Livro Silvio Meira
Livro Silvio Meira
Livro Silvio Meira
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apresentação_
Este e-book é um compilado de cinco posts que o nosso cientista-chefe, Silvio Meira, publi-
cou no seu blog, durante o mês de agosto de 2021. Como o nome sugere, trata das “Funda-
ções para os Futuros Figitais”, mas não deve ser visto como uma espécie de guia definitivo.
É mais aconselhável lê-lo como um conjunto de provocações (e não são poucas) para se
planejar para uma transformação estratégica iminente, inevitável e cada vez mais inadiável.
Tudo isso num cenário no qual as dimensões de performance e competição dos negócios
estão cada vez mais interconectadas: os mundos físico, digital e social convivendo em tempo
quase real, sem que se possa afirmar objetivamente onde começa um e termina o outro.
Tudo que é falado no texto a seguir tem os dois pés fincados na ciência e na experiência
prática. São fruto de mais de 30 anos de pesquisa científica, de consultorias para grandes
grupos empresariais da área de varejo (físico e eletrônico), do segmento imobiliário, mercado
financeiro, grandes fabricantes de autopeças, agências de comunicação, e de mais um tanto
de empresas, além das discussões dentro da nossa própria plataforma, strateegia.digital. Ou
seja, muita coisa já foi testada e aprovada. Outras ainda serão. E muita coisa foi descartada.
Dá para ler num fôlego só, mas é preciso respirar fundo. Talvez o ideal seja acompanhar o
raciocínio de Silvio Meira com calma. Fazer uma pausa aqui e acolá para ir mais fundo em
cada referência. Aliás, as referências vão do grande cético romano Marcus Tullius Cicero, a
David Bowie, passando por Isaac Newton, Jon-Arild Johannessen, Marc Andreesen, Manuel
Castells, Zygmunt Bauman e Elżbieta Tarkowska. Não necessariamente nessa ordem. Mas os
citados ajudam a compreender essa longa jornada dentro do universo figital.
O texto de Silvio é uma tentativa de fazer o futuro fluir para o passado, passando pelo pre-
sente, como ele mesmo provoca. A partir da observação do cenário um tanto sombrio dese-
nhado por Johannessen ao se deparar com a revolução da informação e o futuro do trabalho,
Silvio amplia essa visão para desenhar as fundações, as lógicas e os princípios dos ecossis-
temas coopetitivos de possíveis futuros figitais.
Agora se você ficou curioso em saber o que o mais famoso “camaleão” do universo pop
está fazendo no meio de historiadores, teóricos, cientistas e escritores, aqui vai um pequeno
spoiler: Bowie anteviu, em 2002, a chegada do streaming bem antes que muita gente boa da
área de tecnologia. E hoje, olhando para trás, pensamos: “como é que não vimos isso antes?’’
É isso que Silvio tenta: nos fazer ver o futuro, antes do futuro acontecer.
Boa leitura!
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sumário_
1. Contexto 5
2. Flexibilidade Combinatória 13
3. Plataformas Figitais 20
4. Experiências Fluidas 27
5. Transformação Estratégica 36
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contexto_
Os cenários que Johannessen cria para o futuro do trabalho podem ser entendi-
dos e estendidos sob outro ponto de vista, a partir do qual dá pra desenhar as fun-
dações, as lógicas e certamente os princípios dos ecossistemas coopetitivos de
possíveis futuros figitais que já estão acontecendo, e não por acaso, agora. Este
texto é exatamente sobre isso, e tenta estabelecer [a partir de palestras sobre o
assunto; os slides que ilustram o discurso, aqui, vêm delas] um conjunto simples e
inteligível de bases para tratar e competir em futuros figitais. Porque o ruído, quan-
do se discute transformação figital, é quase sempre maior do que o sinal. Há um
excesso de opiniões, muitas infundadas, e há poucas leis e regras gerais.
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E ainda há quem, em tempos de transição, ande à procura de cases para copiar.
