Wachler Autoridade Das Escrituras
Wachler Autoridade Das Escrituras
Wachler Autoridade Das Escrituras
Em nenhum outro lugar a igreja tem sido definida mais simples e apropriadamente do que nas palavras
de Lutero nos Artigos de Smalcald: "Graças a Deus uma criança de sete anos sabe o que é a igreja, a saber, crentes
santos e ovelhas que ouvem a voz do seu Pastor."1
Uma investigação desta definição logo esclarece a importância singular da voz do Bom Pastor para a
igreja. Somente esta voz salva os seres humanos, vagueando e perdidos, chamando-os ao Pastor e ao Seu
rebanho e mantendo-os na comunhão dEle. Não precisamos explicar mais profundamente que as pessoas se-
guirão a Palavra de Cristo com confiança somente se é para elas a única e suprema autoridade. Se a igreja hoje
não tem uma palavra a qual pertence esta autoridade final, ela é como um rebanho sem pastor. Se a igreja é
obrigada a depender das opiniões difusas de teólogos eruditos e professores do método histórico-crítico para
determinar o que nas Escrituras presumivelmente é genuíno ou espúrio, relatório de confiança ou distorção
lendária, testemunho produzido pelo Espírito Santo ou influência de religiões e filosofias pagãs, etc., então a
Palavra do Deus e Salvador dela não mais possui a autoridade final. Ela tem passada para homens que, porém,
nunca podem ter a autoridade final já que a pesquisa histórica nunca pode ir além do "presumivelmente". Além
do mais, a informação que Deus poderia comunicar por meio de um testemunho corrompido por ideias
primitivas e errôneas, por filosofias, lendas, mitos, e apocalíptica judaica não presta assistência nenhuma. Pois,
se aquilo que nosso Deus tem a nos falar não segue das palavras e do contexto da Palavra Escriturada, e se Deus
em lugar nenhum nos fala onde a verdade começa e a distorção acaba, todos podem ouvir ou imaginar o que eles
bem quiserem. Quem terá a audácia de ainda chamar isto de "Palavra de Deus"? Se nós pregadores temos uma
consciência, não podemos fugir da questão concernente à autoridade das Sagradas Escrituras.
Auto-Autenticação
A autoridade divina da Bíblia não pode ser provada para alguém de fora, seja pela a idade dela, a extensão
dela, a confirmação dos contos dela por meio de escavações e coisas parecidas, ou por meio de provas racionais.
De fato é uma tarefa apologética (que não é sem importância) para refutar os argumentos contra a verdade das
Escrituras, especialmente na área de história, por meio de contra-argumentos. Porém, deste modo só se
demonstra que são críveis humanamente, mas não que são a Palavra de Deus. Um incrédulo também não será
movido a reconhecer a autoridade divina das Escrituras baseado naquilo que as Escrituras dizem a seu próprio
respeito, isto é, por meio da doutrina de sua inspiração e caráter divino. Ele não aceitará afirmações das
Escrituras como provas, já que ele primeiro quer prova que as Escrituras são a verdade. Porém, quando o
Espírito Santo abre o coração humano por meio daquilo que as Escrituras lhe falam na lei e no evangelho, as
Escrituras se autenticam como sendo a Palavra de Deus àquela pessoa. A Palavra Escriturada de Deus opera no
homem como um fogo, um martelo, uma espada (Hb 4:12; Jr 23:29). Mas alguém que tem conhecido o efeito de
um martelo e de uma espada não precisa de mais provas de que o martelo é um martelo e de que a espada é uma
espada.
Como todos que desejam fazer a vontade de Deus saberão, segundo a promessa de Cristo, se o
ensinamento é de Deus ou se Cristo está falando com Sua própria autoridade (Jo 7:17), assim também a pregação
dos apóstolos dEle não são em palavras plausíveis de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder
*
Este artigo por Dr. Gottfried Wachler no alemão original e a sua tradução inglesa foi originalmente publicado em duas partes
no Evangelium/Gospel 9(1982):7-23, 38-56. O autor, Dr. Gottfried Wachler, é Presidente do Seminário Teológico em Leipzig,
Alemanha Oriental. O tradutor, Dr. Herbert J. A. Bouman, foi professor no Concordia Seminary, St. Louis, de 1954-1974. O
tradutor do Inglês ao Português, Mark A. Swedberg, é professor e diretor do Instituto Batista Boas Novas, São José do Rio Preto,
SP.
