Pacote Materiais Conhecimentos de Historia
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SUMÁRIO
OCUPAÇÃO PRÉ-COLONIAL DO ATUAL ESTADO DE PERNAMBUCO ................................................................. 2
1. OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO .................................................................................... 2
2. CARACTERÍSTICAS SOCIOCULTURAIS DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS QUE HABITAVAM O TERRITÓRIO
DO ATUAL ESTADO DE PERNAMBUCO .......................................................................................................... 3
Tradição Nordeste
Esta tradição é caracterizada pela variedade de seus temas, contendo cenas
cerimoniais, de caça, de luta e de sexo. O dinamismo observado nas figuras humanas
e de animais, assim como a presença de atributos (ornamentos, instrumentos e
armas), pode ser encontrado no interior das composições gráficas, acompanhando
as figuras humanas.
Itaquatira
A palavra Itaquatira significa pedra em tupi. Esta tradição representa um estilo
que é realizado em gravuras em vez de pinturas, no caso, que são feitas com
raspagem das pedras. As imagens mostradas nas formas não são reconhecíveis e
No século XIX, a região do atual município de Floresta e diversas ilhas do rio São Francisco
se destacavam pelo grande número de aldeias, onde habitavam os índios Pipiães, Avis, Xocós,
Carateus, Vouvês, Tuxás, Aracapás, Caripós, Brancararus e Tamaqueús.
O desaparecimento da maioria das tribos deve-se às diversas formas de alienação de
terras indígenas no Nordeste ou da resolução do Governo de extinguir os aldeamentos
existentes.
Dos grupos que povoaram Pernambuco, salvo alguns sobreviventes, pouco se sabe. O fato
dos índios não possuírem uma linguagem escrita, dificultou muito a transmissão das
informações.
SUMÁRIO
PERNAMBUCO: A “GUERRA DOS BÁRBAROS”, A LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA ............ 2
1. A GUERRA DOS BÁRBAROS .................................................................................................................... 2
1.1 GUERRA DO RECÔNCAVO (1651-1679) ......................................................................................... 3
1.2 GUERRA DO AÇU (1687-1693) ....................................................................................................... 3
2. A LAVOURA AÇUCAREIRA ...................................................................................................................... 4
3. A MÃO DE OBRA ESCRAVA .................................................................................................................... 5
escravos aos engenhos do litoral e dava o direito de solicitar, junto às autoridades coloniais,
terras nas áreas onde eram travados os combates contra o “gentio bárbaro”. A expansão da
pecuária pelo agreste e sertão nordestino demandava cada vez mais amplos espaços para
abastecer de carne e couro as cidades litorâneas do Nordeste e as crescentes vilas e cidades
mineiras. Assim, a “guerra justa” serviu de pretexto para atender a interesses dos colonos:
montagens de fazendas de gado, doações de sesmarias e captura de escravos. Não foi, contudo,
um empreendimento fácil: a ocupação do sertão da Bahia ao Maranhão levou a confrontos
sangrentos marcados por violências de ambos os lados e a uma guerra que se prolongou por
setenta anos.
enfrentar os Cariris. A força dos índios, neste momento, era assustadora, pois reuniam um
maior número de tribos. Além disso, estavam usando cavalos e armas de fogo que haviam
tomado dos colonos e aprenderam a manusear. Os Janduís conseguiam obter as armas através
do comércio com piratas no litoral.
Diante da grande resistência dos índios, a guerra foi tomando um caráter cada vez mais
explícito de extermínio. Assim, se a princípio, os bandeirantes foram seduzidos pelo
apresamento de indígenas, passam a ser recompensados, principalmente, com honrarias e
terras (sesmarias).
Em 1692, ocorreu um ponto de virada na guerra: a celebração do primeiro Tratado de Paz
entre colonizadores e indígenas na América portuguesa. Por iniciativa do chefe Canindé, dos
Janduís, estabeleceu-se uma aliança pela qual estes se comprometiam a fornecer cinco mil
guerreiros para lutar junto aos portugueses contra invasores europeus ou tribos hostis, além
de certo número de trabalhadores para as fazendas de gado. Em troca, recebiam uma área de
10 léguas quadradas e sua liberdade.
O acordo representava uma estratégia de sobrevivência para os índios diante da ameaça
de extinção de suas populações em uma guerra de longa duração. Já os colonos queriam que a
guerra continuasse pois ela significava dinheiro, honrarias, terras e escravos. Os levantes
Cariris prosseguiram até o início do século XVIII. A partir de 1720 não havia mais sinais de
levantes indígenas naquela região.
Com a terra livre da ameaça indígena, os sertões nordestinos passaram para o controle
luso-brasileiro e expandiram-se as fazendas de gado. Os colonos receberam terras e escravos,
o que acabou se tornar motivo para discórdias e novos conflitos. Muitos bandeirantes acabaram
por se fixar na região onde receberam extensas sesmarias e exploravam a pecuária. Os novos
proprietários entram em atrito com os antigos sesmeiros e moradores pela divisão das terras e
posse dos escravos. Outro conflito ocorreu entre bandeirantes e missionários pelo controle da
mão de obra indígena. Os bandeirantes não hesitavam em invadir aldeamentos para capturar
índios já convertidos e vendê-los como escravos. O desdobramento desses conflitos avançou no
tempo compondo o quadro sangrento da ocupação dos sertões nordestinos.
2. A LAVOURA AÇUCAREIRA
Na sua faixa litorânea, o Nordeste representou o primeiro centro de colonização e de
urbanização da nova terra. A atual situação do Nordeste não é fruto da fatalidade, mas de um
processo histórico. Até meados do século XVIII, a região nordestina, que era designada como o
“Norte”, concentrou as atividades econômicas e a vida social mais significava da Colônia; nesse
período, o Sul foi uma área periférica, menos urbanizada, sem vinculação direta com a economia
exportadora. Salvador foi a capital do Brasil até 1763 e, por muito tempo, sua única cidade
importante. Embora não haja dados de população seguros até meados do século XVIII, calcula-
se que tinha 14 mil habitantes em 1585, 25 mil em 1724 e cerca de 40 mil em 1750, a metade
dos quais eram escravos. Esses números podem parecer modestos, mas têm muita significação
quando confrontados com os de outras regiões: São Paulo, por exemplo, tinha menos de 2 mil
habitantes em 1600.
A empresa açucareira foi o núcleo central da ativação socioeconômica do Nordeste. O
açúcar tem uma longa e variada história, tanto no que se refere a seu uso como à localização
geográfica. No século XV, era ainda uma especiaria utilizada como remédio ou condimento
exótico. Livros de receitas do século XVI indicam que estava ganhando lugar no consumo da
aristocracia europeia. Logo passaria de um produto de luxo para o que hoje chamaríamos de
um bem de consumo de massa.
Sob o aspecto geográfico, a cana-de-açúcar teve um grande deslocamento no espaço.
Originária da Índia, alcançou a Pérsia e dali foi levada pelos conquistadores árabes à costa
oriental do Mediterrâneo. A seguir, os árabes a introduziram na Sicília e na península Ibérica.
Já em 1300, vendia-se em Brugues (Bélgica) o açúcar produzido na Espanha. No século XV, a
produção das várzeas irrigadas de Valência e do Algarve (Sul de Portugal) era comercializada
no Sul da Alemanha, nos Países Baixos e na Inglaterra. Vimos como a produção açucareira foi
dominante nas ilhas do Atlântico, onde se fez um verdadeiro ensaio do que viria a ser o
empreendimento implantado no Brasil.
Não se conhece a data em que os portugueses introduziram a cana-de-açúcar no Brasil.
Foi nas décadas de 1530 e 1540 que a produção se estabeleceu em bases sólidas. Em sua
expedição de 1532, Martim Afonso trouxa um perito na manufatura do açúcar, bem como
portugueses, italianos e flamengos com experiência na atividade açucareira na ilha da Madeira.
Plantou-se cana e construíram-se engenhos em todas as capitanias, de São Vicente a
Pernambuco.
Em conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma
grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior
desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições propícias
para a adoção dessa atividade.
A economia açucareira no Brasil corresponde ao período colonial do século XVI. O açúcar
representou a primeira riqueza produzida no país, acompanhada da ocupação do mesmo. Deu
origem às três primeiras capitanias: Pernambuco, Bahia e São Vicente. Localizadas nas costas
litorâneas do território, fizeram com que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador de
açúcar da época. Pernambuco era a capitania mais rica, tinha as maiores fazendas e era a mais
poderosa. Desse estado saiu a maior produção de açúcar do mundo.
O pacto colonial assegurava que tudo que fosse produzido no Brasil seria comercializado
com a metrópole portuguesa e assim foi estabelecido um monopólio comercial dos portugueses
que puderam comercializar com outros países europeus e ficar com a maior parte dos lucros.
Ou seja, a colônia produzia, entregava sua produção a preços baixos e comprava os escravos a
preços altos. Portugal sempre ficava ganhando em qualquer negociação.
Os grandes centros açucareiros na Colônia foram Pernambuco e Bahia. Fatores climáticos,
geográficos, políticos e econômicos explicam essa localização. As duas capitanias combinavam,
na região costeira, boa qualidade de solos e um adequado regime de chuvas. Estavam mais
próximas dos centros importadores europeus e contavam com relativa facilidade de
escoamento da produção, na medida em que Salvador e Recife se tornaram portos importantes.
colonos e padres. Mas estes não tinham também qualquer respeito pela cultura indígena. Ao
contrário, para eles chegava a ser duvidoso que os índios fossem pessoas. Padre Manuel da
Nóbrega, por exemplo, dizia que “índios são cães em se comerem e matarem, e são porcos nos
vícios e na maneira de se tratarem”.
Os índios resistiram às várias formas de sujeição, pela guerra, pela fuga, pela recusa ao
trabalho compulsório. Em termos comparativos, as populações indígenas tinham melhores
condições de resistir do que os escravos africanos. Enquanto estes se viam diante de um
território desconhecido onde eram implantados à força, os índios se encontravam em sua casa.
Outro fator importante que colocou em segundo plano a escravização dos índios foi a
catástrofe demográfica. Esse é um eufemismo erudito para dizer que as epidemias produzidas
pelo contato com os brancos liquidaram milhares de índios. Eles foram vítimas de doenças
como sarampo, varíola, gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Duas ondas
epidêmicas se destacaram por sua violência entre 1562 e 1563, matando mais de 60 mil índios,
ao que parece, sem contar as vítimas do sertão. A morte da população indígena, que em parte
se dedicava a plantar gêneros alimentícios, resultou em uma terrível fome no Nordeste e em
perda de braços.
Não por acaso, a partir da década de 1570 incentivou-se a importação de africanos, e a
Coroa começou a tomar medidas por meio de várias leis, para tentar impedir o morticínio e a
escravidão desenfreada dos índios. As leis continham ressalvas e eram burladas com facilidade.
Escravizavam-se índios em decorrência de “guerras justas”, isto é, guerras consideradas
defensivas, ou como punição pela prática de antropofagia. Escravizava-se também pelo resgate,
isto é, a compra de indígenas prisioneiros de outras tribos, que estavam para ser devorados em
ritual antropofágico. Só em 1758 a Coroa determinou a libertação definitiva dos indígenas. Mas,
no essencial, a escravidão indígena fora abandonada muito antes pelas dificuldades apontadas
e pela existência de uma solução alternativa.
Ao percorrer a costa africana no século XV, os portugueses haviam começado o tráfico de
africanos, facilitando pelo contato com sociedades que, em sua maioria, já conheciam o valor
mercantil do escravo. Nas últimas décadas do século XVI, não só o comércio negreiro estava
razoavelmente montado como vinha demonstrando sua lucratividade.
Os colonizadores tinham conhecimento das habilidades dos negros, sobretudo por sua
rentável utilização na atividade açucareira das ilhas do Atlântico. Muitos escravos provinham
de culturas em que trabalhos com ferro e a criação de gado eram usuais. Sua capacidade
produtiva era assim bem superior à do indígena. É possível que, durante a primeira metade do
século XVII, nos anos de apogeu da economia do açúcar, o custo de aquisição de um escravo
negro era amortizado entre treze e dezesseis meses de trabalho e, mesmo depois de uma forte
alta nos preços de compra de cativos após 1700, um escravo se pagava em trinta meses.
Os africanos foram trazidos para o Brasil em um fluxo de intensidade variável. Os cálculos
sobre o número de pessoas transportadas como escravos variam muito. Estima-se que entre
1550 e 1855 entraram pelos portos brasileiros 4 milhões de escravos, na sua grande maioria
jovens do sexo masculino.
A região de proveniência dependeu da organização do tráfico, das condições locais na
África e, em menor grau, das preferências dos senhores brasileiros. No século XVI, a Guiné
(Bissau e Cacheu) e a Costa da Mina, ou seja, quatro portos ao longo do litoral do Daomé,
forneceram o maior número de escravos. Do século XVII em diante, as regiões mais ao sul da
costa africana – Congo e Angola – tornaram-se os centros exportadores mais importantes, a
partir dos portos de Luanda, Benguela e Cabinda. Os angolanos foram trazidos em maior
número no século XVIII, correspondendo, ao que parece, a 70% da massa de escravos trazidos
para o Brasil naquele século.
