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Brazilian Journal of Development 104534

ISSN: 2525-8761

Tea e neuroplasticidade: Identificação e intervenção precoce

Asd and neuroplasticity: Identification and early intervention


DOI:10.34117/bjdv7n11-193

Recebimento dos originais: 12/10/2021


Aceitação para publicação: 11/11/2021

Rafael Lazzari de Marco


Superior completo
Instituição de atuação atual: Santa Casa de Misericórdia, São José do Rio Preto- SP
Av. Presidente Juscelino Kubitscheck De Oliveira, 1890, Jardim Tarraf II, São José do
Rio Preto- SP
E-mail: [email protected]

Maria Beatriz Nanni Daniel


Superior completo
Médica plantonista na UPA Campo Mourão PR
Avenida Londrina, 1534 , zona 08, Maringá-PR
E-mail: [email protected]

Eduardo Nanni Calvo


Superior incompleto
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Av. XV de Novembro, 351, Zona 1, Maringá-PR
E-mail: [email protected]

Bruna Lazzari Araldi


Superior incompleto
Universidade Cesumar (Unicesumar)
Av. Guedner, 1571, Zona 08, Maringá-PR
E-mail: [email protected]

RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a
importância da intervenção precoce nos primeiros meses e primeiros anos de vida.
Destaca a neuroplasticidade cerebral enquanto avanço da ciência para a amenização dos
sintomas, recuperando as habilidades por meio da formação de novas rotas sinápticas. Ao
narrar que a intervenção precoce é significativa para a criança com TEA, conduz a refletir
se as pessoas que trabalham neste campo estão capacitadas para entender o
funcionamento cerebral dessas crianças por manifestarem no comportamento
estereotipias, isolamento social e prejuízos de interação dificultado pelo mal uso da
linguagem. A constatação destas reflexões caminha em adequar posturas para entender o
papel do mediador ao propor estratégias de intervenção e da sua atuação para lidar com
as crianças comprometidas, pois toda intervenção acontece dentro de um contexto social
e interativo.

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ISSN: 2525-8761

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista (TEA), Intervenção Precoce,


Neuroplasticidade.

ABSTRACT
This article presents a study on Autistic Spectrum Disorder (ASD) and the importance of
early intervention in the first months and first years of life. It highlights brain
neuroplasticity as an advance in science to alleviate symptoms, recovering skills through
the formation of new synaptic routes. By stating that early intervention is significant for
children with ASD, it leads to a reflection on whether people who work in this field are
able to understand the brain functioning of these children by manifesting stereotypies in
their behavior, social isolation and interaction losses made difficult by the misuse of
language. The verification of these reflections goes towards adapting postures to
understand the role of the mediator in proposing intervention strategies and their
performance to deal with compromised children, as every intervention takes place within
a social and interactive context.

Keyword: Autistic Spectrum Disorder (ASD), Early intervention, Neuroplasticity.

1 INTRODUÇÃO
Apesar de sempre surgir historicamente o interesse em pesquisas sobre o
Transtorno do Espectro Autista (TEA), a falta de entendimento e conhecimento científico
precisos sobre o assunto, até então adquiridos, ainda é um aspecto relevante que dificulta
a abordagem, o tratamento e, consequentemente, a inclusão das crianças que possuem
esse transtorno. Por outro lado, a Neurociência comprova que a abordagem nas crianças
com TEA deve ser realizada o mais cedo possível devido a plasticidade cerebral. Sabe-se
que o tratamento precoce capacita a sua aprendizagem e autonomia, enfim, melhora e
muito as condições do desenvolvimento global e a adaptação ao meio. Diante disso,
capacitar pessoas com estudos acerca do espectro faz-se necessário nas clínicas, escolas
e famílias para reconhecer sinais e pistas que apontam as áreas em atraso de cada criança
comprometida. Em se tratando do TEA, receber intervenções eficientes precocemente
fará com certeza a diferença em toda a vida da criança. O diagnóstico precoce e a
implantação correta dos tratamentos resultarão em significativa melhoria no
desenvolvimento infantil e na qualidade de vida da criança e de seus familiares.
Aplicar uma abordagem precoce nas crianças com TEA (em casa, na escola, no
consultório médico) traz vantagens ou prejuízos, enquanto não se tem a cura e
diagnósticos precisos?
Pesquisas apontam que o diagnóstico precoce auxilia muito na escolha das
intervenções, que com certeza, farão a diferença no desenvolvimento das crianças com

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problemas neurológicos. Sabe-se que ao se trabalhar cedo no desenvolvimento dessas


