Trab Ido
Trab Ido
Trab Ido
Tema:
A palavra currículo teve sua origem na palavra do latim curriculum, que significa pista
de corrida. Segundo o dicionário Houaiss currículo é definido como “programação de
um curso ou de matéria a ser examinada”. O Dicionário Interativo da Educação
Brasileira (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp) define currículo como
o “Conjunto de disciplinas sobre um determinado curso ou programa de ensino ou a
trajetória de um indivíduo para o seu aperfeiçoamento profissional.” Entretanto, as
definições sobre currículo são numerosas e refletem diversas aceções.
Características do Currículo
Na verdade, o currículo não pode entender-se como algo predeterminado, isto é, como
um “produto” a ser disponibilizado segundo regras e normas específicas. Uma vez que
se trata de um processo que resulta das múltiplas relações que se estabelecem entre
diferentes atores, em contextos diversos, é um processo complexo, não sendo por isso
possível predeterminá-lo à partida. Beane (1998) identifica no fenómeno curricular algumas
características, sendo elas:
(1) centradas em contexto com significado para a informação e para as destrezas dos alunos;
(2) tomadas de decisão a nível político no âmbito curricular;
(3) confronto de uma variedade de perspetivas sobre temas e objetivos que reconheçam a
diversidade e a ambiguidade.
Pesquisas e estudos feitos sobre currículo a começar das décadas 1960 a 1970
evidenciam a presença de diferentes tipos de currículo. Sua conceituação é extensa,
igualmente como suas manifestações práticas. Libâneo, Oliveira e Toschi (2003) citam
que existem pelo menos três tipos de manifestações curriculares, a saber: currículo
formal, também conhecido como prescrito currículo real e currículo oculto.
1. Currículo Formal
2. Currículo Real
3. Currículo Oculto
O currículo oculto refere-se àquelas influências que afetam a aprendizagem dos alunos e
o trabalho dos professores e são provenientes da experiência cultural, dos valores e
significados trazidos de seu meio social de origem e vivenciados no ambiente escolar –
ou seja, das práticas e das experiências compartilhadas na escola e na sala de aula. É
chamado de oculto porque não se manifesta claramente, não é prescrito, não aparece no
panejamento, embora constitua importante fator de aprendizagem.
O currículo oculto é composto por todos os saberes que não estão exigidos nas diretrizes
curriculares, mas que acaba por atingir o desenvolvimento do aprendizado dos
conhecimentos escolares. São os conhecimentos obtidos além da escola, com a família,
os amigos; ou, ainda, no espaço escolar, nas brincadeiras dos corredores, na forma de
organizar as carteiras, na maneira de portar-se à frente de professores (as) e colegas, são
valores, normas, conceitos e outros aspetos sociais e culturais que são repassados de
maneira completamente informal
Teorias do curriculares
O currículo passou a ser discutido mais especificamente a partir da década de 1920 e 1930, com
as reformas promovidas pelos pioneiros da Escola Nova, numa tentativa de romper com a escola
tradicional, que visava a um ensino para a reprodução de conteúdos, para a transmissão de
conhecimentos já sistematizados e acumulados pela humanidade. (MOREIRA, 1990)
Teorias tradicionais
De modo geral, esse modelo de currículo está centrado em questões técnicas e é baseado
numa perspetiva fabril, de monitoramento e controle dos envolvidos no processo
educacional. Assim, pode-se dizer que as teorias tradicionais colocam o currículo nos
moldes do sistema capitalista. Nas palavras de Silva (2010, p. 148):
Dessa forma, vale salientar que as teorias tradicionais se desenvolvem nos moldes do
sistema capitalista baseados na reprodução, no controle e monitoramento da produção.
Conforme escreve Silva (2010, p.30) “as teorias tradicionais eram teorias de aceitação,
ajuste e adaptação” que colocadas no interior do processo educacional produziam
práticas de assujeitamento dos envolvidos no processo, pensando, aqui, o modelo de
controle dos Aparelhos Ideológicos do Estado, em particular, o Aparelho Ideológico
Escolar (SILVA, 2010).
Teorias Críticas
[...] as teorias críticas do currículo efetuam uma completa inversão nos fundamentos das
teorias tradicionais [...]. As teorias críticas sobre o currículo, em contrate, começam por
colocar em questão precisamente os pressupostos dos presentes arranjos sociais e
educacionais. As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas
desigualdades e injustiças sociais.
Baseados na teoria de Marx, novos teóricos surgiram, como é o caso de Louis Althusser
(1918-1990), Pierre Félix Bourdieu (1930-2002), Jean Claude Passeron (1930),
Christian Baudelot, Roger Establet e, no Brasil o educador Paulo Freire. Esses teóricos,
pontuaram a necessidade que a sociedade capitalista tinha em reproduzir
ideologicamente suas práticas econômicas. E, para esses autores, a escola seria o lócus
ideal para que o capitalismo pudesse reproduzir essa ideologia, pois, é justamente a
escola que mantêm a população em maior número e por um prolongado período de
tempo.
