TCC - Letycia Valtrique Da Luz

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SAGRADO FEMININO NA MODA: UM ESTUDO DE CASO COM AS

SEGUIDORAS DA FILOSOFIA

SACRED FEMININE IN FASHION: A CASE STUDY WITH THE FOLLOWERS


OF PHILOSOPHY

LETYCIA VALTRIQUE DA LUZ1


RAFAELA BETT SORATTO2

Resumo: Com a potencialização das mulheres nos tempos atuais, o artigo aborda a filosofia de vida
intitulada como “Sagrado Feminino”, a fim de entender suas crenças, práticas e o seu público. Tendo
como objetivo geral, analisar o consumo de moda das mulheres que seguem a filosofia e qual a sua
facilidade para encontrarem produtos que se encaixam com as suas crenças e estilo de vida. A
pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva e exploratória. Foi elaborado um estudo de caso
dividido em duas partes, com entrevistas semiestruturadas com a seguidora do “Sagrado Feminino”
Julia Otero, criadora do canal do Youtube “A mulher selvagem” e, com a marca de moda feminina
“Lunatika” na qual se analisou o alcance para o público de mulheres que seguem o “Sagrado
Feminino”. O artigo mantém duas perspectivas, uma com a seguidora da filosofia e a outra com
quem produz moda para essas seguidoras, buscando compreender a moda voltada para o sagrado
feminino.

Palavras-chave: Sagrado Feminino; Círculo de Mulheres; Rituais; Moda

Abstract: With the potentialization of women in current times, the article approaches the philosophy
of life entitled as "Sacred Feminine" in order to understand their beliefs, practices and their audience.
Having as a general objective, to analyze the fashion consumption of women who follow the
philosophy and how easy it is to find products that fit their beliefs and lifestyle. The research is
characterized as qualitative, descriptive and exploratory. It was a case study elaborated in two parts,
with semi structured interviews with the follower of the "Sacred Feminine" Julia Otero, the creator of
the YouTube channel "The wild woman", and with the feminine fashion brand "Lunatika" where it
was analyzed the reach to the public of women who follow the "Sacred Feminine". The article
maintains two perspectives: one with the follower of philosophy and the other, with whom produces
fashion for these followers, seeking to understand the fashion focused on the sacred feminine.
Keywords: Sacred Feminine; Circle of Women; Rituals; Fashion

1 Graduanda em Design de Moda pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina
(IFSC), Araranguá, SC, Brasil. E-mail: [email protected].
2 Mestre em Tecnologias da Informação e Comunicação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Docente da graduação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC),
Araranguá, SC, Brasil. E-mail: [email protected].
1. Introdução

Filosofia antiga, porém, muito presente na vida de várias mulheres nos tempos atuais, o “Sagrado
Feminino” é tido como estilo de vida o qual aborda a força da mulher como um dos seus focos
principais. A prática dessa filosofia é executada tanto sozinhas quanto nos círculos de mulheres, onde
estudam, meditam e praticam rituais, danças e aprendem a estar em comunhão, praticando a
sororidade. Portanto, mesmo sendo um assunto atual, de pouco conteúdo escrito e confiável, tendo
como consequência a utilização de muitas referências do livro “A dança cósmica das feiticeiras: Guia
de Rituais à Grande Deusa”, da autora Starhawk, (1993) e de sites confiáveis.
O interesse pela pesquisa surgiu através de um resultado do projeto de coleção de moda executado
pela autora Letycia da Luz, no evento I’Fashion, realizado pela 6° fase do curso superior de Tecnologia
em Design de moda do Instituto Federal de Santa Catarina câmpus Araranguá-SC. O tema principal
“Brasilidades: diversidades artísticas e culturais”, inspirou para a sua coleção intitulada como
“Místicas”, que retratou como tema geral as Bruxas de Florianópolis. A coleção foi voltada para o
público de mulheres que seguem o “Sagrado Feminino”. Analisou-se a persona deste público,
despertando interesse e curiosidade, decidiu-se ir a fundo nos estudos sobre esta filosofia de vida e
perfil deste consumidor.
Para a pesquisa de público-alvo na coleção, foi aplicado entrevistas com mulheres dentro do
segmento sagrado feminino. Através do resultado obtido na entrevista, percebeu-se a dificuldade
da moda ao introduzir roupas para mulheres que seguem a filosofia. Com base nisso, escolheu-se
para a entrevista, com a seguidora do sagrado Julia Otero (persona) para descobrir se realmente
existem marcas voltadas para essas mulheres.
A temática abordada tem como objetivo específico estudar o público-alvo dessa filosofia e entender
como as mulheres que seguem o “Sagrado Feminino”, encontram produtos de moda dentro das
suas crenças e estilo de vida, explorando o consumo ético do público. Para isso, aplicou-se uma
entrevista com as adeptas da ideologia e proprietárias da marca de moda feminina “Lunatika”, que
procura ter um propósito semelhante ao do “Sagrado Feminino”.

