Abratefrevista Vol7
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www.abratef.org.br
[email protected]
CNPJ 01.981.243/0001-10
Conselho Fiscal
Titulares
Daniela Reis e Silva (ATEFES)
Marcos Naime Pontes (APTF)
Suplentes
Ligia Costa de Barcellos (ATEFES)
Helena Maffei Cruz (APTF)
Consultores ad hoc
Ieda Zamel Dorfman – Associação Gaúcha de Terapia Familiar
Patrícia Scheeren – Associação Gaúcha de Terapia Familiar
Giana Frizzo – Associação Gaúcha de Terapia Familiar
Paulo Kroeff – Associação Gaúcha de Terapia Familiar
Sumário
Summary
7
Mara Lúcia Rossato
9
via Zoom
Team By Zoom
Mayara Schinch Labs e Silvana Rita Silvestre de Oliveira
29
Anorexia: The Life as it’s Impossibility
Mara Lúcia Rossato , Ieda Zamel Dorfman e Natália Rossato Crasoves
38
52
Matrix of Change
Giórgia Reis Saldanha
65
Intimate Stranger: Episodes with My Father
Vincenzo Di Nicola
78
Family Therapy: Integrating Teachings into the Systemic Model
Angela Hiluey
90
112
Comunicação
129
The Father’s Participation in the Humanized Childbirth
Flávia Koeche e Luciane Carniel Wagner
148
158
175
Family Therapy and Spirituality: A Possible Marriage?
Lúcia de Fátima Albuquerque Freire
Resumo
vozes e ouvimos diálogos antes não percebidos e não pensados nos proces
sos de vida que podem gerar uma narrativa mais libertadora. Por considerar o
Palavras-chave: -
nológicos.
Introdução
do processo terapêutico cede lugar ao cliente como autor de sua história e de-
verdade única, coloca a verdade como uma construção social e localmente situ-
ada. A terapia com isso passa a ser um exercício linguístico, sendo os terapeutas
parceiros conversacionais, que se colocam como facilitadores de um processo
no qual os clientes podem viabilizar novas construções de seus problemas (An-
derson, 2009)
Nessa linha de pensamento os problemas não se resolvem, mas se dis-
solvem conforme mudam as conversações que os organizam (Anderson & Go-
olishian, 1988). Desse modo, além do exercício linguístico, a terapia pode ser
conduzida como uma prática colaborativa, já que nenhum terapeuta possui um
saber privilegiado sobre problemas e formas de viver a vida. Assim, terapeuta
e cliente podem fazer emergir novas realidades por meio de conversas em que
haja o respeito mútuo e que o diálogo seja um norteador (Nichols & Schwartz,
2007)
-
-
-
bilidades de sentido. “Qualquer que seja sua forma de uso, contudo, processos
-
ça. Às vezes, a mãe solicitava conversar com a terapeuta antes do atendimento
Silvana me chamou para participar e escrever com ela aceitei na hora, por ser
particular.
1. Os clientes aceitariam?
2. A tecnologia seria invasiva à consulta para o terapeuta e/ou para os
clientes?
3.
4. -
rativa usando a internet como instrumento de encontro?
-
demos então a organização do “encontro” cheios de expectativas e motivação. A
organização ocorreu durante a reunião mensal dos alunos do curso do VII ICCP/
INTERFACI via , quando combinou-se todos os detalhes do atendimento.
A sessão foi composta então pela terapeuta Silvana, a família, sendo a mãe
via internet, pelo celular e que seria gravada para posterior transcrição.
A mãe aceitou de pronto e efusivamente a participação da equipe, alegando
que se encontrava no momento muito desespenrançosa com as brigas e neces-
sitava de ajuda pois, naquele momento, sentia-se no fundo do poço em relação
pela mãe, que é advogada, e concordou com todos os temos. Antes do início
da consulta todas as regras e normas foram novamente explicitadas e ambos
concordaram novamente.
Zoom
sido difíceis. Diz que a princípio achava que a encoprese era uma doença, mas
vê que hoje é o sintoma, só não sabe da onde vem esse sintoma, e que antes era
um tabu, não falavam disso, mas agora falam e ela tenta estabelecer limites, a
encoprese não é dela e sim dele e não se sente culpada por isso, sente tristeza.
E termina sua fala dizendo que não tem pegado mais tanto no pé dele, mas que
ele colaborar e o indaga se ele não acha que a encoprese é um problema, mo-
mento no qual ele diz que sim. E acrescenta dizendo que é libertador sua mãe
não pegar mais tanto no pé dele, que pode jogar videogame, chamar seus ami-
gos. A mãe diz que o padrasto intermediou a negociação de jogar videogame
com respeitar a mãe e fazer suas tarefas, mas que agora o poder está no vi-
dizendo que isso é balela, que ela sempre vai ter o controle e que sente mais
-
tia algo e não dava. A mãe nesse momento retruca dizendo que está cansada de
os braços balançando a cabeça dizendo que não quer mais falar. Impõem-se um
silencio. A seguir ele acrescenta: “Não vou ser escutado mesmo. Quero morar
com meu pai” (sic). Mãe responde que conversou com o pai, mas o pai não quer
assumir esta responsabilidade.
Com os dois emburrados e em silêncio, a terapeuta pergunta se ambos não
tem mais nada a acrescentar em suas histórias, dizem que não, e passamos a
Valéria diz que vê a forma como conversam igual a um jogo, bate e rebate.
-
to. Quando ouve a questão de prender e libertar, pensa na areia, quanto mais
apertamos a areia, mais ela escapa, e esse cocô também escapa, e quando
afrouxa um pouco o quanto isso é libertador. E ela complementa sua fala dizen-
do que esses problemas são um iceberg de muitas coisas que estão embaixo.
Anaclara diz que vê no cansaço o quanto eles tem que se policiar, um cansaço
que enjaula, se um não pode ajudar o outro nesse processo de polícia e liber-
dade. Alessandra fala sobre a mentira, sobre como as comunicações não são
claras e que poderiam ser vistas de uma maneira encantadora, o cuidado com o
outro, ao invés de serem vistas como um policiamento. E diz que não dá para ter
complementa a fala de Valéria
relacionando a ponta do iceberg com o videogame, se questionando sobre o que
ele joga, o que está aprendendo no jogo, o que os dois podem aprender com o
videogame, o que podem jogar juntos, sendo esse um ponto de partida para uma
comunicação mais clara e para outros assuntos. Lolo puxando a fala de Mayara
diz que no videogame
qual seria o limite nesse jogo dos dois. A comunicação ainda não existe porque
não tem limites claros, e sugere que criem um jogo juntos trazendo as regras
claras.
fosse uma criança feliz, que as coisas fossem mais leves, que ela se esforça,
cuida dele, que não pode contar com o pai e que as vezes tem vontade de de-
sistir de tudo. Nesses momentos ela fala que perde o prazer pela maternidade,
o que fazer.
-
do tudo isso e ele responde que no começo sentiu que era responsável, mas
o tempo todo. “Estou tentando pegar para mim essa responsabilidade de novo,
como o exemplo da areia, quanto mais aprisiona, mais escapa”, responde a
mãe. Terapeuta pergunta pra mãe que está visivelmente chateada e chorosa se
forma como entendeu a fala da areia, a mesma responde que sim. Silvana diz
que entendeu que o que escorre é o controle, não o cocô, e que isso faz parte
Valéria diz então que essa imagem que veio não é uma verdade absoluta,
sentimento pela fala deles, não que é uma resposta ou razão pela qual o cocô
escapa. E agradece a oportunidade de poder falar novamente e esclarecer que
não são 5 especialistas, mas sim 5 pessoas que estudam muito e se sentem
tocadas de maneiras diferentes sobre o que escutam. A seguir encerramos a
sessão. Enquanto são acompanhados pela terapeuta à recepção duas atitudes
-
mente. A mãe continua chateada dizendo que não é culpada.
-
ção a respeito do formato via . Se a família e/ou o terapeuta se sentiram
família?
Embora as presenças da equipe estivessem no aparelho celular à uma cer-
-
ta e sendo vista na posição de especialistas. Além disso, de modo unusual, no
momento de tensão, quando a mãe não gostou da fala da primeira pessoa que
-
vidas se “deveria” ou “poderia” ter ocorrido. Todos concluíram naquele momento
que tem acontecimentos imprevistos que ocorrem e devem ser absorvidos no
contexto.
Conversamos também a respeito do melhor posicionamento da câmara e
sobre questões éticas do atendimento. Eu (Silvana) estava naquele momento
1.
zoom?
2. O que vocês mudariam ou acrescentariam nessa forma de atendimento?
3.
4. Quais os pontos mais importantes que vocês destacariam após essa for-
olhando para a tela das outras pessoas da equipe. Valéria destacou que a prin-
cípio estava preocupada e curiosa em vivenciar este processo e perceber como
ele iria se dar e as repercussões em nós e nos clientes. Sentiu-se à vontade para
cada uma de nós pelos membros da equipe e da terapeuta foi importante, assim
como o respeito que permeou nossas conversas. Alessandra,
Um convite para que o cliente ouça múltiplas vozes, além do terapeuta, poder
-
tas. Anaclara ponderou sobre o incomodo que gerou na família, especialmente
na mãe. E Alessandra
relacional, na falta de garantias de assertividade.
Em relação ao último item os pontos mais importantes destacados foram:
disse sobre a facilidade de poder fazer parte de uma equipe com dife-
rentes pessoas de diferentes regiões do país e, permitindo ao cliente a escuta
deslocamento, cliente não precisa pagar a mais por isso e participamos quando
os horários coincidem, conforma nossa disponibilidade. Lolo destacou o quanto
foi incrível a participação ao vivo durante um atendimento, observando e sentin-
do como ressoava o que via e ouvia cada participante. Anaclara acredita que a
questão mais importante é a ampliação de vozes e perspectivas em um ambien-
te que geralmente não tem condições de ter vários terapeutas reunidos. Valéria
-
xões e o quanto a conversa terapêutica é uma caminhada sem destino prévio.
A jornada terapêutica guiada pela colaboração e diálogo amplia formas de vida
de suas opiniões.
-
viu, o que tornou muito tensa a sessão nesse momento. Nessa hora, fez-se um
silêncio na consulta e foi difícil entender o que a mãe estava falando. Sugeriu,
então, escutar novamente a primeira pessoa que havia falado. A mãe recusou, e
seu sentimento com a escuta. Como a mãe se sentiu culpada, ele apaziguou
trazendo para si a responsabilidade da encoprese. Logo a seguir ela pede para
ouvir novamente a equipe, mas, continuou se sentindo mal com a nova fala.
Percebeu-se então que nada do que fosse falado iria mudar a escuta da mãe
naquele momento e que talvez a necessidade da nova escuta tenha sido da te-
rapeuta porque o impacto sentido pela mãe foi tão forte que, naquele momento,
novo atendimento, dessa vez com um homem de 40 anos, nos mesmos moldes
reunião entre equipe e terapeuta logo após o término da sessão ainda via .
-
ção ao longo desses quatro meses de distanciamento vem aumentando a tensão
gradativamente e ambos encontram-se ansiosos e dizendo-se no limite para a
separação. A esposa foi atendida em separado a pedido dela e do marido, e em
função da distância também. Alguns atendimentos são efetuados pelo
devido a urgência e impossibilidade do deslocamento da mesma para Goiânia.
puramente automático. Depois disso, ele relatou que se fechou novamente, mas
que ama sua esposa e quer voltar a ter sua família.
