Atividade I - Laboratório

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UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE – UNPLAC

ALUNOS:

Elza Caroline Marian da Silva

Fernanda de Matos da Silva

Pâmela da Silva Custódio

Maria Eduarda Schu


Mateus Cordeiro de Castilho

TURMA: 5ª fase de Direito Noturno A

INSTRUÇÕES

As respostas aos casos deverão ser realizadas em grupos de até 05 (cinco) alunos(as),
que deverão apor seus nomes completos no local indicado para identificação.

Os alunos(as) deverão analisar os casos apresentados e respondê-los de forma


fundamentada, na legislação vigente, doutrina e jurisprudência.

A entrega da resolução dos casos deverá ser realizada exclusivamente via sistema
google classroom, respeitado o prazo limite do dia 10/04/2022 às 23h:59min. Entregas
realizadas fora do prazo ou não respeitado o limite de alunos por grupo, serão
desconsideradas e atribuída nota 0 (zero).

Pontuação: a pontuação geral do laboratório de Civil é de 1,0 (um) ponto, que será o
resultado da média da aplicação dos quatro trabalhos que serão apresentados.

A resolução de cada caso apresentado valerá 0,50 (zero vírgula cinquenta) pontos cada.
Resposta parcialmente correta terá atribuída nota 0 (zero).

Ao menos uma das respostas deverá ser apresentada jurisprudência do ano de


2018 para frente.

Devolutiva: A correção será apresentada no sistema google classroom, após a data de


entrega de todos os acadêmicos de todos os 5ºs semestres.

CASO 1 – PONTUAÇÃO 0,5 Paulino, que é sócio da empresa Comercial de Grãos


Ltda, ajuizou ação de execução contra a empresa RL Produtos Alimentícios Ltda, haja
vista o não cumprimento/pagamento de diversas obrigações por parte desta. No curso do
processo judicial, o exequente constatou a confusão patrimonial entre os bens da pessoa
jurídica devedora e de seus dois sócios, a exemplo de veículos com plotagem da
empresa, mas, em nome das pessoas físicas dos sócios, bem como o fato de seus sócios
promoverem o ‘repasse’ do patrimônio a terceiros. Razão pela qual Paulino pretende

requerer ao juízo competente a desconsideração da personalidade jurídica de RL


Produtos Alimentícios Ltda. Dado esse contexto hipotético, responda, de forma
fundamentada:

a) Conceitue desconsideração da personalidade jurídica:

É o texto do Art. 50 do Código Civil que trata sobre a desconsideração da


personalidade jurídica:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei
nº 13.874, de 2019)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a
utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a
prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de
fato entre os patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações,
exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à
extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa
jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos
de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da
personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Antes de mais nada, é válido mensurar o significado de personalidade


jurídica, para Alves (2017):

A personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direito


subjetivo, e é reconhecida a todo o ser humano independente da
consciência ou vontade do indivíduo, esta é, portanto, um atributo
inseparável da pessoa. Os direitos da personalidade são atributos da
pessoa, que existem desde sua origem ou nascimento, por natureza, bem

como aqueles que se projetam para o mundo exterior em seu


relacionamento com a sociedade.(ALVES, 2017)

Sendo assim, quando uma sociedade empresária é constituída ela, conforme


art. 1022 do CC, ela adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente,
por meio de seus administradores. Dessa forma, existe uma separação do
patrimônio pessoal dos sócios com o patrimônio da empresa, todavia, diante da
redação do art. 50 do CC, quando há abuso dessa personalidade jurídica, seja pelo
desvio da finalidade ou pela confusão patrimonial a personalidade pode ser
desconsiderado, segundos André Santa Cruz, o objetivo da desconsideração é:
Sendo assim, com a clara finalidade de salvaguardar o princípio da
autonomia patrimonial, evitando o seu uso abusivo e deturpado,
formulou-se a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, a
qual deveria ser aplicada quando se constatasse o uso abusivo da
personalidade jurídica em detrimento de seus credores.(CRUZ, 2019)

