Hannah Arendt A Banalidade Do Mal

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ARTIGO ORIGINAL/ RESEARCH REPORT/ ARTÍCULO

Revista - Centro Universitário São Camilo - 2011;5(4):392-400

Irrelexão e a banalidade do mal no pensamento


de Hannah Arendt
Irrelection and the banality of evil according to the thought of Hannah Arendt
Irrelexión y la banalidad del mal según el pensamiento de Hannah Arendt
José Eduardo de Siqueira*

RESUMO: O presente artigo traz uma análise da densa produção intelectual da pensadora alemã Hannah Arendt, discípula de Heidegger que viveu
um dos momentos mais sombrios do século XX, o do nascimento e implantação do nazismo. Resgatando o conceito de banalidade do mal, cunhado
por ela em sua polêmica obra “Eichmann em Jerusalém” descreveu a face perversa do nacional-socialismo em “Origens do Totalitarismo”. O talento
jornalístico de Arendt permitiu que ela revelasse com extrema singeleza e argúcia, entre outras, personalidades marcantes de sua época como Karl
Jaspers, Martin Heidegger, João XXIII e seu pranteado amigo Walter Benjamin. Arendt ousou muito desde seus primeiros passos na filosofia quando
tratou, aos 22 anos de idade, em sua tese de doutoramento o tema do amor em Santo Agostinho, o que produziu indignação dos teólogos da época.
Mais tarde, em 1951, já morando nos EUA publicou “A condição humana”, uma das mais profundas reflexões filosóficas sobre a alma humana. Suas
críticas não pouparam Platão, Marx e até mesmo seu mestre Heidegger que a acolheu em 1924 na Universidade de Marburg. Produziu um elaborado
vínculo entre o pensamento e a ação humana, e como Sócrates, fez muitas perguntas que até hoje nos incomodam por não encontrarmos, para elas,
respostas satisfatórias.
PALAVRAS-CHAVE: História do Século XX. Humanismo. Amor.

ABSTRACT: The article makes an analysis of the dense intellectual production of the German thinker Hannah Arendt, the disciple of Heidegger that
lived one of the worse moments of the Twentieth century, which was characterized by the emergence and the consolidation of Nazism. It rescues
the concept of banality of evil, created by Arendt in her controversial work “Eichmann in Jerusalem”, and the description of the perverse face of the
national-socialism in “Origins of Totalitarianism”. The journalistic talent of Arendt allowed her to disclose with a profound simplicity and acumen,
remarkable personalities of her time as Karl Jaspers, Martin Heidegger, John XXIII and her dear friend Walter Benjamin. Arendt was very bold since
her first works in philosophy, having approached, when se was 22 years old, in her doctorate thesis, the subject of love in Saint Augustine, which made
the theologians of the time react with indignation. Later, in 1951, already living in the U.S.A., she published “The Human Condition”, one of the
deepest philosophical reflections on the human soul. Her critical instance had not spared Plato, Marx or her master Heidegger, who welcomed her in
1924 at the University of Marburg. She proposed and elaborated on a bond between human thought and human actions, and, such as Socrates have
done, presented many questions that until today bother us due to the fact that no one has until now found satisfactory answers for them.
KEYWORDS: History, 21st Century. Humanism. Love.

RESUMEN: El artículo hace un análisis de la producción intelectual densa de la pensadora alemana Hannah Arendt, discípula de Heidegger que vivió
uno de los peores momentos del Siglo Veinte, que fue caracterizado por la aparición y la consolidación del nazismo. Rescata el concepto de banalidad
del mal, creada por Arendt en su trabajo polémico “Eichmann en Jerusalén”, y la descripción del aspecto perverso del nacional-socialismo en “Las
orígenes del totalitarismo”. El talento periodístico de Arendt permitió que ella revele con una simplicidad y una perspicacia profunda, personalidades
notables de su tiempo como Karl Jaspers, Martin Heidegger, Juan XXIII y su estimado amigo Walter Benjamin. Arendt es muy corajosa desde su
primer trabajo en filosofía, acercándo, cuando tenía 22 años, en su tesis de doctorado, el tema del amor en Santo Agostinho, que hizo que los teólo-
gos del tiempo reaccionaran con indignación. Más adelante, in 1951, ya viviendo en los E.E.U.U., ella publicó “La condición humana”, una de las
reflexiones filosóficas más profundas a cerca el alma humana. Su perspectiva crítica no ha exentado Platón, Marx ni su maestro Heidegger, que le
dio la bienvenida en 1924 en la Universidad de Marburgo. Ella propuso y elaboró un enlace entre el pensamiento humano y las acciones humanas,
y, tal y como, por ejemplo, Sócrates ha hecho, presentó muchas cuestiones que hasta hoy nos incomodan debido al hecho que nadie hasta ahora ha
encontrado respuestas satisfactorias para ellas.
PALABRAS-LLAVE: Historia del Siglo XXI. Humanismo. Amor.