Costuma-se dividir os povos africanos em dois grandes ramos étnicos: os sudaneses,
predominantes na África ocidental, Sudão egípcio e na costa norte do golfo da Guiné e os bantos,
da África equatorial e tropical, de parte do golfo da Guiné, do Congo, Angola e Moçambique. Essa
grande divisão não nos deve levar a esquecer que os negros escravizados no Brasil provinham
de muitas tribos ou reinos, com suas culturas próprias. Por exemplo: os iorubas, jejes, tapas,
hauçás, entre os sudaneses; e os angolas, bengalas, monjolos, moçambiques, entre os bantos.
Os grandes centros importadores de escravos foram Salvador e depois o Rio de Janeiro,
cada qual com sua organização própria e fortemente concorrentes. Os traficantes baianos
utilizaram-se de uma valiosa moeda de troca no litoral africano, o fumo produzido no
Recôncavo. Estiveram sempre mais ligados à Costa da Mina, à Guiné e ao golfo de Benim, neste
último caso após meados de 1770, quando o tráfico da mina declinou. O Rio de Janeiro recebeu
sobretudo escravos de Angola, superando a Bahia com a descoberta das minas de ouro, o
avanço da economia açucareira e o grande crescimento urbano da capital, a partir do início do
século XIX.
Seria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram à escravidão, os negros a
aceitaram passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões contra senhores,
resistência cotidiana fizeram parte das relações entre senhores e escravo, desde os primeiros
tempos. Os quilombos, ou seja, estabelecimentos negros que escapavam à escravidão pela fuga
e recompunham no Brasil formas de organização social semelhantes às africanas, existiram às
centenas no Brasil colonial. Palmares – uma rede de povoados situada em uma região que hoje
corresponde em parte ao Estado de Alagoas, com vários milhares de habitantes – foi um desses
quilombos e certamente o mais importante. Formado no início do século XVII, resistiu aos
ataques de portugueses e holandeses por quase cem anos, vindo a sucumbir, em 1695, às tropas
sob o comando do bandeirante Domingos Jorge Velho.
Admitidas as várias formas de resistência, não podemos deixar de reconhecer que, pelo
menos até as últimas décadas do século XIX, os escravos africanos ou afro-brasileiros não
tiveram condições de desorganizar o trabalho compulsório. Bem ou mal, viram-se obrigados a
se adaptar a ele. Dentre os vários fatores que limitaram as possibilidades de rebeldia coletiva,
lembremos que, ao contrário dos índios, os negros eram desenraizados de seu meio, separados
arbitrariamente, lançados em levas sucessivas em território estranho.
Por outro lado, nem a Igreja nem a Coroa se opuseram à escravidão do negro. Ordens
religiosas como a dos beneditinos estiveram mesmo entre os grandes proprietários de cativos.
Vários argumentos foram utilizados para justificar a escravidão africana. Dizia-se que se tratava
de uma instituição já existente na África e assim apenas transportavam-se cativos para o mundo
cristão, onde seriam civilizados e salvos pelo conhecimento da verdadeira religião. Além disso,
o negro era considerado um ser racialmente inferior. No decorrer do século XIX, teorias
pretensamente científicas reforçaram o preconceito: o tamanho e a forma do crânio dos negros,
o peso de seu cérebro etc. demonstravam que se estava diante de uma raça de baixa inteligência
e emocionalmente instável, destinada biologicamente à sujeição.
SUMÁRIO
PERNAMBUCO: AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS E A SOCIEDADE COLONIAL .................................................. 2
1. AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS ........................................................................................................... 2
2. A SOCIEDADE COLONIAL........................................................................................................................ 4
Muitos dos encargos da Coroa resultavam, pelo menos em teses, em maior subordinação
da Igreja, como é o caso da incumbência de remunerar o clero e construir e zelar pela
conservação dos edifícios destinados ao culto. Para supervisionar todas essas tarefas, o governo
português criou uma espécie de departamento religioso do Estado: a Mesa da Consciência e
Ordens.
O controle da Coroa sobre a Igreja foi em parte limitado pelo fato de que a Companhia de
Jesus até a época do marquês de Pombal (1750-1777) teve forte influência na Corte. Na Colônia,
o controle sofreu outras restrições. De um lado, era muito difícil enquadrar as atividades do
clero secular – aquele que existe fora das ordens religiosas –, disperso pelo território; de outro,
as ordens religiosas conseguiram alcançar maior grau de autonomia. A maior autonomia das
ordens dos franciscanos, mercedários, beneditinos, carmelitas e principalmente jesuítas
resultou de várias circunstâncias. Elas obedeciam a regras próprias de cada instituição e tinham
uma política definida com relação a questões vitais da colonização, como a indígena. Além disso,
na medida em que se tornaram proprietárias de grandes extensões de terra e empreendimentos
agrícolas, as ordens religiosas não dependiam da Coroa para sua sobrevivência.
A vida cristã do povo passava por dois caminhos: aquele ligado ao grupo dos
organizadores, ou seja, o do clero propriamente dito, e o outro, junto àqueles que viviam o
cristianismo concretamente, o povo.
O comportamento do clero diante da população deveria refletir uma cultura de salvação
que chegava para subjugar outra, considerada periférica e pagã. O processo de evangelização
no Brasil foi pautado por esta visão maniqueísta de civilização e fé, validada no Concílio de
Trento, admitindo a diferença entre uma elite esclarecida representada pelos pensadores da
Igreja e uma massa ignorante como os plebeus.
No entanto, o povo tinha uma postura diferente dos organizadores, que manipulavam as
cenas da vida: Batismo, Missa, Igreja, Santos, Festas, Santuários, símbolos dos mais diversos. O
Bem Viver neste período era condicionado aos ditames da Igreja, mas o povo dava vida a esta
trama, que obedecia a outro ritmo que não era aquele que o clero pretendia implantar, a
população dava seus significados aos símbolos que a instituição conservava, criando um
cotidiano mais profano. O Tribunal do Santo Ofício teve grande participação na manutenção da
ordem social nas terras portuguesas de além-mar. A Inquisição foi um dos instrumentos usados
pela Coroa portuguesa para manter os colonos nas “rédeas” da Sé romana. De uma certa
maneira, ela ajudou a formar a consciência católica no Brasil, deixando passar a impressão que
todos os católicos seguiam fielmente as deliberações eclesiásticas. O catolicismo é o "cimento"
que une a nação, o "laço" que prende a todos, o lugar da confraternização entre as mais diversas
raças.
Ao medo provocado pelas visitações da Inquisição instauradas em algumas localidades da
Colônia, os brasileiros reagiram, inovando a celebração da "Santa Religião Católica", criando um
catolicismo ostensivo, evidente aos olhos de todos, praticado em lugares públicos, cheio de
invocações ortodoxas a Deus, a Nossa Senhora e aos Santos. A partir daí, nasceu todo o
formalismo do catolicismo brasileiro, que o Santo Ofício relevou muito em alguns casos, devido
a sua forma de praticá-lo, que fugia aos moldes da Igreja europeia.
O primeiro período colonial brasileiro foi marcado por um Episcopado inexpressivo, que
sofreu com a falta de Bispos para ocuparem seus cargos e exercerem suas funções, com uma
imensa extensão territorial, uma realidade complexa e uma cultura local completamente
diferente de tudo, esses clérigos conheciam. Sua influência neste período foi mínima. Além
dessas dificuldades para implementar seu trabalho evangelizador, havia a dependência do
Padroado Régio, que se efetivava através da Mesa da Consciência e Ordens.
O distanciamento do povo pela Igreja oficial favoreceu o surgimento de inúmeras formas
de expressar a religiosidade de alguns grupos, dentro do quadro das fórmulas católicas. Os
cultos africanos sobreviveram à repressão graças aos artifícios dos funcionários coloniais, que
tratando as religiões africanas como folclore, ajudavam a manter as visitações do Santo Ofício
longe. Mas isso não pode ser entendido como o abandono da luta da Coroa portuguesa contra
esse tipo de manifestação religiosa, em tudo divergente dos ditames da religião oficial.
Todos esses condicionamentos, de alguma forma, explicam atitudes do Episcopado no
começo da colonização do Brasil. As vacâncias tornaram-se comuns nas Paróquias, Prelazias,
Bispados e Arcebispados, o que se devia em grande parte ao próprio status de funcionário
público imposto ao clero na colônia, embora isso não tivesse qualquer relação com a
administração do culto, interferia nele, uma vez que estes cargos permaneceram abandonados
por longos períodos. Em outros casos, os padres eram esquecidos pela Coroa, passando muito
tempo sem receber suas côngruas, ou ordenados, que deveriam ser pagos pelas redízimas –
retorno do dízimo cobrado pela Coroa –, que deveriam ser repassadas às paróquias para sua
sobrevivência. As redízimas eram muitas vezes desviadas para fazer em face de outras despesas
da Fazenda régia, o que obrigava os religiosos a usarem expedientes pouco convencionais,
inclusive atuando como comerciantes para garantir o sustento de sua paróquia e o seu próprio.
O catolicismo no Brasil colonial não perdeu a sua originalidade e continuou bem
estabelecido na vida pública graças às irmandades, modelo associativo de fiéis surgido e
difundido no contexto da reforma tridentina, cujos objetivos, tais como: a valorização da
religiosidade laica, a difusão do culto aos santos e os esforços missionários destinados a
assegurar a perenidade da evangelização das populações mais distantes, possibilitaram a
ereção de várias dessas associações no solo colonial.
As Irmandades e Confrarias formadas por leigos no Brasil, além de promoverem o culto a
seus patronos celestes, tinham outras atribuições como prover de assistência os seus
integrantes, intervindo também no âmbito econômico para auxiliar suas famílias a livrarem-se
da miséria, a exemplo daquelas com invocação a Nossa Senhora do Rosário, a mais popular
devoção.
2. A SOCIEDADE COLONIAL
A sociedade colonial dos séculos XVI e XVII típica da região pernambucana era composta,
basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os
senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos
para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho.
O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem
direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos
interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar,
artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção
e auxílio). Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos,
funcionários e comerciantes.
Os escravos eram trazidos da África através de navios negreiros, chegando em péssimas
condições, doentes ou resultando na morte de alguns. As condições climáticas favoreceram o
cultivo de cana e as regiões em que essa cultura se desenvolveu proporcionaram praticidade
para o transporte desses seres humanos.
Nesse sistema também havia trabalhadores livres que tinham salários. Eles eram
especialistas na produção do açúcar. Outro assalariado era o feitor-mor que era um empregado
de confiança do senhor de engenho e cumpria a função de delegar tarefas aos outros
trabalhadores e administrar a produção do açúcar.
Os donos das pequenas terras também podiam plantar cana e vender para os grandes
proprietários de engenho. Acabavam sempre ficando dependentes de quem possuía grandes
posses uma vez que não tinham o mecanismo para produzir o açúcar em si, nem a mão de obra.
Alguns senhores eram apenas proprietários de escravos e também vendiam aos grandes
senhores, ou os deixavam plantar em sua propriedade e como forma de pagamento ficava com
uma porcentagem dos lucros.
A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos
do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos,
agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família,
recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de
status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os
limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida
colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na
sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da
época.
A partir do século XVII a economia açucareira entra em declínio devido à expulsão dos
holandeses no Norte do Brasil e à tomada de posse novamente do lugar que os portugueses
ocuparam. Os holandeses começaram a plantar e comercializar cana de açúcar em suas colônias
nas Antilhas, fato que contribuiu para uma forte concorrência com os europeus deixando a
preferência do açúcar brasileiro de lado. Embora a produção não tenha parado, ela diminuiu
bastante, e os colonos começaram a se voltar a outras culturas e posteriormente para o ouro.
Isso ocorreu dentro do contexto da União Ibérica.
SUMÁRIO
PERNAMBUCO: CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA............................................................................................. 2
1. CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA........................................................................................................... 2
não procedem de se obrar mal, senão de ser muito o que dele – das Barbadas e da Índia – vai à
Europa. A Inglaterra, por exemplo, que antes se abastecia em Portugal passou a receber
regularmente das Barbadas quarenta navios com quatro milhões de arrobas de açúcar. Ao
mesmo tempo, outra questão também é pertinente no entendimento da dita crise. Por conta da
debilidade do sistema de frotas, demorava-se a embarcar o açúcar para o Reino, transcorrendo
por vezes dois anos entre a fabricação e o comércio do produto na Europa. De tal forma que o
produto chegava já “velho” para o comércio, perdendo muito de sua qualidade, já que se o mais
fino e seco, com bom sol, tem quebrado muita parte da bondade, que será em dois anos.
Tais problemas parecem manter relações com outras questões. Na verdade, a maior parte
do problema esteve ligado às eventuais mudanças na dinâmica do mercado atlântico na
segunda metade do século XVII. O açúcar de Pernambuco e Bahia, por ser de melhor qualidade,
continuou mantendo seus consumidores na Europa mesmo com a concorrência antilhana. O
que ocorreu, foi uma baixa geral nos preços, afetando inclusive a produção nas Antilhas. A
produção continuava razoavelmente próspera, os tempos é que eram outros, agora não tão
favoráveis ao comércio do açúcar. Assim, a crise da economia açucareira não pode ser
condicionada, em si, à concorrência dos novos produtos antilhanos. A própria natureza da
plantation e da comercialização do açúcar, a partir de 1640, tendia à ampliação da produção,
que, se não ocorresse nas Antilhas, ocorreria no Brasil.
