Renata Dos Santos-Dissert
Renata Dos Santos-Dissert
Renata Dos Santos-Dissert
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
NITERÓI
2008
G182 Galvão, Renata dos Santos
Drenagem urbana e planejamento ambiental: Vale
do Rio João
Mendes (Niterói, RJ) / Renata dos Santos Galvão. –
Niterói : [s.n.],
2008.
80 f.
CDD
551.4
AGRADECIMENTOS
i
RESUMO
ii
ABSTRACT
The theme of the research involves changes in the network of drainage in the urban
environment due to the tropical urban growth, causing changes in channels with engineering
works and occupation of the band marginal protection. The basin of the River John Mendes,
located in the city of Niteroi, state of Rio de Janeiro, began to make changes both in the use
of the soil as in the system of drainage from the 1970s, when it was intensified the
occupation of the Oceanic Region, Niterói. As in most cities of tropical countries, the process
of urbanization happened so disorganized, without planning. Search as general objective
understanding of the dynamics of changes in the network of drainage channels of the river
basin John Mendes in an attempt to provide subsidies to the planning of the area. They are
specific objectives: (1) Sort use and soil cover in the basin for the years of 1976, 1996, 2001
and 2003 and that changes in the time scale affect the behavior of the network of drainage,
particularly on the growth of urban areas, (2) take stock of the major engineering works
carried out in the main channel over 26 years (1980 - 2005) and (3) assess the
consequences of space engineering works in the sub-basins and the main channels of each
one. The methodology used in the work involves the removal of the occupation of historic
basin (from the 1970s), changes in the use and soil cover (in the years of 1976, 1996, 2001
and 2003) and changes in the network of drainage (1976 and 1996). Also listed were the
major engineering works carried out in channels (from 1980 to 2008).
Due to the large urban growth, there was an increase of the area sealed in the basin to the
detriment of the areas of brejo and forest. A network of drainage has been substantially
changed over 20 years, with changes in the amount and length of the channels.
iii
SUMÁRIO
PÁGINA
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
1 – ESTRUTURA TEÓRICO-CONCEITUAL............................................................................5
1.1. Planejamento ambiental..............................................................................................5
1.2. Urbanização ................................................................................................................5
1.2.1. Mudanças no ciclo hidrológico...........................................................................6
1.2.2. Mudanças na morfologia do canal e nas densidades
de drenagem e hidrográfica...............................................................................7
1.3. Ambiente urbano em áreas tropicais..........................................................................8
1.3.1. Crescimento desordenado.................................................................................8
1.3.2. Enchentes, lixo e esgoto....................................................................................9
1.3.3. Produção de sedimentos.................................................................................10
1.4. Obras de engenharia e principais impactos..............................................................11
1.5. Planejamento ambiental urbano e a melhoria do sistema de drenagem..................13
2 – METODOLOGIA...............................................................................................................14
3 – PROCESSO HISTÓRICO.................................................................................................17
3.1. Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica..........................................................22
3.2. Principais obras de engenharia realizadas nos canais..............................................28
4 – CONSEQÜÊNCIAS ESPACIAIS DAS OBRAS DE
ENGENHARIA (1976 A 1996)..........................................................................................32
5 – AMBIENTE DO CANAL E GESTÃO 2008........................................................................51
5.1. Situação do canal principal........................................................................................51
5.1.1. Seções transversais..........................................................................................53
5.1.2. Setores do rio principal.....................................................................................56
5.1.3. Desembocaduras dos afluentes das sub-bacias..............................................58
5.2. Gestão.......................................................................................................................60
5.2.1. Limpeza dos canais..........................................................................................60
5.2.2. Resgate da Faixa Marginal de Proteção...........................................................62
CONCLUSÃO.........................................................................................................................65
RECOMENDAÇÕES..............................................................................................................67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................68
iv
LISTA DE FIGURAS
PÁGINA
v
Figura 19: Setores do rio João Mendes: (A-B) canal natural, (B-C) canal com
muro lateral, (C-D) canal natural, (D-E) canal com muro lateral, (E-F)
canal concretado, (F-G) canal natural, (G-H) canal com muro lateral, (H-I)
canal concretado e (I-J) canal com muro lateral...................................................57
Figura 20: Identificação das desembocaduras dos afluentes das sub-bacias do rio
João Mendes com acesso disponível (1) Terra Nova, (2) Argeu
Fazendinha, (4) Soter, (5) Vale das Esmeraldas, (6) Rua 9, (9) Engenho
do Mato I e (10) Engenho do Mato II.....................................................................59
Figura 21: (A) A equipe a serviço da Prefeitura realiza a limpeza da seção
transversal totalmente concretada do rio. Lixo doméstico e sedimentos
são retirados e as margens são capinadas. (B) Mesmo trecho 3 meses
depois....................................................................................................................61
Figura 22: Praças construídas nos terrenos às margens do rio João Mendes
fazem parte do Projeto de Renaturalização da Prefeitura Municipal
de Niterói...............................................................................................................63
Figura 23: Primeiro edifício construído com a troca de terrenos nas margem do rio
João Mendes na esquina da Estrada Francisco da Cruz Nunes com a
Avenida Ewerton Xavier.........................................................................................64
vi
LISTA DE TABELAS
PÁGINA
vii
INTRODUÇÃO
1
Engenho do Mato, Itaipu, Maravista, Santo Antônio, Serra Grande e Várzea das Moças
(Figura 1). Esta bacia começou a apresentar alterações no sistema de drenagem a partir da
década de 1970, quando foi intensificada sua ocupação.
O rio João Mendes tem sua nascente na Serra do Malheiro e sua foz na laguna de
Itaipu, sendo seu principal contribuinte.
No trecho do alto curso, compreendido entre a nascente até a Estrada do Engenho
do Mato, seu curso possui boa cobertura florestal e grande declividade.
Deve ser notificado que as encostas dos divisores topográficos das águas da bacia
ainda permanecem preservadas com florestas em virtude da presença do Parque Estadual
da Serra da Tiririca e da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.
Nos médio e baixo cursos, da Estrada do Engenho do Mato até a Estrada Francisco
da Cruz Nunes, o rio apresenta pouca declividade e margens totalmente loteadas. Nesse
trecho da bacia a urbanização varia de esparsa a densa quanto mais próxima às principais
vias de acesso, com ocupações mais antigas.
Devido à ocupação do solo sem planejamento e com a retida da mata ciliar,
processos erosivos se instalaram e provocam o acúmulo de sedimentos no leito,
contribuindo tanto para o seu assoreamento quanto para o da laguna de Itaipu.
A expansão dos loteamentos provocou mudanças nos cursos d’água e deficiências
na drenagem. Obstáculos para a passagem da água no rio como construções, lixo e
acúmulo de sedimentos agravam ainda mais esta situação. Os divisores da bacia
hidrográfica controlam, pela legislação, a expansão urbana com a presença do Parque
Estadual da Serra da Tiririca e da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.
