Ética 8º Ano

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Cidadania moral e ética Direção de Arte
8o ano do Ensino Fundamental Elto Koltz

Armando Moraes Direitos reservados à


Maria Soledade da Costa Distribuidora de Edições Pedagógicas Ltda.
Rua Joana Francisca de Azevedo, 142 – Mustardinha
Editor Recife – Pernambuco – CEP: 50760-310
Lécio Cordeiro Fone: (81) 3205-3333 – Fax: (81) 3205-3306
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Consultexto Fizeram-se todos os esforços para localizar os detentores dos
direitos dos textos contidos neste livro. A Distribuidora de Edições
Projeto gráfico, editoração Pedagógicas pede desculpas se houve alguma omissão e, em
eletrônica e ilustrações edições futuras, terá prazer em incluir quaisquer créditos faltantes.
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Capa Para fins didáticos, os textos contidos neste livro receberam,


Gabriella Correia/Nathália Sacchelli/ sempre que oportuno e sem prejudicar seu sentido original,
Sophia karla uma nova pontuação.
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Outras ilustrações
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As palavras destacadas de amarelo ao longo do livro sofreram


modificações com o novo Acordo Ortográfico.

ISBN: 978-85-7797-738-3
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e
Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Impresso no Brasil

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Introdução

Apesar de, por vezes, serem tratadas como sinônimos, Para que esse primeiro passo em direção à formação
as palavras moral e a ética têm sentidos diferentes, e de um cidadão ativo e consciente seja dado, é impor-
é de extrema importância que a consciência de cada tante que apresentemos um panorama histórico sobre a
um desses conceitos faça parte da formação dos estu- concepção moral de cada época e cultura, como marca
dantes, desde o Ensino Fundamental. É por meio dessa das várias sociedades existentes. A evolução social é um
compreensão que os alunos terão, talvez, o primeiro fator determinante para aguçar a percepção dos alunos
contato com a noção de responsabilidade social que sobre a inconstância do conceito, trazendo, dessa for-
cada cidadão possui por direito e dever. ma, a ideia de que podemos e devemos questioná-lo,
Essa introdução às problemáticas sociais tem a função com o intuito de estabelecer uma sociedade harmonio-
de trazer à percepção do aluno o seu papel de agen- sa para todos os cidadãos.
te social. Por isso, é muito importante que, para que Explicar que, em certas épocas, a existência da escra-
essa consciência social seja plenamente desenvolvida, vidão sequer era discutida sob o viés da ética; o feminis-
a discussão sobre a moral e a ética seja alimentada em mo não era uma causa válida, já que era perfeitamente
sala de aula, sempre incentivando o aluno a colocar o natural haver desigualdade de gênero; e práticas de
seu ponto de vista como elemento fundamental para a tortura eram consideradas um procedimento de corre-
construção do conhecimento. É preciso, também, que ção, por exemplo, nos dá a dimensão do desafio que é
os debates se apoiem em situações reais, onde o estu- a prática educacional dos conceitos de moral e ética.
dante deverá refletir sobre a sua prática social cotidiana. Esses assuntos precisam ser revistos e reavaliados cons-
Assim, buscamos desenvolver a sua autonomia ética, tantemente, de modo a abarcar, refletir e posicionar-se
seu potencial para avaliar as suas atitudes sob uma vi- a respeito dos valores contemporâneos.
são consciente da moral.
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Manual do Educador – 8o ano III

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Agência Brasil
Esses objetivos estão colocados no Programa Ética e
Cidadania, módulo voltado para a formação dos pro-
fessores, planejado pelo Ministério da Educação. Para
que essas ações sejam amplamente executadas, é ne-
cessário compreendermos melhor a expressão valores
desejados.
Quando falamos dessas normas, estamos nos refe-
rindo ao núcleo moral de uma sociedade, isto é, aos
valores escolhidos para mediar o convívio entre os in-
divíduos integrantes dessa sociedade. Assim, o ensino
de Cidadania Moral e Ética não está inserido em uma
perspectiva de relativismo moral ou liberdade absoluta
para seguir valores individuais. Isso porque, para que a
sociedade democrática possa funcionar, é fundamental
que exista um consenso, um conjunto mínimo de valo-
res regentes. Alguns desses valores estão explicitados,
como tópicos da Constituição, e devem ser tomados
como referência em sala de aula.

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Assim, em meio à fluidez de conceitos e visões, a obri-
gatoriedade da disciplina Cidadania Moral e Ética repre-
senta um grande salto pedagógico. Isso faz com que
a escola e os professores deixem de trabalhar apenas
indiretamente ou de maneira difusa as dimensões da
moral e da ética e passem a articular o que tem sido
chamado de valores universalmente desejáveis, ba-
seados na Declaração Universal dos Direitos Humanos
e, mais especificamente, na Constituição da República
Federativa do Brasil, promulgada em 1988.
A partir desses valores, você, professor, deve praticar
suas ações pedagógicas no sentido de:
• Compreender os fundamentos da ética e da mora-
lidade e como seus princípios e normas podem ser
trabalhados no cotidiano das escolas e da comuni-
dade.
• Compreender e introduzir no dia a dia das escolas o
trabalho sistemático e intencional sobre valores de-
sejados por nossa sociedade.

IV Cidadania Moral e Ética

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A República Federativa do Brasil tem como funda- Art. 5o


mentos: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es-
Art. 1o trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
I - A soberania. à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro-
II – A cidadania. priedade [...].
III – A dignidade da pessoa humana.
I – Homens e mulheres são iguais em direitos e obri-
IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
gações, nos termos desta Constituição.
V – O pluralismo político.
II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa se não em virtude da lei.
No que se refere aos seus objetivos enquanto Repú-
III – Ninguém será submetido a tortura nem a trata-
blica Federativa, a Constituição enumera os seguintes
mento desumano ou degradante.
propósitos:
IV – É livre a manifestação do pensamento, sendo ve-
dado o anonimato.
Art. 3o
VI – É inviolável a liberdade de consciência e de cren-
I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária.
ça, sendo as segurado o livre exercício dos cultos reli-
II – Garantir o desenvolvimento nacional.
giosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos lo-
III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
cais de culto e a suas liturgias.
as desigualdades sociais e regionais.
VIII – Ninguém será privado de direitos por motivo de
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
de discriminação.
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna-
tiva, fixada em lei.
Quanto a alguns dos direitos individuais listados na
IX – É livre a expressão da atividade intelectual, artísti-
Constituição, destacamos que:
ca, científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença.

Manual do Educador – 8o ano V

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Esses valores nos dão uma ideia do núcleo moral pre- ver o respeito a esses direitos e essas liberdades e, pela
sente em nossa sociedade, o que nos impede de viver adoção de medidas progressivas de caráter nacional e
em estado de anomia — ausência de valores que re- internacional, por assegurar o seu reconhecimento e
gem a sociedade, ficando a cargo de cada indivíduo o a sua observância universais e efetivos, tanto entre os
estabelecimento de suas condutas morais e éticas. Com povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os
a anomia, a democracia torna-se impraticável, dado a povos dos territórios sob sua jurisdição.
falta de organização e entendimento mínimo entre os
integrantes da coletividade.
Podemos pensar que, em um regime democrático,
que valoriza e incentiva preceitos como liberdade e
diversidade, é contraditório que haja um conjunto de
valores a ser seguido por todos. Acontece, porém, que
alguns entendem que a expressão de liberdade é, na
verdade, a afirmação da inferioridade (étnica, social, ra-
cial ou de gênero) de outro indivíduo, que, por sua vez,
tem a liberdade subjugada. É por isso — para que todos
os integrantes sociais possam usufruir da mesma liber-
dade e dos mesmos direitos sem pôr em risco o direito
alheio — que um conjunto de valores se faz necessário.
E é neste sentido que a matéria de Cidadania Moral e
Ética torna-se fundamental: para apresentar e estabele-
cer fronteiras morais e éticas que garantam a convivên-
cia harmoniosa e o fortalecimento do nosso país.
Os itens que vimos anteriormente acerca dos valores
que regem o Brasil pretendem, por sua vez, alinhar-se
à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa de-
claração foi proclamada em 1948 pela Organização das
Nações Unidas (ONU) — organização internacional for-
mada por vários países com o objetivo de trabalhar pela
paz e pelo desenvolvimento mundial. Vejamos:

“A Assembleia Geral proclama a presente Declaração


Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum
a ser atingido por todos os povos e todas as nações,
com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da
sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se
esforce, através do ensino e da educação, por promo-
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VI Cidadania Moral e Ética

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Artigo I Artigo V
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem ou castigo cruel, desumano ou degradante.
agir em relação umas às ou- tras com espírito de frater-
nidade. Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
Artigo II reconhecida como pessoa perante a lei.
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos
e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem Artigo VII
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual-
língua, religião, opinião política ou de outra nature- quer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito
za, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou a igual proteção contra qualquer discriminação que vio-
qualquer outra condição. le a presente Declaração e contra qualquer incitamento
a tal discriminação.
Artigo III
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu- Artigo VIII
rança pessoal. Toda pessoa tem direito a receber dos tributos na-
cionais competentes remédio efetivo para os atos que
Artigo IV violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhe-
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A cidos pela constituição ou pela lei.
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em
todas as suas formas.
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Manual do Educador – 8o ano VII

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Artigo IX omissão que, no momento, não constituíam delito


Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exi- perante o direito nacional ou internacional. Tam-
lado. pouco será imposta pena mais forte do que aquela
que, no momento da prática, era aplicável ao ato
Artigo X delituoso.
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma
audiência justa e pública por parte de um tribunal in- Artigo XII
dependente e imparcial, para decidir de seus direitos e Ninguém será sujeito a interferências na sua vida pri-
deveres ou do fundamento de qualquer acusação cri- vada, na sua família, no seu lar ou na sua correspon-
minal contra ela. dência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda
pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interfe-
Artigo XI rências ou ataques.
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o di-
reito de ser presumida inocente até que a sua culpa- Artigo XIII
bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção
julgamento público, no qual lhe tenham sido asse- e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
guradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou inclusive o próprio, e a este regressar.

VIII Cidadania Moral e Ética

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Artigo XIV sociedade com outros.
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua pro-
de procurar e de gozar asilo em outros países. priedade.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de per-
seguição legitimamente motivada por crimes de di- Artigo XVIII
reito comum ou por atos contrários aos propósitos Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
e princípios das Nações Unidas. consciência e religião; este direito inclui a liberdade de
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar
Artigo XV essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacio- público ou em particular.
nalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo XIX
Artigo XVI Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex-
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qual- pressão; este direito inclui a liberdade de, sem interfe-
quer restrição de raça, nacionalidade ou religião, rência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma informações e ideias por quaisquer meios e indepen-
família. Gozam de iguais direitos em relação ao ca- dentemente de fronteiras.
samento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e Artigo XX
pleno consentimento dos nubentes. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e
associação pacíficas.
Artigo XVII 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em associação.
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IX

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Artigo XXI Artigo XXIII
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no gover- 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha
no de seu país, diretamente ou por intermédio de de emprego, a condições justas e favoráveis de tra-
representantes livremente escolhidos. balho e à proteção contra o desemprego.
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a
público do seu país. igual remuneração por igual trabalho.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu-
governo; esta vontade será expressa em eleições pe- neração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim
riódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto como à sua família, uma existência compatível com
secreto ou processo equivalente que assegure a li- a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
berdade de voto. necessário, outros meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e ne-
Artigo XXII les ingressar para proteção de seus interesses.
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito
à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, Artigo XXIV
pela cooperação internacional e de acordo com a orga- Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a
nização e recursos de cada Estado, dos direitos econô- limitação razoável das horas de trabalho e férias perió-
micos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade dicas remuneradas.
e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

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X Cidadania Moral e Ética

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Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses


morais e materiais decorrentes de qualquer produção
científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter-
nacional em que os direitos e as liberdades estabele-
cidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.

Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz
de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuida-
dos médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
direito à segurança em caso de desemprego, doen-
ça, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de per-
da dos meios de subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e
Artigo XXVI
assistência especiais. Todas as crianças nascidas den-
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será
tro ou fora do matrimônio gozarão da mesma pro-
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fun-
teção social.
damentais. A instrução elementar será obrigatória.
A instrução técnico-profissional será acessível a to-
dos, bem como a instrução superior, esta baseada
no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno de-
senvolvimento da personalidade humana e do for-
talecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promo-
verá a compreensão, a tolerância e a amizade en-
tre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol
da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gê-
nero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII
Toda pessoa tem o direito de participar livremente da
vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de par-
ticipar do processo científico e de seus benefícios.
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Manual do Educador – 8o ano XI

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Artigo XXIX
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade,
na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua per-
sonalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pes-
soa estará sujeita apenas às limitações determina-
das pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar
o devido reconhecimento e respeito dos direitos e
das liberdades de outrem e de satisfazer às justas
exigências da moral, da ordem pública e do bem-
-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
alguma, ser exercidos contrariamente aos propósi-
tos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode
ser interpretada como o reconhecimento a qualquer
Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qual-
quer atividade ou praticar qualquer ato destinado à
destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui
estabelecidos.”

Recorremos, aqui, à Constituição e à Declaração de


Direitos Humanos porque acreditamos que elas devem
estar em nosso horizonte quando falamos da prática
pedagógica. No entanto, reforçamos a ideia de que as
considerações a respeito da ética e da moral não são
modelos estanques a serem repassados para os estu-
dantes. Toda e qualquer norma ou regra representa uma
resposta a um determinado tempo/período histórico. É
por isso que nós, professores, devemos ter em mente
que trabalhamos com princípios passíveis de mudança,
e não com mandamentos. E, assim, devido ao caráter
abstrato dos valores morais e éticos, nosso papel pe-
dagógico e formativo deve basear-se na intenção de
colocar os alunos dentro desse processo de construção
contínua de valores, de modo a torná-los seres eman-
cipados e autônomos para agirem criticamente perante
os preceitos morais e éticos.
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XII Cidadania Moral e Ética

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O ensino baseado nos Parâmetros
Curriculares Nacionais

Tendo em vista estabelecer padrões que ajudem a sitam ser levadas em conta para que a igualdade seja
promover uma educação comprometida com a moral, efetivamente alcançada.
a ética e a cidadania, os PCN propõem os seguintes tó-
picos a serem trabalhados no Ensino Fundamental: Participação: Como princípio democrático, traz a no-
ção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade
Dignidade da pessoa humana: Implica respeito aos entre a representação política tradicional e a participa-
direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer ção popular no espaço público, compreendendo que
tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo não se trata de uma sociedade homogênea, e sim mar-
nas relações interpessoais, públicas e privadas. cada por diferenças.

Igualdade de direitos: Refere-se à necessidade de Corresponsabilidade pela vida social: Implica par-
garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de tilhar com os poderes públicos e diferentes grupos
exercício de cidadania. Para tanto, há que se considerar sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos
o princípio da equidade, isto é, que existem diferenças destinos da vida coletiva. É, nesse sentido, responsabili-
(étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religio- dade de todos a construção e ampliação da democracia
sas, etc.) e desigualdades (socioeconômicas) que neces- no Brasil.

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Manual do Educador – 8o ano XIII

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A importância do ensino de
Cidadania Moral e Ética na escola
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O ambiente escolar, além dos outros papéis, repre- Essa consciência dos valores morais, no entanto, não
senta um microcosmo da sociedade. O primeiro conta- deve ser imposta. É evidente que os estudantes devem
to com indivíduos que não fazem parte da nossa família saber diferenciar o certo e o errado, mas essa avaliação
e com os quais devemos estabelecer outro tipo de re- deve partir deles, de acordo com o conhecimento de
lação se dá no colégio. Essa é a nossa primeira vivência suas responsabilidades, com a evolução do seu senso
social. Lá aprendemos que temos, invariavelmente, de- crítico e a sua capacidade de decisão. Os estudantes
veres e direitos que devem ser seguidos e respeitados precisam assumir a sua prática, e não apenas seguir o
por todos que compõem aquela realidade. estabelecido, sem nenhum exercício de reflexão.
A formação do ser humano precede a formação do tra-
O papel da escola se estende para além da transmis- balhador. A educação existe antes para que possamos
são de conhecimento ou formação profissional. discutir, estabelecer e ajustar as normas sociais. Dessa
forma, o objetivo social da escola deve estar voltado para
Nesse local, a intenção primeira é a de ajudar a de- a formação de um cidadão consciente de suas ações e
senvolver as capacidades, a consciência, a compreen- obrigações e ativo na construção permanente da socie-
são de si mesmo, do outro e da sociedade. E é por dade. Por isso, a inclusão da matéria Cidadania Moral e
meio dessa experiência cotidiana que nos adequamos Ética no currículo do Ensino Fundamental e Médio é es-
às demandas sociais. sencial para o desenvolvimento social dos estudantes.

XIV Cidadania Moral e Ética

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Objetivos fundamentais
para o ensino de Ética

Levando em consideração que o volume de conhe- A adoção de atitudes solidárias, de cooperação, e re-
cimento produzido pela humanidade não pode ser púdio às injustiças e discriminações. A reflexão é apenas
completamente explorado em sala de aula, mesmo que o primeiro passo para uma atitude ética. É preciso que,
durante os doze anos previstos para a conclusão do En- além dos debates e preocupações sociais, nós sejamos
sino Fundamental e Médio, é fundamental que exista o reflexo do nosso discurso.
uma seleção de conteúdos que consideramos indispen- A compreensão da vida escolar como participação no
sáveis para a formação de um indivíduo. espaço público, utilizando e aplicando os conhecimen-
A inclusão do conteúdo de Cidadania Moral e Ética foi tos adquiridos na construção de uma sociedade demo-
aprovada no Senado no ano de 2012. As considerações crática e solidária.
do MEC sobre os objetivos a serem atingidos, durante o A valorização e o emprego do diálogo como forma de
Ensino Fundamental, são: esclarecer os conflitos e tomar decisões coletivas. Por
A compreensão do significado de justiça e a cons- isso a importância da construção dos debates no de-
cientização da construção de uma sociedade igualitária, senvolvimento da capacidade argumentativa.
tendo em vista a necessidade de internalizar e assimilar A construção de uma imagem positiva de si, o respei-
esse conceito na prática, para que possamos formar su- to próprio traduzido pela confiança em sua capacidade
jeitos sociais ativos. de escolher e realizar seu projeto de vida e pela legiti-
O respeito pelas diferenças — seja ela de credo, cor, mação das normas morais que garantam, a todos, essa
gênero, etc.—, fundamental ao convívio em uma so- realização.
ciedade democrática e pluralista; e a compreensão da Para que possamos atingir as metas estabelecidas, é
diversidade como uma oportunidade de ampliação do necessário que não só o professor de Cidadania Moral e
conhecimento, promoção do desenvolvimento pessoal Ética esteja comprometido, mas que todos os professo-
e social e enriquecimento dos processos de aprendi- res tenham em mente a responsabilidade da educação e
zagem. da conscientização social no processo de aprendizagem.
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Manual do Educador – 8o ano XV

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A educação e a construção da cidadania

Ulisses F. Araújo

cação de todos (crianças, jovens e adultos), a partir de


princípios coerentes com esses objetivos, e com a inten-
ção explícita de promover a cidadania pautada na de-
mocracia, na justiça, na igualdade, na equidade e na par-
ticipação ativa de todos os membros da sociedade nas
decisões sobre seus rumos. Dessa maneira, pensar em
uma educação para a cidadania torna-se um elemento
essencial para a construção da democracia social.
Entendemos que tal forma de educação deve visar,
também, ao desenvolvimento de competências para li-
dar com: a diversidade e o conflito de ideias, as influên-
cias da cultura e os sentimentos e emoções presentes
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nas relações do sujeito consigo mesmo e com o mundo


à sua volta.
Uma questão a ser apontada é que, atualmente, as
crianças e os adolescentes vão à escola para aprender
as Ciências, a Língua, a Matemática, a História, a Física, a
Geografia, as Artes, e apenas isso. Não existe o objetivo
Em seu sentido tradicional, a cidadania expressa um explícito de formação ética e moral das futuras gerações.
conjunto de direitos e de deveres que permite aos ci- Entendemos que a escola, enquanto instituição pública
dadãos a participação na vida política e na vida pública, criada pela sociedade para educar as futuras gerações,
podendo votar e serem votados, fazendo parte ativa- deve-se preocupar também com a construção da cida-
mente na elaboração das leis e do exercício de funções dania, nos moldes que atualmente a entendemos. Se
públicas, por exemplo. Hoje, no entanto, o significado os pressupostos atuais da cidadania têm como base
da cidadania possui contornos mais amplos, que ex- a garantia de uma vida digna e a participação na vida
trapolam o sentido de apenas atender às necessidades política e pública para todos os seres humanos, e não
políticas e sociais, e assume como objetivo a busca por apenas para uma pequena parcela da população, essa
condições que garantam uma vida digna às pessoas. escola deve ser democrática, inclusiva e de qualidade,
Entender a cidadania a partir da redução do ser hu- para todas as crianças e adolescentes. Para isso, deve
mano às suas relações sociais e políticas não é coeren- promover, na teoria e na prática, as condições mínimas
te com a multidimensinalidade que nos caracteriza e para que tais objetivos sejam alcançados na sociedade.
com a complexidade das relações que cada um e to- Mas como os valores são apropriados pelos sujei-
das as pessoas estabelecem com o mundo à sua volta. tos? Adotamos a premissa de que os valores não são
Deve-se buscar compreender a cidadania também sob nem ensinados, nem nascem com as pessoas. Eles são
outras perspectivas, por exemplo, considerando a im- construídos na experiência significativa que as pessoas
portância que o desenvolvimento de condições físicas, estabelecem com o mundo. Essa construção depende
psíquicas, cognitivas, ideológicas, científicas e culturais diretamente da ação do sujeito, dos valores implícitos
exerce na conquista de uma vida digna e saudável para nos conteúdos com que interage no dia a dia e da qua-
todas as pessoas. lidade das relações interpessoais estabelecidas entre o
Tal tarefa, complexa por natureza, pressupõe a edu- sujeito e a fonte dos valores.

XVI Cidadania Moral e Ética

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Ética

Na Filosofia, o campo que se ocupa da reflexão sobre das pessoas, seu projeto pessoal e também sua capaci-
a moralidade humana recebe a denominação de Ética. dade de universalização, que deve ser exercida dialogi-
Estes dois termos, ética e moral, têm significados pró- camente, pois, dessa maneira, elas poderão ajudar na
ximos e, em geral, referem-se ao conjunto de princípios construção do melhor mundo possível, demonstrando
ou padrões de conduta que regulam as relações dos saber que são responsáveis pela realidade social.
seres humanos com o mundo em que vivem. De forma específica, lidar com a dimensão comuni-
Uma educação ancorada em tais princípios deve con- tária, dialogar com a realidade cotidiana e as normas
verter-se em um âmbito de reflexão individual e coletiva vigentes nos remete ao trabalho com a diversidade hu-
que permita elaborar racionalmente e autonomamente mana, à abordagem e ao desenvolvimento de ações
princípios gerais de valor, que ajudem a defrontar-se que enfrentem as exclusões, os preconceitos e as discri-
criticamente com realidades como a violência, a tortura minações advindos das distintas formas de deficiência
ou a guerra. De forma específica, educação ética e mo- e das diferenças sociais, econômicas, psíquicas, físicas,
ral deve ajudar na análise crítica da realidade cotidiana culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero.
e das normas sociais e morais vigentes, de modo que Conceber esse trabalho na própria comunidade onde
contribua para idealizar formas mais justas e adequa- está localizada a escola, no ambiente natural, social e
das de convivência. Ainda na linha de compreensão do cultural de seu entorno, é essencial para a construção
papel da educação para a formação ética dos seres hu- da cidadania efetiva.
manos, alguns teóricos entendem que a educação dos Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/
cidadãos deve levar em conta a dimensão comunitária materiais/0000015509.pdf. Adaptado. Acessado em: 14/07/2014.
loreanto/Shutterstock.com

Manual do Educador – 8o ano XVII

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 17 05/01/17 23:45


Estrutura da coleção

Com o intuito de promover uma educação plena, a unidade temática, norteadora das discussões, que é
coleção leva para a sala de aula os temas mais impor- subdividida em três seções que se intercalam para um
tantes e próximos aos alunos, para que, por meio de melhor aprofundamento do tema. Essas seções têm
textos, imagens, exercícios e debates, eles possam de- funções específicas e buscam estruturar da maneira
senvolver solidamente a sua consciência social. mais didática e agradável o conteúdo estudado. Veja-
Os capítulos que compõem os livros abrigam uma mos, a seguir, quais elas:

Linguagem,
1
Capítulo

pensamento e
cidadania
Vamos dialogar!: Esta é a única seção
que se apresenta, exclusivamente, no Vamos dialogar!
princípio de cada capítulo. Aqui, intro-
Estamos o tempo inteiro nos comunicando e mani-
duzimos a temática por intermédio de Conhecimentos prévios festando o que pensamos e sentimos, seja por meio

imagens. A intenção é que os alunos • Você conseguiria identificar


das palavras que dizemos, cantamos, escrevemos, seja
através de nossos gestos, nossa feição ou até mesmo
construam suas falas a partir da memó- alguma linguagem no seu
dia a dia?
dos símbolos que criamos para exprimir alguma sen-
sação, como os emoticons usados nas redes sociais
ria visual que as fotografias, somadas • A linguagem que você
da Internet. Todas essas formas que criamos para ex-
usa com seus colegas é a
ao tema, despertam neles. O resultado mesma usada com a sua
travasar o que se passa em nossa mente se dão pela
linguagem, e a linguagem que empregamos diz sobre
dessa abordagem ampla é a probabili- família? Por quê?
• Você exerce a cidadania no
quem somos, de onde viemos, o que achamos do mun-
do à nossa volta, etc. É sobre isso que estudaremos
dade de surgirem inúmeras e valiosas dia a dia?
neste capítulo.
• Você consegue manifestar
reflexões que ajudarão na construção

Syda Productions/Shutterstock.com
a cidadania pela linguagem
de sentido dos assuntos abordados. e pelo pensamento?

Rawpixel/Shutterstock.com

CMeE_8A_2017_01a80.indb 6 28/12/16 20:03

XVIII Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 18 05/01/17 23:45


Questão de ética: Esta seção aparece depois de cada
? Questão de ética tópico proposto no capítulo. Dessa forma, podemos
nos aprofundar no conteúdo de maneira gradual e
1. Você se considera um cidadão? Por quê? agradável, sem diferenciar a apreensão teórica e prá-
tica. As questões têm o propósito de colocar o aluno
Resposta pessoal

como protagonista, demandando reflexão para a expo-


2. Por que é importante cada um de nós aprendermos e praticarmos o conceito de cidadania?
Porque cidadania é uma relação política entre um indivíduo e a sociedade, em virtude da
sição do seu ponto de vista. É interessante, também,
qual o indivíduo é membro de pleno direito dessa comunidade e a ela deve lealdade pedir que os alunos compartilhem suas respostas a fim
permanente.
de que toda a turma possa ser responsável, conjunta-
mente, pela conclusão desses tópicos.
3. Segundo o texto, nossa identidade é composta por quais componentes?
A noção de igualdade social em busca da dignidade para todos e as especificidades

individuais.

4. Você acha que os componentes citados na questão anterior podem entrar em atrito? Explique.
Resposta pessoal

5. Leia o trecho a seguir:

“[...] a sociedade deve organizar-se de modo a conseguir gerar em cada um de seus


membros o sentimento de que pertence a ela [...]”

O trecho lido nos remete à ideia de pertencimento, ou seja, à crença subjetiva em uma ori-
gem comum que une os diferentes indivíduos. Os indivíduos pensam em si mesmos como
membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores, medos e ideais. A partir
disso, você se considera pertencente a algum grupo?

Resposta pessoal

Para refletir
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 49 Transportes alternativos do Brasil

O já famoso Teleférico do Alemão é o primeiro


CMeE_8A_2017_01a80.indb 49 28/12/16 20:04 transporte de massa por cabos do Brasil. Em funcio-
namento desde julho de 2011, as gôndolas já trans-
portaram mais de 3,5 milhões de pessoas. A viagem
da primeira estação (Bonsucesso/Tim) à última (Pal-
meiras) dura 16 minutos. O Elevador Lacerda já faz
parte da vida de Salvador e é um cartão-postal da

Para Refletir: Esta seção também se interpõe entre os


cidade. Sua função é fazer a ligação entre as cidades
alta e baixa da capital baiana. Mas, com o passar dos

textos responsáveis pelo desenvolvimento do conteú-


anos, esse gigante contemplador da Baía de Todos
os Santos se tornou um dos pontos turísticos mais vi-
sitados. A média de pessoas que utilizam o transpor-
do e as questões, que auxiliam nesse progresso. Nesse te chega a 900 mil por mês. A travessia ainda oferece
aos turistas umas das vistas mais belas da capital.
espaço, selecionamos diversos escritos que abordam o A Bacia Amazônica, por natureza, já favorece o
deslocamento pelas águas dos rios Solimões, Ama-
assunto do capítulo sob um viés lúdico. São crônicas, zonas, Negro, Madeira, entre outros. As viagens são
feitas principalmente entre as cidades de Manaus
reportagens, sinopses, indicações de filmes, etc. que (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Macapá (AP) e
Porto Velho (RO).
aproximam, ainda mais, os jovens estudantes das re-
flexões propostas.
? Questões para reflexão

1. Qual é a importância dos transportes alternativos citados para a população que faz
uso deles?
2. Na região em que você mora, existe algum tipo de transporte alternativo? Qual?
Você faz uso dele?
3. Que modelos de transporte você acha que poderiam ser implantados na sua
cidade para melhorar a locomoção e preservar o meio ambiente?

