Capitulo III - O Capitalismo Industrial

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III – O Capitalismo Industrial Nascente (1780-1870)

O Capitalismo Industrial ou Industrialismo corresponde a segunda fase do


capitalismo que surge com a Revolução Industrial no século XVIII a partir da
transformação do sistema de produção. Com efeito, a Europa passa por mudanças
profundas no âmbito económico, social, político, artístico e científico. A esta mudança de
paradigma chamou-se Revolução Industrial.
Portanto, o capitalismo é um sistema económico e social baseado na
propriedade privada e na
acumulação de capital. Surgiu
no século XV, na passagem da
Idade Média para a Idade
Moderna, a partir da decadência
do sistema feudal e do
nascimento de uma nova classe
social, a burguesia. Pode-se
dizer que o capitalismo está
dividido, historicamente, em três
fases: 1- Capitalismo Comercial
ou Mercantil (pré-capitalismo); 2-
Capitalismo Industrial ou Industrialismo ; 3- Capitalismo Financeiro ou Monopolista.

3.1- A Revolução Industrial e suas causas


A Revolução Industrial é o nome pelo qual conhecemos o período de grande
avanço tecnológico que se iniciou na Inglaterra no final do século XVIII. As inovações
tecnológicas realizadas na Inglaterra permitiram o surgimento da indústria. Sua difusão
pela Europa e pelo restante do planeta contribuiu para o estabelecimento do capitalismo.
Não há uma data específica que delimite o início da Revolução Industrial, pois há
divergência entre os historiadores a respeito dessa cronologia. Alguns apontam que a
década de 1760 foi seu pontapé inicial, embora outros teorizem que foi a década de
1780. Apesar dessa discordância na datação do acontecimento, algo é unânime: a
Revolução Industrial transformou radicalmente a sociedade. Isso porque as relações de
trabalho mudaram profundamente, assim como a produção de mercadorias, que se
tornou mais rápida. O desenvolvimento tecnológico contribuiu também para o
encurtamento das distâncias.
O ponto de partida da indústria na Inglaterra se deu por meio da indústria têxtil, e
as primeiras grandes máquinas do período foram idealizadas para ampliar a produção
de roupas. Isso se concretizou por meio do desenvolvimento das máquinas de tear, que
permitia que uma pessoa que a manejasse fosse capaz de tear dezenas de fios ao
mesmo tempo. A ampliação da produção por meio das máquinas contribuiu para a
redução salarial e permitiu que os lucros obtidos pelos donos de indústrias fossem
utilizados no desenvolvimento de novas tecnologias. Foi o que aconteceu também, por
exemplo, com os caminhos-de-ferro, que passaram a ser construídos a partir da década
de 1830 por todo o território inglês.
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Esse meio de transporte, então mais eficiente, foi financiado, com dinheiro do
lucro dos donos de indústrias. Os caminhos-de-ferro na Inglaterra permitiram diminuir o
tempo do deslocamento e possibilitaram aumentar a capacidade de mercadoria
produzida. Em suma, as indústrias podiam investir no aumento da produtividade porque
havia um meio eficiente para transportar suas mercadorias.
Como mencionado, a Revolução Industrial teve como ponto de partida a
Inglaterra, uma vez que foi onde surgiram as primeiras máquinas que fomentaram o
desenvolvimento industrial. Uma série de factores explicam o porquê de a Inglaterra ter
sido essa nação pioneira.
Primeiro, o desenvolvimento tecnológico e industrial que aconteceu na Inglaterra
só foi possível pelo estabelecimento precoce da burguesia no poder inglês. Isso porque
a Inglaterra foi o primeiro país absolutista a passar por uma revolução burguesa — a
Revolução Gloriosa, que aconteceu no ano de 1688. Com essa revolução, o país
converteu-se em uma monarquia constitucional parlamentarista, na qual o poder
dos reis estava submetido ao Parlamento.
Desse modo, a burguesia, consolidada no poder, começou a tomar medidas que
a fortaleciam e atendiam seus interesses economicamente. A longo prazo, isso
transformou a economia inglesa, tornando o país em uma potência comercial. Os
historiadores estabelecem um marco para a economia inglesa: os Atos de Navegação,
decretados por Oliver Cromwell, em 1651.