Como se sabe, a desconsideração da personalidade jurídica, derivada da


disregard doctrine, consiste no afastamento temporário, ocasional e excepcional da
personalidade jurídica da sociedade empresarial, a fim de permitir, em caso de
abuso ou de manipulação fraudulenta, que o credor lesado satisfaça, com o
patrimônio pessoal dos sócios da empresa, a obrigação não cumprida.
Ademais, a desconsideração da personalidade jurídica pode ser dividida em
objetiva ou subjetiva, nas palavras de André Santa Cruz (2019), podemos
distingui-las da seguinte forma:

Adotava-se, pois, uma concepção subjetivista da disregard doctrine, que


exigia a prova da fraude como elemento imprescindível à sua aplicação,
isto é, era imprescindível a demonstração inequívoca de uma intenção
(elemento subjetivo) de prejudicar credores. Hodiernamente, todavia,
tem-se tentado estabelecer critérios mais seguros para a aplicação da
teoria da desconsideração, sem que seja necessária a prova da fraude, ou
seja, sem que seja preciso demonstrar a intenção de usar a pessoa
jurídica de forma fraudulenta. Adota-se, pois, uma concepção objetivista
da disregard doctrine, segundo a qual a caracterização do abuso de
personalidade pode ser verificada por meio da análise de dados
estritamente objetivos, como o desvio de finalidade e a confusão
patrimonial.( CRUZ, 2019)

b) É possível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica na sociedade


acima constituída?

Sobre a desconsideração da personalidade jurídica, define Fabio Ulhoa


Coelho:

A teoria da desconsideração visa coibir fraudes perpetradas


através do uso da autonomia patrimonial da pessoa jurídica. Sua
aplicação é especialmente indicada na hipótese em que a obrigação
imputada à sociedade oculta uma ilicitude.

Abstraída, assim, a pessoa da sociedade, pode-se atribuir a


mesma obrigação ao sócio ou administrador (que, por assim dizer, se
escondiam atrás dela), e, em decorrência, caracteriza-se o ilícito. Em
síntese, a desconsideração é utilizada como instrumento para
responsabilizar sócio por dívida formalmente imputada à sociedade.

Também é possível, contudo, o inverso: desconsiderar a


autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizá-la por
obrigação do sócio (Curso de Direito Comercial, Ed. Saraiva, 2º volume,
2007, p. 45/46).

No caso concreto, houve, como descreve Fábio Ulhoa Coelho, uma ilicitude,
devendo os sócios da referida empresa serem responsabilizados pela dívida, em
tese, assumida pela pessoa jurídica.

Sobre a formulação objetiva, ensina Fabio Ulhoa Coelho:


A formulação objetiva, por sua vez, deve auxiliar na facilitação da prova
pelo demandante. Quer dizer, deve-se presumir a fraude na manipulação
da autonomia patrimonial da pessoa jurídica se demonstrada a confusão
entre os patrimônios dela e de um ou mais de seus integrantes, mas não
se deve deixar de desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade,
somente porque o demandado demonstrou ser inexistente qualquer tipo
de confusão patrimonial, se caracterizada, por outro modo, a fraude”.
(COELHO, p. 67, 2015).

Dessa forma, uma vez que a confusão patrimonial e o repasse do patrimônio


a terceiros da empresa RL Produtos Alimentícios Ltda está causando danos a
terceiros, pode sim o juiz desconsiderar a personalidade jurídica, sem importar
numa dissolução da pessoa jurídica, para sanar as eventuais dívidas.
É o que diz Diniz (2011), apoiado no Art. 50 do Código Civil:

Pelo Código Civil (art. 50), quando a pessoa jurídica se desviar dos fins
que determinam sua constituição [...] ou quando houver confusão
patrimonial (mistura do patrimônio social com o particular do sócio,
causando dano a terceiro) em razão do abuso da personalidade jurídica,
o magistrado, a pedido do interessado ou do Ministério Público, está
autorizado, com base na prova material do dano, a desconsiderar,
episodicamente, a personalidade jurídica, para coibir fraudes e abusos
dos sócios que dela se valerem como escudo, sem importar numa
dissolução da pessoa jurídica. (DINIZ, p. 571, 2011).