80 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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Manual do Educador – 8o ano XIX

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 19 05/01/17 23:45


Sumário

Capítulo 1

Linguagem, pensamento e cidadania.......6


O que é linguagem?...........................................................................8
Língua e sociedade............................................................................14

Capítulo 2

Viver dignamente........................................................20
Progresso e desigualdade............................................................21
Os direitos humanos..........................................................................26
Os direitos do jovem..........................................................................31
Moradia, um direito..............................................................................37
O direito à saúde..................................................................................43

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO_Cap_1.indd 4 18/01/17 08:33


Capítulo 3

Somos cidadãos do mundo...............................46


O indivíduo e a sociedade.............................................................48
A ética e a corrupção........................................................................51
Desenvolvimento sustentável.....................................................56
Cidadania e solidariedade.............................................................62

Capítulo 4

Cuidados no trânsito................................................66
Dicas de trânsito para os pedestres.....................................68
Atenção às leis do trânsito...........................................................71
Álcool não combina com direção............................................76
Benefícios de andar de bicicleta.............................................78

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1
Capítulo

Objetivos
Linguagem, pensamento
e cidadania
Linguagem,

1
Pedagógicos

Capítulo
pensamento e
• Compreender o conceito de
linguagem e as manifestações
cidadania
cotidianas dessa importante
ferramenta.
• Entender como a linguagem, ou Vamos dialogar!
tudo aquilo que expressamos, Estamos o tempo inteiro nos comunicando e mani-
está relacionada ao nosso Conhecimentos prévios festando o que pensamos e sentimos, seja por meio
das palavras que dizemos, cantamos, escrevemos, seja
pensamento e como essa relação • Você conseguiria identificar
através de nossos gestos, nossa feição ou até mesmo
pode ser bem utilizada se alguma linguagem no seu
dos símbolos que criamos para exprimir alguma sen-
dia a dia?
tivermos o objetivo de praticar a • A linguagem que você
sação, como os emoticons usados nas redes sociais
da Internet. Todas essas formas que criamos para ex-
cidadania. usa com seus colegas é a
travasar o que se passa em nossa mente se dão pela
mesma usada com a sua
• Estudar a importância da família? Por quê?
linguagem, e a linguagem que empregamos diz sobre
quem somos, de onde viemos, o que achamos do mun-
linguagem para a comunicação e • Você exerce a cidadania no
do à nossa volta, etc. É sobre isso que estudaremos
a expressão da sensibilidade. dia a dia?
• Você consegue manifestar
neste capítulo.

Syda Productions/Shutterstock.com
• Conhecer algumas teorias da a cidadania pela linguagem
e pelo pensamento?
origem da linguagem.
• Analisar a associação entre
língua e sociedade.
• Discutir como a expressão
corporal pode se revelar
um importante veículo de
comunicação.

Sugestão de leitura ////


Ética e educação

Rawpixel/Shutterstock.com
Autor: Nilson José Machado

Ética e educação são temas canden-


tes que se entrelaçam e se alimentam
mutuamente. No cerne de ambos, en-
contram-se as ideias de conhecimento CMeE_8A_2017_01a80.indb 6 28/12/16 20:03

e valor. Esta obra procura apresentar microensaios reunidos tem o intuito de


um mapeamento de questões relativas examinar tal fato. A outra metade tra- Anotações
a tais temas, em busca de uma perspec- ta de explicitar como o modo de pen-
tiva crítica ao alcance de educadores e sar sobre o conhecimento influencia
de cidadãos em geral. Procura trazer as ações educacionais, ou seja, como
como focos que aglutinam os textos os a epistemologia interfere diretamente
pares pessoalidade/cidadania e didá- na didática. Numa época marcada pelo
tica/epistemologia. Iguais como cida- excesso de informações e análises, esse
dãos, as pessoas são diferentes como título buscou optar por uma forma sin-
pessoas e não buscam a escola para tética de apresentação das reflexões.
esquecer tais diferenças; metade dos

6 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 6 05/01/17 23:45


Anotações
Para começar, observe as seguintes imagens e discuta alguns pontos logo a seguir com
seus colegas e seu professor, observando como cada uma delas representa um tipo de mani-
festação da linguagem.
Da esquerda para direita de cima para baixo: Jack.Q, Maxi_m, RATOCA, wckiww, Ollyy/Shutterstock.com

preensão do aluno sobre esse assunto


de forma prática e/ou lúdica. Podemos
sugerir algumas:
• Pedir que o aluno descreva — por
meio de texto escrito e desenho —
o trajeto por ele realizado de sua
casa até a escola. Nessa atividade,
ele deverá lembrar manifestações da
linguagem não verbal encontradas
nesse percurso: em placas e sinais
de trânsito, outdoors, fachadas de
edifícios e estabelecimentos comer-
ciais, etc.
• O professor pode, ainda, levar para
? Questões para reflexão a sala diversas figuras (recortes de
periódicos, fotografias ou simples
1. A partir do seu conhecimento de mundo, o que é linguagem? desenhos) de exemplos de textos
2. O ato de comunicar é uma linguagem? cotidianos não verbais. Enquanto os
3. O ser humano conseguiria viver sem manifestar sua linguagem? mostra, pode solicitar que os alunos
4. Atualmente, vivemos em um mundo repleto de tecnologia, então ela passa a
identifiquem os significados de cada
colaborar para um novo tipo de manifestação linguística?
símbolo e os descrevam fazendo uso
da linguagem verbal.
• Outra sugestão é fazer um passeio
7
Cidadania Moral e Ética I 8o ano
pelas dependências da escola identi-
ficando, por meio da incitação ao ra-
CMeE_8A_2017_01a80.indb 7 28/12/16 20:03
ciocínio dos alunos, os casos em que
a linguagem não verbal desempenha
Sugestão de Abordagem situações práticas de comunicação.
• Seria interessante, também, mostrar
Nesta abertura de capítulo, aproveite modalidades. Converse com os alunos aos alunos que a arte, muitas vezes,
para despertar a curiosidade dos alunos sobre isso, peça que eles digam outras apropria-se da linguagem não verbal.
sobre o tema, instigando-os a refleti- formas de usar a linguagem no dia a dia. Um eficiente instrumento para essa
rem sobre as diversas manifestações Mostre que, neste momento, na sala de demonstração é algum livro que faça
da linguagem. As que estão represen- aula, algumas dessas formas estão sendo uso exclusivamente de imagens para
tadas nas imagens são apenas alguns utilizadas. narrar uma história (existem muitos
exemplos e devem servir de ponto de Durante essa discussão, existem inú- desses livros entre os de literatura in-
partida para a reflexão sobre outras meras possibilidades de facilitar a com- fantojuvenil).

Manual do Educador – 8o ano 7

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 7 05/01/17 23:45


1
Capítulo

Fundamentação
Linguagem, pensamento
e cidadania
No decorrer da história, a linguagem O que é linguagem?
foi e ainda é fator determinante para o
desenvolvimento do ser humano, pois A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comuni-
cação entre pessoas e para a expressão de ideias, valores e sentimentos.
nasceu da necessidade de sobrevivên-
Os elementos que formam a linguagem são chamados de signos, que indicam ou represen-
cia que o ser humano incorporou a tam outros. Por exemplo, a fumaça é um signo ou sinal de fogo. Os signos linguísticos são as
linguagem como elo entre os seres de palavras. Uma mesma palavra pode exprimir sentidos ou significados diferentes, dependendo
igual espécie. de quem a emprega, de quem a ouve ou lê e do contexto em que é usada.
Em meio às outras espécies, o ho- É a linguagem que estabelece a comunicação entre os seres humanos. Por meio das pala-
mem se sobressaiu apenas por alguns vras, relacionamo-nos com os outros, dialogamos, argumentamos, relatamos, discutimos, ama-
mos e odiamos, ensinamos e aprendemos, etc.
fatores que os diferenciam das demais,
dentre eles está, sem dúvida nenhuma,
a linguagem, fator essencial da comuni-
cação. Vygotsky (1987, p. 5) argumenta
que “a verdadeira comunicação huma-
na pressupõe uma atitude generalizan-
te, que constitui um estágio avançado
do desenvolvimento da palavra. As
formas mais elevadas da comunicação
humana são possíveis porque o pensa-
mento do homem reflete uma realida-
de conceitualizada [...]”.

– Linguagem e participação social

Os Parâmetros Curriculares Nacio-


nais fazem uma alusão contundente no
A importância e a força da linguagem
sentido de não podermos ignorar o po-
der da linguagem. Desde que o homem se apercebeu de sua sensibilidade e notou a presença desta em outros
O Ministério da Educação afirma que: homens, nasceram a necessidade e o desejo de comunicar os sentimentos e pensamentos.
[...] o domínio da língua tem estreita O filósofo grego Aristóteles, em sua obra Política, diz que o homem é o único “animal polí-
relação com a possibilidade plena de tico”, pois só ele é dotado de linguagem. Ao contrário dos outros animais, que exprimem dor e
participação social, pois é por meio prazer por meio da voz (phoné), o homem possui a palavra (lógos) para exprimir seus valores,
dela que o homem se comunica, tem tornando possível a vida política e social.
A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o
acesso a informação, expressa e defen- mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes.
de pontos de vista, partilha ou cons- Já Platão, no diálogo Fedro, dizia que a linguagem é um phármakon, palavra que possui três
trói visões de mundo, produz conhe- sentidos principais: remédio, veneno e cosmético.
cimento. (BRASIL. Secretaria de Ensino
Fundamental. Parâmetros Curriculares 8 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
Nacionais: língua portuguesa. Brasília.
MEC/ SEF, 1997)
CMeE_8A_2016_CAP1.indd 8 05/01/17 23:16

Assim, um projeto educativo compro- Sugestão de Abordagem


metido com a democratização social e
cultural deve atribuir à escola a função
É importante criar ambientes favo-
e a responsabilidade de garantir a todos que, progressivamente, durante os oito ráveis para que a comunicação ocorra
os alunos o acesso aos saberes linguísti- anos do ensino fundamental, cada alu- fluentemente fazer uso dos artifícios
cos necessários para o exercício da cida- no seja capaz de interpretar diferentes da Língua Portuguesa e da grande
dania, direito inalienável de todos. textos e em vários contextos sociais. quantidade de textos que circulam
Considerando os diferentes níveis
em nosso meio.
de conhecimento prévio, cabe à esco- Disponível em: http://static.recantodasletras.com.br/
Na era da informação e da tecnolo-
la promover a sua ampliação de forma arquivos/2215344.doc. Acesso em 03/11/2016.
gia, é preciso utilizar-se também dos

8 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 8 05/01/17 23:45


Fundamentação

Fedro, de Platão

Em Fedro, há uma passagem em


que Platão apresenta o mito de Theut,
que narra a invenção da escrita por
esse deus egípcio. Theut (ou Thot)
apresenta sua invenção ao supremo
deus Amon como algo que auxiliaria
a memória dos homens e os tornaria
sábios. A resposta de Amon repre-
senta a posição platônica: ao contrá-
rio, diz ele, aquele que se fiar na es-
crita perderá a memória, passando a
Ou seja, Platão considera que a linguagem pode ser um medicamento, ou um remédio, para
depender de um signo externo, e não
o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorân- de sua própria capacidade de lem-
cia e aprender com os outros. brar, e não se tornará mais sábio, mas
Pode, porém, ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar uma ideia, receberá informações sem a instrução
fascinados com o que vimos ou lemos, sem que indaguemos se tais palavras são verdadeiras adequada, parecendo sábio quando,
ou falsas. na verdade, será bem ignorante. E,
Por fim, a linguagem pode ser um cosmético, uma maquiagem ou máscara para dissimular ou
finalmente, Sócrates conclui, no diá-
ocultar a verdade sob as palavras.
Podemos avaliar a força da linguagem tomando como exemplos os mitos e as religiões. A logo, que a palavra escrita parece
palavra grega mythos significa narrativa e, portanto, linguagem. A linguagem tem um poder conter o entendimento das coisas,
encantatório. Note que, em quase todas as religiões, existem profetas e oráculos, isto é, pes- porém, quando interrogada, simples-
soas escolhidas para transmitir mensagens divinas aos humanos. mente nos devolve a pergunta. Além
disso, uma vez que algo é escrito,
passa a circular entre aqueles que o
entendem, mas também entre os que
não o entendem. Uma coisa escrita
não pode distinguir entre os bons e
maus leitores; a palavra escrita é, as-
sim, incapaz de se defender contra o
seu mau uso e necessita, portanto, de
que o autor venha em seu socorro.
Platão opõe aqui a linguagem escri-
ta à linguagem falada, o diálogo, para
ele a forma por excelência de realiza-
ção da filosofia enquanto discussão,
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 9 debate, por meio do qual se pode ar-
gumentar e contra-argumentar.
Em A farmácia de Platão, o filóso-
CMeE_8A_2017_01a80.indb 9 28/12/16 20:03 fo francês contemporâneo Jacques
Derrida comenta esse mito, que serve
de ponto de partida para sua discus-
são sobre a linguagem e sobre a ques-
meios tecnológicos para que a inclusão ideologia contida em seu posiciona-
tão da leitura de textos (no caso de
não passe de uma utopia. Faz-se neces- mento, ler as entrelinhas.
Platão), levando a uma releitura e ree-
sário também despertar no educando Também, não podemos nos esquecer
laboração de suas questões. Derrida
a faculdade de analisar criticamente que a escola precisa estar preparada
explora o uso da palavra pharmakon
textos que circulam nos meios de co- para o exercício da cidadania como um
(“remédio”) no texto, quando Thot diz
municação de massa, incentivando-o ideal a ser seguido em todos os mo-
que a palavra escrita é um remédio
à prática da leitura do subtexto, isto mentos de sua conduta.
para a memória, enquanto Amon (ou
é, compreender o texto e identificar a

Manual do Educador – 8o ano 9

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 9 05/01/17 23:45


1
Capítulo

Thamus) inverte a questão dizendo


Linguagem, pensamento
e cidadania
que a palavra escrita poderia ser um
veneno (para os gregos, pharmakon
pode ser remédio ou veneno, no
fundo dependendo essencialmente
da dosagem) que faria com que os
homens se fiassem demais na escrita
e perdessem o verdadeiro conheci-
mento.

CREATISTA/Shutterstock.com
Sócrates conclui dizendo o que é
necessário para um discurso verda-
deiro, na medida em que isso seria
possível:
“Toda nossa discussão anterior E, o que é melhor, ter consciência dos significados dos gestos é muito importante,
principalmente porque, por ser natural e inconsciente, a linguagem corporal não mente e
mostrou que o discurso, seja o que
permite uma leitura mais precisa do seu interlocutor. Por exemplo: quando uma pessoa, ao
pretende persuadir, seja o que pre- pensar para responder a uma pergunta, olha para cima à direita, significa que ela vai omitir
tende ensinar, não pode ser cons- ou mentir sobre algo. Se olhar para cima à esquerda, ela está tentando lembrar de alguma
truído cientificamente, na medida em coisa. Torcer o pé, apoiando-se na parte lateral da sola, e abaixar a cabeça pode revelar
que sua natureza permite um trata- que você está com vergonha. Cruzar os braços ou as pernas é sinal de que você não está
mento científico, a menos que as se- querendo conversa ou não concorda com a opinião de quem fala. Cruzar os dedos com
guintes condições sejam satisfeitas. as mãos juntas, curvar-se ou ainda dobrar as pernas é uma insinuação de que você está
implorando por algo. Curvar o tórax colocando os ombros para baixo é uma postura que
Em primeiro lugar, deve-se conhecer
revela timidez e insegurança. Agora, se você estufa o peito projetando o tórax para frente,
a verdade sobre o assunto de que passa a imagem de uma pessoa imponente e até arrogante.
trata no discurso oral ou escrito, deve Ou seja, a maneira como você se expressa nunca é inocente. Ela revela muito da-
ser capaz de defini-lo genericamen- quilo que vai na sua cabeça e no seu coração.
te e, sendo capaz disso, deve dividi- Disponível em: http://www.rolfing-sp.com.br/noticias/2011-08-21-linguagem_corporal.php. Adaptado. Aces-
-lo nos vários tipos específicos até sado em 09/04/2014.

o limite da divisibilidade. Em segui-


da, deve-se analisar de acordo com
os mesmos princípios a natureza da ? Questões para reflexão
alma e descobrir que tipo de discur-
so é adequado a cada tipo de alma. 1. Você se identificou com algum dos exemplos de movimentação corporal que indica
Finalmente, deve-se organizar o dis- uma emoção ou um pensamento? Qual?
curso de tal maneira que os discursos 2. Você costuma prestar atenção no modo como as pessoas gesticulam ou movimen-
simples sejam dirigidos às almas sim- tam o corpo? Por quê?
3. Que outros movimentos corporais refletem o que estamos pensando ou sentindo?
ples e os discursos mais complexos e
abrangentes, às almas mais elevadas.”

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de linguagem:


de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Cidadania Moral e Ética I 8o ano 19
2009, p. 20.

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Anotações

10 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de
Abordagem
? Questão de ética As questões relativas ao poema
Traduzir-se, de Ferreira Gullar, devem
servir como oportunidade de reflexão
1. Aprendemos que a linguagem surge da necessidade de expressar a comunicação do ho-
mem. Sendo assim, é possível a existência do ser humano sem linguagem?
direcionada ao texto, mas sem limitar
as possibilidades de leitura. Quando
A linguagem é um modo de manifestação da existência. Sendo assim, toda vida pressupõe
tratamos de um poema, geralmente,
a necessidade de uma manifestação da sua efetivação. O choro, a fome, a carência, a não existe um único sentido. É preciso
alegria, o aprendizado, enfim, tudo o que há no homem comunica-se com outrem e com o ensinar o aluno a relacionar o texto
poético com todo o conhecimento de
mundo. Não se pode pensar o ser humano isolado nem mesmo isolado em si mesmo.
mundo que o leitor possui. Uma leitu-
O homem é relação. ra coletiva do poema e uma pequena
discussão ajudariam na compreensão
2. Leia o texto abaixo e responda: do texto.

Traduzir-se

Uma parte de mim


é todo mundo;
outra parte é ninguém:
Anotações
fundo sem fundo.

Uma parte de mim


é multidão;
outra parte, estranheza
e solidão.

Uma parte de mim


pesa, pondera;
outra parte delira.

Uma parte de mim


almoça e janta;
outra parte
se espanta.
[...]
Uma parte de mim
Accord/Shutterstock.com

é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
[...]
GULLAR, Ferreira. Os melhores poemas de Ferreira Gullar. São Paulo: Global, 1983. p.144.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 11

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Manual do Educador – 8o ano 11

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1
Capítulo Linguagem, pensamento
e cidadania
a. Quais aspectos da vida em sociedade podem ser percebidos na poesia?

Eu (ego) e outro (alteridade); vida em sociedade e solidão. Hábitos e necessidades sociais,

bem como a própria condição vital de desenvolver-se e, com isso, modificar-se e morrer também.

b. Procure no dicionário o significado da palavra vertigem e responda: na sexta estrofe, o que


o poeta quis dizer ao apresentar a linguagem como parte do homem e oposta à vertigem?

Vertigem pode significar variações, tonturas, desvarios. No contexto, pode-se inferir

vertigem como sentimento único e mórbido. Já a linguagem seria o oposto, podendo ser

vivacidade, dinamismo, multiplicidade de expressões.

c. Assinale as afirmativas corretas em relação ao poema:

( X ) “Fundo sem fundo”, na primeira estrofe, pode se referir a um vazio existencial, à solidão.
( X ) Podemos entender a oposição feita na quarta estrofe como a do homem comum, que cum-
pre suas atividades do dia a dia, com o artista, que se pega pensando de modo mais sensível
para as coisas. E o homem comum e o artista podem fazer parte da mesma pessoa.
( X ) O próprio poema é uma tradução ou tentativa de tradução das duas “partes” do homem.
( ) O texto se chama Traduzir-se porque seu autor é italiano.

3. O pronome reflexivo do título se e o poema escrito em primeira pessoa levam o leitor a de-
preender qual é a proposta do autor?

A proposta do autor é interpretar a si mesmo.

4. Procure no dicionário o significado da palavra traduzir e relacione seu significado com o


poema de Gullar.

A palavra traduzir pode significar: manifestar, revelar, explicar, demonstrar, interpretar, etc., e

a relação com o poema não é traduzir qualquer coisa, trata-se de autoanálise, de uma

descrição profunda de si mesmo.

12 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

CMeE_8A_2017_01a80.indb 12 28/12/16 20:03

12 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de
Abordagem
5. Observe a tirinha de Mafalda. A personagem relaciona o simbólico com a realidade física. De Na questão 6, o importante é que
que forma ela faz isso? E qual é o sentido da crítica realizada?
o aluno saiba reconhecer, em sua
própria vivência, a manifestação de
seus sentimentos. Alguns alunos têm
habilidade para desenhar, enquanto
outros se dão melhor escrevendo. O
professor precisa estar atento ao ob-
jetivo da atividade.
A questão 7 pode ser respondida
Na tirinha, é como se o pensamento que nós recebemos e acumulamos pudesse ser medido pelos alunos no caderno ou pode-se
fisicamente. Para Mafalda, a sociedade é autoritária ao determinar o que nós aprendemos. pedir que eles digam em voz alta o
que cada imagem representa. Peça
para que eles justifiquem cada res-
posta com base nos elementos das
6. Crie uma história em quadrinhos apresentando um acontecimento particular no qual você
manifestou com ênfase seu sentimento (bom ou ruim).
imagens. Esse tipo de atividade é im-
Resposta pessoal portante para que os alunos desen-
volvam a capacidade de ler textos das
7. Analise as imagens abaixo e, a partir de sua percepção crítica, indique como os gestos e as
feições das pessoas refletem pensamentos e sentimentos. mais variadas formas e, assim, tor-
nem-se melhores leitores do mundo.
Da esquerda para direita, de cima para baixo: alphaspirit, OLJ Studio, Flashon Studio, shalunts, sebra/Shutterstock.com

Anotações

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 13

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Manual do Educador – 8o ano 13

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 13 05/01/17 23:45


1
Capítulo

Sugestão de leitura ////


Linguagem, pensamento
e cidadania
8. O professor dividirá a turma em pequenos grupos para realizar o seguinte experimento:
Linguagem e ideologia
Autor: José Luiz Fiorin • Vocês criarão uma rede social com cartazes a serem afixados no mural da sala durante uma
semana. Cada dia da semana, uma equipe se responsabilizará por preencher o cartaz com
Existem duas maneiras de abordar notícias de jornais, informações sobre a escola e a comunidade, trechos de livros e imagens.
o fenômeno linguístico — uma se • Os outros alunos participarão inserindo códigos ou emoticons que indiquem sua reação diante
do que está exposto. É bom que também haja espaço para pequenos comentários.
preocupa somente em analisar in-
ternamente a linguagem, estudando
os fatos linguísticos; outra despreza
as particularidades da linguagem e
busca traçar uma ponte entre os fatos
Língua e sociedade
linguísticos e a estrutura social. Este Há muito tempo, pesquisadores do mundo todo estudam as línguas e seu comportamento
livro defende que a linguagem pode, variável. Ao encontrar uma pessoa, determinado grupo ou até uma comunidade que fale di-
ao mesmo tempo, gozar de certa ferente, ocorre uma preocupação em compreender as razões que influenciam essa variação
autonomia em relação às formações existente na fala espontânea. Isso possibilita uma linha divisória que separa a forma mais aceita
sociais e sofrer as determinações da na sociedade, preferida na escola e no âmbito profissional, da forma que foge às normas grama-
ticalizadas. O estudo das construções influenciadas por hábitos que perduram na sociedade,
ideologia. O autor procura apresentar
levando em conta não apenas aspectos linguísticos, mas também extralinguísticos, recebeu o
que níveis e dimensões são autôno- nome de Sociolinguística.
mos e determinados.

Fundamentação
A língua é uma arma carregada

Sem dúvida, a falta de escola é um


indicador concreto da existência de de-
sigualdade social. O papel da escola é
conscientizar as crianças, os jovens e os
adultos a respeito da linguagem, apre-

Monkey Business Images/Shutterstock.com


sentando opções linguísticas para que
elas cheguem a ser “bidialetais”, para
usar as palavras de Evanildo Bechara
(Ensino da Gramática: Opressão? Liber-
dade? São Paulo: Ática, 1985).
[...]
O uso da linguagem é uma prática
14
sociocultural e portadora das identida- Cidadania Moral e Ética I 8o ano

des dos diferentes grupos que a utili-


zam na interação cotidiana. Seria qui- CMeE_8A_2017_01a80.indb 14 28/12/16 20:04

mérico pensar que algum dia todos os


cidadãos vão falar sem variação regio-
nal ou social. gem informal oral seja o “primo pobre” marcas da oralidade espontânea. [...]
[...] do idioma e a língua escrita formal seja o Não há uma única norma, mas várias,
A importância dada à língua escrita “verdadeiro” português. que dependem do tipo de texto e da
em detrimento da oral gera insegu- A língua falada e a escrita têm gramáti- situação social em que o usuário se en-
rança, tensão e frustração em muitas cas e normas distintas. Quando for ques- contra.
pessoas. Considerar “erradas” fórmulas tão de atividades “públicas”, apresentadas
como “com certeza”, “pra chuchu”, “tipo oralmente com base num texto escrito, a SCHMITZ, John Robert. “A língua é uma arma
15 horas”, “se liga”, usadas em contex- expectativa é que os oradores se expres- carregada”. In: Revista Língua Portuguesa, dezembro de
2011. Adaptado.
tos descontraídos, sugere que a lingua- sem no registro formal desprovido de

14 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 14 05/01/17 23:45


Anotações
Tuzemka/Shutterstock.com

As relações sociais, que reúnem e integram pessoas e grupos, nascem na vivência do cotidia-
no coletivo. A partir da singularidade das situações do dia a dia, configuram-se as interfaces que
aproximam as práticas comunicativas e a formação social da realidade e que se instalam na subje-
tividade individual para aflorar na unificação do senso comum. Para relacionar a língua à socieda-
de, os teóricos especialistas na área afirmam que a estrutura social pode influenciar ou determinar Se o único meio de estar em conta-
a estrutura da língua ou seu comportamento, o que prova que os valores sociais costumam ter to com o mundo é ser do mundo, es-
efeito sobre a língua. [...] Não é novidade que todas as línguas estão em processo constante de
tar no mundo e viver o mundo, dizer
variação. Uma língua se modifica em uma época, em um lugar ou em um grupo social.
que “vim ao mundo” e que “tenho um
Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Escala. corpo” é a mesma coisa, pois meu meio
de relações com o mundo é esse cor-
Questão de ética po que existe. Se eu fosse consciência
? pura, apenas espírito, não poderia me
relacionar com o mundo e as coisas: va-
1. Você percebe diferenças entre o modo como você fala e o modo como outras pessoas fa- garia feito alma penada.
lam? Cite algumas dessas diferenças. [...]
Resposta pessoal O corpo não é, então, uma simples
adição contingente à alma, mas, sim,
uma estrutura permanente de nosso ser
e condição necessária para a existência
2. A respeito do texto, classifique as afirmativas em verdadeiras (V) ou falsas (F).
da consciência, como consciência de
( V ) A Sociolinguística é o ramo que estuda a influência dos aspectos sociais nas manifesta-
mundo. Sem corpo, não podemos viver
ções da língua. no mundo e não podemos ter cons-
( F ) A língua falada pelas pessoas no cotidiano é exatamente a mesma que aprendemos na ciência do mundo nem de nós mes-
gramática normativa. mos. O corpo não deve ser visto como
( V ) O fenômeno da variação linguística é comum a todas as línguas. uma barreira entre nós e as coisas, ele
( V ) Condição social, idade, lugar e época são fatores que interferem na língua de um falante. apenas manifesta nossa individualidade
perante elas e a contingência de nossa
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 15 relação com elas.
[...] Uma das formas de relação do
homem com os outros e com o mundo
é a fala. As línguas não são resultantes
CMeE_8A_2017_01a80.indb 15 28/12/16 20:04

Fundamentação de uma simples convenção do pensa-


Existencialismo e corporeidade para a alma, tentando mostrar que um só mento, mas nascem das várias maneiras
pode existir pelo outro. Isto é, não dá para de o homem, como corpo, vivenciar e
Uma corrente filosófica do século XX, falar em corpo sem falar em consciência celebrar o mundo.
o existencialismo, é a responsável por (ou alma, espírito) e vice-versa. Segundo Na verdade, o corpo, por meio da
uma mudança radical na forma de a o existencialismo, o único meio que te- fala, não traduz um pensamento, ele é
filosofia perceber a corporeidade. Ela mos de conhecer o corpo é vivenciá-lo. É o próprio pensamento.
tenta ir além do dualismo que marcou confundir-se com ele, viver dramas e pai-
toda a história da filosofia e que colo- xões, captar e fluir com ele em sua exis- GALLO, Sílvio (coord.) Ética e cidadania: caminhos da
filosofia. Campinas, SP: Papirus, 2003, p. 63, 64.
cava o corpo apenas como um veículo tência que se levanta diante do mundo.

Manual do Educador – 8o ano 15

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 15 05/01/17 23:45


1
Capítulo Linguagem, pensamento
e cidadania
3. Leia, a seguir, dois excertos da obra literária Vidas secas, do escritor Graciliano Ramos. Eles
se referem a Fabiano, personagem central do romance, que pertence a uma família de reti-
rantes sertanejos. Em seguida, responda às questões.

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espi-
nhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a
ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
[...] Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos
brutos — exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras com-
pridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas
eram inúteis e talvez perigosas. [...]

Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por embromação. Via
perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse...
Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 1971.

a. Como era a linguagem de Fabiano?

“[...] cantada, monossilábica e gutural [...].” Fabiano falava pouco e, quando o fazia, não

obtinha bons resultados, como se sua linguagem fosse incipiente.

b. O modo como uma pessoa fala pode indicar sua condição social e econômica. No caso
de Fabiano, a linguagem por ele empregada poderia estar relacionada à realidade do
personagem? Explique.

Sim, se pensarmos que Fabiano era miserável e sua incapacidade de se expressar com

clareza contribuía para a permanência de sua condição marginal.

c. Segundo o narrador, Fabiano encontrava dificuldade em ordenar suas ideias e seus pen-
samentos, e isso ocorria por conta de sua linguagem pouco expressiva. Em que trecho
percebemos isso?

“Não podia arrumar o que tinha no interior.”

16 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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16 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 16 05/01/17 23:45


d. “[...] só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam
a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele.” Que traço da
personalidade de Fabiano e que crítica social estão presentes nesse trecho?

A relação de proximidade de Fabiano com os animais em oposição ao distanciamento com

outras pessoas. Podemos atribuir a esse comentário uma crítica à extrema pobreza do

sertanejo da década de 1930, época de publicação do livro.

4. Leia o que diz o linguista Marcos Bagno:

“Existe uma regra de ouro da Linguística que diz: ‘só existe língua se houver seres humanos
que a falem’. Então, tratar da língua é tratar de um tema político, já que também é tratar de
seres humanos.”

