Auto Da Barca Do Inferno
Auto Da Barca Do Inferno
Auto Da Barca Do Inferno
Personagens:
● DIABO: Mellyssa
● AJUDANTE DO DIABO: Joselia
● DIABELIQUETES:
(1) Nicolas
(2) Renata
● ANJO: Allana
● ANGELIQUETES:
(1) Emilly
(2) Elenice
● FIDALGO: Josias
● ONZENEIRO: Cauã
● PARVO: Gabi
● SAPATEIRO: Artur
● FRADE: Richard
● FLORENÇA: Esla
● BRÍSIDA: Yasmin
● JUDEU: Dayrla
● CORREGEDOR: Itamar
● PROCURADOR: Ihud
● ENFORCADO: Kayllane
● CAVALEIROS:
(1) André
(2) Juan
ATO 1
Introdução
A cena passa-se num porto e portanto, um dos barcos vai em direção ao céu, e
outro para o inferno. Por meio da presença de dois barqueiros, o Anjo e o Diabo,
eles recebem as almas dos passageiros que passam para o outro mundo.
Diabo:
- Venham, venham, todos! Antes que a maré mude! Levante a vela,
agora!
Ajudante (amedrontado):
- Já estou fazendo!
Diabo:
- Ótimo! Vá até ali e estique aquela corda, Arranje um banco para os
passageiros. Aqui! Venham aqui! Uhul! Se quiser ir, que venha logo!
Já é hora de partir, Vamos a Belzebu!
Diabo (nervoso):
- Mas que raios você está fazendo?! Não terminou ainda?!
Ajudante (amedrontado):
- Já estou terminando, mestre!
Diabeliquete (1):
- Rápido! Afrouxe aquela corda! Desamarre aquela, ali! Faça o que o
chefe mandou!
Diabeliquete (1):
- As diabeliquetes, assistentes do Diabo.
Ajudante:
- Bom... Então tem como vocês me ajudarem aqui?
Diabeliquete (2):
- A gente? Te ajudar? Há-há! Mermã. É claro que não!
Diabeliquete (1):
- E é melhor você voltar ao trabalho porque a chefe tá com a pressa do
cão.
Ajudante:
- Sim, sim! Te acalma diabo, nasceu de 7 meses?
ATO 2
Chega o Fidalgo no porto, e indo em direção à barca do inferno, diz:
Fidalgo:
- Para onde está indo essa barca? Está tão chamativa!
*Diabo:
- Esta vai para a ilha perdida, e já está partindo, então se acomode.
Fidalgo:
- O senhor também vai pra essa ilha?
Diabo:
- SENHORA, não “senhor”!
Fidalgo:
- Sim... Mas esta barca está uma bagunça!
Diabeliquete (2):
- Não, não! É porque você a viu de fora.
Fidalgo:
- E para onde ela vai?
Diabeliquete (2):
- Para o Inferno, senhor, venha logo!
Fidalgo:
- Lugarzinho ruim, não?
Diabo:
- Veio aqui zombar, é?
Fidalgo:
- E você achou alguém para embarcar?
Diabo:
- Posso encontrá-los aqui neste cais!
Fidalgo:
- Está bem, mas minha barca não é esta.
Diabo:
- E porque seria outra?
Fidalgo:
- Na outra vida tem muita gente rezando por mim!
Diabo:
- Muita gente rezando por… HAHAHAHHAHAHAHHAHAHA! Veio tão
seguro de si mesmo, achando que se salvaria… porque rezam por
você?! Entre nessa barca logo! Pegue uma cadeira, entre!
Fidalgo:
- O quê?! Eu não! É assim que termina?!
Diabeliquete (1):
- Ah! Você foi quem escolheu este caminho! Pare com essa algazarra!
Fidalgo:
- E só tem este barco aqui?!
Diabeliquete (1):
- Para você, só este! Desde que chegou percebi.