crianças, as áreas cerebrais, em função da neuroplasticidade, ainda por não estarem
rígidas, aceitam positivamente as intervenções auxiliando modificações sinápticas com
ganhos na evolução dos tratamentos.
No TEA, a criança revela um mal funcionamento para se comunicar, socializar e
se sentir realmente fazendo parte de nossa existência. Portanto, é fundamental, para
alcançar maiores benefícios, capacitar as pessoas que lidam com a criança no seu dia a
dia para serem os primeiros a identificar sinais e sintomas que o quadro estabelece quanto
ao perfil comportamental, cognitivo, social e emocional que cercam a criança nas suas
dificuldades para interagir no meio ambiente.
Considerando os aspectos apontados, este estudo propõe: em primeiro lugar, trazer
informações sobre o tema para auxiliar o entendimento do transtorno e a identificação
dos problemas acerca do mesmo. Em segundo lugar, sabendo da importância da
intervenção precoce nas áreas que apontam atrasos no desenvolvimento da criança, relatar
como o cérebro autista funciona, tendo em vista colaborar com a capacitação das pessoas
que atuam no dia a dia abordando essas crianças. Esta compreensão, será importante para
conseguir descrever o terceiro momento deste estudo: otimizar estratégias para serem
utilizadas em qualquer contexto que envolvam crianças com TEA, ou seja, família,
escola, consultório, ou outras atividades sociais. Vale ressaltar que para desenvolver este
estudo, tanto a Neurociência quanto a teoria Histórico Cultural serão abordadas como
linha de auxílio à pesquisa, já que ambas valorizam o potencial inerente de cada criança
na capacidade de evoluir por meio da apropriação de aprendizagens, favorecendo o
desenvolvimento de habilidades individualizadas realizadas no ambiente social. Esse
processo, colabora para que todo trabalho de Inclusão, seja realizado com maior
afetividade, humanização e responsabilidade, sobressaindo a obrigatoriedade para fazer a
diferença, de forma ímpar, por vir de encontro com as necessidades de cada criança
afetada pelo transtorno. Assim, fica garantindo a elas, menos sofrimento e prejuízos e
maior ganho no desenvolvimento global, social, na linguagem, aprendizagem escolar e
convivência familiar.
Este estudo assume as definições da pesquisa exploratória, que tem como objetivo
principal o aprimoramento de ideias proporcionando maior familiaridade com problema,
com vistas a torná-lo mais explícito. Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa
será, por meio de uma revisão da literatura, realizar uma pesquisa bibliográfica para
discutir informações e práticas adequadas de identificação e intervenção no TEA.

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2 O TEA, A NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL E A INTERVENÇÃO


PRECOCE
Os conceitos de TEA, neuroplasticidade cerebral e intervenção precoce
fundamentam a base deste estudo e serão abordados a seguir:

2.1. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)


Para entender o atual conceito do TEA, torna-se necessário compreender o
processo histórico desta construção. A Cartilha do Ministério da Saúde, Diretrizes de
Atenção à Reabilitação da Pessoa com TEA, menciona que:

O termo ‘autismo’ foi introduzido na psiquiatria por Plouller, em 1906, como


item descritivo do sinal clínico de isolamento (encenado pela repetição do auto
referência) frequente em alguns casos. Em 1943, Kanner reformulou o termo
como distúrbio autístico do contato afetivo, descrevendo uma síndrome com o
mesmo sinal clínico de isolamento, então observado num grupo de crianças
com idades variando entre 2 anos e 4 meses a 11 anos. Ele apresentou as
seguintes características, como parte do quadro clínico que justificava a
determinação de um transtorno do desenvolvimento: 1) extrema dificuldade
para estabelecer vínculos com pessoas ou situações; 2) ausência de linguagem
ou incapacidade no uso significativo da linguagem; 3) boa memória mecânica;
4) ecolalia; 5) repetição de pronomes sem reversão; 6) recusa de comida; 7)
reação de horror a ruídos fortes e movimentos bruscos; 8) repetição de atitudes;
9) manipulação de objetos, do tipo incorporação; 10) físico normal; 11) família
normal. Em 1956, ele elege dois sinais como básicos para a identificação do
quadro: o isolamento e a imutabilidade, e confirma a natureza inata do
distúrbio. O quadro do autismo passou, desde então, a ser referido por
diferentes denominações, tendo sido descrito por diferentes sinais e sintomas
dependendo da classificação diagnóstica adotada a partir dos dois sinais
básicos estabelecidos por Kanner. (BRASIL, 2013, p.14)

Em 1944, Hans Asperger, pediatra e pesquisador austríaco, publicou outros


artigos mostrando casos de crianças com “psicopatia autística infantil”, as quais possuíam
certa dificuldade de integração social, mas com um bom nível de inteligência e
linguagem. Essa condição ficou, então, conhecida como Síndrome de Asperger (DIAS,
2015).
O autismo e a síndrome de Asperger ficaram bastante conhecidos na época por
estarem entre os transtornos de desenvolvimento mais comuns e com maior carga
genética (KLIN, 2006). Na quarta edição do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais) classificou-se tais distúrbios entre os Transtornos Globais do
Desenvolvimento, pertencendo ao código F84 do CID, o qual possuía vários subtipos,
dentre eles o Autismo Clássico, Autismo Atípico, Síndrome de Rett, Transtorno

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Desintegrativo da Infância, Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a


movimentos estereotipados, e a Síndrome de Asperger (PIMENTA, 2019).
Em 2013, no entanto, o DSM5 englobou todas essas condições em uma só, o
Transtorno do Espectro Autista (TEA), a qual possui vários graus de acometimento, sendo
que os acometidos devem apresentar dificuldades nas interações sociais e na
comunicação, além de déficits comportamentais (WIGGINS, et al., 2019). Vejamos o que
o neurologista pediátrico Cley Brites diz sobre o assunto:

Transtorno do Espectro Autista é um termo mais recente e já vem do DSM5


com essa definição. O manual ajuda a nortear a avaliação de comportamentos
de seres humanos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. (...) Espectro,
no dicionário, é igual à sombra (...) Algumas pessoas apresentam leves
características, outras muitas características. Levando a um pensamento de
continuidade entre poucos sintomas e muitos sintomas. Tem pessoas que
apresentam leves traços, outras muitos traços. (...) O espectro varia de uma
forma considerável de acordo com a criança, com o momento do diagnóstico,
e depois de várias intervenções isso vai se modificando. (BRITES, 2015, 21:02
– 23:12 min)

