Rinaldo Costa

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INSTITUTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM MATEMÁTICA


PROFMAT-SBM

RINALDO DINIZ COSTA

CRITÉRIO DE DIVISIBILIDADE
NO ENSINO BÁSICO

RIO DE JANEIRO
2014

RINALDO DINIZ COSTA


CRITÉRIO DE DIVISIBILIDADE
NO ENSINO BÁSICO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Programa de Mestrado Profissional em Matemática do
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (PROFMAT-
SBM) para obtenção do grau de Mestre em
Matemática.

Orientador: Carlos Gustavo Moreira

RIO DE JANEIRO
2014
AGRADECIMENTO

Agradeço a Jesus de Nazaré pela Sua Presença em minha vida trazendo todo estímulo

suficiente para apresentação deste trabalho.

Agradeço a minha esposa Marize Fernandes Costa pela minha matrícula no Impa

que deu origem a este trabalho.

Agradeço aos Professores do Impa sempre pacientes e dedicados comigo e com meus

colegas.

Agradeço ao Professor Carlos Gustavo Moreira (Gugu) pela orientação eficaz e

estimuladora que recebi.

Agradeço aos meus colegas, sempre dispostos para ajudar.

Agradeço a cada aluno que sempre reage muito bem toda vez que apresento este

“Critério Único de Divisibilidade”.

Muito obrigado!
SUMÁRIO

1. Resumo

2 Introdução.

2.1 Por que ensinar Matemática?

2.2 Motivação para a escolha deste trabalho.

2 Experiência com este trabalho em sala de aula.

3 Objetivos

4 Metodologia/Fundamentação Teórica

5 Bibliografia
1. Resumo

Neste trabalho apresentamos um critério de divisibilidade geral, que fornece de um modo


prático o resto da divisão de qualquer inteiro positivo por um dado inteiro positivo n, baseado
nos restos das divisões das potências consecutivas de 10 por n. Discutimos também a
periodicidade dessa sequência de restos das divisões das potências consecutivas de 10 por n.
Apresentamos ainda diversos exercícios e problemas resolvidos que usam as ideias e métodos
deste trabalho.

Abstract.
We present a general criterion of divisibility, which provides in a practical way the remainder
of the division of any positive integer for a given positive integer n, based on the remainders
of the divisions of the consecutive powers of 10 by n. We also discuss the periodicity of this
sequence of remainders of the divisions of the consecutive powers of 10 by n. We also present
several exercises and problems solved using the ideas and methods of this work.
2. Introdução

Com frequência nas turmas preparatórias visando concursos públicos há alunos que
perguntam se há algum critério que verifique se um número é ou não múltiplo, por exemplo,
de 17; 19; 23; 29; etc. Também perguntam, caso não seja múltiplo qual é o resto apresentado
nesta divisão.
Na verdade, o que o aluno está perguntando é “existe algum critério de divisibilidade
por 17; 19; 23; 73; etc.”? . Nesta hora se vê em geral a falta de resposta por parte do
professor, mesmo que tenha muitos anos de experiência no magistério e podendo até ser um
especialista em Aritmética.
Por falta de resposta, o aluno deste segmento, que costuma ser muito interessado,
recorre ao “Dr. Google”. Nesta pesquisa encontra algum tipo de resposta
“Um número é divisível por 17 quando o quíntuplo (5 vezes) do último algarismo,
subtraído do número que não contém este último algarismo, proporcionar um número
divisível por 17. Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa
verificar a divisão por 17.”
‘’ Um número é divisível por 19 quando ( 2 vezes) do último algarismo, somado ao
número que não contém este último algarismo, proporcionar um número divisível por 19. Se
o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa verificar a divisão
por 19.”
‘’ Um número é divisível por 23 quando o sétuplo (7 vezes) do último algarismo,
somado ao número que não contém este último algarismo, proporcionar um número divisível
por 23.Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa verificar a
divisão por 23.”
“Um número é divisível por 29 quando o triplo (3 vezes) do último algarismo,
subtraído do número que não contém este último algarismo, proporcionar um número
divisível por 29. Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa
verificar a divisão por 29.”
Pode-se verificar se o número tivesse grande quantidade de algarismos então haveria
necessidade de repetir este processo tantas vezes que este método apresentado talvez se
tornasse pouco interessante.
2.1 Por que ensinar Matemática?

