico 11.
149

Gráfico 11 - Distribuição de respostas a questões referentes ao apego ao local por faixa etária

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como é observado por Torres (2015), ao estudar sobre o papel do ambiente residencial
na qualidade de vida de idosos, em seu contexto de pesquisa, a autora observou que apesar dos
idosos conviverem com limitações tanto no microambiente (casa), quanto no macroambiente
(comunidade e cidade), os pesquisados desejavam continuar morando na mesma localidade e
isso se explica pelo forte apego ao lugar, considerado pela mesma um fator importante para
qualidade de vida dos idosos. Quando estudamos os dados obtidos pela análise da escala, é visto
que nas perguntas dois (eu gosto de morar nessa comunidade) e quatro (eu gosto de morar nessa
casa), os idosos obtiveram as maiores pontuações.
Isso pode ser compreendido pelos seguintes elementos: tempo de moradia, vínculos
comunitários consolidados e apego à memória social local. Sendo o primeiro item diretamente
relacionado à variável naturalidade, que estudaremos logo após. Sobre o tempo de moradia, é
visto que 82,7% dos entrevistados vive nas comunidades pesquisadas desde o nascimento,
sendo que expressiva parte desses nativos é composta por idosos. Sabe-se também que os idosos
compõem a maior parte da amostragem da pesquisa, no que refere à faixa etária (49,3%). Na
pesquisa de Nobre (2017), houve relatos de diversos idosos abordados na etnografia; já em
Martins (2020), a maioria dos IGMA foi aplicada em pessoas entre 50 e 70 anos de idade.
É válido também falar sobre o que diz Giuliani (2003) acerca do alto índice de apego
em idosos, que para a autora pode estar relacionado à necessidade de segurança e sentimento
150

de proteção. Logo, o seu espaço de convívio é visto como mais seguro do que uma realidade
desconhecida.
No caso deste estudo, é percebido que a variável faixa etária está ligada à variável
naturalidade. Nessa dimensão, são trabalhados dados sobre apego a partir da divisão entre
nativos (pessoas que sempre viveram na comunidade) e não-nativos, como pode ser visto no
Gráfico 12.
Gráfico 12 - Distribuição de respostas a perguntas referentes ao apego ao lugar por natividade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Segundo Gómez (2015), a literatura mostra que os processos de apego e identidade de


lugar desenvolvem vínculos que são influenciados pelo tempo de residência e, portanto, pela
formação de laços com o lugar. Percebe-se na amostra estudada que os nativos possuem mais
apego à cidade do que os não-nativos e aqueles que têm maior tempo de residência em relação
aos moradores mais recentes. No que diz respeito ao apego à comunidade e à casa, observou-
se resultados praticamente equivalentes entre os nativos e não nativos É visto que, assim como
na variável faixa etária, as perguntas dois e quatro se destacam na porcentagem do respondente
“com toda certeza”, que são perguntas sobre a comunidade e a casa.
Os determinantes sociais como cultura e vínculos de amizade também são importantes
para consolidação do apego nos moradores abordados nesse estudo. Tais determinantes também
são importantes para compreender a categoria identidade, que será trabalhada no próximo
tópico.
151

7.3.2.2 Identidade

Para fins deste estudo, será abordado o conceito de Identidade de Lugar, definido por
Proshansky, Fabian e Kaminoff (1983) como uma subestrutura da identidade social, que tem
como base dois elementos: a cognição sobre o entorno e os vínculos emocionais, que são
desenvolvidos na relação pessoa-ambiente, sendo essa uma construção pessoa-dinâmica, que
tem envolvido elementos de ordem biológica, psicológica, social entre outros. Mourão e
Cavalcante (2011, p. 210) afirmam que “[...] a identidade de lugar tem como função principal
a criação de um cenário interno que sirva de sustento e proteção à autoidentidade”.
Para Valera e Pol (1994), é necessário entender a importância do entorno como elemento
constitutivo da identidade social do sujeito, processo que está intimamente ligado à noção de
pertencimento. Logo, esse entorno, que é socialmente construído, irá trazer transformações nos
modos de representação da identidade do sujeito, como também o próprio sujeito que, ao
modificar o ambiente, modifica, também, as formas de ver esse lugar. Partindo dessa
perspectiva dialética, os autores compreendem que a identidade de lugar está diretamente
relacionada ao sentimento de pertença e os significados e sentimentos construídos nesse espaço
físico.
Como afirma Giuliani (2003, p. 151, tradução nossa),

A valência das cognições que constitui a identidade de um lugar depende da qualidade


geral do ambiente físico e de suas características específicas, da qualidade das
características sociais associadas a esse ambiente, mas também da capacidade do
indivíduo de se adaptar ao ambiente, ou transformá-lo (na realidade, ou,
particularmente no caso das crianças, em sua imaginação).

Assim como refletem Mourão e Cavalcante (2011, p. 215), “[...] a identidade de lugar é
construída a partir dos espaços de pertencimento e vivência, envolvendo tempo de exposição
ao lugar e possibilidade de transformá-lo em busca da satisfação”. Visto o que foi apresentado
até então, será avaliada, agora, a categoria identidade na escala, aplicada a partir de quatro
variáveis: gênero, localidade, faixa etária e natividade.
As afirmativas que dizem respeito a categoria identidade de lugar são: esta cidade tem
a ver com a minha história pessoal; esta comunidade é parte da minha identidade; esta casa tem
a ver com a minha história de vida; e esta casa é parte da minha identidade.
No que se refere à variável localidade, percebe-se que em todos as comunidades
pesquisadas foram obtidos alto nível de identificação dos moradores com a comunidade e com
suas casas, como pode ser percebido no Gráfico 13.
152

É observado que os índices de apego ao lugar foram altos nessas comunidades, o Baixio
das Palmeiras e o Baixio do Muquém se destacam na pergunta referente à relação comunitária.
Isso se explica tanto pela força do vínculo pessoa-ambiente existente nesses dois territórios,
como também reflete no alto índice de engajamento dos moradores dessas localidades nos
movimentos de resistência às mudanças territoriais ocasionadas pelo CAC.
Gráfico 13 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por localidade.

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Também sendo coerente aos respondentes presentes sobre a identidade com a casa, é
visto que, da mesma forma que ocorreu em apego, Oitis e Chapada do Baixio tiveram mais
respostas afirmativas nos itens que abordaram a identidade dos sujeitos com as casas onde
vivem. Novamente é importante ressaltar que o número de sujeitos de pesquisa atingidos pelo
CAC nas comunidades Oitis e Chapada do Baixio é menor do que nas comunidades Palmeiras
e Muquém.
Como pode ser visto no Gráfico 14, da mesma forma que foi observado na categoria
apego, os homens demonstram um maior senso de identidade de lugar do que as mulheres
pesquisadas.
153

Gráfico 14 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por gênero

Fonte: elaborado pela autora (2020).

É importante ressaltar que a pergunta que teve um índice da resposta ‘com certeza’ mais
expressivo foi a referente à comunidade ser parte de sua identidade. Como explanado no tópico
apego, observou-se maior envolvimento dos homens nos grupos sociais locais e nas atividades
de resistência, confirmando que essa direta participação se dá em virtude da própria trajetória
de vida desses homens, que veem nesse espaço o lugar onde, além de construir sua casa,
construíram sua história. É possível ver a conexão entre apego e identidade de lugar, pois os
elementos emocionais que permeiam as histórias de vida e fortalece o apego dos moradores
incide diretamente na construção da identidade de lugar das comunidades pesquisadas como
um lugar de referência e vida para eles.
Visto o que foi dito anteriormente por Mourão e Cavalcante (2011) a identidade de lugar
tem relação com as dimensões pertencimento e vivência. Tal apontamento nos remete à
perspectiva do trabalho com a terra ou do trabalho no espaço rural como constituinte da
identidade, o que amplifica o reconhecimento do morador como sujeito rural ou camponês,
tendo como referência essa pesquisa, na qual aparece com mais ênfase nas escalas dos
moradores do sexo masculino. É preciso ressaltar que moradores com companheiro
apresentaram maior média em identidade do que os sem companheiro (p=0,040).
No que se refere à faixa etária, vemos no Gráfico 15 que, novamente, os idosos se
destacam, sendo os detentores das maiores porcentagens no que se refere à categoria identidade.
154

Gráfico 15 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por faixa etária

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Os resultados da pesquisa, associando identidade e coesão social com idade,


demonstram a existência de identidade e coesão social entre os moradores da faixa etária anos
intermediários e velhice, conforme definição do ciclo de vida adotada por Lidz (1983),
caracterizando a faixa etária de 40 anos acima. Guimarães (2010) destaca a existência de uma
relação identitária forte entre os habitantes de um lugar, devido à união, formando, assim, uma
rede a despeito da falta de afinidade, mesmo que esta não seja de todo espontânea, mas também
motivada pelo compartilhamento de problemas comuns. Como foi colocado no tópico anterior,
o apego ao lugar se mostra mais intenso nessa faixa etária. Durante o processo de observação,
é visto que, ao falar sobre suas vivências nas comunidades, os idosos trazem a noção da história
da comunidade como extensão de sua história de vida.
Acerca do Gráfico 16, com dados sobre a variável natalidade, é visto uma aproximação
entre os dados dos nativos e dos não nativos, em especial nos respondentes de comunidade e
casa, sendo a maior diferenciação no primeiro respondente sobre cidade.
155

Gráfico 16 - Distribuição de resposta a questões referentes à identidade por natividade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

No domínio identidade, o fato de nascer na comunidade obteve maior média do que


aqueles que não nasceram lá (p=0,028); o menor tempo na comunidade de apenas dois a 24
anos apresentou menor média na escala total (p<0,0001) e em todos os seus domínios apego
(p=0,013), identidade (p<0,0001), coesão (p=0,002) e satisfação (p=0,040); quem não teve
estudo algum conseguiu maior média, tanto na escala total (p=0,012), como no domínio coesão
(p=0,008).
Na pesquisa de Giuliani (2003), afirma-se que não se observa muita diferença nos
índices de identidade e apego entre nativos e não nativos, o que mostra que não nativos também
se reconhece nesse lugar. O que a autora percebe é que a forma de inserção dos sujeitos na
comunidade, ou seja, como eles foram acolhidos, os vínculos que eles desenvolveram após essa
inserção e a relação dos mesmos com esse novo território são o que dará o tom para perceber
se eles se identificam com o lugar.
Iremos trabalhar a seguir a terceira categoria elencada no estudo: coesão social.

7.3.2.3 Coesão Social

Neste tópico, será trabalhada a categoria Coesão Social. Para definição dessa categoria,
levar-se-á em consideração tanto a importância dos vínculos sociais e da participação social na
consolidação do apego e da identidade de lugar (GIULIANI, 2003), quanto a contribuição de
Toünies (1973) acerca dos vínculos comunitários. Esse autor aborda em seu estudo os padrões
156

de sociabilidade comunitária, que envolve três padrões: consanguinidade (relações familiares),


coabitação habitacional (relações de vizinhança) e o espírito (amizades).
Para compreender tais elementos, foram elaboradas três perguntas: uma focada no
elemento união(os moradores da minha comunidade são unidos), outra no elemento
participação (nossa comunidade participa ativamente das atividades que dizem respeito a todos)
e a última na mobilização (nossa comunidade mobilizou a sociedade em prol dos nossos
direitos).
Assim como os tópicos anteriores, serão trabalhadas quatro variáveis: localidade,
gênero, faixa etária e natividade. Como é visto no Gráfico 17, os dados sobre o coeficiente de
coesão social por localidade demonstram que houve variação de respostas por elemento
trabalhado.
Gráfico 17 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por localidade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Será dado destaque, nesta ocasião, às três dimensões estudadas neste tópico: união,
participação e mobilização. No item união, a comunidade Baixio das Palmeiras foi a que obteve
maior porcentagem. A mesma comunidade apresenta expressivas porcentagens no que se refere
às assertivas de apego comunitário e identidade. Esse senso de união reflete diretamente no
engajamento no processo de resistência as obras do Baixio e na defesa dos seus direitos frente
ao processo de desapropriação.
157

Como é apontado por Nobre (2017) foi na comunidade Baixio das Palmeiras que se
iniciaram as primeiras atividades reflexivas sobre o que estava acontecendo com a comunidade,
sendo a medição das áreas estimadas de desapropriação por parte da VBA, sem informar
previamente os moradores, o estopim dos conflitos. Foi lá e por meio da mobilização de
moradores engajados na Associação Rural Baixio das Palmeiras que tudo começou. A força
dos vínculos sociais também é refletida nos respondentes de mobilização, como será visto mais
adiante. Entre as outras comunidades, Chapada do Baixio apresenta as menores porcentagens
no que se refere à união.
Na modalidade participação, o Baixio dos Oitis se destaca com maior porcentagem.
Uma das explicações sobre esse fenômeno é o fato das proximidades dos moradores, que vivem
em propriedades próximas, pertencentes ao mesmo dono que as subsidias para trabalho próprio.
A noção de participação no caso do Oitis transcende a participação social a nível engajamento
em lutas comunitárias, pois, nesse caso, como pode ser visto nos relatos, a participação é mais
voltada para atividades intracomunitárias. Em algumas situações, como no caso da comunidade
em estudo, o trabalho que beneficia um pode beneficiar todos, o que fortalece o vínculo
comunitário entre esses moradores. Oitis vão pensar em redes de apoio mútuo, formas de lidar
com a situação em que vivem, e essas redes os auxiliarão na organização e enfrentamento do
contexto de vulnerabilidade, lembrando que os mesmos vivem em terras cedidas para produção.
Curiosamente, o Baixio das Palmeiras, que é a comunidade com maior porcentagem de
apego à comunidade e índices de identidade, foi a comunidade que menos pontuou no que se
refere à participação, seguida de Muquém, que também possui fortes indicadores de apego e
identidade. Esse dado pode ser reflexo da desmobilização da comunidade frente as lutas sociais
do CAC. O decrescimento no senso de participação pode ser reflexo da diminuição das ações
do FOPAC e do engajamento das pessoas nos movimentos sociais das comunidades referentes
ao CAC.
Em relação a variável gênero, é visto no Gráfico 18 um fato interessante. Ao passo que
os homens se veem como espaço de união, de acordo com o gráfico de coesão social e gênero,
as mulheres acreditam que a comunidade é participativa e mobilizadora. Também foi observado
que moradores com companheiro tiveram médias quase iguais às dos sem companheiros na
escala total e nos domínios apego e coesão.
158

Gráfico 18 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por gênero

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Sobre a maior percepção de união comunitária vinda dos homens, isso reforça o alto
índice de apego e identidade observados no tópico anterior. Porém, o que chama atenção é o
resultado das mulheres nas esferas participação e mobilização, que contraria os dados trazidos
inicialmente sobre a baixa adesão de mulheres nos movimentos de resistência. Porém, quando
se reporta à participação em outras instâncias sociais da comunidade, observa-se que as
mulheres, em especial as idosas, possuem bastante engajamento em atividades comunitárias.
Por falar em idosas, como é visto no Gráfico 19, os resultados da pesquisa, associando
coesão social com idade, demonstram a existência de coesão social entre os moradores da faixa
etária anos intermediários e velhice.
159

Gráfico 19 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por faixa etária

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como foi dito no parágrafo anterior, idosos são uma parcela populacional importante
para conhecer a dinâmica das comunidades pesquisadas. Os dados de maior coesão social entre
idosos fazem, também, alusão aos dados de apego e identidade, mostrando que essas duas
dimensões têm influência direta com a forma de o sujeito se integrar e agir no meio onde vive.
Também é válido ressaltar que a maioria desses idosos é enquadrada na variável nativo, que
engloba pessoas que nasceram e ainda vivem nas comunidades em que nasceram.
Na categoria coesão social, comparando-se nativos com não nativos, conforme Gráfico
20, as respostas encontradas revelam que apesar dos nativos se considerarem mais unidos do
que os não-nativos, estes consideram que há maior participação da comunidade nas atividades
coletivas. Observando também a média do coeficiente (p=0,002).
160

Gráfico 20 - Distribuição de resposta a questões referentes à coesão social por natividade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Os moradores que praticavam atividade física mostraram-se mais satisfeitos com a


habitação e comunidade do que os não-praticantes (p=0,022); verificou-se que quanto maior o
tempo de moradia, maior foi a coesão dos moradores (p=019) relacionada à habitação e
comunidade. Como é dito por Giuliani (2003) anteriormente, quanto maior o tempo de moradia,
maior a coesão. Porém, pessoas não-nativas que se engajam na comunidade também possuem
forte senso de pertencimento, desde que seja um engajamento ativo. Considerando-se as
respostas positivas sobre a mobilização que a comunidade fez para discutir as questões relativas
ao projeto Cinturão das Águas, 68% dos não nativos e 54,45% dos nativos afirmam que houve
um alcance social favorável.
No item união, os nativos possuem a maior porcentagem de respostas afirmativas,
porém quando se reporta para participação, vemos que os não-nativos se destacam. Por fim, no
que se refere à mobilização, acontece um resultado semelhante. O censo de união dos nativos
pode estar diretamente relacionado aos índices altos de apego e identidade retratados
anteriormente, o sentimento de pertença é fortalecido nesse grupo populacional.
161

7.3.2.4 Satisfação Residencial

Neste último tópico, será discutida a categoria Satisfação Residencial. Para definição
dessa categoria, levar-se-á em consideração a representatividade que este ambiente possui tanto
em relação a história de vida, como na formação da identidade. Referir-se a casa é identificar
o território privado e território primário.
Segundo Valera e Vidal (2010, p. 130, tradução nossa), acerca das definições de
território privado e primário,

Altman os define como aqueles em que o usuário é geralmente uma pessoa ou um


grupo primário e onde o controle é bastante permanente e exclusivo. A importância
psicológica, para seus ocupantes, costuma ser muito alta, além de ser central ou
importante no dia a dia. Exemplos de territórios primários são a própria casa, o quarto,
departamento ou o escritório. Eles são uma extensão do eu, da identidade e da
autoestima.

