Thomas Hobbes
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes
Introdução:
Thomas Hobbes vivenciou grandes eventos da História em seu tempo. Além de ter sido
contemporâneos destes eventos, os acompanhou de perto. Estava atento a eles. Mas não
apenas a Revolução Gloriosa, a Guerra Civil Inglesa, a Guerra dos Trinta Anos, as Frondas
na França, a destituição da monarquia inglesa, a ascensão de Oliver Cromwell ao poder, a
retomada do poder pela monarquia após a morte de Cromwell, entre outros episódios
históricos da época.
Hobbes viveu, pressentiu, investigou e escreveu na passagem da Idade Média (Medievo) para
a Idade Moderna. Os avanços científicos e culturais que começavam a abrir a passagem para
a Modernidade foram captados por Thomas Hobbes.
A visão do Pensador inglês é marcada pelos avanços da física, da matemática e da mecânica.
Ainda jovem, Hobbes já percebera a insuficiência do ensino tomista-aristotélico praticado na
Academia de então. Partiu em busca de outros saberes, conhecimentos. Devido à sua
proximidade com a monarquia, pode atuar como preceptor e viajar pelas principais praças de
desenvolvimento científico e cultural da Europa de então. Esteve com René Descartes, com o
mentor deste, Marin Mersenne. Debateu filosoficamente com Descartes, talvez o filósofo
mais marcante na passagem para a modernidade (em História da Filosofia, o estudo do
período moderno começa com a leitura de Descartes). Visitou Galileu Galilei.
1. OBJECTIVOS
Geral: Compreender as Ideias Políticas de Thomas Hobbes.
1.1. Específicos:
Identificar as ideias chaves de Thomas Hobbes;
Mostrar quem foi Thomas Hobbes;
Analisar as formas de Governo segundo Thomas Hobbes.
1.2. METODOLOGIA
Segundo Gil, (2002) o objectivo dos métodos é proporcionar os meios técnicos ao
investigador visando garantir a objectividade e a precisão no estudo dos factos sociais, de
forma específica relata o autor que “visam fornecer a orientação necessária a realização da
pesquisa social sobretudo no referente a obtenção, processamento e validação dos dados
pertinentes a problemática que está sendo investigada.” (Gil 2008, p. 15)
2. Os fundamentos contratuais de um Estado forte: HOBBES
THOMAS HOBBES, de nacionalidade inglesa, nasceu em Wesport, Masmesbury, em 1588.
Filho de um pastor anglicano apagado e pouco culto, o jovem HOBBES foi educado por um
tio bastante mais evoluído, que lhe ensinou o grego e o latim, e frequentou depois, a partir
dos 15 anos, a Universidade de Oxford.
É, precisamente em Paris e já com mais de 50 anos de idade, que HOBBES redige uma vasta
bibliografia cientifica, histórica e filosófica, da qual se destaca, a sua grande obra prima, o
“Leviathan”, publicado em 1651, ano do seu regresso a Londres. Dois anos antes deste
regresso, HOBBES, ainda exilado em França, tem notícia da decapitação de CARLOS I
(1649). O período de turbulência e conflito armado que antecede a morte do rei e que se lhe
segue mais reforça ainda o sentimento de horror que HOBBES nutria em relação à desordem,
à anarquia, à guerra civil, e a sua firma determinação de construir uma teoria política capaz
de dar uma base racional a um Estado forte. HOBBES procura, pois, justificar um poder
absoluto, ainda que não necessariamente o de um Rei hereditário. Contanto que o Estado seja
forte e garanta a paz e a segurança. Considerado, por muitos, como um grande pensador e
como um dos mais
vigorosos e originais filósofos da política. HOBBES formula um pensamento que facilmente
se pode qualificar como autoritário e tendente, a reforçar, tanto como MAQUIAVEL e ainda
mais do que BODIN, a Monarquia absoluta dos séculos XVII E XVIII.