2. A Filosofia do Sagrado Feminino

O “Sagrado feminino” é uma filosofia “divina” seguida por mulheres que buscam entender e se
aprofundar em seus ciclos naturais como a menstruação, gestação e a própria força da mulher. Para
se reconectar com o seu sagrado e dividir experiências, participam do círculo de mulheres praticando
rituais e danças, estudam o calendário lunar e buscam nas Deusas, momentos para pedir e agradecer.
O foco principal de quem participa do grupo é buscar entender que as mulheres são muito mais do
que foram doutrinadas a ser (CORDOVIL, 2015).
Pinkola (1999), defende com intensidade o empoderamento da mulher, chamado de “A força da
mulher”, muito presente no “Sagrado Feminino” e cita que por séculos, as mulheres foram tratadas
como imaturas e como propriedade de alguém. Elas não podiam expressar através da arte ou até
mesmo por opiniões. Para adquirirem seus direitos, foi preciso muita insistência nessa conquista,
mas diversas mulheres ainda não conseguem se desfazer dessas doutrinas.
Sendo assim Pinkola (1999), em seu livro “Mulheres que correm com lobos” afirma que, as mulheres
têm anseios por serem selvagens por conta da cultura ditada do que se deve ou não ser feito,
sentindo-se reprimidas quanto a sua aceitação na sociedade. Geiger (2014) afirma que a imagem da
mulher no fim da Idade Média foi ditada como o “sexo frágil”. Restringiam as suas atitudes não
permitindo fazer o que estivessem ao seu alcance, ao contrário, eram julgadas.
Para mudar os pensamentos dessas mulheres rotuladas como frágeis, Pinkola (1999) acredita que
não se deve permitir viver sem a força feminina utilizando palavras tais como "mulher" e "selvagem",
no intuito de serem lembradas realmente como "fêmeas" (termo autointitulado pela própria autora
que significa "mulher"), criando a imagem de simbologia para a força que sustenta qualquer mulher.
Portanto, os círculos servem como uma forma de auxílio para as mulheres que querem seguir ou
mudar suas ações, oferecendo uma base de procedimentos a serem tomados, com aproximação
menos hierárquica e mais emocional. As mulheres que compõem o círculo realizam as práticas como
conhecimento e aprendizado, no intuito de adquirir coragem, sabedoria, compromisso e experiência,
pois na roda pode-se falar sobre sonhos, experiências e ansiedades, compreendendo a si mesma e
fortalecendo uma mente cooperativa com comportamentos de apoio (GEIGER, 2014).
Em um estudo de público no Círculo de Mulheres Isis-Afrodite, a autora Cordovil (2015), interpreta
que a maior parte das mulheres que frequentam o círculo e tem como estilo de vida o “Sagrado
Feminino”, são mulheres independentes que trabalham e buscam a autonomia em todas as partes
da vida. Pertencem à classe média, frequentam o meio urbano e muitas delas são do meio
universitário, como estudantes, professoras e profissionais liberais. Muitos dos problemas abordados
pelas mulheres no círculo foram as condições femininas na modernidade.

Figura 1: Dança no Círculo de Mulheres

Fonte: Mulher Árvore (2019)

Geiger (2014), defende que os círculos ensinam as mulheres a deixar de lado tudo o que as impedem
de ser mais autênticas. E por meio desse resgate, aprenderam a conviver consigo mesmas e com
outras mulheres, por meio da remição do sagrado e a ritualização do cotidiano. O resultado dessas
mudanças, dar-se-á por intermédio da integração interna e externa e o equilíbrio, das dimensões
masculinas e femininas, mostrando com outro olhar as formas de se relacionar com os mesmos,
praticando a sororidade.3
A obrigação de uma educação que liberta relações e dimensões esquecidas pela mulher consigo
mesma e com outras mulheres, criações do universo e principalmente os homens que precisam dos
ensinamentos na afirmação da processualidade do conhecimento de ser mulher, e do valor com que
tenham condições para fazer acontecer as mudanças inerentes a esse método. A autora afirma que,
o corpo e os princípios femininos, são uma dádiva da natureza, mas interpretada de uma forma
totalmente errônea, como o ciclo menstrual, os princípios maternais e a sexualidade das mulheres
que são vistos com negatividade, sendo algo tão poderoso concedido pela Deusa, por gerar e
sustentar vidas (GEIGER, 2014).

Figura 2: Representação da Deusa

Fonte: Luna (2016)

Pinkola (1999, p. 14) define a “Deusa” como:


Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por
muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro
da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos
pertencem a ela. Ela é a voz que diz, "Por aqui, por aqui.

Para Cordovil (2015), às mulheres que seguem o “Sagrado Feminino”, não estão ligadas a doutrinas
espirituais próprias, elas estão à procura de experiências para se reconectarem e assim praticam nos
círculos diversas atividades como o reiki, a yoga e o Candomblé.
Segundo Teixeira (2009), o Reiki é uma prática que usa a imposição de mãos para passar “energia
vital universal” com intenções de cura. Sendo uma ramificação budista do Qigong chinês, com
influência do Xintoísmo japonês, redescoberto e exposto por Mikao Usui que atualmente, aparece
com várias versões. Essa prática iniciou por lendas e uma delas é que Usui foi instigado por um aluno
que o questionou quanto as curas promovidas por Jesus, e porque elas não acontecem até os dias

3 “Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcan-
çar objetivos em comum.” Disponivel em: <https://www.significados.com.br/sororidade/>
atuais. Diante desse questionamento, ele largou seu emprego e foi atrás de respostas onde
encontrou nas escrituras de Buda, jejuando e meditando, a sabedoria necessária sobre a energia vital
universal.
O Yoga, tem uma longa trajetória de benefícios terapêuticos na melhoria da saúde e qualidade de
vida. Com uma filosofia milenar que se origina da índia, mas que através dos séculos obteve
modificações para se adaptar aos dias atuais. Contudo, seus objetivos e essências ainda estão
conservadas (BAPTISTA, 2002).
Já o Candomblé, define-se como uma religião afro-brasileira dos orixás e compõem-se por diversas
divindades africanas, concebeu- se na Bahia no século XIX. Fazendo parte de uma resistência cultural,
surgiu antes de tudo com os africanos e afrodescendentes para a proteção do patrimônio ético, com
descendência aos antigos escravos. Mesmo após a abolição da escravatura, a sociedade branca e
cristã, discriminam os negros e os mestiços pertencentes a religião (PRANDI, 2004).
O motivo que direcionou as religiões no Brasil a reverenciarem os deuses africanos e homenagear
os orixás junto aos santos católicos, aconteceu porque os negros não podiam seguir outras religiões.
Sendo assim, fingiam que seus orixás tinham nomes de santos católicos, tendo que apagar seus
elementos negros para adentrarem na sociedade. Nos tempos atuais, o Candomblé é uma religião
livre a qual seus seguidores fazem rituais e acreditam nos orixás, voduns e inquices (PRANDI, 2004).
Como inspiração, o círculo de mulheres do “Sagrado Feminino”, buscam por meio do crescimento
espiritual, desejos com a volta da Deusa e a união da mulher contemporânea com o seu “sagrado”.
Usam a sabedoria para a modificação social, política e cultural, servindo como instrumentos
importantes na educação holística, por intermédio de novos conhecimentos do ser humano e de se
refazer como mulher (GEIGER, 2014).

