Analise Dos Padrões Estéticos e Suas Consequências

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FACULDADE PITÁGORAS DE UBERLÂNDIA

PSICOLOGIA

ANA CAROLINA FERREIRA SOUTO


GABRIELLE AMARAL MARTINELLI
JOSÉ SALISMAR FERNANDES COSTA FILHO
LARA MARTINS MORAIS
LAVÍNIA SILVA LEITE GONÇALVES
RENATA FERREIRA TAVARES

ESTÁGIO BÁSICO III - INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS:

ANÁLISE DOS PADRÕES ESTÉTICOS E SUAS CONSEQUENCIAS

UBERLÂNDIA - MG
2022
ANA CAROLINA FERREIRA SOUTO
GABRIELLE AMARAL MARTINELLI
JOSÉ SALISMAR FERNANDES COSTA FILHO
LARA MARTINS MORAIS
LAVÍNIA SILVA LEITE GONÇALVES
RENATA FERREIRA TAVARES

ESTÁGIO BÁSICO III - INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS:

ANÁLISE DOS PADRÕES ESTÉTICOS E SUAS CONSEQUENCIAS

Relatório elaborado como requisito parcial


para aprovação na disciplina Estágio Básico
III - Instrumentos e Técnicas de Coleta de
Dados do curso de Psicologia da Faculdade
Pitágoras.

Professora: Juliana Marinho

UBERLÂNDIA - MG
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3
2 MÉTODO ............................................................................................................ 4
3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA .................................................................. 6
3.1 Dados Sobre A Estética No Brasil ................................................................... 8
3.2 Entendendo Os Procedimentos Estéticos ........................................................ 8
3.3 Procedimentos Não Cirúrgicos ........................................................................ 9
3.4 Público Em Potencial ....................................................................................... 9
4 A IMAGEM COMO UM NEGÓCIO .................................................................... 13
4.1 O Papel Das Redes Sociais E Suas Influências Nas Cirurgias Estéticas....... 15
5 PERFEIÇÃO EXIGIDA NO CONSULTÓRIO ..................................................... 17
5.1 Perfil Dos Clientes Comedidos ...................................................................... 18
6 A INDÚSTRIA DA BELEZA E OS RISCOS DA CLANDESTINIDADE ............... 19
7 PATOLOGIAS DA IMAGEM E CONSEQUÊNCIAS DO PADRÃO DE BELEZA 20
8 CONCLUSÃO ................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 27
3

1 INTRODUÇÃO

Com a globalização a padronização de estilos de vida se tornou algo comum,


tendo uma direta ligação com o sistema econômico. Segundo Ribas e Caleiro
(2012), esse processo têm uma forte conexão com a ditadura da beleza, pois a
mídia estimula as pessoas a se enquadrarem em um único estereótipo físico para
que haja uma alta procura direcionada às mesmas mercadorias, assim, fazendo com
que pessoas fora deste padrão estipulado desejem se encaixar no protótipo.
Neste trabalho, que foi elaborado para a disciplina de Estágio Básico III,
vamos compreender a formação de padrões de notoriedade e preferência para
discorrer sobre a contextualização histórica dos padrões estéticos, bem como
analisar pontos críticos no processo da consolidação do mesmo frente aos modelos
contemporâneos. A partir dessas análises e contextualizações poderemos
compreender as influências da pressão estética através da óptica analítica da
psicologia, onde analisamos do macro social e cultural para afetividade clínica
individual.
Um dos pontos-chave do trabalho é o estudo feito acerca do impacto que a
padronização da beleza imposta pela mídia e como ela reflete no cotidiano das
pessoas, podendo trazer graves consequências para o bem-estar físico e
funcionamento psicossocial para os mesmos.
4

2 MÉTODO

O estudo sobre o fenômeno da pressão estética e dos padrões de beleza é de


grande importância para a área do estudo da saúde mental, como a Psicologia, pois
traz um forte debate sobre seus lineares subjetivos e suas consequências, que
podem ter grandes impactos na vida de alguém.
É essencial que haja dentro dos estudos da psicologia uma ampliação dentro
desse tema, uma vez que há a compreensão da necessidade de aprofundar-se em
determinadas áreas ainda recentes dentro desse assunto, visto que é um tema que
vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade e sempre trazendo novos
formatos ao longo das décadas.
Foi utilizado como base para a estruturação desta pesquisa a consulta e
levantamentos de dados de diversas fontes, como os disponibilizados pela
Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e o auxílio do livro “O
Mito da Beleza” de Naomi Wolf . Para subsidiar a pesquisa e auxiliar na análise dos
dados, também foi realizada uma entrevista com uma profissional de medicina que
trabalha como dermatologista há 10 anos.
Os documentos até aqui selecionados, juntamente com as informações
adquiridas na entrevista, tem como objetivo ampliar o entendimento do tema,
destacando suas problemáticas.
A elaboração da entrevista realizada com a médica foi semiestruturada para a
coleta de dados. Laville e Dionne (1999, p. 188), definem a entrevista
semiestruturada como: “(...) uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em
uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de
esclarecimento”. O roteiro utilizado contava com nove perguntas pré-estabelecidas
que tinham como objetivo abordar questões envolvendo o tema. Ainda como é
apontado por Laville e Dionne (1999), a entrevista semi-estruturada proporciona
flexibilidade na coleta de dados e uma maior abertura ao entrevistado, tornando as
respostas mais fidedignas. Sendo assim, no decorrer desta entrevista foram feitas
alterações nas perguntas e novos questionamentos para se adequar às
necessidades.
Ao debruçar-se acerca dos resultados é possível perceber que o presente
trabalho buscou analisar seus resultados a partir de um viés qualitativo, já que a
pesquisa conta com um caráter subjetivo, sendo de suma importância a
5

consideração das informações obtidas.


