Manual Transfusional 3 Edição

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MANUAL TRANSFUSIONAL

MANUAL
TRANSFUSIONAL
MANUAL TRANSFUSIONAL

Documento Elaborado Pelos Membros da Comissão de Controle de Transfusão Hospitalar


(CCTH) da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto

Prof. Dr. Octávio Ricci Júnior


Médico, Diretor Administrativo do Hemocentro

Dra. Andrea Aparecida Garcia Guimarães


Médica, Diretora Técnica do Hemocentro

Janaina Guilhem Muniz


Biomédica, Responsável Técnica do Hemocentro

Me. Marcos Paulo Miola


Biólogo, Responsável pela Agência Transfusional do Hospital de Base

Prof. Dr. Alceu Gomes Chueire


Médico

Dr. Paulo Poiati Junior


Médico

Dra. Ariani Cristina Moraes Benites


Médico

Dra. Ariani Cristina Moraes Benites


Médico

Prof. Dr. Francisco Ricardo Marques Lobo


Médico

Dr. Paulo Cesar Espada


Médico

Dr. Carlos Alberto Polachini


Médico

Dra. Maura Cristina Negrelli


Médica

Dra. Maria Lucia Luiz Barcelos Veloso


Médica

Isabela Shumaher Frutuoso


Enfermeira

Luana Lais Femina


Enfermeira

Priscila Buck de Oliveira Ruiz


Enfermeira

Samantha Vaccari Grassi Melara


Enfermeira

Viviane Parise Correa


Enfermeira
Rodiani Vian
Assistente Social
MANUAL TRANSFUSIONAL

Finalização da 3ª edição: 01/2019

Ficha Catalográfica
Ricci Junior, O et al.
Manual Transfusional, Hemocentro de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, São Paulo, 3º edição, 2019.
110 p.
Manual Transfusional – Guia de Condutas Hemoterápicas da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São
José do Rio Preto e Instituições Conveniadas

1. Hemoterapia. 2. Transfusão. 3. Reação transfusional. 4. Hemocentro.


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Conteúdo pág.

APRESENTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1

2. TIPOS DE HEMOCOMPONENTES E CUIDADOS ESPECIAIS......................................... 2

3. USO RACIONAL DOS HEMOCOMPONENTES.................................................................. 8

4. RESERVA DE HEMOCOMPONENTES PARA CIRURGIA................................................. 10

5. TRANSFUSÃO EM ADULTOS............................................................................................. 15

6. TRANSFUSÃO PEDIÁTRICA.............................................................................................. 28

7. TRANSFUSÃO DE EMERGÊNCIA (TE).............................................................................. 37

8. TRANSFUSÃO MACIÇA (TM)............................................................................................. 40

9. TRANSFUSÃO AUTÓLOGA................................................................................................ 46

10. IMUNOGLOBULINA ANTI-D NA TRANSFUSÃO RhD POSITIVO...................................... 50

11. AFÉRESE TERAPÊUTICA.................................................................................................. 52

12. REQUISIÇÃO DE TRANSFUSÃO OU RESERVA DE HEMOCOMPONENTES................ 56

13. SELEÇÃO DE HEMOCOMPONENTES PARA TRANSFUSÃO......................................... 67

14. LIBERAÇÃO DO HEMOCOMPONENTE PARA A TRANSFUSÃO.................................... 73

15. TRANSPORTE DO HEMOCOMPONENTE........................................................................ 75

16. ADMINISTRAÇÃO DO HEMOCOMPONENTE................................................................... 79

17. REAÇÃO TRANSFUSIONAL.............................................................................................. 84

18. REFERENCIAS................................................................................................................... 98
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Lista de Tabelas, Quadros e Figuras Pág.

Tabela 1. Recomendação de preparo de hemocomponentes para cirurgia............................ 12

Figura 1. Fluxograma para identificação da necessidade transfusional no intra-operatório... 18

Quadro 1. Indicação de transfusão de CP para procedimentos cirúrgicos e/ou invasivos...... 22

Quadro 2. Indicações de transfusão de CH em pacientes <4 meses de idade....................... 29

Quadro 3. Indicações de transfusão de CH em pacientes >4 meses de idade....................... 30

Quadro 4. Indicações para transfusão de concentrado de plaquetas em crianças com


32
menos de 4 meses de vida........................................................................................................

Quadro 5. Indicações para transfusão de concentrado de plaquetas em crianças com mais


32
de 4 meses de vida...................................................................................................................

Quadro 6. Orientação para transfusão de PFC em neonatos e crianças................................. 33

Quadro 7. Potencial para Transfusão Maciça - ABC SCORE.................................................. 42

Quadro 8. Sequência de hemocomponentes dispensados em cada maleta........................... 43

Tabela 2. Indicações de plasmaférese em determinadas


53
doenças............................................

Figura 2. Exemplo de embalagens e identificações utilizadas no transporte de amostras de


64
pacientes...................................................................................................................................

Tabela 3. Compatibilidade ABO para CH e PFC...................................................................... 68

Tabela 4. Prioridade de seleção de CP de acordo com o sistema ABO................................... 69

Tabela 5. Principais tipos de reações transfusionais................................................................ 88


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APRESENTAÇÃO

O Hemocentro de São José do Rio Preto usa os critérios rigorosos impostos


pela legislação em vigor para selecionar e testar os doadores. No entanto, a
transfusão é um procedimento que envolve riscos, mesmo sendo realizada por
meio de indicação precisa, respeitando todas as normas técnicas preconizadas.
Contudo, há sempre um risco potencial de ocorrer reações transfusionais, quer
sejam imediatas ou tardias.
Para garantir segurança e qualidade do sangue e hemocomponentes
oferecidos aos pacientes é necessário um rígido controle das ações realizadas
pelos profissionais responsáveis, desde a captação dos doadores até a
administração do sangue no paciente. É imprescindível o uso racional de
hemocomponentes, com envolvimento do médico assistente na indicação correta
da transfusão, além do devido preenchimento das requisições de transfusão que
norteiam a seleção do hemocomponente ideal. Medidas estas, indispensáveis
para evitar a troca de pacientes e de amostras coletadas, garantindo que o
hemocomponente ideal também chegue ao paciente correto.
Este Manual foi elaborado com integrantes do Hemocentro de São José do Rio
Preto, da Agência Transfusional e da Comissão de Controle de Transfusão
Hospitalar da Fundação Faculdade Regional de Medicina - FUNFARME, com o
objetivo de normatizar a prescrição e aplicação dos hemocomponentes e unificar
as informações em um documento, que seja um padrão de referência, com
diretrizes na conduta transfusional, juntamente com as regulamentações técnicas
do Ministério da Saúde.
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1. INTRODUÇÃO

Este Manual tem o propósito de auxiliar na prática Hemoterápica de forma


simplificada, com o resumo das principais indicações de hemocomponentes,
doses e quantidades, seus efeitos adversos e a conduta frente aos mesmos,
servindo como guia para uso de hemocomponentes. As orientações em relação
às condutas deste serviço de hemoterapia têm o intuito de garantir o uso
racional de sangue e hemoderivados, promovendo a segurança transfusional.
Estendem-se desde a prescrição/requisição médica, coleta e transporte das
amostras, critérios para aceitação da amostra e requisição médica, realização
dos testes pré-transfusionais, escolha e liberação do hemocomponente,
transfusão e monitoramento, até a verificação e avaliação de eventuais reações
adversas à transfusão. Espera-se que seja uma ferramenta importante e
cotidiana de consulta para os prescritores de transfusões e demais
profissionais da saúde envolvidos em atendimentos com suporte transfusional.

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2. TIPOS DE HEMOCOMPONENTES E CUIDADOS ESPECIAIS(1–4)

Os Hemocomponentes são produtos gerados um a um pelo serviço de


hemoterapia, a partir do sangue total, por meio de processos físicos
(centrifugação, congelamento). Existem duas formas de obtenção de
Hemocomponentes. A mais comum é a coleta do sangue total. A outra forma,
mais específica e de maior complexidade, é a coleta por meio de aférese. A
aférese é um procedimento caracterizado pela retirada do sangue do doador,
seguida da separação de seus componentes por meio de equipamento próprio,
retenção da porção do sangue que se deseja retirar na máquina e devolução
dos outros componentes ao doador.

O processamento dos hemocomponentes realizado no Hemocentro de


São José do Rio Preto segue a legislação vigente, com altos padrões de
qualidade que minimizam a contaminação e proliferação microbiana durante os
processos que se separa o sangue total em hemocomponentes eritrocitários,
plasmáticos e plaquetários.

2.1. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH)


O CH é composto dos eritrócitos remanescentes na bolsa coletada, após a
centrifugação do sangue total, e extração do plasma para uma bolsa satélite. O
CH deve ter hematócrito entre 50 a 80% (o hematócrito esperado depende do
tipo de solução preservativa utilizada na bolsa, sendo de 50 a 70% para as
soluções aditivas e de 65 a 80% para CDPA-1). Deve ser armazenado entre 2°
e 6° C, com validade variável entre 35 e 42 dias conforme o tipo de
anticoagulante utilizado. Apresenta geralmente volume entre 250 e 350mL,
contendo ainda pequena quantidade de plasma, leucócitos e plaquetas.

2.2. CONCENTRADO DE PLAQUETAS (CP)


O CP pode ser obtido a partir de unidade individual de sangue total ou por
aférese, coletadas de doador único. Cada unidade de CP unitários
(randômicas) contêm aproximadamente 5,5x1010 plaquetas em 50-60mL de
plasma, já as unidades coletadas por aférese contêm pelo menos 3,0x1011

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plaquetas em 200-300mL de plasma (correspondente de 6 a 8 unidades de CP


unitários).

2.3. PLASMA FRESCO CONGELADO (PFC)


O PFC é obtido através da separação de uma unidade de sangue total por
centrifugação e totalmente congelado até oito horas após a coleta. Deve ser
armazenado a uma temperatura de no mínimo 20ºC negativos, com validade
de 12 meses. Uma vez descongelado, deve ser utilizado para transfusão em
até 24 horas. O produto contém níveis hemostáticos de todos os fatores de
coagulação, inclusive FV e FVIII. O volume de cada unidade deve ser igual ou
superior a 150mL e geralmente inferior a 300mL.

2.4. CRIOPRECIPITADO (CRIO)


O CRIO é uma fonte concentrada de algumas proteínas plasmáticas que
são insolúveis a temperatura de 1°C a 6°C. É preparado descongelando-se
uma unidade de plasma fresco congelado à temperatura de 1°C a 6°C. Depois
de descongelado, o plasma sobrenadante é removido deixando-se na bolsa a
proteína precipitada em 10 – 15mL deste plasma. Este material é então
recongelado no período de 1 hora e tem validade de 1 ano.

2.5. PLASMA ISENTO DO CRIOPRECIPITADO (PIC)


O PIC é aquele do qual foi retirado, em sistema fechado, o crioprecipitado.
Tem validade de 12 (doze) meses a partir da doação, o volume deve ser maior
ou igual a 140mL, geralmente entre 150 e 200mL. Deve ser armazenado à
temperatura de -20°C ou inferior. É depletado de FVIII, fibrinogênio e
multímetros de alto peso molecular de Fator de von Willebrand, embora
contenha a metaloproteinase responsável por sua metabolização.

2.6. CONCENTRADO DE GRANULÓCITOS (CG)


Os CG são hemocomponentes obtidos por aférese de doador único, por
meio de máquinas separadoras de células, de fluxo contínuo ou descontínuo,
cujo rendimento de coleta pode ser melhorado pela utilização de doadores
estimulados com a administração de fator estimulador de colônias de
granulócitos (G-CSF) e corticosteróides.
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2.6.1. Cada concentrado deve conter no mínimo 1,0x1010 granulócitos em 90%


das unidades avaliadas, em um volume final inferior a 500mL,
(geralmente 200-300mL) incluindo anticoagulante, plasma e também
resíduo do agente hemossedimentante utilizado no procedimento de
coleta. Além dos granulócitos, usualmente estes concentrados contêm
outros leucócitos e plaquetas e cerca de 20 - 50mL de hemácias.

2.7. PROCEDIMENTOS OU CUIDADOS ESPECIAIS


Algumas situações na terapia transfusional exigem cuidados adicionais
para transfusão dos hemocomponentes, entre eles: a desleucocitação,
irradiação, lavagem com solução salina e fenotipagens adicionais, descritas
nesta edição. Assim “procedimentos especiais” refere-se ao componente
sanguíneo coletado, processado ou modificado especificamente para minimizar
complicações adicionais a transfusão de sangue, visando garantir a segurança
transfusional.

2.7.1. DESLEUCOCITAÇÃO OU FILTRAGEM


É um procedimento realizado por meio de filtros específicos para remo-
ção de leucócitos de um componente sanguíneo celular (glóbulos vermelhos e
plaquetas). Uma unidade de sangue total contém cerca de 2 a 3x10 9
leucócitos. O componente desleucocitado deve conter menos que 5x10 6
leucócitos. Com este procedimento ocorre redução de 99% dos leucócitos do
produto inicial. A finalidade é a prevenção de complicações relacionadas à
transfusão de hemocomponentes alogênicos devido à exposição do receptor
aos leucócitos do doador. Entre elas incluem-se: reação febril não hemolítica,
aloimunização com refratariedade plaquetária e imunomodulação, assim como
transmissão de agentes infecciosos como o Citomegalovírus (CMV), o vírus
Epstein-Baar (EBV) e o HTLV I/II.

2.7.1.1. INDICAÇÕES:
 Prevenção de Reação Transfusional Febril Não Hemolítica
o História de duas reações febris não hemolíticas
 Profilaxia de aloimunização em pacientes a serem Politransfundidos

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o Hemoglobinopatias
o Anemias hemolíticas hereditárias
o Transplante de medula óssea
o Anemia aplástica
o Síndrome mielodisplásica (SMD)
o Leucemia mielóide aguda
o Doenças onco-hematológicas graves até esclarecimento diagnóstico
 Prevenção de Infecção para CMV nas seguintes situações:
o Síndromes de imunodeficiências congênitas
o Paciente HIV positivo com sorologia negativa para CMV.
o Candidato a transplante de órgãos e medula óssea se doador e
receptor forem negativos para CMV.
o Transfusão intrauterina.
o Gestantes com sorologia não reativa ou desconhecida para CMV.
o Recém nascidos prematuros (inferior a 28 semanas) e/ou de baixo
peso (≤1.200g) de mães CMV negativas ou com sorologia
desconhecida.

2.7.2. IRRADIAÇÃO
A irradiação dos hemocomponentes é realizada para a prevenção da
doença do enxerto versus hospedeiro associada à transfusão (DECH-AT),
complicação imunológica usualmente fatal, causada pela enxertia e expansão
clonal dos linfócitos do doador em receptores suscetíveis. Com a finalidade de
prevenir esta complicação, os hemocomponentes celulares (concentrado de
hemácias e de plaquetas) devem ser submetidos à irradiação gama na dose
de, pelo menos, 2500cGy (25Gy), impossibilitando a multiplicação dos
linfócitos. As hemácias podem ser submetidas à irradiação até 14 dias após a
coleta e armazenado até 28 dias depois da irradiação.
2.7.2.1. INDICAÇÕES:
 Na prevenção da Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro Associada a
Transfusão (DECH-AT) nos seguintes grupos de risco:
o Transfusão intrauterina.

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o Exsanguíneotransfusão, obrigatoriamente, quando houver


transfusão intrauterina prévia.
o Recém nascidos prematuros (inferior a 28 semanas) e/ou de
baixo peso (≤1.200g).
o Portadores de imunodeficiências congênitas graves.
o Pós transplante de medula óssea autólogo ou alogênico.
o Pós transplante com células de cordão umbilical.
o Pacientes tratados com análogos da purina; fludarabina,
cladribine, deoxicoformicina.
o Receptor de transplante de coração ou pulmão.
o Portadores de linfomas, leucemia mielóide aguda e anemia aplás-
tica em uso de imunossupressor.
o Receptor de concentrado de plaquetas HLA compatíveis.
o Quando o receptor tiver qualquer grau de parentesco com o
doador.

2.7.3. LAVAGEM DE CONCENTRADO DE HEMÁCIAS


É realizada por meio de lavagens das hemácias com solução isotônica
de cloreto de sódio estéril em quantidade suficiente (1 a 2 litros), com a
finalidade de eliminar a maior quantidade possível de plasma. Este
procedimento deve ser realizado em Agência Transfusional e/ou Unidade de
Hemoterapia utilizando capela de fluxo laminar.
2.7.3.1. INDICAÇÕES
 Reação alérgica às proteínas do plasma
 Paciente deficiente de IgA com história prévia de reação anafilática.

2.7.4. FENOTIPAGEM DE ANTÍGENOS ERITROCITÁRIOS


Identifica a presença ou não dos antígenos eritrocitários, por meio de
técnicas sorológicas.
2.7.4.1. INDICAÇÕES(5–8)
 Na prevenção de aloimunização

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o Em receptores do sexo feminino em idade fértil (até 50 anos),


realizar transfusão de CH K negativo ou correspondente quando
conhecido.
o Em receptor com histórico de aloanticorpo prévio, realizar
transfusão de CH antígeno negativo para o anticorpo em questão
e considerar uma correspondência estendida para os antígenos
eritrocitários com maior risco de imunização, sendo: D > E > C > c
> e > K > Jka > Fya > Jkb > S > Fyb > s.
o Em pacientes que não apresentam anticorpos anti-eritrocitários
que estão ou poderão entrar em esquema de transfusão crônica,
não imunocomprometidos, considerar uma correspondência
estendida para os antígenos eritrocitários com maior risco de
imunização, sendo: D > E > C > c > e > K > Jka > Fya > Jkb > S >
Fyb > s.

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3. USO RACIONAL DOS HEMOCOMPONENTES(9–11)


A Hemoterapia moderna se desenvolveu baseada no preceito racional
de transfundir-se somente o componente que o paciente necessita, baseado
em avaliação clínica e/ou laboratorial, não havendo indicações de sangue total.
A maioria das padronizações de indicações de hemocomponentes está
baseada em evidências determinadas através de análise de grupos de
pacientes, nunca devendo ser empíricas ou baseadas somente na experiência
do profissional médico envolvido. As indicações básicas para transfusões são
para restaurar ou manter a capacidade de transporte de oxigênio, o volume
sanguíneo e a hemostasia.
Devemos ressaltar que as condições clínicas do paciente, e não somen-
te resultados laboratoriais, são fatores importantes na determinação das
necessidades transfusionais. Sabemos também que apesar de todos os
cuidados, o procedimento transfusional ainda apresenta riscos (doença
infecciosa, imunossupressão, aloimunização), devendo ser realizado somente
quando existe indicação precisa e nenhuma outra opção terapêutica.

Como o procedimento transfusional apresenta risco potencial, a decisão


deverá ser compartilhada pela equipe médica com o paciente ou seus
familiares, se este não tiver condição de entendimento, os riscos devem ser
discutidos e todas as dúvidas devem ser esclarecidas (ver anexo 2). Em
situações relacionadas com crenças religiosas existem orientações específicas
que devem ser discutidas e esclarecidas.

Segundo a legislação vigente(2):


“As transfusões serão realizadas por médico ou profissional de
saúde habilitado, qualificado e conhecedor das normas vigentes, e
serão realizadas apenas sob supervisão médica, isto é, em local em
que haja, pelo menos, um médico presente que possa intervir em
casos de reações transfusionais”.

3.1. PRINCÍPIOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS PELO MÉDICO


ANTES DA DECISÃO DE TRANSFUNDIR O PACIENTE

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 A indicação de transfusão deverá ser feita exclusivamente por médico e


baseada principalmente em critérios clínicos.
 Toda a transfusão traz em si riscos, sejam imediatos, ou tardios. Os
benefícios da transfusão deverão superar os riscos.
 A indicação de transfusão poderá ser objeto de análise por médico do
serviço de hemoterapia, seguindo a legislação atual(2), onde:
“O médico do serviço de hemoterapia pode suspender ou modificar
uma transfusão, quando considerá-la desnecessária, registrando de
maneira clara a alteração e os motivos desta decisão”.

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4. RESERVA DE HEMOCOMPONENTES PARA CIRURGIA(4,10,12–14)

O conhecimento e análise do médico em relação ao consumo de


hemocomponentes destinado ao paciente submetido à intervenção cirúrgica são
de fundamental importância para que a Agência Transfusional possa prover um
serviço transfusional rápido, seguro e sem desperdícios.