2.1. Os Rituais do Sagrado Feminino

Por conta da dificuldade de encontrar artigos que contassem os rituais e estilo de vida das mulheres
que seguem a filosofia do “Sagrado Feminino”, buscou-se para estudo desse artigo, conteúdo no
blog “Bruxaria Natural”, a qual a autora Gori (2012), explica que as religiões que cultuam a Deusa,
quase sempre buscam a natureza. Método conhecido como “Tradições Naturais”, onde aplicam os
conceitos do xamanismo definido como a união de crenças e práticas de magia. Utilizam magia
natural e relações com outras realidades, além de terem como fundamento os quatro elementos:
Fogo, Água, Terra, Ar e o Espírito que é a quintessência.
Cordovil (2015), mostra em seu artigo que as práticas da Wicca, estão presentes nos círculos de
mulheres Isis-Afrodite, seguidoras do “Sagrado Feminino”. Ele afirma que as práticas da religião,
influenciam nos rituais e no estilo de vida dessas mulheres. Sendo assim, a religião Wicca, tornou-se
conhecida como influenciadora em partes nos cultos que tem como centralização a Deusa.
Cordovil (2015, p. 432) explica que Wicca é:
Uma religião centrada na magia, vista no seu aspecto positivo, e no culto ao casal
sagrado, o Deus e a Deusa, que são compreendidos como imanentes, ou seja,
manifestados em todos os ciclos da natureza, especialmente nas alternâncias das
fases da lua, entendidas como manifestações da Deusa; e das estações do ano,
primordialmente relacionadas ao Deus.

O livro da autora Starhawk (1979) “A Dança cósmica das feiticeiras” é um guia de rituais para a grande
Deusa, onde se pode ter entendimentos dos rituais e estilo de vida das seguidoras do sagrado
feminino, as quais cultuam a Deusa.
Nas luas cheias, um grupo de mulheres que seguem o sagrado se reúnem em praias, topos de colinas,
campos abertos e até mesmo em casas comuns onde celebram a Deusa Tripla, que é do nascimento,
do amor e da morte. Nesses ambientes elas fazem as suas feitiçarias, uma religião extraída de
princípios da natureza e influenciada pelos movimentos das estrelas, da lua, do sol, dos pássaros e
no demorado desenvolvimento das árvores e nas fases das estações (STARHAWK, 1979).
Gori (2012), explica que por conta da união da mulher e da lua, a Deusa é adorada em três pontos:
a) “Donzela”, que é correspondente à lua Crescente e tem como significado o início, o crescimento,
a juventude, as sementes na terra que se germinam, o cio dos animais, o acasalamento e a primavera.
A virgem que não é fisicamente virgem, mas é mulher independente, que se basta e é autossuficiente,
a cor que a determina e representa esse momento é o branco.
b) “Mãe”, corresponde a lua cheia e sua cor é a vermelha. Representa proteção, abundância, nutrição,
procriação, os animais dando à luz e a amamentação, os alimentos maduros, prosperidade e a idade
adulta. Essa é a fase em que a Deusa está mais acolhedora e é conhecida como a senhora da vida.
c) “Anciã” mulher sábia, já está na menopausa e não verte mais o sangue, tem como simbologia a
paciência, a velhice, a sabedoria e a cor que a representa é o preto, o anoitecer e sua lua é a
decrescente.
Segue na figura abaixo, representando a possível visualização das três fases da Deusa que é
conhecida como a Deusa Tripla ou Tríplice, representada pela simbologia da lua Tríplice constituída
pela lua crescente, lua cheia e a lua decrescente (GORI, 2012).

Figura 3: Lua Tríplice

Fonte: Motta (2016)

A importância para as mulheres celebrarem os seus ciclos menstruais, serve para um novo
relacionamento com seu corpo e esquecem que um dia foi julgado como objeto ou sujo, o qual é
digno de celebrações e reverências. Portanto, a menstruação simboliza a liberdade em que a mulher
tem de seu próprio corpo (STARHAWK, 1979).
A lua vermelha é celebrada pelas mulheres, por caracterizar o período menstrual. Segundo Cordovil
(2015), cada mulher é orientada a confeccionar uma sacola vermelha que contém objetos para a
montagem do altar menstrual em suas próprias casas. Nele deverá conter um recipiente para a
menstruação coletada, um vaso com terra e plantas onde a menstruação será despejada, velas
vermelhas, incensos e diversos elementos que têm ligação simbólica ao útero e a menstruação. A
autora cita exemplos como pedras, conchas, frutos vermelhos, flores e por fim um diário vermelho
onde constam anotações dos acontecimentos durante o período menstrual. As mulheres que já estão
na menopausa, escolhem uma lua para poder montar seu altar e ofertar água para a terra em vez de
sangue.
Starhawk (1979), cita em seu livro alguns exercícios feitos nos círculos de mulheres, como a divisão
de energia e a percepção, que são os alicerces dos rituais. Os exercícios são mencionados em um
tom sereno onde se inicia sentindo a energia do grupo por meio da respiração, absorvendo a energia,
passando pela espinha e fluindo para a terra. O exercício seguinte é a respiração em grupo, são
dadas as mãos e logo em seguida, vem a hora da meditação. Durante a respiração, faz-se importante
manter a coluna totalmente ereta, denominado como a “Árvore da Vida”, momento para sentir a
energia fluindo. Imagina-se que a espinha é o tronco de uma árvore, as raízes estão entrando na
terra e essa meditação prossegue até o “Cântico do Poder” o qual as pessoas podem rir, uivar, latir
se sentirem necessidade e por fim, para encerrar o poder, o corpo é acalmado quando se deitam ao
chão.
Starhawk destaca (1979, p. 58) que, para encerrar a reunião, dão-lhes as mãos e juntos dizem um
verso:
“O círculo está aberto, mas não rompido,
Que a paz da Deusa esteja em seus corações;
Feliz encontro e feliz partida.
E feliz reunião novamente.
Abençoados sejam.”

