Ametropias Oculares

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Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 17, no.

4, dezembro, 1995 305

Ametropias Oculares
(Ocular Ametropias)

Liliane Ventura e Jarbas C. C. Neto

Instituto de F
sica de s~
ao Carlos, Universidade de s~
ao Paulo

Caixa Postal 369 - 13560-970 - S~


ao Carlos (SP)

Trabalho recebido em 26 de dezembro de 1994


Neste artigo, uma colet^anea de topicos em otica fsica e otica oftalmologica e organizada e, e
feita uma associac~ao entre eles, com o objetivo de facilitar a compreens~ao da fus~ao dos con-
ceitos dessas duas areas, proporcionando uma linguagem comum e acessvel a pro ssionais e
alunos com a nidades neste campo da ci^encia. Os tipos mais comuns de ametropias ocula-
res (miopia, hipermetropia e astigmatismo) e a correc~ao otica dessas ametropias atraves de
lentes s~ao apresentados de um modo basico e simples. Com noc~oes basicas das correc~oes por
lentes esfericas das ametropias oculares separadamente, e tambem abordada a correc~ao das
ametropias feitas por lentes esfericas associadas a cilndricas, possibilitando a compreens~ao
das \receitas de oculos" fornecidas pelos oftalmologistas.
Abstract
In this paper, several topics in optical physics and ophthalmic optics are selected and orga-
nized in order to improve the comprehension on the fusion of the concepts of both areas,
providing an interactive and accessible language for professionals and students related to
this scienti c eld. The most common kinds of ocular ammetropias (myopia, hyperopia
and astigmatism) and their optical correction by lenses are presented in a basic and simple
way. Considering the previous basic study on using spherical corrective lenses for refractive
errors, it is also presented the use of the spherical lens associated to the cylindrical lens,
which allows the understanding of the ophthalmologist diagnostic about ocular ametropia.

1. Introduca~o ser~ao apresentadas a fus~ao da linguagem oftalmologica


e da Fsica, bem como as noc~oes fundamentais dos erros
Atualmente nas universidades brasileiras, um refrativos oculares e suas correc~oes por lentes.
numero crescente de pesquisadores est~ao interessados
em areas de pesquisa interdisciplinares. Tal fato faz 2. O olho humano
com que pesquisadores interagentes das diferentes areas O olho humano pode ser dividido em seis func~oes
necessitem da utilizac~ao de uma linguagemcient ca em fsicas fundamentais1 2: a refraca~o, cujos elementos res-
;

comum e quebrem as barreiras das di culdades de com- ponsaveis s~ao a cornea, o cristalino e os humores aquoso
preender um pouco das diferentes areas envolvidas para e vtreo; a auto-focalizac~ao, feita pelo cristalino e pelos
que ocorra uma contribuic~ao efetiva. musculos ciliares; o controle da luminosidade interna
Assim, como um recente casamento de areas como feito pela ris e pupila; a detecc~ao, feita pela retina (pe-
essas no Brasil e o da Fsica com a Oftalmologia, o ob- los cones e bastonetes); a transmiss~ao da informac~ao
jetivo desse trabalho e fazer a ponte de comunicac~ao ao cerebro, feita pelo nervo e as vias opticas: e a refri-
entre a oftalmologia basica e a otica da Fsica para que gerac~ao da retina feita pela coroide.
os novos pesquisadores, principalmente alunos de gra- Os elementos essenciais do olho, considerado como
duac~ao, possam ter uma noc~ao elementar da parte de um sistema otico, s~ao mostrados na gura 1.
refrac~ao da Oftalmologia. Portanto, nos itens a seguir, O globo ocular tem forma aproximadamente esferica
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e di^ametro em torno de 25mm. E constitudo por uma Grande parte do olho e coberta por uma delicada
membrana dura (cerca de 5/6 do globo ocular) e branca, membrana, denominada retina, que e constituda por -
denominada esclerotica. A parte frontal e mais cur- bras nervosas. Tais bras que se reunem no nervo otico
vada e coberta por uma membrana dura e transparente comecam proximas a minusculas estruturas chamadas
(cerca de 1/6 do globo ocular), chamada cornea, com bastonetes e cones. Ambos recebem a imagem otica e
poder de refrac~ao3 medio de 43,2di. A regi~ao atras da a transmitem ao cerebro, por impulsos semelhantes aos
cornea contem um lquido denominado humor aquoso. eletricos.
A seguir, encontra se a lente cristalina, ou simplesmente Existe uma ligeira depress~ao na retina chamada
o cristalino, que consiste numa capsula contendo uma mancha amarela ou macula lutea. Em seu centro
gelatina brosa, rija na regi~ao central e menos con- existe uma diminuta regi~ao, com cerca de 0,25 mm
sistente nas margens. O ndice de refrac~ao do crista- de di^ametro, denominada fovea centralis, que contem
lino varia de modo crescente do centro para as bordas exclusivamente cones. A vis~ao na fovea e muito mais
(ndice de refrac~ao medio de 1,437), no intuito de cor- ntida do que em outras regi~oes da retina; os musculos
rigir aberrac~oes esfericas. O cristalino e preso por liga- que controlam o olho giram sempre o globo ocular ate
mentos ao musculo ciliar. Atras do cristalino, o olho e que a imagem do objeto para o qual a atenc~ao esta vol-
tada caia na fovea. A regi~ao marginal da retina serve
preenchido por uma subst^ancia gelatinosa transparente
apenas para dar um aspecto geral do campo de vis~ao. A
chamada humor vtreo. Os ndices de refraca~o, tanto fovea e t~ao pequena que ha necessidade de se movimen-
do humor vtreo como do humor aquoso, s~ao aproxi- tar o olho para focalizar distintamente dois pontos t~ao
madamente iguais ao da agua, cerca de 4/3. Como proximos como os do sinal de pontuaca~o denominado
n~ao ha grande diferenca entre os tr^es ndices citados, \dois pontos" (:).
a luz que penetra no olho se refrata principalmente na Na regi~ao em que o nervo otico penetra no globo
cornea. O sistema otico ocular possui um poder de re- ocular n~ao existem bastonetes e nem cones, e as ima-
frac~ao variavel3 entre 58,64di a 70,57di. gens a formadas n~ao podem ser vistas. Essa regi~ao e
denominada ponto cego, cuja exist^encia pode ser consta-
tada por meio da gura 2, fechando-se o olho esquerdo
e olhando-se com o direito para a cruz. Quando o dia-
grama estiver a cerca de 25 cm do olho, a imagem do
quadrado cai no ponto cego e o quadrado desaparece. A
uma dist^ancia menor, o quadrado reaparece, enquanto
o crculo desaparece. A uma dist^ancia ainda menor, o
crculo volta a aparecer.

