Duilio de Avila Bêrni

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METODOLOGIA COMPLETA PARA A ESTIMATIVA

DE MATRIZES DE INSUMO-PRODUTO1
Eduardo Grijó*
Duilio de Avila Bêrni**

RESUMO
A utilização dos dados do Sistema de Contas Nacionais, derivado do Manual de 1993 da
ONU a fim de se proceder à estimativa de uma Matriz de Insumo-Produto é o objetivo central
do presente artigo. Ainda que os resultados empíricos adiante apresentados sejam relativos
à economia brasileira para o ano de 2002, a metodologia original aqui desenvolvida para
sua obtenção tem um espectro de utilização muito mais amplo. Com efeito, ela pode ser
utilizada para a construção de Matrizes de Insumo-Produto de qualquer país ou região em
qualquer período para o qual estejam disponíveis dados atualizados do Sistema de Contas
Nacionais ou Regionais e uma Matriz de Insumo-Produto de referência.

Palavras-chave: matriz de insumo-produto, sistema de contas nacionais, economia


brasileira.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A mensuração dos principais agregados macroeconômicos da economia brasileira
sob a tutela institucional da Fundação Getúlio Vargas retroage ao final da década de
40 e início da de 50. Especialistas em estatística econômica brasileira e internacional
utilizaram o censo econômico de 1950 para construir seu bench-mark na montagem de
um Sistema de Contas Nacionais. Construiu-se, assim, uma série de dados que recuam
até o ano de 1947 e estimativas isoladas para o ano de 1939, cuja base de informações
repousa no censo econômico de 1940. Seguiram-se diversas publicações de estimativas
anuais e revisões periódicas das contas nacionais, até que, em 1986, o encargo da
montagem dessas estatísticas transitou para a Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), lá permanecendo até os dias de hoje.

*
Mestre em Economia pela PUCRS. [email protected]
**
Doutor em Economia pela Oxford University e professor de Economia da PUCRS. [email protected]
1
Este artigo retoma o material de GRIJÓ 2005. Todos os dados originais das Contas Nacionais, intermediários e finais
resultantes da aplicação da metodologia aqui apresentada estão disponíveis aos interessados via e-mail. Os autores agra-
decem aos pareceristas anônimos da revista pelos comentários e sugestões.

Teor. e Evid. Econ. Passo Fundo v. 14 n. 26 p. 9-42 maio 2006


10 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

O Sistema de Contas Nacionais originariamente desenvolvido pela FGV foi


concebido apenas para a construção das contas dos setores institucionais, não sendo
produzidas as tabelas de recursos e usos dos bens e serviços que já haviam adquirido
status principal na revisão de 1968 do manual da ONU. A produção dessas tabelas e da
Matriz de Insumo-Produto foi feita paralelamente pelo IBGE, num trabalho iniciado em
1973 e publicado em 1979. Essa primeira Matriz de Insumo-Produto refere-se ao ano
de 1970, fundamentando-se no censo econômico daquele mesmo ano. A esta publicação
seguiu-se a mais abrangente de todas, pertinente ao ano de 1975 e divulgada somente
em 1987, contando com 123 atividades e 261 produtos, em contraste com a de 1970,
com 58 atividades e 98 produtos. Contendo 90 atividades e 137 produtos, publicou-se
a Matriz de Insumo-Produto de 1980, ao que se sucedeu a Matriz de Insumo-Produto
de 1985.
Infelizmente, o IBGE não alcançou êxito em sua atualização periódica, de sorte que
a última estimativa oferecida pelo instituto tem como referência o ano de 1996. Não
obstante, as contas nacionais vêm sendo estimadas e revistas a cada ano2, sendo as
mais atualizadas as que se referem a 2002 e publicadas em 2004. Integram as contas
nacionais três conjuntos de informações: as contas econômicas integradas, as contas
institucionais e as tabelas de recursos e usos dos bens e serviços.
As tabelas de recursos e usos dos bens e serviços são tabelas de insumo-produto
uma vez que relacionam a produção total de cada setor da atividade econômica segundo
o consumo intermediário dos bens e serviços que esta adquire, além de considerar a
absorção dos demais insumos. De fato, elas se constituem na substância básica para a
obtenção das matrizes de produção e absorção, que, por sua vez, sustentam a construção
da Matriz de Insumo-Produto e de seu modelo de análise multisetorial.
Ocorre, entretanto, que existe uma diferença conceitual importante entre a
tabela de consumo intermediário das atividades do Sistema de Contas Nacionais em
relação à tabela de absorção do modelo convencional da Matriz de Insumo-Produto.
Essa circunstância leva a que a utilização dos dados do Sistema de Contas Nacionais,
abrigado pelo manual de 1993 da ONU para a estimativa de uma Matriz de Insumo-
Produto seja o objetivo central do presente artigo.
Em termos meramente estatísticos, a transposição da tabela de usos dos bens e
serviços para a matriz de absorção requer um conjunto complementar de informações
que não estão disponíveis nas contas nacionais. Essas informações são apresentadas em
14 tabelas do grupo dois, segundo denominação do IBGE, as quais contêm a expansão
dos vetores de margem de comércio, transporte, importações e impostos em tabelas que
discriminam atividades e produtos, porém que são publicadas pelas contas nacionais

2
Ainda que cumprida com pouco rigor, a publicação das estimativas das contas nacionais do ano t, pelo IBGE, segue o
seguinte cronograma: uma versão preliminar, publicada no ano t+1; semidefinitiva, publicada no ano t+2, e definitiva,
publicada no ano t+3.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 11

apenas segundo os produtos absorvidos. Por meio das tabelas do grupo dois, é possível
proceder à transformação dos montantes do consumo intermediário, avaliado a preços
do consumidor, em preços básicos, obtendo-se, assim, a matriz de absorção.
Ainda que os resultados empíricos obtidos neste estudo em particular sejam
relativos à economia brasileira para o ano de 2002, a metodologia original aqui
desenvolvida para sua obtenção tem um espectro de utilização muito mais amplo. Com
efeito, pode ser utilizada para a construção de Matrizes de Insumo-Produto de qualquer
país ou região em qualquer período para o qual estejam disponíveis dados atualizados
do Sistema de Contas Nacionais do ano corrente e uma Matriz de Insumo-Produto
concernente a outro ano, utilizada como referência.
Este artigo está organizado em quatro seções além desta introdução. A segunda
seção discute o chamado problema da classificação de uma Matriz de Insumo-Produto
constituída a partir de duas matrizes retangulares. A primeira é a matriz de produção
de produtos pelas atividades econômicas e a segunda, a matriz de absorção dos
produtos e insumos primários pelas atividades. Basicamente, esse problema se resume
à forma de conciliação dessas duas matrizes e à fundamentação do Modelo de Insumo-
Produto. A terceira seção discute a correspondência entre as tabela de usos e recursos
dos bens e serviços do Sistema de Contas Nacionais e as matrizes de produção (make
table) e absorção do modelo de insumo-produto. Nela se apresentarão dois conceitos
fundamentais de valoração das transações econômicas que afetarão todo o trabalho
metodológico desenvolvido neste artigo: preços do consumidor e preços básicos.
A quarta seção descreve a metodologia utilizada na construção das matrizes
atualizadas de absorção a preços básicos, margem de comércio, margem de transporte,
importações e impostos indiretos incidentes sobre os produtos, a partir do balanceamento
de projeções iniciais. As projeções iniciais são obtidas por meio de mark-ups oriundos
de uma Matriz de Insumo-Produto compatível e disponível para um ano bench-
mark. A quinta seção apresenta, resumidamente, os resultados obtidos e, por fim,
consideram-se alguns comentários finais.

2 A MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO E O PROBLEMA DA


CLASSIFICAÇÃO
A primeira versão da Matriz de Insumo-Produto, feita por Wassily Leontief em
1936, representou uma grande vitória da ciência econômica em termos de aproximação
empírica dos fenômenos observados na realidade. Aprofundando uma abordagem de
pesquisa iniciada com Quesnay e Walras, o chamado “modelo fechado” mostrou os
inter-relacionamentos entre os setores produtivos da economia americana para 1919
e 1929. A expressão “modelo fechado” propõe-se a informar que se trata de um modelo
em que as famílias recebem o mesmo tratamento analítico dado a qualquer dos demais
subsetores institucionais.
12 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

Nesse contexto, o modelo fechado de Leontief é descrito por um conjunto de


equações linearmente homogêneas, o que implica que lhe cabem infinitas soluções.
Assim, buscando viabilizar a construção de uma equação reduzida do modelo, com as
variáveis exógenas dadas como função de um conjunto endógeno, o próprio Leontief,
na formulação estruturada em 1952, criou um vetor de demanda das famílias capaz
de eliminar a dependência linear do sistema. Desse modo, com a eleição de uma única
suposição de natureza comportamental/tecnológica, o modelo mantém seu caráter
linear, mas transforma-se num conjunto de equações nãohomogêneas passível de
solução.
A construção do modelo requer a coleta de dados originários das transações
econômicas que as atividades produtivas estabelecem entre si3, enquanto setores
produtores e consumidores de bens e serviços, e da demanda externa ao setor produtivo,
ou demanda final, observados a partir de uma definição geográfica e lapso de tempo
específicos. Desse modo, sendo a produção da economia dividida em n atividades
denotadas por xi, o valor monetário dos fluxos de produtos da atividade i (origem do
recurso, crédito no sistema) para a atividade j (destino do recurso, débito no sistema)
denotado por zij, e a demanda final pelas atividades denotada por yi, pode-se construir
o seguinte sistema de identidades4:

(1)

O conjunto de equações expresso em (1) informa simplesmente que a produção


xi de um setor destina-se ao consumo intermediário de todos os setores segundo os
montantes zij e ao consumo final segundo yi. Nesse sentido, as aquisições de bens e
serviços da atividade i pela atividade j dependem exclusivamente do total da produção
da atividade j no mesmo período de tempo. Portanto, pode-se calcular a razão destas
aquisições intermediárias em termos do produto final de cada atividade definindo os
coeficientes técnicos de produção aij, da seguinte forma:

. (2)

3
Essa é a forma mais usual de se construir o modelo insumo-produto. Porém, assim como se está examinando o caso em
que os setores transferem sua produção aos demais setores, claramente se pode conceber uma situação alternativa descre-
vendo a produção de mercadorias por meio de mercadorias.
4
Notações extraídas de Miller e Blair (1985, p. 7-9).
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 13

Supondo-se que aij mantenha regularidade ao longo do tempo, ou seja, aceitando-


se a hipótese comportamental/tecnológica da constância dos coeficientes técnicos, pode-
se transformar a identidade acima na seguinte igualdade:

. (3)

As equações do sistema (1) podem, então, ser reescritas da seguinte forma:

. (4)

A partir desse sistema de equações podem-se definir as seguintes matrizes:

, e .

