Historia Da Educação

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HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO

Max Elisandro dos Santos Ribeiro


O nascimento da filosofia
e a educação grega
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a influência do pensamento filosófico na organização do


conhecimento na sociedade grega.
„„ Reconhecer a importância dos processos educacionais na Grécia
Antiga para o desenvolvimento da filosofia e do conhecimento.
„„ Relacionar os aspectos do conhecimento filosófico grego na organi-
zação da cultura antiga.

Introdução
A Grécia Antiga é considerada o berço de toda a cultura ocidental, em
que inúmeros valores morais e sociais da atualidade têm suas raízes. O
nascimento da filosofia representa o início do pensamento humano
racional e do desenvolvimento intelectual do homem. A organização em
cidades-estado exigia um tipo de educação voltada para o desenvolvi-
mento físico e intelectual: os homens gregos eram preparados para viver
na pólis: deveriam estar aptos a discutir questões políticas e a participar
de guerras.
Neste capítulo, você verá a importância do desenvolvimento da filo-
sofia para a educação na Grécia Antiga, discutirá a definição do conceito
de paideia e seus desdobramentos para a educação e a organização
do conhecimento e da cultura grega e reconhecerá a importância do
desenvolvimento do pensamento racional para a história da humanidade.
2 O nascimento da filosofia e a educação grega

O nascimento da filosofia e da educação na


Grécia Antiga
A cultura e a forma de organização política e social da Grécia Antiga foram
ponto de partida para as civilizações estruturadas posteriormente. Os poemas
“A Odisseia” e “A Ilíada”, de Homero, poeta grego que viveu no século VIII
a.C, são obras fundamentais na compreensão do pensamento e da forma de
vida dos gregos nesse período.
A região da Grécia Antiga era habitada por tribos independentes, que
frequentemente rivalizavam entre si. Merecem destaque os aqueus (fundadores
do Reino de Minos), eólios (Macedônia), dórios (Esparta) e jônios (Atenas).
Portanto, os gregos não eram um povo único, mas uma fusão de tribos indo-
-europeias (Figura 1).

BULGÁRIA
MACEDÔNIA

ALBÂNIA Salonica

Janina TURQUIA
Corfu Lárissa
Vólos
Mar
Egeu
Cálcis
Patras ATENAS Samos

Mar
Jônico Náxos
Cós

Mar de Creta Rodes


Mar Mediterrâneo Heraclião
Creta

Figura 1. Mapa da Grécia Antiga.


Fonte: adaptada de pavalena/Shutterstock.com.
O nascimento da filosofia e a educação grega 3

A paideia e o ideal de educação na Grécia


Os gregos foram os primeiros a problematizar o tema educacional. Na literatura
grega, há registros de questionamentos do conceito de educação. Os perso-
nagens que transformaram tal debate em uma importante questão filosófica
foram os sofistas, Sócrates, Platão, Isócrates e Aristóteles. Assim, a sociedade
ateniense viu surgir o conceito de “paideia” (παιδεία), termo empregado para
se referir à noção de educação na sociedade grega clássica (SANTIAGO, 2018).
A palavra paideia deriva de paidos ou pedós = criança e significava “cria-
ção dos meninos”: era relacionada, mais precisamente, à educação familiar,
a bons modos e a princípios morais. Era também um sistema que englobava
a totalidade dos aspectos da vida: os conteúdos abordados eram ginástica,
geografia, gramática, história natural, matemática, filosofia, retórica e mú-
sica. A Grécia Antiga trouxe, consequentemente, o modelo humanístico de
educação, semelhante ao que se utiliza nos dias atuais (SANTIAGO, 2018).

Assista ao vídeo “PAIDEIA: o ideal da educação na Grécia


Clássica”. O vídeo apresenta uma palestra sobre o con-
ceito de paideia e os sentidos da educação para o povo
grego e suas contribuições para a cultura ocidental na
contemporaneidade.

https://goo.gl/ZfUhAV

História e educação na Grécia Antiga


Ao observar a história da educação na Grécia Antiga, é necessário relacionar
os aspectos da educação ao contexto histórico. Para isso, será apresentada a
seguir uma sistematização dos aspectos históricos e as características de seu
cada modelo de educação. Logo, a formação do povo grego compreende os
seguintes períodos históricos:
4 O nascimento da filosofia e a educação grega

„„ Período pré-homérico (2500-1100 a.C.) ou heroico, em que aconte-


ceu a formação do povo grego com a junção de várias tribos. Nesse
período, prevalece a educação baseada na crença mitológica, na qual as
explicações para a vida e os acontecimentos são e devem ser guiados
e decididos pelo sobrenatural.
„„ Período homérico (900-750 a.C.), período retratado pelos poemas de
Homero (Ilíada e Odisseia), quando a prática da oralidade era larga-
mente utilizada na transmissão do legado cultural no país. Continua a
concepção mítica de mundo.
„ Período arcaico (século VII e VI a.C.), período da formação das cidades-
-estado, escrita, moeda, lei, sofistas e da vida urbana na pólis grega. A
educação em Esparta visava à preparação física e militar para a guerra.
„ Período clássico (final do século V a.C. ao século IV d.C.), período
que corresponde ao apogeu e declínio da civilização grega. Ocorre
o desenvolvimento das leis e das políticas públicas para a sociedade.