Uma das leis da natureza [humana] é que a toda procura corresponderá pelo me-
nos uma oferta. E, exatamente porque estamos numa grande transição, que afeta
de maneira fundamental a cultura das empresas, não há cases a copiar, o que não
haverá de impedir que… se copie… cases. Ah, a natureza humana…
Estamos imersos em uma revolução digital que já dura mais de 50 anos e que co-
meçou pelo menos lá na década de 1970, com a chegada, em escala, dos compu-
tadores nos data centers das empresas e com o estabelecimento das redes digitais
privadas de grandes organizações e dos governos. Nos anos 1990, chegou a in-
ternet comercial [a Amazon é de 1994] e, com ela, começaram a aparecer os negó-
cios em rede. Nos anos 2000, começaram a surgir os ecossistemas digitais, quase
todos criados por empresas digitais “nativas”, nascidas depois ou com a internet, e
que haviam escapado da explosão da bolha do “pontocom” no começo da década.
Há um fenômeno muito especial dos anos 2000, criador da base para os ecossis-
temas digitais, e vamos descrevê-lo abaixo.
Nos anos 2010, as empresas incumbentes descobriram que o mundo estava mu-
dando radicalmente e aí começou uma era de transformação digital, que ainda não
está perto de terminar e que, nos anos 2020 pra frente, nos levará, a todos, a com-
petir e cooperar em ecossistemas habilitados por plataformas digitais.
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A chegada da internet comercial no meio da década de 1990 mudou muita coisa
mas, como sempre, não de uma só vez. A rede habilitou, por exemplo, ecommerce,
logo na partida. Mas levou mais de uma década para que seus efeitos práticos pu-
dessem ser sentidos, em larga escala, fora dos mercados de nicho que, no começo,
as novas lojas online conseguiam tratar em escala global. Mas, no meio da década
seguinte, algo muito mais radical estava para acontecer.
O ano mágico de 2006 deu a luz a dois fenômenos que viriam a causar uma boa
parte das grandes rupturas das décadas seguintes. Primeiro, o que viemos a cha-
mar de nuvem, ou o provimento, primeiro, de infraestutura como serviço e, paula-
tinamente, de quase tudo o que conhecemos de computação, comunicação e con-
trole como serviço, na rede. Uma das consquências imediatas foi software como
serviço, botando todo o mercado de aplicações de cabeça pra baixo. Na definição
do NIST, Software as a Service, ou SaaS, é “um recurso fornecido ao consumidor na
forma de aplicações do provedor rodando em uma infraestrutura em nuvem, que
o consumidor não gerencia nem controla”.
Esse “consumidor não gerencia nem controla” esconde vários níveis de mágica,
mas o que nos interessa, aqui, é que o consumidor da definição acima pode ser
qualquer pessoa, inclusive quem queria criar um negócio em rede, antes, mas tinha
que lidar com a epopéia de estabelecer -ela mesma- toda a infraestrutura e servi-
ços de computação e comunicação para dar partida na empreitada.
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Estamos falando de servidores, roteadores, conexões… mas não só: prédio, ins-
talações, ar condicionado, geradores, segurança… tudo. Sem falar que, antes da
nuvem, escalar um negócio era um problema sem solução em certas janelas de
espaço-tempo: não dava para comprar, ou montar, instalar, configurar… o hardware
e software básico que você precisava enquanto a oportunidade estava lá. Isso se
seu negócio tivesse o capital para adquirir tudo o que era necessário para começar
ou expandir uma oferta para a rede.
Mais ou menos de uma hora pra outra, computação e comunicação passaram a ser
providas e consumidas como fluxo e pagas por volume, da mesma forma que ele-
tricidade. Informática se tramsformava em informaticidade. Essa era minha com-
paração lá em 2006, aqui no blog [veja o link bit.ly/3eUZG2J]. As consequências
seriam não triviais.
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Para a vasta maioria dos incumbentes, e se os eixos do espaço tridimensional na
figura acima representassem performances, é como sair da estratégia e execução
[majoritária, ou principalmente] física [ponto f] por melhor que seja, para um univer-
so bem mais diverso e complexo da combinação de físico, digital e social [ponto
F], por um caminho que sabemos que não é trivial, porque já há muitas empresas
legadas que já fizeram pelo menos parte da trajetória… e não foi nem um processo
banal nem tampouco um aprendizado simples e linear.