Figura 2. Determinac~ao do ponto cego ocular.

Figura 1. O olho humano. Em frente ao cristalino acha-se a ris, no centro


da qual existe uma abertura denominada pupila. A
func~ao da pupila e regular a quantidade de luz que en-
A coroide e uma camada rica em vazos sanguneos tra no olho, dilatando-se automaticamente se o brilho
que reveste a parte interna da esclerotica. Funciona do campo for fraco e contraindo-se quando o brilho au-
como uma especie de \sistema de refrigerac~ao" para menta. Entretanto, o di^ametro pupilar sofre uma va-
a retina, atraves da dissipac~ao de energia pelo uxo riac~ao de apenas quatro vezes (corresponde a uma va-
sanguneo. riac~ao em area de 16 vezes), enquanto a variaca~o cor-
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respondente ao brilho e superior a 100 mil vezes. O cornea e os raios originados em um objeto situado no
mecanismo receptor da retina adapta-se, ele proprio, as in nito convergem em um ponto anterior a retina. O
grandes diferencas de quantidade de luz. objeto mais afastado, cuja imagem se forma na retina,
Para que um objeto seja enxergado distintamente, n~ao esta situado no in nito ou, em outras palavras, o
sua imagem, formada na retina, deve ser ntida. Se to- ponto remoto se acha a uma dist^ancia nita. Por outro
dos os elementos do olho fossem rigidamente xos em lado, para a acomodac~ao normal, o ponto proximo de
suas posic~oes, apenas os objetos situados a uma certa um olho mope ca mais proximo que o de uma pessoa
dist^ancia formariam imagens ntidas na retina. Entre- com vista normal.
tanto, o olho normal pode focalizar nitidamente objetos
situados a qualquer dist^ancia, desde o in nito ate cerca
de 15cm a sua frente. Isso se torna possvel pela ac~ao
do cristalino e do musculo ciliar ao qual ele e ligado.
Quando em repouso, o olho normal e focalizado no in -
nito, isto e, o segundo foco esta sobre a retina. Quando
Figura 3. a) Emetropia; b) Miopia; c) Hipermetropia.
se deseja ver um objeto mais proximo, o musculo ciliar
contrai-se e o cristalino toma uma forma quase esferica.
Esse processo e denominado acomodac~ao visual. Na hipermetropia, o globo ocular e curto; a ima-
A maior e a menor dist^ancias para as quais e possvel gem de um objeto situado no in nito se forma atras
a vis~ao distinta s~ao chamadas ponto remoto e ponto da retina. Mediante a acomodac~ao, os raios paralelos
proximo do olho, respectivamente. O ponto remoto poderiam convergir na retina, mas, evidentemente, se a
de um olho normal ca situado no in nito. A posic~ao capacidade de acomodac~ao for normal, o ponto proximo
do ponto proximo depende, evidentemente, de quanto estara mais distante que o de um olho normal.
pode ser aumentada a curvatura do cristalino, medi- Os dois defeitos de vis~ao citados s~ao devidos a cau-
ante a acomodac~ao. A variac~ao da acomodac~ao dimi- sas opostas. Na miopia, a converg^encia de um feixe de
nui gradualmente com a idade, a medida que o crista- raios paralelos e demasiadamente grande de modo que
lino perde sua exibilidade. Por esse motivo, o ponto a imagem se forma antes da retina; na hipermetropia, a
proximo afasta-se gradualmente, a medida que se enve- converg^encia produzida e insu ciente. Assim, miopia e
lhece. Esse afastamento do ponto proximo com a idade hipermetropia s~ao fen^omenos relativos (um olho mope
e chamado presbitismo ou presbiopia, n~ao devendo, en- pode possuir dimens~oes axiais normais, porem com alto
tretanto, ser considerado um defeito de vis~ao, ja que se poder de converg^encia do sistema otico, por exemplo).
processa mais ou menos da mesma forma em todos os Ha tambem um outro tipo de ametropia, denomi-
olhos normais. nado afacia, que e a aus^encia do cristalino, tornando o
olho extremamente hipermetrope.
3. Tipos de ametropia O astigmatismo, por sua vez, e um defeito da vis~ao
Existem varios defeitos comuns de vis~ao2 3, devidos
;
geralmente devido a n~ao esfericidade da superfcie da
unicamente a uma relac~ao incorreta entre os diversos cornea; o raio de curvatura dessa superfcie n~ao e o
elementos constitutivos do globo ocular, considerado mesmo em todos os meridianos - assemelha-se a uma
como sistema otico. O olho normal, quando em re- bola de futebol americano (elipsoide), onde os meri-
pouso, forma na retina a imagem de objetos situados dianos de maior e menor curvaturas est~ao a 90 . O
no in nito, como na gura 3(a). astigmatismo faz com que seja impossvel, por exem-
Olho ametrope e aquele para o qual o ponto remoto plo, focalizar simultaneamente as barras horizontais e
n~ao esta situado no in nito. As duas formas mais sim- verticais de uma janela.