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Parábola Editorial, 2008, p. 19. Adaptado.

Segundo o autor, que relação existe entre a língua que usamos e a cidadania?

Para Marcos Bagno, a língua não é algo que pode ser visto separadamente de seu usuário,

ou seja, o uso da língua tem implicações sociais e políticas.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 17

CMeE_8A_2017_01a80.indb 17 28/12/16 20:04

Manual do Educador – 8 ano o


17

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 17 05/01/17 23:45


1
Capítulo

Fundamentação
Linguagem, pensamento
e cidadania
A ciência que ignorou a importân- Para refletir
cia da linguagem
O corpo comunica
Visando construir uma noção de pen-
samento mais adequada para ser mo- Desde que nascemos, usamos o corpo para comunicar emoções, sentimentos, mesmo
bilizada no interior da escola, vamos sem perceber. Ninguém precisa estudar a linguagem corporal para usá-la. Ela é inata e
recuperar alguns traços de uma das inconsciente. Usamos, naturalmente e o tempo todo, gestos simbólicos como ferramentas
para nos comunicar sem precisar falar. [...] Todo mundo entende quando alguém balança
escolas da psicologia que se inscreveu a cabeça para dizer não ou fixa um olhar penetrante para mostrar interesse ou paquerar.
entre aquelas que não davam a devida A linguagem silenciosa da comunicação não verbal está arraigada em nosso dia a dia,
relevância ao papel da linguagem na mesmo que a gente, durante a maior parte do tempo, nem se dê conta disso. Mas por que,
manutenção da nossa organização so- então, é preciso conhecê-la se já a utilizamos desde que nascemos? Conhecer como o
cial: o behaviorismo e as linhas que dele corpo se comunica pode ser útil em muitas situações. Identificar o significado desses sím-
se originaram. bolos não verbais esclarece a comunicação e facilita a vida na medida em que é possível
entender melhor o que acontece em nossa volta. Principalmente nas grandes cidades,
Quando nos referimos a essa cor-
onde os estímulos e acontecimentos são muitos, reconhecer as mensagens corporais
rente do pensamento, provavelmen- embutidas nas falas e nas atitudes das pessoas pode ajudar você a se localizar melhor e
te o primeiro nome de autor que nos até a se defender.
ocorre é o de Burrhus Frederic Skinner
(1904–1990). [...] Skinner acreditava que
[...] todos os comportamentos huma-
nos são moldados pela nossa expe-
riência de punição e recompensa, e
não por instâncias mais “subjetivas”,
tais como a moral, a força da vontade
e assim por diante. Consequentemen-
te, Skinner costumava afirmar que o
homem bom só faz o bem porque o
bem é recompensado, e não porque,
dados alguns traços de seu caráter, ele
teria, ao menos, um relativo livre-arbí-
trio para agir deste ou daquele modo.
[...] O autor tentou explicar o aprendi-

Iakov Filimonov/Shutterstock.com
zado e a linguagem verbais dentro do
paradigma do condicionamento ope-
rante, isto é, de novo sem mobilizar a
categoria do pensamento como uma
instância elaborada que pode mediar,
por meio da linguagem, as relações en-
tre o homem e o mundo. 18 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
Na educação, o behaviorismo deu
origem a uma abordagem aplicada
com o intuito de se obter um deter- CMeE_8A_2017_01a80.indb 18 28/12/16 20:04

minado comportamento previamente posta automáticas, o ensino consiste em gico, não devemos pensar que nossos
escolhido. Para tal fim, costuma-se dar um arranjo e um planejamento de con- alunos são completamente previsíveis.
muita ênfase à utilização de condicio- dições externas que levam os estudantes Pelo contrário, será bastante saudável
nantes e reforçadores arbitrários, como a aprenderem, sendo de responsabilida- ter em mente a necessidade de “realizar
elogios, graus, notas, prêmios, reconhe- de do professor unicamente assegurar a um trabalho de detetive” para elucidar
cimento do mestre e dos colegas, etc. aquisição do comportamento. [...] o modo pelo qual cada um aprende.
Para quem acredita nessa orientação Se entendermos que o pensamento
teórica, que parte do princípio de uma humano está longe de se desenvolver de RIOLFI, Claudia Rosa. Linguagem e pensamento. Curitiba:
Iesde Brasil S. A., 2009, p. 13–15, 26.
aprendizagem mecânica, com repeti- forma linear, compreendemos que, para
ções sistemáticas do tipo estímulo-res- sermos eficazes em nosso ato pedagó-

18 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO_Cap_1.indd 18 18/01/17 08:30


CREATISTA/Shutterstock.com

E, o que é melhor, ter consciência dos significados dos gestos é muito importante,
principalmente porque, por ser natural e inconsciente, a linguagem corporal não mente e
permite uma leitura mais precisa do seu interlocutor. Por exemplo: quando uma pessoa, ao
pensar para responder a uma pergunta, olha para cima à direita, significa que ela vai omitir
ou mentir sobre algo. Se olhar para cima à esquerda, ela está tentando lembrar de alguma
coisa. Torcer o pé, apoiando-se na parte lateral da sola, e abaixar a cabeça pode revelar
que você está com vergonha. Cruzar os braços ou as pernas é sinal de que você não está
querendo conversa ou não concorda com a opinião de quem fala. Cruzar os dedos com
as mãos juntas, curvar-se ou ainda dobrar as pernas é uma insinuação de que você está
implorando por algo. Curvar o tórax colocando os ombros para baixo é uma postura que
revela timidez e insegurança. Agora, se você estufa o peito projetando o tórax para frente,
passa a imagem de uma pessoa imponente e até arrogante.
Ou seja, a maneira como você se expressa nunca é inocente. Ela revela muito da-
quilo que vai na sua cabeça e no seu coração.

Disponível em: http://www.rolfing-sp.com.br/noticias/2011-08-21-linguagem_corporal.php. Adaptado. Aces-


sado em 09/04/2014.

? Questões para reflexão


1. Você se identificou com algum dos exemplos de movimentação corporal que indica
uma emoção ou um pensamento? Qual?
2. Você costuma prestar atenção no modo como as pessoas gesticulam ou movimen-
tam o corpo? Por quê?
3. Que outros movimentos corporais refletem o que estamos pensando ou sentindo?

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 19

CMeE_8A_2017_01a80.indb 19 28/12/16 20:04

Manual do Educador – 8 ano o


19

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2
Capítulo

Objetivos
Viver dignamente

2
Pedagógicos

Capítulo
• Classificar as situações que Viver dignamente
vivemos ou presenciamos em
dignas ou indignas, com base
nos requisitos de cidadania
estabelecidos histórico- Vamos dialogar!
-socialmente.
Existem inúmeras situações na vida que não são
• Analisar algumas causas da Conhecimentos prévios dignas, ou seja, não são respeitosas, são indecentes.
Algumas delas acontecem porque vivemos em um país
desigualdade social, bem como • Você conhece alguém
bastante desigual em sua realidade social e econômi-
sua relação antagônica com o que vive em condições
ca. As pessoas de classes sociais diferentes não são
sub-humanas?
progresso econômico. • Na sua cidade, vivem
assistidas da mesma forma, provocando um abismo en-
tre pobres e ricos.
• Entender a importância dos muitas pessoas em
Há também as situações indignas causadas por fa-
situação de miséria?
direitos humanos, além de • O que você faria para
tores de ordem emocional, resultantes, em muitos ca-
sos, do tipo de vida que escolhemos ou que somos
discutir sua aplicação e as formas viver em um mundo
levados a escolher.
de denunciar as violações deles melhor?

FedeCandoniPhoto/Shutterstock.com
• Suas ações têm relação
cometidas. com as desigualdades?

• Apontar situações práticas em


que os jovens podem promover
a aplicação dos direitos humanos
em seus diversos contextos.
• Avaliar os principais aspectos do
cumprimento do direito básico à
moradia.
• Conhecer as medidas de garantia
do direito à saúde.

Sugestão de leitura ////

Cidadania, um projeto em
construção: minorias, justiças e
direitos CMeE_8A_2017_01a80.indb 20 28/12/16 20:04

Autora: Lilia M. Schwarcz (Org.)


Fundamentação
As diversas cidadanias onde, nas últimas décadas, a cidadania,
Os textos aqui reunidos tratam de ou o “acesso à cidadania”, transformou-se
alguns dos principais temas do Brasil O desafio que o conceito de cidadania em sinônimo de “acesso ao mundo ideal”,
contemporâneo e que estão ligados apresenta para as ciências sociais é o de sendo utilizada nesse sentido por prati-
ao conceito moderno de cidadania; distinguir entre o significado associado camente todos os movimentos sociais,
entre eles, o combate à desigualdade, ao seu uso pelo senso comum, com for- ONGs, mas também por empresas (“em-
a segurança pública, a luta contra o te carga normativa, e uma noção mais presa cidadã”), organismos internacionais
racismo e o reconhecimento da diver- rigorosa que possua um valor empírico- e políticas públicas. A cidadania, portanto,
sidade sexual. -analítico. Trata-se de um problema par- passou a ser polissêmica, com condições
ticularmente agudo na América Latina, fundamentalmente normativas.

20 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 20 05/01/17 23:45


rios (por exemplo, local de nascimento
Neste capítulo, aprenderemos a identificar as desigualdades sociais, o que são direitos hu- ou nacionalidade dos pais) distribuídos
manos e como podemos fazer nossa parte para mudar essa realidade injusta. Para começar pelo poder constituído. Assim, o acesso
o debate, analise as imagens seguintes e converse com seus colegas e seu professor sobre à cidadania é o filtro que define quem
como elas representam a falta de dignidade na vida de muita gente. poderá participar do sistema de direitos
políticos e sociais de cada nação.

Olesia Bilkei, paul prescott, De Visu/Shutterstock.com


Em segundo lugar, a cidadania supõe
a existência de uma comunidade cultu-
ral e social associada a uma identidade
nacional. Ou seja, cidadania está asso-
ciada à expectativa de compartilhar a(s)
língua(s), os usos e costumes da nação
(nas suas diversas variações regionais
ou sociais) e o sentimento de um desti-
no comum. [...]
Ao lado da família, a cidadania é o
ponto de filiação inicial do homem e da
mulher modernos, define as coordena-
das básicas de sua identidade, sua “ori-
gem” e seu lugar no mundo. Durante
longo tempo, a nacionalidade foi toma-
da como um dado natural, e o ques-
Progresso e desigualdade tionamento das ideologias igualitárias
O progresso econômico pode ser encarado como
Elena Mirage/Shutterstock.com
centrava-se na distribuição desigual de
algo positivo em uma sociedade, porque comprova nos- riqueza familiar daqueles que nasciam
sa capacidade de crescer, aprender e descobrir novos dentro de cada sociedade nacional. No
mundos. Mas o progresso tem seu preço: correria, es- atual mundo globalizado, a percep-
tresse, doenças, poluição, entre outros problemas. Além ção da origem da desigualdade social
disso, o progresso econômico não é igualitário. Algumas é cada vez mais associada ao destino
pessoas sentem mais seus benefícios, outras sofrem
arbitrário de ter nascido em um país, e
mais com suas desvantagens.
Enquanto poucos indivíduos têm parte na riqueza ge-
não em outro — mais do que às dife-
rada no nosso país, a grande maioria vive com apenas rentes possibilidades de acesso à rique-
ou pouco mais que o necessário, além de ter muitos de za social determinadas pelo destino,
seus direitos básicos negados. Sem contar as famílias igualmente arbitrário, de ter nascido no
que vivem na miséria, com nada ou quase nada, sem seio de uma determinada família. Por-
acesso à moradia, à educação, à saúde, ao trabalho e tanto, sob o ponto de vista mundial, a
ao lazer. As grandes filas nos hospitais e postos de saú- cidadania é uma propriedade desigual-
de e nas agências de emprego são um reflexo nítido da mente distribuída e o principal estratifi-
injustiça social que nos cerca.
cador de vida dos habitantes do mundo
globalizado contemporâneo.
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 21 O metafundamento social da cidada-
nia moderna é a dupla indivíduo-nação
ou indivíduo-povo. O cidadão cons-
CMeE_8A_2017_01a80.indb 21 28/12/16 20:04
titui-se como indivíduo por ser parte
de uma comunidade dentro da qual se
[...] bro pleno de determinada sociedade poli- reconhece e é reconhecido como um
A cidadania no mundo moderno é, em ticamente organizada. Esse caráter adscri- igual. Entre os polos indivíduo-comuni-
primeiro lugar, um mecanismo de inclu- tício da cidadania é geralmente ignorado dade percorre uma tensão [...] que se
são/exclusão, uma forma de delimitação quando ela é definida em termos de direi- desdobra constantemente no conflito
de quem é integrante de uma comunidade tos individuais. A cidadania é uma institui- entre os que priorizam a liberdade indi-
nacional. Portanto, a cidadania é a expres- ção que oferece um título de proprieda- vidual e aqueles que sustentam o valor
são de uma construção coletiva que orga- de particular: um bilhete de entrada para da igualdade e/ou fraternidade.
niza as relações entre os sujeitos sociais, uma comunidade nacional, que dá acesso SORJ, Bernardo. A democracia inesperada: cidadania,
que se formam no próprio processo de a um conjunto de direitos — bilhete que direitos humanos e desigualdade social. Rio de Janeiro:
definição de quem é, e quem não é, mem- se obtém mediante um sistema de crité- JorgeZahar, 2004, p. 21–23.

Manual do Educador – 8o ano 21

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 21 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

Unesco: Meninas têm duas vezes


menos chances de ingressar na
educação formal
Em média, em todo o mundo, cerca
de 16 milhões de meninas entre seis e
11 anos nunca colocarão o pé em uma
escola; África Subsaariana, Ásia e países
árabes são as regiões com maiores índi-

marchello74/Shutterstock.com
ces de disparidade de gênero.

Cerca de 16 milhões de meninas entre


seis e 11 anos nunca terão a chance de
aprender a ler e a escrever na escola pri- O medo, a ansiedade e a depressão, decorrentes da solidão e do ritmo de vida estafante,
mária. O número equivale ao dobro de também são problemas atuais, com os quais muita gente tem de lidar. A estrutura física das
meninos que serão privados do ensino grandes cidades não favorece o contato constante entre as pessoas. Se repararmos bem, os
prédios e condomínios isolam os moradores uns dos outros. Ademais, as experiências diárias
formal, mas em escala bem inferior do
com redes sociais da Internet fazem com que fiquemos cada vez mais conectados com outras
que o público feminino. Em regiões como pessoas por meio da tela do computador ou do celular, em vez de termos contato físico e pes-
a Ásia Ocidental e Meridional, a propor- soal. Esse modelo de vida individualista, aliado à pressa e ao esforço exigidos pelo trabalho
ção já alarmante de 50% sobe para 80%. cada vez mais cansativo, desencadeia problemas psicológicos e emocionais que, às vezes,
As estimativas são da Organização das necessitam de orientação médica. Em muitos casos, é o preço que se paga pela busca desen-
Nações Unidas para a Educação, a Ciên- freada pelo lucro e pelo consumismo sem limites.
Saúde, educação, trabalho, habitação, cultura e lazer de qualidade são direitos fundamen-
cia e a Cultura (Unesco), que, na sema-
tais de todos os cidadãos. Os impostos que pagamos quando compramos qualquer produto
na passada (2), chamou atenção para o ou serviço são recolhidos pelo governo para serem revertidos na efetivação desses direitos. O
modo como a desigualdade de gênero que ocorre em algumas nações, como o Brasil, é uma ineficiente aplicação desses impostos, e,
afeta, ao longo da vida, estudantes de assim, a população não tem acesso aos serviços públicos pelos quais está pagando.
todo o mundo — mas, principalmente,

Vitoriano Junior/Shutterstock.com
dos Estados árabes, da África Subsaaria-
na e de porções do continente asiático.
Na África Subsaariana, a agência da
ONU estima que 9,5 milhões de meninas
jamais colocarão o pé em uma sala de
aula, em comparação com um contin-
gente de 5 milhões de garotos que tam-
bém não terão acesso à educação. No
total, mais de 30 milhões de jovens entre
seis e 11 anos não frequentam qualquer
escola nessa região.
Na Ásia Ocidental e Meridional, 16% 22 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
dos meninos fora da escola não terão
contato com a educação formal duran-
te suas vidas. O índice sobre para 80% CMeE_8A_2017_01a80.indb 22 28/12/16 20:04

quando considerado o público feminino. de modo que todas as meninas, quaisquer marginalizadas”, disse a diretora do Insti-
Em países árabes, a Unesco não conse- que sejam suas circunstâncias, vão para a tuto da agência da ONU para Estatísticas,
guiu apurar números precisos devido escola, permaneçam na escola e se tornem Silvia Montoya. “Mas os dados também
aos conflitos na região. A agência da cidadãs empoderadas”, afirmou a direto- mostram que as meninas que conseguem
ONU, no entanto, acredita que a maioria ra-geral da Unesco, Irina Bokova. começar a escola primária e fazer a tran-
dos excluídos dos sistemas de educação A pesquisa organizada pela Unesco sição para a educação secundária tendem
seja composta por meninas. também aponta que as desigualdades de a ter um desempenho melhor que o dos
“Temos que trabalhar em todos os gênero perduram até a educação superior. meninos e a continuar seus estudos.”
níveis, dos mais básicos até os líderes “Nós claramente observamos onde as in-
Disponível em: https://nacoesunidas.org/unesco-
globais, para colocar a igualdade e a in- justiças começam e como elas se acumulam meninas-tem-duas-vezes-menos-chances-de-ingressar-
clusão no centro de todas as políticas, durante a vida das meninas e mulheres mais na-educacao-formal/. Acesso em 25/08/2016.

22 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 22 05/01/17 23:45


Outro fator que promove a desigualdade social e econômica é a má distribuição de renda.
Ou seja, a riqueza e os bens produzidos no País não são repartidos de forma que sejam re-
vertidos em benefícios para todos. A consequência disso é que, ao passo que os mais ricos
usufruem as regalias possibilitadas pelo seu dinheiro, os mais pobres, mesmo contribuindo para
a riqueza nacional com seu consumo e seu trabalho, são obrigados a viver abaixo da condição
social a que têm direito. Por isso, a realidade brasileira não é a mesma para todos. Vivemos em
um país de oportunidades e vantagens diferentes para pobres e ricos.
Luis Carlos Torres/Shutterstock.com

Todas essas dificuldades devem ser discutidas e ter suas soluções buscadas por todos nós
que compomos a sociedade. A desigualdade socioeconômica não pode ser encarada como
aceitável. Podemos e devemos fazer nossa parte para reverter essa realidade que nos priva dos
nosso direitos. Todos merecem ter uma vida digna, com a garantia de um lar, refeições diárias,
trabalho honesto, conhecimento, lazer e segurança.
1000 Words/Shutterstock.com

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 23

CMeE_8A_2017_01a80.indb 23 28/12/16 20:04

Manual do Educador – 8 ano o


23

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 23 05/01/17 23:45


2
Capítulo
Viver dignamente

? Questão de ética

1. Atente para estas imagens e reflita sobre a desigualdade social que elas representam. Es-
creva sobre isso e responda: estas situações também são vistas na sua cidade?
dabldy, 1000 Words, 1000 Words/Shutterstock.com

Resposta pessoal

2. Como vimos, o progresso econômico traz vantagens e desvantagens. Complete a tabela


citando fatos que você observa ao seu redor e que considera um benefício ou um prejuízo
decorrente desse progresso.

Vantagens: Desvantagens:
Resposta pessoal Resposta pessoal

24 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

CMeE_8A_2017_01a80.indb 24 28/12/16 20:04

24 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 24 05/01/17 23:45


Para refletir

ONU alerta para extrema desigualdade social

Vishal Shah/Shutterstock.com
no mundo

“A riqueza dos 80 mais ricos deste mundo é a


mesma, se juntada, das 3,5 milhões de pessoas mais
pobres. Se isto não for a maior vergonha, não sei o que
é.” Palavra do relator da ONU sobre Pobreza Extrema
e Direitos Humanos, Philip Alston.

O relator da ONU, que diz ser motivo de vergonha


essa imensa desigualdade entre os mais ricos e os mais
pobres, alerta ainda que a desigualdade social só tem
aumentado, dramaticamente, nas últimas décadas.
Ele lembra que a desigualdade aumenta não só entre
ricos e pobres, mas, principalmente, entre os mais ricos
e os mais pobres. Tem coisa mais grave acontecendo
neste nosso mundo. O relator da ONU garante que
40%, ou quase a metade dos mais prejudicados na
distribuição de renda, são justamente os que mais se
distanciaram, para pior.
No relato sobre desigualdades sociais da ONU,
existe ainda a constatação que isso acontece não só
por causa da renda, do dinheiro, da falta de salário: “A
preocupação não é apenas com a desigualdade da
renda, mas com uma série de desigualdades extremas
em relação à riqueza, como acesso à educação, à
saúde, à habitação e outras”.
Ele completa: “Ainda sobrevivem, na extrema pobreza,
neste mundo, mais de um bilhão de pessoas, ou seja,
mil milhões. Pior ainda para as mulheres e crianças,
que são mais atingidas pela falta de oportunidades
econômicas, num meio de ‘degradação ambiental’”.
Mais ainda: existem hoje, no mundo, segundo a ONU,
73 milhões de jovens desempregados, três vezes mais
do que os adultos.

Disponível em: http://www.ebc.com.br/cidadania/2015/06/onu-alerta-para-


extrema-desigualdade-social-no-mundo. Adaptado. Acesso em 19/08/2016.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 25

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Manual do Educador – 8 ano o


25

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 25 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

Povos indígenas
? Questões para reflexão
Artigo 1
Os indígenas têm direito, como povos 1. Para você, o que significa desigualdade extrema?
ou como pessoas, ao desfrute pleno de 2. Você observa alguma desigualdade social no seu dia a dia?
todos os direitos humanos e liberdades 3. O relator da ONU diz que não é só a desigualdade de renda, mas, sim, desigualdade
fundamentais reconhecidos pela Carta em relação à educação, à saúde e outras. Qual é seu posicionamento sobre esses
das Nações Unidas, pela Declaração tipos de desigualdade?
4. Como podemos melhorar a situação das mulheres e das crianças que são mais
Universal de Direitos Humanos e o di-
atingidas pela desigualdade?
reito internacional relativo aos direitos
5. Apresente propostas de como você poderia acabar com a desigualdade no
humanos. mundo. Justifique suas escolhas.
Artigo 2
Os povos e as pessoas indígenas são
livres e iguais a todos os demais povos e
pessoas e têm o direito a não ser objeto Os direitos humanos
de nenhuma discriminação no exercício Você já ouviu falar na Declaração Universal dos Direitos Humanos? Ela foi criada pela Or-
de seus direitos fundada, em particular, ganização das Nações Unidas (ONU) em 1948. Nos trinta artigos desse documento, estão
em sua origem ou identidade indígena. descritos os direitos básicos que garantem uma vida digna para todos os habitantes do mundo.
Entre eles, liberdade, educação, saúde, cultura, informação, alimentação e moradia adequadas,
Artigo 3 respeito e não discriminação.
Os povos indígenas têm direito à livre Leia abaixo alguns itens:
determinação. Em virtude desse direito,
determinam livremente a sua condição Artigo I
política e perseguem livremente seu Todas as pessoas nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São do-
desenvolvimento econômico, social e
tadas de razão e consciência e devem
cultural.
agir em relação umas às outras com
Artigo 4 espírito de fraternidade.
Os povos indígenas, no exercício do
Artigo II
seu direito à livre determinação, têm di- Toda pessoa tem capacidade para
reito à autonomia ou ao auto-governo gozar os direitos e as liberdades es-
nas questões relacionadas com seus as- tabelecidos nesta Declaração, sem
suntos internos e locais, assim como os distinção de qualquer espécie, seja de
meios para financiar suas funções au- raça, cor, sexo, língua, religião, opinião

Andrey Yurlov/Shutterstock.com
tônomas. política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento
Artigo 5 ou qualquer outra condição.
Os povos indígenas têm direito a
conservar e reforçar suas próprias insti-
tuições políticas, jurídicas, econômicas,
sociais e culturais, mantendo, por sua 26 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
vez, seus direitos em participar plena-
mente, se o desejam, na vida política,
econômica, social e cultural do Estado. CMeE_8A_2017_01a80.indb 26 28/12/16 20:04

não serão submetidos a nenhum ato a) todo ato que tenha por objeto ou
Artigo 6 de genocídio nem a outro ato de vio- consequência privá-los de sua inte-
Toda pessoa indígena tem direito a lência, incluindo a remoção forçada de gridade como povos distintos ou de
uma nacionalidade. um grupo para outro. seus valores culturais, ou sua identi-
dade étnica.
Artigo 7 Artigo 8
b) Todo ato que tenha por objeto ou
1. As pessoas indígenas têm direito à 1. Os povos e as pessoas indígenas têm o
consequência aliená-los de suas ter-
vida, à integridade física e mental, à direito a não sofrer da assimilação for-
ras ou recursos.
liberdade e à segurança da pessoa. çosa ou da destruição de sua cultura.
c) Toda forma de transferência forçada
2. Os povos indígenas têm o direito 2. Os Estados estabelecerão mecanismos
da população, que tenha por obje-
coletivo de viver em liberdade, paz efetivos para a prevenção e o ressarci-
tivo ou consequência a violação e o
e segurança como povos distintos e mento de:

26 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 26 05/01/17 23:45


Artigo III sem um acordo prévio sobre uma inde-
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu- nização justa e equitativa e, sempre que
rança pessoal.
possível, à opção do regresso. [...]
[...]
Em 1946, a Carta das Nações Unidas
Artigo VII especificou como um dos objetivos da
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qual- organização a promoção dos direitos
quer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito humanos e o estímulo à sua realização.
a igual proteção contra qualquer discriminação que viole Esse objetivo foi explicitado em 1948,
a presente Declaração e contra qualquer incitamento a quando a Assembleia Geral das Nações
tal discriminação. Unidas, sem nenhum voto dissidente,
[...]
adotou a Declaração Universal dos Di-
Artigo XVIII
reitos Humanos. Esta foi proclamada
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, como um “padrão comum de conquista
por todos os povos e todas as nações”,

leolintang/Shutterstock.com
consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar que foram orientados a “empenhar-se,
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo por meio do ensino e da educação, em
culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em promover o respeito por esses direitos
público ou em particular.
e essas liberdades” (Preâmbulo). Assim,
Artigo XIX
a educação está identificada como um
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e ex- elemento instrumentalmente conecta-
pressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interfe- do à tarefa da Carta de promover os di-
rência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir reitos humanos. Além disso, os termos
informações e ideias por quaisquer meios e independen- introdutórios da Declaração esclarecem
temente de fronteiras. que “ensino e educação” não são ape-
[...] nas novas funções do Estado após a
Segunda Guerra Mundial, entre as di-
Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida ca-
versas funções governamentais ligadas
paz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, aos deveres dos membros das Nações
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados Unidas. Pelo contrário: reconhecendo a
médicos e serviços sociais indispensáveis; e direito à ação popular na esfera da comunida-
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, de e o trabalho das organizações não
viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de governamentais (ONGs), as funções de
Chinnapong/Shutterstock.com

subsistência fora de seu controle.