* Doutor em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Mestre em Bioética (Universidad de Chile). Presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (2005-2007).
Membro do board da International Association of Bioethics (2007-2012). Membro Titular da Academia Paranaense de Medicina. E-mail: [email protected]

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“Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito da capacidade de pensar como o elemento fundamental na
de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento,poderia gênese do comportamento abjeto de Adolf Eichmann. Ela
condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre acompanhou o julgamento do oficial nazista como corres-
os atributos da atividade do pensar,em sua natureza pondente do jornal estadunidense The New Yorker. Não
intrínseca,a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou somente realizou a cobertura completa do processo, como
será que podemos detectar uma das expressões do mal,qual entrevistou pessoalmente o acusado e o descreveu como
seja,o mal banal como fruto do não exercício do pensar?” um ser humano irreflexivo. Embora as atrocidades por ele
Hannah Arendt conduzidas tivessem sido de uma crueldade inimaginável,
“o executante era ordinário, comum, nem demoníaco, nem
monstruoso”.
INTRODUÇÃO Eichmann revelou-se, durante todo o processo, até os
dias que antecederam sua morte por enforcamento, como
Hannah Arendt nasceu no ano de 1906, em Hanno- uma pessoa incapaz de exercer a atividade de pensar e elabo-
ver, Alemanha. Em 1924 ingressou na universidade de rar um juízo crítico e reflexivo. Seu linguajar era estrutura-
Marburg, época de especial brilho intelectual da comu- do por sentenças prontas, robotizadas, como por exemplo:
nidade acadêmica alemã. Lá conheceu Martin Heidegger minha honra é minha lealdade. Lealdade tão absoluta que o
que a introduziu na dinâmica do pensar como razão de conduziu a nunca tomar decisões autônomas, pois necessi-
vida e não como atitude de erudição frente aos grandes tava executar rigorosamente ordens que lhe fossem dadas,
desafios da existência. Antecedendo Heidegger, Husserl jamais emitindo opiniões pessoais e sempre acolhendo as
e Sheler já haviam proclamado a necessidade de deixar decisões emanadas de seus superiores, conforme a exigência
as teorias revestidas de erudição para estabelecer a filoso- de cumprir incontinente o juramento de irrestrita fidelida-
fia com sólidos vínculos com a realidade humana. Jun- de ao partido que o designara oficial da Gestapo. Hannah
tamente com Jaspers, Hannah Arendt identificou nesse Arendt o descreveu como um homem de mediocridade
pequeno grupo de pensadores a arte do saber distinguir transparente, que se envaidecia por ter sido protagonista
filosófico, “entre um objeto de erudição e uma coisa pen- do interrogatório mais longo da historia do século XX. O
sada”, sendo que o primeiro parecia a todos eles, inteira- termo “banalidade do mal” foi por ela cunhado, após ouvir
mente indiferente. O Conteúdo das reflexões filosóficas do próprio Eichmann, que o cego cumprimento às ordens
de Heidegger e Jaspers preencheram o mundo espiritual emitidas por seus superiores poderia ser comparada à obe-
da jovem Hannah1. diência de um cadáver. As últimas palavras desse patético
Apesar de sua intensa produção literária na área da fi- personagem foram:
losofia e da estreita e longa convivência que manteve com “Após um curto intervalo senhores, iremos nos encon-
os mais importantes filósofos do século XX, ela não se in- trar novamente. Esse é o destino de todos os homens.
cluía dentro dessa categoria de pensadores. Em entrevista Viva a Alemanha, viva a Argentina, viva a Austria. Eu
concedida a Günter Gaus em 28 de outubro de 1964, não as esquecerei”3.
contando então com 58 anos, Hannah Arendt declarou A análise de Hannah Arendt sobre a figura de Eich-
não ter pertencido ao círculo dos filósofos mann não foi bem acolhida por parte da intelectualidade
“Minha profissão, se é que se pode chamar assim, é a da época, pois a consideraram extremamente benevolente
teoria política (...) Para mim, o importante é compre- e equivocada quanto à avaliação da gravidade dos atos pra-
ender. Escrever é uma questão de procurar essa com- ticados pelo carrasco nazista. Entretanto, em nenhum mo-
preensão (...) o importante é o processo de pensar. Se mento, ela o isentou de sua culpa, apenas entendeu existir
consigo expressar de modo razoável meu processo de uma distinção no grau de responsabilidade dos líderes do
pensamento por escrito, isso me deixa satisfeita”2. movimento totalitário e da grande massa burocrática que
executava as ordens da cúpula nazista.
Banalidade do mal Hannah discordou, igualmente, da cog-theory (teoria
Em Eichmann em Jerusalém, considerado um de seus da engrenagem) que atribuía a todos os participantes de
livros mais polêmicos, Hannah Arendt refere-se à ausência um sistema, a condição de simples peças de uma grande