Pode-se, ainda, simplificar a notação do sistema, atribuindo-lhe a seguinte forma:

. (5)

Sua expressão reduzida é

x = By , (6)

sendo que a expressão de B, por sua vez, corresponde a:

B = (I-A)-1 . (7)

Como se sugeriu acima, os vetores x e y dizem respeito, respectivamente, ao


consumo intermediário e demanda final setorial, o mesmo ocorrendo com as matrizes
quadradas A e B. Em especial, cabe notar que, em sendo a matriz A, dos coeficientes
técnicos de produção, quadrada, pode-se utilizar a álgebra matricial para a obtenção de
B na solução do modelo.
Ocorre que, na década de 1970, estes fundamentos vieram a ser questionados. Ora,
os dados monetários que geram a matriz A não são obtidos num formato atividade x
atividade (nem produto x produto) nas pesquisas feitas diretamente nas empresas, as
quais fornecem as informações de seu consumo intermediário em termos de produtos
adquiridos. Mas ocorre também que, como regra geral, uma atividade produz mais de
14 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

um produto, de sorte que o resultado da produção de todas as empresas gera um quadro


retangular de atividades por produtos.
Para fazer uso adequado da informação originária com esses contornos, o moderno
tratamento dispensado à construção da Matriz de Insumo-Produto coloca em sua
origem duas tabelas. A primeira é chamada de matriz de produção (V), em que são
apresentadas as cifras descrevendo a relação entre as atividades produtivas (dispostas
nas linhas) e os produtos obtidos a partir delas (dispostos nas colunas). Com isso,
revela-se a estrutura produtiva de uma economia.
A segunda tabela é chamada de matriz de absorção (U), revelando o destino setorial
(dispostos nas colunas como débitos) dos produtos (dispostos ao longo das linhas como
créditos). A tabela de absorção apresenta, assim, três grupos de registros das transações
envolvidas nos diferentes processos produtivos: em primeiro lugar, elas são classificadas
conforme as atividades que promovem o consumo intermediário; em segundo lugar,
está a provisão de bens e serviços aos usuários finais; por fim, descreve-se a absorção
dos insumos primários pelas atividades (importações, impostos e remuneração dos
fatores).
Um esforço considerável é despendido pelos institutos estatísticos na construção
dessas duas tabelas, tarefa que exige a agregação criteriosa da elevada diversidade de
produtos em grupos de produtos e das empresas em setores de atividade. Os grupos
de produtos procuram manter homogeneidade em relação a sua origem e destino e os
setores de atividade produtiva agregam estabelecimentos com estruturas de produção
e consumo intermediário relativamente homogêneos. A metodologia adotada acaba por
determinar uma natural correspondência entre ambos os conjuntos. Dessa maneira,
por exemplo, os produtos agropecuários são predominantemente produzidos pelo setor
agropecuário, e os equipamentos eletrônicos, predominantemente produzidos pela
indústria de equipamentos eletrônicos.
Entretanto, existem produtos secundários e subprodutos do processo produtivo
principal que fazem com que a indústria agropecuária também produza, por exemplo,
carne bovina e alguns produtos vegetais beneficiados, típicos das atividades industriais
específicas de abate de animais e de beneficiamento de produtos vegetais. Também os
equipamentos eletrônicos são produzidos pela atividade produtora de material elétrico,
assim como a indústria de equipamentos eletrônicos produz artigos de plástico. Esses
são apenas alguns exemplos que se multiplicam na complexa realidade do setor
produtivo.
Não fosse a existência de produção secundária e subprodutos, a construção de
uma matriz quadrada5 de coeficientes técnicos de produção não seria problema, porém

5
É importante destacar que o uso do termo “matriz quadrada”, no que tange à Matriz de Insumo-Produto, não se faz
apenas no sentido de que o número de linhas seja igual ao número de colunas, mas também da perfeita simetria entre as
linhas e colunas, representando uma mesma classificação, de produtos ou atividades.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 15

este não é o caso. Emerge daí o chamado problema da classificação, e a matriz A,


resultante da aplicação de (2) sobre o sistema de equações em (1), não é quadrada, mas
de dimensões produto x atividade.
A solução desse problema passa pela escolha de um entre dois supostos relativos à
estrutura de insumos da função de produção, em que pode ser uma função de produção
relativa a cada setor de atividade ou a cada produto. Esses supostos são aplicados sobre
a matriz de produção (V), que, interagindo com a matriz retangular dos coeficientes
técnicos, permite a obtenção de uma matriz quadrada de coeficientes técnicos de
produção.
O primeiro suposto, denominado de “tecnologia do setor”, define a existência de
uma estrutura de insumos para cada atividade produtiva, desconsiderando-se para
quais produtos desta atividade eles se destinam. Em outras palavras, assume que uma
indústria utiliza a mesma tecnologia de produção para todos os seus produtos. Com
ele, se define o Market-Share como uma matriz D (atividade x produto) construída a
partir da matriz de produção (V) pela normalização de seus valores em relação ao total
produzido de cada produto. O resultado informa qual a proporção com que cada produto
se origina dos diversos setores de atividade econômica.
O segundo suposto, denominado “tecnologia do produto”, define a existência de
uma estrutura de insumos para cada produto, desconsiderando de quais atividades
eles se originam.6 Em outras palavras, assume que cada produto possui uma mesma
tecnologia de produção em todas as indústrias. Nele se define o Mix de Produtos, uma
matriz produto x atividade, construída sobre a matriz de produção (V) transposta por
meio de sua normalização em relação ao total da produção de cada setor. O Mix de
Produtos informa a proporção dos produtos de cada uma das atividades.
Escolhido o suposto mais adequado à montagem do modelo, sua aplicação sobre a
matriz de coeficientes técnicos de produção pode ser feita de duas maneiras distintas,
dependendo do resultado que se deseja obter. As possibilidades variam entre uma
matriz insumo-produto que relacione produtos a produtos ou atividades a atividades.
Neste artigo se adotará o suposto da tecnologia do setor utilizando-se a matriz
de Market Share, uma vez que é o suposto mais comumente adotado na literatura
especializada, além de ter sido o suposto adotado pelo próprio IBGE na construção
da Matriz de Insumo-Produto de 1996, que será utilizada como bench-mark para as
estimativas atualizadas de 2002.
Para a construção do modelo de insumo-produto nos termos acima definidos,
passa-se a adotar o quadro informacional e a simbologia utilizada pelo IBGE em seu

6
Existe uma literatura rica sobre o assunto, a qual poderia, per se, sustentar a redação de um artigo específico. No entanto,
para não fugir ao foco deste trabalho, far-se-á uma apresentação sucinta da solução do problema da classificação, funda-
mentando-se principalmente em Miller e Blair (1985, p. 164 e seguintes).
16 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

texto metodológico de 1997, conforme o Quadro 1. Dessa forma, inicia-se a aproximação


do arcabouço teórico descrito com os aspectos práticos do trabalho de atualização da
Matriz de Insumo-Produto.

Quadro 1 - Identidades funcionais das tabelas da Matriz de Insumo-Produto do IBGE

Produtos Nacionais Atividades Demanda Final Valor da Produção


Produtos Nacionais Un Fn q
Produtos Importados Um Fm
Setores da Atividade V g
Impostos Tp Te
Valor Adicionado y’
Valor da Produção q’ g’

Fonte: IBGE, 1997.

Seguem-se, neste quadro, as seguintes convenções:


V matriz de produção, que apresenta para cada atividade o valor da produção de
cada um dos produtos;
q vetor com o valor bruto da produção total por produto;
Un matriz de consumo intermediário nacional, que apresenta para cada atividade
o valor consumido de produtos de origem interna;
Um matriz de consumo intermediário importado, que apresenta para cada atividade
o valor consumido de produtos de origem externa;
Tp matriz dos valores dos impostos e subsídios associados a produtos, incidentes
sobre bens e serviços absorvidos (insumos) pelas atividades produtivas;
y vetor com o valor adicionado total gerado pelas atividades produtivas. É
considerado como um vetor por medida de simplificação; na prática é uma matriz
por atividade com o valor adicionado a custo de fatores e a preços básicos, as
remunerações (salários e contribuições sociais), o excedente bruto operacional
(obtido por saldo) e os impostos e subsídios incidentes sobre as atividades;
g vetor com o valor bruto da produção total por atividade;
Fn matriz da demanda final por produtos nacionais, apresenta o valor consumido
de produtos de origem interna consumidos por categoria da demanda final
(consumo final das famílias e das administrações públicas, exportação, formação
bruta de capital fixo e variação de estoques);
Fm matriz da demanda final por produtos importados apresenta o valor dos
produtos de origem externa consumidos pelas categorias da demanda final;
Te - matriz dos valores dos impostos e subsídios associados a produtos, incidentes
sobre bens e serviços absorvidos pela demanda final.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 17