Este será, segundo, HOBBES, o panorama desolador do homem entre a si próprio, sem
Estado se sem autoridade, no “estado de natureza”. “ nesta guerra de todos os homens contra
todos os homens, há também esta consequência: é que nada pode ser injusto. As noções de
certo ou errado, justo ou injusto, não têm ali qualquer lugar; onde não há um poder comum,
não há lei; e onde não há lei, não há injustiça (…). A justiça e a injustiça não são faculdades
do corpo ou do espírito; são qualidades que se relacionam com o homem em sociedade, não
em solidão.
Descreve ainda: também é uma consequência da mesma condição (o “estado de natureza”)
que ai não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a
cada homem aquilo de que ele puder apossar-se, e só pelo tempo por que o puder manter.
HOBBES, considera então que os homens só se obrigam perante o Soberano no âmbito dos
fins que os determinam a formar o Estado, isto é, para a paz e a segurança, tanto no plano
externo como no plano interno. Segue-se dai que a obrigação dos súbditos tem a ver com a
manutenção da paz e da segurança, mas não com a auto-conservaçao do indivíduo: esta não
faz parte da obrigação dos súbditos, mas da sua liberdade. Por outras palavras, o direito à
vida é inalienável e, se alguém a ele renunciasse, tal acto seria nulo.
Para Hobbes, o Estado deve ser forte e com o poder centralizado, pois ele precisa ter
capacidade para conter os impulsos naturais que promovem uma relação caótica entre as
pessoas. Hobbes trabalhou como preceptor de dois filhos da família Cavendish, tradicionais
nobres britânicos. O pensador foi influenciado por Francis Bacon, filósofo para o qual
Hobbes trabalhou como assistente durante algum tempo, Aristóteles e Maquiavel."
"Temos dois aspectos para apresentar como centrais na obra hobbesiana, sendo um do campo
da Filosofia teorética e outro da Filosofia prática. No campo teorético, Hobbes era um
empirista, defendendo que não há qualquer tipo de representação mental anterior à
experiência. Porém, a grande produção filosófica do pensador está ligada à Filosofia prática,
ou seja, à Filosofia política. No campo político, o inglês defendeu:
estado de natureza humano como momento de inaptidão natural para a vida social;
A sociedade como uma composição complexa de “átomos”, que são os indivíduos;
contrato social como formação da comunidade humana que retira o homem de seu
estado de natureza;
A necessidade da monarquia para estabelecer a ordem entre as pessoas.
O estado civil seria a solução para uma convivência pacífica, em que o ser humano abriria
mão de sua liberdade para obter a paz no convívio social. O monarca, argumenta o filósofo,
pode fazer o que for preciso para manter a ordem social. A propriedade privada, para Hobbes,
não deveria existir e a monarquia é justificada pela sua necessidade como garantia do
convívio seguro."
3.2. Social
O pensamento político de Hobbes está indissociavelmente ligado à sua visão de homem (ser
humano). Não poderia ser diferente.
Para Hobbes, a condição humana é naturalmente belicosa e agressiva. O homem, em seu
estado de natureza, vive o que ele denomina de: “guerra de todos contra todos”. Hobbes vê o
homem, sem as leis ou um poder maior a controlá-lo, como “lobo do próprio homem”,
“homo homini lupus”, numa recriação do texto do dramaturgo romano Plauto (230-180 a.C),
em sua peça de teatro Asinaria (“Lupus est homo homini non homo”, seria o texto original).
No estado natural, portanto, na natureza, todos se opõem contra todos. O que vale, de fato, é a
“lei do mais forte”. Os mais fracos, seriam subjugados à força, sem direitos.
Em algum momento da história da humanidade, um pacto é realizado. Um pacto social
destinado a proteger os mais fracos e desassistidos dos mais fortes. Um mandante, na forma
de um soberano, de um rei, ou do estado, então, é escolhido para exercer este poder. Essa
cessão ou transferência de poderes a esta figura exercida pelo soberano, rei ou estado se dá
através de uma espécie de contrato social.