O objetivo geral do trabalho é entender a dinâmica da mudança de canais na rede de
drenagem da bacia hidrográfica do rio João Mendes numa tentativa de fornecer subsídios ao
planejamento da área.
São objetivos específicos:
(1) Classificar o uso e a cobertura do solo na bacia hidrográfica para os anos de 1976,
1996, 2001 e 2003 entendendo que as mudanças ocorridas na escala temporal
afetam o comportamento da rede de drenagem, em especial quanto ao crescimento
das áreas urbanas.
(2) Fazer o levantamento das principais obras de engenharia realizadas no canal
principal ao longo de 26 anos (1980 - 2005).
(3) Avaliar as conseqüências espaciais das obras de engenharia nas sub-bacias e nos
canais principais de cada uma delas.
A presente pesquisa pretende contribuir não só para o estudo da área elegida, mas
também para bacias que apresentem características e problemas similares, tendo em vista o
planejamento ambiental.
2
Figura 1: Localização da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Destacam-se os bairros,
principais ruas e áreas de preservação ambiental.
3
No capítulo um faz-se uma discussão teórica acerca do tema. A metodologia
utilizada no trabalho consta no capítulo dois. O terceiro capítulo apresenta a área de estudo:
caracterização, principais problemas, histórico de ocupação, mudanças no uso e na
cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes. Já no capítulo quatro são
abordadas as conseqüências espaciais das obras de engenharia realizadas na bacia
hidrográfica do rio João Mendes ao longo de 20 anos. O quinto capítulo apresenta o
ambiente do canal atualmente, analisa seções transversais, divide o rio em setores,
identifica as desembocaduras dos afluentes e aborda a gestão em 2008.
4
CAPÍTULO 1
ESTRUTURA TEÓRICO-CONCEITUAL
1.2. Urbanização
Quando uma área é ocupada por construções de casas, prédios ou outro propósito
urbano, as conseqüências hidrológicas imediatas são a diminuição da capacidade de
infiltração e o aumento da eficiência ou velocidade de transmissão da água nos canais ou
condutos (LEOPOLD, 1968; RANTZ, 1971 In DUNNE E LEOPOLD, 1978). Como efeitos
adversos tem-se o aumento na produção de sedimentos – pelo menos temporariamente – e,
5
em muitos casos, uma diminuição na densidade de drenagem ou número de canais para
transportar o aumento da carga de sedimentos.
No Brasil, a crescente urbanização trouxe a necessidade de obras de infra-estrutura.
No entanto, a ineficiência de um planejamento urbano adequado tornou importante o estudo
da morfologia do canal, uma vez que destaca a evolução dos processos na forma do rio. No
decorrer dos anos, o processo de urbanização tem repercussões no rio, no trecho urbano
como em toda a rede de drenagem da bacia hidrográfica, podendo ser identificadas na
própria dinâmica do rio, na área urbana, a montante e a jusante da mesma (VIEIRA, 2003).
Quando o homem faz mudanças no uso do solo ou em sua vegetação, altera alguns
aspectos do ciclo hidrológico com efeitos na coleta de água nos sistema de canais. Esses
efeitos podem incluir a quantidade, o tempo e a localização do alcance da água nos canais.
A rede de drenagem, como um sistema interconectado, pode sofrer uma variedade de
conseqüências vindas de lugares distantes, onde a mudança foi feita. A essência do
planejamento inclui a antecipação dessas conseqüências (DUNNE E LEOPOLD, 1978).
Com a impermeabilização do solo, o escoamento ocorre, fundamentalmente, pelos
condutos e canais, reduzindo a infiltração e aumentando o volume que escoa pela
superfície. Como a capacidade de escoamento nas redes de coletas pluviais é superior à
das superfícies naturais e dos riachos, devido à urbanização, o escoamento superficial
chega mais rapidamente à seção principal, provocando vazões maiores que as naturais
(TUCCI e GENZ, 1995).
Durante as estiagens, há redução da recarga dos aqüíferos, o que produz o
rebaixamento do lençol freático e a diminuição das vazões (TUCCI e GENZ, 1995).
A mais significativa mudança nos processos de escoamento resulta da cobertura de
áreas com superfícies impermeáveis, telhados, calçadas, ruas e estacionamentos.
Ralos e bueiros são construídos em áreas urbanas para drenar rapidamente a água
para os canais, que são freqüentemente estreitados, aprofundados ou retificados com
concreto para torná-los hidraulicamente eficientes. Cada uma dessas mudanças aumentam
a eficiência do canal, transmitindo o fluxo de cheia para jusante mais rapidamente. Durante
as tempestades, as áreas de baixo curso acumulam água mais rapidamente do que em rios
naturais, produzindo picos de cheia. Há o aumento de velocidade das águas no canal,
diminuindo o tempo de permanência da água em determinado ponto do canal. Áreas
residenciais ribeirinhas sofrem erosão e desvalorização imobiliária. (DUNNE e LEOPOLD,
1978)
6
Em resumo, como impactos hidrológicos advindos da urbanização temos:
inundações e alterações no escoamento, aumento da produção de sedimentos, degradação
da qualidade da água e contaminação dos aqüíferos.
A densidade dos canais em uma paisagem é uma medida facilmente obtida que
revela a dissecação do terreno. A densidade de drenagem é definida como o comprimento
de todos os canais de uma bacia hidrográfica dividido pela área da mesma (DUNNE e
LEOPOLD, 1978).
Esta medida de dissecação é associada a várias condições geomorfológicas e
hidrológicas de interesse do planejador. Áreas com alta densidade de drenagem estão
associadas com altos picos de cheia, grande produção de sedimentos, dificuldade de
acesso e altos custos para construções de prédios e instalação de pontes, estradas, entre
outros (DUNNE e LEOPOLD, 1978).
Nas palavras de Christofoletti (1980: p. 115): “O cálculo da densidade de rios é
importante porque representa o comportamento hidrográfico de determinada área, em um
de seus aspectos fundamentais: a capacidade de gerar novos cursos d’água”.
A densidade de drenagem relaciona o comprimento total dos canais de escoamento
com a área da bacia hidrográfica.
De acordo com Christofoletti (1980: p. 116): “o cálculo da densidade de drenagem é
importante na análise das bacias hidrográficas porque apresenta relação inversa com o
comprimento dos rios. À medida que aumenta o valor numérico da densidade há diminuição
quase proporcional do tamanho dos componentes fluviais das bacias de drenagem”.
7
A densidade hidrográfica é a relação existente entre o número de rios ou cursos
d’água e a área da bacia hidrográfica. O cálculo da densidade hidrográfica tem por objetivo
comparar a freqüência ou a quantidade de cursos de água existentes em uma área de
tamanho padrão, como o quilômetro quadrado, por exemplo.