O Quadro 1 apresenta o conjunto informacional que se extrai das tabelas de


recursos e usos dos bens e serviços do Sistema de Contas Nacionais, após as modificações
necessárias para torná-las compatíveis com as matrizes de produção e absorção. Uma
vez obtidas essas matrizes, e esse é o grande problema a ser solucionado neste artigo,
o primeiro passo na direção da construção do modelo de insumo-produto é a criação da
matriz de coeficientes técnicos da produção nacional (Bn). Essa matriz é obtida como
uma matriz ainda retangular produto x atividade, que define a participação de cada
aquisição de insumo no total do valor da produção do setor, conforme abaixo definido.
Por i tem-se o vetor coluna unitário e “^” denota uma matriz diagonal formada pelos
valores do vetor em referência.
O exame do Quadro 1 permite que se escreva:

. (8)

Definindo:

, (9)

pode-se escrever:

. (10)

A equação 8 apresenta a formação da demanda total a partir de suas duas


componentes. A primeira componente é a matriz de absorção das atividades nacionais
(Un) ou consumo intermediário, cujo somatório total das aquisições de cada produto pelas
atividades é dado por meio de sua multiplicação pelo vetor i. A segunda componente
é o vetor de demanda final por produtos (fn). A equação 9 define a matriz retangular
dos coeficientes técnicos de produção a partir da matriz de absorção das atividades
nacionais (Un). Esta pode ser recomposta segundo a equação 10. Substituindo em (8) o
resultado obtido em (10), tem-se a relação entre as atividades e os produtos no equilíbrio
geral (ex post) do sistema:

. (11)

Uma vez definido que se deseja obter uma Matriz de Insumo-Produto nas dimensões
atividade x atividade a partir do suposto da tecnologia do setor, constrói-se a matriz de
Market-Share (D) a partir da matriz de produção (V) da seguinte maneira:

, (12)

, (13)
18 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

. (14)

A equação 12 define a oferta total da produção nacional em termos dos setores


de atividade pela multiplicação da matriz de produção pelo vetor i. A obtenção da
matriz de Market-Share é dada por meio da equação 13, que generaliza o suposto da
proporcionalidade entre a produção setorial dos produtos e a produção total do setor. A
matriz de produção pode ser recomposta por meio da equação 14. Substituindo (14) em
(12) obtém-se:

. (15)

A equação 15 apresenta uma relação importante entre a demanda total dos produtos
(q) e a oferta total das atividades nacionais (g). Substituindo a equação obtida em 11
na equação 15 obtém-se o sistema de equações para a solução da produção de cada
setor como uma função do vetor da demanda final (fn) que deve ser avaliado segundo
as atividades, por isso pré-multiplicado pelo Market-Share.7 Isso fica facilmente
demonstrado nas equações a seguir.

, (16)

, (17)

. (18)

As equações de 16 a 18 relacionam-se diretamente às equações do modelo original


de Leontief em (5) a (7). Pode-se observar que a matriz B do sistema de Leontief (7)
é alcançada na equação 18 segundo a expressão (I – DBn)-1. Nesta última formulação,
deve-se pré-multiplicar a matriz de absorção pela matriz de Market-Share para resultar
uma matriz quadrada atividade x atividade, uma vez que Bn é retangular. Note-se que
também o vetor de demanda final por produtos deve ser pré-multiplicado pela matriz D
do Market-Share uma vez que é necessário que a demanda esteja considerada segundo
os setores de atividade, não de acordo com os produtos adquiridos.

7
Uma Matriz de Insumo-Produto do tipo produto x produto pode ser facilmente obtida com o suposto da tecnologia do setor
substituindo-se, ao invés de (11) em (15), desta vez (15) em (11), uma vez que esta última resulta em q ao invés de em g,
oferecendo a seguinte expressão: q = (I – BnD)-1fn
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 19

3 AS TABELA DE RECURSOS E USOS DOS BENS E SERVIÇOS E


SUAS CORRESPONDÊNCIAS COM AS MATRIZES DE PRODUÇÃO
E ABSORÇÃO
O Sistema de Contas Nacionais, desde a revisão de 1968 do manual da ONU, já
contemplava as tabelas de recursos e usos dos bens e serviços8, substância básica para
a construção da Matriz de Insumo-Produto. Essas tabelas se fundamentam na própria
natureza estatística dos dados, ao passo que a Matriz de Insumo-Produto constrói-se
sobre modificações feitas a partir delas e da assunção de certos supostos analíticos, já
brevemente apresentados na seção anterior.
A figura nuclear das tabelas de recursos e usos da produção é constituída por uma
matriz que apresenta as correspondências físicas (em dollar’s worth) dos produtos
(bens e serviços), descritos em suas linhas, com os setores da atividade econômica,
descritos em suas colunas. As tabelas de recursos e usos da produção são duas: a Tabela
de Recursos dos Bens e Serviços e a Tabela de Usos dos Bens e Serviços. A tabela dos
recursos evidencia as condições da oferta dos produtos, ao passo que a tabela dos usos
evidencia as condições de sua demanda.
Sua construção molda-se pelo princípio do equilíbrio entre oferta e demanda de
mercado de cada produto, respeitando, em seu conjunto, o equilíbrio geral da economia.
Esse equilíbrio pode ser verificado diretamente no Sistema de Contas Nacionais pela
comparação entre a coluna da oferta total a preços do consumidor (primeira coluna da
Tabela de Recursos dos Bens e Serviços) e a coluna da demanda total (última coluna da
Tabela de Usos dos Bens e Serviços).9 Os vetores de oferta e demanda totais formados
por essas colunas se equivalem, significando que o valor da oferta de cada produto é
igual ao valor de sua demanda.
Como já foi observado, as matrizes de produção (V) e absorção (U), típicas do
modelo de insumo-produto, formam-se a partir dessas duas tabelas. As modificações
necessárias para obtê-las resultam no conjunto de matrizes e vetores que também já
foram apresentados no Quadro 1, onde o equilíbrio entre oferta e demanda dos produtos
é dado pelo vetor q. Mas há uma diferença fundamental entre este vetor e os vetores da
demanda e oferta total dos produtos nas tabelas de recursos e usos da produção. Como já
se assinalou, o equilíbrio nessas tabelas é formado a partir de preços do consumidor, ao
passo que no modelo de insumo-produto é construído a preços básicos, ou simplesmente
pelo valor da produção (q).
Valorar uma operação de compra e venda de mercadoria a preços do consumidor
significa que se está considerando o preço final da mercadoria segundo o qual o

8
Também referidas, aqui, genericamente, como tabelas de recursos e usos da produção.
9
Em seguida serão apresentadas as versões resumidas destas tabelas segundo os valores constantes no Sistema de Contas
Nacionais brasileiro de 2002.
20 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

consumidor pagou para obtê-la. Esse fato implica que há três componentes aí incluídos:
os impostos pagos sobre os produtos, o valor do transporte da mercadoria do setor
produtivo até a entrega ao consumidor e o serviço de comércio no varejo e atacado.
Referir-se a preços básicos significa considerar os preços recebidos pelo produtor
pela venda dessa mesma mercadoria, ou seja, não considera o valor do transporte ou
do comércio embutidos no preço final da mercadoria, nem dos impostos sobre produtos
pagos pelo produtor. Como analiticamente interessa conhecer o comportamento da
produção nacional separadamente da importação de produtos, deduzem-se, ainda, da
oferta total a preços básicos os produtos importados.
Esses componentes são apresentados na Tabela de Recursos dos Bens e Serviços.
A margem de comércio é o valor que se acresce ao produto em sua comercialização, não
sendo efetivamente apropriado pelo setor relacionado a sua produção, mas pela atividade
atacadista e varejista do comércio. A margem de transporte é o valor que se acresce ao
produto decorrente do seu deslocamento da unidade produtiva até o consumidor final,
sendo apropriado pela atividade de transporte. Incidem sobre os produtos os impostos,
líquidos de subsídios, pagos pelo produtor na aquisição dos produtos necessários à
obtenção daquela produção, sendo apropriados pelo governo.
A Tabela 1 apresenta uma versão resumida da Tabela de Recursos dos Bens e
Serviços divulgada pelo IBGE em 2004, contendo estimativas da economia para o ano
de 2002. Nela os setores de atividade e produtos foram agrupados segundo os intervalos
dos códigos presentes à esquerda e acima de cada grupo.10
Em termos gerais, essas três parcelas do preço pago pelo consumidor definem a
valoração das transações de oferta e demanda das mercadorias. Genericamente, pode-
se definir que a oferta total das atividades tem seu valor a preços do consumidor (Am)
formado pelo valor da oferta das atividades nacionais a preços básicos (Ab) mais o valor
das margens de comércio (MC) e transporte (MT), impostos, líquidos de subsídios, sobre
produtos (T) e das importações (M). Então é possível escrever:

(19)

10
Trata-se dos códigos de produtos e atividades econômicas utilizados pelo IBGE no Sistema de Contas Nacionais de 2002.
Observa-se que não existe um setor de código 09.
Tabela 1 - Resumo da tabela de recursos dos bens e serviços do IBGE para o Brasil em 2002
(em R$ bilhões)
ATIVIDADES ECONÔMICAS

14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32

Oferta
Importações

ajuste cif/fob

Margem de comércio
Serviços

Códigos dos produtos


Margem de transporte
Química,

Descrição dos produtos


Impostos sobre produtos
Total das atividades

total (preços consumidor)


Oferta total (preços básicos)
Abate de animais

eletro-eletrônicos
famácia, plásticos

Indústria de madeira,

Siderur-gia e etalurgia
e indústria de alimentos

Agropecuária e extrativa
papel, borracha e outros
Indústria textil e vestuário

Indústria máquinas, veiculos e


Produtos
01 214,08 15,37 4,27 4,32 190,11 182,91 - - 0,65 - - 0,81 0,70 185,08 - 5,03
agropecuários

Minério de ferro
02 19,48 0,15 2,40 0,17 16,75 15,52 - - - 0,01 - - - 15,54 - 1,22
e outros