Ele ainda avalia a importância da mudança de nomenclatura a partir do DSM5:

Muitas crianças apresentam outros transtornos, como o TDAH, e apresentam


sinais de espectro autista associado. Não é o quadro principal, mas o autismo
vem se associando ao quadro. (...) Essa mudança de nomenclatura foi muito
importante para que a gente não esqueça que esses traços também precisam de
intervenção. Muitas crianças ficavam sem uma abordagem direcionada para as
características autísticas dela, porque eram quadros muito leves e muitos
profissionais consideravam que não era necessário uma intervenção. (BRITES,
2015, 23:26 - 24:22 min).

Atualmente, o TEA possui, assim, três graus de autonomia, sendo estes: leve
(exigindo apoio), moderado (exigindo apoio substancial) e grave (exigindo apoio muito
substancial) (PIMENTA, 2019). Acometidos com o grau leve possuem falta de interesse
em interações sociais, inflexibilidade de comportamentos, dificuldade em trocar de
atividade e um certo nível de dependência. No grau moderado, os acometidos possuem
grandes déficits de comunicação, limitando mais ainda as interações sociais, além de
dificuldade em lidar com mudanças e comportamentos restritos e repetitivos. Já os
acometidos com o grau grave possuem também grandes déficits de comunicação e uma
alta limitação nas interações sociais, dificuldade extrema em lidar com mudanças e
comportamentos restritos e repetitivos que comprometem acentuadamente a vida pessoal
(SAVALL & DIAS, 2018).

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Dessa forma, o DSM 5, reformulado em 2013, traz a seguinte definição de TEA:

O transtorno do espectro autista caracteriza-se por déficits persistentes na


comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo
déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de
comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver,
manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação
social, diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de
padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p.31)

Contata-se, assim, que até o momento houve um avanço histórico para o


conceituar o TEA, mas acredita-se que o passo mais importante não está na terminologia
usada para a sua definição, mas sim na intervenção precoce das crianças com o transtorno.

2.2. NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL


Durante muito tempo acreditou-se que o cérebro humano permanecia imutável por
toda a vida, porém estudos recentes da Neurociência comprovam que a cada nova
experiência, o nosso cérebro está em constante mudança e adaptação, definindo o
conceito de plasticidade cerebral (RELVAS, 2010).
As novas descobertas demonstram que o Sistema Nervoso Central (SNC) é dotado
desta capacidade. Tal ocorrência colabora para aprimorar consideravelmente o
desenvolvimento de habilidades no ser humano desde o início ao fim da vida (SALES,
2013).

A neuroplasticidade ou plasticidade neural é definida como a capacidade do


sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões
de experiência, e a mesma pode ser concebida e avaliada a partir de uma
perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou funcional (modificação do
comportamento). Todos os processos de reabilitação neuropsicológica, assim
como as psicoterapias de um modo geral, se baseiam na convicção de que o
cérebro humano é um órgão dinâmico e adaptativo, capaz de se reestruturar em
função de novas exigências ambientais ou das limitações funcionais impostas
por lesões cerebrais. (SALES, 2013, p.2)

Dentro desta convicção, estudos mostram que o cérebro de um recém-nascido


sofre um aumento de volume muito significativo, cerca de 1% por dia no período pós-
natal inicial. A infância é, assim, o momento de maior plasticidade neural, a qual diminui
sua intensidade de acordo com o crescimento ou envelhecimento. Nesse sentido, o
comportamento da criança pode ser mais facilmente alterado a partir da exposição a
estímulos ambientais específicos. Isso sinaliza os benefícios de uma intervenção precoce,
como nos casos do TEA, das dificuldades de aprendizagem e socialização, dentre outras

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disfunções ou patologias presentes no desenvolvimento da criança (HEFFLER,


OESTREICHER, 2015).
É constatado ainda que um cérebro bem estimulado aumenta a conexão entre as
células nervosas, melhorando também a memória e a capacidade de raciocínio, entre
outras funções superiores (RELVAS, 2010).
Essa capacidade cerebral é bem explicada no trecho a seguir:

O cérebro em desenvolvimento é plástico, ou seja, capaz de reorganização de


padrões e sistemas de conexões sinápticas com vista à readequação do
crescimento do organismo às novas capacidades intelectuais e
comportamentais da criança. (PINHEIRO, 2007, p. 44)

Nesse sentido, a plasticidade cerebral pode ser considerada uma descoberta


recente, mas está comprovado que a mesma nos permite aprender e reaprender
constantemente habilidades que estão ausentes ou que foram perdidas ao longo da vida.