ples de ametropia s~ao a miopia (ou braquiometropia) Assim, o astigmatismoe a condica~o de refraca~o onde
e a hipermetropia. Esses dois defeitos est~ao ilustra- feixes de luz, provenientes de uma fonte luminosa pun-
dos nas guras 3(b) e 3(c). Na miopia, o globo ocular tual situada no in nito, paralelamente incidentes em
e muito alongado em relac~ao ao raio de curvatura da diferentes meridianos formam imagens em diferentes
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posic~oes no eixo otico (pontos focais diferentes para de traumatismo ou doenca; e a aus^encia do cristalino
cada meridiano entre 0 e 180 - gura 2.3). resulta tambem num grau acentuado de hipermetropia.
Ha tambem um outro tipo de ametropia, denomi-
nado afacia, que e a aus^encia do cristalino, tornando
o olho extremamente hipermetrope. Miopia, hiperme-
tropia, afacia e astigmatismo s~ao discutidos a seguir
detalhadamente. A acomodac~ao na hipermetropia
3.1 - Hipermetropia3
A hipermetropia e a forma de erro de refrac~ao A hipermetropia e subdividida em varias porco~es
na qual os raios luminosos paralelos s~ao trazidos a um devido a in u^encia interagente da acomodaca~o visual
foco a uma certa dist^ancia atras da retina, quando o nas medidas. Ela e subdividida em hipermetropia total
olho encontra-se em repouso. (HT), composta pela hipermetropia latente (HL) e pela
Houve epoca em que se aceitava que, na maioria dos hipermetropia manifesta (HM); hipermetropia absoluta
casos de hipermetropia, o defeito fosse axial4 e persiste (HA); e hipermetropia facultativa (HF).
a crenca de que, de fato, o olho hipermetrope tenha um
eixo antero-posterior mais curto do que o normal. En- A HM e a hipermetropia que pode ser medida pelo
tretanto, e possvel que o olho hipermetrope tenha um medico sem a paralisac~ao do musculo ciliar.
comprimento axial maior do que um olho mope, e ainda A contrac~ao do musculo ciliar no ato da acomodac~ao
permanece alguma incerteza quanto a import^ancia re- aumenta o poder de refrac~ao do cristalino, de forma
lativa do comprimento axial e o poder de refrac~ao como a corrigir um certo grau de hipermetropia. Normal-
in u^encias na causa da hipermetropia. mente, ha um grau apreciavel corrigido pela contraca~o
Via-de-regra, o grau de encurtamento n~ao e grande envolvida no t^onus siologico deste musculo e, con-
e raramente excede 2mm. Cada milmetro de encurta- sequentemente, o grau completo de hipermetropia so
mento representa aproximadamente +3di de alterac~ao e revelado quando este musculo e paralisado pelo uso
na refrac~ao e, por conseguinte, uma hipermetropia de de uma droga como a atropina. Dizemos, assim, que o
mais de +6di e incomum. Graus maiores, entretanto, olho foi cicloplegiado. Desta forma, e possvel medir-se
ocorrem, como nos casos de ate +24di sem qualquer a HT. A variac~ao entre a HM e a HT e a HL.
outra anormalidade patologica ter sido veri cada; e,
certamente, nas aberrac~oes patologicas do desenvolvi- Com a atuac~ao total da acomodac~ao visual, a pes-
mento, tais como na microftalmia, este valor pode ser soa hipermetrope e capaz de amenizar este erro de re-
ultrapassado. frac~ao, porem, se o erro e grande e, independentemente
A hipermetropia de curvatura ocorre quando a cur- do esforco da acomodac~ao, o indivduo n~ao consegue
vatura de qualquer das superfcies refringentes e ex- ver o objeto de modo ntido, o grau de hipermetropia
cessivamente pequena. A cornea e a sede habitual da que ainda permanece sem correc~ao e que n~ao pode ser
anomalia e pode mostrar-se achatada congenitamente vencido pela acomodac~ao e a HA. A quantidade de HA
(cornea plana) ou ser resultado de traumatismo ou correspondera ao menor poder da lente corretora a ser
doenca. Um aumento de 1mm no seu raio de cur- prescrita ao paciente.
vatura produz uma hipermetropia de +6di. Nesses Porem, atraves de varios fatores, tais como,
casos, entretanto, e raro que a curvatura permaneca psquicos, sociais, entre outros, o medico pode pres-
esferica e sera produzido quase que invariavelmente um crever uma lente corretora cujo poder de refrac~ao esta
astigmatismo. A hipermetropia de ndice, como de dentro do intervalo entre a e a HM. Este intervalo cor-
habito, manifesta-se na forma de uma diminuic~ao na responde a HF.
refring^encia e caz do cristalino.
Uma luxac~ao posterior do cristalino tambem causa A seguir, um diagrama-exemplo podera ajudar a
hipermetropia, resultado de uma anomalia cong^enita ou compreender todas estas denominac~oes.
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foi perdido atraves de ferimento perfurante, pode estar


