Peticao - Antonio Calumby Filho

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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA MMa VARA CÍVEL E COMERCIAL


DA COMARCA DE IPIAÚ –BA

Proc. 000999-07.2006.8.05.0105

Prestação de Contas

ANTÔNIO CALUMBY FILHO, já qualificado nos


autos da ação em epígrafe que lhe move o ESPÓLIO DE ANTÔNIO
CALUMBY, por meio do seu advogado substabelecido sem reserva,
conforme documento em anexo, tendo em vista o teor da certidão de fl. 84 e
petição de fls. 85/87, vem, respeitosamente, informar e requerer o quanto
segue:

I – BREVE RESUMO

Determinada a intimação das partes na pessoa


dos seus respectivos patronos para “ciência” do teor da sentença prolatada
no dia 15.08.2007 (fls. 62/64), somente o advogado do Autor (Dr. Airton
Valente Júnior) recebeu a correspondência via Correios em 24.09.2007, (fl.
67).

Para suprir tal deficiência, o Autor reiterou por


duas vezes o mesmo pedido no sentido de expedir o mandado, visando o
regular prosseguimento do feito (fls. 74 e 78), sendo esta última datada de
14.02.2012.

No r. despacho de fls. 81, na vacatio legis do


Código de Processo Civil 2015, o juízo intimou o Autor a dizer sobre o
interesse no prosseguimento do feito, no prazo de 05 dias, sob pena de
extinção sem resolução do mérito, abaixo reproduzido, Fls. 81:
O teor do referido despacho, mantendo-se os
seus termos, saiu publicado do diário oficial (fl. 82):

Fls. 82

Contudo, somente no dia 28/04/21, o espólio se


manifestou nos autos em termos de prosseguimento via petição e
documentos (fls. 85/89), cujos pedidos são:
a) A habilitação do causídico que a essa assina para que
possa acompanhar os atos do processo.
b)A determinação de publicação da sentença e/ou
intimação do requerido, na pessoa de seu advogado, para que compra com o mandamento do
decisum.
c) A fixação de multa diária para o descumprimento da
ordem judicial, visto a importância da informação para o deslinde do inventário

A cada um dos temas acima elencados, o


Demandado irá se manifestar individualmente, além de outras
considerações pertinentes necessárias ao feito, senão vejamos.

II - A HABILITAÇÃO DO CAUSÍDICO

O Demandado toma “ciência” do inteiro teor da r.


sentença prolatada nos autos, (fls. 62/64), cuja contagem de prazo é partir
do “conhecimento” do advogado, e não apenas da publicação pela
imprensa oficial. Conforme aresto de lavra da Iminente Ministra do Superior
Tribunal de justiça Nancy Andrighi, (STJ-RECURSO ESPECIAL - CE
(1.710.498-CE 2017 /0293877-5).

Ao aplicar o entendimento supra ao caso concreto,


o Dr. Paulo César Silva e Silva Júnior (fl. 89) constituído nos autos do
Inventário1 substabeleceu, sem reservas, ao peticionante para atuar na
“Ação de Prestação de Contas” (fl. 88), sub examine, porém, desprovido
de poderes firmado pela Outorgante a esse fim.

Fls. 88

1
Proc. 0000215-11.1998.05.0105
Ao analisar os autos, o Demandado extraiu
algumas informações melhor elencadas no quadro abaixo, onde indica quais
são os representantes legais regularmente constituídos pelo Espólio, e em
nenhuma página dos autos constou o referido procurador:

Folhas Advogados Instrumento


08 e 33 (cópia) Airton Valente Júnior Procuração
e Daniela Gomes dos
Santos Silva
72 Marcos Prates Substabelecimento,
Alpoim Andrade com reservas
79 Ismar Nascimento Substabelecimento,
Júnior com reservas
88 Paulo César Silva e Nada consta
Silva Júnior

Forçoso, pois, concluir a impossibilidade de


“substabelecer” algo quando sequer possui poder originário a tanto, ou
seja, com a procuração específica para o ato desprovido de qualquer
hipótese de situações excepcionais a justificar essa conduta.

Não se trata de mera “irregularidade” passível de


saneamento previsto no atual códex, (art. 762, Caput, CPC), e sim de

2
Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o
juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício.
ATO inexistente em relação ao substabelecido, cujo vício é capaz de levar o feito a

extinção.

