Eduardo Henrique Saraiva Nogueira - Monografia

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CURSO
MONOGRAFIA JURÍDICA

AS INFLUÊNCIAS DO NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL


ATÍPICO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

ORIENTANDO: EDUARDO HENRIQUE SARAIVA NOGUEIRA

ORIENTADORA: PROFª. MA. LARISSA DE OLIVEIRA COSTA BORGES

GOIÂNIA-GO
2021
EDUARDO HENRIQUE SARAIVA NOGUEIRA

AS INFLUÊNCIAS DO NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO NO


PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Monografia Jurídica apresentada à disciplina


Trabalho de Curso II, da Escola de Direito e
Relações Internacionais, Curso de Direito, da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
(PUCGOIÁS).
Profª. Orientadora Ma. Larissa de Oliveira Costa
Borges.

GOIÂNIA-GO
2021
EDUARDO HENRIQUE SARAIVA NOGUEIRA

AS INFLUÊNCIAS DO NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO NO


PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Data da Defesa: 02 de junho de 2021.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________
Orientadora Profª Ms. Larissa de Oliveira Costa Borges Nota

___________________________________________________________________
Examinadora Convidada: Profª Ms. Carolina Chaves Soares Nota
Aos meus amados pais: Edio e Celma
Agradeço à Deus pela vida,
aos meus pais pelo cuidado
e aos meus professores pelo conhecimento transmitido.
RESUMO

A presente monografia é resultado de uma análise teórica com objetivo de identificar


a importância do negócio jurídico processual dentro do processo civil brasileiro, sendo
delimitada a sua influência para este. Esta monografia jurídica apresenta inicialmente
os conceitos de ato jurídico e de fato jurídico estabelecendo as suas diferenciações e
proximidades. Analisa também a figura do negócio jurídico estabelecendo sua
conceituação e sua identificação como ato jurídico ou fato jurídico. Sobre a ótica
processual realiza a conceituação do negócio atípico além de seu histórico e influência
no processo civil brasileiro. Através de pesquisa bibliográfica, pesquisa legislativa e
jurisprudencial foi possível alcançar o objetivo proposto pelo trabalho. Ficou
demonstrado que existe uma falta do Estado no sentido de garantir a maior efetividade
na tutela jurisdicional. O negócio processual se demonstra como importante fator para
a maior efetividade da tutela jurisdicional. Cabe ao Estado efetivamente promover a
realização dos negócios processuais com o intuito de melhoria na sua tutela
jurisdicional.

Palavras-chave: Processo Civil. Tutela jurisdicional. Negócio processual atípico.

ABSTRACT

The present monograph is the result of a theoretical analysis with the objective of
identifying the importance of the procedural legal business within the Brazilian civil
process, being limited its influence for this. This legal monograph initially presents the
concepts of legal act and legal fact, establishing their differences and proximity. It also
analyzes the figure of the legal business establishing its conceptualization and its
identification as a legal act or legal fact. On the procedural point of view, he performs
the conceptualization of the atypical business in addition to its history and influence in
the Brazilian civil process. Through bibliographic research, legislative and
jurisprudential research it was possible to achieve the objective proposed by the work.
It was demonstrated that there is a lack of the State in the sense of guaranteeing
greater effectiveness in the jurisdictional protection. The procedural business is shown
to be an important factor for greater effectiveness of jurisdictional protection. It is up to
the State to effectively promote the conduct of procedural business in order to improve
its jurisdictional protection.

Keywords: Civil Procedure. Jurisdictional protection. Atypical procedural business.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................7
1 ATO JURÍDICO E FATO JURÍDICO......................................................................9
1.1 ATO JURÍDICO....................................................................................................9
1.2 FATO JURÍDICO..................................................................................................11
2 NEGÓCIO JURÍDICO.............................................................................................15
2.1 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO................................................................15
2.2 NEGÓCIO JURÍDICO COMO ATO JURÍDICO OU FATO JURÍDICO.................21
2.3 A INFLUÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO DENTRO DO PROCESSO CIVIL....22
2.4 TIPICIDADE E ATIPICIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO....................................24
3 NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO...................................................26
3.1 CONCEITO .........................................................................................................27
3.2 HISTÓRICO.........................................................................................................30
3.3 HIPÓTESES DO NEGÓCIO PROCESSUAL ATÍPICO.......................................35
3.4 INFLUÊNCIA DO NEGÓCIO PROCESSUAL ATÍPICO NO PROCESSO CIVIL.37
CONCLUSÃO............................................................................................................40
REFERÊNCIAS.........................................................................................................42
7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da importância e relevância do negócio jurídico


processual com foco na sua atipicidade para o processo civil brasileiro. Ao se analisar
o tema apresentado foi proposto três grandes problemas a serem resolvidos, o
impacto do negócio jurídico processual típico na melhoria do acesso à justiça de forma
digna, o incentivo da prática do negócio processual e a influência no Processo Civil e
se consiste em dever de o Estado incentivar a prática dos negócios jurídicos
processuais atípicos.
As hipóteses apresentadas foram confirmadas de que o negócio jurídico
processual típico gera uma influência positiva na prestação jurisdicional garantindo
com isso a dignidade no acesso à justiça como ferramenta importante para a melhora
da prática jurisdicional. Ademais, a realização do negócio jurídico processual deve ser
incentivada pelo Estado, uma vez que gera benefícios para o Processo Civil brasileiro
e o próprio Código de Processo Civil disciplina no seu artigo 3º o dever do Estado em
incentivar soluções consensuais de conflitos, sendo exemplo o negócio jurídico
processual que possibilita a celeridade ao processo.
O objetivo geral do trabalho foi a busca e identificação da importância do
negócio jurídico processual dentro do processo civil brasileiro, sendo delimitada a sua
influência para este.
Consistiram em objetivos específicos a análise e diferenciação do ato jurídico
e fato jurídico, a identificação do que consiste o negócio jurídico e sua distinção como
ato ou fato jurídico, identificar maneiras de redução de causas judiciais através da
prática do negócio jurídico processual, além de analisar a sua importância para o
Processo Civil, a tipicidade e atipicidade para o Direito Civil e, finalmente, analisar e
descrever o que vem a ser o negócio jurídico processual típico e atípico e sua
importância para o Processo Civil brasileiro.
A pesquisa utilizou de pesquisa bibliográfica em doutrinas especializadas
sobre o tema e amparo nas jurisprudências e leis relacionadas. O método utilizado foi
o hipotético-dedutivo com o intuito de buscar a interpretação dos conceitos
apresentados e a resolução dos problemas e confirmação das hipóteses.
Com o objetivo de elucidar o tema apresentado o presente trabalho foi dividido
em três capítulos sendo que o primeiro trata do ato jurídico e do fato jurídico,
8

apresentando os seus conceitos com base na doutrina especializada do tema além


de ser estabelecido a sua diferenciação ou proximidade.
O segundo capítulo trata do negócio jurídico, sendo apresentado a sua
conceituação pela doutrina e sua identificação como ato ou fato jurídico, influência
dentro do processo civil e a tipicidade e atipicidade do negócio jurídico.
No terceiro capítulo foi tratado sobre o negócio jurídico processual atípico, seu
conceito, hipóteses de incidência e relevância e importância para o Processo Civil
brasileiro. Com isso foi possível identificar a importância e influência do negócio
jurídico processual atípico como uma ferramenta necessária para melhoramento na
prestação jurisdicional.
9

1 ATO JURÍDICO E FATO JURÍDICO

Os atos humanos geram consequências para o ambiente social podendo


acarretar benefícios ou malefícios para a sociedade e por isso o Direito regula a prática
dos atos humanos, impedindo os atos que gerem prejuízos sociais e incentivando os
que gerem benefícios sociais.

1.1 ATO JURÍDICO

O ato jurídico é uma manifestação da vontade humana com a finalidade de


produzir efeitos, de forma consciente, produzindo consequências que são importantes
para o Direito. Tepedino (2014, p.17) sobre o assunto assim entende: “A categoria dos
atos jurídicos associa-se ao agir humano e suas consequências – e divergências –
decorrem do papel atribuído, nessa atuação, à vontade humana, em maior ou menor
grau, daí decorrendo consequências diversas.” Dessa forma o ato jurídico é um ato
humano criado pela sua vontade gerando consequências maiores ou menores para
seu ambiente e para o seu convívio social.
Tartuce (2020, p.346), a respeito do ato jurídico, explica que “trata-se de um
fato jurídico com elemento volitivo e conteúdo lícito [...] FÓRMULA. Ato jurídico = Fato
+ Direito + Vontade + Licitude”. Nesse sentido, o ato jurídico é um fato jurídico
realizado por partes capazes, expressando suas vontades de forma lícita, gerando
direitos, sendo respeitados os limites legais.
No mesmo sentido, e analisando os elementos essenciais do ato jurídico,
Mello (2019, p. 182):
Denomina-se ato jurídico o fato jurídico cujo suporte fáctico prevê como seu
cerne uma exteriorização consciente de vontade, que tenha por objeto obter
um resultado juridicamente protegido ou não proibido e possível. A partir
desse conceito, temos que constituem elementos essenciais à caracterização
do ato jurídico: (i) um ato humano volitivo, isto é, uma conduta que represente
uma exteriorização de vontade, mediante simples manifestação ou
declaração, conforme a espécie, que constitua uma conduta juridicamente
relevante e, por isso, prevista como suporte fáctico de norma jurídica; (ii) que
haja consciência dessa exteriorização de vontade, quer dizer, que a pessoa
que manifesta ou declara a vontade o faça com o intuito de realizar aquela
conduta juridicamente relevante; (iii) que esse ato se dirija à obtenção de um
resultado que seja protegido ou, pelo menos, não proibido (= permitido) pelo
direito, e possível.
10

Ensina Cassettari (2018, p. 99) que:


Ato jurídico, que, por sua vez, abrange o ato material ou ato real, que é o ato
baseado na vontade humana, porém seus efeitos estão previstos em lei, por
exemplo, a escolha do domicílio, e o ato de participação, que é um ato de
mera comunicação, sem sentido negocial, tais como as notificações e
intimações.

Para o referido autor somente se considera como ato jurídico o ato lícito, uma
vez que os efeitos estão previstos em lei e os ilícitos que geram malefícios não podem
ser considerados como ato jurídico, em vista dos efeitos negativos. No mesmo
sentido, leciona Tartuce (2020) que o ato ilícito não pode ser considerado como ato
jurídico, uma vez que vai contra o direito, portanto, antijurídico.
Em sentido contrário, Venosa (2017, p. 337-8) entende que:
[...] são atos jurídicos (que podem também ser denominados atos humanos
ou atos jurígenos) aqueles eventos emanados de uma vontade, quer tenham
uma intenção precípua de ocasionar efeitos jurídicos, quer não. Os atos
jurídicos dividem-se em atos lícitos e ilícitos. Afasta-se, de plano, a crítica de
que o ato ilícito não seja jurídico. Nessa classificação, como levamos em
conta os efeitos dos atos para melhor entendimento, consideramos os atos
ilícitos como parte da categoria de atos jurídicos, não considerando o sentido
intrínseco da palavra, pois o ilícito não pode ser jurídico.