Após não querer acrescentar mais nada ao seu relato, demos início a escuta
Valéria iniciou se questionando como seria para a esposa ter
escutado todo esse relato, como isso a tocaria. Lolo disse que também gostaria
que ela escutasse toda essa história, mas que ao ouvir o relato dele se sentiu
com falta de ar, de um inspirar e o outro expirar e prestar atenção na necessida-
de do outro. Anaclara
sobem e descem e completa dizendo que a metáfora da respiração da Lolo a
tocou porque a gente precisa de um coração pra bater e a gente precisa apren-
der a respirar.
um entende, demonstra e sente o amor. Alessandra
começo da história, a perda da mãe. Aprendeu-se muito cedo que as pessoas
se vão, as coisas acabam, e então, devo viver intensamente como se acabasse
a qualquer modo e muito rapidamente Ou não se vive? Evita-se viver para não
sofrer a dor da perda de algo que se apegou muito? Anaclara muito emocionada
acrescenta que está vivendo a perda de sua mãe, e faz toda diferença em sua
vida entender que sua mãe não conseguia expressar através das palavras, mas
quando voltava pra casa tinha sempre arroz, feijão e bife e farofa e aquilo era ela
falando que a amava. A maioria da equipe se emociona muito nesse momento
Mônica diz que se lembrou quando um casal vai dançar,
que não é fácil acertar o passo.
da história dele. Ressalta o quanto foi especial e importante essa nova escuta.
tanto desse formato. O relato em geral, foi que, com a câmara nessa posição
todos se sentiram muito bem, mais confortável. Todos enfatizaram a tranquilida-
de do clima, dos acordos bem feitos. A terapeuta relata que achou incrível sentir
narrativa, durante a sessão, abriu um leque para ela que não havia percebido no
discurso do cliente até então. Uma das pessoas da equipe questiona a reunião
após a consulta sobre questões éticas, já que devemos cuidar para a proteção
dos clientes. Conversamos também de inúmeras outras possibilidades da equi-
.
A partir desse atendimento II foram elaboradas os seguintes questionamen-
primeiro atendimento, atentou à demanda do cliente durante sua fala, que foi
escolher aquela que achamos que será mais útil para o cliente e que não esten-
da muito o tempo da equipe. Alessandra relatou que se sentiu apreensiva nova-
mente, como no primeiro atendimento, mas agora um pouco mais leve e Mônica,
como não havia participado do primeiro atendimento, achou a experiência inte-
um pouco da percepção da linguagem não verbal. Por outro lado, conduz a ne-
cessidade de se ter mais atenção ao que o cliente gostaria de passar, e nos sig-
Valéria a disposição da câmera foi um
diferencial que deixou a equipe mais livre para conversar entre a própria equipe,
e não para o cliente e nem do cliente, e disse que a forma como a entrevista foi
iniciada colocou a equipe numa posição mais confortável. Alessandra disse que
sentiu uma receptividade maior, até por tudo que envolveu o primeiro atendimen-
ou Sylvia London, uma forma mais interativa entre cliente e equipe. Anaclara
Valéria su-
nesse atendimento, o sentimento que permeou foi a profunda emoção que inva-
diu a todos a medida que a consulta avançava. Por momentos, estavam todos
tão conectados a narrativa que o aparato tecnológico assumiu uma posição se-
cundária no contexto e a conexão que imperava na sala era a emoção. O cliente
-
conhecidas e pediu para visualizá-las para agradecer. Todas da equipe, cliente e
como se elas fossem muito próximo afetivamente dele. Relatou que, se sentiu
acolhido por elas, e ter compartilhado sua história o fez mais forte emocional-
mente.
Conclusão
ajuda e que qualquer possibilidade que aumente esse ganho é bem-vinda. Fi-
camos surpresos também, que vários outros clientes gostariam de poder contar
. Temos que começar a nos perguntar se as
dos atendimentos e nos encontros via Zoom que a internet não atrapalhou em
a princípio pareceu que nada havia produzido. Nas duas semanas seguintes,
-
dades do pai com ele. Com as mudanças cada vez mais presentes, durante a
atendimento com a equipe, o mesmo deu o seguinte relato: “Não sei se gostei
meu cocô. Igual a moça falou da areia que escapa. Meu cocô escapava, mas,
eu não sofria. Mas... ela sofre muito.” Quando a terapeuta se dirige a recepção
nunca esteve tão bem. Estamos ótimos. Nem por causa do vídeo game estamos
brigando.”
Essa é a magia da abertura a novas narrativas e escuta do contexto tera-
pêutico que antes era tão fechado e restrito. A possibilidade da transformação
vêm da onde menos esperamos. Ou como nos lembra Harlene Anderson (apud
Grandesso, 2017) as transformações ocorrem na dinâmica das relações e das
-
tentar as condições e o espaço para a colaboração e o diálogo.
No segundo atendimento, o processo polifônico de “estar com” (“ ”),
expressão cunhada por Anderson, desenvolveu-se durante todo o atendimento.
e amizade.
Desse primeiro momento foram geradas questões muito pertinentes a fu-
turos trabalhos como a posição da câmera, cuidados éticos, supervisão após a
sessão. Com isso, para o segundo atendimento, a câmera foi colocada detrás
dos clientes de modo que os mesmos apenas escutavam as vozes da equipe e,
foi disponibilizado trinta minutos após o término do atendimento para a reunião
da equipe com o terapeuta. Após esse atendimento, os membros da equipe se
sentiram bem mais à vontade em relação a tecnologia. Desse segundo momento
destacamos que a equipe apresentou falas mais curtas e harmoniosas com a de-
-
timento livre e esclarecido aos membros da equipe, não somente aos clientes.
desse trabalho, além de ser uma forma de agradecimento a essas coautoras que
emergidas desse novo formato. Essa inovação na terapia trouxe luz para as
possibilidades transformadoras do diálogo colaborativo e abriu espaço para que
a “solidão” do terapeuta diante da imensidão do outro possa tornar-se palco de
trocas e novas descobertas.
Enviado em 19/02/2018
1ª revisão em 04/05/2018
2ª revisão em 19/06/2018
Aceito em 20/06/2018
Resumo
espécie de morte
dizer não a um outro e se separar. Pretendemos discutir aqui a suposta tentativa
Keywords:
Rafaela estava com 14 anos a avó faleceu desencadeando uma tristeza muito
No começo da vida, tudo o que o bebê precisa é de uma mãe capaz de mantê
-lo na ilusão de serem ambos uma só pessoa, para pouco a pouco se diferenciarem
o bebê chora, em sinal de desprazer, é a mãe que atende a esse apelo apaziguan-
do as sensações corporais desagradáveis. Desse modo, a alimentação pode ser o
primeiro organizador da vida psíquica; a amamentação proporciona ao bebê prazer,
conforto e proteção, além de saciar sua fome, estabelecendo um elo entre o alimen-
to e os sentimentos. (Bucaretchi, 2003, In Abreu & Magalhães, 2009, p.6)
O bebê vai construindo uma imagem e uma identidade através da forma como
estar atenta àquilo que é genuíno do seu bebê e diferenciar daquilo que é seu. É
igualmente importante o papel do pai como o elemento que introduz um espaço
entre mãe e bebê, amenizando a simbiose inicial e dando condições para que
em direção à autonomia. Com isto, na tentativa de obter controle sobre sua vida,
Dorfman & Rossato (2016) citando Gomes (2008) relatam que “as relações
libidinais da menina com a mãe são ambivalentes desde os primórdios, de na-
tureza amorosa e hostil, onde não comer, recusar o elo fundamental da relação
primeira com a mãe, parece ser um ótimo palco onde começa a se encenar essa
vingança, ou protesto. A relação com a mãe passa a ser baseada exclusivamen-
te no controle e na ambivalência”. (p.162)
A simbiose inicial não se desfaz impedindo a percepção de um corpo separado.
-
cesse a seus pais, não havendo individualidade própria para essas meninas”
(Busse, 2013, In Torres & Ramos, 2013, p.1).
Minuchin (1990) nos diz que não existe um senso de identidade separada na fa-
mília das anoréticas, também aponta a incapacidade destas meninas de se separar
de suas mães. Ele acrescenta que isto pode resultar na falha em alcançar a noção
de um senso estável de seu próprio corpo. Este, é sentido como se fosse habitado
-
mum que diz respeito a uma agressão dirigida inicialmente a um objeto externo
internalizado a quem se dirigia sentimentos ambivalentes. Embora o desejo de
vingança seja dirigido a este objeto hostil internalizado, a raiva ataca o próprio
sujeito e seu corpo. (Santos, 2014)
como sujeito. No entanto, esta falsa ideia impõe um risco grave à integridade
física, emocional e social. É comum a necessidade de cuidados médicos e às
vezes até internação, em virtude de consequências clínicas pela falta de nutrição
adequada. O baixo peso também acarreta uma gama de sintomas psiquiátricos,
trazendo prejuízos no relacionamento familiar e social.
Acreditamos que não há um único nascimento, aquele que se dá no parto.
Vincenzo di Nicola (2003) fala em três nascimentos: da mãe, que lhe proporciona
o nascimento biológico, do pai, que o faz nascer para a sociedade, e o nascimen-
to pelo próprio indivíduo.
Da mesma forma, não existe uma única morte.
A morte é um evento inexorável à vida e faz parte do desenvolvimento
humano. Mas não há uma única morte, ou seja, a morte física, e sim vá-
rias mortes, que ocorrem durante todo o processo evolutivo do indivíduo.
Interessante observar que esse processo, a vivência da morte em nosso
cotidiano, boa parte das vezes ocorre de forma a não percebermos o seu
pensar ações de prevenção, pois Anorexia nervosa tem uma média de mortalidade
alta entre os transtornos psiquiátricos. Agras(2001), citado por Sopeski & Vaz, (2008,
p. 267), refere que “a anorexia nervosa é difícil de ser tratada e tem maior média de
mortalidade entre os transtornos psiquiátricos, cerca de 0,59% ao ano. Este valor é
cerca de doze vezes maior que a mortalidade das mulheres jovens na população
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Enviado em 08/02/2018
1ª revisão em 08/03/2018
Aceito em 15/03/2018
Resumo
1 Graduada em psicologia pela UFRJ, psicoterapeuta familiar, Doutora em Educação pela UFMG,
Membro da ATF, Membro colaboradora CEFAI- Centro de Estudo da Família, Adolescência a Infân-
cia. Professora da UEMG/unidade Carangola.
Introdução
rico-prático que permite que se apropriem dos conceitos que embasam a compre-
ensão da Teoria Geral dos Sistemas (Bertalanffy, 1967), articulados às discussões
que envolvem os conceitos da psicodinâmica, da cibernética e da comunicação.
A proposta do curso subjaz na lógica de pensar relacional, em que o cami-
nho trilhado se sustenta na mudança de paradigma que nos convida a sair de
uma postura cartesiana para perceber a família sob a égide do paradigma da
complexidade (Morin, 1996). Nessa perspectiva, o curso de formação passa a
ser considerado como um processo de construção social de caráter dialético, em
que a linguagem e os processos conversacionais podem ser entendidos como
instrumentos constitutivos de subjetividades, o que equivale a um espaço de
criação/recriação/transformação do sujeito.
-
dente pelo início da prática do atendimento clínico, momento em que o trabalho
em equipe se torna um instrumento fundamental no processo de formação do te-
rapeuta. Esse espaço de interações e produção de conhecimento é marcado por
um sentimento de natureza coletiva que que irá funcionar como um suporte para
os alunos/terapeutas que iniciam a função de atendimento clínico às famílias.
Aqui, a noção de equipe terapêutica está associada a esse sentimento coletivo
-
versacional de trocas de experiências de natureza colaborativa que passa a afe-
tar as histórias de cada participante. As práticas conversacionais apresentam-se
como instrumentos de transformação e atribuição de sentidos e constituem-se
em recursos potentes no processo de formação, tão diferente do modelo adotado
por outras abordagens, a exemplo da Psicanálise. Com base nesses princípios,
para outras mais democráticas” (Cruz, Vicente & Pereira, 2014, p.310).
Quanto ao modelo de atendimento temos: a pré-sessão que pode ser enten-
dida como aquele momento de conversação que antecipa o atendimento à família
e se constitui como um espaço de conexão entre as terapeutas de campo, as
professoras formadoras e os demais participantes da equipe. As práticas colabo-
rativas, aí encaminhadas, em geral se apresentam como alternativas úteis para o
desenvolvimento da sessão terapêutica e servem como um aquecimento conver-
sacional que favorece a atenção para os acontecimentos que envolvem a família/
casal. A pré-sessão é também um espaço de fortalecimento dos vínculos entre as
estão atrás do espelho podem intervir na sessão por meio do interfone, caso seja
necessário. Essa possibilidade de participação conjunta opera como ego auxiliar
e representa um elemento positivo de natureza colaborativa. Nesse enquadre,
pode-se dizer então, que é estabelecida uma conexão entre os que estão em
-
positada uns nos outros, quanto pelo respeito às diferenças, no que se refere
ao estilo próprio e pessoal de condução do percurso da terapia. É aqui que o
sentimento de pertencimento ao grupo se faz mais presente e a relação colabo-
rativa constitui o elo de ligação entre as partes. Entendemos então, que o lugar
do terapeuta vai sendo produzido pela conexão e sintonia com os participantes
do grupo como um processo de co-construção no contexto conversacional cola-
borativo em que sobressai a capacidade inventiva de cada um em criar um canal
de comunicação consigo próprio, com o grupo e com a família.