Considerando-se exclusivamente a utilização de hemocomponentes para


cada cirurgia, pode-se classificá-la pelo índice de pacientes transfundidos
(IPT):

IPT= nº de pacientes transfundidos x 100


Nº de cirurgias realizadas

 Quando IPT for maior que 10%, recomenda-se a compatibilização de CH


previamente à cirurgia (número de unidades compatibilizadas será
determinado pela média utilizada por paciente). Requisição de reserva é
fortemente recomendado, com as quantidades de CH indicada na tabela 1.

 Quando for entre 1 e 10%, recomenda-se que seja realizada a tipagem


sanguínea (ABO e RhD) e a pesquisa de anticorpos irregulares (PAI)
previamente. Requisição de reserva é recomendado, com valor zero para
quantidade para CH.

 Quando for menor que 1%, não se recomenda qualquer preparo


hemoterápico prévio. A requisição de reserva fica a critério médico (ACM) a
depender do paciente.

Exceção aos dois últimos grupos, em casos sabidamente complexos ou


associado a outras comorbidades, o médico deverá justificar o preparo
hemoterápico prévio (IPT entre 1-10%) ou a requisição de reserva (IPT menor
que 1%). A recomendação de preparo de CH para diversas cirurgias é
apresentada na Tabela 1.

A Requisição de reserva de hemocomponentes para procedimentos


cirúrgicos programados deverá ser realizada pela equipe cirúrgica com

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antecedência de 48 a 24 horas. A requisição deverá estar de acordo com


capitulo 11, deste manual e pode ser assinada por qualquer médico da equipe
cirúrgica ou assistente.

OBSERVAÇÕES:
 O médico responsável pela cirurgia deverá solicitar o número de
hemocomponentes de acordo a proposta da tabela de Recomendação
de preparo de CH para cirurgia por especialidade no HB e HCM (Tabela
1).
 A AT irá compatibilizar o número de CH de acordo com a proposta,
porém deverá possuir estoque suficiente para atender qualquer
intercorrência. No transcorrer da cirurgia, conforme houver solicitação de
transfusão das bolsas compatibilizadas previamente cabe a AT sempre
deixar uma unidade de CH compatibilizada. No entanto, o médico
responsável pela cirurgia deve avisar a AT se houver intercorrência e
necessidade de compatibilizar mais bolsas do que previamente
solicitado. É importante esclarecer que o tempo de compatibilização
para CH é de aproximadamente 60 minutos.
 Deve-se evitar requisição de bolsas de hemocomponentes para estoque
em sala de cirurgia. Se for necessário, será enviado em maleta térmica,
lacrada. Recomenda-se não abrir a maleta até que a necessidade de
transfusão seja confirmada.
 Requisições de reservas de CP devem seguir o item 5.2.4
Procedimentos cirúrgicos, invasivos e condições especiais.

 Quando não for possível atender à requisição de reserva cirúrgica,


por falta de hemocomponentes em estoque ou por qualquer outro
motivo, o Serviço de Hemoterapia (médico Hemoterapêuta e/ou
plantonistas da AT) deverá comunicar o médico responsável pela
cirurgia.

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Tabela 1. Recomendação de preparo de CH para cirurgia por especialidade no HB e HCM


PROCEDIMENTO CIRÚRGICO POR ESPECIALIDADE IPT PROPOSTA
CIRURGIA CARDIO-PEDIÁTRICA (Ver protocolo:) IPT N° CH
Média Geral 1-10% 1
CIRURGIA CARDIO-VASCULAR IPT N° CH
Média Geral >10% 2
Aneurisma Torácico >10% 2
Aneurisma Aorta Tóraco Abdominal >10% 2
Aneurisma Aorta Tóraco Abdominal Roto >10% 3
Correção de canal atrioventricular 1-10% 1
Fechamento CIV ou CIA >10% 2
Implante de marcapasso <1% 0
Implante de prótese valvar >10% 2
Revascularização miocárdica c/ extracorpórea >10% 3
Transplante de coração >10% 5
Troca valvar e/ou plástica >10% 2
CIRURGIA GERAL / CLÍNICA GERAL IPT N° CH
Média Geral 1-10% 0
Colecistectomia <1% 0
Colectomia 1-10% 0
Colostomia <1% 0
Craniotomia descompressiva 1-10% 0
Debridamento de úlcera de decúbito <1% 0
Drenagem abscesso e hematomas <1% 0
Duodeno / pancreatectomia >10% 1
Endoscopia digestiva alta / HD: HDA >10% 2
Enxerto de pele 1-10% 0
Esofagectomia 1-10% 0
Esplenectomia 1-10% 0
Gastrectomia total ou subtotal >10% 1
Implante shunt intra-hepático >10% 1
Hemorroidectomias, fistulectomia anal 1-10% 0
Hepatectomia >10% 2
Jejunostomia / Ileostomia >10% 1
Laparotomia exploradora >10% 2
Laparotomia c/ biópsia >10% 1
Linfadenectomia retroperitoneal >10% 1
Mamoplastia redutora <1% 0
Pancreatectomia >10% 1
Retossigmoidectomia >10% 1
Transplante de fígado >10% 4

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CIRURGIA PEDIÁTRICA / PEDIATRIA IPT N° CH


Média Geral 1-10% 0
Implante de cateter duplo lúmen na IRA <1% 0
Laparotomia exploradora 1-10% 0
Fratura diáfise tíbia 1-10% 0
CIRURGIA ORTOPÉDICA IPT N° CH
Média Geral 1-10% 0
Amputação ou desarticulação de membro inferior distal/ proximal >10% 1
Amputação ou desarticulação de membro superior distal /proximal >10% 1
Artroplastia joelho 1-10% 0
Artroplastia ombro 1-10% 0
Artroplastia quadril >10% 1
Biópsia, Osteotomia <1% 0
Descompressão medular - torácica ou lombar >10% 2
Descompressão medular - cervical >10% 1
Fixação de colo de fêmur >10% 1
Fratura fêmur – Osteossíntese >10% 1
Fraturas cotovelo <1% 0
Fratura radio / ulna <1% 0
Fratura úmero <1% 0
Fratura diáfise tíbia / planalto tibial 1-10% 0
Fratura transtrocanteriana >10% 1
Hérnia de disco (sem artrodese coluna) 1-10% 0
Laminectomia 1-10% 0
Prótese de quadril >10% 1
Prótese total de joelho 1-10% 0
Próteses discais (lombar) >10% 1
Próteses discais (cervical) >10% 1
Ressecção parcial de clavícula <1% 0
Retirada de fixador externo <1% 0
Revisão de prótese de quadril >10% 1
CIRURGIA TORCICA IPT N° CH
Média Geral >10% 1
Biópsia pulmonar <1% 0
Toracotomia exploradora >10% 1
Transplante de pulmão unilateral >10% 1
Transplante de pulmão bilateral >10% 2
CIRURGIA VASCULAR IPT N° CH
Média Geral >10% 2
Amputação de membros inferiores / superiores >10% 1
Aneurisma Aorta Abdominal >10% 2

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Aneurisma Aorta Abdominal Endoprótese >10% 2


Aneurisma Aorta Abdominal Roto >10% 2
Angioplastia arterial 1-10% 0
Correção de aneurisma / dissecção de aorta >10% 2
Embolectomia Arterial 1-10% 0
Implante de Endoprótese (Aorta / extremidades) 1-10% 0
Ponte axilo-bifemural 1-10% 0
Ponte-tromboendarterectomia ilíaco-fêmur >10% 1
Ponte tromboendarterectomia aorto-femural >10% 1
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA IPT N° CH
Média Geral 1-10% 0
Cesárea <1% 0
Curetagem uterina <1% 0
Divertículo uretral <1% 0
Gravidez ectópica 1-10% 0
Histerectomia 1-10% 0
Laparotomia exploradora 1-10% 0
Linfadenectomia pélvica <1% 0
Mastectomia radical <1% 0
NEUROCIRURGIA IPT N° CH
Média Geral >10% 1
Aneurisma Cerebral (microcirurgia) 1-10% 0
Artrodese coluna >10% 1
Artrodese Tóraco-lombar >10% 2
Craniotomia em geral 1-10% 0
Hematoma intraparenquimatoso 1-10% 0
Hematoma subdural agudo >10% 2
UROLOGIA / NEFROLOGIA IPT N° CH
Média Geral 1-10% 0
Cistoprostatectomia 1-10% 0
Nefrectomia 1-10% 0
Prostatectomia radical 1-10% 0
Prostatectomia suprapúbica 1-10% 0
Transplante de rim (Doador) 1-10% 0
Transplante de rim (Receptor) >10% 1
IPT = Índice de pacientes transfundidos; N° CH = Número de concentrado de hemácias; >10%
= Requisição de reserva é fortemente indicado; 1-10% = Requisição de reserva recomendado;
<1% = Requisição de reserva a critério medico, a depender do paciente.

Observação: procedimentos que não estão na lista, consultar a AT ou seguir a


média geral para especialidade até a próxima atualização.

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5. TRANSFUSÃO EM ADULTOS(3,12,13,15–18)

5.1. TRANSFUSÃO DE CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH)


O objetivo da transfusão de CH é aumentar a capacidade de transporte
de oxigênio.

5.1.1. PERDA AGUDA SANGUÍNEA:


O limite inferior de tolerância à anemia aguda normovolêmica não foi
estabelecido. Acredita-se que ocorra oxigenação adequada na maioria dos
indivíduos com hemoglobina de 5g/dL e ainda melhor quanto maior. Contudo, a
concentração de hemoglobina deve ser considerada associada a outros fatores
como: comorbidades, parâmetros hemodinâmicos, de perfusão sanguínea,
velocidade de perda, etc.

5.1.1.1. RECOMENDAÇÕES GERAIS(19,20):


 A transfusão não está indicada quando Hemoglobina (Hb) >10g/dL (grau
de recomendação A).
 A transfusão está habitualmente indicada quando Hb <7g/dL (grau de
recomendação A).
 A transfusão deverá ser administrada conforme a velocidade de perda. É
aconselhável reavaliar o paciente após cada unidade transfundida, até
que se atinja o nível de Hb entre 7 e 10 g/dL e a estabilidade
hemodinâmica.
 A estratégia correta da transfusão com níveis entre 7 e 10 g/dL de
hemoglobina é menos clara. Verificar o quadro clínico (hemodinâmica -
taquicardia, hipotensão, baixo débito cardíaco) e parâmetros
laboratoriais (PvO2< 25 torr, índice de extração >50%, SVO2<60%,
acidose, hiperlactatemia - PvO2 = tensão de O2 na artéria pulmonar e
VO2 = consumo de O2) - (grau de recomendação B).
 Em pacientes acima de 65 anos ou cardiopatas instáveis e
pneumopatas, é aceitável transfundir quando Hb <8g/dL (grau de
recomendação B).

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 Em coronariopatas na vigência de doença coronariana instável, é


aceitável transfundir quando Hb 8-10 g/dL (grau de recomendação B).

5.1.2. ANEMIA HEMOLÍTICA AUTO-IMUNE:


Anemia hemolítica auto-imune: transfundir somente na vigência de
instabilidade hemodinâmica ou de lesão orgânica (grau de recomendação C).

5.1.3. ANEMIA EM PACIENTES CRÍTICOS:


Mesmos parâmetros que os da perda aguda (grau de recomendação A).

5.1.4. PROTOCOLO DE TRANSFUSÃO PERI-OPERATÓRIA:


O objetivo é manejar o paciente de forma que não necessite transfusão.
Não há indicação de atingir níveis prévios ou considerados “normais” antes ou
depois da cirurgia

5.1.4.1. PRÉ-OPERATÓRIO:
 Realizar consulta pré-operatória / pré-anestésica e avaliar risco
transfusional (ver tabela 3);
o Se houver necessidade de reserva, providenciar requisição de
reserva com antecedência de 12 a 24 horas ao serviço de
hemoterapia (ver capítulo reserva de hemocomponente para
cirurgia)
 Investigar anemia e corrigir se Hb <8,0g/dL;
 Quando a cirurgia é eletiva, o ideal é evitar a transfusão. Deve-se
investigar e tratar a anemia preexistente, suspender o uso de
antiagregantes plaquetários, reverter a anticoagulação e programar,
sempre que possível, a transfusão autóloga.
 Em pacientes hígidos, ou seja, sem doença cardíaca, cerebral ou
pulmonar preexistente, não há indicação para elevar a hemoglobina a
10g/dL no pré-operatório. Hemoglobina acima de 8g/dL é segura e
aceitável nessas circunstâncias
 Em pacientes com doença cardíaca, pulmonar ou cerebrovascular
preexistente, deve-se elevar a hemoglobina para 10g/dL no pré-

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operatório de cirurgias eletivas. A mesma recomendação deve ser feita


para pacientes idosos (idade >70 anos), visto o risco de doença
coronariana ou cerebrovascular silenciosa.
 Em pacientes com trombocitopenias intensas (contagem inferior a
50.000 plaquetas/mm3), a hemoglobina no pré-operatório deve ser
elevada para 10g/dL.
 Avaliar autodoação de sangue: A possibilidade de doação autóloga
sempre deve ser considerada naqueles pacientes em bom estado geral
que serão submetidos a cirurgias eletivas. Para tanto, é necessária uma
solicitação prévia ao Serviço de Hemoterapia.

5.1.4.2. INTRA-OPERATÓRIO
A transfusão de hemácias está indicada durante o ato cirúrgico quando a
perda sanguínea for maior que 500mL ou quando houver sinais de hipóxia
decorrente da perda aguda de sangue

 Investigar anemia durante o procedimento;


 Reverter anticoagulação;
 Revisar hemostasia;
 Utilizar drogas farmacológicas para menor sangramento (por exemplo,
ácido tranexâmico).
 Manuseio igual ao do sangramento agudo;
 Não há indicação de atingir níveis prévios ou considerados “normais”
antes ou depois da cirurgia.
 Não transfundir quando Hb >10 g/dL
 Em reoperação cardíaca é aceitável transfundir quando Hb < 10g/dL.
 Se identificado anemia e/ou índices que indiquem/justifiquem a
transfusão, seguir conforme indicado na figura 1.

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Figura 1. Fluxograma para identificação da necessidade transfusional no intra-operatório

5.1.4.3. PÓS-OPERATÓRIO
Seguir as mesmas regras utilizadas para a transfusão nos tópicos
relacionados
 Observação: Para transfusão de outros hemocomponentes, ver tópicos
específicos, relacionado ao hemocomponente de interesse.

5.1.5. ANEMIA CRÔNICA


A anemia crônica é melhor tolerada do que a aguda, portanto:
 A causa da anemia deve ser estabelecida, o tratamento iniciado e a
transfusão realizada somente em casos de risco de vida;
 A transfusão deve ser administrada em intervalos máximos que
garantam o não aparecimento de sintomas que alterem a qualidade de
vida ou interfiram nas atividades diárias do paciente;
 Na anemia falciforme, as transfusões NÃO estão vinculadas ao nível
de hemoglobina e sim ao quadro clinico; sugere-se que especialistas
orientem os casos individualmente. As principais causas de morbidade e
mortalidade na anemia falciforme são os efeitos agudos e de longo

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prazo da vaso-oclusão. O desenvolvimento desta é resultado de uma


série de fatores, começando com a polimerização de desoxihemoglobina
S e terminando com a subsequente interação entre as hemácias
falciformes e o endotélio vascular. Alguns destes fatores que influenciam
na polimerização da hemoglobina são: a desidratação celular, que
aumenta a concentração de hemoglobina falciforme (HbS) e o processo
de falcização, o nível das cadeias de globina gama, que inibem a
polimerização da HbS, além da acidose intracelular e saturação de
oxigênio.
 Nas hemoglobinopatias, o suporte transfusional deverá ser orientado em
conjunto com o especialista.

5.1.1. ANEMIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS:


5.1.1.1. TRANSFUSÃO EM PACIENTES SUBMETIDOS À
RADIOTERAPIA E/OU QUIMIOTERAPIA:
 Estudos indicam que o nível de hemoglobina tem impacto tanto na
qualidade de vida como na resposta tumoral à radioterapia; pacientes
com níveis mais baixos de hemoglobina antes, durante e após
radioterapia apresentam maior risco de recaída e menor sobrevida. Tal
fato deve-se provavelmente à menor ação da radioterapia na hipóxia.
 A administração de transfusões seguidas não parece ser a melhor forma
de se lidar com a anemia, pois colocam o paciente em risco de
imunossupressão e têm efeito transitório.
 As indicações de eritropoietina (EPO) deverão ser repensadas levando
em consideração as novas recomendações do FDA, meta-análise
mostram que a EPO diminui a sobrevida de pacientes com câncer.
Portanto a administração de EPO para elevar e manter a hemoglobina
deverá ser avaliada caso a caso.

5.1.2. TRANSFUSÃO EM PACIENTES SUBMETIDOS À QUIMIOTERAPIA


POR DOENÇA MEDULAR:

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 Doença Aguda (por exemplo, leucemia aguda): transfusão aceitável se


Hb<10 g/dL e conforme sintomatologia do paciente.
 Doença Crônica Assintomática (por exemplo, mielodisplasia): aceitável
transfundir se Hb < 7,0 g/dL. e conforme sintomatologia do paciente.

5.1.3. TRANSFUSÃO EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS:


 Utilizar os mesmos parâmetros que os da perda aguda (grau de
recomendação A);
 Considerar a reposição de eritropoietina e ferro.
 Preferencialmente administrar transfusões de hemácias durante a
diálise, para evitar o risco de sobrecarga volêmica.

5.1.4. DOSE
Deve ser transfundida a quantidade de hemácias suficiente para
correção dos sinais/sintomas de hipóxia ou para que a hemoglobina atinja
níveis aceitáveis. Uma unidade de CH deve elevar o nível de hemoglobina em
1,0 g/dL e o hematócrito em 3% em um receptor com cerca de 70 kg de peso e
que não apresente sangramento ativo ou hemólise. Em pacientes pediátricos, o
volume a ser transfundido para obtenção dos mesmos resultados deve ser de
10 a 15 mL/kg.

5.1.5. AVALIAÇÃO TERAPÊUTICA


A avaliação da resposta terapêutica à transfusão de CH deve ser feita
por meio de nova dosagem de hemoglobina (Hb) ou hematócrito (Ht) 1-2 h
após a transfusão, considerando também a resposta clínica. Em pacientes
ambulatoriais, a avaliação laboratorial feita 30 minutos após o término da
transfusão possui resultados que podem ser comparáveis.

5.2. TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS


Basicamente, as indicações de transfusão de CP estão associadas às
plaquetopenias desencadeadas por falência medular e raramente indica-se a

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reposição em plaquetopenias por destruição periférica ou alterações


congênitas de função plaquetária. A seguir um resumo das indicações
recomendadas. Para maiores detalhes, consultar o Guia para o uso de
Hemocomponentes do ministério da saúde.

5.2.1. USO PROFILÁTICO EM PLAQUETOPENIAS POR FALÊNCIA


MEDULAR: Associado a métodos terapêuticos utilizados no tratamento de
doenças onco-hematológicas (quimioterapia, radioterapia e transplantes)
ou doenças crônicas como anemia aplástica grave e síndrome
mielodisplásica, sendo indicado transfusão profilática:
 Contagens <5.000/μL sem sinais de sangramento;
 Contagens <10.000/μL na vigência de sangramento;
 Contagens <20.000/μL com fatores associados, como: febre alta,
hiperleucocitose, queda rápida na contagem plaquetária, utilização de
medicações que diminuem a sobrevida das plaquetas (alguns
antibióticos e antifúngicos), manifestações hemorrágicas menores
(petéquias, equimoses, etc.) ou alterações na coagulação ou paciente
que não possa ser mantido sob avaliação constante (paciente
ambulatorial).

5.2.2. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS A ALTERAÇÕES NA FUNÇÃO


PLAQUETÁRIA

Pacientes portadores de alterações na função plaquetária raramente


necessitam de transfusão de CP. Geralmente a transfusão é recomendada
previamente a procedimentos cirúrgicos.

5.2.3. PLAQUETOPENIAS POR DILUIÇÃO OU DESTRUIÇÃO PERIFÉRICA


Quatro situações são consideradas importantes, com indicações:

5.2.3.1. Transfusão maciça:


 Contagem <50.000/μL na troca de 2 volemias;
 Contagem <100.000/μL em alterações graves de hemostasia ou
trauma de SNC.

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5.2.3.2. Coagulopatia Intravascular Disseminada: Não há evidencias de


efeitos benéficos com transfusões profiláticas, sendo indicado em:
 Contagem <20.000/μL na vigência de sangramento.
5.2.3.3. Plaquetopenias Imunes: Associada a presença de auto
anticorpos antiplaquetas. Transfusão restrita a situações de
sangramentos graves que coloquem em risco a vida do paciente.
5.2.3.4. Dengue Hemorrágica: A plaquetopenia é causada por anticorpos
contra proteínas virais que reagem de forma cruzada com
antígenos plaquetários, portanto não há indicação para transfusão
profilática.

