Duilio de Avila Bêrni
Duilio de Avila Bêrni
Duilio de Avila Bêrni
DE MATRIZES DE INSUMO-PRODUTO1
Eduardo Grijó*
Duilio de Avila Bêrni**
RESUMO
A utilização dos dados do Sistema de Contas Nacionais, derivado do Manual de 1993 da
ONU a fim de se proceder à estimativa de uma Matriz de Insumo-Produto é o objetivo central
do presente artigo. Ainda que os resultados empíricos adiante apresentados sejam relativos
à economia brasileira para o ano de 2002, a metodologia original aqui desenvolvida para
sua obtenção tem um espectro de utilização muito mais amplo. Com efeito, ela pode ser
utilizada para a construção de Matrizes de Insumo-Produto de qualquer país ou região em
qualquer período para o qual estejam disponíveis dados atualizados do Sistema de Contas
Nacionais ou Regionais e uma Matriz de Insumo-Produto de referência.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A mensuração dos principais agregados macroeconômicos da economia brasileira
sob a tutela institucional da Fundação Getúlio Vargas retroage ao final da década de
40 e início da de 50. Especialistas em estatística econômica brasileira e internacional
utilizaram o censo econômico de 1950 para construir seu bench-mark na montagem de
um Sistema de Contas Nacionais. Construiu-se, assim, uma série de dados que recuam
até o ano de 1947 e estimativas isoladas para o ano de 1939, cuja base de informações
repousa no censo econômico de 1940. Seguiram-se diversas publicações de estimativas
anuais e revisões periódicas das contas nacionais, até que, em 1986, o encargo da
montagem dessas estatísticas transitou para a Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), lá permanecendo até os dias de hoje.
*
Mestre em Economia pela PUCRS. [email protected]
**
Doutor em Economia pela Oxford University e professor de Economia da PUCRS. [email protected]
1
Este artigo retoma o material de GRIJÓ 2005. Todos os dados originais das Contas Nacionais, intermediários e finais
resultantes da aplicação da metodologia aqui apresentada estão disponíveis aos interessados via e-mail. Os autores agra-
decem aos pareceristas anônimos da revista pelos comentários e sugestões.
2
Ainda que cumprida com pouco rigor, a publicação das estimativas das contas nacionais do ano t, pelo IBGE, segue o
seguinte cronograma: uma versão preliminar, publicada no ano t+1; semidefinitiva, publicada no ano t+2, e definitiva,
publicada no ano t+3.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 11
apenas segundo os produtos absorvidos. Por meio das tabelas do grupo dois, é possível
proceder à transformação dos montantes do consumo intermediário, avaliado a preços
do consumidor, em preços básicos, obtendo-se, assim, a matriz de absorção.
Ainda que os resultados empíricos obtidos neste estudo em particular sejam
relativos à economia brasileira para o ano de 2002, a metodologia original aqui
desenvolvida para sua obtenção tem um espectro de utilização muito mais amplo. Com
efeito, pode ser utilizada para a construção de Matrizes de Insumo-Produto de qualquer
país ou região em qualquer período para o qual estejam disponíveis dados atualizados
do Sistema de Contas Nacionais do ano corrente e uma Matriz de Insumo-Produto
concernente a outro ano, utilizada como referência.
Este artigo está organizado em quatro seções além desta introdução. A segunda
seção discute o chamado problema da classificação de uma Matriz de Insumo-Produto
constituída a partir de duas matrizes retangulares. A primeira é a matriz de produção
de produtos pelas atividades econômicas e a segunda, a matriz de absorção dos
produtos e insumos primários pelas atividades. Basicamente, esse problema se resume
à forma de conciliação dessas duas matrizes e à fundamentação do Modelo de Insumo-
Produto. A terceira seção discute a correspondência entre as tabela de usos e recursos
dos bens e serviços do Sistema de Contas Nacionais e as matrizes de produção (make
table) e absorção do modelo de insumo-produto. Nela se apresentarão dois conceitos
fundamentais de valoração das transações econômicas que afetarão todo o trabalho
metodológico desenvolvido neste artigo: preços do consumidor e preços básicos.