Ensinar traz na origem de sua palavra: “insignare; sinal, marcar”. Quem ensina marca.
O Magistério é marcante. Para ser ensinado é preciso deixar-se marcar, é preciso querer, pois
a mente não alcança aquilo que o coração não deseja.
Dentre as disciplinas apresentadas “a Matemática é a única em que a geração que
chega não desmente o que foi dito pela geração anterior.”
A Matemática “afina o ouvido” do aluno. Normalmente, ouvem-se coisas que não
foram ditas e não se considera aquelas mencionadas, por mais ênfase que se dê ao texto. A
Matemática torna o aluno mais atento. É bastante frequente um bom aluno em Matemática ser
bom nas outras disciplinas. Porém a recíproca não é verdadeira com a mesma frequência.
Vê-se, muitas vezes, que na reunião de professores de Matemática, em algum momento,
surgirá alguém apresentado “um probleminha”, mesmo não sendo a hora e o lugar
apropriados. Os parentes dos professores podem testemunhar isto.
Muitos professores de Matemática são inspiração para que seus alunos façam
Licenciatura em Matemática. É muito bom ver alguém fazendo aquilo que gosta.
Normalmente o aluno verá, na maioria das vezes, pessoas usando a profissão com o propósito
maior de levar vantagem e obter vantagens econômicas. Ser professor é privilégio.
“A Matemática oferece-nos um conjunto singular de ferramentas poderosas para
compreender e mudar o mundo. Estas ferramentas incluem o raciocínio lógico, técnicas de
resolução de problemas, e a capacidade de pensar em termos abstratos.”
A Matemática ensina ao aluno a arte: de argumentar, de contra-argumentar, de buscar e
exemplos e contra exemplos, de usar os conectivos de forma certa e oportuna.
2.2 Motivação para escolha deste trabalho.

Um dos objetivos do Ensino Matemático é gerar um cidadão que consiga ser um


crítico responsável, então à medida que se possa, deve-se apresentar resposta às perguntas
feitas em sala de aula e a existência de critérios de divisibilidade para determinados números,
principalmente números primos, é uma destas perguntas frequentes que acabam ficando sem
respostas.
As soluções apresentadas pelo “Dr. Google” embora costumem vir sem demonstração
e sejam pouco práticas para diversas situações, acabam sendo utilizadas pelo professor,
devido à falta de resposta para as perguntas apresentadas em sala de aula quando o assunto é
divisibilidade por números não encontrados nos livros didáticos que tratam da matéria.
A falta de um critério que alcance outros números só não é sentida com maior
intensidade por não haver exercícios relacionados ao tema propostos nos livros cujos autores
não apresentam base teórica para resolvê-los.
Muitas vezes para resolver algum exercício cuja base teórica não é suficiente, é
fornecida alguma informação auxiliar, sem a qual o problema não seria resolvido.
A escolha deste trabalho tornará este novo olhar sobre a Divisibilidade mais
conhecido, embora já venha sendo feito em sala de aula há algumas décadas.
2. Experiência com este trabalho em sala de aula.
Problemas apresentados em sala de aula, cuja solução não surge através dos critérios
vistos nos livros didáticos.
Problema 1
O número 111... 111 com o algarismo 1 aparecendo 6n vezes é divisível por 91 ?
Problema 2
O número 111... 111 com o algarismo 1 aparecendo 5n vezes é divisível por 41?
O número 111 ... 111 com o algarismo 1 aparecendo 3n vezes é divisível por 37?
(Extraídos do Livro Problemas Selecionados de Matemática, pag.377. Autor Antonio
Luiz Santos, (Gandhi))
Problema 4
Qual o valor de n de modo que o número 12345n789 seja divisível por 91?
(Extraído do livro Praticando a Aritmética, pag. 154. Autor: Jose Carlos Admo
Lacerda, (Lacerda))
Estes exercícios foram propostos em sala, pois estes dois livros fazem parte da
biblioteca obrigatória de qualquer aluno que esteja se preparando para os concursos militares.
Estes problemas surgiram juntos como um desafio, não só para alunos como também para
professores independente da experiência no magistério que cada um possa ter.
Resolução em sala, sob o ponto de vista prático, como fazer sem a preocupação
teórica que o assunto exige apenas na perspectiva da realização de uma prova de múltipla
escolha; mais adiante todo o embasamento matemático será apresentado:

Problema 1
N= ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
r ... -9 -10 -1 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
91
... -9 -10 -1 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
RN
91

2ª linha: r = os restos de 10n  91


91
3ª linha: os algarismos de N multiplicados pelo número abaixo

R N = a soma dos valores da 3ª linha, com 6n parcelas = ZERO.


91
Se soma for igual a algum múltiplo de 91então o número N será múltiplo de 91.
Visivelmente de 6 em 6 a soma vale ZERO logo N é divisível por 91.
Problema 2
N= ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
r ... 18 10 -4 16 18 10 1 -4 16 18 10 1
41
-4 16 18 10 1
RN
41

Visivelmente de 5 em 5 a soma, com 5n parcelas, vale ZERO logo N é divisível por 41.

Problema 3
N = ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
r ... -11 10 1 -11 10 1 -11 10 1 -11 10 1
37
... -11 10 1

Visivelmente de 3 em 3 a soma vale ZERO, e como apresenta 3n parcelas é divisível por 37.

Problema 4
N= 1 2 3 4 5 n 7 8 9
r 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
91
9 20 3 -36 -50 -n 63 80 9
RN
91

R N  184  86  n  M  7   0, 91, 182,...


91
184  86  n  91
98 n 91
n7
3. Objetivos

Estabelecer de forma bastante clara tanto para alunos como para professores um
Critério Único de Divisibilidade que possa ser usado para no Ensino Básico, particularmente
para os candidatos aos concursos militares no nível de 9º ano.
Para que seja possível estabelecer esta forma de ver a divisibilidade, tanto na
prática quanto academicamente, será apresentada base matemática, que tornará este trabalho
em uma tese matemática.
No desenvolvimento deste novo olhar surgirá uma maneira bastante simples para
provar os critérios já existentes, visto que este trabalho não nega nenhuma afirmação
publicada na literatura que trata do tema.
A fundamentação teórica pode ser encontrada no livro TÓPICOS DE TEORIA
DOS NÚMEROS dos autores Carlos Gustavo T. de A. Moreira (Gugu), Fabio E.
Brochero Martinez e Nicolau C. Saldanha. Coleção PROFMAT. Sociedade Brasileira de
Matemática.
4. Metodologia e demonstrações

Para que haja uma base sólida e suficientemente capaz de sustentar os fundamentos
necessários para a apresentação deste trabalho, serão abordados os seguintes tópicos.

4.1 Sejam a, b, n  com n  0 . Diz-se que a é congruente a b módulo n e escreve-se


a  b (mod n) se n | a  b ,ou seja, a e b deixam o mesmo resto quando divididos por n.
De fato, note que se a  nq1  r , b  nq2  r , com q1,q 2 ,r  então a  b  n(q1  q2 ) é

múltiplo de n; por outro lado, se a  nq1  r1 , b  nq2  r2 , com q1,q 2 ,r1 ,r2  , 0  r1 , r2  n e

n | a  b então n | n(q1  q2 )  r1  r2 , donde n | r1  r2 , e logo r1  r2 .


Exemplos: 17  3 (mod 7) , 10   5 (mod 3) .

Dados a, b, c, d , x, y,q1, q2 , q  , d  0 , q  0 tem-se:

4.2 d | a , d | b  d | ax  by
Demonstração
Se d | a , d | b  a  dq1 , b  dq2

 ax  dxq1 , by  dyq2  ax  by  d (xq1  yq2 )

como (xq1  yq2 )   (ax  by) é múltiplo de "d"  d | ax  by .