“ensino e educação” são apresentadas
Andrey Yurlov/Shutterstock.com

[...]
como obrigação de “cada indivíduo e
de cada órgão da sociedade”.
A educação não é apenas um meio
para promover os direitos humanos. É
um fim em si mesma. Ao postular um
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 27 direito humano à educação, os elabora-
dores da Declaração, axiomaticamente,
basearam-se na noção de que o valor
CMeE_8A_2017_01a80.indb 27 28/12/16 20:04
da educação não é neutro. Dentro des-
menosprezo de qualquer de seus di- ou nação indígenas, em conformidade se espírito, o Artigo XXX estabelece que
reitos. com as tradições e os costumes da co- um dos objetivos da educação deve ser
d) toda forma de assimilação e integra- munidade, ou nação de que se trate. Não “o fortalecimento do respeito pelos di-
ção forçada. pode resultar nenhuma discriminação de reitos humanose pelas liberdades fun-
e) Toda forma de propaganda que te- nenhum tipo do exercício desse direito. damentais” (seção 2).
nha como finalidade promover ou
Artigo 10
incitar a discriminação racial ou étni-
Os povos indígenas não serão retirados CLAUDE, Richard P.; ANDREOPOULOS, George (orgs.).
ca dirigida contra eles.
à força de suas terras ou territórios. Não Educação dos direitos humanos para o século XXI. São
Artigo 9 se procederá a nenhuma remoção sem o Paulo: Edusp, 2007, p. 35, 36.
Os povos e as pessoas indígenas têm consentimento livre, prévio e informado
direito a pertencer a uma comunidade dos povos indígenas interessados nem

Manual do Educador – 8o ano 27

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 27 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

A tradição grega dos Artigo XXVI


direitos humanos 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução
será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fun-
A Grécia Antiga foi a primeira civiliza- damentais. A instrução elementar será obrigatória. A ins-
trução técnico-profissional será acessível a todos, bem
ção a desenvolver um corpo claramen-
como a instrução superior, esta baseada no mérito.
te articulado e coerente de pensamen- 2. A instrução será orientada no sentido do pleno
to que acabou por afetar o conceito desenvolvimento da personalidade humana e do forta-
moderno de direitos humanos. Embora lecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas
não tenham sido os primeiros a refletir liberdades fundamentais. A instrução promoverá a com-
sobre a natureza da justiça, os gregos preensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações

Karramba Production/Shutterstock.com
e todos os grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as
foram pioneiros na avaliação do indi-
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção
víduo e na relação entre legisladores e da paz. [...]
governadores. [...] A religião e a cultu-
ra política gregas são os antecedentes Disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_univer-
sal.htm. Acessado em 08/04/2014.
de reivindicações de uma lei universal
que embasa nosso conceito moderno
de direitos humanos. Segundo as pri- ? Questão de ética
meiras cosmologias gregas, a humani-
dade existia dentro da harmonia trans-
cendente do universo, originária da lei 1. Dos artigos citados, quais chamaram mais a sua atenção? Por quê?
divina (logos) e ligada à vida humana Resposta pessoal
pela lei (nomos) da pólis, a cidade-Es-
tado. [...]
Mais tarde, os sofistas apontaram
diferenças importantes na moral e na
lei humanas (que, na Grécia, começou
na forma de uma arbitragem pública 2. Comente a primeira afirmação do documento: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em
para conceder uma compensação de- dignidade e direitos”.
vida por danos causados) e rejeitaram a
Resposta pessoal
suposição de que a lei humana refletia
necessariamente alguma lei universal. Espera-se que o aluno compreenda que todos os seres humanos têm a liberdade e
Tomando a humanidade como “a me- merecem ser dignos e possuidores de direitos.
dida de todas as coisas”, consideravam
que a lei, a justiça e a moral derivava tão
somente da razão humana. [...]
Em termos práticos, porém, nada
foi introduzido que se aproximasse do
conceito moderno de direitos antes de
28
Sólon (638-559 a.C.), cujo nome sobre- Cidadania Moral e Ética I 8o ano

vive como sinônimo de legislador. Com


sua codificação das leis, é-lhe creditada CMeE_8A_2017_01a80.indb 28 28/12/16 20:04
a edificação da base da primeira demo-
cracia na cidade-Estado de Atenas. bem comum contém uma defesa invul- lor na medida em que promovesse es-
Na Atenas do século V a.C., Platão gar de direitos iguais para as mulheres e sas qualidades inatas. Sua Política pre-
(427-348 a.C.), na busca de uma fon- um padrão universal moral para a condu- gava valores como a virtude, a justiça
te mais permanente e impugnável da ta humana, na guerra ou na paz, aplicado e os direitos e mostrava que eles são
justiça, foi além da cidade-Estado. Na igualmente a gregos e a estrangeiros. mais bem preservados num governo
sua utopia, a República (400 a.C.), dizia [...] misto (e não numa democracia, oligar-
que a justiça prevalece quando o Esta- Para Aristóteles (384-322 a. C.), a socie- quia ou tirania puras) com um corpo de
do alcança formas ideais determinadas dade não precisava depender apenas dos cidadãos economicamente forte.
por seus reis-filósofos e não se parece reis-filósofos. Para ele, a humanidade era Logo depois de Platão e Aristóteles,
com o nomos da pólis. Seu conceito de moral, racional e social, e sua lei tinha va- apareceu um novo ideal filosófico, o

28 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 28 05/01/17 23:45


Sugestão de
Abordagem
3. O artigo II esclarece que todos nós temos o direito de vivermos livres de qualquer discrimi- Diversos modos de discriminação
nação. Leia a seguir trechos de manchetes de jornais e observe se existe algum descumpri-
são praticados na sociedade em que
mento desse direito. Justifique.
vivemos. Saber identificá-los, denun-
Manchete 1 ciá-los e criticá-los é dever de todo
Estado de Minas Gerais cidadão que assume o compromisso
com a ética e o bem-estar próprio e
Mãe denuncia racismo contra filha de 4 anos; aluna é xingada de “preta horrorosa” alheio. Muitas vezes, na própria sala
de aula ocorrem casos de preconcei-
De acordo com ela, menina foi ofendida por avó de garoto que se revoltou com o fato de
to ou discriminação, seja racial, social,
Karramba Production/Shutterstock.com

o neto ter dançado quadrilha com uma criança negra. Polícia vai investigar o caso.
religioso ou de outra forma. Pode ser
Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/07/20/interna_gerais,307109/mae-denuncia-racismo-
-contra-filha-de-4-anos-aluna-e-xingada-de-preta-horrorosa.shtml. Acesso em 18/08/2016.
realizada uma pesquisa sobre casos
de preconceito noticiados em jornais,
Manchete 2 revistas ou na Internet. Em seguida,
Do UOL — Rio de Janeiro os alunos utilizarão essas notícias
para promover uma mesa-redonda
Aluno é impedido de frequentar escola com guias de candomblé
na qual irão expor sua opinião sobre
Um estudante de 12 anos foi impedido de entrar na escola pública em que estudava por usar
o fato encontrado.
guias — colares — de candomblé. O caso aconteceu na escola municipal Francisco Campos.

Disponível em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/09/03/rj-aluno-e-impedido-de-frequentar-escola-com-guias-de-


-candomble.htm. Acesso em 18/08/2016.

Anotações
Manchete 3
Agência de notícia da Aids

No Recife, uma criança é discriminada em escola por ser soropositiva, diz a família

A mãe de uma criança de nove anos denunciou a escola estadual onde o menino está
matriculado por atitude preconceituosa. Segundo ela, o menino estuda numa escola em
Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, e no ato da matrícula ela disse que o menino
tem Aids.

Disponível em: http://agenciaaids.com.br/home/noticias/volta_item/9703. Acesso em 18/08/2016.

Resposta pessoal

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 29

CMeE_8A_2016_CAP2.indd 29 05/01/17 23:17

estoicismo. Ao contrário desses dois fi- [...] gregos, que sobreviveram até os dias
lósofos, que enfatizavam o indivíduo e Finalmente, a partir da década de 330 de hoje através do direito romano.
suas capacidades inatas, o estoicismo a.C., germinou um novo tipo de cultura
propugnava que as pessoas deviam ser tanto na Grécia quanto no Mediterrâneo POOLE, Hilary (org.). Direitos humanos: referências
essenciais. São Paulo: Editora da Universidade de São
isentas de paixão e aceitar serenamente oriental helenizado, na qual todos aque-
Paulo, 2007, p. 13-18.)
que todas as ocorrências são o resulta- les que falavam grego e se comportavam
do inevitável da vontade divina. [...] Os como gregos podiam fazer parte da nova
estoicos acreditavam na existência de cultura grega. Essa helenização permitiu
uma lei natural, a jus naturale, nascida aos conquistadores romanos adotar e
da lex aeterna, a lei cósmica da razão. transmitir amplamente muitos dos ideais

Manual do Educador – 8o ano 29

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 29 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Sugestão de leitura ////


Viver dignamente

Direitos humanos: processo 4. Pesquise, em jornais e revistas, impressos ou on-line, desta semana, notícias que exponham
histórico o descumprimento dos direitos humanos. Indique a que direito negado cada fato se refere.
Autor: Ricardo Castilho

Obra completa e didática, aborda


desde o processo histórico de reco- Para refletir
nhecimento dos direitos humanos
fundamentais, com a criação da ONU O Brasil e a ameaça aos direitos dos povos indígenas
e assinatura dos principais tratados
Desenvolvimento econômico e grandes projetos têm ameaçado os
que forjam seu arcabouço jurídico,
direitos de povos indígenas no Brasil. O País é, hoje, uma das maiores
até o estágio atual da disciplina, es- economias do mundo, mas não tem garantido com o sucesso neces-
miuçando temas como a dignidade sário o respeito aos direitos humanos.
da pessoa humana, as dimensões Dia 9 de agosto foi o Dia Internacional dos Povos Indígenas e, as-
de direitos fundamentais, a forma de sim, vale a pena avaliar sua situação no País. Os povos indígenas con-
recepção de tratados internacionais tinuam a sofrer discriminação, privações e ameaças, seu direito cons-
pelo ordenamento pátrio e a eficácia titucional às suas terras ancestrais é violado, e o governo tem falhado
em garantir sua segurança e seus direitos.
dos direitos fundamentais nas rela-
O governo deve assegurar que qualquer projeto de desenvolvimen-
ções entre particulares. to que tenha impacto sobre as comunidades indígenas seja feito com
seu consentimento prévio, livre e bem informado. Qualquer decisão
sobre construção de represas, hidroelétricas, barragens, oleodutos,
estradas, atividade mineradora e extrativa que tenha impacto sobre co-
munidades indígenas só deve ser tomada a partir de extenso processo
de consulta e a partir de seu consentimento. Por outro lado, as empre-
Fundamentação sas envolvidas devem se comprometer publicamente a respeitar, em
suas atividades, todos os padrões internacionais de direitos humanos,
A Organização das Nações Unidas de acordo com os padrões estabelecidos nas Diretrizes das Nações
define juventude como a faixa de in- Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos.
divíduos com 14 a 24 anos de idade. O Mas grandes projetos de desenvolvimento e a expansão de ativida-
número de pessoas nessa faixa etária des agrícolas e extrativas constituem, hoje, uma grande ameaça aos
povos indígenas. [...]
tem aumentado desde 1945, chegando
O Brasil tem responsabilidade de respeitar e promover os direitos
a 1 bilhão em 1990. Em 2005, os jovens dos povos indígenas tal como expressos na Declaração da ONU so-
eram 1,02 bilhão, ou 15,8% da popula- bre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007, e na convenção número
ção mundial. Mesmo diminuindo em 169 da Organização Internacional do Trabalho, sobre os Direitos dos
termos relativos, trata-se de uma par- Povos Indígenas e Tribais, de 1989.
cela importante da população que, de Disponível em: https://anistia.org.br/o-brasil-e-ameaca-aos-direitos-dos-povos-indigenas/. Acesso em
acordo com projeções da ONU, irá au- 18/08/2016.

mentar para 1,4 bilhão até 2025.


No Brasil, não há uma definição legal
de população jovem, mas o País conta
30
com um importante marco jurídico que Cidadania Moral e Ética I 8o ano

define adolescência e infância, que é


o Estatuto da Criança e do Adolescente, CMeE_8A_2017_01a80.indb 30 28/12/16 20:04
estabelecido posteriormente à Conven- membros da extinta Liga das Nações, e tório final do evento foi enviado para a
ção Internacional dos Direitos da Crian- foi definido um Plano de Ação Conjunto Assembleia da Liga, mas a eclosão da
ça, adotada pela Assembleia Geral das de Juventude. No mesmo ano, um comi- Segunda Guerra Mundial interrompeu
Nações Unidas, no ano de 1989, e ratifi- tê misto composto de representantes da os esforços da comunidade internacio-
cada pelo Brasil. Liga das Nações e de representantes de nal em relação ao tema.
Desde o início do século XX, no âm- juventude promoveu o primeiro Fórum Em 1942, foi realizada em Londres a
bito da Liga das Nações, o tema popu- Mundial de Juventude da história, em Ge- Conferência Internacional da Juventu-
lação jovem se fazia presente nos mais nebra. de, com a participação de 400 delega-
importantes foros internacionais. Já em O segundo Fórum Mundial da Juventu- dos de 28 países, representando 200
1936, realizou-se um amplo encon- de ocorreu em Nova York, em 1938, ainda organizações de juventude do mundo
tro de líderes de juventude dos países sob a tutela da Liga das Nações. O rela- inteiro. Na ocasião, foi divulgada para

30 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 30 05/01/17 23:45


? Questões para reflexão
1. Você acha que os indígenas têm direito a algo?
2. Na sua família ou comunidade, alguém que você conhece se destaca pela defesa
dos direitos humanos? Se sim, o que faz essa pessoa?
3. Se você pudesse falar com alguma das pessoas do texto ou escrever uma carta
para ela, o que você diria?
4. O que você poderia fazer para lutar pelos direitos humanos dos povos indí-
genas na sua escola, na sua casa ou no seu bairro?
condições sociais, gerando diversos
pactos genéricos e específicos. Para
Os direitos do jovem atender às demandas específicas, criou-
Em geral, considera-se que os jovens como -se um sistema especial de proteção
você têm os mesmos direitos defendidos pela Nós, os jovens do mundo, respaldado por convenções interna-
Declaração Universal dos Direitos Humanos da proclamamos a presente cionais dirigidas para alguns segmen-
Declaração dos Direitos da
ONU e que são protegidos em cada país. Po- tos mais vulneráveis às violações de
Juventude como um fim a
rém, isso é muito amplo. Por isso, em 1998, um
conseguir por todos os povos
seus direitos. Os negros, as mulheres,
grupo de jovens de distintos países reuniu-se
e por todas as nações. as crianças, os adolescentes e as pes-
em Taizé (Borgonha, França), um centro espiri-
tual ecumênico, e interpretou esses direitos da soas com deficiências são alguns desses
seguinte forma: destinatários. Essas convenções, além
de reconhecerem necessidades e rei-
Artigo I vindicações próprias desses segmentos
O direito à identidade como jovem: e situações específicas, estabelecem a
A juventude tem o direito de ser considerada
obrigatoriedade de os Estados mem-
como um grupo específico, com seus valores
próprios e uma parte da sociedade.
bros implementarem políticas públicas
que considerem as diferenças e redu-
Artigo II zam as desigualdades.
O direito à autonomia: Durante os anos 1990, a ONU reali-
O jovem tem o direito de gozar dos meios zou uma série de conferências temáti-
de desenvolvimento e de exercer progressiva-
cas mundiais, nas quais o conteúdo e os
mente as responsabilidades que lhe permitirão
o acesso à autonomia.
mecanismos de garantia desses direitos
foram discutidos, avaliados e reinter-
Artigo III pretados, com vistas às novas deman-
O direito de amar: das e realidades sociais. Nesses fóruns,
O jovem tem o direito de eleger seus ami- além da reafirmação de direitos reco-
gos sem discriminação de classe, de sexo ou
Rajesh Narayanan/Shutterstock.com

nhecidos, foram fixadas metas, traçadas


de raça.
estratégias e firmados compromissos
importantes para o desenvolvimento
31 da comunidade internacional. Os ado-
lescentes e os jovens receberam aten-
ção especial, como agentes e vítimas
CMeE_8A_2017_01a80.indb 31 28/12/16 20:04

a imprensa e para as ONGs de juventu- por meio da ONU, vem firmando uma dos maiores problemas que afetam a
de a declaração denominada Chamado série de convenções internacionais nas sociedade contemporânea.
para Ação. quais são estabelecidos estatutos comuns
Com a criação da Organização das de cooperação mútua e mecanismos de Direitos da população jovem: um
Nações Unidas (ONU), uma nova instân- controle, que garantem a não violação e marco para o desenvolvimento. Brasília:
cia e novos parâmetros foram estabele- o exercício pelo cidadão de um elenco de Fundo de População das Nações Uni-
cidos para a discussão e deliberação de direitos considerados básicos à vida dig- das – UNVPA, 2010.
temas internacionais, inclusive a juven- na, os chamados direitos humanos.
Disponível em: http://www.unfpa.org.br/novo/
tude. A partir da Declaração Universal O conteúdo inicial desses direitos, seus
index.php/biblioteca/publicacoes/populacao-4/39-
dos Direitos Humanos, adotada no ano instrumentos e mecanismos foram-se al- direitos-da-populacao-jovem-um-marco-para--o-
de 1948, a comunidade internacional, terando e ampliando a partir das novas desenvolvimento. Adaptado.

Manual do Educador – 8o ano 31

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 31 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

A aula e a aprendizagem Artigo IV


O direito de ser amado:
Quando algo que aprendemos fica O jovem tem o direito de ser res-
em nosso cérebro por algum tempo, peitado, compreendido e de ser
amado por sua família.
sem interagir com conceitos relevantes
em nossa estrutura cognitiva, arma- Artigo V
zenando-se de forma arbitrária e não O direito de ser escutado:
interagindo com saberes relevantes O jovem tem o direito de se ex-
ao desafio do viver, afirma-se que foi pressar livremente, o direito de ser
esta uma aprendizagem mecânica ou escutado e considerado, ainda que
sua opinião difira das ditas pelos
automática, que, em síntese, é o saber
adultos.
guardado na memória como pura de-
coreba, tal como o saber do papagaio Artigo VI
que fala sem saber o que fala. O direito de ser informado:

ESB Professional/Shutterstock.com
Uma aprendizagem não mecâni- O jovem tem o direito de receber
uma informação objetiva com relação
ca e, portanto, significativa constitui o
às realidades de nossa sociedade.
processo por meio do qual uma nova
informação se relaciona de forma subs- Artigo VII
tantiva e pertinente aos saberes es- O direito da participação:
senciais guardados em nossa mente. O jovem tem o direito de mon-
Seria legítimo afirmar que compreen- tar atividades, de participar delas e
de comprometer-se livremente com
der o momento em que os ovos de-
elas em sua escola ou em seu bairro.
vem ser batidos e a forma de os virar
na frigideira ou quando se deve parar Artigo VIII
o veículo para abastecê-lo constituem O direito à vida escolar:
aprendizagens significativas para quem O jovem tem o direito a uma vida
precisa preparar omeletes e para quem escolar estável e progressiva, o que
equivale a um horário equilibrado
necessita conduzir um veículo.
que lhe permita tempo livre necessá-
Em termos mais simples, não é di- rio para as atividades e os intercâm-
fícil descobrir, infelizmente, que, em bios entre alunos e professores.
sua maior parte, todos os saberes que
se ensinam aos alunos são aprendiza- Artigo IX
gem mecânica, pois não se necessita O direito a oportunidades iguais:

Rawpixel/Shutterstock.com
O jovem tem direito a uma educa-
deles para viver de forma coerente e
ção não seletiva e não competitiva.
pertinente. Comunicar-se com clareza
constitui proposta significativa, decorar
regras gramaticais insossas é aprendi-
zagem mecânica, da mesma forma que
32
aprender a somar é significativo, mas Cidadania Moral e Ética I 8o ano

memorizar teoremas é ato cognitivo


mecânico. Saber ler é importante, mas, CMeE_8A_2017_01a80.indb 32 28/12/16 20:04
dependendo de como se aplica essa possui pouca significação, mas é aprendi- tências poderiam ser aprendidas pelos
aprendizagem, é ela significativa ou zagem válida se, através do exercício, o alunos para transformar informações
não, pois muitos sabem ler mas rara- aluno efetivamente aprendeu a pesquisar. mecânicas em saberes significativos?
mente usam esse atributo para crescer, Nesse exemplo, a competência “como se Parece-nos que de importância tão
dialogar, pensar. efetua uma pesquisa” é ação significativa, expressiva quanto pesquisar é a com-
Um bom professor pode ajudar seus pois pela vida inteira é essencial utilizá-la, petência de argumentar. Não se pra-
alunos a transformarem aprendizagens ainda que as informações restritas sobre tica a coerência na argumentação sem
mecânicas em saberes significativos esse país africano possam ser dispensa- fatos, ainda que os fatos que se exer-
quando, ao lado dos conteúdos, de- das. Usando-se a referência desse exem- citam possam ser irrelevantes. Outra
senvolve algumas competências. É por plo, seria importante indagar: além de competência essencial é permitir que o
isso que uma pesquisa sobre a Tanzânia pesquisar, que outras ações ou compe- aluno tenha “visão sistêmica” das coisas

32 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 32 05/01/17 23:45


Sugestão de leitura ////
Artigo X Primeiros degraus
O direito ao trabalho: Autor: Celso Antunes
O jovem tem direito a um traba-
lho conforme as suas capacidades e
suas aspirações.
A intenção desta obra é mostrar ao
professor novas maneiras de refletir
Artigo XI sua prática pedagógica, descobrindo
O direito à inexperiência: aulas em outros formatos, transmis-
O jovem tem o direito de poder são de conteúdos com outras inten-
concorrer a uma vaga de trabalho
ções, desenvolvimento de criativida-
sem experiência condicionada ao
anterior.
de e empreendedorismo nos alunos,
com a firmeza de também fazê-los
Artigo XII galgar degraus e, ainda, por intermé-
O direito ao erro: dio de casos e exemplos concretos e
O jovem tem o direito de cometer transferíveis, fomentar o sentimento
ESB Professional/Shutterstock.com

erros e de corrigir-se dos mesmos.


de amizade entre alunos e sugerir li-

goodluz/Shutterstock.com
Artigo XIII nhas de trabalho contra a indisciplina
O direito de uso do tempo livre: para professores.
O jovem goza do direito de ter em
seu meio um lugar que lhe permita
dedicar-se a ocupar organizadamen- Direitos humanos: referências
Alf Ribeiro/Shutterstock.com
te seu tempo livre.
essenciais
Artigo XIV Autora: Hilary Poole (Org.)
O direito à consideração moral:
O jovem tem direito a serviços Este livro apresenta um panorama
que não sejam discriminatórios em histórico dos direitos humanos e as
lugares públicos. mais importantes questões contem-
Artigo XV
porâneas relacionadas ao tema. Ten-
O direito à consideração jurídica: do como marco de análise a Decla-
O jovem tem o direito de partici- ração Universal de 1948, organiza-se
par na elaboração das leis que lhe em seções que consideram os direitos
referem e de ser respeitado pelas do homem antes da promulgação, o
forças da ordem. próprio texto da Carta e as mudanças
que ocorreram após a Segunda Guer-
Rawpixel/Shutterstock.com

ra Mundial.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 33

CMeE_8A_2017_01a80.indb 33 28/12/16 20:04

de seu mundo e, dessa forma, liberte-se de tudo, tudo de cada pouco. Quem se meios coerentes de socializar-se sen-
de preconceitos ou de opiniões irrefleti- envolve nos saberes do mundo em que tindo o outro em si e, certamente, está
das que se assumem porque outros an- vive sabe fazer uma leitura desse mundo preparado para viver e conviver desco-
tes assumiram-nas. Quem possui uma e sobe nas altitudes de seu tempo para brindo-se protagonista no tempo que
visão sistêmica enxerga longe, pondera perceber o ontem e antecipar o amanhã. passa, ator nos pequenos dramas com
e descobre que administrar opiniões Não menos importante que se sentir li- os quais o cotidiano a cada instante nos
e sentimentos envolve delicadeza não gado ao tempo é também assumir uma desafia.
mais simples que bem administrar o visão crítica, percebendo os fatos e as
ANTUNES, Celso. Primeiros degraus. São Paulo: Edições
dinheiro que se ganha. Outra compe- notícias como quem analisa, compara,
Loyola, 2012, p.22-25. Adaptado.
tência essencial é envolver-se na reali- descreve, classifica, contextualiza. Quem
dade de seu tempo, sabendo um pouco assim age desenvolve iniciativa, descobre

Manual do Educador – 8o ano 33

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 33 05/01/17 23:45


2
Capítulo
Viver dignamente

Artigo XVI
O direito à proteção:
O jovem tem o direito de ser pro-
tegido contra todo tipo de manipula-
ção: publicidade, doutrinamento, ex-
perimentações diversas (científicas,
educativas, etc.).

Artigo XVII
O direito aos valores espirituais:
O jovem tem o direito de escolher,
de viver e expressar seus valores es-
pirituais sem oposição dos Estados.

Artigo XVIII
O direito à solidariedade:
O jovem tem o direito de crescer
em um espírito de paz e de solidarie-
dade e de ter ante seus olhos exem-
plos de compartilhamento e ajuda
mútua no plano internacional que o
incitem a construir um mundo mais
fraternal.

Disponível em: http://www.parceirosvoluntarios.


org.br/Componentes/textos/TextosVJ.asp?txTx=
24&iRnd=0,844%D8. Adaptado. Acessado em
11/04/2014.

De cima para baixo: Rawpixel.com, Odua Images, Riccardo Piccinini/Shutterstock.com

34 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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34 Cidadania Moral e Ética

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? Questão de ética

1. Dos direitos do jovem citados, indique dois que você percebe cumpridos em sua vida e dois
que não são aplicados.

Resposta pessoal

2. Os direitos do jovem devem ser assegurados por toda a sociedade. No entanto, é dever de cada
jovem também lutar por seus próprios direitos, inclusive fazendo de sua vida uma demonstração
de respeito a eles. Indique como você pode contribuir para a efetivação dos seguintes direitos:

a. O direito à autonomia.

Resposta pessoal

b. O direito de ser amado.

Resposta pessoal

c. O direito de ser escutado.

Resposta pessoal

d. O direito ao erro.

Resposta pessoal

e. O direito aos valores espirituais.

Resposta pessoal

f. O direito à solidariedade.

Resposta pessoal

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 35

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Manual do Educador – 8 ano o


35

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2
Capítulo

Sugestão de
Abordagem
Viver dignamente

3. Classifique as assertivas seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F).


A questão 4 aborda a violência en- ( F ) Os jovens devem ser tratados exatamente da mesma maneira com que se trata um idoso
tre jovens. Esse assunto é importante ou uma criança.
e deve ser debatido entre os alunos, ( F ) Os direitos dos jovens são plenamente cumpridos no país em que vivemos.
principalmente se nos arredores da ( F ) Pelo fato de os jovens não poderem ser responsabilizados por suas atitudes, os erros deles
escola existirem ocorrências de crimi- devem ser desconsiderados.
( V ) É dever de todo jovem estar ciente de seus direitos e conhecer os órgãos públicos aos
nalidade juvenil. Precisamos sempre
quais pode recorrer caso se sinta agredido.
estar atentos para o fato de que a es-
cola deve estar integrada à família e
4. Leia o texto seguinte, sobre criminalidade na juventude, e responda às questões que o su-
à comunidade. Assim, a realidade ex- cedem.
tramuros deve ser analisada em sala,
discutindo-se seus problemas e suas O adolescente carrega dentro de si todas as inseguranças que permanecem presentes na ida-
possíveis soluções, sem, obviamente, de adulta, com o diferencial da ausência de maturidade com que administra tais instabilidades.
oferecer aos alunos ou a quem quer A desestrutura do lar, fator presente em mais de 80% dos casos de delinquência juvenil, de-
que seja qualquer tipo de constran- sencadeia no adolescente a necessidade da busca de autoafirmação em campo externo à sua
casa, preferencialmente agregando-se a outros sob as mesmas circunstâncias. A imaturidade
gimento.
emocional está presente nas gangues de criminosos e infratores, essencialmente naquelas
compostas por adolescentes. [...] Essa insatisfação gera no ser humano imaturo uma neces-
sidade de completude, que, de fato, nada no mundo supre. É exatamente por essa porta que
a criminalidade ingressa, porquanto é o adolescente um ser insatisfeito, incompleto e carente.

Sugestão de Filme Disponível em: http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/86/artigo293277-2.asp. Adaptado. Acessado em


11/04/2014.

a. Que características próprias da adolescência podem levar o jovem a adentrar no mundo


Depois de Lúcia do crime?
Diretor: Michel Franco
Imaturidade emocional, insegurança e família desestruturada, em alguns casos.
Quando a esposa de Roberto morre,
a relação dele com sua filha, Alejandra,
de 15 anos, fica abalada. Para escapar b. O que você deve fazer, no dia a dia, para manter-se afastado da criminalidade? Responda
da tristeza que toma conta da rotina e depois discuta com seus colegas e seu professor.
dos dois, pai e filha deixam a cidade de Resposta pessoal
Vallarda e rumam para a Cidade do Mé-
xico em busca de uma nova vida. Ale-
jandra ingressa em um novo colégio e c. Pesquise notícias relacionadas a jovens infratores da região em que você vive. Comente-
sentirá toda a dificuldade de começar -as, destacando o que poderia ser feito para diminuir a ocorrência desse tipo de violência.
de novo quando passa a sofrer abusos
Resposta pessoal
físicos e emocionais. Envergonhada, a
menina não conta nada para o pai, e, à
medida que a violência toma conta da
vida dos dois, eles se afastam cada vez 36 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
mais.

Pro dia nascer feliz CMeE_8A_2017_01a80.indb 36 28/12/16 20:04

Diretor: João Jardim Anotações


O belíssimo documentário Pro dia e no Rio de Janeiro; todas elas são pú-
nascer feliz, de João Jardim, é um dos blicas. Há também uma escola em São
raros filmes que retratam com delica- Paulo, particular, em um bairro de elite.
deza e sensibilidade a cruel realidade João Jardim não deixa de mostrar ainda
da vida de adolescentes na escola. João outro estabelecimento de ensino, não
Jardim descreve o cotidiano de jovens nomeado, mas que o espectador per-
em quatro escolas brasileiras. Em Per- cebe que é uma instituição para adoles-
nambuco, São Paulo, Duque de Caxias centes em conflito com a lei.

36 Cidadania Moral e Ética

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5. Existem entidades que trabalham com a reeducação de crianças e adolescentes que come-
teram atos infracionais. Procure saber se existem órgãos desse tipo no seu bairro ou na sua
cidade e colete informações sobre suas atividades e sua estrutura.

Resposta pessoal

Moradia, um direito
Como vimos em nossa leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a moradia é um
direito assegurado ao cidadão. E esse direito envolve não apenas um teto sob o qual morar, mas
também segurança, saúde e dignidade tanto na casa quanto na comunidade.
É direito de todos, por exemplo, não ser removido de seu lar nem ser ameaçado quanto à
posse de sua moradia. Além disso, o governo deve se comprometer a atender às necessidades
das moradias, como saneamento básico, energia elétrica, postos de saúde, escolas, creches e
áreas de lazer nas proximidades, coleta de lixo, transporte público.
Uma moradia ideal é aquela que protege seu morador da chuva, do calor, do vento e da umi-
dade, bem como o protege contra desmoronamentos, inundações e incêndios. A habitação deve
também ser adequada para o número de pessoas que nela vive, com ambientes propícios para
cozinhar, lavar roupas, etc.
Os gastos com a aquisição ou aluguel da moradia não podem comprometer o atendimento
de outras necessidades fundamentais, como a educação, a alimentação e o lazer. Ademais,
pessoas que pertencem a grupos vulneráveis, como crianças, idosos, pessoas com deficiência
ou doenças crônicas, devem ter uma atenção especial voltada à aplicação do direito à moradia.
Infelizmente, muitas pessoas têm esse direito negado. O saneamento básico, por exemplo, é
um direito indispensável, mas que não atinge muitas localidades carentes do País. Observa-se
também que muitas famílias vivem em habitações de condições precárias, que não favorecem
sua segurança, sua saúde e seu conforto.
Há ainda um problema mais grave: o dos moradores de rua, expostos ao frio, à criminalidade
Atstock Productions/Shutterstock.com

e a todos os outros riscos à saúde e à sobrevivência.