Petróleo/gás/
03 55,81 0,02 0,35 0,16 55,28 41,80 0,01 - - - - - - 41,81 - 13,47
carvão e outros

Minerais não
04 40,97 2,87 1,96 6,64 29,50 28,45 0,01 - 0,01 0,03 - - 0,01 28,51 - 0,99
metálicos

Produtos da
05 60,55 1,11 0,78 0,83 57,83 - 55,81 0,09 - 0,03 - - - 55,93 - 1,91
siderurgia básica

Prod. metal não


06 e 07 82,07 5,90 0,61 5,56 70,00 - 61,81 2,30 0,16 - - - - 64,27 - 5,73
ferrosos e outros

Tratores/máquinas
08 79,38 4,19 0,05 4,93 70,21 - 1,93 53,83 0,12 - - - 0,03 55,90 - 14,30
e equipamentos

Produtos
10 e 11 77,93 5,51 1,06 9,44 61,92 0,03 0,12 36,14 0,07 0,02 - - 0,01 36,39 - 25,53
eletroeletrônicos

Automóveis
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto

12 e 13 108,98 9,84 0,46 12,22 86,46 - 0,28 69,36 0,05 0,00 0,01 - 0,28 69,99 - 16,47
veículos e peças

Madeira e
14 28,80 3,37 1,54 2,53 21,37 0,05 0,05 0,04 20,73 0,08 0,01 - - 20,96 - 0,41
mobiliário

Papel/celulose/
15 60,34 3,92 0,74 4,46 51,23 - - - 44,89 0,01 - - 4,03 48,94 - 2,29
papelão

Prod. derivados
16 20,90 1,39 0,12 2,34 17,06 - - 0,06 14,65 0,01 0,10 - - 14,83 - 2,23
da borracha

Álcool de
17 cana e não 31,34 0,60 0,24 0,55 29,95 0,09 0,16 - 0,02 24,21 - 0,25 - 24,72 - 5,24
petroquímicos
21
ATIVIDADES ECONÔMICAS
22

14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32

Oferta
Importações

Ajuste cif/fob

Margem de comércio
Serviços

Códigos dos produtos


Margem de transporte
Química,

Descrição dos produtos


eletrônicos

Impostos sobre produtos


Total das atividades

total (preços consumidor)


Oferta total (preços básicos)
veiculos e eletro-
Abate de animais

famácia, plásticos

Indústria máquinas,
Indústria de madeira,

Siderurgia e metalurgia
e indústria de alimentos

Agropecuária e extrativa
papel, borracha e outros
Indústria têxtil e vestuário
Prod.
18 218,84 11,01 0,63 5,42 201,78 0,00 0,11 - - 145,27 - - 40,29 185,67 - 16,11
petroquímicos

Adubos/tintas e
19 54,60 4,17 0,65 2,59 47,20 0,04 0,01 - 0,09 38,72 - 0,12 0,48 39,46 - 7,74
outros

Prod.
20 farmaceuticos e 43,39 7,08 - 5,61 30,69 - - - 0,01 21,18 0,00 0,18 0,77 22,14 - 8,55
perfumaria

Artigos de
21 20,59 1,24 0,19 2,19 16,97 - - 0,10 0,26 14,75 0,09 - - 15,21 - 1,76
plástico

Prod. têxteis
22 - 24 74,92 6,05 0,23 6,79 61,85 - - - 0,05 0,05 57,69 0,02 0,36 58,17 - 3,68
e artigos vestuário

Prod. vegetais
25 e 26 benneficiados 66,24 7,14 1,42 5,63 52,05 3,17 - - - 0,03 - 47,67 0,03 50,89 - 1,15
e café

27 e 28 Carne e laticínios 81,37 8,71 1,78 5,97 64,92 7,41 - - - - 0,32 56,11 - 63,83 - 1,08

Açucar, óleos,
29 - 31 130,99 12,67 2,93 12,43 102,95 1,22 - - - 0,51 0,05 97,75 0,01 99,54 - 3,41
bebidas

32 Diversos 36,47 3,10 0,24 6,24 26,89 0,22 0,43 0,69 14,86 1,14 0,36 - 3,07 20,78 - 6,11

33 - 42 Serviços 1.262,66 -115,41 -22,64 39,86 1.360,85 0,19 0,29 4,30 0,33 -1,33 0,26 1,12 1.319,54 1.324,71 -7,36 43,50

Ajuste cif/fob - - - - - - - - - - - - - - 7,36 -7,36

Total 2.870,70 0,00 0,00 146,88 2.723,81 281,10 121,01 166,92 96,96 244,73 58,90 204,04 1.369,60 2.543,26 0,00 180,55
Fonte: Adaptado de IBGE 2004.
Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 23

A figura nuclear da Tabela de Recursos dos Bens e Serviços apresenta o valor da


produção das atividades nacionais (Ab) correspondendo à matriz de produção valorada
a preços básicos. Sua única diferença em relação à matriz de produção V do Quadro 1,
a partir do qual se definiu o modelo de insumo-produto, é que a primeira encontra-se
transposta em relação à segunda, uma vez que a apresentação da Tabela de Recursos
dos Bens e Serviços no formato produto x atividade foge à padronização da contabilidade
nacional. Com efeito, esta última considera sempre o recurso (fonte de recursos ou
crédito) nas linhas e os usos (usos dos recursos ou débitos) nas colunas. A oferta total da
economia deve ser contabilizada como uso para a conta de produto e como um recurso
das atividades. Dessa forma, na matriz de produção, os produtos constam nas colunas
e as atividades, nas linhas.
A segunda tabela que compõe as tabelas de insumo-produto do Sistema de Contas
Nacionais é a Tabela de Usos dos Bens e Serviços, a qual contém informações sobre dois
importantes conjuntos de agregados econômicos. O primeiro diz respeito à formação
da demanda total, ao passo que o segundo mostra a formação do valor adicionado
bruto da economia. Para facilitar a descrição desta tabela, pode-se subdividi-la em três
quadrantes, utilizando-se da notação do IBGE, conforme o Quadro 2.
O primeiro é o quadrante do consumo intermediário B1, que apresenta o valor, a
preços do consumidor, das aquisições das atividades (nas colunas) por produtos (nas
linhas). O segundo é o quadrante da demanda final B2, que apresenta a demanda final
(DF) por produtos, composta pelas exportações (X), consumo do governo (G), consumo
das famílias (CF), formação bruta de capital fixo (FBCF) e variação de estoques (E).
Também o quadrante B2, diferentemente do que ocorre com o a Tabela de Recursos da
Produção, está valorado a preços do consumidor.

Quadro 2 - Representação esquemática da Tabela de Usos dos Bens e Serviços

Atividades Econômicas Instituições


Produtos Consumo Intermediário (B1) Demanda Final (B2)
Fatores de Produção Valor Adicionado (C)

Fonte: IBGE 2004c.

. (20)

Os quadrantes B1 e B2, somados, formam a demanda total (DT) da economia a


preços do consumidor.

. (21)
24 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

Por fim, o quadrante C apresenta os componentes do valor adicionado bruto da


economia a preços básicos (VAb). Este é formado pela remuneração dos fatores de
produção, subdividido em remuneração dos empregados (W) e excedente operacional
bruto (EOB), remuneração de autônomos (A) e outros impostos líquidos de subsídios
sobre a produção (Tp). Como informação adicional, o quadrante C apresenta, ainda, o
número do pessoal ocupado em cada atividade. Valor adicionado a preços básicos (VAb) é
o resultado do valor da produção a preços básicos (VPb) menos o consumo intermediário
avaliado a preços do consumidor (CIm)

. (22)

. (23)

A Tabela 2 apresenta, resumidamente, a Tabela de Usos dos Bens e Serviços do


IBGE, para o ano de 2002. A transformação necessária à Tabela de Usos dos Bens
e Serviços para se obter a matriz de absorção deve preservar o equilíbrio geral da
economia entre oferta e demanda dos produtos exigindo a conversão de seus valores
de preços do consumidor para preços básicos, ou seja, é necessário que se obtenham os
quadrantes B1 e B2 a preços básicos.
Tabela 2 - Tabela de Usos dos Bens e Serviços do IBGE para o Brasil em 2002
(em R$ bilhões)

ATIVIDADES ECONÔMICAS

14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32

Estoques

Exportações
Demanda total

outros
Serviços

extrativa
plásticos

códigos dos produtos


vestuário
Consumo do governo
Consumo das famílias

metalurgia
Total da demanda final

Descrição dos produtos


Indústria de

Siderurgia e
Total das atividades

Agropecuária e
Indústria textil e

eletro-eletrônicos
papel, borracha e
Formação bruta de capital fixo

Química, famácia,
Abate de animais e

máquinas, veiculos e
Indústria de madeira,
indústria de alimentos
Produtos
01 33,79 1,79 - 5,50 5,21 2,59 83,43 6,69 139,00 12,83 - 46,87 4,75 10,64 75,08 214,08
agropecuários

Minério de ferro e
02 3,31 3,32 0,11 0,76 0,88 0,01 0,30 0,79 9,48 10,52 - - - -0,53 9,99 19,48
outros

Petróleo/gás/carvão
03 0,10 2,39 - - 45,74 - - 0,19 48,41 5,20 - - - 2,19 7,40 55,81
e outros

Minerais não
04 6,76 0,82 2,02 0,36 0,82 0,01 1,25 25,09 37,12 2,49 - 1,66 - -0,30 3,85 40,97
metálicos

05 Produtos da 0,86 36,17 9,84 0,27 0,51 - - 2,43 50,09 10,93 - - - -0,47 10,46 60,55
siderurgia básica

Prod. metal não


06 e 07 2,14 18,41 22,81 2,26 1,56 0,28 2,76 17,89 68,12 8,71 - 4,49 0,55 0,21 13,96 82,07
ferrosos e outros

Tratores/máquinas e
08 3,21 3,62 7,75 1,60 3,13 0,71 2,11 7,01 29,15 6,67 - 0,17 42,95 0,44 50,23 79,38
equipamentos