O momento da inter-sessão é marcado pelo encontro dos terapeutas de
campo com a equipe que permanece atrás do espelho para formularem uma bre-
-
sacionais, como também se fortalece a escuta sensível. A realidade discursiva
se apresenta de forma responsável e ética. Aos poucos, o grupo vai se consti-
Postura de acolhimento
-
tiva que convida os participantes a se tornarem protagonistas desta construção.
-
timento em uma postura responsável co-construída. A escuta coletiva estimula e
encoraja os alunos a se expressarem, pois representa uma forma de elaboração
de seus conhecimentos. Isso equivale à criação de um ambiente de respeito,
pertencimento e co-participação.
No contexto de formação do terapeuta, a escuta coletiva corresponde à
postura de atenção e respeito em relação ao outro, o que sugere uma posição
-
-
para criar uma abertura para a mudança. Aqui, estamos falando da possibilidade
de criação/ recriação que se constitui no espaço da emoção, da interação signi-
-
daram um olhar mais aprofundado trazido pelo paradigma relacional. Destaca-
mos a forma como o sentimento de equipe vai se constituindo como postura
e crítico.
As práticas desenvolvidas ao longo do curso visam trabalhar as diferenças
e evidenciar as singularidades. Essas ações tomam como base o sentimento
Enviado em 01/03/2018
1ª revisão em 08/03/2018
2ª revisão em 25/05/2018
3ª revisão em 19/06/2018
Aceito em 19/06/2018
Resumo
Abstract
this paper discussed three sections that contemplate the couple’s constitution: the
Introdução
mudança.
-
dade das relações entre os subsistemas (Braz et al., 2005).
Neste contexto, ao longo da minha experiência clínica no curso de espe-
cialização, pude perceber que a formação de um casal é uma das fases mais
complexas do ciclo vital, uma vez que a construção da conjugalidade confronta-
se absolutamente com os padrões que cada um traz de sua história com as fa-
-
orizações que infertilizam a capacidade de compreensão, gostaria de enfatizar a
perspectiva de unidade conjugal que tomo como ponto de partida neste estudo.
-
McGoldrik (2011),
O casal precisa decidir a respeito das férias, e como utilizar o espaço,
o tempo e o dinheiro. Também existem as decisões a respeito das tradições
e rituais familiares que serão mantidos e daqueles que os parceiros de-
senvolverão sozinhos. Essas decisões não podem mais ser determinadas
unicamente numa base individual. O casal também terá que renegociar os
relacionamentos com os pais, irmãos, amigos, família ampliada e colegas,
em vista do novo casamento (p. 185).
membros sem consultar o outro. Esta não é uma tarefa fácil, já que são poucos
os casais que conseguem distribuir as funções de modo paritário ou negociar
com outra pessoa requer uma série de ajustes entre os cônjuges até que estes
consigam elaborar um mundo comum, complementar, compartilhando situações
a estrutura doméstica é cada vez mais incomum, Bradt (2011) diz ter certeza de
que “não existe nenhum estágio que provoque mudança mais profunda ou que
escolar, entre outros sinais que denunciam um problema maior que o casal não
consegue lidar. Mas, infelizmente, a maioria dos pais não se dão conta de que o
do seu crescimento sofrerá as consequências por ter falhado na missão que lhe
foi atribuída.
Psicológico da UFRGS, mostrou, em diversos casos, que os pais trazem para te-
-
vas sobre o resultado, no qual não se percebem responsáveis. Como, por exem-
plo, no caso de um menino de 10 anos que foi apresentado pelos pais como uma
maior parte do seu tempo com o trabalho, e ao chegar em casa, quando dispos-
silêncio as falas dos pais, que por alguns instantes deixaram de lado a queixa
sobre o comportamento sintomático do pequeno e ocuparam o tempo com tro-
cas de ofensas entre o casal. A mãe, autoritária e controladora, lembrava que
sobre o seu relacionamento pois o marido não iria mudar. Assim, durante algu-
mas semanas o pai não esteve presente nos encontros e somente retornou após
inúmeras tentativas minhas de contato.
O sistema familiar faz seu pedido:
levado à terapia, e uma vez que ele é o doente, não há espaço para questio-
namentos sobre o ato de preocupação e cuidado dos pais. No entanto, sabe-
se que a absoluta centralidade na sua patologia preenche o mundo da família,
ampliar o sintoma de modo a envolver todas as relações familiares. Por isso, an-
tes de trazer à tona as tensões da unidade conjugal, o terapeuta deve se comu-
nicar com a família por meio da mesma via usada entre eles para se comunicar
(1989) destacam que, “se começar-
-
do, estaremos agindo sobre os mesmos mecanismos que o levaram a tornar-se
Nicolo-Corigliano, 1989).
-
bre a sua família. No sistema terapêutico isto não é diferente. Assim, através dele,
desde a primeira sessão o terapeuta deve tentar envolver a família no processo.
“Cada membro deve sentir-se motivado a retornar, a comprometer-se com alguma
O convívio com pessoas tão múltiplas e com tanta expressão cultural, tor-
nou a minha visão de mundo muito mais pluralista. Na clínica tenho como ele-
mento norteador da minha prática, a ideia de que, o que ocorre num indivíduo
que faz parte de uma família, não decorre apenas de condições internas a ele,
mas também, de um intenso intercâmbio com o contexto mais amplo no qual
ele está inserido. Ele não só recebe o impacto desse ambiente como atua sobre
-
te enfoque multifacetado, que o atendimento sistêmico familiar procura, diante
das motivações da família, propiciar um espaço terapêutico no qual possa ser
tensões interpessoais que até então não tenham sido reconhecidas, ou tenham
que a família tem do sintoma individual, e, desse modo, ter acesso total ao siste-
fragilidade, nem podemos acreditar que certas funções exercidas por ele e pelos
membros de sua família, têm qualquer chance de evoluir em uma situação de
proteção. O problema, se existe, repousa no sentido de não confundir as funções
com os indivíduos que as exercem. É nosso dever, portanto, atacar as primeiras
(funções) enquanto apoiamos os últimos (paciente), evitando escrupulosamente
fazer o contrário.
Enviado em 20/02/2018
1ª revisão em 08/03/2018
2ª revisão em 11/06/2018
Aceito em 12/06/2018
Vincenzo Di Nicola2
Resumo
tros episódicos com seu pai, de seu primeiro encontro até sua morte. O primeiro
episódio relembra quando, já adulto, ele conheceu seu pai italiano pela primeira
vez, no Brasil. Escreveu suas memórias para a revista Terapia Familiare so
1 Publicado em um número especial sobre pais da revista Terapia Familiare (Roma, Itália) e em um
Vanessa Di Nicola Bertuzzi com o auxílio de Jackie Massagardi Mendes, Maria Inês Santos Rosa e
Letícia Castagna Lovato.
-
lias na Universidade de Montreal, onde é Professor Titular de Psiquiatria. E-mail: vincenzodinicola@
gmail.com.
Abstract
Keywords:
tão tocado pela nossa visita que insistiu em conhecer o resto de minha família e,
Muito antes, em 1983, quando eu estava para me casar com a mãe dos
-
treal de um lugar que eu não reconhecia, chamado Jundiaí – São Paulo, e as-
sinado em inglês: “Luis Eduardo, seu meio-irmão do Brasil”! Edgar Allan Poe
escreveu um romance policial sobre uma carta que é roubada em frente à pes-
soa a quem havia sido destinada, escondida à vista de todos, e eventualmente
entregue ao destinatário. Como o psicanalista Jacques Lacan observou sobre
aquela carta literária, o cartão-postal de Luis Eduardo chegou ao seu destino. E,
embora tenha sido deixada à vista de todos, a pessoa a quem ela se destinava
– eu – não recebeu a mensagem de imediato.
O cartão-postal me convidava para participar de uma família brasileira onde
eu tinha certa presença, mas que só havia criado uma ausência em minha vida.
Tendo acabado de iniciar minha residência em psiquiatria, às vésperas de me
casar, deixei o cartão-postal – que revelava um maremoto de possibilidades – de
lado. Senti que estava em um dilema relacional, uma situação que rompe fron-
teiras e abre espaço. Mas estava no meio de outra abertura – a vida matrimonial
e uma família – e eu não estava pronto.
uma adorável jovem apareceu à porta de meu pai e olhou para mim como se
procurasse algo. E quando eu procurei pelo rosto de meu pai para entender o
disse a ela:
Ela compareceu ao funeral comigo, dois estranhos, em diferentes formas,
em nossa própria família brasileira. Assim, reconstruímos a família Di Nicola no
Brasil. Ela soube do destino de seu pai na Itália e solucionamos outra dúvida em
sua mente: sim, ela tinha um meio-irmão morando lá! Ela havia confundido os
nomes e os lugares e nunca o havia encontrado. Pensava que ele se chamava
Luca, mas seu nome é Samuele e ele vive em Lecco, perto de Milão. Naquela
mesma noite, ela conseguiu encontrá-lo através das mídias sociais!
Agora, como o mais velho Di Nicola na família – com o pai de Thais e nos-
sos dois irmãos brasileiros já falecidos – havia me tornado, então, o patriarca da
família Di Nicola em três continentes. Letícia juntou-se a mim no aeroporto de
Guarulhos, em São Paulo, onde eu havia encontrado meu pai, 19 anos antes, e
seguimos para Montreal.
meu coração, não consigo compreender sua vida por completo. Havia sempre
somente um caminho aberto: simplesmente passar tempo com ele, estar presen-
-
mília paterna de origem, eu estava pronto para ser um homem e me casar com
minha noiva brasileira, Letícia.
Em seu evocativo romance, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Saramago
(1984) lança Ricardo Reis, um heterônimo do poeta português Fernando Pes-
entre sua estadia em La Paz e seu estabelecimento em São Paulo, ele retornou
à Itália e à noiva que o esperava. O plano era que eles se estabelecessem em
São Paulo. Já concebido na Itália, meu destino – o qual meu pai acreditava –
era nascer em São Paulo. Algo interveio. Apavorado, fugindo por sua vida, meu
pai passou a esconder-se, reconstruindo uma vida paralela em São Paulo, uma
E através de seu cartão, encontrei nosso pai. Dudu estava perdido então, mas
onze anos mais tarde, sua mensagem chegou. A conexão estava feita.
***
dia após dia para depois somente estar inerte, evitando voltar a qualquer das
margens do rio, mas criando por seus esforços uma terceira margem.
Na verdade, moro em uma ilha chamada Montreal, no meio de um rio cha-
mado São Lourenço. Aqui, falamos de margem norte e margem sul. A ilha por si
só é, para mim, a terceira margem do rio. Em um país dividido entre os primeiros
povos e as raças fundadoras, entre as maiorias e minorias anglofônicas e franco-
fônicas e em uma vida distribuída entre minhas raízes europeias (nasci na Itália
sujeito de sua verdade. Ao contrário de meu pai e minha esposa, rejeito a ideia
de destino e reconheço a radical contingência de nossas vidas. Não há nenhuma
mão guiadora, sorte sombria ou destino maravilhoso. As coisas acontecem. Das
Não por destino ou desígnio, mas por acaso, cresci sem um pai, experimen-
sem pai, Les Mots – “As Palavras”, como é não estar conectado com o poder,
meios de produção, e não ter importância no mundo devido à ausência de um pai.
Uma curiosidade maior do que minha vida e um desejo que não é meu le-
varam-me a encontrar o estranho que era meu pai. Não por obrigação, mas por
escolha, tornei-me mais íntimo dele por quase 20 anos. O título de minha primei-
ra carta a ele, “Estranhos nunca mais”, foi mais esperançoso do que verdadeiro.
Seria mais verdadeiro dizer que meu pai e eu tornamo-nos estranhos íntimos –
familiares, mas ainda desconhecidos um ao outro.
