ABORTO

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ABORTO – ARTIGOS 124 à 128

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14
(quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

CONCEITO
ABORTO: é a interrupção da gravidez com a conseqüente morte do feto (produto da
concepção). É a privação do nascimento.
A palavra abortamento tem mais sentido técnico que aborto, aquela indica a conduta
de abortar, esta indica o produto da concepção cuja a gravidez foi interrompida.

ESPÉCIES DE ABORTO
A) Natural: - não punível – interrupção espontânea da gravidez;

B) Acidental: - não punível – interrupção da gravidez por conseqüência de


traumatismo. Ex.: abortamento devido queda.

C) Criminoso: CP. ARTS. 124, 125, 126, 127

D) Legal ou Permitido: O nosso CP., só permite duas formas de aborto legal ou


permitido, o Aborto necessário ou terapêutico: empregado para salvar a vida da
gestante ou para afastá-la de mal sério ou iminente, em decorrência de gravidez
anormal, desde que praticado por médico. Aborto sentimental ou humanitário: em que
a gravidez resulta de estupro.
E) Aborto eugenésico ou eugênico, permitido para impedir a continuação da gravidez
quando há a possibilidade de que a criança nasça com taras hereditárias

F) Aborto social ou econômico é o permitido em casos de família numerosa, para não


lhe agravar a situação social.

OBJETIVIDADE JURÍDICA
A tutela penal é a da vida, a vida do feto.
O feto não é pessoa, mas spes personae, é expectativa de ente humano, possui
expectativa de direito. Para efeitos penais é considerada pessoa., tutela-se, então, a
vida humana.
No auto-aborto só há uma tutela penal, cujo o titular é o feto. No aborto provocado
por terceiro, há duas objetividades jurídicas: uma o produto da concepção, outro a
incolumidade física e psíquica da própria gestante.

QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
1) Crime Instantâneo: ocorre a consumação, em um só momento, esgotando-se aí;
2) Crime Material: o tipo descreve a conduta de provocar e o resultado, a morte do
feto, exigindo sua produção;
3) Crime de Dano: uma vez que se consuma com a efetiva, lesão do objeto jurídico
(Não é crime de perigo);
4) Crime de Forma Livre: executado por qualquer meio de ação ou omissão: física,
química, etc..
5) Crime Próprio: auto-aborto - exige da autora uma especial capacidade penal,
contida na condição de gestante (sujeito ativo qualificado). Embora seja crime próprio,
responde por ele não só a gestante, mas também o estranho que porventura dele
participe.

FIGURAS TÍPICAS
Tipos penais do crime de aborto
1) Auto-aborto: CP. ART. 124, 1ª parte; Provocar aborto em si mesma ou consentir
que outrem lho provoque;

2) Fato de a gestante consentir que outrem lhe provoque o aborto: CP. ART. 124, 2ª
parte; Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque;

3) Provocação de aborto sem consentimento da gestante: CP. ART. 125

4) Provocação de aborto com o consentimento da gestante: CP. ART. 126

5) Aborto qualificado pela lesão corporal grave ou morte da gestante: CP. ART. 127

6) Aborto legal:
 Necessário: CP. ART. 128,I
 Sentimental: CP. ART. 128,II

SUJEITOS DO DELITO
No auto-aborto: a autora: é a gestante;
Aborto provocado por terceiros: o autor pode ser qualquer pessoa;

SUJEITO PASSIVO: o feto. No aborto provocado por terceiro há dois sujeitos


passivos: o feto e a gestante..

Exige –se a prova de vida do sujeito passivo imediato, Gravidez: Precisa ser provada.;.
A confissão da gestante não supre a falta da prova; nem simples indícios. A sua morte,
em decorrência da interrupção da gravidez, deve ser resultado direto dos meios
abortivos. . É imprescindível a comprovação da relação causal (CP, art. 13, caput).

