Caminhos-Esquecidos
Caminhos-Esquecidos
Caminhos-Esquecidos
CAMINHOS
ESQUECIDOS
Reativando a
igreja missional
CAMINHOS
ESQUECIDOS
ALAN HIRSCH
CAMINHOS
ESQUECIDOS
REATIVANDO
A IGREJA
MISSIONAL
1ª edição
Tradução: Daniele M. Damiani Guabiraba
Curitiba
2015
Alan Hirsch
Caminhos esquecidos
Reativando a igreja missional
Coordenação editorial: Walter Feckinghaus
Tradução: Daniele M. Damiani Guabiraba
Revisão: Josiane Zanon Moreschi
Edição: Sandro Bier
Capa: Sandro Bier
Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi
Copyright © 2006 by Alan Hirsch.
Originalmente publicado em Inglês sob o título
The forgotten ways: reactivating the missional church
by Brazos, a division of Baker Publishing Group, Grand Rapids,
Michigan, 49516, U.S.A.
Todos os direitos reservados.
Hirsch, Alan
Caminhos esquecidos : reativando a igreja missional / Alan Hirsch ; tradução Daniele M.
Damiani Guabiraba. - - 1. ed. - - Curitiba : Editora Esperança, 2015.
14-07928 CDD-266
“Há poucos livros que podem ser descritos por alguém como marcos no
campo de missões; este é um desses livros. Trata-se de uma leitura essen-
cial para todos os que estão lutando contra o principal problema relacio-
nado ao que a igreja pode e deve se tornar.”
Martin Robinson, autor de Planting Mission – Shaped Churches
Today (Racine, WI: Monarch Books, 2006)
Agradecimentos especiais
A minha amada Debra, que, com paciência, amou um homem por vezes
indigno de ser amado, mostrando-me o que significa servir com genero-
sidade aos pobres.
Introdução.......................................................................................................17
Uma jornada de milhares de quilômetros começa
com uma única pergunta...........................................................................20
Uma pequena prévia..................................................................................25
Método em meio à loucura........................................................................29
Introdução.......................................................................................................81
mDNA.........................................................................................................82
Genoma Apostólico....................................................................................84
Missional e Igreja Missional......................................................................88
4. Fazendo discípulos...................................................................................111
O “pequeno Jesus” na Disneylândia......................................................116
A conspiração do “pequeno Jesus”.......................................................123
Encarnação e transmissão........................................................................125
Liderança inspiradora..............................................................................127
Liderança como extensão do discipulado............................................130
Começando a jornada com Jesus............................................................131
5. Impulso missional-encarnacional........................................................137
Raízes teológicas.......................................................................................139
Missional-encarnacional.........................................................................149
Eclesiologia missional ou...Colocando as coisas
mais importantes em primeiro lugar...................................................154
6. Ambiente apostólico.................................................................................161
Se você quer uma igreja missional, então.........................................163
Uma descrição do trabalho apostólico.................................................165
Campo dos sonhos...................................................................................172
Criando redes de significados................................................................180
A chave do Genoma Apostólico..............................................................182
A palavra final...........................................................................................193
7. Sistemas orgânicos...................................................................................195
Ganhar uma vida: a igreja como um sistema vivo............................198
O problema das instituições...................................................................202
Um etos do movimento..........................................................................206
Estruturas de rede....................................................................................214
Crescimento como o de vírus...............................................................225
Vamos falar sobre sexo...........................................................................232
Finalmente................................................................................................236
Conclusão.....................................................................................................265
Glossário de termos-chave.....................................................................297
Bibliografia..................................................................................................311
Índice.............................................................................................................317
Prefácio
Leonard Sweet
SEÇÃO 1
A FORMAÇÃO
DE UM
MISSIONÁRIO
Introdução
Uma igreja que fixa sua tenda sem procurar constantemente novos ho-
rizontes, ou seja, não levanta acampamento sempre, não está sendo fiel
ao seu chamado. [...] [Nós devemos] negar nosso desejo por segurança,
aceitar o que é arriscado e viver pela improvisação e tentativa.