Produtos
10 e 11 0,09 0,31 9,41 0,18 0,11 0,02 0,05 13,03 23,20 11,35 - 25,02 18,44 -0,08 54,73 77,93
eletroeletrônicos

Automóveis veículos
12 e 13 0,03 0,06 23,32 0,03 0,00 0,00 0,00 16,22 39,66 26,50 - 30,17 12,16 0,50 69,32 108,98
e peças

14 Madeira e mobiliário 0,21 0,19 0,97 3,27 0,11 0,07 0,15 5,28 10,27 6,79 - 9,21 2,45 0,08 18,53 28,80
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto

Papel/celulose/
15 1,10 0,81 1,45 13,99 2,23 0,69 3,60 20,31 44,17 6,22 - 9,84 0,10 0,01 16,16 60,34
papelão

Prod. derivados da
16 0,22 0,42 3,35 4,41 0,29 0,72 0,17 8,65 18,22 1,97 - 0,39 - 0,32 2,68 20,90
borracha

Alcool de cana e não


17 0,62 2,13 0,36 1,43 10,40 0,25 0,75 11,36 27,31 3,19 - 1,76 - -0,91 4,03 31,34
petroquímicos

18 Prod. petroquímicos 14,77 2,71 4,32 6,73 56,74 3,50 3,92 72,47 165,15 10,50 - 43,93 - -0,75 53,68 218,84

Adubos/tintas e
19 23,52 1,75 2,01 3,92 10,89 1,30 1,17 5,95 50,52 2,51 - 1,57 - 0,01 4,08 54,60
outros

20 Prod. farmaceuticos 0,93 - - 0,00 2,17 - 0,33 4,43 7,87 1,51 - 33,74 - 0,27 35,52 43,39
e perfumaria
25
ATIVIDADES ECONÔMICAS
26

14-16
1-4 5-7 8-13 17-21 22-24 25-31 33-46
e 32

Estoques

Exportações
Demanda total

códigos dos produtos


Serviços

extrativa
Consumo do governo

Indústria
plásticos
Consumo das famílias

vestuário
Total da demanda final

alimentos

Descrição dos produtos


metalurgia
Indústria de

Siderurgia e
Total das atividades

e indústria de

Agropecuária e
madeira, papel,
Indústria textil e
Formação bruta de capital fixo

Abate de animais

borracha e outros

e eletroeletrônicos
Química, famácia,

máquinas, veiculos
21 Artigos de plástico 0,76 0,28 2,79 1,39 1,95 0,85 1,83 8,79 18,63 0,82 - 1,22 - -0,08 1,95 20,59

22 - 24 Prod. têxteis e artigos 0,50 0,03 0,41 1,12 0,29 24,66 1,12 4,03 32,16 10,85 - 31,26 - 0,65 42,76 74,92
vestuário

25 e 26 Prod. vegetais - - - 0,09 0,08 0,01 14,62 2,62 17,42 11,36 - 32,30 - 5,16 48,82 66,24
beneficiados e café

27 e 28 Carne e laticínios - - - 0,02 0,12 1,01 8,20 5,98 15,32 9,71 - 55,35 - 0,98 66,05 81,37

29 - 31 Açúcar, óleos, 12,00 0,03 0,06 0,06 4,48 0,04 20,00 15,27 51,93 20,13 - 58,20 - 0,73 79,06 130,99
bebidas

32 Diversos 0,50 1,63 0,31 1,58 0,61 0,17 0,36 12,40 17,56 2,45 - 12,75 3,44 0,27 18,91 36,47

33 - 42 Serviços 18,14 10,61 15,33 12,70 17,50 4,75 15,17 329,13 423,35 25,30 270,96 381,28 161,77 - 839,31 1.262,66

Total 89,89 87,48 106,61 61,67 165,82 41,65 161,30 595,99 1.344,11 208,49 270,96 781,17 246,61 19,35 1.526,58 2.870,70

Vl adicionado bruto preço básico 157,51 33,52 60,31 35,28 78,91 17,25 42,74 773,61 1.199,14

Remunerações 18,14 7,46 18,91 12,16 10,57 6,02 10,79 402,40 486,46

Salários 14,07 5,46 13,56 8,93 7,54 4,53 8,05 289,54 351,68

Contribuições sociais efetivas 4,07 2,01 5,35 3,22 3,04 1,49 2,74 54,63 76,55

Previdência oficial/FGTS 3,76 1,88 5,17 3,15 2,77 1,49 2,67 51,49 72,39

Previdência privada 0,30 0,13 0,18 0,07 0,26 0,01 0,07 3,14 4,16

Contrib. sociais imputadas - - - - - - - 58,23 58,23

EOB inclusive rendimento de 135,77 20,86 34,47 18,98 50,07 9,04 23,28 333,47 625,94
autônomos

Rendimento de autônomos 0,55 0,60 - 1,00 - 2,04 0,29 57,13 61,62

Excedente oper. bruto (EOB) 135,22 20,26 34,47 17,98 50,07 7,00 22,99 276,34 564,32

Outros impostos sobre a prod. 3,80 5,20 7,61 4,14 18,32 2,19 8,67 40,24 90,18

Outros subsídios à produção -0,20 0,00 -0,68 - -0,04 - 0,00 -2,51 -3,43

Valor da produção 281,10 121,01 166,92 96,96 244,73 58,90 204,04 1.369,60 2.543,26

Pessoal ocupado 13,22 0,85 1,04 1,73 0,59 2,38 1,50 45,06 66,37
Fonte: Adaptado de IBGE 2004.
Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 27

A identidade fundamental entre oferta total (OT) e demanda total (DT) na economia
é dada a preços do consumidor nas tabelas de recursos e usos da produção do sistema
de contas nacinais:

. (24)

Dessa maneira, é possível, a partir da equação 19, que descreve os componentes da


oferta total valorada a preços do consumidor, e da equação 21, que descreve a demanda
total, escrever:

. (25)

Isolando a oferta total das atividades nacionais a preços básicos (Ab):

. (26)

A equação 26 apresenta o contexto geral segundo o qual é possível construir o


equilíbrio de mercado dos produtos a preços básicos com base nos dados disponíveis
pela Tabela de Recursos dos Bens e Serviços e Tabela de Usos dos Bens e Serviços, ou
seja, é necessário que se subtraia do consumo intermediário (B1) e do consumo final
(B2) da Tabela de Usos dos Bens e Serviços os componentes de margem de comércio,
margem de transporte, impostos sobre produtos e importações que estão incluídos nos
preços do consumidor, conforme consta da Tabela de Recursos dos Bens e Serviços. Com
essas operações pode-se obter, assim, a matriz de absorção típica do modelo de insumo-
produto.

4 A METODOLOGIA DE OBTENÇÃO CONJUNTA DAS MATRIZES


DE DESTINO DE T, MT, MC E M
A presente seção dedica-se a descrever a metodologia desenvolvida para transformar
as cifras do consumo intermediário das atividades e da demanda final originalmente
apresentadas na Tabela de Usos dos Bens e Serviços, valoradas a preços do consumidor,
em transações a preços básicos. Com essa operação se estará construindo o conjunto de
matrizes e vetores do Quadro 1, além da matriz V, já conhecida.
Muito embora o Quadro 1 não contenha as matrizes de destino das margens de
transporte e comércio, sua individualização é necessária como um passo intermediário
para a construção da matriz de absorção das atividades Un com base nos dados da
Tabela de Usos dos Bens e Serviços. Com efeito, os valores relativos aos custos de
transporte e comercialização dos produtos são retirados das operações valoradas a
preços do consumidor. Em seguida, esses valores são repostos na matriz de absorção a
28 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

preços básicos na linha dos serviços de margem de transporte e margem de comércio,


respectivamente.11
A obtenção das matrizes e vetores do Quadro 1 requer a aplicação da equação 26.
Para tanto, é necessário construir estimativas de matrizes de margens de transporte,
margem de comércio, impostos indiretos e importações que expandam os vetores
conhecidos pela Tabela de Recursos dos Bens e Serviços de 2002, contendo totais
relativos a cada um dos oitenta produtos. Uma vez obtidas as estimativas pretendidas,
a construção da Matriz de Insumo-Produto decorre dos procedimentos descritos na
seção 2.
A metodologia desenvolvida para se obter a projeção atualizada da Matriz de
Insumo-Produto brasileira para o ano de 2002 será apresentada em quatro etapas.
A primeira etapa é de construção de matrizes de mark-up da margem de transporte,
margem de comércio, impostos sobre produtos e importações, a partir de uma Matriz de
Insumo-Produto bench-mark (no caso, a Matriz de Insumo-Produto de 1996 do IBGE).
A segunda etapa consiste em se obter, por intermédio destes mark-ups e da Tabela
de Usos dos Bens e Serviços de 2002, uma projeção inicial da matriz de absorção de
2002, valorada a preços básicos. Também se obtém nesta etapa uma projeção inicial
das matrizes de destino das margem de transporte, comércio, impostos e importações.
Na terceira etapa, procede-se à análise dos resultados obtidos na etapa anterior e
fazem-se intervenções pontuais para preencher lacunas existentes nas projeções iniciais.
Estas lacunas, ou espaços vazios de projeção, decorrem de diferenças nas estruturas
das matrizes de absorção do modelo de insumo-produto de 1996 e do Sistema de Contas
Nacionais de 2002. Finalmente, na quarta etapa, faz-se o balanceamento conjunto de
todas as cinco matrizes contendo as projeções iniciais, para sua adequação aos vetores
conhecidos pelo Sistema de Contas Nacionais de 2002. Desse balanceamento resultam
suas estimativas finais, que serão apresentadas em termos resumidos na seção seguinte,
antes da conclusão deste artigo.
Na prática, todos os conceitos tratados até o presente devem ser traduzidos em
forma de matrizes e vetores. Nesse contexto, surge o problema de estar se tratando
de corrigir valores de uma matriz de n linhas por m colunas (matriz Am) a partir
de vetores coluna de destino das margens de comércio, transporte, impostos sobre
produtos e importações conhecidos. Para tanto, é necessário transformar esses vetores
em matrizes de mesma dimensão que a matriz de absorção. Essa transformação requer
uma série de procedimentos para se estimarem matrizes a partir de vetores estando
de acordo com os dados do Sistema de Contas Nacionais de 2002 e o equilíbrio geral
do sistema. Uma vez obtida a Tabela de Usos dos Bens e Serviços a preços básicos, a
matriz de absorção será seu quadrante equivalente ao bloco B1. Passa-se a representar