Some–se a isso uma epidemia de varíola que atingiu em cheio a produção de açúcar, já
que as principais vítimas da doença foram os escravos negros das lavouras e dos engenhos,
deixando a produção seriamente prejudicada. Pela grande mortandade de escravos, alguns
engenhos chegaram a parar de moer, interrompendo a produção Por essas e outras os preços
do açúcar despencaram: em Lisboa, o açúcar custava 3.500 réis a arroba em 1650, enquanto em
1668 caiu para 2.400 réis e em 1688 despencou para 1.300 réis. Já em Amsterdã custava 0,67
florins a arroba do açúcar branco em 1650, descendo para 0,28 florins em 1672.
Se há uma crise do açúcar no século XVII, ela se inicia por volta de 1666 e se estende à
década de noventa deste mesmo século. Em Amsterdã, entre 1666 e 1690, os preços estavam
em baixa, em torno de 1690 tais preços apresentam uma sensível melhora, situação que se
estenderia até meados da segunda década do século XVIII, quando teria tido início outra
depressão que se entenderia por cerca de meio século. Apesar de alguns picos de alta, entre os
anos de 1660 e 1680 o valor do contrato apresenta os valores mais baixos de toda a segunda
metade do século XVII. Já entre 1680 e 1702, descontando algumas poucas baixas, os valores
são em geral altos, alcançando entre 1701 e 1702 o maior pico no valor da arrematação.
Independentemente dos anos em que houve melhoras ou baixas na economia açucareira
do período, o que sabemos é que o contexto geral de dificuldades econômicas trouxe consigo
um dos mais sérios problemas para o funcionamento dos engenhos: o endividamento dos
produtores, ou seja, senhores de engenho e lavradores de canas. Neste período, o
endividamento chegou a níveis alarmantes. Sem meio circulante disponível, os produtores
apelavam aos financiamentos de entressafra para conseguir comprar os produtos vindos do
Reino. Isso significava que a safra era vendida antecipadamente por um preço bem abaixo do
usual. Ou, para atividades de manutenção do engenho e reposição de mão de obra, faziam
vultosos empréstimos dando também como garantia as safras vindouras. Nesse esquema de
constantes endividamentos, muitos se viam ameaçados de perder seus bens e seus próprios
engenhos. Segundo um observador da época, “a necessidade sujeita os compradores e por isso
são todos empenhados quanto a Vossa Excelência consta e se vê nas contínuas execuções com
que são compostos e destruídos.” Assim, “todas essas coisas têm os homens do Brasil para se
acharem sempre empenhados e deverem mais do que possuem.”
Através principalmente da Câmara de Olinda, senhores e lavradores recorriam
diretamente à Coroa para impedir que seus bens fossem sequestrados para saldar as dívidas.
Alegavam uma série de dificuldades financeiras na capitania, pedindo que não fossem
executados nas suas fazendas, propriedades e fábricas, mas sim nos seus rendimentos. A Coroa,
neste caso particular, dava certa proteção aos senhores de engenho. Em alvará de 1663,
proibiu-se a arrematação de engenhos para cobrança de dívidas. A mesma proibição foi imposta
por provisão de 1676 por tempo de 6 anos. Em 1683, a Coroa, “sensibilizada” pelos apelos dos
produtores de Olinda, mais uma vez concede a mesma provisão por 6 anos. As provisões da
Coroa impedindo o sequestro de bens e propriedades dos produtores foram prorrogadas
repetidas vezes ao longo do século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII.
Após um curto período de recuperação conjuntural entre 1690 e 1710, sucedem-se vários
anos de dificuldades e problemas. Em torno de 1710, os engenhos da capitania exportavam
cerca de 12.300 caixas de açúcar, que eram exportadas ao preço médio de 960 a 1120 réis a
arroba. Ao longo do século a tendência foi de permanência das dificuldades, exportando-se em
1750 apenas 5.500 caixas do produto. Por estes mesmos anos, os engenhos produziam, um total
de 240.000 arrobas, bem abaixo de 1710, quando se produziam 403.500 arrobas. A situação
viria a melhorar em 1761, quando sob a atuação da Companhia de Comércio de Pernambuco e
Paraíba, o açúcar conseguiu uma melhor colocação no mercado europeu, o que estimulou a
produção e a exportação, que chegou em torno de 7.200 caixas. Na mesma época, a capitania
possuía (juntamente com Paraíba e Rio Grande) 309 engenhos que produziam 8.209 caixas ao
ano.
O abastecimento de escravos para os engenhos e lavouras passava por problemas, já que
a constante procura por escravos em Minas Gerais fez com que esta região fosse o mercado
preferido na venda de escravos, pois aí se alcançavam melhores preços. Em 1719, a Câmara de
Olinda reclamava do lastimoso estado a que se tem reduzidas aquelas capitanias por falta de
escravos de Angola e Costa (da Mina). Isso ocorria, segundo a câmara, porque muitos escravos
que desembarcavam em Pernambuco eram remetidos para as Minas, pois sempre naquela
praça estão de quantidade de pessoas que vivem de os comprar para elas e os pagavam por
preços tão exorbitantes que nenhum morador os podia chegar a igualar.
Situação também percebida e relatada pela Câmara do Recife, que comentava sobre o alto
preço dos escravos: “havendo-os tido em outro tempo por quarenta até cinquenta mil réis, hoje
os tem por cento e setenta e cento e oitenta mil réis.” Por conta disso, pedia à Câmara de Olinda
que ordenasse que os escravos que viessem de Angola e da Costa da Mina não pudessem ser
remetidos para o Rio de Janeiro, nem por mar nem por terra.
Os problemas decorrentes do sistema de frotas, relatado por um observador em fins do
século XVII, como vimos mais acima, parecem ter persistido nas primeiras décadas do século
XVIII, trazendo complicações para os negócios do açúcar na capitania. Sebastião de Castro e
Caldas, governador de Pernambuco, em 1708, dizia ao rei D. João V que a frota de Pernambuco
deveria entrar e sair do porto no verão sem dependência das outras frotas, pois de outra
maneira ficariam a praça e os moradores em total ruína. Certamente tal proposição do
governador está ligada à necessidade de dar uma saída mais rápida ao açúcar, evitando que o
produto ficasse armazenado durante muito tempo nos armazéns prejudicando a qualidade do
produto. Percebe-se, assim, que o próprio sistema de frotas, idealizado pela Coroa portuguesa
para dar mais segurança e controle aos navios carregados de açúcar no Atlântico, era mais um
fator que trazia consequências negativas para o bom andamento do funcionamento dos
engenhos.
A julgar pelos clamores dos produtores, os engenhos viviam tempos de grandes
dificuldades. Entre 1711 e 1725, os senhores de engenho e lavradores de canas através da
Câmara de Olinda fizeram nada menos que 10 pedidos de provisão à Coroa para que seus bens
não fossem executados pelas dívidas. Os produtores através da câmara se queixavam
continuamente do “miserável estado da terra por falta de cabedal“ ou das “calamidades do
tempo“, o que trazia consigo as execuções de bens, nas quais senhores e lavradores perdiam
bois e escravos, impossibilitando-os de produzir canas e açúcares. O tom dos seus clamores dá
uma medida do “desespero” dos produtores: “tornamos a pedir a Vossa Majestade que ponha
os olhos de sua real clemência e piedade nestes seus humildes vassalos, porque a sua extrema
necessidade os faz dignos da real compaixão de Vossa Majestade.” O “pesadelo” com as dívidas
só teve um alívio maior em 1725 quando a Coroa, depois de passar várias provisões
temporárias, deu uma resolução definitiva à questão, declarando que se deveria passar
provisão sem limitação de tempo para que os senhores de engenho e lavradores de canas de
Pernambuco não fossem executados nos seus bens.
Da segunda década do século XVIII até pelo menos a sexta década deste século, seguiu-se
uma segunda depressão, terrível por sua intensidade e extensa em sua duração. Assim como os
depoimentos do Marquês de Angeja, Vice-rei do Brasil, que também se mostram em
consonância com o que relatavam os produtores. No entanto, também podemos analisar uma
cronologia diferente para uma crise do açúcar na primeira metade do século XVIII. Entre 1700
e 1730 teria havido uma fase de prosperidade nos negócios do açúcar em Pernambuco, atestada
pelos bons valores alcançados no contrato do imposto dos dízimos, que incidia diretamente
sobre a produção açucareira. Prosperidade essa apenas brevemente interrompida por
conturbações políticas como a Guerra dos Mascates, ou por breves períodos de seca, mas que
não afetariam estruturalmente os bons ventos produtivos do açúcar. É na década de 30 que os
índices de produção de açúcar atestam sensíveis baixas, portanto apenas a partir daí
poderíamos falar em depressão na economia açucareira em Pernambuco.
No entanto, é necessário considerar que, durante esses 30 anos de suposta prosperidade,
houve momentos de evidentes dificuldades para o açúcar, a exemplo dos anos entre 1724 e
1726. Em 1724, se dizia que havia dois anos que não se arrematavam os dízimos por não haver
quem o quisesse arrematar, cobrando-se o tributo pela Fazenda Real. No ano seguinte o mesmo
contrato também não foi arrematado, segundo o provedor João do Rego Barros, devido à
“esterilidade”, cobrando-se mais uma vez pela Fazenda Real. Em 1726, o contrato foi finalmente
arrematado, mas, para isso, teve que ficar em praça mais do que o tempo normal, pois não
apareciam lançadores.
Em 1707, os dízimos reais alcançaram o pico em torno de 32 contos de réis, enquanto em
1742 chegavam a sua maior baixa com o valor por volta de 11 contos. Se fizéssemos uma média
para o período entre 1707 e 1759, os dízimos andariam em torno do valor de 20 contos de réis.
Percebe-se, assim, a partir do autor, que, da década de 30 até 1750, os índices que indicam a
produção de açúcar estavam em níveis bastante baixos, indicando um período de dificuldades
econômicas.
Assim, a economia açucareira caracterizou-se em Pernambuco, com seus altos e baixos,
mas marcando em definitivo e contribuindo enormemente para/com o desenvolvimento da
história deste estado maravilhoso!
SUMÁRIO
CONFLITOS EM PERNAMBUCO NO PERÍODO COLONIAL: INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA E GUERRA DOS
MASCATES ......................................................................................................................................................... 2
1. INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645-1654)....................................................................................... 3
2. A GUERRA DOS MASCATES (1710-1711) ............................................................................................... 8
➢ O terceiro período de guerra, entre 1645 e 1654, se define pela reconquista. O fim
da dominação espanhola em Portugal, com a ascensão de d. João IV ao trono
português, não pôs fim à guerra. O quadro das relações entre Portugal e Holanda
havia se modificado. O principal centro da revolta contra a presença holandesa
localizou-se em Pernambuco, onde se destacaram as figuras de André Vidal de
Negreiros e João Fernandes Vieira. A eles se juntaram o negro Henrique Dias e o
índio Filipe Camarão. Depois de alguns êxitos iniciais dos luso-brasileiros, a guerra
entrou em um impasse, prolongando-se por vários anos. Enquanto os revoltosos
dominaram o interior, Recife permanecia em mãos holandesas. O impasse foi
quebrado na Batalha dos Guararapes, dentro da Insurreição Pernambucana (ou
Guerra da Luz Divina).
Com Vidal de Negreiros desembarcara o padre Inácio, da Ordem de São Bento, trazendo
aos conspiradores a promessa de auxílio à insurreição, da parte de D. João IV.
Vidal era portador de uma mensagem real ao Conselho Holandês do Recife, em que, para
desviar suspeitas, o Rei dizia ter sido informado por Frei Estêvão de Jesus de que os católicos
eram muito bem tratados no Brasil, o que o enchia de satisfação. Frei Estêvão, na verdade, havia
sido mandado junto ao Rei para anunciar-lhe o propósito de insurreição e pedir-lhe apoio
(obtida resposta positiva, embarcou, mas morreu em viagem, sendo substituído por Frei
Inácio).
Ao retornar à Bahia, Vidal de Negreiros prestou contas de sua missão ao Governador e
Capitão General do Estado do Brasil, Antônio Teles da Silva, que lhe ordenou procurasse um
chefe competente, discreto e conhecedor de Pernambuco para ali ser enviado com a
incumbência de organizar e treinar secretamente os insurretos, em ligação com João Fernandes
Vieira, líder civil de pouca experiência militar. O indicado foi o Capitão Antônio Dias Cardoso,
que atuaria dentro do quadro de uma missão hoje reservada a forças especiais.
Dias Cardoso era bravo e experimentado militar, veterano das lutas do período 1624-
1641. Possuía excepcional folha de serviços, aliada à reputação de mestre na arte de guerra de
emboscadas. Profundo conhecedor da região, era estimado e respeitado por Vidal de Negreiros,
Camarão e Henrique Dias e pelo próprio Fernandes Vieira.