Para compreender o elemento satisfação residencial na análise da escala, foram


elaboradas quatro afirmativas. As questões envolvem satisfação em morar na casa (eu gosto de
morar nesta casa); arrependimento se precisasse sair (eu me arrependeria se tivesse que mudar
para outra casa); a relação da casa com história de vida (esta casa tem a ver com a minha história
de vida) e a identidade (esta casa é parte da minha identidade).
Assim como os tópicos anteriores, serão trabalhadas quatro variáveis: localidade,
gênero, faixa etária e natividade. Pode-se ver durante toda a pesquisa que o afeto possui um
lugar privilegiado na relação com o lugar, seja se referindo a comunidade, seja se referindo a
casa. Tais experiências remetem aos sentimentos de orgulho, bem-estar, amor, saudade, pois
estão relacionados com os lugares significativos na história de vida das pessoas. Os sentimentos
aqui apresentados podem ser positivos, negativos ou ambivalentes (ROSA, 2014)
No Gráfico 21, será apresentado o índice de satisfação residencial por localidade.
162

Gráfico 21 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por


localidade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Verifica-se que os moradores de Oitis e da Chapada são totalmente satisfeitos com sua
moradia; logo em seguida Palmeiras e Muquém. Nesta última comunidade aparece indicativo
de insatisfação. De forma geral, a maioria revela que se arrependeria de mudar, e os dados do
Muquém corroboram a assertiva anterior. É importante lembrar que, no caso dos moradores da
Chapada, todos já mudaram para casas novas e esse resultado diz respeito a satisfação com a
residência atual. Isso dialoga com os índices mais baixos desse território com os outros índices,
como apego e identidade, que foram direcionados ao contexto de qual foram desapropriados.
Como observado no item identidade, foi visto que 100 % do Oitis e da Chapada, 91,8%
do Muquém e 88,1% das Palmeiras identificam o território com as suas histórias de vida.
Lembrando que o item identificação com a casa também era mais expressivos no Oitis do que
em Muquém e Palmeiras, é compreensível que esta comunidade tenha se destacada nos índices
de satisfação residencial.
163

Em relação à interface satisfação residencial e sexo, observou-se equivalência entre


homens e mulheres em todos os itens apresentados, ou seja, possuem apego ao lugar, querem
permanecer na localidade, identificam-se com as suas casas e as relacionam às suas histórias de
vida, conforme pode ser observado no Gráfico 22:
Gráfico 22 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por sexo

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Evidencia-se os fortes laços dos moradores com suas casas, de ambos os sexos.
Conforme Chombart de Lauwe (1976), a casa é o primeiro ambiente de apropriação. E em
comunidades rurais, esta conexão é intensificada, pelo modo de vida existente em que se
observa a ligação com a terra da qual tira o sustento, uma vez que a maioria é agricultor. Como
já foi mencionado nos tópicos anteriores.
A comunidade também tem como característica a prevalência da população idosa.
Segundo Elali e Medeiros (2011, p. 57), ressalta-se a “[...] importância do processo de apego
ao lugar para o self e para as relações com os outros”, principalmente quando se fala em idosos,
havendo pesquisas que corroboram a percepção diferenciada do ambiente de acordo com o
período do ciclo de vida.
164

No Gráfico 23, pode-se verificar que todas as faixas etárias evidenciam um índice
elevado de satisfação com seu ambiente de moradia, indo de 91,7% a 100%, conforme o
aumento da idade, ressaltando-se que o grupo mais satisfeito (100%) foi o de 42 anos acima.
Gráfico 23 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por faixa
etária

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Observa-se que os dados das categorias avaliadas anteriormente (apego, identidade e


coesão social) também dialogam com essa categoria. Porém com o destaque da população de
adulto médio, que obtiveram uma maior pontuação do que os idosos, que também tiveram
porcentagens expressivas nesse item.
No item relativo a natividade, apesar de relativas diferenças estatísticas, a satisfação
residencial é evidenciada, tanto em nativos como não nativos. Isso pode ser observado no
Gráfico 24.
165

Gráfico 24 - Distribuição de resposta a questões referentes à satisfação residencial por


natividade

Fonte: elaborado pela autora (2020).

Sobre a dinâmica comunitária, Góis (2005) ressalta que os moradores compartilham das
mesmas dificuldades, pois habitam em um território comum, no qual a identidade foi
construída.
Entende-se, portanto, a reação apresentada e a atratividade desse ambiente em que as
pessoas vivem em união, com respeito aos outros, a tradição, a história do lugar e a natureza
que os cerca. Como afirmam Ortiz e Zavala (2006, p. 239, tradução nossa), “[...] a proteção
mais importante em nossas vidas do ponto de vista psicológico é o lar, é o refúgio mais
significativo do estresse do trabalho, da escola e da vida na rua”.

7.3.3 Discussão dos resultados

No distrito do Baixio se observa, de maneira geral, que a população da sede Baixio das
Palmeiras está mais envolvida nos movimentos de resistência. A comunidade do Muquém
também é muito atuante, pois construíram, em mutirão, o posto de saúde e a ilha digital, que,
166

infelizmente, está desativada por falta de equipamentos. Na comunidade dos Oitis, as famílias
desapropriadas são moradoras em propriedade de outrem, portanto, não têm força política e
econômica. Esses terão indenização calculada apenas com base nas benfeitorias da propriedade,
como casas e plantações, visto que a propriedade da terra pertence a outrem. A indenização lhes
permitirá uma moradia um pouco melhor que a atual.
Os idosos entrevistados permanecem na comunidade, praticamente sem ir à cidade; já
os adultos, com vida na cidade, têm empregos, mas retornam para suas casas ao fim do dia, e
não manifestam desejo de migrar para a cidade. A maioria da amostra é composta por
agricultores. A associação e o sindicato rural são bem atuantes na localidade.
Tais dados trazem em mente as reflexões suscitadas por Machado (1999), que destaca
que gostar de um ambiente não implica necessariamente permanecer nesse lugar. Portanto,
satisfação pode não estar associada à afeição profunda, mas ausência de irritação persistente.
Por sua vez,

[...] para aqueles que viveram muitos anos em um lugar, a familiaridade engendra
aceitação e até afeição; afeição por uma localidade raramente é adquirida de
passagem, pois com o tempo, nos familiarizamos com o lugar, o que quer dizer que
cada vez mais o consideramos conhecido (MACHADO, 1999, p. 113-114).

Sobre os contratempos encontrados durante a realização da pesquisa, ressalta-se a


demora na aplicação do instrumento, devido à interferência de elementos da rotina do indivíduo
ou de conversa que se afastava do objetivo; a necessidade dos pesquisadores se ausentarem em
horário específico, o que dificultava, às vezes, a escuta ativa do morador, após a aplicação do
instrumento; a confusão em alguns termos empregados na escala e a resistência inicial da
comunidade às visitas em suas casas, por considerar os entrevistadores representantes do
governo do estado ou dos técnicos do “rio”, como eles chamavam.
Durante a aplicação, percebeu-se a confusão em algumas palavras associadas à
numeração da escala que dificultava a compreensão. A equipe foi orientada a acrescentar, na
numeração 1, a expressão “de jeito nenhum”; e a explicar mais detalhadamente a diferença entre
muito e com toda certeza. Ressalta-se que apesar da orientação da equipe de focar no objetivo
da pesquisa, salientou-se a importância desse espaço de escuta para a comunidade de modo a
poderem relatar as suas inquietações.
A resistência gerada na comunidade à nossa presença foi se diluindo na medida em que
o Sr. Assis Nicolau, morador e líder comunitário, nos introduzia nas casas. Sua participação foi
valiosa e a forma como nos apresentava, tornou-o um mediador entre comunidade e
167

pesquisadores. Com o tempo, expandiu-se a amostragem, pois quando algum morador


encontrava um membro da equipe, logo perguntava quando ia ser a visita em sua casa. E esse
momento era, frequentemente, acompanhado de um lanche gostoso e de uma sacola de frutas
para levar para casa. Em cada visita, os pesquisadores observavam atitudes e comportamentos
não-verbais de forma a incluir ao diário de campo. A seguir, discutiremos os resultados
encontrados nas categorias elencadas.
Os dados expressivos acerca do apego ao lugar obtido nas comunidades, no que se refere
à localidade, pode ser compreendido tanto pelo fator engajamento nas atividades comunitárias
reivindicatórias, quanto pelo fator posse da titularidade da terra. Acerca do primeiro fator, como
pode ser visto no capítulo anterior, uma das principais repercussões geradas pelo CAC foi o
surgimento de duas estratégias de mobilização comunitária: o movimento social ‘Somos Todos
Baixio das Palmeiras’ e o Fórum Popular das Águas do Cariri. Na pesquisa de Tavares (2016)
sobre a criação do Somos Todos Baixio das Palmeiras, a dimensão apego é referenciada pelos
entrevistados como uma das forças motrizes para criar um movimento em defesa do seu
território, trazido em algumas das falas como um “bem-querer” ao território. Nessa pesquisa, a
maioria dos entrevistados é do Baixio das Palmeiras (comunidade sede) e todos os entrevistados
fazem parte de outros grupos sociais e de atividades de engajamento na comunidade. Também
é relatado pouco envolvimento dos moradores de Oitis na criação do movimento.
Outro fato importante trazido por Tavares (2016) é que os moradores de Oitis que foram
desapropriados pelo CAC não possuíam titularidade da terra e, por conta disso, não se sentiam
seguros em participar desses movimentos reivindicatórios. As vivências de exclusão presentes
na vida desses moradores afetam diretamente na forma como os mesmos se relacionam com
seu território. Questões sobre a falta de titularidade de terra também são apontadas por Nobre
(2017). É visto isso também em algumas falas captadas das autobiografias ambientais, que serão
esmiuçadas no próximo capítulo. As mesmas denotam que o fato de não serem titulares da terra
trouxe tensão no início do processo de desapropriação, porém, quando houve sinalização de
pagamento de indenização, os atingidos viram que poderiam recomeçar sua vida em uma casa
própria e isso fez com que eles conseguissem realizar a mudança, sendo que os impactos, a
nível subjetivo, seriam menos intensos.
Em Nobre (2017), acerca da Chapada do Baixio, observa-se que nos últimos anos, as
formas de relação entre os moradores e a terra têm sofrido modificações, tanto pela diminuição
das atividades agrícolas, quanto pelo o aumento da construção de residenciais, nas quais os
moradores da cidade utilizam os espaços como segundo lar, o que é conhecido comumente
como “casa de veraneio”. Questões como a localização geográfica ser de difícil acesso e a
168

dificuldade de acesso à água (que só foi sanado em 1991, a partir da construção de um poço
profundo) também são fatores de vulnerabilidade que permeiam a vida dos moradores dessa
localidade, e isso pode ter impacto direto nos laços dos sujeitos com seu território. Mas, ao
mesmo tempo, nessa localidade há vozes importantes para a construção do FOPAC e do Somos
todos Baixio das Palmeiras, que são atuantes até hoje. Como também foi de lá que surgiu um
dos símbolos do movimento, o cordel Baixio Preocupado.
Reforçando os dados sobre como o engajamento em atividades comunitárias pode ser
um elemento importante para entender o processo de apego ao lugar, Martins (2020), que
desenvolveu sua pesquisa nas comunidades Baixio das Palmeiras e Muquém, mostrou que a
maioria dos participantes possuía algum tipo de relação comunitária com um grupo de base,
como o grupo da igreja, as associações comunitárias e o sindicato dos trabalhadores rurais. A
participação dessas associações apareceu durante a aplicação do Instrumento Gerador de Mapas
Afetivos9 (IGMA), com o qual a pesquisa pode reforçar a noção de que a estima de lugar10
pertencimento se mostra expressiva em sujeitos com algum tipo de engajamento comunitário
ativo.
Tuan (2012, p. 111) fala sobre o forte vínculo do homem rural com sua terra, visto que
o mesmo se constitui como sujeito nesse espaço: “A topofilia do agricultor está formada desta
intimidade física, da dependência material e do fato de que a terra é um repositório de
lembranças e mantém a esperança”. Martins (2020) também fala sobre a topofilia do agricultor
na relação das lideranças do Baixio das Palmeiras e do Baixio do Muquém, com a defesa do
território, visto que nos mapas afetivos avaliados que foram produzidos por lideranças tiveram
muitos elementos que denotavam amor pelo lugar e sentimentos relacionados à estima
pertencimento, em contraponto dos sentimentos expressos no contraste da estima insegurança,
gerados pelo temor trazido pelo CAC. Nesta pesquisa, a maioria dos representantes de
lideranças era masculina.
Ainda acerca dos índices de apego por gênero, na pesquisa de Tavares (2016), é falado
sobre uma menor participação das mulheres nos movimentos de resistência. Essas, criaram, em
meio as discussões, um grupo para debater especificamente questões de gênero no contexto do

9
Instrumento de pesquisa desenvolvido pela professora Zulmira Bomfim que objetiva a “[...] compreensão
psicossocial e sociocultural na relação entre subjetividade e espaço construído, enfatizando o afeto como grande
agregador da percepção e do conhecimento sobre a cidade” (BOMFIM, 2003, p. 253). O IGMA também pode
ser aplicado para estudar comunidades, equipamentos sociais e espaços residenciais.
10
Segundo Bomfim (2015, p. 382) “A validação da categoria estima de lugar e seus indicadores mostrou a
importância do afeto como uma categoria integradora da relação do indivíduo com o lugar, envolvendo vários
tipos de ambiente em situações de vulnerabilidade social”. São compreendidas cinco categorias de estimas de
lugar no instrumento: agradabilidade, pertencimento, insegurança, destruição e contrastes.
169

distrito do Baixio das Palmeiras, o grupo Nós Mulheres. Porém, como observa Nobre (2017),
as mulheres, em especial as idosas, também são portadoras da memória da comunidade,
contando histórias importantes sobre como se formaram as comunidades pesquisadas pelo
mesmo, devendo, portanto, serem participativas e ouvidas.
Em Nobre (2017), é visto, em relatos de moradoras, que a criação do grupo Nós
Mulheres serviu para estimular mais mulheres a participarem dos movimentos; refletir sobre
episódios machistas que ocorreram nas comunidades; e refletir sobre os possíveis efeitos do
CAC na rotina das mulheres da comunidade. Questões como problemas de saúde pública,
aumento dos casos de alcoolismo, prostituição e temores acerca da chegada dos trabalhadores
do CAC na comunidade são abordados nesse espaço.
Outro espaço de organização feminina existente no distrito é o grupo das Fuxiqueiras
do Baixio. O fuxico é um artesanato com tecido, popular em cidades interioranas no Nordeste.
Nesse grupo, a produção das peças em fuxico se alia ao fortalecimento dos vínculos
comunitários entre as mulheres da Chapada do Baixio, como também na possibilidade de renda
alternativa para as participantes. As atividades do grupo têm ganhado força e suas peças têm
sido expostas em várias feiras, locais e estaduais11.
Partindo da perspectiva geracional, foi visto durante as atividades desenvolvidas na
observação realizada que os idosos são uma parcela populacional importante para comunidade.
Os mesmos estão envolvidos em atividades em dispositivos culturais como a Casa de Farinha
Mestre José Gomes, Casa de Quitéria e grupos de cultura populares. Os idosos também possuem
engajamento nas atividades do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) do
Crato e em atividades da Associação Rural do Baixio das Palmeiras e do Fórum Popular das
Águas do Cariri. Vale ressaltar que a presidência da associação está a cargo de um líder idoso12.
Durante a aplicação das escalas, os idosos falavam um pouco sobre a vida na
comunidade: o fato de morarem desde crianças na localidade, de terem construído suas casas e
suas trajetórias de vida nesse espaço e sobre o vínculo com a vizinhança. Essas trajetórias de
vida foram aprofundadas durante a realização das entrevistas de autobiografia ambiental, que
serão esmiuçadas no próximo capítulo. De antemão, é possível afirmar que nas falas das idosas
é explicitado o valor sentimental da comunidade e da casa, sendo que a maioria relata dor e
tristeza por ter que sair de sua casa para outra habitação. Nesse público, majoritariamente, é
decidido mudar para uma casa na mesma comunidade ou numa comunidade vizinha, não
almejando ir para a cidade.

11
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
12
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
170

Em uma das atividades desenvolvidas no projeto ‘Resistência na Comunidade Baixio


das Palmeiras: Psicologia, Saúde e Meio Ambiente’, os idosos que participaram das atividades
realizadas na Unidade Básica de Saúde do Baixio do Muquém, pediram para abordar questões
relacionadas à depressão e ansiedade, pois muitos tinham dúvidas sobre sintomas e formas de
tratamento13. A dimensão sofrimento também aparece na pesquisa de Martins (2020), todavia,
não apenas na população idosa. A autora relata que sentimentos como angústia, sofrimento,
tristeza e medo aparecem em diversos mapas afetivos avaliados, sendo o elemento emocional
desencadeador de sintomas, como falta de sono, dores de cabeça e sensação de desconforto.
Porém, como consta em Martins (2020) e nos diários de campos das atividades
realizadas pelos estagiários de psicologia e pela pesquisadora nessa mesma localidade, foi visto
que estratégias de Educação Popular em Saúde, como o grupo de Educação em Saúde
desenvolvido pelo projeto, são vistas como importantes para trazer apoio aos moradores
participantes frente os problemas que enfrentam com o CAC. É feita uma reflexão sobre a
necessidade de contemplar a dimensão saúde no processo de implementação de uma obra
pública causadora de desapropriação.
Acerca do elemento vínculos comunitários, as relações de amizade e solidariedade se
mostram mais expressivas nos discursos dos idosos do que nos discursos dos jovens e adultos.
São contadas, pelos idosos, histórias sobre os amigos antigos, que cresceram junto a eles, sobre
os momentos de apoio perante uma dificuldade e sobre como eles sentirão falta dos vizinhos e
familiares que vivem em seu entorno. Em comparativo com outros estudos realizados
anteriormente no baixio, a questão do vínculo comunitário ganha espaço tanto em Nobre
(2017), ao falar sobre o amor pela comunidade e como isso foi visto por alguns entrevistados
como força importante para o surgimento da resistência; quanto em Martins (2020), que, a partir
dos mapas afetivos, demonstrou a importância dos equipamentos comunitários, como a Casa
de Farinha e o Grupo das Capelas das localidades Baixio das Palmeiras e Muquém, para o
vínculo da vizinhança. A fragilização desses vínculos são preocupações expressas em mapas
exemplificados por esta autora.
Acerca do elemento apego à memória local, é válido ressaltar que durante a observação
participante foi notada a importância de contar a história da comunidade e preservar essa
história para os mais idosos14, tanto nas atividades na UBS como nos encontros da associação
e no sindicato. Em uma das atividades promovidas pelo projeto Resistência, convidou-se um
dos membros da comunidade para falar sobre suas experiências de cultivo agroecológico no