Por fim ao ritual, um beijo é passado em sentido horário ao redor do círculo (STARHAWK, 1979).
Starhawk (1979), cita que a prática de cura com ervas é utilizada pelas mulheres que seguem o
sagrado, as quais também se intitulam como curandeiras. As ervas estão presentes em chás,
amuletos de proteção ou para ajudar a arranjar um emprego, atrair amor e até mesmo dinheiro. Para
fazer o amuleto, faz-se necessário um quadrado de tecido verde, com muita forragem, açafrão,
lavanda ou outras quatro ervas adequadas. Também são necessárias três moedas de prata, podendo
ser substituídas por moedas comuns, pois tem o mesmo resultado. Por último, cristais de sal-gema.
Ao concluir a montagem, é só amarrar em oito nós com fio de ouro.
O pentagrama, é o símbolo da magia que está relacionado com a adoração da natureza representado
por uma estrela de cinco pontas. Cada uma das pontas representa: água, fogo, terra, ar e o espírito.
Uma de suas pontas fica para cima e está dentro de um círculo que é a lua cheia. O pentagrama nos
altares pode estar em uma placa, cerâmica ou até mesmo em uma massa de pão e sal (STARHAWK,
1979).

Figura 4: Pentagrama
Fonte: Sahem (2012)

Os hábitos da magia natural seguido pelas mulheres do sagrado, são correspondidos pelos
elementos da natureza e baseados na astrologia: os signos zodiacais, tarot, pedras minerais,
influências planetárias, plantas, essências, sons e cores. Os seres elementais são a Devas Guardiões
dos lugares, Gnomos, Ondinas, Silfos, Fadas e Duendes, e por fim, a Deusa e o Deus (GORI, 2012).
O Deus para a feitiçaria é chamado de “Deus Galhudo”, o qual não tem ligação com diabo cristão,
uma imagem criada pela igreja medieval para obstruir o seu verdadeiro significado. Feiticeiras em
suas crenças não cultuam o diabo, sendo só um ensinamento do cristianismo. O Deus Chifrudo
possui chifres, representando a meia-lua que nasce e míngua. Ele é negro para retratar a noite, a
qual é o período do poder. O Deus das feiticeiras não se encaixa em nem um estereótipo de
masculinidade que foi criado. Ele é encorajador, carinhoso, suave, de sexualidade sagrada, profunda
e não obscena. “Ele é o poder do sentimento e a imagem do que os homens poderiam ser, se
estivessem libertos das correntes da cultura patriarcal” (STARHAWK, 1979, p.96).
Figura 5: Representação do Deus Galhudo

Fonte: Thalvil (2009)

Além da Feitiçaria, é praticado nos círculos de mulheres a iniciação das sacerdotisas, com a invocação
da Deusa que se inicia com cânticos e danças. A espiral, é a dança cerimonial que ao som dos
tambores o grupo se une e faz uma espiral que se contrai e expande, conhecida como elevar as
energias simbolizando uma trajetória da alma em direção ao mundo inferior até a Deusa que está
na espera para renovar a vida. Na dança da saudação ou da despedida, servem comidas e bebidas
que são compartilhadas entre si.
Os encontros são feitos no centro de florestas ou em locais afastados, porque após a idade média,
a dança não era tolerada e por esse motivo, tinham que se encontrar em florestas ou em porões
prevenindo-se dos olhos dos julgamentos. Mulheres que tinham ações e/ou se arrumavam com
vestes de forma suspeitas: não usavam cintas de aperto ou salto alto com vestidos e chapéus
extremamente alinhados, eram vítimas de más críticas, aumentando as chances de agressões
conforme as roupas ou o semblante alegre. Atualmente, os círculos de mulheres não sofrem mais
atitudes como essas, mas a prática de seus encontros ainda permanece (PINKOLA, 1999).
Nos séculos XII e XIII, as mulheres que eram poetas, curandeiras, professoras, parteiras, seguiam a
Deusa e praticavam a feitiçaria, eram chamadas de bruxas. Sofriam perseguições e muitas vezes eram
queimadas vivas. A feitiçaria foi vista como um ato de insulto aos religiosos, diziam que essas
mulheres utilizavam sacrifício humano e animal para práticas de magia negra. Starhawk (1979),
afirma que essas mentiras foram criadas por adversários religiosos que pintavam em quadros, injúrias
para atingir as mulheres que se destacaram com suas sabedorias e dons.
Qualquer indivíduo denunciava as suspeitas de bruxas. Às vezes era um vizinho com intenções
maldosas ou até mesmo uma criança agitada. A bruxa suspeita era mantida presa até que provasse
o contrário. As mulheres eram despidas e tinham todos os seus pelos raspados para a procura de
verrugas e sardas, que eram denominadas como a marca do Diabo. A incriminada, era espetada por
agulhas, pois acreditavam que onde não tivesse dor, era onde o Diabo a tocou. Muitas vezes as
acusadas eram torturadas até a morte (STARHAWK, 1979).
As mulheres que foram queimadas, muitas participavam de grupos de mulheres. Idosas, com
problemas mentais, mulheres com aparência ditas como feias ou que tinham alguma deficiência
física ou até mesmo, as que machucaram o ego dos homens, ao rejeitá-los por serem padres, casados
ou simplesmente não os queriam (STARHAWK, 1979).
A perseguição só terminou no século XVIII, na era da descrença, quando a palavra “bruxa” já obtinha
significado muito negativo. Mas Starhawk (1979) afirma que a utilização da nomenclatura “bruxa”
para as mulheres que seguem a Deusa, servem para resgatar os direitos das mulheres, por terem
uma longa trajetória e ainda serem poderosas ao expor que o feminino é existente no divino.
Starhawk (1979), traz o exemplo de Joana D’arc, que é considerada a representante das bruxas e
intitulada como “Donzela”, sendo um termo muito respeitado pelas feiticeiras. Joana leva esse título
pois foi uma guerreira mulher que conduziu o exército da França para uma vitória e por defender
seus ideais. Acabou sendo queimada na fogueira pelos ingleses por ser considerada uma bruxa.

