2020 Apostila Filosofia 8ano 2tri
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FILOSOFIA
8º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL
2º TRIMESTRE
2020
2020 – APOSTILA – 8º ANO – 2º TRIMESTRE
FILOSOFIA
CAPÍTULO 03
Vivemos e buscamos ser autores da nossa existência no mundo em que estamos. Queremos fazer as coisas,
escolher o que é melhor, ser livre para responder pelas ações. Enfim, somos diferentes das outras pessoas
porque pensamos de forma diferente. A inteligência e a razão nos diferenciam. Isso é bom, mas também exige
mais de cada um. Por isso, algumas coisas são essenciais para vivermos em comunidade. Aceitando essa
constatação, fica a pergunta: Podemos realmente escolher e fazer o que queremos?
A resposta é:
Quase sempre não podemos escolher o que acontece conosco, mas podemos escolher o que fazer a
partir do que aconteceu com nossa vida independente da nossa vontade. (Essa é uma ideia defendida
por Sartre).
Muitas vezes, somos obrigados a escolher entre duas ou mais possibilidades, embora preferíssemos não
precisar escolher, pois, feita uma escolha, deixamos outras de lado. (Essa é uma ideia defendida por
Santo Agostinho).
Não passamos a vida só pensando nas escolhas que temos ou não que fazer. Muitos dos nossos atos são
automáticos, fazem parte de regras da casa, da sociedade e das normas estipuladas para vivermos em grupo.
Agimos e escolhemos sem muito pensar, sem refletir, pois vivemos situações que passaram a ser regras e/ou
normas. Por exemplo: levantar no horário por causa das obrigações diárias, fazer a higiene pessoal, tomar café,
vir para a escola, respeitar os outros etc.
Essas ações repetidas no dia a dia podem ser entendidas como regras/normas de convivência social,
familiar. Por isso, quando fazemos escolhas a partir do que aconteceu, por exemplo, de não seguir o estipulado na
questão dos horários, invertemos nossas ações rotineiras e isso pode ou não nos fazer sentir bem. Em algumas
situações, parar para pensar a respeito de tudo o que fazemos ou não acaba por paralisar-nos e isso também não
é bom.
Vamos retornar à ideia do primeiro parágrafo. Podemos nos perguntar: por que fiz o que fiz? Por que tomei
aquela atitude e não outra? Isso nada mais é do que querer saber os motivos que levam a agir ou não agir.
O sentido da palavra motivo, aqui colocado, é a razão que há ou acredita-se que há para fazer algo. Uma das
prováveis respostas é a da existência de regras/normas. Em algumas ações, o motivo é o hábito (“sempre fiz
assim” e/ou “todos fazem dessa forma”), e muitas vezes nem pensamos o porquê. Como todos fazem, dizemos
que passou a ser um costume, como acontece na famosa experiência comportamental sobre os macacos e
as bananas.
SAIBA MAIS:
O vídeo abaixo mostra uma experiência comportamental feita com primatas em um laboratório animal. Veja o
vídeo para pensarmos na questão: “Será que muitas vezes nós não agimos como os macacos dessa história?
Será que não fazemos coisas sem refletir por que razão ou objetivo estamos fazendo?”
https://www.youtube.com/watch?v=_8zA18LkPR4
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Os costumes dão certa comodidade ao seguir uma rotina e também por não contrariarem as demais pessoas,
por conta disso não sofremos pressões ou represálias. Os costumes também implicam certa obediência a algumas
regras. Um exemplo é a moda: um tipo de roupa que você é obrigado a vestir porque é comum entre amigos, e
você não quer destoar.
Por isso, podemos entender que regras/normas e hábitos/costumesparecem ter algo em comum: vêm de fora
e não podemos nos posicionar contra por uma série de razões.
Os hábitos são a repetição de costumes, que podem tornar-se regras/normas, que, pela repetição
(muitas vezes mecânica), estranhamos quando não são realizadas.
Em princípio, queremos dizer que os termos moral e ética são usados muitas vezes de forma confusa. Como
é nosso objetivo iniciarmos uma investigação sobre ética, cabe aqui entendermos o significado etimológico
das palavras.