Fidalgo:
- Com todo respeito, mas aí eu não entro! Tem alguém aí?! Algum
barqueiro?!
Anjo:
- Sim?
Fidalgo:
- Por favor, me diga, eu morri tão de repente que nem sei, é esta a
barca do céu?
Anjo:
- Sim é esta. O que você quer?
Fidalgo:
- Que me deixe entrar, porque eu sou um fidalgo, é melhor que deixe-
me entrar aí!
Angeliquete (1):
- Desculpe, mas aqui não entra tirania!
Fidalgo:
- Não tem espaço para um Fidalgo aí?!
Anjo:
- Você não merece entrar aqui, senhor. Aqui é tão pequeno que tal
personalidade como a sua, uma tão grande, como você diz, não cabe
aqui. Naquela barca tem mais espaço! Vá até lá com sua tirania,
porque você desprezou os pequenos!
Diabeliquete (1):
- Vamos! Podem entrar! A barca é de vocês! Vamos aproveitar a maré
calma!
Fidalgo:
- Oh não! Não creio que vou para este lugar! A minha vida passei
aproveitando, não imaginei este dia, nunca imaginei! Mas que o
destino seja feito...
Diabo:
- Finalmente, ein! Vamos nos entender! Vai pegar os remos que você
vai trabalhar!
Fidalgo:
- Espere! Tenho que ver minha querida dama. Ela vai se suicidar por
mim ...
Diabo:
- Morrer por te amar?!...
Fidalgo:
- Ah, nem vem! Disso estou certo!
Diabeliquete (1):
- Tolinho... Tão fanático. É o amante mais burro que já vi.
Fidalgo:
- Pois ela me mandava mil cartas de amor!
Diabeliquete (2):
- Mas como você é burro! Enquanto você lia mentiras, ela se agarrava
com outro!
Fidalgo:
- Pois se for vê-la agora, verá que é verdadeiro seu amor.
Diabo:
- Você acha ? Pois hoje ela rezou alegremente agradecendo sua morte.
Hehehehe!
Fidalgo:
- Mas ela chorou, e muito!
Diabo:
- Lágrimas de alegria! E tudo que ela lamentava… era tudo questão de
educação! Entre logo!
Fidalgo:
- Se é assim...
Diabo:
- Sim, sim. Pegue estes remos e descanse, porque mais gente vai
chegar e é claro que vão entrar aqui! Vamos gente, vamos entrar!
Venha à barca! Todos!
ATO 3
Chega o Onzeneiro perguntando:
Onzeneiro:
- Para onde está indo?
Diabo:
- Meu querido parente! Como você demorou!
Onzeneiro:
- Ah! Eu não queria vir! Mas morri cobrando dinheiro, e acredita que não
consegui trazer nada?!
Diabo:
- Mas que pena! Mas não há tempo, entre logo, porque já vou partir.
Onzeneiro:
- E para onde você vai com a barca?
Diabeliquete (2):
- Para onde você tem que ir! Para o Inferno.
Onzeneiro:
- Acho que alguém me chamou ali...
Onzeneiro:
- Alô! Alguém aí?! Esta barca já está partindo?
Anjo:
- E você vai até...
Onzeneiro:
- Até o paraíso!
Angeliquete (2):
- Você não pode entrar.
Onzeneiro:
- E porque não?!
Anjo:
- Este seu saco de dinheiro ia encher o navio.
Onzeneiro:
- Ah! Ele está vazio!
Anjo:
- Já não falo do saco, mas do seu coração.
Onzeneiro:
- Alô! Ainda está aí?
Diabo:
- Ah! Olha quem voltou!
Onzeneiro:
- Eu trago um pedido. Tenho que voltar ao mundo, e vou cuidar de
trazer bastante dinheiro, porque de mãos abanando eu nã...
*Diabeliquete (1):
- Cale a boca e entre logo! Venha remar.
*Onzeneiro:
- Ah não! Como isso foi acontecer!
*Diabeliquete (2):
- Cale a boca, pare de choramingar!