11
Desse modo, embora as margens de transporte e comércio façam diferença na valoração a preços básicos e ao consumidor
de cada produto, em termos do total das atividades nacionais, isso não ocorre. Pode-se verificar essa proposição ao exami-
nar o final das colunas correspondentes na Tabela 1.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 29

a matriz de absorção a preços do consumidor composta pelos dados da Tabela de Usos


dos Bens e Serviços por:

. (27)

Representa-se por Ab uma matriz de mesma dimensão que Am, porém valorada a
preços básicos.12 Define-se a matriz de transição S como o resultado da diferença entre
as matrizes de absorção a preços do consumidor Am e a matriz de absorção a preços
básicos Ab, conforme as seguintes equações:

, (28)

. (29)

Na equação 29 define-se cada elemento da matriz S como uma função linear de seu
elemento correspondente da matriz Ab, a partir de um mark-up θ. A equação seguinte
demonstra como, por conseqüência, a matriz de absorção a preços básicos deriva da
matriz de absorção a preços de mercado.

. (30)

Substituindo (29) em (30), pode-se extrair a equação pela qual a matriz de absorção
a preços básicos se relaciona com a matriz de absorção a preços do consumidor por meio
do mark-up θ.

. (31)

Definindo ainda:

, (32)

pode-se obter uma relação direta de Ab em função de Am , também linear:

. (33)

As equações 29 e 33 são as principais fontes de inspiração para a primeira


etapa do trabalho de atualização da Matriz de Insumo-Produto, pois descrevem duas
relações importantes. A primeira informa que a matriz da diferença entre os preços do
consumidor e básicos pode ser definida como uma função linear da matriz de absorção

12
As dimensões dessas duas matrizes, assim como de todas as matrizes definidas nesta seção, é de 80 linhas, representando
os produtos, e 48 colunas, compostas pelas 42 atividades, a dummy do setor financeiro, e as cinco categorias para a de-
manda final (consumo das famílias, gastos do governo, investimentos, exportações e estoques).
30 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

a preços básicos a partir do mark-up θ. A segunda sustenta que a matriz de absorção a


preços básicos pode ser escrita como uma função também linear da matriz de absorção
a preços do consumidor a partir de uma matriz de coeficientes .
Sabe-se, entretanto, que a diferença entre uma operação valorada a preços do
consumidor e sua correspondente valorada a preços básicos é a soma dos componentes
das matrizes de destino da margem de transporte (MT), margem de comércio (MC),
impostos sobre produtos (T) e importações (M):

. (34)

Disso decorre que, na prática, o mark-up θ desdobra-se em quatro matrizes de


mark-ups, uma para cada matriz da equação 34, que podem ser definidas reescrevendo
a equação 30 segundo seus elementos característicos, da seguinte maneira:

, (35)

, (36)

, (37)

. (38)

Pode-se, também, reescrever a equação 33, resultando na expressão pela qual é


possível obter-se a matriz de coeficientes .

. (39)

A primeira etapa da atualização da Matriz de Insumo-Produto de 1996, segundo as


tabelas de recursos e usos dos bens e serviços das contas nacionais de 2002, decorre da
aplicação de (39) sobre a matriz Am e (35) a (38) sobre a matriz Ab, segundo as tabelas
conhecidas da Matriz de Insumo-Produto de 1996. Dessa forma, obtêm-se a matriz
de coeficientes e os mark-ups θ das margens de transporte, comércio, impostos e
importações.
Um cuidado especial deve ser tomado em relação à recomposição das margens de
comércio e transporte na construção dos mark-ups. Todas as matrizes e θ devem ser
obtidas considerando a tabela de absorção a preços básicos da Matriz de Insumo-Produto
de 1996, líquido da reposição dos valores das margens de transporte e comércio. Dessa
maneira, na segunda etapa da metodologia serão obtidas projeções iniciais também
líquidas da reposição das margens de transporte e comércio.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 31

Obtidas as matrizes de mark-up, passa-se para a segunda etapa, a qual se baseia


no postulado de inflexibilidade das matrizes de mark-ups θ ao longo do tempo. Desse
postulado e da definição de em (32), segue-se que este último também pode ser
considerado constante.
Aplicando-se a matriz sobre a Tabela de Usos dos Bens e Serviços, a preços do
consumidor do Sistema de Contas Nacionais de 2002, obtém-se uma primeira estimativa
de seus valores a preços básicos. Sobre esta estimativa podem-se aplicar os mark-ups
θ para se obter todo o conjunto de matrizes de S. As projeções iniciais das matrizes Ab,
MT, MC, T e M, serão denotadas com*.

. (40)

. (41)

A aplicação mecânica das equações 40 e 41 gera matrizes Ab*, MT*, MC*, T* e M*


de projeções que não correspondem adequadamente às matrizes Ab, MT, MC, T e M
desejadas por dois motivos. O primeiro deles diz respeito às diferenças na estrutura
produtiva da economia brasileira de 1996 e de 2002, no que tange à correspondência
imperfeita na sobreposição das tabelas de absorção dos diferentes anos. Em outras
palavras, algum setor produtivo pode não ter produzido o mesmo elenco de produtos nos
dois anos considerados, ou, ainda, pode ter havido no ano mais recente importações de
produtos que não estavam na pauta de 1996. O segundo motivo é a não correspondência
entre as matrizes projetadas e os vetores correspondentes efetivamente estimados pelo
Sistema de Contas Nacionais de 2002. Essas inadequações foram solucionadas por
meio dos procedimentos descritos na terceira e quarta etapas, respectivamente.
A terceira etapa consiste em fazerem-se intervenções manuais que devem levar em
conta a análise dos resultados obtidos na segunda etapa. O problema na obtenção de
Ab* surge quando há, por exemplo, um aumento de estoque de algum produto em 2002
que não se verificou em 1996, ou seja, há uma falta de projeção quando o indicador de
transição fica vazio na matriz de mark-up de 1996, mas aquela operação efetivamente
ocorreu e consta do vetor da demanda final na Tabela de Usos dos Bens e Serviços
de 2002. Incluir manualmente valores para essas lacunas, embora represente uma
solução ad hoc, é importante para que a aplicação do método RAS na quarta etapa
seja eficiente. Se a projeção inicial para alguma célula for zero, a aplicação do RAS irá
resultar, necessariamente, em valor zero.
Na prática, esta etapa consistiu em proceder a cinco diferentes intervenções
manuais para corrigir lacunas geradas no processo de projeção em decorrência da não-
correspondência entre todas as transações ocorridas em 2002 em relação às ocorridas
em 1996. Dessas cinco ocorrências, três se referem aos componentes da demanda
final e dizem respeito à exportação de algodão em caroço, exportação de produtos da
32 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

construção civil e estoque de algodão em caroço. As lacunas deixadas nas matrizes de


absorção a preços básicos, margem de transporte, margem de comércio, importações e
impostos foram preenchidas a partir do mark-up médio de cada produto relativo a cada
uma dessas matrizes.
As outras duas lacunas foram observadas especificamente quando da projeção das
importações dos setores produtivos. Ocorre que, em 1996, as atividades não importaram
produtos da construção civil nem seguros, o que fez com que a projeção a partir do
mark-up gerasse valores zero para essas operações também em 2002. Entretanto,
neste último ano realmente ocorreram importações desses bens e serviços, fazendo-se
necessário arbitrar os setores responsáveis por essas transações. A escolha recaiu sobre
o setor dominante da produção do produto ou serviço correspondente. Assim, para o
produto da construção civil, optou-se pelo setor da construção civil e, para os serviços
de seguros, o setor financeiro.
Feitos esses procedimentos, obteve-se o resultado das projeções iniciais das
matrizes de absorção a preços básicos, margem de transporte, margem de comércio,
impostos sobre produtos e importações. Essas projeções geraram valores totais de Ab*,
MT*, MC*, M* e T*, para cada produto, diferentes daqueles estimados pelo Sistema de
Contas Nacionais de 2002. Vale dizer, é possível comparar o resultado da multiplicação
de cada uma das matrizes Ab*, MT*, MC*, M* e T* pelo vetor i, com os vetores ab, mt,
mc, m e t conhecidos pela Tabela de Recursos dos Bens e Serviços, para 2002.
Dessa comparação se podem extrair os erros associados à projeção inicial para cada
produto através da relação entre o valor total projetado para a absorção a preços básicos,
margens de comércio e margem de transporte, destino dos impostos sobre produtos e
destino das importações, e os valores realmente oferecidos pelas contas nacionais de
2002. Considera-se, genericamente, M* como uma das cinco matrizes projetadas; ,
como a matriz diagonal formada pelos componente do vetor conhecido m do Sistema de
Contas Nacionais de 2002, e i, como um vetor unitário, constituído inteiramente por
unidades. O vetor característico do erro é dado pela equação (42) multiplicando-se cada
elemento por 100 para expressão percentual.

