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SUMÁRIO
OCUPAÇÃO PRÉ-COLONIAL DO ATUAL ESTADO DE PERNAMBUCO ................................................................. 2
1. OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO .................................................................................... 2
2. CARACTERÍSTICAS SOCIOCULTURAIS DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS QUE HABITAVAM O TERRITÓRIO
DO ATUAL ESTADO DE PERNAMBUCO .......................................................................................................... 3

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OCUPAÇÃO PRÉ-COLONIAL DO ATUAL ESTADO DE


PERNAMBUCO
Com 98.311 km², Pernambuco é um dos 27 estados brasileiros. Localizado no centro-leste
da Região Nordeste, tem sua costa banhada pelo Oceano Atlântico. O estado faz limite com a
Paraíba, Ceará, Alagoas, Bahia e Piauí. Também faz parte do território pernambucano o
arquipélago de Fernando de Noronha, a 545 km da costa. São 185 municípios - com um total de
8.796.032 habitantes - e tem a cidade do Recife como sua capital.
Feitas essas considerações iniciais sobre as características geográficas de Pernambuco,
passemos agora para o objetivo deste material que é contar a história, ou melhor, a Pré-História
de Pernambuco.

1. OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO


Muito tempo antes da chegada dos portugueses no litoral brasileiro, a região de
Pernambuco, bem como o Nordeste brasileiro, já era habitada por sociedades que
desenvolveram uma forma de se viver muito parecida com outros hominídeos em outros
continentes, bem próximos do estágio evolutivo do período neolítico do homem de acordo com
a antropologia.
Destarte, é por este motivo que analisaremos a ocupação pré-histórica de Pernambuco.
Graças a enorme contribuição dos estudos da arqueologia, hoje sabemos quando,
aproximadamente, esses primeiros povos chegaram em Pernambuco, e de acordo com o
material encontrado, podemos reescrever a sua história.
Em Pernambuco, as pinturas rupestres variam desde 2 mil anos atrás até o início da
colonização do Brasil, divididos em três horizontes culturais distintos: Tradição Agreste,
Tradição Nordeste e Itaquatiara.
Tradição Agreste
Tipicamente nordestino, é o registro mais abundante no estado, possui figuras
humanas ou animais completamente preenchidas, com irregularidades na linha de
contorno, além de traços grossos e figuras dominantes, tendo como uma das
características mais marcantes o desenho de mãos formando desenhos mais
elaborados nas palmas e nos dedos.

Tradição Nordeste
Esta tradição é caracterizada pela variedade de seus temas, contendo cenas
cerimoniais, de caça, de luta e de sexo. O dinamismo observado nas figuras humanas
e de animais, assim como a presença de atributos (ornamentos, instrumentos e
armas), pode ser encontrado no interior das composições gráficas, acompanhando
as figuras humanas.

Itaquatira
A palavra Itaquatira significa pedra em tupi. Esta tradição representa um estilo
que é realizado em gravuras em vez de pinturas, no caso, que são feitas com
raspagem das pedras. As imagens mostradas nas formas não são reconhecíveis e

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podem ser elaboradas de maneiras diferentes, a depender da localização geográfica


e do tipo de suporte utilizado.

Entre eles, o Agreste é o mais tradicional e só é encontrado no Nordeste brasileiro. A partir


dos elementos que marcam essa tradição, pode-se concluir que os humanos que a pintaram
optaram por uma cenografia impactante, tanto na forma como na cor, para representar as
figuras com possibilidade de reconhecimento.
Tal cenografia denota uma necessidade de exibir apenas os traços essenciais de
reconhecimento, sem utilizar adornos. Em muitos casos, as pinturas rupestres são o
testemunho único que restou da presença indígena na região dizimada pelos colonizadores. São
também formas de comunicação usadas pelas sociedades ágrafas, coletoras-caçadoras e
também pelos grupos que já conheciam formas simples de fabricar cerâmica.
A arte rupestre dos povos primitivos do Nordeste representa o universo simbólico do
homem pré-histórico. Contextualizado em uma sociedade ágrafa, esses registros carregam o
significado de uma pré-escrita, trazendo a possibilidade das pessoas de utilizar marcadores de
sua presença em determinado local.
Além disso, as imagens serviam como demonstração de poder e também foram usadas
com propósitos religiosos em rituais. No entanto, por se tratar de um momento histórico que
ocorreu antes da escrita, não é possível compreender de forma exata o seu sentido. O que nos
restou dessa arte são apenas essas pinturas e gravuras sobre rochas, mas que, pela temática
representada, pode-se supor que seriam a representação do pensamento abstrato daqueles
povos pré-históricos. Apesar disso, o fato de que o Brasil ainda possui indígenas descendentes
daqueles da pré-história, muitas das suas cerimônias e crenças poderiam ser as mesmas
daqueles povos e foram estudadas pelos etnólogos e antropólogos. Seguramente, o culto às
forças da natureza fazia parte desses mitos e crenças também.
As imagens eram elaboradas com auxílio das mãos, mas, em algumas épocas, até mesmo
pincéis de fibras – alguns deles extremamente finos – estavam entre as ferramentas utilizadas,
indicando uma técnica refinada. As impressões eram feitas por raspagem ou incisão nas pedras.
Atualmente, a tecnologia permite estudar os pigmentos utilizados – como água, gordura e
resinas – e, então, é possível realizar uma reconstrução hipotética da aparência das gravuras
quando ainda recentes.

2. CARACTERÍSTICAS SOCIOCULTURAIS DAS POPULAÇÕES


INDÍGENAS QUE HABITAVAM O TERRITÓRIO DO ATUAL
ESTADO DE PERNAMBUCO
A ocupação indígena pré-histórica da região Nordeste foi o ponto de partida para a
transformação do espaço geográfico em espaço indígena. A partir de leituras sobre a presença
de populações de caçadores-coletores do holoceno e de grupos indígenas ceramistas e
agricultores percebe-se que, nesta região que veio compor a capitania de Pernambuco, viviam
em unidades sócio-políticas com seus territórios e fronteiras diferentes culturas indígenas no
período pré-histórico. Com base em pesquisas arqueológicas, o número de sítios pré-históricos,
entre escavados e localizados demonstra que houve uso da terra nas diferentes regiões do
espaço geográfico da capitania de Pernambuco. As atuais pesquisas apontam para uma densa
ocupação nas regiões do agreste. O que não significa que foi, necessariamente, diferente para
as regiões do litoral, da Zona da Mata ou do Sertão. Como se sabe, a ocupação do litoral ocorrida
durante os séculos XVI e XVII, para a construção do espaço político-econômico que servisse ao
sistema mercantil português provocou a transformação dos espaços indígenas nesta região e a
destruição da maior parte dos sítios arqueológicos.
O estudo sobre o confronto de interesses de diferentes povos indígenas e portugueses e
a conformação de novos territórios e espaços – os portugueses em um novo espaço colonial e

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os nativos em novas fronteiras socioculturais e áreas geográficas – retomou antigos


documentos e informações conhecidas. Nesta busca, a pesquisa proporcionou o encontro de
documentos inéditos como os mapas holandeses de Johan Vingboons do século XVII, guardados
no Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, recentemente restaurados, e as cartas
escritas por líderes indígenas, em parte, transcritas para a língua portuguesa.
Pesquisados documentos, crônicas, cartas, assim como, a cartografia europeia do século
XVI ao XVIII, para ao Região Nordeste, verificamos que, no geral, a documentação aponta mais
informações sobre o litoral do Brasil colônia do que sobre os sertões. A documentação também
reflete a aplicação de uma política colonial portuguesa que não respeitou a população indígena,
mas se utilizou da sua organização de territórios e fronteiras existentes. No entanto, muitos
grupos ou povos indígenas indicados pela cartografia portuguesa, holandesa e francesa, são
nela apresentados sem fronteiras e sem formas de ocupação definidas, o que também vale para
a maior parte da documentação manuscrita e impressa. Por isso, muitos dados da pesquisa
histórica não poderiam ser entendidos se não se procurasse respostas em pesquisas
antropológicas, linguísticas e arqueológicas, relativas aos nativos do período Pré-histórico
desta região.
Quando os primeiros europeus chegaram ao território brasileiro, no início do século XVI,
vários grupos indígenas ocupavam a região Nordeste. No litoral, predominavam as tribos do
tronco linguístico tupi, como os Tupinambás, Tabajaras e os Caetés, os mais temíveis. No
interior, habitavam grupos dos troncos linguísticos Jê, genericamente denominados Tapuias.
Como em outras regiões brasileiras, a ocupação do território em Pernambuco começou
pelo litoral, nas terras apropriadas para a agroindústria do açúcar, onde os indígenas eram
utilizados pelos portugueses como mão de obra escrava nos engenhos e nas lavouras,
especialmente por parte daqueles que não dispunham de capital suficiente para comprar
escravos africanos.
Após um período de paz aparente, os índios reagiram a esse regime de trabalho através
de hostilidades, assaltos e devastações de engenhos e propriedades, realizados principalmente
pelos Caetés, que ocupavam a costa de Pernambuco.
A guerra e a perseguição dos portugueses tornaram-se sistemáticas, fazendo com que os
índios sobreviventes tivessem que emigrar para longe da costa. Porém, a criação de gado levou
os colonizadores a ocupar terras no interior do Estado, continuando assim a haver conflitos.
As relações entre os criadores de gado e os índios, no entanto, eram bem menos hostis do
que com os senhores de engenho, mas a sobrevivência das tribos, que não se refugiavam em
locais remotos, só era possível quando atendia aos interesses dos criadores e não era
assegurada aos indígenas a posse de suas terras.
Durante os dois primeiros séculos do Brasil Colônia, as missões religiosas jesuíticas eram
a única forma de proteção com que os índios contavam. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759,
os aldeamentos permaneceram sob a orientação de outras ordens religiosas, sendo entregues,
posteriormente, a órgãos especiais, porém as explorações e injustiças contra o povo indígena
continuaram acontecendo.
Sabe-se, através de algumas fontes, que nos séculos XVIII e XIX uma quantidade
indeterminada de índios foi aldeada no território pernambucano, mas aparentemente não há
registros de sua procedência.
Existiam os aldeamentos dos Garanhuns, próximo à cidade do mesmo nome; dos
Carapatós, Carnijós ou Fulni-ô, em Águas Belas; dos Xucurus, em Cimbres; dos Argus,
espalhados da serra do Araripe até o rio São Francisco; dos Caraíbas, em Boa Vista; do Limoeiro
na atual cidade do mesmo nome; as aldeias de Arataqui, Barreiros ou Umã, Escada, da tribo
Arapoá-Assu, nas margens dos rios Jaboatão e Gurjaú; a aldeia do Brejo dos Padres, dos índios
Pankaru ou Pankararu; aldeamentos em Taquaritinga, Brejo da Madre de Deus, Caruaru e
Gravatá.

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No século XIX, a região do atual município de Floresta e diversas ilhas do rio São Francisco
se destacavam pelo grande número de aldeias, onde habitavam os índios Pipiães, Avis, Xocós,
Carateus, Vouvês, Tuxás, Aracapás, Caripós, Brancararus e Tamaqueús.
O desaparecimento da maioria das tribos deve-se às diversas formas de alienação de
terras indígenas no Nordeste ou da resolução do Governo de extinguir os aldeamentos
existentes.
Dos grupos que povoaram Pernambuco, salvo alguns sobreviventes, pouco se sabe. O fato
dos índios não possuírem uma linguagem escrita, dificultou muito a transmissão das
informações.

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SUMÁRIO
PERNAMBUCO: A “GUERRA DOS BÁRBAROS”, A LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA ............ 2
1. A GUERRA DOS BÁRBAROS .................................................................................................................... 2
1.1 GUERRA DO RECÔNCAVO (1651-1679) ......................................................................................... 3
1.2 GUERRA DO AÇU (1687-1693) ....................................................................................................... 3
2. A LAVOURA AÇUCAREIRA ...................................................................................................................... 4
3. A MÃO DE OBRA ESCRAVA .................................................................................................................... 5

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PERNAMBUCO: A “GUERRA DOS BÁRBAROS”, A


LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA
1. A GUERRA DOS BÁRBAROS
Trata-se de um denso e longo episódio da história do Brasil colonial que mostra que os
índios não ficaram passivos diante da colonização e, mesmo em situação adversa,
surpreenderam pela ousadia, coragem e persistência. Em muitos momentos, chegaram a ter
sucesso militar, apesar de sua inferioridade bélica. Uma guerra pela ocupação dos sertões
nordestinos, ente 1650 e 1720, e que levou ao massacre impiedoso de diversas tribos. Um dos
fatos mais cruéis e menos conhecido de nossa história, mas com muitos nomes: Guerra do Açu,
Guerra dos Bárbaros, Confederação dos Cariris e Guerra do Recôncavo.
A ação e reação dos indígenas frente à invasão de suas terras pelos colonos variaram ao
longo de todo o período colonial: alianças (quase sempre temporárias), resistência feroz, guerra
aberta, fuga para o interior entre outras. Contudo, fosse qual fosse a atitude, todas tiveram um
impacto negativo sobre as sociedades indígenas, contribuindo para a desorganização social e o
declínio demográfico dos povos nativos.
Os portugueses classificaram os indígenas em dois grandes grupos genéricos: tupis e
tapuias. Os tupis englobavam todas as sociedades litorâneas e eram considerados, em geral,
mais amistosos e de fácil contato e colaboração. Os tapuias eram o inverso: ferozes, não
aceitavam “a civilização”.
A imagem pejorativa dos chamados de tapuias contribuiu para o desconhecimento desses
grupos que hoje sabemos serem diversos em relação à língua, aos costumes e tradições. Deles
restaram informações superficiais e incompletas que os estudiosos se esforçaram por separar
as reais das imaginárias.
No contexto da presença holandesa no Nordeste açucareiro, a relação entre holandeses e
indígenas foi, intencionalmente, na contramão da relação entre portugueses e nativos,
buscando aliança com as tribos tapuias, inimigas dos colonos. Isso serviu para aumentar a
animosidade entre portugueses e tapuias, e a reforçar a falsa dicotomia que os europeus
dividiram as populações indígenas brasileiras.
Após a expulsão dos holandeses (1654), os colonos tiveram que enfrentar duas sérias
ameaças à colonização portuguesa: os negros quilombolas de Palmares e as beligerantes tribos
Cariris, consideradas “traidoras” por terem se aliado aos invasores holandeses. A guerra contra
essas últimas é um dos fatos mais cruéis e menos conhecido de nossa história.
Os Cariris habitavam, inicialmente, o litoral nordestino, do Maranhão até o sul da Bahia.
De lá foram expulsos pelos Tupiniquim e, depois pelos Tupinambás. Quando alcançaram o
interior, dividiram-se em diversas tribos: tarairiú, janduís, paiacus, canindés, surucus, icós,
entre outras. Foram elas que formaram a chamada Confederação dos Cariris, um termo dado
pelos europeus.
Tal aliança, contudo, mudava de acordo com a dinâmica interna dos diversos grupos. Os
Janduís, por exemplo, que apoiaram os holandeses na ocupação do nordeste, combateram ao
lado dos portugueses em 1699 quando perpetraram a matança de 400 Paiacus e aprisionaram
outros 250 incluindo crianças e mulheres.
O apoio desses grupos indígenas aos holandeses, contudo, contribuiu para estigmatizá-
los como índios traidores e não confiáveis. Eram descritos como selvagens, bestiais, infiéis,
traiçoeiro, canibais e poligâmicos – enfim, bárbaros, segundo a visão etnocêntrica e pejorativa
que os europeus tinham dos indígenas inimigos.
Esses argumentos foram usados nas petições dos colonos para justificar a “guerra justa”
contra os nativos – situação que favorecia o apresamento dos índios para serem vendidos como

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escravos aos engenhos do litoral e dava o direito de solicitar, junto às autoridades coloniais,
terras nas áreas onde eram travados os combates contra o “gentio bárbaro”. A expansão da
pecuária pelo agreste e sertão nordestino demandava cada vez mais amplos espaços para
abastecer de carne e couro as cidades litorâneas do Nordeste e as crescentes vilas e cidades
mineiras. Assim, a “guerra justa” serviu de pretexto para atender a interesses dos colonos:
montagens de fazendas de gado, doações de sesmarias e captura de escravos. Não foi, contudo,
um empreendimento fácil: a ocupação do sertão da Bahia ao Maranhão levou a confrontos
sangrentos marcados por violências de ambos os lados e a uma guerra que se prolongou por
setenta anos.

1.1 GUERRA DO RECÔNCAVO (1651-1679)


Os conflitos tiveram início na expulsão dos holandeses e ganharam tamanha dimensão
que os colonos e autoridades deixaram de lado os ataques ao Quilombo de Palmares para
concentrar os esforços contra os indígenas. O primeiro episódio da Guerra dos Bárbaros,
chamado de Guerra do Recôncavo, ocorreu no interior da Bahia entre 1651 e 1679 gerando os
confrontos da serra do Orobó, Aporá e do rio São Francisco.
O governador-geral, Francisco Barreto de Meneses – famoso por ter liderado os colonos
nas Batalhas de Guararapes (1648-1649) contra os holandeses –, enviou duas companhias para
reprimir os “bárbaros”: os índios aliados que compunham o Terço de Filipe Camarão e os negros
do Terço de Henrique Dias. As tropas enviadas contra os índios eram compostas por mais de
50% de índios aliados. Foram arregimentados, ainda, condenados, vadios e degredados com a
promessa de perdão para aqueles que combatessem os “bárbaros”. Tais efetivos, contudo, não
conseguiram derrotar a enorme resistência oferecida pelos Cariris. Em 1675, Francisco Barreto
de Meneses escreveu ao capitão-mor de São Vicente para acertar um contrato com os
sertanistas paulistas. Estava convencido de que somente a experiência dos bandeirantes
poderia “pacificar” a região.
No começo, os índios levaram a melhor, pois eram mais numerosos e conheciam os áridos
solos do sertão nordestino. Ao contrário dos portugueses, eles não precisavam carregar
pesados mantimentos, já que estavam habituados a se alimentar de frutos, mel, caça e pesca.
Além disso, adotavam táticas estranhas aos militares europeus, deixando as autoridades
completamente aturdidas. A guerra destes Bárbaros é irregular e diversa das mais nações
porque não formam exércitos nem apresentam batalhas na campanha, antes são de salto as
suas investidas, ora em uma, ora em outra parte, já juntos, já divididos.
A vantagem dos nativos criou um clima de pânico entre os colonos, que ameaçavam
abandonar a terra. O comportamento “selvagem” dos inimigos agravava a sensação de medo.
1.2 GUERRA DO AÇU (1687-1693)
O segundo episódio da Guerra dos Bárbaros foi ainda mais violento e estendeu-se pelo
território compreendido por Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba. O período mais
crítico dessa fase ocorreu entre os anos 1687 e 1693. Em 1687, os índios realizaram um ataque
surpresa violento que matou muitos colonos, milhares de cabeças de gado e destruiu fazendas
na capitania do Rio Grande do Norte.
O governador-geral Mathias da Cunha pediu ajuda ao governador de Pernambuco, João
da Cunha Souto Maior, e ao capitão-mor da Paraíba, Amaro Velho de Sequeira, para que
enviassem pessoal, armas, munição e mantimentos. Tais efetivos, contudo, não foram
suficientes para combater a enorme resistência dos Cariris. Novamente foram convocados os
índios do Terço de Felipe Camarão e os negros do Terço de Henrique Dias. Mas o elemento
determinante para o sucesso português nos combates foi a entrada dos bandeirantes paulistas
a partir de 1688.
Domingos Jorge Velho que já se encontrava no Nordeste para combater o Quilombo dos
Palmares, foi convencido a suspender o ataque aos quilombolas e a mudar de rota para

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enfrentar os Cariris. A força dos índios, neste momento, era assustadora, pois reuniam um
maior número de tribos. Além disso, estavam usando cavalos e armas de fogo que haviam
tomado dos colonos e aprenderam a manusear. Os Janduís conseguiam obter as armas através
do comércio com piratas no litoral.
Diante da grande resistência dos índios, a guerra foi tomando um caráter cada vez mais
explícito de extermínio. Assim, se a princípio, os bandeirantes foram seduzidos pelo
apresamento de indígenas, passam a ser recompensados, principalmente, com honrarias e
terras (sesmarias).
Em 1692, ocorreu um ponto de virada na guerra: a celebração do primeiro Tratado de Paz
entre colonizadores e indígenas na América portuguesa. Por iniciativa do chefe Canindé, dos
Janduís, estabeleceu-se uma aliança pela qual estes se comprometiam a fornecer cinco mil
guerreiros para lutar junto aos portugueses contra invasores europeus ou tribos hostis, além
de certo número de trabalhadores para as fazendas de gado. Em troca, recebiam uma área de
10 léguas quadradas e sua liberdade.
O acordo representava uma estratégia de sobrevivência para os índios diante da ameaça
de extinção de suas populações em uma guerra de longa duração. Já os colonos queriam que a
guerra continuasse pois ela significava dinheiro, honrarias, terras e escravos. Os levantes
Cariris prosseguiram até o início do século XVIII. A partir de 1720 não havia mais sinais de
levantes indígenas naquela região.
Com a terra livre da ameaça indígena, os sertões nordestinos passaram para o controle
luso-brasileiro e expandiram-se as fazendas de gado. Os colonos receberam terras e escravos,
o que acabou se tornar motivo para discórdias e novos conflitos. Muitos bandeirantes acabaram
por se fixar na região onde receberam extensas sesmarias e exploravam a pecuária. Os novos
proprietários entram em atrito com os antigos sesmeiros e moradores pela divisão das terras e
posse dos escravos. Outro conflito ocorreu entre bandeirantes e missionários pelo controle da
mão de obra indígena. Os bandeirantes não hesitavam em invadir aldeamentos para capturar
índios já convertidos e vendê-los como escravos. O desdobramento desses conflitos avançou no
tempo compondo o quadro sangrento da ocupação dos sertões nordestinos.

2. A LAVOURA AÇUCAREIRA
Na sua faixa litorânea, o Nordeste representou o primeiro centro de colonização e de
urbanização da nova terra. A atual situação do Nordeste não é fruto da fatalidade, mas de um
processo histórico. Até meados do século XVIII, a região nordestina, que era designada como o
“Norte”, concentrou as atividades econômicas e a vida social mais significava da Colônia; nesse
período, o Sul foi uma área periférica, menos urbanizada, sem vinculação direta com a economia
exportadora. Salvador foi a capital do Brasil até 1763 e, por muito tempo, sua única cidade
importante. Embora não haja dados de população seguros até meados do século XVIII, calcula-
se que tinha 14 mil habitantes em 1585, 25 mil em 1724 e cerca de 40 mil em 1750, a metade
dos quais eram escravos. Esses números podem parecer modestos, mas têm muita significação
quando confrontados com os de outras regiões: São Paulo, por exemplo, tinha menos de 2 mil
habitantes em 1600.
A empresa açucareira foi o núcleo central da ativação socioeconômica do Nordeste. O
açúcar tem uma longa e variada história, tanto no que se refere a seu uso como à localização
geográfica. No século XV, era ainda uma especiaria utilizada como remédio ou condimento
exótico. Livros de receitas do século XVI indicam que estava ganhando lugar no consumo da
aristocracia europeia. Logo passaria de um produto de luxo para o que hoje chamaríamos de
um bem de consumo de massa.
Sob o aspecto geográfico, a cana-de-açúcar teve um grande deslocamento no espaço.
Originária da Índia, alcançou a Pérsia e dali foi levada pelos conquistadores árabes à costa
oriental do Mediterrâneo. A seguir, os árabes a introduziram na Sicília e na península Ibérica.
Já em 1300, vendia-se em Brugues (Bélgica) o açúcar produzido na Espanha. No século XV, a

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produção das várzeas irrigadas de Valência e do Algarve (Sul de Portugal) era comercializada
no Sul da Alemanha, nos Países Baixos e na Inglaterra. Vimos como a produção açucareira foi
dominante nas ilhas do Atlântico, onde se fez um verdadeiro ensaio do que viria a ser o
empreendimento implantado no Brasil.
Não se conhece a data em que os portugueses introduziram a cana-de-açúcar no Brasil.
Foi nas décadas de 1530 e 1540 que a produção se estabeleceu em bases sólidas. Em sua
expedição de 1532, Martim Afonso trouxa um perito na manufatura do açúcar, bem como
portugueses, italianos e flamengos com experiência na atividade açucareira na ilha da Madeira.
Plantou-se cana e construíram-se engenhos em todas as capitanias, de São Vicente a
Pernambuco.
Em conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma
grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior
desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições propícias
para a adoção dessa atividade.
A economia açucareira no Brasil corresponde ao período colonial do século XVI. O açúcar
representou a primeira riqueza produzida no país, acompanhada da ocupação do mesmo. Deu
origem às três primeiras capitanias: Pernambuco, Bahia e São Vicente. Localizadas nas costas
litorâneas do território, fizeram com que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador de
açúcar da época. Pernambuco era a capitania mais rica, tinha as maiores fazendas e era a mais
poderosa. Desse estado saiu a maior produção de açúcar do mundo.
O pacto colonial assegurava que tudo que fosse produzido no Brasil seria comercializado
com a metrópole portuguesa e assim foi estabelecido um monopólio comercial dos portugueses
que puderam comercializar com outros países europeus e ficar com a maior parte dos lucros.
Ou seja, a colônia produzia, entregava sua produção a preços baixos e comprava os escravos a
preços altos. Portugal sempre ficava ganhando em qualquer negociação.
Os grandes centros açucareiros na Colônia foram Pernambuco e Bahia. Fatores climáticos,
geográficos, políticos e econômicos explicam essa localização. As duas capitanias combinavam,
na região costeira, boa qualidade de solos e um adequado regime de chuvas. Estavam mais
próximas dos centros importadores europeus e contavam com relativa facilidade de
escoamento da produção, na medida em que Salvador e Recife se tornaram portos importantes.