13
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
14
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
171

espaço da Associação. Histórias acerca do Baixio das Palmeiras também eram compartilhadas
pelos idosos.
Na pesquisa de Nobre (2017), o autor se refere às mulheres da comunidade como as
principais portadoras da história oral das comunidades pesquisadas. Mulheres de três
comunidades (Baixio das Palmeiras, Muquém e Oitis) contam sobre a formação destas, como
as primeiras povoações indígenas (em especial no Muquém), a chegada dos engenhos e das
atividades pecuárias, acesso à água e crescimento do povoamento.
Em Martins (2020), é falado sobre uma atividade desenvolvida pela pesquisadora no
âmbito intergeracional, quando a mesma levou duas idosas, uma da comunidade Baixio das
Palmeiras e outra do Muquém, para contarem a história das comunidades a partir de suas
vivências a jovens que participam da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM
VIDA) da Escola Rosa Ferreira de Macêdo. Também é falado pela autora a importância da
memória social para compreender o processo de resistência, visto que uma das modalidades de
atuação nesse processo foi a prática cultural, em especial a da Casa de Farinha e a da Casa de
Quitéria.
Giuliani (2004, p. 96) define apego ao lugar como “[...] associação prolongada entre um
indivíduo e um lugar”. Devendo-se considerar, nesse aspecto, elementos pessoais e sociais da
vida do indivíduo durante o processo de estudo. No caso em questão, a dimensão tempo de
moradia é um fator importante para entender o porquê de os nativos terem um resultado um
pouco mais expressivo. Como foi dito no tópico anterior, muitos moradores vivem na
comunidade desde o nascimento, em especial os idosos. Suas histórias de vida andam lado a
lado com a história da comunidade e isso faz com que eles se sintam mais ligados a esse
território, que é visto como parte importante para compreender sua trajetória de vida.
Como falado anteriormente, em pesquisas pregressas há uma expressiva amostragem de
moradores nativos. Em Tavares (2016), a maioria das lideranças entrevistadas para
compreensão da formação do movimento Somos Todos Baixio das Palmeiras é nativa. Em
Nobre (2017), há uma grande quantidade de relatos de moradores que sempre viveram nas
comunidades abordadas.
No que se refere a identidade de lugar e os índices de localidade, foi visto que no Oitis,
o elemento tradição é uma constante entre os entrevistados. A maior identificação com o espaço
doméstico, assim como o apego, também passa pelo crivo laboral, sendo que a maioria dos que
foram entrevistados nessa localidade é vinculada à agricultura familiar. Por mais que o terreno
não seja deles, existe a visão da terra como seu lugar de provisão, apesar das adversidades que
o cercam. E, ao mesmo tempo, eles se sentem felizes por verem que, com a indenização que
172

será paga pelo Governo do Estado, poderão recomeçar a vida em um terreno próprio, por mais
que isso lhes ocasione, inicialmente, tristeza, em virtude da saída do lugar onde construíram a
vida. Eles se identificam com a casa, mas sair da situação da vulnerabilidade que estão hoje,
tendo a possibilidade de obter a casa própria, fá-los menos impactados emocionalmente,
situação essa ocasionada pela mudança de casa, consequência da desapropriação.
Muquém e Palmeiras têm resultados aproximados, sendo que Palmeiras se destaca no
respondente sobre a identificação com a comunidade e com a cidade, e Muquém tem
porcentagem expressiva sobre a relação da casa com à história de vida do sujeito. Isso faz
correlação com o nível de apego, que também foi bastante expressivo nessas duas comunidades.
Essa identificação com a comunidade também reverbera nas formas como os moradores
lidam com o território e defendem-no, pois, como reflete Giuliani (2003, p. 152, tradução
nossa),“A tensão entre continuidade e mudança, particularmente em relação às normas sociais
e processos culturais, reflete-se nos laços afetivos a lugares durante a vida [...]”. Isso fica mais
nítido quando recorremos tanto aos dados colhidos na autobiografia ambiental, quanto quando
nos voltados para os estudos anteriores desenvolvidos nessas comunidades.
Na autobiografia, o processo de desapropriação para moradores do Baixio das Palmeiras
e Muquém foi relatado como causador de tristeza e sofrimento, tendo em vista a força dos laços
afetivos dos moradores dessas comunidades, aliada à perda patrimonial, que faz com que o
processo fomente movimentos de defesa ao território, como foi ilustrado na trajetória do
movimento Somos Todos Baixio das Palmeiras e no Fórum Popular das Águas do Cariri no
capítulo anterior, movimentos que surgiram no Baixio das Palmeiras e tiveram grande adesão
de moradores do Muquém em sua gênese.
Sobre as pesquisas anteriores, em Tavares (2016) é dito que o Somos Todos Baixios das
Palmeiras agrega a identidade do distrito Baixio das Palmeiras e das comunidades que fazem
parte do movimento, uma conotação de comunidade de luta e de mobilização social por um
bem comum, que no caso é o acesso à terra e à água. Sendo que isso também é reconhecido
pelos gestores, como mostra o capítulo dois desta tese.
Nobre (2017) reforça que a noção de identidade, no caso dos habitantes do Baixio das
Palmeiras como distrito, está relacionada tanto a aspectos culturais peculiares das comunidades,
quando ao simbolismo que esse espaço detém na vida, em especial dos agricultores familiares.
Em Martins (2020), é dito que a prevalência de estimas potencializadoras nos habitantes do
Baixio das Palmeiras e do Muquém, em especial o pertencimento, tem a ver com a noção de
identidade de lugar. A autora descreve uma oficina realizada pela mesma como convidada do
projeto Resistência, intitulada ‘Identidade de Lugar e Promoção de Saúde na Comunidade’.
173

Nessa oficina, foi trabalhado como o espaço da casa e da comunidade está vinculado à trajetória
de vida de mulheres que participam do grupo no Muquém.
Sobre a experiência, Martins (2020, p. 140) afirma que

Foi percebido que, ao mesmo tempo em que esses lugares marcaram suas vidas, a
representação de cada lugar era construída por elas, a partir do momento que elas
tornaram aquele espaço como algo delas (apropriação), sentiram que pertenciam
aquele lugar (pertencimento) e sentiam-se ligadas afetivamente aos mesmo (apego).

Sobre os menores índices terem sido notados na Chapada do Baixio, vale ressaltar as
questões das dificuldades de locomoção na comunidade, por se situar em uma região mais alta
do distrito, a distância entre as casas e o fato de que todos os moradores entrevistados que eram
da Chapada já estão morando em suas novas residências, a maioria em comunidades vizinhas
como o Muquém.
No que se refere aos índices de gênero, foi observado que o ato de ter construído a casa,
que foi relatado durante a aplicação da escala em alguns moradores homens, de preparar a terra
e plantar, bem como de ser parte desse território faz com que essa comunidade e essa casa sejam
parte da identidade de homem do campo. Isso reverbera nas formas de identificar suas
comunidades como um lugar de lembranças felizes, um lugar que ele faz parte e que ajudou a
construir. Em Nobre (2017), o autor reflete como os agricultores e agricultoras residentes das
comunidades do distrito Baixio das Palmeiras veem estas como territórios de construção
coletiva. Sendo que o simbólico para o autor está localizado na relação cultura-espaço de vida.
Sobre o aspecto geracional, em todas as perguntas, as maiores porcentagens de
assertivas são de idosos, e isso pode ser explicado justamente sobre a força do apego na
construção da identidade de lugar das comunidades e da própria identidade local para essa
parcela populacional, corroborando com o que é falado por Giuliani (2003) sobre a importância
das características sociais e vivenciais para além das características físicas no processo de
construção da identidade de lugar, como também de como o indivíduo se adapta nesse meio.
Sobre as vivências com o território e a identidade de idosos em demais pesquisas, os
três estudos consultados (TAVARES, 2016; NOBRE, 2017; MARTINS, 2020) trazem
experiências de idosos na comunidade e como em suas histórias de vida aparece a comunidade
como um fator importante tanto para seu reconhecimento enquanto membro do território, como
no processo de aproximação dos movimentos de resistência as obras.
Giuliani (2003), ao falar sobre a relação entre apego e identidade a partir da esfera
geracional, cita o exemplo do experimento de Bahi-Fleury, que ao estudar a relação dos
174

parisienses com o bairro de residência, percebeu que a chegada no bairro e a forma de construir
laços dentro da comunidade foi mais impactante para os pesquisados do que o tempo de
moradia.
Os dados sobre o índice da categoria identidade em nativos se sobressaíram, com
pequenas diferenças, aos não-nativos, também coaduna com as trajetórias de vida das idosas na
comunidade demonstradas nos estudos de Nobre (2017) e Martins (2020).
Para discutirmos sobre os índices de coesão social, precisamos retomar algumas
questões. Como é visto na linha do tempo produzida no capítulo dois, o auge das ações de
resistência se deu entre os anos de 2012 a 2017, sendo que em 2018 a desmobilização começa
a ficar mais notória, sendo realizadas atividades pontuais no espaço da Associação, parcerias
com os grupos culturais, como a Casa de Quitéria e a Casa de Farinha e ações de pesquisa; e
extensão e cultura da Universidade Federal do Cariri e da Universidade Regional do Cariri. À
medida que as negociações com o governo do estado avançam e são pagas indenizações, o
número de pessoas participando de ações comunitárias de cunho reivindicatório está
diminuindo.
Algumas pessoas também se encontram em estado de negação, relatando acreditar que
a construção nunca irá ocorrer, sendo que já foi sinalizado para as lideranças comunitárias que
o governo do estado quer concluir as negociações este ano para iniciar em seguida as
construções15.
Nos mapas afetivos das lideranças abordadas por Martins (2020), sendo sua maioria
advinda do Baixio das Palmeiras, a preocupação e desapontamento com o estado atual de
inércia da população do entorno é falada. Os temores com o pós-obra, a dimensão sofrimento,
no que se refere a presenciar a demolição das casas e as modificações territoriais ocasionadas
pela obra, unem-se ao discurso do incomodo trazido pela aparente tranquilidade da comunidade,
que não tem refletido e se engajado da mesma forma que no início das lutas.
Já quando se refere à mobilização, novamente Palmeiras se destaca. Como já foi dito
anteriormente, o início de todo o movimento de resistência foi em Palmeiras. Várias pesquisas
abordando a história dos movimentos sociais locais, como Tavares (2016) e Nobre (2017),
mostram que as primeiras ações partiram de associados à Associação Rural Baixio das
Palmeiras, que agregou também na luta de moradores das outras três comunidades atingidas no
distrito, moradores do Assentamento 10 de abril, da comunidade Poço Dantas e outras
comunidades que foram abordadas pelo CAC em Crato e Barbalha, para além da criação de

15
Informações retiradas tanto de um diário de campo de uma ação realizada pelo projeto em 2019, quanto de
Martins (2020).
175

uma rede de apoio com os movimentos sociais do Cariri e movimentos nacionais, como o
Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).
Visto que Coesão Social gera participação, essa capacidade mobilizadora do Baixio das
Palmeiras fez com que a comunidade tivesse um forte engajamento no início do Somos Todos
Baixio das Palmeiras e compunha a formação do FOPAC. Porém, como foi visto na avaliação
de participação, hoje eles não se sentem tão participativos.
Contudo, é afirmado pelos moradores abordados pela pesquisa, o papel dessa
mobilização no resultado das ações empreendidas para mitigar os danos iniciais do CAC à
comunidade. O próprio FOPAC pode ser visto como uma expressão da coesão social
comunitária, coesão essa reconhecida pelos gestores, como visto no capítulo dois. Toucqueville
(2005) reforça o papel da associação que representa a opinião de certo número de indivíduos e
constitui-se em uma força que agrega “[...] os esforços de espíritos divergentes e impele-os com
vigor em direção a um só objetivo claramente indicado por ela” (TOUCQUEVILLE, 2005, p.
220).
É visto nos estudos consultados anteriormente (TAVARES, 2016; NOBRE, 2017;
MARTINS, 2020) o reconhecimento dos envolvidos no processo, e por parte de moradores
afetados pelo CAC, a importância da mobilização em prol da defesa do território para realizar
o processo de monitoramento e controle social do processo de desapropriação gerado pelas
obras.
A partir das ações, foi possível obter informações sobre o que era o CAC, pressionar o
poder público para obter dados sobre a negociação e pagamentos das indenizações, fiscalizar e
denunciar situações de violação de direitos causadas pelo processo de desapropriação e mostrar
à população do Cariri a dimensão desse processo, por meio da comunicação.
Sobre a Chapada do Baixio, que apresentou os menores índices em mobilização, é válido
ressaltar novamente a distância física entre as casas vizinhas. Mas, além disso, o fato de a
Chapada não ter uma associação de moradores, como nas outras três comunidades. Quem é da
Chapada vincula-se à associação das Palmeiras ou à associação da comunidade Currais de
Baixo. Também se ressalta o fato de a maioria dos moradores abordados, que era da Chapada
do Baixio, já foi desapropriada e já está morando e integrando comunidades, na maior parte as
circunvizinhas como Palmeiras e Muquém.
Segundo informações colhidas nos diários de campo16 das ações do grupo de Educação
em Saúde desenvolvida pelo projeto Resistência, a maioria das participantes é mulher. Em

16
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
176

Martins (2020), mulheres idosas são mais engajadas nos grupos religiosos da igreja Católica,
organizando atividades como as tradicionais renovações, prática de louvor católico, específica
das cidades interioranas, grupos de oração e organização de quermesses. A capela aparece
inclusive no desenho de três mulheres (duas idosas e uma adulta), quando foram perguntadas o
que a comunidade significava para elas.
Sobre mobilização, é percebida a função das mulheres, em especial das idosas, a relação
entre mobilização comunitária e transmissão oral da memória comunitária. Nobre (2017), como
já foi citado anteriormente, fala sobre as idosas como as guardiãs das histórias da comunidade.
No processo de observação, várias idosas falaram sobre histórias do Baixio e que essas histórias
reverberam na consolidação da identidade comunitária.
Um dos exemplos17 vistos durante o percurso com a comunidade foi o evento I Mostra
de Saberes do Baixio das Palmeiras, realizada na Casa de Quitéria a partir de uma parceria entre
a UBS do Baixio das Palmeiras e a Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da URCA.
Nesse evento, mulheres idosas engajadas em grupos de cordelistas mostraram suas habilidades
em mobilizar pessoas a partir da arte do cordel, contando suas histórias e histórias da
comunidade, como também partilhando conhecimentos sobre ervas medicinais e práticas
tradicionais religiosas de cura, como as benzedeiras e mezinheiras.
Como é afirmado por Giuliani (2003), quanto maior o tempo de moradia na comunidade,
maior identidade e coesão social, o que pode ser confirmado a partir dos resultados observados
na escala, da qual se inferiu que os maiores índices nas três categorias (união, participação e
mobilização) são dos moradores mais antigos. Idosos percebem a comunidade como um lugar
de pertença e união, sentem-se estimulados a participar tanto de atividades comunitárias
peculiares a cada localidade (grupos culturais e religiosos) quanto de atividades relacionadas à
resistência ao CAC.
A maioria dos mapas afetivos de idosos, avaliados por Martins (2020), trazia o elemento
união como importante para o fortalecimento do vínculo deles com o lugar. Um dos mapas de
uma idosa falava sobre a importância de grupos comunitários, no caso, o grupo da capela, e do
apoio entre vizinhos para que a mesma consiga lidar com a situação de luto, vivenciada pela
perda do seu marido. Também é ilustrado isso quando um dos moradores adultos médios relata
sobre um caso em que os moradores da comunidade se uniram para poder ajudar
financeiramente um morador idoso que precisava passar por uma cirurgia, a partir de um bingo
comunitário.

17
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
177

Boa parte das lideranças comunitárias abordadas neste estudo é composta por homens
entre 40 e 80 anos, situados na faixa adulto e idoso. Idosos também são sempre presentes em
atividades do STTR e são a maioria do público das reuniões da Associação Rural Baixio das
Palmeiras, como consta na observação realizada18. Eles também são engajados em atividades
de mobilização das causas comunitárias.
Em contraponto, os jovens apresentam menor coesão social. No elemento união, isso é
perceptível nas faixas de 18 a 25 anos, cujos jovens não percebem a comunidade tão unida, mas
percebem que há uma boa participação. Já os jovens entre 26 e 33 anos consideram que há uma
união na comunidade, mas não há tanta participação, entretanto conseguiram mobilizar a
sociedade na luta pelos seus direitos. Isso pode ser compreendido tanto pelo baixo envolvimento
em atividades comunitárias de base nesses grupos, quanto que uma faixa populacional tem sua
vida laboral engajada na cidade, retornando à comunidade para dormida e descanso no final de
semana, não tento tanto envolvimento com a terra e com as dinâmicas locais, como os idosos.
Já no que se refere à participação, não-nativos mostram uma noção de comunidade
participativa maior do que os nativos. Isso pode se dar tanto pela percepção do papel dos
movimentos de resistência na garantia de direitos dos atingidos pelo CAC, como pelo
engajamento em atividades comunitárias. Já ambas as faixas reconhecem a capacidade de
mobilização social das comunidades abordadas, sendo notável a situação de empate na
porcentagem das afirmativas.

7.4 RESISTIR E/OU MIGRAR: APROPRIAÇÃO DE ESPAÇO NO HIDROTERRITÓRIO


BAIXIO DAS PALMEIRAS

Considerando-se a análise da autobiografia ambiental, de acordo com sua estrutura,


pode-se fazer algumas considerações iniciais. Nos elementos textuais, observa-se a narrativa
em primeira pessoa do singular ou do plural. Quanto ao tempo utilizado na narrativa, percebe-
se a cronologia do passado para o presente; excepcionalmente em uma moradora, a narrativa
seguiu o inverso.
Na segunda parte, em relação aos conteúdos explícitos, considerando-se as situações e
fatos escolhidos, os eventos descritos se referem à mudança de domicílio, à abordagem do
“pessoal do rio” no distrito, às relações entre espaço construído/natural, à representatividade
da casa; e à relação casa e a história de vida do morador.

