Bibi Santos Força Do Desejo Duologia Força Do Amor 01 RL
Bibi Santos Força Do Desejo Duologia Força Do Amor 01 RL
Bibi Santos Força Do Desejo Duologia Força Do Amor 01 RL
2021
Bahia / Brasil
Copyright © 2021 Bibi Santos
Capa: TG Design
Revisão: Hellen Caroline
Copidesque: Danilo Barbosa
Diagramação Digital: Tati Dias
Acordei atrasada e não teria como fazer minha corrida matinal. Comi
um cereal rapidamente e fui para o ponto de ônibus, orando para conseguir
pegar a condução a tempo.
Mas como aquele não era meu dia, o ônibus já tinha passado. Levou
meia hora para passar o próximo, e quando consegui chegar à empresa já
passava das nove da manhã. Entrei correndo e acabei trombando com um
peito forte e braços que me seguraram pela cintura para que não caísse.
Olhei para cima e, morta de vergonha, descobri que era quem?
Ninguém mais, ninguém menos, que meu chefe. Comecei o dia atrasada e
ainda praticamente atropelei meu chefe. O que poderia ser pior?
— Desculpa, senhor Pedro, me perdoe!
— A senhora estava fugindo da polícia? Para onde ia com tanta pressa?
— Para a sala. Meu ônibus atrasou e…
— Seu marido deve ser bem ciumento. — Ele cortou, encarando-me.
— Não entendi… — Fiquei na defensiva.
— Para fazer uma mulher tão bonita usar vestidos tão horrorosos assim.
Essas cores desmerecem sua beleza.
Fiquei olhando para ele, chocada. Ultimamente ele vinha fazendo esses
tipos de observações, no meio das conversas, do nada, sobre a minha
aparência.
— Me perdoe se meu vestido não lhe agrada. — Desvencilhei-me dele
e comentei, bem cínica.
— Hummm… A tigresa tem garras! Calma, não falei para ofender. Só
acho que uma cor faria bem à senhora.
Foi embora, deixando-me no meio do corredor, confusa com aquele
comportamento. Como aquele homem era estranho.
O resto do dia passou sem incidentes. Praticamente fui ignorada pelo
ogro, o que me permitiu relaxar um pouco. Participamos de duas reuniões,
onde anotei todas as informações e depois as descrevi em um relatório.
Mandei por e-mail para todos os envolvidos e interessados. O telefone da
minha mesa tocou, de repente.
— Isabel, em minha sala, por favor.
O Gio me olhou estranhamente, como se soubesse de alguma coisa.
Torci que não tivessem descoberto nada sobre as minhas mentiras.
Entrei na sala apreensiva. Não sabia o porquê, mas estava morta de
medo. Sentei na cadeira diante dele, colocando minha mão no colo para não
perceber o quanto tremia.
— Em que posso ajudar, senhor Pedro?
— Conhece o contrato da Mex, certo?
— Sim. — Fiquei aliviada.
— Então sabe que estamos tentando fechar o contrato com eles, e o
senhor Nil fica de gracinha, inventando desculpas para não assinar.
— Ele foi meio evasivo na reunião passada, pelo que percebi. O que é
muito estranho pelo valor que estamos dando pelo contrato.
— Fico feliz que a senhora tenha entendido. Na realidade, pelas minhas
investigações, o senhor Nil recebeu propina de outra organização para vender
o contrato… Mas isso não é pertinente no momento.
— Que absurdo! Ele merece cadeia! Seus superiores deveriam saber
disso.
— Seus olhos ficam mais intensos quando a senhora está chateada.
— Hummm? Não entendi…
E lá vinha ele de novo.
— Desculpa, só acho intrigante esse seu lado. De calma e passiva, você
se transforma em uma mulher apaixonada em questão de segundos.
— O senhor está me deixando constrangida.
— Como disse: desculpa. Voltemos para o assunto em pauta.
Ele desviou o olhar para um papel que tinha na mão. Calmamente,
como se nada tivesse sido dito. Admirava essa frieza nele, apesar de ter
ficado com o coração disparado.
— Bem, o que o senhor pretende fazer sobre esse assunto?
— Hummm? — Ele me encarou novamente, com um arremedo de
sorriso nos lábios.
— Sobre o senhor Nil!
— Ah, ele é peixe pequeno. Esse fim de semana terá um encontro de
executivos no Rio de Janeiro, em um resort, e lá encontrarei o peixe que
desejo pescar: o dono na empresa.
— O senhor quer que eu faça sua reserva?
Entendi a estratégia dele. O homem tinha uma mente brilhante.
— Sim, e a sua também. A senhora vai comigo. As informações
encontram-se no e-mail que enviei.
Jesus! Nem acreditava que passaria o fim de semana sozinha com o
homem mais lindo que já vi.
Respirei fundo, tentando voltar ao foco. Ele era casado e,
supostamente, eu também.
Aquiesci e levantei-me silenciosamente. Fui até a porta, mas ele me
chamou de volta.
— Ah, Dona Isabel…
— Sim?
— Coloque na mala roupas coloridas e elegantes, por favor.
Abri e fechei a boca, tomada pela raiva, então saí chateada. Bati a
porta.
Como ele se atrevia a me chamar de brega? Sabia que minhas roupas
não eram de última moda, mas eram as mais discretas que tinha.
Que vontade de bater nele!
— Ogro, imbecil.
— Parece que a conversa não foi legal! — Gio me olhava preocupado.
— Ele falou das minhas roupas. Disse que são de mau gosto.
Ele começou a rir descontroladamente.
— Acha engraçado isso?
— Perdão, Isabel, mas ele tem razão. Com todo respeito, é claro.
— Você concorda e ainda se diverte? — Chocada, joguei a minha
caneta na cabeça do Gio.
— Epa! Você é violenta demais.
— Idiota!
— Isabel, você é linda e fica se escondendo por debaixo dessas roupas.
Pelo amor de Deus!
— Eu… Eu gosto, tá?! — Era chocante ouvir certas coisas.
— Tudo bem, mas não deveria deixar seu marido convencê-la a isso.
Não é saudável.
— Meu marido? O que ele tem a ver com isso?
— Suponho que seja quem não a deixe vestir-se diferente. Desculpa,
mas como nunca fala muito dele, e nunca sai ou almoça com a gente,
presumimos que seu marido seja ciumento.
— Presumiram errado — rebati. — Chega! Não vou ficar aqui
discutindo minha relação.
Meu Deus, que encrenca! Eu tentando ser discreta, e acabei levantando
suspeitas sobre meu suposto marido. Isso em nada me ajudava.
Sentei na minha mesa, abri o e-mail e tentei não pensar em tudo que
ouvi. Fiz as reservas em silêncio, sem coragem de olhar para o Gio.
— Poxa, Isabel, desculpa se fui grosseiro. Não precisa fazer voto de
silêncio.
— Tudo bem, só estou trabalhando…
— Estamos de bem? — Ele me olhou sorrindo, com aquelas covinhas
lindas e o dedinho mindinho apontado em minha direção, como uma criança.
Não resisti e dei risada, apertando o dedinho dele.
— Estamos sim.
CAPÍTULO 4
Estava ansiosa para ver a cara do senhor ogro quando percebesse meu
visual mais, digamos, natural. Encontrava-me no aeroporto, depois de
atravessar a cidade de táxi, só o aguardando chegar para entrarmos no jatinho
particular que nos levaria ao Rio de Janeiro.
Sorri secretamente de alegria quando vi o cara entrar pela porta de
embarque antes de engolir em seco. Lindo era pouco para descrever sua
aparência. Diria divino, poderoso, arrogantemente delicioso. Era um perigo
aquele homem andando por ali.
Vestido de camisa azul e calça preta de brim, e — pasmem — All Star
azul nos pés. Estava totalmente informal, com uma pequena mala e outra
pasta de trabalho ao lado. Vê-lo foi como um soco no meu estômago. Como
ficaria um fim de semana inteiro com aquele homem sem babar em cima
dele?
— Bom dia, senhor Pedro.
Ele desviou o olhar para mim e ficou sem palavras por alguns
segundos. Abriu e fechou a boca, parecendo abobado. Pronto! Assim ele
saberia como me senti ao vê-lo, inúmeras vezes.
Caprichei no visual. Quem é a mal vestida agora?
Estava com um vestido floral esvoaçante e chapéu de palha verdinho,
combinando com os detalhes do vestido. Calcei sandálias de tiras e trouxe
uma bela bolsa de lado. A maquiagem estava bem leve, com os cabelos
presos, e o rímel aplicado para deixar o rosto mais expressivo.
