Escalas de Avaliação Do Comportamento Alimentar de Indivíduos Com Transtorno Do Espectro Autista
Escalas de Avaliação Do Comportamento Alimentar de Indivíduos Com Transtorno Do Espectro Autista
Escalas de Avaliação Do Comportamento Alimentar de Indivíduos Com Transtorno Do Espectro Autista
Keywords: Autism Spectrum Disorder; scales; eating disorders; feeding behavior; ASD.
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Endereço de correspondência: Cristiane Pinheiro Lázaro: Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Autismo
(LABIRINTO), Avenida Dom João VI, 275, Brotas, Salvador, BA. CEP: 40290-000. E-mail: [email protected]
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Cristiane Pinheiro Lázaro, Jean Caron, Milena Pereira Pondé
Resumen: El trastorno del espectro autista (TEA) se caracteriza por déficits en la inte-
racción social, la comunicación verbal y no verbal, por un perfil de patrones de compor-
tamiento repetitivos, estereotipados e intereses restringidos, y problemas de com
portamiento durante las comidas, relacionados con la selectividad alimentaria. Para
explorar el comportamiento alimentario en TEA se desarrolló una revisión sistemática
de los instrumentos de evaluación en la literatura. Se realizó una búsqueda en PubMed,
Cochrane, SciELO, Lilacs, Science Direct y Embase con la combinación de palabras
clave: autismo, trastorno del espectro autista, trastornos de la alimentación, capricho
para comer, comer, la selectividad de alimentos, problemas de alimentación, trastornos
el procesamiento sensorial, cuestionario, la evaluación, la escala, la herramienta de se-
guimiento de inventario. Se encontraron 52 estudios de los cuales cinco satisfacían los
criterios de inclusión, sin embargo, se encontraron limitaciones metodológicas en la
obra publicada y la necesidad de desarrollar un nuevo instrumento.
Introdução
Em crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro autista (TEA), são obser
vados sintomas relacionados a déficit na interação social recíproca e na comunicação
verbal e não verbal, assim como padrões repetitivos, estereotipados e interesses res
tritos nos comportamentos (American Psychiatric Association, 2013). Outras caracte
rísticas comportamentais, a exemplo de ansiedade, reações agressivas e obsessivo
-compulsivas, hiperatividade, déficit de atenção e distúrbios do sono, também são
frequentemente relatadas nesses indivíduos (Novaes, Pondé, & Freire, 2008). Além
dessa sintomatologia, pais e cuidadores de crianças com TEA relatam hábitos peculia
res relacionados aos alimentos e ao ato comer (Lockner, Crowe, & Skipper, 2008). Fa
tores intrínsecos aos alimentos podem interferir no comportamento alimentar, a
exemplo de textura, cor, sabor, forma, temperatura dos alimentos, bem como o for
mato e a cor da embalagem, a apresentação do prato e utensílios utilizados (Mari
-Bauset, Zazpe, Mari-Sanchis, Llopis-Gonzalez, & Morales-Suarez-Varela, 2013).
Em paralelo às caraterísticas do transtorno, crianças com desenvolvimento típico na
faixa etária dos 18 aos 24 meses tendem a apresentar dificuldades na aceitação de
novos sabores, o que pode originar um consumo limitado e inadequado dos alimentos
(Johnson, 2016). Esse comportamento caracterizado pela neofobia – que faz parte do
desenvolvimento infantil típico – poderá ser exacerbado no contexto de comporta
mento restritivo de TEA.