18
Conteúdo retirado de diários de campo das observações realizadas em 2019.
178

Na primeira categoria, mudança de casa, observou-se satisfação (Quadro 13),


principalmente, em moradores do Oitis e em alguns moradores da Chapada. Para os moradores
do Oitis, a justificativa se dá pela questão de serem moradores em terras alheias e agora,
finalmente, poderem comprar a casa própria. Para alguns da Chapada, a satisfação se deu pela
nova localidade, diferente da anterior, cuja acessibilidade era reduzida, havendo também o
distanciamento dos serviços como escola e postos de saúde. Isso foi também detectado na
aplicação da escala de apego, como discutido no capítulo anterior.
Quadro 13 - Satisfeitos com a mudança da casa
1. Satisfeitos com a mudança da casa
(M, Oitis): “Eu assinei (+) e eu não achei ruim não, não me arrependi não, foi muito foi bom que eu fiz
a) uma casa melhô (+), que eu nunca ia morá numa casinha dessa (+) é de taipa, mas eu amo minha casa”
(ARARPEGRYLLUS SERRILHATUS, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Oitis, indenizada): “Nasci no Baixo do Oitis /.../ criei meus filho tudo lá, /.../ todos seis nasceram lá,
(o marido também) nasceu lá. Em 2017 a gente vei pra cá, construímo aqui (+) compremo um pedacin
a:: ali (+) e a gente tamo viveno, tamo gostano. /.../ Moro aqui devido o rio, né? (Antes eu) Morava lá
b)
/.../ no Baixio do Oitis. Aqui é nosso agora (+). A GENTE VIVIA LÁ, mas não era da gente, /.../ tinha
o dono da terra, ele nunca cedeu algum (+) pedacin de chão pra gente (+) e a gente morava lá, né?
/.../ Trabalhava nas terra dele” (ELCANIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Chapada, indenizada): “A gente comprou aqui, esse terreno /.../ ele olhou e disse assim (o marido):
‘Não, aqui é bom, aqui vai ser bom!’. Compremo e depois já começou a brocar, depois já empretemo a
casa pra fazer, os mestre fizeram 12 mil (+) SÓ TRABALHO DELE, né? Máquina (+) pra fazer o chão
c)
da casa foi de máquina, /.../ (O dinheiro da indenização) deu, deu, assim porque também a gente não
foi se exagerar, porque se fosse se exagerar num tinha dado não, num tinha dado não”
(LOCUSTOPSIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Chapada, indenizado): “/.../ eu tava há quatro anos construindo minha casa, naquele ano eu já tinha...
dava até pra casar e tudo, né? Tava só (+) minha casa já tava pronta, só faltava pintura e: e pra dentro de
casa mesmo. Eu acho que eu fui o primeiro a:: questão das indenizações, a receber porque eu tinha
d)
o interesse de resolver a minha vida. Pagaram direito e tudo! É: eu tirei (+) tudo que eu podia tirar
da minha casa antiga pra colocar nessa nova, coloquei, /.../ /.../” (CARABIDAE, 2019, informação verbal,
grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Chombart de Lauwe (1976) realça as diferenças entre o indivíduo proprietário de sua


casa e aquele que a alugou, uma vez que as representações do espaço-habitação são
diferenciadas, consequentemente, não atribuem os mesmos valores e, portanto, não possuem os
mesmos sentimentos pela casa. Fato, esse, que pode ser observado pelos moradores da
comunidade dos Oitis, cujas casas foram construídas de maneira rudimentar, em terras de
proprietário rural nas quais trabalhavam, demonstrando, portanto, satisfação com a mudança
residencial. “Para a comunidade dos Oitis foi bom, porque saíram da taipa”, reforça a moradora
das Palmeiras e agente comunitária de saúde Araripelepidotes temnurus (2019, informação
verbal).
Por outro lado, os habitantes insatisfeitos com a mudança trazem em seus discursos dois
elementos: o incômodo causado pelo processo de perda da casa, que para os entrevistados é
179

também a perda de um ambiente significativo na sua história de vida; e insatisfações acerca do


processo de pagamento da indenização, considerada insuficiente para alguns, como pode ser
visto no Quadro 14:
Quadro 14 - Insatisfeitos com a mudança da casa
2. Insatisfeitos com a mudança da casa
(H, Chapada): “(O pessoal do rio) Eles querem pagar uma mixaria. /.../ 20 mil nessa casa e naqueles
dois quarto (+). Enquanto uma uma casa ali /.../, só pa levantar, eles pagaram 70 mil, e querem pagar 20
a)
mil numa casa. (+) E os pé de siriguela, /.../ eles querem pagar uma mixaria também”
(POTAMANTHIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Chapada, indenizado, idoso): “Eu nasci e me criei aqui (+)!Nunca saí daqui /.../ ,nem pra outo
município /.../, só aqui no Crato mermo, (+) e principalmente aqui no Baixio (+) onde eu nasci e me
criei. Sai da casa do meu pai e fui morar nessa outra casa daqui (+), e tive que sair (+). Lá foi onde eu
(+) construi minha família /.../. /.../. Eu não gosto, a mulher vive bem, satisfeita, que gosta de lá.
Apesar de ser tudo família perto (+), uns bom vizin (+), mas não (+), não me sinto bem lá /.../ /.../
(+) Aí (+) sempre tem uma história de vida da gente, porque (+) quem (visa) dinheiro (+) tá satisfeito
b)
com isso aí (+), quem visa o dinheiro (+) tá satisfeito, porque acha que o dinheiro é felicidade , e
pra mim nunca foi felicidade! Recebi a indenização, comprei lá onde eu tô morando agora /.../
comprei mar por causa da da mulher e or menino que queria, mas eu mermo num era satisfeito
não /.../). minha casa (+) meu bar, cacimba, cerca, que eu gastei muito com cerca, meu curral, com
cocheira, coberto com tudo (+) meu comérciozin, /.../ foi tudo que eu abandonei lá” (STAPHIILINIDAE,
2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Segundo Serfaty-Garzon (2003), a relação entre a apropriação e identidade de lugar


advém das práticas executadas neste espaço, pois através dessas atividades, a marca do
habitante é nela fixada, tornando-a sua. Essa conexão pode ser observada através do sofrimento
relatado pelos moradores desapropriados que construíram a própria casa. Processo que durou
anos e no qual cada detalhe revela o cuidado e atenção do habitante.
Sobre a questão da tristeza trazida pelo o processo de mudança, isso corrobora com os
dados referentes ao apego, detectados no capítulo anterior. Essa relação também reflete no
fomento de movimentos em defesa do território e práticas de resistência à extinção de
expressões culturais, como é visto na Casa de Farinha e na Casa de Quitéria.
Na categoria abordagem do “pessoal do rio”, em referência à equipe da topografia e
do cadastramento, percebe-se, nitidamente, relatos que demonstram a invasão de privacidade.
Quadro 15 - Descontentamento a respeito da abordagem do pessoal do rio
3. Descontentamento a respeito da abordagem do “pessoal do rio”
(M, Chapada): “Eu estava dentro de casa e vi um homem cercando a casa. Perguntei o que ele queria. E
a) disse que não era assim. Tinha que chegar do portão e se identificar porque aqui é privado”
(CARIRIEPHEMERA MARQUESI, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Muquém): “Ele entrou fazendo, (o pessoal do rio), (incompreensível) sem pedi licença /.../
b)
cortando, sabe?” (ARARIPEPHLEBIIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Muquém): “A gente tinha plantado um monte de pé de ipê (+) ali na: (+) ali no [asserim] da: mata
(+) que minha sobrinha é: ambientalista e ela trouxe (+) . A gente plantou, ai já tava bem GRANDE e
c)
eles contaram TUDO. /.../ (O pessoal do rio) cortaram TUDO, num tem mais nada lá /.../ Ai a gente
chegou e disse ‘O que é isso?’ (+) Ai: eles disseram que era o rio (+) que era (+) tavam demarcando
180

a terra que o rio ia passar, nós soubemos assim” (ARARIPEPHLEBIIDAE, 2019, informação verbal,
grifo nosso).
(M, Palmeiras): “Fiquei muito abalada, porque (+) a gente não sabia (+), eles começaram, é: destruindo,
fazendo caminho aí por trás de minha casa, coisa que a gente nem sabia (+) né? Eu tava aqui em minha
casa quando (+) escutei um barulho (+) aí no mato roçando, né? Quando eu saio (+), fiquei
assustada (+), fiquei muito assustada (+)! SAI E VI uns caras roçando, aí:: (+) depressa eu fui
d)
avisar a minha mãe, né? Fui avisá a minha mãe e falei. Aí ela subiu aqui pra cima (+) e minha
irmã também, e a gente vimos. (+) Só que aí eles, muito mal-educado, não queria nem conversa,
queria faze o trabalho deles (+) sem pedi permissão, né?” (MESOBLATTINIDAE, 2019, informação
verbal, grifo nosso).
(H, Palmeiras): “Porque não é fácil você tá em sua casa, em sua residência, naquela luta /.../ e veno como
é que tá a situação. Quando a gente (+) ca-i na real, /.../ você tá em sua casa e ser desacatado da forma
e)
que nois fumo /.../ .../ E quando a gente chegou da roça, que a gente somo todos agricultor, graças
a Deus samo agricultor (+)!” (BLATTULIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Vilel-Petit et al. (1976) expõem algumas reflexões sobre o processo de desapropriação:


a violência feita através da realocação forçada de pessoas que sentem que, na verdade, é a sua
continuidade que está sendo ameaçada; e a ignorância das conexões entre a pessoa e o ambiente,
criando-se obstáculos para apropriação de determinados espaços construídos.
Como relatado no capítulo dois, a abordagem inicial do grupo enviado para fazer a
medição da área de impacto do CAC se deu de forma inadequada. Não houve um diálogo prévio
com os moradores, nem foi explicado aos moradores sobre o que aquela visita se tratava, nem
pedido permissão para entrar. O termo invasão também aparece em outras pesquisas feitas na
região, mostrando como essa abordagem foi nociva para a população afetada.
Damasceno (2017) registra que a narrativa das histórias vem acompanhada pelas
emoções ocasionadas ao vivenciarem aquelas experiências, e, portanto, infere que todo
contexto autobiográfico ambiental é afetivo. Afetividade, esta, demonstrada nos relatos da
categoria representatividade da casa. Aparecem referências à infância, ao entorno da família,
ao significado de construir aquele imóvel, tendo-a como refúgio.
Quadro 16 - Representação da casa
4. Representação da casa
I INFÂNCIA E ACONCHEGO DA FAMÍLIA
(M, Muquém): “Porque lá foi onde eu nasci, né? Me criei lá, né? Nasci lá (+) com meus pai e meus irmão
(+), se criemo tudo lá (+)! Eu casei, fiquei morano lá. Tem um significado pra mim muito bom, né?
a)
A infância lá, que foi muito bom /.../” (COSTALIMELLA NORDESTINA, 2019, informação verbal,
grifo nosso).
(M, Palmeiras): “Minha casa representa pra mim porque (+) eu nasci e ME CRIEI AQUI (+), nunca
fui pra /.../ outros, né? (+) Lugares (+) e:: (+) ela representa (+) tudo /.../ não sei, eu acho que é
porque (eu fico nesse casa) (+) e e:: por causa dos meus pais, né? Minha família, que é todos irmãos
b)
aqui, tudo arrodeado de família, né? E:: (+) sou muito (+) apegada a eles, não ME VEJO (+) longe
deles. Aí, moro aqui nessa casinha, mas eu (+), todo tempo eu tô lá, né? (+) Aí (+) pra mim é é (+) é isso
aí” (UMENOCOLEIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Palmeiras): “Construímos esse (+) pedacinho aqui, que é tudo na minha vida. (+) E então, é::
c) (+) é muito (+) assim, pra mim é como se fosse um pesadelo, né? É é é saber que um dia (+) a gente
poderiamo sair daqui (+) e sem ter pra onde ir (+) né? Ir pra longe de meus pais (+) e tudo na vida da
181

gente, do meus irmãos (+) que aqui é tudo uma família muito unida, né?” (MESOBLATTINIDAE, 2019,
informação verbal, grifo nosso).
(M, Oitis): “Eu nasci aqui nesse chãozim aqui (+) quando eu fui pra lá, /.../ já era mãe desse menino
d)
tudim” (ARARPEGRYLLUS SERRILHATUS, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Muquém): “Que se chegar alguém e disser (incompreensível) se valesse 500 reais e dissesse ‘te dou
mil!’ A gente num dava, tá entendendo? ‘Eu te dou dois milhões, um milhão!’. Num tem dinheiro que
e) pague! É o nosso refúgio, aqui a gente pensava que era pra filhos e netos (+). Quando minha mãe
morreu tava na construção dessa casa, eu só num tô tão triste, tão triste...” (ARARIPEGOMPHIDE, 2019,
informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Ximenes e Moura Junior (2013) descrevem um perfil de comunidades rurais, baseado


no projeto que desenvolvem nesses ambientes em que explicitam a existência de relações
afetivas consistentes entre os moradores, familiares e vizinhos; e, da mesma forma, sentimentos
positivos relacionados às comunidades, apesar das dificuldades de acesso à educação, à saúde
e a outros serviços básicos.
Vilela-Petit et al. (1976) explica que em um processo de apropriação de espaço, este
tem que ser vivido, concebido segundo a imagem de seu habitante que o transforma. No relato
abaixo, verifica-se a singularidade do processo de construção de uma casa para um morador.

(M, Chapada): Há cinco anos... mas /.../ ela começou a construí:: (+) há mais de 10
anos. Assim, porque:: (+) nois casamos (+) e aí começamos... antes até do casamento
a gente já tinha começado lá a construir. E aí:: /.../ nos casamos e eu fiquei na /.../ casa
de minha mãe (+) e ele ficou na casa da mãe dele, pra que a gente desce continuidade
a obra, né? E aí fomos fazendo de pouco, tentamos fazer (+) um empréstimo, mas aí
não deu certo. E aí (+) demos continuidade (+) a construção. Fizemos.Aí tive um
primeiro filho (+), e aí aqui na casa da minha mãe (+) meu bebê não sobreviveu (+).
Aí tive o segundo filho (+) ,que também foi na casa da minha mãe (+). E aí continuei
na casa da minha mãe e o sonho de í pra minha casa, né? Sempre nessa luta. Eu
trabalhava dois expediente, meu esposo também. A gente (+) abriu mão de (+) de
toda:: (+) todas as partes de festa, de tudo, pra construir essa casa, né? E aí, quando
eu engravidei (+) da menina /.../, em março, eu fiquei grávida. E em agosto (+) eu fui
pra uma reunião (+) lá no ginásio, que foi na escola aqui, Municipal (+). E aí /.../ a
gravidez (+) era o sonho meu. Era assim, quando eu tivesse a minha filha eu já ia mora
na minha casa e, de fato, isso aconteceu. Minha menina vai completa seis anos (+). E
aí, em agosto, eu fui pra lá, pra essa reunião, e tive a (+) a notícia (+) que:: a minha
casa ia ser demolida /.../. Fizemos a construção da casa, e aí (+) compramo tijolo pra
murar, pra ter mais (+), uma certa, segurança. Porque eu tenho crianças pequena e
tudo. Mas, infelizmente, /.../ de veiz em quando arrebenta essa história do Cinturão
das Águas, e aí eu (+) acabei não fazendo o muro” (CRETEREISMA, 2019,
informação verbal).

Verifica-se a importância da casa, em cada detalhe construído, cada suor derramado.


Conforme Tuan (1983), o lugar adquire significado para o adulto, pois com o tempo se
desenvolve sentimentos, de forma que “[...] cada peça dos móveis herdados, ou mesmo uma
mancha na parede, conta uma história” (TUAN, 1983, p. 37).
182

Semelhantemente à pesquisa de Carvalho e Silva (2018) sobre os atingidos pela Usina


Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães, evidencia-se também a existência de dois grupos de
moradores desapropriados: aqueles com forte sentimento positivo em relação à casa
abandonada e à vizinhança; e aqueles com sentimentos negativos. No caso do distrito Baixio
das Palmeiras, verifica-se que todos os moradores desapropriados da comunidade Baixio dos
Oitis relatam, apesar de alguns sentirem saudades, sentimentos de felicidade por, finalmente,
terem sua casa.
O que foi encontrado durante o processo de autobiografia ambiental, novamente reflete
nos índices levantados na escala de apego aplicado no capítulo anterior. Na qual os moradores
de Palmeiras e Muquém mostraram porcentagens expressivas nos itens voltados ao apego e à
identidade comunitária. Em contraponto do que foi observado em Oitis, que apresentavam
maiores índices em respondentes referentes à dimensão casa.
Como pode ser observada, essa forte vinculação entre o significado da casa com o
planejamento e construção dela, aparece intercalando com as benfeitorias realizadas, com as
plantações feitas, dentre outros elementos agregadores, o que pode ser percebido na categoria
Espaço construído/Espaço natural (Quadro 17).
Quadro 17 - Espaço Construído/Espaço Natural
4. Representação da casa
II ESPAÇO CONSTRUÍDO/ESPAÇO NATURAL
(H, Palmeiras): “AÍ CONSTRUÍ essa daí (+) com (+) madeira mermo. (+) Aí eu digo ‘ Um dia eu faço
uma’. AÍ COMECEI UM TEMPO (+) com o pessoal aqui, aí ele disse: ‘ Nois bate o tijolo’. Aí foi batido
no tijolo aqui : nesse mermo canto da casa aqui (+) pode dize. Aí /.../, quando deu uma brechinha /.../,
favoreceu uma coisinha: O TEMPO, né? De... de:: (+) de umas apurado que a feiz de roça, de algum
a) bicho que a gente tinha (+). Eu fui e construí essa /.../ Essa casa aqui eu (+) tive (+) esses ano todin
nela (+) com a família (+) . Cuidei de gado, cuidei de roça (+) e:: sempre recibi um amigo aqui (+).
As pessoa que: (+) que gostava da gente, fazia um negócio, sempre vinha pra cá, e::u (+) fazia o jeito
de (+) O JEITO HOSPITALEIRO, né? De trata das pessoa bem (+) e:: (+) e a a PRÓPRIA FAMÍLIA,
né?” (KARENINA LONGICOLLIS, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Oitis): “Ele derrubou (+), derrubou a casa (o governo). E as seriguela ainda existe, onde a gente
(+) construía os pé de planta (+). E tá lá ainda! Mas (+) a lembrança continua (+) não sai da
b)
memória não. CHOREI TANTO no dia que eu saí, /.../ chorei demais” (ELCANIDAE, 2019,
informação verbal, grifo nosso).
(M, Muquém): “Porque aí muitas pessoas se deslocava pra cá pelo: (+) pelo o nosso terreno e agora vai
dar uma rodeio IMENSO que vão ter que andar pelas estrada, né? E (+) eles andava por dentro do
c)
nosso terreno, e: (+) amenizava até: os passos pra crianças vim até a escola, e agora vão ter que ir
pela a estrada, BEM mais longe” (MAKARKINIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Moser (2018) ressalta que as características físicas de um ambiente estão em


interdependência com as características sociais e humanas do espaço real, de forma que mesmo
que existam carências ambientais, estas são compensadas pela qualidade das relações com a
vizinhança.
183