Onzeneiro:
- Você aqui?!
Fidalgo:
- E você também aqui?!
Diabo:
- Vamos parando com a conversinha! Logo darei umas pancadas em
vocês!
ATO 4
Chega o Parvo falando:
Parvo:
- Tem alguém aí?
Diabo:
- Quem é?
Parvo:
- Eu. Esse barco é nosso?
Diabo:
- Como assim? De quem?
Parvo:
- Dos asnos, ora!
Diabo:
- Então é sua, entre.
Parvo:
- Oh! Fiquei doente em tão má hora! De repente morri.
Diabeliquete (1):
- Morreu de que?
Parvo:
- Provavelmente caganeira.
Diabeliquete (1):
- De que?!
Parvo:
- Subi na bananeira, comi banana pôde e morri de caganeira.
Diabeliquete (1):
- Entre logo!
Parvo:
- Cuidado! Vai derrubar o barco ein!
Diabeliquete (1):
- Você é maluco mesmo! Entra logo!
Parvo:
- Espere um pouco! Para onde isto vai?
Diabeliquete (1):
- Ao porto de Lúcifer.
Parvo (confuso):
- Ao porto de Lúc...
Diabo:
- Ao Inferno!!
Parvo:
- Esta é a barca dos fracassados, dos cornos, dos bandidos, dos
corruptos, dos tolos?!
Parvo:
- Olá! Posso entrar?
Anjo:
- Se quiser pode, porque você falou verdades, e sua simplicidade é o
bastante para entrar. Vamos esperar, se ninguém melhor chegar, você
vai.
ATO 5
Chega o sapateiro no porto e em direção ao porto infernal diz:
Sapateiro:
- Olá!
Diabo:
- Quem vem aí? Oh! Olá Sapateiro! Quanta coisa está trazendo!
Sapateiro:
- Me mandaram vir assim. Para onde vai?
Diabo:
- Para terra dos danados!
Sapateiro:
- E quem morre confessado?
Diabo:
- Vamos parar de enrolar. Este é o seu lugar!
Sapateiro:
- Estou confessado e comungado! Não entrarei aí!
Diabo:
- Pode parar! Você pode ter se confessado, mas e os dez mil roubos
que não contou? Roubou o povo sendo desonesto durante trinta anos!
Este é o lugar de ladrão!
Diabeliquetes: Caracas
Sapateiro:
- Não vou! As missas que assisti não me valem nada?!
Diabo:
- Nem tente, depois das missas você roubava mais!
Sapateiro:
- E as ofertas e orações que fazem agora por mim? E a minha missa de
finado?!
Diabeliquete (2):
- E o dinheiro desonesto?
Sapateiro:
- Eu não entro aí de jeito nenhum!
Indo até o anjo diz:
Sapateiro:
- Alô! Santa caravela! Posso entrar?
Anjo:
- Carregando isso tudo? Não. Aquele ali é o seu barco! Como você está
ligado ao material...
Sapateiro:
- Tão poucas forminhas, eu deixo elas num cantinho mesmo!
Angeliquete (1):
- Esta não é sua barca.
Sapateiro:
- Você quer que eu vá para o inferno?!
Angeliquete (1):
- Seu nome está na lista do Diabo!
Sapateiro:
- O que posso fazer se esta é a sentença?!
ATO 6
Chega um Frade usando uma espada e capacete, com uma moça, de mãos dadas.
Ele dançava e cantarolava:
Frade:
- Voar, voar, subir, subir…
Diabo:
- Olá Frade! Que é isso tudo?
Frade:
- Deo gratias! Sou cortesão!
Diabeliquete (1):
- E você também sabe dançar! Ual! E quem é esta moça aí? É sua
mulher?!
Frade:
- Sim, sim! Sempre me encontrei com ela. Hihihihi!
Diabeliquete (1):
- E ninguém te reprimiu no convento?!
Frade:
- E como eles faziam isso! Você não sabe como!
