Zeus Urano
Zeus Urano
Zeus Urano
Resumo: A Teogonia de Hesfodo é um relato mftico que descreve o movimento do universo, desde o princfpio,
até uma ordem final, hierarquizada segundo potências divinas, e como este movimento se revela aos homens
através da força presentificadora das Musas. Este trabalho visa exatamente delinear, sob o ponto de vista do po-
der, as geraç6es e as sucess6es embutidas no mito, a partir do Céu, e também interpretar o que representa cada
instllncia do poder, como se instaura e como se comporta no exercfcio da ordem dentro do processo de evolução
do mundo.
1. Exceto ~ter e Ola. Observam bem a esse respeito Ana Lúcia S. Cerqueira e Maria Therezlnha A. Lyra (1979:29): "Na Teogo-
nia a matéria opaca e Informe aparece primeiramente e o mundo se desenvolve ciclicamente passando das trevas à luz. En-
tendida desta maneira nlo parecerá estranho que a Noite tenha gerado ~ter e Ola. •
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Por uma "expansão partenogênica", como define Annie Bonnafé (1985:25), Urano, o Ceú
constelado, surge já com uma atribuição espedfica delegada pela Terra: cobri-la toda ao redor
(esta primeira atribuição pode, sem dúvida, ser tomada em duplo sentido: um geo-trsico, como
conhecemos; outro amoroso, sexual, a própria cópula que resulta numa nova geração: os
Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros) e ser aos deuses venturosos morada segura. A possi-
bilidade de gerar e precisar a finalidade e, por assim dizer, o limite do ser gerado traduz um
modelo de poder que, neste momento, a Terra incorpora. Além disso, o Céu aparece, sob certo
aspecto, paritário com relação à Terra, pois igual a ela própria é relatado. Ambos constituem
édos asphales aieí, "sE:de irresvalável sempre", porém no Céu se assentam não todos, como
na Terra, mas apenas os deuses venturosos. O estatuto do Céu, ampliado para a função pa-
terna, é assim definido pela Terra que, curiosamente, exercendo o poder, transfere-o ao próprio
Céu. Podemos considerar que, no fio condutor da narrativa m~ica, este é o único momento em
que a sucessão no poder se dá não por embate direto entre forças antagônicas, uma de con-
servação e outra de renovação, mas por uma espécie de concessão da entidade a ser substi-
turda no exerdcio da ordem.
Nota-se também que o fim da dinastia do Céu acontece quando se verifica uma desme-
dida no seu comportamento, a hybris (2) que, paradoxalmente, o coloca em choque com quem
antes o havia instituido no poder: a Terra. Esta hybris é a própria negação da luz aos filhos:
De Urano, o Céu constelado, devia emergir a nova geração, mas da luz ele a oculta; é o
momento de nova substituição no poder para que, segundo os desrgnios de Zeus, o plano m~i
co venha a ser.
O cerne da indignidade das obras do Céu está, com certeza, na desmedida do cumprimento de
sua atribuição, ou seja, do exerdcio do poder. ...
2. O uso do conceito de hybris, mais próprio no vocabulário homérico, pode ser estendido a Heslodo. A insolência ou o ardor
excessivo dos pretendentes no palácio de Ulisses, Od. 1,368; 4,321; 4,627; etc. entendido como um ultraje a leis divinas
(porque divina era a honra de um rei), traduz-se, na Teogonia, nAo como falta humana, mas como desmedida de um deus
diante de uma ordem superior representada por outro deus.
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A Urano sucede Cronos, que traz na origem de seu governo já um dado importante: o li-
vre-arbfirio. Ele não é designado, decide o próprio destino quando acata as exortações da mãe
enquanto, aos seus outros irmãos, "a todos reteve o terror" (vv 167). Ao apresentar a arma aos
filhos nem a Terra, nem nada de antemão sugere que a honra da sucessão caberá a Cronos;
existe apenas um destino, um desígnio a ser cumprido, do qual ainda não se conhece o sujeito.