37

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Manual do Educador – 8 ano o


37

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2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

A historicidade do nascimento da
Declaração Universal dos Direitos Hu- ? Questão de ética
manos ratifica que os direitos humanos
são fundamentais a todos, sem quais- 1. Existem diversos tipos de moradia. Se você vive em uma região urbana, provavelmente as
quer distinções de sexo, nacionalidade, habitações mais comuns são as casas e os prédios. Porém, em outros lugares, de clima,
etnia, cor da pele, faixa etária, classe so- cultura ou condição social diferentes, as moradias podem ser de vários modelos. Observe as
cial, profissão, condição de saúde física imagens seguintes e pesquise seus nomes, sua estrutura e o tipo de pessoa que geralmente
e mental, opinião política, religião, nível os habita.
de instrução e julgamento moral.
Levando em conta a sucessão do 1 2
tempo, por uma questão didática, po-
de-se dizer que os direitos humanos
foram divididos em gerações, não no
sentido biológico, do que nasce, cresce
e morre, mas no sentido histórico, de
uma superação com complementarida-
de, e que pode também ser entendida
como dimensões.
Resumidamente, a “primeira gera- 3
ção”, contemporânea das revoluções
burguesas do final do século XVIII e de
todo o século XIX, é aquela que con-
cerne aos dos direitos civis e às liber-

Rita Januskeviciute, guentermanaus, Vinicius Tupinamba, Frontpage, Ivonne Wierink/Shutterstock.com


dades individuais, liberdades consagra-
das pelo liberalismo, quando o direito
do cidadão dirige-se contra a opressão
do Estado ou de poderes arbitrários,
contra as perseguições políticas e reli-
giosas, a liberdade de viver sem medo.
Dessa importantíssima “primeira gera-
4 5
ção”, ou dimensão, constam os direitos
de locomoção; de segurança e integri-
dade física; de justiça, expressão e opi-
nião; e de propriedade, resguardando-
-se direito à moradia. Essas liberdades
surgiram oficialmente nas declarações
de direitos, documentos das revoluções
burguesas do final do século XVIII (na
38
França e nos Estados Unidos) e foram Cidadania Moral e Ética I 8o ano

acolhidas em diversas constituições de


países do século XIX.
CMeE_8A_2017_01a80.indb 38 28/12/16 20:04
A “segunda geração”, que não abran- caráter trabalhista, como salário justo, fé- nológico e cultural da humanidade; ao
ge apenas os indivíduos, mas os gru- rias, previdência e seguridade social; e os meio ambiente ecologicamente preser-
pos sociais, surge no início do século de caráter social mais geral, independen- vado; são os direitos ditos de solidarie-
XX, na esteira das lutas operárias e temente de vínculo empregatício, como dade planetária.
do pensamento socialista na Europa saúde, educação, habitação, acesso aos De qualquer ângulo que se obser-
Ocidental, explicitando-se, na prática, bens culturais, etc. vem, essas gerações mostram como
nas experiências da social-democracia, Em complemento às duas anteriores, a continua viva a bandeira da revolução
para consolidar-se, ao longo do século, “terceira geração” inclui os direitos coleti- francesa: a liberdade, a igualdade e a
nas formas do Estado do bem-estar so- vos da humanidade, como direito à paz; fraternidade. A liberdade nos primeiros
cial. Refere-se ao conjunto dos direitos ao desenvolvimento; à autodeterminação direitos civis e individuais, a igualda-
sociais, econômicos e culturais: os de dos povos; ao patrimônio científico, tec- de nos direitos sociais, a fraternidade-

38 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 38 05/01/17 23:45


Sugestão de leitura ////
1. Iglus, usados por esquimós durante o inverno e feitos de neve ou blocos de gelo. Direitos humanos, democracia e
desenvolvimento
Autores: Boaventura de Sousa Santos
2. Palafitas, habitações construídas sobre estacas, comuns em regiões alagadiças, como e Marilena Chaui
margens dos rios. Em alguns lugares do Brasil, como a Região Nordeste, esse tipo de mo-
Nesse livro, são analisados os dile-
radia é destinado a populações carentes.
mas com que se enfrentam os direitos
humanos na sua relação com a de-
mocracia e as políticas de desenvol-
vimento que constituem a pauta do-
3. Casa de pau a pique, na qual as paredes são construídas com varas e barro. minante do mundo em que vivemos.
O livro conta ainda com o prefácio do
Professor José Geraldo Sousa Júnior.
4. Também conhecida como oca, a casa é feita com materiais rústicos e geralmente

habitada por indígenas.

5. Trailer, vagão que serve de moradia para famílias itinerantes.


Anotações

2. Leia a canção abaixo para responder às perguntas:

Opinião
Rita Januskeviciute, guentermanaus, Vinicius Tupinamba, Frontpage, Ivonne Wierink/Shutterstock.com

Podem me prender, eu compro um osso


podem me bater, e ponho na sopa.
podem até deixar-me sem comer E deixa andar...
que eu não mudo de opinião. Fale de mim quem quiser falar,
Daqui do morro, aqui eu não pago aluguel.
eu não saio, não. Se eu morrer amanhã, seu doutor,
Se não tem água, estou pertinho do céu.
eu furo um poço.
Se não tem carne, KETI, Zé. In: LEÃO, Nara. Opinião de Nara. Philips, 1964.

a. Qual é a relação do narrador com sua moradia?

Relação de afetividade e pertencimento.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 39

CMeE_8A_2016_CAP2.indd 39 05/01/17 23:17

-solidariedade como responsabilidade novo sentido para essa luta: ela passa
social pelos mais fracos nos direitos da a dar corpo e alma à pastoral social ao
humanidade. representar dignidade humana.
Esse breve retrospecto histórico ex-
plica o porquê de trabalharmos com a MENEZES, Irismar Sousa; MAGALHÃES, Solange
Martins Oliveira. “Direitos humanos: violência, moradia,
questão da moradia para e pelas pes-
dignidade ameaçada”. In: Sociedade e cultura, v. 11, n.
soas. Elas são portadoras de direitos, di- 2, UFG.]
reitos humanos, que são fundamentais
porque são indispensáveis para uma
vida com dignidade. Quando insisti-
mos na questão da moradia, damos um

Manual do Educador – 8o ano 39

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 39 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

A prática da leitura b. O sujeito da canção é apegado apenas à sua casa ou também à comunidade? Explique.

A comunidade onde ele vive, o morro, é uma extensão da sua casa. Ali é o seu lugar, onde
[...]
Para Marisa Lajolo, “ler não é deci- ele encontra conforto e possibilidades de lidar com os problemas da vida.
frar, como num jogo de adivinhações, o
sentido de um texto. É, a partir do tex-
to, ser capaz de atribuir-lhe significado, c. Que tipo de relação você tem com sua moradia e sua comunidade?
conseguir relacioná-lo a todos os ou-
Resposta pessoal
tros textos significativos para cada um,
reconhecer nele o tipo de leitura que
seu autor pretendia e, dono da própria
vontade, entregar-se a essa leitura, ou 3. Para você, como seria a casa ideal?
rebelar-se contra ela, propondo outra Resposta pessoal
não prevista”.
Creio não trair a autora citada se dis-
ser que a leitura é um processo de in-
terlocução entre leitor e autor mediado 4. As casas são locais onde estabelecemos relações com o grupo social família. Como você
acha que devem ser essas relações?
pelo texto. Encontro com o autor, au-
sente, que se dá pela sua palavra escri- Resposta pessoal
ta. Como o leitor, nesse processo, não é
passivo, mas agente que busca signifi-
cações, o sentido de um texto não é ja- 5. As imagens abaixo fizeram parte do noticiário e estiveram associadas a acontecimentos in-
mais interrompido, já que ele se produz felizes. Observe-as e indique:
nas situações dialógicas ilimitadas que
constituem suas leituras possíveis.
O autor, instância discursiva de que
emana o texto, mostra-se e dilui-se
nas leituras de seu texto: deu-lhe uma
significação, imaginou seus interlocu-
tores, mas não domina sozinho o pro-
cesso de leitura de seu leitor, pois este,
por sua vez, reconstrói o texto na sua
leitura, atribuindo-lhe a sua (do leitor)
significação.
É por isso que se pode falar em lei-
turas possíveis e é por isso também
que se pode falar em leitor maduro, e
a maturidade de que se fala aqui não é
40
aquela garantida constitucionalmente Cidadania Moral e Ética I 8o ano

aos maiores de idade. É a maturidade


de leitor, construída ao longo da inti- CMeE_8A_2017_01a80.indb 40 28/12/16 20:04
midade com muitos e muitos textos.
Leitor maduro é aquele para quem Paulista, utilizou excelente imagem: o texto? Longe de querer estabelecer
cada nova leitura desloca e altera o diálogo do aprendiz de natação é com uma tipologia de vivências de leituras,
significado de tudo o que já leu, tor- a água, não com o professor, que deve- gostaria de recuperar da nossa expe-
nando mais profunda sua compreen- rá ser apenas mediador desse diálogo riência concreta de leitores as seguin-
são dos livros, das gentes e da vida. aprendiz-água. Na leitura, o diálogo do tes possíveis posturas ante o texto:
Como coadunar essa concepção de aluno é com o texto. O professor, mera busca de informações, estudo do tex-
leitura com atividades de sala de aula, testemunha desse diálogo, é também to, pretexto, fruição do texto.
sem cair no processo de simulação de leitor, e sua leitura é uma das leituras Diante de qualquer texto, qualquer
leituras? Marilena Chaui, em conferên- possíveis. uma dessas relações de interlocução
cia no Primeiro Fórum da Educação Leitores, como nos colocamos ante o com o texto/autor é possível. Mais do

40 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 40 05/01/17 23:45


a. Os fatos a ela relacionados.

Resposta pessoal

b. As formas de prevenir esses tipos de acidente ou catástrofe.

Resposta pessoal
pótese de trabalho, norteadora dos ob-
jetivos que se pretende atingir; as eta-
pas previstas; a forma de avaliação que
c. Se na sua região já ocorreu ou ocorre algum desses eventos.
será utilizada; bibliografia, etc.
Resposta pessoal É importante lembrar que, para um
projeto dar certo, é preciso que o as-
sunto vá de encontro ao interesse dos
Para refletir alunos, o qual você deve perceber nas
discussões em sala de aula. Devemos
Um direito humano à moradia desde 1948 na Declaração Universal dos definir detalhadamente os passos que
Direitos Humanos serão dados, a fim de que o trabalho se
torne mais abrangente e rico.
A moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a Declara- Em um projeto sobre moradias, é pos-
ção Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um direito humano universal, aceito e
sível explorar os tipos de construção:
aplicável em todas as partes do mundo como um dos direitos fundamentais para a vida
das pessoas. [...] casa, prédio ou sobrado, oca, iglu, casa
de barro e palha e, ainda, as palafitas.
Mais que um teto e quatro paredes Lembre-se de questionar os alunos
sobre a casa deles. Proponha que ob-
O direito à moradia integra o direito a um padrão de vida adequado. Não se resume
servem o tamanho, quantos cômodos
a apenas um teto e quatro paredes, mas ao direito de toda pessoa ter acesso a um lar e
a uma comunidade seguros para viver em paz, com dignidade e saúde física e mental. A possui, se tem quintal, varanda ou sa-
moradia adequada deve incluir: cada, fazendo uma comparação com a
• Segurança da posse: Todas as pessoas têm o direito de morar sem o medo de casa dos colegas.
sofrer remoção, ameaças indevidas ou inesperadas. As formas de se garantir essa Você pode propor que cada um faça
segurança da posse são diversas e variam de acordo com o sistema jurídico e a uma maquete ou desenho da própria
cultura de cada país, região, cidade ou povo. casa. Também será uma atividade in-
• Disponibilidade de serviços, infraestrutura e equipamentos públicos: A mo- teressante fazer uma descrição escrita
radia deve ser conectada às redes de água, saneamento básico, gás e energia elé- das residências.
trica; em suas proximidades, deve haver escolas, creches, postos de saúde, áreas
Uma boa forma de fazer os alunos
de esporte e lazer e devem estar disponíveis serviços de transporte público, limpeza,
coleta de lixo, entre outros. perceberem a importância da casa e
da família é discutindo como podem
ajudar e o quanto é importante cola-
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 41 borar com as tarefas domésticas, como
guardar seus brinquedos, manter seu
quarto arrumado, ajudar os irmãos
CMeE_8A_2017_01a80.indb 41 28/12/16 20:04
mais novos, enxugar vasilhas, etc.,
que o texto definir suas leituras pos- Sugestão de Abordagem aprendizados estes que ficarão para
síveis, são os múltiplos tipos de rela- toda a vida.
ções que com eles nós, leitores, man- Um tema muito interessante para se Se você tiver tempo hábil, tente ex-
tivemos e mantemos, que o definem. trabalhar em sala de aula é os tipos de plorar os tipos de casa dos animais,
casa em que vivemos. Embora pareça que também servem de abrigo e pro-
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. algo comum, pode ser explorado de teção para eles, como a do joão-de-
São Paulo: Ática, 1997, p. 91-93.
várias formas, de acordo com a idade -barro, das abelhas, das formigas, do
dos alunos. pica-pau, dentre vários outros, compa-
Você deve organizar seu projeto, com rando-as com as diferentes necessida-
conteúdos a serem abordados; uma hi- des de cada espécie.

Manual do Educador – 8o ano 41

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 41 05/01/17 23:45


2
Capítulo

Fundamentação
Viver dignamente

A saúde tornou-se um desafio para a


diplomacia a partir da primeira confe- • Custo acessível: O custo para a aquisição ou aluguel da moradia deve ser acessí-
vel, de modo que não comprometa o orçamento familiar e permita também o aten-
rência sanitária internacional, realizada
dimento de outros direitos humanos, como o direito à alimentação, ao lazer, etc. Da
em 1851, em Paris. A conferência não mesma forma, gastos com a manutenção da casa, como as despesas com luz, água
visava, porém, à saúde das populações: e gás, também não podem ser muito caros.
o verdadeiro objeto da reunião era a • Habitabilidade: A moradia adequada tem que apresentar boas condições de pro-
necessidade de reduzir a duração das teção contra frio, calor, chuva, vento, umidade e também contra ameaças de incên-
medidas de quarentena, consideradas dio, desmoronamento, inundação e qualquer outro fator que ponha em risco a saúde
desmedidas e nocivas para o comércio. e a vida das pessoas. Além disso, o tamanho da moradia e a quantidade de cômo-
Por conseguinte, a tensão entre saúde dos (quartos e banheiros, principalmente) devem ser harmônicos com o número de
moradores. Espaços adequados para lavar roupas, armazenar e cozinhar alimentos
e comércio, entre interesses humanos e
também são importantes.
econômicos, entre a ciência e o lucro, é
• Não discriminação e priorização de grupos vulneráveis: A moradia adequada
constitutiva do paradoxo da saúde in- deve ser acessível a grupos vulneráveis da sociedade, como idosos, mulheres, crianças,
ternacional. pessoas com deficiência, pessoas com HIV, vítimas de desastres naturais, etc. As leis e
Desde então, a saúde internacional políticas habitacionais devem priorizar o atendimento a esses grupos e levar em conside-
conheceu uma extraordinária evolução ração suas necessidades especiais. Além disso, para que o direito à moradia adequada
cujo ápice foi a criação da Organiza- se cumpra, é fundamental que o direito à não discriminação seja garantido e respeitado.
ção Mundial da Saúde (OMS), em 1946, • Localização adequada: Para ser adequada, a moradia deve estar em local que
como a autoridade diretora e coorde- ofereça oportunidades de desenvolvimento econômico, cultural e social. Ou seja,
nas proximidades do local da moradia deve haver oferta de empregos e fontes de
nadora dos trabalhos internacionais no
renda, meios de sobrevivência, rede de transporte público, supermercados, farmá-
domínio da saúde. Entretanto, criticada cias, correios e outras fontes de abastecimento básicas.
por seu caráter eminentemente cientí- • Adequação cultural: A forma de construir a moradia e os materiais utilizados na
fico e técnico, a OMS foi obnubilada, construção devem expressar tanto a identidade quanto a diversidade cultural dos
nas últimas décadas, pelo protagonis- moradores e moradoras. Reformas e modernizações devem também respeitar
mo de poderosas instituições no finan- as dimensões culturais da habitação.
ciamento de projetos internacionais, Disponível em http://direitoamoradia.org/?page_id=46&lang=pt. Acesso em: 21/08/2016.
especialmente do Banco Mundial e de
outras agências, privadas ou filantrópi-
cas. Além disso, a pandemia de gripe A ? Questões para reflexão
(H1N1), ocorrida entre 2009 e 2010, pôs
em questão a independência da OMS 1. Mesmo sendo reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, o di-
em relação à indústria farmacêutica. reito à moradia é violado?
Ponto crucial da evolução da saúde 2. De acordo com o texto, sua moradia é adequada?
internacional foi o advento da epidemia 3. Você conhece pessoas que moram em lugares de vulnerabilidade social?
4. Se você pudesse mandar uma carta ao governante da sua cidade sobre as
de HIV/Aids, que ensejou não somente
condições péssimas de moradia, o que escreveria?
um novo tipo de ativismo transnacio-
nal em prol do acesso ao tratamento,
mas também influenciou a pesquisa e a
42
ciência, as práticas clínicas, as políticas Cidadania Moral e Ética I 8o ano

públicas e o comportamento social. Pa-


ralelamente, o temor ao bioterrorismo
CMeE_8A_2017_01a80.indb 42 28/12/16 20:04
catapultou a saúde pública à condição como o Grupo dos Oito (G8), ou entre mente o uso da expressão diplomacia
de tema relevante da segurança inter- países emergentes, como Brasil, Rússia, da saúde global, que compreenderia a
nacional, sob a batuta dos Estados Uni- Índia, China e África do Sul (o Brics). negociação sobre a saúde pública nas
dos, para quem a noção de segurança A expressão saúde internacional vem fronteiras em foros da saúde e de ou-
nacional abrange a de saúde pública. sendo paulatinamente substituída pela tras áreas afins, a governança da saúde
Assim, a saúde ganhou espaço na controversa e polissêmica expressão global, política externa de saúde e o de-
agenda de numerosos foros, tais como saúde global. Enquanto a primeira é senvolvimento de estratégias de saúde
o Conselho de Segurança da Organiza- geralmente utilizada para referir-se aos nacionais e globais.
ção das Nações Unidas (ONU), a Orga- acordos e projetos de cooperação entre
Disponível em: http://www.surjournal.org/conteudos/
nização Mundial do Comércio (OMC) e os Estados, a segunda abarcaria novos getArtigo19.php?artigo=19,artigo_06.htm. Adaptado.
as alianças entre países desenvolvidos, atores e pautas inovadoras. Cresce igual- Acessado em: 29/05/2014.

42 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 42 05/01/17 23:45


O direito à saúde
Para a preservação da vida e da dignidade humana, é necessário que o direito à saúde seja
garantido. Como vimos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reza que “Toda pessoa
tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar [...]”.
Dentre as medidas de garantia desse direito, estão a prevenção e o tratamento de doenças
epidêmicas (que atingem grande número de indivíduos), endêmicas (que têm incidência em de-
terminada região) e outras, além do esforço de erradicação dessas doenças. O direito do cidadão
à saúde também envolve a criação de condições que assegurem a todos assistência médica em
caso de qualquer enfermidade, incluindo o acesso a postos de saúde e hospitais, bem como a
distribuição de medicamentos.
Os serviços de saúde têm o dever de atender a todos sem discriminação, seja de ordem racial,
de idade ou de gênero. Todos os cidadãos têm o direito de receber assistência médica adequada
às suas especificidades, em especial os que são mais vulneráveis. Ademais, nenhum paciente
deve ser vítima de constrangimento nem o Estado pode promover ações, leis ou políticas que
limitem a liberdade pessoal de cada um.
O Ministério da Saúde é o órgão do Poder Executivo Federal responsável pela organização e
elaboração de planos e políticas públicas voltados para a promoção, prevenção e assistência à
saúde dos brasileiros. É função do ministério dispor de condições para a proteção e recuperação
da saúde da população, reduzindo as enfermidades, controlando as doenças endêmicas e pa-
rasitárias e melhorando a vigilância à saúde, dando, assim, mais qualidade de vida à população.

? Questão de ética

1. Você já recebeu atendimento público de saúde? Em caso afirmativo, você foi bem tratado?
Se quiser, conte sua experiência.

Resposta pessoal

2. Procure saber que campanhas de saúde estão sendo realizadas na região em que você vive
e escreva a importância de cada uma delas para a população.

Resposta pessoal

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 43

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Manual do Educador – 8 ano o


43

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2
Capítulo
Viver dignamente

3. Pesquise e indique a quantidade e o nome de cada serviço público de saúde no seu bairro
e complete a tabela abaixo.
Resposta pessoal

Quant. Nome

Posto de saúde

Hospital geral

Hospital para público


específico

Serviço de atendimento
de urgência

Farmácia popular

Banco público de sangue

Para refletir

Cinco apostas da ciência para combater o zika e a microcefalia

Pesquisas acadêmicas e estudos para novos testes diagnósticos costumam levar meses
para ser publicados devido ao minucioso processo de revisão por publicações científicas.
Mas a epidemia de zika no Brasil e em outros países das Américas tem acelerado a
produção de conhecimento sobre o tema.
Estudos sobre o zika vírus vêm sendo disponibilizados em sites científicos na forma
de “pré-print” — como o artigo é chamado antes de passar por revisão — para que
outros pesquisadores possam ter acesso mais ágil a seu conteúdo e eventuais achados
e trabalhar a partir deles.

44 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

CMeE_8A_2017_01a80.indb 44 28/12/16 20:04

44 Cidadania Moral e Ética

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Então, saiba como estão evoluindo as principais pesquisas sobre o zika vírus e a
microcefalia:
• Vacinas
Uma de duas vacinas para o zika vírus desenvolvidas em uma parceria do Instituto
Evandro Chagas com a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, começará, em breve,
a ser testada em animais.
• Cloroquina
Paralelamente à corrida pela vacina, pesquisadores buscam formas de bloquear a
ação do vírus, e um avanço importante foi obtido em testes com uma velha conhecida
da medicina, a cloroquina. O medicamento é usado para tratar malária e outras doenças,
como lúpus, e tem a vantagem de poder ser usado por mulheres grávidas.
• Testes rápidos
A Fundação Bahiafarma, órgão vinculado à Secretaria da Saúde da Bahia, anunciou
a criação de um teste sorológico rápido para o zika, que consegue detectar, no soro do
sangue do paciente, os anticorpos contra o vírus em qualquer fase da doença. O resultado
estaria disponível em 20 minutos.
• Como age o vírus?
“Minicérebros” desenvolvidos em laboratório com células-tronco vêm permitindo que
uma equipe do Instituto D’Or, no Rio, acompanhe o ritmo e os mecanismos de destruição
do zika. Ao injetar o vírus nas estruturas — que têm cerca de dois milímetros e equivalem
à miniatura de um cérebro embrionário —, o grupo constatou uma redução de até 40%
do tamanho delas em apenas 10 dias.
• Transmissão por outros mosquitos
Embora, desde o ano de 2015, os principais esforços de combate ao alastramento
do zika fossem focados no ataque ao Aedes aegypti, só em meados do ano seguinte
veio a confirmação científica de que o mosquito de fato carrega o vírus.

Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-36475080. Acesso em 23/08/2016. Adaptado.

? Questões para reflexão


1. Você e sua família têm se protegido contra os ataques do mosquito Aedes aegypti?
Como devem se proteger?
2. Você sabe quais são os sintomas provocados pelo zika vírus?
3. Há exames para detectar o vírus?
4. Como o zika vírus afeta o cérebro do bebê?
5. Faça uma pesquisa no Ministério da Saúde e identifique quantas pes-
soas já contraíram o zika vírus. O que podemos deduzir desses
números?

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 45

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Manual do Educador – 8 ano o


45

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3
Capítulo

Objetivos
Somos cidadãos do mundo

3
Pedagógicos Somos cidadãos

Capítulo
• Discutir o conceito de cidadão do
mundo e as práticas envolvidas na
do mundo
promoção dessa categoria social.
• Comentar o papel da identidade
de cada indivíduo no exercício da Vamos dialogar!
cidadania. Qual é o seu senso de compromisso diante dos pro-
Conhecimentos prévios blemas da sua comunidade, do seu país e do mundo?
• Compreender que o Você se sente inteirado com a sua nação e com as ou-
desenvolvimento humano nem • Você já ouviu a
tras? De que formas? Vimos no capítulo anterior, que
expressão: “Você, cidadão
sempre caminha na mesma do mundo”?
existem direitos universais válidos para todos, embora
haja muitos casos de descumprimento dessas garan-
direção do desenvolvimento • A preocupação por um
tias. Além disso, vivemos em um mundo cada vez mais
econômico. mundo melhor parte de
conectado, onde as pessoas se comunicam mesmo
você também?
com grandes distâncias, cada vez mais falam outras
• Considerar os atos de corrupção • Quando você faz
línguas e viajam para outros lugares. Esse fenômeno,
uso das tecnologias,
realizados nas esferas pública e principalmente das redes
chamado globalização, tem seus benefícios, como o
maior acesso à informação e a possibilidade de conhe-
privada. sociais, você se sente
cer diversas culturas, como também acarreta proble-
globalizado?
mas, tais como a desigualdade social e o consumo de-
• Debater medidas para o • Ser um cidadão é ser
senfreado, que, por sua vez, prejudica o meio ambiente.
desenvolvimento sustentável. ético e respeitar a
sociedade?
• Entender por que a solidariedade
é uma forma eficaz de se praticar a
cidadania.

Sugestão de leitura ////


Práticas de cidadania
Autor: Jaime Pinsky (Org.)

Que importantes ações, no sentido


de estender a cidadania a todos, es-
tão sendo executadas no Brasil — e
por quem? Quais os obstáculos que
estão sendo enfrentados para que Hasloo Group Production Studio/Shutterstock.com

essas ações se concretizem? Em Prá-


ticas de cidadania, cidadãos narram
suas próprias experiências e, a partir CMeE_8A_2017_01a80.indb 46 28/12/16 20:04

delas, oferecem exemplos, com o ob-


jetivo de auxiliar a elaboração de no- Anotações
vas políticas públicas, novas ações co-
letivas e novas práticas empresariais,
mais comprometidas com a respon-
sabilidade social. José Renato Nalini,
Gilberto Dimenstein, Galeno Amorim,
Claudia Costin, Stephen Kanitz, Oded
Grajew, Marina Silva, Cândido Malta,
entre outros, são alguns dos cidadãos
que relatam suas experiências.

46 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de
Abordagem
Nesse contexto, no qual as fronteiras entre as regiões do mundo são cada vez menores,
cada pessoa deve se sentir responsável pelos interesses da humanidade, ciente de que nossas A canção Janela para o mundo, de
ações podem ter um alcance muito maior do que imaginamos. Os que têm esse senso de res- Milton Nascimento e Fernando Brant,
ponsabilidade são chamados de cidadãos do mundo. reproduzida abaixo, pode ser utiliza-
Analise as imagens e discuta, na sala de aula, como as ações representadas podem afetar
da como texto complementar no de-
a sociedade global.
bate do tema do capítulo. Na leitura
em sala, chame a atenção para a con-

Lighthunter, stefanocapra, betto rodrigues, connel/Shutterstock.com


vergência de impressões do mundo
em realidades diferentes, citada pelo
autor do texto, e para o fato de que
essa aproximação — o humano que
existe em todos os lugares, por mais
diversos que eles sejam — justifica o
dever que temos de ser cidadãos do
mundo.

De janela, o mundo até parece o


meu quintal.
Viajar, no fundo, é ver que é igual o
drama que mora em cada um de nós,
descobrir no longe o que já estava
em nossas mãos.
Minha vida brasileira é uma vida
universal.
É o mesmo sonho, é o mesmo
amor, traduzido para tudo o que o
humano for.
Olhar o mundo é conhecer
tudo o que eu já teria de saber.
Estrangeiro eu não vou ser.
Estrangeiro eu não vou ser.
Cidadão do mundo eu sou.
Estrangeiro eu não vou ser.