Ademais, segundo o Art. 50 do CC, têm-se que:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens

particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica


beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

Logo, caracterizada a dissolução irregular da sociedade, patente o abuso


da personalidade jurídica, autorizando a sua inclusão dos sócios no polo
passivo.

É válido ressaltar também o entendimento dos tribunais sobre o tema:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – Incidente de desconsideração da


personalidade jurídica – Preliminar de nulidade da r. decisão por
ausência de fundamentação – Rejeição – Presentes os requisitos
autorizadores da desconsideração da personalidade jurídica – Abuso de
direito constatado – Abusividade na blindagem do patrimônio pessoal
dos sócios - Manutenção da r. decisão – Recurso desprovido.

(TJSP; Agravo de Instrumento 2010105-36.2022.8.26.0000; Relator (a):


Silvia Meirelles; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Foro de
Araraquara - 1º Vara da Fazenda Pública; Data do Julgamento:
01/04/2022; Data de Registro: 01/04/2022)

CASO 2 – PONTUAÇÃO 0,5 Ermínio e Ronaldo, amigos de longa data, constituíram a


sociedade Souza & Silva Comércio e Indústria de Móveis Ltda. Cada um detinha 50%
das quotas da sociedade e ambos a administravam. As afinidades eram muitas, mas,
com o passar dos anos, as diferenças vieram à tona. As dificuldades do mercado
acabaram contaminando a relação entre os sócios, que frequentemente se desentendiam.
No ápice de uma discussão, chegou a haver agressão física: Ermínio desferiu dois socos
na face de Ronaldo. A manutenção da sociedade tornou-se insustentável. Tentou-se
chegar a um consenso acerca de eventual compra das quotas de Ermínio por Ronaldo, o
que não foi possível. Buscou-se também a alienação das quotas de Ronaldo a um
terceiro, o que não contou com a anuência de Ermínio. Ronaldo, por fim, não querendo
permanecer no empreendimento, procurou um advogado com as seguintes indagações:

a) Ronaldo poderia vender sua participação societária sem a anuência de Ermínio?


Explique com suas palavras o que é ser uma sociedade de pessoa.

No tocante a sociedade limitada formada por dois sócios, como no presente


caso, deve-se analisar o que está entabulado no contrato social, visto que é mister
estar evidente as disposições que dizem respeito à cessão e alienação de quotas aos
sócios à terceiros. Desse modo, tendo existido a quebra do Affectio Societatis, assim
como a impossibilidade de serem adquiridas a eventuais quotas de Ermínio por
Ronaldo, nem tampouco a alienação das quotas a um terceiro, restando tão
somente a dissolução judicial da sociedade. Isso significa que se não houver
cláusula exclusiva da cessão das quotas, em disposição contrário somente poderá
ser realizada a venda à um terceiro que não seja exclusivamente sócio, quando não
houver previsão contrária dos sócios detentores de mais de ¼ (um quarto) do

capital social. Infere-se por tanto, que necessita da principal anuência da parte de
Ermínio pelo princípio do Affectio Societatis.

Institui o Código Civil

Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a
estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital
social.

Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive


para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo
instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.

Affectio societatis e dissolução da sociedade. "Desaparecimento da


affectio societatis autoriza a dissolução da sociedade, consoante
entendimento jurisprudencial sedimentado, a despeito da causa não
figurar no rol do art. 1034 do Código Civil. Direito do sócio retirante à
apuração de haveres e partilha do patrimônio" (TJSP, ApCiv 9158925-
29.2009.8.26.0000 , 63 Câm. De Direito Privado, j. 25.10.2012, rel. Paulo
Alcides, DJ 14.11.2012).