Conhecer esse “estranho íntimo” me permitiu explorar o limiar entre o es-
tranho e o familiar, América do Norte e do Sul, contrastar a lógica cartesiana
com epistemologias sincréticas sulistas e aprender um novo idioma e uma nova
forma de ser. Não foi em sua vida, mas em sua morte, que compreendi por com-
pleto – lastimoso, mas agradecido – por um evento ter ocorrido em minha vida...
Chegou sem alarde ou preparação, mas quando o momento chegou, reco-
nheci-o e tomei posse dele, arriscando tudo – mais do que estou disposto a dizer
para um grande benefício, mas essas não são as coisas que um indivíduo quer
ou traça.
A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda
Coda
anos para conhecer meu pai no Brasil. O momento certo tinha que surgir e aque-
le momento veio como uma crise em minha vida quando eu não podia mais adiar
aprendido como um terapeuta desde aquele primeiro encontro com ele. E este é
o cerne da questão: Não tenha pressa. A vida aconselha paciência.
Agora, depois daquele primeiro encontro e outros em 20 anos, o que apren-
di como terapeuta? O antídoto contra a depressão e desespero ou um esforço
ilusório impossível para recuperar o que perdemos – ou nunca tivemos – está
na sabedoria da lentidão. Nos passos do (Movimento Lento)
que começou em Roma (Petrini, 2009), escrevi meu “Manifesto do Pensamento
Slow” (Di Nicola, inédito). Pensamento lento é uma forma de auto-cuidado e uma
preparação para a terapia baseada no evento.
ele me ensinaram que a vida não tem outro objeto além de si. Como a vida, a
terapia do evento legaliza uma força transitiva que não tem objeto: simplesmente
se apresenta.
Um evento emerge de uma ruptura em nosso mundo ou situação que eu
chamo de dilema relacional (Di Nicola, 1997). As consequências de tal ruptura
criam as condições para a mudança: fechamos (e esse fechamento provoca
trauma) ou abrimos (e algo novo poderia acontecer em nossas vidas, o qual se
chama evento). Portanto, da ruptura e dilema relacional, dois extremos podem
ocorrer: trauma e evento. Terapia do limiar, que descreve meu trabalho em te-
rapia familiar cultural pelos últimos 30 anos, lida com famílias em transição, no
limiar, passando por uma rápida mudança cultural (Di Nicola, 2004).
Terapia do evento guia as pessoas para além das situações de ruptura,
curando o trauma quando possível, lidando com ele da melhor forma possível, e
preparando para a possibilidade de um evento em suas vidas. Uma vez ocorrido
o evento, a terapia os ajuda a aprender com as consequências. Um evento é
-
tino ou sina, de forma que devemos abandonar a noção popular de coisas que
eram para ser. Isso torna a vida – e a terapia – arriscada e vertiginosa. Larga a
ilusão de controle e desfechos certos, mas admite a possibilidade de uma real
mudança.
o sujeito. Desta forma, encontrar meu pai e minha família brasileira foi um evento
que me sujeitou a tal verdade. Isso é terapia sistêmica com psicologia relacional
que sustentam que o indivíduo emerge das interações familiares, não o contrá-
rio. Essas, portanto, são as três condições do evento e para se tornar um sujeito
entenderão, a terapia do evento não trará o Messias, mas poderá anunciar sua
vinda, como São João Batista ou testemunhar sua presença, como São Paulo de
Tarso, cuja vida e o mundo foram para sempre transformados.
vivere vitam que não tem outro objeto que não
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Enviado em 18/10/2017
1ª revisão em 22/04/2018
2ª revsão em 22/02/2018
Aceito em 23/02/2018
Angela Hiluey1
Resumo
rigidez tece neste artigo um trajeto através dos caminhos abertos pelos pioneiros da
Esse autor tanto sinaliza a implicação das crenças no direcionando do viver humano
como sendo um obstáculo para a inclusão do novo nesse viver, permitindo também
“Ninguém pode tomar banho duas vezes nas águas do mesmo rio, por-
que o rio está em constante mudança, mas mais ainda, porque também o
está quem nele mergulha” (Heráclito).
-
ga) viveu aproximadamente entre 540 e 480 anos A.C. Considerou como carac-
-
terapeutas encontram para mudarem suas próprias perspectivas.
possa dizer “não” mesmo que uma certa singularidade possa ser incluída.
Evidencia ainda o mesmo autor, que as crenças se relacionam com a fé e
por isso não precisam ser entendidas nem comprovadas, e assim são um refúgio
país, ou sociedade; assim, a pressão para dizer “daqui não passo” estabe-
lece uma resistência ao aprendizado (...) (Bion, 1992, p. 9-10).
Linares (2014) nos instiga nessa direção quando escreve sobre a necessi-
dade de acabarmos com o dogmatismo pós-moderno, pois a complexidade torna
impossível o dogmatismo e recomenda que se abram as janelas do território sis-
têmico para que ares novos entrem e que sejam alimentados pelo tanto de bom
que se produziu pela tradição psicoterapêutica. E ainda completa Linares (2014)
escrevendo que as atitudes mencionadas anteriormente são necessárias para a
terapia familiar recuperar sua relevância no campo da saúde mental, com novas
e estimulantes ideias sendo trazidas, e que a terapia familiar, escreve ainda Li-
nares (2008), deixe de se apresentar como a eterna revolução do pensamento
terapêutico.
Mara Selvini Palazolli, em dado momento de sua história, insatisfeita com os
resultados de sua prática clínica, defrontou-se inclusive com trabalhos oriundos
de outras áreas do conhecimento. E a partir daí sabemos de sua importância no
desenvolvimento da terapia familiar sistêmica. Ou seja, aventurar-se mostra ser
uma oportunidade relevante para o desenvolvimento.
Canevaro (2012) cita Mara Selvini Palazzoli ao se referir à decepção de mui-
tos psicanalistas sobre os resultados da psicoterapia individual no atendimento
a psicóticos e crianças, dentre eles Selvini Palazzoli, Bowen, Whitaker, Lidz,
Framo, Ackerman, Boszormeny-Nagy o que lançou a raiz para o nascimento da
Terapia Familiar desde os primórdios dos anos 50.
E assim as incursões de diferentes autores na busca de atingir resultados
Linares (2014) por sua vez assinala que com o passar do tempo a terapia
como objetivo discorrer sobre um caso clínico através do qual mostra quanto do
produzido pela tradição psicoterapêutica pode ser utilizado num processo de in-
tegração, para atender a totalidade do ser e do sistema familiar em seu caminho
para construírem o seu amanhã. Lembrando, enquanto discorre, que vive na
vigência do paradoxo Fluidez X Rigidez.
O caso clínico será relatado em formato de narrativa, pois segundo Marques
(2000):
“Narrar é expor minuciosamente, contar, relatar, referir-se a algo que no
momento parece de capital importância para o narrador e seu interlocutor”
(Marques, 2000, p. 108).
Espera-se assim fazer chegar ao interlocutor algo de que fez parte essa au-
tora e que virá acompanhado de suas considerações. Os integrantes do sistema
Rapunzel já havia feito psicoterapia, mas que estando no momento com 11 anos,
e assim em outro momento de vida, consideravam que deveriam buscar nova-
à psicoterapeuta.
Frente a essas informações telefônicas opta a psicoterapeuta por atender
inicialmente os pais, para ter acesso ao que lhes mobilizou a essa busca e infor-
ma que diante do que viesse a conhecer haveria a possibilidade de poder vir a
atendê-los enquanto família.
E assim através de Felipe e Aurora a psicoterapeuta vai conhecendo Ra-
Essa atitude era bem mais frequente assim que foi para a casa deles. No entanto
as pessoas.
Diante desse relato a psicoterapeuta propõe que o atendimento foque o sis-
tema familiar e em função do desenvolvimento dos atendimentos se poderá citar
alguns membros do sistema familiar juntos ou sozinhos.
E assim seguimos os atendimentos fazendo as citações conforme indicava
o desenrolar das sessões psicoterapêuticas.
Pôde-se constatar que Rapunzel estava presa na torre, assim como no con-
to de fadas. Seus pais e irmãos tentavam de tudo para terem acesso a ela, quer
iniciará uma longa viagem na vida pede-se que dê a ele três coisas que cultivou
pela vida e que considera importantes para lhe dar para levar em sua mochila.
Para que no caminho se tiver necessidade as pegará e as fará suas. A psicote-
rapeuta fez uma variação nessa proposta, pois propôs que seus irmãos dessem
a Rapunzel coisas que receberam nessa família e que lhes são importantes para
que Rapunzel as levasse consigo na mochila. Os pais por sua vez lhe deram o
seus pais foi a primeira vez que Rapunzel efetivamente chorou. Até então as
lágrimas corriam, mas vê-la chorar realmente não haviam visto.
Seus irmãos falavam sobretudo da exigência no estudo, mas também o
-
bém eles não sabiam como eram percebidos, reconhecidos e valorizados por
-
ponibilidade efetiva para se envolverem. Os pais referem que todos estavam
mudando. Abriu-se um espaço de intimidade entre eles.
Nas sessões que se sucederam gradativamente percebia-se que os re-
cursos terapêuticos lúdicos, incluindo a música, favoreciam que cada vez mais
começassem a verbalizar o que percebiam em si mesmos inclusive alinhando
com experiências dos seus passados enquanto crianças. Felipe em especial
teve uma experiência de maus tratos físicos e psicológicos enquanto criança.
Aurora mesmo sem o mesmo tipo de experiência que Felipe teve, agia como ele
frente aos pais: atendia as ordens ou até mesmo adivinhava o que fazer para
Rapunzel. O diálogo entre todos ia deixando de ser para dizer o que fazer, sendo
substituído pela tentativa de entender que se pode não querer fazer algo, pois
em seus passados somente não se podia fazer. A psicoterapeuta de rotina se
percebia procurando encontrar uma forma de facilitar o diálogo, pois constatava
que devia evitar o atendimento somente pautado no discurso verbal, não apenas
por ter uma menina de 11 anos presente, mas porque tais atividades lúdicas fa-
voreciam alinhamentos e não apenas explicações para normatização baseadas
no dever. Os irmãos, também auxiliavam nesse princípio de normatização. A
psicoterapeuta seguia procurando propor atividades que lhes auxiliassem a não
necessariamente abandonar suas metas, mas que pudessem reconhecer suas
próprias possibilidades bem como as de Rapunzel. Começaram a considerar os
-
todos, que também procuravam ajudá-los a encontrar alternativas para que eles
-
nitivas como seus irmãos, não contava com o mesmo reconhecimento constan-
temente. Ora o reconhecimento aparecia, mas não era frequente, em especial
na relação com seus pais.
Winnicott (1989) também estava presente para auxiliar a psicoterapeuta a
pensar sobre os atendimentos e sua intervenção, com seus escritos sobre a
tendência antissocial onde entra o roubo. Rapunzel chegou a começar a pegar
coisas de pessoas queridas fora da família nuclear, também.
Winnicott (1989) relaciona a tendência antissocial à privação. Para a criança
que antes as coisas iam bem, mas depois acontece tal privação e sofre inicial-
outro lado, Rapunzel passou a visualizar suas possibilidades tanto para ganho
como para perdas.
E o tempo ia passando. Rapunzel tinha algumas sessões somente para
ela. Era nessas sessões que surgiram explicitamente os traumas. Já que os
passado somente a ira era reconhecida por ela. Entrava e saia da torre assim
como recebia sua família na torre.
Liamos livros infantis que permitiam que conversássemos sobre suas per-
cepções a partir das leituras, dentre elas: Rita não Grita de Flavia Muniz; O meni-
no que espiava pra dentro de Ana Maria Machado; Nascer Sabendo de Ronaldo
Simões Coelho.
Tais leituras comentadas e ilustradas com associações de Rapunzel sobre
sua própria vida a auxiliaram no reconhecimento de seus sentimentos e reações
nessa leitura.
-
riência relacional, que ocorrerá desde a vida intrauterina até a morte, que nos
mostra quão rica pode ser nossa vida com tal diversidade de narrativas. Ou seja,
a possibilidade de escrever novas histórias é inesgotável, mas trilha na vigência
do paradoxo Fluidez X Rigidez.
-
sualizada por tal paradoxo, a psicoterapeuta recorreu ao recurso terapêutico lúdico.