ausente por defeito cong^enito, ou pode ser desviado da
pupila por luxac~ao. Empregamos o termo oposto facico
para descrever um olho com seu cristalino no lugar.
A vis~ao na afacia
Um olho afacico e, geralmente, muito hipermetrope;
na aus^encia do cristalino, com os demais elementos nor-
mais, os raios luminosos paralelos dirigem-se para um
foco a 31 mm atras da cornea, enquanto que o di^ametro
medio anteroposterior do olho e de apenas 23 a 24 mm.
O sistema dioptrico deve, portanto, ser suplementado
por uma potente lente convergente, caso o olho seja de
No diagrama acima, e exempli cado um paciente origem hipermetrope, em aproximadamente + 10D.
com HM (sem cicloplegico) de +4di e HT (com ci- As condic~oes oticas s~ao, assim, modi cadas, pois o
cloplegico) de +6di, ou seja, com uma hipermetropia aparelho dioptrico foi reduzido a uma unica superfcie
escondida de +2di (HL). de refrac~ao (a cornea), limitando um meio de ndice de
A relac~ao entre estas hipermetropias pode ser me- refrac~ao uniforme (os humores aquoso e vtreo).
lhor compreendida segundo o metodo empregado para
determina-las clinicamente. Suponhamos que um hi- Desvantagens da afacia
permetrope n~ao consiga ver um objeto distante nitida-
mente. S~ao colocadas ent~ao lentes convexas de inten- 1. Aumento da imagem: o aumento relativo da
sidade gradualmente crescente na frente de seus olhos, imagem da origem a uma falsa orientac~ao espacial de
ate que possa ver com clareza; neste momento, o crista- objetos familiares, os quais, sendo de tamanho pouco
lino e a sua acomodac~ao encontram-se em atividade, de habitual, s~ao considerados mais proximos do que re-
forma que, com a combinac~ao de ambos, uma imagem almente est~ao. O paciente n~ao possui, portanto, co-
distinta e observada. O grau de hipermetropia corri- ordenac~ao visual, batendo em trincos de fechadura e
gida pela lente, ou seja, o grau que pelos seus esforcos vidros de tinta com resultados desastrosos e humilhan-
de acomodac~ao n~ao pode ser corrigido, e a hipermetro- tes ate que, nalmente, apos alguns meses de tentativa
pia absoluta, e e medida pela lente convexa mais fraca e erro, aprende uma nova coordenac~ao visual do olho e
com que a acuidade visual maxima pode ser obtida. No m~ao.
caso do exemplo, a HA e de + 1di. A diferenca da imagemretiniana entre o estado otico
Avaliadas as HM e HA, atraves de uma analise facico e o afacico apresenta problemas especiais a vis~ao
subjetiva por parte do paciente, que se submetera ao binocular num paciente em que um olho possui seu cris-
teste de varias lentes, cujos poderes de refrac~ao va- talino in situ e o olho oposto e afacico.
riam entre +1di e + 4di (HF), em nosso exemplo, e 2. Toda acomodac~ao e abolida: o paciente deve,
por analise psquica e social feita pelo medico, e indi- em tese, possuir oculos para toda dist^ancia em que de-
cada a lente corretora (+3di, no caso de nosso paciente seja ver claramente. Na pratica, e su ciente fornecer
do diagrama I). uma lente para vis~ao a dist^ancia, uma para leitura e,
em acrescimo - em muitos casos -, de uma para posica~o
3.2 - Afacia3 intermediaria.
Afacia, embora seja um termo que sugira aus^encia
do cristalino do olho, e habitualmente empregado para 3.3 Miopia3
incluir todas as condic~oes em que o cristalino esta au- Na grande maioria dos casos, certamente nos graus
sente da area pupilar. Na grande maioria dos casos, mais intensos, a miopia e axial, isto e, deve-se a um
o cristalino foi removido por cirurgia, algumas vezes aumento no di^ametro antero-posterior do olho.
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A miopia de curvatura pode estar associada a um 2m, -0,5di, etc.