Essa lei fortaleceu o comércio inglês e enfraqueceu o comércio de outras nações,


pois determinava que as mercadorias compradas ou vendidas pela Inglaterra só podiam
ser transportadas por navios ingleses. Isso garantiu lucros para a burguesia, permitindo
que acumulasse capital, que foi utilizado no desenvolvimento da indústria.
Além de possuir capital para investir no desenvolvimento do maquinário, a
Inglaterra contava com mão-de-obra em abundância. Isso porque nos últimos séculos o
país vinha passando por um processo de expulsão dos camponeses de suas terras, o
que se deu por meio das Leis de Cercamento (Enclosures). Essas leis expulsavam
os camponeses das terras em que viviam para convertê-las em pasto para a criação
de ovelhas, animais que fornecem importante matéria-prima para a indústria têxtil.
Despossuídos de suas terras, os camponeses não tinham onde sobreviver e, por isso,
rumavam às cidades à procura de emprego.
Nas cidades, o emprego disponível passou a ser o das fábricas têxteis. Os
trabalhadores não tinham opção de rejeitar tal ocupação, uma vez que sem renda não
teriam moradia e, sem moradia, seriam considerados vadios, ou seja, enquadrados na
Lei de Vadiagem, uma lei que punia pessoas pegas vagando nas ruas.
Por fim, deve-se lembrar que a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão
e ferro, duas matérias-primas fundamentais para o desenvolvimento e funcionamento
das máquinas. Alguns historiadores levantam também o facto de que a Inglaterra
contava com um relevante número de intelectuais e cientistas que contribuíram para
que o país pudesse sediar as inovações da Revolução Industrial.
Geograficamente, a Revolução Industrial, no que tange às transformações nos
campos económico, tecnológico e social, possibilitou uma nova forma de organização da
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sociedade, bem como deu início a uma nova forma de produção e consumo de bens e
serviços. A revolução, em seu início (meados do século XVIII), limitou-se à Inglaterra.
Contudo, com os avanços alcançados, possibilitou novas transformações para além da
Europa ocidental. Esses desdobramentos ficaram conhecidos como fases da
Revolução Industrial e representam o desenvolvimento das sociedades mediante às
tecnologias empregadas em cada período.
Tradicionalmente, os historiadores dividiram a Revolução Industrial em três
1
fases , sendo que esse contexto do surgimento da indústria têxtil na Inglaterra do
século XVIII corresponde à primeira fase. Nesse momento, o homem passa a utilizar
máquinas que funcionavam por meio de energia a vapor e hidráulica.
A partir do século XIX, teve início a segunda fase, que ficou marcada pela
expansão da Revolução Industrial. Nesse período, a indústria prosperou em outras
partes do mundo, como nos Estados Unidos e no Japão, e novas fontes de energia,
como o petróleo, passaram a ser utilizadas. Isso permitiu avanços na tecnologia. Os
destaques dessa fase são o uso de motores à combustão e a popularização do uso da
energia elétrica. A tecnologia permitiu diminuírem-se tempo e distância, aproximando
pessoas do mundo todo e possibilitando a transmissão de informações
instantaneamente, ultrapassando os obstáculos físicos, culturais e sociais.

3.2- A Revolução Agrícola


Revolução agrícola é a designação dada ao movimento de renovação da
agricultura, verificado na Inglaterra do século XVIII, que resultou na transformação da
propriedade rural (enclosures2), na introdução de novas espécies vegetais e animais
(ou seu apuramento) e na aplicação de novas técnicas e processos de produção.
Tal como na maior parte das mutações operadas na Europa ao longo do século
XVIII, também na Revolução Agrícola a Inglaterra foi o país de arranque. Dotada de uma
aristocracia latifundiária (nobreza detentora de enormes propriedades) politicamente
activa e cada vez mais preponderante no Parlamento, nela surge, na primeira metade do
século XVIII, um corpo de leis visando uniformizar e regular a posse da terra de forma
a facilitar o processo produtivo. Resultam essas leis de uma petição dos grandes
senhores da terra para legitimar a ocupação e cerco de pequenas propriedades, de
forma a aumentar a dimensão das suas e a aumentar com isso a produção e o lucro.
Essas leis, favoráveis à aristocracia, avançam, assim, no sentido da expropriação
de pequenas propriedades (minifúndios), da junção de parcelas dispersas e da
apropriação de terras comunais, para além da liberdade de cercar as novas propriedades
resultantes desse processo.

1
É importante deixar claro que, apesar de ser apresentada em fases, a Revolução Industrial não teve
ruptura, sendo, portanto, um processo contínuo de transformações socioeconómicas que
transformou a produção capitalista.
2
Em inglês, enclosures - campos fechados por sebes ou cercas.

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A aplicação da lei dos cercamentos (enclosures) fez-se com base em
pressupostos aristocráticos: apesar de terem
apresentado uma petição ao Parlamento, os
latifundiários decidiram ocupar e cercar as
terras sem qualquer aviso aos seus antigos
donos, os pequenos proprietários, mesmo
ainda antes da discussão e aprovação
parlamentar. Recorrendo da decisão, os
pequenos proprietários tentam comprovar
documentalmente a posse da terra, o que é
difícil - ou impossível - na maior parte dos
casos. Perdem assim as terras e vão engrossar
o êxodo de trabalhadores rurais - proprietários
ou não - em direcção às cidades fabris dos
centros urbanos.
As propriedades confiscadas pelos agentes dos latifundiários são, entretanto,
repartidas entre estes. Modifica-se então a paisagem rural inglesa: do openfield (campo
aberto, sem vedação, tradicional em Inglaterra) passa-se para o campo fechado. Os
novos senhores - a que se juntarão os ricos comerciantes das cidades (burguesia),
interessados em investir na agricultura - promoverão,
porém, a introdução de novas técnicas de cultivo,
entre as quais a rotação de culturas sem pousio, de
forma a retirar o máximo proveito das terras. Ao mesmo
tempo, de forma a aumentar a dimensão das
propriedades e da sua superfície cultivável, promovem a
secagem e drenagem de terras pantanosas, o abate
de florestas e a ocupação de baldios e terras
comunais (as arroteias). No intuito de melhorar as
espécies mais produtivas, a seleção de sementes e o
apuramento dos efetivos pecuários são outras das
marcas desta Revolução Agrícola inglesa. A introdução
de máquinas e a melhoria dos transportes no espaço
agrário são outras das características principais dessa
mutação operada no mundo rural inglês. Os resultados
não demoraram muito a aparecer:
- maior produção (na primeira metade do século XVIII, esse aumento é superior a
20%);
- capacidade do campo abastecer e sustentar o crescimento urbano-industrial que se
registava no país;
- melhorias significativas, não somente em quantidade, mas também em qualidade,
permitem uma época de relativa abundância em produtos agrícolas essenciais
(carne, leite e derivados, legumes, batata, cereais, etc.), com repercussões em
termos demográficos. De facto, a melhoria gradual na dieta alimentar inglesa
proporcionará:
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- uma maior esperança de vida,
- um aumento da natalidade e do crescimento natural da população,
diminuindo-se a vulnerabilidade do homem face às fomes e pestes
(menos comuns, porém). Com a diminuição crescente da mortalidade,
conjugam-se uma série de indicadores positivos para que possamos
falar de uma revolução demográfica, a par da revolução agrícola e da
industrial.