Para ajudar na missão de Dias Cardoso, Vidal de Negreiros forneceu-lhe uma carta em que
dizia ir ele fugido para Pernambuco por ter desrespeitado ordem de seu General. Assim, se
caísse prisioneiro do invasor, sua vida poderia ser poupada.
Dias Cardoso partiu através de 100 léguas de sertão em terreno difícil, passando muitas
dificuldades e perigos de vida ao cruzar territórios hostis, dominados por quilombos ou por
índios rebeldes, e ao atravessar a nado rios caudalosos para não ser pressentido pelos
holandeses ou moradores. Chegando a Pernambuco transmitiu a João Fernandes Vieira as
ordens que recebera de Vidal e do Governador-Geral e as informações sobre o dispositivo
inimigo ao longo do itinerário percorrido. Deu cumprimento às ordens que possuía, com fervor
necessário a tão importante missão, começou a atrair e adestrar militarmente o povo para a
insurreição em diversos lugares, despendendo com isto sete meses, todos passados nas matas
ao rigor do tempo, para fugir ao inimigo que se pôs a buscá-lo, colocando em grande perigo sua
vida.
A 3 de agosto de 1645 travou-se no Monte das Tabocas o primeiro encontro entre um
contingente do Exército holandês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais ao comando do
Coronel Hendrick van Hans e o exército dos patriotas, constituído principalmente de civis
pernambucanos. Ao perceber a aproximação do adversário, Dias Cardoso despachou em sua
direção pequena força de cobertura, ao comando do Capitão João Nunes da Mata, com a
finalidade de atraí-lo para o Monte.
O inimigo bateu e dispersou esta força, prosseguindo até a margem do rio Tapacurá,
quando carregou com enorme alarido e estrondo sobre a vegetação da margem, ao imaginar
que ali existissem emboscadas. A vanguarda atravessou o rio e Dias Cardoso foi ao seu encontro,
a fim de jogá-la nas emboscadas que preparara Capitão Domingos Fagundes, no comando de 40
homens.
Após oferecer alguma resistência, esta fração foi obrigada a retrair, através de uma única
passagem no áspero e impenetrável tabocal que corria na base da elevação, envolvendo-a pelo
oeste e sul. O inimigo atravessou o rio e entrou em formação de combate, numa larga campina
entre a margem e o tabocal. A seguir, com um flanco apoiado em cada lado, progrediu em
direção à passagem do tabocal, de onde saíra novamente Fagundes em seu encontro.
Os holandeses tinham caído na armadilha de Dias Cardoso, constituída de três
emboscadas. A primeira, sob a direção do Capitão João Gomes de Melo, num total de 25 tiros,
foi disparada à queima-roupa, sobre a retaguarda adversária, causando-lhe muitas baixas. Com
o prosseguimento da força, foi disparada a segunda emboscada, de igual valor, ao comando do
era esconder a importância ou o valor dos seus efetivos para conseguir uma surpresa sobre o
inimigo; segundo, atrair os holandeses para a luta em terreno estreito, entre os montes e os
brejos, onde perdessem a vantagem da superioridade numérica e de armas de fogo. Com o seu
modo de combater, em pequenos grupos separados, e de preferência com arma branca,
avançando e recuando, armando ciladas, o exército luso-brasileiro foi senhor de todas as ações
no dia 19. Aproveitando a surpresa obtida tanto pelos seus efetivos – avaliados em 3 mil
homens por Von Schkoppe – como pelo terreno alagadiço e inseguro, não foi difícil a Barreto de
Menezes, Dias Cardoso, Vieira, Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Camarão investirem
confiantes sobre os adversários com o propósito de lançá-los e destruí-los de encontro aos
brejos.
No que respeita à direção da luta, os documentos oficiais estabelecem a prioridade de
Barreto de Menezes. Ele acompanhou com atenção todas as ações que se desenvolviam tanto
na baixada como nos montes e, por três vezes, pelo menos, interveio oportuna e sabiamente;
primeiro, quando empregou sua reserva inicial para reforçar e apoiar Henrique Dias, o que não
deu resultado por motivo alheio à vontade; segundo, ao reunir elementos dispersos e retirantes
da frente de luta para organizar com eles nova reserva a fim de atender às circunstâncias;
terceiro, para decidir o curso da batalha lançou essa última tropa contra os regimentos
flamengos, já em plena desordem e confusão, no terreno alagadiço, onde foram massacrados. O
caminho estaria aberto para a vitória das forças luso-brasileiras em relação à expulsão
definitiva dos holandeses.
Com a Segunda Batalha dos Guararapes (1649), a vitória veio por completo e os
holandeses se retiraram do Brasil.
homens emboscados que dispararam cerca de cinco ou seis tiros, que não atingiram seus órgãos
vitais. Soldados saíram na busca, mas não alcançaram os responsáveis.
Não houve respostas oficiais quanto ao autor intelectual do atentado, mas a hipótese
levantada foi a de que Leonardo Bezerra, que se encontrava preso, mas não conseguia ser solto
pelos meios ordinários da justiça, mandou que atentassem contra o governador. O ato não foi
apenas uma atitude desesperada do coronel, mas também uma tentativa frustrada de afastar o
governador do poder. Ciente dos riscos, Castro e Caldas se encaminhou para a Bahia, deixando
o poder nas mãos do bispo Manuel Álvares da Costa.
Esses episódios ocorreram em 1710. O contra-ataque dos mascates aconteceria no ano
seguinte, em 1711, com a invasão da cidade de Olinda e destruição de algumas Vilas, plantações
e engenhos da região. Diante desses conflitos, a Coroa começou a temer por uma
desestabilização de seu poder e enviou um novo responsável para a ocupação do cargo de
governador: Félix José de Mendonça, considerado de atitudes mais equilibradas e capaz de
superar o impasse entre mascates e nobreza. Também foram mandados o ouvidor geral, Dr.
João Marques Bacalhau, e o juiz de fora, Dr. Paulo de Carvalho, além de tropas para contenção
da revolta.
Naquele momento, antes mesmo de encontrar os responsáveis pelas sublevações, era
necessário resolver os conflitos. Dois dos principais objetivos dos recém enviados eram exigir
dos recifenses a entrega de uma das fortalezas e, dos olindenses, a cessação do cerco à Recife.
Buscava-se repor as coisas da maneira em que se encontravam antes do levante da nobreza e
também da fuga de Castro e Caldas. O governador e sua comitiva não conseguiram contornar as
exigências, visto que os olindenses reivindicavam que o governo ficasse sob responsabilidade
do prelado, enquanto os mascates apoiavam a entrega da cidade ao governador Félix Mendonça.
Recife permaneceu sitiada por meses e o clima de tensão era pesado. Com a prisão dos
líderes e a consolidação da autonomia de Recife em relação à Olinda o conflito acabou. Em 1712,
Recife foi elevada à sede-administrativa de Pernambuco, sua Câmara e Pelouro foram
reconstruídos e os sediciosos da nobreza de Olinda receberam perdão concedido pelo bispo. No
ano de 1714, D. João V concedeu anistia a todos os envolvidos na sublevação. Além disso,
concedeu ainda aos senhores de engenho de Olinda o privilégio da manutenção de suas
plantações e perdão de suas dívidas, em troca de paz.
Fica evidenciado que o conflito marcou nitidamente a conquista política da mascataria em
contraponto aos nobres da terra. O Governador Félix José Machado ficou no governo até 1715,
passando o cargo a D. Lourenço de Almeida. Feito isso, Pernambuco viveu tempos de relativa
paz, até a conspiração dos Suassunas, que ocorreria em 1801.
SUMÁRIO
PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL .................................................................... 2
1. A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA ...................................................................................................... 2
recrutar alguns antigos revolucionários franceses exilados em território americano para, com
a ajuda deles, libertar Napoleão Bonaparte, prisioneiro dos ingleses na Ilha de Santa Helena, no
Atlântico Sul, desde a derrota na Batalha de Waterloo. Pelo plano de Cabugá, Napoleão seria
retirado da ilha na calada da noite e transportado ao Recife, onde comandaria a revolução
pernambucana para, em seguida, retornar a Paris e reassumir o trono de imperador da França.
Cruz Cabugá é hoje o nome de uma das principais artérias viárias do bairro de Santo
Amaro, no Recife. Por ali todos os dias milhares de motoristas passam apressados, em direção
a Olinda ou ao centro da capital pernambucana, provavelmente sem se darem conta de quem
foi esse personagem. Em 1817, os planos de Cabugá eram mirabolantes, mas estavam
condenados ao fracasso antes ainda de serem colocados em prática. Quando chegou aos EUA,
com dinheiro arrecadado entre senhores, produtores de algodão e comerciantes favoráveis à
república, os revolucionários pernambucanos já estavam sitiados pelas tropas leais à
monarquia portuguesa. A rendição era inevitável. Sem saber de nada disso, Cabugá conseguiu
recrutar quatro veteranos do exército de Napoleão. Eles chegaram ao Brasil muito depois de
terminada a revolução e foram presos antes de desembarcar.
Mesmo derrotado, o movimento pernambucano custou caro aos planos da corte
portuguesa no Brasil. Os revolucionários ficaram no poder menos de três meses, mas
conseguiram abalar a confiança na construção do império americano sonhado por D. João VI.
Também contribuíram para acelerar o processo de independência do Brasil em relação a
Portugal. Embora a crise de 1817 não tenha produzido nenhuma consequência imediata e
visível no Brasil e em Portugal, na realidade ela afetou as fundações do sistema vigente. A
estrutura da autoridade entrou em colapso porque os elementos da sociedade mais
identificados com a Coroa tinham colaborado ativamente com o movimento rebelde. Por essa
razão a Coroa nunca mais estaria segura de que seus súditos eram imunes à contaminação das
ideias responsáveis pela subversão da antiga ordem na Europa.
Esse movimento pode ser considerado como o primeiro movimento genuinamente
republicano do Brasil e também a mais espontânea, a menos desorganizada e a mais simpática
das nossas numerosas revoluções.
No começo do século XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades pernambucanas,
tinham juntas cerca de 40 mil habitantes. Era muita gente, considerando que o Rio de Janeiro,
capital da colônia, tinha 60 mil. O porto do Recife, um dos mais movimentados do Brasil, escoava
a produção de açúcar de centenas de engenhos da Zona da Mata, a faixa úmida do litoral
nordestino que vai da Bahia ao Rio Grande do Norte. O segundo produto mais exportado era o
algodão. Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos ganharam fama
pelas lutas libertárias. A primeira e mais importante tinha sido a expulsão dos holandeses, em
1654. Meio século depois, na Guerra dos Mascates, aventou-se até a possibilidade de proclamar
a independência de Olinda. Pernambuco era a capitania onde mais pronunciadas e enraizadas
eram as antigas rivalidades entre os colonos nascidos no Brasil e os nascidos em Portugal.
A revolução estourou em Pernambuco, mas refletia o descontentamento de todas as
províncias com os aumentos de impostos para financiar as despesas da corte portuguesa no Rio
de Janeiro. Havia um sentimento de insatisfação generalizado no ar, especialmente nas
províncias do Norte e do Nordeste, as mais prejudicadas pela voracidade fiscal de D. João VI.
Pagava-se em Pernambuco um imposto para a iluminação das ruas do Rio de Janeiro, quando
as do Recife ficam em completa escuridão. Os salários dos numerosos funcionários públicos
eram baixos e mal garantiam a sobrevivência das famílias. Consequentemente, o peculato, a
corrupção e outros delitos são frequentes e quase sempre escapam à punição.
O povo do Recife e de suas vizinhanças havia-se embebido de algumas das noções de
governo democrático através de seus antigos dominadores holandeses. Por seus próprios
sacrifícios, sem qualquer auxílio do governo, havia expulsado estes conquistadores e restituído
à Coroa a parte norte de seu mais rico domínio. Estava, portanto, inclinado a ser
particularmente invejoso das províncias do sul, especificamente do Rio, que considerava mais
favorecidas. Estava aborrecido com os pagamentos das taxas e contribuições das quais nunca
se havia beneficiado e que só serviam para enriquecer os favoritos da corte, enquanto
grassavam enormes abusos.
Além do aumento dos impostos, Pernambuco, em particular, passava por um momento
difícil devido a uma conjunção de três fatores que afetaram profundamente sua economia. O
primeiro tinha sido o aumento da produção mundial do açúcar, principal item de sua economia.
Simultaneamente, a crescente pressão dos abolicionistas na Europa, vinha criando restrições
gradativas ao tráfico de escravos, que se tornava mão de obra cada vez mais cara. A escravidão
era nessa época o motor de toda a economia agrária pernambucana. O terceiro fator, que havia
contribuído par agravar muito a situação, foi a seca devastadora que atingiu o sertão nordestino
em 1816.
A crise econômica e o descontentamento com a administração portuguesa fizeram com
que as ideias liberais francesas e americanas encontrassem em Pernambuco um campo fértil.
Um exemplo era o próprio Cruz Cabugá, próspero comerciante, ávido leitor de obras dos
filósofos franceses que tinha se tornado propagandista das teses liberais e republicanas.