aumento na curvatura da cornea ou de uma ou ambas as
superfcies do cristalino. A maior curvatura da cornea 3.4 Correca~o da hipermetropia e da miopia: len-
ocorre n~ao infrequentemente, mas e, em geral, evidente tes convergentes e divergentes
como um erro astigmatico e n~ao esferico. Pequenos des- As lentes convergentes e as divergentes4 , como os
vios do normal s~ao comuns, visto que o raio da cornea proprios nomes dizem, t^em a propriedade de convergi-
normal varia dentro dos limites de 7,0 a 8,5mm, que rem e divergirem, respectivamente, a luz nelas inciden-
podem ser de import^ancia consideravel, ja que uma va- tes. A gura 4 ilustra esse fato.
riac~ao de 1,0mm resulta numa modi cac~ao da refrac~ao
de -6di.
No que diz respeito a miopia de ndice, uma mo-
di cac~ao do ndice de refrac~ao do aquoso ou do vtreo
nunca e t~ao grande a ponto de exercer qualquer efeito
apreciavel. Por outro lado, modi cac~oes no cristalino
podem certamente levar a miopia. E possivel que uma Figura 4. a) Lente convergente; b) Lente divergente.
diminuic~ao do ndice de refrac~ao do cortex desempe-
nhe um papel na miopia diabetica. Uma refring^encia
aumentada do nucleo do cristalino e responsavel pela Raios paralelos nelas incidentes s~ao projetados em
miopia encontrada na catarata incipiente; de fato, o seus focos; raios partindo de seus focos emanam pa-
cristalino pode n~ao se tornar opaco, mas o seu nucleo ralelamente; e raios que passam pelo seu centro otico
pode simplesmente tornar-se cada vez mais refringente, n~ao s~ao desviados. Estas s~ao algumas das propriedades
com o que se desenvolve la uma miopia progressiva. fundamentais das lentes.
No recem-nascido, o olho normal e hipermetrope e, Sendo assim, ca facil deduzir que um olho hi-
com o passar do tempo e o crescimento, isso tende a permetrope necessita de lentes convergentes para sua
regredir. Em alguns casos permanece a hipermetropia; correc~ao, enquanto um olho mope, de lentes divergen-
em outros, a emetropia e alcancada e o desenvolvimento tes. Sen~ao, vejamos:
torna-se estabilizado neste ponto; ao passo que, em al- Um olho hipermetrope n~ao e apto, atraves da aco-
guns, a tend^encia evolui e resulta um grau maior ou modac~ao visual, a trazer a retina a imagem de um ob-
menor de miopia. O perodo de crescimento e, por- jeto num ponto proximo (embora, em alguns casos, seja
tanto, o elemento crucial do ponto de vista da miopia. capaz, gerando, contudo, sintomas que o incomodam) e
tampouco, obter imagens ntidas de objetos situados no
Condic~ao O tica in nito sem ativar a acomodac~ao visual. Assim, se os
No olho mope, os raios luminosos paralelos dirigem- raios provenientes do in nito atingirem o olho com de-
se para um foco na frente da retina; a imagem sobre a terminada converg^encia, a imagem devera ser formada
retina comp~oe-se, portanto, de crculos de difus~ao for- na retina. Isso e feito com lentes convergentes (veja
mados pelo feixe divergente ( gura 3.b). Conclui-se que gura 5.a).
os objetos distantes n~ao podem ser visualizados clara- Para o mope ocorre o contrario, pois ele n~ao conse-
mente; apenas os raios divergentes encontrar-se-~ao na gue \relaxar" o cristalino o su ciente para que a ima-
retina e, assim, a m de ser visto claramente, um ob- gem de um objeto situado no in nito caia sobre a re-
jeto qualquer deve ser trazido para perto do olho, de tina. Como esta imagem esta sempre localizada an-
modo que os raios que dele emanam tornem-se su cien- teriormente a retina, os raios provenientes do in nito
temente divergentes. O ponto remoto, no olho mope, devem atingir o olho com uma diverg^encia adequada
esta a uma dist^ancia nita - quanto maior o grau de para que a imagem forme-se na retina. Isso e feito com
miopia, menor a dist^ancia. Essa dist^ancia e, por con- lentes divergentes ( gura 5.b). Assim, a imagem que a
seguinte, uma medida do grau de miopia: se o ponto lente fornece de um objeto no in nito sera formada no
distante for de 1m do olho, ha -1di de miopia; se for de ponto remoto do globo ocular, podendo, ent~ao, ser vista
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sem esforco. Dessa forma, o foco imagem F 0 deve coin-


cidir com o ponto remoto do olho. Se desprezassemos
a dist^ancia entre a lente e os olhos, a dist^ancia focal da
lente corretora deve ser igual em modulo a abscissa P R

do ponto remoto do olho.

Figura 6. Esquematizac~ao de diferentes lentes corretivas


Figura 5. Correca~o de emetropias por lentes: a) Hiperme- para uma mesma ametropia.
tropia; b) Miopia.
Miopia
No caso do mope, acontece exatamente o contrario.
Quanto mais aproximamos a lente do olho, menor deve
3.5 E ci^encia da correc~ao otica dos varios vcios ser seu poder, ou seja, a lente deve ser menos e ciente
de refraca~o para que a imagem caia na retina.