Andrade (1995) escreveu que nas diversas expressões artísticas o homem
se coloca diante da realidade, ao expressar por meio de uma simbolização (a
obra de arte) como estrutura seu mundo interior. A arte pode também, segundo
ele, ser terapêutica, pois permite acessar a emoção tanto do criador como do
público participante. O criador e o produto da criação são o porta-voz de como
o homem aliou as sensações e percepções frutos de sua experiência pessoal e
relacional. Através da arte, forças oponentes podem ser integradas graças a sua
qualidade integrativa.
Através das palavras de Andrade (1995) pode-se visualizar o processo que
acontecia nas sessões terapêuticas a partir da confecção das obras de arte onde
os integrantes da família alinhavam suas sensações e percepções juntos. Algu-
mas vezes produzindo sozinhos outras vezes com o auxílio da psicoterapeuta
que lhes assinalava tais alinhamentos.
Hiluey (2004; 2007; 2008) no contexto da investigação tanto com alunos-
médicos como com famílias, pode constatar a relevância da atividade lúdica tan-
to para o despontar da angustia sem se aperceber devido ao rebaixamento das
defesas que tais recursos favorecem, como para integrar percepções e informa-
ções. Novos caminhos eram, então, vislumbrados.
Essa foi a linha condutora da psicoterapeuta, apoiada na integração de dife-
rentes conhecimentos onde estão implicados os recursos lúdicos ao longo desse
processo psicoterapêutico que favoreceu que espaços fossem abertos para a
criação de novas narrativas.
As atividades artísticas lúdicas favoreceram:
Enviado em 05/03/2018
1ª revisão em 10/03/2018
Aceito em 15/03/2018
Resumen
Abstract
Keywords: c
cató, jalándolo hacia abajo para que se rompiera el tubo donde estaba amarrado el
-
torno mental frecuente, que se caracteriza por la presencia de tristeza, pérdida de
interés o placer, sentimiento de culpa o falta de autoestima, trastorno del sueño o
del apetito, sensación de cansancio y falta de concentración (…) puede conducir al
suicidio” (p. 1). Alertan que en el mundo está creciendo en porcentaje el número de
niños, niñas y adolescente con síntomas de “depresión”. En México la depresión
infantil también va en aumento, se ha convertido en un problema de salud crecien-
te que es necesario investigar y sobre todo intervenir. La encuesta nacional de los
hogares del INEGI (2014) señala que el 14.6% de niños y niñas entre siete y 14
años de edad han tenido síntomas de depresión, este porcentaje se incrementa
con adolescentes hasta el 28.9%. Según el INEGI (2017) actualmente “existen dos
millones de niños, niñas y adolescentes que padecen depresión en nuestro país.
Añade que el suicidio infantil de 10 a 17 años es de 4.3 por cada 100 mil” (p. 1).
Estas estadísticas muestran una preocupante problemática sobre la salud
de la infancia. A pesar de que la psiquiatría tiene una descripción diagnóstica
pormenorizada e intervención clínica sobre este malestar, las cifras van en au-
mento y alcanza a los niños y niñas. Esto indica una crisis en el sistema de salud
para prevenir e intervenir ante este problema
La depresión como diagnóstico e intervención y por otra parte la infancia como
etapa del desarrollo requieren un análisis crítico, actualizado y cuidadoso. Este tra-
bajo de investigación clínica exploratorio propone re-conceptualizar el diagnóstico
de la “depresión” infantil mediante el análisis de los diversos “contextos” en que
viven los niños y las niñas. Los resultados son los siguientes: 1. Se amplía el foco
encontrándose inter-contextos que le dan sentido al malestar sistémico familiar
que produce la depresión infantil. 2. Esto tiene efectos terapéuticos hacia la fami-
lia, aumenta la conciencia de los integrantes de la familia sobre su forma de vida
y la relación con el malestar. 3. La creencia y epistemología familiar sobre la de-
-
lógico o individual - como un problema de la cotidianidad contextual de la persona
y los grupos de pertenencia. Ante este hallazgo, se propone al contexto como
epistemología práctica y recurso psicoterapéutico para una terapia familiar crítica.
importancia a la educación de los hijos e hijas, y por otra parte Rousseau quien
abogaba por la felicidad de los niños, quien pronunció la clásica frase que “los
niños sean niños”. Esta idea todavía está presente, aunque se observa el cuidado
y educación con fuertes dispositivos de control, tal como lo auguraba Ariès (1986).
desarrollo de los niños y niñas. Con ello, han surgido otros debates y tensiones
en diversos contextos: académico, profesional, religioso, etc., apareciendo lo
que algunos denominan “ideología de la infancia”, vinculado con la ideología de
género. En conclusión, estos estudios muestran que la infancia es una construc-
ción sociocultural. Es un contexto que encuentra sentido en las diversas circuns-
tancias socio-históricas, el cual que la infancia es un contexto dinámico, relativo
y social. Esta mirada sobre la infancia, tal como lo veremos más adelante, se
convierte en un recurso para intervenir sobre su malestar.
Más tarde a principios del siglo XX de la mano de Bleuler, quien hace una
cativa. Vale la pena detenernos en las observaciones de Bowlby (1993) para él,
los síntomas de una persona depresiva surgen en torno a la pérdida emocio-
-
bilidad mantener una relación estable con los padres a pesar de los esfuerzos
por satisfacer sus exigencias y sus expectativas. Es decir, la persona no logra
acceder al reconocimiento de los seres amados, incluida la pareja, quienes a su
vez lo rechazan y castigan independientemente de los esfuerzos de la persona
en buscar de su amor. Dentro de esta lógica, otra dimensión que conduce a la
depresión, son las pérdidas reales por muertes o separaciones.
En resumen Aguirre (2008) señala que “la depresión ha tenido pues, a lo
largo del tiempo, tres principales nombres, melancolía, acedia y depresión, que
la distonía, el descenso a la oscuridad vital y a la muerte” (p. 11). Hasta aquí las
concepciones antes revisadas, constituidas en diversos momentos históricos,
sitúan la explicación e intervención del malestar de la depresión en el individuo
y su cuerpo.
realidad y son una guía para la intervención. Sin embargo, en últimos tiempos se
ha abierto un debate y con ello una crisis en la psiquiatría como resultado de lo
inscrito en el DSM-5. Dentro de la propia psiquiatría surgieron críticas al abuso
-
tegorías diagnósticas de trastornos mentales, no solo para adultos, también en
niños y adolescentes, argumentando que dichas “patologías” son invenciones en
contubernio con las empresas farmacéuticas (González & Pérez, 2007; Carlat,
2010; Frances, 2014). Por otra parte, los resultados de la investigación longitudi-
nal de 20 años sobre los uso de los antipsicóticos y antidepresivos muestran que
no han tenido efectos terapéuticos sino de control, produciendo otros problemas
secundarios como la adicción al medicamento y afección biológica en varios ór-
ganos del cuerpo (Harrow, Jobea & Faulla, 2014; Kirsch, 2010; Hammer, Batty,
Seldenrik, & Kivimaki, 2010).
En este afán, Medina (2014) señala que esta tradición arropada por el
discurso objetivista, muestra un reduccionismo perverso con consecuencias
desbastadoras para muchas personas y sus familias. Un tipo de ciencia con
mucho poder, porque dentro de su discurso de verdad y racionalidad inactiva
cualquier crítica y se instaura también dentro del campo del poder positivo (Fou-
progenitor.
Es un triángulo emocional de doble banda, dirían los experto en el juego
del villar, por una parte toma partido con el progenitor que lo atrajo hacia el pro-
blema conyugal con altos componentes de lealtad, y por otra la pérdida de una
Caso Pedro
tristeza infantil y de los adolescentes, para ello presentamos aquí uno de los
casos de nuestro estudio, que propone un modelo de primera entrevista para
hacer visible dichos contextos que conducen a una niño, niña o adolescente a
vivir tristeza, autolesionarse, pensar en la muerte o quitarse la vida.
Continuamos con el caso Pedro, que presentamos al inicio de este trabajo.
tituto Tzapopan. La madre llamó al Instituto para pedir la cita. Se le pidió que
Genograma familiar
45 46
14 12 10
2
PFigura 1. Genograma de la familia de Pedro.
Fuente. Elaboración propia, con base en el caso.
sale a las 6 am a trabajar, a las 6:30 am la madre lleva a sus hijos a la escuela,
Por otra parte, el padre comenta que el sale de su casa a las 6:00 am hacia el
trabajo, tiene que estar a las 7:00 am. Trabaja como vigilante de estacionamiento
Sobre sus ingresos, perciben ambos menos de 400 dólares al mes. También
quilan por un cobro de 150 dólares cada mes. Tiene dos cuartos, en uno duerme
se encarga de todo, somos insistentes para que nos relate Pedro cuáles son sus
responsabilidades.
Pedro en voz baja señala que como están en la misma escuela todos, es
está prohibido salir. Pedro calienta la comida que su madre preparó en la noche
hace dos años. Añade que para él no es problema hacerlo, pero que desde hace
En ese momento la madre agrega, que si es así que desde hace varios me
ses, que Pedro no ha hecho bien tu parte. Y que sí se enoja pero que es normal.
que cooperar.
madre.
su casa, los tres contestan que no, que los papás señalan que el barrio es malo,
señala que solo tiene amigos en la escuela donde juega en el recreo, pero que
en el barrio o cerca, los papás señalan que no, ellos vienen de Michoacán –un
ellos tienen amigos o amigas en la ciudad con quien conviven, señalan que no.
nen dinero para ir al cine o a un restaurant. Que por lo regular ven la tele en la
casa, señalan los padre para descansar de las largas jornadas de trabajo de la
semana.
padres. Les hicimos saber que todo el equipo concuerda con que la mamá se
es la encargada de esa labor. Pero también le hicimos saber que percibimos que
casa juntos como papás, con base en lo que se ha conversado en esta sesión.
Que conversaran abiertamente solo entre ellos dos sobre si esta situación que
rentemente desconocía, señala que van hacer todo lo posible por resolver esta
situación, añade: mi hijo no tiene que cuidar a sus hermanos, lo vamos a resol
creía que todo estaba bien. La madre dirige la mirada retadora a su marido, no
se siente cómoda.
Invitamos a los hijos a entrar la sesión, les decimos que agradecemos a
45
46 12 10
14
Figura 2. Cuadro sistémico de la familia de Pedro.
Fuente. Elaboración propia, con base en el caso.
Este patrón sistémico familiar que va de la mano con lo propuesto por Lina-
res y Campo (2016) no podría ser comprendido sin observar los contextos donde
la familia vive cotidianamente. La falta de nutrición que siente Pedro de parte de
la madre, y el patrón relacional de parentalización, etc. está matizado por una
madre sobre-saturada, que tiene dos trabajos, uno fuera remunerado y el otro en
casa. El primero, igual que el trabajo del padre, son trabajos precarios. Se obser-
va negligencia parental, menos tiempo y nutrición emocional familiar. A esto se le
suma un contexto de condiciones territorial inseguro, las familia viven con miedo
a salir y establecer vínculos con los vecinos para generar comunidad. Estas
Resultados
Conclusiones
Los niños, niñas y adolescentes de hoy son distintos a los de hace una
generación atrás. En especial cabe destacar la transformación de la mujer, la
cual ha ingresado a la universidad, al trabajo remunerado, etc. y que muchas de
ellas realizan doble jornada laboral: hacia fuera y dentro del hogar. Otro contexto
que ha impactado directamente en la infancia y su malestar, es el trabajo preca-
rio. Padre y madre trabajan todo el día fuera de casa para sobrevivir, sin tener
como un tipo de resistencia contra una forma de vida que los tiene atrapados,
sin libertad, sin proyectos a futuro, aniquilando la voluntad y la esperanza, en-
contrándose con la muerte como la única salida digna. El contexto como recurso
Referencias
Enviado em 02/03/2018
Aceito em 29/03/2018
Resumo
terapia de casal, como recurso técnico e criativo que pode ser aprendido e de
Therapeutic Communication
Introdução
Com cada casal ouço atentamente o dito, o não dito, o digital, o analógico e faço
muitas perguntas. Estudo, levanto hipóteses, acolho, valido. Quando a terapia é
bem sucedida, me emociono. Parece uma mágica! Eu me pergunto: o que será
-
ência terapêutica e reconstrói sua história?
Nos meus longos anos como terapeuta sempre tive muita curiosidade neste
-
so terapêutico o que lhes foi especialmente útil, o que os marcou. No meio da
diversidade de respostas, algumas se repetem:
mais tanto o que é negativo. Percebi os meus limites. Parei de culpar o outro.