3. A Moda no Sagrado Feminino

Para compreender quais as vestimentas que as mulheres que seguem o “Sagrado Feminino” usam
nos seus rituais, o site Tikura, atendimento e formação holística, divulga a programação dos
encontros com informações importantes e quais vestes deve-se utilizar. O preceito dado é não ingerir
carne vermelha, drogas, álcool, e evitar brigas e práticas de sexo. As vestimentas solicitadas para os
rituais são roupas largas como vestido longo ou saia, cores claras, de preferência verde claro, branco
e azul claro (TIKURA, 2019).

Figura 6: Vestimentas

Fonte: Medicinas Femininas (2018)


O evento “Círculo de Mulheres Portal Chacaruna” foi divulgado no site Sympla, solicitando para as
mulheres usarem saias ou vestidos longos com xales e lenços cobrindo os ombros, acessórios
coloridos representando o feminino com peças de roupas confortáveis. Além das vestes, elas devem
levar um copo evitando o uso do descartável, diminuindo assim os impactos ambientais da Mãe
Terra, além de terem uma alimentação vegetariana e vegana a base de frutas (SYMPLA, 2018).
No blog “Casa Claridade”, para comemorar seus cinco anos de blog, Hazel publicou por 31 dias suas
roupas inspiradas no “Sagrado Feminino” e pediu para que suas seguidoras também participassem.
Para participar e se vestir conforme a filosofia transmite, era necessário trazer à tona a feminilidade
e deixar de lado os preconceitos, vestindo saias longas e vestidos confortáveis. Essa atitude não foi
para mostrar a marca ou valores das peças e sim, resgatar o feminino perdido nas mulheres que
tiveram que se masculinizar para se mostrarem com uma maior autoridade equiparadas aos homens.
O resultado foi comprovado com as postagens de suas seguidoras, relatando a sensação de
liberdade por se sentirem mais mulher e ao mesmo tempo livres. A autora afirma que não compra
suas roupas em lojas de marcas. Ela compra em brechós e/ou muitas peças, ela ganha de conhecidos,
isso acontece com a maioria da sua comunidade (CASA CLARIDADE, 2010).
Conforme relatado pela entrevistada para o projeto de coleção da autora que serviu como inspiração
neste artigo, as mulheres que seguem o “Sagrado Feminino” costumam “utilizar do consumo ético”,
afirma uma das entrevistadas citadas como estudo de caso para este artigo Júlia Otero. Ela explica
que as compras das roupas das seguidoras são realizadas em brechós, feiras de rua ou até mesmo
por troca. Na entrevista Júlia comenta sobre sua rotina desde quando acorda até a hora de dormir,
sendo que suas ações dependem do seu ciclo, que é influenciado pela lua. A entrevista com a
persona, aparece na íntegra logo abaixo nos procedimentos metodológicos.

4. Procedimentos Metodológicos

Em relação aos procedimentos metodológicos, o artigo se caracteriza como qualitativo, descritivo e


exploratório. Na coleta de dados foram feitas entrevistas com perguntas semiestruturadas divididas
em duas etapas. A primeira com a persona referente ao público alvo Julia Otero criadora do canal
do Youtube “A mulher selvagem”. A segunda etapa, com as sócias proprietárias da Marca Lunátika,
Camila Callegari e Luana Cecato.
Sendo assim, apresentar-se-á o delineamento da pesquisa, para alcance do objetivo geral definido
neste artigo, qual seja: analisar, o consumo de moda das mulheres que seguem a filosofia e qual a
sua facilidade para encontrarem produtos que se encaixam com as suas crenças e estilo de vida.

4.1. Entrevista com a Persona Julia Otero

A primeira etapa para da coleta de dados, será apresentada através da entrevista com a persona Julia
Otero. As perguntas semiestruturadas, foram realizadas em agosto de 2018 para o projeto de coleção
da autora desta pesquisa e pela professora orientadora.
Na primeira pergunta, foi questionado qual a visão que Julia tem sobre o “Sagrado Feminino” e ela
responde:
Na minha visão, o Sagrado Feminino é se tratar como Deusa então no final das
contas, tu fazer o que tu quiser fazer aquilo que corresponde com a tua verdade
interior, a maneira que se trataria uma divindade como tu tem que te tratar e colocar
isso dentro da rotina não é uma coisa muito fácil. Às vezes, a gente tem um
pensamento que são auto sabotadores, às vezes a gente é nossa pior inimiga então,
eu me vejo como a Deusa. Não é muito fácil no dia a dia, mas por isso que é bonita
essa filosofia, faça o que tu queres pois é tudo da Lei, desde que a lei seja o amor.
Eu acho que não existe falta de restrição de roupa, não existe restrição de
alimentação, não existe tô falando isso na minha visão, é o que eu acredito se eu vou
me tratar como Deus, e tem gente que oferece álcool, cigarro para os seus Deuses,
então tratar também desta forma eu acho que não existe nenhuma restrição.