A e ci^encia de uma lente corretora depende direta- 3.6 Astigmatismo3


mente de sua posic~ao frente ao olho. Aqui, de nimos
O astigmatismo pode ser um erro de curvatura, de
a e ci^encia como sendo o melhor ajuste focal para a
centralizac~ao ou do indice de refrac~ao3 .
correc~ao refrativa. Vejamos, ent~ao, os casos de hiper-
metropia e miopia separadamente. O astigmatismo de curvatura, se de um grau mais
intenso, tem sua origem mais frequente na cornea. A
anomalia e em geral cong^enita e as medidas oftal-
mometricas mostram que a sua ocorr^encia em pequenos
Hipermetropia graus e comum. O erro mais frequente e aquele em que
a curva vertical e maior que a horizontal (aproxima-
Observando a gura 6, notamos que qualquer uma damente 0,25di). Este e conhecido como astigmatismo
das lentes com as diferentes verg^encias pode ser pres- direto (\a favor da regra"), e e aceito como siologico;
crita, dependendo da posic~ao delas; basta que a sua presumivelmente se deve a uma press~ao constante da
dist^ancia focal esteja conjugada com o ponto remoto palpebra superior sobre o olho. Marin Amat4 descobriu
do olho. que, enquanto no nascimento a cornea e normalmente
Assim, para prescrever uma lente de contato para quase esferica, este tipo de astigmatismo esta presente
um hipermetrope, deve-se utilizar uma lente de maior em 68% das criancas aos 4 anos de idade, e em 95%
poder refrativo do que a de um oculos, ou seja, para aos 7 anos. Ha evid^encia de que tende a aumentar em
prescrevermos uma lente de contato, e necessaria uma grau muito discreto nos anos seguintes; porem, com a
lente mais e ciente. idade, tende a desaparecer ou mesmo tornar-se em as-
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tigmatismo inverso (\contra a regra"), com a curvatura 1. astigmatismo simples, onde um dos focos incide
vertical menor do que a horizontal. sobre a retina. O outro foco pode incidir na frente ou
O astigmatismo adquirido tambem se observa com atras da retina, de forma que enquanto um meridiano
frequ^encia. Patologia da cornea resulta em sua deformi- e emetrope, o outro e hipermetrope ou mope. Estes
dade; um exemplo extremo disso e observado na cornea s~ao, respectivamente, designados de astigmatismo hi-
c^onica, embora as in amac~oes e as ulcerac~oes tenham permetrope simples e mope simples.
o mesmo efeito. 2. astigmatismo composto, onde nenhum dos dois
O astigmatismo de curvatura do cristalino tambem focos localiza-se sobre a retina, porem ambos localizam-
ocorre com grande frequ^encia. Na grande maioria dos se na frente ou atras dela. O estado da refraca~o e
casos, anomalias dessa natureza s~ao pequenas; porem, inteiramente hipermetrope ou inteiramente mope. O
as vezes, como no lenticone, podem ser acentuadas. primeiro e conhecido como astigmatismo hipermetrope
Com frequ^encia, o cristalino e colocado em ligeira composto, e o ultimo como astigmatismo mope com-
obliquidade ou fora dos planos normais do sistema posto.
otico, e isso, provocando um certo grau de descentra- 3.astigmatismo misto, onde um foco localiza-se na
lizac~ao, produz um astigmatismo correspondente; uma frente e outro atras da retina, de forma que a refraca~o
subluxac~ao traumatica do cristalino possui resultados e hipermetrope em uma direc~ao e mope na outra. O
semelhantes. Finalmente, um pequeno grau de astigma- tipo habitual siologico de astigmatismo, onde a curva
tismo dendice ocorre na siologia do cristalino. Este e, vertical e maior do que a horizontal, e denominado de
em geral, discreto, e se deve a pequenas desigualdades astigmatismo direto ou astigmatismo \com a regra"; em
do ndice de re ac~ao dos diferentes setores, porem pode caso inverso, trata-se de um astigmatismo indireto ou
ser acentuado, produzindo distorc~ao consideravel. astigmatismo \contra a regra".
Tipos de Astigmatismo
O astigmatismo em que os dois meridianos princi-
pais encontram-se em a^ngulos retos e que e, portanto,
passvel de correc~ao, e denominado de regular. Na
grande maioria desses casos, os meridianos de maior
e menor curvatura est~ao proximos ou realmente verti-
cais e horizontais ou vice-versa. Caso isso n~ao ocorra
desse modo e uma vez que o meridiano maior e o menor
estejam em ^angulos retos, teremos ent~ao um astigma-
tismo regular que denominamos astigmatismo oblquo.
Quando os eixos n~ao se encontram em a^ngulos retos,
mas s~ao cruzados obliquamente, o sistema otico e ainda Figura 7. Classi cac~ao do astigmatismo regular: (a) hi-
permetrope composto; (b) hipermetrope simples; (c) misto;
passvel de resoluc~ao numa combinac~ao esferocilndrica, (d) mope simples; (e) mope composto; (f) emetrope.
e a condic~ao pode ser denominada de astigmatismo bi-
oblquo; n~ao e de ocorr^encia muito comum. Sintomas
Quando existem irregularidades na curvatura dos Quando o grau de astigmatismo e apreciavel, visto
meridianos de forma que nenhuma gura geometrica que em nenhuma circunst^ancia o olho e capaz de for-
adere aos mesmos, a condic~ao e denominada astigma- mar uma imagem nitidamente de nida sobre a retina,
tismo irregular; n~ao permite sua correc~ao adequada por a diminuic~ao da acuidade visual pode ser bastante con-
oculos. sideravel. Na tentativa de ver claramente, o paciente
tenta focalizar o crculo central de menor confus~ao (vide
Astiguatismo regular item 2.10 - \Crculo de Menor Confus~ao"). A vis~ao
O astigmatismo regular pode ser classi cado da se- do astigmata mostra peculiaridades outras que a indis-
guinte maneira ( gura 7): tinc~ao, a despeito da forma alongada dos crculos de
Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 17, no. 4, dezembro, 1995 313