Como mostra a primeira fala, as relações de vizinhança também são um elemento


importante para compreender a relação dos sujeitos com suas comunidades. A rede de apoio
estabelecida em algumas comunidades, assim como as atividades comunitárias (grupos
religiosos, culturais e de resistência), fortalece a identidade do sujeito enquanto morador
daquela comunidade e daquela residência. Chombar de Lauwe (1976) revela que estudar
apropriação de espaço referindo-se ao ambiente casa pressupõe também o olhar sobre o entorno,
como as relações de vizinhança.
Na segunda fala analisada, novamente o elemento construção aparece como parte da
história de vida do morador. O ato de construir a casa e ver na mesma a sua história acontecer
fortalece os vínculos afetivos do sujeito com o território. Nos gráficos de apego, isso se reafirma
quando observamos que nativos possuem maior nível de apego, identidade e satisfação
residencial do que não-nativos, e esses dois públicos possuem porcentagens semelhantes no que
se refere à mobilização social.
Nas últimas falas, novamente o elemento da forma de abordagem inicial dos moradores
sobre o processo de desapropriação manifestou-se. A tristeza em ter que sair da habitação contra
a vontade e os problemas quanto à adaptação a um novo território são fatores que causam
bastante tristeza e angústia para os moradores.
A intensidade do sofrimento causado pelo processo também é preciso ser entendido a
partir do tempo. Em relação à dimensão temporal, a casa está vinculada à história de vida,
como criação dos filhos, convivência com a família extensa, herança dos pais e tempo vivido
no passado.
Quadro 18 - Relação com a história de vida
5. Relação com a história de vida
(M, Oitis): “Nasci no Baixo do Oitis, (+) município de Crato, (tenho) 55 ano, /.../. Criei meus filho tudo
a) lá, /.../ todos seis nasceram lá, (o marido também) nasceu lá” (ELCANIDAE, 2019, informação verbal,
grifo nosso).
(M, Muquém): “Tem quase 50 (que moro aqui). Aí aqui eu vivo feliz porque aqui:: (+) a casa foi ele
b) que feize (+) ! Eu paguei muito /.../, pagava renda todo ano. Depois que ele morreu foi que eu fiquei
pagano” (HEXAGENITIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Chapada): “/.../ Era, o sonho meu era assim: quando eu tivesse a minha filha eu já ia morá na
minha casa. E, de fato, isso aconteceu. Minha menina vai completá seis anos (+). E aí, em agosto
c)
eu fui pra lá, pra essa reunião, e tive a (+) a notícia (+) que:: a minha casa ia ser demolida /.../”
(CRETEREISMA, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Chapada): “Quando eu me casei (+), eu fui mora ali embaixo (no Baixio das Palmeiras). (Antes)
d) morava na casa de minha mãe /.../ e meu pai. /.../. Depois que nois construímo (+), viemo pra cá.
/.../ Já vai fazé 49 ano” (OLIGONEURIIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso.)
(M, Chapada): “Nasci e me criei lá. Era uma casa de taipa (+). Aí::, aos poucos, a gente foi se
organizano (+). Eu, mamãe...papai faleceu, mas mamãe foi se organizando e eu sempre mais ela (+). Aí
a gente foi derrubando a casa de taipa pa (+) melhorar, né? Fazer de tijolo. Aí fazia um quarto de tijolo,
e)
no outro ano fazia outro quarto. A gente construiu toda uma (+) uma história lá (+). Aí (+) veio o
Cinturão das Águas, aí pronto /.../! A gente ainda sobe pra lá, lá é só mato (+). A gente aproveitou
a madeira, aproveitou telha, aproveitou tudo, mas a gente ainda sobe pra lá (+) pra matar a saudade, e é
184

porque não tem mais nada lá, só os tijolo, né? Essas coisa tudo caído, as fruteira” (CARIRIEPHEMERA
MARQUESI, 2019, informação verbal, grifo nosso)
(M, Oitis): “As menina diz: ‘Mãe, mãe achava melhor lá ou aqui? Eu disse: ‘Aqui é bom, mas eu não
ESQUEÇO (+) do meu tempo, /.../ não esqueço de jeito nenhum!’. De veiz em quando eu vou lá,
ATÉ LÁ MESMO. Porque assim, depois que a gente saiu, o mato toma de conta (+), tá um deserto lá
f) agora /.../. Mas (+) a lembrança continua (+), não sai da memória não. CHOREI TANTO no dia
que eu saí, /.../ chorei demai! (O esposo) Ele achou bom a morada aqui (+), mass sempre vai lá /.../. Ele
sente (saudade). /.../ Aí, eu sei que /.../ é uma lembrança tão forte, tão grande, sei lá:: (+). Mas (+) tamo
viveno aqui /.../” (ELCANIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como pode ser observado na maioria das falas expressas por idosos, a construção da
trajetória de vida no território é um fator importante para a manutenção do indivíduo no local.
Conforme é apontado por Guiliani (2004, p. 159) sobre as relações de apego de idosos a um
lugar,
Na verdade, pode-se conjecturar que a necessidade de segurança e proteção
prepondera durante determinadas fases da vida (por exemplo, infância e velhice),
enquanto outras necessidades emergem mais energicamente na adolescência e em
vários estágios da vida adulta (por exemplo, exploração, afiliação, auto-expressão,
etc.). O forte apego que os idosos manifestam em direção ao lar pode, portanto, ser
compreendido como o ressurgimento da necessidade dominante de segurança e
proteção (GIULIANI, 2004, p. 159).

Novamente, os dados da autobiografia se equiparam aos dados encontrados na aplicação


da escala de apego, na qual os idosos obtiveram maior coeficiente em todos os itens avaliados
na variável idade, a saber apego, identidade, mobilização e satisfação residencial.
As histórias aqui relatadas foram vividas em um contexto de liberdade, convivência com
o rural, alimentação das fruteiras, como manga, seriguela, água de coco; além do riacho e da
água. As mesmas aparecem como elementos ambientais (Quadro 19) presentes na narrativa,
que demonstram a presença do ambiente na vida das pessoas.
Quadro 19 - Elementos ambientais
6. Elementos ambientais
(M, Chapada): “Eu tô (feliz por morar nessa casa nova) (+). Tô porque aqui tem bastante manga,
manga espada (+). Bastante castanha! Meu fi tirou esse ano (+), só aí nos pé de caju (+), ele tiro (+) seis
a)
saco de castanha /.../. Aí tem (+) tem siriguela, tem pitomba, tem (+) todo tipo de fruta (+) e planta”
(BOURETIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Chapada): “::, eu vivo da agricultura. /.../ (O terreno tem) Na faixa de 35 pé de siriguela, /.../ seis
b) pé de coco. (O pessoal do rio) Eles mediram tudo: (+) casa, terraço, calçada, cacimba (+), até o
chiqueiro que tinha eles mediram tudo” (POTAMANTHIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Palmeiras): “Tem um umas água que é:: subsolo, né? Água de subsolo, mair (+) tu-do feito de
alvenaria (+). Bomba ligada, um reservatório com (+) 45 mil lito, que foi feito (+) pa abastecimento
d’água. Aí em alguma horta lá no (+) alguma coisa aí pra baixo que tem no:: (+) no terreno, que
c)
/.../ a gente precisa sempre /.../ (A casa) Era lá (+) do outo lado da estrada. Esse riacho todo ano ele
bota uma cheia (+) boa /.../. Aí a casa era antiga (+) era mais ou menos que nem a casa de Quitéria (+),
casona grande!” (KARENINA LONGICOLLIS, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Palmeiras): “Essa minha ali ((aponta)) (+) ela não é de alvenaria, ela é de taipa (+) e a casa de
d) taipa pra eles (+) não é casa (+), é um rancho /.../ Nesse Baixio tá chei de fava madura! (+) /.../ Só
esse ano nois vendemo mais de 40 milheiro de milho verde, tudo botano na cidade pra eles comer
185

/.../. O que eles tem na mesa dele é nois, pequeno agricultor /.../, que bota dento do prato dele (+). Paga
baratim, nois tira o ano todim /.../” (BLATTULIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Oitis): “Nois morano no Baixio do Oitis (+) por causa que (+) quando eles vieram, disse que a
casa não era pa ninguém arruma:: (+), aí nois (+) também não liguemo, pensando que eles viam
logo, né? Orxe, a casa nesse invernão começou (+) a quere cair. (+) Aí meu fitinha feito essa casa
e) aqui, aí disse: ‘Mãe vai pra lá (+) enquanto vem (+) alguma coisa do rio pa mãe faze a de mãe /.../. Aí eu
disse (+) ‘eu vou caí debaixo de (+) da casa cair por cima’. Aí eu vim pra cá (+) no tempo do inverno
/.../ Então, aí disse: ‘Não é pa arruma nada, se arruma perde! Aí nois fiquemo com aquilo na cabeça
(+). Orxe, a casa caiu!” (EPHEMERIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(H, Muquém): “A gente tinha plantado um monte de pé de ipê (+) ali na: (+), ali no [asserim] da mata
f) (+), que minha sobrinha é: ambientalista e ela trouxe (+)! A gente plantou, ai já tava bem GRANDE
e eles contaram TUDO” (ARARIPEGOMPHIDE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Como pode ser observado nas falas demonstradas, os elementos do meio físico, como a
água, as plantações e jardins, também são importantes para a manutenção e fortalecimento da
relação pessoa-ambiente no caso analisado. Adiante será mencionado novamente o que é dito
por Tuan (2012) sobre a topofilia do agricultor, que por ter na terra um elemento que lhe nutre,
de onde tem o seu sustento e alimento, elemento que faz parte de sua trajetória, a natureza se
torna uma dimensão muito benquista para o mesmo.
Nos relatos captados, foi percebido que toda essa vivência é cognitiva, comportamental
e afetiva. Tais afetos aparecem na categoria Sensações e Sentidos (Quadro 20). Como
sentimentos positivos tem-se apego, sonho, saudade e resolutividade. Como sentimentos
negativos aparecem, predominantemente, injustiça, seguido de incerteza, insegurança e medo;
ocasionando prejuízos à saúde física e mental dos moradores, como insônia, ansiedade,
nervosismo e depressão.
Quadro 20 - Sensações e sentidos
7. Sensações e sentidos
I POSITIVOS
Apego (M, Palmeiras): “Minha casa é uma casinha bem simples, bem humilde, mas pra mim (+) é
o meu canto, é o meu (+) né? Meu lar:: do jeito que for /.../ É MEU, né? Chei de pedra, não é /.../ num
local bom, mas (+) é (+) é meu, né? Tenho muito amor, tenho muito:: (+)! Foi construída com muito
a)
sacrifício (+), porque (+) financeiramente, a gente não tem condições. Aí, por isso /.../, sou muito
APEGADA mesmo, sou (+) de (+) de alma mesmo” (UMENOCOLEIDAE, 2019, informação verbal,
grifo nosso).
Resolutividade (H, Muquém): “Foi um valor justo, eu num vou dizer nem que foi abaixo nem acima.
Foi assim, foi um valor justo! Eu fiquei satisfeito! Depois de tudo, eu fiquei satisfeito, porque (+)
RESOLVI minha vida. Talvez se hoje tivesse brigado com Governo, que eu sei que (+) num adianta,
b) uma hora ou outra a justiça vai decretar que você vai ter que sair e você vai sair (+)! E talvez eu nem
recebesse o valor que eu recebi, talvez que eu recebesse era abaixo se eu num negociasse, porque essas
coisas, quando você meche com justiça é desse jeito. Aí por isso que eu tomei a frente de RESOLVER
a minha situação /.../” (CARABIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
II NEGATIVOS
Injustiça (H, Palmeiras): “Pega, pega aqueles senhor de casa /.../ Quando mediu aqui que vê que é só
gente fraco, não vai passar lá! E se vire! (+) Corra quem puder correr (+), é por isso que deixa a
a) gente indignado, porque (+) a gente é pobre, a gente é simple sim (+), mas a gente é humano, a gente
tem história (+). Tudo que nois colhe nesse Baixio /..,/ esse povo não tem sentimento, esse povo não tem
família (+) ,esse povo não tem coração!” (BLATTULIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
186

“Eu fico muito triste em saber que um dia (+) a gente sai daqui (+) !NINGUÉM SABE PRA ONDE,
b) né? E esse essa casinha aqui, esse pedacin de chão é tudo (+) na minha vida /.../ Não gosto nem de
(+) pensá muito, porque (+) é muito (+) sofrimento pra mim (+)” (Mesoblattinidae, M , Palmeiras).
Injustiça (M, Chapada): “Então (+), tem toda nossa história ali (+), e e eu não acho justo (+) assim,
por mais que eu saiba que vá beneficiar uma outra (+) uma outra comunidade, ou ou uma grande
c) população, mas eu não acho justo mexer com alguém (+) que já está no que é certo! Porque eles
podiam desviá e eu sei bem que: (+) pra desviá (+) eles /.../ poderiam fazer isso” (CRETEREISMA, 2019,
informação verbal, grifo nosso).
Insegurança, Injustiça e Incerteza (M, Chapada): “...a casa e vim morar no sítio, até porque é um lugar
mais sossegado, tranquilo, né? Que meus filhos pudessem ter a tranquilidade, de onde eu fui criada,
porque eu fui criada aqui. Mas aí, infelizmente (+), não sei, eu não tenho tanta segurança /.../ isso me
machuca demais! É é como se: (+) eu já tivesse a certeza (+), e aí eu não consigo mais tê calma pra
d)
passar po meur menino. Então (+) eu tô me policiando demais, pra que eu não fique (+) tão nervosa e
me passe (+) tanta tristeza, porque: (+) tava de um jeito, que quando meus meninos vê alguém diferente:
‘Mãe, é o homem do (+) do rio, /.../ eles vão derruba nossa casa!’. Assim, sabe, aquela incerteza, até
porque...” (CRETEREISMA, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fatalismo (M, Chapada): “Aí pa tá nessa pendenga, briga com o governo, /.../ não adianta (+)! Já
e) que vem mesmo o Cinturão das Águas, então...” (CARIRIEPHEMERA MARQUESI, 2019, informação
verbal, grifo nosso).
Medo (H, Chapada): “Ela ficou muito alterada (+), até hoje qualquer coisinha (+) ela fica toda se
tremeno. /.../ Ela... ela ficou mal, /.../ ainda tava recente da lembrança do meu pai. /.../ Ela ficava
f)
muito agitada (+), ficou com medo de sair. Ela tem medo de sair daqui /.../” (POTAMONTHIDAE,
informação verbal, grifo nosso).
Depressão e Insônia (M, Muquém): “EU SAÍ DE LÁ, eu adoeci, /.../ eu adoeci quando eu saí de lá (+)
pra vim pra cá (+). MAS QUANDO EU VOU PRA LÁ parece que meu coração tá é lá /.../ ! Adoeci,
g) tipo que nem uma (+) depressão que deu /.../. Eu tava com uma ansiedade muito grande (+), eu
não dormia (+). Passei: (+) mais de semana sem dormi” (COSTALIMELLA NORDESTINA, 2019,
informação verbal, grifo nosso).
Perda (M, Chapada): “Aí quando foi que aconteceu isso. EU que disse a ele que não precisava mais (tirar
os tijolos). /.../ (Ele) pegou uma alavanquinha assim e foi tirar o tijolo. A PAREDE caiu e ele não sabia
h)
nem que eu tava em casa ou quem não tava” (LOCUSTOPSIDAE, 2019, informação verbal, grifo
nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

Sobre a dimensão dos sentimentos e sensações, temos como reforço a compreensão dos
sentimentos descritos nas autobiografias ambientais, os dados apresentados tanto na escala de
apego aplicada nesta pesquisa como no mapeamento afetivo realizado por Martins (2020).
Sobre o primeiro, foi visto que as pessoas mais apegadas e com maior predominância
de respondentes de identidade também são as pessoas que mais sofrem, como o exemplo do
sofrimento dos idosos no que se refere à situação de desapropriação. Sobre a pesquisa de
Martins (2020), como afirmado no capítulo anterior, a estima contraste, que possui relação com
sentimentos ambíguos do sujeito com o lugar, está situada em dois polos: pertencimento,
relacionado à comunidade, e insegurança, relacionada ao CAC. Essa situação de insegurança
desencadeia os sintomas que foram listados no processo de autobiografia ambiental, como
insônia e tremores.
No próximo tópico a ser analisado (Quadro 21), é possível notar o aparecimento das
figuras de influência nos relatos analisados. Sendo essas a mãe, a família e as lideranças
comunitárias.
187

Quadro 21 - Fontes de influência


8. Fontes de influência
(M, Oitis): “Aí ele disse: ‘Por causa da sua mãezinha, a senhora quer receber o dinheiro ou quer se
arretirar daqui por uns tempo? Nois aluga uma casa e a senhora vai.’ Eu disse: ‘Não (+)! Eu quero
receber a indenização (+), eu faço uma casa e ali mermo eu fico, /.../ pelo meno eu faço uma coisa mais
a)
melhó pra mim está com minha mãe. /.../ Só que não foi melho porque o dinheiro não deu pa eu construí
(+), pra eu compra (+) o terreno e fazer a casa, porque eu moro no terreno dos outro” (ARARPEGRYLLUS
SERRILHATUS, 2019, informação verbal, grifo nosso).
(M, Muquém): “(Sobre sair da casa para outra) /.../ Eu vou, porque /.../ no meio de minha família aí é
que eu fico mais perto! E vou ficando mais de idade cada vez mais. Ali qualquer coisinha elas tão
b)
perto d’eu, mais perto (+) que mora tudo pertim” (HEXAGENITIDAE, 2019, informação verbal, grifo
nosso).
(H, Chapada): “O (+) Liro, ele é quem (+) é o cabeça. Se não fosse por ele... Sempre que tinha alguma
c)
reunião /.../ ele vinha aqui avisar” (POTAMONTHIDAE, 2019, informação verbal, grifo nosso).
Fonte: elaborado pela autora (2020).

