Rinaldo Costa
Rinaldo Costa
Rinaldo Costa
CRITÉRIO DE DIVISIBILIDADE
NO ENSINO BÁSICO
RIO DE JANEIRO
2014
RIO DE JANEIRO
2014
AGRADECIMENTO
Agradeço a Jesus de Nazaré pela Sua Presença em minha vida trazendo todo estímulo
Agradeço a minha esposa Marize Fernandes Costa pela minha matrícula no Impa
Agradeço aos Professores do Impa sempre pacientes e dedicados comigo e com meus
colegas.
Agradeço a cada aluno que sempre reage muito bem toda vez que apresento este
Muito obrigado!
SUMÁRIO
1. Resumo
2 Introdução.
3 Objetivos
4 Metodologia/Fundamentação Teórica
5 Bibliografia
1. Resumo
Abstract.
We present a general criterion of divisibility, which provides in a practical way the remainder
of the division of any positive integer for a given positive integer n, based on the remainders
of the divisions of the consecutive powers of 10 by n. We also discuss the periodicity of this
sequence of remainders of the divisions of the consecutive powers of 10 by n. We also present
several exercises and problems solved using the ideas and methods of this work.
2. Introdução
Com frequência nas turmas preparatórias visando concursos públicos há alunos que
perguntam se há algum critério que verifique se um número é ou não múltiplo, por exemplo,
de 17; 19; 23; 29; etc. Também perguntam, caso não seja múltiplo qual é o resto apresentado
nesta divisão.
Na verdade, o que o aluno está perguntando é “existe algum critério de divisibilidade
por 17; 19; 23; 73; etc.”? . Nesta hora se vê em geral a falta de resposta por parte do
professor, mesmo que tenha muitos anos de experiência no magistério e podendo até ser um
especialista em Aritmética.
Por falta de resposta, o aluno deste segmento, que costuma ser muito interessado,
recorre ao “Dr. Google”. Nesta pesquisa encontra algum tipo de resposta
“Um número é divisível por 17 quando o quíntuplo (5 vezes) do último algarismo,
subtraído do número que não contém este último algarismo, proporcionar um número
divisível por 17. Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa
verificar a divisão por 17.”
‘’ Um número é divisível por 19 quando ( 2 vezes) do último algarismo, somado ao
número que não contém este último algarismo, proporcionar um número divisível por 19. Se
o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa verificar a divisão
por 19.”
‘’ Um número é divisível por 23 quando o sétuplo (7 vezes) do último algarismo,
somado ao número que não contém este último algarismo, proporcionar um número divisível
por 23.Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa verificar a
divisão por 23.”
“Um número é divisível por 29 quando o triplo (3 vezes) do último algarismo,
subtraído do número que não contém este último algarismo, proporcionar um número
divisível por 29. Se o número obtido ainda for grande, repete-se o processo até que se possa
verificar a divisão por 29.”
Pode-se verificar se o número tivesse grande quantidade de algarismos então haveria
necessidade de repetir este processo tantas vezes que este método apresentado talvez se
tornasse pouco interessante.
2.1 Por que ensinar Matemática?
Ensinar traz na origem de sua palavra: “insignare; sinal, marcar”. Quem ensina marca.
O Magistério é marcante. Para ser ensinado é preciso deixar-se marcar, é preciso querer, pois
a mente não alcança aquilo que o coração não deseja.
Dentre as disciplinas apresentadas “a Matemática é a única em que a geração que
chega não desmente o que foi dito pela geração anterior.”
A Matemática “afina o ouvido” do aluno. Normalmente, ouvem-se coisas que não
foram ditas e não se considera aquelas mencionadas, por mais ênfase que se dê ao texto. A
Matemática torna o aluno mais atento. É bastante frequente um bom aluno em Matemática ser
bom nas outras disciplinas. Porém a recíproca não é verdadeira com a mesma frequência.
Vê-se, muitas vezes, que na reunião de professores de Matemática, em algum momento,
surgirá alguém apresentado “um probleminha”, mesmo não sendo a hora e o lugar
apropriados. Os parentes dos professores podem testemunhar isto.
Muitos professores de Matemática são inspiração para que seus alunos façam
Licenciatura em Matemática. É muito bom ver alguém fazendo aquilo que gosta.
Normalmente o aluno verá, na maioria das vezes, pessoas usando a profissão com o propósito
maior de levar vantagem e obter vantagens econômicas. Ser professor é privilégio.