Na segunda pergunta, foi questionado qual é a rotina que as mulheres que seguem o “Sagrado
Feminino” têm pela manhã. Julia respondeu:
Eu não acredito que exista uma rotina para todas, eu posso te falar da minha rotina,
eu moro na praia então eu acordo todo dia e eu presto muita atenção no meu
primeiro pensamento, porque como tá minha cabeça logo que eu acordo é mais ou
menos como eu vou passar o resto do dia então eu acordo, anoto meu sonho, tiro a
minha temperatura basal porque eu faço controle natural da minha fertilidade e fico
cuidando dos meus pensamentos. Depois eu tomo suco verde ou suco de limão e
daí talvez uma fruta, mas geralmente é só o suco e eu vou para a beira da praia daí
lá eu medito, caminho, falo com Iemanjá, cento faça um círculo em volta de mim na
areia e fico meditando. Eu sinto muito a lua então, eu prefiro meditar, eu sinto uma
conexão maior quando a lua está com as energias para dentro que é a lua minguante.
Na Lua Nova, nessa época eu tento ficar mais tempo lá e nas outras Luas crescente
e cheia, eu prefiro andar mais. Me sinto melhor caminhando e falando com as
pessoas e essa é a grande diferença, não que todas as mulheres que seguem o
sagrado feminino façam, mas para mim, essa é a grande diferença que as luas
influenciam.

Na terceira pergunta, questionou-se sobre a forma que a filosofia interfere na alimentação. A


entrevistada respondeu:
Eu não como carne, mas de novo não é porque se segue o Sagrado Feminino que tu
não precisa comer carne, não é uma religião, não tem prefeito, não tem checklist, é
uma opção que eu fiz e eu percebi, que se eu fosse tratar uma Deusa, eu não daria
a carne para ela então, eu parei de comer mas, eu também não sou a rainha da
alimentação sou bem gordinha então quando chega a minha TPM, eu também como
um negrinho que é como é se chama brigadeiro aqui no sul do Brasil.

No questionamento seguinte, foi perguntado como é a rotina nos períodos da tarde e noite. Julia
respondeu:
A tarde eu tento seguir também o fluxo da lua até quando chegar na lua crescente,
cheia eu tô muito de falar com as pessoas e tal então, quando eu faço círculos aqui
quando eu faço mais ritual, quando eu dou as oficinas, eu tô bem expansiva. Na lua
minguante, eu gosto de ficar mais na minha, eu faço mais trabalhos manuais, gosto
de aplicar Reiki, nessa época faço os trabalhos curadores com atendimentos para
quem precisa de cura. Quando eu mais gosto de fazer é principalmente quando eu
tô na minha lua, na minha menstruação, eu tenho um poder maior e eu sempre dou
um tempinho para plantar na minha horta, pelo menos dá uma olhadinha nela,
também sigo a lua para plantar. Eu leio bastante de noite geralmente, melhor para
ler na lua crescente, escrevo na lua crescente e eu faço um foguinho de noite que
agora tá frio e depois eu durmo, eu acho que é isso. Eu não tenho muita rotina, mas
claro que eu não deixo de trabalhar quando eu tô nas luas para dentro né, eu faço
outro tipo de trabalho como as astrólogas eu atendo em qualquer lua que a pessoa
aparece, pois a lua mostrar o que ela tá precisando tratar.

Na pergunta seguinte, foi questionado qual é os princípios do Círculo de Mulheres que ela segue. A
inquirida respondeu:
O preceito do Sagrado Feminino a meu respeito, é a sororidade, é tratar todas as
mulheres como irmãs e às vezes a gente se pega fazendo sororidade seletiva. Para
as mulheres do meu clã, do meu grupo, eu sou a irmã, mas para as de fora, não.
Então o Sagrado Feminino, vai resgatar eu ser uma de todas inclusive, daquelas
mulheres que eu não conheço. Tipo na turma quando eu não conheço alguém, eu
trato como irmã com respeito e principalmente as mulheres que estão bem próximas
da gente tipo mãe e filha. Às vezes as pessoas que somos mais próximas, são mais
difíceis de se relacionar do que com as que não conhecemos muito bem. Quando
sabemos todos os defeitos uma da outra, torna-se difícil trazer o amor, às vezes a
mágoa fala mais alto, mas é importante também resgatar essa Irmandade.

Na penúltima pergunta, foi questionada a visão que a Julia tem em relação a bruxaria. Ela respondeu:
Eu gosto muito da bruxaria, eu evito falar isso no canal porque a palavra bruxaria
assusta as pessoas e eu também, não sou uma expert, sou apenas uma estudiosa da
Deusa, mas é muito linda a bruxaria eu acho que ela é toda poder do pensamento e
tem toda essa reverência à natureza. Quando falo que eu vejo a natureza eu vejo a
Deusa, então a Deusa é a terra. Então eu não preciso de Padre, eu não preciso pagar
o dízimo, não preciso de nenhum representante, eu olho para natureza e eu tô
falando com a divindade então eu tenho muito mais poder e muito mais
responsabilidade também. Além disso a bruxaria, tem tudo a ver porque foi a
bruxaria que trouxe em primeiro lugar o Sagrado Feminino. Antes tinha bruxaria que
era grande mãe e o Deus, aparecia como o parceiro dela ou como filho, mas no topo
tava a Deusa. Depois quando entra ali no antigo testamento dos católicos e que vira
o catolicismo, Islamismo e judaísmo que são as principais religiões patriarcais é que
a gente coloca a mulher apenas como Maria. Ela é santa, divina e mortal, ela tá no
“panteão” só que é mortal e é a virgem então, acabamos colocando a mulher como
subproduto então vem a bruxaria e diz “opa, não é isso aí”. No momento, está
rolando um resgate dessas culturas passadas é muito era de aquário isso eu tô
pegando uma coisa lá no passado, para transformar o nosso futuro. Acho que a
bruxaria é esse contato direto com a natureza, referenciar natureza e tal.