4.3 d |a  a 0  d  a

Demonstração
Se a  0  d | a , pois zero é múltiplo de qualquer inteiro.

Se a  0, a  dq como q  0 então q  1 e a  d q  d  d  a .

4.5 a | b, b | c  a | c
Demonstração
Se a | b e b | c então  q 1 , q 2  tais que b  aq1 e c  bq2
logo c  aq1q2 então a | c.
4.6 Se a  b(mod n),c  d (mod n) então a  c  b  d (mod n) .
Demonstração
De fato, se a  nq1  r , b  nq2  r , c  nq3  r ' , d  nq4  r ' com q1,q2 , q3 ,q 4 , r, r'  ,

então a  b  n(q1  q2 ) , e logo a  b é múltiplo de n. Da mesma forma, c  d  n(q3  q4 ) e

c  d é multiplo de n .
Concluímos que (a  b)  (c  d ) é múltiplo de n ,porém (a  b)  (c  d )  (a  c)  (b  d ) .
Portanto (a  c)  (b  d ) é múltiplo de n , ou seja, a  c  b  d (mod n) .
Finalmente... Se a  b (mod n) , c  d (mod n) então a  c  b  d (mod n)

4.7 Se a  b (mod n)  ac  bc (mod n)


Demonstração
Temos que a  nq1  r , b  nq2  r

logo ac  c(nq  r ) , bc  c(nq  r )


1 2
então ac  bc  cn(q1  q2 )

ou seja ac  bd é múliplo de n logo


ac  bc (mod n)

Finalmente... Se a  b (mod n) então ac  bc (mod n) .


Além disso, se a  b (mod n) , c  d (mod n) então ac  bd (mod n)

De fato, pelo que provamos acima, temos ac  bc  bd (mod n) .


(as demonstrações de 4.2 até 4.7 foram extraídas da pag.40, Gugu)

N  (a a  k
4.8 Seja ...a a )  ak 10 ,ou seja, N é um número de (n+1)
n n 1 1 0 10
0 k  n
algarismos, na base 10.

4.9 Se 10k  r (mod p)  a 10k  a r (mod p) sendo


k k kk

r  o resto da divisão (10k  p)


k
k
então (  ak 10 )  (  ak rk ) (mod p)
0 k  n 0 k  n

Finalmente...
N  (a a ...a a )  ( k k
 ak 10 )  (  ak rk ) onde r é o resto da divisão (10  p)
n n 1 1 o k
0 k  n 0 k  n

4.10 Análise dos períodos das sequências dos restos das divisões das potências
sucessivas de 10 por um dado inteiro positivo.

Começaremos com uma definição importante para estudar potências de um dado inteiro a (no
nosso caso estamos particularmente interessados no caso a=10) módulo um dado inteiro
positivo n:

Dados n  * e a   com mcd (a, n) = 1, definimos a ordem de a módulo n, ordn a como


sendo o menor inteiro positivo t tal que at  1(módulo n).

Proposição: {t  *a t  1(módulo n)}={k.ord n a, k  *}.

Demonstração: Como a ordn a  1 (módulo n), para todo k   tem-se


a k .ordn a  (a ordn a ) k  1k  1 (módulo n). Por outro lado, se t  ℕ, at  1 (módulo n), existe
k   com t  k  ord n a  r ,0  r  ord n a  a t  a k .ordn a  a r  1.a r  a r (módulo n) 
a r  1 (módulo n), portanto r = 0 ( pois 0 < r < ord n a contradiria a minimalidade de ord n a ),
e t = k. ord n a 

Proposição: O número de restos distintos na divisão por n dos números at, com t natural
coincide com o período da sequência desses restos, e é igual a ord n a.