— Nossa, Dona Isabel, a senhora está muito bonita, diria até que…
Linda.
— Obrigada.
— Seu esposo é um homem de sorte, com certeza.
Fiquei sem palavras diante daquele olhar intenso. Depois de longos
minutos, resolveu fingir uma tosse e foi até o balcão de embarque.
Fomos em silêncio até o jatinho e fiquei encantada ao entrar. Nunca
tinha visto um de perto, era muito confortável. Foi servido um almoço com
frutos do mar, champanhe… Vida de rico era o máximo! Para variar, o chefe
não tirava o olho do computador, mas até tomou cerveja. Importada, é claro.
Toda hora ele me vinha com uma nova surpresa de sua faceta.
— Tudo bem, dona Isabel? Seu marido reclamou da vinda?
Tomei um susto quando ouvi a voz dele do outro lado da aeronave.
Virei para ele e seu olhar estava pregado em mim, esperando uma resposta.
— Não, ele sabia que ao aceitar trabalhar em sua empresa teria de fazer
essas viagens.
— Muito bem. Sabe, Isabel, se eu fosse seu marido não a deixaria vir.
— Por quê? É por isso que sua esposa não o acompanha?
— Touché, Isabel!
— Não quis ser grosseira ou inconveniente, desculpe-me.
— Tudo bem. Na realidade, minha esposa não gosta dos negócios da
família, só de gastar o dinheiro. Tem seus próprios interesses.
— Imagino.
Mentira. Não sabia como uma mulher não desejaria viajar com seu
esposo para ajudar nos negócios da família. Sem contar que ele era lindo…
— Gostaria que a senhora olhasse uns papeis. Decore os nomes e anote
tudo que achar válido, pois vou precisar de sua mente para lembrar-me dos
detalhes na hora certa.
Peguei então o que me pediu e fui trabalhar. A partir dali não nos
falamos até chegarmos ao Rio. Lá, um carro estava nos esperando e fomos
em direção ao litoral. Uma paisagem mais linda que a outra. Não conhecia o
Rio de Janeiro, mas prometi que voltaria ali para passear.
A perna do chefe encostou na minha e fiquei quente de repente, como
se sua proximidade tivesse um efeito intoxicante. Como poderia estar
interessada em um homem comprometido? Odiava homens que traíam suas
mulheres, aceitando migalhas. Era uma vergonha deitar-se com maridos
alheios. Já vi muitas prostitutas de luxo e sabia do que elas eram capazes para
atrair homens poderosos, destruindo lares para ter algumas roupas e uma
falsa ideia de vida normal. No fim, eles as abandonavam ou voltavam para as
mulheres, alguns arrumavam outras, pois no fundo eles queriam apenas sexo
sem cobranças.
O resort era lindo, um paraíso! Vários carros chegando e saindo,
mulheres e homens belíssimos, tudo muito rico e organizado. Se soubessem
de onde eu vinha, provavelmente me expulsariam daquele local.
— Fecha a boca, dona Isabel! Parece que nunca viu nada igual. É só
mais um hotel.
— Nunca estive em nada parecido.
— Para mim é tudo a mesma coisa.
— Verdade. Já conheceu vários, certo?
— Sim, tive minha cota disso na vida.
— Ser rico deve ser ruim, mesmo. Tomar champanhe, cervejas caras e
muitas bajulações. Realmente…
— Touché para você de novo! Mais uma vez me surpreendendo… Fica
linda quando faz isso.
— Foi uma cantada?
— Não, Isabel, só um elogio. Não me envolvo com mulheres casadas.
— Touché para o senhor! Presunção minha achar isso.
— Por quê? Poderia ser uma cantada, sim.
— O senhor disse…
— Eu disse que não me envolvo com mulheres casadas. Não que te
ache feia ou nada interessante. Sabe qual é sua sorte, Isabel?
— Não… — respondi em estado de hipnose, já que ele me olhava de
um jeito quase indecente.
— Você ser uma mulher casada. Não responderia por mim se fosse o
contrário.
Com essas palavras, caminhou para dentro do hotel, deixando-me ali,
digerindo aquilo tudo. Agora tinha certeza: ele se sentia atraído por mim, e
para piorar toda a situação, eu correspondia.
Na recepção fomos encaminhados aos nossos respectivos bangalôs, que
ficavam um ao lado do outro. Para chegar lá, fomos em um carrinho de golfe,
o que só tinha visto antes nos filmes. O quarto tinha uma vista perfeita para o
mar, como se nele houvesse uma praia particular. Caso eu tentasse nadar nua
ninguém veria, só o senhor ogro ali.
Instalei-me no quarto que era maior que meu apê todinho, com uma
cama maravilhosa no centro. Parecia um lugar para amantes. Pensei em como
deveria ser o quarto do senhor Ogro.
— Senhora Santana, seu pacote inclui: SPA, salão de beleza e alguns
passeios pela ilha. Assim, se desejar alguma coisa é só discar para nossos
atendentes. Os números encontram-se ao lado da cama. Seja bem-vinda.
— Muito obrigada — Falei ao rapaz que nos acompanhou até ali.
— O prazer é todo nosso. Estamos à disposição.
Quando ele saiu do quarto eu me joguei na cama. Nem acreditava que
estava em um lugar daqueles, e, melhor ainda, com tudo pago pela empresa.
Rindo como louca, fazendo a dança da alegria em cima da cama, ouvi
palmas vindo da porta do quarto. Quase caí da cama, mas braços fortes me
sustentaram antes que me esborrachasse no chão.
Mais uma vez.
— Acho que assustei a senhora. Está virando um hábito segurá-la para
não cair — Ele tirou o cabelo do meu rosto. Empurrei-o para longe e fui para
o outro lado do quarto.
— Bem, passei para dizer que vou encontrar alguns conhecidos para
um drink. Espero que esteja bem acomodada.
— Estou sim, gostei bastante.
— Percebi e fico feliz. Tem alguns adicionais no pacote que
compramos, então a senhora pode aproveitar o resto do dia. Vamos nos
encontrar à noite, pois haverá um jantar no qual preciso de sua presença.
Espero que tenha alguma coisa para vestir.
— Pode deixar que providenciarei, senhor — eu fui sarcástica.
Tenho certeza de que ele percebeu. Era mais forte que eu… Aquela
necessidade de bater nele na maioria das vezes, e no resto deste tempo, beijá-
lo. Quer saber? Acho que estou ficando insana.
— Ok. Às sete, no salão de festa.
Saiu, fechando a porta do quarto. Ogro idiota! Ele teria uma surpresa
àquela noite.
— É do salão de beleza? Quero um horário!
Enquanto isso, fiquei um pouco na banheira. Depois, coloquei um short
e top vermelho para conhecer os arredores. Bebi um drinque maravilhoso à
beira da piscina e fiquei com vontade de fazer aula de mergulho. Como não
sabia como seria o dia seguinte, anotei mentalmente para praticar se tivesse
tempo.
Quando estava tranquila aproveitando o sol, uma sombra caiu sobre
mim. Era o senhor ogro, com uma cerveja de nome estranho na mão.
— Sabia que por trás de tanta cor marrom teria uma bela mulher.
— Vou deixar passar, sei que é a bebida falando.
Levantei para sair, mas ele agarrou meu braço. Nesse momento, graças
a Deus, meu celular tocou e na tela apareceu a imagem do Diogo. Ele me
soltou, como se tivesse contraído uma peste, e foi embora.
Suspirei e atendi o celular.
— Oi.
— Oi? Não te dei educação, não, menina?
— Desculpa, Diogo.
— Dia difícil?
— Mais ou menos.
Contei que estava no resort a trabalho e quem era meu chefe, deixando
de fora o detalhe de que nós dois estávamos atraídos um pelo outro.
— Jesus! Como você conseguiu esse emprego, Isabel Santana?
— Pela agência.
— Como? Eles só aceitam mulheres casadas para assistentes pessoais.
— Como sabe disso?
— Não é segredo para ninguém no mercado. Isabel, o que você
aprontou?
Expliquei então tudo que fiz para conseguir o trabalho. Não era boa em
mentir para o Diogo, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ele descobriria
— Meu bom Jesus, você é louca… Já pensou na encrenca que se
meteu? Esse homem vai engolir você. Ele é poderoso, Bel, uma máquina no
mercado financeiro. Vai virar uma fera quando descobrir que foi enganado
por uma ladrazinha órfã.
— Poxa, Diogo, você tem que falar assim? Estou construindo uma
vida.
— Mentindo? Enganando? Você acha que tem futuro fazendo isso?
— Ok, o que você queria que eu fizesse? Dissesse para a agência: olha
aqui… tenho vinte e cinco anos e nunca tive um trabalho de carteira assinada.