Os atos jurídicos são voluntários, uma vez que o sujeito que o pratica faz
voluntariamente sem a coação de outrem aceita as consequências jurídicas geradas
pela prática do ato, que são definidas pela lei, assim como ensina Donizetti e Quintella
(2017, p.133):
Os atos jurídicos voluntários, também chamados de atos jurídicos em sentido
estrito (stricto sensu), são os atos praticados por atuação da vontade e cujos
efeitos são determinados pela lei. Note bem que o adjetivo voluntário refere-
se ao fato de o sujeito praticar o ato porque quer, e porque aceita os efeitos
legais do ato. Todavia, não tem a pessoa o poder de dispor sobre os efeitos
do ato. Ou ela os aceita, e prática o ato, ou não os aceita, e se abstém de
praticá-lo.

Gagliano e Pamplona Filho (2019, p.436) dispõe o ato jurídico como sendo:
(...) simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina
a produção de efeitos legalmente previstos. (...) não existe propriamente uma
declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro do
campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente
(...), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos
previamente estabelecidos por lei. (...) ato jurídico lícito apenas concretiza o
pressuposto fático contido na norma jurídica. É o que ocorre, por exemplo, no
ato de fixação do domicílio.
11

Com o mesmo entendimento, Redondo (2020, p.83), entende o ato jurídico


como sendo:
[...] o ato voluntário, fruto da volição humana, realizado em conformidade com
o Direito e capaz de gerar consequência jurídica. Em outras palavras, são
fenômenos resultantes de conduta humana, para quais o Direito considera
relevante a vontade humana em praticá-los. Como exemplos substanciais,
tem-se, entre tantos outros, os contratos, o casamento e o testamento.

A diferenciação do ato ilícito como sendo ato jurídico, ou não, não influencia
na conceituação do que vem a ser negócios jurídicos uma vez que eles só podem
advir de atos lícitos, com base nos requisitos de validade apresentados no artigo 104
da Lei nº 10.406 de 2002 (Código Civil).
Ao analisar os conceitos apresentados do que vem a ser atos jurídicos é
possível identificar os elementos básicos que compõe o ato jurídico, quais sejam a
voluntariedade, a licitude (ou não), consequências definidas pela lei e que vinculam o
praticante do ato a aceitar eles ou não praticar ato jurídico.
A relevância dos atos jurídicos repercute em todas as áreas do Direito, com
isso a compreensão de seu conceito e de suas especificidades, se revela como
importante fator para o entendimento jurídico de conceitos fundamentais do Direito, e
para o conhecimento do que vem a ser o negócio jurídico processual é necessário se
atentar especificamente para a relevância do ato jurídico no âmbito do Direito Civil,
uma vez que o Código Civil define as relações dos negócios jurídicos e por
consequência no negócio processual.

1.2 FATO JURÍDICO

Os fatos naturais geram efeitos na sociedade e por isso são relevantes para
o âmbito jurídico. Os fatos jurídicos, por sua vez, podem ser definidos por Ascensão
(2010) quando ele diz que se caracterizam pela situação geradora de mudanças e
efeitos com consequências jurídicas. Nesse sentido qualquer fato que produza efeitos
jurídicos pode ser categorizado como fato jurídico já que, com a produção de
resultados dentro do âmbito jurídico se torna indispensável a sua regulamentação.
Analisando de que forma sugiram os fatos jurídicos, Mello (2019, p. 148),
entende que:
12

O direito romano não conheceu, em plano doutrinário, a teoria do fato jurídico.


Aliás, nem de fato jurídico, especificamente, cuidaram os jurisconsultos
romanos, por isso que não há uma expressão latina própria para mencionar
a espécie. Em seu pluralismo empírico, os romanos usavam expressões
diversas, como actus, actum, causa, gestum, negotium, factum, entre outras
com sentido mais específico, como contractum, pactum, stipulatio, para se
referirem às circunstâncias que influíam nas situações jurídicas. Parece ter
sido Savigny quem primeiro empregou a expressão fato jurídico (juristiche
Tatsache), definindo-o: “Chamo fatos jurídicos os acontecimentos em virtude
dos quais as relações de direito nascem e terminam”.

Sobre o fato jurídico Gonçalves (2020, p.346) diz que:


O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e extingue-se.
Essas fases ou momentos decorrem de fatos, denominados fatos jurídicos,
exatamente por produzirem efeitos jurídicos. Nem todo acontecimento
constitui fato jurídico. Alguns são simplesmente fatos, irrelevantes para o
direito. Somente o acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que
seja fato ilícito, pode ser considerado fato jurídico.

Assim, os fatos jurídicos fazem parte do ciclo do direito, especialmente no


âmbito civil, tendo relevância destacada pela legislação civil brasileira, por ela
disciplinada. Com a mesma acepção, diz Pereira (2002, p. 291) que:
A chuva que cai é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, dentro da normal
indiferença da vida jurídica, o que não quer dizer que, algumas vezes, este
mesmo fato não repercuta no campo do direito, para estabelecer ou alterar
situações jurídicas. Outros se passam no domínio das ações humanas,
também indiferentes ao direito: o indivíduo veste-se, alimenta-se, sai de casa,
e a vida jurídica se mostra alheia a estas ações, a não ser quando a
locomoção, a alimentação, o vestuário provoquem a atenção do ordenamento
legal.

Para Stolze e Pamplona Filho (2020) o fato jurídico pode ser decomposto em
partes, sendo três as principais divisões, quais sejam: fato jurídico em sentido estrito;
ato – fato jurídico e ação humana, que nesse trabalho é entendida como ato jurídico
conforme os autores já citados. Para essa classificação os mesmos autores tomam
como base o ser humano como o sujeito destinatário da norma jurídica e agente da
aplicação dela na sociedade.
Estabelecendo o mesmo critério, Redondo (2020, p.79-80), entende o fato
jurídico como sendo:
[...] todo acontecimento capaz de produzir consequências jurídicas,
consistindo no produto (resultado) da incidência da norma jurídica sobre seu
suporte fático. Como exemplos do fato jurídico [...], tem-se o nascimento, a
morte, o casamento e a celebração de um contrato. [...] Os fatos lícitos podem
ser subdivididos, levando em consideração o elemento vontade humana
lícita, em: (i) fatos jurídicos stricto sensu; (ii) atos-fatos jurídicos; e (iii) atos
jurídicos lato sensu, subdivididos em (iii.a) atos jurídicos stricto sensu; e (iii.b)
negócios jurídicos.
13

Face aos conceitos apresentados, pode-se entender como fato jurídico todo
acontecimento, seja ele natural ou gerado pelo homem, que tenha consequências no
âmbito jurídico e, por isso, regulamentado e com grande relevância para o Direito.
Aplicando o mesmo entendimento sobre o tema, Mello (2019, p.22) discorre
que:
O mundo jurídico, assim, constitui a parte do mundo (geral) formada,
exclusivamente, por fatos jurídicos e onde se irradia a eficácia jurídica própria
atribuída a cada um deles. No mundo jurídico, por essa razão, somente são
admitidos os fatos que as normas jurídicas qualificam como jurídicos. A
juridicização do fato cria fato novo no mundo (o fato jurídico), distinto do fato
que constituiu seu suporte fáctico.

Existe diferença entre o fato material e o fato jurídico, de acordo com Farias e
Rosenvald (2017), sendo que a caracterização do fato jurídico se dá pela produção
de efeitos jurídicos, ao passo que o fato material não produz efeitos jurídicos. Dessa
forma, o que os difere não é sua origem e sim a produção de seus efeitos jurídicos.
Conforme Farias e Rosenvald (2017, p.591-2):
Para que determinado acontecimento esteja inserto no mundo jurídico, então,
é preciso que cumpra diferentes momentos independentes, essenciais à sua
qualificação. Assim é possível sintetizar: (i) definição pela norma jurídica da
hipótese fática merecedora de qualificação; (ii) concreção da hipótese
definida na realidade fenomenológica da vida (realização concreta da
hipótese); (iii) incidência automática da norma sobre a hipótese valorada; (iv)
juridicização do acontecimento, como consequência da incidência.

Com o mesmo entendimento Lôbo (2019, p.301) diz que: “o fato jurídico
surgirá no preciso instante em que a norma jurídica incidir sobre o suporte fático que
se concretizou [...], ou seja, sobre o fato ou fatos que correspondem à sua descrição.”
Dessa forma, o fato jurídico só surge com a incidência de uma norma sobre um fato
material que gere efeitos no âmbito jurídico.
No entendimento de Coelho (2020) as normas jurídicas elucidam as
consequências dos fatos ao qual se referem, dessa forma disciplinam os
acontecimentos e determinam que se adaptem as consequências por ela
determinadas. O fato jurídico é assim entendido por Coelho (2020, p.181):
O fato descrito em norma jurídica como pressuposto da consequência por ela
imputada é chamado de fato jurídico. Matar alguém, praticar negócio jurídico
com dolo, o possuidor de boa-fé introduzir benfeitorias úteis na coisa e a
violação culposa de direitos são exemplos de fatos jurídicos. Note-se que
nem todos os fatos têm relevância para o direito.
14

Nesse diapasão, o fato jurídico se difere do fato humano, natural ou material,


pelos efeitos que produz no âmbito do direito, sendo definido pelo próprio direito como
fato jurídico pela relevância dos seus efeitos na sociedade, já que atingindo a
sociedade com maior abrangência deverá ser regulamentado e disciplinado para
evitar possíveis danos ao convívio social. Em vista da sua regulamentação pelas
normas jurídicas, o fato jurídico, se demonstra como importante conceito no âmbito
jurídico em consequências dos impactos gerados pela sua prática.
15

2 NEGÓCIO JURÍDICO

As relações humanas estabelecem consequências jurídicas e por


conseguinte são normatizadas e regulamentas, podendo ser chamadas de relações
jurídicas, que podem criar, extinguir ou anular efeitos no âmbito jurídico. Assim, o
negócio jurídico tem como objetivo regulamentar as relações jurídicas, estabelecendo
suas regras de permanência e os efeitos gerados pela sua extinção (VENOSA,2017).
Tendo em vista o entendimento de como o negócio jurídico regulamenta as
relações jurídicas é necessário abordar sua análise teórica para estabelecer a sua
relevância para o processo civil.

2.1 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO

A conceituação do negócio jurídico teve seu desenvolvimento inicial no


século XVIII com os jusnaturalistas, mas se desenvolveu por meio de alemães do
século XIX, os quais eram chamados pandectistas. No direito brasileiro a ideia do
negócio jurídico começou a ser introduzida em meados do século XX, sob influência
de autores alemães e italianos, sendo concretizado no ano de 1975 no anteprojeto do
Código Civil atual. A declaração da vontade é o elemento essencial e nuclear do
conceito tradicional do negócio jurídico (Lôbo, 2019).
Analisando a origem do negócio jurídico, Mello (2019, p.203-4) diz que:
No início do século XIX, os Pandectistas passaram a escrever com uma só
palavra – Rechtsgeschaft (negócio jurídico) – a expressão ein rechtliches
Geschaft, que vinha sendo empregada pelos jusnaturalistas desde o século
anterior, para designar o ato jurídico em que a vontade tinha liberdade de
escolha, podendo autorregrar-se. O conceito de negócio jurídico foi, assim,
construído sob a inspiração ideológica do Estado liberal, cuja característica
mais notável consistia na preservação da liberdade individual, o mais ampla
possível, diante do Estado. Por isso, concebeu-se o negócio jurídico como
instrumento de realização da vontade individual, respaldando uma liberdade
contratual que se queria praticamente sem limites.