Demonstração: Para todo a inteiro com mdc (a, n) = 1 temos que os ord n a números
1, a, a2,..., a ordn a 1 são distintos (módulo n) pois ai  aj (módulo n), com 0  i < j < ord n a 
aj–i  1 (módulo n) com 0 < j – i < ordna, absurdo. Como, para k inteiro e 0  r  ordn a ,
ak .ordnar  ak .ordna  a r  1 a r  a r (módulo n), o resultado segue.

Note que se n é primo com 10, isto é, se não é múltiplo de 2 nem de 5 então a sequência dos
restos das divisões das potências sucessivas de 10 por n é periódica e o tamanho de seu
período é ordn 10.

4.11 Seja p um número primo. Há p-1 números primos com p e menores que p.

Seja p≠2 e p≠5. Tem-se que 10 e p são primos entre si.

Nestas circunstâncias (10 p1  p) deixa resto 1 (pelo Pequeno Teorema de Fermat).

Portanto, se k  ord n (a) então (10k  p) deixa resto 1 e k é um divisor de p-1.


Exemplos: rk representa o resto da divisão (10k  p)

10k ... 1011 1010 109 108 107 106 105 104 103 102 101 100
r ... r11 r10 r9 r8 r7 r6 r5 r4 r3 r2 r1 r0
k

Exemplo 1: para p=13


Múltiplos de p: (13, 26, 39, 52, 65, 78, 91, 104, 117, 130,...)
10k 1011 1010 109 108 107 106 105 104 103 102 101 100
r ... 4 3 -1 -4 -3 1 4 3 -1 -4 -3 1
k

(1012  p) deixou resto 1 assim como (106  p) também deixou resto 1

Ou seja 1012  1 (mod 13) , 106  1 (mod 13)

O período dos restos, r , para p=13 vale 6 sendo este um divisor de 12, visto que há 12
k
números primos com 13 e menores que 13.

Exemplo 2: para p=37


Múltiplos de p: (37, 74, 111, 148, 185, 222, 259, 296, 333, 370,...)
10k ... 1011 1010 109 108 107 106 105 104 103 102 101 100
rk ... -11 10 1 -11 10 1 -11 10 1

Há 36 números primos com 37 sendo menores que 37. O período dos restos é igual a 3, sendo
3 um divisor de 36.

Exemplo 3: para p=41


Múltiplos de p: (41, 82, 123, 164, 205, 246, 287, 328, 369, 410,...)
10k ... 1011 1010 109 108 107 106 105 104 103 102 101 100
rk ... 10 1 -4 16 18 10 1 -4 16 18 10 1

Há 40 primos com o 41, menores que 41, e o período dos restos é 5, sendo 5 um divisor de 40.
4.12 Se p1 , p2 , p3 , ..., pk são primos diferentes de 2 e 5 e 1 ,  2 , 3 , ...,  k são

naturais então 10k é congruente a 1 módulo p11 p22 p33 ...pk k se, e somente se 10k é
j
congruente a 1 módulo p j para todo j  k . Isso nos leva à seguinte conclusão:

O período da sequência dos restos da divisão (10k  p11 p22 p33 ...pk k ) ,

que é sempre igual a ord p 1p 2 p 3 ...p k 10 , é igual ao mmc entre


1 2 3 k

os períodos nas divisões por p11 , p22 , p33 , ..., pk k .

Exemplo 4:

Para p=119=7×17, o período dos restos de 10k por 7 tem 6 termos , o período por 17 tem 16
termos e portanto o período por 119 é mmc(6;16)  48 . Vejamos:
(7, 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 63, 70,...)
congruência (mod 7)
100  1 101  3
102  30  2 103  20  1
104  10  3 105  30   2
106  20  1
O período apresentou 6 termos .

Para determinar o período nas divisões por 17 o seguinte fato será útil:
Se alguma potência de 10 for congruente a -1 módulo n então a quantidade de termos do
período dos restos será igual a 2m, onde m é tal que 10m ≡ −1 pela primeira na sequências das
divisões.
(17, 34, 51, 68, 85, 102, 119, 136, 153, 170,...)
congruência (mod 17)
10  1
0
101  10
102  2 103  20  3
104  30  4 105  40  6
106  60  8 107  80  5
108  50  1
O período vale apresentou 8×2=16 valores.

