CHARAUDEAU

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MAIA, J. C.

A organização argumentativa do discurso científico em reportagem do Jornal


Nacional. Diálogo das Letras, Pau dos Ferros, v. 02, n. 01, p. 214 – 229, jan./jun. 2013.

A ORGANIZAÇÃO ARGUMENTATIVA DO DISCURSO CIENTÍFICO EM


REPORTAGEM DO JORNAL NACIONAL

THE ARGUMENTATIVE ORGANIZATION OF THE SPEECH SCIENTIFIC IN


REPORT OF THE JORNAL NACIONAL

Jader Gontijo Maia1

Resumo: Este texto apresenta uma proposta de análise da organização argumentativa de uma reportagem
televisiva e de algumas falas de especialistas sobre a temática ambiental, mais especificamente sobre
aquecimento global e mudanças climáticas. Para isso foi selecionada uma reportagem do telejornal Jornal
Nacional, da Rede Globo, na edição do dia 19 de junho de 2012. Nela foram observados os modos de raciocínio
utilizados pelos cientistas em seus argumentos de refutação da tese de implicação humana como causa das
alterações no clima, como também os tipos de saberes empregados no processo de racionalização
argumentativa. Para as observações e análises dos processos de organização argumentativa da reportagem
foram utilizadas a fundamentação conceitual e a metodologia propostas por Patrick Charaudeau, a partir de
sua concepção de argumentação enquanto uma problemática de influência; bem como o arcabouço teórico e
metodológico de sua perspectiva teórica Semiolinguística. Ideias sobre imaginários sociodiscursivos, discurso
de informação e características do gênero reportagem televisiva vem incorporar o conjunto conceitual em que
se baseia a análise. Pode-se perceber neste trabalho, além da estruturação argumentativa da própria
reportagem, que os argumentos utilizados pelos especialistas sobre o aquecimento global, e percebidos por
meio de trechos de suas falas, se organizam predominantemente em torno de saberes de conhecimento, como se
esperaria de um discurso científico, mesmo que obedecendo a um princípio de simplificação, exigido pelo
dispositivo televisivo. Quanto aos modos de raciocínios empregados, quase sempre ocorrem articulações entre
deduções, cálculos, oposições e analogias, com ênfase no uso dos dois primeiros.

Palavras-chave: Argumentação, Influência, Reportagem Televisiva.

Abstract: This paper presents a proposal for a review of the organization of an argumentative television
report and some speeches of experts on environmental issues, specifically on global warming and climate
change. For this we selected a report in the Jornal Nacional newscast, Rede Globo, the issue of the day June 19,
2012. It was observed modes of reasoning used by scientists in their rebuttal arguments of the thesis as a cause
of human implications of climate change, as well as the types of knowledge used in the process of streamlining
argumentative. For the observations and analyzes of organizational processes of argumentative report were
used the conceptual basis and methodology proposed by Patrick Charaudeau, from his conception of
argumentation as a problematic influence, as well as the theoretical and methodological framework of a
theoretical perspective Sémiolinguistique. Ideas about imaginaire socio-discursif, information discourse and
gender characteristics television report comes incorporate conceptual framework that underlies the corpus
analysis. Can be seen in this work, besides structuring argumentative's own report, the arguments used by
experts on global warming, and perceived through excerpts from their speeches, are organized predominantly
around knowledge of knowledge, as one would expect from scientific discourse, even if obeying a principle of
simplification required by the device television. As the modes of reasoning employed, almost always occurs
articulation between deductions, calculations, opposites and analogies, focusing on the use of the first two.

Keywords: Argument, Influence, TV Report.

1
Doutorando em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Estudos
Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte, Brasil, e-mail:
[email protected]

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1 Introdução

Este texto apresenta uma discussão modesta sobre algumas ideias relacionadas ao
conceito de argumentação. A proposta é realizar uma análise da organização argumentativa
de uma reportagem televisiva e de algumas falas de especialistas sobre a temática ambiental,
mais especificamente sobre aquecimento global e mudanças climáticas. Para isso foi
selecionada uma reportagem do telejornal Jornal Nacional, da Rede Globo, na edição do dia
19 de junho de 2012, em que se procurou observar quais os modos de raciocínios são
utilizados pelos cientistas para organizar argumentativamente seus discursos e defender suas
teses sobre as alterações no clima.
Em um primeiro momento, o texto apresenta um panorama sobre algumas
características das três dimensões da argumentação, sendo elas a argumentação como
atividade de pensamento, a argumentação enquanto atividade de língua e a argumentação
como discurso. Serão feitas também algumas considerações sobre os tipos de saberes
(conhecimento e crença), sobre discurso de informação, discurso científico na mídia e sobre o
gênero reportagem televisiva.
Para as observações e análises dos processos de organização argumentativa da
reportagem foram utilizadas a fundamentação conceitual e a metodologia2 propostas por
Patrick Charaudeau, a partir de sua concepção de argumentação enquanto uma problemática
de influência.