O contrato social seria, segundo Hobbes, a única opção racional para os indivíduos saírem do
estado natural de guerra de todos contra todos, atribuindo-se ao soberano um poder visível e
concreto que seria capaz de manter, valendo-se da imposição e mesmo da força, a obrigação
de cada um em respeitar este pacto de convivência. Para Hobbes, “os pactos sem a espada
não passam de palavras” (“There is no word without sword”).
A essa abordagem política de Hobbes, à do contrato social, costuma-se atribuir a designação
de: contratualismo.
O contratualismo irá ser retomado, depois, em perspectivas distintas das de Hobbes por
outros filósofos e teóricos do poder do Estado como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
John Locke (1632-1704), e mesmo por Immanuel Kant (1724-1804). Hobbes, Rousseau,
Locke e Kant formam os pensadores chamados de Contratualistas, na concepção do Estado
(a adesão de Kant ao contratualismo não é consenso entre os analistas da Filosofia ou da
Teoria Política, já que o pensador alemão desenvolve com muita força em seus escritos a
autonomia da razão, não estando esta limitada pela sociedade civil, e conduzindo, quase que
per si, o sujeito à liberdade).
Para Hobbes, fundador, portanto, da interpretação política do contratualismo, o contrato
social foi forma encontrada pelos homens para estabelecer a passagem do estado de natureza
para a sociedade civil e, em última instância, seria ele a base de fundação do estado.
Na visão de Thomas Hobbes, a disposição natural do homem não é para a vida harmônica em
sociedade, mas sim regida pelo egoísmo e pela busca de autopreservação. Tais instintos
naturais levariam à violência e subjugação do outro (homo homini lupus). Uma zona de
segurança e preservação mútua seria então proporcionada por este contrato social, que
concede a uma instância maior com poder de uso da força (Leviatã), que poderá estar
representado por um soberano, rei ou estado.
Entretanto, é importante perceber aqui que Hobbes não atribui um poder divino a esta figura
representativa do poder e da força do estado. Hobbes está na passagem do Medievo para a
Idade Moderna. Sua base de pensamento busca ser científica. Suas inspirações fundamentais
são a matemática e a física. O poder soberano em Hobbes existe para frear a condição natural
dos homens, impedindo a subjugação de um pelo outro, e permitindo a coexistência entre
eles. E é exatamente esta transferência de direitos ao poder soberano que estabelece o
contrato social e impede a “guerra de todos contra todos”.
Thomas Hobbes avança em relação às abordagens políticas até então existentes. Se defende
ele a necessidade de um poder central e absoluto, na forma de rei, soberano ou estado, em
razão de sua concepção acerca da natureza humana (belicosa, hostil e egoística), ele supera a
concepção de um soberano com poderes divinos, ungido e abençoado por forças
sobrenaturais, mas em uma visão de certa forma racionalista, sustenta sim que a centralidade
desse poder é fundamental para a manutenção de uma ordem social aceitável.
Este soberano, cuja existência Thomas Hobbes advoga, não estaria legitimado por um poder
divino ou transcendental para governar sob suas preferências pessoais, mais sim pela
transferência da vontade e poder de agir na defesa da ordem dos indivíduos para um poder
centralizado e dotado de força, pela lavratura consuetudinária do contrato social. Por essa
razão, Hobbes foi severamente acusado em seu tempo de ser nada mais de que apenas um
ateu e materialista, tendo várias obras censuradas, inclusive por estar contestando o chamado
direito divino até então utilizado para justificar as monarquias euroéias.
Evidente, todavia, que Thomas Hobbes não era um liberal. Uma versão liberal do
contratualismo virá mais tarde com o também inglês John Locke, com a publicação de seu
principal tratado político Dois Tratados sobre o Governo, em 1689, quase 40 anos depois do
Leviatã (1651).