A quarta seção descreve a metodologia utilizada na construção das matrizes
atualizadas de absorção a preços básicos, margem de comércio, margem de transporte,
importações e impostos indiretos incidentes sobre os produtos, a partir do balanceamento
de projeções iniciais. As projeções iniciais são obtidas por meio de mark-ups oriundos
de uma Matriz de Insumo-Produto compatível e disponível para um ano bench-
mark. A quinta seção apresenta, resumidamente, os resultados obtidos e, por fim,
consideram-se alguns comentários finais.
(1)
. (2)
3
Essa é a forma mais usual de se construir o modelo insumo-produto. Porém, assim como se está examinando o caso em
que os setores transferem sua produção aos demais setores, claramente se pode conceber uma situação alternativa descre-
vendo a produção de mercadorias por meio de mercadorias.
4
Notações extraídas de Miller e Blair (1985, p. 7-9).
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 13
. (3)
. (4)
, e .
. (5)
x = By , (6)
B = (I-A)-1 . (7)
5
É importante destacar que o uso do termo “matriz quadrada”, no que tange à Matriz de Insumo-Produto, não se faz
apenas no sentido de que o número de linhas seja igual ao número de colunas, mas também da perfeita simetria entre as
linhas e colunas, representando uma mesma classificação, de produtos ou atividades.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 15
6
Existe uma literatura rica sobre o assunto, a qual poderia, per se, sustentar a redação de um artigo específico. No entanto,
para não fugir ao foco deste trabalho, far-se-á uma apresentação sucinta da solução do problema da classificação, funda-
mentando-se principalmente em Miller e Blair (1985, p. 164 e seguintes).
16 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
. (8)
Definindo:
, (9)
pode-se escrever:
. (10)
. (11)
Uma vez definido que se deseja obter uma Matriz de Insumo-Produto nas dimensões
atividade x atividade a partir do suposto da tecnologia do setor, constrói-se a matriz de
Market-Share (D) a partir da matriz de produção (V) da seguinte maneira:
, (12)
, (13)
18 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
. (14)
. (15)
A equação 15 apresenta uma relação importante entre a demanda total dos produtos
(q) e a oferta total das atividades nacionais (g). Substituindo a equação obtida em 11
na equação 15 obtém-se o sistema de equações para a solução da produção de cada
setor como uma função do vetor da demanda final (fn) que deve ser avaliado segundo
as atividades, por isso pré-multiplicado pelo Market-Share.7 Isso fica facilmente
demonstrado nas equações a seguir.
, (16)
, (17)
. (18)
7
Uma Matriz de Insumo-Produto do tipo produto x produto pode ser facilmente obtida com o suposto da tecnologia do setor
substituindo-se, ao invés de (11) em (15), desta vez (15) em (11), uma vez que esta última resulta em q ao invés de em g,
oferecendo a seguinte expressão: q = (I – BnD)-1fn
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 19
8
Também referidas, aqui, genericamente, como tabelas de recursos e usos da produção.
9
Em seguida serão apresentadas as versões resumidas destas tabelas segundo os valores constantes no Sistema de Contas
Nacionais brasileiro de 2002.
20 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
consumidor pagou para obtê-la. Esse fato implica que há três componentes aí incluídos:
os impostos pagos sobre os produtos, o valor do transporte da mercadoria do setor
produtivo até a entrega ao consumidor e o serviço de comércio no varejo e atacado.
Referir-se a preços básicos significa considerar os preços recebidos pelo produtor
pela venda dessa mesma mercadoria, ou seja, não considera o valor do transporte ou
do comércio embutidos no preço final da mercadoria, nem dos impostos sobre produtos
pagos pelo produtor. Como analiticamente interessa conhecer o comportamento da
produção nacional separadamente da importação de produtos, deduzem-se, ainda, da
oferta total a preços básicos os produtos importados.
Esses componentes são apresentados na Tabela de Recursos dos Bens e Serviços.
A margem de comércio é o valor que se acresce ao produto em sua comercialização, não
sendo efetivamente apropriado pelo setor relacionado a sua produção, mas pela atividade
atacadista e varejista do comércio. A margem de transporte é o valor que se acresce ao
produto decorrente do seu deslocamento da unidade produtiva até o consumidor final,
sendo apropriado pela atividade de transporte. Incidem sobre os produtos os impostos,
líquidos de subsídios, pagos pelo produtor na aquisição dos produtos necessários à
obtenção daquela produção, sendo apropriados pelo governo.