2 A argumentação em uma perspectiva discursiva

A perspectiva filosófica que toma a argumentação enquanto uma atividade do


pensamento é oriunda da tradição lógica, iniciada em Platão, reformulada em Aristóteles e
tratada por Descartes e outros pensadores modernos e contemporâneos. Ela sustenta a ideia de
autonomia do pensamento em relação à linguagem e que a força do argumento se encontraria
nos modos de raciocínio empregados.
Aristóteles propõe que o pensamento seria constituído por basicamente dois tipos ou
modos de raciocínios: os raciocínios analíticos, que são mecanismos de conhecimento e
demonstração analítica dos fatos e da verdade, mecanismos estes caracterizados pelos

2
Os instrumentos adotados para as análises são os modos de raciocínio (dedução, analogia, oposição e cálculo)
e os tipos de saberes (de conhecimento e de crença).

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silogismos (premissas e conclusão) utilizados pela lógica formal. Também constituem o


mecanismo do pensamento os chamados raciocínios dialéticos, que seriam formas de pensar a
partir de proposições prováveis e opiniões sustentadas pelos oradores durante o processo de
argumentação.
Para os chamados racionalistas, a razão, ou o pensamento racional, seria a verdadeira
fonte de conhecimento. E a ciência, partindo de conhecimentos puramente racionais e
desenvolvendo deduções rigorosas pelo método da demonstração, poderia assim atingir uma
‘verdade’ absoluta.
No que se refere aos processos de demonstração analítica da verdade empregados pela
lógica formal, por meio do pensamento racional, são várias as características. No modo de
raciocínio dedutivo, a verdade da conclusão decorre necessariamente da relação lógica entre
as premissas que se aceitam sem discutir a sua verdade. A estrutura lógica formal se
caracteriza por sua organização abstrata, impessoal e independente do contexto, além de se
mostrar rigorosa e infalível. É marcada também pela utilização de uma linguagem isenta de
ambiguidade que impõem uma certeza, uma verdade universal e necessária, sem considerar o
auditório. Na argumentação formal o pensamento crítico resulta, então, da aplicação de modos
de raciocínio lógico que permitem analisar e expressar criticamente textos e argumentações e
contribuem para identificar falácias que aquelas aparentam demonstrar, permitindo distinguir
uma argumentação convincente de uma persuasiva e de avaliar a natureza de suas premissas.
Entretanto, os modos de raciocínios que a demonstração analítica emprega em busca
da verdade dos fatos ignoram as relações existentes entre os indivíduos que, durante o
processo de interação social e de produção de discursos, se ocupam a influenciar uns aos
outros, a sustentar seus argumentos, utilizando para isso diferentes estratégias de
argumentação.
Outra abordagem dos aspectos da argumentação pode ser encontrada em Oswald
Ducrot e Jean-Claude Ascombre que propuseram, a partir de meados dos anos 70, uma
teoria da argumentação que designaram como teoria da ‘argumentação na língua’, ou ainda,
‘argumentação linguística’. Esta perspectiva compreende que a argumentação é uma atividade
da língua e que haveria a primazia desta sobre o pensamento.
Ducrot (2009) postula em sua teoria que os próprios segmentos linguísticos possuem
uma argumentatividade intrínseca, isto é, a argumentação, definida como a lógica dos
encadeamentos de enunciados, está inscrita na língua. Isso significa que é possível detectar
nas estruturas dos enunciados o modo de sua formulação, ou seja, com base nos próprios
enunciados seria possível prever os enunciados aos quais se ligam. Nesse sentido, Ducrot e