Problemas enfrentados pelo planejador devem ter ênfase no baixo curso. Quanto
mais a jusante um curso, mais problemas serão colocados pelos usos do solo à montante.
(DUNNE e LEOPOLD, 1978).
Ao tentar fazer transições de teorias e práticas de países com clima temperado para
países situados nos trópicos úmidos, é preciso levar em conta três pontos importantes. O
primeiro é que a maioria dos países nos trópicos tem uma taxa de crescimento urbano mais
elevada que nos Estados Unidos ou na Europa. Em segundo lugar, alguns componentes do
ambiente físico podem se comportar de maneira diferente, tendendo a acentuar as
mudanças nos processos geomorfológicos que a urbanização acarreta. E terceiro, há pouca
informação disponível, pelo menos na forma de publicação, sobre hidrologia urbana e
sedimentação nos trópicos (GUPTA, 1984).
Segundo Ebisemiju (1989), nos trópicos úmidos a grande produção de sedimentos
com rápida deposição no leito reduzem a capacidade dos canais. Isto porque em áreas
urbanas, de maneira geral, os cursos d’água têm pouca velocidade devido ao pequeno
gradiente de declividade favorecendo a formação de bancos e promovendo enchentes.
Infelizmente, os trópicos úmidos abarcam um grande número de países em
desenvolvimento, com recursos limitados e problemas maiores que os causados pela
degradação do ambiente em função da urbanização. Estes problemas acabam recebendo
menor prioridade e reconhecimento pela população (GUPTA, 1984).
8
Assim, podem ocorrer inundações pontuais provocadas pelo estrangulamento da
seção do rio devido a aterros para aproveitamento da área e assoreamento do leito do rio,
além de erros de execução e projeto de drenagem de estradas, que, muitas vezes, são
projetadas sem considerar seu impacto sobre a drenagem. Tucci (1995: 25) ainda
complementa:
“A tendência de controle das cheias urbanas devido à
urbanização é que ele seja realizado, na maioria das vezes,
através da canalização dos trechos críticos. Esse tipo de
solução segue a visão particular de um trecho da bacia, sem
que as conseqüências sejam previstas para o restante da
mesma ou dentro de diferentes horizontes de ocupação
urbana. A canalização dos pontos críticos acaba apenas
transferindo a inundação de um lugar para outro na bacia”.
9
1.3.3. Produção de sedimentos
10
1.4. Obras de engenharia e principais impactos
11
A retirada da vegetação e sua substituição por coberturas impermeáveis gera menor
infiltração da água no solo e acarreta escoamento superficial. Nesse sentido, a preservação
dos verdes urbanos e de áreas permeáveis diminuiriam as alterações nos canais urbanos,
com o incremento de sedimentos e picos de cheia, por exemplo. Além da preservação de
espécies vegetais e animais e da melhoria da qualidade ambiental.
As modificações na geometria do canal, especialmente em áreas urbanas, vêm
ocasionando desajuste no estado de relativa estabilidade do canal, podendo levar décadas
para se adequar à nova realidade. O sistema fluvial, como sistema aberto em relação ao
equilíbrio dinâmico, é dependente da variável geometria do canal (SALA e INBAR, 1992 In
VIEIRA e CUNHA, 2005). Nesse sentido, de acordo com Vieira (2003: 11):
12
de água. Os trechos de montante e jusante das obras podem sofrer sedimentação ou
erosão, de acordo com a alteração produzida (TUCCI e GENZ, 1995)
Devido aos impactos que podem provocar no ambiente, a tendência é reduzir, ao
máximo, o uso da canalização, procurando aumentar a convivência harmoniosa da
população com o seu meio natural.
O controle das enchentes urbanas é um processo permanente, que deve ser mantido
pelas comunidades, visando à redução do custo social e econômico dos impactos. O
controle não deve ser visto como uma ação isolada, seja no tempo ou no espaço, mas como
uma atividade em que a sociedade, como um todo, deve participar de forma contínua
(TUCCI e GENZ, 1995).
O controle de enchentes envolve medidas estruturais e não-estruturais, que,
dificilmente estão dissociadas. As medidas estruturais envolvem recursos que a maioria das
cidades não possuem para investir, além disso, resolvem somente problemas específicos e
localizados. Isso não significa que esse tipo de medida seja totalmente descartável. A
política de controle de enchentes, certamente, poderá chegar a soluções estruturais para
alguns locais, mas dentro da visão de conjunto de toda a bacia, onde essas estão
racionalmente integradas com outras medidas preventivas (não-estruturais) e
compatibilizadas com o esperado desenvolvimento urbano (TUCCI e GENZ, 1995).
Depois que a bacia, ou parte dela, estiver ocupada, dificilmente o poder público terá
condições de responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia, portanto, se a ação
pública não for realizada preventivamente através do gerenciamento, as conseqüências
econômico-sociais futuras serão muito maiores (TUCCI e GENZ, 1995).
A falta de gerenciamento dos aspectos de enchentes dentro do desenvolvimento
urbano é comum. Nenhum loteador evitará ocupar as áreas ribeirinhas de risco, ou construir
a rede pluvial mantendo a cheia natural, se não for obrigado pela legislação e fiscalizado
pelas administrações municipais. A falta de mecanismos básicos de controle tem transferido
para toda a sociedade, o ônus econômico e, muitas vezes social, de responder por
problemas dessa natureza. A solução encontrada nem sempre resolve o problema; apenas
tem o transferido de um lugar para o outro (TUCCI e GENZ, 1995).
A demora no planejamento de ações de controle racional sobre o impacto das
enchentes tende a agravar os custos de ações futuras, já que, após a ocupação das bacias,
as soluções são sempre muito caras, pois não existe espaço para reservatórios de
detenção, a bacia já está urbanizada e as áreas ribeirinhas já foram ocupadas de forma
inadequada (TUCCI e GENZ, 1995).
13
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA
14
localizadas nas bases das encostas, de ocupação recente, que podem ser consideradas os
vetores de expansão da bacia hidrográfica. É composta por casas esparsas, pequenos sítios
e muitas ruas sem asfaltamento. As áreas de florestas identificadas localizam-se próximas
aos divisores, em áreas de proteção ambiental. O brejo só é encontrado nos terrenos
adjacentes à laguna de Itaipu.
O registro das principais obras de engenharia realizadas nos canais começa em
1980 porque não foi encontrado nenhum registro anterior (até 1976).
A bacia foi dividida em 17 sub-bacias no ano de 1976. Entretanto, em 1996 foram
identificadas apenas 15 sub-bacias – devido às obras realizadas nos canais.
Com o programa ArcView foram calculadas as áreas de todas as sub-bacias. Perfis
longitudinais foram traçados para os principais canais de drenagem da bacia hidrográfica do
rio João Mendes para os anos de 1976 e 1996, com o emprego do programa Excel. Em
suas análises, observam-se mudanças nos canais quanto ao comprimento – aumento ou
diminuição – levando em consideração desvios, aterros e retificações.