6

3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A história da tão perseguida beleza se dá na antiguidade, o corpo era um


meio de caça e fuga de predadores que auxiliava na sobrevivência, apenas a partir
do momento que começaram a se formar grupos que os padrões de notoriedade
começaram a se formar. Desde o surgimento do constructo de sociedade, é visto o
uso de tinta, adornos, óleos para celebrar ocasiões especiais nos mais variados
meios culturais.
Em diversas sociedades das mais diferentes partes do mundo o
embelezamento se deu por crenças e práticas religiosas, como por exemplo para os
egípcios (em especial Cleópatra) o uso de óleos, leite, ervas e adornos em
abundância eram essenciais para espiritualidade e imortalidade. Os gregos eram
uma sociedade extremamente contemplativa ao corpo, adentrando profundamente
inclusive o meio artístico e filosófico.
Para compreender melhor a problemática da nocividade dos procedimentos
estéticos em busca de um ideal, temos primeiro que entender sua etiologia,
etimologia e semântica. A palavra estética veio do grego "aisthesis" que significa
percepção, sensação, a estética surgiu como uma forma de filosofia para determinar
o conceito de bom, belo, que atrai olhares. Lembrando que na Grécia a
contemplação do corpo surgiu a partir da figura masculina, enquanto a exposição da
mulher era vista como algo belo, porém perverso.
Principalmente no início da idade média dominada pelo catolicismo, nota-se
um período curiosamente desfavorável ao embelezamento e práticas estéticas, pois
não era bem visto alterar a face dada por Deus e a própria vaidade era um pecado a
ser rechaçado. Esse paradigma católico não se manteve, e em meados do século
XVI, início do período renascentista, resgatou-se idéias e valores da antiguidade e
por consequência, também o padrão de beleza chamativo e intenso.
As obras desse tempo retratam a obesidade como status, corpos
explicitamente nus, penteados chamativos, vestidos luxuosos e decotados. O final
do século XIX foi fortemente marcado por avanços na ciência, isso inclui a química
orgânica que possibilitou o progresso na produção de produtos estéticos que
acompanhavam os paradigmas da época. Foi um período de avanço significativo na
indústria estética, em 1880, tempos de revolução industrial, nascia a indústria dos
cosméticos. Ao longo das eras, a contemplação do abstrato e subjetivo sofreu
7

diversas alterações, idealizações e resgates que dão um sentido poético histórico


intrínsecas nos objetivos dos procedimentos estéticos.
A beleza em seus grandes simbolismos está cada vez mais globalizada, essa
convergência para um modelo estético traz de uma forma nociva e patológica uma
expectativa inalcançável de "beleza".
Para uma maior acurácia com a realidade, podemos afirmar que essa
alienação cultural remonta o infame mito de narciso, uma famosa história grega,
segundo ela, Narciso era belo e vaidoso, e após rejeitar inúmeras pretendentes foi
amaldiçoado a se apaixonar por sua própria imagem, e por infortúnio acaba
morrendo de sede e fome a beira d'água onde podia ver e contemplar seu reflexo.
Em alguns casos é diagnosticado como narcisismo uma pessoa demasiada
vaidosa, egoísta com a própria imagem. Já em termos psicanalíticos, Freud postula
como investimento da libido no próprio corpo. Se o indivíduo investe na própria
imagem não se atendo às suas reais necessidades então esse indivíduo também
nega a realidade, pois é através do corpo que o indivíduo se comunica com o
mundo.
Na contemporaneidade é quase impossível não conhecermos: Semana da
Moda de Paris, Vogue, Gucci, Victoria 's Secret que são nomes e marcas que
atualmente remetem a suposta moda dominante e capitalismo. A fetichização da
mercadoria junto a um modo dominante de pensar propicia o ambiente perfeito, para
exibir reforçar com certa territorialidade implicitamente padrões estéticos.
O investimento na própria imagem nunca se adapta de uma maneira
satisfatória pois a indústria da beleza está sempre em constante mudança para
padrões cada vez mais irreais, nesse contexto também temos uma sociedade
doente por ser incapaz de atingir as expectativas estéticas.
8

3.1 DADOS SOBRE A ESTÉTICA NO BRASIL

O Brasil é um dos países no mundo que está sempre a frente no ranking de


países que mais realizam procedimentos e cirurgias plásticas estéticas. Uma
pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS),
divulgada em dezembro de 2019, comprovou esse dado.
O levantamento feito em 2018 apontou que foram registradas mais de 1
milhão 498 mil cirurgias plásticas estéticas em nosso país, além de mais de 969 mil
procedimentos estéticos não-cirúrgicos.
Entre os procedimentos mais procurados está a mamária de aumento com
prótese de silicone, indicada para o tratamento de mamas pequenas, flácidas e mal
projetadas. Os implantes diferem em forma e tamanho: há "redondos" (que se
projetam mais para dentro do corpo) e "anatômicos".
A escolha é sempre personalizada, com base nas preferências e estrutura
física do paciente. O procedimento leva em média duas horas e não necessita de
internação, portanto o paciente pode ir para casa no mesmo dia.
Em segundo lugar está a lipoaspiração. Uma técnica que faz a remoção de
acúmulos de gordura localizada em áreas como abdômen, cintura, costas, coxas e
braços. Como resultado é feita a modelagem do contorno corporal, com uma
definição mais “magra” das regiões trabalhadas.
As cirurgias mais procuradas depois da lipoaspiração são a de
abdominoplastia, plástica das pálpebras (blefaroplastia), suspensão das mamas
(mastopexia), redução mamária, plástica do nariz (rinoplastia) e cirurgia do
rejuvenescimento da face (lifting facial).