É visto também nos capítulos anteriores deste estudo a importância dos equipamentos
sociais e dos movimentos de resistência, não só na defesa dos direitos da comunidade como
também na promoção de ações de educação ambiental e fortalecimento de práticas culturais.
Uma novidade nos discursos são os relatos sobre figuras de referência familiar, como as mães.
188

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou uma discussão teórica e prática sobre os impactos produzidos
pelo processo de migração ambiental compulsória, suscitado pela implementação de um projeto
hídrico (Cinturão das Águas do Ceará), no hidroterritório Baixio das Palmeiras, distrito de zona
rural do Crato, município do Ceará.
No primeiro capítulo, procedeu-se a identificação do distrito e das comunidades
pesquisadas. O cenário desta pesquisa é em ambiente rural caririense, onde foi observado
durante a construção dessa contextualização as especificidades socioambientais das
comunidades apontadas. Nos capítulos teóricos foram abordadas as principais temáticas
pesquisadas: políticas de gestão das águas, conflitos socioambientais, migração compulsória e
relação pessoa-ambiente. E na metodologia os principais caminhos percorridos para a
construção desse estudo.
Os dois primeiros tópicos de resultados componentes deste estudo suscitavam reflexões
sobre aspectos de gestão; no primeiro observa-se a percepção dos gestores públicos do CAC e
no segundo é apresentado o Fórum Popular das Águas do Cariri, instância de controle social
criada pelos movimentos sociais locais para monitorar as ações do CAC nas comunidades
afetadas.
O crescimento econômico e o desenvolvimento territorial colocam desafios constantes
na gestão de políticas públicas no nordeste brasileiro, considerando a escassez hídrica e
convivência com o semiárido como uma questão de saúde pública e garantia da continuidade
da vida para as gerações futuras. O aumento da demanda por água em virtude da globalização
e consequentemente do processo de expansão econômica tem gerado debate sobre o uso
sustentável desse recurso. Verifica-se que o crescimento populacional e a crescente necessidade
por água implicam na necessária gestão do recurso, de forma a garantir a quantidade e qualidade
para usufruto atual e para as gerações futuras.
Considerando a necessidade de prover segurança hídrica para a população, reconhece-
se a necessidade do empreendimento. O fato, em questão, é que a projeção deixou lacunas em
determinados aspectos essenciais e a implementação foi mal planejada pela equipe e
desenvolvida sem a participação dos reais interessados, o que, caso contrário, poderia ter
minimizado os conflitos estabelecidos.
A construção de um projeto hídrico não é somente uma questão de arranjos materiais,
mas também envolve, principalmente, a organização social dos moradores das localidades
afetadas por essas obras. A negligência na observação das características ambientais locais e da
189

realidade da população na ocupação do território garante o surgimento de conflitos


socioambientais, nos quais a articulação entre comunidade, sociedade civil e outras
organizações são primordiais para garantia dos direitos civis e humanos das pessoas excluídas
dessas políticas, discriminadas quanto ao seu direito de participação na gestão governamental.
Certamente que a água atende a múltiplos interesses e necessidades humanas; antes
considerada recurso infinito, baseando-se na crença de mananciais inesgotáveis. Hoje, sabe-se,
em decorrência das mudanças climáticas, que há a diminuição da disponibilidade hídrica e,
portanto, é necessário um sistema de gestão das águas.
É notório que estamos longe ainda de uma gestão efetivamente participativa. Entretanto,
avanços foram dados ao longo dos últimos anos. Por sua vez, apesar de todas as discussões
sobre mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, sustentado e includente, essa
perspectiva ainda está em desuso no cotidiano das pessoas e das instituições, alienadas sobre o
curso da vida, presas em uma relação temporal que somente considera o momento presente.
Como ocorre nas desterritorializações, desapropriações e migrações compulsórias, o passado
das pessoas, sua história de vida e memória é desconsiderado, negado, atribuído nenhum valor,
como se fosse apenas um objeto com o qual se pode movimentar, segundo interesses diversos.
Alguns gestores reconhecem a implementação enviesada do projeto nas comunidades
do distrito e percebem a importância de considerar o impacto social nas políticas públicas, para
que a tomada de decisão se aproxime mais dos atores efetivamente envolvidos.
As pessoas não desejam a estagnação do crescimento econômico; que a obra não seja
executada, mas que elas possam fazer parte desse desenvolvimento, como cidadãos de direito,
tendo suas propriedades respeitadas nos aspectos materiais e imateriais que as conectam com
seus territórios, suas famílias, através de seus antecessores e descendentes, sua vizinhança e sua
comunidade, bem como a rede de apoio, de afirmação identitária e de proteção.
Sobre o FOPAC, a fim de compreender o caminho realizado desde o planejamento do
projeto e a consequente manifestação social organizada pelas comunidades, alicerçada no apoio
de vários segmentos sociais, realizaram-se entrevistas com os atores sociais envolvidos, tanto
os gestores/técnicos como as lideranças comunitárias. Observou-se que a polêmica gerada em
torno do projeto possui elementos convergentes na percepção dos dois grupos. Considera-se
que a obra é um empreendimento importante, mas aponta-se que há o reconhecimento da
inabilidade dos técnicos da topografia e do cadastramento na abordagem aos moradores, tanto
que a equipe foi substituída. Constata-se também a presença da organização comunitária desses
moradores, identificados como “politizados, tradicionais e cheio de ambientalistas”.
190

Como pode ser observado, durante a trajetória de construção do Fórum Popular das
Águas do Cariri, a comunidade passou por vários entraves por conta de uma obra pública de
viés impositivo, sobre o qual não houve acordo ou comunicação social com o governo. O
FOPAC surge, então, com essa iniciativa de proporcionar ambiente alternativo aos espaços
governamentais, tendo em vista que não houve a possibilidade de os moradores participarem,
de fato, do controle social do empreendimento em estudo.
No espaço do fórum, os moradores, que já possuíam em sua história a cultura de
participação, conseguiram, a partir dos movimentos sociais de base, criar um espaço de estímulo
à participação e ao engajamento com as temáticas emergentes. Para além das demandas
referentes à desapropriação, o FOPAC possibilitou também discussões com foco na defesa do
ambiente físico. Logo, o espaço do FOPAC é um espaço que também promove estratégias de
educação ambiental na comunidade. Essas transformações são processos lentos, pois é
necessário trabalhar as crenças que mantém o comportamento e ao mesmo tempo, desenvolver
um trabalho coletivo que apoie os novos paradigmas e dê sustentação as novas condutas.
Conforme foi dito no Fórum Mundial de La Haye, Holanda, maio de 2000, muitas lutas
seriam travadas, motivadas pela água (WORLD WATER COUNCIL, 2000). No Brasil, em
várias regiões e pelos mais variados motivos, produzem-se conflitos socioambientais,
levantam-se hidroresistências pelo direito ao acesso e uso da água.
Logo, é visível que o processo de hidroresistência no Baixio das Palmeiras é concreto,
tendo como foco a defesa dos patrimônios materiais e imateriais desse hidroterritório. Mudam-
se os atores, mas o cenário permanece o mesmo. Se não for pela mobilização e resistência, não
há como dar voz as desigualdades sociais perpetuadas ao longo da história. Quais as custas
desse desenvolvimento que é um imperativo para conceber ambiente como mercadoria e as
populações tradicionais como empecilho ao progresso?
Através de processos de debates, conscientização e informações sobre a problemática
da água, os indivíduos adquirem conhecimentos e instrumentos de participação que
possibilitam a busca pelo exercício de seus direitos e a capacidade de influir nas ações estatais.
No terceiro tópico foram abordados resultados do processo de aplicação da escala de
apego ao lugar. Para isso, foram analisadas as categorias apego, identidade, coesão social e
satisfação residencial, partindo das variáveis: localidade, gênero, faixa etária e natividade. Por
fim, no quarto artigo, foram trabalhados os sentimentos e histórias de vida dos moradores,
através da metodologia autobiografia ambiental.
Na investigação realizada, destacaram-se a coesão dos moradores e o empoderamento
da comunidade, expressos na participação e mobilização social. Essa movimentação deu
191

visibilidade as externalidades negativas dos grandes empreendimentos que ignoram os


condicionantes sociais e, consequentemente, provocam adoecimento.
A dinâmica dessa relação intracomunitária estimulou a investigação dos níveis de apego
ao lugar e identidade dessa população. Aspectos psicossociais percebidos nas interações foram
confirmados nos resultados obtidos pela escala. Os resultados demonstraram a existência de
fortes laços afetivos em que os homens revelaram ser mais apegados ao lugar do que as
mulheres e os idosos mais do que os jovens.
Os moradores do Muquém são os mais satisfeitos com as suas casas e a relação de apego
entre os nativos e os não nativos é praticamente equivalente. De uma forma geral, os resultados
da escala corroboraram com os dados obtidos nas entrevistas e autobiografias ambientais.
Portanto, evidencia-se que a qualidade das relações entre as pessoas e o ambiente resulta em
comportamentos de defesa em prol desse lugar. Este trabalho visa contribuir com a perspectiva
interdisciplinar de estudo dos fenômenos ambientais e sociais, demonstrando, mais uma vez, a
condição de integralidade do homem com o ambiente.
Recomenda-se, através dos resultados, que as discussões sobre os aspectos psicossociais
da desterritorialização recebam cada vez mais visibilidade. Como, também, que se busque
gradativa necessidade de investimento em práticas de educação para sustentabilidade, desde os
primeiros anos escolares, a fim de que o aprendizado sobre sustentabilidade e territorialidade
seja contemplado.
Logo, questões relacionadas à relação pessoa-ambiente em um contexto territorial
passível de desterritorialização precisam ser levadas em consideração no processo de
elaboração, execução e avaliação de uma política pública que gere ações de grande porte, como
o caso do CAC. Cabe a reflexão sobre como a Psicologia pode se aproximar do campo das
Políticas Públicas para promover o diálogo entre as mesmas, na composição do planejamento,
execução e avaliação dessas políticas.
Quanto ao ensino superior, vale ressaltar que a temática da sustentabilidade deve ser
trabalhada de forma interdisciplinar, não ficando restrita a cursos voltados a estudos sobre
desenvolvimento ou cursos com foco em ecologia, tornando-se necessária a abordagem dessa
temática, também, em cursos técnicos voltados à gestão e às áreas afins, nos quais o assunto
seja discutido a partir da perspectiva teórico-prática.
Tomando como referência às narrativas dos sujeitos, considera-se que a apropriação de
espaço é um processo inerente às comunidades estudadas, pois se observa ocas embutidas por
eles nesse espaço construído. Nesse, há convivência harmônica com o espaço natural, em uma
relação de respeito e valorização da natureza, através dos bens naturais como água, terra, mata
192

nativa; práticas sustentáveis dos quintais produtivos, uso das sementes crioulas, cultivação de
hábitos de vida saudáveis, disseminados através dos instrumentos coletivos da associação e
sindicato; e formação de uma cultura baseada no reconhecimento do patrimônio natural,
desenvolvida na escola com crianças e adolescentes.
A cultura da comunidade é alicerçada no respeito aos idosos, na luta pela preservação
do lugar, na disseminação de informações que gerem conhecimentos de forma a promover a
participação social na busca pelo direito à manutenção do seu modo de vida; na organização
coletiva manifesta na construção da ilha digital do posto de saúde; na capacidade de
solidariedade com doações de terreno para construção desses projetos coletivos; e nas
iniciativas dos equipamentos sociais, que auxiliam no processo de engajamento e
fortalecimento dos vínculos comunitários.
Quanto ao processo de identidade de lugar, observou-se a conexão entre os nativos e
não-nativos com o distrito, concluindo-se que até mesmo os não nativos se reconhecem naquele
lugar. Isso mostra que, à medida que o sujeito se apropria do espaço, por mais que não tenha
nascido do mesmo, ele pode se reconhecer e transformar o mesmo.
As comunidades rurais possuem um histórico de lutas pelo direito à terra, por condições
dignas de trabalho, por serem alvo de políticas públicas inócuas, pelo direito à água; e
resistências, seja pela seca, êxodo rural, opressão do trabalho, exclusão social ou outros fatores.
Entretanto, ao mesmo tempo, são resilientes, pois fortalecem sua identidade individual e
coletiva nas relações sociais com os pares, cuja rede de solidariedade e cooperação permitem o
enfrentamento das adversidades.
Então: o que os mobiliza? O vínculo estabelecido com o lugar de moradia, suas
memórias, onde viveram seus pais, criaram seus filhos e de onde tiram os recursos para sua
subsistência representam a força necessária que os une em prol da luta pela permanência nesse
lugar. Ao mesmo tempo em que se apropriam dos espaços vividos e personaliza-os, o indivíduo
também é por ele apropriado.
Diante dos fatos apresentados, constata-se que a reação de mobilização dos moradores
evidencia os fortes laços de apego e identidade de lugar, coesão social e satisfação residencial
das comunidades atingidas, no distrito Baixio das Palmeiras, pelo projeto CAC.
As famílias rurais possuem sentimento de pertencimento, enraizamento e apropriação
de espaço com suas moradias pois representam uma extensão de si mesmo e de suas histórias
de vida. Na cultura dos moradores existe uma rede de apoio que os une e torna as conexões
sociais relevantes e o cuidado com os idosos, como valor importante a ser preservado.
193

Cada morador, tanto no aspecto individual como no coletivo, evidencia aspectos


essenciais do processo de apropriação, manifestos através de apego ao lugar, identificação com
a comunidade e com a habitação, solidariedade entre os habitantes, respeito ao vínculo familiar
e a preservação da cultura.
Acerca do manejo da obra na comunidade por meio da gestão, considera-se que os
projetos governamentais, por mais que tenham como objetivo resolver um problema histórico,
como a questão das secas, as formas de execução da desapropriação e falta de informação
trouxeram prejuízos a uma boa parcela das populações afetadas, que também tem suas
necessidades.
Os impactos poderiam ser amenizados se o EIA/RIMA considerasse efetivamente a
questão social dos atingidos e permitisse uma participação mais efetiva das comunidades no
planejamento, evitando-se muitos prejuízos socioambientais, econômicos e políticos; pois, na
verdade, uma política pública precisa contemplar todos aqueles que dela precisam.
As motivações da comunidade no fomento e realização dos movimentos de resistência
são válidas, compreendendo também os temores dos mesmos com as consequências do canteiro
de obras na mudança da rotina comunitária. Esse território é o lar dessas pessoas e, como tal,
precisa ser respeitado.
Sugere-se que o planejamento das ações governamentais efetivamente procure ser
participativo e descentralizado, aproximando-se do público-alvo das políticas, considerando e
não apenas, descrevendo, os impactos sociais e psicológicos dos empreendimentos nos
moradores atingidos, de forma a minimizar os danos e prevenir conflitos socioambientais.
Tais reflexões também precisam abranger a necessidade de compreender o quão
multifacetado é o rural e que o mesmo não pode ser resumido apenas a descrições geográficas
ou a imagem de “atraso”. Trata-se de um modo de vida tradicional que, em muitas comunidades
ao redor do país, preza por uma relação mais orgânica do homem com a natureza. Isso nos faz
pensar na fala de uma liderança comunitária: “e qual desenvolvimento estamos falando?”. Esses
são elementos que a academia, progressivamente, deve se aproximar e compreender.
194

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213

APÊNDICE A - Termo de Autorização de Uso de Imagem

Neste ato, eu, ____________________________________________, residente na


comunidade _____________________ do distrito Baixio das Palmeiras, município do Crato,
AUTORIZO o uso de minha imagem para ser utilizada no trabalho de doutorado: Migração
ambiental compulsória em hidroterritórios; e no projeto de Cultura da UFCA: Resistência no
Baixio das Palmeiras: Psicologia, Saúde e Meio Ambiente, desenvolvidos pela professora Liana
de Andrade Esmeraldo Pereira, seja essa destinada à divulgação ao público em geral e/ou
apenas para uso interno institucional, desde que não haja desvirtuamento da sua finalidade.
A presente autorização é concedida a título gratuito, abrangendo o uso da imagem acima
mencionada em todo território nacional e/ou no exterior.
Por essa ser a expressão da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito sem que
nada haja a ser reclamado a título de direitos conexos à minha imagem ou a qualquer outro, e
assino a presente autorização em 02 (duas) vias de igual teor e forma.

______________________, dia _____ de ______________ de ___________.

(assinatura)
Impressão Datiloscópica
Telefone para contato:
Documento de Identificação: CPF/RG
214

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Participantes da Pesquisa

Prezado Sr(a),
Esta pesquisa é referente ao projeto do doutorado interinstitucional (DINTER) entre a
Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Cariri (UFCA).
O objetivo do estudo é analisar os efeitos da migração ambiental compulsória em
hidroterritórios, nas famílias das comunidades do Baixio das Palmeiras, Chapada do Baixio,
Oitis e Muquém; em uma perspectiva intergeracional, em virtude do projeto Cinturão das Águas
do Ceará (CAC).
Considerando que a pesquisa só poderá ser realizada através de vossa participação,
convido-o (a) a responder voluntariamente e colaborar com este estudo. Sua participação é livre
e deve ser consentida após os esclarecimentos quanto aos objetivos da pesquisa, à forma de
contribuição; e ao que será feito com os resultados da pesquisa. Seu anonimato será garantido.
O procedimento utilizado para coleta de dados será uma entrevista guiada por
formulários semiestruturados. Quanto aos riscos oferecidos pela pesquisa, entendemos que sua
aplicação poderá trazer algum desconforto, como por exemplo, inibição do sujeito pesquisado.
Embora tal risco seja mensurado como mínimo, esse será considerado, de forma a buscarmos
estratégias para que tal desconforto se minimize, como utilização de espaço calmo e reservado,
além do fato de que eventuais esclarecimentos serão fornecidos, quando solicitados; bem como
o respeito ao direito do sujeito pesquisado de solicitar o não registro de suas respostas, caso isso
lhe gere constrangimento.
Sua contribuição será no sentido de responder aos questionários da pesquisa. Suas
sugestões e considerações serão importantes e, após analisadas, poderão ser acatadas.
Os dados informados serão mantidos em sigilo e utilizados somente para fins de pesquisa,
podendo ser apresentados em encontros, debates, eventos científicos e publicados em revistas
científicas.
Ressalto que você não receberá nenhum pagamento e que a pesquisa não acarretará em
nenhum dano, risco ou desconforto, bem como em despesas financeiras. E ainda, caso você
desista de participar da pesquisa, seu direito em retirar o consentimento será garantido.
Caso precise de qualquer informação a respeito da pesquisa, comunique-se com:
Nome: Liana de Andrade Esmeraldo Pereira
Instituição: Universidade Federal do Cariri (UFCA)
Endereço: Av. Tenente Raimundo Rocha S/N - Bairro Cidade Universitária
Juazeiro do Norte - Ceará - CEP: 63048-080.
215

E-mail: [email protected]
Telefone para contato: (88) 9 9703-1377
Podendo procurar também o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
Cariri, situado na rua Divino Salvador, 284 - Bairro: Rosário - Térreo - Sala do Comitê de Ética
em Pesquisa, Barbalha/ Ce, ou através do telefone (88) 3221-9607.
Desde já, agradeço sua colaboração para o desenvolvimento desta pesquisa.

Liana de Andrade Esmeraldo Pereira


Servidora Docente
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Federal do Cariri

TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Eu, ____________________________, número do RG/Órgão Expedidor


(__________________), declaro que tomei conhecimento do estudo acima mencionado, tendo
sido devidamente esclarecido (a) da sua finalidade, das condições de minha participação e dos
aspectos legais, concordo voluntariamente em participar. Declaro ainda que li cuidadosamente
este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e que, após sua leitura tive a oportunidade
de fazer perguntas sobre seu conteúdo, como também sobre a pesquisa, recebendo explicações
que responderam por completo minhas dúvidas. Declaro ainda estar recebendo uma cópia
assinada deste termo.

Juazeiro do Norte - CE, ___ de ___________ de 2019.


