Demecracia e Educação em Direitos No Humanos No Brasil
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Demecracia e Educação em Direitos No Humanos No Brasil
doi: 10.20396/rfe.v12i2.8661056
Resumo:
O presente artigo aborda a Educação em Direitos Humanos – EDH e seu
desenvolvimento na esfera educacional brasileira. Proposta formalmente no
Brasil pelo PNEDH - Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, a
EDH é incompatível com a plataforma política da extrema-direita em ascensão
nacional e internacionalmente. No ambiente escolar também pode ser
considerada problemática por modelos de gestão não-participativos e
produtivistas, já que promove o questionamento explícito de pilares como
hierarquia, democracia e liberdade dentre os educandos, além de não figurar
entre as matérias tradicionalmente exigidas nas avaliações educacionais.
Metodologicamente, a perspectiva da pedagogia histórico-crítica forneceu os
pressupostos para o levantamento bibliográfico-documental e a análise do
discurso, realizados no material selecionado. Como conclusão, destaca-se que a
defesa da perspectiva de gestão democrática alinhada aos fundamentos de
direitos humanos presentes nos programas de pós-graduação das universidades
públicas nacionais indica serem estes espaços privilegiados de reflexão sobre as
iniciativas voltadas para a disseminação da EDH para gestores educacionais e
educadores em geral, a fim de capilarizar suas temáticas e auxiliar
concretamente a implementação do PNEDH sem descuidar da perspectiva
humanista intrínseca à proposta.
Abstract:
This article deals with Human Rights Education - EDH and its development in
the Brazilian educational sphere. Formally proposed in Brazil by the PNEDH -
National Human Rights Education Plan, EDH is incompatible with the
political platform of the extreme right rising nationally and internationally. In
the school environment it can also be considered problematic by non-
participatory and productivist management models, since it promotes the
explicit questioning of pillars such as hierarchy, democracy and freedom
among students, besides not being among the subjects traditionally required in
educational assessments. Methodologically, the perspective of historical-critical
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UNICAMP,
pesquisadora afiliada ao INPPDH.
Filos. e Educ., Campinas, SP, v.12, n.2, p.1126-1147, maio/ago. 2020 – ISSN 1984-9605
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Resumen:
Este artículo trata sobre la educación en derechos humanos - EDH y su
desarrollo en la esfera educativa brasileña. Propuesto formalmente en Brasil
por PNEDH, el Plan Nacional de Educación en Derechos Humanos, EDH es
incompatible con la plataforma política de la extrema derecha en aumento a
nivel nacional e internacional. En el entorno escolar, también puede
considerarse problemático por modelos de gestión no participativos y
productivistas, ya que promueve el cuestionamiento explícito de pilares como
la jerarquía, la democracia y la libertad entre los estudiantes, además de no estar
entre los temas tradicionalmente requeridos en las evaluaciones educativas.
Metodológicamente, la perspectiva de la pedagogía histórico-crítica
proporcionó los supuestos para el estudio bibliográfico-documental y el análisis
del discurso realizado sobre el material seleccionado. Como conclusión, vale la
pena señalar que la defensa de la perspectiva de la gestión democrática alineada
con las fundaciones de derechos humanos presentes en los programas de
posgrado de las universidades públicas nacionales indica que estos son espacios
privilegiados para la reflexión sobre las iniciativas destinadas a la difusión de la
EDH para Administradores educativos y educadores en general, con el fin de
capilar sus temas y ayudar concretamente a PNEDH implementación sin
descuidar la perspectiva humanista que instituye la propuesta.
Introdução
A tradição democrática dos últimos milênios possibilitou a
consolidação de um diálogo muito frutífero entre as áreas da Educação e do
Direito que consolidaram-se, nos dias atuais, em programas e agendas
comuns e complementares que divulgam e defendem princípios de ambas as
áreas. Um importante exemplo é a EDH, sigla que define a Educação em
Direitos Humanos. Há algumas décadas a educação para o respeito aos
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cenário mundial
A Educação em Direitos Humanos é incompatível com ataques
verbais e violências concretas contra minorias, ou mesmo uma pretensa
“neutralidade” ético-política em relação aos direitos humanos. Devido a sua
inerente necessidade de um entendimento amplo e irrestrito do valor da
dignidade humana, esta proposta educacional automaticamente entra em
conflito com ações e discursos políticos manejados por uma extrema-direita
discriminatória, xenófoba e violenta atualmente em ascensão nos mais
diversos cenários políticos nacionais e internacionais.
Em seu tratado político, Aristóteles não se esquivou de questionar as
condições dos homens, ainda que suas limitações culturais e provavelmente,
o pequeno número de interlocutores, o tenham levado a conclusões
questionáveis em nossa opinião; porém, o pressuposto e início da conduta
ética está em questionar-se e debater publicamente as questões, além de
respeitar-se a caminhada histórica da humanidade em relação a elas. Desta
forma coloca-se Aristóteles à mercê do julgamento histórico em “A
Política”: “Mas há ou não há tais homens? Existirá alguém para quem seja
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justo e lucrativo ser escravo? Ou, ao contrário, será toda servidão contra a
natureza?” (op. cit., p. 15)
Diferentemente desta postura, do homem que se coloca no debate
público, permitindo o questionamento de seus pressupostos – tanto que
muitos na atualidade condenam a postura de Aristóteles em relação à
escravidão, apesar dos limites culturais que ele enfrentava - as medidas
estatais e os discursos manejados pelos políticos desta onda extremista em
ascensão agem de forma contrária: sumariamente classificam e excluem
grupos humanos inteiros da responsabilidade social dos Estados e de seus
semelhantes à partir da visão particularizada e sectária de seus espaços
políticos de origem. Falta não só respeito pela história recente da
humanidade, que sofreu e sofre tanto com as guerras desnecessárias e
genocídios, mas inclusive falta muita humildade diante dos esforços de
tantos grupos qualificados que contribuíram para a construção de um
Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos que refletisse as
diversas nações.
