Estudo Das Escrituras Massoréticas

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ESTUDO CRÍTICO DAS

ESCRITURAS RABÍNICAS

Profº J. R. P. T
IOSSE BEN HAMNUNA
SABA
Como vocês podem dizer “Somos sábios, pois
temos a Torah do Eterno”, quando na verdade
a Pena Mentirosa dos escribas a transformou
em mentira? Os sábios serão envergonhados;
ficarão amedrontados e serão pegos na
armadilha. Visto que rejeitaram a Palavra de
Adonai, que sabedoria é essa que eles têm?
(Jeremias 8:8-9)
INTRODUÇÃO
Um elogio enorme há entre a classe acadêmica acerca do
trabalho dos massoretas. Os massoretas ou também chamados
massoréticos foram escribas judeus da era medieval que se
dedicaram a preservar e cuidar do judaísmo rabínico criando
uma nova versão das Escrituras que atualmente constituem o
Antigo Testamento. O texto massorético se contrapõe
significativamente aos textos do primeiro, ou mesmo antes da
era comum encontrados nas cavernas de Qumran, Nahal
Hever, etc. Apesar de suas contradições em contraponto aos
escritos proto-massoréticos (antes dos massoretas) os
massoretas auxiliaram na lingüística hebraica. Sua estrutura
consonantal remonta ao período do Segundo Templo (c. 520
AEC-70 EC) e, desde 100, aproximadamente, todas as
comunidades judaicas adotaram-no como a forma textual
definitiva e oficial das Sagradas Escrituras hebraicas.
O texto consonantal do Texto Massorético anterior à época dos
massoretas recebe a denominação de “Texto Protomassorético” ou
de “Texto Protorabínico”, o qual não continha ainda a vocalização, a
acentuação e o aparato massorético desenvolvidos somente durante
a Idade Média. O Texto Protomassorético (hebr. ‫סֹור ִתי‬ָ ‫ ְמ‬-‫טֶ קְ סט קְ דַ ם‬
ṭeqsǝṭ qǝḏammǝsôrāṯî, Texto Protomassorético) é um dos tipos
textuais da Bíblia Hebraica utilizados pelos judeus durante o período
do Segundo Templo, ao lado de outras formas textuais usadas e
transmitidas nessa época. Tal texto bíblico, preservado e transmitido
pelos escribas judeus da época do Segundo Templo, foi a base e a
origem do Texto Massorético desenvolvido pelos massoretas. O
Texto Protomassorético foi, provavelmente, o preferido pelos
fariseus e pelos círculos de escribas do templo de Jerusalém, que o
copiaram constantemente durante séculos.
O texto consonantal hebraico que é anterior à época dos massoretas
(séculos VII a X) recebe dos estudiosos o nome de texto Proto-
Massorético, o qual não continha ainda a vocalização, a acentuação e
nem o aparato massorético desenvolvidos somente durante a Idade
Média. O texto Proto-Massorético é na verdade um dos tipos textuais
da Bíblia Hebraica existentes e utilizados pelos judeus durante o
período do Segundo Templo (c. 450 AEC. a 70 EC), ao lado de outras
formas textuais que também eram usadas e transmitidas na mesma
época. Sua aceitação canônica deu-se por volta do final do século I da
Era Comum pelo judaísmo rabínico e por todas as comunidades
judaicas, tanto as de Israel como as da Diáspora incluindo os judeus
nazarenos como é atestado:

“7:4. Eles [Nazarenos] são perfeitamente versados na língua


hebraica, pois toda a Lei [Torá], os profetas, e os chamados Escritos,
quero dizer, os livros poéticos, Reis, Crônicas, Ester e todo o resto, são
lidos em hebraico entre eles, o que é evidente, pois eles estão entre os
judeus”. Panarion, Capítulo XXIX. Epifânio de Salamina.
Há provas de que o texto Proto-Massorético já
existia desde pelo menos o século III AEC fato
que é provado por alguns manuscritos
encontrados em Hirbet Qumran escritos em grafia
paleo-hebraica (escrita hebraica antiga) como:
1QpaleoLv (manuscrito de Levítico em paleo-
hebraico da primeira gruta de Hirbet Qumran),
entre outros. Outros manuscritos, como o rolo de
1QIsb (segundo manuscrito de Isaías da primeira
gruta de Hirbet Qumran) e o rolo de 4QEza
(primeiro manuscrito de Ezequiel da quarta gruta
de Hirbet Qumran), entre outros, também
representam algumas semelhanças textuais com o
tipo massorético.
Outros manuscritos do Mar Morto encontrados
em Wadi Murabba’at como o MurXII (manuscrito
dos Doze Profetas Menores de Wadi Murabba’at)
e o MurIs (manuscrito de Isaías de Wadi
Murabba’at), em Nahal Hever como o 8HevXIIgr
(manuscrito grego dos Doze Profetas Menores da
oitava gruta de Nahal Hever) e os manuscritos
descobertos em Massada atestam de modo
definitivo o tipo textual massorético. Finalmente,
certos estudiosos afirmam que cerca de 60% dos
manuscritos do Mar Morto estão de acordo com o
texto de tipo massorético.
A tradição textual judaica preservou e transmitiu vários
elementos e/ou destaques especiais junto à estrutura
consonantal do texto Proto-Massorético. Os escribas
judeus tinham a "intenção" de preservar o texto bíblico
em todos os seus mínimos detalhes, inclusive
determinados elementos textuais. O que aparentemente
mostrava ser “incorreto”, ou “irregular” para os
escribas (sof’rim) chamados de “para-textuais” ou
“ortografias irregulares” também foram incrivelmente
mantidos pelos massoretas. Não foram uma invenção
dos massoretas, os quais possivelmente não
compreendiam plenamente a sua real função,
entretanto, os mantiveram no texto bíblico. Os
elementos “para-textuais” ou “ortografias irregulares”
são:
PUNCTA EXTRAORDINARIA
Quinze casos na Bíblia Hebraica (dez na Torá,
quatro nos Profetas e um nos Escritos) em que
determinados pontos são escritos acima de
algumas letras em determinadas palavras no
texto bíblico. Por sua vez, esses mesmos
pontos não são sinais de vocalização ou
mesmo de acentuação. Exemplo: Dt 29.28:

‫ָ֤ׄלָ נָ֤ׄ וָ֤ׄ וָ֤ׄ לְָ֤ׄ ָ֤ׄ ָב ֵָ֤ׄ֙ׄניָ֤ׄ נָ֤ׄ ֵָ֤֙ׄׄו‬


As outras 15 ocorrências são relacionadas abaixo:
NUN INVERSUM
Algumas passagens do Texto Protomassorético
apresentam um sinal incomum conhecido pela
denominação latina como nun inversum (a
letra nun [‫ ]נ‬invertida: ‫)׆‬. Este fenômeno
textual ocorre, ao todo, nove vezes no texto
bíblico hebraico: em Números 10.34 e 36 e no
Salmo 107.21-26 e 40 (sete vezes). Esse sinal
possui o nome de ‫( נון ְמנוז ֶֶרת‬hebr. nûn
mənûzereṯ , nun isolado).
Em relação à passagem de Números 10.34 e
36 os manuscritos e edições concordam entre
si na colocação do sinal ‫ ׆‬. Entretanto, no caso
do Salmo 107, há divergências entre as fontes.
Há manuscritos e edições que assinalam o
sinal ‫ ׆‬nos versículos 23 a 28 e 39 ou 40 do
Salmo 107. Contudo, a Bíblia Hebraica
(BHK), a Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS)
e a Bíblia Hebraica Leningradensia (BHL),
que reproduzem o Códice de Leningrado B19a
(L), anotam o mesmo sinal nos versículos 21 a
26 e 40.
Entre os especialistas em Bíblia Hebraica não
há consenso em relação ao real significado e a
exata função do nun invertido, mas a opinião
geral é que os trechos assinalados por esse
caractere especial seriam textos deslocados,
isto é, estariam fora de seu lugar de origem.
Por algum motivo desconhecido, a tradição
textual judaica teria deslocado esses trechos
para outros lugares do texto bíblico hebraico e,
mais tarde, os escribas e os massoretas teriam
indicado esse fenômeno por meio do sinal ‫ ׆‬.
LITTERAE SUSPENSAE
Há quatro passagens no texto bíblico hebraico de
tradição massorética em que aparecem determinadas
letras escritas acima da linha normal do texto, sendo
denominadas em latim como litterae suspensae (letras
suspensas) e em hebraico como ‫אֹותיֹות ְתלויִ ֹות‬
ִ (ôṯîôṯ
təlûîôṯ, letras suspensas). Este pormenor textual aparece
nas seguintes passagens bíblicas: Jz 18.30; Sl 80.14 e
Jó 38.13, 15. Sua real função é diversa, podendo
assinalar as seguintes possibilidades: leituras variantes,
motivos estatísticos, além de outras questões textuais.
As letras suspensas aparecem em um nome próprio
masculino e em três expressões, uma em forma singular
e duas em forma plural:
LITTERAE MAJUSCULAE E
LITTERAE MINUSCULAE
Em algumas palavras e expressões do Texto Protomassorético aparecem
letras em tamanho incomum em relação às outras. Essas letras insólitas são
conhecidas pelas expressões em latim como litterae majusculae (letras
maiúsculas) e como litterae minusculae (letras minúsculas). Em hebraico,
este fenômeno textual é denominado como ‫אֹותיֹות גְ דֹולֹות‬ ִ (ôṯîôṯ gəḏôlôṯ,
letras grandes) e como ‫אֹותיֹות קְ טַ ּנֹות‬
ִ (ôṯîôṯ qəṭannôṯ, letras pequenas). As
causas deste fenômeno textual não são inteiramente conhecidas pelos
especialistas em Bíblia Hebraica, porém, determinadas ocorrências
possuem algum motivo ao registrarem um ou outro caractere hebraico em
tamanho peculiar. Os manuscritos massoréticos medievais nunca
concordam com o registro de tais letras em seus textos e o uso delas nunca
foi fixado pela tradição textual da Bíblia Hebraica. As edições impressas,
assim como os manuscritos massoréticos, não são uniformes na
apresentação desses destaques textuais. Algumas edições registram,
aproximadamente, 30 situações de letras grandes e 20 ocorrências de letras
pequenas. As edições BHK e BHS, ambas baseadas no Códice L,
registram somente três situações de letras em tamanho grande e três
ocorrências de letras em tamanho pequeno. A listagem completa de tais
peculiaridades textuais registradas na BHS é a seguinte:
Por exemplo, as letras Ain e Dalet ‫ עד‬nos dar a
de Dt 6:4 entender que as letras maiúsculas
indicam que significa ‫“ עד‬O Testemunho”, ou
seja, declarar “Shemá Israel Adonai Elohenu,
Adonai Echad” é o Testemunho de um
Verdadeiro Judeu:

‫ְש ַמע יִ ְש ָר ֵ֑אל יְ הוָ ָ֥ה אֱֹלהינו יְ הוָ ָ֥ה ׀ אֶ ָחד׃‬


PRESERVAÇÃO DA TRADIÇÃO
TEXTUAL
Além das ortografias irregulares, que são parte
integrante do texto bíblico hebraico, existem,
ainda, outros detalhes peculiares na tradição
textual do Texto Protomassorético. Os
massoretas, igualmente, fizeram observações
na massorá sobre tais situações textuais, que
são discutidas neste tópico.
TIQQUNÊ SOFERIM
A massorá e as fontes antigas mencionam casos em que os
escribas judeus, no passado, teriam corrigido ou teriam
alterado algum vocábulo ou letra no texto bíblico hebraico
por motivos teológicos. As causas são variadas e,
principalmente, ocorrem nas passagens nas quais o texto se
refere a Deus de uma maneira pouco respeitosa ou
incomum. O motivo principal da introdução de tais
alterações era evitar que o nome de Deus, isto é, o
tetragrama, fosse profanado, pois a antiga tradição judaica,
seguida pelos escribas, mantinha veneração pelo nome de
Deus, que era considerado inefável. O número de tais
modificações varia entre as fontes talmúdicas, que listam
entre sete e 13 situações. A massorá, por sua vez, chega a
listar 18 correções dos escribas. Porém, nem sempre as
listagens massoréticas são sempre coincidentes ou mesmo
uniformes entre si em termos de quantidade de ocorrências
e de quais passagens bíblicas demonstram correção.
Em hebraico, a locução para indicar tais
correções é ‫( ִתּקוני סֹופְ ִרים‬tiqqûnê sôp̄ǝrîm,
correções dos escribas). Os estudiosos, por sua
vez, acreditam que há muitas alterações no
Texto Protomassorético feitas pelos escribas
judeus, mas nem as fontes rabínicas e nem a
massorá as mencionam em seus textos e listas.
Abaixo, há dois exemplos das tiqqunê soferim:
As 18 passagens bíblicas apresentando
situações de tiqqunê soferim são listadas a
seguir: Gn 18.22; Nm 11.15; 12.12; 1Sm 3.13;
2Sm 16.12; 20.1; 1Rs 12.16; Jr 2.11; Ez 8.17;
Os 4.7; Hb 1.12; Zc 2.12; Ml 1.13; Sl 106.20;
Jó 7.20; 32.3; Lm 3.20 e 2Cr 10.16.

Um exemplo é 1Rs 12:16 e 2Cr 10:16 que ao


invés do vocábulo “aos seus deuses” ‫ לאֹלהיָך‬os
escribas alteram o texto e dizem “as suas
tendas” ‫ לְ אֹ הָ לֶיָך‬.
ITTURÊ SOFERIM
Existem algumas poucas passagens no texto de
tradição massorética da Bíblia Hebraica onde a
conjunção ‫( ו‬waw conjuntivo) teria de aparecer, mas
por algum motivo não é escrita pela tradição textual
massorética. Os massoretas admitiam que os antigos
escribas teriam omitido essa letra devido a vários
fatores e esse fenômeno textual é chamado em hebraico
como ‫( עִ ּטורי סֹופְ ִרים‬iṭṭûrê sôp̄ǝrîm, omissões dos
escribas). As situações de omissão dos escribas são
listadas tanto pela massorá quanto pelo Talmude
Babilônico, que enumeram cinco casos: Gn 18.5; 24.55;
Nm 31.2; Sl 36.7 e 68.26.
OS TEXTOS MASSORÉTICOS E OS
ACHADOS DE QUMRAN
Há algumas alterações de textos que ocorrem
nos escritos massoréticos em comparação com
os escritos do mar morto. O interessante é
notar que estes textos mudados por escribas e
possivelmente por massoretas como os
referidos anteriormente são considerados como
apenas uma “correção” ou uma forma para
“entender melhor”, etc. Vamos aos textos
adulterados:
1QISAA (125 AEC.)

VEJA A EXPRESSÃO “EU FAÇO O BEM E CRIO O MAL...” Ia 45:7, diferente da


versão massorética de “Eu faço a paz e crio o mal...”:

‫ּובֹורא ָרע אֲנִ י יְ הוָה עֹ שֶ ה כָ ל־אֵ לֶ ה׃‬


ֵ ‫עֹ שֶ ה טֹוב‬
1QISAA (125 AEC.)

VEJA A EXPRESSÃO “E deu aos perversos o seu sepulcro, e os ricos em sua morte...” Ia 53:9,
diferente da versão massorética de “E deu aos perversos o seu sepulcro, e os ricos em suas
mortes...”:

‫ וְ ל ֹּא ִּמ ְרמָּ ה ְב ִּפיו׃‬,‫ וְ אֶּ ת־עָּ ִּשיר ְבמֹּ תָּ יו; עַּ ל ל ֹּא־חָּ מָּ ס עָּ שָּ ה‬,‫ת־רשָּ ִּעים ִּק ְברֹו‬
ְ ֶּ‫וַּיִּ תֵּ ן א‬
1QISAA (125 AEC.)