O comprimento do rio principal é a distância que se estende ao longo do curso de
água desde a desembocadura até determinada nascente. Foi definido, para este trabalho,
que o critério de definição do curso principal de cada sub-bacia do rio João Mendes seria o
curso de água mais longo, da embocadura da sub-bacia até determinada nascente, medido
como a soma dos comprimentos dos seus ligamentos (SHREVE, 1974). Este critério é
prático e se inter-relaciona tanto com a análise dos aspectos morfométricos quanto
topológicos das redes de drenagem. Mesmo que se os resultados fossem obtidos através de
outros critérios, as diferenças seriam pequenas.
Para a análise da hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do rio João Mendes foi
adotado o critério de Strahler, 1952. Para Strahler, são considerados de primeira ordem os
menores canais, sem tributários, estendendo-se desde a nascente até a confluência. Os
canais de segunda ordem se originam da confluência de dois canais de primeira ordem, e
apenas recebem afluentes de primeira ordem. Os canais de terceira ordem surgem do
encontro de dois canais de segunda ordem, podendo receber afluentes de canais de
segunda e primeira ordens. Da confluência de dois canais de terceira ordem, surgem os
canais de quarta ordem – que podem receber tributários de ordens inferiores. E assim por
diante (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Foi realizada a contagem e a medição do comprimento de todos os segmentos de
canais por hierarquia para cada sub-bacia para verificar as conseqüências de aterros e
desvios dos cursos d’água na bacia hidrográfica de rio João Mendes.
Foi utilizada a ordenação de canais segundo Horton, onde o número de canais
corresponde à soma de todos os segmentos de cada ordem. O número de canais de
determinada bacia é noção básica para demonstrar a sua magnitude.
15
Nos trabalhos de campo foram identificados trechos que caracterizam o ambiente do
canal (pontos com risco de inundação e ocupação irregular) e estes são destacadas ainda
no ArcView.
Seções transversais foram traçadas nos pontos de controle que foram observados
em todos os trabalhos de campo realizados. As seções transversais foram feitas com o
auxílio do programa Excel.
Ainda, adaptado dos estudos efetuados pela Prefeitura de Niterói (2002), o rio João
Mendes foi dividido em 9 setores distintos quanto à presença ou ausência de concreto –
identificados em trabalhos de campo. Foram identificados no ArcView setores que ainda
guardam características naturais, setores com muro lateral de casas nas margens e também
setores totalmente concretados.
Para ilustrar o estado atual das desembocaduras dos afluentes do rio João Mendes,
foram identificadas em trabalho de campo apenas 7 das 15 desembocaduras dos afluentes
das sub-bacias - pela dificuldade de acesso em certos trechos do rio. Estas
desembocaduras também são mapeadas no ArcView.
16
CAPÍTULO 3
PROCESSO HISTÓRICO
No início dos anos de 1980, destaca-se o papel da Avenida Ewerton Xavier (antiga
Avenida Central) que, ligando o bairro de Itaipu à Rodovia Amaral Peixoto (via de acesso
importante à Região dos Lagos), também colaborou para a expansão urbana e estimulou o
crescimento de bairros como Itaipu e Maravista (PMN, 2002). Surgem novas residências e
as existentes, freqüentadas nos fim de semana, passam a ser moradias permanentes.
17
É preciso ressaltar que até 2003, os bairros de Santo Antônio, Serra Grande e
Maravista não existiam. Estes bairros faziam parte do bairro de Itaipu, que foi dividido.
Dados da Prefeitura Municipal de Niterói apontam o grande crescimento populacional
da Região Oceânica de Niterói nas últimas décadas. Enquanto a taxa de crescimento
populacional do município era de 0,50% no ano de 2000, a da Região Oceânica foi de
6,28% (Tabela 1). Podemos afirmar que este crescimento acima da média municipal ocorreu
devido ao deslocamento da população das Regiões de Planejamento do Norte de das
Praias da Baía fundamentalmente em direção a Região Oceânica. Este movimento
contribuiu para o aumento dos preços dos imóveis e para a melhoria da qualidade dos
serviços na região procurada.
Na década de 1970, a população residente na bacia hidrográfica do rio João Mendes
era de pouco mais de 4.000 habitantes (Tabela 2). Nos anos 1980, essa população
aumentou para 6.692 habitantes. Já em 1990 a população quase triplica, atingindo cerca de
18.500 habitantes. Na década seguinte, em 2000, a população ultrapassa a marca dos
31.500 habitantes. Dessa forma, a população residente na bacia hidrográfica aumentou
aproximadamente 7,7 vezes de 1970 para 2000, ou seja, houve o incremento de 27.454
habitantes em 30 anos.
Apesar de uma elevada taxa de crescimento populacional da bacia hidrográfica do
rio João Mendes, 97,87% dos domicílios não possuíam rede de abastecimento de água até
o ano de 2000 (Tabela 3). Destes 97,87% domicílios, 90,82% eram abastecidos com água
de poço (muitas vezes com água salobra) ou de nascente e 7,05% necessitava de pipas
d’água para o consumo.
Com relação ao esgotamento sanitário, nos bairros da referida área de estudo, até o
ano de 2000 eram poucos os registros de domicílios conectados a rede geral de esgoto.
Mais de 95% das residências possuíam fossas ou direcionavam seu esgoto sem tratamento
em valas ou corpos d’água principalmente (Tabela 4). Este fato fez com que houvesse a
degradação dos córregos, rios e lagunas da Região Oceânica.
Hoje, grande parte da Região Oceânica de Niterói (região de expansão da cidade),
diante da crescente urbanização, já possui água encanada desde 2001 e a implantação da
rede de esgoto ainda está em andamento (Figuras 3 e 4). A Estação de Tratamento de
Esgoto de Itaipu deverá diminuir consideravelmente o lançamento de detritos não só no rio
João Mendes, mas também nos demais corpos d’água da Região Oceânica.
18
Tabela 1 – Taxa de crescimento populacional, segundo as Regiões de Planejamento -
Niterói
Regiões de População População Taxas de
Planejamento 1996 2000 crescimento
Oceânica 43.727 55.790 6,28
Leste 4.752 5.581 4,10
Pendotiba 47.682 49.620 1,00
Praias da Baía 193.829 191.464 -0,31
Norte 160.374 156.996 -0,53
Niterói 450.360 459.451 0,50
Fonte: PMN/Subsecretaria de Ciência e Tecnologia, 2000
19
Tabela 4 – Domicílios por esgotamento sanitário, segundo os bairros localizados na bacia hidrográfica do rio João Mendes para o
ano de 2000
20
Figura 3: Estação de Tratamento de Esgoto de Itaipu.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006
21
3.1. Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica
22
Figura 5: Área urbana esparsa da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Ao fundo, a
Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008
Figura 6: Área urbana média da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Ao fundo, O Parque
Estadual da Serra da Tiririca.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008
23
Figura 7: Área urbana densa da bacia hidrográfica do rio João Mendes: Avenida Ewerton
Xavier.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008
24
Tabela 5 – Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes
Cobertura 1976 1996 2001 2003
do solo km2 % km2 % km2 % km2 %
25
26
impermeável já ultrapassa a metade da área total, representando 52,50% da bacia (Tabela
6). As áreas de mata e brejo são reduzidas, para 42,72% e 4,76% respectivamente,
seguindo a tendência do crescimento urbano. Com isso, a área permeável, pela primeira
vez, ocupa menos da metade da área da bacia (47,48%).