A recusa de determinadas texturas e de provar novos alimentos influencia signifi
cativamente na formação dos hábitos alimentares das crianças com TEA (Bandini et al.,
2010), contribuindo para um comer seletivo. A seletividade alimentar pode se mani
festar na recusa de determinados alimentos, em um repertório limitado de opções, ou
ainda na alta frequência na ingestão de um único alimento (Bandini et al., 2010). Não
existe um consenso quanto à classificação da seletividade alimentar, mas os problemas
relacionados à ingestão de alimentos variam desde casos leves, em que o comporta
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mento não representa um risco para a saúde, até mais graves, que levam ao risco de
desnutrição (Hyman et al., 2012). Além dos fatores intrínsecos aos alimentos, no TEA
é comum observar um grave transtorno alimentar denominado pica, que consiste na
ingestão recorrente de substâncias e objetos estranhos que não são considerados
alimentos (tinta, giz, papel, terra, carvão, entre outros) (Call, Simmons, Mevers, &
Alvarez, 2015).
Pesquisas que investigaram especificamente os problemas alimentares em pes
soas com TEA indicam que uma parcela dessa população também apresenta difi
culdades motoras orais relacionadas à mastigação e à deglutição (Sacrey, Germani,
Bryson, & Zwaigenbaum, 2014), problemas no trato gastrointestinal (TGI) (Chaidez,
Hansen, & Hertz-Picciotto, 2014) e disfunção sensorial (Cermak, Curtin, & Bandini, 2010;
Green & Ben-Sasson, 2010). Os problemas relacionados à modulação sensorial, tanto
na forma hipo quanto hiper-reativa, interferem diretamente no paladar, olfato, audi
ção, visão, tato, sistema vestibular e propriocepção (Green & Ben-Sasson, 2010). Assim,
as alterações sensoriais, musculares e gastrointestinais podem influenciar de forma
direta ou indireta a alimentação. Além disso, a seletividade alimentar pode estar asso
ciada aos interesses rígidos e restritos característicos do comportamento autista. A
investigação das particularidades do comportamento alimentar das pessoas com TEA
pode ser mais bem investigada e classificada a partir de instrumentos de avaliação
estruturados, que contemplem as diversidades dos possíveis comportamentos.
A necessidade de investigar melhor o comportamento alimentar dos indivíduos
com TEA levou alguns pesquisadores a elaborar instrumentos de avaliação que pudes
sem ser preenchidos pelos pais ou cuidadores, buscando identificar informações rela
tivas ao comportamento alimentar e a outras variáveis que pudessem influenciar a
alimentação. Este estudo tem por objetivo realizar uma revisão sistemática dos instru
mentos disponíveis na literatura que avaliam o comportamento alimentar de indiví
duos com TEA.
Método
Estratégia para busca de dados
Foi realizada busca em periódicos científicos nacionais e internacionais até o ano
de 2015, sem data inicial específica. O processo de busca dos artigos para a inclusão
nesta revisão foi realizado com a combinação das seguintes palavras-chave: autis-
mo, transtorno do espectro do autismo, transtorno alimentar, alimentação seletiva,
comportamento alimentar, seletividade alimentar, problema alimentar, transtorno do
processamento sensorial, questionário, avaliação, escala, inventário, ferramentas de
avaliação, autism, autism spectrum disorder, eating disorders, selective eating, food
behavior, food selectivity, feeding problems, sensory processing disorders, question-
naire, assessment, scale, inventory, screening tool. Os descritores foram escolhidos por
pesquisadores com ampla experiência no tratamento do TEA. A busca foi realizada
nas seguintes bases de dados: PubMed, Cochrane, SciELO, Lilacs, Science Direct e
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Critério de eleição
Os seguintes critérios de elegibilidade foram aplicados: 1. artigos publicados em
inglês, português ou espanhol e 2. instrumentos elaborados com o objetivo de avaliar
os problemas relacionados ao comportamento alimentar em indivíduos com o TEA.
Estudos em outras línguas foram excluídos. Extraíram-se as seguintes informações de
artigos elegíveis: 1. faixa etária, 2. objetivo do estudo e 3. variáveis avaliadas.
Um dos pesquisadores avaliou os títulos, resumos ou ambos os resultados obtidos a
partir dos bancos de dados.