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Ascombre notam que a função dos enunciados, seria a de conduzir ou orientar os destinatários
para certas conclusões. Para eles, esta orientação estaria relacionada com uma estrutura
linguística e um sentido, ambos implícitos.
Uma reação à concepção matemática do pensamento lógico será retomada pelos
defensores da chamada Nova Retórica. Entre eles está o trabalho denso e abrangente de
Chaïm Perelman com a proposição de uma nova teoria da argumentação, um novo modo de
compreender a organização dos procedimentos argumentativos. Em seu texto intitulado
Tratado da Argumentação: a nova retórica, Perelman retoma e reformula algumas ideias de
Aristóteles sobre as técnicas de argumentação retórica e dialética. Entretanto o autor dará
preferência à aproximação com a retórica, uma vez que a noção de dialética com o tempo teria
adquirido um sentido pejorativo, distante do original.
Em sua Nova Retórica, o que está em questão é o modelo da racionalidade que
tradicionalmente acabou por reduzir o pensamento lógico à chamada Lógica Formal e seus
métodos de demonstração. Com uma concepção mais ampla sobre a razão, Perelman percebe
que a atividade racional não se reduz ao rigor lógico da demonstração. Ele irá então
estabelecer uma separação entre pensamento demonstrativo e pensamento argumentativo,
procurando mostrar, por meio de uma classificação das operações e dos processos de
argumentação retórica, que esta não pode ser excluída do campo da racionalidade.
Para Perelman, a atividade racional tem uma dimensão prática que permite
fundamentar com certa razoabilidade as preferências dos indivíduos. Para mostrar a coerência
de suas escolhas e com isso ganhar a adesão do auditório o orador precisa argumentar pela via
do razoável. Essa nova lógica a que Perelman chama de Nova Retórica encontra-se então
inserida numa lógica do preferível, portanto dirigida a auditórios particulares em situações
específicas.
Em Perelman (2005), um aspecto fundamental que distingue sua Teoria da
Argumentação da Lógica Formal é a questão da adesão do auditório. Dirá ele: “é em função
de um auditório que qualquer argumentação se desenvolve”. Para isso faz-se necessária a
utilização de uma linguagem comum, pois “toda argumentação visa à adesão dos espíritos, e
por isso mesmo, pressupõe a existência de um contato intelectual” (PERELMAN, 2005, p.
16). A argumentação torna-se eficiente nessa perspectiva, uma vez que a adesão do auditório
às ideias e proposições do orador se efetivará por meio do que o autor chama de Acordos, isto
é, aquilo que é suposto já admitido pelo auditório, seja ele universal ou particular
(especializado). Perelman classifica os tipos de objetos em duas grandes categorias: objetos
do real (fatos, verdades, presunções), com pretensão à validade universal, e objetos do

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preferível (valores, hierarquias, lugares) relacionados a auditórios particulares. A elaboração


de um quadro teórico de análise como o de Perelman insere a argumentação no campo
discursivo, uma vez que ela é compreendida enquanto uma atividade de discurso, constituindo
desse modo uma teoria pertinente para analisar os discursos sociais.
Nesse sentido, Ruth Amossy (2009) propõe que seja conferido ao discurso o estatuto
de unidade do estudo da argumentação. Para esta autora, que se inspira em Perelman e nos
recentes desenvolvimentos da linguística discursiva, a dimensão persuasiva de um discurso é
indissociável dos níveis de argumentatividade que ele apresenta. O estudo da argumentação
na análise do discurso conduz a uma abordagem que leva em consideração as noções de
sujeito psicossocial, de situação de comunicação, bem como as relações sociais inerentes a
todo processo discursivo. O discurso leva em conta também os valores, crenças, normas e
regras cuja consideração contextual ou situacional, ultrapassa a ideia generalizante de uma
perspectiva universalista da argumentação.
Já Patrick Charaudeau (2008) insere a argumentação (e os atos de linguagem) em uma
problemática da influência e para compreender este processo o autor sustenta a proposta de
uma interdisciplinaridade focalizada, em que há necessidade de conjugar noções e conceitos
oriundos de diversas disciplinas, como a psicologia social, a sociologia, a filosofia da
linguagem, entre outras. Conceitos que dentro da perspectiva da Análise do Discurso ganham
uma redefinição apropriada.
Para Charaudeau (2008) o ato argumentativo está inserido numa dada situação de
comunicação que o valida e pode ser compreendido em três grandes ordens argumentativas: a
demonstração (estabelecer uma verdade), a explicação (fazer saber uma verdade já
estabelecida) e a persuasão (fazer crer). Isto implica dizer, de acordo com o autor, que o sujeito
argumentante leva em conta as instruções da situação de comunicação na qual se encontra para
promover uma tripla atividade discursiva de argumentação: problematizar (questionar dentro
de um domínio temático), se posicionar (escolher um ponto de vista) e provar (racionalizar e
argumentar para justificar sua escolha). Para tanto, o sujeito argumentante irá lançar mão de
uma série de estratégias, buscando influenciar seu interlocutor. Por meio dessas estratégias,
sejam elas argumentativas, narrativas, descritivas e enunciativas é que o processo de influência
se efetiva.
No que se refere aos modos de raciocínio, Charaudeau (2008) recupera a tradição
retórica para reagrupar em número de quatro os tipos de raciocínios. São eles: raciocínio por
dedução, raciocínio por analogia, raciocínio por oposição e raciocínio por cálculo. Explica o
autor:

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O raciocínio por dedução corresponde aos tipos de ligações de causalidade


que podem ser estabelecidos entre uma asserção e sua causa ou uma asserção
e sua consequência [...]. O raciocínio por analogia consiste em estabelecer
uma aproximação entre ao menos dois fatos, dois saberes, dois julgamentos,
dois comportamentos, etc. [...]. O raciocínio por oposição consiste em
comparar fatos, estados, julgamentos opostos que se excluem, o que permite
argumentar evidenciando as contradições ou as incompatibilidades [...]. O
raciocínio por cálculo consiste em se apoiar sobre uma operação mais ou
menos matemática de igualdade (“Trabalho igual, salário igual”), de
interpelação recíproca (“Olho por olho, dente por dente”), de transitividade
(“Os amigos dos meus amigos são meus amigos”), de proporcionalidade
(“Mais se ganha, mais se paga imposto, menos se ganha, menos se paga”).
(CHARAUDEAU, 2008, p. 11, tradução nossa).