Obtive meus diplomas em cursos online porque passei anos da minha vida
em um bordel, me prostituindo …
— Não, Bel, você entendeu errado.
— Entendi o suficiente. A gente se fala depois.
Desliguei o celular e coloquei minha cabeça entre as pernas, contando
até dez. Era um exercício que a psicóloga ensinou para me acalmar.
O telefone voltou a tocar. Sabia quem era e me recusava a atender.
Devia demais ao Diogo, mas no momento estava magoada e não teria boas
palavras para ele.
Sabia que eu não era grande coisa. Ouvi, ao longo dos anos, que a única
coisa que me fazia interessante era a beleza. O Diogo tinha visto além disso.
Ele sabia do que eram feitos os meus sonhos.
Fui até meu quarto, meio atordoada. Porém, lembrei no caminho que
tinha horário no salão de beleza e voltei. Fiz tudo no automático, mas
precisava me acalmar, sem hora para crise de pânico. Há anos que não me
sentia assim.
— Senhora Santana?
Olhei para a atendente que se encontrava a minha frente, com o
telefone na mão.
— Sim, sou eu!
— Telefone para a senhora.
Quem poderia ser?
— Alô?
— Bel, não desliga, por favor.
— O que foi, Diogo?
— Perdão! Eu me expressei mal com você e fui cruel, eu sei. Acontece
que eu fico com medo dele te magoar. Somos uma família, Bel, e amo muito
você.
Ele estava chorando e eu comecei também.
— Você me perdoa? Eu sei o potencial que tem, sei que pode ir longe,
mas tenha cuidado. Ele é um lobo.
— Diogo, é só um trabalho. Estou sendo discreta e já tenho mais de
dois meses na empresa, ninguém percebeu nada.
— Eu sei, Bel, mas deixa eu te falar: fique longe dele. Ele é
colecionador de amantes, tem todas que deseja. É um homem frio, sem
sentimentos.
— Ele é casado!
— Sabemos que isso não impede homens como ele de conseguir as
coisas. Vai por mim, a fama dele é lendária.
— Vou tomar cuidado. Ele acha que sou casada com você, então ficarei
segura — garanti, tentando acreditar em minhas palavras, pois sabia que a
atração entre nós já existia.
— Cuidado, Bel. Eu amo você!
— Também te amo!
Desliguei o telefone e o entreguei à atendente.
— Meu marido.
— Ele deve ser um homem incrível. Ligou para o hotel desesperado
para achar você, já que não conseguiu no celular. — Ela disse e todas as
meninas do salão suspiraram.
— Ele é mesmo, e eu o amo muito!
Terminei o cabelo e a maquiagem. Sentia-me linda, e para não estragar
o penteado um carrinho foi chamado para me levar até o bangalô, onde me
troquei. Estava quase na hora do jantar. Escolhi um vestido longo de cetim
verde com algumas rendas ao redor do busto. Parecia um modelo simples,
mas tinha uma fenda na lateral que se abria bem acima da coxa.
Sempre ganhava roupas bonitas quando ia para fora do país. Era
necessário ficar bonita para os clientes.
Estava saindo do quarto quando o carrinho que vinha me buscar
chegou. Sentei e agradeci ao condutor.
O local da festa era um salão enorme, com várias mulheres bem
vestidas ostentando joias que deveriam custar dez anos do meu trabalho.
Muita bebida e comida. Parecia que a nata da sociedade se encontrava ali.
Procurei o senhor Ogro e o avistei ao lado de uma morena muito bela e
um senhor de cabelos grisalhos que, pelas minhas pesquisas, seria o senhor
Josué, dono da Mex.
Como se tivesse sentido minha presença, Pedro se virou e me viu.
Depois de ter passado o susto com a minha mudança, abriu um lindo sorriso.
Nunca o tinha visto sorrir tão espontaneamente assim.
Fui ao seu encontro, me sentindo deslocada com tanta gente rica ao
meu redor. Os homens nem eram discretos ao me encarar, enquanto as
mulheres me observavam com inveja. Mas meu olhar era todo para ele.
O homem estava lindo naquela roupa de gala toda preta, parecia um rei.
Destoava de todos ali, porque exalava poder, atitude e sexualidade.
— Seja bem-vinda, dona Isabel. Gostaria de lhe apresentar ao senhor
Josué, das empresas Mex, e à senhorita Aline, sua filha. Essa é minha
assistente, Isabel Santana.
— Muito prazer. — Apertei a mão do homem e balancei a cabeça para
a senhorita. Mesmo porque ela fez questão de me ignorar.
— Só você mesmo pra trazer uma assistente para uma festa —
comentou a moça, azeda.
— Onde fica sua agência? Quero uma mulher bonita assim para
trabalhar comigo — falou o velho babão, olhando para meus peitos.
— A dona Isabel é extremamente importante para a empresa. Para que
serve uma assistente se não podemos contar com elas? — brincou o senhor
Ogro.
— Verdade, meu rapaz.
O garçom foi passando, peguei uma taça e dei um gole na bebida. A
noite seria longa.
Sorrindo descaradamente, o senhor Ogro piscou para mim. Idiota!
CAPÍTULO 5
Já eram duas da manhã e ainda não conseguia entender por que estava
naquele evento. O sapato estava me matando, já tinha tomado várias
margueritas, fora outras bebidas que nem conseguia lembrar o nome. Sem
contar o monte de ricaços metidos à besta com os quais tive de dançar.
Encontrava-me sentada numa cadeira, tentando mexer um pouco os
pés, enquanto o senhor Ogro estava sentado em uma mesa próxima, falando
com algumas pessoas que nunca tinha visto e, sinceramente, sequer tinha
interesse em conhecer.
Queria era minha cama, urgente.
Isso sem contar o tanto de cantadas que levei, todas ridículas e sem
noção. Por que todos achavam que mulheres sozinhas em festa era sexo fácil?
— Cansada?
Virei e me deparei com o meu chefe sentando-se do meu lado, me
encarando. Aquele olhar me deixava sem graça e desconcertada, pois era
intenso e parecia esconder mil segredos. Ele trazia à tona tudo que eu gostaria
de repelir, e cada vez mais eu tinha a certeza de aquele homem seria minha
perdição.
— Sim, estou. O senhor ainda precisa de mim? — Virei para o outro
lado, doida para fugir dali. Para variar, parecia me ignorar.
— Foi uma noite produtiva. Percebi que a senhora dançou muito e se
divertiu.
— Não tanto o senhor pensa, mas sim…
— Bem… Então, para fechar a noite, falta a minha dança.
Encarei-o de repente e notei a mão estendida. Fiquei na dúvida se
aceitava aquela dança. Desconhecia aquele jogo. Na minha opinião, tinha
deixado claro os meus receios.
— Não mordo, Isabel. Só quando você pedir…
— Acho melhor voltar para o meu quarto.
Com certeza, naquele momento devia estar pegando fogo.
— Você tem medo do quê, Isabel?
— Sou uma mulher casada!
— E quem disse o contrário? O seu marido deixou isso claro para
todos, hoje à tarde.
Fiquei sem entender o que ele queria dizer com aquelas palavras.
— Como assim?
— Quando ele ligou para o hotel insistentemente, à sua procura, é
claro. Parece ser um homem possessivo.
Ah, aquilo…
— Nós tivemos uma discussão, foi isso.
— Imaginei… Ele deve ter medo de perder uma ave tão rara e bela. Eu,
se fosse ele, também teria.
— O senhor não deveria dizer essas coisas.
— Verdade… Mas foi só um elogio. Vamos dançar e dar a noite por
encerrada, tudo bem?
Assenti. Fomos à pista de dança, onde uma música lenta tocava, e
começamos a dançar. Era maravilhoso ter a mão dele ao redor de minha
cintura, a respiração tão próxima, os corpos quase juntos… Mas é errado
desejá-lo. Por isso, prometi apenas guardar na memória aquele momento
mágico. Algo só para mim…
— Amanhã pela manhã vamos tomar café com o senhor Josué.
A voz dele em meu ouvido trouxe-me de volta à realidade. Dei um pulo
e meus pelos se arrepiaram de prazer diante disso.
— Está com frio?
— Não, só foi um vento.
— Imagino. Parece um passarinho assustado.
Para minha sorte, nesse momento a música acabou. Eu apenas me
afastei, à procura de voltar à respiração normal.
— Que pena… Estava adorando dançar com você.
Aquele jeito de me encarar prometia tanta coisa… Era, sem dúvidas,
um homem intenso. O comportamento dele me levava a crer que estava
interessado em mim, e me sentia presa a essa hipótese, desejando algo mais,
lutando contra os meus sentimentos… Era perigoso ficar perto dele.