Despachado para os EUA logo nos primeiros dias da revolta, voltou praticamente de mãos
vazias. Cabugá chegou a se encontrar com o secretário de Estado, Richard Rush, a quem
solicitou o envio de tropas e armas para a revolução. Tudo que conseguiu foi o compromisso de
que, enquanto durasse a rebelião, os EUA autorizaram a entrada de navios pernambucanos em
águas americanas mesmo contra a vontade de D. João VI. Também aceitariam os asilos ou
abrigos a eventuais refugiados, em caso de fracasso do movimento.
Embora tivesse inaugurado a primeira grande república moderna, os americanos
estavam, nessa época, mais interessados em fazer acordos comerciais com Portugal e a
Inglaterra. Portanto, não queriam se envolver com a causa republicana no Brasil para não
desagradar a Coroa portuguesa e seus aliados ingleses. Esse mesmo comportamento os EUA
teriam sete anos mais tarde, ao recusar ajuda aos revolucionários da Confederação do Equador,
liderada pelo carmelita Frei Caneca.
Os revolucionários ocuparam Recife em 6 de março de 1817. No regimento de artilharia,
situado no bairro de Santo Antônio, um dos líderes da conspiração, o capitão José de Barros
Lima, conhecido como Leão Coroado, reagiu à voz de prisão e matou a golpes de espada o
comandante Barbosa de Castro. Em seguida, na companhia de outros militares rebelados,
tomou o quartel e ergueu trincheiras nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas fiéis à
monarquia. O governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro refugiou-se no Forte do Brum,
junto ao porto. Cercado, acabou se rendendo.
Com a prisão de Caetano Pinto, os revolucionários constituíram um governo provisório,
que se apossou do tesouro da província e proclamou a república. Depois de três semanas, no
dia 29 de março, foi anunciada a convocação de uma assembleia constituinte, formada por
representantes eleitos em todas as comarcas da província. Uma nova lei orgânica estabeleceu a
separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. O catolicismo foi mantido como
religião oficial, mas as demais igrejas cristãs seriam toleradas. Por fim, proclamava a liberdade
de imprensa. A escravidão era mantida, para não ferir os interesses dos senhores de engenho,
adeptos do movimento. Foram abolidos os impostos sobre o comércio. Os militares receberam
aumento nos soldos. Os que tinham participado da rebelião foram beneficiados com
promoções-relâmpago. Domingos Teotônio, um dos chefes da nova junta de governo, promoveu
a si próprio de capitão a coronel.
Desenhou-se a uma nova bandeira, com as cores azul-escura, branca, amarela e vermelha.
Na parte superior foi desenhado um arco-íris com uma estrela em cima e o Sol embaixo,
representando a união de todos os pernambucanos. No interior, uma cruz vermelha
simbolizava a fé na justiça e no entendimento. Embora a revolução tenha fracassado, essa é
ainda hoje a bandeira do Estado de Pernambuco, adotada oficialmente em 1917 pelo
portuguesa viveu no Brasil. Seriam dois anos de celebrações, pompa e exibição de poder como
nunca o Rio de Janeiro havia presenciado.
SUMÁRIO
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR E REVOLUÇÃO PRAIEIRA ............................................................................. 2
1. A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR ..................................................................................................... 2
2. A REVOLUÇÃO PRAIEIRA DE 1848 ..................................................................................................... 3
evitara excessos e mortes. Mas não foram ouvidos. Levado à forca, frei Caneca acabou sendo
fuzilado diante da recusa do carrasco em realizar o enforcamento.
As marcas da revolução de 1824 não se apagariam facilmente. De fato, ela pode ser vista
como parte de uma série de rebeliões e revoltas ocorridas em Pernambuco entre 1817 e 1848,
que fizeram da província um centro irradiador de muitas insatisfações do Nordeste.
SUMÁRIO
O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS PERNAMBUCANAS E COTIDIANO E FORMAS DE
RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO ................................................................................................... 2
1. O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS PERNAMBUCANAS ................................ 2
2. COTIDIANO E FORMAS DE RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO............................................... 4
1637 e 1642 (1.674). No total, de acordo com as estimativas, o Brasil holandês recebeu cerca
de 26.929 escravos entre 1636 e 1651, isto é, uma média de 1.795 cativos por ano.
Porém, a relativa prosperidade que os holandeses gozavam em Pernambuco não durou
muito tempo. Em 1645, a população luso-brasileira que habitava a capitania antes da ocupação
holandesa e de seus arredores reagiram à presença dos invasores expulsando-os de vez do
nordeste brasileiro em 1654. Consequentemente, os números acerca da exportação de açúcar
e da importação de escravos para o Brasil holandês caem simultaneamente.
A restauração de Pernambuco à Coroa portuguesa afetou a organização socioeconômica
da capitania, que dará sinais de instabilidade em fins do século XVII e início do seguinte,
retratada no conflito que ficou conhecido como a “guerra dos mascates”. Com respeito
especificamente ao tráfico de africanos, podemos observar que se durante o século XVI até a
invasão holandesa Pernambuco recebia escravos, ou com navios remetidos de Portugal, ou com
embarcações da própria capitania, durante a era do Brasil holandês, Pernambuco passou a
receber escravos somente com navios originariamente dos Países Baixos. Em outras palavras,
apesar de El Mina e Luanda terem sido capturadas com armadas enviadas de Recife, a direção
da WIC parecia exercer grande controle sobre as atividades econômicas de Pernambuco.
Contudo, a base do tráfico de escravos para a capitania mudou novamente após 1654,
quando os batavos foram expulsos. A partir de então, a capitania não demorou em organizar o
comércio e exercer definitivamente o papel de base do tráfico de africanos. No entanto, com
relação ao período anterior à ocupação batava, dessa vez há uma diferença na organização do
tráfico. Após os holandeses terem deixado Pernambuco, os senhores de engenho e lavradores
de cana-de-açúcar não retomaram as atividades comerciais da capitania. Ao invés, dedicaram-
se exclusivamente à produção açucareira, deixando as atividades comerciais a cargo de
imigrantes recém-chegados de Portugal.
Da escassa documentação que se tem conhecimento, o que se tem visão acerca da situação
no século XIX, é de que, por conta da significativa recuperação da lavoura açucareira no período,
estima-se que até 1850, quando ainda era permitido o comércio transatlântico de escravizados,
houve um também significativo aumento no número, acredita-se que devido às necessidades
decorrentes da produção açucareira.
colonização. A lista de profissões encontradas no senso nas cidades rurais era composta por:
artistas, as vezes denominado unicamente assim, as vezes considerados como artesões de
madeira, metais, edificações, vestuários, calçados, chapeleiros, marítimos, tecidos, jornaleiros,
criados, serviço doméstico, lavradores, pescadores e sem profissão. Em sua maioria lavradores,
sem profissão, domésticos e criados, constantes em todas as vilas e cidades.
De acordo com o mesmo recenseamento, comparando as províncias, coloca-se que só 105
homens escravos e 52 mulheres escravas, em toda a província de Pernambuco, sabiam ler e
escrever. Um número alto se compararmos ao Rio Grande do Norte, que no total registrou-se 4
homens e 3 mulheres, porém altíssimo quando a capital do império, Rio de Janeiro, só possuía
79 homens e 28 mulheres registradas como capaz de ler e escrever.
Em cidades como Nazareth da Mata, localizada na Zona da Mata Norte, caracterizada
tipicamente com a roupagem da zona açucareira, manteve-se com o número mais alto de
matrículas de escravos durante os levantamentos de 1872, 1875, 1876 e 1878, possuía o maior
número de escravos na zona rural, enquadrados como lavradores (1927), só perdendo em
número de escravos gerais, neste ano específico para o Cabo (3533) e Escada (4050), dois
outros centros de produção da zona da mata sul.
De fato, na região da zona da mata pernambucana se concentrava a maioria dos escravos
da província, porém não exclusivamente na produção da cana. O município do Cabo, por
exemplo, possuía um número significativo de escravos trabalhando em outras áreas
profissionais como: calçados e chapéus (132), jornaleiros e criados (1532), empregados
domésticos (zona rural – 1632) e lavradores (560). E por fim, o mais curioso, o registro de (833)
escravos enquadrados como “sem profissão”.
A princípio observamos que o trabalho escravo no Cabo era utilizado em manufatura de
calçados e chapéus, que deveriam ser até quiçá vendidos na capital da província, e que seu perfil
agrícola só fica possível na vaga conotação que o termo “sem profissão” trás, em número tão
elevado como 833 escravos.
Na capital da província de Pernambuco, Recife, antes mesmo de 1830 a maioria dos
trabalhadores alforriados eram mulheres negras e mulatas. Mulheres essas que se
apropriavam, ou não, das vantagens que tinham, perante os escravos homens, obtinham mais
cedo a alforria. Sua vantagem consistia na proximidade dos senhores, e de agrados que
poderiam dar e receber. Eram elas, amas de leite, cozinheiras, engomadeiras, faxineiras. E
estavam onipresentes na sociedade escravista. Difícil dizer o que o luxo da escravidão não
poderia oferecer aos senhores de conforto e serviços. De pentear o cabelo, a limpar a calçada
da casa. Sabe-se que mesmo sendo submetidas a humilhações, assédios e estupros por seus
senhores e ódio de suas patroas, era melhor que trabalhar nas ruas, local que era sinônimo de
insegurança, morte, prostituição e fome.
De perto as luzes das cidades nada mais eram do que fogo, e fogo é sinônimo de perigo. A
cidade do século XIX era barulhenta, suja, confusa e bastante perigosa. Ninguém poderia ser
negro – preto ou pardo – livre ou liberto, em segurança, numa sociedade em que escravizar ao
arrepio das leis vigentes se fizera direito senhorial costumeiro. Todavia com a diversidade de
situações jurídicas nelas existentes, e as ligações sociais que nelas eram possíveis fazer -
diferente dos Engenhos - uma sociedade sobrevivente paralela ia se formando. E o caminho
para começar a participar dela começava por se tornar um escravo de profissão. Isto é, um
escravo de ganho, que rendendo o bastante, poderia até tentar negociar sua alforria e de seus
familiares. Em verdade tudo era mais possível na cidade.
Outra profissão importante dentro da zona urbana pernambucana eram os canoeiros
responsáveis pelo movimento do transporte fluvial nos rios que cruzam a cidade. Eles exerciam
um emaranhado de funções sociais: passagem de informações, contatos entre os Engenhos,
transporte de água limpa para consumo, e de pessoas.
Já em relação às formas de resistência à escravidão, por mais que alguns procedimentos
fossem considerados minúsculos, movimentos estes tecidos entre os escravizados, individual
ou coletivamente, os escravos processaram uma teia de artimanhas que, devido a seu pendor
natural para ludibriar aquele que o subjuga, moldavam suas vidas aos limites impostos pela
opressão do cativeiro.
A resistência contra a escravidão foi cotidiana. Havia diversas maneiras de lutar por uma
vida menos dura. Fugas, ataques e rebeliões são bastante lembradas. Além dessas, existiam
outras práticas que nem sempre foram percebidas como formas de resistência. Para amenizar
o sofrimento do cativeiro, por exemplo, era comum o fingimento de doenças e a quebra de
instrumentos de trabalho.
Além disso, muitos cativos “matavam o trabalho”, ou seja, demoravam a cumprir seus
afazeres. Era uma maneira de diminuir a intensidade da labuta e causar certo prejuízo aos
senhores. Esses, porém, viam a “enrolação” dos negros como mera preguiça. Podem ser citados
ainda abortos e suicídios. Esses atos violentos que os cativos cometiam contra si indiretamente
afetavam os senhores, já que os escravos eram vistos como propriedades.
Uma forma bastante conhecida de resistência foi a formação de quilombos. A palavra
“quilombo” significa acampamento na maioria das línguas bantas da África Central e Centro-
Ocidental. No Brasil, os quilombos tornaram-se locais de habitação e subsistência de escravos
foragidos.
Pernambuco foi palco de inúmeros movimentos políticos revolucionários onde
aconteceram muitas rebeliões que tinham como um de seus principais objetivos a reivindicação
da liberdade. Considerado o quilombo pernambucano mais importante do século passado, o
quilombo do Catucá resultou da luta dos escravos pela liberdade durante o caos político vivido
em Pernambuco de 1817 até o final da década de 1830.
Os quilombolas que moravam perto do Recife elaboraram inúmeras estratégias de
sobrevivência contando com a colaboração tanto da população negra livre quanto dos escravos
de engenhos próximos. Eles se tratavam reciprocamente por “malungos”, nome usado pelos
negros que saiam da África no mesmo navio, que significa camarada, companheiro.
Além destas, percebe-se ainda que a resistência à escravidão envolve também aspectos
da cultura africana. Nas Irmandades, por meio do sincretismo religioso, já que a religião original
era combatida pelos portugueses. Outra manifestação cultural de resistência era a capoeira, luta
que envolve movimentos de braços e pernas, embalados por um ritmo musical entoado por
atabaques e berimbaus, chocalhos e pandeiros, mas mais que uma simples dança (como é
considerada para alguns), é uma arte marcial.
As festas tinham um importante papel na construção da liberdade, por proporcionar a
sociabilização e o divertimento, no dia a dia inexistente. Também traziam à tona, brigas entre
grupos rivais, que antecediam sua vinda da África. Todavia esquecido, pela consciência de
fazerem parte do mesmo grupo social, se recorriam nestas horas para criação de estratégias.