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engrenagem e, portanto, não agiam enquanto indivíduos, radiarão pelo tempo que lhes foi dado na Terra (...).
o que significaria isentá-los de culpa e responsabilidades Olhos tão habituados às sombras, como os nossos,
individuais. dificilmente conseguirão dizer se sua luz era luz de
A reflexão de Hannah Arendt é revestida de enorme uma vela, ou de um sol resplandecente(...)”.
sutileza ao analisar o fenômeno do totalitarismo. Questio- O livro é uma coletânea de ensaios e artigos escritos
na: ao longo de doze anos, no qual expõe, de maneira co-
“Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito movente, seu testemunho sobre personalidades que com
de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, ela conviveram aqueles tempos sombrios e que dividiram
poderia condicionar as pessoas a não fazer o mal? Es- experiências de singela alegria e profundas tristezas. Pes-
tará entre os atributos da atividade do pensar, em sua soas tão distintas como Rosa de Luxemburgo, o Papa João
natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se XXIII, Martin Heidegger, Bertold Brecht, Karl Jaspers,
faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das seu iluminado mestre e Walter Benjamin, seu pranteado
expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto amigo1.
do não-exercício do pensar?” Ângelo Giuseppe Roncalli, futuro João XXIII, relata
Ao propor essa indagação, a pensadora demonstra um episódio pitoresco ocorrido em uma audiência que ele
quão profundamente deveria ser analisada a questão do mantivera com o então Papa Pio XII em 1944. O Sumo
vínculo entre o pensar e o agir4 . Pontífice, ao receber seu núncio apostólico Roncalli, re-
Ao criar a expressão banalidade do mal, a autora teve cém-indicado para representar a Igreja Romana em Paris,
a intenção de expressar o enorme abismo observado entre anunciara friamente que teria apenas sete minutos para
as atrocidades cometidas por Eichmann e a superficiali- ouví-lo, ao que o futuro Papa João XXIII, imediatamente
dade reflexiva do agente responsável pelos atos. Hannah respondera: “nesse caso, os seis minutos restantes são supér-
Arendt admitiu que: fluos”. Hannah Arendt recorda que quando João XXIII
“por traz da expressão (banalidade do mal) não foi aconselhado por seus assessores a desistir de seus pas-
procurei sustentar nenhuma tese ou doutrina, muito seios diários pelos jardins do Vaticano, por considerarem
uma atitude inadequada para o pontífice expor-se à vista
embora eu estivesse consciente de que ela se opunha à
de pessoas comuns, e o papa teria reagido indagando de
nossa tradição de pensamento literário, teológico ou
seus interlocutores: “Por que as pessoas não deveriam me
filosófico, sobre o fenômeno do mal”5.
ver? Acaso, eu não me comporto bem?”. João XXIII con-
O tema do totalitarismo mereceu especial destaque siderava que como humilde membro da família de Cristo,
na obra Hannah Arendt. Sobre ele, escreveu Origens do nada mais poderia almejar como ser humano. Ao concluir
totalitarismo, onde identifica o fenômeno como uma no- uma audiência muito tensa com os representantes da ex
vidade radical na história da humanidade, diferente das União Soviética teria anunciado: “E agora chegou a hora
práticas de regimes políticos anteriores como a tirania e o de uma pequena benção. Afinal, uma bençãozinha não
despotismo. Voltaremos ao tema mais à frente. pode fazer mal a ninguém. Aceitem-na como presente”.
O que Hannah Arendt admirava em João XXIII era exa-
Tempos sombrios tamente essa atitude de extrema singeleza, mesmo diante
No último parágrafo do prefácio redigido em janeiro das rígidas avaliações oriundas do establishment vaticanis-
de 1968 para sua obra Homens em tempos sombrios, ta.
Hannah Arendt usa a seguinte expressão para descrever as De personalidade com características diametralmente
incertezas presentes nas décadas de 1930 e 1940: opostas às de João XXIII, Walter Benjamin teve, em toda
“Mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de sua vida, a companhia do infortúnio. Frente ao bonachão
esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode João XXIII, Benjamin fora a expressão viva do pensador
bem provir, menos de teorias e conceitos, e mais da incompreendido. Hannah Arendt assim descreve o bri-
luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que lhante e errático ecletismo intelectual de seu amigo:
alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, “Foi o primeiro alemão a traduzir Proust, antes disso
farão brilhar em quase todas as circunstâncias e ir- traduzira Quadros parisienses de Baudelaire, mas não

