TCC
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TCC
NATAL/RN
2022
VÍVIAN KAREN BATISTA DA SILVA
NATAL
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Profa. Me. Mônica Maria Calixto
Orientadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
______________________________________
Profa. Drª Ilka de Lima Souza
Membro interno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
______________________________________
Drª Layana Silva Lima
Membro externo/Assistente Social
PROGRAMA BPC NA ESCOLA – SEMTAS/NATAL
Dedico este trabalho, primeiramente a Deus,
e segundo aos meus pais, Vilaneide e
Marcelo, que mesmo dentre as dificuldades
sempre se esforçaram a incentivar minha
educação. E para minha irmãzinha Emily,
por ser minha grande parceira.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho traça a trajetória histórica das pessoas com deficiência e a luta
pelo reconhecimento como cidadãos de direito, enfatizando a conquista pelo direito
à inserção em ambientes escolares dentro do território nacional. Tem como objetivo
evidenciar o processo de exclusão sócio-histórico protagonizado pelas pessoas com
deficiência no Brasil e no mundo e a relevância dessa questão nos dias atuais para
a garantia dos diretos à educação de qualidade. Ademais, o trabalho tem como
fundamentos teórico-metodológicos a razão crítica dialética de Marx, escolhido por
propor uma análise histórica e processual do objeto, permitindo uma visão
totalizante da realidade. O estudo alicerçou-se na pesquisa bibliográfica tendo por
base autores que abordam e problematizam acerca do percurso histórico das
pessoas com deficiência no Brasil; da história da educação inclusiva; a desigualdade
social e os impactos trabalhistas na pandemia, no que se refere a pessoa com
deficiência e sua relação com a história do mundo. Ressalta-se também a
necessidade da pesquisa documental, com base em leis, decretos e portarias,
referentes à pessoa com deficiência, educação e Serviço Social. Como resultados,
além da estruturação do processo sócio-histórico da pessoa com deficiência no
Brasil e no mundo, e a luta pelo direito a educação, foi obtido também dados
referentes ao desenvolvimento do Programa BPC na Escola no município de
Natal/RN.
The present study traces the path of the people with disabilities and their struggles
for acknowledgement of their rights as citizens, emphasizing the achievement of the
right to insertion in school environments in the national territory. Aims to highlight the
socio-historical exclusion process featured by people with disabilities in Brazil and
around the world and this question relevancy nowadays for ensuring the right to
quality education. In addition, this study has as its theorical and methodological
foundation the Marx´s dialectical, chosen by his propositure of an historical and
processual analysis of the object, allowing a reality totalizing vision. The study is
founded in a bibliographic research embased in authors that approach and
problematizes about the disabled peoples historical journey in Brazil; by the
education inclusival history, the social inequality and the pandemy labor impacts, in
relation to the disabled people and his relation with the world´s history. It is standed
out, also, the necessity of documental research, embased in laws, decrees and
orders referred to disabled people, education and social service. As results, in
addition to structuring world´s and brazilian´s disabled people socio-historical
process, and the fight for the education right, was obtained datas referred to the
development of the school BPC program in the municipality of Natal/RN.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
2. QUESTÃO SOCIAL E A DEFICIÊNCIA: CONCEITOS, ORIGENS, IMPACTOS E
REFLEXOS .............................................................................................................. 21
2.1 Questão social, exclusão e atualidade: Impactos sobre a população
brasileira ................................................................................................................. 21
2.1.1 Sociabilidade capitalista e Pessoas com Deficiência: exclusão, estigmas e
preconceitos .............................................................................................................. 27
2.2 Inserção das pessoas com deficiência na educação - avanços e obstáculos
................................................................................................................................. 31
3. SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO ESCOLAR E O BPC NA ESCOLA ................. 42
3.1 Introdução do Serviço Social na Educação ................................................... 42
3.2 Desenvolvimento do Programa BPC na Escola no município de Natal/RN 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 59
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 62
14
1. INTRODUÇÃO
1
lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexo e assexuais
15
2
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13935.htm.
18
3
Para melhor compreensão, ler sobre a lei geral da acumulação capitalista em Economia Política:
Uma introdução crítica, de José Paulo Netto e Marcelo Braz.
23
(1999, p. 43) cita alguns exemplos das consequências geradas pela contradição
capital trabalho, ou seja, os reflexos da questão social.