3. A MÃO DE OBRA ESCRAVA


As razões da opção pelo escravo africano foram muitas, formadas por um conjunto de
fatores. A escravização do índio chocou-se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os
fins da colonização. Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e
regular e mais ainda compulsório, como pretendido pelos europeus. Não eram vadios ou
preguiçosos. Apenas faziam o necessário para garantir sua subsistência, o que não era difícil em
uma época de peixes abundantes, frutas e animais. Muito de sua energia e imaginação era
empregada nos rituais, nas celebrações e nas guerras. As noções de trabalho contínuo ou do
que hoje chamaríamos de produtividade eram totalmente estranhas a eles.
Podemos distinguir duas tentativas básicas de sujeição dos índios por parte dos
portugueses. Uma delas, realizada pelos colonos segundo um frio cálculo econômico, consistiu
na escravização pura e simples. A outra foi tentada pelas ordens religiosas, principalmente
pelos jesuítas, por motivos que tinham muito a ver com suas concepções missionárias. Ela
consistiu no esforço em transformar os índios, por meio do ensino, em “bons cristãos”,
reunindo-os em pequenos povoados ou aldeias. Ser “bom cristão” significava também adquirir
os hábitos de trabalho dos europeus, com o que se criaria um grupo de cultivadores indígenas
flexível às necessidades da Colônia.
As duas políticas não se equivaliam. As ordens religiosas tiveram o mérito de tentar
proteger os índios da escravidão imposta pelos colonos, nascendo daí inúmeros atritos entre

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colonos e padres. Mas estes não tinham também qualquer respeito pela cultura indígena. Ao
contrário, para eles chegava a ser duvidoso que os índios fossem pessoas. Padre Manuel da
Nóbrega, por exemplo, dizia que “índios são cães em se comerem e matarem, e são porcos nos
vícios e na maneira de se tratarem”.
Os índios resistiram às várias formas de sujeição, pela guerra, pela fuga, pela recusa ao
trabalho compulsório. Em termos comparativos, as populações indígenas tinham melhores
condições de resistir do que os escravos africanos. Enquanto estes se viam diante de um
território desconhecido onde eram implantados à força, os índios se encontravam em sua casa.
Outro fator importante que colocou em segundo plano a escravização dos índios foi a
catástrofe demográfica. Esse é um eufemismo erudito para dizer que as epidemias produzidas
pelo contato com os brancos liquidaram milhares de índios. Eles foram vítimas de doenças
como sarampo, varíola, gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Duas ondas
epidêmicas se destacaram por sua violência entre 1562 e 1563, matando mais de 60 mil índios,
ao que parece, sem contar as vítimas do sertão. A morte da população indígena, que em parte
se dedicava a plantar gêneros alimentícios, resultou em uma terrível fome no Nordeste e em
perda de braços.
Não por acaso, a partir da década de 1570 incentivou-se a importação de africanos, e a
Coroa começou a tomar medidas por meio de várias leis, para tentar impedir o morticínio e a
escravidão desenfreada dos índios. As leis continham ressalvas e eram burladas com facilidade.
Escravizavam-se índios em decorrência de “guerras justas”, isto é, guerras consideradas
defensivas, ou como punição pela prática de antropofagia. Escravizava-se também pelo resgate,
isto é, a compra de indígenas prisioneiros de outras tribos, que estavam para ser devorados em
ritual antropofágico. Só em 1758 a Coroa determinou a libertação definitiva dos indígenas. Mas,
no essencial, a escravidão indígena fora abandonada muito antes pelas dificuldades apontadas
e pela existência de uma solução alternativa.
Ao percorrer a costa africana no século XV, os portugueses haviam começado o tráfico de
africanos, facilitando pelo contato com sociedades que, em sua maioria, já conheciam o valor
mercantil do escravo. Nas últimas décadas do século XVI, não só o comércio negreiro estava
razoavelmente montado como vinha demonstrando sua lucratividade.
Os colonizadores tinham conhecimento das habilidades dos negros, sobretudo por sua
rentável utilização na atividade açucareira das ilhas do Atlântico. Muitos escravos provinham
de culturas em que trabalhos com ferro e a criação de gado eram usuais. Sua capacidade
produtiva era assim bem superior à do indígena. É possível que, durante a primeira metade do
século XVII, nos anos de apogeu da economia do açúcar, o custo de aquisição de um escravo
negro era amortizado entre treze e dezesseis meses de trabalho e, mesmo depois de uma forte
alta nos preços de compra de cativos após 1700, um escravo se pagava em trinta meses.
Os africanos foram trazidos para o Brasil em um fluxo de intensidade variável. Os cálculos
sobre o número de pessoas transportadas como escravos variam muito. Estima-se que entre
1550 e 1855 entraram pelos portos brasileiros 4 milhões de escravos, na sua grande maioria
jovens do sexo masculino.
A região de proveniência dependeu da organização do tráfico, das condições locais na
África e, em menor grau, das preferências dos senhores brasileiros. No século XVI, a Guiné
(Bissau e Cacheu) e a Costa da Mina, ou seja, quatro portos ao longo do litoral do Daomé,
forneceram o maior número de escravos. Do século XVII em diante, as regiões mais ao sul da
costa africana – Congo e Angola – tornaram-se os centros exportadores mais importantes, a
partir dos portos de Luanda, Benguela e Cabinda. Os angolanos foram trazidos em maior
número no século XVIII, correspondendo, ao que parece, a 70% da massa de escravos trazidos
para o Brasil naquele século.
Costuma-se dividir os povos africanos em dois grandes ramos étnicos: os sudaneses,
predominantes na África ocidental, Sudão egípcio e na costa norte do golfo da Guiné e os bantos,
da África equatorial e tropical, de parte do golfo da Guiné, do Congo, Angola e Moçambique. Essa

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grande divisão não nos deve levar a esquecer que os negros escravizados no Brasil provinham
de muitas tribos ou reinos, com suas culturas próprias. Por exemplo: os iorubas, jejes, tapas,
hauçás, entre os sudaneses; e os angolas, bengalas, monjolos, moçambiques, entre os bantos.
Os grandes centros importadores de escravos foram Salvador e depois o Rio de Janeiro,
cada qual com sua organização própria e fortemente concorrentes. Os traficantes baianos
utilizaram-se de uma valiosa moeda de troca no litoral africano, o fumo produzido no
Recôncavo. Estiveram sempre mais ligados à Costa da Mina, à Guiné e ao golfo de Benim, neste
último caso após meados de 1770, quando o tráfico da mina declinou. O Rio de Janeiro recebeu
sobretudo escravos de Angola, superando a Bahia com a descoberta das minas de ouro, o
avanço da economia açucareira e o grande crescimento urbano da capital, a partir do início do
século XIX.
Seria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram à escravidão, os negros a
aceitaram passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões contra senhores,
resistência cotidiana fizeram parte das relações entre senhores e escravo, desde os primeiros
tempos. Os quilombos, ou seja, estabelecimentos negros que escapavam à escravidão pela fuga
e recompunham no Brasil formas de organização social semelhantes às africanas, existiram às
centenas no Brasil colonial. Palmares – uma rede de povoados situada em uma região que hoje
corresponde em parte ao Estado de Alagoas, com vários milhares de habitantes – foi um desses
quilombos e certamente o mais importante. Formado no início do século XVII, resistiu aos
ataques de portugueses e holandeses por quase cem anos, vindo a sucumbir, em 1695, às tropas
sob o comando do bandeirante Domingos Jorge Velho.
Admitidas as várias formas de resistência, não podemos deixar de reconhecer que, pelo
menos até as últimas décadas do século XIX, os escravos africanos ou afro-brasileiros não
tiveram condições de desorganizar o trabalho compulsório. Bem ou mal, viram-se obrigados a
se adaptar a ele. Dentre os vários fatores que limitaram as possibilidades de rebeldia coletiva,
lembremos que, ao contrário dos índios, os negros eram desenraizados de seu meio, separados
arbitrariamente, lançados em levas sucessivas em território estranho.
Por outro lado, nem a Igreja nem a Coroa se opuseram à escravidão do negro. Ordens
religiosas como a dos beneditinos estiveram mesmo entre os grandes proprietários de cativos.
Vários argumentos foram utilizados para justificar a escravidão africana. Dizia-se que se tratava
de uma instituição já existente na África e assim apenas transportavam-se cativos para o mundo
cristão, onde seriam civilizados e salvos pelo conhecimento da verdadeira religião. Além disso,
o negro era considerado um ser racialmente inferior. No decorrer do século XIX, teorias
pretensamente científicas reforçaram o preconceito: o tamanho e a forma do crânio dos negros,
o peso de seu cérebro etc. demonstravam que se estava diante de uma raça de baixa inteligência
e emocionalmente instável, destinada biologicamente à sujeição.

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SUMÁRIO
PERNAMBUCO: AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS E A SOCIEDADE COLONIAL .................................................. 2
1. AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS ........................................................................................................... 2
2. A SOCIEDADE COLONIAL........................................................................................................................ 4

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PERNAMBUCO: AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS E A


SOCIEDADE COLONIAL
1. AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS
Ao falar no contexto do período colonial brasileiro, automaticamente fala-se em Igreja
Católica. O catolicismo, nos primeiros séculos de formação da sociedade brasileira, assumiu um
caráter obrigatório. Viver na América portuguesa sem pertencer à religião Católica era uma
tarefa das mais difíceis, o indivíduo deveria no mínimo demonstrar um certo respeito pelo
credo romano. Mas só o respeito não serviria muito.
Por conta da Reforma Protestante e devido aos desdobramentos produzidos pelas ideias
de Lutero, a Igreja Católica colocou em prática as definições adotadas no Concílio de Trento. O
Concílio de Trento teve suas atividades iniciadas em 13 de dezembro de 1545, buscando
reafirmar os preceitos da religião Católica Apostólica Romana, num momento importante para
a história da Igreja, devido à necessidade de reformas, impostas pelo movimento protestante e,
a reabilitação do clero perante a sociedade cristã. Tais modificações tinham em vista o
fortalecimento dos sacramentos e exaltação do papel da Igreja e de seus representantes perante
a sociedade.
As duas instituições básicas que, por sua natureza, estavam destinadas a organizar a
colonização do Brasil foram o Estado e a Igreja católica. Embora se trate de instituições
distintas, naqueles tempos uma estava ligada à outra. Não existia na época, o conceito de
cidadania, de pessoa com direitos e deveres com relação ao Estado, independentemente da
religião. A religião do Estado era a católica e os súditos, isto é, os membros da sociedade, deviam
ser católicos.
Em princípio, houve uma divisão de trabalho entre as duas instituições. Ao Estado coube
o papel fundamental de garantir a soberania portuguesa sobre a Colônia, dotá-la de uma
administração, desenvolver uma política de povoamento, resolver problemas básicos, como o
da mão de obra, estabelecer o tipo de relacionamento que deveria existir entre Metrópole e
Colônia. Essa tarefa pressupunha o reconhecimento da autoridade do Estado por parte dos
colonizadores que se instalariam no Brasil, seja pela força, seja pela aceitação dessa autoridade,
ou por ambas as coisas.
Nesse sentido, o papel da Igreja se tornava relevante. Como tinha em suas mãos a
educação das pessoas, o “controle das almas” na vida diária, era um instrumento muito eficaz
para veicular a ideia geral de obediência e, em especial, a de obediência ao poder do Estado.
Mas o papel da Igreja não se limitava a isso. Ela estava presente na vida e na morte das pessoas,
nos episódios decisivos do nascimento, casamento e morte. O ingresso na comunidade, o
enquadramento nos padrões de uma vida descente, a partida sem pecado deste “vale de
lágrimas” dependia de atos monopolizados pela Igreja: o batismo, a crisma, o casamento
religioso, a confissão e a extrema-unção na hora da morte, o enterro em um cemitério designado
pela significativa expressão “campo-santo”.
Na história do mundo ocidental, as relações entre Estado e Igreja variaram muito de país
a país e não foram uniformes no âmbito de cada país, ao longo do tempo. No caso português,
ocorreu uma subordinação da Igreja ao Estado por meio de um mecanismo conhecido como
padroado real. O padroado consistiu em uma ampla concessão da Igreja de Roma ao Estado
português, em troca da garantia de que a Coroa promoveria e asseguraria os direitos e a
organização da Igreja em todas as terras descobertas. O rei de Portugal ficava com o direito de
recolher o tributo pelos súditos da Igreja conhecido como dízimo, correspondente a um décimo
dos ganhos obtidos em qualquer atividade. Cabia também à Coroa criar dioceses e nomear os
bispos.

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Muitos dos encargos da Coroa resultavam, pelo menos em teses, em maior subordinação
da Igreja, como é o caso da incumbência de remunerar o clero e construir e zelar pela
conservação dos edifícios destinados ao culto. Para supervisionar todas essas tarefas, o governo
português criou uma espécie de departamento religioso do Estado: a Mesa da Consciência e
Ordens.
O controle da Coroa sobre a Igreja foi em parte limitado pelo fato de que a Companhia de
Jesus até a época do marquês de Pombal (1750-1777) teve forte influência na Corte. Na Colônia,
o controle sofreu outras restrições. De um lado, era muito difícil enquadrar as atividades do
clero secular – aquele que existe fora das ordens religiosas –, disperso pelo território; de outro,
as ordens religiosas conseguiram alcançar maior grau de autonomia. A maior autonomia das
ordens dos franciscanos, mercedários, beneditinos, carmelitas e principalmente jesuítas
resultou de várias circunstâncias. Elas obedeciam a regras próprias de cada instituição e tinham
uma política definida com relação a questões vitais da colonização, como a indígena. Além disso,
na medida em que se tornaram proprietárias de grandes extensões de terra e empreendimentos
agrícolas, as ordens religiosas não dependiam da Coroa para sua sobrevivência.
A vida cristã do povo passava por dois caminhos: aquele ligado ao grupo dos
organizadores, ou seja, o do clero propriamente dito, e o outro, junto àqueles que viviam o
cristianismo concretamente, o povo.
O comportamento do clero diante da população deveria refletir uma cultura de salvação
que chegava para subjugar outra, considerada periférica e pagã. O processo de evangelização
no Brasil foi pautado por esta visão maniqueísta de civilização e fé, validada no Concílio de
Trento, admitindo a diferença entre uma elite esclarecida representada pelos pensadores da
Igreja e uma massa ignorante como os plebeus.
No entanto, o povo tinha uma postura diferente dos organizadores, que manipulavam as
cenas da vida: Batismo, Missa, Igreja, Santos, Festas, Santuários, símbolos dos mais diversos. O
Bem Viver neste período era condicionado aos ditames da Igreja, mas o povo dava vida a esta
trama, que obedecia a outro ritmo que não era aquele que o clero pretendia implantar, a
população dava seus significados aos símbolos que a instituição conservava, criando um
cotidiano mais profano. O Tribunal do Santo Ofício teve grande participação na manutenção da
ordem social nas terras portuguesas de além-mar. A Inquisição foi um dos instrumentos usados
pela Coroa portuguesa para manter os colonos nas “rédeas” da Sé romana. De uma certa
maneira, ela ajudou a formar a consciência católica no Brasil, deixando passar a impressão que
todos os católicos seguiam fielmente as deliberações eclesiásticas. O catolicismo é o "cimento"
que une a nação, o "laço" que prende a todos, o lugar da confraternização entre as mais diversas
raças.
Ao medo provocado pelas visitações da Inquisição instauradas em algumas localidades da
Colônia, os brasileiros reagiram, inovando a celebração da "Santa Religião Católica", criando um
catolicismo ostensivo, evidente aos olhos de todos, praticado em lugares públicos, cheio de
invocações ortodoxas a Deus, a Nossa Senhora e aos Santos. A partir daí, nasceu todo o
formalismo do catolicismo brasileiro, que o Santo Ofício relevou muito em alguns casos, devido
a sua forma de praticá-lo, que fugia aos moldes da Igreja europeia.
O primeiro período colonial brasileiro foi marcado por um Episcopado inexpressivo, que
sofreu com a falta de Bispos para ocuparem seus cargos e exercerem suas funções, com uma
imensa extensão territorial, uma realidade complexa e uma cultura local completamente
diferente de tudo, esses clérigos conheciam. Sua influência neste período foi mínima. Além
dessas dificuldades para implementar seu trabalho evangelizador, havia a dependência do
Padroado Régio, que se efetivava através da Mesa da Consciência e Ordens.
O distanciamento do povo pela Igreja oficial favoreceu o surgimento de inúmeras formas
de expressar a religiosidade de alguns grupos, dentro do quadro das fórmulas católicas. Os
cultos africanos sobreviveram à repressão graças aos artifícios dos funcionários coloniais, que
tratando as religiões africanas como folclore, ajudavam a manter as visitações do Santo Ofício

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longe. Mas isso não pode ser entendido como o abandono da luta da Coroa portuguesa contra
esse tipo de manifestação religiosa, em tudo divergente dos ditames da religião oficial.
Todos esses condicionamentos, de alguma forma, explicam atitudes do Episcopado no
começo da colonização do Brasil. As vacâncias tornaram-se comuns nas Paróquias, Prelazias,
Bispados e Arcebispados, o que se devia em grande parte ao próprio status de funcionário
público imposto ao clero na colônia, embora isso não tivesse qualquer relação com a
administração do culto, interferia nele, uma vez que estes cargos permaneceram abandonados
por longos períodos. Em outros casos, os padres eram esquecidos pela Coroa, passando muito
tempo sem receber suas côngruas, ou ordenados, que deveriam ser pagos pelas redízimas –
retorno do dízimo cobrado pela Coroa –, que deveriam ser repassadas às paróquias para sua
sobrevivência. As redízimas eram muitas vezes desviadas para fazer em face de outras despesas
da Fazenda régia, o que obrigava os religiosos a usarem expedientes pouco convencionais,
inclusive atuando como comerciantes para garantir o sustento de sua paróquia e o seu próprio.
O catolicismo no Brasil colonial não perdeu a sua originalidade e continuou bem
estabelecido na vida pública graças às irmandades, modelo associativo de fiéis surgido e
difundido no contexto da reforma tridentina, cujos objetivos, tais como: a valorização da
religiosidade laica, a difusão do culto aos santos e os esforços missionários destinados a
assegurar a perenidade da evangelização das populações mais distantes, possibilitaram a
ereção de várias dessas associações no solo colonial.
As Irmandades e Confrarias formadas por leigos no Brasil, além de promoverem o culto a
seus patronos celestes, tinham outras atribuições como prover de assistência os seus
integrantes, intervindo também no âmbito econômico para auxiliar suas famílias a livrarem-se
da miséria, a exemplo daquelas com invocação a Nossa Senhora do Rosário, a mais popular
devoção.

2. A SOCIEDADE COLONIAL
A sociedade colonial dos séculos XVI e XVII típica da região pernambucana era composta,
basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os
senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos
para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho.
O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem
direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos
interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar,
artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção
e auxílio). Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos,
funcionários e comerciantes.
Os escravos eram trazidos da África através de navios negreiros, chegando em péssimas
condições, doentes ou resultando na morte de alguns. As condições climáticas favoreceram o
cultivo de cana e as regiões em que essa cultura se desenvolveu proporcionaram praticidade
para o transporte desses seres humanos.
Nesse sistema também havia trabalhadores livres que tinham salários. Eles eram
especialistas na produção do açúcar. Outro assalariado era o feitor-mor que era um empregado
de confiança do senhor de engenho e cumpria a função de delegar tarefas aos outros
trabalhadores e administrar a produção do açúcar.
Os donos das pequenas terras também podiam plantar cana e vender para os grandes
proprietários de engenho. Acabavam sempre ficando dependentes de quem possuía grandes
posses uma vez que não tinham o mecanismo para produzir o açúcar em si, nem a mão de obra.
Alguns senhores eram apenas proprietários de escravos e também vendiam aos grandes
senhores, ou os deixavam plantar em sua propriedade e como forma de pagamento ficava com
uma porcentagem dos lucros.

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A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos
do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos,
agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família,
recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de
status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os
limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida
colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na
sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da
época.
A partir do século XVII a economia açucareira entra em declínio devido à expulsão dos
holandeses no Norte do Brasil e à tomada de posse novamente do lugar que os portugueses
ocuparam. Os holandeses começaram a plantar e comercializar cana de açúcar em suas colônias
nas Antilhas, fato que contribuiu para uma forte concorrência com os europeus deixando a
preferência do açúcar brasileiro de lado. Embora a produção não tenha parado, ela diminuiu
bastante, e os colonos começaram a se voltar a outras culturas e posteriormente para o ouro.
Isso ocorreu dentro do contexto da União Ibérica.

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SUMÁRIO
PERNAMBUCO: CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA............................................................................................. 2
1. CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA........................................................................................................... 2

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PERNAMBUCO: CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA


1. CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA
Não é exato falar de um ciclo histórico da produção açucareira, como foi tradicional entre
os historiadores. “Ciclo” dá ideia de surgimento, ascensão e fim de uma atividade econômica, o
que certamente não foi o caso do açúcar ou de outros produtos, como o café. O avanço da
exploração do ouro no século XVIII, por exemplo, não significou o fim da economia açucareira.
É mais adequado falar em conjunturas, ou seja, fases melhores ou piores, embora possamos
dizer que, em meados do século XIX, o açúcar deixou de cumprir papel dominante na economia
do país.
Sem entrar nas minúcias dos vaivéns do negócio açucareiro, podemos distinguir algumas
fases básicas de sua história no período colonial, demarcadas pelas guerras, invasões
estrangeiras e pela concorrência. Entre 1570 e 1620 houve uma conjuntura de expansão, dado
o crescimento da demanda na Europa e por não haver praticamente concorrência. A partir daí,
os negócios se complicaram como consequência do início da Guerra dos Trinta Anos o
continente europeu (1618) e, depois, por causa das invasões holandesas no Nordeste.
As invasões tiveram em geral um efeito muito negativo, embora seja necessário fazer
algumas distinções. A ocupação de Salvador em 1624-1625 foi desastrosa para a economia
açucareira do Recôncavo Baiano, mas não para Pernambuco. Por sua vez, enquanto
Pernambuco sofria as consequências das lutas resultantes de uma nova invasão holandesa
entre 1630 e 1637, a Bahia beneficiou-se da escassez do produto no mercado internacional e
da consequente elevação dos preços.
Na década de 1630, surgiu a concorrência. Nas pequenas ilhas das Antilhas, a Inglaterra,
a França e a Holanda iniciaram o plantio em grande escala, provocando uma série de efeitos
negativos na economia açucareira do Nordeste. A formação de preços fugiu ainda mais das
mãos dos comerciantes portugueses e dos produtores coloniais no Brasil. A produção antilhana,
também com base no trabalho de escravos, gerou uma elevação do preço destes e incentivou a
concorrência de holandeses, ingleses e franceses no comércio negreiro da costa africana. Nunca
mais a economia açucareira do Brasil voltaria aos “velhos bons tempos”.
Mas no período colonial a renda das exportações do açúcar sempre ocupou o primeiro
lugar. Mesmo no auge da exportação do ouro, o açúcar continuou a ser o produto mais
importante, pelo menos no comércio legal. Assim, em 1760 correspondeu a 50% do valor total
das exportações e o ouro a 46%. Afora isso, no fim do período colonial a produção teve um novo
alento, não só na área nordestina. Medidas tomadas pelo marquês de Pombal e uma série de
acontecimentos internacionais favoreceram a expansão. Dentre esses acontecimentos,
devemos destacar a grande rebelião de escravos ocorrida em 1791 em São Domingos, colônia
francesa nas Antilhas (Haiti). Durante dez anos de guerra, São Domingos – grande produtor de
açúcar e café – saiu da cena internacional. No início do século XIX, produziam açúcar, por ordem
de importância, a Bahia, Pernambuco e o Rio de Janeiro. São Paulo começava a despontar, mas
ainda como modesto exportador.
É difícil não chamar de crise a situação que viveu a economia açucareira da capitania de
Pernambuco na segunda metade do século XVII. Apesar de poucos anos após a Restauração boa
parte dos engenhos ser reativada e a produção voltar a um nível razoável, a conjuntura
econômica para o açúcar já era outra. Desalojados de Pernambuco, os holandeses aportam nas
Antilhas, passando não só a controlar o comércio como também a produção do açúcar. Dessa
forma, o açúcar antilhano produzido pelos holandeses entrou como concorrente do produto
pernambucano, afetando sua colocação no mercado europeu. Para um observador
contemporâneo o primeiro grande problema se dava justamente por conta dessa concorrência
estrangeira. A causa da diminuição e total ruína em que se acha o comércio dos frutos do Brasil

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não procedem de se obrar mal, senão de ser muito o que dele – das Barbadas e da Índia – vai à
Europa. A Inglaterra, por exemplo, que antes se abastecia em Portugal passou a receber
regularmente das Barbadas quarenta navios com quatro milhões de arrobas de açúcar. Ao
mesmo tempo, outra questão também é pertinente no entendimento da dita crise. Por conta da
debilidade do sistema de frotas, demorava-se a embarcar o açúcar para o Reino, transcorrendo
por vezes dois anos entre a fabricação e o comércio do produto na Europa. De tal forma que o
produto chegava já “velho” para o comércio, perdendo muito de sua qualidade, já que se o mais
fino e seco, com bom sol, tem quebrado muita parte da bondade, que será em dois anos.
Tais problemas parecem manter relações com outras questões. Na verdade, a maior parte
do problema esteve ligado às eventuais mudanças na dinâmica do mercado atlântico na
segunda metade do século XVII. O açúcar de Pernambuco e Bahia, por ser de melhor qualidade,
continuou mantendo seus consumidores na Europa mesmo com a concorrência antilhana. O
que ocorreu, foi uma baixa geral nos preços, afetando inclusive a produção nas Antilhas. A
produção continuava razoavelmente próspera, os tempos é que eram outros, agora não tão
favoráveis ao comércio do açúcar. Assim, a crise da economia açucareira não pode ser
condicionada, em si, à concorrência dos novos produtos antilhanos. A própria natureza da
plantation e da comercialização do açúcar, a partir de 1640, tendia à ampliação da produção,
que, se não ocorresse nas Antilhas, ocorreria no Brasil.
Some–se a isso uma epidemia de varíola que atingiu em cheio a produção de açúcar, já
que as principais vítimas da doença foram os escravos negros das lavouras e dos engenhos,
deixando a produção seriamente prejudicada. Pela grande mortandade de escravos, alguns
engenhos chegaram a parar de moer, interrompendo a produção Por essas e outras os preços
do açúcar despencaram: em Lisboa, o açúcar custava 3.500 réis a arroba em 1650, enquanto em
1668 caiu para 2.400 réis e em 1688 despencou para 1.300 réis. Já em Amsterdã custava 0,67
florins a arroba do açúcar branco em 1650, descendo para 0,28 florins em 1672.
Se há uma crise do açúcar no século XVII, ela se inicia por volta de 1666 e se estende à
década de noventa deste mesmo século. Em Amsterdã, entre 1666 e 1690, os preços estavam
em baixa, em torno de 1690 tais preços apresentam uma sensível melhora, situação que se
estenderia até meados da segunda década do século XVIII, quando teria tido início outra
depressão que se entenderia por cerca de meio século. Apesar de alguns picos de alta, entre os
anos de 1660 e 1680 o valor do contrato apresenta os valores mais baixos de toda a segunda
metade do século XVII. Já entre 1680 e 1702, descontando algumas poucas baixas, os valores
são em geral altos, alcançando entre 1701 e 1702 o maior pico no valor da arrematação.
Independentemente dos anos em que houve melhoras ou baixas na economia açucareira
do período, o que sabemos é que o contexto geral de dificuldades econômicas trouxe consigo
um dos mais sérios problemas para o funcionamento dos engenhos: o endividamento dos
produtores, ou seja, senhores de engenho e lavradores de canas. Neste período, o
endividamento chegou a níveis alarmantes. Sem meio circulante disponível, os produtores
apelavam aos financiamentos de entressafra para conseguir comprar os produtos vindos do
Reino. Isso significava que a safra era vendida antecipadamente por um preço bem abaixo do
usual. Ou, para atividades de manutenção do engenho e reposição de mão de obra, faziam
vultosos empréstimos dando também como garantia as safras vindouras. Nesse esquema de
constantes endividamentos, muitos se viam ameaçados de perder seus bens e seus próprios
engenhos. Segundo um observador da época, “a necessidade sujeita os compradores e por isso
são todos empenhados quanto a Vossa Excelência consta e se vê nas contínuas execuções com
que são compostos e destruídos.” Assim, “todas essas coisas têm os homens do Brasil para se
acharem sempre empenhados e deverem mais do que possuem.”
Através principalmente da Câmara de Olinda, senhores e lavradores recorriam
diretamente à Coroa para impedir que seus bens fossem sequestrados para saldar as dívidas.
Alegavam uma série de dificuldades financeiras na capitania, pedindo que não fossem
executados nas suas fazendas, propriedades e fábricas, mas sim nos seus rendimentos. A Coroa,