Como foi possível perceber, a argumentação dentro do quadro teórico da Análise do


Discurso incorpora diversos conceitos de diferentes disciplinas, noções que contribuem para o
enriquecimento da compreensão dos fenômenos e processos argumentativos, permitindo
entender melhor os mecanismos de influência e persuasão presentes nos discursos sociais que
circulam pelo espaço público.

3 Os tipos de saberes: conhecimento e crença

Os imaginários sociodiscursivos se estruturam a partir do processo de significação da


realidade, isto é, de semiotização do mundo, que o homem realiza por meio da linguagem.
Para Charaudeau (2006), o imaginário resulta de uma dupla interação: do homem com o
mundo e do homem com o homem. Segundo ele, a realidade não pode ser apreendida
enquanto tal, ela existiria independente do homem, mas teria, em contrapartida, “necessidade
de ser percebida pelo homem para poder significar. É essa atividade de percepção significante
que produz os imaginários, que por sua vez dão sentido à realidade” (CHARAUDEAU, 2006,
p. 203).
Esse processo de produção de sentido que leva à construção dos saberes corresponde
às formas de organização dos sistemas de pensamento e podem ser classificados em dois
grandes grupos ou categorias: saberes de conhecimento e saberes de crença. O saber de
conhecimento é caracterizado por ser uma categoria em que o saber encontra-se fora do
sujeito, portanto sua verdade é exterior ao sujeito e orientada do mundo para o homem,
podendo ser verificada e comprovada. Produz por um lado um tipo de saber culto (provado) e
teórico (demonstrativo), isto é, uma construção puramente intelectual, como os
conhecimentos promovidos pelas ciências, sobretudo as naturais, e suas pesquisas. Por outro

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lado gera um tipo de saber fundado na experiência, naquilo que pode ser percebido e
experimentado pelo sujeito e compartilhado socialmente, um saber de natureza empírica que o
mundo imprime ao homem.
O saber de crença por sua vez é um tipo de saber cuja verdade encontra-se no próprio
sujeito, em sua singularidade, portanto não é verificável como no conhecimento teórico. É um
saber orientado do homem para o mundo e que produz tipos de saberes ligados a uma
revelação e consequente adesão a determinadas ideologias, doutrinas e dogmas; bem como
tipos de saberes reveladores de opinião, de uma apropriação de determinadas ideias e valores
que colocados em um campo de discussão levam à formação da opinião
(comum/relativa/coletiva).

4 O discurso de informação e o falar científico na televisão

Todo ato de comunicação depende de um contrato de comunicação e o sentido do


discurso resultaria das condições específicas da situação de comunicação e do
reconhecimento, pelos parceiros da troca linguageira, das restrições situacionais e discursivas
que lhes são impostas. A situação de comunicação seria, então, essa capacidade dos parceiros
em reconhecer as restrições às quais estão submetidos, durante o ato de comunicação:
restrições de espaço, de tempo, de relações, de palavras, bem como inferências em relação às
identidades dos parceiros da troca. Diz Charaudeau (1997, p. 67): “a situação de comunicação
constitui o quadro de referência ao qual estão ligados os indivíduos de uma comunidade social
no momento em que se comunicam”. Ela determinaria, então, através das características de
seus componentes, as condições de produção e reconhecimento dos atos de comunicação.
No caso da comunicação midiática é a partir da relação entre duas instâncias
discursivas, uma enquanto lugar de produção do discurso (instância de produção) e outra de
recepção e interpretação desse discurso (instância de recepção) que o sentido do discurso se
realiza, por meio de um duplo processo: processo de transformação e processo de transação
(CHARAUDEAU, 1997, p. 72) 3.
O discurso de informação tem a finalidade inicial de fazer-saber ao outro, o que
pressupõe que a instância de produção deve possuir um saber que a instância de recepção
não detém e para isso ela vai utilizar-se de efeitos de veracidade que serão empregados no
processo de configuração discursiva, com o objetivo de alcançar a almejada credibilidade da