3.2 ENTENDENDO OS PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS

A abdominoplastia trata o excesso de pele e a flacidez do abdome, sendo


mais realizada após gestações ou perda de peso excessiva. A blefaroplastia remove
a pele e as bolsas de gordura das pálpebras, suavizando a sensação de “olhar
cansado” e trazendo um aspecto mais jovial.
A mastopexia corrige flacidez e queda mamária, podendo ou não ser
associada com a colocação de prótese de silicone. O crescimento exagerado das
9

mamas, muitas vezes, causa dores nas costas, dificuldade de escolher as roupas e
constrangimento, condição que pode ser tratada pela cirurgia de redução mamária.
A rinoplastia é a intervenção para corrigir deformidades do nariz como giba
dorsal, base larga, ponta caída ou arredondada, restaurando a beleza e a harmonia
dessas estruturas. O lifting facial corrige as alterações decorrentes do tempo,
removendo excessos de pele e reposicionando os tecidos do rosto e do pescoço,
com objetivo de promover o rejuvenescimento dos contornos da face.

3.3 PROCEDIMENTOS NÃO CIRÚRGICOS

Os procedimentos estéticos não cirúrgicos são aqueles em que não há a


necessidade de anestesia geral e são considerados menos invasivos. Para a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, eles surgem como alternativa ou como
complemento das cirurgias. Atuam suavizando os sinais de envelhecimento da face
e as marcas de expressão.
Um dos destaques para esses procedimentos, está a toxina botulínica,
preenchedoras de ácido hialurônico e os bioestimuladores de colágeno, que são
aplicados em consultório para corrigir rugas, valorizar o contorno do rosto e reduzir a
aparência dos sulcos, além de aumentar o volume dos lábios e de outras áreas da
face.
Todos eles com objetivos de oferecer um envelhecimento saudável,
autoestima em alta e qualidade de vida para o paciente. Procedimentos esses que
colocam o Brasil no topo do ranking das cirurgias plásticas estéticas.

3.4 PÚBLICO EM POTENCIAL

Ainda de acordo com a pesquisa citada neste presente artigo, as mulheres


representam 87,4% do público que passou por algum tipo de cirurgia plástica ou
procedimento estético em todo o mundo.
Em entrevista ao canal Futura, a psicanalista Joana Novaes, coordenadora do
Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, explicou que esses dados não
apresentam apenas os resultados do nicho da medicina, mas também falam sobre a
10

identidade e cultura imposta à mulher no Brasil e no mundo.


“Eles falam da nossa identidade enquanto país e também de um tipo de
sofrimento psíquico, um sintoma social que vai abarcar ‘n’ gerações e que,
sobretudo, afeta diretamente as mulheres, porque não conseguimos desassociar
historicamente a mulher do seu corpo e da beleza. É cada vez mais raro a gente
encontrar alguém hoje plenamente satisfeito, ou que não sofra algum tipo de
preconceito com relação à aparência”, explicou à reportagem a psicanalista Joana
Novaes.
A declaração da psicanalista é importante para entendermos aspectos
culturais que surgem desde o século XIV, passando pelas décadas de 40 e 50 no
pós Segunda Guerra Mundial. No livro “O mito da Beleza” da também psicanalista
Naomi Wolf, é ressaltada toda a questão cultural que envolve a figura feminina e a
“necessidade” de estar sempre impecável na figura da perfeição.
Naomi Wolf cita que não se trata de as identidades das mulheres serem
fracas por natureza. Foi a imagem “ideal” que adquiriu uma importância obsessiva
para as mulheres porque esse era o objetivo. Na cultura masculina, segundo a
autora, as mulheres não passam de beldades.

A cultura machista parece se sentir melhor ao imaginar


duas mulheres juntas se elas puderem ser definidas
como um fracasso e um sucesso de acordo com o mito
da beleza (Naomi Wolf, “O mito da beleza”, 1991, p. 94).

Essa busca incansável pela beleza, um corpo e um rosto jovens,


principalmente pelas mulheres, é algo cultural que foi passado de geração para
geração. Podemos citar o período durante e pós-Segunda Guerra Mundial, entre as
décadas de 1930 e 1960.
As mulheres passaram a ser necessárias no trabalho industrial durante a
Segunda Guerra Mundial, já que boa parte dos homens estavam nas trincheiras e
havia alta demanda por mão de obra na indústria.
As revistas femininas tiveram uma importante responsabilidade nesse
movimento de introdução das mulheres no trabalho “fora de casa”. Segundo o livro
“Love, Sex and War” de John Costello, foi apresentado um discurso para as
mulheres de que era fascinante o mundo do trabalho remunerado na indústria da
11

guerra.

“A Comissão de Recursos Humanos para a Guerra se


voltou para o mundo da publicidade para fortalecer a
campanha nacional no sentido de atrair as mulheres
para seus primeiros empregos”, revelou John Costello.

O discurso ganhou força e a medida que as mulheres respondiam de forma


favorável a ele, assumindo funções com melhores remunerações, que antes eram
direcionadas aos homens, uma mensagem de tentativa de preservação da imagem
feminina “socialmente aceitável” também era transmitida por meio das revistas
femininas da época. Costello ressaltou em seu livro que as revistas asseguravam
que as leitoras femininas poderiam ser livres, mas não a ponto de não dependerem
mais desses periódicos.
Se posicionar no mercado sempre foi desafiador para as mulheres, mas no
pós-guerra se tornou ainda mais. Com a volta dos homens combatentes na guerra, o
mercado de trabalho estava saturado pelas mulheres e por isso foi criado um projeto
de comunicação para que as mulheres voltassem humildemente para a missão de
esposa e mãe.
Porém a comissão de Recursos Humanos fez uma pesquisa em 1944 e
identificou que de 61% a 81% das mulheres queriam continuar com o trabalho na
indústria após a guerra (Wolf, Naomi. O Mito da Beleza, p. 99). Ainda assim, as
revistas femininas da época se voltaram para a domesticidade das mulheres. O que
resultou em demissões em massa nos Estados Unidos e Inglaterra.
Na década de 50 o papel esperado para a mulher era o da perfeição em todos
aqueles papéis que ela representava, como mãe, esposa e profissional. O mercado
se voltou para as donas de casa, e começou a desenvolver produtos específicos
para determinadas tarefas, como, por exemplo, o limpa vidros, detergentes para
louças e outros produtos.
Naquela época, havia uma preocupação dos anunciantes que era a de as
mulheres se voltarem mais às suas carreiras e deixarem de consumir esses
produtos. Por isso, fazia-se necessária uma nova ideologia: a de que era possível
para as mulheres terem suas atividades fora de casa, consumindo nos mesmos
níveis de quando tinham o dia inteiro dedicado a isso.
12