2.3. INTERVENÇÃO PRECOCE


Geralmente, os sinais e sintomas do TEA podem ser identificados entre os 12 e 24
meses de idade, porém o diagnóstico ocorre, em média, aos 4 ou 5 anos. Esses dados
refletem uma situação lamentável, já que a intervenção precoce pode diminuir
significativamente os danos cognitivos e aumentar o nível de adaptação da criança. Além
disso, alguns estudos sugerem que o transtorno pode até não se desenvolver
completamente após a intervenção por conta da plasticidade cerebral (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
No desenvolvimento das crianças é esperado que habilidades previstas se
concretizem, em cada etapa, desde o início das suas vidas: os reflexos motores, a reação
do sorriso, o escutar, a atenção compartilhada, o balbuciar, engatinhar, andar, falar, etc.
Diante destas observações, pode-se concluir que quando uma ou mais habilidades
esperadas não surgem no tempo devido, começam a aparecer lacunas no
desenvolvimento. Devido a essa não apropriação esperada, torna-se necessário
intervenções nos campos do desenvolvimento, da aprendizagem e comportamento da
criança considera que a principal finalidade da intervenção precoce é permitir que a
criança consiga superar problemas em seu desenvolvimento o mais cedo possível. Assim,
podemos concluir que é por meio dela que se tenta corrigir as disfunções que quando não
resolvidas, podem resultar em grandes deficiências nos processos de aprendizagens
futuras (CORREIA, 2005).

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[...]o transtorno autista está associado a prejuízos nos sistemas cerebrais


surgidos muito cedo na vida destas crianças. As intervenções precoces, por
causarem transformações nas sinapses neuronais do cérebro, que ainda se
encontram bastante flexíveis devido à pouca idade destas crianças, podem
ajudá-las a exibirem uma atividade mais normal do mesmo. (CORREIA, 2005,
p.39)

A partir dessas reflexões, constata-se que a intervenção precoce no TEA, consiste


em atuar sobre os sintomas iniciais do transtorno evitando que estes se tornem muitas
vezes irreversíveis e mais difíceis de se tratar.

3 ANORMALIDADES CEREBRAIS NO TEA


A criança com TEA possui anormalidades de desenvolvimento em várias áreas do
sistema nervoso central, dentre elas o neocórtex cerebral, estruturas do sistema límbico
(como o hipocampo e os corpos amigdaloides), gânglios basais, tálamo, tronco cerebral
e cerebelo. Tais anormalidades incluem displasia, alteração na neurogênese, e migração
neuronal anormal, a maioria das quais ocorrem no período pré-natal, com o cérebro em
desenvolvimento. Ainda, um achado muito comum associado ao autismo é a diminuição
do número de células de Purkinje no cerebelo, sendo esse provavelmente um processo
adquirido que ocorre no período pós-natal (HYMAN, LEVY, MYERS, 2020). Além
disso, alguns estudos observaram uma redução da densidade de empacotamento e do
tamanho das células de Purkinje em cerebelos de pessoas afetadas. Foi confirmado, assim,
que o desenvolvimento cerebelar anormal ou lesões no órgão em questão contribuem para
o aparecimento de características do transtorno do espectro autista (BRUCCHAGE,
BUCCI, BECKER, 2018).
Um outro ponto a ser destacado é a influência dos neurônios espelhos no TEA.
Esses são uma classe de neurônios presentes principalmente em áreas motoras do cérebro,
os quais são ativados quando um indivíduo realiza determinada ação motora ou observa
outra pessoa realizando um movimento, sendo importantes na compreensão das ações de
outros indivíduos. Tais neurônios parecem estar relacionados também com a capacidade
empática do indivíduo e a compreensão das chamadas “formas de vitalidade”, sendo essas
um conjunto de significados emocionais das ações realizadas por certa pessoa
(RIZZOLATTI, SINIGAGLIA, 2016). Dessa forma, por estarem ligados a compreensão
de ações, imitação e empatia, disfunções dos neurônios espelho podem comprometer o
aprendizado motor e social, o que é característico do transtorno do espectro autista
(KHALIL, et al., 2018).

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Um estudo utilizando estimulação magnética transcraniana foi realizado para


identificar o mecanismo neural de indivíduos com e sem autismo ao observar a execução
de uma ação, e foi relatado que, durante a observação de movimentos dos dedos, a
excitabilidade do córtex motor primário de indivíduos autistas era significativamente
menor do que em pessoas normais. Isso é um possível reflexo do comprometimento de
neurônios espelho em autistas, os quais não compreendem todos os aspectos do
movimento observado. Assim, várias experiências propuseram que indivíduos autistas
possuem déficits no sistema dos neurônios espelho, dificultando o mimetismo automático
e as expressões faciais dos mesmos, além de causar certa incompreensão das expressões
realizadas por outras pessoas e das formas de vitalidade (KHALIL, et al., 2018).

4 FUNCIONAMENTO CEREBRAL DA CRIANÇA COM TEA: ENTENDER


PARA ATUAR
O comportamento humano é de certa forma baseado no funcionamento do cérebro.
Este, quando organizado, se manifesta adequadamente pela demonstração de funções
neuropsicológicas, dentre as quais podemos destacar: memória, capacidade de armazenar
informações, função executiva, planejamento das ações, atenção, pensamento, raciocínio
e domínio da linguagem. Desenvolvendo essas habilidades, gradativamente, a criança
consegue interagir em seu meio, conviver socialmente e se apropriar das aprendizagens
(COSTA, et al., 2004).
No TEA, o funcionamento cerebral compromete principalmente as relações
sociais, a comunicação e o comportamento. Essas características parecem estar
relacionadas ao déficit na atenção compartilhada em indivíduos com TEA (BOSA, 2002).
A tal conceito, pode-se ressaltar:

A habilidade de atenção compartilhada tem sido definida como os


comportamentos infantis os quais revestem-se de propósito declarativo, na
medida em que envolvem vocalizações, gestos e contato ocular para dividir a
experiência em relação às propriedades dos objetos/eventos a seu redor.
(BOSA, 2002 p.81)

Os bebes acometidos com o TEA, revelam pouco interesse na comunicação e


interação social. Não olham com a mesma frequência para face, tem dificuldades no
contato ocular, respondem menos aos chamados pelo nome, demostram bastante
dificuldade em dividir expressões, emoções e sensações (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PEDIATRIA, 2019). Neste sentido, pesquisadores concordam em dizer que desde

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muito cedo precisamos ficar atentos às crianças com TEA, pois apontam pistas de como
está prejudicado o desenvolvimento e funcionamento das sinapses (COUTINHO,
BOSSO, 2015). Assim, quanto sinapses pode-se destacar:

A expressão ‘a aprendizagem depende de sinapses’, é muito significativa para


os educadores. Ela busca destacar o fato de que não basta ter neurônios; por
mais especializado que o neurônio seja enquanto célula (e ele é, de longe, a
célula com maior especialização funcional do organismo), isoladamente ele
não é nada. É fundamental que os neurônios estabeleçam conexões entre si,
pois somente a partir da formação das redes neurais torna-se possível o
aprendizado (em qualquer nível, desde o que resulta de comportamentos
inatos, como sugar, chorar, bocejar, até os denominados processos mentais
superiores, como o raciocínio lógico, a abstração, o planejamento).
(PINHEIRO, 2007.p.42)

Sabe-se também que cérebro da pessoa com TEA encontra-se sempre


hiperestimulado. Tal ativação cerebral recebida a cada dia, ocasiona uma sensibilidade
aumentada e exagerada. Podemos considerar que este fenômeno colabora para uma
tendência ao isolamento social e até mesmo ao afastamento de situações da realidade.
Isso explica as dificuldades para demonstrar atividades de interação social, por meio de
troca de experiências e comunicação com o outro. Devido a isso, podem aparecer
comportamentos auto regulatórios, como por exemplo a estereotipia. Esses
comportamentos revelam que o cérebro da pessoa com TEA funciona continuamente
ativado, o que permite também uma sensibilidade potencializada (ABUJADI, 2014). Veja
o que o psiquiatra infantil Caio Abujadi, especialista em autismo, fala sobre o tema em
um debate:

Nosso cérebro faz uma atividade de cada vez. Toda vez que fazemos uma
atividade desligamos uma atividade anterior. Mesmo quando estamos fazendo
duas atividades ao mesmo tempo, na realidade estamos fazendo uma atividade
de cada vez mais de forma bem rápida. O paciente com autismo não. Por ele
ter um cérebro hiperexcitado, ele liga uma atividade sem desligar a atividade
anterior. Ao longo do dia ele está fazendo 100, 200, 300, mil atividades ao
mesmo tempo em seu cérebro. Isso ele faz desde que nasceu. O cérebro dele é
assim. (ABUJADI, 2014, 0:25 – 0:58 min)

ABUJADI (2014) também enfatiza que quando se realiza alguma intervenção


para tentar fazer com que o cérebro das pessoas com TEA funcione semelhante ao das
pessoas neurotípicas, ele se desorganiza e entra em crise. Por isso sugere-se à equipe que
atende diretamente as crianças com essa condição que possam compreender o
funcionamento cerebral dos acometidos, uma vez que as crises trazem sofrimentos
intensos a estas pessoas.

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Desde pequenos, eles vão criando um método para se organizarem. Você tem
um padrão de comportamento repetitivo. Na realidade, isso é um cérebro
tentando se organizar. Então, eles sempre voltarem para o mesmo “start”, faz
com que eles continuem funcionando de forma adequada naquele mar de
estímulos que possuem. Eles precisam seguir uma linha reta dentro desse mar
de estímulos. Quando eu coloco um bloqueio nesse comportamento repetitivo
e peço para parar de fazer aquilo, ou bloqueio um ritual, uma rotina ou até uma
estereotipia, eles caem de novo nesse mar de estímulos e aí se desorganizam
completamente. (ABUJADI, 2014.1:13 – 1:51min)

Um outro ponto comentado pelo psiquiatra infantil, mostra que:

O cérebro imaturo é mais sensorial e mais motor. Por isso encontramos


predomínio de comportamentos repetitivos motores (estereotipias) e sensoriais
(hipersensibilidades tátil, gustativa, olfativa, visual e auditiva). Conforme o
cérebro vai amadurecendo, esses padrões de comportamentos repetitivos vão
mudando para uma ordem superior, que são comportamentos mais maduros,
baseados em rituais, rotinas, compulsões. E quando o comportamento
repetitivo se torna um padrão exemplar, são desenvolvidas as grandes
habilidades, conhecidas pela ‘insistência na mesmice’. Este quadro é
demonstrado quando o paciente começa a estudar temas diferenciados, então
ele sabe tudo sobre astronomia, sobre os animais, sobre os dinossauros... Veja,
tem-se o mesmo comportamento, que é uma estereotipia e o alto interesse por
astronomia; é a mesma forma de trabalhar aquele cérebro hiperexcitado, só que
com padrões cognitivos diferentes. (ABUJADI, 2014, 2:00 – 3:13 min).