Diabeliquete (1):
- Hahaha! Que precioso padre! Entre em nossa barca!
Frade:
- E para onde ela vai?
Diabeliquete (2):
- Para o inferno! Não há problema, certo?
Frade:
- É o que?! Não entendo isso! Só de ser padre mereço o céu!
Diabeliquete (2):
- Você merece Belzebu!
Frade:
- Cruzes! Eu não serei condenado! Ah, não vou! Um padre tão
apaixonado e virtuoso, por acaso seria condenado?! Não, não!
Diabo:
- Seria, seria! Entre e pegue um remo! Entre porque já foi dada a
sentença!
Frade:
- Por acaso essa é minha sentença? Ir para o inferno? Nem eu nem
Florença vamos entrar aí! Quer dizer que só por dar uns beijinhos um
padre é condenado? Com tanto salmo rezado?
Diabo:
- Só uns beijinhos? Sei… entre de uma vez. Você vai levar umas
gotinhas de óleo fervente nestas costas!
O padre tira o capuz e aparece o capacete e diz:
Frade:
- Deus vai manter esta coroa!
Diabo:
- Padre-Frei-Marido-capacete! Que mais tem aí, senhor?!
Frade:
- Não zombe de mim! Fique sabendo que fui um grande guerreiro! Essa
espada é inquebrável e este escudo é do melhor!
Diabo:
- Nos mostre todo este talento que você tanto fala.
O Frade começa a dar vários golpes e grita o nome deles, fica entusiasmado e o
Diabo vai se esquivando.
Frade:
- O que vocês acham agora?!
Diabeliquete (1):
- Que belos golpes! Pelo visto ela sabe bater.
Frade:
- Isso é só o começo!
Continua a dar golpes e gritar. Quando termina os golpes, pega Florença pela mão
e diz:
Frade:
- Você viu meu talento! Este lugar não é para mim! Vamos à barca da
glória!
Frade:
- Olá! Posso entrar?! E minha senhora também pode entrar?! Olááá!
Não me escuta?!
Parvo:
- Veio em hora ruim. De quem você roubou esta espada?!
Frade:
- Oh não! Pelo que vejo, não há o que fazer! Vamos à nossa barca
Florença… temos que cumprir nossa sentença...
Diabo:
- Finalmente! Ah... É sempre a mesma coisa!
ATO 7
Assim que o padre entra, chega uma prostituta chamada Brísida Vaz. Chegando à
barca infernal, chama:
Brísida:
- Oie! Alguém está aí?
Diabo:
- Quem está chamando?
Brísida:
- Brísida Vaz.(Lorrane…
Diabo:
- Hum... Pode entrar, pegue um remo e...
Brísida:
- Não vou entrar nesta.
Diabeliquete (1):
- Já começou o ritual...
Brísida:
- Não estou procurando esta barca.
Diabeliquete (1):
- E o que você traz contigo?
Brísida:
- O que me convém.
Diabeliquete (2):
- O que te convém?
Brísida:
- Muitas falsas virgindades, assim como mentiras, falsidades, alguns
roubos e traições. Várias jóias e tantas moças que vendi.
Diabo:
- Pode entrar, então.
Brísida:
- Ei! Sai fora! Eu vou para o paraíso!
Diabo:
- Quem disse?
Brísida:
- Lá é meu lugar! Eu sou um mártir! Quantas bofetadas levei?! E
quantos insultos?! Quanto sofrimento resisti?! Se eu for para o inferno,
todo mundo vai! Porque uma vida mais sofrida eu nunca vi! Aquela
barca é meu transporte, com licença!
Brísida:
- Olá! Aqui chega Brísida Vaz! Com licença, deixe-me entrar!
Anjo:
- Ei! Não sei quem te trouxe aqui, mas: meia volta!
Brísida:
- Oh! Não! Te peço de joelhos! Procure bem nesta lista! Sou eu, Brísida!