Embora não houve mudanças significativas, quando comparado ao ano de 2001, ano
de 2003 segue a projeção de crescimento das áreas urbanas em detrimento das áreas
permeáveis de floresta, que diminuem para 42,43% da bacia (Figura 9 D e Tabela 5). A área
urbana densa ocupa 23,17% da bacia hidrográfica, a área urbana média diminui para 9,82%
e a área urbana esparsa aumenta para 19,85%. Apesar de em 2003 a área de brejo ter se
estabilizado em 4,76% da área da bacia, atualmente vem sofrendo forte especulação
imobiliária, com construções avançando cada vez mais (ver Figura 8). A área impermeável
em 2003 corresponde 52,84 % e a área permeável diminui para 47,19% (Tabela 6).
27
3.2. Principais obras de engenharia realizadas nos canais
28
freqüentes alagamentos deste ponto, foi realizada em 2005 uma obra de engenharia onde
as margens e o leito foram totalmente concretados (Figura 13). Porém, esta intervenção não
solucionou o problema, visto que há um estrangulamento na passagem da água antes da
ponte sobre o rio. Moradores relataram que em dias de chuva o volume d’água do rio é
maior do que a calha pode comportar e, como a passagem embaixo da ponte é muito
pequena, as águas transbordam, passam por cima da ponte e invadem casas e terrenos
ribeirinhos. Após 3 anos, a obra não foi concluída. A ausência de muretas de proteção
oferece riscos às pessoas e o problema da inundação não foi solucionado (Figura 14).
29
Figura 11: Galeria em formato de binóculo sob a Estrada Francisco da Cruz Nunes, em
Itaipu.
Foto: Felipe F. Braga, 25/04/2002 (In: BRAGA, 2002).
Figura 12: Mesmo trecho sob a Estrada Francisco da Cruz Nunes após a retirada da galeria.
Destaca-se a quantidade de lixo.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 12/04/2007
30
Figura 13: Execução de obras na seção do rio. As margens e o leito foram totamente
concretados e há uma curvatura no canal de 90°.
Foto: Sandra Baptista da Cunha, 18/10/2005
31
CAPÍTULO 4
CONSEQÜÊNCIAS ESPACIAIS DAS OBRAS DE ENGENHARIA
32
Figura 15: Sub-bacias da bacia hidrográfica do rio João Mendes em (A) 1976 e (B) 1996.
33
Tabela 7 – Comprimento da drenagem principal e área das sub-bacias que constituem
a Bacia Hidrográfica do Rio João Mendes em 1976 e 1996
Aumento ou Área Área Aumento
Comprimento Comprimento diminuição da da ou
da drenagem da drenagem do Sub- Sub- diminuição
Nº Sub-bacia principal 1976 principal 1996 comprimento bacia bacia da área da
(km) (km) da drenagem 1976 1996 sub-bacia
2 2
(km ) (km )
1 Terra Nova 2,50 2,42 - 1,58 1,47 -
2a Argeu 0,77 1,15 + 0,35 0,70 +
Fazendinha I
2b Argeu 1,08 extinto extinto 0,50 extinta extinta
Fazendinha II
3 Rua 27 1,56 2,15 + 0,60 0,89 +
4 Soter 0,84 1,31 + 0,34 0,91 +
5 Vale das 1,46 2,10 + 1,16 0,95 -
Esmeraldas
6 Rua 09 0,74 1,33 + 0,12 0,49 +
7 João Mendes I 2,50 2,80 + 2,99 2,31 -
8 Jardim 1,25 0,80 - 0,37 0,25 -
Fluminense
9 Engenho do 4,35 2,45 + 3,09 2,62 -
Mato I
10 Engenho do 1,45 1,45 = 0,56 0,53 -
Mato II
11 Engenho do 1,36 1,26 + 0,45 0,46 +
Mato III
12 Engenho do - 0,48 + 0,07 0,06 -
Mato IV
13 Engenho do 0,57 0,37 - 0,17 0,15 -
Mato V
14a Rio da Vala I 2,25 4,20 + 1,21 2,71 +
14b Rio da Vala II 1,85 extinto extinto 1,16 extinta extinta
15 João Mendes II 4,00 4,15 + 2,30 2,50 +
Total 27,78 28,42 + 17,00 16,90 -
34
Tabela 8 – Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes –1976
36
Tabela 9 – Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes – 1996
Comprimento Segmentos dos canais por hierarquia Comprimento dos segmentos dos canais
N° Sub-bacia da drenagem Área da por hierarquia (km)
principal (km) Sub-bacia
1 2 3 4 5 Total 1 2 3 4 5 Total
(km2)
37
Tabela 10 – Densidade hidrográfica e densidade de drenagem das sub-bacias da
Bacia Hidrográfica do rio João Mendes para os anos de 1976 e 1996
1976 1996
Densidade Densidade Densidade Densidade
N° Sub-bacia Hidrográfica de drenagem hidrográfica de drenagem
2
(N°/ km ) (km/ km2) (N°/ km2) (km/ km2)
1 Terra Nova 5,70 2,34 6,80 (+) 3,23 (+)
2a Argeu Fazendinha I 8,57 2,29 5,71 (-) 2,89 (+)
2b Argeu Fazendinha II 10,00 3,04 - (-) - (-)
3 Rua 27 15,00 4,25 13,48 (-) 3,64 (-)
4 Soter 11,76 3,44 3,30 (-) 1,38 (-)
5 Vale das Esmeraldas 20,69 5,04 15,79 (-) 5,03 (-)
6 Rua 09 8,34 5,00 6,12 (-) 3,67 (-)
7 João Mendes I 10,03 3,63 10,82 (+) 3,45 (-)
8 Jardim Fluminense 18,92 4,86 12,00 (-) 4,56 (-)
9 Engenho do Mato I 1,62 1,78 1,91 (+) 1,48 (-)
10 Engenho do Mato II 14,29 3,67 13,21 (-) 3,19 (-)
11 Engenho do Mato III 6,67 3,56 6,52 (-) 3,26 (-)
12 Engenho do Mato IV - - 16,67 (+) 6,67 (+)
13 Engenho do Mato V 5,88 2,94 6,67 (+) 4,00 (+)
14a Rio da Vala I 9,92 3,18 2,95 (-) 3,60 (+)
14b Rio da Vala II 3,45 2,63 - (-) - (-)
15 João Mendes II 0,42 1,74 0,40 (-) 4,01 (+)
Total 7,41 2,91 5,94 (-) 2,67 (-)
38
Tabela 11 – Aumento ou diminuição dos parâmetros morfométricos de 1976 para 1996
das sub-bacias da Bacia Hidrográfica do rio João Mendes
Aumento ou Aumento ou Aumento ou Aumento ou
diminuição da diminuição do diminuição da diminuição da
Nº Sub-bacia área da sub- comprimento densidade densidade de
bacia dos segmentos hidrográfica drenagem
de canais
1 Terra Nova - + + +
2a Argeu Fazendinha I + + - +
2b Argeu Fazendinha II - - - -
3 Rua 27 + - - -
4 Soter + + - -
5 Vale das Esmeraldas - - - -
6 Rua 09 + - - -
7 João Mendes I - - - -
8 Jardim Fluminense - - + -
9 Engenho do Mato I - - - -
10 Engenho do Mato II - - + -
11 Engenho do Mato III + - - -
12 Engenho do Mato IV - + - +
13 Engenho do Mato V - + + +
14a Rio da Vala I + + + +
14b Rio da Vala II - - - -
15 João Mendes II + + - +
Total - - - -
39
40
41
A densidade de drenagem no ano de 1976 era de 2,29 km/km² e densidade
hidrográfica de 8,57 na Argeu Fazendinha I. Em 1996 sua densidade de drenagem aumenta
para 2,89 km/km², enquanto sua densidade hidrográfica diminui para 5,71 (Tabela 10).
