Muro de Silêncio PDF
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BACHARELADO EM DIREITO
ROBERTO BORBA MOREIRA FILHO
SALVADOR
2018
ROBERTO BORBA MOREIRA FILHO
SALVADOR
2018
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................…..................3
2 SITUAÇÃO PROBLEMA ..............................................................................….................5
3 OBJETIVOS .........................................................................................................................6
3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................6
3.2 Objetivos Específicos .........................................................................................................6
4 JUSTIFICATIVA ...............................................................................…...............................7
5 A CRIANÇA E O ABUSO SEXUAL……..............................................….........................8
5.1 Os Efeitos do Abuso no Comportamento e a Revelação ……........................................9
5.2 O Depoimento da Criança…….......................……………………………………….....11
5.3 A Palavra Como Prova….................................................................................................13
6 METODOLOGIA ...............................................................................................................15
7 CRONOGRAMA ................................................................................................................16
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................17
1 INTRODUÇÃO
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Entretanto, não basta apenas ter uma legislação convincente e séria, é fundamental
que o Estado atue de forma a articular políticas públicas de ordem prática que assegurem que
tais direitos e garantias essenciais sejam respeitados, principalmente o sentido de manter
sagrada a inocência e candura da infância.
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2 SITUAÇÃO PROBLEMA
Em processos judiciais que têm por objeto crimes sexuais contra crianças, elas, as
vítimas infantis, são frequentemente expostas aos procedimentos essenciais da justiça
criminal. O processo é conduzido por um duplo interesse: de um lado a criança ofendida e a
busca da verdade real e de outro a proteção dos direitos constitucionais do acusado no sentido
de um julgamento fundado na presunção de inocência. Diante desse cenário, somado com a
fase de desenvolvimento da criança e a experiência confusa e traumática do abuso, como
considerar a sua palavra no processo judicial de modo a esclarecer os fatos?
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3 OBJETIVOS
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4 JUSTIFICATIVA
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5 A CRIANÇA E O ABUSO SEXUAL
Forçar ou incitar uma criança a tomar parte em atividades sexuais, estejam ou não
cientes do que está acontecendo. As atividades podem envolver contato físico,
incluindo atos penetrantes e atos não-penetrantes. Pode incluir atividades sem
contato, taos como levar a criança a olhar ou a produzir material pornográfico ou a
assistir a atividades sexuais ou encorajá-la a comportar-se de maneiras sexualmente
inapropriadas.
Uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual
de um adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado em uma relação de
poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, exploração sexual,
voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração,
com ou sem violência.
A gama de atividades sexuais realizada em crianças, em que elas são usadas como
objetos de satisfação sexual, é bastante ampla e inclui atos sem contato físico (gestos sexuais
sugestivos, cantadas obscenas, exibicionismos etc.) e com contato físico (beijos, carícias,
masturbação, cópulas oral, anal, vaginal). Aquele que envolve a criança nessas atividades
sexuais incompatíveis com sua idade e com seu desenvolvimento psicossexual, as quais ela
não tem nenhuma compreensão da situação em que está inserida, dentro ou fora do âmbito
familiar, pratica abuso sexual infantil.
A legislação brasileira veda tais práticas, sendo que, nos últimos anos, houve
mudanças consideráveis no Código Penal a fim de prevenir e punir abusadores sexuais
infantis.
O estupro de vulnerável é o primeiro delito previsto no Capítulo II do Título VI do
Código Penal, capítulo este que disciplina sobre os crimes sexuais contra vulnerável. Tutela-
se a liberdade sexual dos menores de 14 anos e daquelas pessoas consideradas vulneráveis nos
termos do Código Penal, conferindo maior rigor ao preceito constitucional que diz que 'a lei
punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente'
(art. 227, § 4º).
A Lei 12.015/2009 provoca mudanças no Título VI do Código Penal, revogando,
alterando e acrescentando certos artigos, adaptando o Código às transformações
comportamentais, em relação a sexualidade, da sociedade atual e, não sendo menos
importante, harmonizando-o às esteiras da Constituição Federal de 1988.
