Jurisprudência - PT: Tribunal Da Relação de Lisboa

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3/16/22, 10:25 AM jurisprudência.

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Tribunal da
Relação de Lisboa
Processo

5494/2008-8
Relator

ANA LUISA GERALDES


Sessão

20 Junho 2008
Votação

DECISÃO INDIVIDUAL
Meio Processual

AGRAVO
Decisão

PROVIDO

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ACÇÃO EXECUTIVA TÍTULO EXECUTIVO

Sumário
1- À execução requerida nos termos do art. 860º, nº
3, do CPC, em processo de execução instaurado
antes da vigência do Decreto-Lei nº 38/03, de 8 de
Março, não se aplicam as disposições que, em sede
de requerimento executivo, passaram a vigorar por
força desse diploma legal.

2- A não aplicabilidade deve-se à natureza


incidental e acessória desse procedimento
executivo, que não lhe confere relevância e
autonomia processuais bastantes que imponham a
entrega do requerimento executivo através do
modelo e formulário aprovado pelo Decreto-Lei nº

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200/03, de 10/9.

(ALG)

Texto Integral
TEXTO INTEGRAL:
I – Relatório:
1. T…, S.A., no âmbito da execução de sentença
que instaurou contra:
J…
Veio nomear à penhora o vencimento do
executado, auferido por este na firma “L…, Lda.”.
2. Acontece porém que tendo tal penhora sido
ordenada, notificada a entidade patronal do
executado para efectuar os respectivos descontos
mensais, a referida entidade não só não procedeu
a quaisquer descontos, como nada esclareceu a tal
propósito.
3. Em face de tal facto a Exequente requereu o
prosseguimento da execução também contra a
referida entidade “L…, Lda.”, por apenso à
execução, e no 3º Juízo Cível de Lisboa, ao abrigo
do disposto no art. 860º, nº 3, do CPC.
4. Foi, então, proferido despacho liminar pelo
Tribunal “a quo” a indeferir liminarmente a
execução contra a entidade “L…, Lda.”, nos termos
que constam de fls. 8.
A fundamentação aduzida é, em síntese, a
seguinte:
“A execução ora apresentada configura uma nova
execução, desta feita dirigida contra a entidade
patronal do executado e deveria ter sido
apresentada através do formulário aprovado pelo
Decreto-Lei nº 200/2003, de 10 de Setembro.
… Assim, este Tribunal é incompetente para
apreciar e decidir acções executivas face à criação
dos Juízes de Execução”.
E conclui:
Para a acção executiva ora instaurada são
competentes os Juízos de Execução da Comarca
de Lisboa e, nessa medida, …“declaro este Tribunal
incompetente para apreciar e decidir os presentes

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autos de execução e, em consequência, indefiro


liminarmente a execução ora instaurada”.
5. Inconformado, a Exequente agravou, tendo, no
essencial, formulado as seguintes conclusões:
1. A execução permitida requerer nos termos e de
harmonia com o disposto no art. 860º, n.º 3, do
CPC, tem por base um título executivo impróprio.
2. O requerimento executivo a que alude o Decreto-
Lei nº 200/2003, na esteira das alterações
introduzidas em sede da acção executiva, em
processo civil, pelo Decreto-Lei nº 38/2003, de 8
de Março, deve entender-se que se aplica apenas
aos denominados títulos executivos próprios, ou
seja aos títulos executivos a que referência é feita
nas alíneas a), b) e c), do nº 1, do art. 46º, do CPC,
sob pena de, relativamente a um mesmo pedido
exequendo o legislador consentir que prossigam
duas execuções distintas, sem qualquer
interligação entre as mesmas, e permitindo a
situação absurda de a Exequente poder vir a
receber em dobro – ou até em triplo se houver lugar
duas execuções nos termos do art. 860º, n.º 3, do
CPC – um mesmo e único de execução, isto
designadamente nas execuções, como a dos
autos, requeridas nos termos anteriores à vigente
do Decreto-Lei nº 38/2003, de 8 de Março.
3. Deve, assim, entender-se que o despacho
recorrido violou, no caso em concreto dos autos, o
disposto no art. 46º, n.º 1, alínea d), o disposto no
art. 860º, n.º 3, ambos do CPC e, ainda, o disposto
no Decreto-Lei nº 200/2003, de 10 de Setembro,
donde o recurso dever ser julgado procedente e
provado.
6. O despacho proferido foi tabelarmente
sustentado, nos termos do art. 744º do CPC.
5. Tudo Visto.
Cumpre Apreciar e Decidir.
II – Enquadramento Fáctico-Jurídico:
1. A questão fulcral objecto do presente recurso
consiste em saber se às execuções requeridas nos
termos e ao abrigo do disposto no art. 860º, nº 3,
do CPC, em processos de execução instaurados
antes da vigência do Decreto-Lei nº 38/2003, de 8
de Março, aplicam-se ou não as disposições
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introduzidas pelo referido diploma legal, em sede