Criando um mundo paralelo na escravidão aonde o negro, era livre para decidir um destino
melhor. Afinal a alforria não era a real resposta que traria a liberdade para um escravo, era
quase que inconsciente na maioria deles, a liberdade só aconteceria se fosse para todos.
SUMÁRIO
A PARTICIPAÇÃO DOS POLÍTICOS PERNAMBUCANOS NO PROCESSO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA ........ 2
sociedade brasileira, defendendo, assim, que o trabalho servil fosse suprimido antes de
qualquer mudança no âmbito político. A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser
feita de maneira abrupta, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios
que tal resultaria à sociedade brasileira.
Também não creditava a movimentos civis externos ao parlamento o papel de conduzir a
abolição. Essa só poderia se dar no parlamento, no seu entender. Fora desse âmbito cabia
somente assentar valores humanitários que fundamentariam a abolição quando instaurada.
Criticou também a postura da Igreja Católica em relação ao abolicionismo, chamando-a de “a
mais vergonhosa possível”, pois ninguém jamais a viu tomar partido dos escravos. Para ele, “a
Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por
ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação”. Após a derrubada da monarquia
brasileira, Nabuco retirou-se da vida pública por algum tempo.
Outra personalidade envolvida no processo emancipatório dos escravos, foi o
abolicionista Tobias Barreto, que apesar de não ser pernambucano, estudou Direito na
Faculdade do Recife e se transformou no principal teórico brasileiro à testa do movimento
renovador das ideias da denominada Escola de Recife, que ainda hoje repercute no Brasil e em
algumas partes do mundo civilizado. Tobias Barreto de Menezes chegou ao Recife em 1862.
Formado em Direito vai advogar na Comarca de Vitória, fixando-se no termo de Escada, por
motivos de família.
O movimento em defesa da liberdade dos negros escravos pode ser dividido em três fases
distintas, cada uma com sua importância. A primeira delas, eminentemente literária, constou
de um engajamento intelectual principalmente no Nordeste brasileiro, com ênfase para
Pernambuco, tendo como maior expoente o poeta baiano Castro Alves. Seus poemas
arrebatados de humanidade, ecoavam como disparos destinados a sacudir a consciência
escravocrata dominante. Nos saraus, nas récitas, nas páginas soltas dos bandos e nos livros, as
vozes poéticas dos primeiros abolicionistas abriam caminho para uma luta mais ampla em
defesa da liberdade.
A partir de 1879, Joaquim Nabuco detonou uma movimentação enorme de imediata
repercussão social, em defesa da liberdade dos cativos. A imprensa passava a ter, muito mais
que antes, o papel de tribuna permanente da discussão em torno da questão servil e da abolição
da escravatura. Muitos vultos surgiram no cenário do combate, dentre eles André Rebouças,
que aprofundava o estudo da abolição para desdobrá-la num projeto de longo alcance, segundo
o modelo francês das fazendas centrais. Ao mesmo tempo em que tomava dimensão nacional a
luta, eram criadas as Sociedades abolicionistas, eram fundados os jornais que nas Províncias
sustentavam o fogo, em defesa da liberdade dos negros. Era a vibração da segunda e mais
ruidosa fase do movimento abolicionista.
A terceira fase, voltada para a libertação dos escravos e para a organização da sociedade
pela via econômica do trabalho livre, tem em Tobias Barreto a sua maior liderança. É nesta fase,
como se verá adiante, que a campanha abolicionista dilata seu alcance para uma ampla crítica
social, através da atuação, algumas vezes até panfletária, de Tobias Barreto, na tentativa de
levar o povo à consciência da cidadania.
Tobias Barreto em sua última fase criadora, como professor da Faculdade de Direito e
como líder de um movimento fecundo, de grande repercussão nacional, conhecido sob a
denominação de Escola do Recife. Pernambuco estabelecia, no nordeste, o compromisso
engajado da sua Faculdade de Direito, em contraponto ao descompromisso da Faculdade de
Direito de São Paulo, onde uma geração de poetas abstraía a realidade de uma sociedade em
formação para intimizar seus sentimento e suas perplexidades. Mais uma vez Pernambuco
evoca para si os vínculos com a nacionalidade, com as causas sociais, com o futuro, desta feira
tendo à frente a figura ativa de Tobias Barreto.
Como muitos poetas do seu tempo, Tobias Barreto também engajou a sua poesia na defesa
da liberdade dos negros. E o fez de três formas: exaltando a morena, mestiça brasileira,
SUMÁRIO
PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES .......................................................... 2
1. VOTO DE CABRESTO E POLÍTICA DOS GOVERNADORES..................................................................... 2
2. PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES ............................................... 3
Aliado fiel de Vargas, Agamenon Magalhães entrou em choque com o interventor Lima
Cavalcanti, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para
a sucessão presidencial de 1938. Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do
Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco,
substituindo seu antigo aliado e opositor. A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu
ainda com os anos da presença militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em
torno da Segunda Guerra. Esse período foi marcado por transformações não apenas no cenário
político, mas também no plano cultural.
A partir de sua nomeação para o cargo de interventor no estado de Pernambuco, ele
buscou em suas escolhas para os cargos de poder em todo o estado sujeitos com perfil
claramente alinhado ao seu, devendo todos, subserviência aos seus comandos em nome de um
alinhamento e obediência ao chefe da nação, Getúlio Vargas.
O estímulo à construção de prédios altos com elevadores e ao consumo de produtos
elétricos durante o governo de Novaes Filho encontrou apoio dadas a expansão do envio de luz
elétrica. Água e esgoto eram tidos como necessidades, mas os enlevos e as aspirações dos
urbanistas convergiam para a energia elétrica e a iluminação, símbolos de progresso em
associação direta com o maquinismo. A substituição do gás pela energia elétrica e ampliação da
eletricidade em áreas públicas se deu em apoio da Pernambuco Tramwaysand Power Company.
Assim como essas ações, a ponte Duarte Coelho (1942) e a construção da Praça 13 de Maio
(1939) foram também de seu mandato, sendo símbolos especiais do seu governo e da
interventoria de Agamenon Magalhães, juntamente com a construção da Dantas Barreto.
Analisando-se arquitetonicamente as preocupações da época, percebemos a presença
constante do concreto aparente, da fachada limpa, a preferência pelas ruas largas e retas, o
acesso direto entre elas e as demais ruas, promovendo um fluxo dos transportes e o privilégio
que os mesmos teriam na orientação do projeto urbanístico na cidade. É importante salientar
que tal dinâmica trazia em si uma lógica de hierarquização das residências e espaços da cidade
que já era conhecida. Nota-se que as próprias notícias da época a ênfase na retirada dos
moradores de mocambo para áreas mais afastadas, as áreas suburbanas que estavam agora
sendo “colonizadas”, e a escolha de tais terrenos para essas moradias deve ser entendida não
só diante dos menores custos dos terrenos ou mesmo graças à expansão das linhas de bonde e
demais transportes: há em tal lógica a preservação dessa antiga hierarquia, em que as famílias
mais tradicionais moram próximas aos rios e os subalternos devem ir para os fundos da cidade.
Os esforços realizados por Agamenon Magalhães em mostrar o centro da cidade como
alinhado às tendências modernas de arquitetura, orgulhando-se dos prédios altos que aos
poucos iam marcando presença na cidade, estão inseridos em um conjunto de simbolismos que
deveriam estar claros no cotidiano dos moradores, informando que o progresso e a
modernidade tinham chegado. Havia urgência em combater-se a todo custo o atraso, o
provincianismo, a falta de higiene repugnante que existia nas ruas e residências. O estado
miserável em que muitos se encontravam era mascarado pelos prédios de vidros reluzentes e
elevadores fascinantes, assim como também se esforçavam em demonstrar os jornais e os
discursos do interventor.
É em nome do combate a “mentalidade retrógrada” que Agamenon Magalhães e seu
prefeito destruíram grande parte do conjunto arquitetônico do centro do Recife. É em nome
também da ordem e da disciplina que as ruas e becos estreitos e tortos darão lugar às avenidas
largas e retas, higienizadas. O Folha da Manhã, sob comando de Magalhães, tratava de alimentar
o imaginário coletivo da população com notícias diversas sobre a degradação e sujeira dessas
antigas áreas, verdadeiros locais de “malassombros”, locais sem higiene, conforto ou
moralidade algumas e onde circulavam todo tipo de gente má. No início de sua campanha, o
interventor assumiu o compromisso não só com as questões sociais, mas com a recuperação
econômica e moral do estado. A falta de autoridade de disciplina e de confiança, o desânimo das
SUMÁRIO
MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985) EM PERNAMBUCO
.................................................................................................................................................................... 2
1. MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE O REGIME MILITAR EM PERNAMBUCO................... 2
legitimados pela própria força e significado das demandas populares assumidas por eles.
Exemplo disso foram as oposições sindicais, as pastorais populares, as associações de
moradores, os grupos de defesa dos direitos humanos, mulheres, negros e índios, sem-terra e
sem-teto, entre outros. Na defesa de seus direitos e interesses, as classes populares
respaldaram também movimentos de perfis mais específicos, como saúde, carestia, apoio
jurídico, reforma agrária, ecologia, etc. Toda essa teia emergiu como parcela representativa da
sociedade civil, por ser mais organizada e consciente, embora inserida numa conjuntura
adversa, tanto do ponto de vista político (hegemonia das classes dominantes), quanto do ponto
de vista econômico (relações capitalistas de produção). Tal contradição deu ao caráter
reivindicativo de muitos desses movimentos um objetivo estratégico comum: a guerra de
posições, pela conquista de espaços políticos inclusive dentro da máquina estatal, visando
fortalecer o poder da classe trabalhadora e de todas as vítimas da exclusão social, tendo em
vista a construção de uma futura sociedade mais justa.
Representado por diversos líderes o movimento da Igreja teve seu apogeu em
Pernambuco na pessoa de Dom Hélder Câmara. No dia 12 de março de 1964 foi designado para
ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985.
Instituiu um governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o
Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela
diocese. Fortaleceu as comunidades eclesiásticas de base.
Estabeleceu uma clara resistência ao regime militar. Tornou-se líder contra o
autoritarismo e pelos direitos humanos. Não hesitou em utilizar todos os meios de comunicação
para denunciar a injustiça. Pregava no Brasil e no exterior uma fé cristã comprometida com os
anseios dos empobrecidos. Foi perseguido pelos militares por sua atuação social e política,
sendo acusado de comunismo. Foi chamado de "Arcebispo Vermelho". Foi-lhe negado o acesso
aos meios de comunicação social após a decretação do AI-5, sendo proibido inclusive qualquer
referência a ele.
Desconhecido da opinião pública nacional, fez frequentes viagens ao exterior, onde
divulgou amplamente suas ideias e denúncias de violações de direitos humanos no Brasil. Foi
adepto e promotor do movimento de não-violência ativa. Em 1984, ao completar 75 anos,
apresentou sua renúncia. Em 15 de julho de 1985, passou o comando da Arquidiocese a Dom
José Cardoso Sobrinho. Continuou a viver em Recife, nos fundos da Igreja das Fronteiras, onde
vivia desde 1968. Morreu aos 90 anos em Recife no dia 27 de agosto de 1999.
Ainda no sentido dos movimentos considerados como heroicos, devemos considerar que
a repressão logo após o golpe, esfacelou os movimentos sociais e políticos no campo e nas
cidades brasileiras. Em Pernambuco, a repressão recaiu sobre dois movimentos sociais
significativos: as Ligas Camponesas e os Sindicatos Rurais, os quais foram desarticulados. As
Ligas Camponesas que surgiram em Pernambuco em 1955, foram postas na ilegalidade e
destruídas. Já os sindicatos, embora poupados enquanto instituição, foram repensados e
repostos a funcionamento sob um rígido controle estatal.
Para entender a ação das Ligas Camponesas é necessário entender o contexto no qual elas
surgiram. No plano da sociedade, houve um avanço dos movimentos sociais e o surgimento de
novos atores. Os setores esquecidos do campo – verdadeiros órfãos da política populista –
começaram a se mobilizar. O pano de fundo dessa mobilização parece se encontrar nas grandes
mudanças estruturais ocorridas no Brasil entre 1950 e 1964, caracterizadas pelo crescimento
urbano e uma rápida industrialização. Essas mudanças ampliaram o mercado para os produtos
agrícolas e a pecuária, levando a uma alteração nas formas de posse da terra e de sua utilização.
A terra passou a ser mais rentável do que no passado, e os proprietários trataram de expulsar
antigos posseiros ou agravar suas condições de trabalho, o que provocou forte
descontentamento entre a população rural. Além disso, as migrações aproximaram campo e
cidade, facilitando a tomada de consciência de uma situação de extrema submissão, por parte
da gente do campo.
