Resenha Modernidade Líquida: Trabalho (Cap. 4)

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola de Comunicação

Resenha: “Modernidade Líquida” – Cap. 4 “Trabalho”

Por Tales Yamaguchi – DRE.: 108022227

Entregue à professora Maria Helena Junqueira.

Rio de Janeiro
2011.1
No livro “Modernidade líquida” de Zygmunt Bauman, mais
especificamente no capítulo 4, intitulado “Trabalho”, o autor inicia sua
argumentação falando sobre o trabalho e suas primeiras significações. O termo
labour, que inicialmente era usado para definir “o esforço físico para atender as
necessidades materiais”, também passou a ser utilizado para designar “o corpo
geral de trabalhadores e operários”, além da própria política por estes exercida.
Era a chamada “trindade do trabalho”. Essas três definições que ascendem
juntas irão, na sociedade moderna e líquida, cair, como mais a frente se fará
presente no texto.
No contexto da sociedade Fordista, o autor cita o próprio Henry Ford,
que em determinado momento, aumentou o salário de seus funcionários, com a
justificativa de que tal aumento estaria sendo oferecido para que seus
funcionários pudessem adquirir os automóveis por eles produzidos. Essa
justificativa era obviamente falsa, uma vez que os lucros gerados por tal
compra feita pelos trabalhadores eram extremamente insignificantes às vendas
de modo geral. O que Ford estava na verdade fazendo, era reforçando uma
das principais características da sociedade moderna sólida. Ao aumentar o
salário de seu funcionário, ele estava na verdade fazendo com que o
trabalhador ficasse dependente de sua empresa, gerando uma fidelidade
eterna e fazendo com que os gastos feitos na construção e na aprendizagem
da mão de obra do trabalhador fossem pagos através do esgotamento de toda
sua força de trabalho.
Esta modernidade sólida poderia ser classificada como o momento do
capitalismo pesado, do engajamento entre capital e trabalho, fortificado pela
mutualidade de sua dependência. O trabalho dependia do empregador e o
empregador dependia do trabalhador, neste modelo sólido, onde a empresa
estava fixa em um determinado local, a mobilidade era inexistente e
financeiramente inviável.
O “Estado de bem-estar” teria então um papel fundamental neste
contexto de dependência mutua. Estando “além da esquerda e da direita” o
Estado deveria garantir que os empregadores detivessem o capital, através de
diminuição de impostos e etc. Outro ponto fundamental a este modelo era o
chamado “exercito reserva de trabalho” onde os desempregados deveriam ser
mantidos em estado de prontidão, caso fossem solicitados, pois se o
desemprego não existisse, o valor do trabalho e conseqüentemente o poder de
barganha do trabalhador, aumentaria consideravelmente.
Neste Capitalismo pesado, aquele jovem que, por exemplo, iniciasse a
sua carreira na empresa Ford, poderia ter a certeza que passaria o resto de
sua vida trabalhando para aquela instituição. A idéia de “longo prazo” estava
naturalmente embutida nos laços trabalhistas. Foi apenas após a Segunda
guerra mundial, que começou a se conhecer um novo momento, caracterizado
pela “estabilidade relativa”.
Esta nova fase surge com o conceito de “curto prazo”. Casamentos
longos e duradouros passam a ser raridade. Os jovens que antes acreditavam
na fidelidade de seus empregadores, hoje, possuem a certeza de que, ao longo
de sua vida, irão circular por diversas empresas e inúmeros cargos. O que
aconteceu foi que a nova mobilidade dos tempos atuais, fez com que o capital
pudesse se deslocar livremente para qualquer parte do globo.
Caso uma empresa se sentisse menos favorecida em determinada
região, poderia rapidamente migrar para outro estado ou país que a oferecesse
melhores condições de distribuição ou impostos mais baixos e etc.
“Flexibilidade” é a palavra de ordem, os contratos estão feitos em curto prazo
ou se tornam até mesmo inexistentes.
Obviamente, a questão da instabilidade no trabalho sempre existiu,
porém o que acontece agora é a individualização dos medos. A aleatoriedade,
a falta de explicação dos motivos dados à uma demissão, fazem com que as
angustias se tornem individuais e assim, aquela idéia de solidariedade coletiva,
de corpo unido de trabalhadores se enfraquece cada vez mais.
O trabalho se adapta então, ao esquema de curto prazo, o local de
trabalho deixa de ser uma “casa” onde se deve aprender a conviver com os
outros trabalhadores que lá habitam e passa a ser como um acampamento,
onde se passa determinado período de tempo e caso este não satisfaça suas
expectativas, pode-se naturalmente largá-lo e procurar uma nova opção. E é