5.2.4. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS, INVASIVOS E CONDIÇÕES


ESPECIAIS
O quadro 1 demonstra o nível mínimo desejado de plaquetas para
determinados procedimentos cirúrgicos e/ou invasivos.

Quadro 1. Indicação de transfusão de CP para procedimentos cirúrgicos e/ou


invasivos.
Condição Nível Desejado (/μL)
Punção lombar para coleta de líquor ou quimioterapia
Pacientes pediátricos Superior a 20.000/μL
Pacientes adultos Superior a 30.000/μL
Biópsia e aspirado de medula óssea Superior a 20.000/μL
Endoscopia digestiva
Sem biópsia Superior a 20.000 – 40.000/μL
Com biópsia Superior a 50.000/μL
Biópsia hepática Superior a 50.000/μL
Broncoscopia com instrumento de fibra óptica
Sem biópsia Superior a 20.000 – 40.000/μL
Com biópsia Superior a 50.000/μL
Cirurgias de médio e grande porte Superior a 50.000/μL
Cirurgias oftalmológicas e neurológicas Superior a 100.000/μL

5.2.5. TRANSFUSÃO EM CIRURGIA CARDÍACA


Procedimentos com utilização de circulação extracorpórea por tempo
superior a 90-120 minutos tem indicação de transfusão de plaquetas mesmo se
contagens superior a 50.000/μL.

5.2.5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

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Todas as prescrições de plaquetas deverão ser sempre precedidas por


uma contagem laboratorial do mesmo dia ou no máximo do dia anterior da
solicitação.

5.2.6. DOSE
A dose preconizada é de 1 unidade de CP para cada 7 a 10 kg de peso
do paciente, porém pode-se considerar também a contagem de plaquetas
desejada dependendo da presença ou ausência de sangramento como segue:

5.2.6.1. Transfusões terapêuticas (contagem desejada superior a


40.000/μL):
 Adultos > 55kg: 8-10U de CP unitários ou 1U CP obtidos por aférese.
 Pacientes 15-55kg: 4-6U de CP unitários ou 0,5-1U CP obtidos por
aférese.

5.2.6.2. Transfusões profiláticas (contagem desejada superior a


25.000/μL):
 Adultos >55kg: 6-8U de CP unitários ou 1U CP obtidos por aférese.
 Pacientes menores: 1U de CP unitários para cada 10kg de peso.
 A dose de plaquetas pode ainda ser calculada de maneira mais
detalhada ou precisa, identificando-se o incremento plaquetário
desejado (IP) e levando-se em conta a volemia sanguínea (VS) e o
sequestro esplênico estimado (aproximadamente 33%), utilizando-se
para isso a fórmula abaixo:

IP x VS
Dose (x109) =
F

Onde: IP = incremento plaquetário desejado (x10 9/L); VS = volemia


sanguínea (L) e F = fator de correção (0,67).

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 Doses menores (3-4U de CP unitárias) podem ser utilizadas nos


casos de transfusões profiláticas em pacientes estáveis sem
sangramento e mantidas em ambiente hospitalar.

5.1.6. CONTRA INDICAÇÕES PARA TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS


 A transfusão de concentrado de plaquetas não é recomendada para
tratamento da PTI, pois o mesmo mecanismo que causa destruição
das plaquetas autólogas também pode levar a destruição das
plaquetas transfundidas;

 Também não há indicação de transfusão de plaquetas na púrpura


trombocitopênica trombótica/ síndrome hemolítico uremica (PTT/SHU)
ou Trombocitopenia induzida pela heparina (HIT);

 Em pacientes com hiperesplenismo, pois não há resposta à


transfusão de plaquetas devido ao seqüestro esplênico das mesmas.

5.3. TRANSFUSÃO DE PLASMA


O plasma fresco congelado é administrado para corrigir sangramentos por
anormalidade ou deficiência de um ou vários fatores de coagulação, quando os
concentrados de fatores específicos não estiverem disponíveis, na vigência de
alteração no coagulograma com o Tempo de Protrombina (TAP) e/ou Tempo
de Tromboplastina Parcial (TTPA) = 1,5x o valor do controle para a idade.

O produto contém níveis hemostáticos de todos os fatores de coagulação,


inclusive FV, FVIII e 2-4mg de fibrinogênio/mL. O TAP e o TTPa devem ser
mensurados antes e após a transfusão.

5.3.1. INDICAÇÕES
 Deficiência de fatores da coagulação, congênita ou adquirida (quando
não se tem produto industrializado);
 Coagulação intravascular disseminada (CID);
 Transfusão maciça com sangramento por coagulopatia;

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 Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT);


 Hepatopatias;

5.3.2. CONTRA INDICAÇÕES DE USO DE PFC


Deve ser ressaltado como contra-indicação o uso de PFC nas seguintes
situações:
 Expansor volêmico;
 Hipovolemias agudas (com ou sem hipoalbuminemia);
 Sangramentos sem coagulopatia;
 Para correção de testes anormais da coagulação na ausência de
sangramento;
 Para acelerar processos de cicatrização;
 Manutenção da pressão oncótica
 Tratamento de desnutrição
 Grandes queimados
 Septicemia,
 Fonte de Imunoglobulina
 Em estados de perda protéica e imunodeficiências.

5.3.3. DOSE
O volume a ser transfundido depende do peso e da condição clínica e
hemodinâmica do paciente.
 A dose de 10-20mL/kg aumenta de 20 a 30% os níveis dos fatores de
coagulação.

5.4. TRANSFUSÃO DE CRIOPRECIPITADO


O crioprecipitado é a fração insolúvel em frio do PFC; contém o fator VIII,
fibrinogênio, FvW, FXIII e fibronectina. Deve conter, no mínimo, 80 unidades do
fator anti-hemofílico e 150 a 250mg de fibrinogênio.

5.4.1. INDICAÇÕES

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 Repor fibrinogênio em pacientes com hemorragias e déficits isolados


congênitos ou adquiridos de fibrinogênio, quando não se dispuser do
concentrado de fibrinogênio industrial purificado.
 Repor fibrinogênio em pacientes com coagulação intravascular
disseminada (CID) e graves hipofibrinogenemias.
 Repor Fator XIII em pacientes com hemorragias por déficit deste fator,
só quando não se dispuser do concentrado de fator XIII industrial
purificado.
 Repor fator de Von Willebrand em pacientes portadores da doença de
Von Willebrand que não tenham indicação de DDAVP ou que não
respondam ao uso de DDAVP, apenas quando não se dispuser de
concentrados de fator de Von Willebrand ou de concentrados de fator
VIII ricos em multímeros de Von Willebrand.

5.4.2. DOSE
 A dose habitual é de 1 a 2 unidades para cada 10kg de peso. Cada
unidade aumentará o fibrinogênio em 5-10mg/dL e a dose em 60 a
100mg/dL em um adulto médio.

 Quando se tratar de sangramento por perda sangüínea aguda, deve-se


mensurar o fibrinogênio antes e após o tratamento.

 O cálculo da quantidade de bolsas necessária para correção de


hipofibrinogenemia dependerá da natureza do episódio de sangramento
e da gravidade da deficiência inicial. O cálculo do número de unidades
de CRIO necessário para correção da queda de fibrinogênio (níveis
inferiores a 70‑100mg/dL) está descrito abaixo:
o Peso (kg) x 70mL/kg = volume sanguíneo (mL).
o Volume sanguíneo (mL) x (1,0–hematócrito) = volume plasmático
(mL).
o mg de fibrinogênio desejado = [nível de fibrinogênio desejado
(mg/dL)] – fibrinogênio inicial (mg/dL) x volume plasmático (mL) /
100mL/dL.

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o Número de bolsas necessárias = mg de fibrinogênio desejado


dividido por 250mg de fibrinogênio/bolsa.
o Esse cálculo assume que 100% do fibrinogênio administrado são
recuperados no espaço intravascular, porém convém lembrar
que a quantidade em cada bolsa pode ser variável.
 Outra forma mais prática para tratar os pacientes com
hipofibrinogenemia ou disfibrinogenemia e deficiência de Fator XIII é o
cálculo de 1.0‑1.5 bolsas de crioprecipitado por cada 10kg de peso do
paciente com a intenção de atingir nível de fibrinogênio hemostático de
100mg/dL, reavaliando a cada 3‑4 dias.
 A quantidade de crioprecipitado pode ser diminuída quando houver
administração concomitante de concentrado de hemácias e/ou de
plaquetas, porque estes produtos contêm 2‑4mg de fibrinogênio/mL,
que corresponde a 2U de crioprecipitado.

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6. TRANSFUSÃO PEDIÁTRICA(3,16,21–28)
A indicação de transfusão em pediatria segue os mesmos critérios da
transfusão em adultos no que se refere à avaliação risco x benefício. Na
hemoterapia pediátrica, os recém-nascidos pré-termo representam um grupo
de especial interesse, pois são os mais frequentemente transfundidos nas
unidades de cuidado intensivo.
Serão utilizados os seguintes critérios para a definição de recém-nascido ou
neonato (RN) e recém-nascido pré-termo (RNPT):
 RN: até o 28° dia de vida.
 RNPT: nascido até o último dia da 37° semana de gestação (259°),
determinada pela data da última menstruação.

6.1. TRANSFUSÃO DE CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH)


É indicado para o tratamento da anemia sintomática em pacientes que
necessitem de aumento na capacidade de transporte de oxigênio.

6.1.1. INDICAÇÃO

6.1.1.1. Crianças até 04 meses de vida:


Na transfusão de crianças com menos de 4 meses, tanto o médico
assistente como o Serviço de Hemoterapia devem estar alertas quanto a
volemia reduzida e uma imaturidade funcional dos sistemas orgânicos, que
impactam diretamente na definição do tipo de terapia transfusional a ser
estabelecida. Estas características são especialmente importantes nos RN com
peso abaixo de 1,5kg.
Tanto os RN como os RNPT evoluem com um declínio dos níveis de
hemoglobina durante as primeiras semanas de vida, evento esse considerado
fisiológico e de caráter autolimitado, sendo normalmente bem tolerado pelo RN.
A taxa de declínio da hemoglobina varia em função da idade gestacional ao
nascimento, sendo que por volta da 4ª a 8ª semana de vida podem ser
encontrados níveis tão baixos quanto 8.0g/dL em RNPT pesando de 1 a 1,5kg

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e de 7,0g/dL em neonatos com peso inferior a 1kg. Nesta situação a transfusão


só esta indicada na presença de sintomatologia específica no RN. Abaixo,
estão listadas algumas características deste grupo de pacientes que devem ser
levados em consideração no momento da transfusão:
 Constituem o grupo mais transfundido no universo pediátrico, dentre outros
motivos pela espoliação provocada pela necessidade de flebotomias
repetidas para a coleta de amostras para exames. A reposição de CH está
indicada quando as perdas atingem cerca de 10% da volemia ou quando
ocorre presença de sintomas. Especificamente uma Hb <13g/dL nas
primeiras 24h de vida indica a necessidade de avaliação da transfusão de
CH.
 Apresentam a possibilidade de sobrecarga de potássio em transfusão de
grandes volumes de CH irradiados (>20mL/kg), quando a irradiação ocorreu
a mais de 24 horas do momento da transfusão.
 Transfusões de pequenos volumes e administradas lentamente parecem ter
pouco efeito nos níveis de potássio sérico.
Quadro 2. Indicações de transfusão de CH em pacientes < 4 meses de idade
1. Hb <7g/dl com baixa contagem de reticulócitos e sintomas de anemia (taquicardia,
taquipnéia, paciente “sugando mal”).
2. Hb <10g/dl e o paciente:
 Com <35% de O2 em capacete (hood).
 Com cateter de O2 nasal.
 Sob Pressão Aérea Positiva Contínua (CPAP) / Ventilação Controlada Intermitente
(VMI) com ventilação mecânica com P média <6 cm H2O.
 Apneia significativa ou bradicardia (>6 episódios em 12 horas ou 2 episódios em 24
horas, necessitando ventilação por máscara ou bolsa, em uso de doses terapêuticas de
metilxantinas).
 Taquicardia significativa ou taquipneia (FC >180 batimentos/min por 24h. FR > 80 irpm
por 24h);
 Ganho reduzido de peso (ganho <10g/dia por 4 dias, recebendo = 100kcal/kg/dia
3. Hb < 12 g/dl e o paciente:
 Sob capacete (hood) de O2 >35%.
 Com CPAP/VMI com P média = 6 a 8 cm H2O.
4. Hb < 15 g/dl e o paciente:
 Sob oxigenação de membrana extracorpórea
 Com cardiopatia congênita cianótica
* A tabela acima foi retirada do Guia do Uso de Hemocomponentes do MS 2010 e do Manual
Técnico da AABB 2008

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6.1.2. CRIANÇAS COM MAIS DE 04 MESES DE VIDA


Nesta faixa etária as orientações para transfusão de hemácias seguem
as mesmas diretrizes dos adultos e devem se basear não somente em exames
laboratoriais, mas também em sinais e sintomas como: palidez, hipotensão,
taquicardia e alteração no nível de consciência.
Quadro 3. Indicações de transfusão de CH em pacientes >4 meses de idade
1. Procedimento cirúrgico de emergência em paciente com anemia pós-operatória
significativa
2. Anemia no pré-operatório quando outra terapia corretiva não está disponível
3. Perda sanguínea intra-operatória ≥ 15% da volemia total
4. Hemoglobina <8g/dl:
 No período perioperatório, com sinais e sintomas de anemia;
 Sob quimioterapia ou radioterapia;
 Em anemia sintomática crônica, congênita ou adquirida;
5. Perda sanguínea aguda com hipovolemia não responsiva a outras terapêuticas
6. Hemoglobina <13g/dl e:
 Doença pulmonar grave;
 Em oxigenação de membrana extracorpórea;
7. Doença Falciforme e:
 Acidente cerebrovascular
 Síndrome torácica aguda
 Sequestro esplênico
 Crise aplástica
 Priapismo recorrente
 No pré-operatório de cirurgia com anestesia geral (Hb alvo de 10mg/dL)
8. Programas de transfusões crônicas para doenças da produção de hemácias (ex:
Talassemia Major e Síndrome de Blackfan-Diamond não responsiva à terapia).

* A tabela acima foi retirada do Manual Técnico da AABB 2008.

6.1.3. DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO


Comumente a dose é de 10 a 15 mL/kg, sendo que volumes menores
entre 5 a 15 mL/kg são considerados para os RNPT que necessitam de
transfusões repetidas. O tempo médio de administração é de 2 horas e a
transfusão dever ser completada em no máximo 4h. Essa velocidade deve ser
ajustada de acordo com as condições clínicas de cada paciente, de forma a
evitar sobrecarga volêmica.

6.2. TRANSFUSÃO DE CONCENTRADO DE PLAQUETAS (CP)

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As indicações de transfusão de CP em crianças estão associadas às


plaquetopenias desencadeadas por falência medular. Raramente indicamos a
reposição em plaquetopenias por destruição periférica ou alterações
congênitas de função plaquetária.

6.2.1. INDICAÇÃO
6.2.2. CRIANÇAS ATÉ 04 MESES:
A plaquetopenia leve a moderada é a principal anormalidade
hemostática encontrada em RN doentes, acometendo cerca de 20% dos
neonatos internados em terapia intensiva. A etiologia usualmente é
multifatorial, incluindo produção insuficiente, destruição aumentada e
trombocitopenia dilucional causada por transfusão maciça. Os fatores da
coagulação, normalmente mais baixos no nenonato, também podem sofrer
efeito de diluição após transfusão de grandes volumes de CH.
Ao contrário dos pacientes adultos que raramente apresentam
sangramentos importantes com contagens plaquetárias acima de 10.000/mm3,
recém nascidos pré-termo com doenças associadas podem sangrar na
vigência de contagens plaquetárias mais elevadas. Esse risco aumentado de
sangramento pode ser atribuído à baixa concentração dos fatores de
coagulação no plasma, à presença na circulação de um anticoagulante que
pode potenciar o efeito da inibição da trombina, à disfunção plaquetária
qualitativa e/ou a um aumento da fragilidade vascular. Uma das principais
complicações hemorrágicas que pode ocorrer nos RNPT nas primeiras 72h de
vida é a hemorragia intraventricular (IVH), acometendo cerca de 40% dos
pacientes. O papel da trombocitopenia como fator de risco para a IVH não está
bem definido nos estudos clínicos realizados nesta população.

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Quadro 4. Indicações para transfusão de concentrado de plaquetas em


crianças com menos de 4 meses de vida
I. Com trombocitopenia:
1. Contagens de plaquetas entre 5 e 10.000/mm3 com falha de produção.
2. Contagens de plaquetas <30.000/mm3 em RN com falha de produção.
3. Contagens de plaquetas <50.000/ mm3 em RNPT estável:
 Com sangramento ativo ou
 Antes de um procedimento invasivo em pacientes com falha de produção.
4. Contagem de plaquetas <100.000/mm3 em um RNPT doente:
 Com sangramento ativo ou
 Antes de um procedimento invasivo em pacientes com falha de produção.
II. Sem trombocitopenia:
1. Sangramento ativo com defeito plaquetário qualitativo;
2. Sangramento excessivo inesperado em paciente submetido a bypass
cardiopulmonar;
3. Paciente em membrana de oxigenação extra-corpórea com :
 Contagem plaquetária < 100.000/mm3
 Contagem plaquetária elevada e sangramento.

6.2.3. CRIANÇAS COM MAIS DE 4 MESES:

Quadro 5. Indicações para transfusão de concentrado de plaquetas em crianças com mais de


4 meses de vida
1. Manter a contagem de plaquetas ≥100.000/mm3 de sangue para sangramentos em SNC
ou preparo de cirurgia de SNC.
2. Manter a contagem de plaquetas ≥50.000/mm3 de sangue em caso de sangramento ativo
ou se for submetido à grande cirurgia.
3. Transfusões profiláticas para pacientes com plaquetas <10.000/mm3 de sangue.
Pacientes com contagem plaquetária normal:
1. Sangramento ativo em associação com defeito qualitativo das plaquetas.
2. Sangramento excessivo e inexplicável em paciente a ser submetido ao Bypass
cardiopulmonar.
3. Paciente em ECMO:
 Com plaquetas <100.000/mm3 de sangue x 109/L.
 Com alta contagem de plaquetas e sangrando.

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6.2.4. DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO


 Na dose de 5 a 10mL/kg (plaquetas randômicas ou por aférese) o
incremento estimado é de 50.000 a 100.000/mm³.
 Em crianças com mais de 10kg, uma unidade para cada 10kg
proporciona os mesmos resultados descritos acima.
 Para crianças com menos de 10kg, uma unidade já consegue atingir
resposta favorável.
 A transfusão deverá ocorrer em no máximo 4 horas.

6.3. TRANSFUSÃO DE PLASMA FRESCO CONGELADO (PFC)


O PFC deve ser utilizado para a correção de distúrbios da coagulação
secundários à deficiência de um ou mais fatores de coagulação, principalmente
quando há a concomitância da deficiência de múltiplos fatores, como por
exemplo, na doença hemorrágica do RN e na deficiência de vitamina K.

6.3.1. INDICAÇÃO
Quadro 6. Orientação para transfusão de PFC em neonatos e crianças
1. Terapia de suporte durante tratamento da coagulação intravascular disseminada
(CIVD)
2. Terapia de reposição:
 Quando o fator específico não está disponível, incluindo, mas não limitado a:
antitrombina e deficiência de proteína C ou S, fatores II, V, X e XI;
 Durante plasmaférese terapêutica quando o PFC ou PIC for indicado;
 Reversão da anticoagulação com warfarin em situações de emergência, como
ates de procedimentos invasivos na vigência de sangramento ativo.

6.3.2. DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO


 Uma dose inicial de 10-15mL/kg eleva a atividade dos fatores de
coagulação para níveis médios de 15 a 20%, exceto em situações
excepcionais de elevado consumo de fatores, secundárias à
coagulopatia.

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 A transfusão deverá ocorrer em no máximo 4 horas.

6.3.3. CONTRA INDICAÇÕES DE USO DE PFC:


 Prevenção de hemorragia intraventricular do RN;
 Correção de valores de coagulograma alargados em RN sem
sangramento;
 Em pacientes com menos de 04 meses, sem sangramento clinico
evidente.