O movimento rural de destaque do período foi o das Ligas Camponesas, tendo como líder
ostensivo uma figura da classe média urbana – o advogado e político pernambucano Francisco
Julião. Julião promoveu as Ligas à margem dos sindicatos e tratou de organizar os camponeses,
isto é, aquela parcela da população rural proprietária de um pedaço de terra ou com algum
controle sobre ela como arrendatário, meeiro, entre outros. Ele acreditava que era mais viável
atrair os camponeses do que os assalariados rurais para um movimento social significativo. As
Ligas começaram a surgir em fins de 1955, propondo-se entre outros pontos defender os
camponeses contra a expulsão da terra, a elevação do preço dos arrendamentos, a prática do
“cambão”, pela qual o colono deveria trabalhar um dia por semana de graça para o dono da
terra.
Julião procurou dar às Ligas uma organização centralizada e estabeleceu suas sedes na
capital de um Estado, ou no núcleo urbano mais importante de uma região. Justificava essa
estratégia a partir da convicção de que na grande cidade estavam as classes e grupos aliados
dos camponeses – os operários, os estudantes, os intelectuais revolucionários, a pequena
burguesia – e havia aí uma Justiça menos reacionária.
Surgiram Ligas em vários pontos do país, sobretudo no Nordeste. A luta simbolicamente
mais importante se deu em Pernambuco, pela posse do Engenho Galileia, situado no município
de Vitória de Santo Antão. A propriedade era um engenho desativado para a produção de açúcar
e tinha sido arrendada aos camponeses, na forma de pequenos sítios. Sob a ameaça de expulsão
das terras porque o proprietário queria retomá-las, aparentemente para destiná-las à pecuária,
os posseiros resistiram por meios legais durante mais de cinco anos.
Em novembro de 1961, realizou-se em Belo Horizonte o I Congresso Nacional dos
Trabalhadores Agrícolas, que expressou as várias linhas propostas para a organização da massa
rural. A reunião foi planejada conjuntamente por Julião e outros membros das Ligas e pelos
dirigentes comunistas, cuja base maior se encontrava entre os assalariados agrícolas de São
Paulo e do Paraná. No encontro, as duas correntes se dividiram. Enquanto os líderes das Ligas
sustentavam que a primeira demanda da gente do campo deveria ser a expropriação de terras
sem indenização prévia, os comunistas preferiam se concentrar nos objetivos de promover a
sindicalização rural e a extensão da legislação trabalhista ao campo. Desse modo, os comunistas
que eram minoritários na reunião, defenderam uma linha de reivindicações mais integrada no
sistema legal do que os seguidores de Julião e setores católicos mais radicais.
Com o golpe e a perseguição política e a violenta repressão dele advindas, pulverizou-se
os sonhos e lutas camponesas. As ligas foram exterminadas e a experiência sindical rural foi
redefinida. Nessa redefinição, a estrutura sindical passou ao controle do Estado sob a
administração do clero, e assumiu o papel de mediador. Tornou-se um veículo de legitimação
das ações governamentais e um órgão primordialmente apaziguador de tensões e de
colaboração com o Estado. Fato que, inicialmente, parecia se adequar aos planos do clero,
centrado na pacificação das tensões sociais no campo nas relações capital e trabalho, e no
conceito “cristão” de colaboração entre classes como fundamento da paz e da harmonia sociais.
A necessidade de poupar a instituição sindical provinha do fato de a estrutura sindical
brasileira já conter em sua legislação as formas de sua submissão ao controle, fiscalização e
condicionamento estatal. Precisando apenas de ajustes para tornar a legislação sindical
brasileira em uma das mais arbitrárias do mundo.
A legislação sindical tornou-se um aparelho de coerção, e os sindicatos veículos
manipuláveis para uma possível legitimação passiva, tanto quanto agenciadores da economia
política do Estado junto aos trabalhadores. Aos sindicatos estaria destinado o papel de “agente
mediador” entre Estado e trabalhadores.
A ação de mediação é exercida por meio dos mecanismos de persuasão, coerção e
manipulação das reivindicações e lutas dos trabalhadores, cabendo aos sindicatos a busca de
manutenção da ordem às bases. O que os fazia agir no sentido de esvaziar pressões coletivas,
encobrindo sua função como órgão de representação dos trabalhadores. Em troca dessa
Sem força política e poder de representação, sobrava aos sindicatos sobreviver à sombra
desta ambiguidade, aumentando o distanciamento dos trabalhadores sujeitos ao desmando do
patronato. Aos sindicatos e à estrutura sindical restavam os mecanismos de apaziguamento e
controle de tensões, sob promessas de resoluções encaminhadas via Estado. Órgão de mediação
entre trabalhadores e o Estado, o sindicalismo rural entrava em contradição consigo mesmo.
Contradição não resolvida, de ser “em tese” órgão de representação dos trabalhadores, e ser
“na prática” um órgão de controle das aspirações desta mesma classe. Contradição acentuada
quando os compromissos assumidos pelo Estado tendiam a ser desrespeitados e engavetados,
tornando-se fontes de tensão e pressão para a sua legislação e execução.
As pressões pelo cumprimento do Estatuto da Terra, ou pela execução da lei dos dois
hectares, bem como as reivindicações trabalhistas que, de uma forma ou de outra, chegavam
aos sindicatos rurais, mediando-as por meio da burocracia jurídica, podem ser exemplos desta
contradição vivida pela estrutura sindical no campo. O caso exemplar pode ser visualizado na
atuação do sindicato dos trabalhadores rurais do município do Cabo, na Zona da Mata Sul, o
qual trouxe a si as reivindicações trabalhistas e sociais vindas da base e abrigou movimentos
de greve, cuja face potencialmente política se manifestou na greve geral dos trabalhadores do
Cabo no ano de 1968.
Quando existiam pressões dos trabalhadores para uma ação de defesa das reivindicações
e dos direitos trabalhistas e de permanência na terra, a função de colaboração e de órgão
apaziguador de tensões se tornava mais visível. Enfatizava a contradição da estrutura sindical
ao não encontrar soluções do Estado para as situações que levaram a mobilização dos
trabalhadores, o sindicalismo buscava a desmobilização, ou pressionar o Estado para
apresentar alternativas que pudessem acalmar os ânimos, dizendo-se sem forças para
contenção sozinho das bases.
Em 1965 uma grande crise na agroindústria de Pernambuco levou a maior parte dos seus
municípios a decretarem situação de calamidade pública pelos meses de atraso no pagamento
dos salários dos trabalhadores, que ameaçavam invadir as cidades em busca de comida. Ao lado
do esmorecimento do comércio local pela não circulação dos salários nos armazéns e lojas.
Hordas de desvalidos perambulavam pelos municípios da região movidos pela fome e pela
ampliação do desemprego rural. Com a desculpa da crise, o patronato pressionava o governo
para novas verbas e, ao mesmo tempo, usando o mesmo argumento da crise expulsava grande
contingente de “permanentes” dos engenhos e usinas.
Os sindicatos da região, pressionados pelos acontecimentos, solicitam apoio da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape). A Fetape por sua vez, por meio de
um memorial escrito sob a supervisão do Serviço de Orientação Rural de Pernambuco (Sorpe)
e enviado ao presidente Castelo Branco, segundo o Diário de Pernambuco, de 15 de novembro
de 1965, alerta para a gravidade da crise e solicita ajuda para contornar o mais rapidamente
possível a situação em que se encontravam os trabalhadores dos municípios atingidos, sob o
perigo de ser decretada uma greve geral na agroindústria açucareira do Estado.
Esta situação, a dos problemas referentes aos trabalhadores rurais, perdurou durante um
bom tempo, no interior do Regime Militar, que de certa maneira soube se articular junto à
contraditória estrutura comando dos movimentos sociais em Pernambuco, servindo de certa
forma como exemplo de tentativas entre erros e acertos, nas quais quem mais foi prejudicado,
sem dúvidas foi o trabalhador rural.
SUMÁRIO
HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO ....................................................................................... 2
1. HERANÇA AFRODESCENDENTE EM PERNAMBUCO ........................................................................... 2
1.1 A CAPOEIRA .............................................................................................................................. 2
1.2 O PASSO DO FREVO .................................................................................................................. 3
1.3 O FORRÓ .................................................................................................................................. 3
1.4 O BUMBA MEU BOI .................................................................................................................. 4
1.5 O MARACATU ........................................................................................................................... 4
1.6 O CATIMBÓ .............................................................................................................................. 4
1.1 A CAPOEIRA
A capoeira – jogo, dança, luta – foi praticada em quase todo o Brasil, onde a escravidão
teve papel significativo na vida econômica e social. Quase sempre que se praticava a capoeira,
havia conflitos de rua com mortos e feridos, de certa forma por ser uma das manifestações de
resistência à escravidão. Também por ocasião da realização de festas e da apresentação de
folguedos populares, era comum a presença de capoeiras e a ocorrência de conflitos.
Expressão cultural brasileira que foi inventada por escravos africanos, percebido pelos
instrumentos musicais (tambor e berimbau), pelos ritmos, pelas letras das canções, pela
formação em roda e pelos passos de dança. Há atualmente dois gêneros:
Capoeira regional: o jogo entre duas pessoas acontece em uma roda, na qual todos
cantam. Os adversários dão golpes com as pernas, a cabeça, as mãos, os cotovelos
e os joelhos. O objetivo, no entanto, não é atingir o oponente, mas sim demonstrar
a superioridade em termos de habilidade. Costuma-se simular os golpes sem
completá-los.
Capoeira de Angola: O jogo de Angola é facilmente identificado: é um jogo
cadenciado, mais lento, mas nem por isso deixa de ser uma luta, tem seus
momentos de puro perigo, embora essa demonstração de violência sempre ficou
implícita somente aos que entendem os sinais nas rodas de capoeira, enquanto
na regional e contemporânea, muitas vezes é explicita.
Nos primeiros tempos da República, a repressão se tornou sistemática e permanente. Pela
simples prática do desporto, numerosos capoeiras foram presos e deportados para o
arquipélago de Fernando de Noronha, sob a acusação de vadiagem, sem comprovação de outros
crimes ou contravenções.
Foi por isso que a capoeira entrou em declínio e desapareceu, ao final da primeira década
do século XX, em Belém, São Luís, no Recife e no Rio de Janeiro, restando apenas marcas da sua
influência no passo do frevo do Recife, nas danças do bumba meu boi e na pernada carioca.
Na Bahia, a capoeira sobreviveu em academias. A imigração de pessoas naturais da Bahia
para o Rio de Janeiro acabou por fazer ressurgir a capoeira nessa cidade, de onde o desporto
tornou a se difundir para outras cidades, inclusive o Recife.
No começo dos anos cinquenta do século XX, o cantor e compositor Jackson do Pandeiro
(1919–1982) introduziu no rádio a música do coco, em apresentações ao vivo. Logo em seguida
vieram as gravações em disco.
Os artistas populares rurais, hoje em dia, continuam a criar composições ao ritmo do coco.
Por outro lado, artistas consagrados da música popular brasileira (Alceu Valença, Gilberto Gil,
Gal Costa, Lenine, João Bosco, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Zé Ramalho, Tom Zé, Chico
César, Leila Pinheiro e Chico Buarque) prosseguem regravando os cocos de Jackson do Pandeiro
e de novos compositores.
Música e dança com características de culturas indígenas, o xaxado, ao que tudo indica
originário dos sertões pernambucanos do rio Pajeú e do rio Moxotó (Pernambuco). A sua
divulgação inicial se deveu aos bandoleiros de Lampião, ficando por isso associado ao cangaço.
A dança era exclusivamente masculina. O canto, em quadras e refrão; o ritmo marcado
pelo arrastar das alpercatas e a pancada das coronhas dos rifles no chão. As letras eram satíricas
e agressivas.
O xaxado, em 1930, já estava popularizado fora da região e em 1935 figurava em
programas radiofônicos, chegando ao auge no período de 1946-1956, com a divulgação pelo
cantor Luiz Gonzaga.
Em Serra Talhada, terra do nascimento de Virgulino Ferreira, o Lampião (1898–1938),
foram criados grupos de danças que introduziram variações coreográficas no xaxado e
produziram adereços e vestuário a partir da recriação da roupagem usada pelos cangaceiros.
1.6 O CATIMBÓ
O termo “catimbó” era utilizado para designar as práticas religiosas dos negros em
Pernambuco. Essa expressão era utilizada, geralmente, para indicar as religiões que em suas
sessões ocorressem à possessão espiritual. Dessa forma, várias religiões afro eram facilmente
identificadas como catimbó, isso tornava complexo realizar distinções entre tais religiões.
Os terreiros eram frequentados por motivos diferentes. Uns buscavam consolo para seu
sofrimento na religião, outros, cura para alguma enfermidade, tinha aqueles que desejavam
reconquistar a pessoa amada ou simplesmente afastar um pretendente de perto do seu cônjuge.
No catimbó as cerimônias são comumente chamadas de “Gira”, as sessões são entoadas
por batuques de tambores. Os integrantes da gira compunham uma roda, em que passavam a
tocar e dançar para as entidades aguardando que as mesmas “baixassem”. As pessoas lá ficavam
maravilhadas esperando que fosse dada a resposta ou o conselho tão desejado.