A doutrina, segundo elucida Azevedo (2002), ao realizar a conceituação do


negócio jurídico se pauta por uma posição que se prende a origem do negócio jurídico
ou a sua função, colocando o negócio jurídico como uma expressão da vontade com
16

o objetivo de gerar efeitos ou como uma norma jurídica concreta atendendo


principalmente o caráter judicial vinculante dos seus efeitos. Entretanto para Azevedo
(2002, p.2) as duas formas de conceituação deixam de apontar o essencial, dessa
forma ensina:
Ainda que as duas posições se apresentem como pretendendo relevar a
estrutura do negócio, parece-nos que, pela acentuada preponderância, ou da
gênese, ou da função, ambas acabam deixando escapar justamente o que
pretendiam revelar, ou seja, a estrutura. (...) A nosso ver, o negócio jurídico
tem gênese e função, mas é essencialmente uma estrutura (é uma estrutura,
que tem gênese e função).

A definição do negócio jurídico pela gênese do negócio jurídico atribuí a ele


uma natureza de ato de vontade, ou seja, constitui em uma manifestação de vontade
destinada a produzir os efeitos jurídicos ou em ato de vontade dirigido com a finalidade
de tutelar os fins práticos do ordenamento jurídico. Já a definição pela função
vislumbra o negócio jurídico como um meio para produção de efeitos jurídicos, sendo
esse meio concedido pelo ordenamento jurídico, e não propriamente um ato de
vontade, ou seja, o negócio jurídico se percebe como um comando concreto ao qual
é atribuído eficácia vinculante pelo ordenamento jurídico (AZEVEDO, 2002).
Entendendo o negócio jurídico como ponto principal da Parte Geral do
Código Civil de 2002, Tartuce (2019, p. 542) diz que o negócio jurídico se estabelece:
“Diante de uma composição de vontade de partes, que dita a existência de efeitos, há
a criação de um instituto próprio, visando regular direitos e deveres. A expressão tem
origem na construção da negação do ócio (..), ou seja, na ideia de movimento.”
Analisando o aspecto estritamente estrutural Azevedo (2002, p.16) dispõe
sobre o negócio jurídico:
O negócio jurídico, estruturalmente, pode ser definido ou como categoria, isto
é, como fato jurídico abstrato, ou como fato, isto é, como fato jurídico
concreto. (...) In concreto, negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em
declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos
designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência,
validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide.

Colocando como base de análise, do negócio jurídico, o mesmo preceito


Diniz (2012, p.472) dispõem que:
O negócio jurídico repousa na ideia de um pressuposto de fato querido ou
posto em jogo pela vontade e reconhecido como base do efeito jurídico
perseguido. Seu fundamento é a vontade humana, desde que atue na
conformidade da ordem jurídica. Seu habitat é a ordem jurídica. Seu efeito é
a criação de direitos e obrigações. É a norma jurídica que confere à vontade
esse efeito, seja quando o procede unilateralmente, seja quando a declaração
volitiva marcha na conformidade de outra congênere, concorrendo a dupla
17

emissão de vontade. A presença necessária da emissão da vontade no


negócio jurídico e sua conformidade com a lei sugere uma investigação desse
elemento, pois (...) casos há que essa vontade falta, em que há vícios de
consentimento e em que há vontade, mas com desvio de lei, causando
anulação do negócio, por ser este defeituoso.

Utilizando de uma análise centrada principalmente na gênese Assis Neto,


Jesus e Melo (2017, p. 318) entendem o negócio jurídico como sendo um:
(...) ato cuja prática e efeitos são derivados da vontade humana. Quer dizer
que, para que determinada pessoa possa alienar uma coisa, por exemplo, ela
deve ter a vontade livre e consciente não só de praticar a venda, mas,
também, de gerar os seus efeitos, ou seja, a transmissão da propriedade. Nos
negócios, então, os efeitos jurídicos do ato dependem da vontade declarada
do agente (declaração de vontade). Ainda que vários desses efeitos estejam
previstos na própria lei, eles não decorrerão caso não exista declaração de
vontade nesse sentido. Além disso, a manifestação da vontade humana
alcança a produção de efeitos, modulando-os, a vontade não fica adstrita (...)
à simples escolha quanto a prática do ato ou não.

A interpretação meramente estrutural feita por Azevedo (2002) prioriza a


estrutura do negócio jurídico sendo que a manifestação de vontade no sentido de
produzir ou não o ato ou fato não é o elemento principal do negócio jurídico, já que os
efeitos gerados pela realização do negócio jurídico são todos regulamentados pelo
ordenamento jurídico não importando a existência de vontade expressa na realização
do ato ou fato gerado pelo negócio jurídico. Dessa forma importa somente na
expressão da vontade na realização do negócio observados os requisitos legais.
Fazendo uma análise a partir da Teoria Geral do Direito brasileiro
contemporâneo, Redondo (2020, p.84) utiliza do aspecto da estrutura do negócio
jurídico para realizar a sua conceituação, sendo assim, para o referido autor, negócio
jurídico é: “[...] o ato no qual a vontade humana dirige-se tanto à sua prática, quanto
às suas consequências e a os efeitos jurídicos que dele decorrerão sendo o ato mero
instrumento para o alcance da finalidade voluntariamente desejada”.
Analisando o direito civil atual, com um afastamento da primazia da vontade
individual, Lôbo (2019, p. 322) vislumbra o negócio jurídico como sendo:
(...) fato jurídico cujo núcleo é a vontade negocial exteriorizada nos limites da
autonomia privada, ou a conduta humana participante de tráfico jurídico, a
que o direito confere validade e eficácia negociais. Esse conceito, em sua
segunda parte, difere do conceito tradicional, pois inclui as condutas ou
comportamentos avolitivos, bastando sua inserção no tráfico jurídico.

Aplicando o mesmo entendimento Farias e Rosenvald (2017, p.504)


dispõem que:
18

O negócio jurídico transcende o individualismo da vontade para cumprir


função de instrumento de concretização da nova tábua axiologia
constitucional (CF/88, arts. 1º, III, 3º e 5º). Sem dúvida, esta há de ser a
diretriz do negócio jurídico na perspectiva civil-constitucional: âmbito de
atuação individual com eficácia jurídica, servindo aos ideais de
desenvolvimento e realização da pessoa humana. (...) é mister superar a ideia
de negócio jurídico em autonomia privada, entronizada historicamente como
a garantia da liberdade dos cidadãos.

Aplicando um entendimento tradicional que valoriza a vontade individual


Azevedo (2019, p. 283) diz que:
(...) as partes interessadas, ao manifestarem sua vontade, vinculam-se,
estabelecem, por si mesmas, normas regulamentadoras de seus próprios
interesses. (...) No negócio jurídico não se realiza, pura e simplesmente, uma
vontade, mas criam-se normas para harmonização de vontades, que,
aparentemente, parecem antagônicas, contraditórias (por exemplo, comprar
e vender).

Tecendo uma crítica em relação a liberdade de escolha no negócio jurídico


na sociedade contemporânea, Lôbo (2019, p. 325) diz que:
À conduta ou ao comportamento negocial típico das pessoas o direito atribui
efeitos assemelhados aos negócios jurídicos volitivos, mas a manifestação
de vontade (...) é dispensada ou desconsiderada nos negócios massificados
que integram a existência das pessoas nas sociedades contemporâneas. Sob
a forma de contratos está o fornecimento de produtos e serviços que fazem
parte do cotidiano das pessoas, de modo predeterminado, inalterável,
padronizado e oferecido a milhares, às vezes milhões de usuários ou
adquirentes, que deles necessitam (...). Nesses casos não há liberdade de
escolha, a não ser a de não ter necessidades ou a de ficar à margem da
sociedade de consumo ou da vida econômica, o que não é razoável. O
problema é que a teoria do negócio jurídico foi concebida a partir do modo de
vida liberal do século XIX, tendo por núcleo as manifestações de vontade de
pessoas consideradas livres e iguais, o que a torna inteiramente inadequada
para absorver os fenômenos contemporâneos da concentração empresarial
e da massificação social.

Com uma interpretação no mesmo sentido, mas sem deixar de reconhecer


a importância do negócio jurídico, Venosa (2017, p.340) dispõem que:
Há, sem dúvida, manifestações de vontade que não são livres na essência,
mormente no campo contratual, o que dificulta a compreensão original do
negócio jurídico. É, contudo, no negócio jurídico, até que se estabeleça nova
conceituação, em que repousa a base da autonomia da vontade, o
fundamento do direito privado. Não obstante as críticas que sofre, a doutrina
do negócio jurídico demonstra ainda grande vitalidade no direito ocidental,
mormente na Itália, Alemanha e França. O negócio jurídico continua sendo
um ponto fundamental de referência teórica e prática. É por meio do negócio
jurídico que se dá vida às relações jurídicas tuteladas pelo direito.
19

Analisando as situações possibilitadas pela massificação social nas


relações jurídicas sob a ótica da concepção clássica, Mello (2019, p.231-2) dispõem
que:
No nosso entender essas situações geradas pela massificação nas relações
negociais (que, de um modo ou de outro, é o fator determinante da
intervenção estatal cada vez mais intensa na vida econômica e na vida das
pessoas), apesar de relevantes, somente parecem procedentes quando
analisadas em consonância com a concepção clássica das categorias
tradicionais. Se, no entanto, apreciarmos as espécies considerando o
verdadeiro conceito de negócio jurídico, escoimado dos excessos
voluntaristas, [...], veremos que atende a quaisquer situações possíveis.
Ainda na nossa concepção, o elemento fundamental caracterizador do
negócio jurídico consiste, precisamente, na circunstância de que a liberdade
das pessoas (autonomia da vontade) na escolha da categoria jurídica
respectiva varia em amplitude, conforme as normas do sistema jurídico,
podendo ir de um mínimo de escolha – quando há numerus clausus e apenas
um tipo a escolher – a um máximo, quando se permite, até, a criação de
espécies novas (numerus apertus). A vontade negocial, assim, só tem
poderes de escolha dentro dos limites traçados pelo ordenamento jurídico,
não sendo, portanto, livre e muito menos absoluta. A partir de uma tal
concepção, não vemos dificuldade para explicar, como negócios jurídicos, o
contrato de adesão, o contrato-tipo, o contrato administrativo e até os
contratos ditos necessários.

Ao analisar o negócio jurídico, Coelho (2020, p.185) dispõem que o mesmo


possui três atributos que são:
(...) existência, validade e eficácia. O negócio existe se preenchidos dois
pressupostos: a conjugação dos seus elementos essenciais (sujeito de
direito, declaração de vontade com intenção de produzir certos efeitos e
objeto fisicamente possível de existir) e a juricidade (descrição pela lei como
fato jurídico). Uma vez existente, será válido, se atendidos os requisitos de
validade (agente capaz, objeto lícito e determinável, forma legal) e desde que
inexistente vício de formação (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou
fraude contra credores). Existente, válido ou inválido, o negócio jurídico será
eficaz quando os efeitos pretendidos pelo sujeito ou sujeitos declarantes se
realizarem espontaneamente ou com a intervenção do Poder Judiciário.