In: Nascimento. Warner Bros Records, 1997.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 47

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Anotações

Manual do Educador – 8o ano 47

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3
Capítulo

Fundamentação
Somos cidadãos do mundo

Pertencimento O indivíduo e a sociedade


Os dicionários apresentam vários signi- Cidadania é, primordialmente, uma relação política entre um indivíduo e uma comunidade
ficados para o verbo pertencer dentre os política, em virtude da qual o indivíduo é membro de pleno direito dessa comunidade e a ela
quais interessa o significado ser parte do deve lealdade permanente. [...]
A sociedade deve organizar-se de modo a conseguir gerar em cada um de seus membros
qual deriva a palavra pertencimento.
o sentimento de que pertence a ela, de que essa sociedade se preocupa com ele e, em con-
Pertencimento, ou o sentimento de sequência, a convicção de que vale a pena trabalhar para mantê-la e melhorá-la. O reconheci-
mento da sociedade por seus membros e a consequente adesão por parte destes aos projetos
pertencimento, é a crença subjetiva numa
comuns são duas faces da mesma moeda que compõem o conceito de cidadania.
origem comum que une distintos indiví-
A identidade das pessoas conta, em nossos dias e em nossas sociedades, com um compo-
duos. Os indivíduos pensam em si mesmos nente fundamental: a igualdade de todos os cidadãos em dignidade; mas conta também com
como membros de uma coletividade na os elementos específicos de cada indivíduo e de cada comunidade étnica, religiosa ou nacional
qual símbolos expressam valores, medos às quais pertence.
e aspirações. Esse sentimento pode fazer A cidadania, como toda propriedade humana, é o resultado de uma prática: a aquisição de
destacar características culturais e raciais. um processo que começa com a educação formal (escola) e informal (família, amigos, meios de
Quando as pesquisas de sociólogos e comunicação, ambiente social). Porque aprendemos a ser cidadãos, como aprendemos tantas
antropólogos distanciaram-se do concei- outras coisas, mas não pela repetição da lei de outros e pelo castigo, e sim chegando a ser mais
to de raça, passaram a considerar a ideia profundamente nós mesmos.
de pertencimento, que pode ser tempo- CORTINA, Adela. Cidadãos do mundo: para uma teoria da cidadania. São Paulo: Loyola, 2005. Adaptado.

rário ou permanente. Esse sentimento de


pertencimento pode ser reconhecido na
forma como um grupo desenvolve sua
atividade de produção, manutenção e
aprofundamento das diferenças, cujo sig-
nificado é dado por eles próprios em suas
relações sociais. Quando a característica
dessa comunidade é sentida subjetiva-
mente como comum, que pode ser a as-
cendência comum, surge o sentimento de
“pertinência”, de pertencimento, ou seja,
há uma comunidade de sentido.
As formas de organização coletiva não
decorreriam, assim, só de traços raciais,
pois a pertinência é capaz de realizar a
união entre pessoas de ascendência racial

Rawpixel/Shutterstock.com
diferente, mas que partilham a crença não
só numa origem comum como também
num destino comum, estabelecendo um
sentido de homogeneidade para os mem-
bros de uma comunidade e de heteroge-
neidade em face dos diferentes grupos. 48 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
Max Weber, a partir do sentido de per-
tencimento, desenvolve uma compreen-
são da diversidade cultural. A diversidade CMeE_8A_2017_01a80.indb 48 28/12/16 20:04
de gerar podem garantir a sua sobrevivên- ditamos que podemos interferir e, mais do
cultural é reconhecida na medida em que
cia e reprodução. Weber denomina-a de que tudo, que vale a pena interferir na rotina
se confronta uma “solidariedade étnica”
“comunidade política”, ou seja, está voltada e nos rumos desse tal lugar.
com elementos estrangeiros, estabele-
para a ação, partilhando valores, costumes, Esse sentimento de pertencimento é que
cendo uma oposição, ou até mesmo, um
uma memória comum, criando uma “comu- poderia explicar porque grupos minoritá-
desprezo pelo que é diferente, decorrendo
nidade de sentido”, independentemente de rios na África, ao invés de desaparecerem,
desse o embate entre o “nós” e os “outros”,
laços sanguíneos, na qual há um “sentimen- organizaram-se de acordo com linhas ét-
o sentido de unidade grupal.
to de pertencimento”. nicas para a disputa de pontos capitais nos
Segundo Weber, a comunidade se au-
A sensação de “pertencimento” significa seus países. Assim grupos com identidades
todefine e estabelece as suas fronteiras,
que precisamos nos sentir como pertencen- étnicas unem-se para a conquista de espaços
bem como estabelece meios de diferen-
tes a tal lugar e ao mesmo tempo sentir que econômicos e políticos.
ciação tanto interna como externa. Os
esse tal lugar nos pertence, e que assim acre- Um exemplo da manifestação da sensação
costumes que essa comunidade é capaz

48 Cidadania Moral e Ética

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Assim é que, sabendo-se que tais grupos,
por outro lado, não raro são mais vulnerá-
? Questão de ética veis, em documentos subscritos pela comu-
nidade internacional, tal como a Convenção
169 da Organização Internacional do Traba-
1. Você se considera um cidadão? Por quê? lho - OIT, são indicadas forma de prote-
Resposta pessoal ção a essas comunidades. Em seus vários
dispositivos (art. 8, alínea 2, art.13), afirma
que essas comunidades vulneráveis têm o
direito de conservar seus costumes e tradi-
2. Por que é importante cada um de nós aprendermos e praticarmos o conceito de cidadania? ções, e no que se refere à terra, estabelece
Porque cidadania é uma relação política entre um indivíduo e a sociedade, em virtude da que os governos devem respeitar a especial
importância da qual se revestem as terras
qual o indivíduo é membro de pleno direito dessa comunidade e a ela deve lealdade
ou territórios para a cultura e os valores es-
permanente. pirituais dos povos indígenas, por exemplo,
e sobretudo destaca o aspecto coletivo da
relação com a terra que não é vista tão so-
mente como patrimônio econômico.
3. Segundo o texto, nossa identidade é composta por quais componentes? Na mesma Parte II da Convenção 169
A noção de igualdade social em busca da dignidade para todos e as especificidades da OIT, que versa sobre o tema terra, no
art. 14 deixa claro que deve ainda haver
individuais.
proteção a esses povos inclusive no que
se refere ao acesso a terras que não são
4. Você acha que os componentes citados na questão anterior podem entrar em atrito? Explique. ocupadas exclusivamente por eles, exa-
Resposta pessoal tamente quando têm acesso a tais áreas
por força de suas atividades tradicionais e
de subsistência. Ainda, dá especial ênfase
nesse aspecto aos povos nômades e da
5. Leia o trecho a seguir: agricultores itinerantes.
A Convenção 169 da OIT cuida ainda da
“[...] a sociedade deve organizar-se de modo a conseguir gerar em cada um de seus
preservação dos direitos dos povos mino-
membros o sentimento de que pertence a ela [...]”
ritários cuja cultura e tradição impliquem
O trecho lido nos remete à ideia de pertencimento, ou seja, à crença subjetiva em uma ori- em exploração de recursos naturais, pre-
gem comum que une os diferentes indivíduos. Os indivíduos pensam em si mesmos como vendo a garantia na sua participação em
membros de uma coletividade na qual símbolos expressam valores, medos e ideais. A partir caso de utilização desses recursos.
disso, você se considera pertencente a algum grupo? Em respeito ao sentimento de pertenci-
mento, está previsto na referida Conven-
Resposta pessoal
ção, na hipótese de haver necessidade de
deslocamento da comunidade, o que só
se admite em casos excepcionais, o dever
de ser preservado o direito de para lá re-
49
Cidadania Moral e Ética I 8o ano
tornar ou, em caso de total impossibilida-
de de retorno, devem ser garantidas ter-
ras em qualidade e estatuto jurídico iguais
para que não percam seus referenciais de
CMeE_8A_2017_01a80.indb 49 28/12/16 20:04
de pertencimento é a ação das comunidades formar o consenso de que, para ajudar na
tradicionais (detentoras de saberes naturais, conservação da comunidade, precisam ser identidade, garantindo-se, assim, a sua
transmitidos oralmente de geração a gera- vistos como parte integrante do todo, como preservação e desenvolvimento.
ção como os grupos remanescentes dos qui- “pertencendo” a essa região.
lombos, populações ribeirinhas e os índios) Por outro lado, esse sentimento de per- Ana Lúcia Amaral
é o que se testemunha nos processos pela tencimento tem relação com a noção de Procuradora Regional da República
manutenção de Unidades de Conservação, participação. Na medida em que o grupo se Mestre em Ciência Política pelo Depar-
uma vez que os seus saberes e modo de vida sente ator da ação em curso, o que for sendo tamento de Ciência Política da Faculdade
foram obtidos e desenvolvidos nesse lugar, construído de forma participativa desenvol- de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da
cujas condições e peculiaridades aprende- verá a corresponsabilidade, pertencendo os Universidade de São Paulo.
ram a respeitar, de forma a permitir a con- resultados a todos desse grupo, pois conterá Disponível em: http://escola.mpu.mp.br/dicionario/tiki-
tinuidade da vida nessa região. Conseguem um pouco de cada um. index.php?page=Pertencimento. Acesso em 02/09/2016.

Manual do Educador – 8o ano 49

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 49 05/01/17 23:45


3
Capítulo

Fundamentação
Somos cidadãos do mundo

A corrupção está originalmente


associada à ideia de degeneração,
Para refletir
putrefação ou destruição, represen-
Desenvolvimento humano
tando, na natureza, um processo
profundo de transformação dos se- Só há desenvolvimento quando os benefícios do crescimento servem à ampliação das
res, tendo em vista a mudança de capacidades humanas, entendidas como o conjunto das coisas que as pessoas podem
sua matéria no contexto dos mo- ser ou fazer na vida. E são quatro as mais elementares: ter uma vida longa e saudável, ser
vimentos. A palavra corrupção não instruído, ter acesso aos recursos necessários para um nível de vida digno e ser capaz de
participar da vida da comunidade. Na ausência dessas quatro, estarão indisponíveis todas
advém apenas do latim corrumpere,
as outras possíveis escolhas. E muitas oportunidades na vida permanecerão inacessíveis.
porque a ideia já era presente entre Além disso, as pessoas têm que ser livres para que suas escolhas possam ser exercidas,
os gregos, em que aparece em vista para que garantam seus direitos e se envolvam nas decisões que afetarão sua vida.
dos estudos destes sobre a natureza As pessoas são a verdadeira riqueza das nações. Na verdade, o objetivo básico do
e em uma cosmologia assentada na desenvolvimento é alargar as liberdades humanas. O processo de desenvolvimento pode
existência de dois mundos: as formas expandir as capacidades humanas, ampliando as escolhas que as pessoas têm para viver
perfeitas e a ausência de corrupção plenas e criativas.

do mundo dos deuses e as formas


VEIGA, José Eli da. Meio ambiente & desenvolvimento. São Paulo: Senac, 2006. p. 23, 24.
imperfeitas do mundo dos homens,
passível, a todo instante, da prática

ImageFlow/Shutterstock.com
de corrupção. Daí diaphthora, que
significa destruição, ruína e dano aos
valores e à ordem.
[...]
Tendo em vista a tipologia das for-
mas de governo de Aristóteles, pode-
-se derivar o potencial de corrupção
como a degeneração de virtudes,
conforme uma natureza típica de
cada uma das formas. Uma vez que
a corrupção ocorre em potência, no
plano das formas de governo, exis-
tem princípios que a potencializam,
tendo em vista o caráter prático do
exercício do governo na comunidade.
A corrupção, dessa maneira, cumpre
um papel histórico, em face dos ciclos
de ascensão e decadência de institui-
ções políticas. Com relação à questão
conceitual, a ideia de corrupção está
50 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
envolvida numa concepção cíclica de
história, típica do mundo antigo. No
plano analítico, toda forma boa de CMeE_8A_2017_01a80.indb 50 28/12/16 20:04

governo encontra sua oposição na


corrupção potencializada no tempo. Anotações
É inerente às formas de governo uma
corrupção potencial, que pertence à
natureza do poder político.

FILGUEIRAS, Fernando. Corrupção, democracia e


legitimidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p.
29, 35. Adaptado.

50 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 50 05/01/17 23:45


Fundamentação
Há um senso comum recorrente
? Questões para reflexão que associa o fenômeno da corrup-
ção à própria identidade do brasi-
1. Conforme o texto, qual é o bem mais valioso da humanidade? Você concorda?
leiro. Por essa visão, o Brasil seria
Por quê?
2. “[...] as pessoas têm que ser livres para que suas escolhas possam ser exercidas
inevitável e definitivamente corrupto
[...].” Você se considera uma pessoa livre? devido a certos valores e práticas que,
3. Justifique. O que significa ser pleno e criativo? presentes desde a origem, tornaram-
4. Que ações que você observa no cotidiano promovem a ampliação das capacidades -se parte de seu caráter e de seu jeito
das pessoas de viverem plenas e criativas? de ser. Tal explicação, além de incor-
porar uma boa dose de preconceito,
essencializa a história e simplifica ao
A ética e a corrupção atribuir uma sobrecarga explicativa à
Corrupção é um fenômeno sociopolítico e econômico, presente em todos os países, que
cultura, em detrimento de suas arti-
causa instabilidade política e prejudica as instituições democráticas. Além disso, um país com culações variadas com outras dimen-
casos graves de corrupção afasta investidores e desestimula a criação e o desenvolvimento de sões da vida social. Uma coisa é reco-
empresas, atrapalhando o crescimento da economia. Corrupção pode envolver suborno, fraude, nhecer que, na formação do Estado
extorsão, apropriação indébita, nepotismo, tráfico de influência, entre outras práticas. Vejamos nacional e na constituição de nosso
em que consiste cada uma das citadas acima. regime republicano, houve escassos
valores públicos e forte privatismo,
ambígua situação legal e baixa ade-
são a procedimentos impessoais. Ou-
tra é deixar de reconhecer a variação
histórica dos padrões de corrupção,
de sua intensidade, generalidade e
profundidade, segundo as várias fa-
ses do desenvolvimento econômico
e democrático do País. Uma coisa é
identificar sentimentos de conformis-
mo, na cultura das elites e na cultura
popular, em relação ao fenômeno da
corrupção. Outra é deixar de lado,
desvalorizar as atitudes e os movi-
mentos de opinião pública que ex-
pressam a revolta contra a reiteração
dos fenômenos da corrupção. Enfim,
a explicação tautológica de que o
Brasil é corrupto em função de sua
identidade quase prescinde de refletir
51
teoricamente e estudar empiricamen-
te o fenômeno da corrupção. Não
CMeE_8A_2017_01a80.indb 51 28/12/16 20:04
deixa de ser, apesar da crítica aparen-
te, uma forma de se conformar à sua
Anotações realidade.

AVRITZER, Leonardo. [et al. (orgs.). Corrupção:


ensaios e críticas. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2008, p. 14.

Manual do Educador – 8o ano 51

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 51 05/01/17 23:45


3
Capítulo

Sugestão de
Abordagem
Somos cidadãos do mundo

Ao tratar a corrupção com os alu-


nos, pode ser necessário lhes dar in-
formações básicas a respeito da rea-
lidade política brasileira que envolve
esse tema. Notícias e reportagens de
jornais, revistas ou mesmo sites são
bons recursos para iniciar a conversa.
Mas não se deve apenas, nessa dis-
cussão, identificar os casos e as esta-
tísticas; antes, é preciso refletir sobre
as causas e, inclusive, abordar o con-
texto histórico da corrupção no País.
Existe literatura sobre esse tema, que
pode ser consultada pelo professor.

Fundamentação
• Suborno
Questões para reflexão e aprofun- Considerado crime, consiste no ato de quem, no exercício de um cargo público, exige ou
damento dos temas aceita qualquer vantagem ou recompensa para faltar ao cumprimento de seu dever. Por exem-
plo, a compra de votos para garantir a vitória de um candidato na eleição. A quantia oferecida a
1. O que Milton Nascimento nos indica alguém para cometer atos ilegais, em casos políticos, é chamada de propina.
quando diz, em sua música, “Estran-
• Fraude
geiro eu não vou ser [...] cidadão do
Esquema ilícito ou de má-fé com a intenção de enganar alguém ou de não cumprir determina-
mundo eu sou”? O que podemos da obrigação. Uma fraude pode ser a falsificação de objetos (como telas de pintores famosos),
apreender ao observarmos conjun- documentos e assinaturas; propaganda enganosa; criação de empresas falsas; entre outras.
tamente uma fotografia do planeta
Terra e um mapa-múndi com suas • Extorsão
divisões geopolíticas? Liste algumas Trata-se do ato de obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer algo, por meio de ameaças ou
dificuldades que se apresentam ao violência, com o objetivo de obter lucros.
imaginarmos um mundo sem fron-
• Apropriação indébita
teiras. É o apoderamento de bem móvel sem o consentimento do dono, quando não há devolução
2. Aceitando o desenvolvimento sus- ou quando há consumo próprio indevido.
tentável como uma ideia-força, ou
seja, uma ideia mobilizadora da so-
ciedade, como construir a sustenta-
bilidade entendendo-a como uma 52 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

proposta planetária, política, eco-


nômica, pedagógica, comunitária,
ecológica e pessoal?
CMeE_8A_2017_01a80.indb 52 28/12/16 20:04

des e conhecimentos que precisamos com outras escolas? A competição


3. Quais as vantagens e desvantagens estudar para interpretar de modo in- estimula ou impede a participação?
que a virtualidade traz para o mun- tegral as nossas comunidades, o nos- Como o sentimento de solidarieda-
do atual? Como a virtualidade po- so país e o planeta? Elas são encontra- de pode se manifestar na sala de
deria nos ajudar a descobrir e com- das na escola onde estudamos? aula? E nas relações da escola com
preender o nosso mundo? 6. Como você identifica um cidadão e a comunidade e o Planeta?
4. Quais seriam os sinais da globali- uma cidadã? Quais as manifestações 8. A vida no Planeta corre perigo. Liste
zação que você sente em sua vida mais aparentes de uma consciência de e discuta as causas.
cotidiana? Em quais deles você se cidadania?
reconhece como parte? 7. Uma escola deve estimular a compe- GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo:
5. Quais seriam as matérias, habilida- tição entre seus alunos? E competir Peirópolis, 2000, p. 53.

52 Cidadania Moral e Ética

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• Nepotismo
É o favorecimento dos vínculos de parentesco nas relações de trabalho ou emprego. As
práticas de nepotismo substituem a avaliação de mérito para o exercício da função pública pela
valorização de laços familiares. O nepotismo viola as garantias constitucionais de impessoalida-
de na administração pública, na medida em que estabelece privilégios em função de relações de desigualdade e de inclusão social,
de parentesco e desconsidera a capacidade técnica para o exercício do cargo público. implica a adoção de políticas distributi-
vas e a universalização de atendimento
• Tráfico de influência
a questões como saúde, educação, ha-
Ocorre quando se usa a influência ou o prestígio junto a órgãos ou autoridades do poder
público para obter vantagem particular. Geralmente, em troca de favores ou pagamento.
bitação e seguridade social.
Mas a corrupção também pode estar presente no dia a dia de todos nós. Ela, muitas vezes, Sustentabilidade política – refere-se
está associada ao chamado jeitinho brasileiro, que é a prática de conseguir algo ou burlar ao processo de construção da cidada-
regras de maneira ardilosa e improvisada. Observe alguns casos em que ela ocorre: nia para garantir a incorporação plena
dos indivíduos ao processo de desen-
• Copiar as respostas da prova do colega.
volvimento.
• Assinar o nome no trabalho escolar do qual não participou.
• Furar fila.
Sustentabilidade econômica – re-
• Dar ou aceitar o troco errado. fere-se a uma gestão eficiente dos re-
• Comprar produtos piratas ou falsificados. cursos em geral e caracteriza-se pela
• Falsificar documentos, como carteira de estudante. regularidade de fluxos do investimento
• Não dar nota fiscal. público e privado. Implica a avaliação da
• Tentar subornar o guarda para não receber multa. eficiência por processos macro sociais.”
• Roubar sinal da TV a cabo.
No entanto, o desenvolvimento sus-
• Não declarar Imposto de Renda.
tentável não deve ser apresentado
como um slogan político. As condições
ambientais já estão bastante prejudica-
das pelo padrão de desenvolvimento e
consumo atual, deste modo, o desen-
volvimento sustentável pode ser uma
resposta aos anseios da sociedade.
A sustentabilidade consiste em en-
contrar meios de produção, distribuição
e consumo dos recursos existentes de
forma mais coesiva, economicamente
eficaz e ecologicamente viável.
Um dos desafios da sustentabilida-
de ambiental urbana é a conscientiza-
ção de que esta é um processo a ser
percorrido e não algo definitivo a ser
alcançado. A busca por uma concei-
53 tuação urbana sustentável traz consigo
uma série de proposições e estratégias
que buscam atuar em níveis tanto locais
CMeE_8A_2017_01a80.indb 53 28/12/16 20:04 quanto globais.
Fundamentação Priorizar o desenvolvimento social e
humano com capacidade de suporte
Novas maneiras de pensar -se à manutenção da capacidade de sus-
ambiental, gerando cidades produtoras
sustentabilidade tentação dos ecossistemas, o que implica
com atividades que podem ser acessa-
a capacidade de absorção e recomposi-
das por todos, é uma forma de valori-
Sustentabilidade ecológica – refere- ção dos ecossistemas em face das agres-
zação do espaço incorporando os ele-
-se à base física do processo de cresci- sões antrópicas.
mentos naturais e sociais.
mento e tem como objetivo a manuten- Sustentabilidade social – refere-se ao
ção de estoques dos recursos naturais, desenvolvimento e tem por objetivo a Disponível em: http://www.fsma.edu.br/visoes/
incorporados às atividades produtivas. melhoria da qualidade de vida da popula- ed04/4ed_O_Desafio_Do_Desenvolvimento_Sustentavel_
Sustentabilidade ambiental – refere- ção. Para o caso de países com problemas Gisele

Manual do Educador – 8o ano 53

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3
Capítulo
Somos cidadãos do mundo

? Questão de ética

1. Pense e responda: quais são as consequências trazidas pela corrupção para a sua vida e
para a sua família?

Resposta pessoal

2. Na sua opinião, por que existem tantos casos de corrupção no meio político brasileiro?
Resposta pessoal

3. Além dos exemplos de corrupção citados no texto, que outros você acrescentaria?
Resposta pessoal

4. Pesquise notícias recentes de casos de corrupção. Que tipo de delito foi praticado e quais
foram os prejuízos ocasionados por ele?

Resposta pessoal

54 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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54 Cidadania Moral e Ética

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Para refletir

Só de sacanagem

Meu coração está aos pulos!


Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu
dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar
gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impu-
nidade, e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas
vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a men-
tira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai,
minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis
do coleguinha”, “Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Em vez disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual
minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora
eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba”, e eu vou dizer:
“Não importa, será este o meu Carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu
filho e meus amigos vamos pagar limpo a quem a gente deve
e receber limpo do nosso freguês”.
Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: “É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o
primeiro homem que veio de Portugal”. Eu direi: “Não
admito, minha esperança é imortal”.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo,
mas, se a gente quiser, vai dar para mu-
dar o final!
Elisa Lucinda.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 55

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Manual do Educador – 8 ano o


55

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3
Capítulo
Somos cidadãos do mundo

? Questões para reflexão


1. Que tipo de sentimento é expresso pelo texto?
2. Que ironia está presente no título do texto?
3. O que é habeas corpus? Se necessário, procure no dicionário.
4. A autora fala de sentimentos como confiança, fé e esperança. Você nutre esse
tipo de sentimento pela sociedade à qual você pertence?

Desenvolvimento sustentável
O modelo atual de crescimento econômico gera enormes desequilíbrios. Ao passo que é
enorme a riqueza produzida no mundo e aperfeiçoam-se as tecnologias da computação e da
informação, por exemplo; por outro lado, a miséria e a degradação ambiental aumentam a cada
dia. E essa realidade pode pôr em risco a segurança e a vida da humanidade no futuro.
As ações realizadas para satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer as
necessidades das futuras gerações fazem parte do que chamamos de desenvolvimento sus-
tentável. Esse conceito visa à integração entre economia, sociedade e meio ambiente. Todos
temos que ter o cuidado de não esgotar os recursos naturais de que dispomos para o futuro.
Sabemos que os recursos naturais (água, solo, vegetação, minérios, etc.) são finitos. E são
eles que permitem a existência humana, a diversidade biológica e o próprio crescimento eco-
nômico. Por isso, é necessário que haja planejamento no uso deles e que não se permita que o
progresso da economia os destrua.
É importante que se reduza o uso de matérias-primas e que se aumente a reutilização de
produtos e a reciclagem. Além disso, deve-se dar atenção à gestão correta do lixo, bem como à
redução da emissão de gases de efeito estufa. Dentre outras medidas para o desenvolvimento
sustentável, estão:

• Consumo racional de água e alimentos.


• Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde.
• Preservação dos ecossistemas e da biodiversidade.
Marco Prati/Shutterstock.com

• Diminuição do consumo de energia e uso de fontes energéticas renováveis, como a solar,


a eólica e a geotérmica.
• Industrialização baseada em tecnologias ecologicamente adaptadas.
• Controle da urbanização desordenada.
• Atendimento das necessidades básicas da população (educação, saúde, moradia, empre-
go, etc.).

56

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56 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de
Abordagem
Consuma sem consumir o Abaixo, algumas informações a res-
mundo em que você vive peito dos impactos causados pelos
acontecimentos listados na questão 5.
1 Planeje suas compras • A poluição dos rios e mares ofere-
A impulsividade é inimiga ce danos à vida marinha, à saúde do
do consumo consciente. homem e às atividades pesqueiras.
Quem planeja antes compra O petróleo, o lixo e o esgoto do-
menos e melhor. méstico são os principais poluentes
dos ecossistemas aquáticos.
• O descongelamento das geleiras,
2 Separe seu lixo
Reciclar é uma maneira de
acelerado pelas emissões de gases
contribuir para a economia de poluentes, pode causar o aqueci-
recursos naturais, a redução mento da água e a elevação do ní-
da degradação ambiental e a vel do mar.

Iakov Filimonov/Shutterstock.com
geração de empregos. • O buraco na camada de ozônio
(que protege a Terra de vários tipos
3 Avalie os impactos do
de radiação, inclusive a ultraviole-
que consome ta), causado pela emissão de cloro-
Ao comprar, leve em conta fluorcarbono (CFC), torna o Planeta
danos que a fabricação e o mais exposto à radiação nociva, au-
uso do produto causam ao mentando, inclusive, as chances de
meio ambiente e à sociedade. desenvolvimento de câncer.
• O efeito estufa (processo no qual
uma parte da radiação infraverme-
4 Consuma apenas o
necessário
lha emitida pela superfície terrestre
É possível viver com é absorvida por gases atmosféricos,
menos. Reflita sobre suas retendo o calor), em sua ocorrên-
Marco Prati/Shutterstock.com

necessidades reais. cia ideal, é vital para a existência da


vida, pois mantém o Planeta aque-
cido. Seu agravamento, porém, de-
Aleksandra Suzi/Shutterstock.com

5 Reutilize produtos e sencadeia o aquecimento global,


embalagens que causa diversos danos ao meio
Se você pode consertar,
ambiente.
transformar e reutilizar, por
que comprar outra vez? • A chuva ácida, formada por gases
poluentes diversos, é capaz de ma-
tar peixes e vegetais, corroer mate-
riais sólidos e destruir o solo. Quan-
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 57
to maior a poluição, mais ácida é a
chuva.
CMeE_8A_2017_01a80.indb 57 28/12/16 20:04

Sugestão de leitura ////


Anotações
Meio ambiente e consumismo
Autor: Gino Giacomini Filho

Como consumir? Como gerar bens


de consumo? Qual o papel das em-
presas, do mercado, do Poder Público
e da propaganda na nossa responsa-
bilidade com a sustentabilidade do
ambiente? Este livro incrementa o de-
bate sobre a política de consumo.

Manual do Educador – 8o ano 57

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 57 05/01/17 23:46


3
Capítulo

Fundamentação
Somos cidadãos do mundo

Preâmbulo

Estamos diante de um momento crí- 6 Valorize a responsabilidade social das empresas


tico na história da Terra, numa época O valor de um produto vai além de seu preço e sua qualidade. Ele pode incluir a
em que a humanidade deve escolher responsabilidade do fabricante com funcionários, sociedade e meio ambiente.
o seu futuro. À medida que o mundo
torna-se cada vez mais interdependen- 7 Não compre
te e frágil, o futuro reserva, ao mesmo produtos piratas ou
tempo, grande perigo e grande espe- contrabandeados
rança. Para seguir adiante, devemos re- Comprando do comércio
legalizado, contribui-se para
conhecer que, no meio de uma magní-
a geração de empregos
fica diversidade de culturas e formas de estáveis e o combate do crime
vida, somos uma família humana e uma organizado e da violência.
comunidade terrestre com um destino
comum.
Devemos nos juntar para gerar uma 8 Cobre dos políticos

Cherries/Shutterstock.com
sociedade sustentável global fundada É dever de qualquer
cidadão exigir de partidos,
no respeito pela natureza, nos direitos
candidatos, vereadores,
humanos universais, na justiça eco- senadores, deputados e
nômica e numa cultura da paz. Para governantes propostas
chegar a esse propósito, é imperativo e ações que viabilizem e
que nós, os povos da Terra, declaremos aprofundem a prática do
nossa responsabilidade uns para com consumo consciente.
os outros, com a grande comunidade

Elnur/Shutterstock.com
de vida e com as futuras gerações.
9 Reflita sobre seus
valores
Terra, nosso lar Faça uma avaliação
A humanidade é parte de um vasto constante: quais são os
universo em evolução. A Terra, nosso princípios que guiam suas
lar, é viva como uma comunidade de escolhas e seus hábitos de
consumo?
vida incomparável. As forças da natu-
reza fazem da existência uma aventura
exigente e incerta, mas a Terra provi- 10 Divulgue o consumo consciente
denciou as condições essenciais para a Qualquer um pode multiplicar informações, valores e práticas do consumo
evolução da vida. A capacidade de re- consciente. Sozinho ou em grupo, sensibilize outros consumidores.
cuperação da comunidade de vida e o
bem-estar da humanidade dependem
da preservação de uma biosfera sau-
58 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
dável com todos os seus sistemas eco-
lógicos, uma rica variedade de plantas
e animais, solos férteis, águas puras e CMeE_8A_2017_01a80.indb 58 28/12/16 20:04

ar limpo. O meio ambiente global, com Comunidades estão sendo arruinadas. Os são perigosas, mas não inevitáveis.
seus recursos finitos, é uma preocupa- benefícios do desenvolvimento não estão
ção comum de todos os povos. sendo divididos equitativamente, e a di- Desafios futuros
A proteção da vitalidade, diversidade ferença entre ricos e pobres está aumen- A escolha é nossa: formar uma alian-
e beleza da Terra é um dever sagrado. tando. A injustiça, a pobreza, a ignorância ça global para cuidar da Terra e uns dos
e os conflitos violentos têm aumentado e outros ou arriscar a nossa destruição e
A situação global são causas de grande sofrimento. O cres- a da diversidade da vida. São necessá-
Os padrões dominantes de produção cimento sem precedentes da população rias mudanças fundamentais em nossos
e consumo estão causando devastação humana tem sobrecarregado os sistemas valores, instituições e modos de vida.
ambiental, esgotamento dos recursos ecológico e social. As bases da segurança Devemos entender que, quando as
e uma massiva extinção de espécies. global estão ameaçadas. Essas tendências necessidades básicas forem supridas,

58 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 58 05/01/17 23:46


Anotações
? Questão de ética

1. De acordo com a leitura do texto e com o seu conhecimento de mundo, o que você entende
por sustentabilidade e desenvolvimento sustentável?

Sugestão de resposta. Sustentabilidade indica uma busca pelo equilíbrio

entre a melhora da qualidade de vida dos homens e o limite ambiental do planeta.

A sustentabilidade não está necessariamente associada ao termo desenvolvimento, mas

considera alternativas viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas para a

construção da sociedade.

Desenvolvimento sustentável é amplamente vinculado aos discursos de vários setores da

sociedade, como o educacional, o político e o publicitário. A incorporação do termo

“sustentável” ao “desenvolvimento” busca limitar as ações do segundo, estabelecendo a

harmonia do desenvolvimento econômico e da produção capitalista com a manutenção do

meio ambiente e suas variáveis. Trata-se da ideia do uso racional de recursos, trazendo

qualidade de vida para todos e tendo em vista, ao mesmo tempo, os problemas ambientais.

Dessa forma, a tecnologia deve servir tanto em favor do ser humano quanto da natureza.

2. De que forma a preservação do meio ambiente está atrelada à cidadania?


Ser cidadão implica assumir e cumprir as responsabilidades sociais. Cuidar e não degradar

o meio ambiente é dever de todos os que desejam uma vida mais saudável e se

preocupam com o futuro da humanidade.

3. Na sua comunidade ou na sua cidade, existem casos de desenvolvimento não sustentável, ou


seja, em que os interesses econômicos prejudicam os moradores ou o meio ambiente? Relate.