6.4. TRANSFUSÃO DE CRIOPRECIPITADO


O crioprecipitado é utilizado primariamente para tratar condições
resultantes da deficiência de fator XIII ou de defeitos qualitativos e quantitativos
do fibrinogênio.
 Hipofibrinogenemia ou disfibrinogenemia com sangramento ativo;
 Hipofibrinogenemia ou disfibrinogenemia na vigência de procedimento
invasivo;
 Deficiência de fator XIII com sangramento ativo ou durante procedimento
invasivo na ausência de concentrado de fator XIII;
 Na preparação de selante de fibrina;
 Na doença de von willebrand, somente quando não há disponibilidade
ou resposta ao ddavp e o concentrado de fator VIII não está disponível.

6.4.1. DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO


 Usualmente uma unidade é suficiente para prover níveis hemostáticos
em crianças menores. O volume deve ser considerar em RN e RNPT
com baixo peso.
 A transfusão deverá ocorrer em no máximo 4 horas.

6.5. TRANSFUSÃO DE SANGUE TOTAL RECONTITUÍDO


O Hemocentro de São José do Rio Preto (HSJRP) não disponibiliza
unidades de sangue total para transfusão. Exclusivamente em certas

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patologias pediátricas está indicada a reconstituição do sangue total com uma


unidade de CH e uma unidade de PFC compatível.

6.5.1. INDICAÇÕES

6.5.1.1. Exsanguíneo transfusão na doença hemolítica do feto e do RN


(DHF/DHRN):
É causada pela presença de aloanticorpos maternos dirigidos contra
antígenos eritrocitários do feto, levando a destruição extravascular das
hemácias fetais recobertas por anticorpos maternos no baço e sistema retículo-
endotelial. Os principais anticorpos envolvidos nos casos de anemia fetal grave
com necessidade de intervenção ainda no período gestacional são: anti-D, anti-
c, anti-K e anti-Fya. Os anticorpos ABO (anti-A, anti-B e anti-AB) podem causar
doença hemolítica após o nascimento, mas não causam perigo ao feto. O anti-
D é um dos anticorpos mais comumente associado à DHF/DHRN, ocorrendo
em cerca de um para 1.000 nascidos, embora a utilização da imunoglobulina
anti-D tenha diminuído drasticamente a sua incidência.
A exsanguíneo transfusão é reservada para pacientes que não
responderam a fototerapia com luz ultra-violeta e atende dessa maneira a três
objetivos: remoção da bilirrubina indireta, a otimização da ligação da albumina
à bilirrubina residual e a remoção dos anticorpos livres no plasma e das
hemácias recobertas com anticorpos, que são substituídas por hemácias livres
de anticorpos provenientes do sangue transfundido. Ela deve ser realizada
antes que o quadro de kernicterus se instale, o que ocorre raramente com
níveis de bilirrubina inferiores a 25mg/dL, embora em RN de baixo peso
extremo a doença possa se instalar com níveis de bilirrubina tão baixos quanto
8 a 12mg/dL.
Ao invés da utilização dos níveis de bilirrubina como padrão isolado é
recomendado que a decisão sobre a realização da exsanguíneo transfusão
seja baseada no acompanhamento da velocidade de elevação da bilirrubina.

6.5.2. DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO

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 Duas trocas volêmicas removem aproximadamente 70 a 90% das


hemácias e 50% da bilirrubina total. Nos RN a volemia é calculada como
sendo de 85mL/kg e nos RNPT como 100mL/kg. Usualmente durante o
procedimento retira-se e repõe-se em cada etapa não mais que 5mL/kg
ou 5% da volemia do paciente, em ciclos de 3 a 5 minutos.
 Após a primeira exsanguíneo transfusão pode ocorrer uma nova
elevação dos níveis de bilirrubina, secundária ao reequilíbrio entre a
bilirrubina extra-vascular e a plasmática, quando então poderá ser
necessário um novo procedimento de troca.

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7. TRANSFUSÃO DE EMERGÊNCIA (TE)(2,29)


Caracteriza-se pela liberação de hemocomponentes sem os testes pré-
transfusionais, onde o retardo do início da transfusão pode levar o paciente a
óbito. O médico responsável deverá ser informado quanto ao tempo exigido
para realização dos testes pré-transfusionais e pesar o risco de transfundir o
sangue não compatibilizado. Portanto, a indicação e responsabilidade são
exclusivas do médico que presta atendimento direto ao paciente, devendo estar
ciente dos riscos das transfusões de emergência e será responsável pelas
consequências do ato transfusional, se esta situação houver sido criada por
seu esquecimento, omissão ou pela indicação da transfusão sem aprovação
prévia nos protocolos definidos neste manual.(2)

Este tipo de atendimento requer o Termo de Responsabilidade Médica


para Transfusão de Emergência, com os dizeres: “Transfundir
imediatamente - dispenso as provas pré-transfusionais e assumo os
riscos de incompatibilidade”. Esta informação está presente na própria
requisição de transfusão feita pelo MV ou em documento (Requisição de
transfusão / reserva / procedimentos especiais) de preenchimento manual
(Anexo 1), acessível na pasta de contingência do sistema e impressão
disponível na AT.

7.1. ATENDIMENTOS NO COMPLEXO FUNFARME


 Entrar em contato com a AT nos ramais 5027, 1354 ou linha vermelha
(disponível no pronto atendimento do Hospital de Base) e fornecer as
informações necessárias, sendo: sexo paciente, quantidade de bolsas,
local e nome do requisitante.
 A requisição de transfusão de emergência também poderá ser
requisitada pelo MV e entregue na AT.
 A AT deverá registrar a solicitação, selecionar o Hemocomponente e
liberar.

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MANUAL TRANSFUSIONAL

 O hemocomponente deverá ser retirado ou direcionado ao paciente o


mais rápido possível. As estratégias e transporte até o paciente diferem
de acordo com o local e as instituições, sendo:
o Hospital de Base:
1. Nos setores de pronto atendimento, hemodinâmica e unidades
de terapia intensiva, o transporte será de responsabilidade da
própria AT.
2. No centro cirúrgico, do próprio setor.
o Hospital da Criança e Maternidade:
1. Possui uma bolsa em estoque local, após utilizar comunicar a
AT.
2. Demais bolsas, solicitar por telefone e retirar na AT do
Hospital de Base.
 Presencialmente na AT: o médico pode dirigir-se a AT e requisitar no
local.

7.2. ATENDIMENTOS EM INSTITUIÇÕES EXTERNAS AO COMPLEXO


FUNFARME
O médico ou colaborador da unidade de saúde contratada e externa ao
complexo FUNFARME deverá entrar em contato com a Agência Transfusional,
telefone (17) 3201-5027, informar sobre a emergência, retirar dúvidas e obter
as orientações quanto ao procedimento. Para o atendimento, seguir os itens
7.2.1. e/ou 7.2.2.

7.2.1. COM ESTOQUE DE EMERGÊNCIA


Algumas instituições possuem uma bolsa de CH O negativo em estoque
local para atendimentos de emergência. Quando esta bolsa for utilizada,
comunicar a AT e encaminhar os documentos, registros e amostras do
paciente em atendimento de emergência e a solicitação médica de reposição
de estoque O negativo de emergência.

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Se houver necessidade de bolsas excedentes para a continuidade do


atendimento de emergência ou outro atendimento, seguir conforme
recomendado para instituições sem estoque de emergência, item 7.2.2.

7.2.2. SEM ESTOQUE DE EMERGÊNCIA


Entrar em contato com a AT e informar sobre a emergência. Encaminhar
a requisição de transfusão com registro e assinatura do termo de
responsabilidade médica, juntamente com as amostras para os testes pré
transfusionais. O transportador deverá seguir direto a AT, entregar a requisição
e amostras, aguardar a liberação das bolsas (até 15 minutos) e retornar
diretamente a instituição de origem.
Antes de requisitar, o médico deve avaliar o tempo de transporte, riscos
e alternativas, como a transferência do paciente para outra instituição.

7.3. OBSERVAÇÕES
 A AT deve ser acionada para que produtos sanguíneos sejam
precocemente preparados, evitando atrasos no tempo de entrega (15
min) e no descongelamento de componentes plasmáticos (30 min).
 Em casos de sangramentos de grandes volumes, avaliar necessidade de
ativação de protocolo de transfusão maciça, capítulo 8.
 Ao requisitar uma transfusão de emergência o médico estará
autorizando a liberação de hemocomponentes, muitas das vezes, sem
exames pré-transfusionais, para isso deverá afirmar expressamente o
conhecimento do risco e concorde com o procedimento, presente no
termo de responsabilidade. O risco de reação transfusional hemolítica é
maior com a liberação de emergência, por isso, sua indicação sempre
deve ser baseada na gravidade do paciente.

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8. TRANSFUSÃO MACIÇA (TM)(29–33)


A TM de sangue pode ser definida como a administração aguda de volume
superior a uma vez e meia a volemia do paciente, ou ainda, como a reposição
com sangue estocado equivalente ao volume sanguíneo total de um paciente
em 24 horas. O volume sanguíneo é equivalente a 75mL/kg (cerca de 10
unidades em um indivíduo adulto de 75kg). Outras definições também podem
ser consideradas:
 Suporte de transfusão para substituir a perda contínua de sangue >10% da
volemia/min.;
 Transfusão de >50% da volemia em 3h; ou
 Transfusão >100% da volemia em 24h.
As causas mais frequentes de perda aguda de sangue e ativação de
protocolos de atendimentos, são decorrentes de politraumas com rupturas de
vísceras como fígado e baço além de lesões vasculares como ruptura de aorta,
secção de carótida ou femoral. Ferimentos corto-perfurantes por arma de fogo
ou por arma branca também são comuns em serviços de pronto atendimento.
Outra causa comum são as rupturas de aneurisma de aorta abdominal, dentre
as causas imprevistas de grandes perdas de sangue. Dentre as situações
previsíveis de perdas maciças estão procedimentos como transplantes de
fígado e transplantes combinados de coração-pulmão.
Nas situações onde ocorra perda maciça de sangue o que se busca
inicialmente é a rápida restauração do volume sanguíneo circulante, a correção
e manutenção da hemostasia, aumento da oferta de oxigênio aos tecidos, e
reversão das alterações bioquímicas e ácido-básicas.
Deve-se providenciar acesso venoso, periférico ou central, coletar
amostras para exames laboratoriais: hemograma, testes de coagulação (TAP,
TTPA, Fibrinogênio), testes bioquímicos para avaliar as funções renais,
hepática e gasometria arterial, além de amostras para Agência Transfusional
(Tipagem sanguínea ABO e RhD, PAI e provas de compatibilidade).

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Nos casos de choque hipovolêmico é primordial o reconhecimento da


causa de base do sangramento e sua correção. A ressuscitação inicial deve ser
feita com infusão rápida de cristalóides ou colóides.

8.1. PACIENTES PEDIÁTRICOS


Dados sobre TM na população pediátrica são escassos. As definições de
PTM sugeridas para uso em crianças são equivalentes ao adulto. O volume
total de sangue em crianças varia de 90mL/kg em crianças a termo até 70-
80mL/kg no final da infância/adolescência. Para simplificar, 80mL/kg pode ser
aplicado para todas as crianças. Portanto, perda maciça de sangue pode ser
definida como 80mL/kg em 24h, 40mL/kg em 3h ou 2-3mL/kg/min.
Na prática clínica, a alterações hemodinâmica compatíveis com
hipovolemia que acompanham evidência ou suspeita de hemorragia grave são
os habituais gatilhos. Os princípios do manejo da perda maciça de sangue em
adultos devem ser amplamente aplicados ao cuidado de crianças. Há pouca
evidência disponível para orientar os cuidados pediátricos.

8.2. PROTOCOLO DE TRANSFUSÃO MACIÇA (PTM)


Este PTM descreve os processos de gestão das necessidades de
transfusão de sangue em episódios de hemorragias graves, perdas agudas,
auxiliando as interações dos médicos e a Agência Transfusional, assegurando
o uso judicioso de sangue e componentes sanguíneos. Desta forma, fica
estabelecido as diretrizes específicas, acordadas na Comissão de Controle de
Transfusão Hospitalar (CCTH), que incluam respostas clínicas, critérios de
tratamento, dados laboratoriais, manejo da Agência transfusional e logística.
Ao requisitar uma TM o médico estará autorizando a liberação de
hemocomponentes, muitas das vezes, sem exames pré-transfusionais, para
isso deverá assinar o termo de responsabilidade no qual afirme expressamente
o conhecimento do risco e concorde com o procedimento. O risco de reação
transfusional hemolítica é maior com a liberação de emergência, por isso, sua
indicação sempre deve ser baseada na gravidade do paciente.

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8.2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE EM RISCO


A TM é um diagnóstico retroativo e, por isso, os protocolos de
abordagem de pacientes com graves hemorragias devem identificar
precocemente pacientes com grande potencial de serem submetidos a essa
abordagem de transfusão. O reconhecimento e avaliação de um sangramento
intenso e constante devem ser feito por um clínico, a qualquer momento de
perda aguda de sangue, durante ou após a transfusão de emergência, sem
estabilização. Neste protocolo o clínico deve seguir os pontos estabelecidos
pela técnica do ABC SCORE (Quadro 7)(34). Esta técnica visa identificar de
forma segura o paciente com risco de hemorragia maior, já que apenas 3-8%
dos pacientes politraumatizados, principal população de risco para essa
complicação, evoluirão com necessidade de TM.
Quadro 7. Potencial para Transfusão Maciça - ABC SCORE(34)
Condição Pontos
Trauma Penetrante 1
PAS < 90 mrpm 1
FC >120 bpm 1
FAST positivo 1
Escore < 2: pouca probabilidade

8.2.2. ATIVAÇÃO DO PTM


A ativação do PTM deve ocorrer quando o escore for igual ou maior que
dois pontos. Após avaliação com os critérios definidos neste protocolo que
evidenciam a necessidade de ativação do PTM, o médico deve entrar em
contato com a AT nos ramais 5027, 1354 ou linha vermelha (disponível no
pronto atendimento do Hospital de Base) ou presencialmente (o médico pode
dirigir-se a AT e requisitar) e informar a ativação do PTM.
A AT deverá providenciar requisição, solicitar ao médico que preencha o
termo de responsabilidade, avaliar se o paciente já está em atendimento em

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TE, verificar disponibilidade de amostras para os testes pré-transfusionais, e


realizar o atendimento conforme descrito a seguir.

8.2.3. CONTROLE E LIBERAÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES


Este PTM têm uma relação predefinida de CH, PFC, unidades de
concentrado de plaquetas (1:1:1) e uma dose adicional e proporcional de
crioprecipitado (Crio), além do Crio presente no PFC. Uma vez que o paciente
está em PTM, a Agência Transfusional deverá garantir a entrega rápida e
oportuna de todos os componentes do sangue juntos para facilitar a
ressuscitação. Isso reduz a dependência de exames laboratoriais durante a
fase de ressuscitação aguda e diminui a necessidade de comunicação entre a
Agência Transfusional, o laboratório e o médico. A ordem e quantidade que
deve ser liberada está no quadro 8.
Quadro 8. Sequência de hemocomponentes dispensados em cada maleta
Sequência de atendimento
Maletas Hemocomponentes
1º 2 CH e 2 PFC;
2º 2 CH, 2 PFC e 6 unid. Crio;
3º 2 CH, 2 PFC e 1 CPA;
4º Reiniciar no 1º

Para garantir a sequência de atendimento do quadro 8, ao liberar uma


maleta, a AT irá preparar a seguinte, assim seguirá sucessivamente até que o
PTM seja interrompido por um dos médicos responsáveis pelo atendimento.

8.2.4. TRANSFUSÃO, MONITORAMENTO E DESATIVAÇÃO DO PTM


8.2.4.1. Cuidados:
Ao receber a maleta, a equipe em atendimento deverá conferir na
etiqueta de identificação, os dados do paciente e a sequência de atendimento.
Abrir o lacre somente ao evidenciar a continua necessidade de transfusão.
Estas ações são para garantir que o hemocomponente seja transfundido no
paciente correto, na sequencia necessária e evitar perdas de bolsas. A nova
maleta poderá ser retirada na AT, automaticamente, após abertura da anterior

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e continuidade do sangramento ou necessidade evidenciada por exames


laboratoriais. Para retirar a maleta na AT, será necessária apresentação de
uma “comanda” com identificações do paciente (nome, prontuário), data de
nascimento e nome da mãe (<14 anos) quando disponível; local/leito de
atendimento e responsável pela requisição. Na quantidade e tipo de
hemocompoente, informar somente PTM. A AT possui o controle da próxima
maleta a ser dispensada.
8.2.4.2. Conduta transfusional adotada neste PTM:
 Manter proporção 1CH:1PFC:1CP:1Crio, garantida pela sequência do
quadro 8.
 Monitorar clinicamente de forma continua;
 Avaliar se há necessidade de doses de ácido tranexâmico / antifibrinolítico;
 Monitorar laboratorialmente a cada 30-60min e avaliar necessidade de dose
adicional ou suspensão de hemocomponentes a depender do índice
laboratorial e controle ou fase da CIVD, sendo indicado;
o Dose de Crioprecipitado (1U a cada 10Kg de peso) se f ibrinogênio
<150mg/dL (<200 mg/dL em puérperas);
o Dose de plaquetas se <70.000/mm3 (1U a cada 10kg de peso ou 1
aférese)
8.2.4.3. Desativação do PTM:
Deverá ser feito pelo médico, assim que evidenciado não ser necessário
continuidade da transfusão programada. A AT deve ser avisada de imediato
para interromper preparos adicionais, evitando perdas de hemocomponentes.
A AT deverá registrar no termo de responsabilidade o nome do médico
responsável por interromper o PTM e o motivo.
8.2.4.4. Motitoramento:
 Repetir exames para guiar as transfusões após término do PTM e avaliar
necessidade de transfusão, sendo indicado quando:
o CH se hemoglobina em queda. Avaliar sangramento.
o PFC (10mL/Kg) se TAP/TTPA alterados.

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o Crioprecipitado (1U a cada 10Kg de peso) se f ibrinogênio


<150mg/dL (<200 mg/dL em puérperas);
o Plaquetas (1U a cada 10kg de peso ou 1 aférese) se
<100.000/mm3;
8.2.5. OBSERVAÇÕES:
 Se o protocolo for interrompido e houver necessidade de ser retomado
em até seis horas, a AT questionará o médico para definir se recomeça
ou continua a partir do último atendimento. Após seis horas, será
retomado do início automaticamente.
 A AT deve ser acionada para que produtos sanguíneos sejam
precocemente preparados, evitando atrasos no tempo de entrega (15
min) e no descongelamento de componentes plasmáticos (30 min).
 Colete a amostra de sangue para os testes pré-transfusionais no início
do atendimento, pois os colóides podem interferir nos exames
(principalmente dextranas pelo revestimento da superfície das
hemácias), além de evitar consumo de componentes não idênticos.
 Não exceda as doses máximas recomendadas de colóide. Ver com
equipe do trauma da FUNFARME as recomendações.
 A presença da EQUIPE CIRÚRGICA é obrigatória em todo sangramento
maior e a atuação deve ser rápida e precisa! Considerar cirurgia para
controle de danos.
 Este protocolo deve ser amplamente conhecido entre os profissionais de
saúde. Os setores assistenciais devem ter critérios de avaliação do
paciente em riscos por perda aguda de sangue, além de identificar TE
e/ou TM e treinar os colaboradores envolvidos.

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9. TRANSFUSÃO AUTÓLOGA(1,2,4)
A doação autóloga define-se como coleta prévia de uma bolsa de sangue
de uma pessoa para uso próprio em procedimentos transfusionais
programados. Tem como indicações a prevenção de doenças infecciosas
transmissíveis por transfusão sanguínea, a prevenção de aloimunizações,
evitar reações transfusionais em pacientes portadores de aloanticorpos quando
existe dificuldade de obtenção de sangue compatível para um paciente em
particular e evitar complicações em pacientes com antecedentes de reações
transfusionais graves.
A doação autóloga deve ser realizada somente mediante solicitação do
médico assistente do paciente-doador e aprovação do médico hemoterapeuta,
através de encaminhamento para consulta no HSJRP.
O paciente-doador deverá passar por uma consulta clínica, realizada pelo
médico do HSJRP que irá avaliar condições para doação, podendo ser
admitido ou recusado. Se o paciente-doador for recusado para a doação, o
médico do HSJRP deverá avisar os motivos ao médico requisitante. Se o
paciente-doador for admitido no programa de doação-transfusão autóloga, será
liberado para doação.