O Código Civil de 2002, em seu artigo 104, dispõem sobre os requisitos de


validade do negócio jurídico, sendo disposto no referido artigo a seguinte regra: “Art.
104- a validade do negócio jurídico requer: I- agente capaz; II- objeto lícito, possível
ou determinável; III- forma prescrita ou não defesa em lei”, preenchidos os requisitos
estabelecidos pela lei o negócio jurídico se torna válido.
Dentro do aspecto de validade, existe a situação de nulidade e
anulabilidade do negócio jurídico, sobre a nulidade, os artigos 166 e 167 do Código
Civil de 2002 dispõem:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
20

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;


II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar
sanção.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se


dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes
do negócio jurídico simulado.

Sobre a anulabilidade do negócio jurídico, Gonçalves (2020, p. 512)


estabelece que:
Declara o art. 171 do Código Civil que, “além dos casos expressamente
declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa
do agente; II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores”. Embora não mencionada, é também causa
de anulabilidade a falta de assentimento de outrem que a lei estabeleça como
requisito de validade, por exemplo, nos casos que um cônjuge só pode
praticar com a anuência do outro, ou que o ascendente depende do
consentimento do descendente.

Sendo elemento essencial para a caracterização do negócio jurídico a


conjugação de seus atributos gera cinco possibilidades para o negócio jurídico, quais
sejam: negócio existente, válido e eficaz; negócio existente, inválido e eficaz; negócio
existente, inválido e ineficaz e negócio ineficaz (COELHO, 2020).
Analisando as situações jurídicas geradas pelo negócio jurídico, Mello
(2019, p.100-2), expõem que:
Em nosso entendimento, situação jurídica é expressão que tem duas
acepções, a saber (a) em sentido lato, designa toda e qualquer consequência
que se produz no mundo jurídico em decorrência de fato jurídico, englobando
todas as categorias eficaciais, desde os mínimos efeitos à mais complexa das
relações jurídicas; define, portanto, qualquer posição em que um sujeito de
direito se encontre no mundo jurídico; (b) em sentido estrito, nomeia,
exclusivamente, os casos de eficácia jurídica em que não se concretiza ainda
uma relação jurídica, e os eventuais direitos subjetivos que dela emanam não
implicam ônus e sujeição na posição passiva, porque seus efeitos se limitam
a uma só esfera jurídica (casos de situações jurídicas unissubjetivas – vide,
adiante). (a’) Lato sensu, portanto, relação jurídica constitui espécie, a mais
importante, do gênero situação jurídica; (b’) stricto sensu, situação jurídica
são espécies diferentes de eficácia jurídica.
21

Diante dos conceitos apresentados pode-se entender o negócio jurídico


como uma manifestação de vontade, sendo que na sociedade contemporânea e nos
contratos massificados a expressão de vontade não é feita de forma totalmente livre,
tendo como objetivo regulamentar determinada situação fática possuindo seus efeitos
determinados pelo ordenamento jurídico.

2.2 NEGÓCIO JURÍDICO COMO ATO JURÍDICO OU FATO JURÍDICO

A conceituação do negócio jurídico pela doutrina ora o classifica como ato


jurídico ora como fato jurídico. Entretanto, diante dos conceitos doutrinários, pode-se
entender que o fato jurídico (sentido amplo) é um gênero e o ato jurídico (sentido
amplo) é uma espécie, sendo que o negócio jurídico é tratado como um ato jurídico
negocial.
O Código Civil de 1916 não disciplinava de forma direta o negócio jurídico,
dando a ele apenas um tratamento como sendo ato jurídico. Todavia, referido código
disciplinava diversos atos unilaterais e de contratos que nada mais são do que negócio
jurídico. Ao conceituar o que é ato jurídico o Código Civil de 1916, estava na verdade
referindo-se ao conceito de negócio jurídico já conhecido à época. O Código Civil de
2002 optou por não repetir o conceito de ato jurídico e sim tratar diretamente do
negócio jurídico (VENOSA, 2017).
Realizando uma classificação dos fatos jurídicos Azevedo (2019, p. 279)
entende o negócio jurídico como uma espécie do gênero de fato jurídico:
Os fatos jurídicos, em sentido amplo, dividem-se em: (a) fatos jurídicos em
sentido estrito, que são caracterizados pela mera “fenomenicidade” (no
sentido de que o direito releva, exclusivamente, o evento não humano); (b)
atos jurídicos em sentido estrito, em que está presente a voluntariedade; e (c)
negócios jurídicos, em que devem coexistir não só o evento e a vontade –
voluntariedade de comportamento, mas também, o escopo prático que o
sujeito pretende perseguir.

A diferenciação do fato jurídico para o ato jurídico reside no aspecto de que


o fato jurídico é um acontecimento, que não é consequência da vontade humana. O
ato jurídico que depende exclusivamente da vontade humana para existir, sendo que
ambos produzem efeitos jurídicos. Dessa forma no fato jurídico inexiste vontade ao
22

passo que o ato jurídico se constitui inteiramente de vontade, ou seja, este é volitivo
(AZEVEDO, 2019).
Entendendo o negócio jurídico como sendo um ato jurídico negocial e
estabelecendo uma diferenciação do mesmo com o ato jurídico não negocial, ou seja,
ato jurídico em sentido estrito, Pereira (2002, p.475-6) assim ensina:
Observa-se, então, que se distinguem o ‘negócio jurídico’ e o ‘ato jurídico’.
Aquele é a declaração de vontade em que o agente persegue o efeito jurídico
[...], no ato jurídico stricto sensu ocorre manifestação volitiva também, mas os
efeitos jurídicos são gerados independentemente de serem perseguidos
diretamente pelo agente. [...] Todos eles são fatos humanos voluntários. Os
‘negócios jurídicos’ são, portanto, declarações de vontade destinadas à
produção de efeitos jurídicos queridos pelo agente; os ‘atos jurídicos stricto
sensu’ são manifestações de vontade obedientes à lei, porém geradoras de
efeitos que nascem da própria lei. Dentre os atos lícitos estão os atos que
não são negócios jurídicos, bem como os negócios jurídicos. Todos, porém,
compreendidos na categoria mais ampla de ‘atos lícitos’.

Analisando o negócio jurídico, Mello (2019, p.225) concluí que:


[...] negócio jurídico é o fato jurídico cujo elemento nuclear do suporte fático
consiste em manifestação ou declaração consciente de vontade, em relação
à qual o sistema jurídico faculta às pessoas, dentro de limites
predeterminados e de amplitude vária, o poder de escolha de categoria
jurídica e de estruturação do conteúdo eficacial das relações jurídicas
respectivas, quanto ao seu surgimento, permanência e intensidade no mundo
jurídico.

Com a interpretação demonstrada é possível se compreender o negócio


jurídico como um ato negocial, diverso de ato jurídico em sentido estrito, abarcado
dentro do gênero fato jurídico em sentido amplo e, dessa forma, o negócio jurídico é
um ato negocial compreendido dentro do fato jurídico em sentido amplo.

2.3 A INFLUÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO DENTRO DO PROCESSO CIVIL

O negócio jurídico regulamenta os interesses das partes, estabelecendo


assim uma relação jurídica entre elas. Ocorre que tal relação pode gerar conflitos por
descumprimento do disposto no acordado, podendo até conter vícios jurídicos no que
foi estabelecido. Quando inexistir acordo entre as partes e havendo prejuízos o Estado
deve intervir na relação jurídica e sanar os eventuais vícios e prejuízos que tenham
ocorridos, por meio da atuação do Poder Judiciário.
23

O entendimento de jurisdição adotado por Neves (2018, p. 59) apresenta a


ideia de intervenção do estado na relação jurídica, sendo que dispõem: “a jurisdição
pode ser entendida como a atuação estatal visando à aplicação do direito objetivo ao
caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e
gerando com tal solução a pacificação social”. Dessa forma o Estado ao ser chamado
a atuar em uma relação jurídica visa a aplicação da justiça, resolvendo os conflitos
gerados e aplicando as normas ao caso concreto.
Ao estabelecer a diferenciação entre direito material e direito processual
Arenhart, Marinoni e Mitideiro (2020, p. 28) entendem que:
O direito processual também atribui primariamente bens jurídicos a
determinados entes. Diferentemente do direito material, porém, a sua missão
está em disciplinar as diferentes iterações sociais que podem ocorrer em um
ambiente específico – o processo. Diante de uma ameaça de crise ou de uma
efetiva crise de colaboração para a realização do direito material, o direito
processual entra em cena para viabilizar a tutela do direito material,
garantindo o seu atendimento. Daí que, nada obstante o direito processual
também atribua primariamente bens jurídicos a determinados entes, o faz
secundariamente – isto é, a fim de desempenhar uma função de tutela do
direito material: o processo é um instrumento para a tutela do direito.

No âmbito civil o processo serve para tutelar o direito civil, e como o negócio
jurídico estabelece regras entre as partes é importante ferramenta para o processo
civil, haja vista que o processo busca regular as disposições do direito material além
de solucionar os conflitos gerados por seu descumprimento com a finalidade de evitar
danos ou de minimizar seus efeitos e promover a sua recuperação.
O negócio jurídico é instrumento de regulamentação das relações jurídicas,
ocorre que em determinadas situações dessas relações surgem conflitos, e esses ao
não serem resolvidos de forma conciliadora entre as partes são levados a jurisdição
para que o Estado tutele o direito material através da atividade jurisdicional, sendo
que a tutela do direito material civil se dá pelo Processo Civil.
O Poder Judiciário através do Processo Civil analisa a aplicação do Direito
Civil no caso concreto, exemplo de análise do judiciário é a declaração de nulidade do
negócio jurídico, sendo que essa análise é expressa no julgamento de Recurso de
Apelação pela 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, cuja
ementa é:
APELAÇÃO CÍVEL. Ação DE DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE
NEGÓCIO JURÍDICO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E DANOS MORAIS. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
PRESCRIÇÃO INOCORRENTE. 1- A revisão do contrato celebrado entre as
24

partes, possui prescrição decenal, por força da norma do art. 205 do Código
Civil. 2- Deve ser mantida a natureza jurídica do cartão de crédito consignado,
quando houver indícios de que não houve abusividade e que a parte não foi
ludibriada na contratação, utilizando-se das benesses próprias do crédito
buscado, bem como assinando o contrato respectivo. Desta fita, não incide
ao caso o entendimento da Súmula 63 deste tribunal. 3- Uma vez acolhido o
primeiro apelo e mantido a pactuação nos moldes contratos, quanto a
natureza jurídica do cartão de crédito consignado, bem como reconhecido
que não houve má-fé por parte da instituição financeira, julga-se prejudicado
o recurso apelatório interposto pelo autor, para obter repetição de indébito em
dobro e indenização por danos morais. 1º APELO PARCIALMENTE
PROVIDO. 2º APELO PREJUDICADO.
(TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível
5070840-67.2020.8.09.0051, Rel. Des(a). CARLOS HIPOLITO ESCHER, 4ª
Câmara Cível, julgado em 15/03/2021, DJe de 15/03/2021)

Dessa forma o negócio jurídico influencia o Processo Civil, no sentido de que


ao regulamentar as relações jurídicas na sociedade, necessita de atenção da
jurisdição quando infringe o direito material ou gera algum prejuízo social na sua
aplicação ou revogação.