Todas estas alterações no espaço agrário inglês trouxeram também outras


consequências, mais visíveis no espaço urbano. Para além do citado êxodo rural de
minifundiários e assalariados rurais - devido à perda da posse da terra, à mecanização
(que origina menos empregos rurais) e às novas técnicas e culturas -, assiste-se a um
crescimento demográfico nas cidades, o que dispara os valores da taxa de
urbanização inglesa e mesmo europeia.
A expansão da Revolução Agrícola para o continente europeu fará, ao longo do
século XIX, crescer a população europeia em mais de 100%, registo nunca alcançado
na história da Humanidade. A rota de expansão da Revolução Agrícola inglesa na Europa
e no Mundo será idêntica à da industrialização, ambas interligadas e perfeitamente
complementares. Este processo gradual, ao longo do século XVIII, de racionalização da
actividade agrícola, saldado no aumento da produção, quer de alimentos quer de
matérias-primas vegetais e animais (transformadas nas fábricas que entretanto se
redimensionam e aumentam), criará um conjunto de condições favoráveis ao eclodir de
outras mudanças. A acumulação de capitais, obtida a partir dos lucros da exploração da
terra em moldes modernos, proporcionará a sua canalização, sob a forma de
investimentos, para outros sectores da vida económica e produtiva, reforçando ainda
mais a Inglaterra como primeira potência e como país de arranque das principais
transformações operadas à escala mundial.

3.3- A Revolução Técnica


O crescente interesse pelo exercício intelectual, pelas ciências e a necessidade
do progresso tecnológico no meio rural e urbano fez com que significativas mudanças
ocorressem a partir da descoberta de novos instrumentos de trabalho. Podemos
caracterizar a revolução técnica da seguinte maneira:

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1. Aliança entre a Investimentos na investigação Progressos cumulativos
ciência e a técnica científica; novos inventos e Cada novo progresso servia de incentivo para
aperfeiçoamentos técnicos; o seguinte
desenvolvimento de novas
tecnologias.

2. Utilização de O vapor foi a principal fonte de - Petróleo e seus derivados permite


novas fontes de energia utilizada na 1ª fase e na 2ª motor de explosão e desenvolvimento
energia fase as novas fontes de energia. dos transportes
- Electricidade vantagens no campo da
iluminação e comunicações

3. Desenvolvimento Industria têxtil e siderurgia (ferro). - Indústria química corantes, fibras


de novos sectores sintéticas, explosivos, medicamentos,
de produção adubos, pesticidas, sabão, tintas;
- Siderurgia (aço) construção civil, pontes;
- Industria alimentar, latas de conserva
esterilizadas, congelação, novas formas
de conservação de alimentos a longo
prazo.

4. Desenvolvimento Graças a novos inventos sofreram - Navegação a vapor e o comboio –


dos meios de grandes transformações. diminuiu as distancias, proporcionou
transporte e deslocações mais rápidas, mais
frequentes e mais seguras
comunicações
- Comunicações à distancia – telegrafo,
telefone, rádio, serviços postais
- Introdução do motor de explosão –
automóvel e aviação. Possibilitou a
mundialização da economia, acelerou o
progresso económico e facilitou o
intercâmbio cultural

5. Racionalização do a complexidade de novas - Regular a actividade laboral - disciplina


trabalho empresas e de novos processos de horários (vários turnos) e manutenção
de produção, obrigaram a novos de um ritmo de trabalho (capatazes)
sistemas de organização do - Rentabilizar o trabalho dos operários -
trabalho. divisão do trabalho e especialização de
tarefas. Aumento da produção e maiores
lucros

6. Concentração O modo de produção industrial - Produção em grande escala


industrial e (maquinofatura) originou uma nova - Diversificação e especialização dos meios
bancária unidade de produção – a de trabalho
FABRICA. - Divisão do trabalho

7. Formação de um Pacto Colonial - Necessidade de obtenção de matérias


MERCADO à primas
escala mundial - Mercados consumidores para os
excedentes de produção.