A última pergunta, questionou-se sobre o consumo de moda dessas mulheres, se as roupas têm um
significado para elas. A entrevistada respondeu que:
Quanto às roupas, eu prefiro sempre usar saia, para caminhar na beira da praia eu
uso leegs, mas aí eu chego tomo banho e coloco uma saia é o que eu gosto de vestir,
mas também não é obrigatório. Nos círculos, geralmente as mulheres estão de saia
longa porque a saia longa é uma conexão com o universo, então o meu útero está
diretamente conectado com a terra e não tem uma barreira. Já uma calça, o meu
útero ta falando direto ali. Nas rodas, as mulheres fazem trabalhos manuais então o
pessoal, usa muito tricô ou crochê praticam o handmade. Eu quase não compro
roupa na verdade, é tudo de feiras de rua ou troca, mas costumo usar bordado e
tricô porque eu faço e/ou me dão. As estampas eu uso tie dye às vezes, é meio
passado, mas eu gosto. Eu não faço isso, mas se você for levar ao pé da letra que
Sagrado Feminino é a terra, então a lei é sustentabilidade, você vai tentar consumir
o menos possível ou com materiais que não poluem. Eu não escolho muito os
materiais, mas evito comprar. É o consumo consciente. Por isso que te falei das coisas
handmade porque valorizam também o trabalho local, o consumo de quem tá perto,
como as feirinhas de parque. Tem um coletivo de artesãs locais em Porto Alegre-RS,
só de mulheres bordadeiras, é uma forma de dar empoderamento para quem tá
perto né, mães solteiras muitas vezes.

Durante a entrevista com a Julia Otero, nota-se que não tem uma regra para o estilo de vida das
mulheres que seguem a filosofia. Suas atitudes são tomadas com a seguinte percepção “Como eu
trataria uma Deusa?” Então Júlia, busca o consumo ético pela Deusa ser também a mãe terra, e
acredita que preservando o planeta ela se relaciona com a Deusa e com o mesmo intuito ao levar
uma rotina de meditações e vegetarianismo. Para as mulheres que seguem a filosofia, as roupas têm
um significado importante na hora dos rituais a qual serve de conexão do corpo com a terra.

4.2. Entrevista com a marca Lunátika

Buscou-se criar um questionário para entrevistar as sócias, Camila Callegari e Luana Cecato da marca
de moda feminina “Lunatika”, para complementar o conteúdo e entender se existem produtos que
se adequam no estilo de vida das mulheres que seguem a filosofia “Sagrado Feminino”.
A marca foi escolhida pela visualização do Instagram e o site lunakica.com.br, no qual encontra-se
um release expondo quem é a marca, dando a concluir que seu propósito, é muito semelhante ao
que a filosofia transmite.
É fluir com os ciclos, aprender com os mitos e observar os astros.
Ser Lunátika é criar sua própria realidade, de paz, harmonia e liberdade.
É sentir a vida, amar ao o próximo e contemplar a natureza.
A mulher Lunátika é poderosa, é magia e pura transformação.
Somos quem podemos ser (LUNÁTIKA, 2019).

Questiona-se a história da marca “Lunátika” e de suas criadoras e estilistas. E foi respondido:


A marca Lunátika começou em novembro de 2016 com a união de três amigas que
buscavam a realização de um sonho, sendo a primeira coleção lançada em 2017.
Atualmente somos duas sócias, Camila Callegari e Luana Cecato, sendo a parte de
criação mais em função da Luana, que sempre teve esse gosto por criar suas próprias
roupas, principalmente por influência de sua avó que é uma costureira de mãos
cheias há anos.

Na segunda pergunta, reafirma-se qual é o propósito que a marca segue. E é confirmado a


interpretação que se teve na análise do perfil da marca. Sendo afirmado que:
Nosso propósito é não vender apenas a roupa e sim todo o conceito do
empoderamento feminino. Mostrar que as mulheres têm suas fases e podem se
vestir como se sentirem melhores.
Figura 7: Coleção Gaia – Saia de Retalhos

Fonte: Lunatika (2018)

Questiona-se também o segmento da marca e o público alvo abordado. O qual a marca criou uma
mulher fictícia para representar seu público, respondendo:
A marca não tem um estilo específico, nós fazemos as peças para as mulheres se
vestirem seguindo suas fases, a qual um dia ele é mais patricinha, um dia quer sair
mais confortável e assim vai. Tentamos vestir as mulheres em seus melhores estilos
e momentos. Melina tem 30 anos, é independente, tem personalidade, trabalha na
área de comunicação, amante da natureza e busca sempre evoluir.

Figura 8: Coleção Florescer – Vestido

Fonte: Lunatika (2019)

As perguntas seguintes foram sobre o meio de produção, se é com colaboradoras contratadas ou


terceirizadas. Peças únicas (personalizadas) ou em grande escala e a quantidade de peças que
produzem, por estoque ou conforme pedidos. As sócias responderam:
Nossa produção é terceirizada. Temos modelos exclusivos e também coleção em
escala. Fazemos a coleção por estoque, sendo uma média de 8 peças variando
tamanho e cor.

A pergunta seguinte foi para compreender quais os materiais e processos são utilizados na
confecção das roupas. Elas responderam:
Buscamos utilizar materiais que impactam menos o meio ambiente. Tecidos que
exigem um processo menos poluente. Para os processos de modelagem, pilotagem
e produção, buscamos sempre guardar todo material que sobra para reutilização
transformando em novas peças. Tentamos fazer uma grade pequena de peças para
não acumular estoque. Nosso objetivo futuro é trabalhar com tecidos 100%
sustentáveis.