VEJA A EXPRESSÃO “Do esforço de sua alma viu a luz, e saciou...” Ia 53:11, diferente da versão
massorética de “Do esforço de sua alma viu, e saciou..”:

‫ י ְַּצ ִּדיק צַּ ִּדיק עַּ ְב ִּדי לָּ ַּר ִּבים; ַּועֲֹונֹּ תָּ ם הּוא יִּ ְסבֹּל׃‬,‫ ְב ַּד ְעתֹו‬,‫מֵּ עֲמַּ ל נ ְַּפשֹו יִּ ְראֶּ ה יִּ ְשבָּ ע‬
5/6Hev 1b 891 B-366234

Veja a expressão “... Transpassaram..” ao invés de “...como leão...” em Salmos 22:17:


IMAGEM AMPLIADA
TARGUM SHEVIIM – TRADUÇÃO
DOS SETENTA – LXX
Ptolomeu II Filadelfo (287-247 AEC), rei do
Egito, encomendou especialmente para sua
Biblioteca em Alexandria, uma tradução grega
das escrituras sagradas dos judeus. Esta foi a
primeira tradução feita dos livros hebraicos
para uma outra língua. A tradução do hebraico
para o grego, segundo a tradição, foi feita por
72 escribas judeus durante 72 dias, por isso
possui o nome Septuaginta que significa
“Tradução dos Setenta”.
A primeira menção à versão da Septuaginta encontra-se
em um escrito chamado “Carta de Aristéias”. Segundo esta
carta, Ptolomeu II Filadelfo tinha estabelecido
recentemente uma valiosa biblioteca em Alexandria. Ele foi
persuadido por Demétrio de Fálaro (responsável pela
biblioteca) a enriquecê-la com uma cópia dos livros
sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste
povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias (oficial da
guarda real, egípcio de nascimento e pagão por religião)
emancipou 100 mil escravos, de diversas regiões de seu
reino. Então, enviou representantes (entre os quais
Aristéias) a Jerusalém e pediu a Eliazar (o Sumo Sacerdote
dos judeus) para que fornecesse uma cópia da Lei e judeus
capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve
sucesso: uma cópia da Lei ricamente ornamentada foi
enviada para o Egito, acompanhada por 72 peritos no
hebraico e no grego (seis de cada Tribo) para atender o
desejo do rei.
Estes foram recebidos com grande honra e
durante sete dias surpreenderam a todos pela
sabedoria que possuíam, demonstrada em
respostas que deram a 72 questões; então, eles
foram levados para a isolada ilha de Faros e ali
iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei,
ajudando uns aos outros e comparando as
traduções conforme iam terminando. Ao final de
72 dias, a tarefa estava concluída. A tradução foi
lida na presença de sacerdotes judeus, príncipes
e povo, reunidos em Alexandria; a tradução foi
reconhecida por todos e declarada em perfeita
conformidade com o original hebraico. O rei ficou
profundamente satisfeito com a obra e a
depositou na sua biblioteca.
Comumente se acredita, que a Carta de Aristéias foi
escrita por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte do
Rei Filadelfo. Não há ainda entre os estudiosos um
consenso sobre a origem e autenticidade desta carta.
Embora a grande maioria considere seu conteúdo
fantasioso e lendário, questiona-se se não há algum
fundamento histórico disfarçado sob os detalhes
lendários. Por exemplo, hoje se sabe com certeza que o
Pentateuco foi mesmo traduzido em Alexandria.
Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início do
séc. IV publicou uma edição corrigida de acordo com o
hebraico; tal edição reteve o nome de koiné, edição
vulgar, e, às vezes, é chamada de Loukianos, após o
nome de seu autor. Finalmente, Hesíquio, um bispo
egípcio, publicou, quase que ao mesmo tempo, uma
nova revisão, difundida principalmente no Egito.
Pelo fato de serem pouquíssimos os Judeus que
ainda possuíam conhecimento da língua
hebraica, principalmente após o domínio