Mas fazer como, a não ser trilhando um longo e sinuoso caminho sem qualquer
sinalização, pois tudo o que se entendia do discurso das startups era mova-se,
rápido, e quebre coisas… o que [quase] nenhuma empresa estabelecida, com um
mínimo de governança, pode fazer? Só que muitas startups fizeram, mesmo sem
necessariamente saber os porquês, o caminho, e cada vez mais negócios legados
fazem a travessia do físico para, pelo menos, um mínimo de figital.
Faltavam, e ainda faltam, fundações. Falta abstrair o que serve pra muitos e gene-
ralizar, para servir para quase todos. Porque por trás de cada negócio, figital ou não,
há uma teoria… e há muitos elementos de tantas teorias que, esmiuçados, nos da-
rão fundações e lógicas mais universais. É isso que se tenta fazer aqui, estabelecer
uma primeira versão do que poderiam ser quatro fundações e suas vinte lógicas
para os futuros figitais.
Fundações e lógicas -ou leis, como as da física [e não que as propostas aqui se-
jam tão firmes quando aquelas…]- importam porque, quando há evidências confi-
áveis de que elas valem em um número de contextos, fenômenos que não estão
de acordo com as leis ou levam à evolução do sistema de leis para dar conta dos
novos fatos ou à busca por outros fenômenos, que devem estar acontecendo mas
não estão sendo observados, responsáveis pela modificação nos comportamentos
dos que estão.
Ao mesmo tempo, o fato das leis sobre um sistema serem -ou parecerem- sim-
ples não quer dizer que os fenômenos que elas descrevem são sempre tão sim-
ples quanto os casos mais simples que usamos como exemplos naquele sistema.
Por elementar que seja usar a Lei da Gravitação Universal [Newton, 1687; veja em
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bit.ly/3liJ09G] para discutir maçãs caindo de árvores… não há nenhuma solução fi-
nita para o problema de interação gravitacional entre objetos, quando introduzimos
um “simples” corpo a mais [veja bit.ly/3fAxhj9]. Mesmo assim, por mais complexo
que seja descobrir e usar leis gerais para qualquer sistema, elas são o único guia
que temos para nossas ações em um contexto, nem que seja como base para des-
cobrir que elas não são tão boas assim e como evoluir a partir delas.
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fundação 1:
flexibilidade combinatória_
Até que enfim, A rede é O computador, como havia anunciado John Gage em
1984. Demorou, mas chegou. E, se é verdade, isso quer dizer que o código de toda
solução para qualquer problema no mundo figital está em rede, está na rede e de-
pende de características e propriedades da rede. Quer dizer que deveria ser pos-
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sível “programar a rede” e desenvolver [por exemplo] uma solução que orquestra
a busca de B, o estoque de E,… a operação financeira de F, logística de L, o aten-
dimento de A… para criar um ecommerce para T, com a mesma fluidez e facilidade
com que se pode elaborar uma aplicação “só sua”, de componentes todos seus,
sobre alguma das infraestruturas-como-serviço disponíveis na rede.
Para que isso fosse possível -e ainda não é- seria necessário que cada uma das
propriedades dos agentes BEFLAT, acima, fossem como legos: blocos construti-
vos que podem ser conectados uns aos outros, através de interfaces comuns, para
construir sistemas [complexos]. Para chegar em tal ponto, é preciso que a organi-
zação esteja dispersa em componentes que permitam uma flexibilidade combina-
tória.
Quanto mais código a escrever, mais energia a investir na sua escrita; escolher
onde investir tal energia é vital para a a sobrevivência do negócio pois, seja onde
for, os recursos, como um todo, são finitos. Melhor, então, ter menos código, de
maior impacto, a escrever, e ter a rede -seu ecossistema- a escrever uma parte
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do “seu” código. Como veremos mais adiante, isso será parte essencial de uma
das outras fundações para os futuros figitais. Mas a esta altura do campeonato já
deve estar claro que, com todo mundo escrevendo código na, para a e em rede,
tal processo é muito mais complexo do que só conectar e ativar funções figitais no
e para o negócio, até porque ainda estamos criando as fundações e lógicas que
descrevemos aqui.
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criar funcionalidades de múltiplos níveis de complexidade.