Hans Küng, The Church as the People of God
Então, ele fez uma pergunta que me persegue até hoje: “Como fizeram
isso? Como cresceram de um pequeno movimento para a força religiosa
mais significativa no Império Romano em dois séculos?” Agora, esta é a
pergunta para iniciar a jornada! A pesquisa sobre essa pergunta levou-me
à descoberta do que chamarei de Genoma Apostólico (a força incorporada
2 Rodney Stark é considerado autoridade nestes assuntos e, em seu livro The Rise of Christianity, sugere
uma gama de possíveis respostas variando das considerações conservadoras às liberais. Tentei fazer a
média dessas considerações (de acordo com Stark entre 40% e 50%, exponencialmente por década) e
compará-la a outras fontes. Estas são as minhas descobertas. Veja R. Stark, The Rise of Christianity: How
the Obscure, Marginal, Jesus Moviment Became the Dominal Religious Force in the Western World in a Few
Centuries (São Francisco: HarperCollins: 1996), p. 6-13.
Introdução 23
• Eles pertenceram a uma igreja ilegal durante todo esse período. Na melhor
das hipóteses, eram tolerados; na pior, eram perseguidos de modo
muito severo.
• Não possuíam edifícios eclesiásticos como os que conhecemos. Embora os
arqueólogos tenham descoberto capelas datadas nesse período, com
certeza eram exceções à regra e pareciam ser casas muito pequenas
transformadas.
• Não possuíam sequer as Escrituras como as conhecemos. Estavam reunindo
o canon durante esse período.
• Não possuíam uma instituição ou forma profissional de liderança geralmente
associada a ela. Em tempos de relativa calma, os elementos prototípicos
de instituição apareciam, porém, de acordo com o que consideramos
instituição, eles eram, na melhor das hipóteses, pré-institucionais.
• Não possuíam cultos sensíveis aos que buscam, grupos de jovens, grupos de
louvor, seminários, comentários, etc.
• Na verdade, dificultavam a união à igreja. Por volta do final do século 2, os
convertidos ambiciosos tiveram que passar por um importante perío-
do de iniciação para provar que eram merecedores.
Na realidade, eles não tinham coisa alguma que nós comumente empre-
gamos para resolver os problemas da igreja e, mesmo assim, cresceram de
25.000 para 20 milhões em 200 anos! Então, como a igreja primitiva fez isso?
Ao responder essa pergunta, talvez, consigamos encontrar a resposta da
pergunta para a igreja e a missão em nossos dias e em nosso contexto, pois
nela encontra-se o poderoso mistério da igreja em sua forma mais autêntica.
No entanto, antes que o exemplo do movimento cristão primitivo possa
ser rejeitado como uma fantasia da história, há outra manifestação, talvez
ainda mais impressionante do Genoma Apostólico, ou seja, uma força única
e explosiva pertencente a todo o povo de Deus em nosso próprio tempo, isto
é, a igreja clandestina na China. A história deles é verdadeiramente marcan-
te: na época em que Mao Tse-Tung assumiu o poder e iniciou a purificação
3 Veja glossário.
24 Caminhos esquecidos
4 Philip Yancey, “Discreet and Dynamic: Why, with No Apparent Resources, Chinese Churches Thrive”, In:
Christianity Today, Julho de 2004, p. 72.
5 Outro movimento marcante, que mudou o destino da Europa e fora dela, foi o movimento dos celtas.
Embora esteja fora do escopo deste livro explorar a natureza da missão irlandesa para o Ocidente, há
muitas semelhanças com a natureza da primeira igreja e da igreja chinesa.
6 Stephen Addison, Movement Dynamics, Keys to the Expansion and Renewal of the Church in Mission,
manuscrito não publicado, 2003, p.5.
Introdução 25
7 Grant McClung, “Pentecostals: The Sequel”, In: Christianity Today, abril de 2006 (http://www.christian-
itytoday.com/ct/2006/004/7.30.html - Site em inglês. Acesso em 22/01/2015). Veja também Walter J.
Hollenwager, “From Azusa Street to the Toronto Phenomena: Historical Roots of the Pentecostal Move-
ment”, In: Concilium 3, ed. Jürgen Moltamann e Karl-Josef Kuschel (Londres: SCM, 1996): 3, citado em
Veli-matti Karkkainen, “Pentecostal Missiology in Ecumenical Perspective: Contributions, Challenges,
Controversies”, In: International Reviem of Mission (88), julho de 1999, p.207.
26 Caminhos esquecidos
8 Utilizarei o termo movimentos de Jesus de maneira que se aproxime do que David Garrison chama de
movimentos para plantação de igreja. Ele os define como “uma mobilização rápida de igrejas nativas
plantando igrejas, que abrange um grupo de pessoas ou segmento da população”. Veja David Garrison,
Movimentos de plantação de igrejas (Curitiba: Esperança, 2014).