O contratualismo de Hobbes preconizava um soberano absoluto, ainda que não descartasse,
por exemplo, que este poder estivesse distribuído em uma assembleia. Mas ele argumentava
que as prováveis disputas internas de poder, existentes a partir de facções existentes dentro
desta própria assembleia, poderiam levar ao seu enfraquecimento exatamente em sua
principal missão: preservar as relações sociais tensionadas a partir de sua visão de natureza
humana.
Para controlar esse estado de natureza humana, ou este estado natural, fundamentou a
existência e a necessidade de um pacto. Um pacto de preservação mútua, com a transferência
do direito de agir em sua própria defesa a um poder central dotado de capacidade de uso da
força: o contrato social.
Talvez Thomas Hobbes tenha antecipado uma visão do humano semelhante àquela
apresentada por Sigmund Freud (1856-1939), especialmente em suas obras Totem e Tabu
(1913) e Mal-estar na Civilização (1930), onde o homem é compreendido como o próprio
inimigo da civilização, e que apenas não faz prevalecer seus instintos pulsionais (naturais)
por medo da punição.
Hobbes, entretanto, não defende o soberano tirânico, autossuficiente e egocêntrico.
Características que poderiam ser justificadas ou justificáveis à luz da teoria do direito divino.
Para o Pensador inglês, o uso da autoridade e da força do poder absoluto deveria ser levado
adiante na defesa e preservação do interesse coletivo, daqueles que “firmaram” o contrato
social.
Em última instância, é possível dizer que a fundamentação política de Thomas Hobbes, a
figura por ele trazida no Leviatã e a defesa da necessidade de um poder absoluto visam
apenas à preservação da sociedade.
Mais talvez do que se concordar com a visão de homem, de natureza humana, e de sociedade
expostas pelo Filósofo inglês, é preciso compreendê-la. Para compreendê-la, é necessário
enxergar e entender o contexto cultural que produziu não somente o pensador, mas o
indivíduo Thomas Hobbes.
4. Conclusão
Para Hobbes, um soberano absoluto, desobrigado destas forças contraditórias inerentes às
disputas de poder, poderia exercia seu ofício de modo mais eficaz: o rei ou soberano não está
a serviço das determinações divinas ou de suas próprias vontades, mas cumprindo um papel
dentro do contrato social.
Diante de todo este contexto, produziu uma das principais obras políticas até hoje existentes,
o Leviatã. Antes dela, talvez apenas os textos A Política, de Aristóteles (384–322 a.C.) , ou O
Príncipe, de Maquiavel (1469-1527), fossem tão conhecidos e importantes no mundo
ocidental como tratados sobre a organização do estado.
Com o olhar para os avanços científicos e culturais da época, quis construir sua filosofia
política sobre uma base racional de conhecimento. No Leviatã, bem como no De Cive antes,
tenta fundamentar a melhor forma de governo, que para ele exige a centralização de poder,
mas substituindo a tese então vigente do direito divino.
Hobbes mergulhou no estudo da natureza humana. Enxergou o homem como egoísta, com
elevado instinto de autopreservação, e pronto a destruir qualquer um que atrapalhasse sua
busca por preservação. Pronto a subjugar e dominar. O mais forte dominando o mais fraco. O
mais fraco engendrando meios de, por sua vez, subjugar o mais forte.
4.1. BIBLIOGRAFIA
1. HOBBES, Thomas. Leviatã, ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico
e Civil. In: Coleção Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1988.
2. HUISMAN, Denis. Dicionário de Obras Filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
3. Gil, António Carlos (2002). Como elaborar projectos de pesquisa, 4a edição. São Paulo:
Atlas, 2008
4. KELLY, Paul (et alii). O Livro da Política. São Paulo: Globo, 2013.
5. PRADEAU, Jean-François (Org.). História da Filosofia. 2. ed. Petrópolis: Vozes; Rio
de Janeiro: PUC-Rio, 2012.
6. WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. 2. ed. Porto Alegre: L&PM,
2012.