Não sinto mais a necessidade de agradar sempre. Lido melhor com críticas, com
e respeito o outro. Sinto mais segurança nos meus vínculos. Percebo melhor
Entre essas respostas, muitas vezes vinha um sorriso maroto que com-
plementava, por exemplo, assim:
sua própria participação no processo que o faz sofrer. O casal pode vir em busca
de terapia em diversas etapas do seu ciclo vital, onde o próprio desenvolvimento
da relação ou dos membros da família implica em necessidade de desenvolver
novas aprendizagens para as quais não se encontra preparado, ou busca so-
membros, ou frente a uma crise de cuidados quando ocorre uma doença grave
ou preocupação na família. Pode também trazer uma problemática recorrente,
para a qual não vê solução, ou com tentativas de solução que agravam o pro-
blema. As problemáticas recorrentes são as mais difíceis de serem abordadas,
pois quanto mais antigas, maior a rigidez nos padrões de comportamento, maior
a descrença no processo terapêutico. Facilmente o casal entra em um processo
comunicacional de escaladas simétricas de acusações onde o padrão de de-
fesa de um, repercute como ataque ao outro, processo descrito por Michelle
Scheinkman ( 2004) como círculo de vulnerabilidades do casal.
Os temas recorrentes geralmente giram em torno de questões de proximida-
a relação, e o outro para poder se relacionar, prioriza seu espaço individual. Este
tema é abordado das mais diversas formas, fantasiado de diversas roupagens
-
doxos do ser humano e de seus relacionamentos vitais, não só na família, mas
Sobre metáforas
tema do cliente.
O interesse crescente da autora pela comunicação metafórica foi somado
ao do processo de mudança. Ao longo dos anos, esteve atenta aos mestres,
ao conteúdo do que comunicavam aos clientes, à forma como o faziam, e ao
momento adequado para determinadas intervenções. Prestou atenção aos vá-
rios tipos de comunicação, digital e analógica, incluindo a comunicação do não
dito,( ouvindo a voz do silêncio), à comunicação do cliente e à sua própria. E
percebendo como fazia uso da comunicação metafórica, que partia do cliente
e principalmente de co-construções, em que a ótica do cliente e do terapeuta
se sobrepunham criando uma nova forma de ver a realidade apresentada. As
co-construções metafóricas ora desorganizavam premissas rígidas, ora as re-
construíam introduzindo uma nova ótica cognitiva. Uma nova emoção, um novo
olhar, um novo comportamento, que surpreendiam todos os envolvidos tornando
claro o papel da comunicação metafórica na quebra de padrões rígidos, na re-
solução de impasses terapêuticos, na mudança de clima emocional da sessão
e de paradigmas.
Inicialmente isto acontecia espontaneamente. Depois tecnicamente, e aos
poucos foi se tornando um instrumento interessante que mobilizou a atenção e
interesse da autora. Esta experiência se renova e se desenvolve a cada atendi-
mento clinico, quando surgem novas percepções sobre o impacto da metáfora
no desenvolvimento e internalização do processo terapêutico, assim como na
memória do cliente. As metáforas que ocorrem ao terapeuta ou são trazidas
-
ta para colocar o indivíduo em contato com o próprio saber não aproveitado.
Para Joel Bergman (1988) as metáforas são muito ricas, impactantes e tri-
dimensionais. Contém uma descrição visual, a qual se associam mensagens e
certas emoções. Quando quem as usa é um terapeuta experiente seu impacto
é forte. As metáforas estão vinculadas às emoções e podem ser consideradas
um fenômeno do hemisfério cerebral direito. Sua metáfora da orquestra:
forma mais leve. A metáfora da orquestra, foi tomando formas distintas com dife-
-
cio contínuo de calibração no relacionamento interpessoal. Mesmo um maestro
Milton Erickson ( in Rosen ,1986), famoso por suas técnicas não convencio-
nais de terapia, destacava seu respeito e fé na capacidade de cada ser humano
de encontrar dentro de si as respostas para seus dilemas. Enfatizou o papel das
metáforas na comunicação e na experiência humana. Personalizou metáforas a
partir da história pessoal de cada cliente, visando colocar o indivíduo em contato
com o próprio saber, colocando ênfase no positivo. Desta forma, entendia que
era mais provável que o individuo incorporasse à sua conduta esses conheci-
mentos esquecidos, trazendo como resultado a incorporação de comportamen-
tos mais construtivos e auto fortalecedores. Os métodos terapêuticos de Erick-
son revelam resultados com aparências mágicas, despertando incredibilidade
livro A arte de ser (in)feliz - sempre pode piorar (1984) Watzlawick nos presenteia
com histórias metafóricas que enfatizam a repetição de um mesmo padrão, que
colabora na arte de ser infeliz. Utilizo muitas vezes algumas de suas histórias, no
sentido de que
como organizam suas histórias de vida em torno desses fatos ( White & Epston,
1993). Com perguntas metafóricas como
-
mas diversas de acordo com sua sobreposição à experiência de vida de cada in-
divíduo. Podem se embasar no tema do cliente, em seu , seu conhecimento,
-
são muitas vezes relatadas de forma anônima, pois geralmente não tem um au-
tor único a ser citado. São construções que se transformam, como se tivessem
vida própria, em vários níveis, em diferentes tempos e em diferentes contextos.
gar, mesmo quando soube que havia terminado a guerra. Tinha medo de ser mor
to pelos inimigos ou punido por seus superiores por deserção. Assim, aquilo que o
Ela ilustra como algo pode ser extremamente
útil em um momento da vida, porém em outro, pode nos impedir de viver.
Outro exemplo da vida real que demonstra a força da comunicação metafó-
Mim (2006). Sidney sempre foi muito ansioso e sonhava com o dia em que seria
conhecido em todo o mundo. Desesperado ao se imaginar fracassando como
escritor, decidiu se suicidar e relatou que foi surpreendido e interrompido por seu
pai na execução de seu plano. Seu pai fez inúmeras tentativas infrutíferas para
demovê-lo de sua determinação suicida, sem sucesso, até que, resignado disse
ciona os melhores pontos de cada lugar para visitar. Fiquei com uma curiosidade!
de cada viagem, logicamente não sou bobo e não vou incluir na minha visita o
.
Realidade 2: O contexto conjugal e o contexto terapêutico: Nas sessões de
terapia de casal, observa-se um padrão que foca nos defeitos e falhas da es-
posa. Tem uma visão que amplia seus pontos negativos e não reconhece seus
aspectos positivos. Este processo em sua vida conjugal não é percebido pelo
cliente, o qual se encontra defensivo, não vê muitas perspectivas de recuperar a
qualidade da vida conjugal, julga sua esposa salientando seus pontos negativos,
coloca muito rótulos sobre a mesma e coloca toda a expectativa da terapia em
uma mudança de comportamento dela, o que julga pouco provável. Não se dá
-
to conjugal, diferentemente do contexto de turismo, este processo de percepção
seletiva do negativo da esposa não é intencional nem consciente. Ele parte da
premissa que se encontra impotente e que só “reage” a chatice dela. A esposa
por sua vez, procura se defender, dando longas explicações, trazendo a tona
mágoas antigas, o que reforça a visão dele da “chatice dela”, e assim a defesa
de cada um faz com que o outro se sinta atacado, aumentando a escalada simé-
trica, e a tentativa de solução que agrava o problema.
O terapeuta pode tentar mostrar essa leitura via hemisfério cerebral esquer-
do, na seguinte linha de intervenção:
. Ele respondeu:
Ao que respondi:
e útil para outros clientes. É aqui que desejo chamar a atenção dos leitores para
algo importante. Em que teria sido diferente se eu dissesse a ele:
uma gargalhada, uma sacudida de cabeça, pode indicar que novas perspectivas
-
táforas é determinante para desbloquear uma situação que parece estancada.
Existe o risco do terapeuta que está aprendendo a usar intervenções metafó-
cansativa. Pode ser percebida como trivial e tornar-se irritante para a família ou
seu lado, quando chega um homem ansioso e diz ao padre que precisa muito
era importante.
Estas piadas são bastante úteis no inicio do processo terapêutico. Costu-
mam alterar o quebrar o discurso de julgamento ou de competição dos clien-
tes, possibilitando um diálogo mais efetivo que abre para novas alternativas de
relação. É de fundamental importância a detecção das premissas dos clientes
que os impedem de ter novas óticas sobre seus problemas. Muito importante
também é o terapeuta ter consciência das suas premissas a respeito do caso
em que se encontra envolvido e das conexões e justaposições entre a ótica da
realidade do cliente e do terapeuta, e a metáfora a ser utilizada e co-construída
na relação.
Podemos utilizar várias metáforas em um mesmo caso, integrando ou su-
perpondo vários destes elementos e intercalando com outras formas de comu-
nicação e recursos do repertório do terapeuta, independentemente de sua abor-
dagem teórica.
trás da máscara
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ção e resolução de problemas. Editora Cultrix: São Paulo
[email protected]
[email protected]
Enviado em 27/02/2018
1ª revisão em 08/03/2018
2ª revisão em 11/03/2018
Aceito em 15/03/2018
Resumo
pitais; e construção da vida nova. Concluímos que pais que participam do parto
Introdução
oxitocina sintética; deixar a gestante em nada por via oral; abusivo controle ex-
Resultados e Discussão
-
terística comum, assim como a preocupação com saúde, meio-ambiente e quali-
dade de vida, tendendo a pautar no anticonsumo seus hábitos de vida. A postura
contracultural se revelou nas suas ideias, seus modos de viver e suas escolhas,
forma coadjuvante naquela história, mesmo tendo doula, tendo pediatra, enfer-
meira, eu era um participante ativo” (Participante 2, 06 de janeiro de 2015).
A autonomia só é possível quando é embasada no conhecimento (Clotet,
2006). Os entrevistados revelaram interesse movido pela corresponsabilidade
no parto. Assessorados, formaram consensos com as mulheres, praticando o
Consentimento Informado, dispositivo ético que garante autonomia.
Esses homens revelaram ter renunciado ao modelo convencional, que pres-
cinde da presença do pai no parto. “No dia que ... era iminente a função do parto,
eu já pedi folga no meu trabalho, um dia antes” (Participante 02, 06 de janeiro
de 2015).
A Lei do Acompanhante obriga hospitais aceitarem um (1) acompanhante
no pré-parto, parto e pós-parto imediato. A Licença Paternidade (Brasil, 1988) dá
direito ao pai de afastar-se por cinco (5) dias úteis, contados a partir da data do
mantidos para além dos preceitos e do tempo previstos nas leis, tanto antes
como depois do parto. Alguns permaneceram desempregados, por até um ano,
-
tido. Essa situação coaduna com a visão biopsicossocial do Humanizasus, na
Conhecimento
de 2015).
Antes da Lei Federal do Acompanhante (Brasil, 2005), raros obstetras, nor-
-
-
ticipação em grupos virtuais e presenciais. Foram unânimes revelando que seu
conhecimento adveio de suas próprias pesquisas.
A J é pesquisadora, mestre, doutora, gosta de pesquisar, eu também ...
fui pegando outros materiais, mais referências, eu adoro pegar referências
que são antagônicas, ler as duas, ver o que cada um tem a dizer. Eu con-
versei com outros médicos. Eu escutei todo tipo de coisa (Participante 6, 09
de janeiro de 2015).
Fiquei com ela, bem pertinho, eu estava do ladinho dela, (choro) foi
bastante emocionante. Daí, me chamaram pra cortar o cordão ... eu só vi o
bebê e o cordão em si. Eu não vi o sexo na hora, eu só vi o sexo quando ...
trabalhos de parto, até que os casais decidissem pelas suas presenças. O espa-
ço dado às famílias de origem foi limitado às salas de espera ou, somente após
o nascimento do bebê, no aconchego do lar. “Outra coisa que a gente fez foi se
isolar. A gente preferiu não contar nada pra ninguém. A gente se fechou em casa”
(Participante 8, 12 de janeiro de 2015).
A humanização do parto dá relevo ao resguardo da intimidade da gestante
para facilitar a evolução do trabalho de parto (Odent, 2002). A gestante perce-
bendo-se fora do olhar observador do(s) outro(s) estaria mais propensa a liberar
a atividade de regiões primitivas do cérebro, importantes na evolução do parto.