dai, portanto, que surge o conceito de “laços fracos”. Nesta nova fase, que
pode ser intitulada de Capitalismo leve, flutuante, aqueles laços fortes de
dependência mutua, entre empregador e trabalhador, estão saturados.
Como já citado anteriormente, a própria instituição do casamento
também sofre suas modificações. O “viver junto”, a coabitação passa a ser
cada dia mais comum, e assim como no caso do trabalho, a partir do momento
que alguma das parte não se de por satisfeita com qualquer aspecto do
relacionamento, pode então, partir a procura de novas opções.
Outra forte característica desse novo modelo, é que não sem vendem
mais objetos de consumo, e sim idéias. Idéias a serem consumidas, e é este
consumidor o novo foco do sistema capitalista. Onde quer que haja novas
possibilidades de consumo, as empresas irão migrar para que o mercado
continue sempre ativo.
Após analisar tais características desta nova modernidade líquida,
Bauman nos apresenta uma breve história sobre a procrastinação. O ato de
procrastinar seria afirmar que alguma coisa pertence ao futuro, ou seja não ao
presente, seria basicamente esse ato de adiar, manipular sua atitudes em
função de adiar, prolongar a espera de determinado acontecimento ou coisa.
A idéia da vida como uma peregrinação, faz com que o presente atual
faça sentido, pois para que determinado futuro almejado se faça possível, o
presente deve ser de determinada maneira. Mas a partir do momento em que
essa distancia entre presente e futuro desejado é eliminada, o presente passa
a não mais fazer sentido. A vida do peregrino seria então uma viagem continua
em direção a realização, onde presente e futuro matem sempre uma distancia
para que se possa continuar caminhando.
É nesta idéia de peregrinação que se baseia o conceito de adiamento da
satisfação, onde “arar e semear” estão à cima de “colher e ingerir” um produto,
o investimento está à cima do lucro e etc. Quanto maior fosse a espera, maior
seria o premio. A idéia da espera contínua enobrece seu próprio ato e faz com
que a colheita, mesmo que muito distante, seja infinitamente maior. Neste
contexto, o adiamento do “gozo”, em outras palavras, do consumo, mantém o
produtor nas mãos do consumidor, o que mudou completamente na nova
modernidade fluida.
Nesta nova liquidez que nos é característica, esta longa espera entre
desejo e gozo, não é mais valorizada. George Steiner nos define como a
“cultura do cassino” onde a espera é curta, porém a realização também. Como
em um cassino, o gozo pelo fato de se ganhar deve durar apenas até se surgir
um novo desejo de se fazer novas apostas. Estes seriam, portanto, o começo e
o fim da procrastinação.
Mais a frente, o autor cita Pierre Bourdieu, que em um de seus livros,
menciona a precariedade, a instabilidade e a vulnerabilidade como algumas
das principais características desta nova modernidade. Em uma sociedade
onde empregos seguros parecem fazer parte de contos imaginados por nossos
avôs, é muito difícil encontrar aqueles que se sintam complemente seguros em
seus empregos.
Em um mundo em que a insegurança é central, o adiantamento do gozo,
do prazer, se faz uma opção muito plausível. A partir do momento em que nada
é certo, de nada valeria a pena esperar e adiar a satisfação, pois no fim, esta
poderia nunca ser alcançada.
O mundo passa a ser então, um local que nos apresenta diversos
objetos descartáveis, que devem ser consumidos e imediatamente trocados.
Esse ideal não serve apenas para objetos de consumos, mas também para as
próprias relações humanas.
A partir disso, a própria relação para com os trabalhadores também
muda. O operário é treinado apenas para exercer uma determinada função
específica dentre de um processo de montagem, não possuindo a noção de
todo, se tornando cada vez mais descartável e substituível.
Nesta esfera onde o futuro se apresenta de maneira, nebulosa e cheia
de riscos, optar pelo bem coletivo em detrimento da satisfação imediata e
individual não parece uma opção razoável.
Para finalizar, aborda-se a questão da confiança. Anteriormente os
trabalhadores reivindicavam seus direitos aos empregadores, o que representa
de certa forma, a existência de uma confiança no poder que os empregadores
detinham, a partir do momento que estes passavam a idéia de segurança, da
oferta de um emprego “estável”.
Na modernidade liquida o distanciamento desta confiança, o
enfraquecimento dos laços, faz com que qualquer tipo de engajamento fique
enfraquecido. Não valeria, portanto, lutar pelos direitos de algo que seria
passageiro e sem base concreta.

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