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era tradutor; resenhava livros e escreveu uma série de tira atônito a duas guerras mundiais na primeira metade
ensaios sobre autores vivos e mortos, mas não era um do século XX.
crítico literário; escreveu um livro sobre o barroco “O homem da massa é um desolado, dês-solado, sem
alemão e deixou um imenso estudo inacabado sobre solo, sem chão, sem lugar de pertencimento no mun-
o século XIX francês, mas não era historiador ou li- do (...) A narração retém do passado algo de pertur-
terato. Ele pensava poeticamente, mas não era poeta bador face ao torpor do presente. O narrador aren-
nem filósofo”1. dtiano, como o flâneur baudelairiano, possuem algo
Ele próprio se identificava como um flâneur, figura do visionário, do vidente e da fala oracular, sabedoria
descrita em um ensaio de Baudelaire, como um perso- tecida na substância da existência”6.
nagem que vagueava a esmo pelas grandes cidades dando A aproximação de Hannah Arendt com Heidegger
as costas à multidão e sendo por ela despercebido. Con- ocorreu em 1924, quando ela ingressou na Universidade
siderando a metáfora como o maior dom da linguagem, de Marburg com apenas 18 anos. Houve, entre ambos,
Benjamin construía, por meio dela, ousadas correlações uma relação amorosa, interrompida no início de 1930,
entre, por exemplo, uma cena banal de rua e o delírio quando Heidegger passou a apoiar o movimento nazista.
especulativo da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e o fazia No capítulo “Martin Heidegger faz oitenta anos” incluí-
em forma de poema. Era extremamente retraído e temia do em sua obra Homens em tempos sombrios, Hannah trata
as pessoas de quem guardava algum grau de dependên- da infeliz adesão de Heidegger ao nazismo e o faz com
cia. Consciente de que nunca conseguiria sobreviver por muita ponderação:
conta exclusiva de seus escritos, teria admitido em um “Ora, sabemos todos que Heidegger também cedeu
de seus ensaios que “há lugares em que consigo ganhar uma vez à tentação de mudar de “morada” e de se
um mínimo e lugares que consigo viver com um mínimo, “inserir”, como então se dizia, no mundo dos afazeres
mas não há nenhum lugar onde consigo ambos”. Em 26 humanos (...) Ele era ainda bastante jovem (...) e de-
de Setembro de 1940, com 48 anos de idade, prestes a pois de dez curtos meses de febre, volta para a morada
emigrar para os EUA e escapar da perseguição nazista, que lhe cabia”.
suicidou-se na fronteira franco-espanhola. Essa morada, de onde ele jamais deveria ter saído, é
Assim poderia ser resumida a curta existência de Wal- assim descrita por Hannah Arendt:
ter Benjamin: acuado em vida, consagrado após sua mor- “Nessa dimensão de profundidade aberta apenas
te, pérola esquecida no mais profundo mar da sensibili- pelo seu pensar ativo, estabeleceu (Heidegger) uma
dade humana, um flâneur, um pequeno deus que passou grande rede dessas trilhas do pensamento; certamente
despercebido pelos pobres mortais de sua época. o resultado que formou escola (incluindo ela como
Para esse sofrido homem de talento invulgar, que não dedicada aluna) foi o de ter derrubado o edifício da
fora reconhecido em vida, Hannah Arendt, dedicou-lhe metafísica”.
em homenagem póstuma, o canto de Ariel contido no Sem dúvida, missão que somente um gigante da fi-
segundo ato de A tempestade de Shakespeare: losofia poderia fazê-lo. Importante ressaltar que Hannah
“A cinco braças jaz teu pai, Arendt mostra em seus escritos perfeita sintonia com a
de seus ossos fez-se coral. tese heideggeriana da apropriação positiva do passado.
Essas são pérolas que foram seus olhos. Em Ser e Tempo, Heidegger afirma a necessidade de um
Nada dele desaparece permanente retorno às “fontes originais”. Assim se expres-
mas sofre uma transformação marinha sa Heidegger:
em algo rico e estranho”. “O estoque de conceitos filosóficos fundamentais
Muitos autores, entre eles, Olgária Matos, estudiosa derivados da tradição filosófica ainda é tão influente
das obras de Hannah Arendt e Walter Benjamin, reco- hoje que esse efeito da tradição dificilmente poderia
nhecem a semelhança entre o flâneur benjaminiano, e a ser subestimado (...). Na filosofia, a construção é ne-
storyteller, a contadora de histórias Hannah Arendt, en- cessariamente destruição, quer dizer, desconstrução
quanto narradora da vida do homem de massa que assis- dos conceitos tradicionais (...). E isso não significa