9 Podemos observar a partir da história que, por meio da consolidação e centralização do poder, as insti-
tuições começaram a reivindicar uma autoridade que não lhes foi concedida originalmente e não têm o
direito teológico. É neste ponto que as estruturas da ecclesia se tornam, de alguma forma, politizadas e,
portanto, repressivas de quaisquer atividades que ameacem o status quo inerentes a elas. Isso é institu-
cionalismo e, historicamente, quase sempre significou expulsão efetiva de seus elementos mais criati-
vos e diferentes (p. ex., Wesley e Booth). Isso não quer dizer que não pareça existir nele alguma ordem
divina (estrutura) dada à igreja. No entanto, quer dizer que essa ordem é quase sempre legalizada de
forma direta através da afirmação conjunta da comunidade do chamado, caráter pessoal, autorização
carismática e autoridade espiritual. Permanece sempre pessoal e nunca muda simplesmente para o ins-
titucional. Nosso modelo de função não tem que ser inferior ao nosso fundador. É como se apenas ele
pudesse exercer poder significativo sem, por fim, utilizá-lo de modo errado.
Introdução 29
Seção 1
A seção 1 estabelece o cenário fazendo referência a minha própria narrativa a
fim de auxiliar o leitor na busca de algumas ideias produtivas e experiências
que direcionaram meus pensamentos e incendiaram minha imaginação. Ao
narrar alguns dos temas centrais em minha própria história, espero levar o
leitor ao que se pode chamar de leitura missional sobre a situação da igreja no
ocidente e se estenderá no decorrer dos primeiros dois capítulos: o capítulo
1 observa a questão a partir da perspectiva de um especialista local tentando
conduzir um movimento de plantação de igreja complexo no interior da ci-
dade por meio de grandes mudanças que estavam ocorrendo ao nosso redor.
O capítulo 2 explora a situação missional na qual nos encontramos a partir
da perspectiva de um nível estratégico e translocal.
Essas duas perspectivas, uma macro e uma micro, são vitais para lidar-
mos com os conceitos de uma igreja missional-encarnacional.
Seção 2
Aqui está a questão. Este é o cerne do livro, uma vez que tenta descrever o
Genoma Apostólico e os elementos constituintes do mDNA que o fazem
incendiar.10 Os que são impacientes, com tempo restrito ou que sentem
que não precisam se ocupar com uma leitura missionária da situação da
igreja em nosso contexto atual, podem pular para esta seção porque a
essência real deste livro encontra-se na seção dois de qualquer forma. En-
tretanto, acredito que o leitor será amplamente recompensado pela leitura
dos capítulos um e dois, então eu o encorajo. Einstein disse que quando
a solução é simples, Deus está falando. Seguindo esse conselho, tenho
tentado discernir os elementos fundamentais que se combinam para criar
o Genoma Apostólico e para simplificá-los aos componentes absoluta-
mente irredutíveis. Há seis elementos simples, mas inter-relacionados, de
mDNA, formando uma estrutura complexa e viva.11 Eles nos apresentam
paradigmas poderosos com os quais conseguiremos avaliar nosso enten-
dimento atual e experiências da igreja e da missão. São eles:
12 O capítulo 3 trata sobre o centro espiritual de todas as manifestações do Genoma Apostólico. Na tentati-
va de identificar as energias essenciais teológicas e espirituais que motivam os movimentos parabólicos,
seria muito fácil cair no reducionismo teológico. Porém, conforme esses movimentos marcantes de Jesus
acontecem, há um ponto central definitivo em torno do qual o mDNA se une, logo, precisa ser nomeado.
No entanto, para condensar a parte central, o tema principal explícito no ensino de Jesus sobre o Reino
de Deus, a doutrina da encarnação, chamada missio Dei (a missão de Deus) e a resposta da igreja a essas
ações de Deus foram omitidas. Entretanto, esses temas principais estão fixados em várias seções ao longo
do livro. Espero que o leitor compreenda e me perdoe por não tratar desse assunto de forma mais direta.