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3.4- A Revolução das Mentalidades e as mudanças politicas
É certo que o capitalismo comercial iniciou antes do industrial, porém a fase do
capitalismo industrial inaugura um novo tipo de comércio, as empresas começam a investir
em suas indústrias, a produção é em grande escala, surgem os bancos que emprestam
dinheiro às empresas, enfim tudo é direcionado para o lucro. As pessoas não eram
respeitadas como seres humanos, não havia limites no trabalho, crianças e mulheres eram
torturadas e forçadas a trabalharem horas seguidas, sem condições de higiene e
alimentação. As novas ideias não surgiram do nada, nem por acaso. Boa parte delas fora
legada pelos grandes pensadores dos séculos XVI e XVII, que, na realidade, tinham dado
os primeiros passos no sentido de "modernizar" o pensamento europeu. Já no século XVIII,
a Europa era um formigueiro de ideias e inovações. O progresso atingia todos os sectores:
arte, ciência, técnica, pensamento. Na verdade, estava em curso uma "revolução das
mentalidades".
Falar de Mentalidades é falar de pensamentos, ideias, ideologias, segmentos morais,
meios de compreensão científica, entre outros, que fazem parte da esfera das mentalidades,
isto é, formas duradouras de pensamento que caracterizam uma época. Segundo
entendidos na matéria, há camadas do desenvolvimento histórico da humanidade que não
sofrem transformações rápidas e nítidas como outras. Assim, por exemplo, as estruturas
políticas e sociais são as primeiras nas quais se pode verificar mudanças
substanciais, enquanto certos comportamentos e formas de pensamento que
compõem a mentalidade, demoram muito mais para a sofrer alterações.
O século XVIII é considerado o "século das luzes" com o surgimento do “Iluminismo”.
Segundo eles, todos os homens nascem iguais, livres, estes homens podem através
de seu trabalho prosperar economicamente. A liberdade, a propriedade privada e a
resistência contra governos tirânicos são outros princípios defendidos pelos iluministas. A
base dessa nova maneira de encarar o mundo, estava na razão. Abandonava-se dessa
maneira qualquer possibilidade de Deus interferir nos destinos humanos. Os filósofos do
século XVIII acabaram por fundar a noção de progresso e felicidade: "o paraíso é aqui onde
eu estou", dizia Voltaire, e não nas fantasias e miragens fabricadas pela Igreja.
A Razão iluminava o caminho... O homem devia pensar com sua própria cabeça e
não mais com a do sacerdote, a do falso cientista, ou a do soberano absoluto. Estava
proposta a crítica que consiste em ter uma opinião e fazer uma escolha que decorra de uma
análise racional de determinada situação. Uma escolha só será racional e justa se feita
livremente, sem preconceitos ou limites de qualquer espécie. E, sobretudo, sem medo.
Assim, para criticar e escolher o seu caminho, os homens do século XVIII começaram a
pensar com a própria cabeça, questionando todos os campos do saber, inclusive os mais
"delicados", ou seja, a religião e a política. O triunfo do livre pensamento só haveria de ser
assegurado após um longo e intenso combate, travado contra a Igreja e a força da tradição
durante todo o século XVIII.
A partir da revolução industrial, consolidou-se a sociedade burguesa liberal
capitalista, baseada nos novos ideais do iluminismo - igualdade jurídica entre os homens,
livre iniciativa e na empresa privada. Os indivíduos deveriam ser livres para comprar,
vender, investir e fazer contratos de acordo com seus interesses. O equilíbrio do sistema

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estava na concorrência entre as empresas, a qual era responsável pelos aperfeiçoamentos
tecnológicos e pelo desaparecimento das menos aptas.
No decorrer do século XIX, os burgueses europeus passaram a ver o mundo de uma
forma completamente diferente daquela dominante no século anterior. A intensidade das
mudanças propiciadas pela expansão do capitalismo industrial fortaleceu, entre eles, a ideia
que a humanidade caminhava no sentido de uma melhoria contínua e incessante; em outras
palavras, acreditavam que a história dos homens tendiam a um constante progresso.
Crescimento industrial, expansão das comunicações, desenvolvimento das artes e das
ciências, aumento das actividades comerciais europeias e intercontinentais... Tudo parecia
comprovar que o mundo progredia e que os europeus do século XIX viviam o auge desse
processo.
Os burgueses acreditavam que esse progresso – do qual seriam os principais agentes
– beneficiava o conjunto da população europeia. Em sua concepção na nova sociedade
criada pelo capitalismo industrial, todos tinham chance de realização económica e social,
dependendo apenas do talento e do esforço individual. Nesse sentido, viam a competição
como algo positivo, pois servia para avaliar os talentos individuais e garantir a vitória dos
melhores em cada área, o que acabaria ajudando o conjunto da sociedade. Assim, o talento
individual e a competição eram vistos como motores que empurravam a humanidade em
direção ao progresso.
Os liberais acreditavam que a humanidade era constituída de indivíduos naturalmente
livres e iguais, que buscavam seus próprios interesses por meio da competição entre si.
Nessa disputa, em que não devia interferir nenhuma força externa aos concorrentes, seria
produzida uma ordem social natural que levaria todos os homens ao conforto, ao bem estar
e à felicidade. As diferenças económicas resultantes dessa competição deviam-se ao talento
e esforço individual e não eram contraditórios com a crença na igualdade natural entre os
homens, que devia ser assegurada pela organização política e pela justiça.
Os conceitos liberais foram rapidamente absorvidos pelos burgueses, pois
respondiam a sua visão de mundo e serviam como armas poderosas na luta contra o modo
de vida aristocrático, que ainda dominava boa parte da Europa no início do século XIX. A
ideia da igualdade natural entre os homens negava o cerne da visão aristocrática, baseada
nos privilégios obtidos por nascimento; por outro lado, a pregação da liberdade económica
constituía um ataque directo ao intervencionismo económico levado a cabo pela maioria das
monarquias europeias. Assim, além de ser a base da nova mentalidade burguesa, o
liberalismo foi a base teórica para a grande luta da burguesia europeia contra a aristocracia
e seu modo de vida e para o domínio dos assalariados.
Os iluministas afirmavam que cada indivíduo tem direito a uma opinião própria e a
exprimi-la livremente. Isso nada mais é que o princípio da tolerância, um dos princípios
da democracia moderna, que se baseia na liberdade e respeito à opinião de cada um.
Adoptando a Inglaterra como modelo, propôs a separação dos três poderes: 1- ao
Parlamento, eleito pelo povo, caberia a prerrogativa de fazer as leis (Poder Legislativo);
2- ao rei ou ao Governo, o poder de executá-las (Poder Executivo); 3- e aos magistrados
e juízes, a função de julgar (Poder Judiciário). Assim divididos, os três poderes deveriam
permanecer independentes, controlando-se uns aos outros, de modo a garantir liberdade
e justiça para o cidadão.