SUMÁRIO
PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO ...................................................................................................... 2
1. ROBERTO MAGALHÃES (1983-1986) ................................................................................................. 2
2. GUSTAVO KRAUSE ............................................................................................................................ 3
3. MIGUEL ARRAIS (1987-1990) ............................................................................................................ 4
4. CARLOS WILSON CAMPOS (1990-1991) ............................................................................................ 6
5. JOAQUIM FRANCISCO CAVALCANTI (1991-1995) .............................................................................. 6
6. MIGUEL ARRAIS (1995-1999) ............................................................................................................ 7
7. JARBAS VASCONCELOS (1999-2006) ................................................................................................. 8
8. JOSÉ MENDONÇA FILHO (2006-2007) ............................................................................................... 9
9. EDUARDO CAMPOS (2007-2014) .....................................................................................................10
10. JOÃO LYRA (2014-2015) ...............................................................................................................11
11. PAULO CÂMARA (2015-EM EXERCÍCIO)........................................................................................11
Apontado pelas pesquisas eleitorais como favorito, em novembro de 1986 perdeu para o
seu correligionário Mansueto de Lavor e para Antônio Faria — lançado pelo Partido
Municipalista Brasileiro (PMB), com apoio de Miguel Arrais, eleito governador.
Ardoroso defensor do rompimento da aliança entre o PFL e o PMDB — pacto que chegou
a comparar ao “casamento do jacaré com a cobra d’água” — em novembro de 1987 resolveu
deixar o “partido de Sarney”, alegando que preferia “passar um bom tempo do lado da maioria
do povo brasileiro, que não tinha partido nenhum”. De fato, Roberto Magalhães só se filiou ao
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em março de 1988, assumindo a presidência do seu
diretório estadual. Em maio do ano seguinte, retornou ao magistério, lecionando direito
comercial na Faculdade de Direito da UFPE. Na ocasião, quando já se esboçavam as articulações
em torno das candidaturas para presidente da República na eleição direta de outubro de 1989,
defendeu a união do PTB com o Partido Democrático Trabalhista (PDT) numa chapa
encabeçada por Leonel Brizola.
2. GUSTAVO KRAUSE
Em maio de 1986, assumiu o governo de Pernambuco, no lugar de Roberto Magalhães,
que se lançara na disputa a uma vaga no Senado nas eleições de novembro de 1986. O PFL foi
derrotado nas urnas pelo PMDB, que elegeu Miguel Arrais governador e, juntamente com um
partido aliado, garantiu as duas vagas para o Senado. Krause deixou o governo de Pernambuco
ao final do mandato, em março de 1987, dedicando-se à reconstrução do PFL no seu estado. Nas
eleições municipais de novembro do ano seguinte, elegeu-se como vereador mais votado do
Recife. Assumiu a sua cadeira na Câmara Municipal em janeiro de 1989. Integrou-se à Comissão
de Orçamento e Finanças e foi o relator do projeto da lei orgânica municipal. Teve aprovados
projetos que tratavam de questões financeiras referentes ao regime tributário das micro e
pequenas empresas e o que estabelecia limites financeiros para as despesas de publicidade da
Prefeitura.
No pleito de outubro de 1990, elegeu-se deputado federal por Pernambuco, novamente
na legenda do PFL. Em fevereiro do ano seguinte, assumiu sua cadeira na Câmara. Integrou-se
à Comissão de Viação e Transportes, Desenvolvimento Urbano e Interior, foi relator da Lei do
Inquilinato e não acompanhou a liderança do PFL na votação da maioria das medidas
provisórias do governo do presidente da República Fernando Collor de Melo. Em dezembro de
1991, licenciou-se do mandato para assumir o cargo de secretário de Fazenda de Pernambuco,
no governo do seu correligionário Joaquim Francisco (1991-1995), sendo substituído por João
Colaço. À testa da secretaria, ampliou a cobrança de impostos aos sonegadores e implementou
uma política de saneamento do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe). Neste mesmo ano,
desempenhou as atividades de professor de direto tributário e de política fiscal da Universidade
Católica de Pernambuco.
Seguindo os passos do governador Joaquim Francisco, Gustavo Krause foi uma das
lideranças que mais se destacaram a favor do rompimento do PFL pernambucano com o
presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992), no momento em que uma CPI organizada na
Câmara dos Deputados apresentava as primeiras provas da ligação do presidente da República
com um esquema de corrupção e tráfico de influência liderado pelo ex-tesoureiro de sua
campanha presidencial, Paulo César Farias. Próximo da votação da abertura do processo de
impeachment na Câmara dos Deputados, Krause deixou o cargo de secretário e reassumiu o
mandato de deputado federal, a tempo de estar entre os 441 parlamentares que votaram pela
abertura do processo de impeachment de Collor, em 29 de setembro de 1992. Afastado da
presidência logo após a votação da Câmara, Fernando Collor renunciou ao mandato em 29
dezembro de 1992, pouco antes da conclusão do processo pelo Senado Federal, sendo efetivado
na presidência da República o vice Itamar Franco, que já vinha exercendo o cargo interinamente
desde 2 de outubro.
Em outubro de 1992, após uma série de indecisões entre os partidos que apoiavam Itamar
Franco sobre quem iria assumir o comando da área econômica, Gustavo Krause aceitou o
convite do presidente para assumir o Ministério da Economia, Fazenda e Administração,
substituindo Marcílio Marques Moreira. A escolha de Krause causou surpresa no meio político,
empresarial e financeiro, tendo repercutido na oscilação do índice Bovespa, que na data de sua
posse fechou o pregão em queda de 7,9%. A responsabilidade pela condução da política
econômica no primeiro ministério do governo Itamar Franco, no entanto, dividiu-se entre
Krause e o ministro do Planejamento, Paulo Haddad.
À frente da pasta, Krause defendeu a prática de um “ensaio parlamentarista” para as
resoluções governamentais. Entre suas primeiras ações, propôs um acordo político contra a
recessão e a negociação de um projeto de emergência para política fiscal com presidentes e
líderes dos partidos. A sua proposta baseou-se na criação do imposto sobre transações
financeiras, na redução do limite de isenção do imposto de renda para pessoas físicas e no
reforço da fiscalização fazendária. Preocupado em combater a desobediência fiscal, Krause
reuniu-se com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir o andamento de
ações que tramitavam no Judiciário contra o pagamento de impostos. Enfatizou a cobrança e o
possível bloqueio das contas bancárias de empresas estatais, estados e municípios que
devessem ao Tesouro Nacional e não renegociassem as suas dívidas. Aprovou um programa de
saneamento econômico, financeiro e estrutural da Caixa Econômica Federal e apresentou
propostas de linhas de crédito no Banco do Brasil com juros inferiores aos do mercado para
estimular a produção e a retomada do crescimento.
Todavia, apesar de inicialmente apresentar um discurso contra a recessão, acabou por
manter a política de juros altos praticada por seu antecessor e descartou a redução de impostos.
Afirmou como prioridade da sua gestão a aprovação de uma reforma fiscal, desejando antecipar
a reforma constitucional para maio de 1993. Em dezembro, defendeu a implantação de
programas sociais compensatórios para amenizar os efeitos da recessão.
No pleito de outubro de 1994, candidatou-se ao cargo de governador de Pernambuco, pela
legenda do PFL. Foi derrotado por Miguel Arrais, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
PFL, Arrais acabou sendo eleito com 1.587.679 votos (50,3% do total), quinhentos mil a mais
do que o total recebido por seu adversário.
Ainda na condição de governador eleito, participou de reunião do PMDB com ministros
da área econômica e defendeu o endurecimento da posição do governo federal em face dos
credores internacionais, bem como a suspensão do pagamento da dívida externa brasileira.
Assumiu o cargo em 15 de março de 1987, em meio a grande festa popular, mas enfrentou desde
o início graves problemas salariais com o funcionalismo público estadual. Durante dois anos e
meio, seu governo seria marcado pela falta de recursos, crises com o Legislativo e o Judiciário,
e sucessivas greves, como a dos professores, que durou 51 dias, e a da Polícia Civil, a primeira
da categoria registrada em Pernambuco.
Arrais dirigiu para os segmentos mais pobres da população pernambucana os principais
projetos de seu governo, como a expansão do sistema hídrico e do crédito rural no Sertão, a
distribuição de sementes no Agreste, a política de desapropriação de terras e de preservação
do emprego durante a entressafra da cana-de-açúcar na Zona da Mata e programas alternativos
de habitação e expansão dos serviços de saúde, educação, documentação e transporte na Região
Metropolitana de Recife. Projetou, também, estimular a interiorização das indústrias e apoiar
os pequenos e médios empresários, bem como recuperar empresas estatais em crise, como o
Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe), o Laboratório Farmacêutico do Estado de
Pernambuco (Lafepe), a Companhia Integrada de Serviços Agropecuários de Pernambuco
(Cisagro) e o Instituto de Pesquisas Agropecuárias (IPA).
Em sua gestão, implantou projetos como o “Vaca na corda”, que financiava a compra de
uma vaca, o “Chapéu de palha”, que contratava canavieiros na entressafra para trabalhar em
pequenas obras públicas, e o “Água na roça”, que oferecia financiamento para a compra de um
motor-bomba para irrigação. Esses projetos, que seus adversários classificaram de coronelistas
e assistencialistas, lhe granjearam grande popularidade junto à população pobre do interior do
estado.
Durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, iniciados em 1º de fevereiro
de 1987, Arrais procurou influenciar os congressistas no sentido da fixação do mandato
presidencial em quatro anos e da realização de eleições diretas para presidente em 1988. Em
janeiro de 1988 declarou que o adiamento das eleições diretas ameaçaria a estabilidade
institucional do país, pois o prolongamento do mandato de Sarney poderia gerar uma
polarização social, levando a classe média, pressionada pelos problemas de sobrevivência
material, a descrer nos políticos e “sair em busca de um salvador”. Em declarações à imprensa,
advertiu que a situação de elevada inflação e a dificuldade de colocação das exportações
brasileiras no mercado americano criavam um quadro mais grave do que aquele que, em 1964,
levara à deposição do presidente João Goulart pelos militares, já que, no seu modo de ver, o
governo Sarney tinha uma base de apoio mais reduzida. Para evitar o golpe, entendia que era
necessário definir o mandato de Sarney em quatro anos e formar uma frente nacional, com o
PMDB e os partidos de esquerda, para eleger um presidente da República capaz de manter o
povo esperançoso pela adoção de uma política econômica favorável às atividades produtivas e
à resolução do problema da dívida externa do país.
Em março de 1988 esteve em Brasília onde, no dia 17, se encontrou com o ministro do
Exército, general Leônidas Pires Gonçalves. Ao retornar, manifestou novamente preocupação
com a saúde institucional do país. Em Recife, pronunciou um discurso em que denunciava a
afixação de cartazes nas ruas da cidade em homenagem ao movimento político-militar de 1964:
“Isso pode ser uma articulação golpista. O povo tem que comandar o processo e conduzir o país
a uma direção nova, contrária ao interesse de grupos que não querem que a democracia
avance”. Alguns dias depois, o Jornal do Brasil (24/3/1988) publicou reportagem denunciando
que a Constituinte aprovara a manutenção do presidencialismo e o prazo de cinco anos para o
mandato de Sarney sob a ameaça de golpe militar. O texto final da nova Constituição seria
promulgado em 5 de outubro de 1988.
O governador Arrais enfrentou em 1988 uma difícil situação estadual, abalada por greves
em vários segmentos do funcionalismo público — incluindo médicos, professores e advogados
—, pela seca, pelo desemprego no campo e por saques em cidades do interior. Para tentar
restabelecer o fluxo de recursos federais para Pernambuco, em junho de 1988 se reaproximou
do presidente José Sarney, com o qual rompera em maio do ano anterior, quando da nomeação
do deputado pernambucano Joaquim Francisco (PFL) para o Ministério do Interior.
Simultaneamente, procurou reforçar o “grupo histórico” do PMDB, visando a obter o controle
do partido. Em julho, tornou-se líder da ala “progressista” do partido, por indicação informal
dos governadores Wellington Moreira Franco (RJ), Tasso Jereissati (CE) e Geraldo Melo (RN).
prefeito de Recife, Jarbas Vasconcelos (PMDB), seu maior adversário político em Pernambuco.
Após permanecer um certo período sem partido, voltou a integrar os quadros do PFL.
estados pesquisados. De acordo com os dados divulgados na ocasião, 76% dos eleitores
pernambucanos aprovavam sua maneira de governar e 68% da população do estado teria dito
confiar no governador, cuja gestão foi considerada ótima ou boa por 58% dos entrevistados.
Em virtude do lançamento de sua pré-candidatura à presidência da República, em abril
de 2014 Eduardo Campos se desligou do governo de Pernambuco, passado ao vice João Lyra
Neto, também do PSB. Candidatou-se à presidência do Brasil em chapa constituída com Marina
Silva, recém-filiada ao PSB, candidata a vice. No mês de maio, segundo pesquisa realizada pelo
Datafolha, Campos estava em terceiro lugar entre os pré-candidatos à presidência, com 10%
das intenções de voto, atrás de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
que somava 16% das intenções e de Dilma Rousseff, candidata à reeleição, com 38% da
preferência do eleitorado pesquisado.
Eduardo Campos faleceu aos 49 anos na cidade de Santos (SP), no dia 13 de agosto de
2014, em decorrência de um acidente aéreo enquanto viajava do Rio de Janeiro ao Guarujá no
meio da campanha presidencial.