O resguardo, como a redução da luminosidade no ambiente, corrobora para a
isenção da crítica e o relaxamento.
Os trabalhos de parto foram descritos como um caminho percorrido juntos
-
tos, pegavam no sono juntos nos intervalos entre as contrações, conversavam,
comiam juntos, serviram de apoio quando elas sentiam vontade de pendurar-se
em algo, acompanhando-se na busca das posições mais confortáveis, na cama,
num banquinho, no chão, no chuveiro, ou na banheira.
Eu acompanhei tudo o tempo todo, dentro e fora da banheira, fazia
fotos, nos divertimos bastante, a gente só não transou, a gente cogitou essa
possibilidade, porque a gente já sabia que isso ajuda, mas não rolou, porque
ela sentia muita dor. Foram quatro dias de trabalho de parto, que a gente
quase nem dormiu. A gente dormia nos intervalos entre as contrações. A
gente fez de tudo ... foi muito bom, muito divertido, fora a dor ... a gente
comprou bastante frutas pra ter ali à vontade (Participante 8, 12 de janeiro
de 2015).
massagens, dei o meu apoio, mas a doula tem uma mão ... fazia umas mas-
Eu achei muito bonito, porque ela dava apoio psicológico, também. Eu junto,
fazia o que me pediam (Participante 6, 09 de janeiro de 2015).
experiente que dá apoio físico e emocional à gestante (Jones, 2012). Ela orienta
o acompanhante, também, para uma participação efetiva.
Os planos de parto continham a solicitação de uma rede de apoio, além dos
noite, num domingo chuvoso, ligamos para os nossos amigos com quem já
estava combinado, e fomos para o hospital ... o meu compadre foi fazer a
uma coisa genuína do ser humano como é o nascimento, todo mundo corre,
o homem não quer assistir, a mulher não quer sentir dor, o médico não quer
não sei o que, eu não vou fazer nada na minha vida que chegue perto disso
(Participante 4, 08 de janeiro de 2015).
-
recem ter sido realizados com esmero, portanto a conjuntivite química referida
poderia ter sido evitada.
As equipes dos hospitais não apresentaram atitude respeitosa que o parto
exige, mesmo tendo passado por capacitação. A função dos pais acompanhan-
tes parece ter sido a principal proteção para o parto humanizado que os casais
haviam planejado.
-
sair, isso não é teatro, não é show’ ... eu não sei quem é a pessoa, nunca vi
na vida (Participante 4, 08 de janeiro de 2015).
-
va um trabalho de parto que prosseguiu além de diversas passagens de plantão.
Trocou a equipe, e a gente já sabia que a equipe da manhã não era
favorável ao parto humanizado. Quando o médico novo entrou, a primeira
coisa que ele fez foi pedir pra ela deitar na maca. Logo que ela deitou, ela
maca. A L pediu a banqueta, que não estava mais ali, estava em outra sala,
e uma enfermeira foi buscar. Quando eu engrossei com o médico, apareceu
acho que eles nunca tinham usado aquela banqueta, porque a enfermeira
trouxe a banqueta e botou em cima da maca. A gente que botou a banqueta
aqui, olha pra mim, não te preocupa, respira’ ... isso fez ela conseguir ir até
Digamos que entrou por um ouvido e saiu pelo outro” (Participante 10, 20 de
janeiro de 2015).
Informações desencontradas subtraíram tranquilidade. A saúde do espaço
psíquico intersubjetivo desses casais parece ter sido capaz de superar essas
desorientações, preservando o campo psíquico para o inusitado, concentrado
Vida Nova
Com sete anos de casamento ... a gente se separou, não tinha mais
nada com ela, fui morar com outra pessoa, ela teve outro namorado. Oito
meses depois a gente reatou o namoro, ela teria que me aceitar do jeito que
eu sou, eu teria que aceitá-la do jeito que ela é. Hoje nós somos uma família
completa, muito mais feliz agora (Participante 9, 16 de janeiro de 2015).
com mais segurança onde eu precisar ir. Me dei conta que eu não tenho
insegurança mais, eu sou pai, eu não sou mais criança (Participante 4, 08
de janeiro de 2015).
-
lhos recém-nascidos, como e com suas mulheres, recuperando a atividade se-
xual num ritmo equalizado. Reconhecerem-se menos instintuais passou a ser a
experiência emocionante (Becker, 2010).
tem servido para satisfação geral. Esta pesquisa registra o testemunho de doze
na ciência, como falou Fritjof Capra, desde a primeira edição, em 1975, de “Tao
da Física”. O pensamento sistêmico é inclusivo, apreendendo todo conhecimento.
É impossível cingir o parto e a participação do pai no parto a teorias. O parto é
um dos eventos humanos, nascimento e morte, mais misteriosos. Incursões cien-
Diniz, S. G. & Chacham, A. S. (2006). O “corte por cima” e o “corte por baixo”: o
abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo. Questões de saúde repro-
dutiva, 1(1), 80-91.
Florianópolis.
Turkenicz, A. (2012).
mília ocidental. Porto Alegre: Ed. Juruá.
Enviado em 22/02/2018
1ª revisão em 07/05/2018
2ª revisão em 20/06/2018
Aceito em 20/06/2018
Resumo
Recursos para a atuação neste campo tem sido uma importante temática entre
Abstract
Keywords:
Introdução
Esse artigo não trata de normatizar o uso da coterapia e sim de incentivar o seu
uso regular nas práticas com famílias e em especial com casais, visto a qualidade
do atendimento que essa parceria tem proporcionado na prática clínica da autora.
Como bem coloca Osório e Valle (2009), a tarefa inicial de um terapeuta de
casal ou família é de auscultar corações. O termo tem origem na conduta médica
e refere-se a escutar os sons internos, com o uso do estetoscópio, neste caso
chamado de recurso ou instrumento. Atrevo-me a metaforicamente dizer que a
Rudolph Dreikurs (in Neill & Kniskern, 1990) acreditava que esta nova forma
livre para ser uma pessoa e não apenas um símbolo” (Neill & Kniskern, 1990, p.
145).
-
dologia bastante vantajosa. A coterapia, transforma qualitativamente o relaciona-
mento característico da terapia bilateral em um grupo triangular ou multipessoal,
que segundo Whitaker (In Neill & Kniskern, 1990) possuem características muito
diferentes da reservada e altamente simbólica qualidade do relacionamento um
-para-um. O triângulo é também a possibilidade da mediação, em que o media-
dor pode ser tanto um dos terapeutas, quanto o paciente. “Ter um paciente resol-
vendo as discrepâncias entre os dois terapeutas ou ter um terapeuta mediando
na dolorosa batalha entre você e o paciente é uma experiência muito rica que
estimula o crescimento” (p.148).
Segundo Stom e Sponti (2006), a coterapia oferece ferramentas cruciais
para os usuários, terapeutas e sistema terapêutico como um todo. Acreditam que
através dela a família poderá ter uma modelagem com que confrontar, fazendo
com que a dupla possa ser um espelho para a família. Para os coterapeutas, tal
trabalho permite um confronto emocional com um maior sentimento de pertença
um jogo emocional que de outra forma não seria possível. Além disso, permite a
ampliação das potencialidades, valoriza as diferenças, a participação e a corres-
ponsabilidade (Fernández, 1996, p.14).
A coterapia favorece também a saída nos casos de impasse terapêutico. “
O impasse terapêutico é uma paralização do processo de consecução de um
objetivo terapêutico” (Neill & Kniskern, 1990, p.54). Em geral, quando há uma
situação de impasse, existe uma deterioração do relacionamento terapeuta e
paciente, caracterizado pelo retraimento emocional em suas variadas formas:
discussão intelectual, ênfase em sintomatologia, interesse pela vida real e seus
problemas ou períodos de silêncio fútil; demandando mais orientação direta do
terapeuta (Neill & Kniskern, 1990, p.53). A terceira parte do triângulo contribui
para diluir a pressão e dividir as responsabilidades.
Os pontos cegos do terapeuta e seus aspectos patológicos podem ser equi-
librados na presença de outro terapeuta. Ele pode inclusive, segundo Fernándes
(1996), se permitir a usar de si mesmo e de sua subjetividade em maior medida,
já que conta com o respaldo de um modo diferente de “realidade”. A implicação
existencial do terapeuta pode ser maior quando se trabalha em coterapia. (p.98).
Os terapeutas podem ainda: trocar entre si hipóteses sobre o caso, expres-
-
entre outros. Whitaker (1988, In Fernández, 1996) lembra que os terapeutas não
são seres assexuados mesmo que queiram parecer como, o que chama de “an-
Cormier e Cormier (1991) que destacam a relevância das vivências sexuais do te-
rapeuta em relação à sua identidade sexual como um fator de relação terapêutica
As vantagens da coterapia são notórias, mas como toda escolha traz con-
sigo renúncias. É adequado reconhecer as desvantagens deste recurso. Dividir
o espaço terapêutico pode gerar sentimentos de deslocamento e lutas pela lide-
rança do processo. Essas lutas podem se apresentar de diferentes formas, como
cita Fernández (1996): os terapeutas podem competir pelo título de “melhor te-
rapeuta familiar” ou de “o mais bondoso”. Eventualmente a competição pode
Discussão
Nossa prática tem uma dinâmica de igualdade de poderes, ou seja, uma não
é subordinada à outra e trabalhamos com total liberdade de ação, visto que os
anos de prática conjunta nos tornou bastante complementares e sensíveis uma à
outra. Acredito que um requisito para que a dupla funcionasse de forma funcional
Bergman, J. (1996)
breve. Porto Alegre: Artes Médicas.
Carvalhal, P. N. M. & Silva, C. P.F. (2011). Terapia Familiar Sistémica: uma breve
introdução ao tema, 2011. . Retirado
Enviado em 18/09/2017
1ª revisão em 07/02/2018
2ª revisão em 14/02/2018
Aceito em 15/03/2018
Resumo
Observamos que a rede é movimento e, nós seres humanos, somos seus repre
E-mail: [email protected]
³ Psicóloga e Professora; Especialista em Psicologia Clínica e em Terapia Sistêmica, individual, conjugal
e familiar pelo Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (CEFI); Aperfeiçoamento Especializado
em Terapias Comportamentais Contextuais de Terceira Geração, pelo Centro de Estudos da Família
e do Indivíduo (CEFI e Centro Integral de Terapias Contextuales (CIPCO). É psicóloga da Secretaria
da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, atuando na Coordenação do Programa de Residência
Dermatologia Sanitária.
Keywords:
para um fazer devidamente comprometido com o seu papel. Essa temática é im-
portante de ser discutida para pensarmos o bom funcionamento do trabalho em
rede, desde a acolhida do sujeito que busca esses locais até a melhor resolução
da demanda apresentada.
Questionamentos... Problematizações.... É necessário trazer presente essas
questões, pensando no compromisso social das práticas dos/as psicólogos/as, que
nas palavras de Guazina (2014, p. 6), quando traz que “falar de uma prática com-
que vivemos e que busca a transformação da vida”. Nesse sentido, para o desen-
volvimento de um trabalho compromissado, responsável e ético, o autor supracitado
-
cas comprometidas com a transformação social, em direção a uma ética voltada à
emancipação humana, à defesa da democracia e das politicas públicas como ele-
mentos centrais para a melhoria da qualidade de vida da população, à participação
levar em conta “os subsídios desse novo enfoque, que corresponde ao que de-
nominamos padrão de retroalimentação (ou ), que questiona o determi-
nismo cartesiano calcado no lógica da causa e efeito” (p.9).
Praticamente, ao mesmo tempo do desenvolvimento do trabalho do Berta-
lanffy, o estadunidense Wiener (1894-1964) lançou o livro: Cibernética (1948).
Fruto de estudos da interdisciplinaridade entre a matemática, antropologia, psi-
cologia, neurologia, física, biologia, etc. Ele nos diz que cibernética é uma ci-
ência que trata dos processos de comunicação (transferência de informação) e
controle dos sistemas vivos e não vivos (máquinas), a partir dos quais se elabo-
3 Biólogo Austríaco, autor da Teoria Geral dos Sistemas e unanimamente reconhecido como um dos
teóricos pioneiros dos sistemas.(CRUZ, 2000).