A parte, ao destituir os seus então advogados para


constituir outro, tem a obrigação processual de informar o juízo acerca da
modificação de sua representação processual, o que se daria pela juntada
aos autos do substabelecimento sem reserva de poderes, pugnando, nesse
caso, pela regularização a posteriori.

Nesse sentido, dispõe o art. 24 do Código de


Ética3, onde prevê a obrigação do advogado de comunicar o cliente sobre o
substabelecimento “sem reservas”.

Já no art. 5º, e parágrafos, do Estatuto do


Advogado (Lei 8.906/94)4, além de elencar em qual hipótese poderá atuar
sem procuração (“urgência”), estabelece o prazo e a forma pela qual o
patrono constituído deverá atuar na causa, demonstrando expressamente a
renúncia dos ex-patronos.

3
Art. 24 do Código de Ética do Advogado diz que o substabelecimento é ato pessoal do advogado da
causa, ou seja, apenas ele é que pode substabelecer, sem intervenção de mais ninguém. Além disso, se
ocorrer um substabelecimento sem reserva de poderes, o cliente deve ser avisado anteriormente de tal
decisão.
4
Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato. § 1º O advogado,
afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a apresentá-la no prazo de quinze dias,
prorrogável por igual período. § 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos
os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais. § 3º O advogado
que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a
representar o mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo.
No art. 45, do CPC5, dispõe sobre o prazo de 10
dias para o advogado substituído solicitar ao cliente a indicação de outro
profissional habilitado a prosseguir com a causa.

No presente feito não está comtemplado nenhuma


das previsões estatuídas na legislação vigente! Falta a prova da “urgência” e
da expressa “revogação” dos legítimos advogados regularmente constituídos
nos autos pela Inventariante anterior a estabanada, inoportuna e insipiente
petição de fls. 85/89, haja vista o “sono” profundo do Espólio em promover
o andamento regular do feito ao longo de anos a fio. Tal inércia põe a pá de
cal de qualquer sobre indícios da “urgência”.

E, como não poderia ser diferente, a inércia


paquidérmica trouxe prejuízos financeiros e patrimoniais não apenas ao
Demandado, mas principalmente ao próprio Espólio!

Oras, como pode o Espólio “credor” negligenciar a


solução rápida do processo, mesmo com plenos poderes de administração
não exercida de forma correta ao longo desses anos?

E isso se reflete, inclusive, na forma de ingresso


nos autos!

Concluindo o primeiro item, portanto, deve ser


reconhecida a ausência da capacidade postulatória do peticionante (fl. 88);
e, para todos o efeitos da intimação (fls. 81 e 82) publicado no diário oficial
(fl. 84), considerar válido somente aos legítimos advogados constituídos
pela Inventariante, cujos poderes não foram revogados na forma da lei.

Nessa linha, portanto, intimado da decisão de fls.


84, mesmo assim, o Espólio não cumpriu a determinação judicial

5
Art. 45. O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o
mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes,
o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para Ihe evitar prejuízo.
estampada, razão pela qual o feito deve ser extinto sem julgamento de
mérito.

B)A INTIMAÇÃO DO DEMANDADO

O Demandado apresenta nesta peça, a sua


representação processual com plenos poderes, visando a mais ampla e
integral defesa dos interesses do constituinte.

Resta discorrer sobre o pedido “C”.

C) A FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA PARA O DESCUMPRIMENTO DA


ORDEM JUDICIAL, VISTO A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO PARA O
DESLINDE DO INVENTÁRIO

O Demando não pode ser penalizado pela


flagrante inércia e omissão processual do titular do direito pela inércia ao
longo desses anos por culpa de quem deveria administrar e gerenciar os
bens da empresa e não fez!

O espólio, após obter a ordem de afastamento e


ser nomeado o “gestor da empresa”, praticamente “sentou” sobre essa
decisão no aguardo que todas as informações caíssem do céu ou, talvez,
brotassem da terra.

E isso é de fácil constatação por não comtemplar


nos autos nenhuma diligência inerente as buscas de documentos, pedidos
de informações contábeis, extratos bancários, enfim, nada que possa
auxiliar ao verdadeiro “deslinde da causa” ao longo desses 24 anos de
tramitação desta ação.

Sequer há provas da existência de qualquer


medida judicial interposta pelo Espólio visando a “liquidação” ou a
“extinção” da empresa, mesmo sabendo da imprescindibilidade destas
informações para a verdadeira “prestação de contas”.
Não pode ser renegado ao segundo plano a
existência de dívidas da empresa, a necessidade de outorgar escrituras a
quem de fato demonstrar o título de aquisição, dentre outras
especificidades, em especial a contabilidade da empresa! Nada foi feito.