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uma negação da tradição ou a sua condenação, como Assim Hannah Arendt refere-se ao orientador de sua
se ela fosse reduzida a nada, pelo contrário, isso sig- tese de doutorado sobre Santo Agostinho, apresentada
nifica precisamente uma apropriação positiva da tra- em 1928 à Universidade Heidelberg (à época, a autora
dição”7. contava com 22 anos):
Vejamos agora Hannah Arendt: “O que Jaspers então representava, quando estava
“Com a perda da tradição, perdemos o fio que nos totalmente isolado, não era a Alemanha, mas o que
guiou com segurança por meio dos vastos domínios restara de “humanitas” na Alemanha. Era como se
do passado; esse fio, porém foi também a cadeia que ele sozinho em sua inviolabilidade pudesse iluminar
aguilhoou cada geração sucessiva a um aspecto prede- aquele espaço que a razão cria e preserva entre os
terminado do passado. Poderia ocorrer que somente homens, como se a luz e a amplitude desse espaço
o passado se abrisse a nós com inesperada novidade pudessem sobreviver mesmo se ali restasse apenas um
único homem”1.
e nos dissesse coisas que ninguém teve ainda ouvidos
para ouvir”8. Da longa correspondência que manteve com Jas-
pers, merece destaque uma carta redigida em Maio de
Na opinião de André Duarte foi à luz da recuperação
1947,em que Hannah Arendt declara:
do passado, que Hannah Arendt pôde compreender as
“Sem sua filosofia e sem sua existência,que para mim
consequências da ruptura com a tradição, o que signifi-
adquiriram uma intensidade ainda maior nos longos
cou para ela redescobrir as possibilidades de um pensa-
anos em que a loucura à solta pelo mundo nos afas-
mento crítico, que se impusesse por meio do repensar o
tou completamente,eu nunca conseguiria ter adotado
passado e construir até mesmo o impensado9.
uma deliberada independência de julgamento,uma
Na obra Homens em tempos sombrios, Hannah Arendt distância consciente de todos os fanatismos(...). O
dedica dois capítulos à Karl Jaspers, psiquiatra e filósofo, que aprendi com você é que a única coisa importante
que considerou como cruciais, para análise daqueles anos não é a filosofia, e sim a verdade, que a pessoa tem
de chumbo, três dados históricos: o fenômeno do totali- de viver e pensar em campo aberto, e não dentro de
tarismo, a existência de armas atômicas e a insuficiência sua pequena concha, por mais confortável que (ela)
da política para conduzir os mais autênticos interesses seja(...). Naqueles tempos, algumas vezes senti a ten-
da humanidade. Entendia, Jaspers, que a todos os seres tação de imitá-lo, mesmo em sua maneira de falar,
humanos estava apresentada a responsabilidade de pro- porque essa maneira, para mim, simbolizava um ser
mover uma transformação global da ética e da política. humano sem segundas intenções”2.
Três foram as diretrizes por ele apontadas: o papel de
cada indivíduo como elemento responsável pela criação Origens do totalitarismo
de um novo ethos mundial no agir político, pois “a paz E agora, retomamos o tema do totalitarismo, que foi
universal só será possível por meio de uma nova políti- por Hannah Arendt tratado em As origens do totalitaris-
ca”. A segunda tese seria a compreensão do ser humano, mo. Nele, ela argumenta que a legitimidade totalitária
como realidade originária transcendente e amorosamen- desafiava a legalidade e a justiça destruindo as instâncias
te criadora. Apontava para uma fé filosófica que reco- de mediação, próprias dos regimes republicanos tradi-
nheceria a coparticipação entre Deus, o ser humano, a cionais, pretendendo erigir um governo baseado no po-
verdade e a liberdade, sem, entretanto, identificar de ma- der hegemônico dos estados de exceção e o fazendo, por
neira especial qualquer denominação religiosa. A terceira meio da anulação dos espaços públicos e da própria vida
meta seria o resgate de uma nova hipótese de filosofia da privada. Nessas circunstâncias desapareceriam as relações
história. Entendia que, caso não obtivéssemos êxito em de solidariedade e o indivíduo seria exposto ao estado
realizar uma nova ordem de relacionamento humano, que ela denominou desolação, ou seja, a experiência de
por meio de um vínculo que promovesse cidadania para não pertencimento à sua comunidade política, por meio
todos em uma sociedade autenticamente democrática, da anulação total da condição de cidadão. O poder to-
assistiríamos a implantação do terror e da destruição da talitário amparava-se no terror e impunha-se de manei-
sociedade humana10. ra tão avassaladora que ficava-se com a impressão que