Não importa o momento da provocação durante a evolução fetal


A proteção penal do sujeito passivo ocorre desde a fase em que as células germinais
se fundem, com a resultante constituição do ovo, até aquela em que se inicia o
processo de parto.
Fala-se comumente que o sujeito passivo é o feto, mas o código não distingue entre
óvulo fecundado, embrião ou feto. É necessário que o objeto material seja produto de
desenvolvimento fisiológico normal.
Não há tutela penal específica na denominada gravidez molar, em que há
desenvolvimento anormal do ovo (mola), e na gravidez extra-uterina, que representa
um estado patológico. Não se exige que o feto seja vital.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO


É crime de forma livre, o núcleo do tipo é o verbo provocar (dar causa, produzir,
originar), assim, qualquer meio pode ser utilizado, comissivo ou omissivo, material ou
psíquico., integra a conduta típica.
Há os processo mecânicos que pode ser diretos ou indiretos. Qualquer que sejam os
meios, é necessário que sejam idôneos à produção do resultado – rezas, despachos,
etc.., são absolutamente inidôneos, conduzem ao crime impossível.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


Aborto só é punível a título de dolo, vontade de causar a morte do produto da
concepção. Não existe aborto culposo como forma típica autônoma.
O dolo pode ser direto e eventual: Direto: quando há vontade firme de interromper a
gravidez e de produzir a morte do feto. Eventual: quando o sujeito assume o risco
de produzir esses resultados.
No aborto qualificado pelo resultado: o crime é preterdoloso: há dolo no antecedente, e
culpa no conseqüente (lesão grave ou morte).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Atinge a consumação, o aborto, com a produção do resultado morte do produto da
concepção, em conseqüência da interrupção da gravidez. Irrelevante se o feto morreu
dentro do útero da mãe ou fora dele. Expulsão do feto: Não é necessária.

Admite-se tentativa quando, provocada a interrupção da gravidez o feto não morre por
circunstâncias alheias a vontade do agente.
 Se a gravidez não existe: Crime impossível (CP, art. 17).
 Se o feto já estava morto: Crime impossível (CP, art. 17).
AUTO-ABORTO E ABORTO CONSENTIDO – ARTIGO 124

FIGURAS TÍPICAS
A) Provocar o aborto em si mesma: por intermédio de meios executivos químicos,
físicos ou mecânicos, provoca em si mesma a interrupção da gravidez,
causando a morte do feto.
B) Consentir que outrem lhe o provoque: gestante presta consentimento no
sentido de que terceiro lhe provoque aborto.

Se no crime de auto-aborto, na modalidade em que a gestante provoca o aborto em si


mesma, admite concurso de agente - ==> Depende. É admissível a participação na
hipótese em que o terceiro induz, ou auxilia de maneira secundária a gestante a
provocar aborto em si mesma. Se terceiro executa ato de provocação de aborto, NÃO
será partícipe do crime do artigo 124, mas SIM autor do fato descrito no artigo 126.

Se ocorre morte ou lesão de natureza grave - ==> Partícipe do auto-aborto, além de


responder por este delito, pratica homicídio culposo ou lesão corporal de natureza
culposa, sendo inaplicável o disposto do artigo 127.
Existe crime se a gestante provoca em si mesma o aborto terapêutico ou sentimental-
==> Tratando-se de aborto necessário (artigo 128, I) NÃO há CRIME, em face da
exclusão de antijuridicidade (ela é favorecida pelo estado de necessidade do artigo 24)
Se tratar-se de aborto sentimental , subsiste o delito, uma vez que essa disposição só
permite a provocação do aborto por médico.

CONCURSO DE PESSOAS
Há duas posições:
A) é admissível a participação na hipótese em que terceiro induz, instiga ou auxilia
de maneira secundária a gestante a provocar aborto em si mesma.. Se, porém,
o terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do
art. 124 do Código Penal, mas sim autor do fato do art. 126 (provocação do
aborto com consentimento da gestante);
B) o terceiro, ainda que atue como partícipe, induzindo, instigando etc., responde
nos termos do art. 126 do Código Penal.

Crime do sujeito que induz, instiga a gestante a consentir na provocação do aborto


praticado por terceiro- ==> Responde pelo crime do artigo 124, 2ª parte, mas se
emprestar qualquer auxílio na provocação do aborto, será partícipe do fato descrito no
artigo 126.

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