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Essas ideias revolucionárias eram consideradas monstruosas pelos déspotas
(ditadores) da época. Por outro lado, os homens tornaram-se mais cultos e bem
informados. Os jornais também prestaram a sua contribuição ao desabrochamento da
opinião e do espírito público. A difusão dos livros também foi muito sensível no século
XVIII, e meio seguro para a propagação dos valores emergentes. Mas este período viu
nascer também a filantropia (humanitarismo), a moderna pedagogia e a exaltação do
sentimento humano, através da literatura.
Apesar de tantas inovações trazidas pelo Iluminismo, não se pretendeu destruir o
mundo para colocar outro em seu lugar, mas regenerar a sociedade pelo afastamento de
crendices e do fanatismo.

3.5 – As Consequências da Revolução Industrial


A Revolução Industrial representou um marco na história da humanidade,
transformando as relações sociais, as relações de trabalho, o sistema produtivo, e
estabeleceu novos padrões de consumo e uso dos recursos naturais. As consequências
foram muitas e estão relacionadas à cada fase vivida no processo evolutivo das tecnologias
que proporcionou a industrialização dos países.

Durante a Primeira Revolução Industrial (1760 a 1850), o modo capitalista de


produção reorganizou-se. As principais consequências desse período foram:
- substituição do trabalho humano por máquinas, o que aumentou o êxodo rural e
intensificou o crescimento urbano;
- crescimento desenfreado das cidades, acarretando crescimento de favelas,
marginalização de pessoas, aumento da miséria, fome e violência;
- aumento significativo de indústrias e, consequentemente, da produção;
- organização da sociedade em dois grupos: a burguesia versus o proletariado.
Os avanços tecnológicos obtidos na Segunda Revolução Industrial (meados do
século XIX até o início do século XX) fizeram com que a industrialização alcançasse outros
países, especialmente os mais ricos. Esses, a fim de ampliarem seu mercado, deram início
a uma expansão territorial também em busca de matéria-prima, o que ficou conhecido como
imperialismo. As principais consequências desse período foram:

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- aumento da produção em massa e em curto espaço de tempo, aumentando
também o comércio;
- avanços nos sectores de transporte e telecomunicações que ampliaram o
mercado consumidor, bem como o escoamento dos bens produzidos;
- surgimento das grandes cidades e, com elas, dos problemas de ordem social,
como o superpovoamento;
- aumento de doenças;
- desemprego e maior disponibilidade de mão-de-obra barata;
- avanços no sector da saúde que possibilitaram melhorias na qualidade de vida da
população.
A terceira fase da Revolução Industrial (meados do século XX, após o fim da Segunda
Guerra Mundial), integrou a ciência, a tecnologia e a produção, transformou ainda mais a
relação do homem com o meio. A apropriação dos recursos naturais era cada vez mais
intensa, visto que, a cada dia, tornou-se mais necessário viabilizar a produção em massa.
As principais consequências da Terceira Revolução Industrial foram:
- muitos avanços no campo da medicina;
- criação de robôs capazes de fazer trabalhos minuciosos e mais precisos;
- técnicas na área da genética que melhoraram a qualidade de vida da população;
- consolidou-se o capitalismo financeiro;
- aumento do número de empresas multinacionais;
- maior difusão de informações e notícias, integrando o mundo todo
instantaneamente;
- aumento dos impactos ambientais negativos e esgotamento de recursos naturais;
- preocupação com o desenvolvimento económico que explora os recursos naturais
sem se preocupar com as gerações futuras, gerando a necessidade de buscar um
modelo de desenvolvimento sustentável.

3.6- A Emergência das Economias dominantes


O período que vai de 1780 a 1870 é caracterizado por ser o da consolidação do
mercado mundial e o do proveito da lógica capitalista à manufatura e, com a Primeira
Revolução Industrial (simbolizada na máquina a vapor), à era industrial. É a fase da
“ocidentalização” do mundo, da “ordem europeia” e da “pax britânica”.
Com a primeira Revolução Industrial (1780-1820), a Inglaterra surgiu como o país de
industrialização originária, transformada imediatamente na grande oficina do mundo ao
longo do século XIX. A combinação entre o poder militar já existente e as formas superiores
de produção industrial possibilitou à Inglaterra assumir uma posição de supremacia na
economia mundial. Logo, a libra passou a sustentar o padrão monetário internacional (gold
standard), a partir de sua conversibilidade ao ouro, bem como ofereceu base às trocas
comerciais e à condição de reserva de valor. Com isso, a Inglaterra assumiu isoladamente
o centro do capitalismo mundial.
Diante do monopólio da industrialização, a Inglaterra manteve uma relação bipartida
com as demais nações, que na posição de periferia (redor) procuravam compensar a grande
importação de produtos manufaturados ingleses através da exportação de produtos
primários, basicamente alimentos e matéria-prima.
Aproveitando-se do facto de que o padrão de industrialização inglês não exigia
elevados investimentos, nem enorme escala de produção, assim como a tecnologia
utilizada não era muito complexa - difundida através da própria migração de profissionais

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mestres de ofício -, alguns poucos países puderam internalizar a produção resultante da
primeira Revolução Industrial e Tecnológica (máquina a vapor, tear e ferrovia), passando
a constituir também parte do centro capitalista mundial durante o século XIX.
Como se pode ver, a supremacia Inglesa vai suscitar a concorrência de diversas
Lugar 1790-1830 1830-1850 1850-1870 1870-1890 1890-1910 1910-1920
1º Grã- Grã- Grã- Grã- EUA EUA
Bretanha Bretanha Bretanha Bretanha