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5. Plataformização: a reintegração dos sistemas a partir dos fragmen-
tos não deve levar a novos monolitos, mas a um conjunto articulado
de infraestruturas e serviços que habilita aplicações escritas dentro e,
principalmente, fora da organização.
De pouco adianta haver lógicas se elas não têm modelos, se não podem ser anco-
radas por interpretações que as estruturam e criam as condições para que sejam
possíveis e válidas em um contexto. No nosso caso, vamos chamar tais interpreta-
ções de princípios e os que correspondem às 5 lógicas da flexibilidade combina-
tória estão na imagem e na sequência de definições abaixo.
Se você tiver olhos um pouco mais “lógicos”, vai notar que a associação feita aqui
é só “mais ou menos”, e não necessariamente um a um; afinal, este não é um texto
de lógica formal… e Tarski vai perdoar. Ao mesmo tempo, já vale a pena dizer que
estes 5 princípios valem não só para flexibilidade combinatória, mas para todas as
4 fundações tratadas neste texto. E isso não é pouco.
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1. Organização em processos: a desintegração deve ser simultânea a
um redesenho da organização ao redor de processos tão simples quan-
to possíveis, que possam ser combinados para criar redes de processos
para resolver problemas de maior complexidade.
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4. Organização em rede: as hierarquias clássicas oriundas da revolução
industrial não promovem a agilidade e flexibilidade necessárias para os
negócios competirem em ecossistemas figitais; ao invés de comando e
controle, é preciso evoluir para para uma organização mais plana, hiper-
conectada, e mecanismos de articulação e coordenação, em rede, ao
mesmo tempo em que se transforma o negócio em uma…
Até aqui, demos conta da já complexa agenda das bases para se ter flexibilidade
combinatória em um negócio. Mas liquidificar sua organização e criar uma flexibi-
lidade combinatória internamente não resolve os verdadeiros problemas de com-
petir no mundo figital. Porque o interesse fundamental da instituição não é o que
está acontecendo dentro dela e sim, e não de agora, mas há muito tempo, o que
está rolando na interface entre o negócio [leia as pessoas, nele] e as pessoas, fora
dele, que podem vir a estabelecer conexões, relacionamentos e realizar interações
com “você”, negócio… e aí, quem sabe, eventualmente, uma parte das interações
pode até se transformar em transações.
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fundação 2:
plataformas figitais_
É daí que vem a segunda fundação, que habilita a organização a se relacionar com
as suas próprias bordas e com o mundo exterior a ela de uma forma muito dife-
rente, e de muito maior potencial de formação de redes, do que era possível antes
dela, plataformas digitais.
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res originais da plataforma não poderiam ter contemplado, muito menos
tiveram tempo para acomodar.
Pra não deixar nenhuma dúvida, Andreesen adicionou: If you can program it, then
it’s a platform. If you can’t, then it’s not. Tá no link bit.ly/2WKNrjh, e não precisa tirar
nem por uma só palavra. O problema é que muita gente passou a chamar qualquer
coisa feita na nuvem, perto dela, usando recursos dela, e até sistemas com arqui-
tetura monolítica que não têm nada a ver com a nuvem ou software como serviço
de… plataforma. Mas não é. Vamos dizer mais uma vez, pra deixar claro, em portu-
guês: se não é programável, não é plataforma.
Neste ponto da nossa conversa, você já descobriu que plataformas figitais preci-
sam da flexibilidade combinatória das organizações e estão por trás flexibilidade
combinatória dos ecossistemas do futuro figital, onde “programar a rede” é na ver-
dade escrever uma aplicação que usa funcionalidades de [mais de] uma plataforma
para criar um valor que não estava ali antes e que, em boa parte -senão fundamen-
talmente, depende de uma ou mais plataformas para existir.
Mesmo antes [e depois] da internet das coisas de verdade… dá para tratar as coi-
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sas em conjunto com pessoas que são seus conectores, sensores e atuadores
[COSA]: enquanto ainda não é possível, em geral, requisitar um robô de logística
para entregar uma pizza, pode-se programar um serviço equivalente, requisitando
uma entrega por moto, que é recebida, processada e atendida por um humano,
pilotando uma moto, assumindo o papel de uma COSA. Mas tratar as plataformas
como figitais terá outras implicações, como veremos quando discutirmos, lá na
frente, experiências.