9.1. CONDIÇÕES PARA DOAÇÃO AUTÓLOGA


 Os candidatos serão admitidos no programa somente após avaliação
clínica pelo hemoterapeuta.
 São contra-indicações absolutas: insuficiência cardíaca descompensada;
estenose aórtica grave; angina pectoris instável; infarto do miocárdio nos
últimos 6 (seis) meses; acidente vascular cerebral isquêmico nos últimos
6 (seis) meses; alto grau de obstrução da artéria coronária esquerda;
cardiopatia cianótica; e presença de infecção ativa ou tratamento
antimicrobiano. Uma vez que a transfusão de sangue autóloga também
não é isenta de riscos (condição clínica do doador, contaminação

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bacteriana do componente, sobrecarga volêmica), sua indicação deve


ser criteriosa.
 A concentração de hemoglobina ou hematócrito do doador-paciente não
deve ser inferior a 11g/dL e 33%, respectivamente.
 O volume de sangue a ser coletado deve respeitar 8ml/Kg para mulheres
9ml/Kg para homens, acima de 50Kg.
 O número de doações dependerá do total necessário para o tipo de
cirurgia de acordo com a solicitação do cirurgião responsável pelo
paciente.
 As doações serão realizadas, semanalmente, ou em intervalos
superiores a 3 (três) dias, sendo a última doação realizada em, no
máximo, 72 horas antes da cirurgia. A suplementação de ferro oral ou
parenteral será iniciada à admissão e, mantida por 30 dias após a
cirurgia.
 Os pacientes deverão ser encaminhados com pelo menos 30 dias de
antecedência, com a DATA PROVAVEL DA CIRURGIA E O TIPO DE
CIRURGIA.
 O paciente-doador deverá assinar um termo de autorização para
participação no programa de doação autóloga.
 Na coleta autóloga pré-operatória colhe-se uma ou mais unidades de
sangue total do paciente previamente a uma cirurgia eletiva.

9.2. IDENTIFICAÇÃO E ARMAZENAMENTO


 As bolsas de hemocomponentes autólogos devem ser identificadas com
o nome do paciente-doador e com resultados sorológicos.
 Se for reagente para os marcadores testados devem ser identificadas
com etiqueta indicando o marcador reagente/positivo, e, neste caso, a
aceitação da transfusão autóloga deve estar explícita e com as
assinaturas do médico assistente e do médico do serviço de
hemoterapia (TATAS – anexo 7).

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o Uma das vias do TATAS acompanha a bolsa de sangue, desde o


seu armazenamento, distribuição e compatibilização final.
Devendo ser anexada a requisição de transfusão e arquivada.
 As bolsas de hemocomponentes autólogos devem ser armazenadas de
forma segregada e ser utilizadas exclusivamente para transfusão
autóloga.
 A AT deve vincular a bolsa ao paciente assim que integrada ao estoque,
por meio de registro no campo observação do sistema, com a
mensagem: Possui doação autóloga em estoque. Assim que a bolsa for
liberada para transfusão, a observação deve ser retirada.

9.3. LIBERAÇÃO E TRANSFUSÃO DE SANGUE AUTÓLOGO


 Segue os mesmos critérios da transfusão alogênica. O médico deve
fazer uma requisição de transfusão / reserva e indicar na observação
que o paciente possui uma doação autóloga.
 Antes da transfusão, uma amostra de sangue é coletada do paciente-
doador para realização das provas imunohematológicas pré-
transfusionais (ABO, RhD, PAI e Prova de compatibilidade).
 Não é permitida a migração de bolsas de hemocomponentes autólogos
para uso alogênico. O sangue coletado para auto-transfusão e não
utilizado pelo paciente-doador é desprezado na data do vencimento do
CH, inclusive PFC, quando processado e disponível.

9.4. USO DE SANGUE AUTÓLOGO EM CENTRO CIRÚRGICOS


Há ainda estratégias práticas classificadas em uso autólogo de sangue em
realização de procedimentos cirúrgicos, mediante procedimento descrito e com
aprovação da CCTH.
9.4.1. HEMODILUIÇÃO NORMOVOLÊMICA.
É a coleta de uma ou mais unidades de sangue de um paciente no centro
cirúrgico, imediatamente antes ou após a indução da anestesia, seguida da
reposição simultânea de cristalóides ou colóides para manutenção da volemia.

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Somente deverá ser utilizada quando o potencial de perda sanguínea for


superior a 20% da volemia sanguínea e a concentração de hemoglobina for
superior a 11 g/dL.
O centro cirúrgico deve ter um procedimento descrito e validado pela
CCTH.

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10. IMUNOGLOBULINA ANTI-D NA TRANSFUSÃO RhD POSITIVO(35)


Apesar das plaquetas não expressarem os antígenos do sistema Rh, o
concentrado das mesmas contém pequeno número de hemácias, que por sua
vez, expressam estes antígenos. Assim sendo, a transfusão de plaquetas deve
ser preferencialmente RhD compatível. No caso de transfusão de plaquetas
RhD positivos em pacientes RhD negativos, cerca de 1,5% deles se
aloimunizam. Isto torna-se relevante em crianças do sexo feminino e mulheres
durante a fase fértil (até 50 anos).

10.1. CONDUTA NA TRANSFUSÃO DE CP RHD POSITIVO EM


PACIENTES RHD NEGATIVOS

Quando não houver alternativa e for necessária a transfusão de


plaquetas RhD positivas em receptor RhD negativo, a imunoglobulina anti-D
deve ser administrada em até 72 horas em pacientes do sexo feminino até 50
anos. A profilaxia no sexo masculino e em mulheres com mais de 50 anos
poderá ser realizada, porém não sendo obrigatória.
 Dar preferência à CP por aférese devido menor volume e quantidade de
hemácias na bolsa. Esta medida não substitui a indicação de profilaxia
no grupo de pacientes do sexo feminino até 50 anos.
 Se houver dúvidas, entrar em contato com os médicos da hemoterapia.

10.2. DOSE DE IMUNOGLOBULINA ANTI-RHD


A apresentação disponível na FUNFARME é seringa pré-carregada com
300mcg/2ml (1500UI) cuja via de administração é intramuscular, podendo ser
aplicada via subcutânea em casos de transtornos hemorrágicos. (checar a
possibilidade de administração endovenosa da imunoglobulina Anti-D existente
no hospital no momento da indicação). De acordo com a literatura, uma ampola
de 300mcg de anti-D é suficiente para neutralizar 30ml de sangue total ou 15ml
de hemácias. Cada bolsa de concentrado de plaquetas contém, no máximo,
0,2ml de hemácias. Portanto, uma dose menor de anti-D (até 50mcg ou 250UI)

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seria suficiente para evitar a aloimunização, no entanto a seringa não pode ser
fracionada, devendo ser administrada completamente (dose cheia).
 Nova dose de Imunoglobulina anti-D deverá ser prescrita caso o
paciente seja novamente exposto à transfusão incompatível após 6
semanas da primeira dose ou antes disso se PAI (pesquisa de
anticorpos irregulares) em gel for negativa.

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11. AFÉRESE TERAPÊUTICA(4,17,18)


Aférese é um procedimento realizado através de máquina que retira
mecanicamente hemocomponentes ou plasma dependendo qual seja a
etiologia da causa da doença ou seu agravamento. Na prática clínica as
aféreses terapêuticas são abordagens baseadas em evidências, realizadas por
hemoterapeutas. São classificadas por categorias (tabela 4):

I - Tratamento padrão

II - Tratamento de suporte

III - Indicação Conflitante ou falta de evidências

IV - Não há benefícios

NR – Não Relatado

11.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O médico do Serviço de Hemoterapia, juntamente com o médico


responsável pelo paciente, avalia a indicação e a possibilidade de realização
do procedimento de aférese. A decisão sobre a realização do procedimento
deverá levar em conta:
 A indicação de aférese;
 A necessidade de acesso venoso periférico adequado ou, quando este
não existir, a passagem de cateter que permita a realização do
procedimento; e
 Contra indicações relativas ao procedimento.
Antes da realização do primeiro procedimento de aférese, deverão ser
realizados os seguintes exames laboratoriais: sorologias (HIV, HTLV, Hepatites
B e C, Chagas, Sífilis), tipagem sanguínea, hemograma completo, dosagem de
potássio, cálcio e magnésio.
Conforme o quadro clínico do paciente, outros exames poderão ser
solicitados pelo médico responsável pelo procedimento de aférese. Após a

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realização de cada procedimento, serão feitos controles laboratoriais conforme


necessidade.
Nos casos de plasmaférese terapêutica, o líquido de reposição escolhido
será a solução de albumina a 5% na maioria das patologias, reservando-se o
uso de Plasma Fresco Congelado nos casos de Púrpura Trombocitopênica
Trombótica (PTT) e nas coagulopatias.
A quantidade de produto utilizado na reposição será definida pelo médico
que conduzirá o procedimento, conforme volemia processada e outros
parâmetros de utilização do equipamento separador.
Os procedimentos de aféreses terapêuticas são realizados freqüentemente
em pacientes graves, já que raramente suas complicações causem óbito. A
taxa de mortalidade varia, na literatura, de três casos em 10.000
procedimentos. As complicações que podem ocorrer devido ao procedimento
são as seguintes:
 Infecção pelo cateter ou pelo local de punção
 Diminuição dos níveis séricos de drogas administradas anteriormente
(principalmente daquelas que se ligam a albumina)
 Hipocalcemia (parestesia oral, tremores, náuseas, hipotensão e até mesmo
parada cardiorrespiratória)
 Hipovolemia
 Hemólise mecânica,
 Reações alérgicas
A tabela 4 contém as indicações de plasmaférese por doenças e indicação de
acordo com a categoria.
Tabela 2. Indicações de plasmaférse em determinadas doenças.
Plasmaférese Indicação
Crioglobulinemia I
Doença de Refsum II
Miastenia gravis I
PANDAS grave pós infecciosa I
Polineuropatia crônica desmielinizante (CIDP) I
Polineuropatia desmielinizante por IgA ou IgG I
Púrpura pós transfusional III
Púrpura trombocitopênica trombótica I
Síndrome de Goodpasture I
Síndrome de hiperviscosidade em gamopatias monoclonais I

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Síndrome de Güillain Barré I


Coréia de Sydehan grave pós infecciosa I
Desensibilização HLA para transplante renal II
Doença hemolítica do recém-nascido (DHRN) II(III)
Encefalite de Rasmussen II
Esclerose múltipla (doença desmielinizante aguda de SNC) II
Gromerulonefrite rapidamente progressiva ANCA + II
Hipercolesterolemia familiar homozigótica (plasmaférese não seletiva) II
Incompatibilidade ABO + transplantes renal ou cardíaco ou MO (receptor) II
Polineuropatia por IgM (Waldestron´s presente ou ausente) II
Rejeição transplante renal II
Síndrome miastênica de Eaton-Lambert II
Anemia aplástica III
Anemia hemolítica auto-imune (AHAI) III
Aplasia pura de série vermelha III
Doença da crioaglutinina III
Esclerodermia III
Esclerose múltipla (Síndrome de Devic ou crônica progressiva) III
Falência hepática (aguda / fulminante) III
Glomerulonefrite focal segmentar (primária ou recorrente) III
Glomerulonefrite rapidamente progressiva pauci imune / imunocomplexos III
Incompatibilidade ABO + transplante hepático III
Inibidores de fatores de coagulação III
Intoxicação por substâncias ligadas a proteínas plasmáticas III
Lupus eritematoso sistêmico (LES) III
Mieloma com Insuficiência renal aguda III
Pancreatite por Hipertrigliceridemia III
Polineuropatia associada a Mieloma Múltiplo III
Pênfigo vulgar III
Síndrome anti-fosfolípide (anticoagulante lúpico) III
Síndrome hemolítico urêmica III
Síndromes paraneoplásicas acometendo SNC III
Tempestade tireotóxica III
Vasculite sistêmica (primária ou secundária) III
AIDS IV
Artrite reumatóide IV
Esclerose lateral amiotrófica (ELA) IV
Esquizofrenia IV
Nefrite lúpica IV
Poli-dermatomiosite IV
Psoríase IV
Púrpura trombocitopênica idiopática IV
Anticorpo anti-receptor de insulina NR
Doença de Fabry NR
Doença de Raynaud NR
Encefalomielite disseminada aguda NR
Necrólise epidérmica tóxica (síndrome Lyell) NR
Nefropatia por IgA/Púrpura Henoch-Schoelein NR
Porfiria Cutânea tardia NR
Prurido associado a colestase NR
Remoção de anticorpos citotóxicos pré transplante NR
Surdez neurosensorial NR
Tumores não hematológicos NR

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Leucaférese*, Plasmaférese seletiva** ou Fotoférese*** Indicação


Leucemia com síndrome de hiperviscosidade I*
Linfoma cutâneo de células T (Fotoférese) I***
Artrite reumatóide (Imunoadsorção com proteína estafilocócica A) II**
Artrite reumatóide III*
Esclerose múltipla III*
Esclerose sistêmica progressiva III*
Rejeição de órgão transplantado III*
Hipereosinofilia IV*
Leucemia sem síndrome de hiperviscosidade IV*
Poli-dermatomiosite IV*

Eritrocitaférese Indicação
Síndromes falciformes I
Hiperparasitemias (malária, babesiose) II
Profilaxia em gestantes com anemia falciforme III
Reação hemolítica aguda grave III
Poliglobulia (primária, secundária) IV

Trombocitaférese
Trombocitose sintomática I

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12. REQUISIÇÃO DE TRANSFUSÃO OU RESERVA DE


HEMOCOMPONENTES(2,36,37)
Toda requisição ou solicitação para transfusão / reserva de sangue ou
componentes serão feitas exclusivamente por médicos, em formulário de
requisição específico, manual (anexo 1) ou eletrônico (sistema MV),
padronizados pelo serviço de hemoterapia, contendo informações suficientes
para a correta identificação do receptor, conforme preconizado no
Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos da ANVISA –
Ministério da Saúde. O formulário padronizado de Requisição de transfusão
deve conter no mínimo, os seguintes dados:
I. nome completo do paciente sem abreviaturas;
II. data de nascimento;
III. nome da mãe (para menores de 14 anos)
IV. sexo;
V. idade;
VI. número do prontuário ou registro do paciente;
VII. número do leito (no caso de paciente internado);
VIII. diagnóstico;
IX. componente sanguíneo solicitado (com o respectivo volume ou
quantidade);
X. modalidade da transfusão;
XI. resultados laboratoriais que justifiquem a indicação do componente
sanguíneo;
XII. data;
XIII. dados do médico solicitante (nome completo, assinatura e número do
CRM);
XIV. peso do paciente (quando indicado); e
XV. antecedentes transfusionais, gestacionais e de reações à transfusão
quando relatados pelo paciente ou presentes em registros de
prontuários institucionais.

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Observação: Não serão aceitas pelo serviço de hemoterapia requisições de


transfusão fora dos padrões descritos acima, incompletas, ilegíveis ou
rasuradas.
Todos os dados solicitados na requisição de transfusão são importantes
para uma adequada análise crítica que deve ser realizada pelo serviço de
hemoterapia. Em casos de divergências entre o solicitado e o que preconiza os
manuais do ministério da saúde ou protocolos institucionais, cabe ao médico do
serviço de hemoterapia avaliar, podendo suspender ou modificar uma
transfusão quando considerá-la desnecessária, registrando de maneira clara a
alteração e os motivos desta decisão.
Em relação à Modalidade da transfusão, cabe a equipe médica avaliar o
paciente e realizar a requisição de acordo com a seguinte classificação:
I. programada para determinado dia e hora;
II. de rotina a se realizar dentro das 24 (vinte e quatro) horas;
III. de urgência a se realizar dentro das 3 (três) horas; ou
IV. de emergência quando o retardo da transfusão puder acarretar risco
para a vida do paciente.
Esta classificação permite priorizar os atendimentos conforme a gravidade e
necessidade, alinhando os procedimentos não urgentes que devem ocorrer
preferencialmente no período diurno.
Na hipótese de transfusão de urgência ou emergência, a liberação de
concentrado de hemácias antes do término dos testes pré-transfusionais
poderá ser feita, desde que:
 O quadro clínico do paciente justifique a emergência, isto é, quando o
retardo no início da transfusão coloque em risco a vida do paciente;
 Seja seguido o protocolo de liberação estabelecido pelo CCTH do
serviço de hemoterapia (ver capítulo sobre transfusão de emergência);
 Seja providenciado o termo de responsabilidade assinado pelo médico
responsável pelo paciente no qual afirme expressamente o
conhecimento do risco e concorde com o procedimento; e

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 Que as provas pré-transfusionais sejam finalizadas, mesmo que a


transfusão já tenha sido completada.
A equipe médica ou de enfermagem deverá entregar ou providenciar as
amostras do paciente para a AT o mais breve possível. Veja o capitulo
Transfusão de Emergência.

12.1. CONFERÊNCIA DA REQUISIÇÃO DE TRANSFUSÃO PELA EQUIPE


DE ENFERMAGEM
Ao receber uma Requisição de Transfusão / Reserva / Procedimentos
especiais, solicitada pelo médico, o profissional da enfermagem deverá checar
se a requisição de transfusão foi preenchida corretamente.
 Nos casos que não esteja correto, deverá devolver ao médico
responsável, solicitando que o mesmo faça as correções.
 Se a requisição de transfusão estiver devidamente preenchida, a equipe
de enfermagem deverá verificar se é necessária coleta das amostras e
se o médico providenciou o termo de consentimento livre e esclarecido,
veja a seguir.

12.2. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A


TRANSFUSÃO
Para atendimento de uma requisição de transfusão é necessário que o
médico aplique e preencha o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(anexo 2), juntamente com seu paciente ou acompanhante. Este documento
contém informações sobre o procedimento de transfusão, o tratamento
proposto e alternativo, os riscos e os resultados esperados com a transfusão.
Deve-se analisar se o paciente e/ou responsável está em condições de
compreender o que foi informado e o tratamento proposto. Apresentando as
condições necessárias, o médico deverá assinar atestando que entregou este
termo ao paciente ou responsável e que lhe foi dada livre escolha para decidir.
No impedimento do paciente ou responsável, o médico deve avaliar e se
decidir pela transfusão, deve solicitar assinatura de duas testemunhas.

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Se o paciente ou responsável não concordar com a transfusão, deverá


preencher a declaração de revogação.
Este Termo de Consentimento será válido para o período de internação e se
aplica aos pacientes clínicos e cirúrgicos com prescrição médica ou reserva de
hemocomponentes para cirurgia. Nos atendimentos a instituições não
pertencentes ao complexo FUNFARME e ambulatoriais deverá ser
providenciado um novo termo a cada nova amostra de exames pré-
transfusionais.

12.3. AMOSTRA PRÉ-TRANSFUSIONAL


A obtenção das amostras pré-transfusionais de sangue é uma das etapas
mais importantes dentro da terapia transfusional. Sua cuidadosa coleta e
adequada identificação são essenciais para a qualidade e a segurança da
transfusão.

12.3.1. COLETA
As amostras usadas para os testes pré-transfusionais deverão ser
coletadas para este fim específico, não sendo aceitas amostras utilizadas ou
encaminhadas a outros setores, como laboratórios de análises clínicas.
Em toda primeira solicitação de transfusão ou reserva cirúrgica
requisitada ao paciente, deverá ser realizado a coleta das amostras. Para
atendimentos subsequentes é recomendado uma consulta na Agência
Transfusional (AT) para identificar se o paciente possui uma amostra válida,
evitando recoletas no período de validade da amostra. A seguir descrevemos o
protocolo da AT que estabelece o material e as quantidades necessárias para
realização dos testes pré-transfusionais:
 Neonato e crianças até 4 meses: UM tubo com anticoagulante EDTA
(tubo hemograma pediátrico), sem gel, contendo no mínimo 0,5mL;
 Criança com mais de 4 meses e adultos: DOIS tubos, um com
anticoagulante EDTA (tubo hemograma), sem gel e outro de retração de
coagulo (tubo seco), com gel, ambos com no mínimo 2mL.