Resultados
O rastreamento segundo os critérios estabelecidos resultou em 52 artigos (Figura 1),
dos quais 40 foram excluídos por não preencherem os critérios de inclusão ou por
estarem repetidos. Dos 12 artigos potencialmente escolhidos na triagem do título e
resumo, sete foram excluídos por não serem instrumentos de avaliação. Dos cinco
artigos incluídos três foram realizados nos Estados Unidos, um na Suécia e um no
Canadá, incluindo crianças, jovens e adultos com TEA na faixa etária de 3 a 25 anos.
Desses artigos, um foi eliminado por não ter como foco da investigação o TEA.
N: 40 artigos eliminados
N: 7 artigos eliminados
N: 1 artigo eliminado
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* TEA: transtorno do espectro autista; STEP: Screening Tool for Feeding Problems; pica: ingerir coisas que não são considera-
das alimento.
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Para avaliar a estabilidade, o BAMBI foi novamente preenchido após sete meses
(intervalo: 5-13 meses) em 31% da amostra inicial. Um coeficiente de confiabilidade
teste-reteste foi calculado entre primeira e a segunda aplicação do BAMBI, apresen
tando valor significativo de r (33) = 0,87, p < 0,01. Na avaliação da confiabilidade inte
ravaliadores, o comportamento alimentar avaliado pelo BAMBI e observado por pro
fessores e cuidadores demonstrou ser forte e positiva com r (16) = 0,78, p < 0,01.
O BAMBI também apresentou correlações positivas entre os fatores (variedade li
mitada, recusa alimentar, características do autismo) ao avaliar a validade interna.
Correlações positivas também foram encontradas na validade convergente. As corre
lações foram calculadas entre o escore de frequência total do BAMBI e a pontuação da
escala BPFAS, que avalia a frequência e a severidade dos comportamentos observados
no TEA (“frequência do comportamento da criança” r (108) = 0,77, p < 0,01; “sentimen
tos/estratégias dos pais” r (108) = 0,74, p < 0,01; “frequência total da BFAS” r (108) =
0,82, p < 0,01).
Também foram calculadas correlações entre escores fatoriais individuais e medidas
de critérios externos para verificar a validade concomitante, e os valores positivos en
contrados sugerem que o BAMBI explora de forma adequada as características do au
tismo descritas no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV).
No que diz respeito à capacidade discriminatória do BAMBI, houve diferenças esta
tisticamente significativas por meio da one-way ANOVA (p < 0,01) entre os grupos na
frequência de problemas comportamentais na hora das refeições, com escores signifi
cativamente mais elevados para as crianças com autismo do que para as crianças com
desenvolvimento típico.
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pais e das crianças durante as refeições e a frequência com que os pais comem e ser
vem certos alimentos (como frutas e legumes).
Na elaboração da primeira versão do STEP-CHILD, visando determinar a sua vali
dade de conteúdo e construto, foi utilizada análise fatorial para determinar os itens e
as subescalas selecionadas a partir do STEP. Para cada dimensão, cada item demons
trou um fator de carga de 0,40 e alfa de Cronbach de 0,55 ou superior. A análise fato
rial revelou 15 itens distribuídos em seis dimensões: “problemas na mastigação”, “co
mer rápido”, “recusa de alimento”, “seletividade alimentar”, “vômitos” e “roubar
alimentos”. Para avaliar a confiabilidade interna, foi obtido um coeficiente médio de
0,62 do alfa de Cronbach para as seis subescalas citadas anteriormente.
Para a avaliação da validade concomitante da escala, foram feitas correlações com
instrumentos já validados. A validade concomitante dos seis domínios do STEP-CHILD
foi realizada por meio de regressão múltipla entre o CEBQ (Wardle et al., 2001) e a
aferição dos problemas relacionados à textura. As associações encontradas nas subca
tegorias foram as seguintes: “problemas da mastigação” foi significativamente corre
lacionado com problemas ligados à textura (Beta: 0,445) e negativamente com frescu
ra para comer (Beta: -0,229); “comer rápido” foi correlacionado positivamente com
excessos emocionais do CEBQ (Beta: 0,467) e negativamente com a capacidade de
resposta da saciedade do CEBQ (Beta: -.434); a “recusa alimentar” foi positivamente
correlacionada com a frescura para comer do CEBQ (Beta: .296); a “seletividade
alimentar” foi positivamente correlacionada com problemas relacionados à textura
(Beta: .406) e frescura para comer do CEBQ (Beta:.403); “roubar comida” foi positiva
mente correlacionado com receptividade por alimentos do CEBQ (Beta: .442) e frescu
ra para comer (Beta: .314). A subescala “vômito” não demonstrou correlação com
nenhum fator.