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neste caso particular, dava certa proteção aos senhores de engenho. Em alvará de 1663,
proibiu-se a arrematação de engenhos para cobrança de dívidas. A mesma proibição foi imposta
por provisão de 1676 por tempo de 6 anos. Em 1683, a Coroa, “sensibilizada” pelos apelos dos
produtores de Olinda, mais uma vez concede a mesma provisão por 6 anos. As provisões da
Coroa impedindo o sequestro de bens e propriedades dos produtores foram prorrogadas
repetidas vezes ao longo do século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII.
Após um curto período de recuperação conjuntural entre 1690 e 1710, sucedem-se vários
anos de dificuldades e problemas. Em torno de 1710, os engenhos da capitania exportavam
cerca de 12.300 caixas de açúcar, que eram exportadas ao preço médio de 960 a 1120 réis a
arroba. Ao longo do século a tendência foi de permanência das dificuldades, exportando-se em
1750 apenas 5.500 caixas do produto. Por estes mesmos anos, os engenhos produziam, um total
de 240.000 arrobas, bem abaixo de 1710, quando se produziam 403.500 arrobas. A situação
viria a melhorar em 1761, quando sob a atuação da Companhia de Comércio de Pernambuco e
Paraíba, o açúcar conseguiu uma melhor colocação no mercado europeu, o que estimulou a
produção e a exportação, que chegou em torno de 7.200 caixas. Na mesma época, a capitania
possuía (juntamente com Paraíba e Rio Grande) 309 engenhos que produziam 8.209 caixas ao
ano.
O abastecimento de escravos para os engenhos e lavouras passava por problemas, já que
a constante procura por escravos em Minas Gerais fez com que esta região fosse o mercado
preferido na venda de escravos, pois aí se alcançavam melhores preços. Em 1719, a Câmara de
Olinda reclamava do lastimoso estado a que se tem reduzidas aquelas capitanias por falta de
escravos de Angola e Costa (da Mina). Isso ocorria, segundo a câmara, porque muitos escravos
que desembarcavam em Pernambuco eram remetidos para as Minas, pois sempre naquela
praça estão de quantidade de pessoas que vivem de os comprar para elas e os pagavam por
preços tão exorbitantes que nenhum morador os podia chegar a igualar.
Situação também percebida e relatada pela Câmara do Recife, que comentava sobre o alto
preço dos escravos: “havendo-os tido em outro tempo por quarenta até cinquenta mil réis, hoje
os tem por cento e setenta e cento e oitenta mil réis.” Por conta disso, pedia à Câmara de Olinda
que ordenasse que os escravos que viessem de Angola e da Costa da Mina não pudessem ser
remetidos para o Rio de Janeiro, nem por mar nem por terra.
Os problemas decorrentes do sistema de frotas, relatado por um observador em fins do
século XVII, como vimos mais acima, parecem ter persistido nas primeiras décadas do século
XVIII, trazendo complicações para os negócios do açúcar na capitania. Sebastião de Castro e
Caldas, governador de Pernambuco, em 1708, dizia ao rei D. João V que a frota de Pernambuco
deveria entrar e sair do porto no verão sem dependência das outras frotas, pois de outra
maneira ficariam a praça e os moradores em total ruína. Certamente tal proposição do
governador está ligada à necessidade de dar uma saída mais rápida ao açúcar, evitando que o
produto ficasse armazenado durante muito tempo nos armazéns prejudicando a qualidade do
produto. Percebe-se, assim, que o próprio sistema de frotas, idealizado pela Coroa portuguesa
para dar mais segurança e controle aos navios carregados de açúcar no Atlântico, era mais um
fator que trazia consequências negativas para o bom andamento do funcionamento dos
engenhos.
A julgar pelos clamores dos produtores, os engenhos viviam tempos de grandes
dificuldades. Entre 1711 e 1725, os senhores de engenho e lavradores de canas através da
Câmara de Olinda fizeram nada menos que 10 pedidos de provisão à Coroa para que seus bens
não fossem executados pelas dívidas. Os produtores através da câmara se queixavam
continuamente do “miserável estado da terra por falta de cabedal“ ou das “calamidades do
tempo“, o que trazia consigo as execuções de bens, nas quais senhores e lavradores perdiam
bois e escravos, impossibilitando-os de produzir canas e açúcares. O tom dos seus clamores dá
uma medida do “desespero” dos produtores: “tornamos a pedir a Vossa Majestade que ponha
os olhos de sua real clemência e piedade nestes seus humildes vassalos, porque a sua extrema

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necessidade os faz dignos da real compaixão de Vossa Majestade.” O “pesadelo” com as dívidas
só teve um alívio maior em 1725 quando a Coroa, depois de passar várias provisões
temporárias, deu uma resolução definitiva à questão, declarando que se deveria passar
provisão sem limitação de tempo para que os senhores de engenho e lavradores de canas de
Pernambuco não fossem executados nos seus bens.
Da segunda década do século XVIII até pelo menos a sexta década deste século, seguiu-se
uma segunda depressão, terrível por sua intensidade e extensa em sua duração. Assim como os
depoimentos do Marquês de Angeja, Vice-rei do Brasil, que também se mostram em
consonância com o que relatavam os produtores. No entanto, também podemos analisar uma
cronologia diferente para uma crise do açúcar na primeira metade do século XVIII. Entre 1700
e 1730 teria havido uma fase de prosperidade nos negócios do açúcar em Pernambuco, atestada
pelos bons valores alcançados no contrato do imposto dos dízimos, que incidia diretamente
sobre a produção açucareira. Prosperidade essa apenas brevemente interrompida por
conturbações políticas como a Guerra dos Mascates, ou por breves períodos de seca, mas que
não afetariam estruturalmente os bons ventos produtivos do açúcar. É na década de 30 que os
índices de produção de açúcar atestam sensíveis baixas, portanto apenas a partir daí
poderíamos falar em depressão na economia açucareira em Pernambuco.
No entanto, é necessário considerar que, durante esses 30 anos de suposta prosperidade,
houve momentos de evidentes dificuldades para o açúcar, a exemplo dos anos entre 1724 e
1726. Em 1724, se dizia que havia dois anos que não se arrematavam os dízimos por não haver
quem o quisesse arrematar, cobrando-se o tributo pela Fazenda Real. No ano seguinte o mesmo
contrato também não foi arrematado, segundo o provedor João do Rego Barros, devido à
“esterilidade”, cobrando-se mais uma vez pela Fazenda Real. Em 1726, o contrato foi finalmente
arrematado, mas, para isso, teve que ficar em praça mais do que o tempo normal, pois não
apareciam lançadores.
Em 1707, os dízimos reais alcançaram o pico em torno de 32 contos de réis, enquanto em
1742 chegavam a sua maior baixa com o valor por volta de 11 contos. Se fizéssemos uma média
para o período entre 1707 e 1759, os dízimos andariam em torno do valor de 20 contos de réis.
Percebe-se, assim, a partir do autor, que, da década de 30 até 1750, os índices que indicam a
produção de açúcar estavam em níveis bastante baixos, indicando um período de dificuldades
econômicas.
Assim, a economia açucareira caracterizou-se em Pernambuco, com seus altos e baixos,
mas marcando em definitivo e contribuindo enormemente para/com o desenvolvimento da
história deste estado maravilhoso!

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SUMÁRIO
CONFLITOS EM PERNAMBUCO NO PERÍODO COLONIAL: INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA E GUERRA DOS
MASCATES ......................................................................................................................................................... 2
1. INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645-1654)....................................................................................... 3
2. A GUERRA DOS MASCATES (1710-1711) ............................................................................................... 8

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CONFLITOS EM PERNAMBUCO NO PERÍODO COLONIAL:


INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA E GUERRA DOS
MASCATES
As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político-
militar da Colônia. Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples
episódio regional. Ao contrário, fizeram parte do quadro das relações internacionais entre os
países europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das fontes de
suprimento de escravos.
A resistência às invasões representou um grande esforço financeiro e militar com base em
recursos não só externos como locais. Foi um indício das possibilidades de ação autônoma da
gente da Colônia, embora estivesse ainda longe a existência de uma identidade separada da
Metrópole. A guerra foi uma luta pelo açúcar e, sobretudo em seu último período, sustentada
pelo açúcar, por meio dos impostos cobrados pela Coroa.
A história das invasões liga-se à passagem do trono português à Coroa espanhola, como
resultado de uma crise sucessória que pôs fim à dinastia de Avis (1580). Na medida em que
havia um conflito aberto entre a Espanha e os Países Baixos, o relacionamento entre Portugal e
Holanda iria inevitavelmente mudar. Sobretudo, os holandeses não poderiam mais continuar a
exercer o papel predominante que tinham na comercialização do açúcar.
Eles iniciaram suas investidas pilhando a costa africana e a cidade de Salvador. Mas a
Trégua dos Doze Anos entre a Espanha e os Países Baixos (1609-1621) deixou Portugal em
situação relativamente calma. O fim da trégua e a criação da Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais marcam a mudança do quadro. Formada com capitais do Estado e de financistas
particulares, a companhia teria como seus alvos principais a ocupação das zonas de produção
açucareira na América portuguesa e o controle do suprimento de escravos.
As invasões começaram com a ocupação de Salvador, em 1624. Os holandeses levaram
pouco mais de 24 horas para dominar a cidade, mas praticamente não conseguiram sair de seus
limites. Os chamados homens bons refugiaram-se nas fazendas próximas à capital e
organizaram a resistência, chefiada por Matias de Albuquerque, novo governador por eles
escolhido, o pelo bispo dom Marcos Teixeira. Utilizando-se da tática de guerrilhas e com
reforços chegados da Europa, eles impediram a expansão dos invasores. Uma frota composta
de 52 navios e mais de 12 mil homens juntou-se, a seguir, às tropas combatentes. Depois de
duros combates, os holandeses se renderam, em maio de 1625. Tinham permanecido na Bahia
por um ano.
O ataque a Pernambuco se iniciou em 1630, com a conquista de Olinda. A partir desse
episódio, a guerra pode ser dividia em três períodos distintos:
➢ Entre 1630 e 1637, travou-se uma guerra de resistência, que terminou com a
afirmação do poder holandês sobre toda a região compreendida entre o Ceará e o
rio São Francisco. Nesse período, destacou-se de forma negativa, a figura de
Domingos Fernandes Calabar. Perfeito conhecedor do terreno onde se travavam os
combates, Calabar passou das forças luso-brasileiras para as holandesas, tornando-
se um eficaz colaborador destas, até ser preso e executado.
➢ O segundo período, entre 1637 e 1644, caracteriza-se por relativa paz, relacionada
com o governo do príncipe holandês Maurício de Nassau, o qual foi o responsável
por uma série de importantes iniciativas políticas e realizações administrativas. Por
causa de desavenças com a Companhia das Índias Ocidentais, Nassau regressou à
Europa em 1644.

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➢ O terceiro período de guerra, entre 1645 e 1654, se define pela reconquista. O fim
da dominação espanhola em Portugal, com a ascensão de d. João IV ao trono
português, não pôs fim à guerra. O quadro das relações entre Portugal e Holanda
havia se modificado. O principal centro da revolta contra a presença holandesa
localizou-se em Pernambuco, onde se destacaram as figuras de André Vidal de
Negreiros e João Fernandes Vieira. A eles se juntaram o negro Henrique Dias e o
índio Filipe Camarão. Depois de alguns êxitos iniciais dos luso-brasileiros, a guerra
entrou em um impasse, prolongando-se por vários anos. Enquanto os revoltosos
dominaram o interior, Recife permanecia em mãos holandesas. O impasse foi
quebrado na Batalha dos Guararapes, dentro da Insurreição Pernambucana (ou
Guerra da Luz Divina).

1. INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645-1654)


Após a partida de Nassau, abria-se o capítulo final desta guerra, com a insurreição do povo
pernambucano. D. João IV, secretamente, apoiou o movimento, até ver fracassado o objetivo de
reconquista rápida de Recife. Os insurretos prosseguiram então a luta, desamparados e em
desobediência à Metrópole. Com sacrifícios indescritíveis e usando processos de combate
inusitados, genuinamente brasileiros, criaram condições para a recuperação de Pernambuco e
de Angola para Portugal, além de preservarem a unidade física e cultural do Brasil
A Insurreição Pernambucana é, portanto, episódio da maior relevância para a formação
da nacionalidade brasileira e as origens do Exército. Em 1945, a Força Expedicionária
Brasileira, ao retornar vitoriosa da Itália, depositou os louros da vitória no campo de batalha
dos Guararapes e seu comandante, o General Mascarenhas de Morais, proferiu estas palavras:
"Nestas colinas sagradas, na batalha vitoriosa contra o invasor, a força armada do Brasil se
forjou e alicerçou para sempre a base da Nação brasileira".
Entre as causas que determinaram a insurreição, destaca-se a insolvência das dívidas de
luso-brasileiros e holandeses, decorrência do fracasso da lavoura canavieira, por circunstâncias
adversas de toda a ordem, determinando a queda das ações da Companhia das Índias
Ocidentais, do valor nominal de 100 para 33.
Agravaram da situação especulações extorsivas praticadas por comerciantes estrangeiros
de Recife, que operavam em mercado paralelo à Companhia e fora do controle desta.
Daí a hostilidade entre moradores luso-brasileiros e holandeses, reduzidos os primeiros
à condição de escravos econômicos da Companhia e de comerciantes de Recife.
Por outro lado, o expansionismo da Holanda ultrapassou os limites do próprio poderio,
ameaçando conquistar todo o Brasil e domínios de Portugal na África, em desrespeito ao
tratado celebrado e aproveitando-se da fraqueza militar portugueses em guerra contra a
Espanha. A ambição excessiva suscitou reações adversas que uma política moderada teria
evitado.
Contribuiu ainda para determinar a insurreição o antagonismo religioso entre católicos e
calvinistas, exacerbado após a partida de Nassau. Governante equilibrado e hábil, o príncipe
soubera praticar uma tolerância religiosa que aliviava o peso do jugo estrangeiro.
As incompatibilidades temporariamente arrefecidas ressurgiram graças ao desrespeito
do invasor pelos valores luso-brasileiros, ao seu desprezo pela fé católica, pelas imagens de
santos e padres e pelos sentimentos de honra pessoal e familiar da população local.
Mais ainda contribuiu para tornar inviável o governo de ocupação o hábito dos invasores
de quebrar sistematicamente a palavra em assuntos políticos, negando a prometida
participação dos pernambucanos nos governos locais e incentivando a inimizade entre índios e
luso-brasileiros, que atingiu, em 1645, proporções de ódio racial, quando da abolição da
escravatura dos índios, artifício para atraí-los à aliança militar.
Essas causas predisponentes tornaram-se determinantes desde o momento em que as
tendências insurrecionais tomaram corpo diante do exemplo da restauração do Maranhão.

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Muito animou os revoltosos, também, a constatação da fraqueza militar do invasor em


Pernambuco, reduzido em seus efetivos, em conseqüência de armistícios e compressão de
despesas.
Para responder à astúcia do conquistador, Portugal e patriotas elaboraram um plano
secreto, que objetivava a conquista rápida de Recife, com a finalidade de expulsar os holandeses
que, sem desrespeitar o tratado, continuavam expandindo suas conquistas no Brasil e na África.
Segundo o plano, deveria fazer-se prevalecer por todos os meios a impressão de que a
insurreição era uma iniciativa particular dos patriotas de Pernambuco. À revelia de Portugal e
da Bahia. Se fosse descoberto o apoio e incentivo de D. João IV, ficava em perigo a própria
independência de Portugal.
Uma esquadra sob o comando do General Salvador Correia de Sá e Benevides foi enviada
para as águas de Recife, simulando intenção de auxiliar os holandeses a debelar a insurreição,
mas, na realidade, para favorecer a causa dos insurgentes. Enquanto isto, Portugal, através de
manobras diplomáticas Habilidosas, procuraria mostrar inocência na intervenção, para evitar
abrir simultaneamente uma frente de luta com a Holanda, pois já guerreava com a Espanha.
O governo da Bahia, por seu lado, enviou o Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso para, em
seis meses, antes do início da insurreição, organizar e treinar o exército dos patriotas na Mata
do Brasil, em colaboração com o líder civil do movimento em Pernambuco, João Fernandes
Vieira. A região compreendia os atuais municípios de Vitória de Santo Antão, São Lourenço e
Nazaré da Mata, onde era explorado o pau-brasil sob a direção e controle de Fernandes Vieira.
Reforçou-se o apoio externo pela remessa para Pernambuco das tropas de Filipe Camarão
e de Henrique Dias, simulando-se que o primeiro se havia rebelado e que o segundo fora
mandado em seu encalço para prendê-lo e recambiá-lo à Bahia. Finalmente, para completar o
apoio, foram enviados por mar, na flotilha de Serrão de Paiva, protegida pela esquadra
portuguesa de Salvador de Sá, dois terços de infantaria ao comando de André Vidal de Negreiros
e Martim Soares Moreno, divulgando-se a falsa explicação de que vinham prender João
Fernandes Vieira, debelar a insurreição e obrigar os pernambucanos a cumprir o tratado
Holanda-Portugal.
A atuação dos pernambucanos na preparação da revolta deu-se principalmente em três
campos:
➢ Compromisso assinado entre os moradores mais influentes no sentido de empenhar
seus recursos financeiros e dar apoio de toda ordem para a restauração da
liberdade.
➢ Reunião de homens do povo para constituírem o exército de libertação a ser
formado e treinado secretamente por Antônio Dias Cardoso.
➢ Organização de depósitos secretos de armas, munições e alimentos na Mata do
Brasil, destinados ao apoio logístico dos insurretos.
Combinou-se dar início à insurreição no dia 24 de junho de 1645, durante o casamento
simulado entre familiares de dois líderes insurrecionais, João Fernandes Vieira e Antônio
Cavalcanti.
No decorrer da cerimônia seriam aprisionadas as mais altas autoridades holandesas, civis
e militares, que só seriam postas em liberdade mediante entrega da base naval de Recife.
A data escolhida, dia de São João, era homenagem ao líder civil do movimento – João
Fernandes Vieira, – e ao Rei D. João IV de Portugal, e coincidia com época das chuvas, que
dificultariam o movimento de tropas inimigas.
Ao primeiro sinal de insurreição, Amador de Araújo e seu assessor militar, Capitão
Agostinho Fernandes, sitiariam Ipojuca e Cabo, para fixarem importantes efetivos do invasor
ao sul de Pernambuco, ou mesmo atraírem sobre si as forças da Companhia das Índias
Ocidentais.

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Nas demais localidades, os insurgentes, após imobilizarem as guarnições holandesas,


procurariam junção com Antônio Dias Cardoso para formarem o exército libertador e
ocuparem Recife.
O plano previa a adesão à causa de dois destacados militares holandeses: Dirck
Hoogstraten, comandante da Fortaleza de Nazaré, ponto essencial para os luso-brasileiros
receberem apoio externo, e Gaspar Van der Ley, comandante da tropa de milicianos holandeses
ao sul de Pernambuco. O primeiro era católico e o segundo havia-se unido com uma brasileira,
filha de prestigiosa família local. Ambos, por dedicarem-se à plantação de cana-de-açúcar,
tornaram-se devedores insolventes, como a totalidade dos engajados neste ramo de atividade.
Os dois foram absorvidos pela cultura luso-brasileira. A vitória da insurreição representaria
uma solução para os seus problemas.
Ao primeiro sinal de insurreição, deviam os insurretos locais organizar grupos de
emboscadas para, sucessivamente imobilizar, sitiar e obrigar à rendição as diversas guarnições
e fortes inimigos espalhados no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Sergipe e nas Alagoas.
Os insurgentes adotaram para designá-los o termo "Independentes", como senha a
palavra "Açúcar" e como lema a expressão "Restauração da Liberdade Divina e da Pátria
Independentes", para demonstrar o desejo de se tornarem livres da Holanda, a qual tinham sido
submetidos pela conquista, consolidada através de um tratado com Portugal. A senha "Açúcar"
estava relacionada com a maior riqueza da terra. O lema continha as duas ideias-forças capazes
de motivar todos à luta; a primeira representava o ideal coletivo de restabelecer em
Pernambuco o predomínio católico, sob séria ameaça dos reformista, um e outro defrontando-
se na Europa numa das guerras mais sangrentas da humanidade – a Guerra dos Trinta Anos; a
segunda representava o anseio de restabelecimento da Pátria que aglutinava diversas gerações
de brasileiros, brancos, negros, índios, mulatos, caboclos e de muitos portugueses que vieram
para ficar. A maioria já considerava Pernambuco como pátria, com significado análogo ao do
Brasil de hoje.
A insurreição, para a parte mais prestigiosa dos luso-brasileiros, devia ser conduzida
dentro dum contexto nativista. Isto é provado com o termo-compromisso assinado pelos
patriotas. A Portugal, dentro do quadro estratégico mundial, interessava a conquista rápida de
Recife. Uma luta prolongada era altamente inconveniente e perigosa para seu destino como
nação independente. Isto é essencial para o perfeito entendimento desta guerra.
No ano de 1641, logo após a restauração de Portugal, patriotas de Pernambuco enviaram,
através de emissário especial, proposta a D. João IV, no sentido de promover a devolução de
Pernambuco a Portugal. À custa de recursos de seus moradores, desde que auxiliados
externamente pela Metrópole. O Rei português, sem comprometer-se ostensivamente,
encarregou, no entanto, o Governador-Geral Antônio Teles da Silva de incentivar, apoiar e
coordenar secretamente a insurreição.
Teles, que via próxima a tentativa expansionista para a Bahia, combinou o plano com
André Vidal de Negreiros. A partida de Nassau, o caos econômico, a fraqueza militar de
Pernambuco, o êxito na restauração do Maranhão, o retorno do clima de intolerância religiosa
e a execução violenta de dívidas dos moradores, permitida pela junta de comerciantes que
substituíram Nassau, criaram o momento psicológico ideal para a Insurreição Pernambucana.
André Vidal de Negreiros, a 18 de setembro de 1642, esteve em Recife, em missão
diplomática. Encontrou-se secretamente com João Fernandes Vieira, com quem acertou os
detalhes. A 27 de agosto de 1644 desembarcou naquela cidade com carta em que fingia ir
despedir-se de seus pais na Paraíba por ter de seguir para outra missão.
A permanência de Vidal de Negreiros foi de importância decisiva para planejar o
movimento restaurador. Vidal, após coordenar com João Fernandes Vieira o plano de apoio
externo com o esquema local de insurreição, retornou à Bahia depois de mais de um mês de
intensa conspiração.

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Com Vidal de Negreiros desembarcara o padre Inácio, da Ordem de São Bento, trazendo
aos conspiradores a promessa de auxílio à insurreição, da parte de D. João IV.
Vidal era portador de uma mensagem real ao Conselho Holandês do Recife, em que, para
desviar suspeitas, o Rei dizia ter sido informado por Frei Estêvão de Jesus de que os católicos
eram muito bem tratados no Brasil, o que o enchia de satisfação. Frei Estêvão, na verdade, havia
sido mandado junto ao Rei para anunciar-lhe o propósito de insurreição e pedir-lhe apoio
(obtida resposta positiva, embarcou, mas morreu em viagem, sendo substituído por Frei
Inácio).
Ao retornar à Bahia, Vidal de Negreiros prestou contas de sua missão ao Governador e
Capitão General do Estado do Brasil, Antônio Teles da Silva, que lhe ordenou procurasse um
chefe competente, discreto e conhecedor de Pernambuco para ali ser enviado com a
incumbência de organizar e treinar secretamente os insurretos, em ligação com João Fernandes
Vieira, líder civil de pouca experiência militar. O indicado foi o Capitão Antônio Dias Cardoso,
que atuaria dentro do quadro de uma missão hoje reservada a forças especiais.
Dias Cardoso era bravo e experimentado militar, veterano das lutas do período 1624-
1641. Possuía excepcional folha de serviços, aliada à reputação de mestre na arte de guerra de
emboscadas. Profundo conhecedor da região, era estimado e respeitado por Vidal de Negreiros,
Camarão e Henrique Dias e pelo próprio Fernandes Vieira.
Para ajudar na missão de Dias Cardoso, Vidal de Negreiros forneceu-lhe uma carta em que
dizia ir ele fugido para Pernambuco por ter desrespeitado ordem de seu General. Assim, se
caísse prisioneiro do invasor, sua vida poderia ser poupada.
Dias Cardoso partiu através de 100 léguas de sertão em terreno difícil, passando muitas
dificuldades e perigos de vida ao cruzar territórios hostis, dominados por quilombos ou por
índios rebeldes, e ao atravessar a nado rios caudalosos para não ser pressentido pelos
holandeses ou moradores. Chegando a Pernambuco transmitiu a João Fernandes Vieira as
ordens que recebera de Vidal e do Governador-Geral e as informações sobre o dispositivo
inimigo ao longo do itinerário percorrido. Deu cumprimento às ordens que possuía, com fervor
necessário a tão importante missão, começou a atrair e adestrar militarmente o povo para a
insurreição em diversos lugares, despendendo com isto sete meses, todos passados nas matas
ao rigor do tempo, para fugir ao inimigo que se pôs a buscá-lo, colocando em grande perigo sua
vida.
A 3 de agosto de 1645 travou-se no Monte das Tabocas o primeiro encontro entre um
contingente do Exército holandês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais ao comando do
Coronel Hendrick van Hans e o exército dos patriotas, constituído principalmente de civis
pernambucanos. Ao perceber a aproximação do adversário, Dias Cardoso despachou em sua
direção pequena força de cobertura, ao comando do Capitão João Nunes da Mata, com a
finalidade de atraí-lo para o Monte.
O inimigo bateu e dispersou esta força, prosseguindo até a margem do rio Tapacurá,
quando carregou com enorme alarido e estrondo sobre a vegetação da margem, ao imaginar
que ali existissem emboscadas. A vanguarda atravessou o rio e Dias Cardoso foi ao seu encontro,
a fim de jogá-la nas emboscadas que preparara Capitão Domingos Fagundes, no comando de 40
homens.
Após oferecer alguma resistência, esta fração foi obrigada a retrair, através de uma única
passagem no áspero e impenetrável tabocal que corria na base da elevação, envolvendo-a pelo
oeste e sul. O inimigo atravessou o rio e entrou em formação de combate, numa larga campina
entre a margem e o tabocal. A seguir, com um flanco apoiado em cada lado, progrediu em
direção à passagem do tabocal, de onde saíra novamente Fagundes em seu encontro.
Os holandeses tinham caído na armadilha de Dias Cardoso, constituída de três
emboscadas. A primeira, sob a direção do Capitão João Gomes de Melo, num total de 25 tiros,
foi disparada à queima-roupa, sobre a retaguarda adversária, causando-lhe muitas baixas. Com
o prosseguimento da força, foi disparada a segunda emboscada, de igual valor, ao comando do

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Capitão Jerônimo Cunha do Amaral. A vanguarda inimiga continuou a adiantar-se e, quando se


aproximava da passagem do tabocal, Dias Cardoso ordenou o acionamento da última, sob a
chefia do Capitão João Paes Cabral – foram 40 tiros desferidos contra a testa adversária.
Após muita resistência, a vanguarda inimiga obrigou Agostinho Fernandes a retrair e
infiltrar-se no tabocal. Parte do corpo de batalha conseguiu penetrar na passagem a, por cuja
posse se travou luta feroz e demorada, sob a direção de Dias Cardoso, que mandou substituir
os combatentes mais cansados e repeliu o atacante.
A tentativa de envolvimento foi evitada pela segurança da retaguarda e por um atirador
isolado da proteção de flanco, que atingiu, mortalmente, o comandante da vanguarda holandesa
– Capitão Falloo.
Após reorganizar-se, o inimigo partiu para outro ataque em toda a frente, visando a
penetrar ao longo da linha do tabocal. Progrediu e conseguiu, após muita luta, introduzir-se em
diversos pontos da linha de resistência, isolando e fixando seus defensores, inclusive Dias
Cardoso.
Fixada parte das tropas dessa linha, o inimigo começou a adiantar-se em direção ao alto
da elevação, onde se encontrava a reserva constituída pelo povo, desarmada, sob a direção do
Capitão Padre Simão de Figueiredo, e do próprio líder da insurreição, João Fernandes Vieira.
Na iminência do perigo, Vieira conclamou o povo ao esforço derradeiro e prometeu
liberdade a 50 servos de sua guarda pessoal se se mostrassem valorosos no combate. Os
escravos desceram o monte em duas partes, armados com arcos, flechas, lanças e facões,
tocando flautas, atabaques e buzinas. Na esteira destes bravos veio todo o povo, com os mais
variados tipos de armas, a maioria instrumentos de trabalho. O contra-ataque transformou-se
num corpo a corpo, feroz e desordenado, com patriotas a surgir de todas as direções, lançando-
se aos magotes sobre o inimigo, obrigando-o a bater em retirada. Venceram os insurretos.
Após quatro horas de peleja o inimigo abandonou, no campo de luta, mais de 100 mortos
e grande quantidade de munição e armamento. Fez transportar numerosos feridos para Recife
e com 450 homens retirou-se para Casa Forte. Entre os patriotas registraram-se 63 baixas: 33
mortos e 30 feridos.
João Fernandes Vieira, líder da insurreição, reconheceu que o mérito da vitória coube a
Dias Cardoso, ao certificar em documento revelado por Gonsalves de Melo Neto: "Graças ao
Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso e, mediante favor divino, alcançamos vitória, tudo
alcançado por Deus, pela boa ordem com que Dias Cardoso dispôs a batalha, dando a todos os
oficiais muito exemplo com sua militar doutrina e conhecido esforço que, em quatro horas de
batalha mostrou sem descansar, acudindo em todas as partes com bravo ânimo".
A primeira Batalha dos Guararapes foi notável feito de armas. Estudada no quadro de sua
época e guardadas as proporções, foi um acontecimento militar digno de figurar com realce
entre os que deram renome de insignes capitães a Gustavo Adolfo, Turenne e outros chefes
militares do século XVII. Realmente, desde os preliminares até os últimos instantes, os
brasileiros foram sempre superiores aos holandeses, quer em espírito ofensivo, quer na própria
direção e coordenação dos combates.
É necessário ressaltar que a firme determinação daqueles homens de travar batalha
decisiva era ideia revolucionária na época, tanto que os próprios chefes holandeses, portadores
da mais aperfeiçoada instrução do tempo, não tinham outras preocupações que não fossem os
objetivos geográficos ou as praças-fortes. Ao saírem de Recife, buscavam apoderar-se de
Muribeca ou do cabo de Santo Agostinho, com a intenção de cortarem as comunicações e os
recursos dos patriotas concentrados no Arraial e na Várzea. Agiam dentro das ideias
estratégicas vigentes no século XVII. Os brasileiros, entretanto, pela sua admirável intuição,
mostravam-se avançados de mais um século em relação às ideias militares contemporâneas.
Não menos inovadora foi a escolha, pelos chefes luso-brasileiros, de um campo de batalha
adequado às armas e ao modo de pelejar dos soldados. Não se preocuparam em tomar posse
dos montes que dominavam a planície e os alagados, ao sul. O que lhes interessava, primeiro,

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era esconder a importância ou o valor dos seus efetivos para conseguir uma surpresa sobre o
inimigo; segundo, atrair os holandeses para a luta em terreno estreito, entre os montes e os
brejos, onde perdessem a vantagem da superioridade numérica e de armas de fogo. Com o seu
modo de combater, em pequenos grupos separados, e de preferência com arma branca,
avançando e recuando, armando ciladas, o exército luso-brasileiro foi senhor de todas as ações
no dia 19. Aproveitando a surpresa obtida tanto pelos seus efetivos – avaliados em 3 mil
homens por Von Schkoppe – como pelo terreno alagadiço e inseguro, não foi difícil a Barreto de
Menezes, Dias Cardoso, Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Camarão investirem
confiantes sobre os adversários com o propósito de lançá-los e destruí-los de encontro aos
brejos.
No que respeita à direção da luta, os documentos oficiais estabelecem a prioridade de
Barreto de Menezes. Ele acompanhou com atenção todas as ações que se desenvolviam tanto
na baixada como nos montes e, por três vezes, pelo menos, interveio oportuna e sabiamente;
primeiro, quando empregou sua reserva inicial para reforçar e apoiar Henrique Dias, o que não
deu resultado por motivo alheio à vontade; segundo, ao reunir elementos dispersos e retirantes
da frente de luta para organizar com eles nova reserva a fim de atender às circunstâncias;
terceiro, para decidir o curso da batalha lançou essa última tropa contra os regimentos
flamengos, já em plena desordem e confusão, no terreno alagadiço, onde foram massacrados. O
caminho estaria aberto para a vitória das forças luso-brasileiras em relação à expulsão
definitiva dos holandeses.
Com a Segunda Batalha dos Guararapes (1649), a vitória veio por completo e os
holandeses se retiraram do Brasil.