12.3.2. IDENTIFICAÇÃO:

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Todos os tubos devem ser rotulados no momento da coleta, com o nome


completo do receptor sem abreviaturas, data de nascimento e para menores de
14 anos nome da mãe, prontuário do hospital ou número de identificação
(localização no serviço), identificação do coletador, data e hora da coleta,
sendo recomendável a identificação por etiqueta impressa. Na falta de etiqueta
impressa, utilizar fita crepe.
A identificação dos tubos tem que estar concordante com os dados do
paciente e da requisição de transfusão. Segundo a legislação vigente, tubos
que não estejam corretamente identificados não deverão ser aceitos pelo
serviço de hemoterapia. Portanto, ocorrendo discordância na identificação da
amostra, a mesma será retida e a Requisição Transfusional devolvida para
uma nova coleta de material.
O profissional que realizou a coleta (coletor), juntamente com o que
acompanhou (conferente), deverão preencher o campo destinado ao
responsável pela coleta, conferencia, na Requisição de Transfusão, anotando a
data, hora, assinatura e carimbo com número do conselho profissional. Na falta
do carimbo, registrar nome completo (legível) e número do conselho
profissional.
A amostra colhida e devidamente identificada deverá ser encaminhada
imediatamente (ver condições de transporte a seguir) a Agência Transfusional
acompanhada da Requisição Transfusional ou de Reserva.
Observação: É importante lembrar que o erro durante a identificação dos
tubos é uma das causas mais comuns de reação hemolítica aguda por
incompatibilidade ABO, muitas vezes fatais. Estatísticas mostram que a maioria
das mortes associadas à transfusão, ainda ocorre por erro humano na fase de
identificação da amostra de sangue, geralmente por troca de nome e/ou
número de registro do paciente. De modo diferente de outras reações
transfusionais imprevisíveis, as reações hemolíticas agudas são evitáveis,
portanto vale ressaltar que a atenção redobrada na identificação da amostra e
do paciente é crucial. Desta forma, a revisão continua dos processos objetiva a
correção de futuros erros e falhas nas etapas da transfusão.

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12.3.3. VALIDADE DAS AMOSTRAS


 Sete dias para crianças recém nascidas (neonatos) com até 28 (vinte e oito)
dias de vida.
 Setenta e duas horas (três dias) para crianças acima de 29 (vinte e nove)
dias de vida e no adulto.

12.3.4. TRANSPORTE(36,37)
As amostras de pacientes são categorizadas como categoria B. Trata-se
de material biológico infeccioso ou potencialmente infeccioso. O material
biológico classificado nesta categoria deve receber a marcação UN 3373. Esta
marcação deve ser exibida na superfície da embalagem externa, claramente
visível e legível (figura 2).
As amostras devem ser acondicionadas em embalagens de boa
qualidade, suficientemente resistentes para suportar os impactos e os
carregamentos normalmente enfrentados durante o transporte. As embalagens
devem evitar qualquer perda de conteúdo que possa ser causada em
condições normais de transporte, por ação de vibração, ou por mudanças de
temperatura, umidade ou pressão. O sistema de embalagens deve ser
constituído por três embalagens para transporte até o serviço de hemoterapia:
 Embalagem primária: recipientes que entram em contato direto com o
material biológico. Ex.: tubos de coleta;
 Embalagem secundária: com capacidade para envolver e conter a(s)
embalagem(ns) primária(s). Pode ser constituída por saco plástico, saco
plástico tipo bag, caixa de PVC, metal e outros. Esta embalagem deve
conter material absorvente nos transportes de amostras externa ao
complexo FUNFARME, não sendo necessário para transportes internos, ou
seja dentro do complexo FUNFARME;
 Embalagem externa (terciária): recipiente com rigidez adequada. Pode ser
constituída por papelão, PVC, metal e outros (exceto isopor). Ex.: Caixa
rígida tipo cooler.

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As amostras devem ser coletadas em tubos de plástico resistentes


(embalagens primárias). Assim, dois tubos de amostras para testes pré-
transfusionais poderão ser transportadas juntos, sem a necessidade de
separação individual. Estas amostras devem ser acondicionadas em
embalagens secundárias (ex.: saco plástico, suportes ou grades tipo caixa ou
frasco) para evitar vazamento. Se utilizar saco plástico como embalagem
secundária, este deve ser constituído de material apropriado e disposto de
forma a garantir que em caso de vazamento do conteúdo da embalagem
primária, não haverá extravasamento para a embalagem externa (caixa rígida).
Para isso, a embalagem secundária deve ser estanque e conter material
absorvente em quantidade suficiente para absorver todo o conteúdo do(s)
recipiente(s) primário(s).
Dependendo da configuração do sistema de embalagens (tamanho), podem
ser utilizados materiais de amortecimento (ex.: plástico bolha), que garantam
que as embalagens primárias estarão firmes e seguras para suportar a
movimentação durante o transporte sem modificar condições de
armazenamento.
As embalagens primárias e secundárias dever ser transportadas em
embalagens externas (caixa rígida) de forma segura, mantendo-se fixas no
veículo durante o trajeto. Estas embalagens devem ser higienizadas e possuir
registros deste processo.
O transporte de amostras biológicas para triagem laboratorial de
receptores em ambiente externo ao complexo FUNFARME ou outro serviço de
saúde será acompanhado de documento (requisição de transfusão - Anexo 1) e
etiqueta contendo as seguintes informações:
 Identificação da instituição remetente e da pessoa responsável pelo envio;
 Identificação da instituição destinatária;
 Identificação do paciente referente às amostras;
 Registro da data e hora do acondicionamento.

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Exemplo de etiqueta de identificação:

Origem: Unidade hospitalar, endereço Destino: Agência Transfusional HB


completo do município e telefone para contato: Av. Brigadeiro Faria Lima, 5544. São José do
Data/hora/responsável envio: Rio Preto - SP
Tel.: (17) 3201-5027. Plantão 24horas

A temperatura de conservação da amostra biológica para triagem


laboratorial de receptores estará de acordo com as instruções dos fabricantes
dos conjuntos diagnósticos utilizados no laboratório. A amostra poderá ser
transportada sem material isotérmico se o intervalo de transporte não
ultrapassar 2 horas. Para intervalos maiores que duas horas e até seis horas
usar material isotérmico suficiente para manter temperatura de 2 a 24°C. Neste
caso, o processo de transporte e as condições de temperatura deverão ser
monitorados e registrados. Amostras recebidas fora dos padrões estabelecidos,
não serão aceitas pela AT.
A figura 2 exemplifica as condições necessárias para transporte de
amostras de receptores para fins transfusionais.

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Figura 2. Exemplo de embalagens e identificações utilizadas no transporte de amostras de


pacientes.

Observação: Será permitida a utilização de sistemas de embalagens duplas


(interna e externa) quando o transporte ocorrer no ambiente interno ao serviço
de hemoterapia ou de outro serviço de saúde, desde que o tubo primário seja
acondicionado de forma a se manter fixado à embalagem externa durante o
trânsito. Não será necessária utilização de componentes isotérmicos no
transporte interno. As amostras colhidas há mais de seis horas não serão
aceitas.

12.4. EXAMES PRÉ-TRANSFUSIONAIS(2)


Os exames pré-transfusionais preconizados pela legislação vigente,
diferem entre: crianças de até quatro meses e indivíduos (receptores ou
pacientes) com mais de quatro meses de vida, incluindo os adultos:

12.4.1. CRIANÇAS COM ATÉ 4 MESES DE VIDA:

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 Tipagem ABO, prova direta;


 Tipagem RhD com controle do mesmo fabricante;
 Teste de antiglobulina direto (TAD);
 Eluato e Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI), na amostra pré-
transfusional inicial;
 PAI nas amostras posteriores a avaliação do Eluato;
 Identificação de Anticorpos Irregulares (IAI) em casos de PAI positiva;
 Retipagem ABO, prova direta, de bolsas com CH a serem compatibilizadas;
 Retipagem RhD de bolsas com RhD negativo a serem compatibilizadas;
 Retipagem ABO, prova reversa, de bolsas com Plasma Fresco Congelado
(PFC) preparadas para transfusão;
 Teste de Hemólise do CH a ser compatibilizado; e
 Prova Cruzada (PC), utilizando soro do receptor com hemácias do doador,
para transfusão de CH e Concentrado de Granulócitos (CG).

12.4.2. INDIVÍDUOS COM MAIS DE 4 MESES DE VIDA:


 Tipagem ABO, provas direta e reversa;
 Tipagem RhD com controle do mesmo fabricante;
 PAI;
 IAI em casos de PAI positiva;
 Retipagem ABO, prova direta, de bolsas com CH a serem compatibilizadas;
 Retipagem RhD de bolsas com RhD negativo a serem compatibilizadas;
 Retipagem ABO, prova reversa, de bolsas com PFC preparadas para
transfusão;
 Teste de Hemólise do CH a ser compatibilizado;
 Prova Cruzado (PC), utilizando soro do receptor com hemácias do doador,
para transfusão de CH e Concentrado de Granulócitos (CG); e
 TAD de pacientes aloimunizados e em avaliações de reações
transfusionais.
Observações: Resultados dos testes pré-transfusionais que apresentem
alteração aos padrões normais deverão ser direcionados para avaliação e

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investigação adicional pelo responsável (biólogo, biomédico ou bioquímico) na


resolução de casos pela imunohematologia clínica.
A transfusão só deverá ocorrer quando forem concluídos todos os
exames necessários para garantir a segurança transfusional.

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13. SELEÇÃO DE HEMOCOMPONENTES PARA


TRANSFUSÃO(1,15,17,18,20,38,39)
A escolha do hemocomponente para a transfusão requer alguns
cuidados, de acordo com o diagnóstico, idade, sexo, histórico de reações
transfusionais, presença de anticorpos irregulares, entre outros. As escolhas
diante destas variáveis visam garantir segurança e melhor rendimento no
paciente cujo componente será transfundido.
Para melhor atendimento das requisições de transfusão pelas Agências
Transfusionais, é necessário que a requisição esteja devidamente preenchida,
com as informações do capítulo 12 deste MT, inclusive com a indicação clínica
da transfusão, medicamentos em uso, histórico de outras transfusões, CID do
paciente, entre outras informações. Uma análise minuciosa em todos os dados
da requisição transfusional, das observações cadastradas no sistema das
Agências Transfusionais, do estoque atual, do histórico transfusional, são
indispensáveis e complementam os passos de segurança para garantir a
escolha do componente correto para cada atendimento.
A seguir, apresentamos os critérios mínimos preconizados e as variáveis
permitidas, para os principais tipos de hemocomponentes:

13.1. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS


 ABO compatível (Tabela 3);
 RhD idêntico;
 RhD negativo pode ser transfundido em RhD positivo;
 RhD positivo só deverá ser transfundido em RhD negativo em casos
extremos na falta do RhD negativo em estoque, seguindo procedimento
que estabelece as condições;
 Transfusão de Extrema Urgência (TE e TM): Recomenda-se o uso de
sangue do grupo O/RhD negativo. Após tipagem ABO/RhD com amostra
atual, liberar isogrupo ou O/RhD positivo até validação da tipagem inicial;

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 Tempo de armazenamento da bolsa a partir da coleta: a AT deve possuir


procedimento operacional descrevendo as condutas de acordo com a
clínica médica e ou procedimento que o paciente será submetido.

13.2. PLASMA FRESCO CONGELADO


 O PFC selecionado para transfusão deverá ser preferencialmente ABO
isogrupo ou compatível com as hemácias do receptor (Tabela 3);
 O PFC deverá ser descongelado a temperatura de 37ºC em dispositivo
devidamente validado. Durante o descongelamento em banho-maria ou
descongelador específico a bolsa deverá ser protegida por um invólucro
plástico, para evitar contaminação. As unidades de plasma deverão ser
transfundidas o mais brevemente possível após seu descongelamento,
não devendo exceder 24 horas se armazenadas de 2 a 6ºC.
o É proibido o recongelamento de PFC;
o É proibido aliquotagem de bolsas de PFC que já tenham sido
utilizadas, exceto se no mesmo momento do procedimento.
 Não utilizar PFC com presença de hemácias, excessivamente lipêmico
(leitoso), ictérico (verde) ou qualquer turvação não característica. Nestas
condições, deverão ser expurgados.

Tabela 3. Compatibilidade ABO para CH e PFC.


Tipagem ABO e compatibilidade
ABO Hemácias compatíveis Plasma compatível
A AeO A e AB
B BeO B e AB
AB A, B, AB e O AB
O O O, A, B e AB

13.3. CONCENTRADO DE PLAQUETAS


 Compatibilidade ABO: As transfusões de CP deverão ser
preferencialmente ABO compatíveis. A incompatibilidade ABO maior
(receptor com anticorpo anti-A/B contra antígenos do doador) pode resultar
em recuperação plaquetária pós-transfusional diminuída por também

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conterem antígenos do sistema ABO. A incompatibilidade ABO menor


(doador com anticorpos anti-A/B contra antígenos do receptor) pode causar
hemólise, particularmente em transfusões com grande quantidade de
plasma e/ou doadores com altos títulos de anticorpos anti-A/B, o que é mais
comum em doadores do grupo O. Portanto, as transfusões de CP para
pacientes não-refratários deverão obedecer a uma ordem de prioridade de
acordo com o ABO do hemocomponente (Tabela 4).
 Compatibilidade RhD: Pacientes do sexo feminino, até 50 anos, RhD
negativo e que não tenham aloanticorpo anti-D, que for receber plaquetas
de doadores RhD positivo devido à impossibilidade de transfundir RhD
negativo, recomenda-se a administração de imunoglobulina anti-D até 72
horas após a transfusão (Ver capítulo 10).
 Recomenda-se a utilização de CP por aférese, sempre que possível, em
casos de incompatibilidade ABO e/ou RhD, devido ao menor volume e
quantidade de hemácias na bolsa (Ver capítulo 10).

Tabela 4. Prioridade de seleção de CP de acordo com o sistema ABO.


Fenótipo ABO do Fenótipo ABO do doador de CP
Paciente 1ª opção 2ª opção 3ª opção 4ª opção
A A AB B O
B B AB A O
AB AB A B O
O O B A AB

13.4. CRIOPRECIPITADO
 O CRIO selecionado para transfusão deverá ser ABO compatível para
receptores até 35kg e preferencialmente para os com mais peso;
 O CRIO deverá ser descongelado a temperatura de 37ºC com os mesmos
cuidados descritos no PFC. Uma vez completado o descongelamento, o
hemocomponente deverá ser transfundido o mais breve possível. Na
impossibilidade de transfusão imediata, as unidades de crioprecipitado
deverão ser mantidas a temperatura de 22ºC +/- 2ºC por no máximo 6
horas. É proibido o recongelamento.

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13.5. SELEÇÃO DO HEMOCOMPONENTE PARA CRIANÇAS


No universo da hemoterapia pediátrica, os RNPT representam um grupo
de especial interesse, porque são os mais frequentemente transfundidos nas
unidades de cuidado terciário. Este capítulo está dividido em crianças com até
4 meses de vida e as com mais de 4 meses.
Observação: A escolha do PFC e CRIO segue os mesmos cuidados descritos
para adultos. Exceto pela observação sobre aliqutagem (ver item 13.5.3)

13.5.1. SELEÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES PARA CRIANÇAS COM


ATÉ 4 MESES DE VIDA:
13.5.1.1. Concentrado de hemácias
 ABO compatível (Tabela 3);
 RhD idêntico ou RhD negativo poderá ser transfundido em RhD positivo;
 Preferencialmente de um único doador para reduzir a exposição
(alíquotas em bolsas pediátricas);
 Com até 14 dias de armazenamento após coleta;
 Bolsas preferencialmente fracionadas (aliquotadas) em sistema fechado.
Em sistema aberto quando a bolsa não for necessária para reutilização
(ver item 13.5.3).
 A transfusão de componentes celulares em recém-nascidos com menos
de 1200 gramas peso e em RN prematuro (<28 semanas e gestação)
deverá ser feita com produtos desleucocitados em até 48 horas após a
coleta e irradiados;
o Usar bolsas com até 5 dias de irradiação e preferencialmente até
7 – 10 dias de armazenamento;
o Transfusões com mais de 20 ml/kg, selecionar bolsas com até
24horas da irradiação ou lavar.
 CH lavados deverão ser transfundidos logo após sua lavagem ou até 12
horas após, pois o potássio pode sair da célula logo após sua lavagem;

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 Se ocorrer detecção da presença de anti-A ou anti-B, deverá ser


transfundido concentrado de hemácias O ou antígeno negativo ao
anticorpo detectado até que o anticorpo deixe de ser demonstrável no
soro do neonato ou das crianças até quatro meses de vida;
 Ver condutas no capítulo de procedimentos especiais, de acordo com o
diagnóstico.
Observação: no período neonatal e nos pacientes menores de 4 meses de
vida, a expressão dos antígenos ABO pode ser incompleta e os anticorpos
detectados geralmente são de origem materna. Nesta faixa etária, o que
orienta a transfusão de CH é a compatibilidade com o soro materno. Para
transfusões tipo específicas, testes sensíveis deverão demonstrar que o soro
do RN não expressa os anticorpos maternos contra o seu próprio grupo
sanguíneo.

13.5.1.2. Concentrado de plaquetas


 Compatibilidade ABO/RhD: sempre que possível, plaquetas deverão ser
ABO e Rh (D) idênticas ao receptor.
o Plaquetas do grupo O para crianças do grupo A deverá ser
evitadas tanto quanto possível
 Preferencialmente de um único doador para reduzir a exposição
(alíquotas em bolsas pediátricas) fracionada em sistema fechado;
 Recém-nascidos com menos de 1200 gramas de peso e em RN
prematuros (<28 semanas e gestação), deverão ser transfundidos com
produtos desleucocitados em até 48 horas após a coleta e irradiados;
 Ver condutas no capítulo de procedimentos especiais, de acordo com o
diagnóstico.

13.5.2. SELEÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES PARA CRIANÇAS ACIMA


DE 4 MESES DE VIDA:
13.5.2.1. Concentrado de hemácias
 ABO compatível (Tabela 3);
 RhD idêntico ou RhD negativo pode ser transfundido em RhD positivo;

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 Com menos de 7 a 14 dias de coleta ou lavadas se mais envelhecidos.


 Bolsas preferencialmente fracionadas (aliquotadas) em sistema fechado.
Em sistema aberto quando a bolsa não for necessária para reutilização (ver
item 13.5.3).
 CH lavados deverão ser transfundidos logo após sua lavagem ou até 12
horas após, pois o potássio pode sair da célula logo após sua lavagem;
 Ver condutas no capítulo de procedimentos especiais, de acordo com o
diagnóstico.
13.5.2.2. Concentrado de Plaquetas
 Compatibilidade ABO/RhD: sempre que possível, plaquetas deverão ser
ABO/RhD idênticas ao receptor. O uso de plaquetas ABO incompatíveis é
aceitável para as crianças com mais 35 kg. Plaquetas do grupo O para
crianças do grupo A deverá ser evitadas tanto quanto possível.

13.5.3. OBSERVAÇÃO GERAL


 CH e PFC fracionado (aliquotado) em sistema aberto, na câmera de
fluxo laminar, terá validade de 24 horas (armazenado entre +2 e +6°C)
se em bolsa de transferência e 6 horas se em seringa (+1 a +10°C).
o A bolsa original só poderá ser aliquotada em sistema aberto para
mais do que um paciente se no mesmo momento.
o Após liberação da alíquota para transfusão, a bolsa original em
sistema aberto não poderá ser refracionada, exceto se para o
mesmo paciente e devido intercorrências registradas na liberação
da alíquota anterior.
o Descartar a bolsa original após confirmação da transfusão ou
quatros horas da liberação.

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14. LIBERAÇÃO DO HEMOCOMPONENTE PARA A TRANSFUSÃO(2)


A Agência Transfusional deverá realizar dupla checagem da requisição
transfusional, dos exames, do hemocomponente selecionado e observações
prévias antes de encaminhar e/ou entregar o hemocomponente para o
transportador ou profissional da enfermagem que fará a instalação da
transfusão. Assim, a liberação deve ocorrer após:
 Finalização dos testes pré-transfusionais, devendo estar prontos e sem
discrepâncias;
 Em casos discrepantes, onde os testes pré-transfusionais divergirem dos
padrões de normalidade, verificar se o biólogo/biomédico/bioquímico e/ou
médico hemoterapêuta liberou a transfusão, devendo conter o registro
desta liberação na RTR;
 Em casos especiais, evolvendo pacientes com histórico de PAI positiva,
fenotipados ou condutas em transplante de medula óssea (TMO), a
liberação deverá ocorrer somente após consultar o
biólogo/biomédico/bioquímico e este, se necessário, o consentimento do
médico hemoterapêuta. Esta consulta deverá ser registrada na RTR;
 Conferir a requisição transfusional, dados do receptor, componente
solicitado e preparado, volume do componente, tipo e frequência da
transfusão, local da transfusão, anotações de condutas em observações
como pré-medicação ou procedimentos especiais;
 Conferir a etiqueta de identificação do paciente (receptor) afixada no
hemocomponente: nome do paciente, data de nascimento e para menores
de 14 anos nome da mãe, número do prontuário, número da bolsa, grupos
ABO e RhD, os aspectos físicos do hemocomponente (integridade, cor,
presença de hemólise ou coágulo) e a validade;
 Conferir os dados do Relatório de Transfusão com Bolsas (RTB): número
completo da bolsa, nome do hemocomponente, volume, tipagem
sanguínea ABO e RhD do hemocomponente e os resultados dos testes

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pré-transfusionais: tipagem sanguínea ABO e RhD, PAI, reclassificações e


prova de compatibilidade;
 Conferir e assinar o livro de registro de imunohematologia;
 Conferir e assinar o livro de registro de prova cruzada, nas transfusões de
CH;
 Conferir a reclassificação da bolsa nas transfusões de CH;
 Conferir e assinar o livro de reclassificação de PFC, nas transfusões de
PFC;
 Preparar uma maleta de acordo com protocolo de transporte (ver capítulo a
seguir) e identificar com o nome do receptor, nome da instituição, número
de prontuário, local de atendimento do receptor na instituição, tipo e
quantidade de hemocomponentes.
 No momento da entrega deve ser registrado a data e horário e o prazo
estabelecido por validação de cada caixa para o transporte;
Observações: É obrigatória a checagem dupla antes da liberação de qualquer
hemocomponente, devendo estar registrado o nome dos responsáveis pela
liberação: nos livros de registros (prova cruzada, reclassificação e exames
imunohematológicos), no RTB e na etiqueta de identificação do receptor no
hemocomponente.