— Vou para meu bangalô. Boa noite, senhor Pedro.
Falei bem devagar para não gaguejar.
— Boa noite, Isabel. Tenha excelentes sonhos.
Virei e quase saí correndo, apavorada. Sabia que o fato de achar que era
casada o mantinha longe de mim. Mas por quanto tempo?
Assim que fechei a porta, tirei o vestido, tomei um banho e me joguei
na cama, exausta. Acabei esquecendo de perguntar o horário que seria o
maldito café da manhã no dia seguinte. Estava ali à trabalho e precisava focar
nisso, ou pegaria o primeiro voo para longe daquele homem lindo e proibido
Joguei-me na cama com os fones de ouvido, ligando a música no
máximo. Adorava dormir com som, mas naquela noite mal escutei, pegando
logo no sono.
Acordei com batidas insistentes na porta. Levantei ainda bêbada de
sono, com ressaca. A boca parecia que tinha chupado milhares de pregos.
Abri a porta abruptamente, esquecendo-me que usava apenas uma
camisola curta e transparente.
— Desculpa acordar a senhora, mas está atrasada para o café.
Percebi que era o meu chefe ao sentir o calor dos olhos dele
percorrerem o meu corpo.
— A senhora não deveria abrir a porta vestida desse jeito.
— Desculpa, foi o reflexo do sono…
Virei correndo para pegar o penhoar e acabei piorando as coisas,
porque tive que me abaixar para pegá-lo perto da cadeira, deixando parte da
minha bunda à vista. Ouvi-o dar um gemido…
Nem tive tempo de me virar. Logo suas mãos me puxavam para o
corpo dele, tirando a minha razão.
— Não me provoque, passarinho… Respeito o seu relacionamento, mas
temos que ser sinceros que existem uma atração mútua aqui – a voz sussurrou
no meu ouvido, tirando o meu ar.
Ele me virou e a boca domou a minha, a língua me invadindo
possessivamente, meus cabelos puxados com força entre seus dedos. Ele
estava excitado, eu podia sentir na calça dentro roçando em mim, enquanto a
mão passava pela barra da minha camisola.
Com isso saí do transe. Empurrei ele, correndo para o outro lado do
quarto, mantendo distância, mesmo querendo fazer o oposto.
Ele passou a mão no cabelo e apontou o dedo na minha direção.
— Não vou pedir desculpas. Você estava gostando tanto quanto eu.
— Eu nem te convidei a entrar…
— No entanto, abriu a porta. Agora é tarde para arrependimentos. —
Pareceu voltar a si, mostrando o lado frio que tinha no escritório. —Vista-se.
Estarei te esperando no restaurante.
Saiu batendo a porta e fiquei ali, parada, sem saber o que fazer. Tinha
vontade de sumir…
Por que isso tinha que acontecer comigo?
Logo eu, que sempre quis marido e filhos para mimar. Não queria
aquela vida de amante. Era impossível para eu lidar com aquilo.
Corri até o banheiro e tomei um banho rápido. Optei por um vestido
leve de verão rosa com uma fenda na lateral, que se moldava bem à minha
pele. Precisava esquecer aquele equívoco, aquela loucura toda. E aquele era o
traje mais discreto e adequado para a ocasião.
Segui até o restaurante e fui encaminhada pela recepcionista até a mesa
onde os dois homens me aguardavam. Assim que cheguei, ambos se
levantaram para me cumprimentar.
Sentei na cadeira, totalmente sem graça com toda aquela atenção. Pedi
o meu café sem olhar o ogro do meu chefe diretamente. Passei o tempo todo
ouvindo a conversa em silêncio, mexendo na fruta que estava no meu prato,
embora tivesse perdido a fome.
— Minha empresa é referência na área, isso não se contesta…
— Com certeza não me lembro de ter visto sua proposta junto às
outras.
— Deve haver algum engano, pois tive várias reuniões com seu
funcionário.
— Imagino que sim.
— Como sou um homem precavido, e ontem, pela nossa conversa,
percebi que o senhor não tinha conhecimento da proposta, eu a trouxe
comigo. Isabel?
Passei a pasta com os contratos para o senhor Josué, que começou a ler
e fazer perguntas. Respondi a todas calmamente, explicando cada cláusula,
das quais conhecia todos os detalhes, pois estudei na viagem até ali, e antes
mesmo disso, para outra reunião com o funcionário do homem.
— Parabéns, Pedro, que menina brilhante! Vou acabar roubando-a de
você.
— Não faça isso. Dona Isabel é um tesouro e não pretendo deixá-la ir
tão fácil.
Percebi que ele não estava mais falando de trabalho, e sim de nós.
Agradeci ao elogio e me virei para tirar o cabelo preso em meu rosto,
deparando-me com seu olhar diante da minha falsa aliança.
— Vou querer uma cópia dessa proposta. Quero ler e te darei uma
resposta até a hora do almoço — decretou o empresário, levantando-se da
mesa.
— Pode ficar com essa via — avisei. — Vou imprimir as originais e
enviá-las para o bangalô do senhor agora mesmo.
— Menina inteligente. Faça isso — falou ao sair da mesa.
— Parabéns, Isabel. Acho que fisgamos o peixe — ouvi ele murmurar
assim que o outro saiu das nossas vistas.
— Creio que sim. Até o fim do dia ele terá assinado.
— Sem dúvida. — Pedro falava olhando para a porta por onde o senhor
tinha acabado de sair.
Levantei, deixando o guardanapo na mesa e pedi licença.
— Tem programa para hoje?
— Se o senhor não for precisar de mim, pretendo participar de algum
passeio com mergulho.
— Fique à vontade… Mas na hora do almoço temos que almoçar com
Josué e a filha.
— Tudo bem. Com licença.
Corri então para fazer a minha inscrição para mergulhar e rapidamente
passei pelo bangalô para colocar um biquíni, louca por aquela experiência.
Logo estava diante do professor. Seguimos de bote até o recife mais
afastado, onde recebemos instruções de como nos comportar na água, e então
colocamos o aparelho. O instrutor era gato e muito simpático. Deu-me toda a
atenção, mergulhou comigo mostrando os corais, além de tirarmos muitas
fotos. Voltamos para a praia perto da hora do almoço.
No caminho para o bangalô, o professor, que se chamava Fábio,
acompanhou-me comentando sobre as aulas e o passeio. Estávamos em meio
às gargalhadas diante de uma de suas experiências quanto às aulas, quando o
senhor Ogro apareceu.
Ele olhou friamente para o Fábio, que sentiu o clima e logo se
despediu, indo embora. Continuei andando e o ignorei completamente. Não
lhe devia satisfação alguma. Estava na minha hora de folga… Mas precisava
ficar longe de encrenca.
— Mais um admirador? A senhora trabalha rápido.
— Não estou entendendo o que quer dizer. — Parei e o encarei.
Quem ele pensava que era?!
— Depois de me beijar já foi pegar o instrutor de mergulho.
— Em primeiro lugar: eu não te beijei. Segundo: não tem o direito de
fazer insinuações maldosas a meu respeito. O fato de ser meu chefe nunca lhe
deu o direito de falar o que bem entendesse.
— Olha, passarinho, vou dizer uma coisa… — Apontou a dedo para
mim, medindo-me de cima a baixo. — O único homem fora seu marido que
pode te olhar com desejo sou eu. Mesmo que negue, já sou dono dos seus
pensamentos. Mesmo que recuse, não consigo pensar em outra coisa.
— Você é louco!
— Pode ser, mas só estamos adiando o inevitável. Quero você,
passarinho, e vou tê-la. E isso é recíproco.
Soltou meu queixo, deu meia volta e foi embora, deixando-me de
pernas bambas.
Fui até o bangalô, entrei fechando a porta com força, e andei de um
lado para o outro. Como havia me metido naquela merda? Estava perdida! O
pior é que, mesmo sendo tão prepotente, havia dito apenas verdades.
Deus! Teria, mais uma vez, que voltar para a vida dos sem teto.
Desempregada? Eu jurei que nunca mais venderia meu corpo, seria
humilhada ou faria alguma coisa que me envergonhasse. Estava apavorada
diante dos acontecimentos, mas já tinha vivido fases piores em minha vida.
Não era um macho cheio de tesão que me assustaria. Ele não destruiria os
meus planos.
Chorei sentada na cama e depois de extravasar meus medos através das
lágrimas, prometi a mim mesma que não iria fugir. Nunca mais.