Plataformas não são um novo tipo de silo. Nem uma torre de castelo figital, no
centro da organização, onde o poder incumbente se protege do mundo ao redor
e tenta se defender da influência e da contaminação do que está rolando “lá fora”.
Muito pelo contrário. A velha noção de propriedade dos equipamentos digitais da
empresa, lá dos porões dos velhos CPDs, não tem lugar no espaço-tempo das pla-
taformas, onde CTO quer dizer muito mais chief transformation officer do que chief
technology officer. Porque tudo é software, e a transformação do negócio começa
pela transformação das competências e habilidades para [re]escrever o negócio
em código, e de fora pra dentro, ao invés do histórico de dentro para dentro ou, no
máximo, de dentro para fora.
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lembrar que o “I“, aí, tem duas interpretações quando falamos de plataformas fi-
gitais. Primeiro, é I de informação, pois a plataforma é o hub onde se [re]desenha,
continuamente, não só a informação, mas toda a estratégia para o ciclo de vida de
informação no negócio. Este não é um problema trivial, precisa de atenção estru-
turada e contínua, o que não acontece em quase nenhum negócio; agora, passou
a ser vital [veja o link bit.ly/2HAOpH6, sobre porque chegou a hora das estratégias
de informação] e, ainda por cima, regulado, em parte, por lei.
A segunda interpretação do “I” depende da primeira, sem a qual pouca coisa vai
rolar num negócio, por menor que seja: é CIO como chief innovation officer. Por-
que pra vir de um futuro figital para qualquer presente que você queira é fazer uma
transformação figital, que é a combinação de transformação estratégica [inclusive
da arquitetura do negócio, e dos poderes, lá] e inovação figital, que é nada mais,
nada menos do que tratar da mudança no comportamento de agentes, no merca-
do, como fornecedores e consumidores usando plataformas figitais para habilitar
e fomentar novos comportamentos das pessoas dentro e fora do negócio. Pense
numa agenda gigante.
E se fosse só isso, era muito mais fácil porque, para criar uma plataforma que é
um hub de uma rede que forma um ecossistema, você ainda terá que sair de con-
trole para colaboração, criando plataformas abertas; sair de otimização do seu, só
para você, e do que você só faz mais ou menos, para interação com os outros e
para usar o que eles fazem muito melhor do que você, para que você se concentre
no que pode ser único entre todos ou no que você pode ser um dos melhores do
ecossistema; e por fim, sair de valor para cada um para valor para o ecossistema.
Afinal, plataformas habilitam ecossistemas e é lá que todos vamos coopetir. Essa
é a agenda dos CTOs e CIOs. Ou essa ou CIO, quase certamente, pode passar a
significar career is over.
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E as lógicas das plataformas figitais, quais são?… É disso mesmo que iremos falar
depois da imagem.
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Processos de criação, entrega e captura de valor, nesse contexto,
são figitais, e incluem todas operações do negócio e os agentes
que as realizam, humanos inclusive.
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zam os efeitos de rede.
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fundação 3:
experiências fluidas_
Não por acaso, as plataformas figitais [nesta série, veja bit.ly/3lMn1rN] são parte das
estruturas simbólicas, econômicas e políticas da sociedade. Ainda mais, quando
levamos em conta que o futuro [o presente!…] figital engloba as dimensões física,
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digital e social…
O tempo quase real, acima, nem é o tempo –que não passa– dos fluxos de Cas-
tells, nem um que passa –mas não vem de e não vai a lugar nenhum– de Bauman
[veja Zygmunt Bauman on Time…, de Elżbieta Tarkowska, em bit.ly/3CyxCfJ]. O tem-
po das experiências fluidas é um tempo que vem do futuro e passa, condicionado
pelas conexões, relacionamentos e interações entre as pessoas e delas com ou-
tros agentes no espaço figital.
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O tempo das experiências é o tempo das pessoas, dos negócios, o tempo prag-
mático. E flui do futuro para o passado, passando por um presente que pode ser
tratado como uma máquina que consome -numa certa ordem- um cone virtual de
possíveis eventos que vêm do futuro. A capacidade do presente é finita, do ponto
de vista de processamento de eventos, o que significa que não há como muitos
possíveis futuros acontecerem como um todo, ao mesmo tempo, de repente.