A sub-bacia Argeu Fazendinha II, que só existia em 1976, apresentou densidade de
drenagem de 3,04 km/km² e densidade hidrográfica de 10,00 (Tabela10).
A sub-bacia do Argeu Fazendinha, já unificada em 1996, teve redução apenas da
sua densidade hidrográfica, enquanto houve aumento da área, do comprimento dos
segmentos dos canais e da densidade de drenagem (Tabela 11).
Sub-bacia da Rua 27
Esta sub-bacia tem seus limites definidos por uma das vertentes da Serra Grande,
com densa cobertura vegetal. Grande parte de sua superfície está inserida em área urbana,
com média densidade.
Na principal via de acesso dos moradores, a Avenida Professora Romanda
Gonçalves, o curso apresenta-se como vala, correndo a céu aberto e recebendo lixo e
esgoto (PMN, 2002).
A sub-bacia teve aumento de área de 0,60 km2 em 1976 para 0,89 km2 em 1996
(Tabela 7).
Seu curso principal de drenagem possuía 1,56 km de extensão em 1976, antes do
desvio do rio João Mendes. Em 1996, com 2,15 km de extensão, o comprimento do canal
aumentou em aproximadamente 0,65 km (Tabela 7 e Figura 16). Apresenta-se manilhado e
com alguns trechos assoreados (PMN, 2002).
Em 1976 existiam 8 segmentos de canais de 1ª ordem hierárquica e apenas 1 de 2ª
ordem, que registravam 2,55 km de comprimento de drenagem (Tabela 8). No ano de 1996
foram contabilizados 9 segmentos de canais de 1ª ordem, 2 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem,
atingindo 3,24 km de comprimento (Tabela 9).
A sub-bacia da Rua 27 apresentou redução tanto na densidade de drenagem - 4,25
km/km² em 1976 para 3,64 km/km² em 1996 - quanto na densidade hidrográfica -15,00 em
1976 para 13,48 em 1996 (Tabela 10).
Esta sub-bacia apresentou aumento de área de 1976 para 1996 e diminuição do
comprimento dos segmentos de canais e das densidades hidrográfica e de drenagem
(Tabela 11).
Sub-bacia Soter
Sub-bacia delimitada pelo Morro do Soter e pela Serra Grande. Uma pequena parte
de sua superfície está inserida na Reserva Ecológica Darcy Ribeiro com cobertura vegetal
preservada. Já a maior parte de sua área está em ambiente urbano com média densidade.
42
A área da sub-bacia do Soter em 1976 era de 0,34 km2 e aumentou para 0,91 km2
em 1996 – um ganho de área de 0,57 km2 (Tabela 7).
Seu curso principal em 1976 tinha 0,84 km de extensão. Com o desvio da calha do
rio João Mendes o canal teve um acréscimo de 0,47 m em 1996. Com 1,31 km de extensão
apresenta-se retificado, como galeria de drenagem, escoando pela Rua 23 até o rio João
Mendes (Tabela 7 e Figura 16).
Com 1,17 km de comprimento de drenagem em 1976, apresentava 3 canais de 1ª
ordem e 1 de 2ª ordem (Tabela 8). Em 1996 tinha 1,26 km de drenagem em 2 canais de 1ª
ordem e 1 de 2ª ordem (Tabela 9).
A sub-bacia do Soter sofreu drástica redução de sua densidade hidrográfica: de
11,76 em 1976 para 3,30 no ano de 1996. A densidade de drenagem passou de 3,44
km/km² em 1976 para 1,38 km/km² em 1996. (Tabela 10).
Esta sub-bacia apresentou aumento de sua área e dos comprimentos dos segmentos
dos canais. Contudo, as densidades hidrográfica e de drenagem diminuíram (Tabela 11).
43
Sub-bacia da Rua 9
Sub-bacia pequena que tem seus limites definidos pelas Serras Grande e do
Malheiro. Uma pequena parte de sua superfície possui densa cobertura vegetal. Grande
parte situa-se em área urbana, com média densidade.
Houve um aumento de área de 0,12 km2 em 1976 para 0,49 km2 em 1996 (Tabela 7).
Seu curso principal de drenagem no ano de 1976 possuía 0,74 km de extensão.
Devido ao desvio do rio João Mendes, esse curso aumento seu comprimento em 0,59 km.
Com 1,33 km de extensão, encontra-se manilhado na Avenida Ewerton Xavier (Tabela 7 e
Figura 16). Em alguns trechos está assoreado. Quando cruza a Rua 9 do Loteamento Soter,
segue seu curso em forma de vala a céu aberto, com lixo e esgoto domésticos. Este pode
ser considerado um ponto crítico, pois ocorrem constantes alagamentos (PMN, 2002).
Em 1976 apresentava um único canal de 1ª com 0,60 km de comprimento (Tabela 8).
No ano de 1996 foram encontrados 1,80 km de canais, sendo 2 canais de 1ª ordem e 1 de
2ª ordem – que não existia em 1976 (Tabela 9).
A sub-bacia da Rua 09 apresentou diminuição de ambas as densidades. Em 1976, a
densidade hidrográfica que era de 8,34, passou para 6,12 em 1996. No ano de 1996
apresentou densidade de drenagem de 3,67 km/km², quando apresentava 5,00 km/km² em
1976 (Tabela10).