3
Não será considerado aqui o processo de interpretação, apresentado por Charaudeau em Discurso das Mídias,
de 2006.

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informação. Encontra-se, portanto, em uma situação de tensão entre os dois pólos que o
legitimam: a credibilidade (informação) e a sedução (captação). É necessário então que se
efetue um ajuste contínuo entre o ‘registro sério’ caracterizado pela finalidade de informação
e o ‘princípio do prazer’ ligado à finalidade de captação, para que se alcance o objetivo
central da comunicação, que é captar o maior público possível sem comprometer a
credibilidade da informação noticiada.
Quanto à relação estabelecida entre o discurso científico e o discurso de informação
faz-se necessário observar que, no caso deste trabalho, o objeto de análise diz respeito a um
debate científico em torno da temática ambiental tratado na televisão, mais especificamente
por reportagem de telejornal. Os especialistas ouvidos fazem parte da comunidade científica e
tem necessariamente que promover uma simplificação do discurso para se fazer entender por
um grande público4. Além disso, o próprio processo de coleta e tratamento das informações
por parte da equipe de reportagem atua na simplificação e organização dos assuntos de modo
a serem compreendidos pelo maior número de telespectadores possível. Toda a complexidade
dos cálculos realizados pelos cientistas e necessários para a comprovação das hipóteses e
teorias propostas devem ser traduzidos, simplificados e até eliminados da notícia, pois a
linguagem televisual não permite a utilização de dados complexos e em quantidade excessiva,
na organização das informações. O discurso deve ser claro e compreensível para alcançar um
público amplo e diversificado, que é o público de um telejornal de abrangência nacional, em
televisão aberta e em horário nobre.

5 Objeto da análise: reportagem televisiva

Foi destacado, para análise dos processos de racionalização argumentativa, o gênero


informativo reportagem, predominante nos telejornais da grande maioria das emissoras de
televisão no Brasil. De acordo com Charaudeau (1997, p. 217), a reportagem é uma forma
televisual que se caracteriza pela finalidade de explicar um dado fenômeno social (uma
desordem social ligada a um princípio de saliência) constituído geralmente por um conjunto
de fatos produzidos no espaço público no qual o homem é implicado. Ela geralmente possui
um ponto de vista tido como distanciado e global sobre estes fatos (princípio de objetivação)
e que possibilita um questionamento sobre o fenômeno tratado (princípio de inteligibilidade).

4
O conceito de vulgarização (Charaudeau, 1997: 62-63) está relacionado com o fato de os meios de
comunicação de massa terem como objetivo atingir o maior número possível de pessoas, isto é, índices elevados
de audiência; ora, para conseguir alcançar esse público abrangente, a mídia utilizaria estratégias e recursos de
captação que poderiam levar a uma ‘vulgarização deformante’ da informação.

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A reportagem é organizada a partir de um conjunto de enunciações que constroem um


sentido em torno de determinado assunto ou fato. Nela, as palavras dos entrevistados revelam
um ponto de vista pessoal do relato jornalístico, sejam eles especialistas, políticos,
celebridades e pessoas anônimas, falas estas gerenciadas pelo jornalista, profissional
responsável pela organização e agenciamento das informações que compõem a reportagem.
A reportagem é, portanto, uma forma comunicacional que promove o encontro do
público com os acontecimentos do mundo, que lhes são apresentados pela instância midiática
de modo abrangente e pregnante 5. Ela fornece, pois, os elementos e requisitos necessários
para se efetuar a observação e análise das estratégias de argumentação empregadas pelos
sujeitos argumentantes; proposta deste trabalho.
A reportagem escolhida para análise foi extraída do telejornal noturno intitulado
Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, na edição do dia 19 de junho de 2012. Nessa
semana, em razão da ocorrência do encontro internacional Rio+20, o Jornal Nacional e outros
telejornais noticiaram e reportaram assuntos relacionados com a temática geral do evento:
meio-ambiente. A reportagem (Grupo de cientistas não vê motivo de alarme para mudanças
climáticas) possui duração de dois minutos e trinta segundos e trata do debate em torno das
causas e consequências do aquecimento global.
A reportagem apresenta as opiniões de cientistas que se posicionam contra a ideia a
qual as ações do homem estariam relacionadas com as mudanças climáticas no planeta. São
apresentados então os argumentos que tais especialistas defendem para rebater as afirmações
dos ambientalistas. Em meio a um bombardeio de reportagens e notícias sobre meio-
ambiente, esta reportagem parece se colocar como um outro ponto de vista dentro de um
conjunto de noticiários que predominantemente adotam uma perspectiva pró-ambientalista6.
A reportagem mostra um contraponto à opinião majoritária, apresentando a perspectiva dos
cientistas e especialistas considerados céticos, isto é, que não acreditam que a intervenção do
homem no planeta esteja relacionada com os processos de mudanças no clima e na
temperatura, de modo global. Segundo eles, estes processos fariam parte do ciclo histórico da
Terra e ocorreriam de tempos em tempos, independentes das ações do homem.