“A Matemática oferece-nos um conjunto singular de ferramentas poderosas para
compreender e mudar o mundo. Estas ferramentas incluem o raciocínio lógico, técnicas de
resolução de problemas, e a capacidade de pensar em termos abstratos.”
A Matemática ensina ao aluno a arte: de argumentar, de contra-argumentar, de buscar e
exemplos e contra exemplos, de usar os conectivos de forma certa e oportuna.
2.2 Motivação para escolha deste trabalho.
Problema 1
N= ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
r ... -9 -10 -1 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
91
... -9 -10 -1 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
RN
91
Visivelmente de 5 em 5 a soma, com 5n parcelas, vale ZERO logo N é divisível por 41.
Problema 3
N = ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
r ... -11 10 1 -11 10 1 -11 10 1 -11 10 1
37
... -11 10 1
Visivelmente de 3 em 3 a soma vale ZERO, e como apresenta 3n parcelas é divisível por 37.
Problema 4
N= 1 2 3 4 5 n 7 8 9
r 9 10 1 -9 -10 -1 9 10 1
91
9 20 3 -36 -50 -n 63 80 9
RN
91
Estabelecer de forma bastante clara tanto para alunos como para professores um
Critério Único de Divisibilidade que possa ser usado para no Ensino Básico, particularmente
para os candidatos aos concursos militares no nível de 9º ano.
Para que seja possível estabelecer esta forma de ver a divisibilidade, tanto na
prática quanto academicamente, será apresentada base matemática, que tornará este trabalho
em uma tese matemática.
No desenvolvimento deste novo olhar surgirá uma maneira bastante simples para
provar os critérios já existentes, visto que este trabalho não nega nenhuma afirmação
publicada na literatura que trata do tema.
A fundamentação teórica pode ser encontrada no livro TÓPICOS DE TEORIA
DOS NÚMEROS dos autores Carlos Gustavo T. de A. Moreira (Gugu), Fabio E.
Brochero Martinez e Nicolau C. Saldanha. Coleção PROFMAT. Sociedade Brasileira de
Matemática.
4. Metodologia e demonstrações
Para que haja uma base sólida e suficientemente capaz de sustentar os fundamentos
necessários para a apresentação deste trabalho, serão abordados os seguintes tópicos.
múltiplo de n; por outro lado, se a nq1 r1 , b nq2 r2 , com q1,q 2 ,r1 ,r2 , 0 r1 , r2 n e
4.2 d | a , d | b d | ax by
Demonstração
Se d | a , d | b a dq1 , b dq2
4.3 d |a a 0 d a
Demonstração
Se a 0 d | a , pois zero é múltiplo de qualquer inteiro.
Se a 0, a dq como q 0 então q 1 e a d q d d a .
4.5 a | b, b | c a | c
Demonstração
Se a | b e b | c então q 1 , q 2 tais que b aq1 e c bq2
logo c aq1q2 então a | c.
4.6 Se a b(mod n),c d (mod n) então a c b d (mod n) .
Demonstração
De fato, se a nq1 r , b nq2 r , c nq3 r ' , d nq4 r ' com q1,q2 , q3 ,q 4 , r, r' ,
c d é multiplo de n .
Concluímos que (a b) (c d ) é múltiplo de n ,porém (a b) (c d ) (a c) (b d ) .
Portanto (a c) (b d ) é múltiplo de n , ou seja, a c b d (mod n) .
Finalmente... Se a b (mod n) , c d (mod n) então a c b d (mod n)
N (a a k
4.8 Seja ...a a ) ak 10 ,ou seja, N é um número de (n+1)
n n 1 1 0 10
0 k n
algarismos, na base 10.
Finalmente...
N (a a ...a a ) ( k k
ak 10 ) ( ak rk ) onde r é o resto da divisão (10 p)
n n 1 1 o k
0 k n 0 k n
4.10 Análise dos períodos das sequências dos restos das divisões das potências
sucessivas de 10 por um dado inteiro positivo.
Começaremos com uma definição importante para estudar potências de um dado inteiro a (no
nosso caso estamos particularmente interessados no caso a=10) módulo um dado inteiro
positivo n:
Proposição: O número de restos distintos na divisão por n dos números at, com t natural
coincide com o período da sequência desses restos, e é igual a ord n a.
Demonstração: Para todo a inteiro com mdc (a, n) = 1 temos que os ord n a números
1, a, a2,..., a ordn a 1 são distintos (módulo n) pois ai aj (módulo n), com 0 i < j < ord n a
aj–i 1 (módulo n) com 0 < j – i < ordna, absurdo. Como, para k inteiro e 0 r ordn a ,
ak .ordnar ak .ordna a r 1 a r a r (módulo n), o resultado segue.