Conforme ilustra Fábio Ulhôa Coelho” as sociedades de pessoas são aquelas


em que a realização do objeto social depende mais dos atributos individuais dos
sócios que da contribuição material que eles dão. ” Em nosso entendimento,
sociedade de pessoa é regida pelo princípio Affectio Societatis, que é a
representação visando a mesma intenção dos sócios de contraírem sociedade entre
si.

b) A dissolução necessária para promover a retirada de Ermínio da Sociedade implicaria


a dissolução da sociedade mantida com Ronaldo?

Sim, será necessária a ação de dissolução parcial judicial da sociedade com


Ermínio, tendo em vista os desentendimentos entre ambos, a impossibilidade da
continuidade da sociedade empresarial, o fim do Affectio societatis e a
inviabilidade de um acordo entre os sócios. Conforme julgado.

II. Dissolução judicial e apuração de haveres.

O art. 1.034 menciona três situações em que a dissolução da sociedade


exigirá manifestação judicial: anulação da constituição, exaurimento do
objeto social e inexequibilidade do objeto social. Sobre a apuração dos
haveres na dissolução judicial, decidiu-se que uma vez verificada a

discordância quanto à liquidação extrajudicial, a intervenção do


judiciário deverá retroagir à dissolução da sociedade, devendo esta ser
declarada para dar ensejo a apuração dos haveres sociais. A liquidação
dos haveres da sociedade faz-se, prioritariamente, segundo os
parâmetros previstos no contrato social. A apuração dos haveres sociais,
no caso de dissolução parcial, em respeito à garantia constitucional do
direito à propriedade, deverá seguir as mesmas formalidades exigidas
para a dissolução total. Para a verificação dos haveres do sócio retirante
é preciso apurar o real valor de sua participação societária no momento
do desligamento, através do balanço de todos os bens e direitos da
sociedade. (TJMG, ApCív. 1.0024.01.542505-1/001, rel. Des. Guilherme
Luciano Baeta Nunes, 18d CC., j. 26.02.2008).

c) Uma vez obtendo seu intento de deixar a sociedade, quais as opções que você, como
consultor(a), daria a Ronaldo, para dar continuidade à atividade empresarial, sem incluir
um novo sócio à sociedade existente.

Fundamente todas as suas respostas.

Nos casos das sociedades limitadas constituídas por apenas dois sócios cada
um com metade do capital social, a exclusão de sócio por quebra da affectio não
pode ser procedida por outra forma que não a judicial. Para tanto, faz-se
necessária análise minuciosa do Código Civil, já que, o referido não traz
disposições exatamente direcionadas ao deslinde do caso.
O fundamento que embasa esse entendimento jurisprudencial tem raiz na
Constituição Federal (CF), que resguarda o direito fundamental à livre associação
ao estipular que "ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado". Justamente por isso, a simples manifestação de vontade do sócio
autoriza a sua saída, nos termos do artigo 1.029 do Código Civil (CC).
Diante disso, como o objetivo de ambos é apenas continuar com a atividade
empresarial e não com a sociedade, eles podem dissolver; extinguir a sociedade,
assim, podendo-os começar com a atividade unipessoal e ou como empresário
individual.
Outro não é o entendimento dos tribunais, conforme a jurisprudência, a
seguir, entende-se que todo sócio tem o direito de se retirar da sociedade,
principalmente quando se diz respeito a perda de “affectio societatis”, tal direito
de retirada não exige justificativa, uma vez que constitui direito potestativo do
sócio, conforme estabelece o Art. 5º da Constituição Federal e o Art. 1029 do
Código Civil.

AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE –


CERCEAMENTO DE DEFESA - Inocorrência – Hipótese em que não é
necessária a produção de outras provas para o deslinde da causa - Perda
da "affectio societatis" – Suficiência dos elementos acostados aos autos –
Provas constantes dos autos que se mostraram suficientes à formação da
convicção do juízo – PRELIMINAR REJEITADA - RECURSO DOS
RÉUS DESPROVIDO NESTE TÓPICO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE
SOCIEDADE CUMULADA COM APURAÇÃO DE HAVERES –