5
A pregnância é classificada por Charaudeau como a capacidade de determinados fenômenos penetrarem na
afecção humana de tal modo a impregnar de sentimentos e valores sociais e humanos e levar a um
aprofundamento do tratamento de determinados temas e informações. Atualidade, saliência e pregnância são os
principais critérios de noticiabilidade que norteiam os profissionais da informação, na compreensão do autor.
6
O que não deixa de ser natural que ocorra, uma vez que as mídias dentro de sua ‘missão cívica’ de promoção
dos valores democráticos (democracia de massa) só poderiam promover o bem social, entre eles os bens naturais:
a preservação da natureza e do meio-ambiente.

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Nessa mesma edição de 19 de junho do Jornal Nacional foram exibidas outras três
reportagens sobre a Rio+20:

- Prefeitos anunciam plano para reduzir emissões de gases poluentes (2’11’’)


- Rio+20 chega a acordo sobre texto que será entregue a chefes de Estado (2’43’’)
- Segurança aumenta com chegada de delegações à cidade para Rio+20 (2’15’’)

Outro aspecto a ser considerado é que nesses tipos de eventos (Rio+20, Cúpula dos
Povos, C-40) converge uma pluralidade muito vasta de nações, culturas, valores e crenças.
Apesar da multiplicidade de visões e propostas, os discursos parecem convergir em um
imaginário universal, um projeto de sociedade ideal, de um ideal comum para todos os povos,
que poderia ser representado na imagem de um mundo sustentável, com recursos suficientes e
disponíveis, em uma convivência harmoniosa entre os sistemas produtivos e da natureza.

6 Descrição da reportagem: a organização discursiva do ato argumentativo

Quanto ao processo de racionalização argumentativa proposto pela reportagem, podem


ser feitas algumas observações. Já na chamada para a reportagem realizada pelos
apresentadores em estúdio, o texto apresenta o tema da responsabilidade sobre o aquecimento
global e o contraponto defendido por um grupo de cientistas que defendem a não
responsabilização do homem pelas mudanças climáticas.

Chamada:
Em meio às discussões sobre o perigo do aquecimento global e a responsabilidade do
homem nas mudanças climáticas, um grupo de cientistas respeitados defende uma
posição diferente da maioria.

PROBLEMATIZAÇÃO

Ao iniciar a reportagem, logo na abertura já se percebe a problematização levantada


7
pela reportagem em torno da temática ambiental, com a repórter em uma locução off
partindo de um suposto consenso (a temperatura do planeta estaria aumentando) e seguindo
com questões sobre as consequências desse aquecimento e de quem seria a culpa.

7
Procedimento utilizado no telejornalismo que consiste em segmentos de textos com informações, cuja leitura é
realizada pelo repórter e cobertos por imagens na edição. O off é um dos procedimentos que constituem a
reportagem.

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OFF:
Que a temperatura do nosso planeta está aumentando, todos concordam, mas quais
seriam as consequências do aquecimento global? E quem é o grande vilão?

Em seguida apresenta o relatório da ONU como referência da comunidade científica


internacional em que se argumenta que o homem seria o principal responsável pelo
aquecimento global. E que um grupo de cientistas se posiciona contra a ideia de catástrofe
ambiental e de influência humana nos processos de mudanças globais do clima.

POSICIONAMENTO:
(O HOMEM NÃO É O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELO AQUECIMENTO GLOBAL)

PASSAGEM:8
O relatório da ONU, divulgado em 2007, que se tornou referência da comunidade
científica diz que o homem é o principal responsável pelo aquecimento global. Mas
um grupo de pesquisadores respeitados discorda dessa conclusão e afirma que não há
motivo para alarme.

Seguem então uma seqüência de falas de cientistas e especialistas (céticos) que se


posicionam contrários à tese que responsabiliza as atividades humanas e os processos
produtivos pelo aquecimento do planeta e as consequentes mudanças no clima.

OFF:
O professor de meteorologia do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts,
disse em uma entrevista pela internet que as mudanças climáticas acontecem em
ciclos e fazem parte da história da Terra:

SONORA:9
"O homem tem pouca influência sobre isso (disse Richard Lindzen) e não há muito o
que fazer para mudar o que está acontecendo”.

PROVAS

Nas falas dos cientistas são apresentadas de modo simplificado e até elíptico as provas
e argumentos que buscam comprovar suas ideias e refutar as teorias catastrofistas e alarmistas
vigentes. Provas estas muitas vezes implícitas, pois na televisão e no discurso de informação

8
Procedimento utilizado pelo repórter na realização da reportagem, que consiste na transmissão direta das
informações pelo repórter, diante da câmera.
9
Procedimento utilizado na reportagem em que são inseridas entrevistas e falas dos personagens e especialistas
ouvidos pela reportagem.

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não há como apresentar e detalhar os cálculos realizados nas pesquisas10. Estas provas
procuram confirmar as proposições de que o aquecimento poderia levar no futuro, até mesmo,
a um aumento na produção de alimentos.