2º Bélgica Bélgica Bélgica Grã- Grã-


Bretanha Bretanha
3º França EUA EUA Bélgica Bélgica

4º França Alemanha Alemanha Alemanha


5º Alemanha França França França

6º Suécia Suécia Suécia

7º Japão Rússia Rússia


8º Rússia Japão Japão

!
potências que, durante o século XIX, iniciaram os respectivos processos de
industrialização. Assim emergem as economias dominantes que praticamente vão
marcar o mundo até aos dias de hoje.
Isso ocorreu de maneira distinta no tempo, fazendo emergir outras economias, que
marcaram uma transição do processo de industrialização originário (Inglaterra) a outros
países como Alemanha, França, EUA, Japão e Rússia. Na primeira metade do século XIX,
por exemplo, países como Alemanha e Estados Unidos internalizaram o modelo inglês de
produção e consumo, enquanto no pós-1870 outro pequeno bloco de países como Japão e
Rússia também teve êxito na cópia do padrão de industrialização inglês. Mas enquanto se
fazia essa passagem, esteve em curso uma segunda Revolução Industrial e Tecnológica,
com graus de exigência de internalização bem superiores. A maior escala de produção
imposta pelo processo industrial de novos bens (energia elétrica, automóvel, química,
petróleo, aço, entre outros) requeria, por consequência, grandes aportes de investimentos e
elevada escala de produção, somente realizados através de um significativo movimento de
centralização e de concentração do capital. O surgimento de grandes empresas, através de
fusão e cartéis e a união dos capitais industrial e bancário (financeiro), viabilizou, para
poucos empresários, a possibilidade de produção e difusão de uma nova onda de inovação
tecnológica.
As dificuldades adicionais de acesso à segunda Revolução Industrial e Tecnológica
tornaram mais complexas as possibilidades de transição das nações periféricas para as
nações do centro capitalista.
Em 1850, a Europa Ocidental é a região hegemônica - produtiva, comercial, militar,
tecnológica e financeira - da economia mundial: controla 70% dos intercâmbios comerciais
mundiais e lidera a produção
mundial total como a industrial. Inglaterra, França, Alemanha e EUA são as economias
nacionais capitalistas que determinam e estruturam as regras de jogo da economia mundial.
Assim, entre 1890 e 1940, as exportações mundiais de produtos manufaturados estiveram
concentradas em apenas 5 países (Inglaterra, Estados Unidos, França, Japão e Alemanha)

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que respondiam por cerca de 80% do total do comércio internacional. Da mesma forma,
países como a Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra, que juntos representavam
apenas 13% da população mundial, foram responsáveis por 74% da produção total de
manufatura do mundo durante o começo do século XX.
Nessa fase, e até o presente, a energia fundamental é o petróleo. Os progressos na
química e na física definiram o desenvolvimento económico-político que fez da indústria e
da industrialização o paradigma do progresso e do desenvolvimento durante todo o século
XIX e grande parte do século XX.

3.7- As resistências bem-sucedidas ao subdesenvolvimento


O Subdesenvolvimento é um termo elaborado após a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945) para definir a situação económica e social dos países pobres. Esse termo é, portanto,
designado para classificar os territórios nacionais que dispõem de níveis de desenvolvimento
económico limitado, com baixos índices de qualidade de vida, de consumo, de produtividade
e elevadas taxas de miséria e concentração de renda. Para alguns autores, o
subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. Ele próprio é uma criação do
capitalismo e das formas de relacionamento entre os países desenvolvidos e
subdesenvolvidos.
O capitalismo durante a sua evolução, tem gerado desigualdades entre as localidades
de uma mesma região ou país. Elas se explicam pela tendência do capital em se concentrar
em localidades e regiões que reúnam as melhores condições para maximizar seus lucros.
As localidades e regiões que disponham de melhores condições em termos de recursos
humanos, recursos naturais, mercados, infraestrutura económica e social e redes de
empresas que se articulem entre si como supridoras de matérias-primas ou insumos ou
produtoras de matérias-primas e produtos intermediários ou acabados são as mais
credenciadas a fazerem parte do circuito de acumulação de capital. Há uma tendência dos
investidores em implantar empreendimentos em localidades ou regiões que apresentam,
maiores economias de aglomeração. Assim, ao compreender os factores externos e internos
que propiciaram a origem do subdesenvolvimento no mundo, podemos nos perguntar: quais
países hoje são considerados subdesenvolvidos? E quais foram bem sucedidos na
resistência ao subdesenvolvimento?
Várias foram as teorias que tentaram explicar e propor soluções para o
subdesenvolvimento. A mais destacada foi a teoria da dependência. Ela explicava o
subdesenvolvimento pelas relações comerciais desfavoráveis no mercado internacional.
Nesse quadro, os países desenvolvidos, industrializados, vendem suas mercadorias a
preços elevados para os subdesenvolvidos e compram matérias-primas e outras
mercadorias agrícolas destes últimos a preços baixos.
Os adeptos dessa teoria acreditavam que a dominação do mercado mundial por
grandes empresas multinacionais dos países desenvolvidos impedia qualquer tentativa de
superar o subdesenvolvimento. Para eles, a economia dos países subdesenvolvidos
privilegiava o mercado externo, com prejuízo do interno. Esses teóricos apresentaram
soluções diferentes para o problema. Uns propunham que o empresariado nacional