(119, 238, 357, 476, 595, 714, 833, 952, 1071, 1190,...)
congruência (mod 119)
100  1 101  10 10 2  100  19
103  190  48 104  480  4 105  40
106  400  43 107  430  46 108  460  16
109  160  41 1010  410  53 1011  530  54
1012  540  55 1013  550  45 1014  450  26
1015  260  22 1016  220  18 1017  180  61
1018  610  15 10  150  31 10 20  310  47
19

1021  470  6 1022  60 10 23  600  5


1024  50 10  500  24 1026  240  2
25

1027  20 10 28  200  38 10 29  380  23


1030  230  8 1031  80  39 1032  390  33
1033  330  27 1034  270  32 1035  320  37
1036  370  13 1037  130  11 1038  110  9
1039  90  29 10 40  290  52 10 41  520  44
1042  440  36 1043  360  3 1044  30
1045  300  57 1046  570  25 10 47  250  12
1048  120  1
4.13 Período e pré-período
Se na decomposição em fatores primos do número n pelo qual vamos dividir as potências 10k
aparecer os números 2 ou 5 , então existirá um pré-período e quantidade de termos deste
pré-período será igual ao maior dos expoentes de 2 e 5.

De fato, se n  2 5 m , com mdc(m,10)=1, então 10k  0 (mod 2 ) para todo k   e

10k  0 (mod 5 ) para todo k   . Após esse pré-período, a sequência dos restos ficará
periódica, e o período terá ord m10 termos.

Exemplo: 10k  (23.52.7), ou seja, 10k 1400


(1400, 2800, 4200, 5600, 7000, 8400, 9800, 11200, 12600, 14000,...)
congruência (mod 1400)
100 1 101 10 102 100
103 1000400 104 4000 200 105  2000600
106 6000 400 107  4000200 108 2000600
109 6000400
Pré-Período: (100;10;1) Período: (−600; −200; 400; 600; 200; -400)

Aplicação: Seja o número N=5555... 5678 formado por 100 algarismos 5 seguidos por 6,7, e
8, quando dividido por 72 deixa qual resto?
(72, 144,216, 288, 360, 432, 504, 576, 648, 720,792,864,936,1008,1080)
N ... 5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 7 8
rk −8 −8 −8 28 10 1

N
R72 −40 −40 −40 168 70 8

72=8×9=23.9
Pré-período: 3 números Período : 1 número pois este é o período do 9
congruências (mod 72)
N
R72  100.(40)  168  70  8 100  28 168  24 70  8  6
N
R72  28.  40   24  6  1090  10  62 (mod 72)

Resposta: N ÷72 deixa resto 62


4.14 A quantidade de números primos com um número natural N e menores que N é
  
representada por  ( N ) . Seja N  p 1 . p 2 ... p k . Temos
1 2 k
  1   1   1
  N  = ( p 1  p 1 ).( p 2  p 2 )...( p k  p k )
1 1 2 2 k k

O Teorema de Euler diz que, para todo natural N e todo inteiro a primo com N, temos
 N 
a  1 (mod N ) .
Uma consequência desse teorema é que se mdc(a,N)=1 sempre temos ord n a |  ( N ) .
Podemos melhorar um pouco este resultado: pelo que vimos anteriormente, temos sempre
ord n a | mmc(ord p1 a,ord p2 a,...,ord pk a) | mmc( p11  p11 1, p22  p22 1,..., pkk  pkk 1 ).
1 2 k

Note que mmc( p11  p11 1 , p22  p22 1 ,..., pkk  pkk 1 ) é sempre um divisor de  ( N ) ,

e na maior parte das vezes é um divisor próprio de  ( N ) .

Exemplos:
Primos com N, menores que N.

Com 30,   30  | 1,29,7,23,11,19,13.17 | 8 .

Por outro lado, 30  21.31.51 e (21  20 ).(31  30 ).(51  50 )  1.2.4  8 .