OFF:
O físico da universidade de Princeton, William Happer, concorda e afirma que o
aumento da emissão de gás carbônico na atmosfera pode até aumentar a
produtividade da agricultura.

SONORA:
“A ideia de que haverá uma catástrofe não faz sentido. Acho que no futuro nossos
netos vão até agradecer por esse aumento”.

OFF:
As previsões pessimistas marcaram a carreira do cientista James Lovelock.
Considerado o guru do movimento ambientalista, ele chegou a afirmar que seria
muito tarde para salvar a Terra. Agora, Lovelock admite: [a mudança climática não é
tão rápida nem catastrófica como imaginava].

OFF:
O professor do departamento de Geografia da USP, José Bueno Conti, está entre os
18 cientistas brasileiros que em maio assinaram uma carta aberta à presidente Dilma
Rousseff. No documento, criticavam o alarmismo do movimento ambientalista. Para
Conti, o homem interfere sim no clima, mas somente em escala local, principalmente
nas zonas urbanas.

SONORA:
“As mudanças do clima na escala global, elas são determinadas por fatores de muito
maior escala, por exemplo, os fatores astrofísicos, geológicos e especialmente a
radiação solar, essa é que é a principal causa das alterações climáticas do planeta na
escala maior”.

7 Análises

Para esta aplicação serão considerados três segmentos da reportagem descrita acima
que representam as falas dos especialistas entrevistados. Estas sonoras11 sintetizam
argumentos que se colocam contra as proposições dos cientistas e ambientalistas defensores
da tese segundo a qual as ações do homem e a industrialização promovem o aquecimento
global e mudanças climáticas no planeta.

10
Há trechos de imagens na cobertura do off relativo ao professor Willian Happer em que se percebe um plano
médio que mostra folhas com gráficos, possivelmente de um artigo científico, nas mãos do entrevistado.
11
As falas dos especialistas na reportagem são traduzidas na voz da própria repórter.

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A própria característica do gênero reportagem televisiva determina a seleção dos


trechos de fala que sintetizam as proposições de cada especialista entrevistado. Torna-se
possível então detectar os modos de raciocínio utilizados, bem como os tipos de saberes
empregados na organização argumentativa dos discursos analisados.
Ambas as falas respondem a uma problematização sobre o tema do aquecimento
global (mudanças climáticas) e os argumentos que responsabilizam o homem pelo aumento na
emissão de gás carbônico na atmosfera e pelo consequente aumento da temperatura no
planeta. Elas se posicionam contra esta ideia majoritária e ambientalista da responsabilidade
do homem, e em defesa da teoria de que o homem não interfere globalmente no meio-
ambiente, apenas de modo localizado e principalmente em centros urbanos. Seguem as
análises:

SONORA 1: Richard Lindzen, Professor de meteorologia do MIT, Instituto de


Tecnologia de Massachusetts.

“O homem tem pouca influência sobre isso (disse Richard Lindzen) e não há muito o que
fazer para mudar o que está acontecendo”.

Dedução – O raciocínio empregado procura demonstrar que o processo responsável pelas


mudanças no clima é mais amplo e mais potente que as interferências realizadas pelo homem;
e que as forças da natureza são infinitamente maiores que as forças humanas. Desse modo,
não haveria o que fazer em relação às atividades que fazem parte de ciclos históricos que
afetam e modificam o clima e que seriam inevitáveis.

Oposição – O argumento ‘o homem tem pouca influência sobre isso’, parece opor à ideia de
que o homem tem muita responsabilidade, ou seja, seria o grande responsável pelas
alterações no clima (posição ambientalista). Outro possível raciocínio por oposição utilizado
estaria em ‘não há muito o que fazer’, em vez de ‘vamos salvar o planeta’ (posição
ambientalista).

Cálculo – Os argumentos utilizados pelos cientistas são (ou deveriam ser) necessariamente
baseados em cálculos e pesquisas científicas que apresentam certa coerência dentro do campo
de conhecimento em debate, para que possa ter a credibilidade dos dados reconhecida.

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Tipo de saber: os imaginários utilizados na configuração discursiva estão associados a


saberes de conhecimento, no caso, científico e teórico.

SONORA 2: William Happer, Físico da universidade de Princeton.

“A ideia de que haverá uma catástrofe não faz sentido. Acho que no futuro nossos netos vão
até agradecer por esse aumento”.

Dedução - O enunciado se refere à ideia de que o aumento de gás carbônico na atmosfera


levaria a um consequente aumento da temperatura no planeta; e que isso poderia causar uma
catástrofe, coisa que não faria sentido para o cientista. Pois, para ele, esse aquecimento
provocaria o aumento da umidade e das chuvas, levando a maior produtividade agrícola.