2. A GUERRA DOS MASCATES (1710-1711)


Esta luta envolveu os senhores de engenho que viviam em Olinda e os comerciantes de
Recife. Os primeiros queriam impedir a autonomia de Recife em relação a Olinda, destruindo o
Pelourinho erguido, símbolo dessa autonomia. No alvorecer da segunda década do século XVIII,
eclode em Pernambuco um conflito explosivo entre as cidades de Olinda e Recife. A primeira,
dominada em grande parte por uma elite latifundiária, tinha sua principal atividade baseada na
produção e venda de açúcar. O declínio desse produto resultou na crescente dependência, por
parte dessa elite, em relação aos comerciantes do Recife que, em sua maioria portugueses,
estavam engajados em atividades mercantis realizando empréstimos com juros altos.
Dado o desenvolvimento econômico paulatino do Recife, os comerciantes, que também
eram intitulados "mascates", recorreram à Coroa portuguesa solicitando sua emancipação e o
título de Vila, pois até ali eram um povoado periférico à Olinda, principal cidade pernambucana.
A Coroa concedeu o pedido autorizando a criação de uma Câmara Municipal em Recife
que, em 1710, foi inaugurada junto ao Pelourinho, elevando-a à condição da cidade e, por
conseguinte, oficializando a separação de Olinda. A situação não foi bem recebida pelos
senhores de engenho olindenses que, revoltados com a elevação do Recife e temendo a perda
de sua condição de superioridade política em Pernambuco, invadiram a localidade depredando
tanto a Câmara quanto o Pelourinho.
A destruição dos prédios e a invasão do Recife ocorreram quando forças lideradas pelo
Capitão-mor Pedro Ribeiro da Silva, organizados em Vitória de Santo Antão, se somaram às que
se encontravam em Afogados, vindas de São Lourenço e Olinda, sob liderança de Bernardo
Vieira de Melo e seu pai, o coronel Leonardo Bezerra Cavalcanti.
Além de destruir os símbolos da cidade, tinham como objetivo perseguir e prender os
aliados do governador Sebastião de Castro Caldas Barbosa, visto por eles como aliado dos
mascates e sendo considerado contrário aos nobres da terra, como os senhores rurais de Olinda
se reconheciam. Durante o conflito, o governador foi ainda alvo de um atentado, na tarde de 17
de outubro de 1710, quando se encaminhava para o palácio do governo após a ladainha dos
sábados na igreja do convento da Penha. Foi surpreendido na rua das Águas Verdes por três

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homens emboscados que dispararam cerca de cinco ou seis tiros, que não atingiram seus órgãos
vitais. Soldados saíram na busca, mas não alcançaram os responsáveis.
Não houve respostas oficiais quanto ao autor intelectual do atentado, mas a hipótese
levantada foi a de que Leonardo Bezerra, que se encontrava preso, mas não conseguia ser solto
pelos meios ordinários da justiça, mandou que atentassem contra o governador. O ato não foi
apenas uma atitude desesperada do coronel, mas também uma tentativa frustrada de afastar o
governador do poder. Ciente dos riscos, Castro e Caldas se encaminhou para a Bahia, deixando
o poder nas mãos do bispo Manuel Álvares da Costa.
Esses episódios ocorreram em 1710. O contra-ataque dos mascates aconteceria no ano
seguinte, em 1711, com a invasão da cidade de Olinda e destruição de algumas Vilas, plantações
e engenhos da região. Diante desses conflitos, a Coroa começou a temer por uma
desestabilização de seu poder e enviou um novo responsável para a ocupação do cargo de
governador: Félix José de Mendonça, considerado de atitudes mais equilibradas e capaz de
superar o impasse entre mascates e nobreza. Também foram mandados o ouvidor geral, Dr.
João Marques Bacalhau, e o juiz de fora, Dr. Paulo de Carvalho, além de tropas para contenção
da revolta.
Naquele momento, antes mesmo de encontrar os responsáveis pelas sublevações, era
necessário resolver os conflitos. Dois dos principais objetivos dos recém enviados eram exigir
dos recifenses a entrega de uma das fortalezas e, dos olindenses, a cessação do cerco à Recife.
Buscava-se repor as coisas da maneira em que se encontravam antes do levante da nobreza e
também da fuga de Castro e Caldas. O governador e sua comitiva não conseguiram contornar as
exigências, visto que os olindenses reivindicavam que o governo ficasse sob responsabilidade
do prelado, enquanto os mascates apoiavam a entrega da cidade ao governador Félix Mendonça.
Recife permaneceu sitiada por meses e o clima de tensão era pesado. Com a prisão dos
líderes e a consolidação da autonomia de Recife em relação à Olinda o conflito acabou. Em 1712,
Recife foi elevada à sede-administrativa de Pernambuco, sua Câmara e Pelouro foram
reconstruídos e os sediciosos da nobreza de Olinda receberam perdão concedido pelo bispo. No
ano de 1714, D. João V concedeu anistia a todos os envolvidos na sublevação. Além disso,
concedeu ainda aos senhores de engenho de Olinda o privilégio da manutenção de suas
plantações e perdão de suas dívidas, em troca de paz.
Fica evidenciado que o conflito marcou nitidamente a conquista política da mascataria em
contraponto aos nobres da terra. O Governador Félix José Machado ficou no governo até 1715,
passando o cargo a D. Lourenço de Almeida. Feito isso, Pernambuco viveu tempos de relativa
paz, até a conspiração dos Suassunas, que ocorreria em 1801.

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SUMÁRIO
PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL .................................................................... 2
1. A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA ...................................................................................................... 2

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PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA DO


BRASIL
1. A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
A presença da Corte no Rio de Janeiro contribuiu para dar à Independência o caráter de
uma transição sem grandes saltos. Seria engano supor, porém, que os atritos entre a gente da
Metrópole e da Colônia tenham desaparecido porque, por algum tempo, a Colônia se vestiu de
Metrópole. Ao transferir-se para o Brasil, o Coroa não deixou de ser portuguesa e favorecer os
interesses portugueses no Brasil. Um dos principais focos de descontentamento estava nas
forças militares. Dom João chamou tropas de Portugal para guarnecer as principais cidades e
organizou o Exército, reservando os melhores postos para a nobreza lusa. O peso dos impostos
aumentou, pois agora a Colônia tinha de suportar sozinha as despesas da Corte e os gastos das
campanhas militares que o rei promoveu no rio da Prata.
Acrescente-se a isso o problema da desigualdade regional. O sentimento imperante no
Nordeste era o de que, com a vinda da família real para o Brasil, o domínio político da Colônia
passara de uma cidade estranha para outra igualmente estranha, ou seja, de Lisboa para o Rio
de Janeiro. A revolução que estourou em Pernambuco em março de 1817 fundiu esse
sentimento com vários descontentamentos resultantes das condições econômicas e dos
privilégios concedidos aos portugueses. Ela abrangeu amplas camadas da população: militares,
proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes, e um grande número de sacerdotes, a ponto
de ficar conhecida como “a revolução dos padres”. Chama a atenção a presença de grandes
comerciantes brasileiros ligados ao comércio externo, os quais começavam a concorrer com os
portugueses, em uma área até então controlada, em grande medida, por esses.
Outro dado importante da Revolução de 1817 se encontra no fato de que ela passou do
Recife para o sertão, estendendo-se a Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. O
desfavorecimento regional, acompanhado de um forte antilusitanismo, foi o denominador
comum dessa espécie de revolta geral de toda a área nordestina. Não devemos imaginar, porém,
que os diferentes grupos tivessem os mesmos objetivos. Para as camadas pobres da cidade, a
independência estava associada à ideia de igualdade, uma igualdade mais para cima do que para
baixo. Uma curiosa carta, escrita no Recife pouco após o fim da revolução, descreve como “os
cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam que éramos todos iguais e não
haviam de casar senão com brancas das melhores”. Os boticários, cirurgiões e sangradores
davam-se ares de importância e até os barbeiros recusavam-se a fazer a barba das pessoas,
alegando que estavam “ocupados no serviço da pátria”.
Para os grandes proprietários rurais, tratava-se de acabar com a centralização imposta
pela Coroa e tomar em suas mãos o destino, se não da Colônia, pelo menos do Nordeste. Aquele
era, aliás, um momento economicamente difícil, combinando a queda do preço internacional do
açúcar e do algodão com a alta do preço dos escravos. Mais uma vez, não devemos supor que,
em quaisquer circunstâncias, as posições radicais fossem assumidas pelos mais pobres e as
conservadoras pelos ricos. Por exemplo, um dos membros radicais do levante, defensor da
abolição da escravatura, era o comerciante Domingos José Martins.
Em maio de 1817, um misterioso personagem percorria as ruas batidas pelo vento frio da
primavera na cidade de Filadélfia, a antiga capital dos EUA. O comerciante Antônio Gonçalves
Cruz, o Cabugá, era o agente secreto de uma conspiração em andamento em Pernambuco.
Levava na bagagem 800 mil dólares, quantia assombrosa para a época. Ao chegar aos Estados
Unidos, Cabugá tinha três missões. A primeira era comprar armas para combater as tropas do
rei D. João VI. A segunda, convencer o governo americano a apoiar a criação de uma república
independente no Nordeste brasileiro. O terceiro e mais espetacular de todos os objetivos era

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recrutar alguns antigos revolucionários franceses exilados em território americano para, com
a ajuda deles, libertar Napoleão Bonaparte, prisioneiro dos ingleses na Ilha de Santa Helena, no
Atlântico Sul, desde a derrota na Batalha de Waterloo. Pelo plano de Cabugá, Napoleão seria
retirado da ilha na calada da noite e transportado ao Recife, onde comandaria a revolução
pernambucana para, em seguida, retornar a Paris e reassumir o trono de imperador da França.
Cruz Cabugá é hoje o nome de uma das principais artérias viárias do bairro de Santo
Amaro, no Recife. Por ali todos os dias milhares de motoristas passam apressados, em direção
a Olinda ou ao centro da capital pernambucana, provavelmente sem se darem conta de quem
foi esse personagem. Em 1817, os planos de Cabugá eram mirabolantes, mas estavam
condenados ao fracasso antes ainda de serem colocados em prática. Quando chegou aos EUA,
com dinheiro arrecadado entre senhores, produtores de algodão e comerciantes favoráveis à
república, os revolucionários pernambucanos já estavam sitiados pelas tropas leais à
monarquia portuguesa. A rendição era inevitável. Sem saber de nada disso, Cabugá conseguiu
recrutar quatro veteranos do exército de Napoleão. Eles chegaram ao Brasil muito depois de
terminada a revolução e foram presos antes de desembarcar.
Mesmo derrotado, o movimento pernambucano custou caro aos planos da corte
portuguesa no Brasil. Os revolucionários ficaram no poder menos de três meses, mas
conseguiram abalar a confiança na construção do império americano sonhado por D. João VI.
Também contribuíram para acelerar o processo de independência do Brasil em relação a
Portugal. Embora a crise de 1817 não tenha produzido nenhuma consequência imediata e
visível no Brasil e em Portugal, na realidade ela afetou as fundações do sistema vigente. A
estrutura da autoridade entrou em colapso porque os elementos da sociedade mais
identificados com a Coroa tinham colaborado ativamente com o movimento rebelde. Por essa
razão a Coroa nunca mais estaria segura de que seus súditos eram imunes à contaminação das
ideias responsáveis pela subversão da antiga ordem na Europa.
Esse movimento pode ser considerado como o primeiro movimento genuinamente
republicano do Brasil e também a mais espontânea, a menos desorganizada e a mais simpática
das nossas numerosas revoluções.
No começo do século XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades pernambucanas,
tinham juntas cerca de 40 mil habitantes. Era muita gente, considerando que o Rio de Janeiro,
capital da colônia, tinha 60 mil. O porto do Recife, um dos mais movimentados do Brasil, escoava
a produção de açúcar de centenas de engenhos da Zona da Mata, a faixa úmida do litoral
nordestino que vai da Bahia ao Rio Grande do Norte. O segundo produto mais exportado era o
algodão. Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos ganharam fama
pelas lutas libertárias. A primeira e mais importante tinha sido a expulsão dos holandeses, em
1654. Meio século depois, na Guerra dos Mascates, aventou-se até a possibilidade de proclamar
a independência de Olinda. Pernambuco era a capitania onde mais pronunciadas e enraizadas
eram as antigas rivalidades entre os colonos nascidos no Brasil e os nascidos em Portugal.
A revolução estourou em Pernambuco, mas refletia o descontentamento de todas as
províncias com os aumentos de impostos para financiar as despesas da corte portuguesa no Rio
de Janeiro. Havia um sentimento de insatisfação generalizado no ar, especialmente nas
províncias do Norte e do Nordeste, as mais prejudicadas pela voracidade fiscal de D. João VI.
Pagava-se em Pernambuco um imposto para a iluminação das ruas do Rio de Janeiro, quando
as do Recife ficam em completa escuridão. Os salários dos numerosos funcionários públicos
eram baixos e mal garantiam a sobrevivência das famílias. Consequentemente, o peculato, a
corrupção e outros delitos são frequentes e quase sempre escapam à punição.
O povo do Recife e de suas vizinhanças havia-se embebido de algumas das noções de
governo democrático através de seus antigos dominadores holandeses. Por seus próprios
sacrifícios, sem qualquer auxílio do governo, havia expulsado estes conquistadores e restituído
à Coroa a parte norte de seu mais rico domínio. Estava, portanto, inclinado a ser
particularmente invejoso das províncias do sul, especificamente do Rio, que considerava mais

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favorecidas. Estava aborrecido com os pagamentos das taxas e contribuições das quais nunca
se havia beneficiado e que só serviam para enriquecer os favoritos da corte, enquanto
grassavam enormes abusos.
Além do aumento dos impostos, Pernambuco, em particular, passava por um momento
difícil devido a uma conjunção de três fatores que afetaram profundamente sua economia. O
primeiro tinha sido o aumento da produção mundial do açúcar, principal item de sua economia.
Simultaneamente, a crescente pressão dos abolicionistas na Europa, vinha criando restrições
gradativas ao tráfico de escravos, que se tornava mão de obra cada vez mais cara. A escravidão
era nessa época o motor de toda a economia agrária pernambucana. O terceiro fator, que havia
contribuído par agravar muito a situação, foi a seca devastadora que atingiu o sertão nordestino
em 1816.
A crise econômica e o descontentamento com a administração portuguesa fizeram com
que as ideias liberais francesas e americanas encontrassem em Pernambuco um campo fértil.
Um exemplo era o próprio Cruz Cabugá, próspero comerciante, ávido leitor de obras dos
filósofos franceses que tinha se tornado propagandista das teses liberais e republicanas.
Despachado para os EUA logo nos primeiros dias da revolta, voltou praticamente de mãos
vazias. Cabugá chegou a se encontrar com o secretário de Estado, Richard Rush, a quem
solicitou o envio de tropas e armas para a revolução. Tudo que conseguiu foi o compromisso de
que, enquanto durasse a rebelião, os EUA autorizaram a entrada de navios pernambucanos em
águas americanas mesmo contra a vontade de D. João VI. Também aceitariam os asilos ou
abrigos a eventuais refugiados, em caso de fracasso do movimento.
Embora tivesse inaugurado a primeira grande república moderna, os americanos
estavam, nessa época, mais interessados em fazer acordos comerciais com Portugal e a
Inglaterra. Portanto, não queriam se envolver com a causa republicana no Brasil para não
desagradar a Coroa portuguesa e seus aliados ingleses. Esse mesmo comportamento os EUA
teriam sete anos mais tarde, ao recusar ajuda aos revolucionários da Confederação do Equador,
liderada pelo carmelita Frei Caneca.
Os revolucionários ocuparam Recife em 6 de março de 1817. No regimento de artilharia,
situado no bairro de Santo Antônio, um dos líderes da conspiração, o capitão José de Barros
Lima, conhecido como Leão Coroado, reagiu à voz de prisão e matou a golpes de espada o
comandante Barbosa de Castro. Em seguida, na companhia de outros militares rebelados,
tomou o quartel e ergueu trincheiras nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas fiéis à
monarquia. O governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro refugiou-se no Forte do Brum,
junto ao porto. Cercado, acabou se rendendo.
Com a prisão de Caetano Pinto, os revolucionários constituíram um governo provisório,
que se apossou do tesouro da província e proclamou a república. Depois de três semanas, no
dia 29 de março, foi anunciada a convocação de uma assembleia constituinte, formada por
representantes eleitos em todas as comarcas da província. Uma nova lei orgânica estabeleceu a
separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. O catolicismo foi mantido como
religião oficial, mas as demais igrejas cristãs seriam toleradas. Por fim, proclamava a liberdade
de imprensa. A escravidão era mantida, para não ferir os interesses dos senhores de engenho,
adeptos do movimento. Foram abolidos os impostos sobre o comércio. Os militares receberam
aumento nos soldos. Os que tinham participado da rebelião foram beneficiados com
promoções-relâmpago. Domingos Teotônio, um dos chefes da nova junta de governo, promoveu
a si próprio de capitão a coronel.
Desenhou-se a uma nova bandeira, com as cores azul-escura, branca, amarela e vermelha.
Na parte superior foi desenhado um arco-íris com uma estrela em cima e o Sol embaixo,
representando a união de todos os pernambucanos. No interior, uma cruz vermelha
simbolizava a fé na justiça e no entendimento. Embora a revolução tenha fracassado, essa é
ainda hoje a bandeira do Estado de Pernambuco, adotada oficialmente em 1917 pelo

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governador Manoel Antônio Pereira Borba. É também, na simbologia e na elegância visual, um


dos mais bonitos entre os estandartes dos 27 estados brasileiros.
Além dessas medidas republicanas, os revolucionários tomaram algumas decisões
pitorescas. Uma delas foi a abolição de todos os pronomes de tratamento que indicassem
hierarquia ou autoridade de uma pessoa sobre a outra, como “vossa excelência” ou “sua
senhoria”. A expressão “senhor” foi substituída por “patriota”.
O novo governo republicano permaneceu no poder até o dia 20 de maio. Durante esse
período, todas as tentativas de obter apoio das províncias vizinhas fracassaram. Na Bahia, o
enviado da revolução, José Inácio Ribeiro de Abreu de Lima, o Padre Roma, foi preso ao
desembarcar e imediatamente fuzilado por ordem do governador, o conde dos Arcos. No Rio
Grande do Norte, o movimento conseguiu a adesão do proprietário de um grande engenho de
açúcar, André de Albuquerque Maranhão. Depois de prender o governador, José Inácio Borges,
e manda-lo escoltado para Recife, Maranhão ocupou a vila de Natal e formou uma junta
governativa, que não despertou o menor interesse da população. Foi apeado do poder em
poucos dias.
Na Inglaterra, os revolucionários tentaram obter o apoio do jornalista Hipólito José da
Costa, fundador do Correio Braziliense, oferecendo-lhe o cargo de ministro plenipotenciário da
nova república. Hipólito recusou. Sem que os pernambucanos soubessem, a Coroa portuguesa
havia feito um acordo secreto com o dono do Correio em 1812, que previa a compra de um
determinado número de exemplares do jornal e um subsídio para o próprio jornalista, em troca
de moderação nas suas críticas contra a monarquia. A reação portuguesa foi imediata e violenta.
Da Bahia, tropas enviadas pelo conde dos Arcos avançaram pelo sertão pernambucano,
enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro, bloqueava o porto do Recife. Em
poucos dias, um total de 8 mil homens cercou a província rebelada. No interior, a batalha
decisiva foi travada na localidade de Ipojuca, hoje sede do município em que está a Praia de
Porto de Galinhas. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção a Recife. Frei
Caneca, o futuro líder da Confederação do Equador, participou dessa batalha.
No dia 19 de maio, dois meses depois de iniciada a rebelião, tropas portuguesas entraram
no Recife. Encontraram a cidade abandonada e sem defesa. Isolado, o governo provisório se
rendeu no dia seguinte. A repressão, como sempre, foi implacável. A sentença contra os
revoltosos determinava que, “depois de mortos, serão cortadas as mãos, e decepadas as cabeças
e se pregarão em postes e os restos de seus cadáveres serão ligados às caudas de cavalos e
arrastados até o cemitério”. Como punição adicional, a Capitania de Pernambuco foi
desmembrada da Comarca de Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis à
Coroa e, como recompensa, ganharam o direito de constituir uma província independente.
As notícias sobre Pernambuco causaram grande apreensão no Rio de Janeiro e obrigaram
D. João a mudar o cronograma de alguns dos atos mais grandiosos que havia planejado para sua
temporada brasileira. Um deles foi a sua própria sagração oficial como rei do Brasil, Portugal e
Algarves. Pelos planos originais, a coroação deveria ocorrer após um ano de luto pela rainha D.
Maria I, falecida em março de 1816. Depois da revolução pernambucana, D. João decidiu adiá-
la por mais um ano. Não queria passar ao mundo a imagem de um rei coroado enquanto o seu
poder estava sendo contestado e dividido. Pela mesma razão, pensou-se em adiar o casamento
de D. Pedro. Isso só não aconteceu porque, quando as notícias da agitação pernambucana
chegaram à Europa, a noiva, futura imperatriz Leopoldina, já havia casado por procuração em
Viena e embarcado para o Brasil.
Sufocada a rebelião, era hora de celebrar. Em 6 de fevereiro de 1818, um decreto real
punha fim às investigações sobre a rebelião. Quatro líderes revoltosos já haviam sido
executados, mas todos os demais foram anistiados, num gesto de concórdia e magnanimidade
do novo soberano. Entre os perdoados pelo rei estava Cabugá, o agente dos revolucionários nos
Estados Unidos. Começava ali a etapa mais gloriosa e festiva dos treze anos em que a corte

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portuguesa viveu no Brasil. Seriam dois anos de celebrações, pompa e exibição de poder como
nunca o Rio de Janeiro havia presenciado.

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SUMÁRIO
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR E REVOLUÇÃO PRAIEIRA ............................................................................. 2
1. A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR ..................................................................................................... 2
2. A REVOLUÇÃO PRAIEIRA DE 1848 ..................................................................................................... 3

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CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR E REVOLUÇÃO PRAIEIRA


1. A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
Dissolvendo a Constituinte e decretando a Constituição de 1824, o imperador deu uma
clara demonstração de seu poder aos burocratas e comerciantes, muitos deles portugueses, que
faziam parte de seu círculo íntimo.
Em Pernambuco, esses atos discricionários puseram lenha em uma fogueira que não
deixara de arder desde 1817 e mesmo antes. A propagação das ideias republicanas,
antiportuguesas e federativas (opostas à centralização do poder) ganhou ímpeto com a
presença no Recife de Cipriano Barata, vindo da Europa, onde representara a Bahia nas Cortes.
É importante ressaltar, de passagem, o papel da imprensa na veiculação de críticas e propostas
políticas, nesse período em que ela própria estava nascendo. Os Andradas, que tinham passado
para a oposição depois das medidas autoritárias de D. Pedro, lançaram seus ataques por meio
de ‘O Tamoio’; Cipriano Barata e frei Caneca combateram a monarquia centralizada,
respectivamente, na Sentinela da Liberdade e no Tífis Pernambucano.
A atividade de Cipriano, em Pernambuco, não demorou muito. Após a dissolução da
Constituinte, foi preso e enviado para o Rio de Janeiro, onde ficaria detido até 1830. Como figura
central das críticas ao Império, passou então a destacar-se frei Joaquim do Amor Divino – o frei
Caneca –, que participara ativamente da insurreição de 1817. O apelido indicava origem
humilde, como vendedor de canecas, quando garoto, nas ruas do Recife. Educado no Seminário
de Olinda, centro de difusão das ideias liberais, converteu-se em intelectual erudito e homem
de ação.
A contrariedade provocada na província pela nomeação de um governador não desejado
abriu caminho para a revolta. Seu chefe ostensivo, Manuel de Carvalho, proclamou a
Confederação do Equador, em 2 de julho de 1824. Carvalho foi uma figura curiosa, casado com
uma americana e grande admirador dos EUA. No dia da outorga da Constituição de 1824, antes
pois da rebelião, enviou ofício ao Secretário de Estado americano, solicitando a remessa de uma
pequena esquadra ao porto do Recife, para contrabalancear as ameaças à liberdade resultantes
da presença de navios de guerra ingleses e franceses. No ofício, invocava a recente doutrina
fixada pelo presidente Monroe, contrária à intervenção de potências europeias nas Américas.
A Confederação do Equador deveria reunir sob forma federativa e republicana, além de
Pernambuco, as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e, possivelmente, o Piauí e o
Pará. O levante teve conteúdo acentuadamente urbano e popular, diferenciando-se da ampla
frente regional, com a liderança de proprietários rurais e alguns comerciantes, que
caracterizara a Revolução de 1817.
Uma viajante inglesa, Maria Graham, que esteve no Recife tentando alcançar um acordo
entre as partes, comparou, guardadas as devidas proporções, o ambiente do palácio
governamental ocupado pelos rebeldes ao da Convenção Nacional, na Revolução Francesa. Viu
as dependências palacianas ocupadas por elementos populares – verdadeiros sans culottes –
de olhos arregalados e ouvidos à escuta, à espera de traições e ciladas.
Apesar de seu conteúdo nacionalista, diríamos melhor antilusitano, a rebelião contou com
a presença de vários estrangeiros. Entre eles, destacou-se a figura de um liberal português, filho
de polonês, chamado João Guilherme Ratcliff.
A Confederação do Equador não teve condições de se enraizar e de resistir militarmente
às tropas do governo, sendo derrotada nas várias províncias do Nordeste, até terminar por
completo em novembro de 1824. A punição dos revolucionários foi além das expectativas. Um
tribunal manipulado pelo imperador condenou à morte, entre outros, frei Caneca, Ratcliff e o
major de pretos Agostinho Bezerra Cavalcanti. Os próprios adversários, entre eles
comerciantes portugueses, enviaram ao rei pedidos de clemência em favor do último, que

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evitara excessos e mortes. Mas não foram ouvidos. Levado à forca, frei Caneca acabou sendo
fuzilado diante da recusa do carrasco em realizar o enforcamento.
As marcas da revolução de 1824 não se apagariam facilmente. De fato, ela pode ser vista
como parte de uma série de rebeliões e revoltas ocorridas em Pernambuco entre 1817 e 1848,
que fizeram da província um centro irradiador de muitas insatisfações do Nordeste.