Ainda avaliando a validade externa e de construto, realizaram-se correlações com
outras medidas, sendo elas: variáveis demográficas da amostra, antropometria (cálcu
lo do índice de massa corporal – IMC), inventário de preferência alimentar e o PMAS
(Hendy et al., 2009). A associação das variáveis demográficas da amostra com o STEP
-CHILD, realizada por meio da análise de covariância entre os gêneros (meninos e
meninas), a idade e os três grupos diagnosticados (crianças com autismo, outras neces
sidades especiais e sem necessidades especiais), apresentou significância entre as su
bescalas “problemas na mastigação” e idade (p = 0,004), e as crianças mais novas
apresentaram maior frequência de problemas (p = 0,008) e “roubar comida” associada
com o diagnóstico (p = 0,012). Já a correlação com a antropometria (peso, estatura e
IMC) demonstrou significância apenas entre a subescala “comer rápido” e criança com
alto valor de IMC (p < 0,001). Utilizando os dados coletados com o inventário de pre
ferência alimentar, a correlação positiva foi observada entre a dimensão “seletividade
alimentar” e a reduzida variedade de alimentos consumidos (p < 0,001). Por fim,
quando as ações dos pais durante as refeições mensuradas pelo PMAS (Hendy et al.,
2009) foram analisadas, os resultados revelaram que as crianças que mais pontuaram
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Para avaliar a estabilidade temporal, o tempo médio entre as duas ocasiões para o
teste-reteste foi de 34 dias com bom índice de correlação interclasses (0,860), exceto
a subescala “fome/saciedade”. O mesmo teste revelou uma diferença na subescala
“situação social durante as refeições”, entretanto ela foi considerada apropriada para
o SWEAA por causa da pequena diferença apresentada nos dois momentos.
Quanto à validade discriminante, a subescala “situação social durante as refeições”
obteve a pontuação mais alta em todos os participantes do grupo clínico, e, após aná
lises estatísticas, diferenças significativas entre os indivíduos com TEA e o grupo con
trole foram observadas não somente nessa subescala (p < 0,001), como também nas
subescalas “ambiente das refeições” (p < 0,017) e “capacidade simultânea” (p < 0,001),
sugerindo que esses itens sejam os principais discriminadores entre os grupos.
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Behavior Checklist – CBCL (Achenbach & Rescorla, 2000); problemas no sono mensura
dos pelo Children’s Sleep Habits Questionnaire – CSHQ (Goodlin Jones, Sitnick, Tang,
Liu, & Anders, 2008; Owens, Spirito, & McGuinn, 2000); estresse parental por meio do
Parenting Stress Index-Short Form – PSI-SF (Abidin, 1995); os sintomas e a gravidade do
TEA por meio do ADOS; o nível do desenvolvimento indexado pelo M-P-R (desenvol
vimento motor, cognição e linguagem receptiva); habilidade na linguagem pela
Preschool Language Scales-Fourth Edition – PLS-4 (Zimmerman, Steiner, & Pond, 2002);
e a idade da criança quando o responsável completou o BPFAS.
Quando se avaliou a consistência interna dos cinco fatores do BPFAS proposto por
Crist & Napier-Phillips (2001), a escala de forma geral (α Cronbach = 0,82) e três fatores
demonstraram coeficientes aceitáveis: “comensal exigente” (α Cronbach = 0,80), “recusa
geral da consulta” (α Cronbach = 0,70), “crianças que postergam o momento de comer”
(α Cronbach = 0,75), em contraste com “recusa de alimentos com textura” (α Cronbach =
0,26), “recusa geral da criança mais velha” (α Cronbach = 0,3).