Oposição - O raciocínio utilizado opõe algumas previsões: em vez de catástrofe, o progresso


e a fartura; em vez de destruir irá melhorar; em vez de lamentar a ‘herança maldita’ irão
agradecer a dádiva da natureza.

Cálculo – Em princípio, os argumentos utilizados pelos cientistas são necessariamente


baseados em cálculos e pesquisas científicas que apresentam certa coerência dentro do campo
de conhecimento em debate, para que possa ter a credibilidade dos dados reconhecida. O
raciocínio realizado parece ser algo do tipo: quanto maior o calor, maior a umidade, o que
levaria a mais chuvas e a maior produtividade (Proporcionalidade).

Tipo de saber: os imaginários utilizados na configuração discursiva estão associados a


saberes de conhecimento, no caso, científico e teórico. Também é possível perceber um tipo
de saber de crença ligado à ideia de um futuro melhor; de uma opinião (relativa) lançada
sobre um porvir imponderável: “Acho que no futuro nossos netos vão até agradecer por esse
aumento”.

SONORA 3: José Bueno Conti, Professor do departamento de Geografia da USP.

“As mudanças do clima na escala global, elas são determinadas por fatores de muito maior
escala, por exemplo, os fatores astrofísicos, geológicos e especialmente a radiação solar,
essa é que é a principal causa das alterações climáticas do planeta na escala maior”.

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Dedução - O processo responsável pelas mudanças no clima é mais amplo e mais potente que
as forças impostas pelo homem. As forças da natureza são infinitamente maiores que as forças
humanas. Para se produzir tais mudanças são necessárias atividades naturais de dimensões
supra-humanas, que estão além da capacidade do homem de produzir e interferir de modo
efetivo e global.

Analogia - Comparação entre fatores causadores das mudanças climáticas: ‘por exemplo, os
fatores astrofísicos, geológicos e especialmente a radiação solar’. As mudanças estariam,
portanto, associadas aos fatores de grandes dimensões (‘escala global’), que ocorreriam de
tempos em tempos.

Oposição – O raciocínio parece jogar com certas oposições: local-global, fatores globais em
vez de influência local.

Cálculo – Os argumentos utilizados pelos cientistas são (ou deveriam ser) necessariamente
baseados em cálculos e pesquisas científicas que apresentam certa coerência dentro do campo
de conhecimento em debate, para que possa ter a credibilidade dos dados reconhecida.

Tipo de saber: os imaginários utilizados na configuração discursiva estão associados a


saberes de conhecimento, no caso, científico e teórico.

8 Conclusão

Pode-se perceber neste trabalho, além da estruturação argumentativa da própria


reportagem, que os argumentos utilizados pelos especialistas sobre o aquecimento global, e
percebidos por meio de trechos de suas falas, se organizam predominantemente em torno de
saberes de conhecimento, como se esperaria de um discurso científico, mesmo que
obedecendo a um princípio de simplificação, exigido pelo dispositivo televisivo. Quanto aos
modos de raciocínios empregados, quase sempre ocorre articulação entre deduções, cálculos,
oposições e analogias, com ênfase no uso dos dois primeiros. Isso demonstra que a
organização do discurso científico parece corresponder a uma lógica de estruturação dos
argumentos comum a este campo de conhecimento. As provas apresentadas são
fundamentadas em pesquisas e cálculos científicos realizados em diferentes domínios das
ciências e como diria Charaudeau (2008, p. 11): “Este modo de raciocínio tem a vantagem de

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dar ao argumento, ao menos em aparência, todas as garantias do rigor matemático” . Desse
modo, os cientistas buscam demonstrar suas proposições ao mesmo tempo em que refutam as
teorias vigentes.

Referencias

AMOSSY, R. L'argumentation dans le discours. Paris: Armand Colin, 2009.

CHARAUDEAU, P. Le Discours d’information médiatique: la construction du


miroir social. Paris: Nathan, 1997.

CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006a.

CHARAUDEAU, P. Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2006b.

CHARAUDEAU, P. Pathos e Discurso Político. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. p. 240-251.

CHARAUDEAU, P.Argumentation et analyse du discours. N. 1. 2008.

DUCROT, O. Argumentação retórica e argumentação lingüística. Letras de Hoje, Porto


Alegre, v. 44, n. 1, p. 20-25, jan./mar. 2009.

EMEDIATO, W. L’argumentation dans le discours d’information médiatique. In: Revue


Argumentation & Analyse du Discours. N. 7. 2011. Disponivel em:
<http://aad.revues.org/1209>. Acesso em: jan. 2011.

PERELMAN, C; OLBRECHTS-TYTECA, C. Tratado da Argumentação: a nova retórica.


São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Data de recebimento: 29 de abril de 2013.


Data de aceite: 12 de julho de 2013.

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Tradução nossa.

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