Tudo flui, e tudo flui turbulentamente, e às vezes rapidamente, mesmo quando pa-
rece calmo e estável. É só chegar mais perto, observar em mais detalhe. Aí, todo e
qualquer agente verá o tempo passando e estará indo a algum lugar, mesmo que
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não queira, e ainda que não note. A realidade ignora, quase sempre e solenemen-
te, a percepção de quem quer que seja. Mas é possível desenhar pelo menos parte
dos fluxos dos quais queremos participar e, sim, não é impossível desenhar fluxos
que levam à participação de muitos outros agentes em experiências das quais nós
também participamos como agentes de primeira classe. E isso está relacionado às
experiências que podemos criar.
A experiência que queremos criar para tornar um negócio sustentável está sem-
pre vindo do futuro, e são os cenários e personas que desenharmos para trazer
tais futuros para o presente que irão possibilitar a descoberta das oportunidades
de conceber experiências que encantam, engajam, se transformam em cultura da
rede e do ecossistema. E estão sempre evoluindo, como todos nós. Experiências
dos, nos, com os e para os fluxos. Experiências fluidas.
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que emerge de um complexo de percepções, ações, motivação e cognição em um
todo que está imerso, é afetado por e afeta os fluxos no espaço figital.
Muito se diz e faz sobre as facetas digital e social das experiências das pessoas
com as instituições, a ponto de se desprezar ou mesmo descartar a dimensão física
do espaço figital e, na mesma viagem, tudo o que acontece ou poderia acontecer
lá. Isso era -ou parecia que funcionava- quando omnicanalidade queria dizer que o
negócio se comportava mais ou menos da mesma forma [e não necessariamente
como parte do mesmo fluxo…] nas dimensões física, digital e social mas… uma coisa
quase nunca tinha nada a ver com a outra. Ainda é quase sempre assim em quase
todo canto. E o problema do futuro -ou do presente, já- é desenhar experiências
figitais, fluidas.
Aqui cabe uma reflexão sobre a gigantesca diferença entre pessoas e usuários
[ou clientes]. Pessoas não podem ser reduzidas a meras facetas de seus comporta-
mentos. Empresas não têm clientes, nem usuários. Mas há pessoas cujos compor-
tamentos, num dado espaço-tempo, levam a transações do tipo cliente-fornece-
dor com “nossa” empresa. E cada um de nós deveria usar o Princípio de Copérnico
[veja o link… bit.ly/3iPbchk] para assumir que “nosso” negócio não é especial: a vas-
ta maioria das mudanças de comportamento das “pessoas como clientes” começa
a acontecer nas interações que elas realizam com outros negócios… que nada têm
a ver com o “nosso”.
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e para influir no comportamento delas, dentro e fora do negócio… não é uma arqui-
tetura centralizada, de pirâmide de poder, que vai dar conta da tarefa. E, claro, não
é só ter uma filosofia para tal; é ter estratégia, transformada em cultura, arquitetura,
organização e operações que vão agir assim. Experiências fluidas exigem organi-
zações em rede, e fluidas, também.
Um dos maiores problemas a tratar nas relações entre nosso negócio e as pessoas
externas a ele é como usar dados e algoritmos para combinar produtos com servi-
ços e experiências, para substituir venda e entrega por resultados para as pesso-
as [como clientes]. Já seria complicado o suficiente se não houvesse experiência
na equação. Mas há. É por isso que o [re]desenho do negócio para futuros figitais
exige experiências fluidas, figitais, que são, exatamente, nossa terceira fundação.
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tes minimamente interessante é suficientemente conectado e di-
verso para habilitar experiências fluidas de alta complexidade, so-
fisticação e impacto.
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4. Experiências fluidas devem ser desenhadas a partir um conjunto mi-
nimalista de padrões. A natureza turbulenta e imprevisível dos fluxos
figitais quase sempre impede quem os provoca de exercer um papel
efetivo de coordenação e|ou controle. O melhor caso é desejar que um
desenho minimalista provoque uma auto-organização de|em fluxos de
experiências que demande o menor esforço possível de todos os agen-
tes participantes.