Naomi Wolf, explica que com o colapso da ideia da mulher dona de casa,
insegura, entediada, isolada e inquieta, foi imaginado que as mulheres “comprarão
mais se forem mantidas no estado de ódio a si mesmas, de fracasso constante, de
fome e insegurança sexual em que vivem como aspirantes à beleza” (Wolf, Naomi.
O mito da beleza p. 103).
Assim, mesmo com o progresso feminino a indústria do rejuvenescimento é
capaz de movimentar mais de 20 bilhões de dólares ao ano e a de emagrecimento
mais de 33 bilhões de dólares ao ano. Portanto, os números de cirurgias plásticas
revelam a face da sociedade que sempre destinou às mulheres o papel de perfeição.
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4 A IMAGEM COMO UM NEGÓCIO

Há anos em que a beleza, principalmente da mulher, é um fator determinante


para alguns negócios.
Exemplo claro é a realização de eventos totalmente dedicados a atributos
físicos, como o concurso de beleza Miss Universo. A primeira edição realizada
contou com 29 competidoras, e foi vencida pela finlandesa Armi Kuusela. Sua
premiação foi um contrato com a Universal Studios, que foi parceira na disputa com
investimentos altíssimos, que giravam em torno de US$ 1 milhão.
O Miss Universo, como nós conhecemos hoje, surgiu em 1951, com a
vencedora do Miss America, Yolanda Betbeze. Ela se recusou a tirar fotos com o
maiô da marca Catalina, que era o principal patrocinador do evento. Com isso, a
empresa resolveu criar seus próprios concursos de beleza, como Miss USA e Miss
Universo.
Esses concursos vêm de uma ideologia antiga, em que as mulheres eram
vistas como objetos. Atualmente, vivemos em uma época em que se está cada vez
mais buscando a igualdade dos direitos e o fim da violência de gênero. Mas, ainda
assim, sofremos com a busca pela perfeição.
Na atualidade, discute-se muito a respeito do sentido e da relevância da
existência de concursos de beleza no mundo. Muitas pessoas defendem que a
questão da competição entre belezas é errada, pois há uma grande variedade de
belezas e etnias e as que costumam ganhar se assemelham a um padrão europeu.
Estilistas já defendem que esses concursos não são mais tão relevantes para eles
como na época.
O que há anos atrás a beleza era ditada por essas misses, atrizes e
jornalistas que apareciam constantemente na televisão, hoje a indústria da beleza e
da moda dispõem de digital influencers. Relevantes na internet e nas redes sociais,
as digitais influencers ditam as tendências da moda, da beleza e de diversos
segmentos a partir da produção e divulgação de conteúdos.
No presente momento, o acesso à essa beleza inalcançável é em tempo
integral, o que gera algumas desvantagens para os usuários das redes sociais. Há
uma diversidade maior vista no meio digital, no entanto ainda há certa preocupação
para com todos os usuários, sejam eles consumidores de conteúdo ou os próprios
influenciadores. Afinal, mesmo criando os conteúdos, todos continuam
14

constantemente consumindo tal “beleza.”


A beleza então se tornou um negócio há décadas atrás como citado
anteriormente nos concursos e, no presente momento os valores que uma digital
influencer recebe varia muito de acordo com o número de seguidores, com o
engajamento que recebe, e a partir do conteúdo que produz.
Mas a que custo? Fatores como comparação, busca constante por “likes”,
atenção e visibilidade podem trazer problemas psicológicos, por exemplo. A baixa
autoestima, a necessidade de pertencimento público a um determinado grupo
também pode gerar falta de aceitação consigo mesmo, levando a atitudes alheias à
realidade individual.
Trabalhar a beleza como imagem, em pleno ano de 2022 é estar sujeito a
receber críticas em tempo integral, assim como aceitar que o trabalho estará sempre
presente, e ainda mais preocupante é a contínua comparação com outras belezas.
Isso leva a um possível adoecimento.
As “selfies”, ferramentas de edição de fotos e vídeos, e outras formas de
conteúdo que utilizam de imagens para redes sociais, tendem a prejudicar
psicologicamente algumas dessas pessoas, sejam criadoras ou consumidoras,
desenvolvendo patologias ligadas a beleza física, como anorexia, bulimia, vigorexia,
compulsão alimentar. São transtornos que geram uma distorção na imagem corporal
e também uma mudança severa no regime alimentar.
É fundamental uma avaliação mais aprofundada sobre o Transtorno
Dismórfico Corporal (TDC), conhecido também como transtorno de imagem, é uma
condição mental relacionada a uma preocupação exagerada com a própria imagem.
Essa dismorfia corporal faz com que a pessoa se incomode profundamente com
defeitos imaginários ou triviais em seu corpo.
As “Doenças da Beleza” estão cada vez mais evidentes pelo número elevado
de pessoas frequentadoras assíduas em clínicas de estética e de cirurgias plásticas
que procuram especialistas com inspirações de celebridades e influentes, ou mesmo
buscando o mesmo resultado que alguma pessoa conseguiu. A desvalorização da
sua própria beleza é muito prejudicial, fisicamente e emocionalmente.
Utilizado de forma responsável, a imagem pode ser um negócio para
transformar, informar e apoiar, além é claro, de ser bastante lucrativo dependendo
do nicho, parceiros, comissão, entre outros detalhes descritos em contrato de cada
profissional.
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O relato aqui descrito sobre o uso da imagem como negócio é em


conformidade com o uso indiscriminado e excessivo para criadores e usuários de
plataformas de comunicação, seja televisão, revistas, jornais, redes sociais, entre
outros, e que tem como consequência uma influência pouco positiva no sentido de
busca pela perfeição e interferência na saúde mental e física de todos.