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15. TRANSPORTE DO HEMOCOMPONENTES(2,36,37)


Este capítulo traz informações sobre os requisitos de transporte de
hemocomponentes liberados exclusivamente para transfusão, sendo o
remetente uma AT e o destinatário um paciente ou Hospital que não possui
AT.
De acordo com a classificação de risco do ministério da saúde, o material
biológico liberado para transfusão não apresenta risco ao processo de
transporte por ser testado e não reagente para as principais doenças infecto-
contagiosas, sendo considerado Material Isento. Deve ser transportado em
embalagens apropriadas, conforme definição e critérios da legislação vigente:
 Embalagem primária: deve garantir a vedação, evitar vazamento e ser
impermeável. A bolsa de sangue é considerada embalagem primária;
 Embalagem secundária: o transporte de hemocomponentes armazenados
em sistemas de bolsas de sangue não requer à utilização de embalagens
secundárias uma vez que as embalagens primárias (bolsas de sangue) são
resistentes e seguras.
 Embalagem terciária (externa) rígida: resistente, de tamanho adequado
ao material biológico transportado e dotado de dispositivo de fechamento,
de materiais laváveis e resistentes a desinfetantes podem ser reutilizáveis.
O transporte deverá ser realizado por serviços de hemoterapia ou
serviços de saúde licenciados pela autoridade de vigilância sanitária
competente. O material biológico humano a ser transportado deve ser
acondicionado de forma a preservar a sua integridade e estabilidade, bem
como a segurança do pessoal envolvido, durante o processo de transporte.
O sistema de embalagens utilizadas para o transporte de sangue e
componentes será constituído de forma a garantir a manutenção da
temperatura. As etapas de acondicionamento e controle de temperatura
durante o transporte de sangue e componentes serão validadas pelo serviço de
hemoterapia remetente ou sob sua instrução. O conjunto de embalagens e
material refrigerante estará adequado às necessidades de controle de

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temperatura para conservação do material biológico, verificando-se os fatores


de revalidação anual: intervalo de temperatura de transporte, temperatura
ambiente, eficácia do isolamento térmico e tempo do transporte.
Estas condições de transporte e acondicionamento de componentes
sanguíneos devem relacionar à capacidade máxima de bolsas por embalagem,
quantidade de material refrigerante, capacidade de empilhamento e sistema de
monitoramento da temperatura. As instituições externas devem entrar em
contato com o serviço de hemoterapia antes da aquisição de caixas
(embalagens) para o transporte, devido padrões de validação realizados pelo
serviço de hemoterapia fornecedor.
Os rótulos/etiquetas e ou relatórios de transfusão com bolsas (anexo 3),
correspondentes a cada bolsa devem acompanhar a embalagem externa e
conter:
 identificação do serviço de hemoterapia remetente, do transportador e do
serviço destinatário, além de endereços completos e telefones de contato;
 identificação do tipo de material biológico transportado;
 classificação de risco do material biológico transportado;
 data e hora do acondicionamento do material biológico; e
 contatos telefônicos para casos de acidentes.
Os componentes sanguíneos serão transportados por profissionais
orientados quanto às condições de transporte e os procedimentos a serem
realizados em eventuais intercorrências.
O Intervalo de temperatura aceitável para transporte de
hemocomponentes deve respeitar as condições individuais de cada tipo,
sendo:
 Concentrados de hemácias: serão transportados de forma a assegurar a
manutenção da temperatura entre 1°C (um grau Celsius) e 10°C (dez graus
Celsius).
 Concentrados de plaquetas, de granulócitos e Crioprecipitados: serão
conservados e transportados à temperatura de 20 a 24°C (vinte a vinte e

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quatro graus Celsius). É recomendado que os concentrados de plaquetas


sejam agitados antes do uso.
 Plasma Fresco Congelado - descongelados: serão transportados em
temperaturas entre 1°C (um grau Celsius) e 10°C (dez graus Celsius).
15.1. COMPONENTES ISOTÉRMICOS:
Recomendamos o uso de gelo reciclável (em bobinas). Estes
componentes isotérmicos devem ser padronizados em relação a volumes
(peso), alem de tomar os seguintes cuidados:
 O gelo gel reciclável (em bobinas) deve ser colocado em torno da(s)
embalagem(s) primária(s) ou em uma sobre-embalagem, ambas situações
devem evitar contato direto, estado de acordo com as orientações
determinadas pelo remetente (serviço de hemoterapia), com a finalidade de
promover a melhor conservação do material.
 O gelo gel reciclável (em bobinas) com vazamentos ou danificados deverá
ser desprezada. NUNCA USAR ÁGUA COM SAL OU OUTRA
SUBSTÂNCIA para completar o volume de bobinas porque quando se
adiciona sal à água baixa-se o ponto de congelamento;
 Uma vez terminado o uso da caixa térmica, as bobinas deverão ser
retiradas, higienizadas e retornadas ao congelador ou freezer. NÃO SE
DEVE MANTER BOBINAS FORA DO CONGELADOR OU FREEZER.
Recomenda-se mantê-las sob uma temperatura aproximada de -30°C a -
20°C.
 Observar o prazo de validade das bobinas, pois as que contêm celulose
vegetal propiciam o crescimento de microrganismos após o vencimento do
prazo de validade.

15.2. OBSERVAÇÕES:
 No ambiente interno (Hospital de Base) os hemocomponentes liberados
para transfusão poderão ser enviados diretamente ao paciente em
temperatura ambiente ou desconhecida por período de transporte de no
máximo 30 minutos, desde que seja descontado do tempo de 4 horas para

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infusão. Após 30 minutos, o componente não poderá ser reintegrado ao


estoque, devendo ser desprezado.
 Não será permitido estocar hemocomponentes fora da Agência
Transfusional, devendo ser solicitados somente se para transfusão. Exceto
se no centro cirúrgico de instituições externas em procedimentos com alto
risco de transfusão, em caixas validadas, com temperatura controlada e
devidamente lacrada até sua utilização.
 Hemocomponentes devem ser transportados em caixas higienizadas e
preparadas para este fim. Cada instituição deverá manter o registro da
higienização, sendo recomendada avaliação e limpeza pré-transporte, além
de limpeza e desinfecção semanal. As instituições com demanda
transfusional superior a sete dias poderá realizar higienização (limpeza e
desinfecção) pré-transporte.
 Hemocomponentes não poderão ser transportados em caixas que
transportam amostras biológicas de qualquer natureza.

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16. ADMINISTRAÇÃO DO HEMOCOMPONENTE(2,17,18,40)


As transfusões serão realizadas por médico ou profissional de saúde
habilitado, qualificado e conhecedor das normas legais vigentes. Deverão ser
realizadas apenas sob supervisão médica, isto é, em local em que haja, pelo
menos, um médico presente que possa intervir em casos de reações
transfusionais. O profissional responsável pela administração do
hemocomponente deverá verificar na prescrição médica do receptor, o tipo e
quantidade de hemocomponente requisitado, se está conforme de acordo com
o que está sendo entregue ou foi enviado pela AT e seguir uma rotina pré-
estabelecida:

16.1. IDENTIFICAÇÃO DO RECEPTOR:


O receptor deve ser identificado pela identificação presente no leito e
pulseira e/ou nome completo verbalizado pelo próprio, além da confirmação da
de prontuário, data de nascimento e nome da mãe se menor de 14 anos.
Confrontar com todos os documentos: a prescrição, a etiqueta de identificação
da bolsa (anexo 4) e a requisição de transfusão (quando disponível). A
transfusão só poderá ocorrer mediante prescrição médica, devendo-se verificar
e registrar os seus sinais vitais (pelo menos: temperatura, pressão arterial,
frequência cardíaca e pulso), imediatamente antes do início da transfusão.

16.2. CONFERÊNCIA DA BOLSA:


Fazer inspeção visual da bolsa, analisando: coloração, integridade do
sistema, presença de coágulos e a validade do produto. Verificar na etiqueta de
identificação do receptor presente na bolsa e no relatório de distribuição (se
disponível), os resultados dos exames liberados pela AT, verificar e/ou registrar
o horário de entrega do hemocomponente e os 7 itens obrigatórios de
instruções presentes na etiqueta do receptor.

16.3. ACESSO VENOSO E CONDIÇÕES HEMODINÂMICAS


Puncionar acesso venoso exclusivo e de bom calibre. Não utilizar
acesso venoso compartilhado. Os concentrados de hemácias podem ser

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transfundidos em acessos compartilhado apenas com cloreto de sódio 0,9% e


se devidamente prescrito (autorizado pelo médico assistente). É proibido diluir
CH antes da transfusão.
É importante avaliar as condições hemodinâmicas atuais e o histórico.
Qualquer alteração hemodinâmica avaliada ou reportada pelo paciente deve
ser comunicada ao médico antes do início da transfusão.

16.4. INICIO E ACOMPANHAMENTO DA TRANSFUSÃO


A transfusão deverá ser iniciada em até 30 minutos após o recebimento
do hemocomponente, se transportado em maleta com material refrigerante ou
pelo horário de saída da AT, se transportado sem gelo e direto para o paciente.
A transfusão deverá ser acompanhada pelo profissional que a instalou,
durante os 10 (dez) primeiros minutos à beira do leito. Deve ser monitorada
durante todo seu transcurso e o tempo máximo de infusão não deverá
ultrapassar 4 (quatro) horas a contar do momento da entrega (transporte
refrigerado) do hemocomponente ou saída (transporte em TA) da Agência
Transfusional.

16.5. REGISTROS OBRIGATÓRIOS


Registrar na prescrição médica o número da bolsa, o volume, a
velocidade/tempo de infusão, a data e hora do início e o nome do responsável
pela instalação.

16.6. INTERCORRÊNCIAS
Deverá ser interrompida a infunsão de qualquer hemocomponente na
vigência de reação transfusional e a intercorrência deverá ser imediatamente
comunicada ao médico responsável pela prescrição ou monitoramento da
transfusão. A AT também deverá ser comunicada para a adequada orientação
de como proceder (ver capítulo a seguir) e realização dos registros necessários
que visam evitar liberação de novo componente até devida avaliação e
determinação de condutas preventiva.

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16.7. CUIDADOS GERAIS DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À


TRANSFUSÃO DE HEMOCOMPONENTE:
 Conferir e seguir os passos descritos no capítulo 13 em dupla checagem
com o enfermeiro ou outro profissional responsável antes de iniciar a
transfusão. Ver rotina de enfermagem.
 A etiqueta de identificação do receptor (Anexo 4) que deverá ser anexada a
prescrição para auxiliar no registro dos dados obrigatórios e na conferência.
 Poderá permanecer em temperatura ambiente por no máximo 30 minutos.
Após este tempo, deverá ser devolvido imediatamente a AT.
 Infundir utilizando um equipo com filtro de retenção de macroagregados,
próprio para hemocomponentes, devendo ser individual para cada bolsa.
 Controlar a velocidade de infusão recomendada para cada
hemocomponente, evitando sobrecarga volêmica.
 Não adicionar nenhum medicamento à bolsa do hemocomponente e nem
infundi-lo no mesmo acesso venoso com outro componente, com exceção,
eventualmente, para o soro fisiológico nas transfusões pediátricas.
 Não aquecer os hemocomponentes! Este serviço de hemoterapia não tem
validação para aquecimento de hemocomponentes, portanto não deverá ser
feito, pois necessita de aquecedores específicos para este fim, aos quais
não está disponível.
 Deverá ser infundido no máximo em 4 (quatro) horas a partir do seu
recebimento/saída da AT e se por qualquer motivo este tempo for
ultrapassado, a transfusão deverá ser interrompida e a bolsa encaminhada
a AT de origem, juntamente com o impresso de Devolução de Unidades
Hemoterápicas (anexo 5).
 A transfusão de hemocomponentes em pacientes febris não tem qualquer
contra-indicação. É importante tentar baixar a febre (se ≥38°C), por meio do
uso de antitérmicos antes de iniciar a infusão, pois a recidiva da febre pode
ser sinal de hemólise ou de outro tipo de reação transfusional. Porém, a
mesma poderá ser iniciada após avaliação médica.

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 Deverão ser mantidos no prontuário do receptor, pelo Serviço de Saúde, os


seguintes registros relativos à transfusão: data, horário de início e término,
sinais vitais no início e no término, origem e identificação das bolsas dos
hemocomponentes transfundidos, identificação do profissional que a
realizou a transfusão e registro de reações adversas, quando for o caso.
 Os registros do serviço de hemoterapia deverão permitir a rastreabilidade
de todas as etapas dos procedimentos executados na transfusão de sangue
e hemocomponentes.
 Os serviços de saúde que não possuam Agências Transfusionais em suas
dependências, mas realizam transfusões, deverão manter registros que
permitam a rastreabilidade dos hemocomponentes e dos procedimentos
realizados.

16.8. ADMINISTRAÇÃO DE CH
 O tempo médio recomendado de infusão (paciente estável) de cada
unidade de CH deve ser de 90 a 120 minutos em pacientes adultos. Em
pacientes pediátricos, não exceder a velocidade de infusão de 20-
30mL/kg/hora.

16.9. ADMINISTRAÇÃO DE PFC


 Deverá estar totalmente descongelado.
 Poderá ser infundido rapidamente, em um tempo médio de 30 a 60
minutos, não excedendo a velocidade de infusão de 20-30mL/kg/hora.

16.10. ADMINISTRAÇÃO DE CRIO


 Deverá estar totalmente descongelado.
 Poder ser infundido rapidamente, em um tempo médio de 30 a 60
minutos, não excedendo a velocidade de infusão de 20-30mL/kg/hora.

16.11. ADMINISTRAÇÃO DE CONCENTRADO DE PLAQUETAS

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 O tempo médio de infusão de CP deverá ser de aproximadamente 30 a


60 minutos em pacientes adultos ou pediátricos, não excedendo a
velocidade de infusão de 20-30mL/kg/hora.
 A avaliação da resposta terapêutica a transfusão de CP deverá ser feita
por meio de nova contagem das plaquetas 1 (uma) hora após a
transfusão, porém a resposta clínica também deverá ser considerada.
Em pacientes ambulatoriais, a avaliação laboratorial 10 minutos após o
término da transfusão pode facilitar a avaliação da resposta e possui
resultados comparáveis.
 Homogeneizar delicadamente antes de infundir;
 Deverá ser transfundido imediatamente ao chegar na unidade.

OBSERVAÇÕES:

 O tempo para infusão do hemocomponente prescrito depende da


condição individual de cada paciente, e deverá ser especificado no
formulário de prescrição pelo médico solicitante, uma vez que a infusão
rápida pode causar sobrecarga de volume em pacientes instáveis
(especialmente pacientes pediátricos ou idosos).
 Recomenda-se o início imediato da transfusão, pois existe o risco de
proliferação bacteriana ou perda da função do hemocomponente. Uma
vez que tenha sido removido das condições adequadas de
armazenamento, o tempo máximo para infusão de qualquer
hemocomponente é de quatro horas, a partir do horário que foi
retirado de sua condição de conservação com temperatura
conhecida e dentro dos limites aceitáveis. Este horário de deverá
ser registrado na etiqueta de identificação do receptor na bolsa. A
mesma que será destacada e colada na prescrição médica.

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17. REAÇÃO TRANSFUSIONAL(1,3,17,41)


A transfusão é um evento irreversível que acarreta benefícios e riscos
potenciais ao receptor. Apesar da indicação precisa e administração correta,
reações as transfusões podem ocorrer. Portanto, é importante que todos os
profissionais envolvidos na prescrição e administração de hemocomponentes
estejam capacitados a prontamente identificar e utilizar estratégias adequadas
para resolução e prevenção de episódios de reação transfusional.
A ocorrência destas reações está associada a diferentes causas, dentre
as quais fatores de responsabilidade da equipe hospitalar como erros de
identificação de pacientes, amostras ou produtos, utilização de insumos
inadequados (equipos, bolsa, etc.), fatores relacionados ao receptor e/ou
doador como existência de anticorpos irregulares não detectados em testes
pré-transfusionais de rotina.
A reação transfusional é, portanto, toda e qualquer intercorrência
(evento adverso) que ocorra como consequência da transfusão sanguínea,
durante ou após a sua administração.

17.1. IDENTIFICAÇÃO DO EVENTO ADVERSO


A maioria das transfusões transcorre sem complicações. Porém, quando um
evento adverso ocorre é importante que a equipe de enfermagem esteja
preparada para reconhecer e atender imediatamente uma reação. Devido à
diversidade de tipos de reações e sintomas que podem ser inespecíficos, as
transfusões devem ser acompanhadas e paralisadas assim que uma reação
seja suspeita.
Alguns sinais e sintomas são tipicamente associados com reação
transfusional aguda e podem auxiliar no reconhecimento:
 Febre com ou sem calafrio (definido como aumento acima de 1ºC na
temperatura corpórea associada à transfusão);
 Tremores com ou sem febre;
 Dor no local da infusão, dor no peito, abdome ou flanco;

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 Alterações pressóricas geralmente agudas (hipertensão ou hipotensão);


 Choque em combinação com febre, e/ou calafrio intenso;
 Alteração no padrão respiratório, tal como, dispnéia, taquipnéia, hipóxia;
 Aparecimento de urticárias, prurido ou edema localizado;
 Náusea com ou sem vômitos;
 Alteração da cor da urina (hematúria);
 Sangramento ou outras manifestações de alteração da coagulação;
Todos os profissionais envolvidos na prescrição e administração de
hemocomponentes devem estar capacitados a reconhecer e tratar as reações
transfusionais. Qualquer sintoma durante a administração de um
hemocomponente (e até vinte e quatro horas após) deve ser considerado como
reação transfusional aguda, até que se prove o contrário. Assim que
constatado um evento adverso, proceder conforme recomendado a seguir:

17.2. CONDUTAS GERAIS E IMEDIATAS:


 Interromper a transfusão;
 Manter acesso venoso com solução fisiológica 0,9%;
 Verificar, a beira de leito, se o hemocomponente foi corretamente
administrado ao paciente destinado;
 Verificar sinais vitais;
 Comunicar o ocorrido ao médico do paciente (ou assistente);
 Notificar a reação ao serviço de hemoterapia por meio de impresso próprio
do sistema MV ou de preenchimento manual (solicitar na AT);
 Enviar o serviço de hemoterapia: a notificação, as amostras do receptor, o
hemocomponente e seu equipo, sempre que possível e com cuidado,
evitando a contaminação;
 Quando indicado, pelo médico assistente, enviar amostras de sangue e/ou
urina do receptor ao laboratório;
 Registrar a intercorrência em prontuário.

