Lições Dos Judeus Sobre Humildade Malba Tahan

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Liçoes dos judeus sobre humildade

Dois Exemplos de uma Sabedoria Prática


 
 
1. Humildade do Rei
 
 Discorrendo sobre a humildade, um sábio ensinou ao rei Tejuan que o homem
humilde está fadado a longa e ditosa vida.
 
A fim de usufruir desse dom conferido aos humildes, meteu-se o monarca num
trajo surrado, mudou-se para um casebre e proibiu que seus súditos lhe
tributassem a menor deferência. Examinando-se, porém, de boa-fé, averiguou
que, na sua humildade aparente, se tornara ainda mais soberbo. O filósofo
advertiu-o:
 
– Podeis abandonar esses andrajos e cobrir o vosso corpo com ouro e púrpura
conservando, porém, a humildade em vosso coração.
 
E para revelar ao rei no que consiste a falsa humildade, o sábio narrou a seguinte
história:
 
– “Um homem instruído, inteligente e caridoso, tinha infelizmente o defeito da
soberba. Disseram-lhe que, se aprendesse a ser humilde, se tornaria perfeito. Ele
seguiu o alvitre: estudou todas as regras de humildade, até sabê-las inteiramente
de cor. Certa vez um pobre campônio, ao passar por ele, esqueceu-se de o saudar
com o devido respeito.
 
O pretenso humilde, voltando-se para o campônio protestou:
 
– “Idiota! Não sabes então que, desde que aprendi a humildade, sou um homem
de caráter perfeito?”
 
E o filósofo concluiu:
 
– Era a voz recalcada do orgulho que assim falava. Naquele homem havia,
apenas, a aparência de humildade. Aparência e … nada mais.
 
Esse trecho é inspirado nas “Máximas de Baal Schem-Tov”. Os humildes são,
pelos sábios israelitas, exaltados em todos os momentos. Em certos textos não
se referem os mestres aos “santos” mas sim aos “humildes”. O espírito de
santidade estará forçosamente ligado ao mais profundo e sincero sentimento de
humildade. (Cfr. A.Cohen, “Le Talmud”, trad. de Jacques Marti, Payot, Paris,
1933.)
 
2. Humildade
 
 Um fabricante de sandálias, num momento de exaltação, feriu com grave ofensa
o Rabi Johanan. Um dos discípulos procurou o sábio no mesmo dia e, muito
solícito, disse-lhe:
 
– Mestre, permite que eu castigue aquele homem deseducado e estúpido que vos
injuriou?
 
– Não é digno de respeito – corrigiu com sereno semblante o sábio – aquele que
concede a outrem permissão para proceder mal.
 
E logo justificou, dogmático e conciliador:
 
– Quem não domina o seu gênio carece de inteligência. Quem é poderoso? O que
responde à insânia com humildade e sabe reprimir os impulsos condenáveis.
Quem não domina os seus furores muito menos saberá corrigir a cólera alheia. A
origem do êxito do humilde é que os seus semelhantes o ajudam, graça à sua
submissão. Mais amparo encontra o homem na sua própria humildade do que na
força dos poderosos.
 
Distinguem-se os rabinos pelo espírito de humildade que revelavam. O perdão
das ofensas alheias figura entre os preceitos talmúdicos, Yoma 23.a; Chabbat,
151, b. São inúmeros os exemplos colhidos a tal respeito na imensa literatura
religiosa de Israel.
 

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