4.1 O PAPEL DAS REDES SOCIAIS E SUAS INFLUÊNCIAS NAS CIRURGIAS


ESTÉTICAS

O aumento atual do uso das redes sociais têm se tornado um assunto muito
polêmico, pois na medida em que foram criadas para nos conectar uns com os
outros cada vez mais com mais velocidade e fácil acesso, também origina muitas
problemáticas, como a influência negativa envolvendo a indústria da beleza, com o
objetivo de implantar um padrão de beleza na sociedade por meio da exaltação de
corpos perfeitos, fazendo com que várias pessoas, geralmente mulheres, despertem
o desejo de se encaixar em um padrão imposto e irreal, pois se trata de um corpo
muito magro, no qual muitos indivíduos não se encaixam por diversas razões.
Não é difícil perceber a influência das redes sociais quando se trata de
beleza, pois é algo que influencia diretamente na vida pessoal do ser humano. É
possível notar este fenômeno principalmente através do Instagram, rede social
lançada em 6 de outubro de 2010, e que atualmente possui 1.4 bilhão de usuários,
segundo pesquisas do portal Statista, realizadas entre 24/02/2016 e 09/05/2022 por
Fernanda Beling.
O Instagram é um aplicativo usado para as pessoas postarem fotos e vídeos,
sejam de momentos que já passaram ou no presente; atualmente também é usado
como ferramenta de trabalho pelos influencers digitais.
Diante disso é que está a problemática do papel que as redes sociais
possuem atualmente. Com a junção de tudo isso, os padrões de belezas impostos,
os influencers digitais, o acesso fácil e rápido à vida de outras pessoas, filtros,
edições em fotos, as pessoas têm a tendência de se inspirar em outras, e a partir
disso, se não for feito de forma não saudável, começam a se comparar, tanto na
vida, quanto no corpo, na saúde mental, em absolutamente tudo o que puderem.
16

Se nas décadas passadas as revistas femininas exerciam uma influência no


comportamento da sociedade, hoje temos as redes sociais como Instagram e
TikTok. Segundo um estudo realizado pela Kantar, empresa multinacional de dados,
a autoestima dos brasileiros caiu em 2021. Quando consideradas todas as faixas de
idade, o percentual cai de 28% para 21%. A queda foi maior entre as mulheres de 30
a 44 anos, passando de 31% para 16%.
Uma outra pesquisa feita pela consultoria Edelman DXI entre fevereiro e abril
de 2022, com mais de 4 mil pessoas nos EUA, apresentou que cerca de 50% das
meninas apontam conteúdos de padrões de beleza divulgados nas mídias sociais
como um acelerador para a baixa autoestima.
A harmonização facial, que é um procedimento estético em alta no mundo das
celebridades e influenciadores, é uma técnica de preenchimento que promove um
alinhamento e correção de ângulos da face para apresentar mais harmonia e beleza
ao rosto.
Mas, uma pergunta importante: quem determinou o que era um rosto belo e
harmonioso? Alguns estudos mostram que a maior parte dos usuários das redes
sociais são influenciados por grandes celebridades, como, por exemplo, a família
Kardashian.
A influência dessa família pode ser atribuída a tendências em cirurgia plástica,
categorias de produtos de beleza, vendas de revistas e debates acadêmicos.
Quando Kim "abalou" a internet em 2014 ao reescrever uma foto polêmica de Jean-
Paul Goude para a capa da revista Paper (a assinatura de Goude implica aumentar
as dimensões de seus temas para proporções mais "exóticas"), sua obsessão por
sua bunda se tornou inextricavelmente ligado ao crescente interesse do consumidor
em glúteo lifting. De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos,
entre 2000 e 2018, esses procedimentos aumentaram 256%.
Portanto, para o bem-estar de cada indivíduo é importante tentar usar as
ferramentas das redes a seu favor. Um modo de fazer isso é seguindo e admirando,
na medida do possível, pessoas parecidas com cada um; seja na vida, na forma do
corpo, nos interesses, nos objetivos, na sua realidade principalmente. É preciso
tomar cuidado com os conteúdos consumidos nas redes sociais, pois apesar de
existirem para facilitar a vida em muitos aspectos, se não for feito com cuidado
podem gerar diversos problemas, afetando o bem-estar e a saúde física e mental de
diversas pessoas.
17

5 PERFEIÇÃO EXIGIDA NO CONSULTÓRIO

Ao ser escolhido esse tema para este trabalho, foram identificados diferentes
profissionais que pudessem esclarecer como é o dia a dia de um consultório com o
foco na beleza, como por exemplo, dermatologistas, endocrinologistas, nutrólogos e
cirurgiões plásticos.
Praticamente todos esses profissionais se recusaram a dar entrevista por
medo de exporem os clientes e também o próprio trabalho. Apenas uma profissional
se dispôs a falar sobre o tema, uma dermatologista, que não será identificada neste
presente trabalho e está no mercado há 10 anos.
A médica conta que no início da carreira se dedicava mais aos procedimentos
voltados a doenças de pele ou no couro cabeludo. Mas, nos últimos três anos viu a
demanda por procedimentos estéticos crescer e investiu nessa área. Segundo ela, a
busca por procedimentos estéticos mais que dobrou durante a pandemia de COVID-
19 (iniciando em 2020).
A demanda cresceu tanto que a dermatologista saiu do consultório de uma
sala que ficava na região central de Uberlândia, para ocupar um andar inteiro com
sete salas em um edifício médico da cidade. As salas são destinadas à depilação a
laser, tratamentos dermatológicos e estéticos corporais, faciais e capilares.
Antes da mudança, a médica contava com uma funcionária como secretária.
Hoje são cinco, sendo três secretarias para marcar consultas e dar suporte aos
clientes e duas esteticistas que fazem o trabalho corporal e depilação a laser.
“As pessoas começaram a se observar mais através das chamadas de vídeo
e ficaram mais incomodadas com as rugas ou manchas. Assim, começaram a
procurar mais pelos procedimentos”, explica a dermatologista.
Ao mesmo tempo em que a demanda aumentou, a dermatologista também
percebeu um comportamento padrão: a busca pela perfeição. “As pessoas buscam
uma perfeição de uma beleza que não existe. Querem uma pele sem poros e sem
rugas, como se tivessem 15 anos de idade. Estão muito influenciadas pelos filtros do
Instagram”, revela.
A médica explica que quando o paciente ou a paciente chega no consultório
com essa demanda, ela tenta explicar a importância de se envelhecer com qualidade
e fazer procedimentos que são saudáveis para cada etapa do envelhecimento. “Eu
tento entender até que ponto consigo suprir a necessidade do cliente, muitas vezes
18