A Tabela 1 apresenta uma versão resumida da Tabela de Recursos dos Bens e
Serviços divulgada pelo IBGE em 2004, contendo estimativas da economia para o ano
de 2002. Nela os setores de atividade e produtos foram agrupados segundo os intervalos
dos códigos presentes à esquerda e acima de cada grupo.10
Em termos gerais, essas três parcelas do preço pago pelo consumidor definem a
valoração das transações de oferta e demanda das mercadorias. Genericamente, pode-
se definir que a oferta total das atividades tem seu valor a preços do consumidor (Am)
formado pelo valor da oferta das atividades nacionais a preços básicos (Ab) mais o valor
das margens de comércio (MC) e transporte (MT), impostos, líquidos de subsídios, sobre
produtos (T) e das importações (M). Então é possível escrever:
(19)
10
Trata-se dos códigos de produtos e atividades econômicas utilizados pelo IBGE no Sistema de Contas Nacionais de 2002.
Observa-se que não existe um setor de código 09.
Tabela 1 - Resumo da tabela de recursos dos bens e serviços do IBGE para o Brasil em 2002
(em R$ bilhões)
ATIVIDADES ECONÔMICAS
14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32
Oferta
Importações
ajuste cif/fob
Margem de comércio
Serviços
eletro-eletrônicos
famácia, plásticos
Indústria de madeira,
Siderur-gia e etalurgia
e indústria de alimentos
Agropecuária e extrativa
papel, borracha e outros
Indústria textil e vestuário
Minério de ferro
02 19,48 0,15 2,40 0,17 16,75 15,52 - - - 0,01 - - - 15,54 - 1,22
e outros
Petróleo/gás/
03 55,81 0,02 0,35 0,16 55,28 41,80 0,01 - - - - - - 41,81 - 13,47
carvão e outros
Minerais não
04 40,97 2,87 1,96 6,64 29,50 28,45 0,01 - 0,01 0,03 - - 0,01 28,51 - 0,99
metálicos
Produtos da
05 60,55 1,11 0,78 0,83 57,83 - 55,81 0,09 - 0,03 - - - 55,93 - 1,91
siderurgia básica
Tratores/máquinas
08 79,38 4,19 0,05 4,93 70,21 - 1,93 53,83 0,12 - - - 0,03 55,90 - 14,30
e equipamentos
Produtos
10 e 11 77,93 5,51 1,06 9,44 61,92 0,03 0,12 36,14 0,07 0,02 - - 0,01 36,39 - 25,53
eletroeletrônicos
Automóveis
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto
12 e 13 108,98 9,84 0,46 12,22 86,46 - 0,28 69,36 0,05 0,00 0,01 - 0,28 69,99 - 16,47
veículos e peças
Madeira e
14 28,80 3,37 1,54 2,53 21,37 0,05 0,05 0,04 20,73 0,08 0,01 - - 20,96 - 0,41
mobiliário
Papel/celulose/
15 60,34 3,92 0,74 4,46 51,23 - - - 44,89 0,01 - - 4,03 48,94 - 2,29
papelão
Prod. derivados
16 20,90 1,39 0,12 2,34 17,06 - - 0,06 14,65 0,01 0,10 - - 14,83 - 2,23
da borracha
Álcool de
17 cana e não 31,34 0,60 0,24 0,55 29,95 0,09 0,16 - 0,02 24,21 - 0,25 - 24,72 - 5,24
petroquímicos
21
ATIVIDADES ECONÔMICAS
22
14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32
Oferta
Importações
Ajuste cif/fob
Margem de comércio
Serviços
famácia, plásticos
Indústria máquinas,
Indústria de madeira,
Siderurgia e metalurgia
e indústria de alimentos
Agropecuária e extrativa
papel, borracha e outros
Indústria têxtil e vestuário
Prod.
18 218,84 11,01 0,63 5,42 201,78 0,00 0,11 - - 145,27 - - 40,29 185,67 - 16,11
petroquímicos
Adubos/tintas e
19 54,60 4,17 0,65 2,59 47,20 0,04 0,01 - 0,09 38,72 - 0,12 0,48 39,46 - 7,74
outros
Prod.