Introdução 31
Fazer
discípulos
Impulso
missional-
encarnacional Communitas,
Jesus não
é Comunidade
Senhor
Ambiente
apostólico
Sistemas
orgânicos
“South”
Possivelmente, a maior experiência formadora do ministério foi meu en-
volvimento em uma igreja marcante, no centro da cidade, chamada South
Melbourne Restoration Comunity (SMRC), à qual tive o privilégio de servir
como líder por cerca de 15 anos. É um pouco difícil falar sobre mais de 140
anos de histórias desta igreja, pois fui apenas mais um que chegou tem-
pos depois, em 1989 para ser exato. Porém, para os propósitos deste livro,
o importante foi notar que essa igreja, originalmente chamada de South
Melbourne Church of Christ, havia passado pelo padrão, agora familiar, de
nascimento (no final do século 19), crescimento (na primeira parte do sé-
culo 20) e rápido declínio que marcou tantas igrejas no período pós-guer-
ra em todo o mundo ocidental. Quando minha esposa, Deb, e eu fomos
chamados para lá como ministros principiantes em 1989, éramos a última
tentativa para transformação da igreja. Se não conseguíssemos, a igreja
havia decidido que acabaria e fecharia as portas para sempre. Por causa
dessa situação de relativo desespero, a igreja estava disposta a se tornar
um lugar onde uma comunidade totalmente nova iria se desenvolver; e é
esta a história com a qual eu mais me identifico.
Essa história sobre redenção, em particular, inicia com um garoto gre-
go desajeitado e de olhos esbugalhados chamado George. George era
traficante de drogas e “roadie” (técnico de som de bandas) entre outras
coisas. Ele acumulou tantas multas por estacionar em lugar proibido que
não estava disposto a pagá-las. De acordo com a lei local da época, a pes-
soa poderia “passar um tempo na prisão” em vez de pagar as multas;
então, George decidiu que isso seria melhor do que entregar seus dólares
conseguidos de maneira tão dura com as drogas. Escolheu ir para a ca-
deia por dez dias em vez de pagar as multas. Bem, George era um tipo de
aventureiro (alguns o chamavam de “viajante”) e adorava filosofar sobre
a natureza das coisas. Naquela época, ele estava explorando uma enorme
variedade de ideologias religiosas. Quando foi preso, já tinha uma lista
longa de religiões pelas quais havia passado e era o momento de andar
1 - Confissões de um missionário frustrado 35
14 Para os de gerações posteriores, esse livro se baseou na visão apocalíptica de Hal Lindsay sobre o fim do
século 20. Com base na visão diferente do fim dos tempos, trata-se basicamente de uma forma de inti-
midar as pessoas a aceitarem Jesus como Senhor e Salvador. [Publicado no Brasil com o título A agonia
do grande planeta Terra: uma análise penetrante das incríveis profecias que envolvem esta geração (São
Paulo: Mundo Cristão, 2002) – N. de Revisão]
36 Caminhos esquecidos
16 Veja glossário para a definição de “distância cultural”. Também exploraremos mais o assunto no próxi-
mo capítulo.
42 Caminhos esquecidos
CAMINHOS
ESQUECIDOS
O cristianismo passou por incontáveis impactos e cho-
ques nos últimos 200 anos. Em Caminhos esquecidos, Alan
Hirsch não apenas traz novidades sobre os assuntos já
tratados com tanta frequência que estão usados e des-
gastados, mas também nos apresenta um vocabulário
e uma visão capazes de ajudar a restaurar o original do
cristianismo ao seu caráter apostólico, que é o resultado
líquido da convergência de seis elementos orgânicos do
mDNA (onde m = missional). “O que o DNA faz no siste-
ma biológico”, escreve Hirsch, “o mDNA faz no sistema
eclesiástico”.
Hirsch tem algumas coisas inquietantes para dizer com
relação à liderança, consumismo, cultura da classe mé-
dia, Al Qaeda, comunidade, seminários e megaigrejas.
Ele nos força a considerar, de modo sério, a situação
missional na qual estamos e, durante o processo, elimina
a frase “igreja missional” do frequente uso incorreto.
Assim como Einstein, que ele gosta de citar, Hirsch des-
cobriu a fórmula que desvenda os segredos do universo
eclesiástico como a simples fórmula de Einstein com três
letras e um número (E=mc2) desvenda os segredos do
universo físico. Há alguns livros bons o bastante para
serem lidos até o final. Há apenas alguns livros bons o
bastante para serem lidos até o final dos tempos. Cami-
nhos esquecidos é um deles.
Leonard Sweet