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promovesse o desenvolvimento interno com o apoio do Estado e com estabelecimento de
fortes barreiras à importação dos produtos industrializados dos países ricos.
Nesse sentido, as empresas com sede nos países desenvolvidos, visando expandir
seu mercado consumidor e obter maior lucro, passaram a instalar filiais em países
subdesenvolvidos. Ao instalar filiais nesses países, as transnacionais se beneficiam com
mão de obra barata, incentivos fiscais, abundância de matérias primas, doação de terrenos,
etc. Por outro lado, os países subdesenvolvidos aumentam a geração de emprego e se
industrializam.
É nesse contexto que surgem várias expressões para designar essa dinâmica, tais
como: Novos países industrializados (NICs), Novíssimos Países Industrializados, Tigres
Asiáticos, Novos Tigres Asiáticos, Países subdesenvolvidos industrializados, Economias
emergentes, entre muitos outros termos. Assim, actualmente, citam-se como exemplos de
países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (esses cinco primeiros
compõem o chamado BRICS), México, Indonésia, Singapura, Turquia (compõem o chamado
MIST) e alguns outros como Argentina, Taiwan e Coreia do Sul.
Em suma, a maior parte dessas economias, apesar de apresentar um parque
industrial diversificado, caracteriza-se pela predominância de empresas estrangeiras e baixo
domínio de bens tecnológicos mais avançados. Outra característica do desenvolvimento
industrial do mundo subdesenvolvido foi a necessidade de intervenção do Estado no que
tange aos investimentos em infraestruturas e, em alguns casos, até em indústrias de base,
como a siderúrgica, o sector petroquímico e outros.
Mesmo assim, muitos desses países privatizaram essas empresas, ou seja,
transferiram-nas para o capital privado. No cerne desse processo de industrialização do
mundo subdesenvolvido, alguns países expressaram de forma mais evidente a grande
dependência em relação ao capital externo, tanto em termos tecnológicos quanto em virtude
das relações de importação e exportação. É o caso, por exemplo, do México, que em sua
região norte – mais próxima da fronteira com os Estados Unidos – instalaram-se muitas
indústrias chamadas de montagem, empregando mão de obra local a baixo custo e
exportando a preços relativamente baixos. Em toda a América Latina, predominou o modelo
de industrialização substitutiva de importação (ISI), com abertura de mercado, investimentos
em infraestruturas, atração de capital estrangeiro e alto endividamento da máquina pública.
Pode-se considerar que as resistências bem sucedidas ao subdesenvolvimento por
área continental e regional são, respectivamente:
- América Latina – Brasil, Argentina e México;
- África – África do Sul, Egito e, em menor grau, a Nigéria;
- Ásia – China, Índia, Turquia, Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong, Vietnam,
Indonésia e outros.
Para concluir, podemos considerar que esses países, chamados emergentes, são
grandes exportadores de matérias-primas, grandes receptores de empresas multinacionais
e possuem um amplo e crescente mercado consumidor e uma grande capacidade de
crescimento económico e actuação centrada no sector terciário (serviços). Por esse motivo,
atraem sempre com muita atenção os principais centros de debate tanto do meio económico
quanto da geopolítica e estratégia internacional.

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De toda forma, o que se pode observar é que mesmo com um parque industrial
diversificado e um sector terciário crescente, os países emergentes ainda não foram capazes
de converter essa geração de riquezas em benefícios sociais e melhoria do desenvolvimento
humano. O que se pode ter certeza é que, para subverter a ordem de subdesenvolvimento,
os países pobres no mundo, precisarão buscar formas de romper com a dependência
económica que os atinge. Detêm uma participação económica ainda bastante endividada,
dependente e subordinada aos grandes capitais multinacionais e às políticas dos Estados
centrais e organismos de controle económico e financeiro mundial (FMI, Banco Mundial,
OMC, G-8).

3.8- O nascimento do Movimento Operário

Movimento Operário é um termo que se refere à organização colectiva de


trabalhadores para a defesa de seus próprios interesses, particularmente (mas não
apenas) através da implementação de leis específicas para reger as relações de trabalho.
Em sentido amplo, abrange o conjunto dos factos políticos e organizacionais relacionados
ao mundo do trabalho e à vida política, social e económica dos trabalhadores.3
O movimento operário se consolidou e se organizou fundamentalmente no século
XIX. O desenvolvimento dos ambientes fabris proporcionou uma forte demanda por um
amplo número de trabalhadores. As fábricas necessitavam de uma mão-de-obra capaz de
seguir o ritmo das encomendas e das projeções de lucro dos industriários da época. Dessa
forma, em curto espaço de tempo, um amplo conjunto de trabalhadores foi recebido pelas
indústrias instaladas nos centros urbanos. Chamados de operários, esses trabalhadores
eram figuras típicas de um novo cenário urbano em formação.
A partir da ascensão do sistema capitalista (industrialização, formação de mercados,
bancos, comércios), ocorreu a ascensão de uma nova classe social: os operários, isto é,
os trabalhadores das indústrias capitalistas. Consequentemente, surgiram as relações
sociais entre donos das fábricas (exploradores) e trabalhadores das fábricas (explorados)
que marcaram o dia a dia das indústrias.
Dessas relações nem um pouco amistosas entre capitalistas e trabalhadores surgiram
na Inglaterra dois movimentos, os Ludistas e os Cartistas, que tinham um objectivo em
comum: encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos operários, principalmente
o desemprego (decorrente da introdução nas fábricas de máquinas que substituíram
diversas forças de trabalho humana). Tanto Ludistas quanto Cartistas reivindicavam, através
de acções (como a quebra de maquinarias das indústrias), o retorno ao emprego dos
trabalhadores desempregados.
Outra forma de reivindicação operária que não surtiu tanto efeito foi a tentativa de
alcançar melhores condições de trabalho solicitando-as ao governo. Geralmente o poder
público não atendia a essas reivindicações, pois o próprio governo era dono de indústrias.
Com o decorrer das décadas, o capitalismo foi agregando novas feições, a sociedade
passou por crescentes transformações e, assim, os operários necessitavam articular novas