eu oriento e nego o procedimento. Mas, ele sai daqui e faz com outro profissional”.
Entre os procedimentos mais buscados na clínica, segundo a dermatologista,
estão aqueles para melhorar a flacidez, tirar a “cara triste”, o "ar de cansado" e as
olheiras. Nesses casos, ela conta que é possível fazer o preenchimento com ácido
hialurônico ou bioestimuladores*¹, mas é preciso fazer um preparo da pele antes.
“Procuro saber se a pessoa se alimenta bem, se hidrata, se faz exercícios e
se tem o costume de cuidar da pele. Quando não tem esse cuidado, eu explico que
o procedimento precisa dessa contrapartida”, explica.

5.1 PERFIL DOS CLIENTES COMEDIDOS

A dermatologista explica que a maioria dos clientes é mulher e boa parte


delas buscam procedimentos mais naturais e menos exagerados. Porém, conta que
já teve casos de pessoas que chegaram com fotos retiradas das redes sociais, como
Instagram, TikTok e Facebook, pedindo por algo igual.
“Eu tive uma cliente jovem, mais ou menos 20 anos, acompanhada pela mãe
que buscou um procedimento de preenchimento labial igual ao que ela viu no
Instagram. Eu expliquei que o resultado não ficaria harmônico com o formato do
rosto, sugeri que fizesse algo mais delicado. Porém, foi negado por ela e pela mãe.
Assim, me recusei a fazer”, conta sobre os bastidores.
A médica explica que algumas mulheres que a buscam após os 40 anos
querem melhorar a aparência e aumentar a autoestima. Boa parte delas passaram
por um processo de divórcio ou perdas significativas. “Elas querem estar melhor”.
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6 A INDÚSTRIA DA BELEZA E OS RISCOS DA CLANDESTINIDADE

Como consequência dessa ampla divulgação do corpo perfeito, o rosto


perfeito e o padrão aceitável de beleza, estão as mulheres de baixa renda que
buscam nos procedimentos clandestinos o “sonho” de se tornarem aceitáveis para
os olhos da sociedade.
Os procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos no Brasil podem custar entre R$
1500,00 e R$ 500.000,00 em clínicas reconhecidas, com profissionais qualificados.
Quem não tem condições financeiras, acabam buscando por procedimentos
clandestinos, que podem causar mortes ou sequelas irreversíveis.
Em julho de 2021 três mulheres que se submeteram a procedimentos
estéticos com pessoas não qualificadas ou com uso de substâncias nocivas à saúde,
como silicone industrial, morreram no Rio de Janeiro: a bancária Lílian Calixto, a
modelo Mayara Silva dos Santos e a professora Adriana Ferreira Pinto. Já em
janeiro deste ano a influenciadora Liliane Amorim não resistiu às complicações de
uma lipoaspiração e morreu deixando um filho de 6 anos. Em todos os casos os
médicos estão sendo investigados.
20

7 PATOLOGIAS DA IMAGEM E CONSEQUÊNCIAS DO PADRÃO DE BELEZA

Ao tratar das imposições dos padrões de beleza na sociedade, há sempre


uma preocupação quanto à possibilidade de as vítimas desse sistema serem
afetadas pelas patologias que acarretam essa busca incessante pela perfeição.
Para American Psychiatric Association os transtornos alimentares são uma
perturbação persistente na alimentação ou comportamento relacionado a
alimentação que resulta no consumo ou absorção alteradas de nutrientes e que
compromete o bem estar físico e psicossocial. É um diagnóstico diverso muitas
vezes acompanhado de demais transtornos ou deficiências, e portanto, recomenda-
se o diagnóstico a idade de 2 anos.
Transtornos de alimentação e imagem são comuns em vários casos de
pessoas que estão inseridas nas mazelas da busca do ideal. Como consta no
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2014), a anorexia nervosa
e bulimia nervosa são exemplos de transtornos alimentares graves. A anorexia
nervosa consiste em uma “[...] restrição persistente da ingesta calórica; medo
intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere
no ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria
forma.” (DSM-V, 2014, p. 339).
Para Paulo Dalgalarrondo em Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos
Mentais (3 ed.- 2019), a anorexia quando induzida causa a anorexia nervosa, e sua
principal característica é a distorção da imagem corporal, o paciente utiliza de
compulsão alimentar e métodos para perder peso, pois a paciente percebe-se gorda
em regiões como nádegas, coxas e abdômen. No cerne da sociedade ocidental a
beleza está associada à magreza, a busca pelo controle do peso pode então
começar com aparentemente dietas inocentes e evoluem então para um
comportamento obsessivo-compulsivo com o objetivo de resolução de conflitos
externos e satisfação de uma autoimagem.
A anorexia também pode vir acompanhada da bulimia nervosa, que, como
previsto no DSM-V, consiste em “episódios recorrentes de compulsão alimentar [...],
comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de
peso [...] e autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso
corporais [..].” (DSM-V, 2014, p. 345). Além disso, os episódios de compulsão
alimentar, ou apenas alimentação, podem ser seguidos de vômito provocado, onde
21