216

APÊNDICE C - Linha de tempo do Cinturão de Águas do Ceará: quadro de referência

Quadro 22 - Referências da linha do tempo do CAC19

2010

1 VICELMO, Antônio. Cinturão das Águas inicia pela região do Cariri. Diário do Nordeste, 1 dez.
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abr. 2019.
2013
4 GOVERNO DO BRASIL, Obras do Cinturão das Águas são iniciadas no Ceará: o investimento de R$
1,5 bilhão irá abastecer 17 municípios cearenses, promover a agricultura irrigada e atividades
industriais. Governo do Brasil, 18 jul. 2013. Disponível
em:http://www.brasil.gov.br/governo/2013/07/obras-do-cinturao-das-aguas-sao-iniciadas-no-ceara.
Acesso em: 22 abr. 2019.
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OBRA do Cinturão das Águas ameaça moradores do Baixio das Palmeiras, no Crato. Cariri TV, Crato-
CE, 2013. 1 vídeo (10:33 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nK090EPqT3I.
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Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jrldbmMcXOo. Acesso em: 22 abr. 2019.

19
As referências estão ordenadas de acordo com a data de publicação dos documentos apresentados.
217

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content/uploads/sites/90/2018/07/APRESENTACAO_CAC_2016.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019.

2017

8 NOBRE, Francisco Wlirian. Os efeitos do Cinturão das Águas do Ceará - CAC - no Baixio das
Palmeiras - Crato-CE. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável) -
Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, 2017.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ. Crato recebe audiência pública sobre


impactos do Cinturão das Águas. Agências de Notícias da Assembleia Legislativa, 4 maio 2017.
Disponível em: https://www.al.ce.gov.br/index.php/ultimas-noticias/item/63815-04-05-2017-lf01.
Acesso em: 22 abr. 2019.

OLIVEIRA, Felipe Álamo Matos de Oliveira; TAVARES, Mariana Barros; PIANCÓ, Ana Roberta
Duarte. Diagnóstico do processo de desterritorialização das comunidades: Baixio do Muquém, Baixio
das Palmeiras e Baixio dos Oitis em Crato-CE. Reunião Regional da SBPC no Cariri - URCA,
Crato, 2017. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/cariri/resumos/2277.pdf. Acesso em: 22
abr. 2019.

G1 CE. Maior túnel do Cinturão das Águas é concluído no Cariri. G1.com, 10 jun. 2017. Disponível
em: https://g1.globo.com/ceara/noticia/maior-tunel-do-cinturao-das-aguas-e-concluido-no-cariri.ghtml.
Acesso em: 22 abr. 2019.

DICELLI, Gil. A premência pela água. O Povo. 2017. Disponível em:


https://especiais.opovo.com.br/cinturaodasaguas/. Acesso em: 22 abr. 2019.

TAVARES, Mariana Barros; OLIVEIRA, Felipe Álamo Matos de. Pequenas produção, estado e
conflitos territoriais: reflexões acerca das comunidades Baixio do Muquém, Baixio das Palmeiras e
Baixio dos Oitis em Crato-CE. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 8.;
SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 9., 2017, Curitiba, Anais [...]. Curitiba:
UFPR, 2017. Disponível em:
https://singa2017.files.wordpress.com/2017/12/gt02_1506792037_arquivo_trabalhosingaversaofinal1.p
df. Acesso em: 22 abr. 2019.

A PREMÊNCIA pela água. O Povo Online, [s. l.], 2017. 1 vídeo (6:11 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=m2O_XGAgwdo. Acesso em: 22 abr. 2019.

CARVALHO, André de. Relatório de fiscalização. Tribunal de contas da união; Secretaria-Geral de


Controle Externo, Secretaria de Infraestrutura Hídrica, de Comunicações e de Mineração, 2017.
Disponível em: https://tcu.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/524599288/relatorio-de-auditoria-ra-ra-
1023220176/inteiro-teor-524599290. Acesso em: 22 abr. 2019.
219

2018

9 CAFARDO, Thiago. [O governador Camilo Santana destacou que a entrega vai permitir a segurança
hídrica para o Ceará]. Governo do Estado do Ceará, 2018. 1 áudio, extensão MP3 (988 KB).Disponível
em: https://www.ceara.gov.br/wp-content/uploads/2018/11/20.11-CAMILO-2-
TRANSPOSI%C3%87%C3%83O.mp3. Acesso em: 22 abr. 2019.

CAFARDO, Thiago. [Camilo Santana fala sobre a liberação de R$ 4,8 milhões para o trecho 4].
Governo do Estado do Ceará, 2018. 1 áudio, extensão MP3 (463 KB). Disponível em:
https://www.ceara.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/05.12-CAMILO-2-%C3%81GUA.mp3. Acesso
em: 22 abr. 2019.

JORNAL JANGADEIRO. Águas do São Francisco se aproximam do Ceará, mas dependem de obra
para chegar a Fortaleza. Tribuna do Ceará, 2018. Disponível em:
https://tribunadoceara.uol.com.br/videos/jornal-jangadeiro/aguas-do-sao-francisco-se-aproximam-do-
ceara-mas-dependem-de-obra-para-chegar-a-fortaleza/. Acesso em: 23 abr. 2019.

[DETALHES sobre as águas do São Francisco se aproximando do Ceará], Tribuna do Ceará, 2018. 1
vídeo (3:48 min). Disponível em:
https://tribunadoceara.uol.com.br/videos/jornal-jangadeiro/aguas-do-sao-francisco-se-aproximam-do-
ceara-mas-dependem-de-obra-para-chegar-a-fortaleza/. Acesso em: 23 abr. 2019.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO. Cinturão das Águas do Ceará recebe investimentos da união, 10


ago. 2018. Disponível em: http://integracao.gov.br/area-de-imprensa/todas-as-noticias/-
/asset_publisher/YEkzzDUSRvZi/content/cinturao-das-aguas-recebe-investimentos-da-
uniao/pop_up?_101_INSTANCE_YEkzzDUSRvZi_viewMode=print&_101_INSTANCE_YEkzzDUS
RvZi_languageId=en_US. Acesso em: 22 abr. 2019.

CAFARDO, Thiago. Recursos hídricos: em reunião com o governador, ministro libera R$ 43 milhões
para o CAC e marca inauguração da transposição. Governo do Estado do Ceará, 5 dez. 2018.
Disponível em: https://www.ceara.gov.br/2018/12/05/em-reuniao-com-governador-ministro-libera-r-
43-milhoes-para-o-cac-e-marca-inauguracao-da-transposicao/. Acesso em: 22 abr. 2019.

MATOS, Deputado Raimundo Gomes de. Relatório final: [projeto de integração da bacia do Rio São
Francisco com região Nordeste]. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=02D9183288156D51B099
0358AED2EA77.proposicoesWeb2?codteor=1699241&filename=REL+1/2018+CEXTRRIO. Acesso
em: 22 abr. 2019.

2019

10 RODRIGUES, Antonio. Trecho emergencial do Cinturão das Águas é concluído, diz governo. Diário
do Nordeste, 6 fev. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/trecho-emergencial-do-cinturao-das-
aguas-e-concluido-diz-governo-1.2059973. Acesso em: 22 abr. 2019.

RODRIGUES, Antonio; COSTA, André. Obras hídricas do Nordeste trazem esperança e causam
transtornos. Diário do Nordeste, 7 fev. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/obras-hidricas-do-nordeste-trazem-
esperanca-e-causam-transtornos-1.2060328. Acesso em: 22 abr. 2019.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. O Cinturão de Águas do Ceará (CAC) tem dois grandes
objetivos... O Povo, 15 mar. 2019. Disponível em: https://www.ana.gov.br/noticias-antigas/cinturapso-
das-aguas.2019-03-15.5043709136. Acesso em: 17 mar. 2020.

JORNAL JANGADEIRO. Cinturão das Águas é uma das obras inseridas no Plano de Segurança
Hídrica do Governo Federal. Tribuna do Ceará, 2019. Disponível em:
https://tribunadoceara.uol.com.br/videos/jornal-jangadeiro/cinturao-das-aguas-e-uma-das-obras-
inseridas-no-novo-plano-de-seguranca-hidrica-do-governo-federal/. Acesso em: 22 abr. 2019.
220

SECRETARIA DOS RECURSOS HÍDRICOS. Deputados e vereadores conhecem ações da SRH. 28


mar. 2019. Disponível em: https://www.srh.ce.gov.br/deputados-e-vereadores-conhecem-acoes-da-srh/.
Acesso em: 17 mar. 2020.

G1 CEARÁ. Bloqueio de recursos atrasa obras do Cinturão das Águas no Ceará. G1.com,16 maio
2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/05/16/contingenciamento-de-
recursos-atrasa-obras-do-cinturao-das-aguas-no-ceara.ghtml. Acesso em: 17 mar. 2020.

NASCIMENTO, Hugo Renan do. Cinturão das Águas tem obras paralisadas no
Cariri; funcionários devem ser demitidos no próximo mês. Globo.com, 31 maio 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/05/31/cinturao-das-aguas-tem-obras-paralisadas-no-cariri-
funcionarios-devem-ser-demitidos-no-proximo-mes.ghtml. Acesso em: 17 mar. 2020.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ. Águas da transposição devem chegar em


2020, mas Cinturão preocupa deputados. 14 jun. 2019. Disponível em:
https://www.al.ce.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-assembleia/noticias/item/82849-
1406satvisita-transposicao. Acesso em: 17 mar. 2020.

CASTRO, Alessandra; ROVERE, Flávio. Impasse sobre Cinturão das Águas se mantém e preocupa
deputados. Diário do Nordeste, 8 ago. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/politica/impasse-sobre-cinturao-das-aguas-se-
mantem-e-preocupa-deputados-1.2133462. Acesso em: 17 mar. 2020.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ. Comissão da transposição pede


informações sobre Cinturão das Águas. 20 ago. 2019. Disponível em:
https://www.al.ce.gov.br/index.php/ultimas-noticias/item/84315-20082019cpmissaotransposicao.
Acesso em: 17 mar. 2020.

MENDES, Wagner. Águas têm prazo para chegar ao CE; impasse sobre recursos persiste. Diário do
Nordeste, 30 ago. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/politica/aguas-tem-prazo-para-chegar-ao-ce-
impasse-sobre-recursos-persiste-1.2143502. Acesso em: 17 mar. 2020.

CARDOSO, Antonio; UCHÔA, Nívia. Bombeamento da transposição é retomado e


águas devem chegar ao Ceará no 1° trimestre. 30 ago. 2019. Disponível em:
https://www.ceara.gov.br/2019/08/30/bombeamento-da-transposicao-e-retomado-e-aguas-devem-
chegar-ao-ceara-no-1-trimestre/. Acesso em: 17 mar. 2020.

CAVALCANTE, IRNA. Obras do Cinturão das Águas voltam a paralisar, desta vez no Cariri. O Povo,
28 set. 2019. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/jornal/economia/2019/09/27/obras-do-
cinturao-das-aguas-voltam-a-paralisar--desta-vez-no-cariri.html. Acesso em: 17 mar. 2020.

G1 CEARÁ. Governo Federal repassa R$ 16,6 milhões para obras do Cinturão das Águas do Ceará.
G1.com, 9 out. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/10/09/governo-
federal-repassa-r-166-milhoes-para-obras-do-cinturao-das-aguas-do-ceara.ghtml. Acesso em: 17 mar.
2020.

RODRIGUES, Antonio. Obra do Cinturão das Águas ameaçada por falta de recursos. Diário do
Nordeste, 29 out. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/obra-do-cinturao-das-aguas-ameacada-
por-falta-de-recursos-1.2167. Acesso em: 17 mar. 2020.

REDAÇÃO DO DIÁRIO DO NORDESTE. Cinturão das Águas deve receber mais R$ 15 milhões até
o fim do ano. Diário do Nordeste, 12 nov. 2019. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/negocios/cinturao-das-aguas-deve-receber-mais-
r-15-milhoes-ate-o-fim-do-ano-1.2174196. Acesso em: 17 mar. 2020.
221

FRANCO, Esther. Guilherme Landim comenta repasses do Governo Federal ao Cinturão das Águas do
Ceará. PDT 12, 13 nov. 2019. Disponível em: https://www.pdt.org.br/index.php/guilherme-landim-
comenta-repasses-do-governo-federal-ao-cinturao-das-aguas-do-ceara/. Acesso em: 17 mar. 2020.

RODRIGUES, Antonio. 'Em março a água do São Francisco chega a


Jati e vai pra Grande Fortaleza', diz ministro. G1.com, 3 dez. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/12/03/em-marco-a-agua-do-sao-francisco-chega-a-jati-e-
vai-pra-grande-fortaleza-diz-ministro.ghtml. Acesso em: 17 mar. 2020.

BLOG DO EDISON SILVA. Camilo Santana consegue recursos do Governo Federal para o Cinturão
das Águas. 11 dez. 2019. Disponível em: https://blogdoedisonsilva.com.br/2019/12/camilo-santana-
consegue-recursos-do-governo-federal-para-o-cinturao-das-aguas/. Acesso em: 17 mar. 2020.

2020

11 COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. Comitê do Rio Salgado discute Cinturão
das Águas e transposição do São Francisco. COGERH, 20 fev. 2020. Disponível em:
https://portal.cogerh.com.br/comite-do-rio-salgado-discute-sobre-cinturao-das-aguas-e-transposicao-
do-rio-sao-francisco/. Acesso em: 21 mar. 2020.

TORRENT, Andréa. Após 14 anos, transposição do Rio São Francisco entra na reta final. Gazeta do
Povo, 4 jul. 2020. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/transposicao-rio-sao-
francisco-obras-reta-final/. Acesso em: 24 ago. 2020.

CORDEIRO, Marília. 2 mil pessoas são retiradas de casa no entorno da barragem de Jati, no Ceará,
após rompimento de tubulação. G1, 22 ago. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/google/amp/ce/ceara/noticia/2020/08/22/duas-mil-pessoas-sao-evacuadas-do-
entorno-da-barragem-de-jati-no-ceara-apos-rompimento-de-
tubulacao.ghtml?__twitter_impression=true. Acesso em: 24 ago. 2020.
Fonte: elaborado pela autora (2020).
222

APÊNDICE D - Roteiros de entrevistas

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA AS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS

Dados de Identificação:
1. Nome
2. Data de Nascimento
3. Profissão
4. Função na comunidade

Perguntas para contextualização da ação:


1. Como a comunidade respondeu à ameaça de deslocamento compulsório, tratado como
problema ambiental?
2. Quais foram os membros das famílias mais afetados pelo processo de migração
compulsória?
3. Como se deu a negociação para as mudanças no projeto CAC?
4. Por que, ao final da negociação, somente 28 famílias serão realojadas? Quais os fatores
que influenciaram a decisão?
5. Por que essas famílias optaram por permanecer na mesma comunidade?
6. Quais as consequências desse processo para a saúde física e mental dos moradores?
Quais famílias foram mais afetadas?
7. Quais os principais atores que tomaram a frente na mobilização para reduzir os efeitos
mitigadores da migração?
8. Como se deu a formação do Fórum Popular das Águas?
9. Como foi o processo de mobilização da comunidade na luta pelos seus direitos à terra?
10. Quem eram os principais representantes do governo que contataram a comunidade?
11. Como se deu o acesso à informação do projeto CAC pela comunidade?
12. O que pode significar para essa comunidade ter que deixar sua casa e sua vizinhança?
13. Como você classificaria as comunidades envolvidas em termos de maior ou menor
participação no movimento de resistência?
223

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTOR(ES) RESPONSÁVEL(IS) PELA


GESTÃO E GERENCIAMENTO DO PROJETO CAC

Dados de Identificação:
1. Nome
2. Data de Nascimento
3. Formação Profissional
4. Função

Perguntas para contextualização da ação:


1. Como foi feito o Estudo do Impacto Ambiental do CAC na região do Cariri?
2. Como foi a elaboração do relatório (RIMA)?
3. Quem foram os principais atores na elaboração do relatório?
4. Como foi feita a coleta de informações na comunidade para elaboração do EIA/RIMA?
5. Quem foram as pessoas das comunidades com as quais você(s) estabeleceu(ram)
contato?
6. Como foi a devolutiva à comunidade sobre o projeto CAC e seu impacto na
comunidade?
7. Como você(s) avalia(m) a resposta da comunidade ao projeto CAC?
8. Quais os desdobramentos provenientes da resposta da comunidade ao projeto CAC?
224

APÊNDICE E - Linha do Tempo do Fórum Popular das Águas do Cariri (FOPAC): quadro
de referências

Quadro 23 - Referências da linha do tempo do FOPAC20


2015
FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2015, Crato-CE. Ata [...]. [Criação do Fórum Popular das
Águas do Cariri]. Crato-CE, FOPAC, 2015a. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2015, Crato-CE. Ata [...]. [Fica estabelecida a organização
do Fórum...]. Crato-CE, FOPAC, 2015b. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2015, Crato-CE. Convite [...]. [Reunião de criação do Fórum
Popular das Águas do Cariri]. Crato-CE, FOPAC, 2015c. Não publicado.

2016
ASSOCIAÇÃO RURAL BAIXIO DAS PALMEIRAS. V Seminário Das Associações Rurais Do Baixio Das
Palmeiras. Crato: E.E.I.E.F. Professora Rosa Ferreira de Macedo, Baixio do Muquém, 2016. 1 cartaz.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2016, Crato-CE. Ata [...]. [Definição da audiência que
acontecerá no auditório da Universidade Federal do Cariri]. Crato-CE, FOPAC, 2016a. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2016, Crato-CE. Ata [...]. [Encaminhamentos e ações do
Fórum]. Crato-CE, FOPAC, 2016b. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2016, Crato-CE. Ata [...]. [Estabelecimento da mesa-
redonda: água e saneamento]. Crato-CE, FOPAC, 2016c. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2016, Crato-CE. Ata [...]. [Fica estabelecido o
acompanhamento dos sindicatos...]. Crato-CE, FOPAC, 2016d. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Caracterização das comunidades atingidas pelo Cinturão
das Obras do Ceará: CAC. Crato-CE: FOPAC, [2016e]. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Carta de princípios do Fórum Popular das Águas do
Cariri. Crato-CE, 2016f. Não publicação.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Debate: água e saneamento. Juazeiro do Norte: FOPAC.
2016g. 1 cartaz.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Formulário de cadastro ação de extensão: edital 07/2015
- PROEX. Juazeiro do Norte: Universidade Federal do Cariri, Pró-Reitoria de Extensão, [2016h]. 9 p. Não
publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Ofício. Crato-CE: FOPAC, 8 out. 2016i. Assunto: Convite
ao Deputado Renato Roseno para participação da mesa-redonda no Seminário das águas do Cariri. Não
publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Programação do Seminário das Águas do Cariri. Crato-
CE: FOPAC, 2016j. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. [Rascunho do projeto Yara]. [Crato-CE]: FOPAC, 2016k.
Não publicado.