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supérflua, descobre que tem outros papéis e distribui o poder para a rede… ou, ao
descobrir que está se tornando supérflua, reage -se conseguir, mata as bordas e,
com elas, a organização como um todo, no curto ou médio prazos. Acontece.
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fundação 4:
transformação estratégica_
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Aladdin Sane nunca soube que o futuro da música iria ser como, enfim, é agora.
Mas vivia tentando trazer futuros para o presente e conseguia imaginar -claramen-
te, pela entrevista- que o choque tecnológico que já vinha sendo causado pelo
digital, em rede -em 2002 não havia smartphones, mas dava pra “vê-los”, de lá,
porque havia prenúncios…- que arquivos MP3 iriam ser transformados em fluxos de
bits, com cada ouvinte tendo acesso a uma biblioteca digital musical global, uma
prateleira infinita de canções. Deu no que deu, e nenhuma das antigas gravadoras,
que dominavam o mercado antes da internet, é relevante em streaming hoje.
O que já dava para ver, em 2002, era a possibilidade de uma grande ruptura no
contexto de entretenimento baseado em áudio e vídeo, causada por novas tecno-
logias que haveriam de mudar -radicalmente- os processos de criação, agregação,
entrega e captura de valor, migrando valor entre mercados, de forma que os in-
cumbentes nem tentariam usar as novas possibilidades tecnológicas, o que de fato
ocorreu, e não só para música, como todos sabemos a esta altura do campeonato.
E por fim…
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Primeiro, os complementos de algum produto ou serviço [ou plataforma…] ganhan-
do poder no ecossistema e evoluindo para controlá-lo, causando uma ruptura.
Segundo, os complementos evoluindo para substitutos e causando uma ruptura
“clássica“, no sentido de Christensen. Terceiro, os complementos criando negócios
adjacentes e estabelecendo uma competição clássica com os incumbentes, desa-
fiando sua posição competitiva. Aqui pra nós, a vida dos incumbentes é um pande-
mônio, ainda mais porque estão sob permanente ameaça das disfunções internas,
que causam a extinção de um vasto número deles, sem que seja necessária qual-
quer ruptura, complementos ou rivalidade para atrapalhar. Não falha quase nunca…
Foi assim com música, como Bowie havia antevisto, está sendo assim com entre-
tenimento, mídia, informação, finanças, varejo, educação… e um grande número de
mercados, agora. E ainda há muita gente vendo com os próprios olhos… e negando
a realidade e não acreditando nos fatos e dados. Mesmo nos mercados que pare-
cem estar no mesmo lugar, a transformação de físico para figital muda quase tudo.
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Quem não der -agora- os primeiros dos muitos passos que levam do analógico para
figital correrá o risco de não mais poder –e em pouco tempo- fazer uma transição
gerenciada e incremental entre os dois mundos. E há basicamente duas formas de
fazer uma transformação: com tempo, onde pequenas rupturas periféricas podem
ser articuladas para causar cada vez mais impacto, paulatinamente e, orquestra-
das, grandes rupturas, transformando o negócio; e sem tempo, quando a opção
que resta é tentar romper com o passado de uma vez, quase sempre causando
impactos dramáticos e de impossível gerenciamento… isso quando não se fracassa
completamente.
Nos últimos 50 anos as empresas foram virando código, e não entender como tais
coisas funcionam e não ser capaz de usar suas interfaces para reprogramá-las [para
atender suas necessidades ou delas extrair dados] será um problema tão fatal, para
qualquer negócio, como não entender juros compostos. E não se trata apenas de
se articular e agir usando a rede que já existe, mas de programar a rede que ainda
não há. Sem esperar que “os outros” [quase sempre com seus interesses] o façam.
Aprenda a programar. Faça seu negócio aprender, também.
Se você lesse cada um dos quatro conjuntos de lógicas como programas -e eles
devem ser tratados assim mesmo- cada lógica deveria ser vista como um fluxo em
si mesma, que interage com e redesenha as outras lógicas do seu conjunto e lógi-
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cas de outros conjuntos, um turbilhão de entrelaçamentos que [re]cria os fluxos tur-
bulentos de todos os mercados. Para dar conta desse turbilhão é que precisamos
estar em permanente transformação estratégica e tratar suas lógicas como o pro-
grama de mais alto nível de nosso negócio. Mas… quais são essas cinco lógicas?