2. A REVOLUÇÃO PRAIEIRA DE 1848


Pernambuco tinha longa tradição revolucionária e liberal, como a Revolução de 1817 e a
Confederação do Equador em 1824. A Praieira, a mais espetacular das revoluções do período,
embora não tenha acontecido nos marcos cronológicos da Regência, é considerada como tal,
pois traz a marca da luta entre centralismo versus descentralização.
Os problemas econômicos faziam de Pernambuco uma espécie de “purgatório” para os
que não fossem ricos proprietários rurais ou comerciantes. No campo, dos engenhos existentes,
um terço pertencia à família Cavalcanti e os outros dois terços estavam concentrados nas mãos
de uns poucos proprietários, contando com legiões de escravos e agregados. Nas cidades, o
comércio era monopolizado por portugueses e ingleses. Tal situação provocava a ira dos
brasileiros que exigiam o fim da imigração portuguesa e a nacionalização do comércio. Diante
desse cenário, em 1842 foi fundado o Partido da Praia, assim chamado o Partido Liberal, devido
à Rua da Praia, onde ficava a tipografia do jornal do partido, o Diário Novo.
Os “praieiros”, defendiam o liberalismo e eram compostos por intelectuais e membros das
camadas médias urbanas, que insuflavam as camadas inferiores da população, discriminadas
social e politicamente, à terra e ao trabalho. Combatiam o domínio dos Cavalcanti e o monopólio
comercial estrangeiro.
As origens da praieira remontam à época do governo provincial do liberal Chichorro da
Gama, quando foi empreendida uma política lusofóbica e antilatifundiária. Sob gritos de “mata
marinheiro”, comerciantes portugueses eram espancados e mortos. No campo, a cena não foi
menos violenta. Os praieiros exigiam da Assembleia Provincial a adoção de medidas, como a
expulsão dos portugueses solteiros, a convocação de uma assembleia constituinte e a realização
de reformas sociais.
Após a demissão de Chichorro da Gama, o governo passou também a intervir de forma a
eliminar os funcionários públicos simpatizantes dos praieiros, porém esses continuavam
atuando e não acatavam os novos governantes. Os revoltosos se armaram em Olinda, Igaraçu e
outras localidades, marchando para a capital.
Durante a Revolução Praieira, os revoltosos formularam o Manifesto ao Mundo. Nota-se
nele, reivindicações de caráter liberal, socialista, antiabsolutistas e descentralizadoras dado o
contexto internacional da Primavera dos Povos na Europa.
Reivindicações do movimento expressas no Manifesto:
 Voto livre e universal do povo brasileiro;
 Liberdade de expressão e de imprensa;
 Trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro;
 Comércio a retalho para os cidadãos brasileiros;
 Independência dos poderes;
 Extinção do poder Moderador;
 Federalismo;
 Reforma judicial;
 Garantia das liberdades individuais;
 Extinção do atual sistema de recrutamento (obrigatório).
A interiorização do movimento integrou lideranças populares. Merece destaque, como
líder popular, o capitão Pedro Ivo, que comandou um exército de cinco mil homens, composto

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por arrendatários, boiadeiros, mascates e negros. A superioridade militar do Império reprimiu


os “valentes 5 mil”. Pedro Ivo foi preso, julgado e condenado à prisão perpétua.
O movimento, duramente reprimido, apresentou um programa reivindicatório que
contemplava o pensamento liberal da época e também de reformas sociais, excluindo os
escravos das reivindicações. A revolução foi mais um exemplo dos problemas sociais não
resolvidos à época da independência e que afloraram com maior intensidade durante a
Regência.
Politicamente, esse foi o último dos movimentos com características que lembrar as
rebeliões regenciais: uma luta pela descentralização no momento em que eram aprovadas
medidas centralizadoras, regressistas.

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SUMÁRIO
O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS PERNAMBUCANAS E COTIDIANO E FORMAS DE
RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO ................................................................................................... 2
1. O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS PERNAMBUCANAS ................................ 2
2. COTIDIANO E FORMAS DE RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO............................................... 4

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O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA


TERRAS PERNAMBUCANAS E COTIDIANO E FORMAS DE
RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO
1. O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS
PERNAMBUCANAS
A escravidão é um tema que perpassa toda a história humana. No Brasil, esteve presente
no período colonial adentrando pelo imperial, e reverbera em muitas questões até os dias
atuais. Foi um tema que encantou historiadores, havendo disponível uma bibliografia extensa
e de qualidade. Mas, a historiografia brasileira ainda é carente de trabalhos que tratem do
fiscalismo ou tributação, consumo, comércio, monopólios, contratos e de negociantes em vários
aspectos e, de forma especifica, quanto ao que correspondeu à mercancia de gente. A
historiografia que trata da escravidão em Pernambuco é tímida, não avançando muito no tema.
Outrossim, o que se sabe é que o porto de Pernambuco figura entre o terceiro e o quarto
lugar dentre aqueles que na América mais recebeu cativos. Curiosamente posta esta situação,
pois sabe-se da importância de Pernambuco no século XVI e XVII em relação à produção do
açúcar, o que é quase automática a simultânea epopeia do ouro branco e da mão de obra
escrava. Sabe-se que a partir de 1570, a escravização indígena para as tarefas que envolviam a
produção açucareira, começaram a diminuir e com isso, entra em cena o escravizado africano.
O comércio atlântico de escravos foi um dos mais complexos negócios conhecidos e
envolveu a maior migração transoceânica na história até aquele momento. Ao todo,
embarcaram em navios negreiros mais de 12,5 milhões de africanos, aproximadamente 5
milhões destes com destino ao Brasil. Esse tráfico movimentava, entre outras atividades, a
indústria naval e o sistema financeiro e creditício europeus, além da indústria armamentista
francesa, que era completamente dependente do comércio africano durante épocas de paz na
Europa.
No período de vigência do tráfico no Brasil (1560-1856), desembarcaram 4.864.374
africanos no país, 853.833 deles em Pernambuco. No Brasil, 2.054.725, ou 42%,
desembarcaram no período de 1801 a 1850. Em Pernambuco, 259.054, ou 30%,
desembarcaram entre 1801 e 1850, perfazendo uma média de 5 mil desembarcados por ano.
Comparativamente, nos séculos XVII e XVIII, a média era de 2.500 e 3.300 ao ano,
respectivamente. O fato de o volume de importação de escravos em Pernambuco ser bem mais
expressivo no século XIX que nos séculos anteriores sugere que as atividades econômicas nesta
região estavam aquecidas.
A primeira entrada de africanos que consta em estudos recentes, foi do ano de 1576.
Tratava-se de um desembarque de 80 escravos vindos em um navio despachado da ilha de São
Tomé. No entanto, não será exagerado supor que esses escravos tenham sido em verdade
congos. Basta apenas atentar para o que a Coroa portuguesa determinara ao permitir que os
colonos do Brasil importassem escravos africanos. Diante da demanda por mão de obra africana
dos colonos do Brasil, em 1559, a rainha regente de Portugal assinou um decreto real
autorizando o governador de São Tomé a vender até 120 escravos do Congo para cada senhor
de engenho que apresentasse um alvará emitido no Brasil. Dessa forma, a Coroa atendia os
rogos dos colonos do Brasil; em particular aos de Duarte Coelho, primeiro donatário de
Pernambuco, que pelo menos desde 1542 reclamava à Coroa por escravos negros.
Esse registro deve ter sido antecedido por, pelos menos, mais dois, pois em 1575 Pedro
de Noronha era ressarcido em 284 mil-réis erroneamente ou ilegalmente cobrados ao
introduzir 142 escravos de São Tomé na alfândega da vila de Olinda. Aparentemente, sob a

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mesma circunstância, Francisco Mendes e Garcia Mendes, residentes no Porto, eram


ressarcidos por dividendos cobrados erroneamente ou ilegalmente ao introduzirem na
alfândega de Olinda 48 escravos despachados de São Tomé.
Já se assinalou que São Tomé serviu de base para muito do que se desenvolveu no Brasil,
por isso a constante referência à ilha como porto provedor de escravos para a colônia
portuguesa na América não deve ser vista com desdém. Em verdade, a ilha havia criado
intimidade com a costa africana desde de fins do século XV. Em 1499, por exemplo, os
comerciantes de São Tomé já enviavam navios aos rios do Benim para comprar escravos com a
finalidade de trocá-los por ouro na Costa da Mina. Com o desenvolvimento da plantação e
comércio do açúcar durante o século XVI, a ilha passou a concentrar ao seu redor não apenas
os mercados negreiros do Benim, mas os do Congo também. Em pouco tempo, São Tomé tornou-
se o maior porto traficante de escravos. Deste modo, a ilha oferecia condições excelentes de
fornecer escravos africanos para os engenhos que floresciam no Brasil. Ao cabo do século XVI,
Pernambuco, assim como a Bahia, contavam com escravos africanos junto a indígenas nas suas
plantações de cana-de-açúcar. Em 1577, por exemplo, o Engenho São Pantaleão do Monteiro,
situado na várzea do rio Capibaribe, em Olinda, possuía 15 escravos da África em seu plantel de
40 cativos.
À lenta transição da mão-de-obra indígena para a africana seguiu o rápido
desenvolvimento da produção açucareira, e em consequência o do tráfico de africanos. Os
números que podem dar uma noção dessa produção para Pernambuco referentes ao século XVI
são bem conhecidos. A primeira notícia de açúcar pernambucano entrando em Lisboa data
entre 1516 e 1526, produzido aparentemente de modo artesanal por um certo capitão Pero
Capico. Em 1542, surge o primeiro engenho-de-açúcar próximo a Olinda de nome Engenho
Nossa Senhora da Ajuda, que pertencia a Jerônimo de Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho.
No entanto, ao findar esse ano, Duarte Coelho informou ao rei que Pernambuco já possuía dois
engenhos. Oito anos depois, cinco engenhos operavam na capitania e, em cerca de 1570, Pero
de Magalhães Gândavo informava que nela havia “vinte e três engenhos-de-açúcar, dos quais
três ou quatro ainda não estariam completos”. Por volta de 1587, de acordo com Gabriel Soares
de Souza, o número de engenhos subiu para 50, os quais rendiam uma dízima de “dezenove mil
cruzados todo ano”. Finalmente, no ocaso do século XVI, Domingos de Abreu de Brito declarava
ter Pernambuco 63 engenhos.
O aumento da produção açucareira demandava cada vez mais braços africanos, que por
sua vez expandiam as fronteiras dos engenhos de cana-de-açúcar. Estima-se que no início do
século XVII, Pernambuco já possuía 120 engenhos, e ao tempo que os holandeses chegaram, em
1630, tinha mais de 160, dos quais 60 foram logo queimados durante a guerra de ocupação
(1630 e 1637). A esse ponto, dados com relação ao número de escravos importados são
escassos. Todavia, o desenvolvimento da indústria açucareira sugere que o tráfico de cativos
deva tê-la acompanhado. Desse modo, podemos imaginar que a introdução acelerada de
africanos iniciada no século passado foi temporariamente interrompida com a chegada dos
holandeses.
No entanto, a partir de 1637, tudo parece se normalizar novamente, mas dessa vez sob a
direção de Maurício de Nassau (1637-1644). A produção açucareira voltou a prosperar e
consequentemente mais escravos eram necessários para levar a cabo a empresa holandesa, que
nesse tempo inspirava confiança aos agentes da WIC, uma vez que além de Pernambuco, as
praças de El Mina e Luanda, principais portos fornecedores de escravos na África, foram
igualmente subtraídas aos portugueses; em 1637 e 1641 respectivamente. Em 1641,
Pernambuco exportava cerca de 448 mil arrobas de açúcar, contra 66 mil em 1637. Esse ânimo
na exportação de açúcar estimulou o tráfico de escravos que só veio a dar uma reposta efetiva
a partir de 1642 com a introdução de 2.400 escravos na capitania. No ano seguinte, a
importação de africanos atingiu o ápice durante o período de ocupação holandesa. Em 1643,
Pernambuco recebia cerca de 5 mil escravos, ou seja, quase o triplo da média para os anos entre

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1637 e 1642 (1.674). No total, de acordo com as estimativas, o Brasil holandês recebeu cerca
de 26.929 escravos entre 1636 e 1651, isto é, uma média de 1.795 cativos por ano.
Porém, a relativa prosperidade que os holandeses gozavam em Pernambuco não durou
muito tempo. Em 1645, a população luso-brasileira que habitava a capitania antes da ocupação
holandesa e de seus arredores reagiram à presença dos invasores expulsando-os de vez do
nordeste brasileiro em 1654. Consequentemente, os números acerca da exportação de açúcar
e da importação de escravos para o Brasil holandês caem simultaneamente.
A restauração de Pernambuco à Coroa portuguesa afetou a organização socioeconômica
da capitania, que dará sinais de instabilidade em fins do século XVII e início do seguinte,
retratada no conflito que ficou conhecido como a “guerra dos mascates”. Com respeito
especificamente ao tráfico de africanos, podemos observar que se durante o século XVI até a
invasão holandesa Pernambuco recebia escravos, ou com navios remetidos de Portugal, ou com
embarcações da própria capitania, durante a era do Brasil holandês, Pernambuco passou a
receber escravos somente com navios originariamente dos Países Baixos. Em outras palavras,
apesar de El Mina e Luanda terem sido capturadas com armadas enviadas de Recife, a direção
da WIC parecia exercer grande controle sobre as atividades econômicas de Pernambuco.
Contudo, a base do tráfico de escravos para a capitania mudou novamente após 1654,
quando os batavos foram expulsos. A partir de então, a capitania não demorou em organizar o
comércio e exercer definitivamente o papel de base do tráfico de africanos. No entanto, com
relação ao período anterior à ocupação batava, dessa vez há uma diferença na organização do
tráfico. Após os holandeses terem deixado Pernambuco, os senhores de engenho e lavradores
de cana-de-açúcar não retomaram as atividades comerciais da capitania. Ao invés, dedicaram-
se exclusivamente à produção açucareira, deixando as atividades comerciais a cargo de
imigrantes recém-chegados de Portugal.
Da escassa documentação que se tem conhecimento, o que se tem visão acerca da situação
no século XIX, é de que, por conta da significativa recuperação da lavoura açucareira no período,
estima-se que até 1850, quando ainda era permitido o comércio transatlântico de escravizados,
houve um também significativo aumento no número, acredita-se que devido às necessidades
decorrentes da produção açucareira.

2. COTIDIANO E FORMAS DE RESISTÊNCIA ESCRAVA EM


PERNAMBUCO
Sabe-se que, durante o período áureo da exploração do açúcar em Pernambuco, a grande
aplicação da mão de obra escrava foi em função da produção do “ouro branco”. Entre lavradores
e todas as outras funções envolvidas com o engenho propriamente dito, dentro das etapas da
produção do açúcar, estima-se que trabalhavam entre 60 a 70 escravizados. Mas uma parte
considerável dos escravizados acabava se envolvendo com as tarefas da “Casa-grande”, como
arrumadeiras, lavadeiras, amas de leite, e outras tantas funções.
Ao que se percebe, uma mudança nos ares em torno da transição do trabalho escravo para
o trabalho assalariado, vê-se também um incremento em relação às atividades econômicas
desenvolvidas nas áreas urbanas de Pernambuco. Muitas das atividades desenvolvidas pelos
escravizados eram semelhantes à época da produção do açúcar, mas algumas atividades eram
“novas”, se considerarmos as mudanças no padrão da sociedade pernambucana.
Voltando-se às cidades do interior do estado, na segunda metade do século XIX, no
primeiro senso brasileiro, verificamos paróquias, freguesias e cidades com perfis econômicos
variados, mudando a velha perspectiva histórica de que em Pernambuco teve uma escravidão
branda, concentrando-se de maneira quase única na produção açucareira, consequentemente
de escravos de profissão lavradores.
Compreende-se, cada vez mais, que a escravidão estava onipresente, dentro de toda a
produção de bens de consumo, há muito já institucionalizada nesta província de antiga

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colonização. A lista de profissões encontradas no senso nas cidades rurais era composta por:
artistas, as vezes denominado unicamente assim, as vezes considerados como artesões de
madeira, metais, edificações, vestuários, calçados, chapeleiros, marítimos, tecidos, jornaleiros,
criados, serviço doméstico, lavradores, pescadores e sem profissão. Em sua maioria lavradores,
sem profissão, domésticos e criados, constantes em todas as vilas e cidades.
De acordo com o mesmo recenseamento, comparando as províncias, coloca-se que só 105
homens escravos e 52 mulheres escravas, em toda a província de Pernambuco, sabiam ler e
escrever. Um número alto se compararmos ao Rio Grande do Norte, que no total registrou-se 4
homens e 3 mulheres, porém altíssimo quando a capital do império, Rio de Janeiro, só possuía
79 homens e 28 mulheres registradas como capaz de ler e escrever.
Em cidades como Nazareth da Mata, localizada na Zona da Mata Norte, caracterizada
tipicamente com a roupagem da zona açucareira, manteve-se com o número mais alto de
matrículas de escravos durante os levantamentos de 1872, 1875, 1876 e 1878, possuía o maior
número de escravos na zona rural, enquadrados como lavradores (1927), só perdendo em
número de escravos gerais, neste ano específico para o Cabo (3533) e Escada (4050), dois
outros centros de produção da zona da mata sul.
De fato, na região da zona da mata pernambucana se concentrava a maioria dos escravos
da província, porém não exclusivamente na produção da cana. O município do Cabo, por
exemplo, possuía um número significativo de escravos trabalhando em outras áreas
profissionais como: calçados e chapéus (132), jornaleiros e criados (1532), empregados
domésticos (zona rural – 1632) e lavradores (560). E por fim, o mais curioso, o registro de (833)
escravos enquadrados como “sem profissão”.
A princípio observamos que o trabalho escravo no Cabo era utilizado em manufatura de
calçados e chapéus, que deveriam ser até quiçá vendidos na capital da província, e que seu perfil
agrícola só fica possível na vaga conotação que o termo “sem profissão” trás, em número tão
elevado como 833 escravos.
Na capital da província de Pernambuco, Recife, antes mesmo de 1830 a maioria dos
trabalhadores alforriados eram mulheres negras e mulatas. Mulheres essas que se
apropriavam, ou não, das vantagens que tinham, perante os escravos homens, obtinham mais
cedo a alforria. Sua vantagem consistia na proximidade dos senhores, e de agrados que
poderiam dar e receber. Eram elas, amas de leite, cozinheiras, engomadeiras, faxineiras. E
estavam onipresentes na sociedade escravista. Difícil dizer o que o luxo da escravidão não
poderia oferecer aos senhores de conforto e serviços. De pentear o cabelo, a limpar a calçada
da casa. Sabe-se que mesmo sendo submetidas a humilhações, assédios e estupros por seus
senhores e ódio de suas patroas, era melhor que trabalhar nas ruas, local que era sinônimo de
insegurança, morte, prostituição e fome.
De perto as luzes das cidades nada mais eram do que fogo, e fogo é sinônimo de perigo. A
cidade do século XIX era barulhenta, suja, confusa e bastante perigosa. Ninguém poderia ser
negro – preto ou pardo – livre ou liberto, em segurança, numa sociedade em que escravizar ao
arrepio das leis vigentes se fizera direito senhorial costumeiro. Todavia com a diversidade de
situações jurídicas nelas existentes, e as ligações sociais que nelas eram possíveis fazer -
diferente dos Engenhos - uma sociedade sobrevivente paralela ia se formando. E o caminho
para começar a participar dela começava por se tornar um escravo de profissão. Isto é, um
escravo de ganho, que rendendo o bastante, poderia até tentar negociar sua alforria e de seus
familiares. Em verdade tudo era mais possível na cidade.
Outra profissão importante dentro da zona urbana pernambucana eram os canoeiros
responsáveis pelo movimento do transporte fluvial nos rios que cruzam a cidade. Eles exerciam
um emaranhado de funções sociais: passagem de informações, contatos entre os Engenhos,
transporte de água limpa para consumo, e de pessoas.
Já em relação às formas de resistência à escravidão, por mais que alguns procedimentos
fossem considerados minúsculos, movimentos estes tecidos entre os escravizados, individual

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ou coletivamente, os escravos processaram uma teia de artimanhas que, devido a seu pendor
natural para ludibriar aquele que o subjuga, moldavam suas vidas aos limites impostos pela
opressão do cativeiro.
A resistência contra a escravidão foi cotidiana. Havia diversas maneiras de lutar por uma
vida menos dura. Fugas, ataques e rebeliões são bastante lembradas. Além dessas, existiam
outras práticas que nem sempre foram percebidas como formas de resistência. Para amenizar
o sofrimento do cativeiro, por exemplo, era comum o fingimento de doenças e a quebra de
instrumentos de trabalho.
Além disso, muitos cativos “matavam o trabalho”, ou seja, demoravam a cumprir seus
afazeres. Era uma maneira de diminuir a intensidade da labuta e causar certo prejuízo aos
senhores. Esses, porém, viam a “enrolação” dos negros como mera preguiça. Podem ser citados
ainda abortos e suicídios. Esses atos violentos que os cativos cometiam contra si indiretamente
afetavam os senhores, já que os escravos eram vistos como propriedades.
Uma forma bastante conhecida de resistência foi a formação de quilombos. A palavra
“quilombo” significa acampamento na maioria das línguas bantas da África Central e Centro-
Ocidental. No Brasil, os quilombos tornaram-se locais de habitação e subsistência de escravos
foragidos.
Pernambuco foi palco de inúmeros movimentos políticos revolucionários onde
aconteceram muitas rebeliões que tinham como um de seus principais objetivos a reivindicação
da liberdade. Considerado o quilombo pernambucano mais importante do século passado, o
quilombo do Catucá resultou da luta dos escravos pela liberdade durante o caos político vivido
em Pernambuco de 1817 até o final da década de 1830.
Os quilombolas que moravam perto do Recife elaboraram inúmeras estratégias de
sobrevivência contando com a colaboração tanto da população negra livre quanto dos escravos
de engenhos próximos. Eles se tratavam reciprocamente por “malungos”, nome usado pelos
negros que saiam da África no mesmo navio, que significa camarada, companheiro.
Além destas, percebe-se ainda que a resistência à escravidão envolve também aspectos
da cultura africana. Nas Irmandades, por meio do sincretismo religioso, já que a religião original
era combatida pelos portugueses. Outra manifestação cultural de resistência era a capoeira, luta
que envolve movimentos de braços e pernas, embalados por um ritmo musical entoado por
atabaques e berimbaus, chocalhos e pandeiros, mas mais que uma simples dança (como é
considerada para alguns), é uma arte marcial.
As festas tinham um importante papel na construção da liberdade, por proporcionar a
sociabilização e o divertimento, no dia a dia inexistente. Também traziam à tona, brigas entre
grupos rivais, que antecediam sua vinda da África. Todavia esquecido, pela consciência de
fazerem parte do mesmo grupo social, se recorriam nestas horas para criação de estratégias.
Criando um mundo paralelo na escravidão aonde o negro, era livre para decidir um destino
melhor. Afinal a alforria não era a real resposta que traria a liberdade para um escravo, era
quase que inconsciente na maioria deles, a liberdade só aconteceria se fosse para todos.