2
(1Co 2:4). E isto se aplica tanto à palavra escrita dos apóstolos quanto à dos profetas. O próprio Cristo disse que
nem a palavra de um que ressuscitou dentre os mortes e milagrosamente apareceu entre os vivos como prova
da veracidade das suas palavras pode produzir arrependimento e salvar alguém do destino do homem rico;
somente os escritos de Moisés e dos profetas—sem provas, simplesmente por meio do seu conteúdo—podem
fazer isso (Lc 16:27ss). Provas externas compelem reconhecimento, mas compulsão não produz nem arrepen-
dimento nem confiança. Nos dias depois dos profetas somente os escritos proféticos, o Antigo Testamento, têm
o poder de efetuar ambos—simplesmente por meio de seu conteúdo, isto é, pela lei que convence do pecado e
pelo evangelho da graça de Deus no Messias prometido, a mensagem que examina o coração e a consciência
(2Tm 3:15ss). E a igreja dos tempos pós-apostólicos está presa aos escritos dos apóstolos ao lado do Antigo
Testamento, escritos que foram redigidos com o propósito de fazer homens felizes e confiantes por meio da fé
no Redentor que veio, foi crucificado, ressuscitou e que voltará (Jo 20:31; Fp 3:1; Jo 17:20).
Os apóstolos não realizaram isto tentando primeiramente provar a autoridade divina e a veracidade dos
seus escritos.
Qualquer um que percebe nas Escrituras a espada ameaçadora e punitiva de Deus, como fez Lutero, ou o
'trovão de Moisés' conhece a convicção terrível e indiscutível de que Deus está aqui falando. E ainda, àquele,
como a Lutero na sua 'experiência na torre', a quem as Escrituras se tornam a corda de socorro salvador,
guardando-o de cair no abismo de desespero, sabe também com uma segurança absoluta de fé que é o
próprio Deus que está aqui o sustentando. Cada forma de dúvida seria aqui um absurdo. Sua manifestação
seria imediata: como hybris quanto à Lei; como desperatio quanto ao Evangelho.2
Os velhos dogmatistas Luteranos chamavam este fato da autopistia ou auctoritas causativa das Escrituras que é
produzido pelo testemunho interno do Espírito Santo. Com referências copiosas às fontes, Echternach tem
demonstrado de uma maneira convincente que o ensinamento da ortodoxia luterana concernente à auto-
autenticação das Escrituras invalida o criticismo de que ela se esforçou para fazer a autoridade das Escrituras
aceitável ao raciocínio por meio de sua doutrina de inspiração. Echternach escreve: "Este novo tratamento da
autopistia assim acrescenta clareza à doutrina tradicional de inspiração, pois retira dela um desentendimento
que tem sido ligado com ela desde os dias mais antigos do Racionalismo e que tem vez após vez levantado o
criticismo de que a doutrina da inspiração foi desenhada como um argumento para provar a autoridade,
infabilidade e divindade das Escrituras".3
1.SA III, XII, 2. 9.Peter Brunner, Schrift und Tradition, Schriften des
2.Helmut Echternach, "The Lutheran Doctrine of the Tehologischen Konvents Augsburgischen
'Autopistia' of the Holy Scripture" (A Doutrina Bekenntnesse, nº 2 (Berlin: Lutherisches
Luterana da 'Autopistia' das Sagradas Verlaghaus, 1951), p. 25.
Escrituras) trad. por J. T. Mueller na 10.As Obras de Lutero, ed. de St. Louis, vol. 22, col.
Concordia Theological Monthly 23 (Abril, 577; vol, 4, col. 1960.
1952):250. 11.Ed. americana, vol. 36, p. 11.
3.Echternach, p. 242. 12.Ed. americana, vol. 30, p. 107.
4.Werner Elert, Der Christliche Glaube, 5ª ed. 13.Citado por G. Rost, "Johann Gottfried Scheibel und
(Hamburgo: Furche-Verlag, 1960), seç. 31, pp. die ersten Werzeln der Selbständigen
179-180. Evangelisch-Lutherischen Kirche,"
5.Elert, pp. 180s. Lutherische Kirche 11 (Fevereiro, 1980):33.
6.Elert, seç. 30, p. 174. 14.Ed. americana, vol. 36, pp. 108, 118.
7.Gerhardt Ebeling, Das Wesen des Christliche 15.Helmut Thielicke, Theologische Ethik, ed. William
Glaubens (Tübingen: J.C.B. Mohr, 1963), pp. H. Lazareth (Tübigen: J. C. B. Mohr, 1951),
109-110). band 2/1, no. 356.
8.As Obras de Lutero, ed. americana, vol. 18, p. 108.