Coloquei o vestido rosa por cima do biquini e fui almoçar. Ao chegar
em nossa mesa, ninguém estava presente. Sentei e aguardei os demais. Estava
com toda papelada sobre o negócio nas mãos, pronta. Afinal, foi para isso
que fui ali, a trabalho. Era isso que faria.
— Vejo que estamos atrasados …— O senhor Josué foi o primeiro a
chegar, junto da asquerosa filha, usando um vestido que só cobria metade do
traseiro inexistente.
Fui surpreendida pela pasta de documentos jogada por ele diante de
mim.
— Li o contrato e gostei muito da proposta. Não sei por que ninguém a
discutiu comigo antes, mas vou me informar. Já assinei tudo e peço que envie
minha via para o escritório, por favor, na segunda-feira.
— Sim, claro. Providenciarei agora mesmo. — Quando fiz menção de
levantar, ele segurou o meu braço e fez com que sentasse. Era um homem
forte para a idade.
— Não agora. Hoje vamos nos divertir. Temos uma festa à noite e
quero vocês conosco. — O homem parou um pouco, a respiração pesada de
repente. — Estou cansado, acho que vou pedir o almoço no quarto.
— O senhor está bem, papai?
— Estou bem, linda, só cansaço. Coisas da idade…
— Então almoçarei com o senhor. Peça desculpas ao Pedro por nós,
Isabel… — O tom de voz dela era de desagrado antes de ir embora. Com
certeza, pelo olhar, odiou não almoçar com o senhor Ogro.
Resolvi que estava com fome e não ficaria esperando meu chefe chegar
para comer, então fiz o pedido. Uma bela salada de lagosta, já que não estava
pagando mesmo.
— Desculpa a demora… — Ele se aproximando com pressa.
— Já fiz meu pedido — avisei, bem séria, e empurrei os papéis para
perto dele, que os pegou, intrigado.
— O senhor Josué pediu desculpas por não poder participar do almoço,
mas estava cansado e foi almoçar no quarto.
— Ele já assinou? Bem que você disse… — Ele olhava os papéis e
depois desviou o foco para mim. Foi quase um gesto de amante, suave e
desejoso.
— Ele pediu que disponibilizemos uma cópia autenticada na segunda-
feira.
— Tudo bem — ele concordou, pegando minha mão sobre a mesa. —
Isabel, sobre aquela conversa de hoje à tarde…
— Não quero falar sobre isso, por favor. — Interrompi, me afastando.
— Tudo bem. Se esse é seu desejo… — falou, chamando o garçom
para fazer o próprio pedido. — Mas saiba que não retiro nada do que disse.
— Como pode falar assim? Somos casados!
— Tem coisas na vida que são inevitáveis. É como um ônibus vindo
em nossa direção, sem freios.
— Não acredito nessa coisa de destino. As pessoas inventaram isso
para justificar seus atos.
— Não acha que sei a verdade? Está morrendo de tesão por mim! Deve
pensar em nossos corpos se pegando na cama…
— Você é louco. Fale baixo!
— Pensa que desejo isso para minha vida? Foi como um soco a hora
que vi a senhora naquele ridículo vestido cinza, mas eu lhe desejei.
As palavras foram interrompidas pelo garçom, que trouxe nossas
bebidas e meu pedido.
Ele pegou a taça de vinho branco e levou aos lábios, me encarando.
— Não vai ser fácil resistir e confesso que nem tenho mais esse desejo.
— Meu marido vai matar você!
— Morro feliz, mas terei exorcizado esse desejo em mim, porque não
penso em outra coisa a não ser ter seu corpo embaixo do meu, gemendo meu
nome.
Engoli em seco enquanto o desgraçado tomava mais vinho e falava
calmamente, como se tivesse discutindo sobre o clima.
— Realmente não tem respeito pelas pessoas. Vou processar você por
assédio sexual. — Jogando o guardanapo na mesa, levantei para sair,
passando por ele, mas Pedro segurou minha mão com força. Não podia fazer
uma cena, havia várias pessoas olhando.
— Não adianta correr, Isabel. Vou te provar que seremos ótimos na
cama. Depois pago milhões aos meus advogados, vou até para a cadeia se
quiser, mas antes… — Me olhava com arrogância antes de soltar a minha
mão.
Meu coração batia como um tambor. Saí em disparada para a praia,
tirei o vestido e me joguei no mar. Precisava de um banho frio, pois as
imagens dele nu comigo, dos nossos gemidos, do sexo… Tudo invadia minha
mente. Eu tinha que me acalmar.
Sentei na areia e fiquei parada, olhando as ondas. Estava mais calma…
Tinha que traçar um plano para continuar na empresa, mas sem ficar perto do
Pedro. Não podia perder aquele emprego, não agora que estava organizando a
minha vida, pagando minhas contas, comendo direito. Merecia essa
organização, uma vida calma, já tinha sofrido demais.
Deus sabe quanta fome passei, humilhações… Só estava viva por conta
do Diogo. Ele merecia que eu fosse vitoriosa depois de tudo que fez por nós,
após tanta dor. Não deixaria a luxúria me dominar.
— Falando sozinha, gatinha?
O instrutor de mergulho sentou ao meu lado.
— Só estava pensando na vida mesmo.
— Hummm, imagino… Esse lugar lindo deixa a gente pensativo, de
fato.
— Realmente, o lugar é muito bonito. Como vim a trabalho, não vi e
nem curti quase nada ainda.
— Estou de folga hoje à tarde. Precisa de um guia? Posso te mostrar as
coisas que têm por aqui.
— Não sei se devo. Estou à disposição do meu chefe.
— Aquele mal encarado?
— Sim — respondi, dando risada.
— Relaxa. Ele foi para a sala de jogos com um monte de figurões, com
certeza não sai de lá tão cedo. Eles adoram aquela sala.
— Tudo bem, então. Já que estou aqui, por que não me divertir?
— É isso aí!
Segui o Fábio pela praia e foi a melhor coisa que fiz. Maravilhoso o
passeio, ele era um excelente guia. Levou-me para andar no banana boat,
jogar tênis — claro que foi um fiasco total, por que nunca tinha jogado, mas
foi muito divertido —, andamos de lancha pelas pequenas ilhas e tomamos
banho de piscina. No fim da tarde estava exausta e muito contente por ter me
concedido esses momentos.
Perto do bangalô nos despedimos e combinamos de tomar um drinque à
noite, já que seria minha última naquele paraíso.
Sorte, Passarinho!!!!!
Ele ainda mandava e-mail para acabar comigo de vez. Deus, o que eu
faria para resolver essa situação?
Preferi não responder, mas mais tarde, outro chegou entrou em minha
caixa de entrada.
Estou excitado até agora. Ainda sinto seu gosto na minha boca.
Você está linda. Vou ter que matar todos os homens desta
empresa. Não quero ninguém olhando para você!
Ele ficou sem responder. Assim era melhor. Como alguém pode se
casar, fazer festa e tudo, para depois trair, sem sentimento nenhum de culpa?
O silêncio durou pouco tempo.
Resolvi responder.
Boa noite!
CAPÍTULO 10
Acordei com olheiras enormes, que tentei esconder com um corretivo
amarelo, mas sem sucesso. Coloquei uma calça preta e uma camisa social
vermelha, com sandálias da mesma cor. Fiz um coque frouxo e saí para tomar
café junto com os meninos, já que ninguém estava com ânimo para cozinhar.
Já sentados em uma lanchonete, o Gio teve uma ideia.
— Bel, meu primo está vendendo o carro dele. Você poderia comprar.
— Não tenho dinheiro, gato.
— Tem sim, Isabel. Você andando de ônibus nem combina.
— Ué, ganhei na Mega Sena de ontem para hoje, lindo? Porque não me
lembro dessa grana, não… — Mordi meu delicioso pão com manteiga.
— Isabel Maria!
— Não fala meu nome alto. Ninguém precisa saber, Diogo.
Odiava o “Maria” do meu nome e ele sabia disso.
— Bel, lembra da grana que te mandei e nunca chegou em sua conta?
Peguei de volta. Você devia conferir sua poupança.
Fui até o aplicativo do banco no celular e acessei a conta. Tinham
tantos zeros no saldo que dava para comprar um carro novinho e ainda
sobraria.
Comecei a chorar ali mesmo, na lanchonete. Não merecia aquele
dinheiro. Fui até o Diogo e o abracei.
— Você não deveria ter feito isso!
— Merece ainda mais, Bel. Não tenho como pagar por tudo, mas posso
cuidar de você como se deve.
— Te amo, irmão. Para sempre.
— Também te amo para sempre.