(42)
Para o caso específico da atualização da Matriz de Insumo-Produto brasileira de
2002, o resultado da projeção da demanda total a preços básicos não foi muito diferente
(1,12%) daquele efetivamente observado em 2002. O mesmo se observa para o total
da margem de comércio (1,75%) e para os impostos indiretos (5,91%). À margem de
transporte se associa um erro de projeção um pouco maior (10,76%), e o erro mais
acentuado é do total projetado para as importações (-22,17%).13

13
Esses percentuais referem-se ao valor total de cada um dos grupos considerados. Evidentemente, cada produto responde
por um erro particular que pode ser calculado segundo a equação 42. Alguns destes resultados particulares apresentam
percentuais de variação mais significativos.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 33

A quarta etapa consiste em utilizar o método matemático RAS para que as projeções
iniciais possam adequar-se aos seus vetores conhecidos pelo Sistema de Contas Nacionais
de 2002. O método RAS tem sido largamente utilizado para balanceamento de matrizes
de insumo-produto e matrizes de contabilidade social, quando os somatórios das linhas
e colunas originalmente obtidas não coincidem com os valores em que realmente
deveriam resultar (FOCHEZATTO e CARVALHO, 2002). Dessa forma, as projeções
iniciais resultantes da aplicação das três primeiras etapas da metodologia constituem
apenas o substrato para aplicação do método RAS das matrizes projetadas Ab*, MC*,
MT*, T* e M* a partir dos vetores conhecidos ab, mc, mt, t e m, retirados da Tabela de
Recursos dos Bens e Serviços do IBGE para o ano de 2002.
Esses vetores permitem conhecer o somatório das linhas das verdadeiras matrizes
Ab, MT, MC, M e T, porém o somatório de suas colunas não é conhecido. O somatório
das linhas da tabela projetada das importações, por exemplo, representa o valor total
importado de cada produto. O valor equivalente oferecido pelo Sistema de Contas
Nacionais encontra-se na coluna das importações da Tabela de Recursos dos Bens e
Serviços de 2002. Assim, sabe-se que foram importados R$ 5,0 bilhões de produtos
agrícolas, R$1,2 bilhões de minério de ferro e outros, e assim por diante (Tabela 1).
Quanto ao somatório das colunas das tabelas projetadas, no exemplo da matriz de
importações representa o valor total que cada atividade importou de bens e serviços
de consumo intermediário e que cada instituição importou em seu consumo final. Para
essas informações, o Sistema de Contas Nacionais não oferece estimativas.
Embora esse fato torne inviável o balanceamento individual de cada matriz
projetada, é possível proceder ao balanceamento simultâneo de todas elas a partir de
duas restrições. A primeira é a restrição conhecida dos vetores estimados pelo Sistema
de Contas Nacionais na Tabela de Recursos dos Bens e Serviços.

, (43)

A segunda restrição concerne ao somatório de cada componente de todas as matrizes


projetadas, conforme:

(44)
34 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

Nesta segunda restrição, Am é a matriz de absorção a preços do consumidor conhecida


por meio da Tabela de Usos dos Bens e Serviços do Sistema de Contas Nacionais e
oferece, para cada elemento, o valor do somatório dos elementos individuais de todas
as matrizes projetadas. Desse modo, com base nessas duas restrições é possível aplicar
o método RAS em todas as matrizes projetadas, simultaneamente.
O resultado é convergente e, para o caso presente, foi alcançado com um total de
31 rodadas de balanceamento simultâneo das cinco matrizes, contendo cada uma 3.920
elementos. Realizaram-se iterações até que se obtivesse um resultado coerente com
as restrições impostas pelo Sistema de Contas Nacionais de 2002. Resultaram, assim,
as estimativas das cinco matrizes desejadas, ou seja, desse balanceamento decorrem
as cinco matrizes que, originalmente projetadas a partir dos mark-ups da Matriz de
Insumo-Produto de 1996 contendo erro, depois de balanceadas, ficaram plenamente de
acordo com os vetores conhecidos por intermédio do Sistema de Contas Nacionais de
2002 e com as restrições do equilíbrio entre oferta e demanda de cada produto.
A aplicação do método foi eficaz, apesar de apresentar algumas entradas negativas
e do alerta quanto à possibilidade de não-convergência e troca de sinais contido em
Bulmer-Thomas (1982, p. 124). A seqüência de balanceamentos reduziu os erros
associados à projeção inicial segundo a progressão resumida, em termos percentuais,
no Quadro 3.

Quadro 3 - Evolução percentual do erro associado aos resultados de seqüências


selecionadas de balanceamentos
%

Projeção Inicial 4º 8º 12º


Balanceamento Balanceamento Balanceamento
Total matriz Ab 1,12 0,03 0,00 0,00
Matriz MC 1,75 0,16 0,01 0,00
Matriz MT 10,76 0,05 0,01 0,00
Matriz M - 22,17 - 0,58 - 0,04 - 0,00
Matriz T 5,91 0,07 0,00 0,00
Fonte: Elaborado pelo autor.

Pode-se notar que os erros diminuíram significativamente já na quarta seqüência


de balanceamentos, sendo bastante próximos a zero na oitava e atingindo um
percentual praticamente nulo na décima segunda seqüência. Não obstante, para que
não houvesse divergências nos valores em termos de unidade (a maioria dos dados
originais é representada em mil reais), deu-se seguimento ao RAS até a trigésima
primeira seqüência de balanceamentos.
Findas as quatro etapas do trabalho, foram obtidas as matrizes com estimativas
atualizadas das transações do consumo intermediário das atividades e do consumo
final das instituições, dos destinos das margens de comércio e transporte, dos destinos
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 35

das importações e destino dos impostos coerentes com o Sistema de Contas Nacionais
de 2002. A próxima seção apresenta o quadro-resumo dos resultados obtidos conforme
o esquema do Quadro 1.

5 A MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO BRASILEIRA DE 2002 COM


TRÊS QUADRANTES
Na seção 2, discutiu-se a formulação genérica de obtenção da Matriz de Insumo-
Produto, assumida a hipótese da tecnologia do setor. Ao longo das seções seguintes,
buscou-se analisar as tabelas do Sistema de Contas Nacionais e obterem-se estas
matrizes e vetores. A matriz de produção V foi obtida diretamente da Tabela de Recursos
dos Bens e Serviços, ao passo que a matriz de consumo intermediário a preços básicos
Un requereu a construção de uma metodologia própria para sua estimação. O resultado
deste trabalho pode ser resumido no Quadro 4, que segue a mesma formatação e
nomenclaturas utilizadas no Quadro 1.

Quadro 4 - Identidades funcionais dos valores da Matriz de Insumo-Produto do Brasil


para 2002
(em R$ bilhões)

Produtos Nacionais Atividades* Demanda Final Total

Un fn q
Produtos Nacionais
1.152,0 1.391,2 2.543,3
Um fm
Importações 180,6
125,6 54,9
V g
Atividades
2.543,3 2.543,3
Tp Te
Impostos sobre Produtos 146,9
66,5 80,4
y’
Valor Adicionado 1.199,1
1.199,1
q’ g’
Total 1.526,6
2.543,3 2.543,3

* Incluindo o valor da dummy do Setor Financeiro como uma das Atividades


Fonte: Elaborado pelo autor.

As matrizes pertencentes ao quadro informacional apresentado permitem compor


a Matriz de Insumo-Produto tradicional de Leontief, com três quadrantes, através das
matrizes de produção e absorção. Esse trabalho pode ser realizado a partir dos conceitos
expostos na seção 2. As tabelas seguintes exibem as matrizes de produção (V), absorção
(Un), intersetorial de coeficientes técnicos (DBn) e a matriz de Leontief, segundo as
36 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

mesmas agregações de produtos e atividades feitas na apresentação das tabelas de


recursos e usos dos bens e serviços já examinadas.14

Tabela 3: Matriz de Produção Transposta (Vt)15


(em R$ bilhões)
Indústria
Indústria Abate de
de
Siderurgia máquinas, Química, Indústria animais e
Agropecuária madeira,
e veiculos famácia, textil e indústria Serviços
e extrativa papel,
metalurgia e eletro- plásticos vestuário de
borracha
eletrônicos alimentos
e outros
Produtos agropecuários 182,91 - - 0,65 - - 0,81 0,70
Minério de ferro e outros 15,52 - - - 0,01 - - -
Petróleo/gás/carvão e 41,80 0,01 - - - - - -
outros
Minerais nãometálicos 28,45 0,01 - 0,01 0,03 - - 0,01
Produtos da siderurgia - 55,81 0,09 - 0,03 - - -
básica
Prod. metal não ferrosos - 61,81 2,30 0,16 - - - -
e outros
Tratores/máquinas e - 1,93 53,83 0,12 - - - 0,03
equipamentos
Produtos 0,03 0,12 36,14 0,07 0,02 - - 0,01
eletroeletrônicos
Automóveis veículos e - 0,28 69,36 0,05 0,00 0,01 - 0,28
peças
Madeira e mobiliário 0,05 0,05 0,04 20,73 0,08 0,01 - -
Papel/celulose/papelão - - - 44,89 0,01 - - 4,03
Prod. derivados da - - 0,06 14,65 0,01 0,10 - -
borracha
Álcool de cana e não 0,09 0,16 - 0,02 24,21 - 0,25 -
petroquímicos
Prod. petroquímicos 0,00 0,11 - - 145,27 - - 40,29
Adubos/tintas e outros 0,04 0,01 - 0,09 38,72 - 0,12 0,48
Prod. farmacêuticos e - - - 0,01 21,18 0,00 0,18 0,77
perfumaria
Artigos de plástico - - 0,10 0,26 14,75 0,09 - -
Prod. têxteis e artigos - - - 0,05 0,05 57,69 0,02 0,36
vestuário
Prod. vegetais 3,17 - - - 0,03 - 47,67 0,03
beneficiados e café
Carne e laticínios 7,41 - - - - 0,32 56,11 -
Açúcar, óleos, bebidas 1,22 - - - 0,51 0,05 97,75 0,01
Diversos 0,22 0,43 0,69 14,86 1,14 0,36 - 3,07
Serviços 0,19 0,29 4,30 0,33 -1,33 0,26 1,12 1.319,54