Quanto à validade do construto, após análise fatorial dos itens da escala, três fatores
representaram 43,13% da variância e foram rotulados de “aceitação dos alimentos”
(α Cronbach = 0,71), “questões motoras orais” (α Cronbach = 0,71) e “comportamento
durante as refeições” (α Cronbach = 0,81).
Para avaliar a validade externa, as consequências do construto e a validade conver
gente, foram identificadas várias correlações positivas, variando o efeito de pequeno
a médio, entre as variáveis de interesse envolvendo as crianças, seus pais, os sintomas
do autismo com a aplicação de outras escalas psicométricas e os três novos fatores
anteriormente mencionados.
O fator “comportamento durante as refeições” foi o que apresentou seis correla
ções positivas de médio efeito: os pais que relataram níveis mais elevados de sintomas
de autismo pontuado pelo SRS e RBS-R (por exemplo, dificuldades sociais e de comu
nicação, comportamento repetitivo ou restrito) afirmaram ter mais dificuldades re
lacionadas com a alimentação (r = 0,34; 0,40 respectivamente). Em relação ao com
portamento da criança avaliado pelo CBCL (internalização e externalização), foram
encontradas correlações positivas médias para os fatores “questões motoras orais” (r =
0,44; r = 0,34), “comportamento durante as refeições” (r = 0,47; r = 0,48) e pequena
correlação com “aceitação dos alimentos” (r = 0,27; r = 0,20). Assim, os pais que rela
taram mais problemas de comportamento tinham mais dificuldades relacionadas à
alimentação. Em contrapartida, houve apenas uma pequena correlação negativa en
tre a gravidade do TEA indicada pelo ADOS e o fator “comportamento durante as
refeições” (r = -0,10), e nenhuma relação notável entre a gravidade do TEA e a “acei
tação dos alimentos” (r = 0,04) e “questões motoras orais” (r = -0,06).
As dificuldades relativas ao sono mensurado pelo CSHQ apresentaram média corre
lação com “comportamento durante as refeições” (r = -0,35) e pequena em relação à
“aceitação dos alimentos” (r = 0,19) e “questões motoras orais” (r = -0,27). O estresse
parental avaliado pelo PSI-SF demonstrou correlações positivas médias com “questões
motoras orais” (r = 0,33) e “comportamento durante as refeições” (r = 0,38). Assim, os
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Discussão
Uma alimentação adequada na infância, desde o nascimento e durante os primei
ros anos de vida, é fundamental para garantir o crescimento e o desenvolvimento
normal da criança. Quando se menciona crescimento da criança, geralmente se associa
ao crescimento ósseo que se reflete na estatura, mas cada um dos sistemas orgânicos
também está em desenvolvimento, incluindo o sistema nervoso central. O crescimento
do organismo como um todo depende de uma nutrição adequada. A nutrição e a
subnutrição na primeira e na segunda fase da infância podem ter efeitos deletérios
sobre o desenvolvimento infantil, assim como a ingestão em excesso que leva à obesi
dade (Drewett, 2010). Consequentemente, o comportamento alimentar no TEA é uma
dimensão importante, pois, em muitos casos, pode colocar em risco a saúde do indiví
duo. Uma propedêutica acurada do comportamento alimentar dessa população, por
tanto, auxilia uma possibilidade terapêutica mais individualizada e complexa. Este
artigo traz uma importante contribuição ao revisar a literatura sobre os instrumentos
de avaliação do comportamento alimentar de crianças com TEA, identificando limita
ções dos instrumentos existentes e propondo alternativas mais completas e adequadas
ao diagnóstico atual do TEA.