Nesse período, desenvolveu-se a educação voltada à razão humana, e o


cosmocentrismo foi integralmente priorizado. De acordo com Xavier (2016,
p. 92), “a educação grega é alavancada em razão do desenvolvimento democrático
nas cidades e da possibilidade do acesso à educação a todos os cidadãos gregos”.

Devido à grande expansão e à dominação do Império grego a outras regiões, a edu-


cação desse período é chamada de helenística/enciclopédica e ficou conhecida como
cultura alexandrina, em razão de seu imperador Alexandre, “o Grande”.

Filosofia e educação na Grécia


Estudos históricos comprovam que o desenvolvimento do pensamento filosófico
surge por volta do século VII a.C. na cidade de Mileto, na Grécia Antiga. O
desenvolvimento da filosofia representa uma nova forma de pensar a existên-
cia humana, quando as lendas e mitos não são mais o centro da crença e os
gregos passam a racionalizar a vida na pólis. Em Vernant (2006, p. 109), você
encontra o nome de alguns dos primeiros filósofos e suas formas de pensar:
O nascimento da filosofia e a educação grega 5

[...] o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e


o começo de um saber de tipo racional [...] homens como Tales, Anaximandro,
Anaxímenes inauguram um novo modelo de reflexão concernente à natureza
[...] da origem do mundo, de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos
meteorológicos, propõem explicações livres de toda a imaginária dramática
das teogonias e cosmogonias antigas.

Historicamente, esse período é chamado de período arcaico (século VII


e VI a.C.), fase da formação das cidades-estado e da presença da escrita, da
moeda, da lei, dos sofistas (primeiros filósofos) e da vida urbana na pólis grega.
Em Esparta, a instrução era voltada para a preparação física e militar vi-
sando à guerra. Não havia, nesse período, uma educação voltada à compreensão
humanística do mundo (XAVIER, 2016). Por outro lado, em Atenas, a partir
do final do século VI e século V a.C., o pensamento filosófico e científico
passou a receber importância. Para os atenienses, a educação intelectual foi
situada no mesmo patamar da educação física, com o objetivo de formar o
homem em sua plenitude tanto corpórea quanto intelectual.
A formação corpórea era, ainda, vinculada à arte e à estética. O Estado não
era mais visto apenas como máquina de conquista, mas buscava assegurar a
liberdade do cidadão ateniense. Note na ilustração (Figura 2) elementos dos
ideais de educação grega.

Figura 2. Desenvolvimento da arte, da estética e da guerra na educação grega em uma


única imagem.
Fonte: matrioshka/Shutterstock.com.
6 O nascimento da filosofia e a educação grega

A educação grega era centrada na formação integral do indivíduo. Enquanto


ainda não existia escrita, a educação era ministrada pela própria família,
conforme a tradição religiosa. A transmissão da cultura grega se dava também
por meio das inúmeras atividades coletivas, tais como festivais, banquetes,
reuniões. A escola ainda permanecia elitizada, ao atender aos jovens de famílias
tradicionais da antiga nobreza ou dos comerciantes enriquecidos. O ensino
das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, já que a
formação nas escolas era mais esportiva do que intelectual.
Outro aspecto que deve ser considerado é a questão do gênero: meninos
e meninas recebiam educação diferente, e isso influenciava em sua partici-
pação e importância social. Os meninos da Grécia Antiga, assim como nos
demais povos da antiguidade, eram considerados “marginais”; e, como tal,
eram violentados e explorados de várias formas. Somente a partir dos sete
anos de idade, quando era menor o risco de morte, os meninos eram inseridos
em instituições públicas e sociais que lhe concediam uma identidade e lhe
indicavam uma função (HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 2018). As meninas
não tinham acesso à educação formal: elas aprendiam tarefas domésticas e
trabalhos manuais com a mãe.
Ao contrário dos povos orientais, que atribuíam a educação e a autoridade
máxima às divindades, na Grécia Clássica, o homem era livre para pensar,
criticar, refletir e descobrir a partir dele mesmo a racionalidade da vida. O
homem era a medida dele próprio: seria capaz de transformar, entender e usar
os recursos da natureza em seu próprio benefício. Foi quando surgiram os
grandes educadores e os filósofos Sócrates, Platão (também conhecido como
o primeiro pedagogo) e Aristóteles (discípulo de Platão). Aos dois últimos
são atribuídas as duas principais tendências do conhecimento filosófico que
perduram até nossos dias:

„„ Tendência idealista platônica: Platão (427-347 a.C.) considerado o pri-


meiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para
o seu tempo. Mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão
ética e política. Platão foi o fundador da Academia, representando a
educação superior. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a
formação do homem moral vivendo em um Estado justo.
„„ Tendência realista aristotélica: Aristóteles (384-322 a.C.), nascido em
Estagira, na Macedônia, hoje pertencente à Grécia. Foi o idealizador
do Liceu, que representava a educação intermediária.
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O Liceu de Aristóteles tinha cursos regulares em tempo integral, de manhã e


à tarde. Pela manhã, os discursos do filósofo eram “esotéricos”, isto é, voltados
a um público interno, mais restrito, com conhecimentos sobre lógica, física,
metafísica maiores e mais avançados. Os discursos da tarde, os “exotéricos”,
eram destinados ao público em geral e diziam respeito a temas mais acessíveis,
como retórica, política, literatura. Seus escritos discorrem sobre numerosos
assuntos, tais como biologia, física, lógica, ética, política e arte.
Indubitavelmente, as diferentes concepções dessas escolas foram cada vez mais
relevantes nos debates e na consolidação da filosofia e, em particular, da educação
na paideia grega. No entanto, é notável que as Escolas pirronista, estoicista e epi-
curista divergiam em muitos aspectos teóricos das Escolas de Platão e Aristóteles.
Na concepção pirronista, a busca por compreender a essência das coisas
teria o mesmo efeito que a busca pela infelicidade. “Desse modo, se queres ser
feliz, deixai as coisas como estão, em seus devidos lugares de origem, imutáveis.
Essa é a melhor forma de viver em paz e com felicidade” (XAVIER, 2016, p.
93). O epicurismo não nega a possibilidade de se alcançar o conhecimento das
coisas, já que tudo é composto por milhares de partículas atômicas formadoras
de matéria exterior, fora do ser, sentidas por nossos órgãos sensoriais, podendo
significar momentos de felicidade ou de dor. A Escola estoica acreditava que
a natureza do ser é o todo e o tudo em matéria de existência e o homem é por
natureza um ser racional. Segundo o estoicismo, existe um princípio ontológico
para que o ser humano possa viver feliz: aprender a conviver respeitosamente
com sua própria natureza geratriz, afastando de si toda e qualquer intempérie
negativa da formação e condução para o bem (XAVIER, 2016).
Em termos de educação, os gregos têm muito a ensinar aos demais povos.
Cabe a nós, educadores, refletir sobre os ensinamentos dos povos antigos a fim
de pensar e implementar uma educação preocupada com questões pertinentes
ao nosso tempo.

Para entender melhor o conteúdo deste capítulo, as-


sista ao vídeo “Platão - A República (Parte 1 - Teoria do
Conhecimento)”:

https://qrgo.page.link/Hdz9x
8 O nascimento da filosofia e a educação grega

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. Antiguidade grega: a paideia. Disponível em: < http://he-


-linhadotempo.blogspot.com.br/2012/04/antiguidade-grega-paideia.html>. Acesso
em: 01 fev. 2018.
SANTIAGO, E. Paideia. Disponível em: <https://www.infoescola.com/educacao/pai-
deia/>. Acesso em: 01 fev. 2018.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. 16. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2006.
XAVIER, A. R. História e filosofia da educação: da paideia grega ao pragmatismo
romano. Revista Dialectus, v. 3, n. 9, set./dez. 2016, p. 81-99. Disponível em: <http://
www.periodicos.ufc.br/dialectus/article/viewFile/6535/4764>. Acesso em: 01 fev. 2018.

Leituras recomendadas
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ARENILLA, L. et al. (Org.). Dicionário de pedagogia. Lisboa: Piaget, 2001.
AZEVEDO, G. C. et al. História: volume único. São Paulo: Ática, 2005.
CABRAL, J. F. P. A educação no período helenístico: a paideia na época de Alexandre,
o Grande. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-educacao-no-
-periodo-helenistico-paideia-na-epoca-alexandre.htm>. Acesso em: 01 fev. 2018.
DURKHEIM, E. A evolução pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1976.
MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 12. ed. São
Paulo: Cortez, 2006.

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