Primos com 360, menores que 360.

360  23.32.51
  360 (23  22 ).(32 31).(51 50 ) 4.6.496

Quando N=p é primo, temos:   p   ( p1  p0 )  p  1

Uma aplicação da noção de   N  :

Qual o resto de (398  10) ?


 10     25    2    5  (2  1)(5  1)  4; D(4)  1,2,4
31 3 (mod 10) 32 9 (mod 10) 34 1 (mod 10)

 
24 2
logo 398 (mod 10)  34 . 3  124 (mod 10) . 32 (mod 10)  1.9  9

Resposta: O resto é 9.

4.11 Exercícios resolvidos:

Ex: O número N= xxx...x é formado por 1000 algarismos todos iguais a x e quando dividido
por 17 deixa resto 5 e o número M=yyy...y formado por 1000 algarismos todos iguais a y e
quando dividido por 17 deixa resto 2. Qual o valor de y−x?
x x x x x x x x x x x X x x x x

−5 −9 −6 −4 3 2 −10 −1 5 9 6 4 −3 −2 10 1

−5x −9x −6x −4x 2x 2x −10x −1x 5x 9x 6x 4x −3x −2x 10x 1x

Vê-se que a soma dos 16 elementos da 3ª linha vale zero, ou seja, o número formado por 16
algarismos iguais a 1 representa um múltiplo de 17, da mesma forma um número formado por
32 algarismos x, por 48 algarismos x,..., por 992 algarismos x, representa um múltiplo de 17.
O número N é formado por 8 algarismos x, seguidos de 992 algarismos x, logo N dividido por
17 deixa o mesmo resto que (5x+9x+6x+4x−3x−2x+10x+1x) deixará quando dividido por17 ,
ou seja, deixa resto 30x÷17, e portanto deixa resto13x.
Deseja-se que N quando dividido por 17 deixe resto 5, então 13x deverá ser um múltiplo de
17 mais 5 unidades, ou seja: 13x=17k+5 (1≤x≤9 e k∈ℕ) o único valor para x é 3.
Deseja-se que M quando dividido por 17 deixe resto 2, então 13x deverá ser um múltiplo de
17 mais 2 unidades, ou seja: 13y=17k+2 (1≤y≤9 e k∈ℕ) o único valor para y é 8.
Finalmente y−x=8−3=5.

Ex: Qual o resto da divisão de 15051952 por 13?


1 5 0 5 1 9 5 2
−3 1 4 3 −1 −4 −3 1(sempre)
−3 5 0 15(ou2) −1 −36(ou3) −15(ou−2) 2
10÷13 deixa resto 10 ou resto −3 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de −3)
−30 ÷ 13 deixa resto −4 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de −4)
−40 ÷ 13 deixa resto −1 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de −1)
−10÷13 deixa resto −10 ou resto 3 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de 3)
30÷13 deixa resto 4 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de 4)
40÷13 deixa resto 1 (linha seguinte: colocar 1 zero à direita de 1)
10÷13 deixa resto 10 ou resto −3.
Quando o módulo do número da 3ª linha da tabela for maior que 13 então se substitui este
número pelo resto da divisão dele por 13.
15÷13 deixa resto 2; −36÷13 deixa resto −10 ou 3; −15÷13 deixa resto −2.
Resp.: −3+5+0+2−1+3−2+2=6
(verificação:15051952÷13=1157842 e deixa resto 6)

4.12 Este algoritmo para verificar a divisibilidade implica os critérios existentes nos livros
didáticos de uma forma muito simples.

Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 3 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 1(sempre)
Soma +a +b +c +d +e +f +g +h

“Um número é múltiplo de 3 quando a soma dos seus algarismos for múltipla de 3” , como
mostra a tabela acima.

Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 11 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
−10→−1 10→1 −10→−1 10→1 10→−1 −10→1 10→−1 1(sempre)
Soma −a +b −c +d −e +f −g +h

“Um número é divisível por 11 quando a diferença entre a soma dos algarismos de ordem
impar e a soma dos algarismos de ordem par formar um número múltiplo de 11”, ou seja,
como mostra a tabela acima.
Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 5 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
0 0 0 0 0 0 10→0 1(sempre)
Soma 0 0 0 0 0 0 0 +h

“Um número é múltiplo de 5 quando terminar em zero ou 5”, ou seja depende apenas do
ultimo algarismos, este deverá ser múltiplo de 5, isto é, deverá ser zero ou 5, como mostra a
tabela acima.

Exemplo: o número abcdef é múltiplo, por exemplo, de 7 quando a soma for múltipla
a b c d e f
−30 (−2) −10 (−3) 20 (−1) 30 (2) 10 (3) 1(sempre)
soma −2a −3b −1c +2d +3e +1f

Se a soma: −2a−3b−1c+2d+3e+1f é múltipla de 7, então −2a – (98a) −3b – (7b) −1c + 2d +


(98d) + 3e+ (7e) + 1f permanecerá múltipla de 7, pois somou-se apenas múltiplo de 7, porém
a nova soma será (100d+10e+1f) – (100a+10b+c), ou seja, a diferença: def−abc deverá ser
múltipla de 7, resultando na conclusão de que o seu resto na divisão por 7 é igual ao resto da
diferença entre sua classe ímpar e sua classe par, como é apresentado em alguns livros
didáticos.

4.13 Resumindo, o critério geral de divisibilidade funciona da seguinte forma:


Este critério único, ou seja, o critério de divisibilidade pelo número inteiro n depende
fundamentalmente da 2ª linha da tabela elaborada que se determina durante a resolução do
exercício, não havendo necessidade de memorizá-la.
Destaca-se que abaixo do algarismo das unidades simples sempre estará o 1. Abaixo das
dezenas simples sempre estará o resto r1 da divisão de 10 por n. Abaixo das centenas simples
estará o resto r2 da divisão de (10.r1÷n, deixando resto r2). Abaixo das unidades de milhar
estará o resto r3 da divisão de (10r2÷n, deixando resto r3) e assim sucessivamente.
Dado um inteiro positivo qualquer, ele deixará o mesmo resto na divisão por n que a soma de
seu algarismo das unidades com o produto do seu algarismo das dezenas multiplicado por r1,
com o produto de seu algarismo das dezenas por r2, e assim sucessivamente.
A tabela abaixo reúne as informações desta conclusão.

O número... gfedcba dividido por n:

g f e d c b a
Por 0 0 0 0 0 10→0 1
2
Por 1 1 1 1 10→1 10→1 1
3
Por 0 0 0 0 20→0 10→2 1
4
Por 0 0 0 0 0 10→0 1
5
Por 4 4 4 4 40→4 10→4 1
6
Por −20→1 −30→−2 −10→−3 20→−1 30→2 10→3 1
7
Por 0 0 0 40→0 20→4 10→2 1
8
Por 1 1 1 1 10→1 10→1 1
9
Por 1 −1 1 10→−1 −10→1 10→−1 1
11
Por 4 4 4 40→4 −20→4 10→−2 1
12
Por 1 4 3 −40→−1 −30→−4 10→−3 1
13
Por 60→−8 40→6 −30→4 −20→−3 −70→−2 10→−7 1
17
Por 30→−8 60→3 −70→6 50→−7 −90→5 10→−9 1
19
5. Bibliografia
Carlos Gustavo T. de A. Moreira (Gugu), Fabio Martinez, Nicolau Saldanha. Tópicos de
Teoria dos Números. Coleção PROFMAT. Editora SBM. Rio de Janeiro.

Bezerra, Manoel Jairo. Questões de Matemática. Companhia Editora Nacional.,1976. São


Paulo.

Santos, Antonio Luiz. (Gandy) Problemas Selecionados de Matemática. Editora Moderna


Ltda. 2006. Rio de Janeiro.

Lacerda, José Carlos Admo. Praticando a Aritmética. Editora: Dissonnarte 4ª edição, 2010.
Rio de Janeiro.

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