O impasse, que nesse momento acontece, amplia a força da escolha e amplia também a força
com que Cronos emerge. Em outras palavras, essa possibilidade de escolha entre o cumpri-
mento ou não do destino do kósmos, que então é evidente, ressalta a singularidade e a ex-
celência, a areté 3 de Cronos frente à pluralidade obscurecedora dos demais Uranidas. Além
disso, o acerto de sua decisão envolve tanto a força que sustenta a coragem, quanto o bem-
discernir provido pela astúcia, a ankylométis, virtude também identificada com Cronos. Assim,
a decisão ergue-se sobre a força que garante o sucesso da empreitada e sobre a anky/ométis,
que bem a orienta, fazendo Cronos confiante nas palavras e tramas da mãe Terra. Na realida-
de, ainda que de forma mais fraca e pouco articulada (pois não apresenta propriamente uma
iniciativa, ou seja, uma concepção de procedimentos adequados e sim apenas o posicionar-se
diante de uma situação apresentada), Cronos já conjuga aquilo que em Zeus será maior e me-
lhor definido: a harmonia entre o saber/conhecer astucioso e a potência da ação. A diferença
da astúcia de Cronos reside exatamente no fato de que ela é retorcida: ankylo-métes, métis
angulosa ou curva. Como se obedecesse a uma seqüência lógica, o poder passa de Urano,
que não possui esta inteligência/sabedoria/astúcia, a Cronos, que a possui um tanto deforma-
da, até atingir a plenitude com Zeus, ao desposar e logo devorar Metis, a Astúcia, filha de Tétis
e do Oceano.
Cumpre a Cronos, então, proceder ao último ato da tomada do poder: a ritualistica cas-
tração de Urano. Esse embate, em que, orientado pela Terra e valendo-se da foice forjada por
ela, decepa e lança ao mar os órgãos genitais do pai, faz ressurgir a idéia da hybris de Urano.
O golpe é desferido justamente no ponto capital através do qual o Céu executa suas atri-
buições e pelo qual também transgride ultrapassando-as. No entanto, não há coincidência nem
gratuidade: a castração é o ato de refrear a fertilidade desmedida e, de certa forma, improdutiva
Uá que a prole não chegava à luz) de Urano; refreia, assim, duas forças paradoxais: por um la-
do, esse apetite desmesurado e, por outro, a negação dos filhos. De fato, como declara Ver-
nant (1988:65), esta ação tem conseqüências cósmicas decisivas. Urano ainda será a sede ir-
resvalável dos deuses venturosos, mas perde a capacidade de continuar gerando, é alijado do
poder e, sobretudo pela grande obra de Cronos, o mito tem seu curso garantido, pois a Terra
pode então dar à luz os seus outros filhos titânicos.
Por outro lado, a própria castração de Urano ainda foi capaz de gerar, pois:
Nascem as Erínies, os Gigantes, as ninfas freixos e Afrodite. São deidades limítrofes, pois
emergem no limiar entre um momento do poder e outro; e, mais do que o instante em que são
geradas, a sua própria natureza reforça esta situação fronteiriça: são estas divindades filhas de
Urano ou de Cronos? Se, de um lado, a matéria de onde brotam pertence a Urano, por outro, a
ação que possibilita o nascimento é executada por Cronos •
.~
3. "Desde que um indlv(duo se empenha numa opção, que se decide, qualquer que seja o plano em que se situe sua resolução,
,. ele se constitui a si próprio como agente". Assim Vernant (1988:42) enquadrou o livre-arbllrlo do sujeito trágico. O livre-arbl-
trlo dos deuses, aqui de Cronos, circunscreve-se no plano da coragem, qualidade lntr(nseca ao campo semântico de aret6,
que em Homero, correspondendo a uma aptidão f(slca, li. 20,411, ainda significa um instrumento para a açào. A possibilida-
de da escolha parece ser sempre pano de fundo dos momentos em que a areM se manifesta, dar seu uso na descrição do pa-
pel de Cronos. Na tragédia, em um dado momento, a multiplicidade das opçOes reduzem-se, por uma Intervenção divina, a
uma Onlca, sobre a qual dever recair a escolha do herói; nesse sentido [cf. Vemant. 1988), ele é "forçado" a uma escolha.