MORAL: vem da língua latina, mos – mores. Significa costumes ou regras que determinam a vida. Por essa
razão, dizemos que a moral indica normas e valores que orientam a vida do homem dentro de uma sociedade.
Assim, a moral busca distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o permitido do proibido, o bem do mal.
Procura determinar quais ações e atitudes devem ser adotadas diante das situações.
Quem diz quais são os deveres morais de uma pessoa? A primeira resposta parece ser o grupo social, a
sociedade e seu contexto histórico e cultural, ou mesmo a turma a qual pertence. Como cada grupo, cada cultura,
cada turma, tem ideias e pode ter interesses diferentes, percebemos a existência de várias regras morais em uma
mesma sociedade.
ÉTICA: vem da língua grega, ethos, significando modo de ser. A forma usada por uma pessoa para organizar
a vida em sociedade. É a forma como a pessoa transforma em normas/regras as práticas, os valores do grupo e
da cultura em que está vivendo.
Portanto, a ética tem a moral como base de estudo. Seu papel é o de analisar as opções feitas pelas
pessoas, avaliar os costumes. É a reflexão crítica da moral do grupo no contexto social e histórico em que ele
encontra-se. Busca questionar os fundamentos da moral e sua validade. Sendo assim, a ética preocupa-se em
analisar, na ação e na reflexão, os conflitos do dia a dia.
Há um fio muito tênue que separa a ética da moral, então, vamos estabelecer a seguinte distinção.
MORAL: são os valores ou as normas práticas que asseguram conduzir ou deveriam nortear a vida social de uma
coletividade.
ÉTICA: é a análise e a reflexão sobre o comportamento do homem na vida social de uma coletividade.
Ter a capacidade para analisar uma conduta moral requer que haja uma pessoa consciente, que conheça as
diferenças entre:
bem / mal;
certo / errado;
pode ou não pode fazer;
virtude / vício;
direitos / deveres.
A consciência ética é a capacidade de julgar o valor dos atos e das condutas e ter uma ação que está de
acordo com os valores morais. Chegamos ao ponto central do assunto, que são a consciência e a
responsabilidade, condições indispensáveis para uma vida ética.
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O que caracteriza uma vida ética? Quem pode dizer que as suas ações são moralmente corretas?
Procurando respostas, podemos dizer que uma pessoa ética, ou uma pessoa moral, tem que preencher alguns
requisitos, como os apontados a seguir.
Capacidade de reflexão e reconhecimento da existência do outro (= consciência de si e dos outros).
Capacidade para dominar-se, controlar-se e também decidir e deliberar entre alternativas (= domínio da
vontade, do desejo, dos sentimentos etc.).
Ser responsável (= assumir as consequências da ação ou não, respondendo pela escolha).
Ser livre (= conseguir autodeterminar-se, fazer suas regras de conduta).
Uma pessoa pode, diante dos comportamentos humanos e da sociedade em que vive, ter uma atitude ética
passiva ou ativa.
A atitude ética passivaé quando a pessoa deixa-se governar por impulsos, inclinações e paixões; balança
conforme o momento. Uma pessoa que se deixa levar pela boa ou má sorte, pelas opiniões alheias, pelo medo e
pela vontade dos outros, não tendo consciência, vontade, liberdade e responsabilidades.
A atitude ética ativaé a da pessoa que controla seus impulsos, suas inclinações e paixões. Uma pessoa que
questiona o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, que avalia as ações diante das regras de conduta e age
conscientemente, que é responsável, respeita os outros e é autônoma.
O que é o Bem? O que é o Mal?São perguntas feitas ao longo da história da humanidade. Perguntas que
são “problemas filosóficos”. São perguntas que ocupam o tempo e provocam a reflexão de muitos pensadores.
As respostas são muitas e alguns acham que trouxeram a solução definitiva a elas. Pensadores buscaram
responder a partir de um código de mandamentos ou princípios de conduta, como por exemplo os Dez
Mandamentos do povo hebreu ou as Máximas de Ptaotep do povo egípcio. Respostas como essas muitos
acreditam ter vindo de autoridades divinas e com força suficiente para estenderem-se a todas as pessoas de
todos os tempos e lugares, enquanto outros buscaram embasar mandamentos sociais de maneira racional,
política e humana, sem apelar para normas baseadas em conceitos e tradições religiosas, já que a ética e a moral
não têm, necessariamente e para todas as pessoas, a ver com mandamentos religiosos.