20 farmaceuticos e 43,39 7,08 - 5,61 30,69 - - - 0,01 21,18 0,00 0,18 0,77 22,14 - 8,55
perfumaria
Artigos de
21 20,59 1,24 0,19 2,19 16,97 - - 0,10 0,26 14,75 0,09 - - 15,21 - 1,76
plástico
Prod. têxteis
22 - 24 74,92 6,05 0,23 6,79 61,85 - - - 0,05 0,05 57,69 0,02 0,36 58,17 - 3,68
e artigos vestuário
Prod. vegetais
25 e 26 benneficiados 66,24 7,14 1,42 5,63 52,05 3,17 - - - 0,03 - 47,67 0,03 50,89 - 1,15
e café
27 e 28 Carne e laticínios 81,37 8,71 1,78 5,97 64,92 7,41 - - - - 0,32 56,11 - 63,83 - 1,08
Açucar, óleos,
29 - 31 130,99 12,67 2,93 12,43 102,95 1,22 - - - 0,51 0,05 97,75 0,01 99,54 - 3,41
bebidas
32 Diversos 36,47 3,10 0,24 6,24 26,89 0,22 0,43 0,69 14,86 1,14 0,36 - 3,07 20,78 - 6,11
33 - 42 Serviços 1.262,66 -115,41 -22,64 39,86 1.360,85 0,19 0,29 4,30 0,33 -1,33 0,26 1,12 1.319,54 1.324,71 -7,36 43,50
Total 2.870,70 0,00 0,00 146,88 2.723,81 281,10 121,01 166,92 96,96 244,73 58,90 204,04 1.369,60 2.543,26 0,00 180,55
Fonte: Adaptado de IBGE 2004.
Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 23
. (20)
. (21)
24 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
. (22)
. (23)
ATIVIDADES ECONÔMICAS
14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32
Estoques
Exportações
Demanda total
outros
Serviços
extrativa
plásticos
metalurgia
Total da demanda final
Siderurgia e
Total das atividades
Agropecuária e
Indústria textil e
eletro-eletrônicos
papel, borracha e
Formação bruta de capital fixo
Química, famácia,
Abate de animais e
máquinas, veiculos e
Indústria de madeira,
indústria de alimentos
Produtos
01 33,79 1,79 - 5,50 5,21 2,59 83,43 6,69 139,00 12,83 - 46,87 4,75 10,64 75,08 214,08
agropecuários
Minério de ferro e
02 3,31 3,32 0,11 0,76 0,88 0,01 0,30 0,79 9,48 10,52 - - - -0,53 9,99 19,48
outros
Petróleo/gás/carvão
03 0,10 2,39 - - 45,74 - - 0,19 48,41 5,20 - - - 2,19 7,40 55,81
e outros
Minerais não
04 6,76 0,82 2,02 0,36 0,82 0,01 1,25 25,09 37,12 2,49 - 1,66 - -0,30 3,85 40,97
metálicos
05 Produtos da 0,86 36,17 9,84 0,27 0,51 - - 2,43 50,09 10,93 - - - -0,47 10,46 60,55
siderurgia básica
Tratores/máquinas e
08 3,21 3,62 7,75 1,60 3,13 0,71 2,11 7,01 29,15 6,67 - 0,17 42,95 0,44 50,23 79,38
equipamentos
Produtos
10 e 11 0,09 0,31 9,41 0,18 0,11 0,02 0,05 13,03 23,20 11,35 - 25,02 18,44 -0,08 54,73 77,93
eletroeletrônicos
Automóveis veículos
12 e 13 0,03 0,06 23,32 0,03 0,00 0,00 0,00 16,22 39,66 26,50 - 30,17 12,16 0,50 69,32 108,98
e peças
14 Madeira e mobiliário 0,21 0,19 0,97 3,27 0,11 0,07 0,15 5,28 10,27 6,79 - 9,21 2,45 0,08 18,53 28,80
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto
Papel/celulose/
15 1,10 0,81 1,45 13,99 2,23 0,69 3,60 20,31 44,17 6,22 - 9,84 0,10 0,01 16,16 60,34
papelão
