Produção de Conteúdo para Audiência Criativa
Produção de Conteúdo para Audiência Criativa
Produção de Conteúdo para Audiência Criativa
DIGITAIS E
PRODUÇÃO DE
CONTEÚDO
Produção de
conteúdo para
audiência criativa
Nanci Maziero Trevisan
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Neste capítulo, você verá como as nossas atividades cotidianas estão impregnadas
dos aspectos da conectividade e da interatividade, o que torna natural a nossa
contribuição para a reelaboração de conteúdos a que temos acesso. Somos, em
essência, uma audiência criativa e ativa, conceito que será tratado neste capítulo.
Além disso, você conhecerá as formas como recebemos os produtos multimidiáticos
e como impactamos e somos impactados por eles, como agentes do consumo ativo,
da criação e da recriação de mensagens, em uma dialética de interação constante.
Característica Descrição
lhe traz para a recepção ativa. Vale observar que uma recepção nunca é
absolutamente passiva, já que o indivíduo interage com o conteúdo recebido,
expressando as suas impressões, embora apenas para si mesmo. A diferença
é que, hoje, essa expressão ativa ganhou o mundo, tornando-se visível, na
medida em que as mídias sociais e digitais possibilitam isso.
Cogo e Brignol (2010) comentam que as mídias estão presentes em todas
as instâncias da vida social, acelerando os fluxos informacionais. Embora
de caráter central, ainda assim a recepção e o consumo dos meios permite
uma visão interacionista, com destaque para a interconexão dos indivíduos,
mercados, sociedade e tecnologias em dinâmicas não hierárquicas, flexíveis
e interdependentes.
A própria lógica que reside nos processos de recepção dos produtos mi-
diáticos na contemporaneidade migra da visão hegemônica de transmissão
de informações, de forma massiva e generalizada, controlada por grupos
produtores de conteúdo (publishers) para um coletivo genérico, para a visão
de produção e distribuição de informação de maneira descentralizada para
públicos diversos, dispersos, segmentados. Contudo, há uma relação de com-
plementaridade entre essas duas visões e entre os diversos meios disponíveis
para o consumo (recepção) de mídia, que se conectam, se complementam,
se apoiam e abrem espaço para a recepção ativa, contributiva e autônoma
por parte do indivíduo.
Cogo e Brignol (2010) resumem os aspectos a serem considerados na
recepção dos produtos midiáticos:
Assim, ele é visto como um novo modelo de linguagem que atua interligando
diferentes blocos de conteúdo: textos, imagens, vídeos, áudios e infográficos.
Os autores destacam, ainda, que essa linguagem é associada à lógica do pen-
samento humano, baseada na “[...] identificação e associação de significados
já armazenados em nossa mente” (MONTEIRO; FERREIRA JUNIOR; RODRIGUES,
2018, p. 2), em que um item suscita a memória de outro, e assim por diante.
Essa lógica liga os conteúdos de forma não linear, o que oferece ao usuário
a possibilidade de construção de sua própria trilha de informação.
Conforme Monteiro, Ferreira Junior e Rodrigues (2018), o hipertexto impacta
a elaboração de conteúdo e a criação e recriação de mensagens, na medida
em que permite um aprofundamento da narrativa dos fatos por meio de
links, o que influencia decisivamente “[...] o processo de apuração, produção,
redação, deadline, edição e publicação das narrativas na web” (MONTEIRO;
FERREIRA JUNIOR; RODRIGUES, 2018, p. 13). A própria práxis jornalística precisa
adaptar-se, observando que as notícias on-line precisam ser construídas de
forma multilinear, trazendo múltiplos blocos de conteúdo narrativo asso-
ciados (linkados).
Por fim, Martino (2015) aponta que, no “sistema modular das mídias di-
gitais”, os elementos confundem-se, sofrem intercâmbio, disputam espaço.
Em virtude de utilizarem a mesma lógica digital, afirma o autor, assuntos
sem importância se misturam com notícias relevantes, noticiários parecem
espetáculos audiovisuais e conteúdos educativos se confundem com games.
Segundo o autor, isso ocorre porque há uma troca de códigos às vezes inten-
cional, às vezes ocasional.
A audiência criativa e ativa atua fortemente sobre os conteúdos produzidos
pelos publishers, mas também traz a oportunidade de explorar conteúdos
de formas diferentes e diversas. Como visto, faz-se necessária a educação
do receptor, tanto em termos técnicos quanto culturais, para que a sua par-
ticipação se constitua em algo mais efetivo e possa trazer consequências
sociais positivas.
Portanto, a produção de conteúdo para a audiência criativa precisa con-
siderar todos esses aspectos: flexibilidade, amplitude e diferentes configu-
rações das redes, em âmbito local, regional, nacional ou global. Além disso,
é preciso entender que há uma dinâmica, um movimento contínuo de criação
e recriação de identidades por meio da ação ativa do indivíduo, bem como
entender que o indivíduo é agente de inovação e, ao mesmo tempo, cabe a ele
preservar a sua liberdade de ação e interação no ambiente das redes. Esse
receptor-produtor expressa sua postura, suas crenças, suas experiências e
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