Diante disso, a Neurociência revela que o funcionamento cerebral se utiliza das


redes neuronais para toda aprendizagem, seja ela cognitiva ou social. De acordo com
ABUJADI (2014), a vida inteira, desde que nascemos, criamos redes neuronais durante o
dia, as quais, são memorizadas à noite. A cada dia, essas redes neuronais são reativadas
para acrescentar novas informações. As pessoas com TEA, diferentemente das
neurotípicas, possuem redes de preferência as quais se organizam de maneira própria.
Seguindo essa ideia, o psiquiatra infantil exemplifica uma forma de intervenção:

Eu tenho que atrelar as novas informações do dia a essas redes neuronais de


interesse. Então, se um paciente está lá super interessado em bichos, em fazer
desenhos, e eu quero que ele se interesse por outras coisas, eu posso através
dos bichos, ir dando um conhecimento sobre outras áreas. Se quero que ele
aprenda sobre o céu, eu vou falar que aquele bicho está brincando num lugar
ensolarado, que tem nuvens, que tem sol, e aí, de repente eu estou falando do
céu, e deixei os bichos de lado, mas eu estou usando as mesmas redes
neuronais. Então, nós temos que usar o comportamento repetitivo a nosso favor
e fazer com que ele amplie o espectro de conhecimento em cima desses
conhecimentos e dessas situações específicas. (ABUDAJI, 2014, 3:44 – 4:41
min)

Por fim, psiquiatra acrescenta que todos deveriam ver os sujeitos com TEA como
eles são e quanto a isso destaca: “Não tentem transformá-los em pessoas típicas, porque

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se conseguirmos dar para eles o mundo que precisam, eles irão se desenvolver super
bem.” (ABUJADI, 2014. 4:33 – 4:49 min).
Neste sentido, entende-se como indispensável, à toda pessoa que lida com essas
crianças, aprofundar conhecimentos acerca desse funcionamento cerebral tão peculiar
diante do transtorno. A capacitação é essencial para melhorar as intervenções e
consequentemente a qualidade de vida dessas crianças comprometidas.

5 PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO


Entender que o TEA é uma condição ao longo da vida, mostra o quanto é
significativo a intervenção precoce. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Pediatria,
no dia 01 de Abril de 2017, apresentou um Documento Científico atribuindo aos pediatras
a tarefa de triagem precoce para Autismo/Transtorno do Espectro Autista:

O Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da


Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda aos pediatras profissionais de
saúde que trabalham com crianças da primeira infância o instrumento de
triagem de indicadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA), chamado
Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT). No Brasil o M-CHAT
foi traduzido e validado para o Português (cultura brasileira) em 2008. O TEA
é caracterizado por déficits e dificuldades na comunicação e interação social,
associados a interesses e atividades restritas e circunscritas. O TEA é
classificado, de acordo com a última versão do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5), como sendo um transtorno do
desenvolvimento, cujas características clínico-sintomatológicas iniciam nos
primeiros anos da infância ... Após os 18 meses, os traços de autismo tornam-
se mais evidentes. O pediatra deve investigar qualquer atraso de linguagem
verbal ou não-verbal, contato social e o interesse no outro deficitários,
interesses repetitivos proeminentes e estereotipias...Quanto mais precoce for o
diagnóstico, mais rápido o tratamento poderá ser iniciado e os resultados serão
mais expressivos, uma vez que as janelas de oportunidades estão abertas nos
primeiros anos de vida e a velocidade de formação de conexões cerebrais e
neuroplasti0cidade estão na fase de maior desenvolvimento no cérebro
...Quanto mais precoce a criança iniciar a estimulação, mais chances de ter a
trajetória do seu desenvolvimento otimizada, além da possibilidade de
melhorar os resultados no funcionamento sócio adaptativo a longo prazo. É
papel de todo pediatra investigar na anamnese, na avaliação física e na
aplicação de escalas qualquer atraso do desenvolvimento neuropsicomotor.
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. 2017, p.1)

A contribuição dos estudiosos nesse transtorno, induz a concluir que os cuidados


com o diagnóstico e a intervenção precoce, além do pediatra, deve ser realizado por uma
equipe multidisciplinar. A importância de se ter a atuação dos profissionais de diversas
formações, é devido ao resultado das intervenções diferenciadas que proporcionam
gradativamente uma melhora em cada especialidade do quadro, por isso a criança deve
ser acompanhada por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais,

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psicopedagogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e educadores físicos por exemplo,


sendo papel do pediatra encaminhar cada caso a esses especialistas. Ainda, a participação
da família é essencial, portanto os pais devem também ser capacitados por tais
profissionais para um adequado acompanhamento domiciliar à criança com TEA
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
Um outro ponto a ser destacado, ao se propor estratégias de intervenção, refere-se
a novas observações no DSM5, quanto ao grau de classificação do transtorno.