Vejamos o que alguns pensadores clássicos responderam e quais as suas teorias.
Pensadores gregos
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ARISTÓTELES: Toda ação tem um objetivo a alcançar. Sua pergunta: que é o mais alto bem? Uma resposta
sua acentuava que o alvo de tudo no mundo é a realização completa. Homem bom é aquele que vive segundo o
meio termo, que em seus atos não vai aos extremos.
EPICURO: Defende que o objetivo de toda atividade humana é o prazer, sendo a felicidade o bem supremo
para todos.
ESTOICOS: O mais alto bem do homem está em agir em harmonia com o mundo. Afirmavam que, se
vivermos como os homens bons vivem, teremos uma vida virtuosa e a felicidade certamente virá.
(O trecho acima faz parte do livro Meditações, de Marcos Aurélio, político e filósofo romano, e mostra que suas ideias são oriundas de sua
formação estoica).
A partir desses pensadores gregos, vemos que o bem e a bondade estão relacionados com a harmonia do
mundo. O mal é apenas imaginário ou uma discordância da harmonia. Isso vai mudar muito no interior do
pensamento filosófico medieval, baseado na doutrina cristã.
Pensadores cristãos
OS APOLOGISTAS: Deus cria o homem com o próprio espírito de bondade, mas o homem escolheu afastar-
se e voltar-se para o corpo. Assim, o homem, ao cometer o pecado original, vive perseguido pelo mal, está
perdido, e seu trabalho é encontrar a salvação por meio da graça divina.
SANTO AGOSTINHO: Incomodava-o o fato de Deus, todo bondade e perfeição, criar o mundo com o mal.
Afirmava que tudo no mundo é bom. O mal é relativo, é a ausência do bem, da mesma maneira que as trevas são
a ausência da luz. Agora, esse mal que encontramos foi posto por Deus para tornar o mundo bom.
ABELARDO: O bem ou o mal de um ato não está no ato em si, mas na intenção de quem o pratica. Bondade
e maldade são uma questão de consciência.
TOMÁS DE AQUINO: Deus criou o homem para um determinado fim, o bem maior é a concretização desse
fim. Dizia que a melhor maneira de atingir a bondade é abandonar os bens mundanos e procurar viver para Deus.
O mal é a privação, a falta daquilo que é bom.
(Para Tomás de Aquino, filósofo representante da Escolástica Cristã, o ser humano é essencialmente bom, mas, por ser dotado de liberdade,
escolhe agir mal por sua própria vontade)
Pensadores modernos
THOMAS HOBBES: O bem e o mal são uma questão de movimento. Quando o movimento é bem-sucedido,
gera prazer; o contrário resulta em dor. O bem e o mal são relativos a determinado homem, dependem da
natureza de cada um e na ocasião.
DESCARTES: Deus é perfeito, e, por isso, incapaz de nos fazer errar. O erro não está no ato de Deus, porém
em nós, pois tomamos decisões e agimos sem provas suficientes.
SPINOZA: O erro é falta de conhecimento, e daí vem a dor. O bem é o esforço individual de preservar-se.
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JOHN LOCKE: Como as ideias que vêm de fora e são escritas em uma folha branca de papel, assim se
produz nossa ideia do que seja o bem e o mal. Por isso, muitas pessoas passam por experiências iguais e
chegam às mesmas conclusões, concordam que certas coisas são boas e outras, más.
KANT: Acreditava ser seu imperativo categórico “age somente de acordo com uma máxima que possas, ao
mesmo tempo, querer que se converta em uma lei geral; age de modo a poderes desejar que todo o mundo siga o
princípio do seu ato”, um critério seguro sobre o que constitui o bem e o mal.
Pensamentos dos filósofos mais recentes acerca do bem e do mal têm em conta as relações sociais do
homem. Por esse motivo, vemos uma ética mais do grupo humano do que das leis divinas. Vemos, então, a
questão da bondade e da maldade tornar-se qualidade dos atos, dependendo da situação em que são praticados.