Esta sub-bacia apresentou aumento de área de 1976 para 1996 e diminuição do
comprimento dos segmentos de canais e das densidades hidrográfica e de drenagem
(Tabela 11).
44
A sub-bacia do João Mendes I é a que conta com o maior comprimento e a maior
quantidade de segmentos de canais de toda a bacia hidrográfica do rio João Mendes. Os
segmentos de canais em 1976 somam 30 (20 de 1ª ordem, 6 de 2ª ordem, 2 de 3ª ordem, 1
de 2ª ordem e 1 de 1ª ordem) em 10,86 km de drenagem (Tabela 8). Já em 1996, os
segmentos de canais equivalem a 25 (19 de 1ª ordem, 5 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem) com
7,97 km de comprimento (Tabela 9). Com isso, pode-se perceber o desaparecimento de
duas ordens hierárquicas.
Na sub-bacia do João Mendes I, observa-se um aumento de densidade hidrográfica
de 10,03 em 1976 para 10,82 no ano de 1996. A densidade de drenagem sofreu leve
redução de 3,63 km/km² em 1976 passando para 3,45 km/km² em 1996 (Tabela10).
A sub-bacia do João Mendes I destaca-se pela redução de todos os parâmetros
analisados: área da sub-bacia, comprimento dos segmentos dos canais e densidades
hidrográfica e de drenagem (Tabela 11).
45
preservada com densa cobertura vegetal e reduzida densidade urbana (com predominância
de sítios).
Na Rua São Sebastião, no Loteamento Terrabraz, este curso foi represado e foram
formados pequenos lagos nas margens desta rua, o que ocasiona alagamentos nas grandes
chuvas (PMN, 2002).
No encontro da Rua 4 com a Rua 27, existe um ponto de alagamento constante, já
que este encontra-se assoreado, além de receber lixo e esgoto das casas do entorno (PMN,
2002).
Seu curso principal de drenagem apresentava 4,35 km de extensão em 1976. Porém,
com o desvio do rio João Mendes, tanto a área de sua sub-bacia quanto a extensão de seu
canal foram diminuídos. Com 2,45 km de extensão, sofreu uma redução de 1,90 km (Figura
16). Com relação à área, houve redução de 3,09 km2 em 1976 para 2,62 km2 em 1996
(Tabela 7).
Em 1976 apresentava 3 segmentos de canais de 1ª ordem, 1 de 2ª ordem e 1 de 3ª
ordem e, juntos, os 5 segmentos mediam 5,50 km de comprimento (Tabela 8). Em 1996 só
existiam 5 segmentos também, porém houve uma diminuição de ordem hierárquica: 5
segmentos de 1ª ordem e 1 de 2ª ordem, que atingiam 3,89 km de extensão (Tabela 9).
A sub-bacia do Engenho do Mato I apresentava no ano 1976 densidade hidrográfica
de 1,62 e densidade de drenagem de 1,78 km/km². Estes valores passaram para 1,91 e 1,48
km/km², respectivamente (Tabela 10).
Esta sub-bacia destaca-se pela redução de todos os parâmetros analisados: área da
sub-bacia, comprimento dos segmentos dos canais e densidades hidrográfica e de
drenagem (Tabela 11).
46
com 7 segmentos de canais, onde somente um canal de 1ª ordem que existia em 1976 foi
eliminado (Tabela 9).
A sub-bacia do Engenho do Mato II apresentava 14,29 de densidade hidrográfica em
1976, diminuindo para 13,21 em 1996. Sua densidade de drenagem diminuiu de 3,67
km/km² em 1976 para 3,19 km/km² em 1996 (Tabela 10).
Esta sub-bacia apenas apresentou aumento de sua densidade hidrográfica, já que
houve diminuição de sua área, do comprimento dos segmentos de canais e da densidade de
drenagem (Tabela 11).
47
Apesar desta sub-bacia não apresentar drenagem em 1976, sua área de 0,07 km² foi
apenas identificada no mapa das sub-bacias de 1976 conforme mostra a Figura 7. Com área
de 0,06 km2 em 1996, apresenta curso principal de 0,48 km de extensão (Tabela 7 e Figura
16) escoa pela Rua 76 do Loteamento Fazendinha Terrabraz (PMN, 2002).
Em 1996, possuía um pequeno canal de 1ª ordem medindo apenas 0,40 km de
comprimento.
Na sub-bacia do Engenho do Mato IV, que não apresentava drenagem em 1976,
observa-se em 1996 uma densidade hidrográfica de 16,67 e 6,67 km/km² de densidade de
drenagem. São os maiores valores encontrados entre as sub-bacias do ano de 1996 (Tabela
10).
Esta sub-bacia apresentou diminuição de área de 1976 para 1996 e de densidade
hidrográfica. Houve aumento do comprimento dos segmentos dos canais e da densidade de
drenagem (Tabela 11).
48
Em 1976 esta sub-bacia era dividida em 2 que drenavam para o rio João Mendes
(Rio da Vala I e II). Provavelmente por causa da expansão dos loteamentos e da ocorrência
de transbordamentos dos canais, eles foram desviados do rio principal para o rio da Vala,
drenando diretamente para a laguna de Itaipu em apenas um canal, com a extinção da sub-
bacia do Rio da Vala II (Figura 7).
A área da sub-bacia do Rio da Vala I em 1976 era de 1,21 km2 e a sub-bacia do Rio
da Vala II em 1976 era de 1,16 km2. Em 1996 essa área (unificada) passou para 2,71 km2
(Tabela 7).
A drenagem principal do Rio da Vala I media 2,25 km e a da sub-bacia do Rio da
Vala II era de 1,85 km em 1976. Em 1996 o comprimento da drenagem principal era de 4,20
(Tabela 7 e Figura 16).
Os canais da sub-bacia do Rio da Vala I tinham, em 1976, 3,85 km de extensão
divididos em 12 segmentos: 8 de 1ª ordem, 3 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem. A sub-bacia do
Rio da Vala II tinha 3 segmentos de canais de 1ª ordem e 1 de 2ª ordem, totalizando 4
segmentos com 3,05 km de comprimento (Tabela 8). Em 1996 há uma brusca redução de
segmentos dos canais, passando para 8, sendo 5 de 1ª ordem, 2 de 2ª ordem e 1 de 3ª
ordem – que, juntos, somam 6,25 km de drenagem (Tabela 9).
Na sub-bacia do Rio da Vala I observa-se densidade hidrográfica de 9,92 e
densidade de drenagem de 3,18 km/km² em 1976. Na sub-bacia do Rio da Vala II, no ano
de 1976, encontrava-se 3,45 de densidade hidrográfica e 2,63 km/km² de densidade de
drenagem. Em 1996 a densidade hidrográfica era de 2,95 e a densidade de drenagem era
de 3,60 km/km² (Tabela 10).