4
O termo classe subalterna evidenciado acima, foi usado como sinônimo do termo classe
trabalhadora e proletariado, sendo referente àqueles que não possuem os meios de produção e
necessitam vender sua força de trabalho para sobreviver. Segundo a autora Ivete Simionatto (2009,
p. 42) “a categoria ‘subalterno’ e o conceito de ‘subalternidade’ têm sido utilizados,
contemporaneamente, na análise de fenômenos sociopolíticos e culturais, normalmente para
descrever as condições de vida de grupos e camadas de classe em situações de exploração ou
destituídos dos meios suficientes para uma vida digna.”
5
Para uma melhor compreensão sobre o texto, ler na integra. Pobreza e Exclusão Social: Expressões
da Questão Social no Brasil. Temporalis, ano II, nº 3, Janeiro a Junho de 2001.
24
6
A Covid-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 de alta
transmissibilidade e de distribuição global. O SARS-CoV-2 é um betacoronavírus descoberto em
amostras de lavado broncoalveolar obtidas de pacientes com pneumonia de causa desconhecida na
25
de 2020 que permanece até os dias atuais, um governo neofacista7, uma economia
instável, alta taxa de desemprego e fome. Tal cenário intensificou ainda mais o
crescimento do índice de desigualdade social.
Com isso, diversas foram e continuam sendo, as consequências da
pandemia, além do grande número de mortes que poderiam ter sido evitadas por
uma intervenção governamental e uma política prevencionista, a taxa de
desemprego e fome deixou muitos brasileiros em um estado de miséria. É
importante frisar o número de mortes por Covid-19 no Brasil e no mundo, conforme o
Repositório de dados COVID-19 pelo Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas
(CSSE) da Universidade Johns Hopkins, foram notificados desde março de 2020 até
o dia 07 de janeiro de 2022, 620 mil mortes por Covid-19 no Brasil e 5,47 milhões de
mortes no mundo até essa mesma data.
Conforme a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dirigida por
Marcelo Neri (2021), houve uma perda de menos 21,5% da renda média individual
referente a metade da população brasileira mais pobre, já a queda entre os 10%
mais ricos foi de menos 7,16%, menos de 1/3 da queda de renda dos 50% mais
pobres. Os dados revelam ainda que, a proporção de pobres em 2019, antes da
pandemia, era de 10,97%, cerca de 23,1 milhão de pessoas na pobreza. Em
setembro de 2020, durante a pandemia, a proporção da pobreza no Brasil, passa a
ser de 4,63% da população, cerca de 9,8 milhões de brasileiros, redução causada
devido o Auxílio Emergencial. No entanto, de acordo com Neri (2021, p. 10),
8
O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau
de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a
cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor
um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza.
WOLFFENBÜTTEL, Andréa. IPEA. 2004. Ano 1. Edição 4 - 1/11/2004. Disponível: em
https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id=2048:catid=28. Acesso em 22 de
novembro de 2021.
9
“entende a exclusão social como decorrente da interação entre classes sociais e o poder político
que, numa ordem coercitiva, defenderia os interesses dos grupos incluídos” (ZIONE, 2006, p. 21).
27
10
Comunidade LGBTQIA+, mulheres, pessoas negras, indígenas, quilombolas etc.
28
período que ocorre uma “superação da visão de deficiência como doença, para uma
visão de estado ou condição do sujeito”. (ALVES E PACHECO, 2007, p. 244).
Após a segunda metade do século XX, segundo Amaral (1995 apud Alves e
Pacheco, 2007), surgem novas visões no que tange a deficiência. No entanto, essas
visões tiveram algumas oscilações, sendo elas: organicistas (visando o
assistencialismo), interacionistas (visando à educação e reabilitação física da
pessoa com deficiência) e holísticas (visando reabilitação biopsicossocial que
considera o indivíduo como um todo).
De acordo com Barnes, Oliver e Barton (2002 apud Cunha, 2021), a partir da
década de 1970, houveram muitos movimentos políticos em torno desta
problemática na Inglaterra, estudiosos com deficiência física deram origem ao
movimento Disability Studies (estudos sobre deficiência), contribuindo para a
compreensão da deficiência como pauta social (coletiva, cultural e política) e não
apenas biomédica, fato este fundamental para o início da análise da questão como
opressão social. Dessa forma, o movimento Disability Studies objetivava “colocar
que não é o impedimento físico, a lesão, que impossibilita a participação social, mas
sim a estrutura social que é pouco sensível para a inserção da pessoa com
deficiência em par de igualdade”. (DINIZ, 2007 APUD CUNHA, 2021, p. 309).