2.4 TIPICIDADE E ATIPICIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Ao analisar o negócio jurídico a doutrina utiliza de vários fatores para


classificar os negócios jurídicos, seja pelas partes que o compõe, seja pelo objeto e
até mesmo pelos seus efeitos. Um dos fatores utilizado para a classificação é a
tipicidade, sendo que são típicos os que estão previstos expressamente pela lei, como
por exemplo os contratos de compra e venda, permuta, locação e outros, já os atípicos
são aqueles cujo conteúdo e efeitos não possuem previsão legal, devendo ser aceitos
em virtude do princípio da autonomia da vontade se presentes os requisitos legais de
validade expressos no artigo 104 do Código Civil (Assis Neto; Jesus; Melo, 2017).
Os negócios jurídicos unilaterais, aqueles que possuem existência e eficácia
autônomas bastando a manifestação de vontade de apenas uma parte para a sua
caracterização, são típicos, haja vista que estão dispostos expressamente na
legislação como por exemplo a aceitação e a renúncia da herança, a instituição de
fundação, a emissão de título de crédito, o testamento, a promessa de recompensa e
outros regulados pelo Código Civil (Mello, 2019).
Com agentes capazes, com objeto lícito, possível ou determinado e com
forma não proibida pela lei, pode ser realizado inúmeros negócios jurídicos que não
25

estão previstos expressamente na lei, dessa forma a falta de expressão legal do


conteúdo e efeito de determinado negócio jurídico não impede a sua realização sendo
regulados os seus efeitos, que se causarem prejuízos ou contrariarem o ordenamento
jurídico serão sanados ou anulados.
26

3 NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO

Apesar de não conter de forma explícita a expressão negócio jurídico


processual o Código de Processo Civil de 2015, estabelece uma cláusula geral de
negociação em seu artigo 190, inclusive tal cláusula permite a realização de negócios
jurídicos atípicos, que assim dispõe:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,
é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o
processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos
casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

No entendimento de Didier Jr. (2019) o negócio jurídico processual, tanto


típico quanto atípico, é o fato jurídico voluntário, que reconhece ao sujeito o poder de
regular certas situações processuais ou alterar o procedimento dentro dos limites
fixados no próprio ordenamento jurídico.
Aplicando um entendimento do ponto de vista os elementos estruturais do
negócio jurídico processual, Redondo (2020, p.87), entende que:
[...] consiste o negócio jurídico processual em declaração unilateral ou
plurilateral de vontade autorregrada, direcionada tanto à prática do ato,
quanto ao seu resultado, que tenha por objeto (a criação, a modificação ou a
extinção de) instituto de natureza processual, situação jurídica processual,
relação jurídica processual ou algum aspecto do procedimento.

Além de estabelecer uma cláusula geral de negociação o Código de Processo


Civil de 2015 dispõe expressamente de situações, que apesar de não constarem com
o nome de negócio jurídico, nada mais são do que formas típicas do negócio jurídico
processual, sendo um exemplo a situação explicitada no artigo 191 do referido código
que disciplina:
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a
prática dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou
a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.
27

Analisando a tipificação do negócio jurídico processual pelo Código de


Processo Civil e pela legislação brasileira, Didier Jr. (2019, p. 443) demonstra que:
Há diversos exemplos de negócios processuais: a eleição negocial do foro
(art. 63, CPC), o negócio tácito de que a causa tramite em juízo relativamente
incompetente (art. 65, CPC), [...] a renúncia ao prazo (art. 225, CPC), o
acordo para a suspensão do processo (art. 313, II, CPC), organização
consensual do processo (art. 357, §2º, CPC), o adiamento negociado da
audiência (art. 362, I, CPC), a convenção sobre o ônus da prova (art. 373, §§
3º e 4º, CPC), a escolha consensual do perito (art. 471, CPC), o acordo de
escolha do arbitramento como técnica de liquidação (art. 509, I, CPC), o
acordo de impenhorabilidade (art. 883, I, CPC), a desistência do recurso (art.
999, CPC), o pacto de mediação prévia obrigatória (art. 2º, §1º, Lei n.
13.140/2015) etc. Todos são negócios processuais típicos.

Existem diversas outras situações expressas no Código de Processo Civil de


2015 que caracterizam a forma típica do negócio jurídico processual e que são
importantes ferramentas para o processo civil, como foco do presente trabalho está
na forma atípica do negócio jurídico processual passaremos a sua conceituação.

3.1 CONCEITO

A atipicidade está fundada na falta de expressão direta pela legislação de


algum fato ou ato, no caso do negócio jurídico processual, o Código de Processo Civil
estabeleceu uma cláusula geral de negociação, além de definir situações
expressamente que nada mais são do que negócios processuais típicos, possibilitou
a realização dos negócios processuais atípicos.
Com esse entendimento, Thamay (2019, p. 201-2) entende que os negócios
jurídicos processuais atípicos são:
[...] aqueles que não estão taxados e descritos no Código, mas que, com base
no art. 190, permitem a instituição de negócios processuais, desde que
vinculados à estrutura dos procedimentos. Há nesse dispositivo verdadeiro
desdobramento e, especialmente, exemplo do modelo cooperativo de
processo que o CPC estabelece. Compreende-se esse como uma forma de
organizar o processo pela existência de uma comunidade de trabalho em que
os rumos processuais são formatados de forma isonômica, com a
participação imprescindível das partes, e as decisões são tomadas de
maneira assimétrica, porém diretamente influenciadas pelo diálogo
estabelecido previamente.

Estabelecendo a diferença entre o negócio processual típico e atípico


Redondo (2020, p. 138-9) explicita que:
28

Os negócios processuais são típicos quando a lei traz regulamentação


específica e mais detalhada possível dos principais aspectos do negócio
(sujeitos, objeto, formalidades, pressupostos/requisitos, limites, efeitos, etc.).
Como exemplo de negócio processual típico, pode-se mencionar a
convenção das partes sobre ônus da prova (art. 373, §§3º e 4º, CPC). Por
seu turno, são atípicos os negócios quando inexiste, na lei, regulamentação
específica e precisa (identificação, delimitação e detalhamento) dos principais
aspectos do negócio.

Os negócios jurídicos processuais atípicos, aqueles não taxados, que não


possuem uma nomeação pela norma jurídica, entretanto permitido a sua realização,
encontra sua estrutura no disposto no art. 190 do Código de Processo Civil. Quando
o processo versar sobre direitos que admitam autocomposição, é permitido as partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo (THAMAY,2019).
Dispondo sobre o negócio processual atípico, Talamini (2015, p. 2-3) expõem
no mesmo sentido que:
O ajuste de vontade das partes poderá modular o procedimento ou posições
jurídicas processuais em outras hipóteses, que não apenas aquelas
taxativamente previstas em lei. Assim, atribui-se ampla liberdade às partes
para, em comum acordo, modularem o processo judicial, ajustando-o às suas
necessidades e expectativas concretas

Como fonte de inspiração, ou fator de incentivo, para a instituição do negócio


processual atípico pelo legislador, têm-se a arbitragem. Dessa forma a ideia
subjacente à cláusula geral de negociação é a de que se as partes podem retirar a
solução de um conflito do âmbito do Judiciário e atribuir a solução a privacidade de
um juiz seguindo o processo a vontade expressa das partes, não existe razão para o
impedimento da manutenção da solução do conflito através do juiz estatal, mas com
um procedimento e, ou, processo que seja por elas transformados (TALAMINI, 2015).
Ao comentar o artigo 190 do Código de Processo Civil, Theodoro Júnior (2016,
p. 559) estabelece que a ideia do negócio processual atípico:
[...] se coaduna com o princípio da cooperação, que está presente no Código
atual, devendo nortear a conduta das partes e do próprio juiz, com o objetivo
de, mediante esforço comum, solucionar o litígio, alcançando uma decisão
justa, mediante procedimento mais simples e mais adequado ao caso dos
autos. O NCPC autoriza o negócio processual sob a forma de cláusula geral,
sem, portanto, especificar expressamente os limites dentro dos quais a
convenção das partes poderá alterar o procedimento legal. O convencionado
entre as partes vinculará o juiz, não cabendo a estas, no entanto, eliminar as
suas prerrogativas. Por outro lado, não se reconhece ao magistrado o poder
de veto puro e simples. Toca-lhe apenas o poder de fiscalização e controle,
29

de modo a impedir convenções nulas ou abusivas, como explicita o parágrafo


único do art. 190.

Como requisito para a realização do negócio processual têm-se que os


direitos negociados permitam autocomposição, Alvim Neto (2017, p. 136-7) expõem
as implicações da autocomposição no negócio processual:
Direitos que admitem autocomposição – é requisito para a validade do
negócio processual que o direito material em tela esteja dentre aqueles que
admitem transação. É de se notar, neste ponto que o CPC, à semelhança do
que fez a lei de arbitragem (art. 1º da Lei n. 9.307/96) recorre à natureza do
direito substancial em disputa a fim de tornar admissível, ou não, a convenção
a respeito da matéria processual. Diferentemente, todavia, do que se verifica
na arbitragem, não é necessário que o direito material seja disponível, mas,
apenas, que admita autocomposição. A ressalva é importante pelo fato de
que, por mais paradoxal que possa parecer, há direitos indisponíveis
suscetíveis de serem transacionados, ao menos em relação a alguns de seus
aspectos. Exemplo disso é o que se verifica com o direito à pensão alimentícia
que, conquanto indisponível, admite negociação concernente ao seu valor.
Vale mencionar, ainda, a possibilidade de que o Ministério Público firma
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em ação civil pública que trate de
direito difuso, por excelência indisponível. Deste modo, em todos estes casos
em que esteja em jogo direito indisponível que admita transação, é possível
firmar acordo processual. O que a lei veda é a realização de acordos quando
estejam em disputa direitos que não admitam autocomposição, atributo de
difícil definição, especialmente se dissociada do caso concreto. Com efeito,
tanto no âmbito do direito material como na perspectiva das garantias
processuais é matéria extremamente complexa a definição dos limites de
disponibilidade. A redação do dispositivo recomenda, justamente, a
necessidade de interpretação e discussão sobre a questão. De todo modo,
se pode dizer ser inviável a celebração de convenção processual em ações
de reconhecimento de paternidade, ou de interdição, por exemplo.