Comparada à situação do homem trâglco, a força da escolha de Cronos é ainda maior, pois, sendo ele um deus, nAo estA, a
prlnc(plo, sujeito a coerções dlvlnas, além disso recebe da Terra nAo wna Imposição, mas antes uma exortação que, em 0111-
ma análise, nAo se dirige apenas a ele, mas Igualmente a seus Irmãos.
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Mesmo tendo conspirado contra Urano, ela ainda recebe seu sangue, jorrado do golpe desferi-
do por Cronos. Admitindo que a forma déksato (v 184) mais do que 'recebeu' pode significar 're-
;
cebeu favoravelmente, acolheu', a atitude da Terra poderia ser interpretada como uma espécie
de submissão ou conformismo ao devir mrtico, submissão esta resultante da consciência pré-
via de um destino jâ fixado. Nesse momento, esta consciência prévia pertence também a Ura-
no e é explicitada nos versos:
Ao devir mrtico, o porvir narrado, não hâ como negar a importância das divindades emer-
gentes da mutilação do Céu, especialmente as Errnies, relatadas mais adiante como co-res-
ponsâveis pelo castigo de Cronos, quando é destronado por Zeus:
Após descrever a derrota de Urano por Cronos, são registrados a descendência da Noi-
te, a linhagem do Mar, os filhos de Tétis e Oceano- que, segundo uma outra tradição, cuja re-
ferência é Homero (11. XIV, 302), seriam os pais de todos os deuses- e o hino à Hécate (cf. a
divisão de Torrano 1981) para, em seguida, ser retomada a questão da transferência do poder,
com a união de Cronos e Réia:
Esta união representa uma nova proposta de organização do mundo, ou ainda um outro estágio
desta organização. Dar um novo poder emergirá, depois de outra batalha que elevará finalmen-
te Zeus, pai dos deuseus e dos homens, ao poder. A chave deste novo momento é, como no
anterior, um erro, um mau procedimento.
Sob certo aspecto, Cronos incorre na mesma hybris do pai. O temor pela perda do poder
leva-o a esta desmedida, ou seja, leva-o a depor contra o bom andamento do processo cósmi-
co, a luta contra os desrgnios superiores do próprio Zeus, em favor da conservação de uma or-
dem que jâ não pode mais ser. Assim, do mesmo modo que Urano, Cronos não permite virem à
luz os filhos
Por este procedimento Cronos devia ser punido e outra vez é a figura feminina, no caso
Ré ia, que intervém e solicita aos pais, Terra e Céu, que a auxiliem na empreitada, propiciando a
emergência da nova geração, que trazia em si a instância definitiva do poder.
Réia, diferentemente da Terra na mudança de poder anterior, não concebe nem governa
os planos para o reequilíbrio do cosmo, mas se submete aos procedimentos indicados pelos
pais queridos, conforme o que ela havia solicitado. Esta intervenção, que não é a única, do Céu
e da Terra como conselheiros e arquitetos de ardis, corresponde à certos aspectos presentes
em alguns momentos do mito e que marcam decisivamente a cadeia das gerações e su-
cessões.
1) O mais superficial e evidente diz respeito à vingança e está ligado ao papel de Urano.
A sua queda do poder e a mutilação sofrida são ambas obras de Cronos, que devem ser vin-
gadas. A participação de Urano, então, tem um caráter, de certa forma, muito particular. Se por
um lado cumpre os desrgnios do universo, porque os conhece previamente, de outro lado, no
cerne de seus compromissos, como mola propulsora, está também a sede de vingança. No-
vamente vale a citação dos versos:
As próprias Er[nies que, junto com os filhos engolidos, são agentes da punição. Ilustram clara-
mente a situação, pois além de divindades identificadas pela tradição como vingadoras de cri-
mes, simbolizam o ultraje sofrido por Urano, já que se criaram a partir de seu sangue respinga-
do pelo golpe desferido por Cronos:
2) Um outro aspecto diz respeito à relação da Terra, na tradição grega antiga, com as
profecias e oráculos que predizem e revelam o devir. Gaia age, então, segundo seu prévio co-
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nhecimento e trabalha para o cumprimento dos desígnios cósmicos. Um indício desta função
profética é dado pelo próprio texto:
Se se pode aceitar a fragilidade, no mito, dos limites entre a terra potestade e a terra física, o
ato de Zeus legitima a sabedoria de Gaia, através da pedra que funda, no seio do chão, o prin-
cipal oráculo grego, mais tarde entregue aos cuidados de Apoio e de suas pitonisas, do qual,
conta-se, até Sócrates serviu-se (Cf. Platão, Defesa de Sócrates).