Aquela que dava o pão de cada dia às meninas! Quantas obras
divinas eu fiz?! Eu converti tantas garotinhas! Todas encontraram
dono!
Angeliquete (2):
- Pare de nos importunar!
Brísida:
- Você vai me levar!
Angeliquete (2):
- Xô, xô! Pare de nos encher!
A garota retorna À barca do inferno, lamentando muito
Brísida:
- Estou aqui! Pode me levar de uma vez!
Diabo:
- Ora, pode entrar senhorita. Se você diz que teve vida santa, você
sentirá a recompensa, em breve!
ATO 8
Chega um judeu e vai até a barca do inferno:
Judeu:
- Olá! Marinheiro?!
Diabeliquete (2):
- Sim?
Judeu:
- De quem é esta barca? Deixe-me ir nela, tome alguns trocados.
Diabeliquete (2):
- Esse bode também entrará?
Judeu:
- Sim, ele tem que vir!
Diabeliquete (2):
- Chefe, deixo o bode entrar?
Diabo:
- O bode não.
Judeu:
- Tome mais alguns trocados, acho que isto resolve. Ou preciso dar
mais?
Diabo:
- Nem o bode, nem a besta entra mais aqui!
Judeu:
- Por que eu não posso ir à barca?! Na barca em que Brísida Vaz está
indo?!
Diabo:
- Porque não tenta ir na barca ao lado?
Parvo:
- NÃO!!! Ele merece entrar aí mesmo. Fez tanta besteira! Você sabe
disso! Ela roubou, mijou nos mortos da igreja de São Gião e comeu
carne de panela no dia de Nosso Senhor. Se bobear vai até mijar aqui
na barca.
Diabo:
- É… pelo jeito você não tem por onde ir.
Judeu:
- Mas….
Diabo:
- Ok, como eu sou benevolente deixo você neste barquinho que é
levado pela minha barca. Então entre de uma vez judeu! E pode levar
este bode também.
ATO 9
Chega um Corregedor cheio de papéis, com uma vara na mão, e chegando à barca
infernal diz:
Corregedor:
- Ô da barca!
Diabeliquete (2):
- O que quer?
Corregedor:
- Sou um juiz!
Diabeliquete (2):
- E quantas coisas você traz!
Corregedor:
- São muitos casos de Direito, aqui nos papéis.
Diabeliquete (2):
- Pois entre, daí eu verei estes casos.
Corregedor:
- E para onde me levaria?
Diabeliquete (2):
- Para o inferno!
Corregedor:
- À terra dos demônios há de ir um corregedor?
Diabeliquete (1):
- Entre logo! E pegue um remo!
Corregedor:
- Isto não é nada justo! Eu protesto!
Diabeliquete (2):
- Que justo o que! Entre e pegue um remo! Entre e encare seu destino!
Corregedor:
- Não, obrigado. Renego a viagem. Renego o marinheiro também! Exijo
alguém para me levar daqui!
Diabo:
- Você não pode exigir nada aqui!
Corregedor:
- Não consigo entender o que acontece aqui! Isso não pode ser!
Diabo:
- Ande logo, corregedor! E pare de usar essas palavras difíceis!
Corregedor:
- Não entrarei nesta caravela!
Diabo:
- Não aceitou suborno na vida? Esta é sua barca!
Corregedor:
- Senhor! Lembra-te de mim!
Diabo:
- Entre na barca corregedor! Você agiu com malícia! Entre porque já
não há mais tempo!
Corregedor:
- Sempre agi com justiça!
Diabo:
- E como você explica as joias dos judeus que sua mulher usava?!
Corregedor:
- Ei! Estes são pecados dela, não meus!
Diabo:
- Você enriqueceu à custa dos pobres! Com tirania, roubou dos
pequenos, não os atendeu! Se não temeu a Deus em vida, aqui é seu
lugar!
ATO 10
Chega um procurador carregado de livros
Corregedor:
- Olá senhor procurador!