helenista (entre os séculos IV e I AEC) onde o
koiné (grego popular) era o idioma falado, a
Septuaginta foi bem acolhida, principalmente
pelos judeus alexandrinos que foram os seus
principais difusores, pelas nações onde o grego
era falado. A Septuaginta foi usada por diferentes
escritores e suplantou os manuscritos hebraicos
na vida religiosa (JAEGER, 1991).
Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta
são: o Vaticano (Codex Vaticanus), do séc. IV; o
Alexandrino (Codex Alexandrinus), do séc. V,
atualmente no Museu Britânico de Londres; e o do
Monte Sinai (Codex Sinaiticus), do séc. IV, descoberto
por Tischendorf no convento de Santa Catarina, no
Monte Sinai, em 1844 e 1849, sendo que parte se
encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo.
Todos foram escritos em unciais. O Codex Vaticanus é
considerado o mais fiel dos três; é geralmente tido
como o texto mais antigo, embora o Codex
Alexandrinus carregue consigo o texto da Hexapla e
tenha sido alterado segundo o Texto Massorético. O
Codex Vaticanus é referido pela letra B; o Codex
Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela
primeira letra do alfabeto hebraico (Aleph) ou S.
OS ACHADOS DE QUMRAN EM GREGO
KOINÉ
Este vasto tesouro de manuscritos da
humanidade, conhecido como "Pergaminhos do
Mar Morto", inclui um pequeno número de
Pergaminhos quase completos e dezenas de
milhares de fragmentos de Pergaminho,
representando mais de 900 diferentes textos
escritos em hebraico, aramaico e grego. Grego?
Sim! Também haviam manuscritos das Escrituras
em grego, provavelmente provindo dos textos
alexandrinos provando os textos da Septuaginta.
PapLXXLeviticus - 4Q120
Placa 376, Frag 1 B-503616
Placa 378, Frag 1 - B-503660
Placa 378, Frag 15 - B-503715
TEXTOS DE TRADIÇÕES
JUDAICAS EM GREGO KOINÉ
Tradição dos pais em grego koiné - NAHAL HEVER - B-508177
VEJA MAIS NA PRÓPRIA BIBLIOTECA DE
JERUSALÉM:
http://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-
archive/manuscript/4Q120-1
Os livros presentes na Septuaginta, conforme a ordem
original: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2
Samuel (2 Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 Reis (4 Reis), 1
Crônicas (1 Paralipômenos), 2 Crônicas (2
Paralipômenos), 1 Esdras, 2 Esdras (Esdras e Neemias),
Ester, Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3
Macabeus, 4 Macabeus, Salmos, Odes, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, Sabedoria,
Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós,
Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Isaías, Jeremias,
Lamentações, Baruque, Epístola de Jeremias, Ezequiel,
Suzana, Daniel, Bel e o Dragão (SOCIEDADE BÍBLICA DO
BRASIL, 2003, XII-XIII).
É importante notar que o conjunto de livros da
Septuaginta é bem maior do que qualquer versão
do dito pelo mundo cristão Antigo Testamento
disponível nas Bíblias Católica, Ortodoxa e
Protestante. O que isto necessariamente significa?
Será que o catálogo da LXX corresponderia a um
cânon bíblico conhecido e utilizado pelos antigos
Judeus? Yeshua/Jesus e os Apóstolos utilizaram este
catálogo mais amplo de Escrituras Sagradas? Sim!
Muitos versos do que é chamado pelos cristãos de
“Novo Testamento” foram extraídos, por exemplo,
de Macabeus, e de Sirach e também do Livro de
Enoque. O que conota a tradição judaica do
primeiro século muito antes da tradição cristã e do
judaísmo ortodoxo atual.
Que este estudo tenha lhe auxiliado
grandemente. Razá Ila’áh.

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