Daí se questiona, se houvesse tais diligências e


agido com a mínima prudências à altura do cargo de “gestor judicial”, se a
dívida atualizada não seria mitigada?

Não pode ser atribuída nenhum responsabilidade


por “atos de gestão”, como se pretende, em desfavor de quem está afastado
do cargo de “administrador” há mais de 24 anos! Sendo que detém poderes
concedidos pelo juízo nesse mesmo período agiu com negligêcia!

Cumpre relembrar, o Demandado é sócio e detém


25% das cotas societária da empresa denominada “Loteadora e
Incorporadora Miramar Ltda”, e detinha plenos poderes de
administração, conforme ato constitutivo (fls. 09/12), porém está afastado
da gestão.

O espólio, por sua vez, ingressou com “Medida


Cautelar Inominada”6 , e deste feito saiu a ordem judicial que determinou a
“intervenção na administração” da referida empresa, bem como “proibiu o
Demandado, de praticar qualquer ato em nome da sociedade”.

Em ato contínuo, nomeou a Sra. “Daisy


Nascimento Nunes Calumby” (ex cônjuge do de cujus), em 15.10.1997, na
qualidade de gestora.

E o que foi feito até agora pela Sra. Daisy? Nada!

E pelo Espólio, idem.

6
Proc. 9.663/97 – Comarca de Ipiaú
E essa inércia, Excelência, ao longo de quase
“bodas de pratas” processual, sem empenho algum, concreto apenas
algumas singelas certidões nos autos, se espera do “gestor” judicial muito
mais além disso, há flagrante omissão, dolo que culminou com a perda do
objeto da causa!

É totalmente contraditório o pedido formulado


(incidência de multa) em desfavor do Demandado caso não apresente
documentos que cumpria o gestor realizar tais diligências.

Na verdade, a inventariante agiu com total desídia


e imprudência, logo, não pode permanecer no exercício dessa honrosa
função judicial e, notadamente, nem na qualidade de gestora da
empresa. Houve a quebra de confiança, há conflitos de interesses, agiu
com desídia e não deu o regular andamento da ação, e todos os fatos
apontados convergem as hipóteses de afastamento prevista no art. 622 do
CPC.

No que se refere aos “lotes dilapidados”, o


Demandado alienou apenas parcialmente os bens que compõe a sua quota
societária de 25% (vinte e cinco por cento) dos ativos da empresa; e,
parcialmente os lotes que compõe o seu quinhão hereditário de 20% (vinte
por cento), até mesmo para sobreviver pois é o único meio de sustento
próprio e familiar, bem diferente dos demais herdeiros .

Qualquer obtenção de documentos, diligências


noticiadas nos autos, o ônus e obrigação de tê-lo deve ser obtido pelo
Espólio por meio da gestora nomeada a este fim, no intuito de apurar
eventuais débitos e desvios noticiados pela vias contábeis, jamais no “grito”
ou no “olhômetro”, como se pretende.
II - DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE E ABANDONO DA CAUSA

A sentença declaratória de exigir as contas data de


15.08.2007, (fls. 62/64), ou seja, decorreram-se quase 14 (quatorze) anos
sem a vinda aos autos qualquer informação contábil ou documental, a cargo
da gestora judicial.

De outra banda, o Demandado está afastado da


administração da empresa desde 15.10.97, ou seja há mais de 23 (vinte e
três) anos, sem acesso algum a qualquer dado e informações (financeiras,
contábil, etc).

O fato de não realizar as diligências na época e no


prazo assinalado pelo juízo, o espólio atraiu para si a prescrição
intercorrente e o abandono da causa, ambos previstos nos art. 921,
parágrafo 2º, e art. 485, II, ambos do CPC, é o requerimento.

Se ainda não for este o entendimento de V.Exa,


ainda sim o valor pretendido pela parte jamais poderá ser aceito!

III - DA MITIGAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS PELA OMISSÃO DO


ESPÓLIO (Teoria do “duty to mitigate the loss”)

O Espólio poderia ter evitado os danos do qual se


insurge contra o Demando, com esforços razoáveis.