Na tradição, principalmente nos mitos homéricos, a Terra também representa, tanto co-
mo entidade física como divina, uma confluência de domínios por onde passam e onde aluam
outras instâncias de poderes divinos, bem como a instância humana, ou seja, se deusa, é
transformada em uma espécie de superposição ou amâlgama de outras forças divinas (ela é
matriz), e, se entidade física, converte-se em palco de inúmeras façanhas e ações dos deuses
e dos perecíveis mortais. Como observa J. P. Vernant (1984:75): "O mundo de Homero orde-
nava-se por uma distribuição dos domínios e funções entre grandes deuses: a Zeus cabe a luz
brilhante do céu (aithér); e a Hades, a sombra brumosa (aér); a Posidão, o elemento líqüido; a
todos os três, em comum, Gaia, a Terra, onde vivem com os homens todas as criaturas mor-
tais que resultam da mistura." Verdade é que, em Homero, os deuses não se comportam como
em Hesíodo, justamente pela diferença do tipo de relato mítico. Se, no primeiro, o mundo divino
cruza com o humano, no segundo o homem está, a princípio, radicalmente excluído. Contudo o
perfil mitológico que se forma a partir das duas versões garante à Terra um estatuto que sus-
tenta e confirma as suas faculdades vaticinatórias, pois não é difícil conceber que uma entidade
que conjuga tamanhas e distintas potências venha a ter o segredo de seus resultados.
3) Outro dado importante é a personificação, pelo Céu e pela Terra, de uma espécie de triân-
gulo formado por três papéis correlates: pais, anciãos e conselheiros. O papel do velho, na cul-
tura grega, sempre aparece muito bem definido e o que encontramos, a esse respeito, no mito
cosmogônico de Hesíodo, coaduna-se perfeitamente com os relatos da épica homérica, e da
tragédia.
Pelo menos em um primeiro momento, em Homero sobretudo, a longevidade e a velhice
não eram bens ideais que o espírito heróico dos gregos se permitia propriamente perseguir a
todo custo. O jovem guerreiro realizava a sua bravura no desafio dos combates, aproximan-
do-se deliberadamente cada vez mais de um desfecho fatal e nada podia detê-lo; e se acaso
os deuses o presenteassem com uma bela morte, no afã de uma batalha, então era a confir-
mação de sua areté. Mas se sobrevivesse, sem nunca ter temido e evitado a morte nem ne-
nhum perigo chegando finalmente à velhice, sua excelência passava a uma outra esfera. Na
verdade, tudo era uma questão de oportunidade, de adequação: um velho não sustenta mais a
espada e nem deverá tentá-lo. Tirteu diria que nada é mais hediondo do que um velho, com as
vergonhas ensangüentadas nas próprias mãos, caído morto no campo de batalha (Cf. Licurgo.
Leocr. 107). Esta é uma cena inoportuna, inadequada. Por outro lado, ao ancião cabe a sabe-
doria que a experiência dos anos vividos concede e sua palavra, proferida na ágora, diante dos
mais jovens, carrega em si uma força enorme, tão grande quanto a força dos golpes que outro-
ra podia desferir contra os inimigos. Assim, excluído da peleja, no sentido físico, ainda podia in-
terferir nos seus destinos, através de pertinentes conselhos, como constantemente podemos
observar na Ilíada: um homem velho (Nestor, por exemplo) orientando os jovens heróis, chefes
de guerreiros, para o melhor procedimento no comando de suas tropas.