A Escola Utilitarista: Os pensadores desta corrente afirmam que o bem é medido em termos de “o maior
bem para o maior número possível”. O grupo social é o objetivo final da moralidade.
A Escola Pragmática: Os pensadores desta corrente definem o bem como aquilo que atende aos objetivos
do grupo e do indivíduo nesse grupo. Ato bom é aquele que considera o indivíduo como fim em si mesmo e não
como meio.
Ouse pensar!
O dilema do trem
A situação é a complicada: um trem avança sem freios e está prestes a atropelar cinco pessoas que estão
sobre a linha férrea. Você está ao lado da estrada, em frente a uma alavanca que, caso seja puxada, consegue
desviar o trajeto da composição. No entanto, se você acionar o equipamento, o trem vai atropelar outra pessoa na
linha ao lado.
Você tem dez segundos para tomar uma decisão. Se não fizer nada, cinco pessoas morrem. Se você puxar a
alavanca, elas serão salvas, mas, como consequência, outra pessoa vai morrer. O que fazer? É possível uma
única resposta para essa questão, ou cada pessoa escolherá baseado em suas visões de mundo, suas crenças
ou no calor do momento? Segundo o pensamento utilitarista, qual escolha deveria ser tomada? Segundo o
pensamento pragmático, o que fazer?
Podemos dizer que, nas questões éticas relacionadas ao bem e ao mal, ao longo da história da humanidade,
percorreram-se dois caminhos: um absoluto e outro relativo. Ambos os caminhos precisam ser redescobertos,
porém o ponto de vista relativo é o mais acentuado. Hoje, quando a ciência e a razão humana têm certo destaque,
torna-se difícil encontrar argumentos para a defesa de uma ética absoluta e universal sobre o bem e o mal. A
tendência é termos colocações relativas sobre essas questões éticas, o que, exatamente por isso, nos convoca a
pensá-las e analisá-las constantemente em nossos atos e escolhas.
A palavra responsabilidadederiva da palavra resposta. Assim, dar uma resposta a um fato, a uma situação,
é dar o consentimento, o aceite, a palavra; e somos responsáveis por tal situação.
A definição filosófica do termo responsabilidade remete à possibilidade de prever os efeitos do próprio
comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão. Na verdade, a noção de responsabilidade baseia-se na
de escolha, e a noção de escolha é essencial ao conceito de liberdade limitada.
Ao escolher algo, deixo imediatamente outra possibilidade de lado. Isso implica em consequências,
resultados. Uma vez a escolha feita, pela ação dela, tenho responsabilidades. Também tenho responsabilidade
sobre as consequências de minha ação. Liberdade e responsabilidade estão sempre juntas. Detectar o progresso
moral é ter como índice a responsabilidade moral das pessoas ou dos grupos sociais. Porém, falar de
responsabilidade moralé relacionar as ações com a necessidade e liberdade humanas. A pessoa pode ser
cobrada pelos seus atos quando tem certa liberdade de opção e decisão.
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Nesse sentido, só posso julgar uma ação, um ato, como responsável ou não, ao examinar as condições
concretas em que se realiza. Somente assim é possível perceber se existe a possibilidade de opção, de decisão,
de escolha (= liberdade), para cobrar uma responsabilidade moral.
Bem como vimos acerca das noções históricas e filosóficas sobre o que é o bem e o mal, diversos
pensadores de épocas diferentes tentaram estabelecer um ideal ético que poderia servir de modelo e parâmetro a
toda a sociedade.
Em Platão e Aristóteles: O ideal ético estava na busca teórica e prática do Bem, que poderia ser conseguida
pela realidade do mundo ou na felicidade, entendida como uma vida bem organizada, virtuosa.
Para os estóicos: O ideal ético era viver de acordo com a natureza, em harmonia com o universo.
Para os epicuristas: O ideal ético era o prazer: “tudo o que dá prazer é bom”.
No cristianismo: o ideal ético passava a ser o de uma vida espiritual, isto é, uma vida de amor e
fraternidade, em que o homem viveria para conhecer, amar e servir a Deus.