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SUMÁRIO
A PARTICIPAÇÃO DOS POLÍTICOS PERNAMBUCANOS NO PROCESSO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA ........ 2

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A PARTICIPAÇÃO DOS POLÍTICOS PERNAMBUCANOS NO


PROCESSO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
A escravidão, enquanto regime de produção, vinha sendo discutida e combatida desde que
o país adotou a legislação que proibia o tráfico negreiro. Era considerada o maior motivo que
proibia o tráfico negreiro. Era considerada o maior motivo de impedimento à imigração para o
país, que cresceu de forma considerável após a Lei Áurea.
A extinção da escravatura foi encaminhada por etapas até o final, em 1888. A maior
controvérsia quanto às medidas legais não ocorreu em 1888, mas quando o governo imperial
propôs a chamada Lei do Ventre Livre, em 1871. A proposta declarava livres os filhos de mulher
escrava nascidos após a lei, os quais ficariam em poder dos senhores de suas mães até a idade
de oito anos. A partir dessa idade, os senhores podiam optar entre receber do Estado uma
indenização ou utilizar os serviços do menor até completar 21 anos. O projeto partiu de um
gabinete conservador, presidido pelo visconde do Rio Branco, arrebatando desse modo a
bandeira do abolicionismo das mãos dos liberais.
Em 1885, uma nova legislação entrou em vigor, a Lei Saraiva-Cotegipe, mais conhecida
como Lei dos Sexagenários. Os escravos com idade igual ou superior a 60 anos seriam
reconhecidos como livres, devendo, no entanto, trabalhar até completarem 65 anos. Nesse caso,
os proprietários não seriam indenizados, o que causou grande celeuma entre os aristocratas
escravistas.
As discussões sobre a abolição circulavam com maior vigor nos meios urbanos: o trabalho
escravo negativizava e degradava o trabalho manual. Com base nessa ideia, criou-se uma
interpretação que inquieta a sociedade até os dias de hoje: a visão de que o negro é indolente,
pouco amante do trabalho, conceito que justificava a escravidão ao empregar a força para
pressioná-lo a trabalhar. É esse que se considera imprestável e não o regime de trabalho a que
estava submetido. A imigração europeia seria um antídoto a esse mal que acometia a sociedade
brasileira, branqueando a sociedade e introduzindo valores civilizatórios como o progresso e o
amor ao trabalho.
Alguns abolicionistas defendiam a necessidade de integrar os ex-escravos à sociedade por
meio de medidas educativas, integrando-os ao mundo livre, ao mundo assalariado. Esses
grupos viam a necessidade de mantê-los como trabalhadores, porém sob nova forma de
dominação. Havia também os que defendiam indenizar os escravos, como os que defendiam
indenizar os proprietários aristocratas. Não havia consenso sobre a forma de conduzir o
abolicionismo.
Neste longo processo, uma das figuras mais representativas foi o pernambucano Joaquim
Nabuco. Diplomata, político, historiador, jurista, orador e jornalista formado pela Faculdade de
Direito do Recife, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Foi um dos grandes
diplomatas do Império do Brasil, além de orador, poeta e memorialista. Além da obra “O
Abolicionismo”, e “Minha Formação”, “A escravidão” figura como importante obra de memórias,
onde se percebe o paradoxo de quem foi educado por uma família escravocrata, mas optou pela
luta em favor dos escravos. Joaquim Nabuco previu que a escravidão permaneceria por muito
tempo como a característica nacional do Brasil.
Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de
suas atividades políticas, quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara
dos Deputados em 1878 e em legislaturas posteriores, quando liderou a bancada abolicionista
naquela Casa, e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, sendo o responsável, em grande
parte, pela abolição da escravidão no Brasil, em 1888.
Ele era um monarquista e conciliava essa posição política com sua postura abolicionista.
Atribuía à escravidão a responsabilidade por grande parte dos problemas enfrentados pela

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sociedade brasileira, defendendo, assim, que o trabalho servil fosse suprimido antes de
qualquer mudança no âmbito político. A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser
feita de maneira abrupta, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios
que tal resultaria à sociedade brasileira.
Também não creditava a movimentos civis externos ao parlamento o papel de conduzir a
abolição. Essa só poderia se dar no parlamento, no seu entender. Fora desse âmbito cabia
somente assentar valores humanitários que fundamentariam a abolição quando instaurada.
Criticou também a postura da Igreja Católica em relação ao abolicionismo, chamando-a de “a
mais vergonhosa possível”, pois ninguém jamais a viu tomar partido dos escravos. Para ele, “a
Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por
ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação”. Após a derrubada da monarquia
brasileira, Nabuco retirou-se da vida pública por algum tempo.
Outra personalidade envolvida no processo emancipatório dos escravos, foi o
abolicionista Tobias Barreto, que apesar de não ser pernambucano, estudou Direito na
Faculdade do Recife e se transformou no principal teórico brasileiro à testa do movimento
renovador das ideias da denominada Escola de Recife, que ainda hoje repercute no Brasil e em
algumas partes do mundo civilizado. Tobias Barreto de Menezes chegou ao Recife em 1862.
Formado em Direito vai advogar na Comarca de Vitória, fixando-se no termo de Escada, por
motivos de família.
O movimento em defesa da liberdade dos negros escravos pode ser dividido em três fases
distintas, cada uma com sua importância. A primeira delas, eminentemente literária, constou
de um engajamento intelectual principalmente no Nordeste brasileiro, com ênfase para
Pernambuco, tendo como maior expoente o poeta baiano Castro Alves. Seus poemas
arrebatados de humanidade, ecoavam como disparos destinados a sacudir a consciência
escravocrata dominante. Nos saraus, nas récitas, nas páginas soltas dos bandos e nos livros, as
vozes poéticas dos primeiros abolicionistas abriam caminho para uma luta mais ampla em
defesa da liberdade.
A partir de 1879, Joaquim Nabuco detonou uma movimentação enorme de imediata
repercussão social, em defesa da liberdade dos cativos. A imprensa passava a ter, muito mais
que antes, o papel de tribuna permanente da discussão em torno da questão servil e da abolição
da escravatura. Muitos vultos surgiram no cenário do combate, dentre eles André Rebouças,
que aprofundava o estudo da abolição para desdobrá-la num projeto de longo alcance, segundo
o modelo francês das fazendas centrais. Ao mesmo tempo em que tomava dimensão nacional a
luta, eram criadas as Sociedades abolicionistas, eram fundados os jornais que nas Províncias
sustentavam o fogo, em defesa da liberdade dos negros. Era a vibração da segunda e mais
ruidosa fase do movimento abolicionista.
A terceira fase, voltada para a libertação dos escravos e para a organização da sociedade
pela via econômica do trabalho livre, tem em Tobias Barreto a sua maior liderança. É nesta fase,
como se verá adiante, que a campanha abolicionista dilata seu alcance para uma ampla crítica
social, através da atuação, algumas vezes até panfletária, de Tobias Barreto, na tentativa de
levar o povo à consciência da cidadania.
Tobias Barreto em sua última fase criadora, como professor da Faculdade de Direito e
como líder de um movimento fecundo, de grande repercussão nacional, conhecido sob a
denominação de Escola do Recife. Pernambuco estabelecia, no nordeste, o compromisso
engajado da sua Faculdade de Direito, em contraponto ao descompromisso da Faculdade de
Direito de São Paulo, onde uma geração de poetas abstraía a realidade de uma sociedade em
formação para intimizar seus sentimento e suas perplexidades. Mais uma vez Pernambuco
evoca para si os vínculos com a nacionalidade, com as causas sociais, com o futuro, desta feira
tendo à frente a figura ativa de Tobias Barreto.
Como muitos poetas do seu tempo, Tobias Barreto também engajou a sua poesia na defesa
da liberdade dos negros. E o fez de três formas: exaltando a morena, mestiça brasileira,

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deplorando a escravidão, de forma explícita, e inflamando as massas em torno das ideias de


liberdade.
Outras personalidades não pernambucanas, mas que estudaram na Escola de Direito de
Recife, também participaram ativamente na campanha e no processo abolicionista: Plínio de
Lima, Castro Alves, Rui Barbosa, Aristides Spínola, Regueira Costa, entre outros. Juntos,
fundaram uma associação abolicionista formada por alunos daquela escola.
Na mesma turma de Joaquim Nabuco, forma-se outro abolicionista Pernambuco: José
Mariano Carneiro, fundador do jornal abolicionista A Província. Assim como Joaquim Nabuco,
Barras Sobrinho, João Ramos, Alfredo Pinto, Phaelante da Câmara, Vicente do Café e Leonor
Porto, José Mariano era membro da associação emancipatória Clube do Cupim, fundado em
1884, que alforriava, defendia e protegia os escravos.

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SUMÁRIO
PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES .......................................................... 2
1. VOTO DE CABRESTO E POLÍTICA DOS GOVERNADORES..................................................................... 2
2. PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES ............................................... 3

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PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON


MAGALHÃES
1. VOTO DE CABRESTO E POLÍTICA DOS GOVERNADORES
A formação da República Oligárquica, após a transição dos governos militares do
marechal Deodoro da Fonseca e do marechal Floriano Peixoto, velhas tradições políticas, com
raízes no período regencial, aflorou e persistiu em grande parte dos mandatos dos 11
presidentes desse período da história do Brasil. Esse modelo, conhecido como coronelismo,
formado na criação da Guarda Nacional em 1831, ganhava força novamente agora, a partir de
1894, remontando ao domínio das oligarquias regionais sobre os poderes Executivo e
Legislativo. A compreensão do fenômeno político do coronelismo remete à análise social,
econômica e política do Brasil durante esse período da República Velha. A maioria da população
vivia no campo, desprovida de terras e de amparo legal para sua sobrevivência, além da
precariedade do Estado na prestação de serviços essenciais e de cidadania, como saúde e
educação. O “coronel” era em geral um latifundiário, assumia o papel vago do Estado, “dando”
proteção, assistência médica, jurídica, empregando gente nas fazendas, apadrinhando
casamentos e batizados, sendo o juiz conciliador de casamentos e benfeitor da paróquia da
cidade.
A manutenção dessa prática passou pela construção de elementos sólidos de controle
político local, como as eleições do cacete, em que os coronéis exerceram coerção física ao voto,
pressionando os eleitores a votar em seus candidatos, sob pena de violência. Tal sistema
funcionava com a manutenção do voto aberto ou descoberto.
Outro elemento de controle do sistema eleitoral foi a criação dos currais eleitorais,
baseados na troca de favores entre os fazendeiros e seus eleitores, formando, assim, grupos de
eleitores fiéis a determinados coronéis locais. Vale ressaltar que, para se prevenir de possíveis
capangas de grupos políticos adversários, por vezes, no dia das eleições, eram preparados
festejos nas fazendas, para os quais eleitores eram convidados a participar. Posteriormente,
eram levados em bloco para o exercício eleitoral, evitando, dessa forma, a perda de votos.
Em complemento aos dois modelos, houve também o sistema de voto de cabresto, criado
pela falta de indivíduos aptos ao exercício eleitoral, já que o principal elemento para esse fim
era a alfabetização. Para solucionar esse problema, os coronéis tornavam alguns indivíduos, em
geral seus funcionários, “alfabetizados”, que ao menos conseguiam desenhar seus nomes, para
serem aceitos como eleitores e, claro, inseridos nos sistemas anteriores, o curral eleitoral e as
eleições do cacete.
Outro sistema foi criado sobre todas as estruturas já descritas, as recorrentes fraudes dos
mais variados tipos. Entre elas, a compra de votos, a compra de mesários das paróquias e
mesmo os da contagem, indivíduos que utilizavam identidades de eleitores falecidos,
substituição de urnas, atas já prontas com os resultados, entre tantos outros sistemas ilegais,
que tinham por finalidade a manutenção dos coronéis no poder com seus privilégios políticos.
Estava criado um sistema de dominação local que ao menos pelos próximos 36 anos controlaria
o cenário político nacional.
A força das oligarquias estaduais advinha, porém, do controle exercido sobre os grandes
coronéis municipais, manipuladores e condutores da massa eleitoral, incapacitada e
desorganizada para participar do processo político que lhes fora aberto com o regime
representativo de voto pela Constituição de 1891.
Os coronéis, ao despejarem os votos nos candidatos governistas nas eleições estaduais e
federais, garantiam para si “recompensas” especiais pela fidelidade do voto, consolidando seu

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poder no interior. Esses grupos municipais só sobreviveriam se estivessem ligados ao poder


estadual e em nome da oligarquia instaurada no respectivo estado.
Em uma escala de crescente de influência, os coronéis vinculavam-se a outros de cidades
maiores, criando uma influência regional e, entre esses, os mais consolidados tornavam-se os
líderes partidários estaduais, formando as oligarquias estaduais, que controlavam o governo.
Durante a presidência de Campos Sales, o segundo presidente civil, formulou-se a política
dos governadores, uma transação que ele preferia chamar de política dos estados. O esquema
de funcionamento iniciava-se na Comissão de Verificação de Poderes, órgão criado pelo
Congresso Nacional e responsável por diplomar deputados, senadores, presidente e vice-
presidente da República, função da Justiça Eleitoral atualmente. O partido que fizesse maioria
no Congresso dominaria a Comissão de Verificação de Poderes e decidiria sobre a diplomação
dos candidatos eleitos. No governo Campos Sales, a Comissão passou por uma reformulação:
seriam diplomados somente os candidatos eleitos pelos partidos da situação, ou seja,
candidatos do governo, no poder dos seus respectivos estados que apoiavam o presidente da
República. Os demais oposicionistas seriam “degolados”.
A partir daí, deputados e senadores garantiam a si próprios mandatos sólidos e
intermináveis no Congresso e, a seu partido, longo domínio do poder no estado. Iniciou-se a
implantação das oligarquias estaduais, cujo poder se fecharia às tentativas conquistadoras das
oposições que surgissem. Instituía-se a norma básica da “política dos governadores” que
deveria propiciar ao regime federativo o equilíbrio procurado.
Esse processo durou até 1930, quanto a Aliança Liberal mobilizou-se de modo a tentar
liquidar de uma vez por todas, o domínio político institucional da sistemática política conhecida
como “Política do Café com Leite”.

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MAGALHÃES
Neste cenário político no qual a República brasileira passava pelas mudanças do final da
República Oligárquica e o início da Era Vargas (1930-1945), temos a figura de Agamenon
Magalhães. Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, nasceu em Serra Talhada a 5 de novembro
de 1893 e faleceu em Recife em 24 de agosto de 1952. Foi um promotor de direito, geógrafo,
professor de Geografia e político brasileiro, mais exatamente como deputado estadual (1918),
federal (1924, 1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e
Justiça).
Em 1918 foi eleito deputado estadual com apoio da agremiação político partidária
governista estadual (Partido Republicano Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal,
reeleito quatro anos depois. Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal,
aderiu à Aliança Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução,
apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido Social
Democrata (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se deputado constituinte
em 1932.
A atuação de Agamenon Magalhães na Constituinte de 1933 foi pautada na defesa do
regime parlamentarista, na qual não teve apoio nem do governo nem dos demais
parlamentares. Apesar disso, em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a
pasta do Trabalho, Indústria e Comércio.
Nesse período, deu apoio à criação da Justiça do Trabalho, ampliou a rede de apoio aos
trabalhadores urbanos, e utilizou a arregimentação sindical para combater a infiltração
comunista no movimento operário, principalmente após a Intentona Comunista de 1935. Para
isso, defendeu a intensificação do controle sobre os sindicatos e o aceno com novas leis sociais
para os trabalhadores. Em 1937, após a demissão de Vicente Rao, passou a acumular também
as funções da pasta da Justiça.

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Aliado fiel de Vargas, Agamenon Magalhães entrou em choque com o interventor Lima
Cavalcanti, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para
a sucessão presidencial de 1938. Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do
Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco,
substituindo seu antigo aliado e opositor. A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu
ainda com os anos da presença militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em
torno da Segunda Guerra. Esse período foi marcado por transformações não apenas no cenário
político, mas também no plano cultural.
A partir de sua nomeação para o cargo de interventor no estado de Pernambuco, ele
buscou em suas escolhas para os cargos de poder em todo o estado sujeitos com perfil
claramente alinhado ao seu, devendo todos, subserviência aos seus comandos em nome de um
alinhamento e obediência ao chefe da nação, Getúlio Vargas.
O estímulo à construção de prédios altos com elevadores e ao consumo de produtos
elétricos durante o governo de Novaes Filho encontrou apoio dadas a expansão do envio de luz
elétrica. Água e esgoto eram tidos como necessidades, mas os enlevos e as aspirações dos
urbanistas convergiam para a energia elétrica e a iluminação, símbolos de progresso em
associação direta com o maquinismo. A substituição do gás pela energia elétrica e ampliação da
eletricidade em áreas públicas se deu em apoio da Pernambuco Tramwaysand Power Company.
Assim como essas ações, a ponte Duarte Coelho (1942) e a construção da Praça 13 de Maio
(1939) foram também de seu mandato, sendo símbolos especiais do seu governo e da
interventoria de Agamenon Magalhães, juntamente com a construção da Dantas Barreto.
Analisando-se arquitetonicamente as preocupações da época, percebemos a presença
constante do concreto aparente, da fachada limpa, a preferência pelas ruas largas e retas, o
acesso direto entre elas e as demais ruas, promovendo um fluxo dos transportes e o privilégio
que os mesmos teriam na orientação do projeto urbanístico na cidade. É importante salientar
que tal dinâmica trazia em si uma lógica de hierarquização das residências e espaços da cidade
que já era conhecida. Nota-se que as próprias notícias da época a ênfase na retirada dos
moradores de mocambo para áreas mais afastadas, as áreas suburbanas que estavam agora
sendo “colonizadas”, e a escolha de tais terrenos para essas moradias deve ser entendida não
só diante dos menores custos dos terrenos ou mesmo graças à expansão das linhas de bonde e
demais transportes: há em tal lógica a preservação dessa antiga hierarquia, em que as famílias
mais tradicionais moram próximas aos rios e os subalternos devem ir para os fundos da cidade.
Os esforços realizados por Agamenon Magalhães em mostrar o centro da cidade como
alinhado às tendências modernas de arquitetura, orgulhando-se dos prédios altos que aos
poucos iam marcando presença na cidade, estão inseridos em um conjunto de simbolismos que
deveriam estar claros no cotidiano dos moradores, informando que o progresso e a
modernidade tinham chegado. Havia urgência em combater-se a todo custo o atraso, o
provincianismo, a falta de higiene repugnante que existia nas ruas e residências. O estado
miserável em que muitos se encontravam era mascarado pelos prédios de vidros reluzentes e
elevadores fascinantes, assim como também se esforçavam em demonstrar os jornais e os
discursos do interventor.
É em nome do combate a “mentalidade retrógrada” que Agamenon Magalhães e seu
prefeito destruíram grande parte do conjunto arquitetônico do centro do Recife. É em nome
também da ordem e da disciplina que as ruas e becos estreitos e tortos darão lugar às avenidas
largas e retas, higienizadas. O Folha da Manhã, sob comando de Magalhães, tratava de alimentar
o imaginário coletivo da população com notícias diversas sobre a degradação e sujeira dessas
antigas áreas, verdadeiros locais de “malassombros”, locais sem higiene, conforto ou
moralidade algumas e onde circulavam todo tipo de gente má. No início de sua campanha, o
interventor assumiu o compromisso não só com as questões sociais, mas com a recuperação
econômica e moral do estado. A falta de autoridade de disciplina e de confiança, o desânimo das

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forças produtoras, o comunismo e o integralismo em ação proporcionaram uma decomposição.


Para promover a reestruturação da ordem no estado, promoveu-se diversas ações –
principalmente na saúde. A família, como estrutura base da nação, fonte de equilíbrio em
diversos sentidos, também precisava de cuidados. Ela é instituição de equilíbrio e resistência
nas épocas de crise social, é a instituição que resume a vida moral das nações e assegura sua
continuidade por meio dos tempos. O Estado não pode ser mais indiferente aos problemas
morais. Há um mínimo de felicidade que ele é obrigado a assegurar.
A preocupação do poder oficial sobre o cotidiano domiciliar está inserida em um projeto
maior, na execução do poder soberano sobre a vida que habita nos corpos dos possíveis
cidadãos. Doutrinar a estrutura familiar em seus diversos âmbitos tinha como consequência o
controle da vida dos mesmos como um todo.
A família operária é trazida como o exemplo do ideal do Estado Novo: trabalhadora,
honesta, cristã e que honra e colabora com seu esforço e imagem para o progresso da nação,
estando presente nos eventos do estado – razão de grande orgulho ao interventor. A melhoria
das condições de renda do brasileiro era elemento-chave de sua proposta e fundamental para
o sucesso da empreitada social, e os que até então estavam conseguindo maior melhoria era
essa classe proletária que precisava ser salva com urgência da má habitação do mocambo;
insistindo-se que, antes mesmo da construção de vilas operárias, deveria ser realizado o
aumento salarial, para que proporcionasse melhor poder de compra e consumo.

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SUMÁRIO
MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985) EM PERNAMBUCO
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1. MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE O REGIME MILITAR EM PERNAMBUCO................... 2

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MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE A


DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985) EM PERNAMBUCO
1. MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE O REGIME
MILITAR EM PERNAMBUCO
Os anos 1960 sem sombra de dúvidas seriam marcados por uma série de agitações em
vários aspectos. No que tange ao aspecto político e ao aspecto social, sabe-se que foi um período
em que a questão que dinamizou as movimentações em torno das medidas adotadas pelos
novos dirigentes do país, pairou principalmente sobre os enfrentamentos colocados em prática
pelos movimentos sociais. O Regime Militar faz parte desse de conjunto, no qual, práticas
políticas que se encontraram, para aquilo que boa parte da história nos mostrou, com medidas
arbitrárias, acabaram desencadeando movimentos de resistência ao regime.
De modo geral, em todo o Brasil, diversos foram os movimentos, como, por exemplo, o
movimento estudantil, o movimento das mulheres, o movimento das classes dominantes, entre
outros. De toda sorte, alguns movimentos que nos chamam a atenção estão em uma região do
nosso país que mantém uma importante relação com o passado colonial e imperial do território
brasileiro.
Sobre os movimentos sociais que ocorreram durante o período de 1964 a 1985, podem-
se destacar alguns movimentos importantes no combate ao regime militar, e que por sua vez
tiveram grande parcela de contribuição. Assim o movimento estudantil teve um êxito muito
significativo. Já em relação ao movimento dos intelectuais, sobretudo o movimento artístico,
esse também merece destaque.
Os movimentos sociais podem ser compreendidos a partir de duas situações distintas,
associadas às relações que estabelecem com o Estado no período recente de nossa história. O
primeiro momento é relativo ao período ditatorial em que as relações entre governantes e
governados se davam de maneira opressiva e distante de qualquer ordenamento além daquele
formalizado pelo aparato jurídico e militar de repressão às demandas populares. Ainda nessa
visão, foi o momento heroico, centrado na espontaneidade dos movimentos pelo fato de serem
uma quebra dentro do sistema político, de surgirem alguma coisa nova que, de certa maneira,
iria substituir os instrumentos de participação até então disponíveis como partidos,
associações e outros. As associações que emergiram no final dos anos 70 e, principalmente, na
década de 80, por exemplo, na cidade de São Paulo, em grande parte foram impulsionados pela
atuação da Igreja Católica empolgada pela opção pelos pobres naquilo que ficou conhecido
como teologia da libertação.
A conquista da cidadania por meio dos movimentos sociais seria um exercício da
plenitude de direitos, de tal modo que a realização pessoal e comunitária dos indivíduos seja
considerada um valor acima do Estado. Os movimentos sociais são, por sua própria natureza
social, organismos da sociedade civil. Entendemos aqui por sociedade civil a esfera das relações
– entre pessoas, grupos, movimentos e classes sociais – que se desenvolvem de modo autônomo
frente às relações de poder próprias das instituições estatais. A sociedade civil é a base da qual
emanam os conflitos, as reivindicações e as denúncias que o sistema político deve responder.
Portanto, nela estão incluídas as várias formas de mobilização, associação e organização das
forças sociais que tendem à conquista do poder político. A sociedade civil é o espaço das
relações do poder de fato, enquanto o Estado é o espaço das relações do poder de direito. Nos
últimos trinta anos, a sociedade civil latino-americana fortaleceu-se pela multiplicidade de
movimentos sociais criados.
Sob as ditaduras militares, a dificuldade de atuação por meio de movimentos legais –
muitos deles suprimidos ou cerceados pela repressão – estimulou o surgimento de movimentos

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legitimados pela própria força e significado das demandas populares assumidas por eles.
Exemplo disso foram as oposições sindicais, as pastorais populares, as associações de
moradores, os grupos de defesa dos direitos humanos, mulheres, negros e índios, sem-terra e
sem-teto, entre outros. Na defesa de seus direitos e interesses, as classes populares
respaldaram também movimentos de perfis mais específicos, como saúde, carestia, apoio
jurídico, reforma agrária, ecologia, etc. Toda essa teia emergiu como parcela representativa da
sociedade civil, por ser mais organizada e consciente, embora inserida numa conjuntura
adversa, tanto do ponto de vista político (hegemonia das classes dominantes), quanto do ponto
de vista econômico (relações capitalistas de produção). Tal contradição deu ao caráter
reivindicativo de muitos desses movimentos um objetivo estratégico comum: a guerra de
posições, pela conquista de espaços políticos inclusive dentro da máquina estatal, visando
fortalecer o poder da classe trabalhadora e de todas as vítimas da exclusão social, tendo em
vista a construção de uma futura sociedade mais justa.
Representado por diversos líderes o movimento da Igreja teve seu apogeu em
Pernambuco na pessoa de Dom Hélder Câmara. No dia 12 de março de 1964 foi designado para
ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985.
Instituiu um governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o
Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela
diocese. Fortaleceu as comunidades eclesiásticas de base.
Estabeleceu uma clara resistência ao regime militar. Tornou-se líder contra o
autoritarismo e pelos direitos humanos. Não hesitou em utilizar todos os meios de comunicação
para denunciar a injustiça. Pregava no Brasil e no exterior uma fé cristã comprometida com os
anseios dos empobrecidos. Foi perseguido pelos militares por sua atuação social e política,
sendo acusado de comunismo. Foi chamado de "Arcebispo Vermelho". Foi-lhe negado o acesso
aos meios de comunicação social após a decretação do AI-5, sendo proibido inclusive qualquer
referência a ele.
Desconhecido da opinião pública nacional, fez frequentes viagens ao exterior, onde
divulgou amplamente suas ideias e denúncias de violações de direitos humanos no Brasil. Foi
adepto e promotor do movimento de não-violência ativa. Em 1984, ao completar 75 anos,
apresentou sua renúncia. Em 15 de julho de 1985, passou o comando da Arquidiocese a Dom
José Cardoso Sobrinho. Continuou a viver em Recife, nos fundos da Igreja das Fronteiras, onde
vivia desde 1968. Morreu aos 90 anos em Recife no dia 27 de agosto de 1999.
Ainda no sentido dos movimentos considerados como heroicos, devemos considerar que
a repressão logo após o golpe, esfacelou os movimentos sociais e políticos no campo e nas
cidades brasileiras. Em Pernambuco, a repressão recaiu sobre dois movimentos sociais
significativos: as Ligas Camponesas e os Sindicatos Rurais, os quais foram desarticulados. As
Ligas Camponesas que surgiram em Pernambuco em 1955, foram postas na ilegalidade e
destruídas. Já os sindicatos, embora poupados enquanto instituição, foram repensados e
repostos a funcionamento sob um rígido controle estatal.
Para entender a ação das Ligas Camponesas é necessário entender o contexto no qual elas
surgiram. No plano da sociedade, houve um avanço dos movimentos sociais e o surgimento de
novos atores. Os setores esquecidos do campo – verdadeiros órfãos da política populista –
começaram a se mobilizar. O pano de fundo dessa mobilização parece se encontrar nas grandes
mudanças estruturais ocorridas no Brasil entre 1950 e 1964, caracterizadas pelo crescimento
urbano e uma rápida industrialização. Essas mudanças ampliaram o mercado para os produtos
agrícolas e a pecuária, levando a uma alteração nas formas de posse da terra e de sua utilização.
A terra passou a ser mais rentável do que no passado, e os proprietários trataram de expulsar
antigos posseiros ou agravar suas condições de trabalho, o que provocou forte
descontentamento entre a população rural. Além disso, as migrações aproximaram campo e
cidade, facilitando a tomada de consciência de uma situação de extrema submissão, por parte
da gente do campo.