Note que se n é primo com 10, isto é, se não é múltiplo de 2 nem de 5 então a sequência dos
restos das divisões das potências sucessivas de 10 por n é periódica e o tamanho de seu
período é ordn 10.
4.11 Seja p um número primo. Há p-1 números primos com p e menores que p.
Nestas circunstâncias (10 p1 p) deixa resto 1 (pelo Pequeno Teorema de Fermat).
10k ... 1011 1010 109 108 107 106 105 104 103 102 101 100
r ... r11 r10 r9 r8 r7 r6 r5 r4 r3 r2 r1 r0
k
O período dos restos, r , para p=13 vale 6 sendo este um divisor de 12, visto que há 12
k
números primos com 13 e menores que 13.
Há 36 números primos com 37 sendo menores que 37. O período dos restos é igual a 3, sendo
3 um divisor de 36.
Há 40 primos com o 41, menores que 41, e o período dos restos é 5, sendo 5 um divisor de 40.
4.12 Se p1 , p2 , p3 , ..., pk são primos diferentes de 2 e 5 e 1 , 2 , 3 , ..., k são
naturais então 10k é congruente a 1 módulo p11 p22 p33 ...pk k se, e somente se 10k é
j
congruente a 1 módulo p j para todo j k . Isso nos leva à seguinte conclusão:
O período da sequência dos restos da divisão (10k p11 p22 p33 ...pk k ) ,
Exemplo 4:
Para p=119=7×17, o período dos restos de 10k por 7 tem 6 termos , o período por 17 tem 16
termos e portanto o período por 119 é mmc(6;16) 48 . Vejamos:
(7, 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 63, 70,...)
congruência (mod 7)
100 1 101 3
102 30 2 103 20 1
104 10 3 105 30 2
106 20 1
O período apresentou 6 termos .
Para determinar o período nas divisões por 17 o seguinte fato será útil:
Se alguma potência de 10 for congruente a -1 módulo n então a quantidade de termos do
período dos restos será igual a 2m, onde m é tal que 10m ≡ −1 pela primeira na sequências das
divisões.
(17, 34, 51, 68, 85, 102, 119, 136, 153, 170,...)
congruência (mod 17)
10 1
0
101 10
102 2 103 20 3
104 30 4 105 40 6
106 60 8 107 80 5
108 50 1
O período vale apresentou 8×2=16 valores.
(119, 238, 357, 476, 595, 714, 833, 952, 1071, 1190,...)
congruência (mod 119)
100 1 101 10 10 2 100 19
103 190 48 104 480 4 105 40
106 400 43 107 430 46 108 460 16
109 160 41 1010 410 53 1011 530 54
1012 540 55 1013 550 45 1014 450 26
1015 260 22 1016 220 18 1017 180 61
1018 610 15 10 150 31 10 20 310 47
19
10k 0 (mod 5 ) para todo k . Após esse pré-período, a sequência dos restos ficará
periódica, e o período terá ord m10 termos.
Aplicação: Seja o número N=5555... 5678 formado por 100 algarismos 5 seguidos por 6,7, e
8, quando dividido por 72 deixa qual resto?
(72, 144,216, 288, 360, 432, 504, 576, 648, 720,792,864,936,1008,1080)
N ... 5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 7 8
rk −8 −8 −8 28 10 1
N
R72 −40 −40 −40 168 70 8
72=8×9=23.9
Pré-período: 3 números Período : 1 número pois este é o período do 9
congruências (mod 72)
N
R72 100.(40) 168 70 8 100 28 168 24 70 8 6
N
R72 28. 40 24 6 1090 10 62 (mod 72)
O Teorema de Euler diz que, para todo natural N e todo inteiro a primo com N, temos
N
a 1 (mod N ) .
Uma consequência desse teorema é que se mdc(a,N)=1 sempre temos ord n a | ( N ) .
Podemos melhorar um pouco este resultado: pelo que vimos anteriormente, temos sempre
ord n a | mmc(ord p1 a,ord p2 a,...,ord pk a) | mmc( p11 p11 1, p22 p22 1,..., pkk pkk 1 ).
1 2 k
Note que mmc( p11 p11 1 , p22 p22 1 ,..., pkk pkk 1 ) é sempre um divisor de ( N ) ,
Exemplos:
Primos com N, menores que N.