Assim, podemos compreender que a exclusão social direcionada a pessoa
com deficiência, está extremamente ligada com a lógica produtiva do sistema
capitalista, por ser visto com um “corpo” inútil ao modo de produção. É indubitável
que, existem outros motivos para a exclusão social dessa parcela populacional,
principalmente relacionada ao preconceito e valores morais como citados
anteriormente. No entanto, é por compreender-se que não possuem a mesma
capacidade de produzir, que eles são excluídos da cultura, do lazer, do vínculo
empregatício e da educação.
Nesse sentido, para o teórico social Michel Foucault (1986 apud Santos,
2008, p. 507), “o padrão emergente sobre a expectativa do sujeito ideal necessário
ao modelo de produção capitalista exige um tipo de sujeito com corpo hábil às novas
atividades e práticas fabris, em que a força física se torna fundamental”. Nessa
perspectiva, Santos (2008) acrescenta que, o modelo social da deficiência defende
que a exclusão com as pessoas com deficiência, ocorre devido a incompatibilidade
entre as exigências do capitalismo no âmbito produtivo e as lesões que existem nos
30
corpos das pessoas com deficiência, pois não existe a adaptação à diversidade
corporal.
Vale ressaltar que, a tese do modelo social da deficiência, segundo Santos
(2008, p. 506), “era de que a desigualdade pela deficiência não estava apenas nas
lesões corporais, mas constituída nas várias barreiras físicas, econômicas, políticas
e sociais da vida em sociedade para os deficientes”. Com isso, a partir do progresso
no que se diz respeito às visões sobre a pessoa com deficiência - ocasionada por
inúmeros estudiosos que se debruçaram em estudar essa problemática como citado
anteriormente - houveram grandes eventos internacionais que motivaram e
impulsionaram o movimento pró-educação para as pessoas com deficiência.
De acordo com Alves e Pacheco (2007) foram elas: Liga internacional pela
inclusão, a luta europeia contra a exclusão das pessoas com deficiência, a
Conferência de Salamanca em 1994 11, a proposta integracionista dos Estados
Unidos da América (EUA), etc. Vale ressaltar mais um grande evento que ocorreu
em 1932, no qual foi eleito o presidente americano Franklyn Delano Roosevelt, um
paraplégico por poliomielite, no qual tornou-se um grande exemplo de que uma
pessoa com deficiência poderia executar perfeitamente a função que escolhesse, e
mostrou ao mundo a importância da reabilitação, reconhecimento e o potencial das
pessoas com deficiência.
Ademais, é importante frisar que, o pós guerras no século XX, ocasionou um
grande impacto social no mundo, no qual vários soldados sofreram lesões
ocasionadas pelas guerras e por isso passou-se a buscar alternativas de
reabilitações para esses indivíduos. Já no Brasil, essa questão foi pensada
anteriormente as Guerras Mundiais, visto que nas terras nacionais já ocorriam as
guerrilhas, onde muitos soldados e civis foram mortos. Devido a isso, foi criado o
Asilo dos Inválidos da Pátria, que de acordo com Figueira (2021), em 1794, o Conde
de Rezende (vice-rei), solicitou que fosse construído um prédio para o tratamento e
11
A Conferência de Salamanca de 1994, ocorreu em Salamanca na Espanha, no qual os delegados
da Conferência Mundial de Educação Especial, representando 88 governos e 25 organizações
internacionais em assembleia entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmaram o compromisso para com a
Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de educação
para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema
regular de ensino. Para maior estudo sobre a temática, a Declaração De Salamanca se encontra
disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em 22 de
novembro de 2021.
31
assistência dos soldados das Forças Armadas, no entanto de 1816 a 1841, não
houveram mais registros do que houve com o antigo Asilo dos Inválidos.
Assim, apenas em 1867, a pedido do Visconde de Tocantins, coronel da
Guarda Nacional e presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, foi
iniciada uma subscrição pública para a criação novamente do Asilo dos Inválidos da
Pátria, no qual além de tratar dos soldados lesionados na guerra, ministraria
educação aos órfãos e filhos de militares. O Asilo foi inaugurado em 29 de julho de
1868, sendo administrado pelos estatutos da “Sociedade do Asilo dos Inválidos da
Pátria”, aprovado por Decreto Imperial nº 3.904, de 3 de julho de 1867.