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O movimento rural de destaque do período foi o das Ligas Camponesas, tendo como líder
ostensivo uma figura da classe média urbana – o advogado e político pernambucano Francisco
Julião. Julião promoveu as Ligas à margem dos sindicatos e tratou de organizar os camponeses,
isto é, aquela parcela da população rural proprietária de um pedaço de terra ou com algum
controle sobre ela como arrendatário, meeiro, entre outros. Ele acreditava que era mais viável
atrair os camponeses do que os assalariados rurais para um movimento social significativo. As
Ligas começaram a surgir em fins de 1955, propondo-se entre outros pontos defender os
camponeses contra a expulsão da terra, a elevação do preço dos arrendamentos, a prática do
“cambão”, pela qual o colono deveria trabalhar um dia por semana de graça para o dono da
terra.
Julião procurou dar às Ligas uma organização centralizada e estabeleceu suas sedes na
capital de um Estado, ou no núcleo urbano mais importante de uma região. Justificava essa
estratégia a partir da convicção de que na grande cidade estavam as classes e grupos aliados
dos camponeses – os operários, os estudantes, os intelectuais revolucionários, a pequena
burguesia – e havia aí uma Justiça menos reacionária.
Surgiram Ligas em vários pontos do país, sobretudo no Nordeste. A luta simbolicamente
mais importante se deu em Pernambuco, pela posse do Engenho Galileia, situado no município
de Vitória de Santo Antão. A propriedade era um engenho desativado para a produção de açúcar
e tinha sido arrendada aos camponeses, na forma de pequenos sítios. Sob a ameaça de expulsão
das terras porque o proprietário queria retomá-las, aparentemente para destiná-las à pecuária,
os posseiros resistiram por meios legais durante mais de cinco anos.
Em novembro de 1961, realizou-se em Belo Horizonte o I Congresso Nacional dos
Trabalhadores Agrícolas, que expressou as várias linhas propostas para a organização da massa
rural. A reunião foi planejada conjuntamente por Julião e outros membros das Ligas e pelos
dirigentes comunistas, cuja base maior se encontrava entre os assalariados agrícolas de São
Paulo e do Paraná. No encontro, as duas correntes se dividiram. Enquanto os líderes das Ligas
sustentavam que a primeira demanda da gente do campo deveria ser a expropriação de terras
sem indenização prévia, os comunistas preferiam se concentrar nos objetivos de promover a
sindicalização rural e a extensão da legislação trabalhista ao campo. Desse modo, os comunistas
que eram minoritários na reunião, defenderam uma linha de reivindicações mais integrada no
sistema legal do que os seguidores de Julião e setores católicos mais radicais.
Com o golpe e a perseguição política e a violenta repressão dele advindas, pulverizou-se
os sonhos e lutas camponesas. As ligas foram exterminadas e a experiência sindical rural foi
redefinida. Nessa redefinição, a estrutura sindical passou ao controle do Estado sob a
administração do clero, e assumiu o papel de mediador. Tornou-se um veículo de legitimação
das ações governamentais e um órgão primordialmente apaziguador de tensões e de
colaboração com o Estado. Fato que, inicialmente, parecia se adequar aos planos do clero,
centrado na pacificação das tensões sociais no campo nas relações capital e trabalho, e no
conceito “cristão” de colaboração entre classes como fundamento da paz e da harmonia sociais.
A necessidade de poupar a instituição sindical provinha do fato de a estrutura sindical
brasileira já conter em sua legislação as formas de sua submissão ao controle, fiscalização e
condicionamento estatal. Precisando apenas de ajustes para tornar a legislação sindical
brasileira em uma das mais arbitrárias do mundo.
A legislação sindical tornou-se um aparelho de coerção, e os sindicatos veículos
manipuláveis para uma possível legitimação passiva, tanto quanto agenciadores da economia
política do Estado junto aos trabalhadores. Aos sindicatos estaria destinado o papel de “agente
mediador” entre Estado e trabalhadores.
A ação de mediação é exercida por meio dos mecanismos de persuasão, coerção e
manipulação das reivindicações e lutas dos trabalhadores, cabendo aos sindicatos a busca de
manutenção da ordem às bases. O que os fazia agir no sentido de esvaziar pressões coletivas,
encobrindo sua função como órgão de representação dos trabalhadores. Em troca dessa

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mediação, o Estado se comprometia a concretizar programas de ação de cunho assistencial


destinados aos trabalhadores.
O Estado assumia algumas reivindicações caras ao movimento, por meio do controle da
instituição sindical e pela ação de mediação a ela conferida nessa troca. Ao assumi-las e
transformá-las, as remetia aos trabalhadores via sindicatos, de forma paternalista, como forma
de amainar tensões sociais. A rede sindical servia como agente apaziguador de tensões e de um
veio de ação estatal. Ao se comprometer com o movimento sindical conclamando a
participarem juntos na reformulação de reformas sociais, entre elas a reforma agrária, fica
estabelecida uma contradição. O movimento sindical rural como colaborador e agente do
Estado, junto as suas bases, e como fonte de pressão para execução pelo Estado dos
compromissos assumidos de reformas sociais.
Na Zona da Mata, essa contradição se esclarece pelo envolvimento do clero católico com
o movimento sindical rural, nos anos que antecederam o golpe militar, e pela participação do
clero no conjunto de forças envolvidas no golpe. Nesse enlace, o clero pôde desenvolver um
movimento de reação às ligas camponesas e ao movimento sindical rural de esquerda, que se
iniciava e se desenvolvia em Pernambuco.
A entrada do clero no campo foi equipada por estudos, assistência técnica e política no
intento de possibilitar um projeto coerente e contrário aos movimentos presentes, e como uma
alternativa a proposta política das ligas de uma reforma agrária na lei ou na marra. Os estudos
sobre a questão agrária e a reforma agrária do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática)
e do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e o Sindicalismo Rural foram reforços
significativos à expansão do movimento sindical rural católico e de sua plataforma política em
Pernambuco.
O principal eixo da construção política da plataforma sindical do clero se assentava na
ideia de colaboração entre classes. Colaboração baseada em garantias junto ao patronato e ao
Estado de cumprimento e legalização dos direitos do trabalhador rural. Essa ideia de direitos
permearia, após o golpe, toda a estratégia organizativa da estrutura sindical rural em
Pernambuco, seja no apoio ao golpe, seja no processo de cisão e cobranças do sindicalismo e do
clero ao Estado e ao patronato pelo não cumprimento do conjunto de garantias motivadoras da
aliança e compromisso com o estado autoritário no país.
Após 1964, uma parte do clero foi indicada para administrar o movimento sindical rural
em Pernambuco, e procurou amainar a repressão patronal aos trabalhadores, sobretudo os
ligados ao movimento sindical e pressionar o governo para a implantação das reformas sociais
para o campo. A intransigência do patronato em não permitir a mediação sindical nas questões
do trabalho rural, e reprimir violentamente qualquer mobilização dos seus trabalhadores e
perseguir as lideranças sindicais a partir da base, associada ao clima de insegurança vivido
pelos sindicatos e sindicalistas, fragiliza ainda mais a estrutura sindical e afasta os
trabalhadores do movimento.
A crise periódica da agroindústria em Pernambuco complicava, também, a vida dos
trabalhadores, com o atraso do pagamento dos salários por meses a fio, associado ao
impedimento do plantio de lavoura de subsistência e a uma política de expulsão dos
trabalhadores permanentes.
Esses fatores em conjunto dificultavam as relações de trabalho no campo, e complicavam
as relações entre sindicato e igreja, e as relações entre os trabalhadores e a estrutura sindical.
Essas dificuldades e complicações faziam com que a estrutura sindical rural vivesse uma
ambivalência nas suas ações e atitudes: amedrontar-se e buscar desestimular ações
reivindicativas de suas bases, e/ou procurar meios de comprometer o Estado à execução dos
compromissos com as reformas sociais no campo. Essa ambiguidade se ampliava ainda, na
medida em que a luta pela aplicação do Estatuto da Terra e do Estatuto do Trabalhador Rural
significava, também, a transformação paulatina da mão de obra permanente em temporária, e
a expulsão dos trabalhadores permanentes para a periferia das cidades.

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Sem força política e poder de representação, sobrava aos sindicatos sobreviver à sombra
desta ambiguidade, aumentando o distanciamento dos trabalhadores sujeitos ao desmando do
patronato. Aos sindicatos e à estrutura sindical restavam os mecanismos de apaziguamento e
controle de tensões, sob promessas de resoluções encaminhadas via Estado. Órgão de mediação
entre trabalhadores e o Estado, o sindicalismo rural entrava em contradição consigo mesmo.
Contradição não resolvida, de ser “em tese” órgão de representação dos trabalhadores, e ser
“na prática” um órgão de controle das aspirações desta mesma classe. Contradição acentuada
quando os compromissos assumidos pelo Estado tendiam a ser desrespeitados e engavetados,
tornando-se fontes de tensão e pressão para a sua legislação e execução.
As pressões pelo cumprimento do Estatuto da Terra, ou pela execução da lei dos dois
hectares, bem como as reivindicações trabalhistas que, de uma forma ou de outra, chegavam
aos sindicatos rurais, mediando-as por meio da burocracia jurídica, podem ser exemplos desta
contradição vivida pela estrutura sindical no campo. O caso exemplar pode ser visualizado na
atuação do sindicato dos trabalhadores rurais do município do Cabo, na Zona da Mata Sul, o
qual trouxe a si as reivindicações trabalhistas e sociais vindas da base e abrigou movimentos
de greve, cuja face potencialmente política se manifestou na greve geral dos trabalhadores do
Cabo no ano de 1968.
Quando existiam pressões dos trabalhadores para uma ação de defesa das reivindicações
e dos direitos trabalhistas e de permanência na terra, a função de colaboração e de órgão
apaziguador de tensões se tornava mais visível. Enfatizava a contradição da estrutura sindical
ao não encontrar soluções do Estado para as situações que levaram a mobilização dos
trabalhadores, o sindicalismo buscava a desmobilização, ou pressionar o Estado para
apresentar alternativas que pudessem acalmar os ânimos, dizendo-se sem forças para
contenção sozinho das bases.
Em 1965 uma grande crise na agroindústria de Pernambuco levou a maior parte dos seus
municípios a decretarem situação de calamidade pública pelos meses de atraso no pagamento
dos salários dos trabalhadores, que ameaçavam invadir as cidades em busca de comida. Ao lado
do esmorecimento do comércio local pela não circulação dos salários nos armazéns e lojas.
Hordas de desvalidos perambulavam pelos municípios da região movidos pela fome e pela
ampliação do desemprego rural. Com a desculpa da crise, o patronato pressionava o governo
para novas verbas e, ao mesmo tempo, usando o mesmo argumento da crise expulsava grande
contingente de “permanentes” dos engenhos e usinas.
Os sindicatos da região, pressionados pelos acontecimentos, solicitam apoio da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape). A Fetape por sua vez, por meio de
um memorial escrito sob a supervisão do Serviço de Orientação Rural de Pernambuco (Sorpe)
e enviado ao presidente Castelo Branco, segundo o Diário de Pernambuco, de 15 de novembro
de 1965, alerta para a gravidade da crise e solicita ajuda para contornar o mais rapidamente
possível a situação em que se encontravam os trabalhadores dos municípios atingidos, sob o
perigo de ser decretada uma greve geral na agroindústria açucareira do Estado.
Esta situação, a dos problemas referentes aos trabalhadores rurais, perdurou durante um
bom tempo, no interior do Regime Militar, que de certa maneira soube se articular junto à
contraditória estrutura comando dos movimentos sociais em Pernambuco, servindo de certa
forma como exemplo de tentativas entre erros e acertos, nas quais quem mais foi prejudicado,
sem dúvidas foi o trabalhador rural.

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SUMÁRIO
HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO ....................................................................................... 2
1. HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO ........................................................................... 2
1.1 A CAPOEIRA .............................................................................................................................. 2
1.2 O PASSO DO FREVO .................................................................................................................. 3
1.3 O FORRÓ .................................................................................................................................. 3
1.4 O BUMBA MEU BOI .................................................................................................................. 4
1.5 O MARACATU ........................................................................................................................... 4
1.6 O CATIMBÓ .............................................................................................................................. 4

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HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO


1. HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO
A história de Pernambuco é permeada por vários fatores extremamente importantes, que
deixaram o seu legado, cada qual à sua maneira. Em se tratando de legado, com relação à
herança afrodescendente no Estado possui papel vital dentro do aspecto cultural das várias
atividades que marcam a diversidade e graciosidade das manifestações artísticas e culturais
como um todo. Em Pernambuco existem várias práticas e representações que se desenvolveram
em torno das heranças culturais deixadas pelos afrodescendentes.

1.1 A CAPOEIRA
A capoeira – jogo, dança, luta – foi praticada em quase todo o Brasil, onde a escravidão
teve papel significativo na vida econômica e social. Quase sempre que se praticava a capoeira,
havia conflitos de rua com mortos e feridos, de certa forma por ser uma das manifestações de
resistência à escravidão. Também por ocasião da realização de festas e da apresentação de
folguedos populares, era comum a presença de capoeiras e a ocorrência de conflitos.
Expressão cultural brasileira que foi inventada por escravos africanos, percebido pelos
instrumentos musicais (tambor e berimbau), pelos ritmos, pelas letras das canções, pela
formação em roda e pelos passos de dança. Há atualmente dois gêneros:
 Capoeira regional: o jogo entre duas pessoas acontece em uma roda, na qual todos
cantam. Os adversários dão golpes com as pernas, a cabeça, as mãos, os cotovelos
e os joelhos. O objetivo, no entanto, não é atingir o oponente, mas sim demonstrar
a superioridade em termos de habilidade. Costuma-se simular os golpes sem
completá-los.
 Capoeira de Angola: O jogo de Angola é facilmente identificado: é um jogo
cadenciado, mais lento, mas nem por isso deixa de ser uma luta, tem seus
momentos de puro perigo, embora essa demonstração de violência sempre ficou
implícita somente aos que entendem os sinais nas rodas de capoeira, enquanto
na regional e contemporânea, muitas vezes é explicita.
Nos primeiros tempos da República, a repressão se tornou sistemática e permanente. Pela
simples prática do desporto, numerosos capoeiras foram presos e deportados para o
arquipélago de Fernando de Noronha, sob a acusação de vadiagem, sem comprovação de outros
crimes ou contravenções.
Foi por isso que a capoeira entrou em declínio e desapareceu, ao final da primeira década
do século XX, em Belém, São Luís, no Recife e no Rio de Janeiro, restando apenas marcas da sua
influência no passo do frevo do Recife, nas danças do bumba meu boi e na pernada carioca.
Na Bahia, a capoeira sobreviveu em academias. A imigração de pessoas naturais da Bahia
para o Rio de Janeiro acabou por fazer ressurgir a capoeira nessa cidade, de onde o desporto
tornou a se difundir para outras cidades, inclusive o Recife.

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1.2 O PASSO DO FREVO


A música do frevo foi uma evolução das marchas e dos dobrados executados pelas bandas
musicais, especialmente as bandas militares, ao modo das bandas de música europeias. Porém,
a coreografia da dança do frevo – chamada “passo” – é considerada uma evolução dos
movimentos dos praticantes da capoeira, que se exibiam à frente das bandas e ao seu ritmo.
Essa é a tradição do ‘passo’ como dança afro-brasileira em Pernambuco. Ordinariamente,
o passista de rua utiliza como adereço um guarda-chuva (guarda-sol) aberto.
Nas últimas décadas do século XX, passou a ser modificado: o guarda-sol foi substituído
por sombrinha de tamanho reduzido, é “ensinado” em academias de ginástica e danças
contemporâneas onde foi desenvolvida uma modalidade de “frevo aeróbico”. Na realidade, o
tradicional passo do frevo é uma dança em acelerado processo de extinção.
1.3 O FORRÓ
Forró é denominação de festa originalmente rural do Nordeste, em que estão presentes
os ritmos do baião, coco, xaxado e xote.
Baião, conhecido também como “baiano” (do qual é uma variante), é dança e música
populares no Nordeste do Brasil já no século XIX. Nos anos quarenta do século XX, ao ganhar
projeção na radiofonia e no disco, teve a música modificada sob a influência dos sambas e de
ritmos provenientes do Caribe. O baião foi popularizado pelo cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga
(1912–1989), que divulgou, também, o coco, o xote e o xaxado.
Com inúmeras variantes, o coco é uma das danças mais tradicionais de Pernambuco. De
dança rural, com características ameríndias – fileira e roda – e figurações africanas – como a
umbigada –, ganhou os subúrbios e os salões das cidades, aparecendo tanto isoladamente
quanto em folguedos, como pastoris e mamulengos e em rituais de cultos afro-indígenas.
O coco ocorre em todo o litoral de Pernambuco, na Zona da Mata e em localidades do
Agreste e do Sertão onde há manifestações de cultura negra, especialmente quilombos
contemporâneos.

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No começo dos anos cinquenta do século XX, o cantor e compositor Jackson do Pandeiro
(1919–1982) introduziu no rádio a música do coco, em apresentações ao vivo. Logo em seguida
vieram as gravações em disco.
Os artistas populares rurais, hoje em dia, continuam a criar composições ao ritmo do coco.
Por outro lado, artistas consagrados da música popular brasileira (Alceu Valença, Gilberto Gil,
Gal Costa, Lenine, João Bosco, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Zé Ramalho, Tom Zé, Chico
César, Leila Pinheiro e Chico Buarque) prosseguem regravando os cocos de Jackson do Pandeiro
e de novos compositores.
Música e dança com características de culturas indígenas, o xaxado, ao que tudo indica
originário dos sertões pernambucanos do rio Pajeú e do rio Moxotó (Pernambuco). A sua
divulgação inicial se deveu aos bandoleiros de Lampião, ficando por isso associado ao cangaço.
A dança era exclusivamente masculina. O canto, em quadras e refrão; o ritmo marcado
pelo arrastar das alpercatas e a pancada das coronhas dos rifles no chão. As letras eram satíricas
e agressivas.
O xaxado, em 1930, já estava popularizado fora da região e em 1935 figurava em
programas radiofônicos, chegando ao auge no período de 1946-1956, com a divulgação pelo
cantor Luiz Gonzaga.
Em Serra Talhada, terra do nascimento de Virgulino Ferreira, o Lampião (1898–1938),
foram criados grupos de danças que introduziram variações coreográficas no xaxado e
produziram adereços e vestuário a partir da recriação da roupagem usada pelos cangaceiros.

1.4 O BUMBA MEU BOI


É uma espécie de teatro, típico das regiões Nordeste e Norte do país, o qual muito
provavelmente teve origem em Pernambuco. Suas apresentações ocorrem principalmente na
época das festas juninas. Na maioria das encenações, o bumba meu boi conta a história trágica
e cômica, ao mesmo tempo, de um escravo negro que mata o boi preferido do patrão para
satisfazer a vontade de sua mulher de comer a língua do animal.
Encrencado, o escravo precisa ressuscitar o boi. O que consegue por meio da ajuda de um
índio feiticeiro. O bumba meu boi era encenado, inicialmente, pelos europeus, que desejavam
catequizar negros e indígenas. Essa tradição incorporou elementos dessas duas culturas, dando
origem a uma nova manifestação cultural. Dos afrodescendentes, o bumba herdou personagens,
alguns instrumentos e o ritmo.
1.5 O MARACATU
O maracatu é uma manifestação cultural pernambucana bastante influenciada pela
cultura africana. Trata-se da encenação de um cortejo real acompanhado pela percussão de
tambores, que hoje acontece no período do Carnaval. Acredita-se que sua origem esteja
relacionada às festas de coroação de reis e rainhas congos, negros que, na época colonial, eram
escolhidos como líderes dentro das comunidades católicas.
Atualmente, os grupos de maracatu saem pelas ruas com pessoas vestidas de personagens
nobres, como reis, rainhas, embaixadores, entre outros. Elas tocam instrumentos de percussão
enquanto percorrem a cidade e são acompanhadas por milhares de pessoas. Grupos que
reúnem gente de uma mesma comunidade são chamados de maracatunação.
Vários deles têm ligações com religiões afro-brasileiras. Há também outra modalidade de
maracatu chamada de maracatu rural (ou maracatu de baque solto). Perseguido no passado, o
maracatu é hoje um símbolo da identidade pernambucana e da cultura afro-brasileira.

1.6 O CATIMBÓ
O termo “catimbó” era utilizado para designar as práticas religiosas dos negros em
Pernambuco. Essa expressão era utilizada, geralmente, para indicar as religiões que em suas

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sessões ocorressem à possessão espiritual. Dessa forma, várias religiões afro eram facilmente
identificadas como catimbó, isso tornava complexo realizar distinções entre tais religiões.
Os terreiros eram frequentados por motivos diferentes. Uns buscavam consolo para seu
sofrimento na religião, outros, cura para alguma enfermidade, tinha aqueles que desejavam
reconquistar a pessoa amada ou simplesmente afastar um pretendente de perto do seu cônjuge.
No catimbó as cerimônias são comumente chamadas de “Gira”, as sessões são entoadas
por batuques de tambores. Os integrantes da gira compunham uma roda, em que passavam a
tocar e dançar para as entidades aguardando que as mesmas “baixassem”. As pessoas lá ficavam
maravilhadas esperando que fosse dada a resposta ou o conselho tão desejado.

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SUMÁRIO
PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO ...................................................................................................... 2
1. ROBERTO MAGALHÃES (1983-1986) ................................................................................................. 2
2. GUSTAVO KRAUSE ............................................................................................................................ 3
3. MIGUEL ARRAIS (1987-1990) ............................................................................................................ 4
4. CARLOS WILSON CAMPOS (1990-1991) ............................................................................................ 6
5. JOAQUIM FRANCISCO CAVALCANTI (1991-1995) .............................................................................. 6
6. MIGUEL ARRAIS (1995-1999) ............................................................................................................ 7
7. JARBAS VASCONCELOS (1999-2006) ................................................................................................. 8
8. JOSÉ MENDONÇA FILHO (2006-2007) ............................................................................................... 9
9. EDUARDO CAMPOS (2007-2014) .....................................................................................................10
10. JOÃO LYRA (2014-2015) ...............................................................................................................11
11. PAULO CÂMARA (2015-EM EXERCÍCIO)........................................................................................11

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PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO


A Estado de Pernambuco tem uma história política composta por uma grande variedade
de acontecimentos. Agitada desde o período colonial e entremeada ao aspecto econômico, essa
unidade da federação passou por episódios singulares que de certa maneira, cada qual ajudou
a construir a atual realidade pernambucana. Desde as invasões holandesas no século XVII,
permeada pelo grande desenvolvimento econômico, proporcionado pelo açúcar, atravessa por
conflitos de grande importância como a Guerra dos Mascates, a Conspiração dos Suassunas, a
Revolução Pernambucana, a Confederação do Equador e a Revolução Praieira, até as questões
mais importantes ao longo dos séculos XX e XXI, Pernambuco apresenta um processo político
em muitas vezes, alinhavado com o contexto nacional.
A análise desta aula recairá sobre o processo político, considerando o período da abertura
democrática em diante, analisando as principais ações dos governadores de Estado, ou seja, os
chefes do Poder Executivo que marcaram o processo político em Pernambuco.

1. ROBERTO MAGALHÃES (1983-1986)


Em 1978 elegeu-se pela via indireta vice-governador na chapa da Aliança Renovadora
Nacional (Arena), encabeçada por Marco Maciel, sendo empossado em março de 1979. Em
novembro, com a extinção do bipartidarismo e a consequente reformulação partidária, filiou-
se ao Partido Democrático Social (PDS).
Em maio de 1982 lançou-se candidato a governador pelo PDS expondo um programa
administrativo voltado para a viabilização econômica da região semiárida pernambucana.
Vitorioso contra o candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Marcos
Freire formou uma equipe de governo com representantes de todas as correntes do partido que
o haviam apoiado, lideradas pelos então senadores Marco Maciel e Nilo Coelho, e pelo vice-
governador Gustavo Krause.
Ao tomar posse prometeu criar uma Comissão de Controle das Entidades Estatais
encarregada de fiscalizar a aplicação do dinheiro nas repartições públicas, observando que “não
adianta o governo federal liberar dinheiro para os estados nordestinos, se eles não pararem de
empregar funcionários”. Um ano depois, quando já era considerado o governador mais
impopular e um dos mais conservadores do partido, segundo pesquisas do Instituto Gallup,
lançou o projeto Mandacaru, que previa o repasse direto de recursos às prefeituras para
aplicação em pequenas obras de interesse local imediato.
Favorável à emenda Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento das eleições diretas
para presidente da República em novembro de 1984, afinal rejeitada na Câmara por
insuficiência de votos, Roberto Magalhães distinguiu-se dos demais governadores do Nordeste,
partidários da candidatura do ministro Mário Andreazza, condecorando os governadores
Tancredo Neves (MG), Gonzaga Mota (CE) e Esperidião Amin (SC). No Colégio Eleitoral reunido
em 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito pela Aliança Democrática, uma união do Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com a dissidência do PDS abrigada na Frente
Liberal, derrotando o candidato do regime, Paulo Maluf. Doente, não chegou a ser empossado
na presidência, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que
já vinha exercendo interinamente o cargo desde 15 de março.
Filiado ao Partido da Frente Liberal (PFL), deixou o governo do estado em 1986, e foi
substituído pelo vice, Gustavo Krause. Candidato ao Senado pelo PFL, durante campanha
eleitoral definiu-se como presidencialista, embora criticando a soma de poderes que se atribuía
ao presidente da República, e contra os níveis de estatização alcançados pela economia
brasileira, a seu ver superiores aos de “economias socializadas”.

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Apontado pelas pesquisas eleitorais como favorito, em novembro de 1986 perdeu para o
seu correligionário Mansueto de Lavor e para Antônio Faria — lançado pelo Partido
Municipalista Brasileiro (PMB), com apoio de Miguel Arrais, eleito governador.
Ardoroso defensor do rompimento da aliança entre o PFL e o PMDB — pacto que chegou
a comparar ao “casamento do jacaré com a cobra d’água” — em novembro de 1987 resolveu
deixar o “partido de Sarney”, alegando que preferia “passar um bom tempo do lado da maioria
do povo brasileiro, que não tinha partido nenhum”. De fato, Roberto Magalhães só se filiou ao
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em março de 1988, assumindo a presidência do seu
diretório estadual. Em maio do ano seguinte, retornou ao magistério, lecionando direito
comercial na Faculdade de Direito da UFPE. Na ocasião, quando já se esboçavam as articulações
em torno das candidaturas para presidente da República na eleição direta de outubro de 1989,
defendeu a união do PTB com o Partido Democrático Trabalhista (PDT) numa chapa
encabeçada por Leonel Brizola.

2. GUSTAVO KRAUSE
Em maio de 1986, assumiu o governo de Pernambuco, no lugar de Roberto Magalhães,
que se lançara na disputa a uma vaga no Senado nas eleições de novembro de 1986. O PFL foi
derrotado nas urnas pelo PMDB, que elegeu Miguel Arrais governador e, juntamente com um
partido aliado, garantiu as duas vagas para o Senado. Krause deixou o governo de Pernambuco
ao final do mandato, em março de 1987, dedicando-se à reconstrução do PFL no seu estado. Nas
eleições municipais de novembro do ano seguinte, elegeu-se como vereador mais votado do
Recife. Assumiu a sua cadeira na Câmara Municipal em janeiro de 1989. Integrou-se à Comissão
de Orçamento e Finanças e foi o relator do projeto da lei orgânica municipal. Teve aprovados
projetos que tratavam de questões financeiras referentes ao regime tributário das micro e
pequenas empresas e o que estabelecia limites financeiros para as despesas de publicidade da
Prefeitura.
No pleito de outubro de 1990, elegeu-se deputado federal por Pernambuco, novamente
na legenda do PFL. Em fevereiro do ano seguinte, assumiu sua cadeira na Câmara. Integrou-se
à Comissão de Viação e Transportes, Desenvolvimento Urbano e Interior, foi relator da Lei do
Inquilinato e não acompanhou a liderança do PFL na votação da maioria das medidas
provisórias do governo do presidente da República Fernando Collor de Melo. Em dezembro de
1991, licenciou-se do mandato para assumir o cargo de secretário de Fazenda de Pernambuco,
no governo do seu correligionário Joaquim Francisco (1991-1995), sendo substituído por João
Colaço. À testa da secretaria, ampliou a cobrança de impostos aos sonegadores e implementou
uma política de saneamento do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe). Neste mesmo ano,
desempenhou as atividades de professor de direto tributário e de política fiscal da Universidade
Católica de Pernambuco.
Seguindo os passos do governador Joaquim Francisco, Gustavo Krause foi uma das
lideranças que mais se destacaram a favor do rompimento do PFL pernambucano com o
presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992), no momento em que uma CPI organizada na
Câmara dos Deputados apresentava as primeiras provas da ligação do presidente da República
com um esquema de corrupção e tráfico de influência liderado pelo ex-tesoureiro de sua
campanha presidencial, Paulo César Farias. Próximo da votação da abertura do processo de
impeachment na Câmara dos Deputados, Krause deixou o cargo de secretário e reassumiu o
mandato de deputado federal, a tempo de estar entre os 441 parlamentares que votaram pela
abertura do processo de impeachment de Collor, em 29 de setembro de 1992. Afastado da
presidência logo após a votação da Câmara, Fernando Collor renunciou ao mandato em 29
dezembro de 1992, pouco antes da conclusão do processo pelo Senado Federal, sendo efetivado
na presidência da República o vice Itamar Franco, que já vinha exercendo o cargo interinamente
desde 2 de outubro.