Destacam-se dentre os motivos para o sectarismo os interesses
econômicos ocultos na insistente corrida pelo rearmamento no Brasil
paralelamente ao recuo da indústria armamentista nos EUA, ou implícitos
no desmonte da Educação Pública brasileira em todos os seus níveis,
paralelamente ao financiamento público das grandes multinacionais da
Educação; ocorre, porém, que interesses econômicos sempre houveram, mas
não costumavam vir acompanhados de ataques tão explícitos e da destruição
das teses do ideário humanista construído mundialmente.
A recente ascensão ao poder dos grupos populistas ou de extrema-
direita no mundo atinge dezenas de países e choca devido aos discursos
públicos desconstruindo os direitos humanos a todo momento, inclusive
como parte dos programas que tais candidatos usaram para se elegerem,
como ocorreu nos EUA, Itália, Turquia, Noruega, Filipinas, Suíça,
Dinamarca, Áustria, Polônia e Hungria, entre outros, além do Brasil2. A
2
“Onde o populismo de direita está no poder no mundo” disponível em
https://www.dw.com/pt-br/onde-o-populismo-de-direita-est%C3%A1-no-poder-no-
mundo/a-46065697
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A este respeito, é interessante o artigo “O que exatamente significa o populismo, usado
para descrever de Trump a Chávez?” disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43322313
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Neste sentido, esclarece o seguinte trecho da reportagem anteriormente citada:
“Partidos populistas podem estar em qualquer lugar no espectro político. Na América
Latina, um dos mais notórios é o do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Na Espanha,
há o partido Podemos. E na Grécia o mesmo rótulo tem sido usado para o Syriza. Todos
esses estão situados à esquerda. No entanto, segundo Cas Mudde, os "populistas mais bem-
sucedidos hoje estão na direita, especialmente na direita radical". “(São políticos) Como
Marine Le Pen na França, Viktor Orbán na Hungria e Donald Trump nos Estados Unidos,
que combinam populismo com nacionalismo, anti-imigração e autoritarismo", diz.
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Disponível em http://abmes.org.br/noticias/detalhe/3373 na data de 09/07/2019.
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Década de 03 5,00
1980:
Década de 16 26,00
1990:
Década de 42 69,00
2000:
TOTAL 61 100,00
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Conclusões
O resultado da pesquisa documental e bibliográfica demonstra que o
principal espaço de instrumentalização do PNEDH é nas pós-graduações em
estudos, pesquisas e extensão sobre EDH, além do trabalho de ONGs por
meio de seus Institutos e Centros, ou seja, não parece haver uma
implementação sistematizada de suas propostas, mas apenas o
desenvolvimento disperso de iniciativas com a temática a fim de incentivar
sua difusão. Mesmo quando considera-se a iniciativa da cidade de São Paulo
em 2016 na elaboração de seu plano municipal, pode-se interpretá-lo como
um ato da fase de encerramento de um ciclo político cujo posicionamento
favorável à EDH não se perpetuou na gestão seguinte eleita para o período
de 2016-2020.
Questiona-se ainda as formas pelas quais o PNEDH está sendo
implementado na educação: enquanto política pública complementar ao
PNE ou, em certa medida, concorrente? Ou serão suas propostas tão
desconhecidas dos gestores em políticas educacionais que sua articulação
não passa pelos planejamentos estratégicos e curriculares das linhas de ação
mais gerais?
É possível indicar ainda, a título de conclusão, que o espaço
conferido à reflexão sobre Direitos Humanos nas pós-graduações das
faculdades de educação das universidades públicas nacionais indica serem
estes espaços privilegiados para que o PNE não perca especificidade
pedagógica e didático-metodológica advinda da interdisciplinaridade
educação-direito, protegendo-o da diluição a que estaria sujeito sempre que
abordado apenas por um destes vieses.
Como sugestão aponta-se para a necessidade da formação
permanente de gestores e educadores na temática, a fim de propiciar novas
oportunidades de implementação de seu programa e aumentar a compilação
de dados e resultados sobre o assunto.
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Referências
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A edição não apresenta o ano de publicação, porém o ISBN 85-00-20190-8.
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LISTA DE SIGLAS
CNEDH - Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos
EAD – Educação à Distância
EDH – Educação em Direitos Humanos
IES - Instituições de Ensino Superior
MEC - Ministério da Educação
MJ - Ministério da Justiça
MRE - Ministério de Relações Exteriores
NGP – Nova Gestão Pública
ONG - Organização não-governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PNE – Plano Nacional de Educação
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