difus~ao que tem de interpretar. Os crculos tornam-se No entanto, nem todas as super cies s~ao esfericas
alongados, acurvados; um ponto de luz aparece bor- (astigmaticas, gura 9b); aquelas que n~ao s~ao geral-
rado; e uma linha, que consiste numa serie de pontos, mente n~ao formam imagens estigmaticas. Tais su-
aparece como uma sucess~ao de linhas fundidas numa perfcies s~ao denominadas toricas - tipo particular de
imagem borrada. superfcie n~ao esferica ( gura 9c).
Imaginemos um indivduo astigmatico focalizando Um cilindro tambem pode ser considerado uma su-
sobre uma linha focal vertical e olhando em duas linhas perfcie torica, porem com r2 in nitamente longo ( -
retas que cam uma perpendicular a outra ( gura 8). gura 10).
Podemos imaginar as linhas compostas de um numero Uma das caractersticas do cilindro e que o feixe de
in nito de pontos, cada um dos quais aparecendo na luz que nele incide, proveniente de um ponto, e refra-
sua retina como uma linha vertical curta (ou, mais cor- tado de modo a formar uma linha correspondente, ou
retamente, uma elipse). A linha horizontal, portanto, seja, a cada ponto incidente, ha uma linha refratada
aparece como uma serie de elipses verticais que coales- correspondente. A gura 11 pode melhor ilustrar este
cem numa faixa borrada larga, enquanto que no caso fato.
da linha vertical, as elipses verticais se sobrep~oem, de Podemos observar que a luz, quando incide paralela
modo que toda a linha aparece nitidamente de nida, so- ao eixo de revoluc~ao do cilindro, n~ao sofre desvio.
mente com a parte mais superior e a mais inferior das
elipses constituintes se estendendo alem dela, determi-
nando um aspecto borrado e fazendo-a parecer mais
longa do que normalmente e. Inversamente, se a li-
nha focal horizontal for focalizada, as linhas verticais
tornam-se borradas.

Figura 9. Representac~ao de superfcies: (a) esferica; (b)


elipsoidal; (c) torica.

Figura 8. Formac~ao da imagem de uma gura em forma de


cruz para os varios tipos de astigmatismo regular.
Assim, em todo caso de astigmatismo regular, ha
uma direc~ao na qual as linhas parecem mais distintas
e uma na qual parecem mais confusas. Toma-se vanta-
gem disso na detecc~ao do astigmatismo por uma gura
em forma de ventilador. Se o eixo do cilindro for obli-
quo, a cabeca e virada para um lado de modo a reduzir
a distorc~ao.
Condic~ao O tica
Uma esfera e uma super cie em que todos os seus
meridianos possuem a mesma curvatura gura 9a. Figura 10. Representac~ao de um cilindro.
314 Liliane Ventura e Jarbas C. C. Neto

Ha dois tipos de cilindros utilizados na oftalmolo-


gia: os cilindros positivo e negativo, conforme ilustra a
gura 13.
Vejamos, ent~ao, o efeito produzido pelo cilindro
quando feixes luminosos nele incidem, em termos ma-
tematicos. Consideremos um cilindro posicionado a
180 e feixes de luz nele incidindo em varias direc~oes,
como ilustra a gura 8. Pela gura, podemos observar
que os feixes est~ao incidindo no plano XZ com diferen-
tes angulos , e que a refrac~ao de cada um e dada por
uma func~ao seno ou co-seno. No caso da g. 8.a, a
Figura 11. Representaca~o da formac~ao da imagem a partir refrac~ao zero dar-se-a a 0 ou 180 (eixo Z), e a maxima
de um feixe paralelo de luz incidente numa lente cilindrica.
refrac~ao a 90 ou 270 (eixo X).
3.7 Crculo de menor confus~ao3 Assim, o modo como o cilindro in u^encia na
correc~ao do astigmatismo e representado por uma
Observemos a gura 12. Um objeto puntual lumi- func~ao senoidal de 0 a 180, pois dessa maneira todos
noso incide numa lente astigmatica formando uma ima- os meridianos ja s~ao cobertos. Tomemos, ent~ao, alguns
gem num anteparo. Colocando-se o anteparo paralelo exemplos que possam ilustrar esse fato. Suponhamos
~ao plano da lente, na posic~ao x0 , observar-se-a uma li-
V
os esquemas ilustrados na gura 8:
nha vertical como imagem. Se agora movermo-lo para
a posic~ao x0 , formar-se-a uma linha horizontal.
H (a) astigmatismo simples a 90: cilindro corretor
Entre essas duas posic~oes, varias imagens formar- com seu eixo a 180 , ou seja, raios incidentes a 180 (na
se-~ao, como ilustrado. Porem, existe um certa posic~ao horizontal) n~ao s~ao refratados, e a 90 sofrem maxima
onde teremos a imagem de um crculo, denominada refrac~ao;
crculo de menor confus~ao, e que esta exatamente
a meio caminho, dioptricamente falando, dos dois fo- (b) astigmatismo simples a 135: cilindro corretor
cos (x0 ; e x0 ) Clinicamente, esta e a verg^encia mais
V H
com seu eixo a 45 ;
importante.
(c) astigmatismo composto a 180 e 90.
O crculo de menor confus~ao (ou interfocal) e a ima-
gem borrada (um ponto corresponde a um crculo),
porem n~ao distorcida.