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A nomenclatura 'Dos Crimes Contra os Costumes' foi substituída por 'Dos Crimes
Contra a Dignidade Sexual', conferindo sentidos diferentes aos tipos penais, florescendo
atenção ao indivíduo, e não apenas na moral pública sexual. A nova Lei promove relevo à
dignidade humana ao reconhecer, como ensina Mirabete (2015, p. 1507), “a primazia do
desenvolvimento sadio da sexualidade e do exercício da liberdade sexual como bens
merecedores de proteção penal, por serem aspectos essenciais da dignidade da pessoa humana
e dos direitos da personalidade”.
Um dos propósitos da lei 12.015/2009 foi criar uma maior repressão às crescentes
violações sexuais contra crianças e adolescentes. Anteriormente à referida lei, não havia um
tipo penal específico que tratasse sobre vulneráveis, mas aquele que praticava atos previstos
no art. 217-A, inseria-se no crime de estupro (art. 213) ou no crime de atentado violento ao
pudor (art. 214) de acordo com a conduta então praticada.
O advento da lei supracitada incluiu novas figuras típicas específicas sobre
vulneráveis e revogou disposições anteriores. Todos os delitos previstos no Capítulo II do
Título VI do Código Penal foram inovações trazidas pela referida lei. São eles:
a) art. 217-A - Estupro de vulnerável;
b) art. 218 - Corrupção de menores;
c) art. 218-A - Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente;
d) art. 218-B - Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável.
Vulnerável significa descoberto, desprotegido, indefeso, suscetível, desarmado,
exposto, derrotável pela fragilidade que possui (FERREIRA, 1999). Todas as vítimas dos
crimes aqui citados são consideradas pelo Código Penal como sendo vulneráveis, sendo que a
vulnerabilidade é de acordo com o sentido e fins de cada delito.
Presume-se violência absoluta em condutas sexuais praticadas com menor de 14
anos e o seu consentimento em nada reflete ao sistema jurídico-penal, ou seja, é irrelevante o
consentimento da vítima, ou mesmo, se já possua experiências em relação ao sexo, e ainda
que esteja se prostituindo, o crime restará configurado quando o agente mantém conjunção
carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos.
A vulnerabilidade é apenas relativizada quando há de se considerar as dúvidas
quanto as aparências em relação a certos menores, pois, apesar de ainda serem menor de 14
anos, aparentam mais que a idade real, levando o agente a incorrer em erro de tipo. Nesses
casos, como ensina Nucci (2016), em caso de erro invencível, afasta-se o dolo e a conduta
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torna-se atípica por não ser admitida a modalidade culposa, ou seja, o crime de estupro de
vulnerável apenas admite sua configuração se cometido de forma dolosa, não sendo prevista a
forma da culpa.
Os impactos causados pelo abuso têm efeitos danosos que geram sentimentos de
indignidade, baixo autoestima, medo, embaraço, constrangimento, bloqueio, desconfiança,
culpa e vergonha (SANDERSON, 2005). O conjunto de tais sentimentos podem tornar a
criança retraída e com dificuldades de se relacionar com outras crianças.
Ainda que a criança não experimente a atividade sexual como abusiva, “isso não
significa que não tenha um impacto, se não a curto prazo, mas potencialmente a longo prazo”
(SANDERSON, 2005, p. 173). Algumas crianças abusadas sexualmente se tornam pedófilas
ou prostitutas, ou têm outros problemas sérios quando atingem a idade adulta.
Os abusadores utilizam-se da dificuldade de entendimento, principalmente quando
a criança é muito pequena, para praticar o abuso e a confusão criada dentro dela funciona
como um obstáculo que a impede de buscar ajuda daqueles que poderiam lhe ajudar. Os
molestadores de crianças podem deixá-las muito aterrorizadas em contar o abuso, exercem
pressão sobre elas com ameaças de morte inclusive.
Tabajaski, Paiva e Visnievski (2010, p. 59) explicitam:
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As ameaças são usadas para fortificar o sigilo, e o segredo é justamente aquilo que
possibilita a repetição das experiências abusivas. Com muita sabedoria Conti (2008, p. 79) diz
que “existe um ar de segredo entre a vítima e o abusador: um verdadeiro muro de silêncio”.