pacientes bulímicos geralmente se queixam da sensação de perda de controle


durante esses episódios, ficando impotentes perante os impulsos e sentindo a
necessidade de expurgar a comida ingerida. A bulimia nervosa tem a porcentagem
de 1 a 1,5 entre jovens do sexo feminino, sendo o maior número entre adultos do
mesmo sexo, onde a ocorrência no sexo masculino é bem menos comum, tendo
uma proporção feminino-masculino de aproximadamente 10:1 (DSM-V, 2014).
Ainda de acordo com o DSM-V (2014), esses dois transtornos têm ocorrência
em todo o mundo, porém com uma prevalência maior em países ricos pós-
industrializados, como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Japão e diversos
países da Europa.
Outro exemplo são os transtornos e distúrbios de imagem, tal como transtorno
dismórfico corporal (antes conhecido como dismorfofobia), tem como critérios
diagnósticos:

A. Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas


percebidas na aparência física que não são observáveis
ou que parecem leves para os outros/ B. Em algum
momento (...) ou atos mentais (...) em resposta às
preocupações com a aparência./ C. A preocupação
causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo
no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo./ D. A preocupação
com a aparência não é mais bem explicada por
preocupações com a gordura ou o peso corporal em um
indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios
diagnósticos para um transtorno alimentar. (DSM-V,
2014, p. 242).

Ainda é especificado a dismorfia muscular, onde o indivíduo se prende a


preocupação da estrutura de massa magra corporal (DSM-V, 2014).
Dessa forma, esse transtorno gera diversos malefícios para o indivíduo
acometido, como pensamentos repetitivos de autodepreciação, obsessão com a
própria imagem e preocupações indesejadas, além de tomar muito tempo do
mesmo.
22

Conforme citado no DSM-V (2014), o transtorno disfórmico corporal pode


acarretar diversas comorbidades, como transtornos alimentares, transtorno
depressivo maior, transtorno de ansiedade social (fobia social) comórbido, transtorno
obsessivo-compulsivo e transtornos associados a substâncias.
Existem relatos desse transtorno em todo o mundo, podendo se diferenciar
dependendo da cultura e raça de onde se fala. Na América do Norte, se tem uma
prevalência de 2,4% entre os adultos, sendo 7 a 8% entre pacientes de cirurgia
estética e 3 a 16% entre pacientes de cirurgia estética em outros países (DSM-V,
2014).
No universo cinematográfico, esses assuntos são recorrentes, filmes e séries
como “maus hábitos”, “preço da perfeição” e “o mínimo para viver” trazem de
maneira emocionante quadros de anorexia, bulimia, e distorção de imagem. Alguns
dos filmes e séries mostram pacientes em estados críticos, internados, mas com
uma compulsão pela magreza de forma doentia e "cega" que não cessa.
Existem inúmeros feitos cinematográficos que abordam ou expõem de alguma
forma a problemática dos padrões estéticos na sociedade. Ainda sobre “O mínimo
para viver”, o diretor Marti Noxon, traz para as telas a vida de Ellen, uma mulher
anoréxica interpretada por Lily Collins, atriz que teve de emagrecer 12 quilos para
fazer o papel, Lily diz ter recebido elogios pela perda de peso abrupta e ficou
impactada, pois no filme é possível visualizar o quanto a atriz transparecia um
aspecto doente.
Episódios como esses são comuns em pacientes com transtorno de
alimentação e imagem, o que mostra claramente o quanto a sociedade é adoecida
por essa obsessão ao corpo perfeito e a magreza, não importa de que forma e a
qual custo.
É possível encontrar através de buscas na internet, sites que ainda estimulam
a manutenção desses transtornos, por meio de receitas absurdas, metas,
depoimentos e trocas de informações, alguns usam hashtags como #promia e
#proana para demarcar suas publicações e interesses.
Além do dano psicológico, que em muitas das vezes é irreversível, é possível
também listar os diversos danos físicos que os transtornos geralmente causam no
organismo como ressecamento de pele, aspecto de pele amarelada, anemia, queda
de cabelo ou fios finos e quebradiços, batimentos cardíacos irregulares, cárie dental,
queda de pressão, tonturas e desmaios, insônia, desregulamento ou ausência da
23

menstruação, baixa libido entre outros. Sintomas esses, que se não tratados podem
desencadear complicações ainda mais graves como osteoporose, infertilidade,
lesões cardíacas, insuficiência renal, baixa resistência do sistema imunológico entre
outros.
Há também a possibilidade de desenvolver outros transtornos como os de
personalidade, humor e transtorno obsessivo compulsivo. Infelizmente, a internet e
as redes sociais são "moradas" para um agravamento ou normalização de casos
como esse em determinados nichos.
Como a indústria da beleza é multimilionária e lucra com a problemática
apresentada, é difícil esperar que haja alguma mudança relevante, pois está cada
vez mais abundante a divulgação e promoção de cirurgias plásticas estéticas
abusivas, remédios, procedimentos, dietas irresponsáveis, produtos perigosos e
ineficazes que movimentam essa indústria e alimentam a ilusão do corpo
ideal/perfeito.
24