17.3. NOTIFICAÇÃO DO EVENTO ADVERSO

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Todo evento adverso ocorrido em receptores de sangue e


hemocomponentes deverá ser investigado e comunicado oficialmente à
vigilância sanitária competente, por meio do sistema NOTVISA, ou outro
sistema que lhe venha suceder.
Todo serviço de saúde deverá comunicar o serviço de hemoterapia, à
Vigilância Sanitária local (municipal, estadual/distrital) e a outros serviços de
saúde, empresas ou fabricantes de produtos, quando couber. Os meios para
comunicar, de imediato, são por telefone, meio eletrônico, mensagens de
celulares e fax. Posteriormente a comunicação deve ser registrada
formalmente.
A notificação é a informação à autoridade competente do Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), por meio do seu sistema
informatizado, sobre a ocorrência de evento adverso relacionado aos produtos
de interesse sanitário e aos procedimentos técnicos e terapêuticos em
doadores e receptores, conforme definido em normas do Marco Conceitual e
Operacional de Hemovigilância: Guia para a Hemovigilância no Brasil.
Excepcionalmente, pode ser feita por outro meio documental (fax, meio
eletrônico, meio físico ou outro).
As normas brasileiras tornam obrigatória a notificação de todas as
reações transfusionais ao SNVS. A instituição de assistência à saúde que
realiza transfusões deverá ter um sistema para detecção, notificação e
avaliação das reações transfusionais. As reações transfusionais imediatas
serão avaliadas e acompanhadas pelo serviço que realizou a transfusão.
O Serviço de Hemoterapia deverá ser comunicado, independente da
notificação ao SNVS realizada pelos serviços de saúde externos ao complexo
FUNFARME. As instituições assistidas por este serviço de hemoterapia
deverão seguir conforme recomendado:
 A equipe de enfermagem responsável pelo receptor (paciente/cliente)
deverá reportar todo evento adverso à transfusão ao médico assistente que
deverá determinar condutas imediatas;

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 A enfermeira(o) e/ou o médico assistente deverá (ão) avisar a AT e emitir a


notificação de reação transfusional (anexo 6);
 Examinar os rótulos das bolsas e todos os registros relativos, para verificar
se não houve erro na identificação do paciente ou das bolsas transfundidas,
e se observar irregularidade comunicar o médico assistente e/ou médico do
Serviço de Hemoterapia, imediatamente;
 Colher amostra pós-reação, seguindo critérios de coleta e identificação
descrito neste manual, com observação de serem colhidas de outro acesso,
que não aquele utilizado para a transfusão;
 Encaminhar o impresso de notificação de reação preenchido e assinado, a
amostra pós-reação, a bolsa do hemocomponente (se não desprezada, nos
casos de infusão total ou de reações tardias), a AT.
 Manter equipo e bolsa intactos - cuidado para não contaminar a bolsa do
hemocomponente não retirando o equipo e certificar-se que foi devidamente
fechado, retirar agulhas e transportar em recipiente aprovado pelo Serviço
de Hemoterapia.
 O Serviço de Hemoterapia irá rever todos os registros, repetir os exames
pré-transfusionais, investigar contaminação bacteriana no
hemocomponente, determinar condutas preventivas para as próximas
transfusões, e:
 Notificar as ocorrências ao SNVS órgãos competentes do complexo
FUNFARME;
 Encaminhar as ocorrências dos serviços de saúde externos para
notificação ao SNVS.

17.4. CLASSIFICAÇÃO E TIPOS


As reações transfusionais podem ser classificadas em imediatas (até 24
horas da transfusão) ou tardias (após 24 horas da transfusão), imunológicas e
não-imunológicas, conforme apresentado no quadro abaixo. Nesta edição,
iremos abordar descritivamente, somente as reações transfusionais imediatas.

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A tabela 5, lista as principais reações transfusionais, divididas entre imediatas e


tardias, imune e não imune.

Tabela 5. Principais tipos de reações transfusionais.


IMUNE NÃO-IMUNE
 Sobrecarga volêmica
 Contaminação bacteriana
 Reação febril não-hemolítica (RFNH)  Hipotensão por inibidor da
 Reação hemolítica aguda (RHA) ECA
IMEDIATA  Reação alérgica (leve, moderada, grave)  Hemólise não-imune
 TRALI (Transfusion Related Lung Injury)  Hipocalcemia
 Embolia aérea
 Hipotermia

 Aloimunização eritrocitária
 Aloimunização HLA  Hemossiderose
TARDIA  Reação enxerto x hospedeiro
 Púrpura pós transfusional  Doenças infecciosas
 Imunomodulação

17.4.1. REAÇÃO HEMOLÍTICA AGUDA


Na reação hemolítica aguda (RHA) ocorre hemólise intravascular das
hemácias incompatíveis transfundidas devido à presença de anticorpos pré-
formados na circulação do paciente. É considerada uma reação extremamente
grave e de mau prognóstico, estando sua gravidade diretamente relacionada
ao volume de hemácias infundido e as medidas tomadas.

17.4.1.1. Sinais e sintomas


O quadro é grave, composto por dor no tórax, no local da infusão,
abdome e/ou flancos, hipotensão grave, febre, calafrios, hemoglobinúria,
hemoglobinemia, ansiedade, inquietação e sensação de morte iminente. Pode
evoluir com insuficiência renal aguda por necrose tubular aguda e coagulação
intravascular disseminada (CIVD).

17.4.1.2. Prevenção

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O cuidado em todos os passos relacionados à transfusão de sangue é


fundamental na prevenção deste tipo de reação. Algumas medidas são
consideradas cruciais na prevenção e minimização de reações transfusionais,
especialmente da reação hemolítica aguda como, monitoramento dos sinais
vitais e de possíveis queixas alem de infusão lenta dos primeiros 10 minutos da
transfusão, como discutido no capítulo 10. No caso de pacientes anestesiados
ou inconscientes, durante a transfusão, devem ser avaliados volume e
coloração da diurese, assim como, capacidade hemostática, uma vez que,
nessa situação, a ausência de queixas pode retardar o diagnóstico.

17.4.2. REAÇÃO FEBRIL NÃO HEMOLÍTICA


A reação febril não hemolítica (RFNH) é o efeito adverso mais
comumente descrito na literatura. É definida como aumento de temperatura
corporal acima de 1°C e superior a 38°C durante ou após a transfusão de
sangue sem outra explicação.

17.4.2.1. Sinais e Sintomas


Os sinais e sintomas mais comuns são de calafrios, tremores, frio e
febre. A febre aparece durante ou após a transfusão, pode ceder no prazo de 2
a 3 horas (autolimitada) e geralmente sem tratamento. Em 10% dos casos não
cursam com febre. A reação raramente é grave, no entanto, a presença de
calafrios ocasiona desconforto e estresse principalmente naqueles pacientes
com acometimento respiratório. O calafrio também pode ser autolimitado, mas
em algumas situações exige tratamento medicamentoso. Outros sintomas
como cefaléia, náuseas, vômitos, hipertensão, hipotensão e dor abdominal
junto com o aparecimento de febre, devem ser considerados como RFNH.

17.4.2.2. Prevenção
 Após segundo episódio, pré-medicar com antipirético de 30 a 60 minutos
antes da transfusão.
 Produtos desleucocitados para casos recorrentes.

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17.4.3. REAÇÃO ALÉRGICA


Consiste no aparecimento de reação de hipersensibilidade (alergia)
durante a transfusão ou até quatro horas após. O caso confirmado deve
apresentar dois ou mais dos sinais e sintomas relacionados. Estas reações
normalmente são decorrentes de alergia do receptor a alguma substância no
plasma do doador, mediada por anticorpos anti-IgE ou anti-IgG.
Outras reações alérgicas como a medicamentos, asma brônquica,
embolia pulmonar, alergia ao óxido de etileno, alérgica anafilática, TRALI e
sobrecarga de volume compõem o quadro de diagnóstico diferencial.

17.4.3.1. Sinais e Sintomas


A maioria das manifestações é dermatológica (cutânea) caracterizada
como eritema local, prurido, pápulas, “rash”, tosse, rouquidão, usualmente sem
febre (podem ser observadas em algumas situações) e de intensidade que
pode variar de leve a grave (anafilaxia). Todos os hemocomponentes estão
envolvidos. Cerca de10% das reações alérgicas apresentam sinais e sintomas
pulmonares sem manifestação cutânea. As manifestações das vias áreas
superiores envolvem: edema de laringe, rouquidão, estridor e sensação de
aperto na garganta. E as das vias inferiores: sibilos, aperto torácico, dor sub-
esternal, dispnéia, ansiedade e cianose. As manifestações gastrointestinais
incluem: náusea, vômitos, dor abdominal e diarréia. Reações alérgicas
associadas às transfusões de concentrados de hemácias autólogas têm como
causas: lesão de estoque sofrida pelas bolsas de sangue durante a estocagem
ou pelo contato com óxido etileno, além da degradação de leucócitos ou da
liberação de enzimas.

17.4.3.2. Prevenção
 Após primeiro episódio grave ou segundo leve: medicar com
antihistamínico antes das próximas transfusões.
 Após segundo episódio grave: pré-medicar e lavar os
hemocomponentes.

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17.4.4. REAÇÃO ANAFILÁTICA


É uma reação de hipersensibilidade imediata, mediada pelo sistema
imune, desencadeada pela exposição a substâncias solúveis no plasma do
doador ao qual o receptor está sensibilizado. O quadro clínico é grave podendo
evoluir para choque e óbito.

17.4.4.1. Sinais e Sintomas


A sintomatologia pode ser de instalação muito rápida, ocorrendo apos
infusão de pouco mais que 10 a 15 ml do hemocomponente. Os
hemocomponentes mais comumente implicados nessa reação são os
plasmáticos (concentrado de plaquetas e plasma) e menos frequentemente os
eritrocitários.
Os sinais e sintomas mais comumente observados são tosse,
broncoespasmo, insuficiência respiratória, hipotensão, taquicardia, perda de
consciência, arritmia cardíaca, náusea, espasmo abdominal, vômito, diarréia e
choque. Quadro pulmonar é mais exuberante comparado com a reação tipo
alérgica, cursando com dispnéia e sibilos. Há ausência de febre.
Outras reações alérgicas, TRALI, sobrecarga circulatória, reações
hemolíticas, contaminação bacteriana, deficiência de haptoglobina com quadro
semelhante ao de anafilaxia relacionada à transfusão de sangue e reação
hipotensiva pelo uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina
(ECA) ou de filtro de remoção de leucócitos a beira de leito compõem o
diagnóstico diferencial.

17.4.4.2. Prevenção
 Pré-medicação: antihistamínico e/ou esteróides,
 Hemocomponentes celulares lavados.

17.4.5. SOBRECARGA VOLÊMICA


A sobrecarga volêmica relacionada à transfusão (SVRT) de
hemocomponentes difere do ponto de vista fisiopatológico de outras
sobrecargas circulatórias causadas por incapacidade do paciente em manipular

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o volume infundido. A infusão rápida de volume não é bem tolerada em


pacientes com comprometimento cardíaco ou pulmonar e naqueles portadores
de anemia crônica com volume plasmático aumentado, podendo causar uma
sobrecarga volêmica.

17.4.5.1. Sinais e sintomas


Deve-se lembrar de SVRT sempre que um paciente recebendo
hemocomponentes apresente sintomas respiratórios e estertoração à ausculta
pulmonar. Estes sintomas podem se manifestar tanto durante como pouco
apos a infusão do produto.

17.4.5.2. Prevenção
Avaliação de distúrbios hemodinâmicos prévios e controle da velocidade e
do volume de infusão ou fracionar a bolsa para infundir volumes menores.

17.4.6. REAÇÃO POR CONTAMINAÇÃO BACTERIANA


A reação por contaminação bacteriana é caracterizada pela presença de
bactéria na bolsa do hemocomponente transfundida.

17.4.6.1. Sinais e sintomas


Os sinais e sintomas mais comumente observados são de febre,
calafrios, tremores, hipotensão, náusea, vômitos e choque. Outras
sintomatologias são de ruborização, pele seca, dispnéia, dores, diarréia,
hemoglobinúria, CIVD e insuficiência renal. Atenção redobrada ao observar
febre e hipotensão durante ou imediatamente ao termino da transfusão, pois
podem ser considerados como sinal de uma possível contaminação bacteriana.
Febre, choque e coagulação intravascular disseminada estão presentes nos
casos mais graves.
Os sinais e sintomas são mais agudos e graves com os concentrados de
hemácias e são mais tardios e leves com a infusão de concentrados de
plaquetas. Clinicamente, a maioria das contaminações de concentrado de
plaquetas é pouco reconhecida. Pacientes neutropênicos, susceptíveis a febre

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e infecções de repetição, podem apresentar quadros clínicos conflitantes e


dificultar o diagnóstico.

17.4.6.2. Prevenção
 Cuidados nas etapas do ciclo do sangue, quanto à redução de riscos
de contaminação bacteriana.

17.4.7. LESÃO PULMONAR AGUDA RELACIONADA À TRANSFUSÃO


- TRALI
Síndrome que se caracteriza por desconforto respiratório agudo que
ocorre durante a transfusão ou até seis horas após sua realização, sem
evidência anterior de lesão pulmonar e exame de imagem de tórax
apresentando infiltrado pulmonar bilateral sem evidência de sobrecarga
circulatória. Associado também a hipoxemia com saturação de oxigênio <90%
em ar ambiente e/ou Pa02 / Fi02 <300 mmHg.

17.4.7.1. Sinais e sintomas


Manifesta-se com sintomas respiratórios, variando desde dispneia e
hipóxia, até insuficiência respiratória severa. Podem ainda ocorrer febre,
tremores, hipotensão leve ou moderada e taquicardia. Clinicamente é
indistinguível de lesão pulmonar de outras etiologias. A hipotensão não é
responsiva a administração de fluídos. Os raios-X de tórax mostra infiltrados
pulmonares difusos consistentes com edema pulmonar. Diferentemente da
insuficiência cardíaca, a pressão venosa central (PVC) é normal, assim como
as pressões das câmaras cardíacas, uma vez que a etiologia do edema é o
aumento da permeabilidade capilar. Em casos que foram submetidos à
autopsia, encontraram-se agregados de neutrófilos aderidos ao endotélio
vascular.

17.4.7.2. Prevenção
Não há unanimidade. Se o anticorpo do doador é demonstrável como
causador da TRALI, os componentes que contenham plasma não devem ser

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utilizados. Caso o anticorpo seja demonstrado como sendo do receptor, este


deverá receber componentes celulares filtrados.

17.4.8. REAÇÃO HIPOTENSIVA


Define-se como reação hipotensiva a hipotensão ocorrida durante ou
após o término da transfusão, na ausência de sinais e sintomas de outras
reações transfusionais.

17.4.8.1. Sinais e sintomas


Geralmente, há queda de pelo menos 10 mmHg na pressão arterial
sistólica e diastólica respectivamente, associado ao quadro de ansiedade, mal
estar e sudorese, não apresenta febre e com melhora do quadro após os
primeiros cuidados. Outras causas de hipotensão relacionada à transfusão de
sangue como contaminação bacteriana, TRALI e reação hemolítica faz o
diagnostico diferencial.

17.4.8.2. Prevenção
 Investigar história de uso de ECA.
 Evitar utilização de filtros de remoção de leucócitos a beira do leito para
pacientes com história de reação hipotensiva.

17.4.9. HEMÓLISE NÃO IMUNE


Por hemólise entende-se o rompimento da membrana eritrocitária por
razões diversas que, quando acontece durante ou após uma transfusão de
sangue, pode desencadear uma reação transfusional hemolítica, um dos mais
graves quadros adversos a transfusão. Estando afastada causa imunológica,
este evento é denominado reação transfusional hemolítica não imune.

17.4.9.1. Sinais e sintomas


A hemólise causada por danos às células eritrocitárias do doador antes da
transfusão ocasiona no receptor a presença de hemoglobina livre no plasma
(hemoglobinemia) e na urina (hemoglobinúria), mesmo na ausência de
sintomas clínicos significativos.

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17.4.9.2. Prevenção
A prevenção da hemólise não imune está relacionada à observação de
protocolos bem estabelecidos para a obtenção, preparo, armazenamento e
aplicação do sangue, com realização de teste de hemólise da bolsa de
componente eritrocitário antes da liberação.

17.4.10. REAÇÕES METABÓLICAS


Entre as numerosas complicações que podem acompanhar a transfusão
maciça, as alterações metabólicas e de coagulação são particularmente
importantes. A função do ventrículo esquerdo pode estar deprimida por:
hipotermia, pelo sangue transfundido, toxicidade pelo citrato, acidose lática
por hipoperfusão sistêmica, isquemia tecidual (frequentemente complicada por
hipercalemia). Anormalidades hemostáticas incluem: coagulopatia dilucional,
CIVD, choque, e disfunção hepática e plaquetária.

17.4.10.1. Toxicidade pelo Citrato


Na infusão de grandes volumes de PFC, sangue total ou plaquetas, quando
transfundidos em velocidade superior a 100 mL/min. ou a velocidade mais
baixa na presença de hepatopatia, o citrato plasmático pode elevar-se levando
à hipocalcemia sintomática. A sintomatologia também pode ocorrer na
presença de choque e/ou hipotermia, procedimentos prolongados de aférese e
exsanguineotransfusão (crianças muito pequenas necessitam de atenção
especial a todos os eletrólitos). O tratamento, nestes casos, é a prevenção.

17.4.10.2. Hipotermia
Arritmias cardíacas podem ocorrer em pacientes que recebem infusão
rápida de grande volume de sangue, principalmente no uso de catéter central,
próximo ao sistema de condução. A hipotermia aumenta a toxicidade cardíaca
à hipocalcemia ou hipercalemia, podendo causar arritmia ventricular, com baixa
eficiência miocárdica. Outras complicações da hipotermia incluem: bloqueio da
hemostasia com tendência hemorrágica e maior risco infeccioso.

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 Conduta Clínica: As arritmias induzidas pela transfusão podem ser


evitadas através da retirada do cateter do átrio. Os efeitos generalizados
da hipotermia podem ser prevenidos pela redução da velocidade de
infusão.
 Prevenção: Monitorização dos níveis de cálcio iônico em pacientes que
recebem transfusões maciças.
17.4.11. HIPOCALEMIA E HIPERCALEMIA

Hipercalemia: Quando as hemácias são armazenadas entre 2 e 6°C, aumenta


o nível do potássio no plasma sobrenadante ou nas substâncias adicionadas.
Raramente isto pode determinar hiperpotassemia no receptor devido à rápida
diluição, redistribuição dentro das células e excreção. A hipercalemia ocorre
mais em pacientes maciçamente transfundidos que permanecem hipotensos
por longo período, mal perfundidos e que, portanto, apresentam acidose lática.
Também pode ser problema em recém nascidos e prematuros, que necessitam
grande volume de transfusão, como exsanguíneotransfusão e cirurgia cardíaca.

Hipocalemia: é mais ameaçadora, uma vez que as células depletadas de


potássio (K) podem extrair o K do plasma do receptor, além disto, o
bicarbonato metabolizado a partir do citrato pode causar alcalose, que pode
levar a queda do potássio.

17.4.12. EMBOLIA AÉREA

Fisiopatologia: Embolia aérea pode ocorrer quando o sangue, em sistema


aberto, é infundido sob pressão ou quando o ar entra na bolsa na troca de
componentes. Os sintomas incluem tosse, dispnéia, dor torácica e choque.
Se há suspeita de embolia aérea o paciente deve ser colocado sobre o
lado esquerdo do corpo, com a cabeça baixa, para deslocar a bolha de ar da
valva pulmonar. A aspiração do ar é às vezes tentada. O uso adequado de
bombas de infusão, equipamento de recuperação intra-operatória e aférese são
essenciais para prevenir esta complicação.

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17.4.13. REAÇÕES TARDIAS


No caso das reações tardias (> 24h da transfusão). Queixas como:
febre, alteração na coloração da pele (icterícia) e na urina, petéquias, pele
escura, distúrbios no trato-gastrointestinal, devem ser investigadas. Para esses
casos é importante:
 Notificar ao médico sobre sinais e sintomas observados e:
 Conforme avaliação médica;
 Orientar o paciente sobre a suspeita da reação;
 Notificar a reação ao serviço de hemoterapia por meio de impresso próprio;
 Coletar amostras do receptor para exames e enviar as amostras ao serviço
de hemoterapia;
 Registrar em prontuário.

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Anexo 1: Requisição de Transfusão ou Reserva cirúrgica (Frente)

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Continuação Anexo 1: Requisição de Transfusão ou Reserva cirúrgica (Verso)

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Anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido para transfusão (pág. 1)

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Continuação anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido para transfusão (pág. 2)

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Anexo 3: Modelo do Relatório de Transfusão com bolsas (RTB).

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Anexo 4: Etiqueta de identificação do receptor


a) Etiqueta para identificação fixa do recepto no hemocomponente

b) Etiqueta para identificação e registros de prontuário, devendo ser anexada à


prescrição.

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Anexo 5: Devolução de Hemocomponentes

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Anexo 6: Notificação de reação transfusional

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Anexo 7: Termo de autorização para transfusão de doação autóloga com sorologia


reagente.

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