Prod. derivados da
16 0,22 0,42 3,35 4,41 0,29 0,72 0,17 8,65 18,22 1,97 - 0,39 - 0,32 2,68 20,90
borracha
18 Prod. petroquímicos 14,77 2,71 4,32 6,73 56,74 3,50 3,92 72,47 165,15 10,50 - 43,93 - -0,75 53,68 218,84
Adubos/tintas e
19 23,52 1,75 2,01 3,92 10,89 1,30 1,17 5,95 50,52 2,51 - 1,57 - 0,01 4,08 54,60
outros
20 Prod. farmaceuticos 0,93 - - 0,00 2,17 - 0,33 4,43 7,87 1,51 - 33,74 - 0,27 35,52 43,39
e perfumaria
25
ATIVIDADES ECONÔMICAS
26
14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32
Estoques
Exportações
Demanda total
extrativa
Consumo do governo
Indústria
plásticos
Consumo das famílias
vestuário
Total da demanda final
alimentos
Siderurgia e
Total das atividades
e indústria de
Agropecuária e
madeira, papel,
Indústria textil e
Formação bruta de capital fixo
Abate de animais
borracha e outros
e eletroeletrônicos
Química, famácia,
máquinas, veiculos
21 Artigos de plástico 0,76 0,28 2,79 1,39 1,95 0,85 1,83 8,79 18,63 0,82 - 1,22 - -0,08 1,95 20,59
22 - 24 Prod. têxteis e artigos 0,50 0,03 0,41 1,12 0,29 24,66 1,12 4,03 32,16 10,85 - 31,26 - 0,65 42,76 74,92
vestuário
25 e 26 Prod. vegetais - - - 0,09 0,08 0,01 14,62 2,62 17,42 11,36 - 32,30 - 5,16 48,82 66,24
beneficiados e café
27 e 28 Carne e laticínios - - - 0,02 0,12 1,01 8,20 5,98 15,32 9,71 - 55,35 - 0,98 66,05 81,37
29 - 31 Açúcar, óleos, 12,00 0,03 0,06 0,06 4,48 0,04 20,00 15,27 51,93 20,13 - 58,20 - 0,73 79,06 130,99
bebidas
32 Diversos 0,50 1,63 0,31 1,58 0,61 0,17 0,36 12,40 17,56 2,45 - 12,75 3,44 0,27 18,91 36,47
33 - 42 Serviços 18,14 10,61 15,33 12,70 17,50 4,75 15,17 329,13 423,35 25,30 270,96 381,28 161,77 - 839,31 1.262,66
Total 89,89 87,48 106,61 61,67 165,82 41,65 161,30 595,99 1.344,11 208,49 270,96 781,17 246,61 19,35 1.526,58 2.870,70
Vl adicionado bruto preço básico 157,51 33,52 60,31 35,28 78,91 17,25 42,74 773,61 1.199,14
Remunerações 18,14 7,46 18,91 12,16 10,57 6,02 10,79 402,40 486,46
Salários 14,07 5,46 13,56 8,93 7,54 4,53 8,05 289,54 351,68
Contribuições sociais efetivas 4,07 2,01 5,35 3,22 3,04 1,49 2,74 54,63 76,55
Previdência oficial/FGTS 3,76 1,88 5,17 3,15 2,77 1,49 2,67 51,49 72,39
Previdência privada 0,30 0,13 0,18 0,07 0,26 0,01 0,07 3,14 4,16
EOB inclusive rendimento de 135,77 20,86 34,47 18,98 50,07 9,04 23,28 333,47 625,94
autônomos
Excedente oper. bruto (EOB) 135,22 20,26 34,47 17,98 50,07 7,00 22,99 276,34 564,32
Outros impostos sobre a prod. 3,80 5,20 7,61 4,14 18,32 2,19 8,67 40,24 90,18
Outros subsídios à produção -0,20 0,00 -0,68 - -0,04 - 0,00 -2,51 -3,43
Valor da produção 281,10 121,01 166,92 96,96 244,73 58,90 204,04 1.369,60 2.543,26
Pessoal ocupado 13,22 0,85 1,04 1,73 0,59 2,38 1,50 45,06 66,37
Fonte: Adaptado de IBGE 2004.
Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 27
A identidade fundamental entre oferta total (OT) e demanda total (DT) na economia
é dada a preços do consumidor nas tabelas de recursos e usos da produção do sistema
de contas nacinais:
. (24)
. (25)
. (26)
11
Desse modo, embora as margens de transporte e comércio façam diferença na valoração a preços básicos e ao consumidor
de cada produto, em termos do total das atividades nacionais, isso não ocorre. Pode-se verificar essa proposição ao exami-
nar o final das colunas correspondentes na Tabela 1.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 29
. (27)
Representa-se por Ab uma matriz de mesma dimensão que Am, porém valorada a
preços básicos.12 Define-se a matriz de transição S como o resultado da diferença entre
as matrizes de absorção a preços do consumidor Am e a matriz de absorção a preços
básicos Ab, conforme as seguintes equações:
, (28)
. (29)
Na equação 29 define-se cada elemento da matriz S como uma função linear de seu
elemento correspondente da matriz Ab, a partir de um mark-up θ. A equação seguinte
demonstra como, por conseqüência, a matriz de absorção a preços básicos deriva da
matriz de absorção a preços de mercado.
. (30)
Substituindo (29) em (30), pode-se extrair a equação pela qual a matriz de absorção
a preços básicos se relaciona com a matriz de absorção a preços do consumidor por meio
do mark-up θ.
. (31)
Definindo ainda:
, (32)
. (33)
12
As dimensões dessas duas matrizes, assim como de todas as matrizes definidas nesta seção, é de 80 linhas, representando
os produtos, e 48 colunas, compostas pelas 42 atividades, a dummy do setor financeiro, e as cinco categorias para a de-
manda final (consumo das famílias, gastos do governo, investimentos, exportações e estoques).
30 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
. (34)
, (35)
, (36)
, (37)
. (38)
. (39)
. (40)
. (41)
(42)
Para o caso específico da atualização da Matriz de Insumo-Produto brasileira de
2002, o resultado da projeção da demanda total a preços básicos não foi muito diferente
(1,12%) daquele efetivamente observado em 2002. O mesmo se observa para o total
da margem de comércio (1,75%) e para os impostos indiretos (5,91%). À margem de
transporte se associa um erro de projeção um pouco maior (10,76%), e o erro mais
acentuado é do total projetado para as importações (-22,17%).13
13
Esses percentuais referem-se ao valor total de cada um dos grupos considerados. Evidentemente, cada produto responde
por um erro particular que pode ser calculado segundo a equação 42. Alguns destes resultados particulares apresentam
percentuais de variação mais significativos.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 33
A quarta etapa consiste em utilizar o método matemático RAS para que as projeções
iniciais possam adequar-se aos seus vetores conhecidos pelo Sistema de Contas Nacionais
de 2002. O método RAS tem sido largamente utilizado para balanceamento de matrizes
de insumo-produto e matrizes de contabilidade social, quando os somatórios das linhas
e colunas originalmente obtidas não coincidem com os valores em que realmente
deveriam resultar (FOCHEZATTO e CARVALHO, 2002). Dessa forma, as projeções
iniciais resultantes da aplicação das três primeiras etapas da metodologia constituem
apenas o substrato para aplicação do método RAS das matrizes projetadas Ab*, MC*,
MT*, T* e M* a partir dos vetores conhecidos ab, mc, mt, t e m, retirados da Tabela de
Recursos dos Bens e Serviços do IBGE para o ano de 2002.
Esses vetores permitem conhecer o somatório das linhas das verdadeiras matrizes
Ab, MT, MC, M e T, porém o somatório de suas colunas não é conhecido. O somatório
das linhas da tabela projetada das importações, por exemplo, representa o valor total
importado de cada produto. O valor equivalente oferecido pelo Sistema de Contas
Nacionais encontra-se na coluna das importações da Tabela de Recursos dos Bens e
Serviços de 2002. Assim, sabe-se que foram importados R$ 5,0 bilhões de produtos
agrícolas, R$1,2 bilhões de minério de ferro e outros, e assim por diante (Tabela 1).