Após o sucesso do primeiro asilo, de acordo com Figueira (2021), o poder
Legislativo autorizou a criação de outros, sendo o segundo construído na Ilha de
Bom Jesus, na Baía de Guanabara, inaugurado em 29 de julho de 1868. É provável,
que a sociedade naquele momento - sendo devido as grandes guerras ou as
guerrilhas nacionais - tenha notado que, pessoas comuns que perderam seus
membros, tornaram-se pessoas com deficiência, e isso não as tornou menos
humanos ou menos dignas de atenção social.
Naquele momento histórico, é possível imaginar que a sociedade poderia ter
percebido pela primeira vez, que não possuir um membro não tornava aquele ser
menos humano. Assim, podemos compreender o quão importante é a análise social
de um tempo histórico e de uma sociedade, visto que ela determina os valores
morais daquele espaço e tempo.
Infelizmente, não foi a compreensão de que a pessoa com deficiência é
igualmente humana que as possibilitou ingressar no mercado de trabalho ou na
educação, e sim devido ao modo de produção capitalista perceber que as pessoas
com deficiência podiam ser incluídas no mercado de trabalho como mão de obra
barata. Nessa perspectiva, foram criados os primeiros institutos educacionais para
pessoas com deficiência em todo o mundo e uma longa jornada até a conquista
pelos seus direitos educacionais, conforme o tópico seguinte.
No final do século XIX para o século XX, é marcado pela terceira fase, em
que ocorre o desenvolvimento das escolas e classes especiais em escolas públicas,
objetivando oferecer educação as pessoas com deficiência. Na quarta e última fase,
que acontece no final do século XX, verifica-se um movimento de integração social
para as pessoas com deficiência, cuja finalidade era integra-los a ambientes
escolares, o mais próximo possível do oferecido a pessoa sem deficiência.
Miranda (2003) acrescenta que, a quarta fase, chamada de fase de
integração, baseava-se no fato de que a criança com deficiência deveria ser
educada até o seu limite de capacidade. Mendes (1995 apud Miranda 2003, p. 2)
afirma que “a defesa das possibilidades ilimitadas do indivíduo e a crença de que a
33
12
Monastério ou mosteiro é um ambiente criado para habitação e oração das freiras e monges,
normalmente construídos longe dos centros das cidades.
13
Era comum que os monges fizessem votos de silêncio, dessa forma, criavam sinais manuais para
poderem se comunicarem entre si.
34
não pode ser sequer descrita, pois foram séculos de tratamentos ofensivos e
preconceituosos, feitos não só pela sociedade em geral, mas também pelas famílias
e especialistas em medicina e educação.
Sobre a evolução da educação para as pessoas com deficiência, Miranda
(2003, p. 3) afirma que, “a Educação Especial se caracterizou por ações isoladas e o
atendimento se referiu mais às deficiências visuais, auditivas e, em menor
quantidade, às deficiências físicas. Podemos dizer que em relação à deficiência
mental houve um silêncio quase absoluto”. A autora ainda acrescenta que,
14
“Por educação inclusiva se entende o processo de inclusão dos portadores de necessidades
especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus.”
(MRECH, 1998, p. 2)
39
(IBGE) disponibilizadas pela Cable News Network (CNN) Brasil (2021), apontam que
8,4% dos brasileiros, acima dos dois anos de idade, possuem alguma deficiência, e
quase metade deste número é de idosos (49,4%). Ainda segundo a mesma
pesquisa, 3,8% da população acima de dois anos, possuem deficiência física nos
membros inferiores, enquanto que 2,7% possuem deficiência nos membros
superiores. O número que compõe as pessoas com deficiência visual, somam 3,4%
contra 1,1% das pessoas com deficiência auditiva, e por fim, 1,2% possuem alguma
deficiência intelectual.
Os dados identificados no Censo de 2010, estavam extremamente
distorcidos, pois as perguntas formuladas eram por exemplo “tem algum grau de
dificuldade em enxergar ou ouvir?”, e qualquer pessoa que dissesse “sim” pra a
resposta estava sendo considerada pessoa com deficiência, sendo no total na
época, quase 45,6 milhões de brasileiros, cerca de 23,9% da população. O número
foi identificado como absurdo para os pesquisadores e decidiram revisar os
números.
Assim, com orientações dadas pelo Grupo de Washington de Estatísticas
sobre Deficiência, vinculado à Comissão de Estatística da Organização das Nações
Unidas (ONU), as perguntas foram reformuladas, como por exemplo, ““Tem
dificuldade permanente para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de
contato?”, “Tem dificuldade permanente para ouvir, mesmo usando aparelhos
auditivos?”. A reformulação das perguntas mudou totalmente os resultados, e
conforme o novo censo, temos cerca de 17 milhões de pessoas com deficiência no
Brasil. (EQUIPE DIVERSA, 2019).