O grau de autismo serve para nos dar um norte de quais são as prioridades que
devemos ter com essa criança. Com base na intensidade dos casos que as
intervenções são aplicadas é importante saber o nível de linguagem, a
quantidade de estereotipia, entre outros. Há casos de autistas que nunca vão
falar, mas isso se deve ao fato de muitos pais levarem seus filhos aos 6 ou 7
anos, considerado tarde para o diagnóstico. (NEUROSABER,2017,p.1)

Vale enfatizar que a proposta atual concordada pelos especialistas em TEA, é a de


encaminhar para tratamento crianças ainda muito novas que apresentem alguns dos sinais
considerados de alerta para TEA. São esses: falta de sorrisos ou expressões alegres aos 6
meses de idade; falta de resposta às tentativas de interação aos 9 meses; não balbuciar ou
se expressar, não responder ao nome quando chamado, não apontar para objetos e não
seguir com o olhar gestos que outros lhe fazem aos 12 meses; não falar nenhuma palavra
aos 15 meses; não expressar os seus desejos aos 18 meses; e não falar frases com duas
palavras que não seja repetição aos 24 meses (SAVALL & DIAS, 2018).
Quanto a Intervenção medicamentosa, esta não existe para o tratamento do TEA,
no entanto os medicamentos utilizados são direcionados a sintomas associados ao quadro
quando esses interferem negativamente na qualidade de vida do paciente. Quando
necessário, se restringe a um determinado grupo que apresenta comportamentos como
irritabilidade, impulsividade e agitação, além de comorbidades como ansiedade,
depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH), epilepsia e transtornos do sono (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PEDIATRIA, 2019).
Nas terapias não medicamentosas, a abordagem comportamental trata-se de uma
forte tendência ao tratamento e intervenção. Em síntese, podemos mencionar que nesta
linha terapêutica, as técnicas de intervenção são baseadas em reforço positivo e negativo
para manter ou extinguir os comportamentos desejáveis ou indesejáveis. São realizadas
estratégias que treinam a comunicação, interação social e aprendizagem escolar. Nesta
abordagem, procura-se também ampliar a atenção, diminuir comportamentos

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disfuncionais e auxiliar a família em relação à condição da criança (MOTA, VIEIRA,


NUERNBERG, 2020).
Há diversas abordagens que podem ser utilizadas no tratamento de pessoas com
TEA, as quais devem ser escolhidas pela equipe profissional e direcionadas a cada caso
em específico.

A escolha do método a ser utilizado no tratamento e a avaliação periódica de


sua eficácia devem ser feitas de modo conjunto entre a equipe e a família do
paciente, garantindo informações adequadas quanto ao alcance e aos
benefícios do tratamento, bem como favorecendo a implicação e a
corresponsabilidade no processo de cuidado à saúde. (BRASIL, 2014, p.63)

Alguns métodos são utilizados para reduzir as estereotipias, estimular a linguagem


e integração sensorial como: o ABA (Análise Aplicada do Comportamento), o TEACCH
(Tratamento e Educação para autistas) e o modelo DIR-Floortime. O primeiro utiliza a
análise criteriosa do comportamento humano a fim de promover estratégias de
intervenção que remodelem o comportamento do paciente. O segundo utiliza diferentes
serviços profissionais para desenvolver a autonomia e independência da criança. Já o
modelo DIR-Floortime permite a intervenção no desenvolvimento da criança de maneira
integral, com brincadeiras nas quais a criança pratique habilidades básicas de pensamento
(SAVALL & DIAS, 2018).
Há ainda estudos recentes os quais sugerem que a exposição audiovisual de forma
excessiva pode ser considerada um fator de risco ambiental para o TEA. Isso se explica a
partir da plasticidade cerebral, pelo fato de que se a criança concentrar sua atenção nas
telas de aparelhos eletrônicos por muito tempo, as vias neurais responsáveis por essa
atenção competem com as vias sociais do cérebro, fazendo com que o indivíduo não seja
estimulado socialmente, o que contribui para a intensificação dos sintomas do autismo.
Por isso, uma forma de intervenção precoce seria diminuir o tempo de exposição da
criança à tela audiovisual e promover interação social face a face com atenção
compartilhada, estimulando diferentes vias neurais (HEFFLER, OESTREICHER, 2015).
Ao pensarmos na intervenção terapêutica na abordagem desenvolvimentista, o
pressuposto fundamental refere-se no aparato biológico, emocional e nas questões inatas
que acompanham o desenvolvimento da criança. Nesta perspectiva,

[...] a ênfase é posta nos processos maturacionais, o que subsidia a maioria das
concepções de desenvolvimento, “normal e anormal”, nas áreas médica e
psicológica, a exemplo da Psicanálise, da Epistemologia Genética de Jean
Piaget, do Comportamentalismo, entre outras, considerando-se a frequência

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com que são observados na população como critério de inclusão em


determinada classificação e diagnóstico. (GATTO, 2010 p.38).

Neste sentido, a proposta de intervenção precoce é sempre favorável ao


desenvolvimento do ser humano seja ele comprometido ou não com sinais e sintomas
característicos de alguma doença ou condição.

No campo do desenvolvimento, da aprendizagem e do comportamento infantil,


a intervenção precoce consiste em buscar, por meio de um processo
sistematizado e embasado em experiências positivas, remediação ou correção
de atrasos ou anormalidades dos vários tipos de eixos do desenvolvimento
neuropsicomotor ou comportamental. Sua finalidade principal é permitir que
a criança consiga superar problemas em seu desenvolvimento tão cedo possível
que, se não resolvidos, surtirão grandes deficiências nos processos de
aprendizagens futuras mais complexas. É permitir que esta atinja habilidades
ainda ausentes e que serão pré-requisitos para novas aprendizagens.
(NEUROSABER, 2016, p.1).