de requerimento executivo.
Entendeu-se, no despacho recorrido, que, à luz do
disposto no art. 102º-A, da Lei nº 3/99, de 13/01, a
competência para a tramitação da presente
execução pertence aos Juízos de Execução da
Comarca de Lisboa e não aos Juízos Cíveis de
Lisboa (in casu, o 3º Juízo Cível, 1ª Secção, de
Lisboa), onde se encontra pendente a execução
principal.
Entendimento que não podemos sufragar.
Vejamos porquê.
2. O circunstancialismo fáctico que releva para a
decisão a proferir é o descrito no relatório que
antecede.
A tais factos acresce o seguinte: a presente
execução deu entrada anteriormente à vigência do
Decreto-Lei nº 38/2003, de 8 de Maio.
Enquadrando-os juridicamente diremos que:
3. O principal objectivo da reforma da acção
executiva foi libertar os Tribunais da actividade
executiva, sendo propósito do legislador afectar as
questões executivas aos Juízos de Execução,
segundo o princípio da especialização,
independentemente da jurisdição (cível ou penal).
No âmbito desse objectivo vieram a ser criados,
pelo Decreto-Lei nº 148/2004, de 21 de Junho, os
Juízos de Execução, nomeadamente os da
Comarca de Lisboa, cabendo-lhes exercer, por
força da lei, e no âmbito dos processos de
execução de natureza cível, as competências
previstas no Código de Processo Civil – cf. art.
102º-A da LOFTJ.
E de acordo com o nº 3, deste normativo legal,
compete também aos Juízos de Execução exercer,
no âmbito dos processos de execução por dívidas
de custas cíveis e multas aplicadas em processo
cível, as competências previstas no Código de
Processo Civil não atribuídas aos Tribunais de
competência especializada referidos no número
anterior.
Atendendo, porém, ao disposto no art. 21º do
Decreto-Lei nº 38/2003, de 8/3, as alterações
introduzidas por esta reforma só se aplicam aos
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processos instaurados a partir de 15 de Setembro


de 2003.
4. Ora, resulta dos autos, que a
Agravante/Exequente intentara, anteriormente à
vigência do DL nº 38/2003, de 8/3, acção executiva
em que requereu a penhora do vencimento do aí
Executado.
Sabendo-se também que, notificada a respectiva
entidade patronal para proceder a tais descontos
no ordenado do executado, a mesma não só não
efectuou os descontos que lhe foram
determinados em consequência de tal penhora,
como também nada disse.
Assim sendo, bem andou a Exequente quando, ao
abrigo do preceituado no art. 860º, nº 3, do CPC, e
já na vigência do Decreto-Lei nº 38/2003,
instaurou, por apenso a tal execução, a presente
acção executiva contra a referida entidade
patronal, “L…., Lda.”, terceiro devedor, porquanto,
não tendo sido cumprida a obrigação, a norma
citada atribui ao exequente o poder de exigir desta
entidade a prestação em falta.
Situação em que servirá de título executivo o
despacho que ordenou a penhora, a notificação
efectuada e a falta de declaração ou
incumprimento do que foi determinado a terceiro.
Nestas circunstâncias, a falta de colocação do
crédito à ordem do Tribunal de Execução após
notificação para esse efeito, constitui um acto de
reconhecimento de base à formação de um título
executivo em que se pode fundar uma execução
contra o terceiro devedor por meio de substituição
processual (do executado pela exequente) e por
apenso ao processo executivo. [1]
Ou seja, a execução é instaurada contra aquele
que, notificado, não depositou à ordem do Tribunal
os quantitativos que lhe foram determinados,
consistindo o crédito no direito ao
desconto/depósito a efectuar.
Por conseguinte, quando vencida a obrigação, o
terceiro sobre quem incide o dever de proceder ao
desconto não cumpra, a quantia ou coisa em dívida
pode ser exigida pelo exequente em execução