O BAMBI (Lukens & Linscheid, 2008) foi o primeiro instrumento desenvolvido espe
cificamente para avaliar os problemas alimentares de crianças com autismo. A iniciati
va de elaborar uma escala específica foi importante e iniciou a concepção de medidas
que pudessem discriminar os problemas apresentados por autistas, comparados às
crianças com desenvolvimento típico. Esse instrumento teve como foco os aspectos
comportamentais relacionados à alimentação, deixando de explorar os problemas sen
soriais e gastrintestinais frequentemente encontrados no TEA e que podem influenciar
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Lange, & Golley, 2013; Scaglioni, Arrizza, Vecchi, & Tedeschi, 2011; Scaglioni, Salvioni,
& Galimberti, 2008). Outra contribuição do STEP-CHILD (Seiverling et al., 2011) foi a
introdução do item “roubar comida” como outro aspecto comportamental do TEA
e que anteriormente só havia sido descrito em adultos com necessidade especiais
(Matson & Kuhn, 2001). Algumas limitações devem ser salientadas no STEP-CHILD
(Seiverling et al., 2011). Primeiramente não houve uma correlação significativa entre
todos os fatores. Além disso, o tamanho da amostra foi pequeno, uma vez que das 142
crianças que participaram apenas 43 tinham TEA. A escala também não explorou de
forma ampla os problemas sensoriais e gastrintestinais, os comportamentos ritualísti
cos e repetitivos característicos do transtorno, além de não ter avaliado os problemas
alimentares em função da gravidade do TEA. O artigo também não esclarece vários
aspectos do estudo, a exemplo: a forma de recrutamento dos participantes, como foi
realizada a confirmação do diagnóstico, se o grupo controle diferia dos demais, e não
foram mencionadas avaliações relacionadas à estabilidade temporal da escala.
O SWEAA (Karlsson et al., 2013), apesar de ter demonstrado boa validade e con
fiabilidade interna baseada nos parâmetros estatísticos, não contemplou a hetero
geneidade do transtorno. Ao estabelecerem um ponto de corte no valor do QI dos
participantes, os pesquisadores criaram um grande fator limitante do estudo, e conse
quentemente a escala foi testada predominantemente (72%) em autistas com alto
rendimento com síndrome de Asperger diagnosticados anteriormente à publicação do
DSM-V (American Psychiatric Association, 2013). Com relação aos fatores avaliados
pelo conteúdo da escala, importantes tópicos ligados ao comportamento alimentar
foram abordados nesse instrumento, a exemplo de controle motor, ambiente das re
feições, comportamentos ritualísticos, aspectos sociais no momento das refeições e
alguns distúrbios alimentares como o desejo de ingerir coisas que não são considera
das alimentos (pica). Também foram investigadas comorbidades associadas ao trans
torno, a exemplo da depressão, do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH) e do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Contudo, os distúrbios gastroin
testinais e a gravidade do TEA não foram contemplados. No processo de validação,
também ocorreram alguns vieses: a adesão à pesquisa e a amostra foi pequena, pois
apenas 28% dos indivíduos contatados participaram; o nível de escolaridade diferiu
entre o grupo controle e intervenção; o QI do grupo com TEA não foi aferido, mas
obtido dos registros médicos, e o do grupo controle não foi avaliado. Outras particu
laridades do SWEAA também são questionáveis, a exemplo de o ponto de corte na
idade mínima ser de 15 anos. Os próprios autores também registraram como desvan
tagem o fato de o questionário ter sido de autorrelato e não haver ninguém disponí
vel para auxiliar o entrevistado em caso de dúvidas. Segundo os autores, na análise do
reteste da escala, uma possível limitação ocorreu porque a maioria dos participantes
completou o questionário um ano antes do período previsto.
O BPFAS (Crist & Napier-Phillips, 2001) é uma medida abrangente e amplamente
utilizada para detectar problemas de alimentação e comportamentais baseadas em
competências. É uma medida válida e confiável que discrimina de forma eficaz as
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Submissão: 28.9.2017
Aceite: 4.6.2018
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