360 23.32.51
360 (23 22 ).(32 31).(51 50 ) 4.6.496
24 2
logo 398 (mod 10) 34 . 3 124 (mod 10) . 32 (mod 10) 1.9 9
Resposta: O resto é 9.
Ex: O número N= xxx...x é formado por 1000 algarismos todos iguais a x e quando dividido
por 17 deixa resto 5 e o número M=yyy...y formado por 1000 algarismos todos iguais a y e
quando dividido por 17 deixa resto 2. Qual o valor de y−x?
x x x x x x x x x x x X x x x x
−5 −9 −6 −4 3 2 −10 −1 5 9 6 4 −3 −2 10 1
Vê-se que a soma dos 16 elementos da 3ª linha vale zero, ou seja, o número formado por 16
algarismos iguais a 1 representa um múltiplo de 17, da mesma forma um número formado por
32 algarismos x, por 48 algarismos x,..., por 992 algarismos x, representa um múltiplo de 17.
O número N é formado por 8 algarismos x, seguidos de 992 algarismos x, logo N dividido por
17 deixa o mesmo resto que (5x+9x+6x+4x−3x−2x+10x+1x) deixará quando dividido por17 ,
ou seja, deixa resto 30x÷17, e portanto deixa resto13x.
Deseja-se que N quando dividido por 17 deixe resto 5, então 13x deverá ser um múltiplo de
17 mais 5 unidades, ou seja: 13x=17k+5 (1≤x≤9 e k∈ℕ) o único valor para x é 3.
Deseja-se que M quando dividido por 17 deixe resto 2, então 13x deverá ser um múltiplo de
17 mais 2 unidades, ou seja: 13y=17k+2 (1≤y≤9 e k∈ℕ) o único valor para y é 8.
Finalmente y−x=8−3=5.
4.12 Este algoritmo para verificar a divisibilidade implica os critérios existentes nos livros
didáticos de uma forma muito simples.
Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 3 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 10→1 1(sempre)
Soma +a +b +c +d +e +f +g +h
“Um número é múltiplo de 3 quando a soma dos seus algarismos for múltipla de 3” , como
mostra a tabela acima.
Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 11 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
−10→−1 10→1 −10→−1 10→1 10→−1 −10→1 10→−1 1(sempre)
Soma −a +b −c +d −e +f −g +h
“Um número é divisível por 11 quando a diferença entre a soma dos algarismos de ordem
impar e a soma dos algarismos de ordem par formar um número múltiplo de 11”, ou seja,
como mostra a tabela acima.
Exemplo: o número abcdefgh é múltiplo, por exemplo, de 5 quando a soma for múltipla
a b c d e f g h
0 0 0 0 0 0 10→0 1(sempre)
Soma 0 0 0 0 0 0 0 +h
“Um número é múltiplo de 5 quando terminar em zero ou 5”, ou seja depende apenas do
ultimo algarismos, este deverá ser múltiplo de 5, isto é, deverá ser zero ou 5, como mostra a
tabela acima.
Exemplo: o número abcdef é múltiplo, por exemplo, de 7 quando a soma for múltipla
a b c d e f
−30 (−2) −10 (−3) 20 (−1) 30 (2) 10 (3) 1(sempre)
soma −2a −3b −1c +2d +3e +1f
g f e d c b a
Por 0 0 0 0 0 10→0 1
2
Por 1 1 1 1 10→1 10→1 1
3
Por 0 0 0 0 20→0 10→2 1
4
Por 0 0 0 0 0 10→0 1
5
Por 4 4 4 4 40→4 10→4 1
6
Por −20→1 −30→−2 −10→−3 20→−1 30→2 10→3 1
7
Por 0 0 0 40→0 20→4 10→2 1
8
Por 1 1 1 1 10→1 10→1 1
9
Por 1 −1 1 10→−1 −10→1 10→−1 1
11
Por 4 4 4 40→4 −20→4 10→−2 1
12
Por 1 4 3 −40→−1 −30→−4 10→−3 1
13
Por 60→−8 40→6 −30→4 −20→−3 −70→−2 10→−7 1
17
Por 30→−8 60→3 −70→6 50→−7 −90→5 10→−9 1
19
5. Bibliografia
Carlos Gustavo T. de A. Moreira (Gugu), Fabio Martinez, Nicolau Saldanha. Tópicos de
Teoria dos Números. Coleção PROFMAT. Editora SBM. Rio de Janeiro.
Lacerda, José Carlos Admo. Praticando a Aritmética. Editora: Dissonnarte 4ª edição, 2010.
Rio de Janeiro.