Pensando no desenvolvimento da criança e em tudo o que ela tem para viver,


programar estratégias de intervenção é importante porque: em primeiro lugar, ainda não
se tem a cura para o TEA; em segundo lugar, porque os primeiros meses e os primeiros
anos configuram o período da vida de maior plasticidade e mais rápido crescimento
cerebral; e em terceiro, porque sabemos que é na relação com o outro, que os bebes se
desenvolvem no bem-estar emocional, social, incluindo também a sua capacidade de
formar relacionamentos satisfatórios e seguros. Portanto, reforçando o que já foi discutido
neste estudo, cabe aos pais, ao pediatra especialmente e a todo profissional que lidar com
a criança, detectar os mais discretos sinais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA, 2019).
Um outro ponto a ser destacado para a intervenção no TEA, refere-se ao que se é
proposto na abordagem histórico cultural em que o sujeito é percebido num processo
dinâmico de interações com o mundo. Desde que nascemos estamos inseridos no meio
social e recebemos mediações indispensáveis para o nosso desenvolvimento, sendo
fortemente influenciados por relações sociais (LANE, 2006).
A criança com TEA, por apresentar dificuldades na socialização, interação e
comunicação, ao receber intervenções por meio do outro, no papel da figura materna,
paterna, de um cuidador, professor ou um colega, pode passar a ter ganhos indispensáveis
no seu desenvolvimento (SAVALL & DIAS, 2018). Ao pensarmos na aprendizagem
como um processo, entendemos que ela nunca é estanque e passa a ser uma grande
oportunidade para oferecer condições de recuperar falhas no desenvolvimento como

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também melhorar o desempenho das potencialidades nas funções mentais superiores e


habilidades executivas (CAVALCANTI, 2005).

A ideia a se ressaltar aqui é a de que as funções mentais superiores do homem


(percepção mediada, memória mediada e pensamento abstrato) desenvolvem-
se na sua relação com o meio sociocultural, relação esta que é mediada por
signos. Assim, o pensamento, o desenvolvimento mental, a capacidade de
conhecer o mundo e de nele atuar é uma construção social que depende das
relações que o homem estabelece com o meio. (CAVALCANTI, 2005, p 187).

O desenvolvimento das potencialidades, também analisado por Vygotsky, nos faz


acreditar que as pessoas com TEA, livres do preconceito que as cercam, quando mediadas
por sujeitos capacitados, conseguem avançar na sua relação com o mundo (ORRU, 2010).

A abordagem histórico-cultural de Vygotsky está fundamentada na


participação do outro na constituição do sujeito em sua relação com o mundo,
por meio da ação mediadora. Ou seja, nenhum ser humano deve ser privado de
se relacionar com outras pessoas, o ambiente onde as relações sociais são
privilegiadas é o melhor e o mais adequado, independente desta pessoa ter ou
não alguma deficiência. (ORRU,2010, p.3)

Dentro deste contexto, ao se propor estratégias de intervenção tendo em vista o


desenvolvimento das potencialidades da criança com TEA, precisamos lembrar que no
papel de mediador, estamos fazendo a nossa história, mas estamos também,
principalmente, interferindo na história do outro. Diante disso, concluímos que o papel
da mediação na intervenção precoce é inquestionável, pois são nas fases iniciais da vida
que os caminhos neuroplásticos, ainda livres no cérebro, estão prontos para serem
estimulados. Assim, trabalhar passo a passo para desenvolver esse potencial, com
certeza, irá superar falhas e preparar melhor a criança comprometida a novos desafios na
sua vida futura.

6 CONCLUSÃO
O TEA se caracteriza pela presença de um desenvolvimento com dificuldades na
interação, comunicação social e um repertório restrito de atividades e interesses.
A infância é o período de maior plasticidade do cérebro, a qual vai diminuindo
sua intensidade de acordo com o crescimento ou envelhecimento. Devido a isso, a
proposta é de encaminhar as crianças com TEA para a intervenção o mais cedo possível,
uma vez que, se a mesma possuir o transtorno, os sinais já podem ser identificados nos
primeiros meses e primeiros anos de vida.

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A neurociência, assim como as psicoterapias de um modo geral, constatou que o


cérebro humano tem a capacidade de se reestruturar mediante a formação de novas
sinapses. Assim, é possível entender que, melhorando a rede sináptica, pode haver uma
consequente melhora na memória, na capacidade de raciocínio, na atenção e em diversas
outas funções mentais superiores.
Outra iniciativa diante da necessidade de intervenção precoce no TEA, é a
apontada diante do diagnóstico de observação em que cabe aos pais e aos pediatras serem
os primeiros a suspeitarem da presença de algum sinal por serem as pessoas mais
próximas da vida do bebe acompanhando seu desenvolvimento.
Entendemos que atualmente o tratamento do TEA não remete à cura, mas é
indicado acompanhamento por uma equipe formada por vários especialistas para intervir
precocemente, pois toda intervenção acontece dentro de um contexto social, histórico e
interativo. Para isso é preciso: adequar posturas profissionais, entender o papel do
mediador na atuação e propor estratégias de intervenção que busquem ao máximo o
desenvolvimento das potencialidades da criança com TEA.
Com a proposta de estratégias da equipe multidisciplinar, visa-se diminuir os
sintomas presentes, uma vez que os mesmos colaboram para afastar a pessoa da realidade.
Tendo em vista a seriedade do Transtorno do Espectro Autista e os prejuízos que
causam na vida de quem o tem, a capacitação das pessoas para lidarem com a intervenção
precoce no TEA é de fundamental importância para que o desenvolvimento dessas
crianças seja mais enriquecido de possibilidades humanas.

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