14
O trabalho original contém a discriminação dos 80 produtos e 42 atividades originalmente publicadas pelo IBGE.
15
A matriz de produção está em sua forma transposta apenas pora facilitar a sua apresentação.
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 37

Tabela 4 - Matriz de Absorção (Un)


(em R$ bilhões)
Indústria
Indústria Abate de
de
máquinas, Química, Indústria animais e
Descrição dos Agropecuária Siderurgia e madeira,
veiculos famácia, têxtil e indústria Serviços
produtos e extrativa metalurgia papel,
e eletro- plásticos vestuário de
borracha
eletrônicos alimentos
e outros
Produtos 30,29 1,64 0,00 5,01 5,04 2,11 75,65 5,53
agropecuários
Minério de ferro e 2,63 2,10 0,09 0,64 0,58 0,01 0,25 0,59
outros
Petróleo/gás/carvão 0,06 0,07 0,00 0,00 34,76 0,00 0,00 0,05
e outros
Minerais 6,13 0,69 1,69 0,30 0,69 0,01 1,05 15,06
nãometálicos
Produtos da 0,79 33,83 8,85 0,24 0,50 0,00 0,00 1,25
siderurgia básica
Prod. metal não 1,77 14,88 19,92 1,94 1,35 0,24 2,41 10,25
ferrosos e outros
Tratores/máquinas 2,83 3,24 6,07 1,43 2,81 0,64 1,90 5,79
e equipamentos
Produtos 0,03 0,18 3,71 0,10 0,06 0,01 0,02 5,96
eletroeletrônicos
Automóveis 0,02 0,05 12,76 0,03 0,00 0,00 0,00 7,30
veículos e peças
Madeira e 0,16 0,16 0,81 2,65 0,10 0,06 0,13 3,69
mobiliário
Papel/celulose/ 0,90 0,67 1,19 11,82 1,83 0,57 2,95 16,58
papelão
Prod. derivados da 0,18 0,34 2,73 3,73 0,24 0,65 0,13 4,57
borracha
Álcool de cana e 0,40 1,39 0,24 0,94 6,70 0,16 0,52 10,49
não petroquímicos
Prod. 13,00 2,51 3,71 5,39 47,14 2,61 3,63 61,30
petroquímicos
Adubos/tintas e 17,87 1,64 1,89 3,61 5,72 0,98 1,08 3,23
outros
Prod.
farmacêuticos e 0,60 0,00 0,00 0,00 0,09 0,00 0,16 0,67
perfumaria
Artigos de plástico 0,58 0,23 2,33 1,16 1,63 0,71 1,53 5,51
Prod. têxteis e 0,37 0,03 0,35 0,97 0,26 21,27 1,03 2,38
artigos vestuário
Prod. vegetais 0,00 0,00 0,00 0,08 0,07 0,01 12,41 1,80
beneficiados e café
Carne e laticínios 0,00 0,00 0,00 0,01 0,11 0,99 7,56 4,52
Açúcar, óleos, 9,76 0,02 0,05 0,05 4,08 0,03 17,67 9,42
bebidas
Diversos 0,37 1,35 0,26 1,31 0,51 0,14 0,30 7,74
Serviços 23,72 13,17 17,77 14,36 19,19 6,19 23,38 312,93
38 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

Tabela 5 - Matriz Intersetorial de Coeficientes Técnicos (DBn)


Indústria
Indústria Abate de
de
Siderurgia máquinas, Química, Indústria animais e
Atividades Agropecuária madeira,
e veiculos famácia, têxtil e indústria Serviços
Econômicas e extrativa papel,
metalurgia e eletro- plásticos vestuário de
borracha
eletrônicos alimentos
e outros
Agropecuária e
0,14 0,04 0,01 0,06 0,17 0,04 0,38 0,02
extrativa
Siderurgia e
0,01 0,40 0,17 0,02 0,01 0,00 0,01 0,01
metalurgia
Indústria máquinas,
veiculos e eletro- 0,01 0,03 0,14 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01
eletrônicos
Indústria de madeira,
papel, borracha e 0,01 0,02 0,03 0,19 0,01 0,02 0,02 0,02
outros
Química, famácia,
0,10 0,04 0,04 0,10 0,21 0,07 0,03 0,05
plásticos
Indústria têxtil e
0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,36 0,01 0,00
vestuário
Abate de animais e
0,03 0,00 0,00 0,00 0,02 0,02 0,18 0,01
indústria de alimentos
Serviços 0,10 0,12 0,11 0,17 0,12 0,12 0,12 0,24

Tabela 6 - Matriz de Leontief


Indústria
Indústria Abate de
de
máquinas, Química, Indústria animais e
Atividades Agropecuária Siderurgia e madeira,
veiculos famácia, têxtil e indústria Serviços
Econômicas e extrativa metalurgia papel,
e eletro- plásticos vestuário de
borracha
eletrônicos alimentos
e outros
Agropecuária e 1,23 0,12 0,07 0,15 0,29 0,14 0,60 0,06
extrativa
Siderurgia e 0,03 1,69 0,34 0,07 0,04 0,03 0,05 0,03
metalurgia
Indústria máquinas,
veiculos e eletro- 0,02 0,08 1,18 0,04 0,03 0,03 0,03 0,03
eletrônicos
Indústria de
madeira, papel, 0,02 0,05 0,06 1,25 0,03 0,06 0,04 0,04
borracha e outros
Química, famácia, 0,18 0,14 0,12 0,21 1,33 0,18 0,16 0,10
plásticos
Indústria têxtil e 0,00 0,00 0,01 0,02 0,00 1,56 0,01 0,01
vestuário
Abate de animais
e indústria de 0,06 0,01 0,01 0,02 0,04 0,04 1,25 0,02
alimentos
Serviços 0,21 0,32 0,27 0,36 0,27 0,32 0,32 1,36
1 Metodologia completa para a estimativa de matrizes de insumo-produto 39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os esforços empreendidos no trabalho de atualização da Matriz de Insumo-Produto
brasileira segundo os dados das contas nacionais de 2002 e o bench-mark de 1996,
demonstraram-se eficazes ao produzir tabelas coerentes com todo o sistema de contas
nacionais atualizado, bem como o equilíbrio geral da economia a preços básicos e do
consumidor. Os procedimentos aqui adotados se revestem de generalidade suficiente
para compor uma metodologia ampla, capaz de ser utilizada na atualização de Matrizes
de Insumo-Produto para qualquer país ou região que conte com um Sistema de Contas
Nacionais obtido nos contornos da revisão de 1993 do manual da ONU e uma matriz
local de referência.
A coerência com os valores do Sistema De Contas Nacionais permite a utilização das
tabelas obtidas através desta metodologia na construção da Matriz de Contabilidade
Social, agregando outros componentes importantes das contas nacionais. Essa
construção é capaz de tornar endógeno o tratamento da demanda final e compõe um
quadro analítico multissetorial de todo o fluxo circular no interior da economia, incluindo
o resto do mundo. A construção desta Matriz de Contabilidade Social foi o objetivo
inicial do desenvolvimento desta metodologia de atualização da Matriz de Insumo-
Produto, bem como abre perspectivas para a construção de modelos de equilíbrio geral
computável.
A coerência entre a Matriz de Insumo-Produto e o Sistema de Contas Nacionais foi
possível graças à solução original na utilização do método RAS, aplicando-o conjunta e
simultaneamente em todas as matrizes inicialmente projetadas pelos mark-ups. Essa
aplicação metodológica garantiu a integridade dos dados assim gerados com o equilíbrio
dos mercados, tanto a preços básicos quanto a preços do consumidor. Outro aspecto a
ser ressaltado foi a verificação de uma relativa constância dos mark-ups segundo cada
setor de atividade de origem da produção. Esse fato sugere que o próprio trabalho
original empreendido pelo IBGE para a construção da Matriz de Insumo-Produto de
1996 deva ter considerado conceitos similares.
Evidentemente, os autores reconhecem que este trabalho não se equipara
às estimativas oficiais lastreadas em estudos de campo de todos os mercados, no
entanto representa um passo importante na superação dos limites impostos pela
falta de atualizações sistemáticas por parte dos organismos do governo. A presente
metodologia é inédita e seu potencial de utilização se estende para além de atualizações
sistemáticas, partindo-se das estimativas anualmente atualizadas do Sistema de
Contas Nacionais. Alcança a construção de matrizes no âmbito regional como também
o auxilia na construção de matrizes de contabilidade social e de modelos de equilíbrio
geral computável.
40 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

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42 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 14, n. 26, maio 2006

SYNOPSIS

FRAMEWORK OF INPUT-OUTPUT MATRIXES ESTIMATION


The main purpose of this article is to attain an estimate of an input-output matrix based on
the system of national accounts. Notwithstanding the fact that empirical results achieved
on this paper are relative to brazilian economy for the year 2002, the original framework
underlying such achievements has a much broader scope of application, as it can be applied
to the construction of input-output matrix of any country or region in any period of time for
which there are up-to-date data from the system of national or regional accounts, as well
as an input-output matrix as reference.

Key words: input-output matrix, system of national accounts, brazilian economy.

SINOPSIS

METODOLOGÍA COMPLETA DE ESTIMACIÓN DE MATRIZES


INSUMO PRODUCTO
El principal propósito de este articulo es obtener una estimación actualizada de la Matriz
Insumo Producto fundamentada en informaciones de lo Sistema de Cuentas Nacionales
elaborado según el Manual de las Naciones Unidas de 1993. Aunque los resultados empíricos
aquí encontrados digan respecto a la economía brasileña para el ano de 2002, la original
metodología desarrollada para tanto tiene uno espectro de utilización mas amplio. Con
efecto, esta metodología puede ser aplicada a construcción de Matrices Insumo Producto de
cualquier país o región para cualquier período de tiempo desde que tengamos un Sistema
de Cuentas Nacionales actualizado y una Matriz Insumo Producto de referencia.

Palabras llave: Matriz Insumo Producto, Sistema de Cuentas Nacionales, economia


brasileña.

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