8 CONCLUSÃO

Em virtude dos fatos mencionados através de pesquisas, e da entrevista com


a profissional da saúde especializada em beleza estética, a busca pela “perfeição
facial ou corporal” tem se tornado cada vez mais o objetivo de uma grande parcela
da população, predominantemente mulheres.
Infelizmente, a tentativa de alcançar o padrão de beleza imposto pela
sociedade não é um contexto atual, ocorre desde os primórdios como citado
anteriormente na contextualização histórica. Nos tempos da idade média as
mulheres já usavam roupas extremamente desconfortáveis e prejudiciais à saúde,
com a intenção de serem aceitas e parecerem mais bonitas aos olhos dessa mesma
sociedade.
Os anos se passaram e, apesar de muitas pessoas lutarem pela aceitação da
beleza única, da autoestima e de fatores saudáveis para a saúde física e mental, a
maioria ainda tenta manter o padrão de beleza imposto para a época em que se
vive. Atitudes como a busca “pelo rosto e corpo perfeito” acarretam inúmeros
problemas, de saúde física e diversas doenças como anorexia, bulimia, depressão,
distorção de imagem e outros males.
A insatisfação corporal pode levar a pessoa a desenvolver uma dependência
estética, resultando em inúmeras cirurgias plásticas, consumo de produtos
irregulares e dietas desnecessárias, até mesmo recorrendo a profissionais não
capacitados, como mencionado pela profissional de saúde em entrevista para o
Estágio Básico III.
Portanto, a busca pelo padrão de beleza é preocupante em vista da saúde
física e mental, uma vez que os meios publicitários vêm se expandindo
mundialmente cada vez mais e, é evidente que, ao ampliar o uso da tecnologia, as
ofertas de consumo também tem se tornado mais fáceis em relação a anos atrás. A
imposição do padrão pela mídia é em determinados momentos exagerada e as
pessoas são atraídas pelos requisitos retratados como “aceitável e belo”.
Mais um fato preocupante, é que esse padrão de beleza imposto pela mídia
afeta um público gigantesco de adolescentes, que está passando por um período de
desenvolvimento, sendo eles direcionados para esse mundo de aparências, o que
aumenta a auto rejeição, abalando assim o estado psicológico e a vida social.
25

A criação de valores que é desenvolvida pela mídia, visa aumentar a


demanda por produtos desenvolvidos pelas indústrias que na realidade a sustentam,
sucedendo dessa forma a “fetichização” da beleza, que passa a ser uma mercadoria.
É notável que a indústria de consumo tem aberto cada vez mais as portas para um
público vaidoso e mais preocupado com a aparência do que com a própria saúde.
Tendo em vista que é inalcançável o padrão determinado pela mídia, ocorrem então
grandes problemas, como os distúrbios psicológicos citados acima e a associação
da felicidade com essa beleza artificial.
É preciso uma força maior de trabalho midiático e interno para que cada um
se veja com mais amor e respeito próprio, para que assim haja a aceitação da
beleza que cada um possui e, antes de pensar em qualquer mudança para a
tentativa de “encaixe” nesse padrão de beleza, é fundamental ter a consciência se o
resultado do procedimento estético é para o outro ou para si, caso seja para o
primeiro caso é indicado uma análise mais profunda. O ideal é que seja para si, com
a finalidade de melhorar alguns aspectos de forma saudável, assim como os
produtos foram criados inicialmente para serem utilizados.
Alguns países têm tomado medidas protetivas contra essa super exposição.
Na França, em 2017, políticos aprovaram uma lei que proíbe a veiculação de fotos
de modelos que estão abaixo do índice saudável, ou seja, extremamente magras. A
lei foi criada para evitar que pessoas tentem seguir esse padrão de beleza que
privilegia a magreza e consequentemente inúmeras doenças e distúrbios. A nova lei
francesa também prevê punição para as revistas e agências de publicidade que
manipularem imagens para causar o efeito de magreza extrema.
Levando-se em consideração esses aspectos, é extremamente necessária a
divulgação de conteúdos e palestras sociais que evidenciam ideias opostas da
maioria dessas mídias em questão, buscando assim alertar os perigos que são
gerados na saúde de muitas pessoas que estão mais vulneráveis. O padrão de
beleza não deve ser fator determinante de aceitação e felicidade, somente com um
trabalho em conjunto com todos os setores da sociedade, veremos a diminuição de
casos de pessoas que tiveram a saúde comprometida por tentarem seguir
determinadas referências.
Por todo o conteúdo relatado até aqui, identifica-se que o padrão de beleza
ditado pela mídia não é favorável, e em alguns casos chega a ser destrutivo para
uma parcela numerosa da sociedade, devendo então ser adaptado à realidade por
26

meio da tomada de consciência de todos. É importante evidenciar que não há


campanha contra a comercialização dos produtos e serviços a favor da beleza e
autoestima, mas há uma necessidade de alerta sobre os males que podem ser
causados pelo excesso, não aceitação de si, pela alienação e pela busca de uma
beleza artificial inalcançável e insustentável.
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REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtorno


– DSM-5. 5a Ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.

BELING, Fernanda. As 10 redes sociais mais usadas em 2022. Disponível em: <
https://www.oficinadanet.com.br/post/16064-quais-sao-as-dez-maiores-redes-
sociais>. Acesso em: 12 mai.2022.

LAVILLE, C; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da


pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

NODARI, Clínica de Psicologia. Anorexia E Bulimia: Entenda Quais As Causas,


Sintomas E Complicações Desses Transtornos Alimentares. Disponível em:
<https://clinicadepsicologianodari.com.br/post/anorexia-e-bulimia-entenda-quais-as-
causas-sintomas-e-complicacoes-desses-transtornos-alimentares/>. Acesso em: 16
mai.2022.

PESQUISA CIENTÍFICA: OS CONCEITOS BÁSICOS (Ginete Cavalcante Nunes;


Maria Cristina Delmondes do Nascimento2; Maria Aparecida Carvalho Alencar Luz) -
2016.

Ribas, R. E., & Caleiro, M. D. M. (2012). Padrões estéticos e globalização: a


sociedade pós-moderna frente à ditadura da beleza. Intercom-Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

VAZ, Melissa. Lily Collins emagrece para viver anoréxica e recebe elogios.
Claudia, 2017. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/famosos/lily-collins-
emagrece-para-viver-anorexica-e-recebe-elogios/>. Acesso em: 16 mai.2022.

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