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ele seria indestrutível. Para esse mal que parecia eterno da violência, privando a sociedade do cultivo dos valores,
e invencível, Hannah Arendt anunciou uma palavra de da paz, da liberdade e da fraternidade. Nas palavras de
esperança ao esclarecer que: Hannah Arendt, o totalitarismo criou o mundo inverti-
“permanece também a verdade de que todo fim na do dos valores e destruiu todos os elementos básicos que
história constitui necessariamente um novo começo; fundamentavam a sociedade civilizada. Esse vácuo dei-
esse começo é a promessa, a única mensagem que o xado pela autoridade autêntica baseado na tradição de-
fim pode produzir. Começo, antes de tornar-se even- mocrática, foi ocupado, na modernidade, pela ditadura
to histórico, é a suprema capacidade do homem; po- da técnica – um extraordinário poder de transformação
liticamente, equivale a liberdade do homem”11. –, destituído, porém, de uma reflexão ética que exerça
Nada mais acertado quando se pensa na queda do moderação sobre o poder da tecnociência13.
muro de Berlim, e do desabamento do império soviético, O caso mais atual e emblemático do uso irrefletido
sistema que parecia indestrutível. Por outro lado, nada da tecnologia é representado pela Internet. Descontado
mostra-se tão verdadeiro quanto o ressurgimento, na os indiscutíveis benefícios da democratização das infor-
atualidade, de regimes totalitários na África, Ásia e Amé- mações, o que observamos é que esse novo veículo de
rica Latina, o que parece demonstrar que a humanidade comunicação banalizou a busca racional do conhecimen-
esquece muito rapidamente seus desatinos históricos e é to e um site qualquer criado por um jovem que domina
facilmente seduzida por falsos líderes, manipuladores do essa tecnologia, passa a ter tanto valor quanto as fontes
poder como o foram os ditadores pretéritos. tradicionais da produção do saber14.
Um dos fatores que contribuiu de maneira decisiva Na cacofonia da Internet, os artigos científicos publi-
para a decadência da autoridade resultou do desapareci- cados pela Science disputam espaço com textos inventa-
mento de valores. É importante recordar que a noção de dos ou plagiados por qualquer adolescente. É importante
autoridade defendida por Hannah Arendt é apresentada considerar que esse instrumento não somente fragiliza
como um desdobramento do termo auctoritas que deriva as fontes seguras de produção do conhecimento, como
da raiz etimológica augere, que significa aumentar, desen- também favorece a insegurança do cidadão comum, o
volver-se e depende da legitimidade do poder de preservar que, por sua vez, acaba por incentivar o desprezo pela
os autênticos valores humanos. Valores esses, ao mesmo tradição, roteiro que confirma a tese de Hannah Arendt
tempo, pessoais e comunitários, sem os quais a vida per- de que “o maior inimigo da autoridade é o desprezo e a
de seus alicerces fundamentais. Pensemos, por exemplo, maneira mais segura de solapá-la é a chacota”12.
nos valores paz, fraternidade, justiça ou naqueles que se
Pensamento e ação
referem às pessoas individualmente, como honestidade,
bondade e alteridade. A decadência da autoridade, repre- Outro tema de interesse na reflexão de Hannah
sentada pela perda dos valores humanos justifica gran- Arendt foi a busca da reconciliação entre pensamento e
de parte do crescimento incontido da violência presente ação. Em A condição humana, ela afirma:
na sociedade moderna. Ausência da autoridade de pais, “O
O que torna tão difícil suportar a sociedade de mas-
professores, governantes e líderes mundiais como figu- sas não é o numero de pessoas que ela abrange, ou
ras representantes do bem, da honestidade e da busca do pelo menos não é este o fator fundamental; antes, é
bem comum. A autora defende, portanto, o exercício da o fato de que o mundo entre elas perdeu a força de
autoridade legítima como elemento essencial na constru- mantê-las juntas, de relacioná-las umas às outras e
ção de uma sociedade mais humana e não, o da prática separá-las”.
enganosa do autoritarismo12. Para Hannah Arendt, somente conhecemos um prin-
Segundo Arendt, o grande desgaste da autoridade cípio historicamente concebido para manter unida uma
teve sua origem no fenômeno totalitário, representado comunidade de pessoas destituídas de interesse no bem
pelo fascismo e o comunismo, sobretudo nas versões na- comum e que já não se sentem relacionadas e separadas
zista e stalinista. Nesses casos, o que houve de fato, foi o por ele. Esse princípio seria a operacionalização da ideia
colapso total da autoridade que passou a ser inautentica- de vida boa, por meio de ações que buscassem a constru-
mente exercida por meio do temor, da arbitrariedade e ção de uma sociedade solidária15.