Destaca-se que a sub-bacia do Rio da Vala teve aumento de todos os parâmetros
analisados: área, comprimento dos segmentos dos canais e das densidades hidrográfica e
da drenagem (Tabela 11).
49
A sub-bacia do João Mendes II teve redução apenas da sua densidade hidrográfica,
enquanto houve aumento da área, do comprimento dos segmentos dos canais e da
densidade de drenagem (Tabela 11).
50
CAPÍTULO 5
AMBIENTE DO CANAL E GESTÃO EM 2008
O rio João Mendes é o principal rio que drena para a laguna de Itaipu. Ao longo de
seu curso, recebe as águas de diversas sub-bacias. No pequeno trecho do alto curso,
compreendido da nascente até a Estrada do Engenho do Mato, possui boa cobertura
vegetal e grande declividade. Nos médio e baixo cursos, da Estrada do Engenho do Mato
até a laguna de Itaipu, apresenta pequena declividade e áreas loteadas, onde o processo de
urbanização vai progressivamente se intensificando.
Em virtude da ocupação do solo sem cuidados especiais e com o desmatamento das
matas ciliares, processos erosivos se instalaram, provocando o acúmulo de detritos nas
galerias e no leito do rio, contribuindo para o seu assoreamento e conseqüentemente da
laguna de Itaipu (PMN, 2002).
São observadas as seguintes características da drenagem do rio João Mendes:
- baixa da declividade,
- trechos cobertos com concreto,
- estrangulamentos das seções transversais,
- assoreamento do leito,
- faixa marginal de proteção ocupada por residências,
- seções transversais concretadas,
- desvio e aterro de cursos d’água,
- despejo de lixo e esgotos domésticos.
Na Avenida Bahia há um exemplo de convivência harmônica com a inundação:
moradores construíram o portão em nível mais alto que o nível da rua com degraus para
proteger a residência de inundações (Figura 17 – ponto 1). Esta rua está localizada num
nível mais baixo que o das outras ruas, o que faz com que a água fique retida. Nesta mesma
rua, outras residências reforçaram seus muros e subiram o nível das calçadas para reduzir
os prejuízos causados pelas enchentes.
Outro agravante do problema é que no rio João Mendes, no final da Avenida Bahia
há um estrangulamento da seção transversal pelas estruturas de concreto (Figura 17 - ponto
2a). Moradores constroem quintais e até mesmo residências sobre o rio. Isto diminui a
capacidade da seção transversal, que transborda a montante das construções. A presença
de troncos caídos no leito do rio dificulta ainda mais a passagem da água e forma uma
verdadeira barreira para o lixo (principalmente garrafas PET), que se acumula e obstrui o
51
52
canal (Figura 17 - ponto 2b). Em dias de chuva forte, a água não encontra passagem,
transborda e invade as ruas próximas.
Casas de padrão precário (palafitas) estão instaladas às margens do rio no ponto 3
(Figura 17 – ponto 3). A altura dos alicerces são indicadores da altura máxima do nível da
água. Nas margens há sinais de erosão.
No ponto 4 existem moradias com o padrão mais precário de toda a bacia
hidrográfica. São barracos de madeira localizados às margens do rio (Figura 17).
O ponto 5 tem sua seção transversal mais larga que as abaixo e acima. Isto se deve
ao fato de os próprios moradores alargarem a seção. Neste ponto não há transbordamento,
mas as margens foram concretadas devido à erosão que compromete a estrutura das casas
(Figura 17).
53
Figura 18: Seções transversais do rio
João Mendes em 15/11/2007.
54
- Seção do ponto 3: Localizada no médio curso do rio. Os próprios moradores
alteram as margens do rio construindo muros e lajes. Como é uma seção bastante larga,
não há ocorrência de enchentes (Figuras 17 e 18).
- Seção do ponto 4: Localizada na Estrada do Engenho do Mato, no alto curso do rio.
Uma obra de engenharia mal projetada que gera constantes problemas relacionados a
inundação pela reduzida área da seção totalmente concretada (Figuras 13 e 18).
55
5.1.2. Setores do rio principal
56
57
5.1.3. Desembocaduras dos afluentes das sub-bacias
58
59
5.2. Gestão
60
A
Foto: Sandra Baptista da Cunha, 13/07/2006
B
Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006
Figura 21: (A) A equipe a serviço da Prefeitura realiza a limpeza da seção totalmente
concretada do rio. Lixo doméstico e sedimentos são retirados e as margens são capinadas.
(B) Mesmo trecho 3 meses depois.
61
5.2.2. Resgate da Faixa Marginal de Proteção
62
construção. Famílias teriam de ser reassentadas e os custos ficariam mais onerosos ao
poder público.
B
Figura 22: Praças construídas nos terrenos às margens do rio João Mendes fazem parte do
Projeto de Renaturalização do Rio João Mendes da Prefeitura Municipal de Niterói.
Fotos: Ademir Lourenço de Oliveira, 27/09/2006
63
Figura 23: Primeiro edifício construído com a troca de terrenos nas margens do rio João
Mendes na esquina da Estrada Francisco da Cruz Nunes com a Avenida Ewerton Xavier.
Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008.
64
CONCLUSÃO
65
doméstico diretamente no rio sem tratamento juntamente com a ocorrência de inundações,
interferem na qualidade de vida da população que vive nas proximidades.
Portanto, com metodologia utilizada, os objetivos deste trabalho foram alcançados e
os resultados obtidos foram os esperados.
Espera-se que este trabalho seja relevante para o melhor conhecimento sobre as
alterações na rede de drenagem urbana.
66
RECOMENDAÇÕES
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Gerados pelo Crescimento Urbano Desordenado. X Simpósio Brasileiro de Geografia Física
Aplicada.
CUNHA, S. B. (2006). Sustentabilidade dos Canais Urbanos nas Áreas Tropicais. In:
PINHEIRO, D. R. C. (org.). Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Discussões. Fortaleza:
ABC Editora. p. 19 – 31.
GUPTA, A. (1984). Urban Hydrology and Sedimentation in the Humid Tropics. In: COSTA, J.
E. e FLEISHER, P. J. Developments and Aplications of Geomorfology. Springer-Verlag
Berlin Heidelberg. p. 240 – 266.
68
PARENTE, A. M. (1995). Reflexos da Ocupação Urbana de Niterói Após a Construção da
Ponte Presidente Costa e Silva: A Valorização do Espaço Urbano Sobre o Bairro de Icaraí.
Monografia de Conclusão do Curso de Bacharel em Geografia. UERJ/FPP. 45 p.
69
VIEIRA, V. T. (2003). Efeitos do Crescimento Urbano Sobre os Canais: Drenagem do Rio
Paquequer, Teresópolis – RJ. Rio de Janeiro: UFRJ/ PPGG – Dissertação de Mestrado. 101
p.
70