20
Os documentos estão disponíveis no arquivo particular do Liro Nobre, representante do FOPAC. As referências
estão ordenadas de acordo com a data de elaboração dos documentos apresentados.
225

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. [Relatório de atividades do FOPAC]: CAC. Crato-CE:
FOPAC, 2016l. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Seminário das Águas do Cariri: os impactos das grandes
obras e diagnóstico hídrico regional e estadual. Crato: Auditório Papa Francisco. 2016m. 1 cartaz.

2017
ASSOCIAÇÃO RURAL DO BAIXIO DAS PALMEIRAS. Ofício. Crato-CE: FOPAC, 10 jul. 2017. Assunto:
Conforme resposta, (IC 04/2013) no e-mail do dia 21 de março de 2017 [...].Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2017, Crato-CE. Ata [...]. [Aborda os impactos do açude
Barbosa em Várzea Alegre]. Crato-CE, FOPAC, 2017a. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2017, Crato-CE. Ata [...]. [É definida a necessidade de ir às
comunidades e coletar informações como mapeamento das propriedades e número de removidos, coleta de
denúncias e principais demandas]. Crato-CE, FOPAC, 2017b. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2017, Crato-CE. Ata [...]. [Solicitação de ata de audiência
pública sobre o Cinturão das Águas, ocorrido em maio no Assentamento...]. Crato-CE, FOPAC, 2017c. Não
publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Nota de repúdio. Crato-CE: FOPAC, jun. 2017d. Não
publicado.
2018
FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI, 2018, Crato-CE. Ata [...]. [Ata da reunião do Fórum Popular
das Águas do Cariri ocorrida no dia vinte e nove de janeiro de dois mil e dezoito na sede do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais do Crato, às dez horas da manhã]. Crato-CE, FOPAC, 2018a. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Nota de apoio ao acampamento em Lavras da


Mangabeira. Crato-CE: FOPAC, abr. 2018b. Não publicado.
2019
FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. I Jornada Internacional Injustiça hídrica e territórios de
resistência. [Crato: FOPAC]. 2019a. 1 cartaz.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Nota de apoio à proibição da pulverização aérea de
agrotóxicos no Estado do Ceará. [Crato-CE]: FOPAC, 2019b. Não publicado.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Programação [I Jornada Internacional Injustiça hídrica
e territórios de resistência]. [Fortaleza]: FOPAC, 2019d. 1 cartaz.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. Programação: IX Semana Zé Maria do Tomé. Limoeiro do
Norte; Quixeré; Tabuleiro do Norte: FOPAC, 2019.

FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS DO CARIRI. [Resumo das atividades do Fórum Popular das Águas].
[Crato-CE]: FOPAC, 2019e. Não publicado.

MINISTÉRIO PÙBLICO DO CEARÁ. Ofício nº 54/2019 - 6ªPJ/CRATO/CE. Crato-CE: Ministério Público


do Ceará, Procuradoria Geral de Justiça, 6ª Promotoria de Justiça de Crato-CE, 28 jan. 2019. Assunto: Inquérito
Civil nº 04/2013 - Cinturão das Águas do estado do Ceará; notificação para Audiência Pública.
226

APÊNDICE F - Pesquisa sobre a relação do morador com sua habitação e comunidade

Primeiramente, agradecemos por sua colaboração. Abaixo você tem uma série de
perguntas pessoais, as quais nos ajudarão a compreender sua história de vida e seu lugar de
moradia. Qualquer dúvida em alguma questão, consulte nosso aplicador.

DADOS DO APLICADOR
Nome: Data: Hora:
Lugar: Questionário número:
FORMULÁRIO SÓCIOECONÔMICO
1. DADOS PESSOAIS
NOME DO ENTREVISTADO (INICIAIS):
1.1 SEXO: ( ) M ( ) F
1.2 IDADE: 18 a 25 ( ) 26 a 33 ( ) 34 a 41 ( ) 42 a 49 ( ) 50 ou mais ( )
1.3 VOCÊ SE CONSIDERA: ( ) branco ( ) pardo/moreno ( ) preto ( ) indígena ( ) quilombola
1.4 FILHOS: ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais ( ) nenhum
1.5 RELIGIÃO:
( ) católica ( ) evangélica ( ) afro-brasileira ( ) oriental ( ) espírita ( ) sem religião ( ) outra
1.6 ESTADO CIVIL:
( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a)/divorciado(a) ( ) viúvo(a) ( ) mora com um(a)
companheiro(a)
1.7 NASCEU NA COMUNIDADE? Sim ( ) Não ( ) Se não, de onde veio?
1.8 HÁ QUANTO TEMPO VIVE NA COMUNIDADE?
2. ESCOLARIDADE, TRABALHO E RENDA
2.1 NÍVEL DE ESCOLARIDADE:
( ) não estudou ( ) 1ª a 4ª série do fundamental (antigo primário) ( ) 5ª a 8ª série (antigo ginásio)
( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo ( ) pós-graduação
2.2 EM QUE TRABALHA?
( ) não trabalha ( ) comércio ( ) agricultura ( ) pecuária ( ) pensionista ( ) construção civil (
)empregado de propriedade rural de outra pessoa ( ) autônomo
Se autônomo, especifique o tipo de trabalho: ( ) trabalhador doméstico ( ) funcionário do governo
( ) outra categoria ____
227

2.3 CARTEIRA ASSINADA: ( ) CONCURSADO: ( ) OUTROS: ( )


2.4 RENDA MENSAL DA PESSOA:
( ) até 1 s.m. ( ) de 1 a 2 s.m. ( ) de 3 a 4 ( ) de 5 em diante ( ) nenhuma renda
2.5 RENDA MENSAL DA FAMÍLIA:
( ) até 1 s.m. ( ) de 1 a 2 s.m. ( ) de 3 a 4 ( ) de 5 em diante ( ) nenhuma renda
2.6 PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO:
( ) Bolsa Família ( ) Luz para Todos ( ) Jovem Aprendiz ( ) Benefício de Prestação Continuada
(BPC) ( ) Minha Casa, Minha Vida ( ) Cisterna para Todos
( ) recebe remédio no posto de saúde ( ) Garantia Safra ( ) Aposentadoria Rural
3. SAÚDE
3.1 TEM ALGUÉM NA FAMÍLIA COM DEFICIÈNCIA?
Sim ( ) Não ( ) Se sim, marque a opção:
( ) visual/cegueira ( ) física/motora ( ) auditiva/surdez ( ) amputação ( ) aprendizagem
3.2 TEM ALGUÉM NA FAMÍLIA COM ALGUMA DESSAS DOENÇAS?
( ) cardíaco ( ) depressão ( ) diabetes ( ) ansiedade ( ) hipertensão ( ) alcoolismo
( ) desnutrição ( ) esquizofrenia ( ) câncer
( ) bipolaridade ( ) fobias ( ) transtorno obsessivo-compulsivo ( ) outros _______
3.3 VOCÊ FAZ USO DE MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO OU CONTROLADO?
Sim ( ) Não ( )
Se sim, qual? Desde quando?
3.4 ACESSO À SERVIÇOS DE SAÚDE:
( ) posto de saúde ( ) hospital ( ) UPA ( ) CAPS ( ) Plano
3.5 QUEIXAS COMUNS EM RELAÇÃO AO ESTADO FÍSICO/EMOCIONAL:
( ) dificuldade para dormir ( ) excesso de sono ( ) sensação constante de fadiga/cansaço
( ) choro frequente ( ) irritabilidade ( ) agressividade ( ) isolamento ( ) outros
4. SOBRE A RESIDÊNCIA
4.1 HÁ QUANTO TEMPO MORA NESTA CASA?
4.2 QUANTOS MORAM COM VOCÊ? ( ) sozinho ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ou mais
4.3 QUEM MORA COM VOCÊ? (Pode marcar mais de uma opção)
Moro Sozinho ( ) Pai e/ou Mãe ( ) Avô/Avó ( ) Esposo(a)/Companheiro(a) ( ) Filhos ( )
Irmãos( )
Outros Parentes ( ) Outras Pessoas ( )
4.4 QUAL O TIPO DE CASA? ( ) alvenaria/tijolo ( ) taipa/pau a pique
228

4.5 SITUAÇÃO DO IMÓVEL: ( ) próprio ( ) alugado ( ) financiado ( ) cedido ( ) herdado


4.6 TIPO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM SUA RESIDÊNCIA:
( ) rede pública ( ) poço/nascente ( ) carro pipa ( ) cisterna ( ) outro
4.7 COMO É A RUA ONDE VOCÊ MORA?
( ) calçada ( ) asfaltada ( ) estrada de terra ( )estrada de pedra
4.8 SUA CASA TEM ENERGIA ELÉTRICA? ( )Sim ( )Não
5. QUALIDADE DE VIDA
5.1 MOBILIDADE/TRANSPORTE:
( ) carro próprio ( ) bicicleta ( ) moto ( ) a pé ( ) ônibus ( ) topic/van ( ) carroça/animal
5.2 PRATICA ATIVIDADE FÍSICA? Sim ( ) Não ( ) Se sim, qual?
5.3 HÁ COLETA DE LIXO ONDE VOCÊ MORA? Sim ( ) Não ( ) Se não, qual é o destino do
lixo?
5.4 MARQUE OS ALIMENTOS QUE VOCÊ CONSOME COM FREQUÊNCIA:
( ) horta própria ( ) horta comunitária ( ) feira ( ) produtos industrializados
5.5 O QUE VOCÊ FAZ PARA SE DIVERTIR/RELAXAR/DESCANSAR:
( ) televisão ( ) rádio ( ) cuidar do jardim/horta/animais
( ) participar de grupos comunitários/religiosos ( ) reunir-se com vizinhos ( ) outros
5.6 MINHA MAIOR(es) PREOCUPAÇÃO(ões) HOJE SÃO:
( )família ( )dinheiro ( ) saúde ( ) moradia ( ) trabalho ( ) violência
( ) questões ambientais ( ) outros

Escala de apego ao lugar

As frases abaixo expressam sentimentos e percepções que você pode ter sobre seu lugar
de moradia e a sua comunidade. Leia com atenção cada opção e marque os itens com
sinceridade. Procure não deixar respostas em branco e saiba que não há certo ou errado.

APEGO AO LUGAR, IDENTIDADE DE LUGAR, COESÃO SOCIAL E SATISFAÇÃO


RESIDENCIAL
1 2 3 4 5
Nem um
Pouco/ Com Toda
Um Pouco Mais ou Menos Muito
De jeito Certeza
nenhum
SOBRE A CIDADE
229

01. Eu gosto de viver nesta cidade 1 2 3 4 5


02. Nesta cidade eu me sinto em casa 1 2 3 4 5
03. Esta cidade tem a ver com a minha história pessoal 1 2 3 4 5
04.Se eu tivesse condições, mudaria para outra cidade 1 2 3 4 5
SOBRE A COMUNIDADE EM QUE VOCÊ MORA
05. Eu gosto de morar nesta comunidade 1 2 3 4 5
06. Eu me sinto apegado à comunidade onde moro 1 2 3 4 5
07. Eu gostaria de mudar para outra comunidade 1 2 3 4 5
08. Quando eu estou fora, eu não sinto saudades deste lugar 1 2 3 4 5
09. Eu me sinto identificado com a comunidade onde moro 1 2 3 4 5
10. Dependendo das condições, eu não me importaria de mudar
1 2 3 4 5
para outra comunidade
11. Este é meu lugar favorito para viver 1 2 3 4 5
12. Quando eu estou fora, fico feliz em voltar 1 2 3 4 5
13. Eu sinto que não pertenço a esta comunidade 1 2 3 4 5
14. Esta comunidade é parte da minha identidade 1 2 3 4 5
15. Eu sinto que sou desta comunidade 1 2 3 4 5
16. Eu não me importaria de mudar para outra comunidade 1 2 3 4 5
17. A comunidade onde eu moro é especial para mim 1 2 3 4 5
18. Eu lamentaria se tivesse que mudar para outro lugar 1 2 3 4 5
SOBRE OS MORADORES
19. Os moradores da minha comunidade são unidos 1 2 3 4 5
20. As pessoas que vivem na minha comunidade têm gostos e
1 2 3 4 5
costumes parecidos
21. Na comunidade onde moro, a maioria dos moradores se
1 2 3 4 5
conhece
22. Nossa comunidade participa ativamente das atividades que
1 2 3 4 5
dizem respeito a todos
23. Nossa comunidade mobilizou a sociedade em prol dos nossos
1 2 3 4 5
direitos
24. Nossa comunidade participou ativamente no Fórum Popular
1 2 3 4 5
das Águas
25. Nossa comunidade sempre luta em prol dos nossos direitos 1 2 3 4 5
SOBRE A CASA
26. Eu gosto de morar nesta casa 1 2 3 4 5
27. Eu me arrependeria se tivesse que mudar para outra casa 1 2 3 4 5
28. Esta casa tem a ver com a minha história de vida 1 2 3 4 5
29. Esta casa é parte da minha identidade 1 2 3 4 5
30. Eu poderia me mudar desta casa, dependendo das condições 1 2 3 4 5
SOBRE O FÓRUM POPULAR DAS ÁGUAS
31. Eu participei ativamente do fórum 1 2 3 4 5
32. O fórum é um importante movimento em busca dos nossos 1 2 3 4 5
230

direitos
33. O fórum não significou nada para minha vida 1 2 3 4 5
34. O fórum foi importante para eu entender as consequências da
1 2 3 4 5
política de água na nossa comunidade
35. O fórum não representou nada para nossa comunidade 1 2 3 4 5
231

APÊNDICE G - Portfólio do Projeto de cultura: “Resistência no Baixio das Palmeiras:


Psicologia, Saúde e Meio Ambiente
232
233
234
235
236
237
238

APÊNDICE H - Linha do tempo do CAC: infográfico


239
240

Fonte: elaborado pela autora (2020)


241

APÊNDICE I - Linha do tempo do Fórum Popular das Águas: infográfico


242

Fonte: elaborado pela autora (2020).


.
243

ANEXO A - Cinturão de Águas do Ceará (CAC): histórico


244

ANEXO B - Projeto Cinturão de Águas do Ceará (CAC)


245
246
247
248
249

ANEXO C - Ata da 1º Reunião Extraordinária do ano de 2010 do Conselho Municipal de


Defesa do Meio Ambiente do Município de Crato - CE
250
251
252
253
254
255
256
257
258
259

ANEXO D - Parecer e relatório de vistoria


260
261
262

2
263
264

ANEXO E - Autorização para licenciamento ambiental


265
266

ANEXO F - Relatório de esclarecimento de ocorrências do projeto CAC


267
268
269

ANEXO G - Cordel: O Baixio Preocupado


270
271
272

ANEXO H - Regras de transcrição de acordo com Marcushi

Quadro 24 - Critérios para transcrição de entrevista


Categorias Sinais Descrição das categorias Exemplos
...
1º Falas simultâneas [ Usam-se colchetes para B: mas eu não tive num remorso né’
e sobreposição de dois falantes iniciam ao A: mas o que foi que houve”
vozes mesmo tempo um turno J: meu irmão também fez uma dessas’
B: depois ele voltou e tudo bem,
...
M: A. é o segu eu queria era::
Ocorre num dado ponto do inte'
2º Sobreposições [ ] turno e não forma novo A: im
Localizadas turno. Usa-se um colchete M: eh: dizer que ficou pronta a cópia
abrindo e outro fechando A: ah sim
M: ela fez essa noite (+) /.../
Para pausas pequenas
sugere-se um sinal + para
3º Pausas e silêncios cada 0.5 segundo. Pausas Ver exemplo na categoria 4
em mais de 1.5 segundo
cronometradas, indica-se o
tempo
4º Dúvidas ou () Quando não se entender A: /.../ por exemplo (+) a gente tava falando
Sobreposições parte da fala, marca-se o em
local com parênteses e usa- desajuste, (+) EU particularmenete acho tudo
se a expressão inaudível ou na vida relativo, (1.8) TUDO TUDO TUDO
escreve-se o que se supõe (++) tem um que sã::o (+)/ tem pessoas
ter ouvido. problemáticas porque tiveram muito amor (é
o caso) (incompreensível) (+) outras
porque/.../
5º Truncamentos / Quando o falante corta a L: vai tê que investi né”
Bruscos unidade pôdese maçar o C: é/ (+)
fato com uma barra. Esse agora tem uma possibilidade boa que é
sinal pode ser utilizado quando
quando alguém é ela sentiu que ia morá lá (+) e:le o dono/
bruscamente cortado pelo ((rápido)) ela teve conversan comi/ agora ele
interlocutor. já
disse o seguinte (+)
6º Ênfase ou acento MAIÚ Sílaba ou palavras Ver exemplo na categoria 4
forte SCUL pronunciadas com ênfase
A ou acento mais forte que o
habitual.
7º Alongamento de :: Dependendo da duração os ...
vogal dois pontos podem ser A: co::mo” (+) e:::u
repetidos
8º Comentários do (( )) Usa-se essa marcação no ((ri)), ((baixa o tom de voz)), ((tossindo)),
Analista local da ocorrência ou ((fala
imediatamente antes do nervosamente)), ((apresenta-se para falar)),
segmento a que se refere. ((gesticula pedindo a palavra))
9º Silabação --------- Quando uma palavra é
---- pronunciada sílaba por
sílaba, usam-se hifens
indicando a ocorrência.
10º Sinais de ”’, Aspas duplas para subida Ver itens 1, 5 e 7.
entonação rápida. Aspas simples para
subida leve (algo como
uma vírgula ou ponto e
273

vírgula). Aspas simples


abaixo da linha para
descida leve ou simples.
11º Repetições Própria Reduplicação de letra ou e e e ele; ca ca cada um.
letra sílaba.
12º Pausa Usam-se reproduções de eh, ah, oh. ih:::, mhm, ahã, dentre outros
preenchida, sons cuja grafia é muito
hesitação ou sinais discutida, mas alguns estão
de mais ou menos claros.
atenção
13º Indicação de ... O uso de reticências no Ver exemplo na categoria 4
transição parcial ou ou início e no final de uma
de eliminação /.../ transcrição indica que se
está transcrevendo apenas
um trecho. Reticências
entre duas barras indicam
um corte na produção de
alguém.
Fonte: adaptado de Marcuschi (1986).
274

ANEXO I - Parecer da Plataforma Brasil


275
276
277

ANEXO J - Carta de Anuência do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Crato, CE


278

ANEXO K - Autorização da Associação para desenvolvimento da pesquisa


279

ANEXO L - Carta de anuência da Unidade Básica de Saúde do Muquém e a Unidade


de Saúde da Família Baixo das Palmeiras, Crato, CE

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