Essa população é uma minoria grande demais para ser excluída ou
esquecida, as medidas tomadas ao longo dos anos são de suma importância para o
caminho que vem sendo trilhado hoje. Apesar disso, estamos extremamente longe
do ideal, do acessível e da real inclusão social para as pessoas com deficiência. De
pessoas que eram assassinadas e excluídas, hoje mesmo com dificuldades, elas
emitem voz perante a sociedade, afirmando que estão presentes e lutando pelos
seus direitos.
Todo o percurso trilhado citado neste tópico foi longo e trágico, mas foi
possível chegar a um patamar que agora, os mesmos conseguem se identificar
como sujeitos de direitos e enfrentar batalhas pela sua inclusão. As palavras
41
15
Tais ações referentes ao controle social permaneceram até ocorrer o Movimento de
Reconceituação do Serviço Social15 entre os anos de 1964 a 1985.
44
para com as demandas familiares e sociais, bem como a defasagem das políticas
públicas em serem operacionalizadas de forma minimalista.
Atualmente, quando nos referimos ao Serviço Social no âmbito escolar,
podemos observar essa inserção apenas nas Universidades Federais (UFS),
Institutos Federais (IFES) e escolas particulares. Nas UFS e IFES, o Serviço Social
atua grandemente na assistência estudantil, incluindo a triagem de auxílios
estudantis como, auxílio creche, óculos, transporte, instrumental, alimentação etc., e
em projetos de permanência estudantil. Já nas escolas privadas, o Serviço Social
atua de maneira expressiva na seleção de alunos bolsistas, isto quando há
profissional inserido neste espaço.
Conforme Santos (2012 apud Dentz e Silva, 2015, p. 25), no que diz respeito
ao trabalho desenvolvido pelos profissionais do Serviço Social na dimensão
socioeducativa “tem se dado no sentido de fortalecer as redes de sociabilidade e de
acesso aos serviços sociais e dos processos socio‑ institucionais voltados para o
reconhecimento e aplicação dos direitos dos sujeitos sociais”. Na mesma
perspectiva, o documento “Serviço Social na educação” aponta a emergência de
compreender a educação como
realizada pelo governo federal via análise de dados do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) e o Censo escolar.
O Programa envolve as políticas de Assistência Social, Saúde, Educação e
Direitos Humanos, no entanto a assistência social e a educação são apontadas
como os coordenadores do grupo gestor. Pontua-se nas normativas a orientação do
coordenador ser um assistente social por compreender a importância desse
profissional no desenvolvimento do programa, visto que apesar do objetivo primário
seja a identificação das barreiras e conformação de diagnóstico, seu horizonte é
acessar a família do beneficiário a rede de proteção social com primazia no território.
Ademais, o Programa não só objetiva a identificação dos usuários, mas
também as barreiras que impedem que essas crianças e jovens se insiram e
permaneçam nas escolas. Contudo, não se trata apenas de gerar dados e intervir
sobre as barreiras, mas prestar assistência as famílias de forma qualificada
mobilizando as políticas Intersetoriais, sobretudo as atuantes no território de convívio
dos usuários.
Figura 1 – Capa do Caderno do Programa BPC na Escola
Agrário (MDS), uma base de dados do Governo Federal que é utilizada para
conceder benefícios e serviços de programas sociais, tais como: Programa Bolsa
Família, BPC, Tarifa Social de Energia Elétrica, entre outros. Nesse banco de dados
é registrado vários tipos de informações socioeconômicas das famílias brasileiras,
como renda, núcleo familiar, vínculos empregatícios, escolaridade, despesas
familiares, etc.
De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
referente a 2021, atualmente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, existem
cerca de “95.509 famílias inseridas no Cadastro Único; 53.136 famílias com o
cadastro atualizado nos últimos dois anos; 81.162 famílias com renda até ½ salário
mínimo; 45.993 famílias com renda até ½ salário mínimo com o cadastro atualizado”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2021, o
município de Natal possui uma população estimada de 896.708 pessoas, e o Rio
Grande do Norte possui cerca de 3.560.903 pessoas em seu estado.