DIREITO DE RETIRADA – O sócio tem o direito de se retirar do


quadro social, principalmente pela perda da "affectio societatis" – O
direito de retirada, em rigor, nem exige justificativa, uma vez que
constitui direito potestativo do sócio de se desligar do quadro societário
(art. 5º, XX, CF, c.c. art. 1.029, CC) - RECURSO DOS RÉUS
DESPROVIDO NESTE TÓPICO. DATA DA RESOLUÇÃO - No caso, o
autor enviou notificação ao réu em 06/01/2020, demonstrando o seu
interesse de se retirar da sociedade. E o sexagésimo dia ao do
recebimento da notificação (06/03/2020) é a data a ser considerada como
da resolução da sociedade (art. 605, II, CPC) – RECURSO DOS RÉUS
DESPROVIDO NESTE TÓPICO. APURAÇÃO DOS HAVERES.
Dissolvida a sociedade, imperioso que se apurem os haveres do sócio
retirante, de acordo com a sua participação social. E os haveres devem
ser refletir o valor patrimonial das quotas sociais, à data da resolução
(06/03/2020), por força do art. 1.031, Código Civil, e art. 605, II, CPC. No
caso, devem se consideradas as transferências feitas pelos dois sócios
(Flavio e Denis) para as suas contas pessoais no período de 60 dias, que
mediou a notificação e o sexagésimo dia, ou seja, entre 06/01/2020 a
06/03/2020 - RECURSO DOS RÉUS DESPROVIDO NESTE TÓPICO.
RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DOS HAVERES – A
responsabilidade pelo pagamento dos haveres é a sociedade FOUR
PREMIER NEGÓCIOS E TECNOLOGIA LTDA., o que afasta o
pedido de responsabilização "subsidiária" do sócio DENIS. RECURSO
DO AUTOR DESPROVIDO. RECURSO DOS RÉUS PROVIDO
NESSA PARTE. PAGAMENTO DOS HAVERES EM UMA ÚNICA
PARCELA. Embora o contrato social preveja o pagamento dos haveres
do sócio retirante em 18 parcelas mensais, tal disposição incide em
ambiente de normalidade, quando a retirada do sócio ocorre de comum
acordo, sem intervenção judicial. Porém, judicializada a questão, incide
o comando judicial a impor a forma e os critérios de apuração dos
haveres, seguindo-se o respectivo cumprimento de sentença, à luz dos
arts. 513 e ss., CPC. Não soa razoável nem jurídico que o devedor,
instado a pagar a dívida consubstanciada em título executivo judicial,
depois de longa batalha judicial, ainda venha a se beneficiar com mais 18
meses para cumprir a obrigação – RECURSO DO AUTOR PROVIDO
NESSA PARTE. JUROS DE MORA – Apurados os haveres, os juros
incidem a partir da data da resolução (06/03/2020), em conformidade
com o disposto no art. 608, parágrafo único, CPC. Isso porque é a data
da resolução o marco que serve de critério para apuração dos haveres.
Acontece que, no caso em debate, o próprio autor FLAVIO pede que os
juros sejam computados a partir da "citação", razão pela qual fica
acolhida tal pleito, sem retroação do termo inicial para a data da
resolução, para não encerrar julgamento "ultra petita" - RECURSO DO
AUTOR PROVIDO NESSE TÓPICO.

(TJSP; Apelação Cível 1004542-03.2020.8.26.0565; Relator (a): Sérgio


Shimura; Órgão Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial; Foro Especializado da 1ª RAJ - 1ª Vara Regional de
Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da
1ª RAJ; Data do Julgamento: 08/03/2022; Data de Registro: 10/03/2022)

Por fim, conclui-se que para que Ronaldo possa continuar a atividade
empresarial sem incluir novo sócio a sociedade pode ele constituir uma sociedade
unipessoal limitada, em nome do princípio da preservação da empresa, com a
exclusão de sócio em sociedade somente com dois quotistas, ou ainda, a conversão
em empresário individual. Isso tudo porque hoje é pacífico ser viável a exclusão de
sócio - assim como qualquer outra hipótese de dissolução parcial - em sociedade
formada somente por dois membros.

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