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Em outubro de 1992, após uma série de indecisões entre os partidos que apoiavam Itamar
Franco sobre quem iria assumir o comando da área econômica, Gustavo Krause aceitou o
convite do presidente para assumir o Ministério da Economia, Fazenda e Administração,
substituindo Marcílio Marques Moreira. A escolha de Krause causou surpresa no meio político,
empresarial e financeiro, tendo repercutido na oscilação do índice Bovespa, que na data de sua
posse fechou o pregão em queda de 7,9%. A responsabilidade pela condução da política
econômica no primeiro ministério do governo Itamar Franco, no entanto, dividiu-se entre
Krause e o ministro do Planejamento, Paulo Haddad.
À frente da pasta, Krause defendeu a prática de um “ensaio parlamentarista” para as
resoluções governamentais. Entre suas primeiras ações, propôs um acordo político contra a
recessão e a negociação de um projeto de emergência para política fiscal com presidentes e
líderes dos partidos. A sua proposta baseou-se na criação do imposto sobre transações
financeiras, na redução do limite de isenção do imposto de renda para pessoas físicas e no
reforço da fiscalização fazendária. Preocupado em combater a desobediência fiscal, Krause
reuniu-se com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir o andamento de
ações que tramitavam no Judiciário contra o pagamento de impostos. Enfatizou a cobrança e o
possível bloqueio das contas bancárias de empresas estatais, estados e municípios que
devessem ao Tesouro Nacional e não renegociassem as suas dívidas. Aprovou um programa de
saneamento econômico, financeiro e estrutural da Caixa Econômica Federal e apresentou
propostas de linhas de crédito no Banco do Brasil com juros inferiores aos do mercado para
estimular a produção e a retomada do crescimento.
Todavia, apesar de inicialmente apresentar um discurso contra a recessão, acabou por
manter a política de juros altos praticada por seu antecessor e descartou a redução de impostos.
Afirmou como prioridade da sua gestão a aprovação de uma reforma fiscal, desejando antecipar
a reforma constitucional para maio de 1993. Em dezembro, defendeu a implantação de
programas sociais compensatórios para amenizar os efeitos da recessão.
No pleito de outubro de 1994, candidatou-se ao cargo de governador de Pernambuco, pela
legenda do PFL. Foi derrotado por Miguel Arrais, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

3. MIGUEL ARRAIS (1987-1990)


Em meio ao processo da abertura democrática, Miguel Arrais foi o 3° governador de
Pernambuco eleito pelo voto direto. Sua história política vincula-se à história de Pernambuco a
partir da segunda metade do século XX. Não foi a primeira vez em que ele assumiu o governo
do Estado. Elegeu-se governador em 1962, com 47,98% dos votos, pelo Partido Social
Trabalhista (PST), apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e setores do Partido Social
Democrático (PSD), derrotando João Cleofas (UDN) – representante das oligarquias canavieiras
de Pernambuco. Seu governo foi considerado de esquerda, pois forçou usineiros e donos de
engenho da Zona da Mata do Estado a estenderem o pagamento do salário mínimo aos
trabalhadores rurais (o Acordo do campo) e deu forte apoio à criação de sindicatos, associações
comunitárias e às ligas camponesas.
Nas eleições de 15 de novembro de 1986, concorreu à sucessão de Gustavo Krause, do
PFL, no governo estadual, com o apoio da Frente Popular de Pernambuco, formada pelo PMDB,
ex-malufistas egressos do PDS, o PCB, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o PSB, além de
agremiações menores. Seu companheiro de chapa, o deputado federal Carlos Wilson, serviu de
elo com os setores mais conservadores do estado, graças à sua passagem pela Aliança
Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação ao regime militar, em cuja legenda se
iniciara na política. Os votos conservadores foram obtidos também graças ao apoio do Partido
Municipalista Brasileiro (PMB), segmento mais à direita da frente, que funcionava como linha
auxiliar do PMDB no estado. Embora as pesquisas de intenção de voto indicassem um equilíbrio
entre seu nome e o do usineiro e ex-secretário de Transportes José Múcio Monteiro Filho, do

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PFL, Arrais acabou sendo eleito com 1.587.679 votos (50,3% do total), quinhentos mil a mais
do que o total recebido por seu adversário.
Ainda na condição de governador eleito, participou de reunião do PMDB com ministros
da área econômica e defendeu o endurecimento da posição do governo federal em face dos
credores internacionais, bem como a suspensão do pagamento da dívida externa brasileira.
Assumiu o cargo em 15 de março de 1987, em meio a grande festa popular, mas enfrentou desde
o início graves problemas salariais com o funcionalismo público estadual. Durante dois anos e
meio, seu governo seria marcado pela falta de recursos, crises com o Legislativo e o Judiciário,
e sucessivas greves, como a dos professores, que durou 51 dias, e a da Polícia Civil, a primeira
da categoria registrada em Pernambuco.
Arrais dirigiu para os segmentos mais pobres da população pernambucana os principais
projetos de seu governo, como a expansão do sistema hídrico e do crédito rural no Sertão, a
distribuição de sementes no Agreste, a política de desapropriação de terras e de preservação
do emprego durante a entressafra da cana-de-açúcar na Zona da Mata e programas alternativos
de habitação e expansão dos serviços de saúde, educação, documentação e transporte na Região
Metropolitana de Recife. Projetou, também, estimular a interiorização das indústrias e apoiar
os pequenos e médios empresários, bem como recuperar empresas estatais em crise, como o
Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe), o Laboratório Farmacêutico do Estado de
Pernambuco (Lafepe), a Companhia Integrada de Serviços Agropecuários de Pernambuco
(Cisagro) e o Instituto de Pesquisas Agropecuárias (IPA).
Em sua gestão, implantou projetos como o “Vaca na corda”, que financiava a compra de
uma vaca, o “Chapéu de palha”, que contratava canavieiros na entressafra para trabalhar em
pequenas obras públicas, e o “Água na roça”, que oferecia financiamento para a compra de um
motor-bomba para irrigação. Esses projetos, que seus adversários classificaram de coronelistas
e assistencialistas, lhe granjearam grande popularidade junto à população pobre do interior do
estado.
Durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, iniciados em 1º de fevereiro
de 1987, Arrais procurou influenciar os congressistas no sentido da fixação do mandato
presidencial em quatro anos e da realização de eleições diretas para presidente em 1988. Em
janeiro de 1988 declarou que o adiamento das eleições diretas ameaçaria a estabilidade
institucional do país, pois o prolongamento do mandato de Sarney poderia gerar uma
polarização social, levando a classe média, pressionada pelos problemas de sobrevivência
material, a descrer nos políticos e “sair em busca de um salvador”. Em declarações à imprensa,
advertiu que a situação de elevada inflação e a dificuldade de colocação das exportações
brasileiras no mercado americano criavam um quadro mais grave do que aquele que, em 1964,
levara à deposição do presidente João Goulart pelos militares, já que, no seu modo de ver, o
governo Sarney tinha uma base de apoio mais reduzida. Para evitar o golpe, entendia que era
necessário definir o mandato de Sarney em quatro anos e formar uma frente nacional, com o
PMDB e os partidos de esquerda, para eleger um presidente da República capaz de manter o
povo esperançoso pela adoção de uma política econômica favorável às atividades produtivas e
à resolução do problema da dívida externa do país.
Em março de 1988 esteve em Brasília onde, no dia 17, se encontrou com o ministro do
Exército, general Leônidas Pires Gonçalves. Ao retornar, manifestou novamente preocupação
com a saúde institucional do país. Em Recife, pronunciou um discurso em que denunciava a
afixação de cartazes nas ruas da cidade em homenagem ao movimento político-militar de 1964:
“Isso pode ser uma articulação golpista. O povo tem que comandar o processo e conduzir o país
a uma direção nova, contrária ao interesse de grupos que não querem que a democracia
avance”. Alguns dias depois, o Jornal do Brasil (24/3/1988) publicou reportagem denunciando
que a Constituinte aprovara a manutenção do presidencialismo e o prazo de cinco anos para o
mandato de Sarney sob a ameaça de golpe militar. O texto final da nova Constituição seria
promulgado em 5 de outubro de 1988.

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O governador Arrais enfrentou em 1988 uma difícil situação estadual, abalada por greves
em vários segmentos do funcionalismo público — incluindo médicos, professores e advogados
—, pela seca, pelo desemprego no campo e por saques em cidades do interior. Para tentar
restabelecer o fluxo de recursos federais para Pernambuco, em junho de 1988 se reaproximou
do presidente José Sarney, com o qual rompera em maio do ano anterior, quando da nomeação
do deputado pernambucano Joaquim Francisco (PFL) para o Ministério do Interior.
Simultaneamente, procurou reforçar o “grupo histórico” do PMDB, visando a obter o controle
do partido. Em julho, tornou-se líder da ala “progressista” do partido, por indicação informal
dos governadores Wellington Moreira Franco (RJ), Tasso Jereissati (CE) e Geraldo Melo (RN).

4. CARLOS WILSON CAMPOS (1990-1991)


Com a decisão de Miguel Arrais de candidatar-se a deputado federal e a obrigatoriedade
de desincompatibilização do cargo, Carlos Wilson assumiu o governo de Pernambuco em 2 de
abril de 1990. Sua primeira vitória foi o fim da greve de professores que já durava 29 dias. Os
grevistas não foram atendidos em nenhuma das reivindicações salariais, mas voltaram ao
trabalho diante da promessa de algumas medidas, como a criação de uma comissão paritária,
com representantes do governo e sindicalistas, para estudar, entre outras questões, a mudança
do estatuto do magistério. Em junho de 1990, criou uma loteria instantânea, “a raspadinha
estadual”, para arrecadar recursos destinados a obras sociais. Ao final de seu mandato, em 15
de março de 1991, foi substituído pelo governador eleito Joaquim Francisco Cavalcanti.

5. JOAQUIM FRANCISCO CAVALCANTI (1991-1995)


No início de 1990, Joaquim Francisco desincompatibilizou-se do cargo de prefeito para
concorrer ao governo pernambucano no pleito de outubro de 1990, na legenda do PFL,
contando com o apoio explícito do presidente Collor. Vencendo as eleições no primeiro turno,
com 1.238.061 votos, assumiu o cargo em janeiro do ano seguinte.
Considerado um político de linhagem conservadora, o governador eleito de Pernambuco
surpreendeu ao entregar cargos importantes no segundo escalão do seu governo a ex-
militantes de esquerda. Definindo-se como um político que valorizava a competência como
critério para a formação dos quadros administrativos, Joaquim Francisco justificou a presença
de muitos antigos comunistas em sua equipe argumentando que “essa gente que estava perdida
desde a queda do muro de Berlim poderia trazer uma grande contribuição, ao complementar a
eficiência do liberalismo com os ideais de solidariedade do socialismo”.
Em agosto de 1992, à medida que se avolumaram as suspeitas de envolvimento de
Fernando Collor com o esquema de corrupção e tráfico de influência liderado pelo seu ex-
tesoureiro Paulo César Farias, no decorrer das investigações da chamada “CPI do PC”, Joaquim
Francisco rompeu politicamente com o presidente, pedindo a sua renúncia e tendo afirmado:
“A história não perdoa aqueles que se afastam da linha ética de conduta.” Essa postura provocou
um distanciamento entre o governador pernambucano e o PFL, que naquele momento servia
de base de sustentação ao governo. No mês seguinte, tornando-se um defensor inflamado do
impeachment de Fernando Collor, Joaquim Francisco manifestou seu apoio ao vice-presidente
Itamar Franco.
Na montagem do governo Itamar, que assumiu interinamente a presidência da República
após a Câmara dos Deputados ter acatado a abertura do processo de afastamento do presidente
Collor, em 29 de setembro de 1992, Joaquim Francisco indicou o nome do seu ex-secretário de
Fazenda, Gustavo Krause, para o Ministério da Fazenda, pedindo o apoio de seu partido ao novo
presidente. No entanto, a indefinição do PFL em colocar-se a favor de Itamar Franco levou-o a
deixar esta agremiação em outubro daquele ano. Cogitado para ingressar no Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), após ter sido contatado por Tasso Jereissati, Joaquim Francisco
não se definiu por esta legenda devido às dificuldades regionais — os tucanos eram aliados do

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prefeito de Recife, Jarbas Vasconcelos (PMDB), seu maior adversário político em Pernambuco.
Após permanecer um certo período sem partido, voltou a integrar os quadros do PFL.

6. MIGUEL ARRAIS (1995-1999)


Na condição de governador eleito, Arrais divulgou, na primeira semana de dezembro, um
documento intitulado “Proposta para a Zona da Mata” para o desenvolvimento da agroindústria
açucareira. O documento despertou pronta reação da Federação dos Trabalhadores da
Agricultura de Pernambuco (Fetape), segundo a qual as propostas serviam apenas aos
interesses dos usineiros e donos de engenhos, ignorando as necessidades dos trabalhadores e
da população em geral, especialmente a reforma agrária. A crise no relacionamento de Arrais
com os canavieiros coincidiu com sua aliança eleitoral com os empresários rurais e abalou seu
prestígio junto à população pobre do campo.
Empossado em 1º de janeiro de 1995 pela terceira vez no governo de Pernambuco — fato
inédito na história política do estado —, fez um discurso de posse em que ressaltou o
isolamento a que, a seu ver, o Nordeste vinha sendo relegado. Afirmou que a região, embora
abrigasse 26,7% da população brasileira, só recebia 8,5% dos investimentos feitos no país.
Criticou ainda as políticas econômica e social do país, cuja meta era a estabilidade monetária,
afirmando que, ao lutar contra a crise, “a voz de todos os nordestes espalhados pelo Brasil” não
buscava a “estabilidade pela estabilidade”: “A estabilidade que queremos é a que consolida uma
nação onde brasileiros não sejam tratados como estrangeiros”, como ocorria por força do
modelo econômico então vigente. Atacou também o projeto social-liberal defendido pelo
governo federal, que, segundo ele, permitia que partes do país se descolassem de outras,
encontrando formas particulares de internacionalização. Advertiu que o processo de
globalização da economia, “sobre o qual não temos domínio”, podia levar à “fragmentação do
nosso território”. A defesa da unidade nacional, afirmou, era o caminho para superar o que
classificou de “apartheid social”.
Junto com Lula (PT) e Leonel Brizola (PDT), liderou a criação em 17 de maio da Frente
Brasil Soberano, com o objetivo de evitar mudanças na Constituição que viabilizassem o fim do
monopólio no petróleo e nas telecomunicações. No interior do PSB, contudo, a posição em
relação às reformas não era consensual. O diretório nacional fechou questão contra todas as
propostas de reforma constitucional que o governo estava propondo, mas dois deputados —
José Chaves e João Colaço, ambos empresários de Pernambuco — votaram a favor das reformas
que decretaram o fim do monopólio dos governos estaduais na distribuição do gás canalizado
e a reformulação do conceito de empresa nacional, assim como da que extinguiu o monopólio
da União no serviço de telecomunicações. A comissão executiva, presidida por Arrais, recebeu
representação contra os dois pedindo sua expulsão do partido e decidiu formalizar o processo.
Arrais integrou o bloco dos governadores — a maioria nordestinos — contrários a muitas
das medidas de estabilização financeira adotadas pelo governo federal. A principal delas foi a
prorrogação do Fundo Social de Emergência (FSE) até 1998, o que acarretaria perda de receita
para os estados. Segundo seus cálculos, Pernambuco teria deixado de receber 208 milhões de
reais desde a criação do fundo, em 1994. Embora o discurso oficial garantisse que a reforma
não traria perdas para os estados, os governadores acusavam o governo federal de estar
exigindo que abrissem mão de recursos num momento em que suas administrações
enfrentavam graves dificuldades econômicas e financeiras.
Arrais integrou, também, o bloco dos governadores que defenderam a redução dos
pagamentos das dívidas estaduais. Essa reivindicação contrariava a principal exigência do
governo para prestar socorro financeiro aos estados, mas os governadores entendiam que as
contas estaduais podiam ameaçar a estabilidade da economia. Reeleito presidente da executiva
nacional do PSB em novembro de 1995, Arrais considerava que as condições impostas pelo
governo federal para que os estados tivessem acesso ao programa de ajuste fiscal atentavam
contra a soberania das unidades da Federação e discordava de exigências como a demissão de

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servidores e a venda de patrimônio público. Em dezembro, o governo de Pernambuco


enfrentava graves dificuldades financeiras e não dispunha de recursos para pagar o 13º salário
dos seus 184 mil servidores, que já haviam recebido os vencimentos do mês anterior em duas
parcelas. Da arrecadação de cerca de 130 milhões de reais por mês do estado, 109 milhões de
reais eram gastos com a folha de pagamento do funcionalismo, o que representava 83% do total.
Nessas circunstâncias, Arrais participou, ainda em dezembro, juntamente com outros seis
governadores nordestinos, da elaboração de um conjunto de dez propostas essenciais para a
região no curto prazo, visando a adequar a realidade de cada estado ao plano de estabilização
econômica e ao plano de ajuste fiscal do governo federal. O documento, que seria enviado ao
presidente Fernando Henrique Cardoso, pedia que o governo federal financiasse a privatização
de empresas estaduais e permitisse que parte das receitas estaduais, comprometida com a
amortização das dívidas, fosse aplicada em investimentos prioritários e financiamentos para
programas de demissões voluntárias e de empregos no setor privado. O documento
reivindicava, ainda, que o governo federal devolvesse recursos retirados aos estados em
decorrência do FSE. Outras medidas pleiteadas pelos governadores nordestinos eram a
admissão de limites extras de endividamento para a tomada de empréstimos de longo prazo a
fontes externas e ajustes na reforma fiscal da União, de modo que os investimentos no Nordeste
não fossem reduzidos. Em troca, os governadores se comprometiam a limitar os reajustes
salariais ao efetivo aumento das receitas estaduais e a suspender o pagamento de excessos de
remuneração de servidores estaduais.
Iniciada nessa época a discussão da proposta de emenda constitucional que permitia a
reeleição de chefes de executivo, Arrais pronunciou-se contra a reeleição de prefeitos,
governadores e presidente da República, porque não fazia parte das “tradições republicanas”.
Essa declaração foi feita em outubro de 1996, durante reunião com outros sete chefes de
Executivo estaduais realizada em Vitória. Fortalecido pela boa performance do PSB nas
eleições, Arrais trabalhou pela articulação de uma frente contra a tese da reeleição, dispondo-
se a “fazer alianças táticas e circunstanciais” para reunir forças políticas diferentes. Em
novembro, a comissão executiva do PSB recomendou voto contrário à emenda que permitia a
candidatura do presidente Fernando Henrique Cardoso à reeleição. Arrais evitou que o PSB
fechasse questão, o que obrigaria todos os parlamentares da legenda a votar contra a emenda:
“Precisamos unificar o partido pelo convencimento. A minha expectativa é que ninguém vote a
favor”, disse. Em janeiro de 1997, participou, em Brasília, com representantes de partidos
contrários à aprovação da emenda da reeleição, de ato público que reuniu cerca de quinhentas
pessoas. Na ocasião, expressou a opinião de que a continuidade de Fernando Henrique no
governo significaria “manter a crise dissimulada pelo controle da inflação”. No dia seguinte,
contudo, o deputado federal pernambucano Fernando Lira, do próprio PSB, votou a favor da
emenda da reeleição na comissão especial da Câmara. Embora contrário ao governo nessa
questão, Arrais procurou manter-se, no início da legislatura de 1997, fora do bloco de oposição
formado pelo PT, o PDT e o PCdoB. Os três partidos, juntos, constituíram a quarta maior
bancada na Câmara dos Deputados, mas, se recebessem a adesão do PSB, formariam a terceira
força na casa.

7. JARBAS VASCONCELOS (1999-2006)


Em outubro de 1998 disputou o governo de Pernambuco à frente de uma coligação que
reunia o PMDB, o PFL, o Partido Progressista Brasileiro (PPB) e outras agremiações menores,
denominada “União por Pernambuco”. Elegeu-se já no primeiro turno da disputa com cerca de
65% dos votos válidos, derrotando o governador Miguel Arrais, que tentava a reeleição, por
uma diferença de mais de um milhão de votos. Em janeiro do ano seguinte, tomou posse no
governo pernambucano, em uma cerimônia que não contou com a presença do ex-governador
para lhe passar o cargo.

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Durante seu primeiro ano de governo, Jarbas Vasconcelos dedicou-se especialmente a


reajustar as contas do estado, a realizar obras de infraestrutura para atrair investimentos e a
concluir o processo de privatização da Companhia Elétrica de Pernambuco (CELPE), iniciado
durante o governo de Miguel Arrais. Em fevereiro de 2000, a CELPE foi leiloada e gerou recursos
da ordem de 1 bilhão de dólares para os cofres do estado de Pernambuco, o que permitiu dar
início a uma série de obras de infraestrutura, destacando-se as obras em barragens e adutoras
no interior do estado e a duplicação da BR 232, estrada federal de ligação entre Recife e Caruaru,
que foi a maior e mais visível obra do primeiro mandato do governo Jarbas Vasconcelos.
Em julho de 2000, foi implantado em Recife o Porto Digital, que consistia em um polo de
desenvolvimento de softwares reconhecido como o maior parque tecnológico do Brasil, em
termos de faturamento e número de empresas.
Na área social implantou o Programa Governo nos Municípios, que permitiu às lideranças
da sociedade civil, dentro de cada uma das 12 microrregiões em que o estado foi dividido,
participar da definição das ações e das obras consideradas estratégicas para o desenvolvimento
local. Durante este seu primeiro mandato, o Programa Governo nos Municípios priorizou,
especialmente, a realização de obras de infraestrutura para o desenvolvimento regional. Outro
programa que se destacou na área social foi o Projeto Renascer, voltado para o combate à
pobreza rural, tendo como principal estratégia incentivar e empreender a concepção do
desenvolvimento local, com o objetivo de superar a vulnerabilidade dos segmentos mais pobres
da zona rural pernambucana.
Após declinar do convite para compor a chapa do tucano José Serra à Presidência da
República como seu vice, nas eleições de 2002, Jarbas Vasconcelos optou por disputar a
reeleição ao cargo. Foi reeleito ainda no primeiro turno, com 60,41% dos votos válidos, contra
os 34,1% dos votos obtidos por Humberto Sérgio Costa Lima (PT), segundo candidato mais
votado, e deu início ao novo mandato em janeiro de 2003. Dentre as principais iniciativas do
seu segundo governo, esteve a complementação das obras de infraestrutura no complexo
industrial portuário de Suape, destacando-se, em 2005, o início das obras de construção da
Refinaria General José Inácio Abreu e Lima, resultado de uma parceria entre a Petrobras e a
Petróleos da Venezuela S. A. (PDVSA), tendo em vista a construção da primeira refinaria do país
projetada para processar petróleo pesado, com capacidade para gerar 200 mil barris de
petróleo por dia. Além disso, os investimentos no porto de Suape viabilizaram outros dois
grandes empreendimentos: a construção do estaleiro Hemisfério Sul e do Pólo de Poliéster. Na
área social, deu continuidade às realizações dos programas Governo nos municípios e Renascer.
Em março de 2006, renunciou ao cargo, que passou a ser ocupado pelo então vice-
governador Mendonça Filho (PFL), para se candidatar ao Senado Federal nas eleições de
outubro daquele ano. Elegeu-se senador pelo estado de Pernambuco, na legenda do PMDB, e
tomou posse do cargo em fevereiro de 2007. Apesar do PMDB integrar a base governista do
segundo Governo Luís Inácio Lula da Silva (2007-2011), Vasconcelos caracterizou-se por
assumir uma postura independente em relação às decisões do Executivo e do seu partido.

8. JOSÉ MENDONÇA FILHO (2006-2007)


No mês de março de 2006 Mendonça Filho assumiu o governo de Pernambuco após Jarbas
Vasconcelos deixar o cargo para concorrer a um mandato de senador nas eleições de outubro.
Nesse mesmo ano, Mendonça Filho decidiu disputar o pleito para o governo do estado. Apoiado
pela coligação que reunia, além do PMDB e do PFL, as legendas do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), do Partido Trabalhista Nacional (PTN), do Partido Popular Socialista (PPS) e
do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Mendonça Filho perdeu as eleições no segundo
turno. Apesar de ter recebido na primeira etapa uma votação maior do que a do adversário
Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), isto é 39,31% contra 33,18% dos votos,
a situação se reverteu no segundo turno. Eduardo Campos conseguiu 65,36% dos votos e
venceu as eleições com ampla vantagem.

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9. EDUARDO CAMPOS (2007-2014)


Em 2005, foi eleito para o cargo de presidente do PSB, após a morte de seu avô e então
presidente do Partido, Miguel Arraes. No início de 2006, Campos se licenciou da presidência
nacional do PSB para concorrer ao governo do estado de Pernambuco pela Frente Popular de
Pernambuco.
Ainda em 2006, o nome de Eduardo Campos foi associado à “Máfia das Sanguessugas” por
meio de denúncias do deputado federal Fernando Gabeira, do Partido Verde (PV-RJ), sub-
relator da CPI que investigava o caso. Segundo a denúncia, na época em que era ministro de
Ciência e Tecnologia do governo Lula, Campos teria compactuado com irregularidades nas
licitações para compra de ônibus para o programa de inclusão digital. Campos contestou as
acusações e afirmou acreditar que se tratava de uma tentativa de prejudicá-lo nas eleições para
o governo de Pernambuco.
No pleito realizado em outubro daquele ano, venceu a disputa no 2º turno com um total
de 65,36% dos votos, contra os 34,64% obtidos pelo então governador Mendonça Filho,
candidato à reeleição pelo Partido da Frente Liberal (PFL). Tomou posse em janeiro de 2007.
Em 2008, Eduardo Campos foi reeleito para o cargo de presidente do Partido Socialista
Brasileiro (PSB).
No decorrer de seu mandato frente ao governo pernambucano deu ênfase à reformulação
dos serviços de saúde pública e à gestão de projetos de qualificação profissional. Durante sua
gestão destacam-se a criação de programas sociais como o “Pacto pela Vida”, promovido pela
Secretaria Estadual de Segurança com vistas à redução dos índices de violência, que alcançou
queda de 39% no índice de homicídios; e o programa “Mãe Coruja Pernambucana”, criado para
diminuir a taxa de mortalidade infantil, mais tarde condecorado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) e posteriormente agraciado com o Prêmio Interamericano da Inovação para a
Gestão Pública Efetiva. No âmbito econômico, Pernambuco registrou índices de crescimento
maiores que a média nacional, tendo por base a aplicação de políticas incentivos fiscais visando
atrair novos negócios para o estado.
Chegando ao término de seu mandato como governador de Pernambuco, Eduardo
Campos decidiu lançar-se como candidato à reeleição no pleito eleitoral de outubro de 2010,
para o que contou com o apoio do então presidente da República Luís Inácio Lula da Silva.
Primeira eleição sem a participação direta de Lula desde 1989, este pleito foi vencido por sua
ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à frente de uma coligação que reuniu 10
partidos, incluindo o PSB de Campos: Partido dos Trabalhadores-PT; PMDB; Partido
Democrático Trabalhista-PDT; Partido Comunista do Brasil-PCdoB; Partido Republicano
Brasileiro-PRB; Partido da República-PR; Partido Trabalhista Nacional-PTN; Partido Social
Cristão-PSC e Partido Trabalhista Cristão-PTC. Nas disputas estaduais, a grande surpresa foi o
ótimo desempenho do PSB, que conquistou seis governos entre eles Pernambuco: Campos foi
reeleito já no primeiro turno, com 3.450.874 votos, referentes a 82, 84% dos votos válidos,
contra Jarbas Vasconcelos, do PMDB, que recebeu a preferência de 525.724 (14, 05%) dos
eleitores.
Eduardo Campos tomou posse do segundo mandato em janeiro do ano seguinte. Durante
essa gestão novamente se destacaram o crescimento do PIB e a redução dos índices de
violência. Em junho de 2012, os projetos “Todos por Pernambuco” e “Chapéu de Palha Mulher”,
realizados pelo governo estadual, foram condecorados com o Prêmio de Serviço Público das
Nações Unidas (UNPSA). O primeiro consistia em promover, por meio de seminários, a consulta
da população sobre temas prioritários ao governo; o segundo priorizava a assistência à mulher
trabalhadora rural, promovendo sua capacitação ao mercado de trabalho e auxiliando no
período de entressafra.
Em julho de 2013 uma pesquisa da Confederação Nacional da Industria (CNI) em parceria
com o IBOPE apontou o governo de Eduardo Campos como o mais popular entre os 11 demais

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estados pesquisados. De acordo com os dados divulgados na ocasião, 76% dos eleitores
pernambucanos aprovavam sua maneira de governar e 68% da população do estado teria dito
confiar no governador, cuja gestão foi considerada ótima ou boa por 58% dos entrevistados.
Em virtude do lançamento de sua pré-candidatura à presidência da República, em abril
de 2014 Eduardo Campos se desligou do governo de Pernambuco, passado ao vice João Lyra
Neto, também do PSB. Candidatou-se à presidência do Brasil em chapa constituída com Marina
Silva, recém-filiada ao PSB, candidata a vice. No mês de maio, segundo pesquisa realizada pelo
Datafolha, Campos estava em terceiro lugar entre os pré-candidatos à presidência, com 10%
das intenções de voto, atrás de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
que somava 16% das intenções e de Dilma Rousseff, candidata à reeleição, com 38% da
preferência do eleitorado pesquisado.
Eduardo Campos faleceu aos 49 anos na cidade de Santos (SP), no dia 13 de agosto de
2014, em decorrência de um acidente aéreo enquanto viajava do Rio de Janeiro ao Guarujá no
meio da campanha presidencial.

10. JOÃO LYRA (2014-2015)


Ao lado de Eduardo Campos, foi eleito vice-governador em 2006. Em 2008, assumiu a
Secretaria de Saúde. Comandou o processo de mudança de gestão da pasta em Pernambuco,
cuidando particularmente da regionalização da Saúde. João Lyra também coordenou duas
outras áreas, Segurança e Educação. Após a renúncia de Campos, em abril de 2014 para
concorrer à presidência da república, João Lyra assumiu o comando do estado.

11. PAULO CÂMARA (2015-EM EXERCÍCIO)


Paulo Câmara era estreante na política, filiado ao PSB desde outubro de 2013. Foi indicado
para concorrer à sucessão estadual, que tinha como integrantes da chapa o deputado federal
Raul Henry do PMDB, como vice, e o ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra
Coelho do PSB, para concorrer ao Senado. Naquele ano foi o candidato a governador mais bem-
votado do país, ele obteve 68% dos votos em Pernambuco, deixando para trás o então candidato
do PTB, Armando Monteiro, que ficou com um pouco mais de 31% dos votos válidos. Foi eleito
governador de Pernambuco no primeiro turno, com mais de 3.000.000 votos. Carregava o peso
de dar continuidade ao governo de seu padrinho político, Eduardo Campos.

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