Figura 12. Representac~ao do crculo de menor confus~ao.


Figura 13. Representac~ao de cilindros: (a) positivo; (b)
3.8 Algumas propriedades dos cilindros negativo.
Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 17, no. 4, dezembro, 1995 315

Figura 15. Representac~ao da correca~o otica de ametropia


por lentes esfericas associadas a cilindros negativo e posivo.
Ha dois modos de prescrever a receita para este caso
particular, com cilindros positivos ou negativos, este
ultimo tipo mais utilizado no Brasil (uma das raz~oes e
que e de mais facil confecc~ao):

+5 esf : ;2 cil: 90 (1)


Coloca-se uma lente esferica +5di. Assim, ambos os
Figura 14. Representac~ao do poder de refrac~ao dos cilindros
posicionados frente ao olho a: (a) 180; (b) 45; (c) 180 e 90 . meridianos submetem-se a +5di de poder, de modo que
o vertical ca corrigido e o horizontal ca \super" corri-
gido, remanescendo com -2di. Dessa maneira, devemos
corrigir apenas este meridiano e, portanto, fazemo-lo
com um lente cildrica de -2di, com seu eixo de re-
voluc~ao na vertical (90), a m de que os raios verticais
3.9 Correc~ao otica das ametropias1;3 n~ao sejam refratados.
Ent~ao, chegamos a prescric~ao nal de uma lente
O modo pelo qual ocorre a refrac~ao de raios lumi- esferica de poder + 5di, combinada com uma lente
nosos paralelos em um sistema astigmatico ja foi des- cilndrica de -2di a 90.
crito. Em vez de um ponto focal isolado, existem duas
linhas focais, separadas entre si por um intervalo focal. +3 esf : ;2 cil: 180 (2)
O comprimento desse intervalo focal e uma medida do Procedendo da mesma maneira anterior, so que,
grau de astigmatismo, e a correc~ao do erro so e obtida agora, utilizando uma lente esferica de +3di, corrige-
reduzindo-se esses dois focos em um. se o eixo horizontal, porem n~ao totalmente o vertical,
Se os dois meridianos principais do sistema as- remanescendo +2di que s~ao corrigidos por um cilindro
tigmatico estiverem em angulos retos entre si, o erro de poder +2di e posicionado a 180 para n~ao interferir
pode ser corrigido pelo emprego de uma lente cilndrica nos feixes luminosos horizontalmente incidentes.
adequada, que, atuando no plano de um meridiano, Assim, concluimos que, uma vez determinados o
modi cara a refrac~ao dos raios que s~ao dirigidos para maior e o menor poderes de refraca~o de um olho, deve-
um foco na mesma dist^ancia que aqueles do outro me- se proceder do seguinte modo ( gura 16): se
ridiano, quando ent~ao toda a imagem (teoricamente)
y>x
transformar-se-a num ponto.
Vejamos, ent~ao, como proceder para a correc~ao, por ou
exemplo, de uma pessoa astigmatica hipermetrope com- y esf : (x ; y) cil: (  + 90 )
posta, com +3di e +5di a 180 e 90 , respectivamente ou
( gura 15). x esf (y ; x) cil (  )
316 Liliane Ventura e Jarbas C. C. Neto

Estando estabelecido este canal de comunicaca~o en-


tre essas duas areas, pesquisadores s~ao encorajados
a desenvolver novos equipamentos para diagnostico e
correc~ao de doencas oculares, bem como pesquisar as-
suntos relacionados.
Refer^encias
1. F. W. Sears & M. W. Zemansky, Fsica. Rio de Ja-
neiro (RJ), Livros Tecnicos e Cient cos Ed. S/A,
1977. v.2, p.320-380.
2. M. Katz, The Human Eye as an Optical System
in: T. D. Duane, Clinical Ophthalmology Phila-
Figura 16. Representac~ao da correc~ao otica de ametropia delphia, Harper & Row Publishers, 1981. Revised
por lentes esfericas associadas a cilndros positivo e nega- Edition, Chap.33.
tivo: exemplo generico de ametropia. 3. S. Duke-Elder & D. Abrams, System of Ophthal-
4. Considerac~oes nais mology London, Henry Kimpton, 1970. v.V, ch.4-
7.
Atraves dessas noc~oes basicas sobre refrac~ao em of- 4. E. Hecht, Optics New York, Addison-Wesley Pu-
talmologia, ca facilitada a compreens~ao da Fsica en- blishing Company, 1990. Second Edition.
volvida nestes topicos em um consultorio oftalmologico.

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