Como explicitado o negócio processual pode ser realizado, em certos


aspectos, quando o processo tratar de direitos indisponíveis. Dessa forma resta
prejudicado a ideia de que o negócio processual estaria atrelado aos direitos
disponíveis, essa ideia decorre do regramento feito pela lei, que limita o acordo aos
direitos que permitam autocomposição e como esse atributo é dificilmente definido,
fica possível o atrelamento deste atributo com os direitos disponíveis (ALVIM NETO,
2017).
Com a mesma análise sobre os direitos indisponíveis, Redondo (2020, p.
176), entende que:
[...] há direitos que são usualmente classificados como indisponíveis - por se
relacionarem ao Direito Público ou a interesse público, v.g., alguns direitos
coletivos, da Fazenda Pública, de incapazes, da personalidade, tutelados
pelo Ministério Público – mas que, em determinadas situações, podem admitir
autocomposição. Revela-se indevida qualquer generalização no sentido de
uma impossibilidade absoluta – em tese, a priori – de autocomposição em
relação a qualquer direito, objeto ou titular. Não há como se afirmar, de
antemão, que “Ministério Público jamais poderia celebrar negócio jurídico
30

processual”, ou que “não caberia convenção processual em tutela coletiva”,


ou que “Fazenda Pública estaria fora do alcance do art. 190 do CPC”, etc.

Existem pressupostos de existência do negócio jurídico processual atípico,


quais sejam: agente; vontade autorregrada; objeto e forma. Também existem os
requisitos de validade quais sejam: a capacidade processual e postulatória, quando
incidental e dentro do processo; a liberdade da vontade, consentimento informado e
equilíbrio entre os celebrantes; a juridicidade do objeto e adequação da forma
(REDONDO, 2020).
Dessa forma atípicos são os negócios processuais que não estão
disciplinados pela legislação, mas que precisam estar de acordo com os requisitos
impostos pela legislação para ser considerado válido. É possível compreender que
com a prática do negócio jurídico processual atípico tem por consequência uma
diminuição de causas judiciais, uma vez que influencia as partes a formarem uma
opinião em direção a único sentido para adequar o procedimento as suas
especificidades, podendo com isso gerar um acordo entre as partes e não
necessitarem mais da tutela jurisdicional, ou se não possibilitará uma maior celeridade
no procedimento que gerará a diminuição também.

3.2 HISTÓRICO

Para análise do histórico do negócio processual atípico, é necessário entender


como o Processo Civil se evoluiu como ciência no âmbito brasileiro, sendo que esse
entendimento é de suma importância para a compreensão de qual foi a razão do
legislador ao estabelecer a cláusula geral de negociação no artigo 190 do Código de
Processo Civil.
A História brasileira demonstra que a sociedade brasileira está há muito
familiarizada, com o que é chamado de movimento pendular da História, da Política e
do Direito. Analisando a evolução científica do Direito Processual Civil,
especificamente à sua ideologia, é possível notar o movimento pendular. Sendo que
a evolução científica do Direito Processual Civil é dividida em fases metodológicas,
podendo ser nomeadas de: fase imanentista (ou praxista); fase científica (ou
processualismo); fase instrumentalista (ou instrumentalismo) e fase contemporânea
31

(formalismo-valorativo ou neoprocessualismo), sendo que essa nomenclatura varia de


acordo com o autor que faça análise da evolução (REDONDO, 2020).
A fase imanentista (ou praxista) consiste na primeira etapa da evolução
científica do Processo Civil, sendo a fase histórica de maior duração, tendo como
principal característica a anterioridade à autonomia do Direito Processual Civil. Dessa
forma durante essa fase o Direito Processual estava incluído dentro do Direito
Material, inexistindo premissas, fundamentos ou repertório teórico próprios, típicos e
exclusivos do Direito Processual, sendo que a análise doutrinológica à época se
importava apenas com os institutos materiais sem se preocupar com os aspectos
processuais. Vigorou durante essa fase a chamada teoria unitária do ordenamento
jurídico, onde não era reconhecido a dualidade de planos, ou seja, Direito Processual
e Direito Material e sim a unicidade de plano, ou seja, vigorava somente o Direito
Material. A ideologia presente na fase imanentista é a do privatismo, onde era dado
pouca importância ao estudo do Estado-juiz e da jurisdição estatal (REDONDO, 2020).
Já a fase científica (ou processualismo), surgiu em meados do século XIX com
o desenvolvimento da teoria dualista do ordenamento jurídico, onde foi intensificado o
estudo de dois dos principais institutos do Direito Processual, quais sejam o processo
e a ação. Dessa forma, na referida fase, o Direito Processual surge como ramo
autônomo e vinculado ao Direito Público, tornando-se totalmente dissociado do Direito
Material, que seguiu como espécie do Direito Privado. Durante a fase científica houve
uma busca por uma construção científica mais pura do Direito Processual, ou seja,
deu-se uma ênfase excessiva ao seu estudo científico, chegando ao exagero que o
afastou do direito material e da realidade social e de sua finalidade essencial, qual
seja a promoção da realização do Direito Material com a maior efetividade possível
(REDONDO, 2020).
Com o intuito de separar o Direito Processual do Direito Material, a doutrina
da época optou por dar ao Direito Processual uma forte dose de publicismo, para
reforçar que nada teria em comum com o Direito Material, sendo a ideologia presente
nessa época a do (hiper)publicismo, pois o Direito Processual era (hiper) público,
autônomo e abstrato (REDONDO, 2020).
Diante dos efeitos gerados pelo cientificismo exacerbado, os doutrinadores
tiveram uma guinada acadêmica, iniciada por volta dos anos 1970, que gerou a fase
instrumentalista (ou instrumentalismo). Durante a fase instrumentalista, foram
empregados esforços para desenvolver meios e mecanismos de aprimorar o exercício
32

da prestação jurisdicional, a fim de tornar o seu resultado, qual seja a tutela


jurisdicional) mais efetivo. Sendo que o processo deixou de ser visto como um fim em
si mesmo e passou a ser considerado como um meio e um instrumento utilizado pelo
Estado para alcançar os escopos jurídicos, sociais políticos e econômicos
pretendidos. Prevaleceu nessa fase a ideologia do publicismo, mas enxergado por
uma lente mais garantista com o desapego do formalismo exacerbado e uma ênfase
maior no desenvolvimento de técnicas diferenciadas e maior aproveitamento dos atos
processuais com o objetivo principal de garantir a maior efetividade da tutela
jurisdicional (REDONDO, 2020).
Como desdobramento, evolução e uma continuação da fase instrumentalista
surgiu a fase contemporânea (formalismo-valorativo ou neoprocessualismo), que não
se apresenta de forma antagônica à instrumentalista, já que ambas buscam o
aprimoramento da prestação jurisdicional, com o intuito de sua maior efetividade. Sua
diferenciação reside na colocação de maior ênfase, pela fase contemporânea, na
revisão de categorias processuais, na aplicação direta e imediata dos direitos
fundamentais à relação jurídica processual, ampliação da jurisdição constitucional e
exigência de efetividade da tutela jurisdicional, cujo alcance requer uma maior
eficiência da prestação jurisdicional, por meio de um procedimento adequado
(REDONDO, 2020).
Reconhecida na fase contemporânea está a nova teoria das fontes, que difere
texto de norma, valoriza a força normativa dos princípios, reconhece o papel dos
precedentes jurisdicionais e expande a utilização e aplicação das cláusulas gerais.
Existe nessa fase a estimulação e revisão profunda das categorias processuais tidas
como principais, quais sejam a tutela, a jurisdição, o processo, a ação, a cognição, a
execução, os fatos jurídicos processuais, as estabilidades, os defeitos e invalidades,
os precedentes e os meios impugnativos (REDONDO, 2020).
A ideologia presente na fase contemporânea é do publicismo em um modelo
cooperativo de processo, haja vista que a ideologia super publicista fracassou, o
pêndulo processual abandonou seu extremo (hiper)publicista e adotou um meio termo
qual seja um publicismo-cooperativo no qual os sujeitos processuais, em cooperação,
possuem amplos poderes de adequação processual, inclusive de forma atípica
(REDONDO,2020).
Durante a fase contemporânea, a partir da revisão da teoria das fontes do
Direito, dos imperativos da jurisdição, no sentido da efetividade e eficiência, e da
33

estimulação à autocomposição, houve um pensamento favorável a realização de


negócios processuais atípicos. No modelo cooperativo-publicista existe espaço aberto
para aplicação efetiva dos princípios da adequação processual e do respeito ao
autorregramento da vontade das partes no processo (REDONDO, 2020).
Analisando a fase contemporânea, Alvim Neto (2019, p.615-6), estabelece o
seguinte:
Não faz mais sentido, diga-se, a contraposição entre público e privado na qual
este soa como antigo e aquele como novo, no processo. Tal despolarização
já ocorre no âmbito macroscópio, aplicando-se, até mesmo, ao direito
administrativo. No campo do processo, é justificada pelo argumento de que a
busca do exercício democrático dos direitos fundamentais não pode ser
inviabilizada por uma defesa exacerbada da natureza pública do processo.
[...] O publicismo exacerbado é que caminha para ser mitigado, até mesmo
por algumas das premissas metodológicas no CPC/2015 – em especial os
deveres fundamentais de boa-fé (art. 5º) e cooperação (art.6º). Com a
previsão expressa, no art. 190 do CPC/2015, de negócios processuais
atípicos, esse modelo de abordar o tema precisa ser revisto.

Com o conhecimento das fases de evolução do Direito Processual Civil é


possível a compreensão do surgimento dos negócios jurídicos processuais atípicos,
sendo que esse surgimento está de forma intimamente ligada a evolução científica do
processo civil.
Antes do advento do Código de Processo Civil de 2015, a grande parte do
entendimento doutrinário da época era contrário a categoria dos negócios jurídicos
processuais, sendo que entendiam essa categoria como inexistente, descabida,
impossibilitada ou irrelevante (REDONDO, 2020).
Sobre a vigência do Código de Processo Civil de 1973, regia o dogma da
irrelevância da vontade das partes no processo, justamente por influência da fase
científica no Direito Processual brasileiro. Eram poucos os processualistas civis
brasileiros que reconheciam a categoria, que tinham o entendimento de que a
limitação mais severa feita pelas normas processuais cogentes sobre o
autorregramento da vontade não tornava inviável o reconhecimento da existência dos
negócios jurídicos processuais (REDONDO, 2020).
Dentre os processualistas que reconheciam a figura dos negócios
processuais, sua grande maioria pensava ser possível somente a celebração de
negócios processuais típicos, sendo que não mencionavam sobre a possibilidade ou
não da realização de negócios processuais atípicos. Entretanto existia
posicionamento doutrinário admitindo, em tese, a figura do negócio jurídico processual
34