A cláusula geral da fé objetiva e a vedação ao


abuso do direito levam a conclusão de existir, de lege data, o ônus do
espólio, na qualidade de credor, mitigar os danos decorrentes do
inadimplemento, da omissão.

A reparação das perdas e danos, consiste no


chamado dever de mitigar (duty to mitigate), ou doutrina dos danos
evitáveis.
De acordo come essa norma, o credor, prejudicado
por um inadimplemento, não será indenizado pelas perdas e danos que
evitou ou poderia ter evitado com esforços razoáveis e apropriados às
circunstâncias.

Assim sendo, deve-se considerar a “suposição” de


que o Credor não pode ser indenizado caso pudesse ter evitado ou tomar
medidas razoáveis, ou seja, poderia ter tomado as medidas apropriadas
para tanto e não o fez.

No presente caso, temos o Demandado afastado


de qualquer gerência dos atos da empresa (desde sua remoção), e o espólio
exigindo documentos e provas sobre as operações realizadas, assim
melhor representado:

PARTES LOT. E INC. MIRAMAR DILIGÊNCIAS


DEMANDADO Afastado da gestão da Impossibilitado,
empresa desde Out/97 impedido.
Exige a apresentação
ESPÓLIO de documentos Apenas pedido de
(contábeis, financeiros) certidões do cartório de
referente aos imóveis.
loteamentos.

Caso o espólio houvesse diligenciado ao longo de


quase essa “bodas de pratas” , os danos apontados contra o Demandado
poderiam ter sido mitigados?

A resposta é positiva!

A eventual indenização, se houver, deve ser


limitado como se o espólio tivesse agido com prudência, ou seja, agindo
com zêlo que se espera de um “gestor judicial”. Não, se pode é quedar-se
inerte e permitir que os danos se acumulem e exigir a reparação dos
prejuízos a sua integralidade.

Os prejuízos ora alegados pelo Espólio certamente


poderiam ser evitados ou mitigados caso a conduta fosse outra, mas não é
o que aconteceu sendo assim, a causa do aumento de supostos prejuízo
está na negligência do Credor, e não no inadimplemento do Demandado,
ao menos em parte.

A norma de mitigação decorre do princípio da boa-


fé objetiva, prevista no artigo 422 do Código Civil vigente e presente de
forma implícita no direito anterior, e do dever anexo de cooperação que esta
impõe as partes.

Com base em tal conclusão, Fradera7 propôs que a


“III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal” adotasse um
enunciado que preveria a mitigação dos danos como consequência do artigo
422 e 403.

Com modificações em sua redação, a proposta foi


aprovada da seguinte forma:

Enunciado n° 169 – Art. 422: O princípio da boa-fé


objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento
do próprio prejuízo.

Concluiu-se igualmente que, de lege lata, o direito


brasileiro impõe ao credor o ônus de impedir que ocorram danos

7
FRADERA, Véra Maria Jacob de. Pode o credor ser instado a diminuir o próprio prejuízo? Revista
trimestralde direito civil, Rio de Janeiro, v. 19, p. 109-119, jul./set. 2004. p. 119; 116. Itálicos no
original.
razoavelmente evitáveis, sob pena de não ser indenizado por eles, com
fundamento na boa-fé objetiva e no abuso do direito.

Na norma atualmente prevista no artigo 478, que


contém um conceito indeterminado, deverá o Juiz recorrer a dados
extrínsecos ao ordenamento jurídico para determinar se aquele aumento
tornou a prestação excessivamente onerosa ou não.

Poderá para tanto valer-se da vagueza semântica


(“excessivamente onerosa”) está presente apenas na consideração dos
fatos que são o pressuposto de aplicação da norma.

De certo, esse Douto Magistrado, com a


sapiência ímpar e senso de justiça, irá reconhecer neste caso se as
exigências agora expostas nos autos decorrem ou não da omissão do
Credor e, consequentemente, tornou a prestação excessivamente
onerosa em desfavor do Demandado – por culpa do gestor judicial!

A boa-fé de conduta, impõe que o destinatário


da norma aja de forma consentânea com aquela socialmente esperada de
um homem probo. Determina a conduta leal, honesta e correta dadas as
circunstâncias do caso, porém, não é que ser observa nos autos. Daí, o
abuso do direito.

A doutrina, em geral, identifica que a teoria do


abuso do direito foi prevista normativamente pelo artigo 187 8 do Código
Civil brasileiro.