Sanderson (2005, p. 181) explica que para algumas crianças “é traumática a
experiência e se torna muito difícil revelar o abuso, pois se sentem envergonhadas, culpadas
ou têm medo de punição. Para outras, por serem ainda muito pequenas, não entendem a
situação e têm dificuldades em se expressar verbalmente”.
A criança pode tentar comunicar não apenas verbalmente, mas através de gestos
ou desenhos por exemplo. Somente quando um esforço especial ajuda a se sentir segura, ela
começa a falar livremente. Ainda que não fale, o abuso provoca mudanças comportamentais
que indicam sinais que algo de errado está acontecendo.
De acordo com a Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência
(2011, tradução nossa) o abuso sexual infantil pode desenvolver na criança comportamentos
que devem servir como alerta:
- interesse incomum em atividades sexuais ou evitamento de todas as coisas de
natureza sexual;
- problemas de sono ou pesadelos;
- depressão ou afastamento de amigos ou familiares;
- sedução;
- declarações de que seus corpos estão sujos ou lesionados, ou medo de que haja
algo de errado com eles na área genital;
- recusa de ir à escola ou manifestar falta de concentração;
- delinquência / problemas de conduta;
- retraimento;
- tornar-se alheia ou reprimida;
- sentir medos inexplicáveis de determinados lugares ou pessoas;
- aspectos do abuso sexual em desenhos, jogos, fantasias;
- mudanças de personalidade;
- agressividade incomum, ou
- comportamento suicida
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5.2 O DEPOIMENTO DA CRIANÇA
Moreira, Lavarello e Lemos (2009, p. 106) entendem que a justiça não deve
adotar idênticos modelos de ritos processuais para adultos e crianças, em virtude de sua
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condição peculiar de desenvolvimento. No entanto, asseveram que apesar da criança “se
encontrar comprometida e afetada pela violência sexual não pode desconsiderar o seu direito à
participação ativa nos processos, a ser ouvida e ter suas opiniões devidamente consideradas”.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (CDC, 1989) bem como
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069/90) trazem, de forma expressa, o
direito das crianças terem suas opiniões ouvidas e consideradas.
É importante observar que até chegar em momento processual, a criança fica
sujeita a diversas entrevistas por diversos profissionais e instituições, sendo obrigada a repetir
o acontecimento inúmeras vezes para pessoas também por ela desconhecidas. Contudo, é em
juízo que a sua palavra tomará contornos de prova contra o agressor.
Nos casos em que a criança é submetida à violência sem vestígios, como em atos
libidinosos diversos da conjunção carnal (não há lesões visíveis nem rompimento de
hímen, ou resultado positivo de coleta de esperma), o relato da criança, nomeando e
identificando o suposto agressor é considerado pelos operadores da justiça como
importante prova, independente de, muitas vezes, ser a única.
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“Em certos casos, porém, é relevantíssima a palavra da vítima do crime. Assim,
naqueles delitos clandestinos qui clam comittit solent (crimes contra a liberdade sexual), que
se comentem longe dos olhares de testemunhas, a palavra da vítima é de valor extraordinário
[...]” (TOURINHO FILHO, 2012, p. 605).
“Como se tem assinalado na doutrina e jurisprudência, as declarações do
ofendido podem ser decisivas quando se trata de delitos que se cometem às ocultas [...]”
(MIRABETE, 2003, p. 547).
A palavra infantil tem relevante valor na formação da convicção dos
entendimentos jurisprudenciais:
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6 METODOLOGIA
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7 CRONOGRAMA
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REFERÊNCIAS
AACAP (American Academy of Child and Adolescent Psychiatry), Facts for Families. Child
Sexual Abuse. Washington: AACAP, 2011. Disponível em:
http://www.aacap.org/App_Themes/AACAP/docs/facts_for_families/09_child_sexual_abuse.
pdf. Acesso em: 21 abr 2018.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas,
2015
______ . Código de Processo Penal Interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2016
POTTER, Luciane. BITENCOURT, Cezar Roberto. Depoimento sem dano: por uma
política criminal de redução de danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010
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