— Poxa, vocês dois vão me fazem chorar assim. Essa amizade é tão
linda que sinto orgulho, como se fosse comigo.
Acabamos abraçando o Gio também e fizemos um aperto de urso.
Todos olhando, nos achando um bando de malucos… Mas aquilo não
importava, porque nos amávamos e pronto.
Resolvemos que iríamos no fim da tarde olhar o carro. Fiquei radiante
de felicidade. Cheguei sorrindo na empresa, e assim que entrei no elevador o
celular vibrou com uma mensagem.
Isso é ótimo. Fico tranquilo por não precisar mais pegar ônibus.
Ok!
Sabia que ele não tinha gostado de ser trocado pelo Gio, mas era
impossível fazer diferente. O Diogo estaria lá e se o visse teria de dar uma
explicação que, no momento, me recusava a dar.
Entrei na minha sala e fui recebida com uma xícara de café pelo João.
Não entendi tanta gentileza.
— O contrato chegou e já foi assinado, assim como a cópia escaneada e
enviada por e-mail. Tudo deu certo, graças a você.
— Maravilha! Realmente, temos que comemorar com esse belo café.
Obrigada!
— Eu que agradeço por salvar minha pele.
— Nossa pele! Afinal, somos uma equipe. Tudo que acontece aqui
reflete no grupo como um todo. Então vamos trabalhar para descobrir por que
isso vem acontecendo?
— Com certeza. Vamos ficar de olho. Mais uma vez, obrigado, Isabel.
— De nada. Pode contar comigo sempre que precisar.
Assim que eu saí, meu telefone interno tocou.
— Isabel…
— Bom dia, passarinho.
— Bom dia.
— Você está linda. Na realidade, mais que isso.
— Obrigada. Percebeu que conseguimos fechar o contrato?
— Soube desde ontem, mas tinha outra coisa na mente e acabei
esquecendo. — Sabia quais eram os pensamentos dele e dei risada.
— Você não tem jeito.
— Quero um beijo. Venha me ver, Isabel. Estou morrendo por causa de
você.
— Mais tarde passo aí. — Desliguei o telefone.
Voltei ao trabalho com carga total. Estava imensamente feliz e nada
acabaria com o meu bom humor.
Almocei na empresa mesmo, pois queria sair mais cedo. Estava em
meio a uma digitação de um e-mail quando o entregador apareceu me
procurando.
— Isabel?
— Sou eu.
Recebi uma linda violeta e junto um pingente de passarinho. Nem
precisava dizer quem tinha enviado. Agradeci ao entregador e fiquei olhando
para o presente sem saber qual atitude tomar.
— Quem mandou está apaixonado — comentou a Cris da porta da sala.
— Será? Você atende meu telefone por uns minutos? Preciso ir ao
banheiro.
— Claro que sim, vai lá.
Na verdade, queria vê-lo e consegui a melhor desculpa para isso.
— Gio, o senhor Pedro pode me atender agora?
— Claro, Bel. Acho que ele adivinhou isso, porque disse que era para
deixá-la entrar na hora que chegasse.
Ele sabia qual seria minha reação ao receber a violeta. Entrei na sala
sorrindo. Aquele homem era o ogro mais lindo que podia imaginar.
Fui recebida por braços fortes e uma boca faminta. Não sei como fomos
parar no banheiro privativo. Em minutos estava sobre a pia, sem calcinha e
com ele entre minhas pernas, lambendo o meu clitóris. Gemia loucamente…
— Passei o dia pensando em fazer isso. Tive de me segurar para não
invadir sua sala.
— Ah, vou gozar… Ai, ai, delícia.
— Sim, é culpa sua. Estou faminto por você.
— Deus… — Soltei um gemido longo e gozei.
— Caralho, você é deliciosa.
— Você é louco! O Gio vai acabar descobrindo.
— Sei disso. Podia facilitar e dormir comigo hoje.
— Você sabe que não posso!
Ele lavou a mão na pia, enquanto eu tomava uma rápida chuveirada.
Com minha resposta ele amarrou a cara, zangado, dando-me as costas.
Abracei-o, tentando deixá-lo mais calmo.
— Você me prometeu um tempo, lembra?
— Não condene um homem apaixonado.
— Perdoado — falei, beijando suas costas.
Ele virou e me beijou na boca com força.
— Estou morrendo por você, passarinho. É difícil não poder ficar perto,
nem assinar o cartão como gostaria hoje.
— Eu sei, mas não quero destruir o seu casamento, Pedro.
— Esse é um problema que vai além da minha mulher, mas preciso
sentar e conversar com você.
— Concordo.
— Então dorme comigo hoje? — Fez cara de guloso.
— O Gio vai comigo comprar o carro e depois vamos comer pizza.
— Entendo…
Mais uma vez o olhar dele ficou frio e distante.
— Vamos marcar uma pizza só nos dois outro dia. O que acha?
— Tudo bem, Isabel. Eu sei que no momento é impossível sair como
namorados.
— Tudo bem. Vou indo, então. — Beijei-o rapidamente mais uma vez.
Ele aprofundou o carinho, como se recusasse a me deixar ir. Nossa
situação ficava cada vez mais complicada, pois queríamos coisas que não
poderíamos nos dar naquele momento.
Despedi do Gio, que me olhou com uma expressão de pena. Preferia se
manter de fora.
Voltei para a sala e fiquei olhando minha violeta, que coloquei ao lado
das flores que havia recebido anteriormente. Ninguém nunca se preocupou
em um gesto desse antes, e nunca me preocupei com isso também. Afinal, a
prioridade era me manter viva. Nem imaginava como era receber mimos
como aquele.
Obrigada pelas flores e o pingente.
Te amo. Saudades!
Fiquei tão irada que destruí o buquê, joguei-o no chão e pisei, na frente
de um porteiro de olhos esbugalhados. Fui então até o lixo e coloquei tudo lá
dentro. Estava na hora de parar de fingir que ele me amava. Aquilo nunca foi
amor, e sim loucura.
Subi até o apartamento quando uma dor súbita me acometeu no
elevador. Quase não consegui chegar até a porta de casa. Dei um grito e senti
sum líquido vazar entre as pernas. Passei a mão e era sangue.
Comecei a gritar por socorro e o Diogo abriu a porta, desesperando-se
ao me ver.
Pegou o celular e chamou uma ambulância.
— Calma, Bel, vai ficar tudo bem… Respira fundo.
Estava doendo demais, era insuportável. Em meio aos gritos a
ambulância chegou. Fui medicada e apaguei antes de chegar ao hospital.
CAPÍTULO 14
Acordei confusa, mas aos poucos fui entendendo onde estava. Olhei
para o lado da cama e, como sempre, meu cavalheiro de armadura brilhante
estava lá, sentado em uma poltrona, dormindo.
A enfermeira entrou e abriu a janela, fazendo com que Diogo
despertasse, assustado. Ele se virou para mim e deu um pequeno sorriso.
— Tudo bem, princesa? Alguma dor?
— Vou chamar o médico e dizer que ela acordou — avisou a
enfermeira, olhando para Diogo com admiração. Ele sempre causava isso nas
mulheres. Uma pena para elas.
— O que houve, Diogo? Só me lembro da dor e mais nada.
— Eles sedaram você, Bel. Você…
— Sim…
O olhar dele estava quebrado e triste.
Quando ia continuar, o médico entrou no quarto sorrindo, mas era algo
que não chegava aos olhos.
— Como vai, dona moça? Nos deu um grande susto.
— O que houve comigo, doutor?
Ele olhou para o Diogo, que se virou para a janela. Fiquei com medo da
resposta.
— Eu preciso saber. Diogo, o que está havendo?
— Conte a ela, doutor. — Meu amigo veio para perto da cama e
segurou-me a mão.
— A senhora sofreu um aborto. Estava com oito semanas de gestação.
Eu estava grávida? Como, se sempre tomei remédio?
— Perdi meu filho? Eu nem sabia que estava… Por quê?!
— Na verdade, dona Isabel, a senhora tem endometriose, o que lhe
impede de engravidar ou segurar uma gestação. Dificilmente a senhora será
mãe por vias normais.
Aquela foi a minha sentença de morte. Levei anos sonhando em ser
mãe. Nada, nem mesmo as pancadas que os homens me davam quando
bebiam demais, o estupro sofrido, nenhuma dor me preparou para aquele
vazio em saber que jamais geraria uma criança em meu ventre.
Meus gritos foram ouvidos por todo o hospital. Podia morrer naquele
momento porque nada mais fazia sentindo. Nada mesmo.
No dia seguinte recebi alta e fui direto para casa. Lá encontrei o
apartamento todo florido, e em cada ramalhete encontrava-se um cartão.