atípico, mas para tanto era necessário a intermediação judicial para a produção de
efeitos, com isso, era admitida a realização dos negócios processuais atípicos, mas
já surgiam ineficazes, sendo atrelados e dependentes de autorização judicial para
produção de efeitos (REDONDO, 2020).
Apesar de ser minoritário existia entendimento que admitia a realização de
negócios jurídicos processuais atípicos, com eficácia imediata, ou seja, a prévia
homologação judicial para a produção de efeitos era considerada desnecessária, não
havendo consenso quanto aos limites de tal possibilidade, ou seja, os pressupostos
de existência e os requisitos de validade dos negócios processuais atípicos
(REDONDO, 2020).
Com o advento do Código de Processo Civil de 2015, a existência da categoria
negócio jurídico processual foi amplamente reconhecida pela doutrina processual civil
brasileira, a mudança de pensamento daqueles que negavam a referida categoria se
dá pelo fato do disposto no artigo 190 do Código de Processo Civil de 2015. Com base
no reconhecimento da referida categoria, não existe mais a possibilidade de discutir
sobre a existência ou não dos negócios jurídicos processuais atípicos, sendo que
entendimento eventual de sua inexistência ou impossibilidade se dá de forma
ultrapassada e contra a própria lei (REDONDO, 2020).
Os estudos da categoria negócio jurídico processual foram amadurecidos e
com isso ficou possível a análise dos diplomas processuais anteriores ao Código de
Processo Civil e perceber a existência de previsão de negócios processuais típicos,
em espécie, ainda que não reconhecidos como negócios, mas apenas como atos
processuais (REDONDO, 2020).
Analisando o Direito brasileiro é possível perceber que por volta do século XVI
ao século XIX, eram adotadas em Portugal as Ordenações do Reino, sendo que tais
diplomas foram aplicados no Brasil-colônia ficando vigentes até mesmo após a
Independência, ocorrida em 1822. Tais ordenações, apesar da rigidez das suas
normas cogentes, estabeleciam um mínimo espaço para autorregramento da vontade
das partes através da possibilidade de escolha de juízes árbitros para julgar a causa
e no juízo de conciliação prévia (REDONDO, 2020).
Com a Constituição do Império de 1824, existiu a possibilidade de as partes
celebrarem convenção de arbitragem e, ainda, pactuarem a não interposição de
recurso contra sentença arbitral. Somente com o Decreto 737 de 1850 que as
Ordenações do Reino vieram a ser revogadas, sendo determinado pelo referido
35

decreto a possibilidade de conciliação prévia em processos judiciais, a sujeição


voluntária à decisão do juiz conciliador e eventual pacto de não recurso, a escolha do
juízo competente territorialmente para julgar a demanda, a opção pelo procedimento
sumário em qualquer demanda e outras mais (REDONDO, 2020).
Com a vigência do Código de Processo Civil de 1939, que foi o primeiro código
de processo federal do Brasil, foi possibilitado situações como as desistências, a
suspensão convencionada da instância, a desistência da demanda e a transação,
convenção dos litisconsortes para divisão de tempo para apresentação dos debates
orais e outras mais. Entrando em vigor o Código de Processo Civil de 1973, foi
permitido a eleição de foro, a distribuição convencional do ônus da prova, a suspensão
da fase de conhecimento, o adiamento da audiência de instrumento e julgamento e
outras mais (REDONDO,2020).
Diante do estabelecido fica demonstrado que a categoria dos negócios
jurídicos, não é uma criação do Código de Processo Civil de 2015, sendo que
presentes em diversas legislações anteriores, o que a legislação atual fez foi
reconhecer a sua existência e disciplinar de forma direta a sua realização,
estabelecendo situações de forma direta de sua realização e permitindo a negociação
de forma atípica.
É possível entender a razão do legislador ao estabelecer a cláusula geral de
negociação no artigo 190 do Código de Processo Civil de 2015, uma vez que
influenciado pela fase contemporânea de evolução científica do Direito Processual
Civil, a qual foi reconhecida maior autonomia aos sujeitos processuais, com isso foi
possível a implementação de uma cláusula geral de negociação que permitiria a
eficácia do princípio do autorregramento da vontade das partes.

3.3 HIPÓTESES DO NEGÓCIO PROCESSUAL ATÍPICO

A atipicidade do negócio processual, está no fato do mesmo não ser


normatizado de forma direta pela legislação, sendo que o Código de Processo Civil
de 2015 estabeleceu apenas uma cláusula geral de negociação, com isso nos direitos
que admitem autocomposição podem as partes modificarem o procedimento para
ajustá-lo as especificidades da causa.
36

Analisando a cláusula geral de negociação, Redondo (2020, p.107-8),


percebe a existência de um princípio, sendo que dispõem:
O novel Código positivou, no art. 190, uma cláusula geral consagradora do
(sub)princípio da atipicidade da negociação processual, ao permitir a mais
ampla liberdade das partes para a estipulação de negócios jurídicos
processuais. Trata-se de cláusula geral porque o texto do art. 190 contém
comandos indeterminados, conceitos vagos, sem prever a consequência
jurídica de sua inobservância. Dita cláusula geral, por seu turno, consagra o
subprincípio da atipicidade da negociação processual. Subprincípio pelo fato
de servir à concretização do princípio do respeito ao autorregramento da
vontade das partes no processo, revelado, entre outros, pelo art. 200. A
autorização legal prevista na cláusula geral é de atipicidade de negociação
processual, porque inexiste prévia estipulação exaustiva, na lei, das
adequações negociais que podem ser efetuadas no procedimento, como
tampouco existe específica identificação (delimitação, detalhamento) do
objeto dos negócios jurídicos processuais (quais direitos, quais ônus, quais
faculdades e quais deveres podem ser convencionados), nem do alcance e
dos limites dessas convenções (isto é, qual o espectro dessas disposições).

Entretanto existe limites à liberdade das partes na negociação processual


atípica, sobre esses limites, Lorentz (2019, p.1) estabelece que:
Oportuno recordar que estão entre os limites de validade os requisitos gerais
de validades dos negócios jurídicos em sentido amplo, como também os
requisitos formais elencados no artigo 190 do novo CPC. Constituem, assim,
limites expressos ao autorregramento da vontade das partes. Da mesma
forma, estar a mudança procedimental vinculada à concretude do caso
concreto e à impossibilidade de as partes convencionarem sobre as posições
jurídicas do juiz são também fatores que se impõem como limites. [...]
Princípios e garantias fundamentais do processo também figuram dentre os
limites obstativos. São, pois, inválidos os negócios jurídicos que mitiguem
princípios já sedimentados, a título de exemplo do juiz natural, da vedação da
prova ilícita e da razoável duração do processo. [...] A possibilidade de
negociação processual recai na pactuação dos deveres, dos poderes, das
obrigações e do ônus de cada parte na relação jurídica. Pode, assim, a
negociação recair sobre aspectos procedimentais, mas há que se esclarecer
sua possibilidade sobre os direitos propriamente ditos. Conforme leciona o
artigo 190 do novo CPC, o negócio jurídico processual só poderá ser aplicado
a processos que versem sobre direitos que admitam a autocomposição.

Dentro dos limites estabelecidos, as partes podem negociar e estabelecer as


mudanças necessárias no procedimento para que alcancem efetiva tutela jurisdicional
de forma mais célere e mais adequada ao seu caso, e com isso, inúmeras podem ser
as possibilidades de negociação processual versando sobre o procedimento.
Sobre a regulação do negócio processual atípico, permitido apenas nos
direitos que admitam autocomposição, Redondo (2020, p.175), estabelece que:
A expressão direito que admita autocomposição foi escolhida
propositalmente pelo Legislador de 2015 para permitir um alcance maior, uma
maior utilização da figura dos negócios processuais atípicos. Para essa maior
potencialização das convenções, o art. 190 evitou expressões que poderiam
ser interpretadas de forma mais limitada ou restritiva, como direitos
37

patrimoniais disponíveis (referidos na Lei de Arbitragem, art. 1º da Lei


9.207/1996) ou direitos disponíveis.

Sobre as hipóteses de negócios processuais atípicos que envolvam interesse


público ou direito coletivo, Redondo (2020, p.183), expõem que:
A negociação atípica pelo Poder Público não é, per se, incompatível com os
princípios que regem o Direito Público e que, assim, norteiam a Fazenda
Pública. Primeiramente, porque eventual negócio processual atípico pode ir
de encontro dos mais variados “princípios da Administração Pública”,
promovendo ora uma maior eficiência, ora maior economicidade, ora um
maior atendimento ao interesse público. Em segundo lugar, as convenções
também podem potencializar “garantias processuais fundamentais” da
Fazenda, como a efetividade da tutela jurisdicional, a isonomia substancial, o
contraditório substancial, a duração razoável do processo, etc. Finalmente,
os negócios processuais podem promover a juricidade – legalidade lato
sensu, em seu aspecto tanto substancial, quanto processual – contribuindo
para que o Poder Público atue de forma ainda mais adequada (“legal”),
potencializando a juricidade de suas condutas, comissivas e omissas, e de
suas decisões.

Obedecidos os limites estabelecidos e os requisitos de validade do negócio


processual atípico, podem as partes estabelecerem inúmeras hipóteses de negócios
sobre os seus ônus, direitos e faculdades processuais, cabendo ao caso concreto
estabelecer qual a hipótese que melhor beneficiará no sentido de prover maior
efetividade jurisdicional.
Tomando como base o caso concreto tratado no julgamento do Recurso
Especial nº. 1.738.656 – RJ (2017/0264354-5) pela Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, um exemplo de negócio processual atípico é os herdeiros no
processo de inventário convencionarem que todos poderiam fazer uma retirada
mensal do valor do espólio para custear suas despesas ordinárias, nesse caso eles já
estariam disfrutando da herança antes de concluir o processo de inventário e partilha,
permitindo com isso uma maior celeridade no sentido de não os deixar desamparados.

3.4 INFLUÊNCIA DO NEGÓCIO PROCESSUAL ATÍPICO NO PROCESSO CIVIL

Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 foi possível a ampliação


dos poderes das partes no sentido de adequarem atipicamente o procedimento, com
isso, prevalece a vontade das partes sobre a do juiz no tocante à disposição sobre
38

seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. Sobre essa nova sistemática
processual, Redondo (2020, p.109) estabelece que:
Para a adequada aplicação da nova sistemática processual, é necessário
esclarecer a nova premissa: o objetivo do processo é a tutela o mais efetiva
possível do direito, cujos titulares são, em regra, as partes. Por essa razão,
deve-se reconhecer que os titulares de determinadas situações processuais
são as próprias partes, e não o Estado-juiz, a pessoa natural do magistrado
ou os auxiliares da justiça. E, por serem as partes as titulares, deve-se
reconhecer uma maior liberdade no sentido da disposição (lato sensu) sobre
determinadas situações processuais e, até mesmo, sobre o procedimento.