3
BRAVO, Gian Mario. Movimento operário. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p. 781.

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formas de lutar por suas causas. Dessa maneira, surgiram os movimentos socialistas, a
partir da organização dos trabalhadores.
As máquinas eram os novos meios de produção da riqueza económica e o seu alto
valor fazia com que apenas as classes economicamente abastadas tivessem condições de
adquiri-las. Dessa forma, pontuamos que a revolução industrial separou os trabalhadores
dos meios de produção. A figura do artesão possuidor de suas técnicas e ferramentas perdeu
lugar para o operário submetido ao ritmo e às tarefas do maquinário. Não participando de
todo o processo produtivo e afastado dos meios de produção, o operário desconhecia o valor
da riqueza por ele produzida. Subjugado por essa situação, o operário transformava sua
mão-de-obra em uma mercadoria vendida a um preço determinado por seu patrão.
Com a grande leva de pessoas que procuravam o trabalho nas fábricas, o preço estipulado
pela força de trabalho do operário caia em função da grande disponibilidade de
trabalhadores dispostos a venderem sua mão-de-obra sob as exigências impostas pelo
patrão. Dessa maneira, nas primeiras fábricas, havia um aglomerado de trabalhadores que
se submetia a extensas cargas horárias recompensadas por salários irrisórios.
A baixa remuneração para o trabalho repetitivo das fábricas obrigava que famílias
inteiras integrassem o ambiente fabril. Por um salário ainda menor, mulheres e crianças
eram submetidas às mesmas tarefas dos homens adultos. Ao mesmo tempo, as condições
de trabalho oferecidas nas fábricas eram precárias. Sem instalações apropriadas e nenhuma
segurança, as fábricas ofereciam risco de danos à saúde e à integridade física dos operários.
As mortes e doenças contraídas na fábrica reduziam consideravelmente a expectativa de
vida de um operário.
Tantas adversidades acabaram por motivar as primeiras revoltas do operariado. Sem
ter uma organização muito bem estabelecida, as primeiras revoltas se voltavam contra as
próprias máquinas. Entre 1760 e 1780, as primeiras revoltas de operários foram registadas
em alguns centros urbanos da Inglaterra. O movimento ludita (ou ludismo) incentivava a
destruição das máquinas industriais. Essas eram encaradas como as principais
responsáveis pelos acidentes e o grande número de desempregados substituídos por
tecnologias que exigiam uma mão-de-obra ainda menor. Anos mais tarde, o cartismo exigiu
a participação política dos operários ingleses que, na época, não tinham direito ao voto.
Assim, na Inglaterra, o movimento dos trabalhadores fez-se sentir por meio de
demonstrações de massa, como motins e petições. Foi nesse século (XIX) que os sindicatos
surgiram como uma nova força no cenário político.
A primeira luta de caráter político, empreendida pelos operários ingleses, foi a
conquista do direito de voto. Nessa luta, o movimento operário contou inicialmente com o
apoio da burguesia, uma vez que esta classe não podia enviar seus deputados para a
câmara dos Comuns, que estava nas mãos dos latifundiários. Em 1832, o Parlamento
promulgou uma reforma do sistema eleitoral (Reform Act), beneficiando a burguesia, mas
negando qualquer benefício aos operários na época.
Ainda assim, os movimentos operários continuaram a existir sob a influência de outras
orientações. Os principais movimentos socialistas que surgiram no século XIX foram o
anarquismo e o comunismo. Segundo as ideias anarquistas, os operários somente iriam
melhorar as condições de vida se o Estado e todas as formas de poder fossem extintas.

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Tanto o anarquismo quanto o comunismo pautavam suas metas em transformações sociais
profundas, não solicitavam somente mudanças nas relações entre patrões e trabalhadores.
Os anarquistas acreditavam que toda forma de exploração dos seres humanos teria
um fim a partir do momento em que a sociedade se organizasse sem autoridade, sem
gestores, sem escola, sem polícia, ou seja, sem quaisquer outras instituições estatais. Para
os comunistas, a situação de exploração capitalista acabaria somente quando os operários
assumissem o poder estatal, ou seja, o controle do Estado. A partir daí, então, criariam novos
valores sociais para aumentar a qualidade de vida da sociedade, acabando, dessa maneira,
com a exploração capitalista.
Na sequencia disso, logo, uma lei de proteção e assistência aos trabalhadores
urbanos empobrecidos, conhecida como Lei Speenhamland, foi decretada com o intuito de
amenizar os conflitos operários desenvolvidos nos centros urbanos da Inglaterra. A lei
Speenhamland, comumente chamada de "pobre da lei", estava em vigor na Grã - Bretanha
de 1795 a 1834 . Estabelecido em um contexto de forte instabilidade social, visava aliviar a
pobreza que afetava as áreas rurais na Inglaterra e no País de Gales. Esta lei garantiu até
1834 um rendimento mínimo para os pobres em cada freguesia, graças à atribuição de
recursos adicionais em dinheiro indexados ao preço do pão (ou do trigo) e ao tamanho da
família a tomar. Essa renda era concedida em complemento ao salário pago quando este
não era suficiente para garantir a existência do trabalhador.
Com o passar dos anos, os trabalhadores passaram a instituir organizações em prol
dos seus próprios interesses. As chamadas trade-unions tinham caráter cooperativista e ao
mesmo tempo político. Com sua força política representada, os trabalhadores conquistaram
melhores condições de trabalho, a redução da jornada de trabalho e o direito à greve. Dessas
mobilizações surgiram os primeiros sindicatos que, ainda hoje, tem grande importância para
a classe trabalhadora.

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