Ao impor ao credor o ônus de empregar esforços


razoáveis para minimizar os danos causados pelo inadimplemento, a boa-fé
objetiva deve ser vista em caráter defensivo, no intuito de impedir que o
credor adquira o direito à indenização pelos danos que poderia ter evitado.

8
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
Na aplicação da norma de mitigação, a boa-fé
não bloqueia apenas o exercício da pretensão pelo credor que não agiu
adequadamente; impede o surgimento do próprio direito à reparação
por aquela parcela do prejuízo9.

E isso deve ser aplicado ao caso sub examine.

O Demandado deveria todo o prejuízo, mas parte


dele não pode ser exigível por culpa do Espólio.

Na linguagem de Pontes de Miranda10, a eficácia


do direito do credor à indenização ficaria encoberta pela exceção de
mitigação.

Portanto, conclui-se que a mitigação tem a


natureza de norma de conduta que impõe ao credor um ônus e não um
dever, cuja inobservância da conduta prevista na norma acarreta para o
Espólio a consequência de impedir o surgimento do direito de ser
indenizado pelos danos que poderia ter evitado.

Não se trata de exceção, mas de defesa,


impugnação ou objeção à própria formação da relação jurídica
indenizatória ou, em outros termos, na própria criação do direito subjetivo
do credor à reparação dos danos evitáveis.

Pode-se, assim, formular a norma de mitigação


para aplicação no caso em tela direito brasileiro da seguinte forma:

i) O credor não será indenizado pelos danos


decorrentes do inadimplemento que pudessem ter sido evitados ou

9 Cf. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tradado de Direito Privado: Parte Geral. t. 6. 3.
ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970. p. 14.

10 Cf. PONTES DE MIRANDA. Tradado... op. cit. t. 6. p. 4.


reduzidos com o emprego de medidas ou esforços razoáveis de sua parte.

ii) A indenização devida ao credor deverá ser


reduzida do montante da pretensão que se busca, que não seriam
auferidos se não fosse pelo inadimplemento.

O Código Civil vigente positivou em seu artigo 422


o princípio da boa-fé objetiva.

As conseqüências do reconhecimento desse


princípio não se limitam às relações contratuais, irradiando-se para
diversos ramos do Direito, inclusive para o Direito Processual.

No campo da responsabilidade civil extranegocial,


a aplicabilidade do princípio da boa-fé objetiva decorre do instituto do
abuso de direito, consubstanciado no artigo 187 do Código Civil, in verbis
literis:

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de


um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.”

O princípio da boa-fé objetiva é composto por


diversos subprincípios, entre os quais gozam de destaque no meio jurídico
o venire contra factum proprium e o tu quoque.

Utilizado em menor escala, há outro que encontra


aplicação no caso dos autos: o duty to mitigate the loss, que encontra
origem no direito anglo-saxão e consiste no dever de o credor minimizar o
próprio prejuízo.
A demonstração da culpa do Espólio é gritante.
Não se tem noticia da efetiva realização das
supostas vendas de “todos” os lotes, bastando não apenas “informar ter
havido a transação” sem juntar aos autos copia dos títulos (instrumento
particular ou público de compra e venda), sem o qual, não se pode exigir
algo inexistente.

Muitos lotes foram vendidos pelo de cujus ainda


em vida, porém, os compradores apresentaram os respectivos títulos em
cartório muito tempo após a data da alienação, que de certo, não poderão
ser demandado em desfavor do réu.

O Espólio e a “gestora” não se atentam aos


princípios consagrados pelo Código Civil de 2002, que reforçaram ou até
ditaram novas condutas que penalizam a passividade das pessoas titulares
de direito.

Podemos ressaltar, nesse sentido, dois institutos:

i)a proibição do comportamento contraditório;

ii) o dever de mitigar o próprio prejuízo.

O primeiro trata da manutenção da coerência nas


condutas em determinada relação, ou seja, diz respeito à confiança
despertada na outra parte, no sentido de que aquele comportamento inicial
será mantido11.

O comportamento contraditório, nestes termos, se


configura pela ausência de exercício de um direito expresso em título ou
contrato, estabelecido por um período suficiente para criar a expectativa de
que ele jamais será posto em prática.

11
Schreiber, Anderson. A proibição de comportameno contraditório. Tutela da confiança venire contra
factum proprium. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 96.
Isto é, a parte que tolera o recebimento de
contraprestações em atraso sem o devido acréscimo de juros e correção
monetária, ou mesmo deixa de aplicar reajustes contratuais no tempo
devido, corre sério risco de ser impedido de fazê-lo no futuro, por culpa de
sua inércia reiterada no tempo.