Na questão 6, analisa-se como são feitas as campanhas de lançamento da coleção e se praticam


algum ritual. As sócias responderam:
Buscamos sempre observar a fase da lua e o período astrológico para lançamento
das novas peças.

As questões seguintes foram para entender como são comercializados os produtos e levando em
consideração o que o público acredita, como é colocado o “valor” das peças e qual é média de preços
dos produtos desenvolvidos pela marca. As entrevistadas responderam:
Atualmente só possuímos loja online. Os preços são colocados de acordo com o
custo de produção tentando sempre manter um valor justo. Média de R$ 150,00.

Para concluir o questionário, pergunta-se o que a “Lunátika” quer passar. As sócias responderam:
Queremos passar o empoderamento feminino. A mulher pode se vestir como se
sentir melhor, mais bonita, sem se preocupar com as opiniões dos outros .

Torna-se visível através da entrevista com as sócias da marca Lunátika, que elas buscam se conectar
com o sagrado feminino para alcançar as mulheres que seguem a filosofia. Um processo um pouco
lento, porém de mudanças, para a marca que demonstra um olhar quanto a sustentabilidade e as
fases da lua, atividades principais das mulheres do “Sagrado Feminino”.
Por meio das entrevistas, conclui-se que as mulheres que seguem o “Sagrado Feminino” buscam ter
um consumo consciente, na qual utilizam produtos de moda através das feiras de rua, trocas de
roupas entre si, praticam a customização ou produzem suas próprias peças de tricô e crochê. Por-
tanto, encontra-se dificuldade quanto ao consumo dos produtos de moda voltados para o mercado
que buscam como público as mulheres que seguem o “Sagrado Feminino” porém, a marca “Luna-
tika”, já está tendo a percepção deste público que busca um consumo ético e que utilizam roupas
não só para cobrir o corpo mas, também utilizam como uma conexão com o universo. Sendo assim,
a marca que já tem essa compreensão deixa produzir apenas peças de roupa para produzir conceito
a uma filosofia feminina.

O estudo de caso com as entrevistadas Julia Otero e a marca Lunátika, serviram como embasamento
para o trabalho de conclusão do curso de Tecnologia em Design de Moda, ampliando a temática
sobre o Sagrado Feminino dentro dos princípios abordados por este artigo. A autora após a análise,
faz o seguinte questionamento: será que a moda está preparada para englobar essa filosofia de vida?
5. Conclusão

Dentre os resultados deste estudo, obteve-se a percepção de que, apesar de ser uma filosofia antiga,
obtém-se uma insuficiência de conteúdo, dificultando a percepção para este estudo. Acredita-se que
o Sagrado Feminino, por ser uma filosofia divina voltada para mulheres as quais não seguem padrões
religiosos, geram muitos preconceitos e tabus principalmente por se tratar de magia e menstruação.
Portanto, com o estudo de caso, foi possível visualizar os resultados obtidos através do objetivo geral
do artigo.
Com a entrevista da Julia Otero e as pesquisas bibliográficas, percebeu-se a busca das mulheres pelo
“Sagrado Feminino”, uma procura por consumo consciente em seus produtos de moda, consumindo
em brechós, feiras ou até mesmo produzindo suas próprias peças de roupas com o estilo Handmade
e, a utilização do artesanato. Por cultuarem uma Deusa que é constituída como a mãe terra, o
consumo ético torna-se uma forma de respeito para a sua divindade.
Portanto, vestir uma peça de roupa não serve apenas para cobrir seus corpos do frio ou pudor, mas
vestir-se tem um significado, tanto a cor como o vermelho que é utilizado para a celebração da
menstruação, a procriação ou o modelo da peça como a saia longa a qual faz uma conexão do útero
com a terra. Roupa não é simplesmente um tecido, é sentimento, expressão e conceito.
A entrevista com a marca Lunátika, que ainda se encontra em fase de desenvolvimento, não está
totalmente voltada para o público de mulheres que seguem o “Sagrado Feminino”, mas está no
caminho, dando a entender que as marcas de moda ainda não estão preparadas para o consumo
dessas mulheres que buscam, além da sustentabilidade, um significado a mais para as roupas que
as vestem.
Pinkola (1990, p. 8), conta que em um tempo não muito distante, as mulheres não tinham vós e
afirma que ”...as meninas e as mulheres que vivessem apertadas em cintas, amordaçadas e contidas,
eram consideradas ‘certas’, enquanto aquelas que conseguiam fugir da coleira uma ou duas vezes
na vida eram classificadas de "erradas". Sua afirmação mostra que nos tempos atuais, as mulheres
estão obtendo seu espaço para se expressar e fazer escolhas de maneira livre, e muitas estão
escolhendo o consumo ético consciente.
O “Sagrado Feminino” é um público que tem mercado, mesmo sendo uma cultura tão aprofundada,
porém, o mercado está mudando, abrangendo todo tipo de mulher e buscando não mais a produção
em escala, mas peças que transmitem sentimento e história, fazendo com que o produto não tenha
mais preço e sim valor.
Portanto, com as mudanças de mercado a orientação para as marcas de moda que pretendem
alcançar este público é não somente produzir em quantidade, mas produzir com consciência,
buscando sustentabilidade e conceito para as suas peças. A roupa deixa de ser apenas um tecido,
ela se torna uma forma de manifestação de sentimentos, voz para expressões culturais, danças e, por
fim, rituais para cultuar a Deusas.

Referências

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& Performance Journal, v.1, n.1, p.12-20, 2002.
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GEIGER, Luciene. Aprendendo a ser mulher: contribuições de uma educação holística por meio dos
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