Resposta pessoal qual as dimensões local e global estão


ligadas. Cada um compartilha respon-
sabilidade pelo presente e pelo futuro
bem-estar da família humana e de todo
o mundo dos seres vivos. O espírito de
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 59 solidariedade humana e de parentesco
com toda a vida é fortalecido quando
vivemos com reverência o mistério da
CMeE_8A_2017_01a80.indb 59 28/12/16 20:04
existência, com gratidão pelo dom da
o desenvolvimento humano será pri- e espirituais estão interligados, e juntos
vida e com humildade em relação ao
mariamente voltado a ser mais, e não podemos forjar soluções inclusivas.
lugar que o ser humano ocupa na na-
a ter mais. Temos o conhecimento e a
tureza.
tecnologia necessários para abastecer Responsabilidade universal
Necessitamos com urgência de uma
a todos e reduzir nossos impactos no Para realizar essas aspirações, devemos
visão compartilhada de valores básicos
meio ambiente. decidir viver com um sentido de responsa-
para proporcionar um fundamento éti-
O surgimento de uma sociedade civil bilidade universal, identificando-nos com
co à comunidade mundial emergente.
global está criando novas oportunida- a comunidade terrestre como um todo,
[...]
des para construir um mundo demo- bem como com nossas comunidades lo-
crático e humano. Nossos desafios am- cais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos Disponível em: http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/
bientais, econômicos, políticos, sociais de nações diferentes e de um mundo no text.html. Acessado em: 30/05/2014.

Manual do Educador – 8o ano 59

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 59 05/01/17 23:46


3
Capítulo
Somos cidadãos do mundo

4. E casos de desenvolvimento sustentável, existem na sua região? Conte como eles funcionam.
Resposta pessoal

5. Leia sobre os acontecimentos abaixo, pesquise e explique como cada um deles atinge todos
os seres da Terra e quais as consequências para o futuro.

A poluição dos rios e mares

Resposta pessoal

O descongelamento das geleiras O buraco na camada de ozônio

Resposta pessoal Resposta pessoal

O efeito estufa A chuva ácida

Resposta pessoal Resposta pessoal

60 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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60 Cidadania Moral e Ética

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Para refletir

Carta da Terra

No dia 14 de março de 2000, na Unesco em Paris, foi aprovada, depois de 8 anos de


discussões em todos os continentes, envolvendo 46 países e mais de 100 mil pessoas
[...] a Carta da Terra. Em 2003, foi assumida oficialmente pela Unesco.

Princípios
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e
pacíficas.
4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial
atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando
o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades
regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto e a
aplicação ampla do conhecimento adquirido.
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas, em todos os níveis, promovam o
desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.
11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gêneros como pré-requisitos para o desenvolvi-
mento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e
às oportunidades econômicas.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural
e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar es-
piritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e das minorias.
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e
responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de deci-
sões e acesso à justiça.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos,
valores e as habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis: Vozes, 2012. pp. 167, 170-176. Adaptado.

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 61

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Manual do Educador – 8 ano o


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3
Capítulo

Sugestão de
Abordagem
Somos cidadãos do mundo

Os sites indicados a seguir podem ? Questões para reflexão


ser úteis na pesquisa do professor
1. Com quais atitudes práticas você pode contribuir para o cumprimento do primeiro
para a abordagem do tema em sala: princípio citado?
• Associação Brasileira de Organiza- 2. Você busca se informar a respeito das condições atuais do meio ambiente? Por quê?
ções não Governamentais: socie- 3. Que programas públicos ou privados realizados na região em que você vive contri-
dade civil sem fins lucrativos que buem para alcançar essas metas?
congrega organizações que lutam 4. Que outra medida você acrescentaria à relação dos princípios?
contra todas as formas de discrimi-
nação e desigualdade e pela cons-
trução de modos sustentáveis de Cidadania e solidariedade
vida e radicalização da democracia. A construção da ampliação da cidadania parte da realidade concreta em que as pessoas
Site: http://www.abong.org.br/.
se encontram. Para uma massa faminta, sem casa, trabalho, perspectiva de futuro nem para
a realização do plano biológico, a construção da cidadania começa por essas necessidades.
• Página do Programa de Voluntários Nesse caso, o sentido da cidadania é poder comer, ter casa, trabalhar e ter uma esperança de
da Nações Unidas (VNU): O progra- vida. No sentido ideal, ser cidadão implica no fazer-se agente crítico e político, o que requer
ma VNU promove o reconhecimen- um processo de humanização, isto é, superação da alienação através da educação, organiza-
to da contribuição dos voluntários, ção política, identidade cultural, informação, comunicação e emancipação. A conscientização
consiste na capacidade crítica de intervenção na realidade de uma forma criativa e solidária.
trabalha com seus parceiros para
Portanto, é processo de formação crescente, cumulativo. Não é uma dádiva que alguém doa
integrar o voluntariado nas ações para um “não cidadão”, mas uma conquista gradativa e que deve ser constantemente buscada,
de desenvolvimento e mobiliza em para que todos possam ter uma vida sempre mais digna e feliz.
todo o mundo um número cada O exercício da cidadania ativa e organizada leva à transformação dos indivíduos e das estru-
vez maior e mais diverso de vo- turas sociais. [...] É uma cidadania que valoriza o lazer, o pensar, o prazer, a intuição, o corpo,
luntários, incluindo os das Nações a criatividade, a festa, o diálogo, a poesia, a música, etc. [...] Cidadania significa também par-
ticipação ativa nos processos decisórios, direito ao conhecimento, acesso aos bens materiais,
Unidas. O programa VNU entende
culturais e simbólicos socialmente produzidos. [...] A construção de uma cidadania plena exige
o voluntariado como universal e in- um sábio equilíbrio entre os espaços público e privado, entre a vida local e a dimensão global.
clusivo e reconhece o voluntariado [...] À globalização do mercado, que exclui a maioria, é necessário contrapor a globalização da

crazymedia/Shutterstock.com
em toda a sua diversidade, assim solidariedade, capaz de gestar uma economia e um desenvolvimento sustentável que incluam
como os valores que o sustentam: todos os cidadãos.
livre-arbítrio, dedicação, compro- ADAMS, Telmo. Prática social e formação para a cidadania.
misso e solidariedade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. pp. 51–54. Adaptado.

Site: http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/pnud/vnu/.

Anotações
62

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62 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de
Abordagem
? Questão de ética Nas atividades, é solicitado que os
alunos informem ações solidárias sis-
1. Segundo o texto, qual é a forma mais eficaz de praticar a cidadania? temáticas de ONGs e grupos comu-
Demonstrando solidariedade.
nitários da região em que eles vivem.
Essa pesquisa é importante para favo-
recer o conhecimento e a adesão dos
alunos às atividades de sua comunida-
2. Qual é o sentido ideal de cidadania, que, de acordo com o autor, não é priorizado em muitos de. No entanto, mais interessante será
casos?
se eles se engajarem em alguma des-
Fazer-se agente crítico e político, o que requer um processo de humanização, isto é, sas atividades ou desenvolverem a sua
própria ação solidária. Após a realiza-
superação da alienação através da educação, organização política, identidade cultural,
ção da questão 6, na página seguin-
informação, comunicação e emancipação. te, incentive a turma a pensar sobre
a possibilidade de tornarem as ideias
ações concretas. Ajude-os nesse in-
tento, no que for necessário e possível.
3. Classifique as afirmativas seguintes em verdadeiras (V) ou falsas (F).

( F ) A cidadania pode ser aplicada da mesma forma para todos os homens e todas as mulhe- Sugestão de leitura ////
res, já que as pessoas têm as mesmas necessidades e expectativas.
( V ) Não só o direito ao trabalho e à educação compõe a cidadania, mas também o direito ao Sustentabilidade: o que é,
lazer e ao descanso. o que não é
( V ) A conquista da cidadania plena não pode ocorrer apenas em âmbito local. Autor: Leonardo Boff
( V ) O individualismo não contribui para a prática da cidadania.
A sustentabilidade representa, dian-
4. Junto com seus colegas de sala, faça uma pesquisa de campo sobre as organizações não go- te da crise socioambiental generaliza-
vernamentais da sua cidade e escreva abaixo sobre o trabalho que cada uma delas desenvolve. da, uma questão de vida ou morte.
Resposta pessoal O autor faz um histórico do conceito
desde o século XVI até os dias atuais,
submetendo a uma rigorosa crítica os
vários modelos existentes de desen-
volvimento sustentável.

Anotações
Cidadania Moral e Ética I 8 ano
o 63

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Manual do Educador – 8o ano 63

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3
Capítulo

Fundamentação
Somos cidadãos do mundo

A importância de uma educação 5. Em algumas comunidades, é comum a organização, por parte dos próprios moradores, de
para a solidariedade ações solidárias, como a arrecadação de alimentos, utensílios, roupas, brinquedos e calça-
dos para serem distribuídos entre pessoas em situação de vulnerabilidade social. Próximo à
De acordo com o conceito apresen- sua casa, existe esse tipo de atividade? Em caso afirmativo, conte como funciona.

tado pelo Dicionário Internacional de Resposta pessoal


Economia Solidária Jean-Louis Laville
(2009), o termo solidariedade nos re-
mete a dois conceitos diferentes: so-
lidariedade filantrópica e solidarie-
dade democrática, sendo impossível
apresentar um conceito unificado. 6. Junte-se a seus colegas e faça uma relação das possíveis atitudes solidárias que vocês
A solidariedade filantrópica apresenta podem desempenhar em conjunto usando o espaço da própria escola. Em seguida, o pro-
uma visão de uma sociedade ética, na fessor analisará a viabilidade de cada uma delas. Não se esqueça de enfatizar a importância
qual ações de um indivíduo beneficiam de cada uma das medidas sugeridas. Anote a relação na tabela a seguir.
Resposta pessoal
os outros, ou seja, o indivíduo cumpre
seus deveres uns com os outros de for- Atitude solidária Importância
ma voluntária. Esse tipo de solidarieda-
de centra na questão da urgência da
situação, na preservação da paz social,
que tem como principal objetivo o alívio
dos pobres. Tais atos são praticados por
meio de ações paliativas que favorecem
pessoas que estão em sofrimento.
Nesse aspecto, a dádiva não propor-
ciona ações que provoquem mudanças
emancipatórias para os beneficiados.
Para Laville apud Ranci (2009), o ato de
ajudar o próximo visto como um ele-
mento constitutivo da cidadania res-
ponsável acaba se transformando em
uma ajuda sem reciprocidade, na qual
a dádiva não é mutua nem proporcio-
na possibilidade de crescimento para
o beneficiado, este que ficará sempre
dependente do doador. A única contra-
partida que é possível nessa relação é a
gratidão por parte do beneficiado com
quem faz a doação. [...]
64 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
A solidariedade como princípio de
democratização traz como princípio o
trabalho em sociedade resultando em CMeE_8A_2017_01a80.indb 64 28/12/16 20:04

ações coletivas, que é baseada na ajuda do o autor, “a natureza não criou um úni- nossos sonhos com os outros. Devido a
mútua. Essa versão traz uma discussão co ser para si mesmo [...] ela os criou uns isso, a solidariedade precisa ser eman-
focada na igualdade de direitos entre para os outros e colocou entre eles uma cipatória, capaz de proporcionar mu-
as pessoas, pressupondo a liberdade de solidariedade”. (LAVILLE, apud LEROUX danças, transformações, pois não basta
acesso ao espaço público para todos os 2009, p.310) “sofrer com” e não estar presente nas
cidadãos. Para Gadotti (2009), a solidariedade mesmas lutas, na busca por melhorias,
Quanto ao conceito de solidarieda- nada tem a ver com a caridade. Não se é preciso “estar com”, compartilhar das
de democrática, a solidariedade é um trata apenas de doar algo para alguém e mesmas buscas dos mesmos objetivos.
termo que Leroux introduz na filosofia por meio desse ato aliviar a consciência.
Disponível em: http://bdm.unb.br/
com o objetivo de demarcar o vínculo A solidariedade implica não apenas sen- bitstream/10483/4993/1/2012_IaraBatistaFolha.pdf.
social democrático da caridade. Segun- tir o outro, mas compartilhar nossa vida, Acesso em 04/09/2016.

64 Cidadania Moral e Ética

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Sugestão de leitura ////
Para refletir Educação para a
Cidadania Global
Autoria: Unesco
O que é uma Cultura de Paz
por Monja Coen
Esta primeira publicação da Unesco
Quando assinamos o Manifesto para uma Cultura de Paz e não violência, estávamos sobre Educação para a Cidadania
aceitando a definição dada pela Unesco para uma Cultura de Paz, ou seja, o Global (ECG) surge em um momento
comprometimento de promover e vivenciar o respeito à vida e dignidade de cada pessoa,
sem discriminação ou preconceito; a rejeitar qualquer forma de violência; compartilhar
em que a comunidade internacional
de tempo e recursos com generosidade a fim de terminar com a exclusão, a injustiça e é chamada a estabelecer uma nova
a opressão política e econômica; desenvolver a liberdade de expressão e diversidade agenda de desenvolvimento, que leve
cultural através do diálogo e da compreensão do pluralismo; manter um consumo
em consideração as implicações de
responsável, respeitando todas as formas de vida; e contribuir para o desenvolvimento da
minha comunidade, área, país e planeta. desenvolvimentos socioeconômicos
A Educação deve ser orientada para a Cultura da Paz desde, e principalmente, dos mais amplos e tendências emergen-
níveis elementares. Para tanto, professores precisam de reciclagem adequada, bem como a tes para a educação em um mundo
formação de novos professores deve ser feita levando-se em conta esses valores.
A saúde do planeta — tanto a dos seres humanos como a da natureza — deve ser cada vez mais globalizado e interco-
cuidada de maneira a jamais violentar a vida. nectado. Neste momento, quando a
A segurança deve estar voltada para mais oportunidades de emprego, mais justiça social comunidade de educação é convo-
com mais inclusão, e nunca para mais armamentos. Devemos nos desarmar tanto física
como psicologicamente, a fim de encontrarmos um nível de segurança superior, onde as cada a dar passos para promover a
causas das violências são extirpadas — não apenas seus efeitos. paz, o bem-estar, a prosperidade e
Procurar desenvolver a Mídia da Paz — com jornalistas, intelectuais, publicitários, artistas, a sustentabilidade, esperam que esta
promotores de eventos conscientes da influência das palavras, sons e imagens nos seres
humanos e em todos os seres. nova publicação da Unesco obtenha
Para que a Cultura da Paz seja estabelecida, teremos de preparar pessoas e equipes sucesso em justificar por que a ECG
que possam atuar na comunidade, nas mais diversas áreas, a fim de educar para a paz. é importante, além de oferecer a cla-
Temos de encorajar os que desenvolvem trabalhos, estudos, obras relacionadas com
a Cultura da Paz. [...] reza conceitual e a orientação prática
necessárias para sua implementação
Disponível em: http://www.monjacoen.com.br/textos/textos-da-monja-coen/141-o-que-e-uma-cultura-de-paz.
Acessado em 29/11/2016.
efetiva.

Para ter acesso ao material, confi-


? Questões para reflexão ra em: http://unesdoc.unesco.org/
images/0023/002343/234311por.pdf
1. Um mundo melhor é também imaginar um mundo mais solidário?
2. Quais ações do dia a dia você faz para tornar o mundo melhor?
3. Na sua escola, há algum Dia de Responsabilidade Social?
4. Se você fizesse uma carta com o tema Como fazer um mundo melhor? e ela fosse
entregue à Organização das Nações Unidas, o que você escreveria? Anotações

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 65

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Manual do Educador – 8o ano 65

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4
Capítulo

Objetivos
Cuidados no trânsito

4
Pedagógicos Cuidados no

Capítulo
• Refletir sobre como o
comportamento no trânsito está
trânsito
relacionado à ética e à cidadania.
• Atentar para os cuidados que
os pedestres devem ter ao se Vamos dialogar!
locomover nas ruas.
Você já deve ter visto, em comerciais de TV, jornais,
• Salientar a importância de se Conhecimentos prévios revistas ou na Internet, campanhas publicitárias como
conhecerem as leis de trânsito, • Seus pais ou outra
as mostradas abaixo. Elas têm o objetivo de conscien-
tizar os motoristas dos perigos relacionados ao trânsito,
bem como atitudes preventivas pessoa da sua família têm
como dirigir em alta velocidade, não respeitar os outros
e corretivas nos veículos e no ato cuidado no trânsito?
motoristas, ciclistas ou pedestres e dirigir embriagado.
de dirigir. • Você conhece alguém
que sofreu algum
Observe as imagens e, a seguir, converse com seu pro-
fessor sobre a relação entre elas e o tema da unidade.
• Discutir os perigos envolvidos na acidente relacionado ao
trânsito?
relação entre álcool e direção. • O pedestre também
• Listar as vantagens do uso da tem os mesmos direitos
e deveres que os
bicicleta como transporte. motoristas no trânsito?
• No seu dia a dia, você já

Sugestão de leitura ////


se deparou com algum
acidente no trânsito?
Fé em Deus e pé na tábua:
ou como e por que o trânsito
enlouquece no Brasil
Autor: Roberto DaMatta

Esta obra faz uma análise sobre o


comportamento do brasileiro ao vo-
lante. Na tentativa de ultrapassar as
receitas que sempre remetem à edu-
cação no trânsito, o autor faz uma
análise antropológica da dinâmica do
sistema de trânsito, de como atuam
e o que pensam seus atores — pe-
destres, motoristas, caminhoneiros,
motociclistas, ciclistas.

CMeE_8A_2017_01a80.indb 66 28/12/16 20:04

Fundamentação
O homem sem o ambiente é quimé- constante exploração ambiental. A sociedade humana tornou-se evo-
rico. Nossa existência é impensável sem Mais do que um ser social, o ser humano lutivamente mais complexa em termos
ambiente, pois somos vivos graças a é um ser ambiental, ligado tão intimamen- da relação entre os diversos ambientes,
ele. Começamos no ambiente dentro te com seu meio que cinco minutos fora particularmente em defesa das necessi-
da nossa mãe. Entramos mais ou me- dele, cinco minutos sem ar, ele morre. O dades humanas, seja em busca de uma
nos traumaticamente num outro, com ambiente é tudo para nós. Funcionamos paz ecológica, seja de manutenção de
luz, formas, cores e movimento, com em um ambiente onde recebemos os estí- instintos egoístas que prejudicam a
ar para respirar, com leite para nossa mulos para nossos órgãos de sentidos, as convivência no ambiente.
nutrição. A partir de então, viver é uma imagens visuais, sonoras e táteis. [...] Muitas vezes, no trânsito, surgem

66 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 66 05/01/17 23:46


de isolamento aos quais os indivíduos
possam ser submetidos.
Quase toda a nossa educação é vol-
tada ao ensino de regras: de como falar,
de como se comportar nas diversas si-
tuações, na igreja, na festa, na empresa,
ao fazer compras em um supermercado.
A criança é educada para a cidadania,
quer dizer, para se comportar confor-
me as condições que o ambiente ofe-
rece para o exercício do seu potencial
de aprendizagem e ação. Somos cer-
cados por normas, assim como somos
cercados pelo ar. Entramos em pânico
quando essas regras são quebradas por
meios violentos. É pelo ambiente nor-
mativo, que às vezes nos sufoca, que
procuramos segurança e bem-estar. [...]
Muito antes de inventar a roda —
Grande parte dos acidentes de trânsito
acontece em áreas urbanizadas, mas mais ou menos 5.000 anos a.C. —, os
comerciantes do Oriente levavam seus
os que ocorrem nas rodovias são os
mais trágicos, devido à alta velocidade
dos veículos e à imprudência de seus
condutores.
O cuidado com o trânsito deve ser produtos no lombo de animais por
longas jornadas, para efetuar trocas
redobrado em períodos de feriados
prolongados, já que o fluxo de veículos
nas vias públicas é maior.
Lembre-se de obedecer às leis de trânsito
e seguir as normas de segurança. nas aldeias. Ao compararmos esses co-
merciantes com o automobilista, hoje,
Dirigir com responsabilidade é fazer a
escolha certa.
É escolher a vida.

que dirige seu automóvel sobre au-


toestradas, podemos ver que há três
elementos essenciais no trânsito ou no
transporte: a) o homem que dirige e
que busca alcançar um objetivo; b) algo
Sergey Nivens/Shutterstock.com

que se move e carrega, seja veículo au-


tomotivo ou animal; e c) uma via que
permite ir de um lugar para o outro.
Homem, veículo e via são os elemen-
tos essenciais, todo o resto provém do
desenvolvimento cultural e econômico.
O que o ambiente tem a ver com isso?
O homem que é transportado se serve
de um elemento do ambiente; um animal
67 ou um automóvel constitui seu ambien-
te em movimento, seu movimento mais
próximo. Mais claro, talvez, é o ambiente
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do carro, um ambiente que protege, mas
que também se movimenta, segundo as
conflitos de interesses de um grupo na não tenha regras para exercê-la. Até para condições de direção comandadas pelo
sociedade contra outro. Criam-se leis, assoar nariz ou para tossir, temos regras. próprio homem. Condições estas que
normas e regras para o respeito e para O ser humano construiu uma imensa podem facilitar ou dificultar o comporta-
a convivência. Não há sociedade huma- constelação de leis que constituem o am- mento de dirigir, pelo grau de conforto,
na que não possua formas de controle biente normativo. Vivemos num ambien- de segurança ou de eficácia.
para o comportamento social, da mes- te que solicita uma adaptação constante HOFFMANN, Maria Helena; CRUZ, Roberto Moraes;
ma forma que é possível afirmar que — exigências mais gerais ou específicas ALCHIERI, João Carlos (orgs.). Comportamento humano
não há nenhuma atividade humana, sobre como ser, a conduta individual, no trânsito. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p. 33-
com algum grau de importância, que mesmo considerando os diferentes graus 35, 37, 38. Adaptado.

Manual do Educador – 8o ano 67

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4
Capítulo

Fundamentação
Cuidados no trânsito

As relações de poder no processo Dicas de trânsito para os


escolar pedestres
Pronto para a morte, Sócrates a sau- Todos os dias, acontecem acidentes de trânsito em
dou dizendo que ela seria sua liberta- algum lugar, e muitos destes envolvem quem está an-
ção do corpo. Modificada, essa expres- dando na rua ou na calçada. Para evitar esses acidentes,
todos temos que respeitar as leis de trânsito e ficar aten-
são de Sócrates poderia endossar um
tos ao que acontece à nossa volta. Por isso, é importan-
platonismo rasteiro, que afirmaria algo te prestar bastante atenção nas dicas e nos cuidados
como “o corpo é a prisão da alma”. Os no trânsito:
cristãos preferiram não falar em prisão. • Preste muita atenção, porque existem motoristas
Douraram a pílula dizendo que “o cor- mal-educados.
po é o templo da alma”. Já em nossos • Olhe para os dois lados quando for atravessar e
espere os veículos pararem.
tempos, o nietzschiano Foucault, na
• Atravesse sempre na faixa de pedestres ou nas
contramão, nos fustiga dizendo que “a passarelas. Elas foram feitas para ajudar você.
alma é a prisão do corpo”. • Ande na calçada.
O caso todo fica claro se notarmos • Não corra ao atravessar a rua.
que, no exato momento em que se re- • Não coloque a cabeça ou os braços para fora da
quisita a presença do corpo, todas as janela do carro ou ônibus, porque isso pode pro-
ações do poder já estão se desenvol- vocar acidentes.
• Se houver policiais ou agentes municipais de trân-
vendo de modo a produzir quem deve
sito, siga as suas orientações ou peça alguma ins-
responder ao chamado — a alma. As trução se tiver dúvidas.
ações do poder se mostram: afinal, • Evite brincadeiras que possam distrair o motorista.
quem é que requisita a todos nós como • Se for dar um passeio com seu animal, cuide bem
indivíduos, ou seja, como sujeitos mo- dele. Use a coleira para que ele não ande na dire-
dernos? São as instituições as quais ção dos carros.
• Não brinque ou ande de patins, skate ou bicicleta
adentramos, exatamente para sairmos
no meio das ruas e próximo aos automóveis. Todos
delas (se sairmos) como indivíduos devem fazer essas atividades em parques, clubes,
autênticos. Foucault fala de hospitais, praças, jardins, quintais, campos ou escolas.
penitenciárias, clínicas e várias outras • Se a bola cair na rua, não corra para buscá-la.
instituições, mas ele não se esquece de Peça isso para um adulto ou olhe se está vindo
uma das principais, a escola. um carro antes de ir buscá-la.

CRM/Shutterstock.com
Quando entramos na escola, muitos Disponível em: http://www.smartkids.com.br/especiais/transito-cuidados-no-
dizem que temos alma. Mas não é tão transito.html. Adaptado. Acessado em 08/04/2014.

verdade assim. Até temos, e Foucault


lembra que, quando somos requisita-
dos, já ocorreu uma subjetivação pro-
funda. Todavia, no tempo e no âmbito
da escola, ainda somos uma alma fra- 68 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
quinha. Entramos na escola como cor-
pos. Somos levados lá à escola como
corpos. Uma vez na escola, caímos nas CMeE_8A_2017_01a80.indb 68 28/12/16 20:04

malhas de algo chamado pedagogia. nos dispõe e pela legislação inerente aos gorda para a alma. Ela foi sendo inflada
Suas regras não são diferentes das que estatutos dos estabelecimentos. Tudo isso por meio de ditos, não ditos e desdi-
nosso corpo criou. São dizeres de “sim” é pedagogia. Ganha nomes particulares tos. Mas, também, é evidente, pelas
e de “não” que nosso corpo inventa e como currículo, laboratório, recreio, ta- punições, pelos castigos e elogios, que,
foram aproveitados para compor teo- refa, prova, etc. enfim, deram-nos responsabilidade. A
rias sobre nós mesmos. Quando estamos para sair da escola, alma é moldada por isso tudo, mas seu
Uma vez tecidas sob o nome de pe- percebemo-nos mais pesados. Nosso recheio é a culpa. O processo escolar
dagogia, essas normas se apresentam corpo se desenvolveu? Sim! Mas o peso é pelo qual passamos recebe o nome,
mais pomposas e se distribuem pelos bem maior que aquele dado pelo corpo. na terminologia de Foucault estam-
sons emitidos pelos professores, pela Saímos mais pesados porque ali dentro pada em Vigiar e punir e no primeiro
maneira como a arquitetura da escola da escola ganhamos um regime de en- volume da História da sexualidade, de

68 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 68 05/01/17 23:46


Anotações
? Questão de ética

1. Você já observou ou observa pessoas descumprindo alguma(s) dessas regras? Qual(is)?


Resposta pessoal

2. Como é o trânsito no seu bairro? É tumultuado? Nele, ocorrem muitos acidentes?


Resposta pessoal

3. Como é o seu trajeto de casa para a escola? Você vai sozinho ou acompanhado? Usa algum
transporte? Quais medidas, dentre as citadas no texto, você tem que aplicar nesse trajeto?

Resposta pessoal

4. Que outra(s) dica(s) de cuidado com o trânsito você gostaria de acrescentar à lista anterior?
CRM/Shutterstock.com

Resposta pessoal

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 69

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anátomo-política do corpo. Em meio do assunto é a disciplina. Passa-se pela preenche o dia da alma na escola, pelo
ao desdobramento desse processo e grade curricular. Grade! E então se é dis- qual ela amordaça o corpo na carteira
quando da nossa entrada na vida adul- ciplinado por meio de matemática, portu- escolar e dispõe o indivíduo ao elogio
ta, integramos mais prontamente outro guês, geografia, história e tudo o mais. A ou ao dissentimento. [...] A sociedade
processo, o da biopolítica da popula- disciplina não é o aparato de punição físi- disciplinar foucaultiana é a sociedade
ção. Ambos compõem as práticas de ca ou simbólica. Isso é apêndice discipli- moderna enquanto lugar da crescente
poder que produzem a modernidade. nar. A disciplina da sociedade moderna, a suavidade da dominação.
Nasce aí, com a noção foucaultiana de sociedade disciplinar de Foucault, é a que
GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Foucault vai à escola. In:
modernidade, o que ele mesmo deno- se faz por meio do que realmente é cha-
Revista Filosofia. Outubro de 2010. São Paulo: Escala.
mina de sociedade disciplinar. mado de disciplina na escola: as ciências, Adaptado.
A matéria é o assunto, mas a prática as filosofias, as artes e tudo o mais que

Manual do Educador – 8o ano 69

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4
Capítulo

Sugestão de leitura ////


Cuidados no trânsito

Violência e morte no trânsito Para refletir


Autor: Paul Hindenburg Nobre
de V. Silva Educação no trânsito é fundamental para a preservação da vida

Este livro é um alerta não só a fa- Para que todos possam transitar com tranquilidade e segurança nas vias urbanas,
vor da segurança no trânsito, mas atualmente o Brasil conta com uma Lei Federal que regulamenta o trânsito de veículos e
também uma proposta de reforma pedestres: o Código Nacional de Trânsito. Nele, podemos encontrar normas de circulação
da vida, da educação, da política, da e conduta para que todos possam ir e vir com segurança e sem conflitos. [...]
ética, da psique coletiva. A obra nos Através da educação no trânsito dentro das escolas, poderemos formar cidadãos mais
conscientes e preparados para enfrentar a vida e o trânsito. A iniciativa tem por objetivo
apresenta, assim, uma proposta eco-
contribuir na construção de valores, como o respeito ao próximo para a proteção da vida,
política, constituída por sete reco- que é o nosso bem maior. A educação no trânsito nas escolas auxilia ainda na compreen-
mendações, que assumem o tom de são da criança em relação aos elementos e às situações vivenciadas no trânsito. [...]
um manifesto endereçado aos donos Muitos motoristas e pedestres não seguem as leis, o que pode provocar a ocorrência
do poder político e a todos os cida- de vários acidentes de trânsito. Para as pessoas se conscientizarem desse perigo, o Brasil
dãos do mundo, a fim de estimular sempre elabora campanhas para a educação no trânsito, que chamam a atenção para a
uma melhor análise da insegurança necessidade de respeitar a faixa de pedestres, usar cinto de segurança, não dirigir alcoo-
lizado, utilizar cadeirinha para crianças no carro, etc. A educação no trânsito não se limita
no trânsito e promover a mudança a
apenas a ensinar regras de circulação, mas também deve contribuir para formar cidadãos
partir de propostas mais eficazes de responsáveis, autônomos, comprometidos com a preservação da vida.
políticas públicas. No cotidiano, o cidadão assume diversos papéis em diferentes momentos: pedestre,
passageiro, condutor. Devemos agir cooperativamente em cada uma dessas situações.
Sugestão de Uma atenção a mais ou gentileza podem desarmar a irritação do outro. [...]
Abordagem Muitas vidas seriam poupadas se o causador de um acidente tivesse colocado em
prática o que todos sabem: não beber antes de dirigir, revisar o veículo periodicamente,
não ultrapassar em lugares proibidos e respeitar os limites de velocidade. Essas são
Projeto interdisciplinar Bi-Bi Fom- ações geradoras de mais segurança e melhor qualidade de vida.
-Fom: Aprender a conviver com o
trânsito Disponível em: https://icetran.org.br/blog/educacao-no-transito-preserva-vidas-e-transforma/. Acesso em
06/09/2016.