Peguei um e li.
Te amo, não esquece!
— Jogue todas no lixo — decretei e fui direto pra cama.
Diogo nem discutiu. Silenciosamente, fez o que pedi.
A partir daquele dia tornei-me uma máquina. Fazia tudo
mecanicamente, dificilmente sorria ou conversava com meus amigos.
Voltei ao trabalho, sem querer permanecer em casa. Aquele
apartamento estava me deixando nervosa, cheio de lembranças. Procurei
então outro local para morar.
Uma noite, quando voltei para casa, dei boa-noite aos meninos que
estavam na sala e fui para o quarto. Era essa minha rotina naqueles tempos.
Só que dessa vez, de lá pude ouvir uma conversa.
— Até quando acha que vou conseguir enrolá-lo? O cara está igual
siri na lata, quer notícias toda hora.
Era Gio que falava.
— Ela vai falar com ele quando achar que deve. Pedro causou isso,
então tem de aguentar — Diogo retrucou.
Pedro tentou manter contato. Soube que teve de voltar para São Paulo,
o sogro continuava em coma e a família unida lá… Mas isso não me
interessava mais.
— Sei disso, mas tente entender… O cara está com o sogro em coma, a
empresa está um caos por conta da descoberta do Henrique como traidor.
Todo mundo sob suspeita, ele não pode confiar em ninguém lá dentro. É
complicado… A família da mulher cobrando que dê …
— E a Bel perdeu o filho sozinha! O cara estava lá? Não! Sinto muito
se não tenho pena dele.
— Eu entendo, mas Pedro nem sabe que isso aconteceu.
— E não vai saber, entendeu, Gio? Nunca por nossa boca…
— Não sou dedo-duro, Diogo! Assim você me ofende. Eu amo a Bel,
mas poxa, o cara é casado e cheio de problemas. Ela sabia que poderia
terminar assim.
— Você quer dizer que a culpa é dela? É isso? Não acredito…
— Não falei isso. Só acho que temos de analisar os dois lados.
— Olha, ser mãe era o maior sonho dela… Se estivesse lá e visse a
cara dela ao descobrir que nunca seria, Gio!
Mais uma vez eu era culpada pelos problemas de relacionamento do
Diogo com alguém. Isso tinha que acabar. Ninguém merecia o meu fardo.
Com um plano traçado na cabeça, tranquei a porta do quarto e comecei
a arrumar as malas. Já tinha passado da hora de resolver minha vida.
Coloquei tudo no carro sem acordar ninguém.
Acordei cedo naquele dia, coloquei a roupa de malhar e saí para correr
na praia. Não podia chamar atenção mudando a rotina.
Na volta encontrei os meninos tomando café e uma forte tensão no ar.
Entrei, tomei banho e me arrumei. Coloquei o uniforme como de costume.
Tomei café em silêncio.
Meu coração estava partido, mas precisava fazer aquilo. Por todos nós.
Fui até o Diogo e sentei em seu colo, beijando-o no rosto.
— Te amo, meu irmão. Obrigada por tudo que vem fazendo por mim.
Ele me olhou, estranhando aquilo. Há dias que eu andava respondendo
com monossílabos e naquele dia resolvi falar. Tinha que mudar o foco. Ele
sempre acabava descobrindo tudo que pensava.
— Também te amo, Bel. Fico feliz que esteja reagindo bem, isso me
deixa mais em paz.
— Vai dar tudo certo. Tenha certeza que amo muito você.
— Você parece diferente. O que está aprontando, Isabel Maria? — Ele
me encarou e fiquei com medo que meu olhar me entregasse.
— Nada, meu amigo. Só estou com vontade de dizer que amo vocês
mesmo. Agora preciso trabalhar.
Passei pelo Gio e também dei beijos em seu rosto, calmamente, como
se por dentro não estivesse me desfazendo em pesar.
Segui para o quarto onde peguei minha bolsa e fui até a porta. Os dois
continuaram ali, olhando para mim.
Soprei um beijo e fui embora, só que dessa vez para sempre.
A CARTA
Estava cansado pra caramba. O dia foi complicado, com vários
contratos para analisar, muita coisa para organizar na empresa, mas estava
feliz. Só de imaginar que estava de volta ao Brasil, junto da Isabel e
namorando um cara tão legal como o Giovano… Ah, eu não gostava daquele
apelido, Gio. Era meio pobrinho, mas se ele preferia… Aquele era um cara
muito especial.
Pensei em dizer sobre o apelido, mas sei que rolaria a maior briga…
Mas se seguir aquele delicioso pega de reconciliação, por que não?
Sorri só de imaginar a cena e estacionei na vaga do prédio. Esperava
que a Isabel tivesse chegado, pois precisava falar com ela. Já estava na hora
dela voltar a viver e parar de se esconder.
Aquele imbecil do Pedro precisava saber do filho que tinha perdido!
Minha amiga ignorou todos os telefonemas do cara, jogou as flores fora…
Não que fosse fã dele. Achava homens daquele tipo uns babacas. Idiotas que
tinham dinheiro e se achavam no direito de enganar as pessoas conforme
queria. Minha vontade era de quebrar a cara do imbecil.
Entrei em casa, jogando a maleta no sofá. Olhei o cômodo, pensando
que era hora de arrumar um apartamento maior, mais arejado. Imaginava que
a Bel gostaria da ideia. Quem sabe o Gio pudesse morar conosco?!
O apartamento estava silencioso quando cheguei. Fui no quarto dela e
em cima da cama havia um envelope vermelho. Não sabia o porquê, mas
aquela visão me deu um frio na barriga.
Peguei-o e vi que estava endereçado para mim, com a letra da Bel.
Antes de abrir, fui para a sala e sentei no sofá, olhando para ele por um
tempo. Tinha medo de lê-lo, o choro já vindo com força do meu peito.
Foi desse jeito que o Gio me encontrou, com o envelope na mão e a ira
jorrando junto com as lágrimas.
Ele me abraçou e ficamos ali sentados, mas precisava fazer alguma
coisa. Arrancar o coração daquele babaca que quebrou minha menina. Ele
pagaria.
Levantei-me, disposto a fazer isso, enquanto Gio lia o que estava
escrito, assim como eu fiz antes.
— Onde você vai, Diogo? Acalme-se.
— Estou calmo. Só vou dar uma volta.
— Sei que é mentira, você vai atrás dele! Não faz isso. Não é o que ela
deseja, pense bem!
— Não me venha com suas suposições. Sabe por acaso o que ela
passou? Foi comigo que ela cresceu e esse cara precisa pagar pelo que fez.
Depois que eu acabar com esse imbecil, vamos encontrá-la.
Saí batendo a porta, muito nervoso.
Cheguei ao prédio do idiota em minutos, depois de dirigir feito louco
pela cidade.
Vou matar aquele cara, jurei a mim mesmo.
Entrei no prédio sem me anunciar, com sede de sangue. Fui até o
elevador com o porteiro correndo atrás de mim.
Cheguei no andar dele e toquei a campainha insistentemente.
Ele abriu a porta com cara de poucos amigos, e ao me reconhecer deu
espaço para que entrasse.
— O que houve com a Bel? Fala! — exigiu, apressado, sabendo que
alguma coisa estava errada. Quase fiquei com pena do homem, apesar dele
não merecer.
Dei um soco no rosto dele com força e em seguida nós dois rolamos
pela sala, trocando socos e pontapés. Minha vontade era arrancar a vida dele,
assim como havia feito com a minha menina.
— Ficou louco? — Afastou-se, indo até o outro lado da sala.
— Você é um maldito babaca, um idiota! Minha vontade é dar um tiro
nessa sua cara.
— Sei que quer proteger a Isabel. Eu estou arrumando tudo para nós,
mas ela não fala comigo, nem me atende… Praticamente sumiu.
— Realmente foi isso que ela fez.
— Do que você está falando? — Veio até mim, abrindo e fechando a
mão. — Onde está a Isabel?
— Ela foi embora.
Pedro ficou branco como uma folha de papel, a ponto de precisar sentar
no sofá, ainda me encarando. Senti satisfação em saber que ele estava
sofrendo com a notícia tanto quanto eu, e colocaria mais sal sobre a ferida.
— Ela deixou essa carta de despedida. Leia e sofra com cada linha.
Lembre-se que a culpa foi sua. — Joguei a carta em cima dele, e saí pela
porta.
Que ele se matasse depois da notícia. No momento não conseguia sentir
nenhuma simpatia por Pedro, a raiva dominando o corpo, por perder a minha
amiga, a melhor pessoa em toda a vida.