Quanto ao somatório das colunas das tabelas projetadas, no exemplo da matriz de
importações representa o valor total que cada atividade importou de bens e serviços
de consumo intermediário e que cada instituição importou em seu consumo final. Para
essas informações, o Sistema de Contas Nacionais não oferece estimativas.
Embora esse fato torne inviável o balanceamento individual de cada matriz
projetada, é possível proceder ao balanceamento simultâneo de todas elas a partir de
duas restrições. A primeira é a restrição conhecida dos vetores estimados pelo Sistema
de Contas Nacionais na Tabela de Recursos dos Bens e Serviços.
, (43)
(44)
34 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
das importações e destino dos impostos coerentes com o Sistema de Contas Nacionais
de 2002. A próxima seção apresenta o quadro-resumo dos resultados obtidos conforme
o esquema do Quadro 1.
Un fn q
Produtos Nacionais
1.152,0 1.391,2 2.543,3
Um fm
Importações 180,6
125,6 54,9
V g
Atividades
2.543,3 2.543,3
Tp Te
Impostos sobre Produtos 146,9
66,5 80,4
y’
Valor Adicionado 1.199,1
1.199,1
q’ g’
Total 1.526,6
2.543,3 2.543,3
14
O trabalho original contém a discriminação dos 80 produtos e 42 atividades originalmente publicadas pelo IBGE.
15
A matriz de produção está em sua forma transposta apenas pora facilitar a sua apresentação.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os esforços empreendidos no trabalho de atualização da Matriz de Insumo-Produto
brasileira segundo os dados das contas nacionais de 2002 e o bench-mark de 1996,
demonstraram-se eficazes ao produzir tabelas coerentes com todo o sistema de contas
nacionais atualizado, bem como o equilíbrio geral da economia a preços básicos e do
consumidor. Os procedimentos aqui adotados se revestem de generalidade suficiente
para compor uma metodologia ampla, capaz de ser utilizada na atualização de Matrizes
de Insumo-Produto para qualquer país ou região que conte com um Sistema de Contas
Nacionais obtido nos contornos da revisão de 1993 do manual da ONU e uma matriz
local de referência.
A coerência com os valores do Sistema De Contas Nacionais permite a utilização das
tabelas obtidas através desta metodologia na construção da Matriz de Contabilidade
Social, agregando outros componentes importantes das contas nacionais. Essa
construção é capaz de tornar endógeno o tratamento da demanda final e compõe um
quadro analítico multissetorial de todo o fluxo circular no interior da economia, incluindo
o resto do mundo. A construção desta Matriz de Contabilidade Social foi o objetivo
inicial do desenvolvimento desta metodologia de atualização da Matriz de Insumo-
Produto, bem como abre perspectivas para a construção de modelos de equilíbrio geral
computável.
A coerência entre a Matriz de Insumo-Produto e o Sistema de Contas Nacionais foi
possível graças à solução original na utilização do método RAS, aplicando-o conjunta e
simultaneamente em todas as matrizes inicialmente projetadas pelos mark-ups. Essa
aplicação metodológica garantiu a integridade dos dados assim gerados com o equilíbrio
dos mercados, tanto a preços básicos quanto a preços do consumidor. Outro aspecto a
ser ressaltado foi a verificação de uma relativa constância dos mark-ups segundo cada
setor de atividade de origem da produção. Esse fato sugere que o próprio trabalho
original empreendido pelo IBGE para a construção da Matriz de Insumo-Produto de
1996 deva ter considerado conceitos similares.
Evidentemente, os autores reconhecem que este trabalho não se equipara
às estimativas oficiais lastreadas em estudos de campo de todos os mercados, no
entanto representa um passo importante na superação dos limites impostos pela
falta de atualizações sistemáticas por parte dos organismos do governo. A presente
metodologia é inédita e seu potencial de utilização se estende para além de atualizações
sistemáticas, partindo-se das estimativas anualmente atualizadas do Sistema de
Contas Nacionais. Alcança a construção de matrizes no âmbito regional como também
o auxilia na construção de matrizes de contabilidade social e de modelos de equilíbrio
geral computável.
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BIBLIOGRAFIA
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PAULANI, Leda M.; BRAGA, Márcio B. A nova contabilidade social. São Paulo: Saraiva,
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1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 41
SYNOPSIS
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