4 : característica dos sistemas abertos que absorvem inputs do meio e mudam sua
organização; autotransformam-se. A família tem um grande potencial de mudança seja em sua es-
diferente da anterior.
sistema pelos terapeutas depende do foco de atenção dado por ele ao atendi-
mento, bem como do que acredita ser o problema e do modo como ele e a família
pretendem agir. O importante é saber que todas as escolas de terapia sistêmica,
a soma das partes. Desta forma, o terapeuta nesta abordagem precisa compre-
ender a circularidade, ou seja, que uma observação, um acontecimento não tem
uma única causa, assim como uma causa tem vários efeitos (Cerveni & Berthoud
2002, apud, Baptista & Teodoro, 2012).
Então, não basta só entender a família como um sistema, é preciso apren-
der a pensar sistemicamente, na medida em que os questionamentos de in-
Ainda o mesmo autor ressalta que: “vejo a família como um mosaico – um que-
2. Redes sociais
Para Sluzki (1997), o conceito de redes sociais foi desenvolvido de forma
acumulativa, porém não sequencial por um grupo de autores. Nesse sentido,
ele traz alguns desses autores, tais como: Lewin (1952) quando trouxe sobre
“as variáveis centradas nas relações sociais informais” (p.40); Jacob L. 1) que
a unidade básica, entre outros segmentos não supre e, assim os direciona para
o Serviço Escola da Universidade.
Para esse estudo, como já salientado, escolhemos uma parte de um caso,
dos tantos que chegam para o atendimento. Dessa forma, ressaltamos o quanto
a rede são as pessoas que trabalham nesses locais fazendo o que é necessário
para atender a demanda que se apresenta.
-
cola para sua mãe, uma senhora idosa. Ela percebeu a necessidade da mãe em
pais idosos vem crescendo muito. As pessoas vivem num ritmo de vida cada
vez mais acelerado, impulsionadas pelo imediatismo, “corre-corre diário”, pro-
acadêmicos.
No primeiro momento vimos que seria difícil fazer os atendimentos, pois
a estagiária não tinha carro para se deslocar até a residência de D. Lala para
realizar os encontros. No entanto, nos reunimos para pensar uma possibilidade,
a estagiária disse ser acostumada a andar várias quadras todos os dias e se
cuidamos dos estagiários para que não corram riscos, isso é vivenciado com
responsabilidade e ética.
Percebemos o quão intenso é o comprometimento de toda equipe de tra-
balho, do Serviço Escola do Curso de psicologia com as pessoas, que buscam
ajuda messe local. Promovem que a pessoa seja acolhida em sua dor, assim
percebemos o funcionamento da rede de atendimento como sendo um dos “nós”
dessa rede, sendo assim somos vivos e estar vivo é estar em constante movi-
mento, é ser em processo.
Nesse contexto, partilhamos com Freire (1998), a opinião de que estar no
por completo.
Minha presença no mundo, com o mundo e com os outros implica o
meu conhecimento inteiro de mim mesmo. E quanto melhor me conheça
nesta inteireza tanto mais possibilidade terei de, fazendo História, me saber
sendo por ela refeito. E, por que fazendo História e por ela sendo feito, como
ser no mundo e com o mundo, a “leitura” de meu corpo como a de qualquer
outro humano implica a leitura do espaço (Freire, 1998, p. 72-73).
a busca pelo bem da sociedade e o sinal que o mercado envia. Esse panorama
provoca a necessidade de inovações5 criativas e o desenvolvimento de estraté-
gias em que o assunto predominante tenha como foco a criação e vivências de
relacionamentos com responsabilidade mútua entre as pessoas, numa convi-
vência de respeito a si e ao outro.
A terapia de apoio realizada objetivou fortalecer D. Lala e proporcionar que
ela possa, sempre que possível, se inserir em atividades que lhe são prazerosas.
5
fundamentada, num claro movimento de procura de mudança pedagógica e epistemológica” (FORS-
TER et al., 2006, p. 53).
O trabalho com esta senhora exigiu estar disponível, que em pequenos gestos
e crescimento mútuo.
Segundo Neri (2014), não é possível negar, que na velhice ocorre uma di-
-
tam dessa rede. A mesma favorece para que se fortaleçam, e saibam que são
amados, cuidados e valorizados. E também para que se sintam mais seguros,
e, em caso de doença ou algum tipo de incapacidade tenham a quem recorrer,
ou seja, recebam apoio afetivo, ou material. Nesta fase, ainda segundo este
mesmo autor, ocorre uma “redução adaptativa na intensidade e na variedade
das expressões emocionais”, o que favorece a lidar com as perdas e a utilizar
da melhor forma suas capacidades. “A regulação emocional, ou equilíbrio entre
afetos positivos e negativos, é muito melhor na velhice do que na juventude. Nos
velhos existem mais afetos positivos, embora a expressão deles seja menos
variada e intensa” (p.103).
(1990, p.9). O que demonstramos com isso é que precisamos manter a postura
mire e veja que o mais importante e bonito do mundo é isto, que as pessoas não
estão sempre iguais, não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando”
(Rosa, 2001, p.39).
Assim, o trabalho em rede se torna efetivo, na medida em que o mudar seja
compreendido com o avanço em um fazer, o fazer das pessoas que representam
a rede, ou seja, as que trabalham nas redes de atendimento a população. No en-
tanto esse fazer precisa ser comprometido, ético e responsável pela promoção
da vida saudável.
Resumo
Dur
como um conceito muito mais amplo na busca do sentido da vida, e sendo a terapia
Keywords:
Introdução
destes, a sua saída de casa, e a família em seu estado tardio (McGoldrick &
nos diversos estágios com mais tranquilidade, a família transcorre na paz e sem
família, muitas vezes ela pode precisar de uma ajuda maior para lidar com os
-
tante, e aliado a este a busca de outras fontes de apoio (como a espiritualidade)
pode ser uma grande fonte de resiliência e superação (Walsh, 1999).
Este artigo tem como objetivo demonstrar como a vivência da espirituali-
dade aliada à terapia familiar pode ser um excelente recurso para fortalecer as
-
samos prestar atenção às crenças e às práticas espirituais de nossos clientes,
se quisermos assisti-los em seu processo de crescimento e cura. A autora vê a
psicoterapia como uma experiência espiritual profunda, tanto para o terapeuta
como para o cliente.
Religião (Walsh,1999) seria um conjunto organizado de crenças, que in-
clui valores morais compartilhados e geralmente institucionalizados, crenças
em Deus ou numa força superior, e um envolvimento numa comunidade de fé,
oferecendo normas para se viver valores individuais e familiares baseados em
ideologias comuns. A espiritualidade, por sua vez, pode ser vivenciada dentro ou
fora de uma comunidade religiosa e seria algo mais amplo e interno, ou seja, diz
respeito a um investimento interior ativo num conjunto de valores. É um convite
à expansão da consciência, ao lado da responsabilidade sobre si e os outros,
sobre questões pessoais, locais ou até globais. Em resumo, Walsh diria que a re-
ligião é algo extrínseco, um conjunto organizado de sistema de fé, enquanto que
a espiritualidade diz respeito a formas mais intrínsecas de crenças e práticas.
A religiosidade, por sua vez, seria a forma como a pessoa manifesta a sua
crença em algo superior. Ela pode ser intrínseca (algo de dentro para fora) ou
extrínseca (de fora para dentro); pode vir acompanhada de uma prática conven-
cional (fazer parte de uma igreja, templo religioso ou comunidade) ou não (fazer
-
pliado para a vida, engloba algo muito maior, onde pode ou não existir uma reli-
gião vinculada, e onde está implícita uma religiosidade na busca deste sentido.
Trata-se de uma vivência interior, pessoal e intransferível para cada um.
Estes termos estão também vinculados a um outro, a fé, que seria algo mais
subjetivo, tendo em vista que é uma crença pessoal, intransferível, uma certeza
implícita de que devemos fazer a nossa parte na construção de nossos destinos,
mas que há leis maiores que regem o universo e a vida dos seres que o habitam.
espiritual pode ser feita com todos os pacientes e suas famílias, independente
soluções. Assim como várias outras práticas clínicas, ela vem evoluindo e a sua
contribuição é de extrema importância.
Surgida nos anos 1950, a terapia familiar vem alargando as suas teorias
e práticas, enquadrando diversos saberes na busca de auxiliar as famílias e
-
pessoais. As várias escolas de terapia familiar, tais como estrutural, estratégica,
psicodinâmica, construtivista, construcionista social, colaborativa, processos re-
haja uma abertura maior para o diálogo e o entendimento de todos. Ter um facili-
tador desta conversa, um terapeuta que escuta e traduz para os membros fami-
liares o que ouve, faz com que os ruídos sejam minimizados e que todos possam
entender e ser entendidos num ambiente de respeito e harmonia.
em comparação com aqueles que não o têm (Panzine & Bandeira, 2007).
A busca do sentido da vida, razão maior da busca pela espiritualidade, é
uma jornada única para cada pessoa e precisa ser trilhada individualmente. No
entanto, é na relação com o outro que este crescimento acontece, que as res-
postas surgem e que o sentido da vida como um todo é desenvolvida.
Sendo assim, e sendo a família o melhor e maior laboratório social que
temos, podemos dizer que é nela onde primeiro buscamos o sentido da vida
formado em nome de um sentimento maior chamado amor, como é que tudo isso
hoje acontece com estes casais e famílias e quais os motivos de tudo isso? Como
as histórias de amor se transformaram em disputas de poder e como se explicam
todo muito maior, que somos regidos por uma força superior, e que esta força
nos impulsiona para nossa evolução e para o crescimento de todos dentro de
uma mesma família.
Não se trata de ter uma visão cega e acomodada da vida, onde tudo é oca-
sionado por algo externo e que Deus (ou seja lá o nome que dermos a esta força
maior) é o principal causador e responsável pelas nossas vidas. É preciso ter
uma fé raciocinada, que nos faça questionar e nos leve a patamares evolutivos
mais altos
olhar para a sua coparticipação nos problemas e seguir adiante com vistas no
futuro.
Encorajar a religiosidade nos pacientes, para aqueles que permitem este
não mais são antagônicos, mas podem conviver num ambiente de harmonia e
respeito, assim como a proposta que temos de vivência em família.
Borneman, T., Ferrell, B., & Puchalski, C. (2010). Evaluation of the FICA tool for
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Freire, L. (2013). . Recife: Libertas.
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nhecer e integrar a espiritualidade no cuidado com nossos pacientes. Revista
, 105-109.
[email protected]
[email protected]
Enviado em 19/02/2018
1ª revisão em 08/03/2018
2ª revisão em 11/03/2018
3ª revisão em 06/04/2018
Aceito em 06/04/2018
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de Terapia Familiar – ABRATEF, que visa a divulgação de artigos inéditos refe-
rentes à área de família.
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pesquisa e casos clínicos, artigos de revisão e/ou atualização, resenhas e ou-
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-
mentação do artigo e que estão citadas no texto.
Artigos que seguem as normas da APA de Biblio-
1. Livros
Anton, I. L. C. (1998).
e psicodinâmico. Porto Alegre: Artmed.
2. Capítulo de livro
Hintz, H. C. (2002). O papel da família. In G. Pulcherio, C. Bicca & F. A.
Silva (Orgs.).
cisa saber (pp. 39-43). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Levin, H. (2008). Uma cabeça e muitos chapéus. In S. Minuchin, W. Lee, & G. M.
Simon, (2ª ed., pp. 153-168). Porto Alegre: Artmed.
Halpern, S. C. (1994).
in Brazil. Dissertação de mestrado não publicado. Mestrado em Educação
Especial. Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, N. C. USA.
Wlochick, S. A., West, S. G., Sandler, I. N., Tein, J., Coatsworth, D., Len-
gua,L., et al. (2000). An experimental evaluation of theory-based mother and
mother-child programs for children of divorce.
843-856.
Depois do nome e da inicial do sexto autor, use “et al.” para indicar os auto-
res restantes do artigo.
No texto, cada vez que a obra for citada use a seguinte chamada de citação
entre parênteses para seis ou mais autores (incluindo o primeiro): (Wolchik et
al., 2000).
)
Correa, J. & MacLean, M. (1999). Era uma vez... um vilão chamado
-
ca. , 173-194. Retirado em 02/10/2000, do
http://www.scielo.br/prc
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dos pelas letras do alfabeto em maiúsculas (A, B, C, e assim por diante).
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