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Encontrar um vínculo entre os homens, suficiente- o mundo das ações. Nesse momento, o pensar deixou
mente forte para substituir os valores mundanos, foi a de fornecer critérios para o julgar e, consequentemente
principal tarefa do cristianismo, e foi Agostinho quem para o agir16.
propôs edificar sobre a caridade e o amor ao próximo as Uma das consequências imprevisíveis que essa rup-
bases para sociedade fraterna. Como é sabido, Agostinho tura entre o pensar e o agir produziu, no século XX, foi
foi o artífice da elaboração da antiga filosofia cristã, e o nada menos que duas guerras mundiais, pois, na total
fez por meio da incorporação do pensamento platônico ausência de autoridade que legitimasse as ações demo-
na ideologia da Igreja Católica Romana. Referindo-se a cráticas, a política passou a ser exercida de maneira a ge-
alegoria da caverna descrita na republica de Platão, Han- rar diferentes tipos de totalitarismos, onde a corrupção e
nah Arendt identifica no diálogo entre Sócrates e Glau- o despotismo tornaram-se regra de governar no mundo
co, o momento em que o filósofo se apresenta como o ocidental.
governante ideal. Seus pensamentos transformam-se na Hannah Arendt questionava, que talvez tivesse che-
unidade de medida para legitimar a autoridade do fi- gado o momento de reestruturar o vínculo entre o pen-
lósofo para organizar a vida no interior da caverna. O sar e o agir, entre a filosofia e a política. No epílogo de
pensamento é a matéria-prima para estabelecer os pa- sua obra. A promessa da política afirma:
râmetros não só para o juízo, mas para a ação política. “O que deu errado foi a política, a nossa existência
A concepção de governo ideal surge, portanto, como a plural, não o que podemos fazer e criar em nossa
distinção entre os que governam porque detém sabedo- existência no singular: no isolamento do artista,
ria e autoridade para tanto e os cidadãos comuns que na solidão do filósofo, na relação intrinsecamente
devem submeter-se aos desígnios dos primeiros. Assim, sem-mundo entre seres humanos tal como existe no
a ideia de autoridade transmitida, ao longo da história,
amor e, às vezes, na amizade quando um coração se
no mundo ocidental, foi garantida pelo poder romano
abre diretamente para o outro, como na amizade, ou
e, posteriormente pelo cristianismo. Não podemos es-
quando no interstício, o mundo, se incendeia, como
quecer que a Igreja Católica Romana, ao longo de sé-
no amor. Sem a incolumidade desses oásis não con-
culos, legitimou o poder de sucessivos reis dos impérios
seguiremos respirar, coisa que os cientistas políticos
ocidentais, conferindo-lhes atributo para governar os
deveriam saber (...). Em última análise o mundo
povos, e o fazia identificando neles autênticos represen-
humano é sempre o produto do amor mundi do ho-
tantes de Deus na Terra. Somente no século XVIII, com
a Revolução Francesa, esse mandato divino foi derro- mem, um artifício humano, cuja potencial imortali-
gado e a manifestação objetiva da ascensão do cidadão dade está sempre sujeita à mortalidade daqueles que
comum como genuíno detentor do poder tornou-se ex- o constroem e à natalidade daqueles que vêm viver
plícita, por meio da decapitação dos reis franceses. nele. É uma eterna verdade o que disse Hamlet: ‘O
No mesmo século, mais precisamente em 1781, mundo está fora dos eixos; Ó! que grande maldição
Kant publicou a obra que mais influenciou o pensamen- eu ter nascido para trazê-lo à razão!’”18.
to político da história moderna, a Crítica da Razão Pura, A reflexão de Hannah Arendt torna-se atual quando
na qual o filósofo defende a ideia que o pensamento não percebemos que os problemas fundamentais da socie-
tem, como finalidade precípua, o estabelecimento de dade moderna consistem precisamente na falta de or-
uma doutrina com poder de revelar qualquer tipo de ganização política e na utilização irrefletida dos avanços
verdade transcendente, situada fora da caverna platôni- tecnológicos. As pessoas não mais exercem o poder de
ca. O abandono da metafísica teve a finalidade de reve- pensar criticamente, são simplesmente conduzidas a as-
lar a falácia de que somente o filósofo seria dotado de sumir condutas passivamente.
autoridade para exercer a figura de governante. O que,
em suma, significava que governar não era apanágio de Humanização do mundo
algumas pessoas especiais, o que tornava sem valor a Qual seria o interesse e a importância do pensa-
ideia de hierarquização das diferentes formas de saber, mento filosófico na atualidade? Com a palavra Hannah
que priorizavam o modo de vida contemplativo sobre Arendt:

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“O interesse pela política não é algo corriqueiro para devemos ser irmãos, não porque seremos salvos, mas
o filósofo (...). Em termos históricos, os séculos me- porque estamos perdidos”18.
nos propícios ao filosofar são os que se mostram mais Indiscutivelmente, vivemos muito próximos da bar-
ricos em filosofias políticas (...). Quais as melhores
bárie, pois todas as tentativas de encontrarmos o cami-
condições para a atividade filosófica? As respostas,
nho do consenso habermasiano, dão lugar à frustração
em que pese sua diversidade, tendem a concordar
nos seguintes pontos: a paz é o supremo bem da e acabam desembocando em desacordos, o que apenas
comunidade, a guerra é o maior de todos os males faz aumentar as incertezas na possibilidade de humani-
(...). Por fim, o caráter global dos acontecimentos zação do mundo como pedia Hannah Arendt. O anjo
contemporâneos parece converter em necessidade a da história da humanidade ainda se movimenta com as
instauração de uma “sociedade universal”. Uma so- costas voltadas para o futuro e com os olhos no passado,
ciedade universal, por sua vez, só é possível se todos como descrevera Benjamin. O que ele (anjo) vislumbra
aderirem a um princípio capaz de unir todas as na- é um cenário de horrores do passado e não percebe com
ções justamente por transcender a totalidade delas”. clareza um futuro de paz. Onde Hannah Arendt iden-
Esse texto é parte de uma palestra proferida por tifica a necessidade de iluminar o mundo, por meio da
Hannah Arendt em 1954, à convite da Associação Ame- humanização e do resgate da dignidade humana, Benja-
ricana de Ciências Políticas e revela a argúcia da pensa- min percebe apenas a irreparável perda da autoridade da
dora ao propor um adequado ordenamento para a des-
tradição. Compreenderemos melhor o pensamento de
controlada globalização que iria ocorrer nas três décadas
Hannah Arendt, ouvindo o depoimento de Celso Lafer,
finais do século XX2.
Para ela, o sentido da vida apresentava-se, neces- um dos poucos brasileiros que tiveram o privilégio de
sariamente, por meio da partilha, e na busca de uma conviver com ela por duas ocasiões, nos anos 1960, na
“pátria” comum. Percebe-se em seus textos quase uma condição de discípulo em seus estudos de pós-graduação
obsessão em “humanizar o mundo”, o que seria a glori- na Universidade de Cornell. Ele assim descreve a trajetó-
ficação do humanitas e a mais completa condenação de ria intelectual dessa extraordinária pensadora:
todas as formas de violência. No mesmo sentido, Edgar “Restaurar, recuperar, resgatar o espaço público que
Morin aponta para uma responsabilidade complexa, o permite, pela liberdade e pela comunicação o agir
que significaria o estabelecimento de uma força capaz de conjunto, e com ele a geração do poder, é o grande
colocar a prática política a serviço da humanização da tema unificador da reflexão de Hannah Arendt. Gra-
sociedade. Admite o filósofo francês, que estamos cada
ças a esse agir conjunto surge a política autêntica e,
dia mais próximos da encruzilhada entre a fraternidade e
a barbárie. Argumenta que a condição de seres humanos com ela, a dignidade da vida pública, que Hannah
apresenta-nos o desafio de reconhecer o duplo impera- Arendt conseguiu iluminar mesmo em um mundo
tivo, o de sermos irmãos e o da finitude de nossas vidas como o contemporâneo, que viveu a experiência do
pessoais. Com um clamor quase desesperado anuncia: totalitarismo em que se debate o impasse do pensa-
“Eis a péssima notícia: estamos perdidos, irremedia- mento contemporâneo, sobre a trivialidade da ad-
velmente perdidos. Se há um evangelho, isto é, uma ministração das coisas e se desespera com as conjun-
boa notícia, deve partir da ruim; estamos perdidos, turas difíceis”19.
mas temos um teto, uma casa, uma pátria: o peque-
Muito já foi escrito sobre Hannah Arendt. É neces-
no planeta em que a vida criou seu próprio jardim,
sário ressaltar que ainda não conhecemos o suficiente
em que os seres humanos formaram seus lares, em
que a humanidade deve reconhecer a própria casa dessa luz que se apagou em 1975. Seu legado de vida,
comum. Não é a Terra prometida, não é o paraíso obras e ensinamentos não só a qualificam como uma das
terrestre. É a nossa pátria, o lugar de nossa comuni- mais autênticas pensadoras de sua geração, mas, acima
dade de destino de vida e de morte (...). O evange- de tudo, é dela a voz que precisamos ouvir com muita
lho dos homens perdidos e da Terra-pátria nos diz: atenção no alvorecer desse milênio repleto de incertezas.

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Recebido em: 26 de maio de 2011.


Aprovado em: 30 de junho de 2011.

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