Apresentação: O projeto Bi-Bi Fom-


-Fom constitui-se numa série de ações
didático-pedagógicas contemplando a ? Questões para reflexão
educação para o trânsito e atendendo
ao Ensino Fundamental II. 1. O que é necessário para vivermos melhor no trânsito?
Aconselha-se que tais ações venham 2. Como podemos desenvolver valores no trânsito? Justifique.
3. É possível gerar gentileza no trânsito?
acontecer por ocasião da Semana Nacio-
4. No seu dia a dia, você observa alguma imprudência no trânsito?
nal do Trânsito. Apesar de nossa orien- 5. Que atitudes podemos desenvolver para melhorar o convívio entre pedes-
tação, convém lembrar que a educação tres e motoristas?
deve ser contínua, portanto, todas as
oportunidades em relação ao tema de-
70 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
vem ser priorizadas, independentemente
de épocas preestabelecidas.
Público-Alvo: Ensino Fundamental II. CMeE_8A_2017_01a80.indb 70 28/12/16 20:04

Questão-Problema: Relacionamento dania e o comportamento adequado no das entre os órgãos e entidades do Siste-
da comunidade escolar com o trânsito. trânsito. O processo deve ser contínuo e ma Nacional de Trânsito e de Educação,
No cotidiano dos alunos e de toda a emerge como uma questão educacional a da União, dos Estados, do Distrito Federal
comunidade escolar, quer seja urbana ou fim de formar adultos conscientes de seus e dos Municípios, nas respectivas áreas de
rural, existe a questão do relacionamento direitos e deveres em relação ao trânsito. atuação.
da população com o trânsito, que nem O texto do Art. 76 do Código de Trânsito Justificativa: Determinação da lei e os
sempre é equilibrado. Brasileiro (CTB) dispõe: objetivos educacionais
Várias campanhas acontecem para A educação para o trânsito será promo- Tendo como motivação a determinação
educar os condutores de veículos e pe- vida na educação infantil e nos ensinos da lei associada aos sentimentos de me-
destres, no entanto não são suficientes fundamental I e II e no ensino médio, por lhoria da qualidade de vida da comunida-
para concretizar a formação da cida- meio de planejamento e ações coordena- de escolar e, principalmente, a formação

70 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 70 05/01/17 23:46


Objetivo: Educar para o trânsito por
meio da obtenção do conhecimento
Atenção às leis do trânsito de temas relativos aos problemas que
As leis de trânsito foram formuladas para regular a locomoção e evitar os acidentes. Em ge- envolvem a relação do homem com o
ral, os acidentes acontecem porque pelo menos um dos envolvidos foi negligente. trânsito.
O condutor deve ter atitudes corretivas, as que corrigem situações diante da possibilidade
de acidente, e atitudes preventivas, para preservar sua vida e a vida de todos os que estão à Objetivos específicos:
sua volta. Os condutores precisam: • Conscientizar a comunidade escolar
sobre as regras e normas relativas ao
• Ter conhecimento das leis e normas de trânsito para saber como agir nas diversas situa- trânsito com a finalidade de preservar
ções. a integridade (física) de pedestres e
• Dirigir com atenção, estando atento a todos os elementos da via, às condições físicas e
condutores de veículos.
mentais do condutor ou pedestre, aos cuidados com a manutenção do veículo, ao tempo
de deslocamento, etc.
• Construir valores que possam ser via-
• Desenvolver habilidades para saber manusear todos os equipamentos e realizar as mano- bilizados na vida prática dos membros
bras necessárias de forma adequada. da comunidade, objetivando a melho-
• Realizar a devida manutenção no veículo. Prestar atenção à qualidade dos equipamentos ria da qualidade de vida nas vias pú-
obrigatórios, como os cintos de segurança. Também devem estar atentos a pneus gastos, blicas.
freios desregulados, lâmpadas queimadas, limpadores de para-brisa com defeito, falta de • Valorizar ações de cooperação, desen-
buzina, espelho retrovisor deficiente, amortecedores vencidos, folga na direção, suspensão
volvendo atitudes compartilhadas com
empenada, etc.
intuito de difundir o conhecimento
construído a todos aqueles que con-

Minerva Studio/Shutterstock.com
vivem direta e indiretamente com o
trânsito.
• Incentivar o educando a expressar seus
anseios e conhecimentos relativos ao
trânsito por meio de diversas áreas de
conhecimento.
Metodologia: A metodologia a ser
indicada na implementação do projeto
poderá sofrer alterações à medida que
este venha se desenvolver, ou seja, de
acordo com as necessidades de cada
segmento escolar poderá ser ajustado
diante da evolução das ações pedagógi-
cas. Entretanto, deve-se seguir uma linha
de trabalho e pensamento em relação às
ações didáticas e pedagógicas.
Todas as atividades propostas devem
ser concretizadas ao longo das aulas re-
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 71 lativas às disciplinas regulares, cada uma
servirá de base para o desenvolvimento
das atividades, por exemplo: a Língua
CMeE_8A_2017_01a80.indb 71 28/12/16 20:04
de cidadãos conscientes, o projeto propõe, Construir o conhecimento dos princípios Portuguesa trabalhará com a produção
por meio de seus objetivos pedagógicos, essenciais de segurança no trânsito com escrita das atividades; a Educação Artís-
concretizar uma relação harmoniosa entre educandos, educadores e a comunidade, tica se encarregará de atender às neces-
alunos, professores, auxiliares e direção das conscientizando-os sobre a importância de sidades da produção gráfica; a Geografia,
escolas envolvidas para assegurar a qualida- manterem a sua integridade física e a de de desenvolver os temas urbanos e am-
de de vida urbana e de ambientes por onde seus semelhantes, quando estiverem utili- bientais; a disciplina Ciências dará consis-
venham a transitar pessoas e veículos. zando as vias públicas, torna-se imprescin- tência às questões de saúde, integridade
Educar e formar cidadãos conscientes dível nos dias de hoje. física e ambiental; a Matemática apoiará
à luz de valores e crenças justas significa É dentro desses propósitos que este pro- a confecção de tabelas, gráficos e tra-
construir uma sociedade digna e ciente do jeto será desenvolvido. tamento de dados; a História fornecerá
seu papel na história da humanidade. subsídios, por meio da sua metodologia,

Manual do Educador – 8o ano 71

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 71 05/01/17 23:46


4
Capítulo
Cuidados no trânsito
de registros de documentos e evolução
de fatos ao longo do tempo; a Informá- • Evitar fadiga, sono, estresse, visão ou audição deficiente, perturbação física e estado
tica disponibilizará recursos para viabilizar alcoólico.
edição de textos, gráficos, imagens e pes- • Em relação às condições mentais do condutor, é preciso evitar: preocupações, abor-
quisa; enfim todas as disciplinas estarão recimentos e temperamento agressivo, já que são causas constantes de acidentes de
integradas no sentido de construir conhe- trânsito.

cimentos relativos ao trânsito.


Algumas condições adversas podem prejudicar o motorista:
A abordagem pedagógica a ser reco-
mendada é a linha construtivista, por ser • A ausência de luz pode provocar penumbra; e o excesso desta, ofuscamento, prejudi-
esta a que oportuniza maior participa- cando a capacidade do condutor de enxergar as placas, outros veículos e a sinalização.
ção ativa do educando no processo da • A chuva, o vento e a neblina também tornam mais difícil a visualização da via, exigindo uma
atenção redobrada.
obtenção do conhecimento, mantendo
• Estradas malconservadas, com buracos, desníveis, trechos escorregadios (devido a óleo
uma relação de troca com seu educador ou poças de água) ou em obras, além do excesso de vegetação, são alguns dos fatores
e demais companheiros de turma. Po- que aumentam o risco de acidentes.
derá, assim, construir conceitos novos e • Um trânsito muito intenso e com condutores e pedestres que não respeitam as normas
relacioná-los com conceitos já construí- estabelecidas pode aumentar o estresse de quem está nele, afetando o comportamento
dos, aplicando-os a novas situações. No das pessoas, que, algumas vezes, partem para a violência.
caso da educação para o trânsito, esses
Diminuindo as condições adversas, é possível minimizar os riscos de acidentes e, assim,
princípios são fundamentais, porque vão
diminuir a quantidade de vítimas de acidentes de trânsito, que, em alguns casos, ficam com
ao encontro dos objetivos propostos. sequelas físicas e psicológicas e, em outros, chegam a falecer.
Eventos paralelos devem ocorrer na es-
cola por ocasião de uma culminância, en-

monotoomono/Shutterstock.com
tre eles: visita de autoridade do trânsito,
podendo ser um guarda de rua, na qual
os educandos poderão fazer perguntas
relativas ao tema do projeto; exposição
dos trabalhos do segmento da Educa-
ção Infantil; palestras ou depoimentos
de profissionais ligados à condução de
veículos em vias públicas, confecção de
um mural com as principais placas de
trânsito trabalhadas e difusão dos folhe-
tos elaborados pelos educandos do 1º
ciclo do Ensino Fundamental; exposição
e apresentação do boletim de ocorrência
e do Código realizadas pelos educandos
do 2º ciclo do Ensino Fundamental.
Cronograma: Duas opções
Para que o projeto possa se desenvol- 72 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
ver de forma satisfatória, serão necessá-
rias pelo menos duas semanas, sendo
que a culminância do projeto deve acon- CMeE_8A_2017_01a80.indb 72 28/12/16 20:04

tecer por ocasião da Semana Nacional específicos. fica e textual (papel, papel para impres-
do Trânsito (18 a 25 de setembro). Observação: Nessa opção, o tema trân- são, papel-cartão, cartolina, lápis de
Outra opção de cronograma seria o sito faria parte inerente dos conteúdos, cor, tinta guache, fotos do cotidiano do
desenvolvimento do projeto em que as portanto, estaria inserido no conteúdo de trânsito, cola, etc.), laboratório de Infor-
atividades seriam diluídas ao longo do cada área de conhecimento. Seja qual for mática com editores de texto e gráfico,
ano em consonância com as demais a opção escolhida pela escola, deve haver softwares, computadores, serviço de có-
áreas de conhecimento, aplicando a uma culminância por ocasião da Semana pias (xerox), biblioteca para a pesquisa,
transversalidade sugerida nos PCN, que Nacional do Trânsito. jornais e revistas para pesquisa. Caso a
contemplariam os temas relativos ao escola convide pessoas para palestras,
Recursos:
trânsito em toda oportunidade da cons- será necessário um espaço adequado.
Materiais: material para produção grá-
trução de conhecimento dos conteúdos Equipe: Educadores, auxiliares, coor-

72 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 72 05/01/17 23:46


deve ser observada como expressão
de linguagem, interpretação e comu-
? Questão de ética nicação.
• Campanha de reconhecimento e cons-
1. Para que as leis de trânsito foram feitas? cientização da sinalização de trânsito
englobando as tiras produzidas, retra-
As leis de trânsito foram feitas para regular a locomoção e prevenir os acidentes.
tando cenas do cotidiano do trânsito
e cartazes de advertência para a sina-
lização.
2. Leia o texto a seguir e responda o que se pede. • Elaboração do boletim de ocorrências
de fatos vivenciados pela comunidade
A noção de velocidade é essencial para evitar atropelamento.
escolar.
• Criação de um Código ilustrado, des-
Faça a seguinte experiência: corra e peça a um colega para mandar você parar de repente. Você
não conseguirá. Você parará alguns metros além do lugar em que recebeu a ordem. tacando as principais normas do Có-
O mesmo acontece com o motorista. Ele nunca consegue parar o veículo imediatamente. digo de Trânsito Brasileiro (CTB) para a
Observe o desenho abaixo: comunidade.
Planejamento: O planejamento do
A B C projeto deverá ser alvo de decisão da es-
cola, porque a disponibilidade de tempo
deve ser levada em conta, como também
as opções pedagógicas da escola. No
entanto, um fator é determinante: que as
atividades cruciais do projeto possam ser
contempladas na Semana Nacional do
No ponto A, o motorista viu o pedestre, mas, até retirar o pé do acelerador e colocá-lo no freio, Trânsito.
o carro chegou ao ponto B. Conteúdo: Sinalização
Essa distância percorrida pelos veículos, desde o momento em que o motorista vê o obstáculo
Sinalização Vertical
à frente até levar o pé ao freio, chama-se distância de reação.
Do ponto B ao C, o carro andou freado (distância de frenagem).
Tipos de placa: regulamentação, ad-
A distância de reação e a distância de frenagem variam de acordo com a velocidade do veículo, vertência e indicação.
habilidade do motorista, as condições da pista, etc. Sabe-se, porém, que um veículo a 60 km por O que o educando deve saber sobre
hora roda, no mínimo, 40 m desde o momento em que o motorista vê o pedestre à frente até parar essas placas:
totalmente. Placas encontradas ao lado ou suspen-
sas sobre a pista.
a. Cite três medidas preventivas que o condutor deve adotar. Mensagens representadas por símbo-
los legalmente instituídos.
Resposta pessoal
Finalidade: manter o fluxo de trânsito
em ordem e segurança, assegurando a
conduta do motorista.
Cidadania Moral e Ética I 8o ano 73 Placas de Regulamentação
Características
• São placas circulares, com exceção das
CMeE_8A_2016_CAP4.indd 73 05/01/17 23:18

denador do projeto e convidados para Deve-se lembrar, ainda, que o projeto placas: Parada Obrigatória e Dê Prefe-
palestras. demanda muitas atividades, e, se estas rência.
forem compartilhadas, o resultado será • Possuem o fundo branco com ou sem
Dinâmica das atividades pedagógi- tarja e borda vermelha.
mais eficaz e de melhor qualidade.
cas do projeto • A cor vermelha indica obrigação de
Para determinar a dinâmica do projeto, Produtos do Projeto parada, proibição e regulamentação
aconselha-se dividir as turmas em gru- • Exposição da produção gráfica, con- em geral; e a branca, regulamentação
pos ou duplas na execução das tarefas, templando o ambiente da rua, a figura e informação.
pois os grupos ou duplas obterão maior do homem dentro desse contexto e a • Os símbolos são inscritos em preto.
rendimento num processo de construção identificação dos sinais de travessia. A
Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/
de conhecimento em cooperação. exposição das representações gráficas biblioteca/cidadania/0025.html. Acesso em 12/11/2016.

Manual do Educador – 8o ano 73

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO_Cap_4.indd 73 18/01/17 08:31


4
Capítulo

Sugestão de
Abordagem
Cuidados no trânsito

Ao oferecer subsídios para que os 3. Destaque as atitudes imprudentes de condutores e pedestres nas imagens que seguem.
professores desenvolvam as atividades
sobre trânsito, insiste-se na importân-
cia da observação e da experiência de
vida dos alunos, acreditando que as
suas produções, também na simula-
ção do dia a dia do trânsito, sejam um
dos recursos mais significativos nessa
aprendizagem. Alguns exemplos de ati-
vidades que enriquecerão o desenvolvi-
mento do tema:
• Pesquisa da história da cidade: imi-
gração, formação populacional, cul-
tura, atividades comerciais, industriais
forestpath, Nebojsa Bobic, connel/Shutterstock.com

e financeiras.
• Estudo da planta da cidade: malha
urbana, vias rápidas, canaletas, ro-
tatórias, viadutos, vias paralelas, vias
preferenciais, vias de tráfego lento e
tráfego rápido, via arterial, via cole-
tora, via local, pontos referenciais e
endereços.
• Produção de faixas, textos em grupo
para serem apresentados em murais
da escola e nas reuniões de pais.
• Palestras com autoridades de trânsi-
to, para os alunos e para os seus pais. 1. Desatenção causada pelo uso do celular ao volante.
• Impressão de mensagens sobre segu-
rança de trânsito nos cadernos e nas
circulares que o colégio entrega aos 2. Ingestão de bebida alcoólica ao dirigir.
pais.
• Confecção de placas de sinalização
para serem utilizadas dentro da esco- 3. Travessia da rua fora da faixa de pedestres.
la pelos alunos, enquanto pedestres.
• Reprodução de sinais de trânsito,
com mensagens para a decoração
das salas de aula e dos corredores da
escola. 74 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
• Análise do trajeto de casa até a escola
e vice-versa para avaliação dos prin-
cipais pontos de risco. CMeE_8A_2017_01a80.indb 74 28/12/16 20:04

• Brincadeiras no pátio da escola, com dor ambulante, pedestre, animais, etc., incorretas no trânsito, bem como a
simulação de uma cidade mirim, com fazendo com que o aluno represente sinalização, as calçadas, a poluição vi-
ruas, sinalização, guardas de trânsito. diversos papéis, desenvolva empatia e sual. No retorno à escola, elaboração
• Dramatização de diferentes situações verifique que cada um deseja fluidez, de relatório e maquete que retrate a
de acidentes com carros, bicicletas, acessibilidade e segurança. condição ideal.
motocicletas, condutores de carroça, • Passeio, juntamente com um policial
Disponível em: http://www.educacaotransito.pr.gov.
do carro de mão utilizado por cole- de trânsito, em torno do quarteirão da br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=90.
tor de material reciclável ou vende- escola para levantar todas as atitudes Adaptado. Acessado em: 02/06/2014.

74 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 74 05/01/17 23:46


Diálogo com o
professor
4. Observe as imagens e explique como as condições apresentadas podem comprometer uma
boa direção. As placas de trânsito foram criadas
para contribuir na regulamentação,

Dane-mo, Nella, Olga_Phoenix /Shutterstock.com


orientação, advertência, informação e
no controle dos veículos nas vias ter-
restres, as placas estão previstas no
Código de Trânsito Brasileiro ou em
legislação complementar, as placas
estão divididas em seis classificações,
sendo elas:
• Placas de Regulamentação.
• Placas de Advertência.
• Placas de Indicação.
• Placas de Educativas.
• Placas de Serviços auxiliares.
• Placas de Sinalização.

Para conhecer as placas, acesso link: http://www.


educacao.cc/transito/placas-de-transito-no-brasil-
advertencia-indicacao-etc/

Anotações

Resposta pessoal

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 75

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Manual do Educador – 8o ano 75

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 75 05/01/17 23:46


4
Capítulo

Fundamentação
Cuidados no trânsito

Andar de bicicleta é uma decisão Álcool não combina com


política direção
Em 1992, Chris Carlsson se juntou a Pensar, como algumas pessoas pensam, que álcool

Dmitry Kalinovsky/Shutterstock.com
alguns amigos para andar de bicicle- estimula é errado. A sensação estimulante provocada
ta na Market Street, a principal rua de pelo álcool é apenas a redução da inibição. Na verdade,
com o passar de algumas poucas horas, o álcool induz
São Francisco, nos Estados Unidos. Eles
ao sono.
ocuparam a via e se tornaram o próprio Como o álcool é uma droga depressora, ele reduz a
trânsito no lugar dos carros que a ocu- capacidade mental e física da pessoa que o ingere, dimi-
pavam. nuindo a habilidade de realizar tarefas complexas, como
Com aquele ato, eles começaram o é o caso da condução de veículos.
movimento conhecido como massa Grande parte dos acidentes nas vias brasileiras ocor-
re em decorrência da embriaguez ao volante. É certo
crítica, que se espalhou para o mundo
que todo e qualquer condutor que ingeriu algum tipo de
inteiro. No Brasil, ele é conhecido prin- bebida alcoólica compromete gravemente seu estado
cipalmente como bicicletada, quando para conduzir um veículo, pondo em risco sua vida, sua
diversas pessoas tomam uma via im- segurança e a das demais pessoas, incluindo os usuá-
portante da cidade sem lideranças e rios da via. Não existem bebidas alcoólicas que não pre-
trajetos impostos, assim como Carlsson judiquem a capacidade de dirigir.
fez há 20 anos. No livro Nowtopia: ini-
ciativas que estão construindo o futuro
hoje, ele defende que o ciclismo, hortas ? Questão de ética
comunitárias e a cultura do “faça você
mesmo” contribuem para formar uma 1. Como você acha que se sentem os parentes de vítimas fatais de acidentes de trânsito?
sociedade que supere o capitalismo.
Resposta pessoal
Com uma abordagem marxista, Carlsson
acredita que essas atitudes podem aju-
dar a classe trabalhadora a se emanci-
par do trabalho assalariado e ter uma
vida melhor e mais saudável. Leia a en-
trevista abaixo.

Carta Capital: Você vê a bicicleta


como uma ferramenta anticapitalista.
Porém, ela ganhou espaço em propa- 2. Pesquise em jornais notícias de acidentes de trânsito envolvendo bebidas alcoólicas e mon-
te um cartaz com colagens das notícias e um texto seu com alertas contra esse tipo de
gandas e é um objeto de consumo. Em comportamento. Resposta pessoal
cidades como Londres, São Paulo e São
Francisco, os bancos administram as bi-
cicletas chamadas de “públicas”. Diante 76 Cidadania Moral e Ética I 8o ano
dessa absorção dela por empresas, a bi-
cicleta ainda pode ser uma ferramenta
de transformação contra o capitalismo? CMeE_8A_2016_CAP4.indd 76 18/01/17 08:28

Carlsson: Só a bicicleta não é sufi- para fazer algo diferente na cidade. acontece automaticamente. Isso neces-
ciente. A bicicleta, por si só, não é inte- A bicicleta é um meio de transporte em sita de um contexto e um pensamen-
ressante. Ela é um meio de transporte seu senso literal. Ela ajuda as pessoas a to político. A bicicleta é um objeto em
e um produto industrial. A história dela chegarem do ponto A ao ponto B, e isso que você pode despejar sentido, como
também é a história da escravidão na é uma simples realidade apolítica. Mas a você coloca um líquido em um copo. E
Amazônia e no Congo, em busca de pessoa pode decidir se vai de trem, carro, o sentido vem das nossas cabeças, das
borracha para fazer bicicletas para o ônibus, andando, pulando ou voando ao nossas decisões. Se não colocarmos o
hemisfério norte. Já a história contem- ponto B. E existe política nessa decisão. sentido político nela, ela é só um objeto
porânea da bicicleta, no século XX, é Então, o real transporte que a bicicle- chato, perfeitamente compatível com o
a da resposta à automobilização das ta pode fazer politicamente é levar você capitalismo.
cidades, e isso pode ser uma resposta para outra maneira de viver. E isso não Além disso, você pode ter uma socie-

76 Cidadania Moral e Ética

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO_Cap_4.indd 76 18/01/17 08:48


Anotações
Para refletir
O perigo dos pegas e rachas

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, disputar


corrida por espírito de competição em via pública é
infração gravíssima sujeita a aplicação de multa, sus-
pensão do direito de dirigir e apreensão do veículo.
Além disso, o condutor pode ter uma pena de deten-
ção que varia de seis meses a dois anos. Esse tipo de
competição é chamado de racha, ou pega.
Normalmente, por serem ilegais, os rachas aconte-
cem em horários com pouco tráfego: nas madrugadas
ou nos finais de semana. Por utilizarem, em geral, vias
públicas, a polícia consegue identificar onde tais deli-
tos acontecem. Também é comum denúncias anôni-
mas identificarem os locais onde ocorre essa prática.
As pessoas que assistem aos rachas também con-
tribuem para a disseminação dessa prática. Tanto nos
rachas quanto nos pegas há sempre uma plateia que,
na verdade, empolga-se quando acidentes aconte-
cem. Inclusive, há vários casos de acidentes com as
pessoas que estão assistindo aos rachas, ou pegas.

? Questões para reflexão

1. Quem corre o risco de se acidentar em rachas?


2. Você acha que essa prática reflete cuidado com o corpo ou com a vida? Por quê?
3. Se você for convidado a assistir a algum racha, ou pega, como reagirá?

Cidadania Moral e Ética I 8o ano 77

CMeE_8A_2017_01a80.indb 77 28/12/16 20:04

dade capitalista baseada em bicicletas. vida trabalhando e não têm tempo para decidir trocar o que fazem. Elas ainda
O problema é que a sociedade capita- fazer mais nada. Isso pode significar sair têm livre-arbítrio. Sempre há uma mar-
lista é baseada no crescimento, e não da periferia de São Paulo e deslocar-se 60 gem para reduzir a necessidade de di-
vai crescer tão rapidamente porque quilômetros por dia. Trabalhar 14 horas, nheiro e aumentar a relação com o bem
não estão desperdiçando tantas coisas ficar quatro no trânsito, dormir seis horas comum. Todo mundo, em qualquer si-
quanto com carros. Então, as bicicletas e começar tudo isso de novo. É uma vida tuação, pode fazê-lo se decidir isso.
são um passo atrás na lógica capitalista, muito difícil, próxima à escravidão. Nós,
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/
mas não um passo completo. que não vivemos assim, temos muita di-
sociedade/escolher-a-bicicleta-como-transporte-e-
Algumas pessoas estão tão deses- ficuldade de entender. uma-decisao-politica-8265.html. Adaptado. Acessado
peradas para manter sua sobrevivên- Porém, essas pessoas podem decidir fa- em: 30/05/2014.
cia que passam cada minuto da sua zer uma parte dessa jornada de bicicleta,

Manual do Educador – 8o ano 77

ME_CIDADANIA_E_ETICA_8ANO.indb 77 05/01/17 23:46


4
Capítulo
Cuidados no trânsito

Benefícios de andar de bicicleta


Andar de bicicleta está se tornando cada vez mais uma atividade comum entre os brasileiros.
Eleita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o transporte ecologicamente mais
sustentável do planeta, pode ser uma alternativa para ir trabalhar ou estudar ou uma atividade
benéfica para praticar nos finais de semana pelos parques, pelas ciclofaixas das cidades.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 7% dos bra-
sileiros utilizam a bicicleta como meio de transporte principal, o que contribui para a diminuição
do impacto da poluição no meio ambiente.
Atualmente, diferentes projetos procuram estimular o uso de bicicletas nas cidades do País
e incentivar essa atividade, que, além de melhorar a qualidade de vida e diminuir o estresse,
colabora para outros benefícios do corpo e da mente.
Ao pedalar, o ciclista exerce uma força sobre os pedais que auxilia no fortalecimento de gran-
des grupos musculares, como o das pernas, o das coxas e os abdominais. Também melhora
a frequência cardíaca, acelera o metabolismo, auxilia na redução do colesterol e na perda de
peso.
Pedalar não exerce impacto sobre as articulações, os músculos e tendões, facilitando a exe-
cução da atividade física em pessoas com problemas articulares, e também é considerada uma
atividade social que pode ser realizada com amigos e familiares.

Roman_Samborskyi/Shutterstock

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78 Cidadania Moral e Ética

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Cuidados ao pedalar

Antes de começar a pedalar é importante consultar um profissional da saúde para avaliar o


condicionamento e a resistência física, além de adquirir os acessórios necessários de proteção,
como, por exemplo, luvas de ciclismo, também usadas na academia para fazer musculação. Vale
lembrar que jamais deve-se praticar exercício em jejum. Portanto, quando a pessoa optar por
pedalar, seja na academia ou indo para o trabalho, é importante fazer uma refeição leve antes
de pegar a bicicleta, além de manter a hidratação com a ingestão de água ou isotônicos. Outros
detalhes precisam ser observados, caso o ciclista opte por pedalar nas ruas da cidade. Entre
eles estão:
• Utilize roupas chamativas para evitar o risco de colisões com automóveis.
• O uso de capacetes e óculos também é recomendado.
• Nunca pedale na contramão. Ande sempre à direita da pista ou, quando houver, na ciclofaixa.
• Não utilize fones para ouvir música. É preciso ter atenção no trânsito.
• Leve sempre uma garrafa com água.

Disponível em: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/beneficios-de-andar-de-bicicleta?page=2. Adaptado. Acessado em


30/04/2014.

10 razões para andar de bicicleta na cidade


Coloca-lhe um Dá-lhe a
grande sorriso no sensação de
0% de emissões rosto. voar.
de CO2.

Abranda o
aquecimento
É mais fácil
global.
e rápido que
caminhar.

É tão silencioso
Evita os
como um rato.
engarrafamentos.

Deixa de pagar gasolina, Dá-lhe pernas O planeta trata com especial


estacionamento, seguro-automóvel, de aço. carinho quem anda de
etc. bicicleta.

Fonte: http://sossolteiros.virgula.uol.com.br/10-razoes-para-andar-de-bicicleta-na-cidade/.
Acessado em 30/04/2014. Adaptado.

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Manual do Educador – 8 ano o


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4
Capítulo
Cuidados no trânsito

Para refletir
Transportes alternativos do Brasil

O já famoso Teleférico do Alemão é o primeiro


transporte de massa por cabos do Brasil. Em funcio-
namento desde julho de 2011, as gôndolas já trans-
portaram mais de 3,5 milhões de pessoas. A viagem
da primeira estação (Bonsucesso/Tim) à última (Pal-
meiras) dura 16 minutos. O Elevador Lacerda já faz
parte da vida de Salvador e é um cartão-postal da
cidade. Sua função é fazer a ligação entre as cidades
alta e baixa da capital baiana. Mas, com o passar dos
anos, esse gigante contemplador da Baía de Todos
os Santos se tornou um dos pontos turísticos mais vi-
sitados. A média de pessoas que utilizam o transpor-
te chega a 900 mil por mês. A travessia ainda oferece
aos turistas umas das vistas mais belas da capital.
A Bacia Amazônica, por natureza, já favorece o
deslocamento pelas águas dos rios Solimões, Ama-
zonas, Negro, Madeira, entre outros. As viagens são
feitas principalmente entre as cidades de Manaus
(AM), Belém (PA), Santarém (PA), Macapá (AP) e
Porto Velho (RO).

? Questões para reflexão

1. Qual é a importância dos transportes alternativos citados para a população que faz
uso deles?
2. Na região em que você mora, existe algum tipo de transporte alternativo? Qual?
Você faz uso dele?
3. Que modelos de transporte você acha que poderiam ser implantados na sua
cidade para melhorar a locomoção e preservar o meio ambiente?

80 Cidadania Moral e Ética I 8o ano

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80 Cidadania Moral e Ética

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