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contra o devedor do crédito em substituição


processual do executado.
Esta execução tem por base um título executivo
judicial impróprio, [2] constituído nos termos do
art. 860º, nº 3, do CPC.
A execução passa, então, a seguir contra o devedor
do crédito sem que isso signifique a exclusão do
executado inicial, prosseguindo, também, a
execução principal.
Assim sendo, a conclusão que se impõe extrair é
que não existem razões jurídicas válidas que
justifiquem que, uma execução com esta natureza,
movida contra terceiro devedor que não cumpriu o
determinado, seja tramitada com autonomia em
relação à execução principal anteriormente movida
contra o credor executado e onde se formou o
título executivo em que aquela se baseia.
5. E não se compreenderia que fosse de forma
diferente.
Com efeito, conforme salienta, e bem, a Agravante,
a ter que prosseguir a execução requerida nos
termos do art. 860º, nº 3, do CPC, em
“requerimento executivo”, nos termos do DL nº
200/2003, de 10 de Setembro, ou seja, em
“formulário próprio”, cair-se-ia na situação
anómala de coexistirem, simultaneamente, sem
qualquer controlo ou ligação entre ambas, duas
execuções com referência ao mesmo título
executivo básico, o que ressalta da sentença que
justificou a instauração da execução onde foi
proferido o despacho em recurso, sendo afinal o
pedido exequendo o mesmo.
Ora, a autonomizar a execução instaurada nos
termos e ao abrigo do disposto no art. 860º, nº 3,
do CPC, sendo que, tanto nesta como na outra
primitivamente instaurada contra o executado,
onde foi penhorado o vencimento, o pedido
exequendo é o mesmo, poderia inclusivamente
ocorrer a circunstância de o exequente receber o
pedido exequendo em dobro, na medida em que,
por força dessa autonomização, deixaria de existir
co-relação ou contacto entre ambas as execuções,
desconhecendo-se a tramitação processual de
cada uma delas.
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Consequência que, estamos em crer, não foi


querida pelo legislador.
Porém, já assim não será se a execução instaurada,
ao abrigo do disposto no art. 860º, nº 3, do CPC,
correr nos próprios autos de execução em que se
verificou a situação que originou a possibilidade de
instauração da mesma, porquanto permitirá ao
Tribunal a constatação que a quantia exequenda já
foi satisfeita em qualquer uma das execuções, e a
qualquer momento em que isso ocorra, para que
imediatamente o Juiz do processo possa sustar as
respectivas execuções.
6. Dir-se-á também que, por força da publicação do
Decreto-Lei nº 38/2003, de 8 de Março, as
execuções passaram a seguir uma tramitação
própria, impondo-se a apresentação da petição da
execução através de um formulário específico para
tais situações, denominado de “Requerimento
Executivo”, aprovado pelo Decreto-Lei nº
200/2003, de 10 de Setembro.
Contudo, por força da natureza incidental e
acessória da presente execução em relação à
acção executiva principal, entendemos que não lhe
são aplicáveis as regras decorrentes do Decreto-
Lei nº 38/03.
Na verdade, o art. 21º, nº 1, do citado diploma,
manda aplicar essas alterações aos processos
instaurados a partir de 15 de Setembro de 2003,
sendo que essa natureza incidental não confere ao
procedimento executivo do art. 860º, nº 3, do CPC,
relevância e autonomia processuais bastantes que
imponham a entrega do requerimento executivo, a
que alude o art. 810º, nº 2, do CPC, na redacção que
lhe foi conferida pelo Decreto-Lei nº 38/03, de 8 de
Março.
Ou seja, o requerimento executivo não tem que
obedecer ao modelo aprovado pelo Decreto-Lei nº
200/03, de 10/9. 
Consequentemente, o Tribunal competente para a
presente execução é o próprio Tribunal (da
execução) em que se formou o título, de acordo
com as regras processuais gerais.   
Assim o decidiram igualmente os Acórdãos da
Relação de Lisboa de 1/6/20065 e de 12/12/2006,
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com fundamentos similares. [3]


7. Em Conclusão:
- À execução requerida nos termos do art. 860º, nº
3, do CPC, em processo de execução instaurado
antes da vigência do Decreto-Lei nº 38/03, de 8 de
Março, não se aplicam as disposições que, em sede
de requerimento executivo, passaram a vigorar por
força desse diploma legal.
- A não aplicabilidade deve-se à natureza
incidental e acessória desse procedimento
executivo, que não lhe confere relevância e
autonomia processuais bastantes que imponham a
entrega do requerimento executivo através do
modelo e formulário aprovado pelo Decreto-Lei nº
200/03, de 10/9.
III – Decisão:
- Termos em que se decide conceder provimento
ao presente Agravo e, em consequência, revoga-se
a decisão recorrida, determinando-se a sua
substituição por outra que ordene o normal
prosseguimento dos autos.
- Sem Custas.
                                          
Lisboa, 20 de Junho de 2008.
  Ana Luísa de Passos Geraldes (Relatora)
______________________________________________________
[1] Cf. Lebre de Freitas, in “Acção Executiva” – à Luz

do Código Revisto, 2ª Ed. pág. 203.

[2] Cf. Lebre de Freitas e Ribeiro Mendes, in

“Código de Processo Civil Anotado”, III Vol., pág.


459.

[3] O primeiro proferido no âmbito do Agravo Nº

1.836/06-6ª e o segundo no Agravo Nº 8.288/06-1ª.

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