Diogo,
Não guarde mágoa pela decisão que estou tomando, meu irmão. Todos
os dias pergunto a Deus por que ele me deu você, pois na maioria das vezes
não mereço seu amor.
Você é meu sol!
Desde pequeno você ria quando falava que teria cinco filhos e um
cachorro, quando faziam bonecas de restos de pano e roubava uma para
mim, dizendo “toma mais uma filhinha para você treinar”. Eu sempre achei
linda essa sua atitude, de entender que aquele era meu desejo e por
alimentá-lo.
Por isso agora me sinto tão vazia, ao descobri que carreguei por
alguns dias um ser humano em meu ventre, mas até isso me foi negado.
Você merece ser feliz. O Gio é um cara legal e te ama. Fico feliz em
saber que te deixo em boas mãos. Seja legal com ele também, e juízo! Nada
de querer mandar em tudo e todos!
Não foi fácil tomar essa decisão, mas é difícil demais viver na mesma
cidade que o Pedro. Preciso encontrar meu caminho, minha estrada, me
sentir bem. Estou quebrada para ter uma família, nunca poderei ser mãe,
realizar meu sonho. Nunca, Diogo, nunca…
Quero te livrar da minha má sorte. Já basta a culpa do nosso
passado…É meu herói, meu irmão, meu único e verdadeiro amigo. Mas
agora preciso cuidar de mim.
Fique tranquilo. Assim que estiver bem, te aviso, mas agora preciso
deste tempo, curar as feridas. Perdoe se maculei tudo que você me ensinou
sendo amante de alguém, mas eu o amava, ele era uma esperança em meio à
escuridão que foi nossas vidas. Sei que errei e estou pagando por isso.
Perdi meu filho, Diogo. Perdi o que mais desejei na vida.
Seja feliz, meu irmão.
Te amo.
Sua,
Isabel.
EPÍLOGO
Minha cabeça parecia ter sido aberta por uma furadeira. Doía muito.
Virei para a janela, sentindo-me cansada. Tentei lembrar o que fazia em
um hospital e não consegui.
Uma senhora deitada ao meu lado me olhou e sorriu, percebi que ela
apertou o botão para chamar a enfermeira. Será que estava sentindo alguma
coisa? Tentei perguntar se podia ajudar, mas a minha garganta não permitiu,
seca. Parecia que não via água há muitos anos.
Tentei me mexer, mas meus braços não obedeciam para apertar o botão
de emergência. Estava cansada, dolorida, e a cabeça não parava de latejar.
Entrou então uma mulher que supus ser a enfermeira, que me olhou
carinhosamente.
— Com sede, dorminhoca? — Foi até o outro lado da cama e colocou o
copo em minha boca. Dei longos goles.
Ela olhou meu soro e foi aí que percebi que um dos meus braços estava
enfaixado, parecia quebrado. O outro estava muito machucado.
— Vou chamar o dr. Ramires, volto logo! — Saiu em seguida do
quarto.
Poucos minutos depois ela voltou, acompanhada de um moreno alto e
muito bonito, que devia ter uns dois metros de altura, todo de branco. Deduzi
ser o tal doutor.
— Muito bem, a bela adormecida acordou.
Verificou minha pressão sempre fazendo piadinhas. Parecia uma pessoa
feliz e agradável.
— Preciso que me diga qual seu nome. Temos de avisar a sua família.
Fiquei em pânico
Meu Deus! Eu não lembrava do meu nome! A mente parecia uma
parede em branco.
— Não sei… — falei baixinho.
— Não sabe seu nome? — Ele olhou para a enfermeira, apreensivo.
— Sim. — Minha garganta doía quando tentava falar. — O que houve?
— Você sofreu um acidente de carro muito grave há um mês.
Estava totalmente em pânico. Procurei por minhas memórias e elas não
vinham. Não sabia quem eu era, nem de onde vinha.
Será que tinha alguém me esperando em algum lugar?
— Minha bolsa?
— Saquearam seu carro e levaram todos os seus pertences. Quando o
socorro chegou só te encontrou deitada na beira da estrada, muito machucada.
Já demos parte na polícia, mas até agora ninguém veio.
Os dois me olhavam com pena. Esse sentimento me desolava.
Será que era uma alma sozinha? Não, sei que não… Preciso lembrar.
Fechei os olhos fazendo esforço e minha cabeça começou a doer mais
forte. Chorei de dor.
— Não faça isso. Você teve um trauma muito grande no acidente. Aos
poucos vai começar a lembrar de tudo, então vamos aguardar. Um médico
especialista vai falar com você.
Ele passou a mão em minha cabeça e sorriu, solícito, depois fitou a
enfermeira e saiu do quarto. Ela trocou meu soro, deu um sorriso triste e me
deixou ali.
Não conseguia conter minhas lágrimas. Voltei o rosto para a senhora da
outra cama e ela me fitou com pena.
Aquilo era insuportável. Por que não morri no acidente?
Olhei para a janela e um lampejo de imagens veio, fazendo a minha
cabeça pulsar de dor.
— Isabel! Volte aqui, dona Isabel.
Eram só palavras, mas agora tinha um nome.
Isabel! Eu me chamo Isabel, repeti.
PRÓXIMO LANÇAMENTO
A FORÇA DO AMOR
Estava morto sem ela...
Depois de meses sofrendo sem saber onde estava meu Passarinho, finalmente
a encontrei, mas, mais uma vez o destino nos coloca em uma situação
extrema.
Depois de perder a memória, Isabel tem um encontro misterioso com o
homem que diz saber tudo sobre seu passado, lindo e confiante, será que ela
poderia confiar realmente nele?
Vários segredos serão revelados, Pedro e Isabel tem que lutar contra um
inimigo obscuro e ainda manter o seu amor forte, mesmo com tantos segredos
e adversidades.
Quem era de verdade nesta história?
Trecho
Sentia-me um homem morto. Não sei quanto tempo estava ali naquele
sofá com aquela carta nas mãos, mas precisava fazer alguma coisa. Eu sei que
tudo foi culpa minha, que devia ficar longe dela com toda minha merda.
Impossível, ela era minha e não iria desistir. Nunca a condenaria por ter
perdido um filho ou porque não podia ser mãe. Adotaríamos quantas crianças
ela quisesse. Faria o que fosse necessário para tê-la de volta.
Determinado, peguei o meu celular e fiz a ligação para a única pessoa
que poderia achar a mulher da minha vida.
— Miguel, quero você em minha casa em cinco minutos. — Ele
reclamou que estava jantando e amanhã passava em minha sala — Não me
importa que esteja jantando ou fazendo sei lá o quê. — Falei desligando o
celular.
Sempre conseguir que queria e não seria diferente desta vez, a Bel era
minha mulher e, portanto, voltaria para o lugar de onde nunca deveria ter
saído.
Como ela se atreve a fugir de mim, partir assim? Eu disse que não
ficaria de fora, que não adiantava ela trancar a porta, eu a arrombaria.
Atrevida! Onde poderia estar? Passei a mão na cabeça. Ela deveria ter
ficado muito magoada comigo, ela me amava, eu sei disso, como podia
desistir de nós dois com tanta facilidade?
Bati os dois punhos da minha mesa: — Droga, droga!
A campainha tocou, deveria ser o Miguel, abri e lá estava o detetive.
— Entre, tenho uma missão urgente para você. — Falei não perdendo
tempo, virei-me até o centro da sala não esperando ele me acompanhar.
— Estava jantando com minha filha, foi constrangedor! — Teve o
desplante de reclamar.
— Creio que lhe pago um salário muito bom para você me atender
quando e a hora que eu necessito de você. — Ele parecia constrangido com
minha resposta.
— Vamos ao que interessa, preciso que encontre uma pessoa, para
ontem.
— Muito bem, quem seria?
— Minha namorada. — Ele ficou vermelho com minha resposta direta.
— Humm, entendo.
— Tem todas as informações na pasta dela lá na empresa, pode pegar
no setor pessoal, quero tudo para ontem. Vou deixar bem claro Miguel, disso
depende seu emprego.
— Sei, sei... Entendi a importância do assunto.
— Muito bem.
Levei-o até a porta e antes dele sair a Lucia chegou vestida em seu
terno caro e perfume Frances.
Em breve...
BIOGRAFIA
Biografia: Bibi Santos Nordestina, baiana, formada em Administração e
professora na área, começou a escrever a uns anos, mas engavetou seus
trabalhos com medo de não consegui finalizar.
Hoje autora Best-seller Amazon com mais de 20 livros publicados.
Apaixonada por livros e maquiagem, boca suja e sincera, com humor único,
vive no interior da Bahia.