Dessa forma os negócios processuais atípicos influenciam o Processo Civil,


no sentido de que reconhece as partes poderes de regular o procedimento para
conseguir uma efetividade maior na tutela jurisdicional. Nesse sentido a terceira turma
do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial n º. 1.738.656 – RJ
(2017/0264354-5) entendeu que:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INVENTÁRIO. CELEBRAÇÃO DE
NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO. CLÁUSULA GERAL DO
ART. 190 DO NOVO CPC. AUMENTO DO PROTAGONISMO DAS PARTES,
EQUILIBRANDO-SE AS VERTENTES DO CONTRATUALISMO E DO
PUBLICISMO PROCESSUAL, SEM DESPIR O JUIZ DE PODERES
ESSENCIAIS À OBTENÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA,
CÉLERE E JUSTA. CONTROLE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
PROCESSUAIS QUANTO AO OBJETO E ABRANGÊNCIA.
POSSIBILIDADE. DEVER DE EXTIRPAR AS QUESTÕES NÃO
CONVENCIONADAS E QUE NÃO PODEM SER SUBTRAÍDAS DO PODER
JUDICIÁRIO. NEGÓCIO JURÍDICO ENTRE HERDEIROS QUE
PACTUARAM SOBRE RETIRADA MENSAL PARA CUSTEIO DE
DESPESAS, A SER ANTECIPADA COM OS FRUTOS E RENDIMENTOS
DOS BENS. [...] NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO QUE
APENAS PODE SER BILATERAL, LIMITADOS AOS SUJEITOS
PROCESSUAIS PARCIAIS. JUIZ QUE NÃO PODE SER SUJEITO DE
NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL. INTERPRETAÇÃO ESTRITIVA DO
OBJETO E DA ABRANGÊNCIA DO NEGÓCIO. [...] ACORDO REALIZADO
ENTRE OS HERDEIROS COM FEIÇÕES PARTICULARES QUE O
ASSEMELHAM A PENSÃO ALIMENTÍCIA CONVENCIONAL E
PROVISÓRIA. ALEGADA MODIFICAÇÃO DO SUBSTRATO FÁTICO. [...] 3-
Embora existissem negócios jurídicos processuais típicos no CPC/73, é
correto afirmar que inova o CPC/15 ao prever uma cláusula geral de
negociação por meio da qual se concedem às partes mais poderes para
convencionar sobre matéria processual, modificando substancialmente a
disciplina legal sobre o tema, especialmente porque se passa a admitir a
celebração de negócios processuais não especificados na legislação, isto é,
atípicos. 4- O novo CPC, pois, pretende melhor equilibrar a constante e
histórica tensão entre os antagônicos fenômenos do contratualismo e do
publicismo processual, de modo a permitir uma maior participação e
contribuição das partes para a obtenção da tutela jurisdicional efetiva, célere
e justa, sem despir o juiz, todavia, de uma gama suficientemente ampla de
poderes essenciais para que se atinja esse resultado, o que inclui,
evidentemente, a possibilidade do controle de validade dos referidos acordos
pelo Poder Judiciário, que poderá negar a sua aplicação, por exemplo, se
houver nulidade. [...] 8- Admitir que o referido acordo, que sequer se pode
conceituar como um negócio processual puro, pois o seu objeto é o próprio
39

direito material que se discute e que se pretende obter na ação de inventário,


impediria novo exame do valor a ser destinado ao herdeiro pelo Poder
Judiciário, resultaria na conclusão de que o juiz teria se tornado igualmente
sujeito do negócio avençado entre as partes e, como é cediço, o juiz nunca
foi, não é e nem tampouco poderá ser sujeito de negócio jurídico material ou
processual que lhe seja dado conhecer no exercício da judicatura,
especialmente porque os negócios jurídicos processuais atípicos autorizados
pelo novo CPC são apenas os bilaterais, isto é, àqueles celebrados entre os
sujeitos processuais parciais. 9- A interpretação acerca do objeto e da
abrangência do negócio deve ser restritiva, de modo a não subtrair do Poder
Judiciário o exame de questões relacionadas ao direito material ou
processual que obviamente desbordem do objeto convencionado entre os
litigantes, sob pena de ferir de morte o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal
e do art. 3º, caput, do novo CPC. [...] 13- Na hipótese, o acordo celebrado
entre as partes é bastante singular, pois não versa sobre bens específicos,
mas sobre rendimentos e frutos dos bens que compõem a herança ao
espólio, bem como porque fora estipulado com o propósito específico de que
cada herdeiro reunisse condições de custear as suas despesas do cotidiano,
assemelhando-se, sobremaneira, a uma espécie de pensão alimentícia
convencional a ser paga pelo espólio enquanto perdurar a ação de inventário
e partilha. (STJ, Resp: 1738656 RJ 2017/0264354-5, DJe 05/12/2019) - grifos
nossos

A partir de todo o exposto é possível compreender que o negócio processual


atípico, pode gerar uma celeridade ao processo civil, visto que as partes podem
modificar o procedimento e o ajustá-lo para enquadrar nas especificidades da sua
causa, garantindo assim a maior efetividade na tutela judicial. Diante da importância
do negócio jurídico processual atípico, deve o Estado promover a sua realização,
incentivando as partes para convencionarem sobre o procedimento, possibilitando
com isso a maior abrangência da sociedade no sentido de realizar o negócio
processual atípico.
40

CONCLUSÃO

As relações sociais são geradoras de conflitos, sendo que pela massificação


social esses conflitos aumentaram de forma significantemente e como existe um
pensamento voltado no sentido de procurar sempre o Judiciário para solução dos
conflitos, a tutela jurisdicional desses conflitos se tornou ineficaz. Como é aplicável o
princípio constitucional de efetividade da tutela jurisdicional ao Processo Civil, surge
uma problemática de como permitir a efetividade da tutela jurisdicional.
Com o intuito de buscar solução para essa problemática o Código de Processo
Civil de 2015 estabelece o princípio de adequação processual, com situações em que
as partes podem adequar o procedimento de forma a garantir maior celeridade
processual e com isso possibilitar a maior efetividade processual, ou seja, permitiu a
realização de negócios processuais típicos.
A atipicidade de negociação processual é garantida através da cláusula geral
de negociação estabelecida pelo Código de Processo Civil de 2015 e permite as
partes adequarem o procedimento, nos direitos que admitam autocomposição, as
suas especificidades, permitindo com isso a garantia de máxima efetividade da
prestação jurisdicional.
Em muito se discutiu sobre a possibilidade de realização dos negócios
processuais, tanto típicos quanto atípicos, entretanto em virtude do disposto na
cláusula geral de negociação, não é razoável discutir sobre a possibilidade de
realização do negócio processual típico e atípico.
Em análise do negócio processual atípico é possível se compreender que ele
é importante ferramenta de influência para o Processo Civil, uma vez que abre as
partes a possibilidade de ajustarem o procedimento as suas especificidades,
possibilitando a aplicação do princípio constitucional de efetividade do processo no
seu caso.
O incentivo da prática do negócio processual atípico é dever do Estado e tem
importante papel na realização do negócio processual, uma vez que como figura de
autoridade o incentivo por parte do Estado tem como condão levar a sociedade para
análise do negócio jurídico processual atípico e percepção de sua importância e
relevância para a garantia de efetivação de seus direitos.
41

Com todo o exposto é possível entender que o presente trabalho alcançou o


seu objetivo geral, que foi a busca e identificação da importância do negócio jurídico
processual dentro do processo civil brasileiro, sendo delimitada a sua influência para
este, houve o alcance dos objetivos gerais quais sejam a análise do ato jurídico e fato
jurídico, a identificação do negócio jurídico, a identificação de maneiras de redução de
causas judiciais através da prática do negócio jurídico processual, e, finalmente, a
análise e discrição do o negócio jurídico processual típico e atípico e de sua
importância para o Processo Civil brasileiro.
Todo o objetivo do trabalho foi possível de ser cumprido através das pesquisas
bibliográficas em doutrinas especializadas e amparo nas jurisprudências e leis
relacionadas, sendo par isso utilizado o método hipotético-dedutivo com o intuito de
buscar a interpretação dos conceitos apresentados e a resolução dos problemas e
confirmação das hipóteses.
42

REFERÊNCIAS

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São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.

ALVIM NETO, José Manoel de Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO. Curso de


processo civil: teoria do processo civil, volume 1. 5. ed. rev., ampl. e atual. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.

ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Teoria Geral, vol. 2: Ações e Fatos
Jurídicos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

ASSIS NETO, Sebastião de; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel de. Manual
de direito civil. 6. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2017.

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de direito civil: teoria geral do direito civil: parte
geral. 2. ed. São Paulo: Saraiva ,2019.

AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico: existência, validade e eficácia.


4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. [Código Civil (2002)]. Código Civil de 2002. Brasília, DF: Presidência da
República, [2020]. Disponível em:
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out. 2020.

BRASIL. [Código de Processo Civil (2015)]. Código de Processo Civil de 2015.


Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
16 mar. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3. Turma). Recurso Especial nº. 1.738.656 –
RJ (2017/0264354-5). Civil. Processual Civil. Ação de Inventário. Celebração de
negócio jurídico processual atípico. Cláusula geral do art. 190 do novo CPC.
Aumento do protagonismo das partes, equilibrando-se as vertentes do
contratualismo e do publicismo processual, sem despir o juiz de poderes
43

essenciais à obtenção da tutela jurisdicional efetiva, célere e justa. Controle


dos negócios jurídicos processuais quanto ao objeto e abrangência.
Possibilidade. Dever de extirpar as questões não convencionadas e que não
podem ser subtraídas do poder judiciário. Negócio jurídico entre herdeiros que
pactuaram sobre retirada mensal para custeio de despesas, a ser antecipada
com os frutos e rendimentos dos bens. Ausência de consenso sobre o valor
exato a ser recebido por um herdeiro. Arbitramento judicial. Superveniência de
pedido de majoração do valor pelo herdeiro. Possibilidade de exame pelo
poder judiciário. Questão não abrangida pela convenção que versa também
sobre o direito material controvertido. Inexistência de vinculação do juiz ao
decidido, especialmente quando houver alegação de superveniente
modificação do substrato fático. Negócio jurídico processual atípico que
apenas pode ser bilateral, limitados aos sujeitos processuais parciais. Juiz que
não pode ser sujeito de negócio jurídico processual. Interpretação estritiva do
objeto e da abrangência do negócio. Não substração do exame do poder
judiciário de questões que desbordem o objeto convencionado. Violação ao
princípio do acesso à justiça. Revisão do valor que pode ser também decidida
à luz do microssistema de tutelas provisórias. Art. 647, parágrafo único, do
novo CPC. Suposta novidade. Tutela provisória em inventário admitida, na
modalidade urgência e evidência, desde a reforma processual de 1994,
complementada pela reforma de 2002. Concretude aos princípios
constitucionais da inafastabilidade da jurisdição e da razoável duração do
processo. Hipótese específica de tutela provisória da evidência que
obviamente não exclui da apreciação do poder judiciário pedido de tutela de
urgência. Requisitos processuais distintos. Exame, pelo acórdão recorrido,
apenas da tutela da evidência. Acordo realizado entre os herdeiros com
feições particulares que o assemelham a pensão alimentícia convencional e
provisória. Alegada modificação do substrato fático. Questão não examinada
pelo acórdão recorrido. Rejulgamento do recurso à luz dos pressupostos da
tutela de urgência. Recorrente: J A M S. Recorridos: A A S F, N A S, M M S, A A S
– espólio representado por M A S – inventariante. Relatora: Ministra Nancy Andrighi.
03 de dezembro de 2019. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201702643545
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BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (4. Câmara Cível). Recurso


Apelação Cível 5070840-67.2020.8.09.0051. Apelação Cível. Ação de declaratória
de nulidade de negócio jurídico c/c obrigação de fazer c/c repetição de indébito
e danos morais. Cartão de crédito consignado. Prescrição inocorrente.
Apelante: Banco Bmg S/A. Apelado: Aldacino Marques Ribeiro. Relator: Des. Carlos
Hipolito Escher, 15 de março de 2021. Disponível em:
https://projudi.tjgo.jus.br/BuscaArquivoPublico?PaginaAtual=6&Id_MovimentacaoArq
uivo=146654274&hash=230830107041160782705625581764269001815&CodigoVe
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