Para a teoria crítica do currículo, principalmente na visão de Althusser, é por meio das
disciplinas e conteúdos ensinados que a ideologia dominante transmite seus princípios e
reproduzem seus interesses e, além disso, segundo Silva (2009, p. 32),
[...] a ideologia atua de forma discriminatória: ela inclina as pessoas das classes
subordinadas à submissão e à obediência, enquanto as pessoas das classes dominantes
aprendem a comandar e controlar. Essa diferenciação é garantida pelos mecanismos
seletivos que fazem com que as crianças das classes dominantes sejam expelidas da
escola antes de chegarem àqueles níveis onde se aprendem os hábitos e habilidades
próprios das classes dominantes.
Desse modo, as teorias críticas do currículo surgem como uma alternativa para
compreensão do processo de ensino aprendizagem e dos saberes e competências que
perpassam o currículo. Colocam-se no lugar da crítica dos conhecimentos até então
naturalizados no currículo, entendido, aqui, não apenas como conteúdos, objetivos,
competências, metodologias, etc., mas como uma práxis pedagógica ligada à dinâmica
da vida social, à luta de classes e, portanto, ligado à cultura.
Silva (2010) enfatiza ainda que essas teorias surgem como uma nova forma de
“conceptualização”, como um “movimento” que critica a concepção tecnicista de
currículo pensada pelos primeiros pesquisadores da área, tais como Bobbitt e Tyler.
Nesse sentido, as teorias críticas do currículo se constituíram/constituem a partir da
insatisfação com o modelo de ensino vigente à época, como uma crítica ao modelo
tecnocrático de currículo.
Teorias Pós-Críticas
As teorias do currículo que vieram após as teorias críticas, iniciadas na década de 1960
De acordo com Silva (2010) as teorias pós-críticas são mais problematizadoras que as
teorias críticas no que se refere aos processos de dominação social, discutindo aspetos
da dominação e opressão outrora apagadas, tais como nas relações de poder
materializadas na distinção social, econômica, étnica, cultural, de gênero e de
sexualidade.
Em vista disso, pode-se dizer que as teorias pós-críticas modificam e ampliam aquilo
que vem sendo construído acerca do currículo ao longo do século XX. Elas colocam
como questão importante a discussão de que o poder não é algo dado e centralizado
(SILVA, 2010). Com base nas discussões de Foucault na Microfísica do Poder e outras
obras, as teorias pós- críticas defendem que o poder não é algo fixo em posse de
determinado grupo, pessoa ou instituição. Nesse sentido, o poder é descentralizado e as
formas de opressão se manifestam nas diversas microrealizações, de gênero, de
trabalho, de lazer, de educação, de política, etc. Desse modo, entende-se que “o poder
está espalhado por toda a rede social” (SILVA, 2010, p.148). Em vista disso, entende-se
que o currículo também materializa essas formas de opressão, por isso sua
problematização é fundamental à práxis pedagógica, pois revela o apagamento dos
sujeitos historicamente marginalizados no processo educacional, tais como as pessoas
com deficiências, negros, indígenas, lgbts, dentre outros.
Esse quadro permite compreender que o currículo é uma construção social ao longo dos
diferentes tempos históricos e, por consequência, está vinculado às relações de poder
inerentes a cada época. Assim, tecer reflexões acerca das teorizações curriculares
implica reconhecer que essas foram elaboradas com base nos pressupostos
epistemológicos modernos e pós-modernos, os quais cada modelo de ser humano
pretendido para uma determinada sociedade, corresponderá um tipo de conhecimento,
um tipo de currículo, afinal, “um currículo busca precisamente modificar as pessoas que
vão “seguir” aquele currículo” (SILVA, 2007, p. 15). Desse modo, quando pensamos na
teoria curricular, nos conduz a refletir sobre quais pressupostos sustentam esses
períodos históricos.
O papel do professor não é apenas ter domínio dos conteúdos formar um profissional da
educação com consciência crítica, que saiba desmistificar, escolher e trabalhar os
conteúdos em sala de aula na educação básica, é tarefa difícil, mas necessária. Dessa
forma, torna-se relevante pontuar que a formação de professores que respeite a
diversidade dos educandos por meio de um currículo que propicie uma prática
pedagógica voltada para as diferenças, que valorize o diálogo entre os saberes, as
diferentes culturas.
É de suma importância que a prática esteja presente desde o primeiro dia de aula de
formação docente. A forma como a relação teoria e prática serão trabalhadas faz a
diferença na atuação do professor. Se na sua formação recebeu conteúdos prontos,
sistematizados, sem fazer uso da criticidade, da problematização e conscientização,
reproduzirá esse ensino na sua prática pedagógica, pois não partiu dos problemas da
prática e sim da teoria.
Na teoria curricular pós-crítica existe uma continuidade do currículo crítico, porém com
avanços em que além do aluno manter constante diálogo com o professor e com o
grupo, precisa desenvolver autonomia no seu processo formativo, ou seja, estar em
constante busca pelo conhecimento, segundo Eyng (2007), essa concepção pós-crítica
apresenta como questão central a aprendizagem e destaca o desenvolvimento pelo
aprendiz em sua capacidade de aprender a aprender, ou seja, compreender como
aprende e desenvolver estratégias capazes de aperfeiçoar sua condição de
aprendizagens.
Conclusão