Procurador:
- Senhor juiz!
Diabeliquete (1):
- Este será um bom remador! Entre na barca!
Procurador:
- E para onde vai esta barca, senhor?
Diabeliquete (1):
- Para as terras infernais.
Procurador:
- Há uma caravela bem melhor ali do outro lado.
Diabo:
- Chega de conversa! Entrem, todos.
Corregedor:
- Você se confessou, procurador?
Procurador:
- Não... nunca imaginaria que aquela doença me mataria! E você? Se
confessou?
Corregedor:
- Eu bem que confessei, mas não tive coragem de falar de meus
roubos!
Diabo:
- Estão vendo? Os dois estão condenados! Por que hesitam em entrar?
Corregedor:
- Por que esperamos em Deus!
Vão ao barco da glória, enquanto o diabo gritava pra entrar no barco, e então o
corregedor diz ao anjo:
Corregedor:
- Criatura celestial, deixe-nos embarcar!
Anjo:
- Oh! Vocês foram odiosos e corruptos com todos!
Corregedor:
- Tenham piedade de nós! Deixe-nos entrar!
Parvo:
- Você aceitava coelhos e aves como propina!
Corregedor:
- Por favor, anjo! Nos aceite!
Angeliquete (1):
- A justiça divina diz que vocês devem ir à outra barca!
Corregedor:
- É esta a sentença?!
Procurador:
- Mas qual sentença?!
Parvo:
- Que embarque na barca infernal!
Corregedor:
- Vamos entrar neste barco negro, não há o que fazer!
Procurador:
- Não há o que fazer!
Diabeliquete (1):
- Entre, entre!
Corregedor:
- Que momento ruim senhora!
Brísida:
- É tempo de fazer o que a justiça manda.
ATO 11
Chega um homem que morreu enforcado.
Diabo:
- Venha enforcado, entre. O que te disse o delegado, antes de você
morrer?
Enforcado:
- Ele me disse que sou santo canonizado porque morri como pássaro
em armadilha.
Diabo:
- Venha e você governará, até as portas do inferno!
Enforcado:
- Esta não é minha barca!
Diabo:
- Como não?! Você foi sentenciado!
Enforcado:
- Se meu delegado disse que os que morrem como eu estão livre de
Satanás, e que Deus me acolheria, esta não é minha barca!
Diabeliquete (2):
- Por tudo que você fez, deve ir ao inferno.
Enforcado:
- Me disseram que eu iria para o paraíso.
Diabeliquete (2):
- Não te falaram em cumprir penas? No purgatório?
Enforcado:
- Meu sofrimento na prisão já valeu como purgatório.
Diabo:
- Pois saiba que não foi o suficiente. Você deve entrar!
Enforcado:
- Se é assim, entro...
Diabo:
- Este sim foi bom embarcar! Preparem-se a viagem começará logo!
ATO 12
Chegam quatro cavaleiros que morreram por Cristo, com espadas e escudos,
cantando:
Cavaleiros:
- Vamos, vamos à barca segura!
Fugir da barca perdida!
Vamos, vamos à barca da vida!
Todos que por Deus trabalharam na vida passageira
Entrem na barca divina!
Para a barca, vamos à barca, mortais!
Mas se a vida foi perdida, também é a barca da vida!
Mas cuidado pecadores
Depois da vida há prazeres ou dores!
Vamos para a barca!
Barca nobríssima! À barca! À barca da vida!
Passam pela barca do inferno
Diabo:
- Para onde vão?
Cavaleiros (1):
- Você não faz ideia? Nem sequer nos conhece bem!
Diabo:
- Deixa disso, entrem aqui!
Cavaleiros (2):
- Quem morre por Jesus Cristo, nunca merecerá isto!
Anjo:
- Santos cavaleiros, estava esperando por vocês! Morreram em nome
de Deus, por isso são livres do mal! Quem morre em tal batalha contra
o mal merece paz eterna!
E assim embarcaram.