Diante da inércia, tais juros, correções e outros


prejuízos, assim como os reajustes, não mais poderão ser cobrados
(referentes ao passado) por colocar em xeque a confiança gerada na outra
parte. Nessa linha se revela contraditório a postura adotada pelo Espólio
outrora.

Observa-se que a proibição ao comportamento


contraditório enfatiza figura cada vez mais exigida nas relações atuais: o
dever de lealdade12, ou seja, a exigência de que as partes se comportem de
maneira honesta e confiável nas relações jurídicas em que estão envolvidas.

No presente caso, o espólio provocou dolosamente


a longa duração do processo sem as cautelas necessárias ao deslinde da
causa. Logo, tal omissão não pode, e jamais será aceita, em desfavor do
Demandado.

Nesse sentido, o credor que não cuida de


minimizar o seu prejuízo pode ver reduzido eventual pagamento de perdas e
danos pelo devedor, por ter contribuído de forma culposa para a majoração
do prejuízo.

12
Expressão utilizada pelo Luciano de Camargo Penteado no artigo "Figuras parcelares da boa-fé
objetiva e venire contra factum proprium" que nada mais é que sub figura da boa-fé objetiva.
Em 2010 foi proferida a primeira decisão nesse
sentido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)13, na qual foi reconhecido o
dever de mitigar o próprio prejuízo.

Na referida decisão, o Superior Tribunal frisou o


dever dos titulares em seguir uma conduta pautada pela lealdade,
probidade e cooperação, de forma que estes devem tomar as medidas
necessárias para que o dano não seja agravado.

Assim, como o Espólio permaneceu inerte por


vários anos sem tomar nenhuma medida hábil a mitigar, dentro dos poderes
outorgados à “gestora”, não pode neste momento sobrevir aos autos e
“apontar” o dedo para penalizar o Demandado por algo que não deu causa
(a inércia processual).

É fácil identificar que a jurisprudência e doutrina


atuais estão se adaptando para não mais aceitar manipulações de
concessões anteriormente realizadas como ferramentas de estratégia
negocial, tal como ocorre no presente caso, afinal, quanto mais tempo
demorar a solução da lide mais incorrerá em juros, etc.

Na mesma linha, a visão jurídica passou a


penalizar também aquele que aceita de forma passiva a condição de
inadimplência.

Sendo assim, os contraentes devem efetivamente


exercer seus direitos sempre que necessário ou, não o querendo, tomarem
todas as medidas necessárias para que tal conduta não enseje a perda do
direito, sob pena de responderem pelos próprios danos causados.

13
STJ. REsp 758.518/PR, Rel. Ministro Vasco Della Giustina, Terceira Turma, julgado em
17/06/2010, Pub. DJe 28/06/2010
III - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante das razões expostas, o Demandado pleiteia:

a) Declarar válida a intimação de fl. 84 na pessoa dos advogados


regularmente constituído nos autos; e, em ato contínuo,
b) Declarar a extinção do feito sem julgamento do mérito pelo
abandono da causa e/ou a incidência da prescrição intercorrente
c) Declarar a extinção da ação, pela perda do objeto.

Se vencidos os itens anteriores:

d) Suspender a ação pelo prazo de 90 dias visando a


autocomposição entre as partes;
e) Afastar o Espólio e a atual “gestora” na condução dos autos,
nomeando-se, a este fim administrador judicial.
f) Mitigar eventuais prejuízos causados ao Demandado, causados
pelo Espólio pela omissão, a contar da data da nomeação do “Gestor
judicial”.

Por fim, a título de requerimentos finais,

g) A condenação do Espólio nas custas, despesas processuais e


verba honorária advocatícia não inferior a 20% do montante da condenação.
h) Fazer constar nas publicações o nome de TODOS os
advogados constituído no instrumento de procuração e substabelecimento,
em anexo, sob pena, de NULIDADE dos atos processuais.
Termos em que
Pede e aguarda deferimento

Bahia, 06 de Maio de 2021

TÁRCIO MAGNO FERREIRA PIMENTEL


OAB/SP 185.551
ELISA DA PENHA DE MELO ROMANO DOS REIS

OAB/SP nº 136.827

MÔNICA GUIMARÃES LUZ


OAB/BA nº 56.348

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