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2. Descobrir oportunidades para transformação é uma capacidade fun-
damental para a sustentabilidade dos negócios. A história mostra que,
principalmente nos bons negócios, estas oportunidades de transforma-
ção não estão no centro, nem no meio, mas nas bordas, são periféricas.
Descobrir as oportunidades periféricas críticas é quase certamente por
onde um negócio deveria começar a se transformar, evitando os con-
frontos e conflitos do núcleo e criando estratégicas mínimas viáveis
para inovar a partir das bordas.
5. Se você -quer como leitor ou como negócio- chegou até aqui, muito
bem!… Volte à quinta lógica da flexibilidade combinatória, nossa pri-
meira fundação, e descobrirá que ela era… plataformização. Quer dizer
que estamos em loop? Sim, e deliberadamente.
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Se as funções do negócio são de classe mundial, haverá oportuni-
dades para desenhar infraestruturas e serviços que, como bases
da plataforma que codifica os fundamentos do negócio, habilitam
funcionalidades criadas interna e externamente, as aplicações,
suas e da rede, que fazem o negócio. A tríade infraestrutura, servi-
ços e aplicações é a plataforma que habilita o ecossistema figital
do negócio e|ou a sua participação em ecossistemas habilitados
por outras plataformas. Além de ser a base para o negócio [e não
só suas funções] ganharem escala, a plataforma abriga o conjunto
de funções de [ou que habilitam a] gestão de conhecimento no e
do negócio, inclusive este algoritmo.
Conhecimento são fluxos de energia nas redes das quais todo negócio do futuro
figital faz parte. A economia dos futuros figitais é de conhecimento, em rede. Aí,
cada organização é um ecossistema, onde conhecimento flui como energia. Cada
negócio -e sua plataforma– é um transformador, por onde circulam, se misturam
e são convertidas, enquanto a organização estiver viva, suas energias racionais,
emocionais e espirituais, correspondentes ao seu conhecimento racional, emocio-
nal e espiritual.
Pra terminar, e como liderar um negócio é criar, manter e evoluir seu fluxo de
conhecimento, um decálogo de recomendações que podem ser úteis para guiar
quem há de tratar de negócios nos futuros figitais e, neles, das fundações que
acabamos de descrever.
Enfim… diria Cícero, [em bit.ly/3j6TG9M] “sunt facta verbis difficiliora”… ou… é mais
fácil dizer do que fazer, coisa que eu ouço muito quando falo dessas paradas pelo
mundo afora. Para o que todos nós talvez devêssemos ler mais Sêneca [e menos
auto ajuda no LinkedIn e algures…] para ouvir o grande estóico dizendo…
…”Nihil horum sine timore miramur: et cum timendi sit causa nescire, non
est tanti scire, ne timeas? Quanto satius est causas inquirere, et quidem
toto in hoc intentum animo! Neque enim illo quicquam inveniri dignius
potest, cui se non tantum commodet sed impendat”…
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…o que, em bom português, quer dizer nada mais nada menos que… Não olhamos
para nenhum desses fenômenos sem medo. E já que a ignorância é a causa de
nossos temores, não vale a pena saber para parar de ter medo? É muito melhor
investigar as causas e fazê-lo com toda a mente aplicada a esse propósito! Não há
nada mais elevado do que cuidar disso, e a isso devemos nos dedicar totalmente.
autor_
Silvio Meira é CIENTISTA-CHEFE da TDS.Company, PROFESSOR
EXTRAORDINÁRIO da cesar.school, PROFESSOR EMÉRITO
do CENTRO DE INFORMÁTICA da UFPE, RECIFE. É fundador
e presidente do conselho de administração do PORTO
DIGITAL.
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.company
somos um negócio de levar negócios para o futuro, nosso objetivo é
apoiar a transformação de negócios nascentes e legados nas jornadas
de transição entre o presente analógico e o futuro digital.
contatos_
tds.company
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