Processo semelhante se dá, em Hesíodo, com Gaia e Urano. Se do poder direto ou de
sua execução estão, a princípio, excluídos, ainda atuam nos destinos do universo porque co-
nhecem os seus desígnios, fazendo-se presentes com prognósticos acertados nos momentos
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mais importantes do mito. A Terra é quem indica a Cronos o modo pelo qual derrotaria Urano;
na mudança seguinte, também a Terra, agora com a participação do Urano, é que compõe o
ardil e providencia "repetidas instigações" (v 494) para que Zeus substitua Cronos; "por conse-
lhos da Terra e do Céu constelado" (v. 891), Zeus é auxiliado na sucessão dos procedimentos
que empreende para conservar o poder.
A comparação entre a função conselheira dos deuses, na Teogonia, e a do herói homéri-
co carece de uma consideração importante. A extensão desta anâlise deve estar resguardada
pelas diferenças de natureza que envolvem deuses e homens. Com referências ainda à llfada
(III. 150 ss), escreve W Schadewaldt (1981:09): "O poeta vê a força e a debilidade da idade
maravilhosamente unidas na imagem da cigarra, do animal seco e contrafdo com a voz clara e
ressonante". O herói, envelhecido e sâbio, de Homero, enquanto humano, não pode evitar a
sombra que a morte paulatinamente verte sobre ele, ameaçando apagar a sua glória que, ao
contrârio daquela do jovem guerreiro, só encontra sentido em vida, através de suas palavras
aladas. A morte para ele não é mais tão bela, porque não traz mais, como nas batalhas, a pos-
sibilidade de imortalização e celebridade com o canto dos aedos.
Esta limitação, se pesa sobre os perecfveis mortais, ressalta a potência dos conselhos
do Céu e da Terra, pois, isentos da mortalidade, concentram ainda mais o conhecimento e asa-
bedoria sobre as coisas do universo divino.
Retomando o fio de sucessão, é importante observar que o modo de transferência do
poder de Cronos para Zeus se opõe radicalmente ao modo como se realizara de Urano para
Cronos. Enquanto neste caso o ponto culminante é um ato de violência ffsica, a mutilação, na-
quele existe apenas o emprego da artimanha, de um jogo astucioso que envolve Terra, Céu,
Réia e Zeus, de um lado, e Cronos de outro. Percebemos, com isto, uma maior aproximação
do mito de um referencial ligado ao mundo humano, cujas conquistas partem não só da força
bruta, que irrompe nas batalhas, mas também da habilidade polftica, talvez ainda mais eficiente
justamente porque pode tornar mais eficaz a outra faculdade.
Essa aproximação maior de um modelo humano é Zeus quem melhor a representa. É o
primeiro e o único que assume, em Hesfodo, os contornos do verdadeiro rei. Primeiro, porque
sob seu domfnio o universo assume uma complexidade até então ausente; por outro lado, e
principalmente, porque a ele cabe realizar a partilha dos domfnios universais, verdadeiro Télos
do mito cujo objetivo, conforme a declaração inicial das musas, é revelar
cebendo ainda mais uma vez a colaboração da Terra e do Céu para o sucesso de sua ação.
Diferente dos antecessores, Zeus, antes de tudo, desposa e logo devora a própria Astúcia, ou
seja, possui a deusa em dois sentidos, assumindo para si as suas virtudes:
RÉSUMÉ
La Théogonie d'Hésiode est un récit mythique qui décrit le mouvement de l'univers, de-
puis le principe jusqu'à l'ordre finale, hiérarchisée d'aprês des puissances divines, et comme ce
mouvement se révêle aux hommes à travers la force presentificatrice des Muses. Ce travail
cherche, exactement, à délinéer, sous le point de vue du pouvoir, les générations et les succes-
sions dans le mythe, en partant du Ciel, bien comme interpréter ce qui réprésente chaque ins-
tance du pouvoir, la façon comme elle s'instaure et se comporte, étant à service de l'ordre dans
le processus d'évolution du monde.
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