No entanto, conforme o MDS (2021), Natal está a baixo da média no que se
refere a atualização cadastral. Vale ressaltar que, a Taxa de Atualização Cadastral
de Natal é de 56,67%, enquanto que a média nacional é 61,16%. Ocorre que, por
algum motivo, que não foi identificado no decorrer da pesquisa, as famílias não
estão se dirigindo aos Cadastros Únicos e aos Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS) para a atualização do cadastro, fato este que impossibilita a
renovação dos seus benefícios sociais, como o Auxílio
É importante ressaltar que, segundo Rodrigues (2020) o Programa BPC na
Escola é gerido em três esferas, são elas: federal, estadual e municipal. No que se
refere a esfera federal,
Referente ao município,
[...] o Município se encarrega de gerir e coordenar o programa, articulando-
se com o governo federal, a quem deve informar os dados levantados por
meio da aplicação do Questionário e das ações desenvolvidas; instituir uma
equipe multiprofissional (da educação, saúde, assistência social e direitos
humanos) e a equipe técnica responsável pela aplicação do Questionário,
assegurando a participação dessa em capacitação específica; conhecer as
normas do Questionário e orientar a equipe técnica para a sua aplicação,
que deve ser realizada anualmente; oferecer os serviços socioassistenciais
aos beneficiários; garantir a integralidade na atenção à saúde das pessoas
com deficiência, o atendimento educacional especializado, e a matrícula dos
beneficiários acompanhados pelo BPC na Escola na classe comum da rede
regular de ensino; e desenvolver ações complementares no âmbito do BPC
na Escola (BRASIL, 2011 APUD RODRIGUES, 2020, p. 79)
Tabela 1
Situação da inserção da dos beneficiários do BPC/PCD na escola por ano
Tabela 2
Dados da situação do Cadastro Único dos beneficiários do BPC/PCD – Natal
Beneficiários Quantitativos
Perante o exposto, mesmo com as leis que foram criadas para a inclusão da
PDC e o Programa BPC na Escola, é indubitável o quanto ainda deve ser feito para
que haja a inclusão de fato. Dentro do grupo das minorias, as pessoas com
deficiência são a maior minoria, a situação de vulnerabilidade que eles são
encontrados não é mais invisível aos olhos. As escolas devem ser urgentemente
reformadas, professores capacitados, ensino reformulado, materiais didáticos
acessíveis solicitados e sociedade transformada. A inclusão e acessibilidade não
são difíceis, é necessário apenas que o Estado se disponha das condições objetivas
para materializa-la. Sociedade inclusiva pode ser uma realidade, e não apenas uma
utopia.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E mesmo com todo o percurso de lutas pelos direitos que foi e ainda é
enfrentado, e a conquista por esses direitos, nem sempre eles são materializados.
Existe a lei regulamentada, a batalha e a cobrança, o que falta é a materialização
estatal desses direitos. Aquilo que não nos atinge, não nos cabe. Talvez essa seja a
percepção da sociedade e do Estado. No entanto, quando se há direito, há também
cobrança, e há milhões de brasileiros atingidos pela falta de acesso a esses direitos
e pela exclusão vivenciada diariamente.
Sobre o Programa BPC na Escola, ainda não houve um diagnóstico social no
município de Natal, pois não foi alcançado a meta municipal de aplicação de
questionários. É notório o quase abandono do Programa em Natal em quase 15
anos de existência do Programa no município. Apenas agora, com a nova gestão,
que está sendo retomada o desenvolvimento e planejamento do Programa. É fato
evidenciar a potencialidade do programa sobre as singularidades do segmento a que
se propõem intervir, bem como de ser colocada as condições objetivas não apenas
para o cumprimento da meta, mas para traçar ou fortificar a rede no território. É
notório que tanto a Assistência Social, quanto a Saúde, Educação e Direitos
humanos necessita ampliar seus recursos humanos para responder com qualidades
as demandas postas.
Nota-se a relevância da pesquisa, pois além de tratar de um público que é
pouco evidenciado na materialização das políticas públicas, ela traz elementos que
podem acrescentar positivamente em pesquisas futuras, e proporcionar elementos
para reflexão da categoria do Serviço Social no seu processo de intervenção.
Ademais, é apontado questões, categorias e dados que contribuem para
problemática.
Os objetivos da pesquisa foram alterados a partir das mudanças de
direcionamento que ocorreram durante a produção. No primeiro momento, seria
centralizado a inserção e o papel do Serviço Social na educação e na permanência
de crianças e adolescentes com deficiência em âmbito escolar. No entanto, devido à
escassez de bibliografias sobre esse recorte, o tema do trabalho evidenciou a
trajetória histórica da pessoa com deficiência e posteriormente a isso, o papel da
Assistência Social e outras políticas em programas de permanência da pessoa com
deficiência na escola.
61
REFERÊNCIAS
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