No Renascimento e Iluminismo (entre os Séculos XV e XVIII): Com o crescimento da burguesia, o ideal
ético era viver de acordo com a própria liberdade pessoal e, em termos sociais, com o lema da Revolução
Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Para Kant (grande pensador do Iluminismo): O ideal ético era a autonomia individual, pois o homem
racional, autônomo, é aquele que age segundo a razão e a liberdade, buscando agir sempre como se sua ação
pudesse servir de exemplo para a humanidade (o que ele chama de “imperativo categórico”).
No Século XX: os pensadores existencialistas insistiram na questão da liberdade como ideal ético. Os
pensadores sociais e dialéticos tinham como ideal ético a busca por uma vida social mais justa. Vemos, então, a
ética voltar-se para as relações sociais, procurando construir um mundo mais humano.
Quando buscamos o ideal ético do momento no qual vivemos, na realidade em que estamos, podemos
observar o quê? Uma massificação das ações por um comportamento amoral. Como este se dá? Pelos meios de
comunicação, interesses econômicos, interesses políticos, pelas ideologias, entre outros fatores, e isso vem
mostrar que não é fácil a existência de pessoas livres, de cidadãos conscientes, participantes e críticos. Até
parece que hoje é mais difícil o indivíduo ter autonomia, ter um ideal ético.
Viram como as noções éticas e morais mudam ao longo do tempo? É por isso que o agir ético nos convida a
pensar constantemente no mundo em que vivemos e na forma em que agimos nesse mundo. Não há uma ética ou
moral determinadas, válidas para todas as culturas existentes, como um livro de regras de como todas as pessoas
devem necessariamente agir em sociedade e entre os seus iguais.
As ideias sobre bem e mal, certo e errado estão em constante mudança, bem como o mundo muda o tempo
todo em todas as áreas possíveis. Cabe a cada um de nós a tarefa e responsabilidade de pensar por si mesmo,
ao mesmo tempo em que levamos em conta nossa cultura, nossa sociedade, nosso momento histórico e suas
demandas específicas, para que possamos estabelecer a melhor forma de agir e de avaliar nossas ações.
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ATIVIDADES
1. O capítulo fala que a ética envolve a responsabilidade. Como isso se relaciona com a ideia de Kant sobre agir
moral e imperativo categórico?
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2. Explique a função da fábula de Sócrates sobre os 3 filtros éticos. Em que situação prática podemos usar tais
filtros para analisar nossas ações?
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3. Qual a relação dos três filtros socráticos com a ideia de responsabilidade moral?
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4. Sobre as noções históricas de bem e mal, escolha 2 filósofos presentes no capítulo e explique se você
concorda ou não com suas teorias a respeito do assunto e por quê.
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CAPÍTULO 01
Imagine um professor de história expondo fatos e acontecimentos em sequência temporal, sem atrelá-los aos
processos sociais, políticos e econômicos que os motivaram. Esse professor afirma, por exemplo, que os
portugueses chegaram ao Brasil em 1500, que o território foi invadido e colonizado a partir de 1532 e, mais tarde,
tornou-se independente.
Nenhum aluno entenderia as razões dos acontecimentos e as relações entre eles. Isso porque, para
compreender a história de um país, é necessário saber como as pessoas da época estudada viviam e se
organizavam, quais eram os problemas sociais e as forças que atuavam na sociedade, que tipo de confronto de
interesses existia, que classe ou grupo estava no poder, quais setores da sociedade eram explorados ou
beneficiados etc.
Todas as informações são fundamentais para entender os acontecimentos e as causas que provocaram ou
influenciaram um movimento revolucionário, um golpe, uma eleição ou mesmo determinado ato de alguma figura
histórica importante. Estudar história é de alguma maneira estabelecer relações entre os fatos e identificar os
motivos ou as causas que levaram a determinadas ações humanas.
A razão da história
Como foi visto na unidade anterior, quando começamos o estudo sobre o pensamento iluminista, suas ideias
e pensadores, seu contexto de surgimento e sua influência na sociedade da época, para os filósofos iluministas, a
razão deveria guiar o ser humano em todos os campos de atuação possíveis, sobretudo a vida em sociedade e as
instituições coletivas. O filósofo francês Montesquieu (1689-1755) também defendia que a razão era o instrumento
fundamental para a compreensão da realidade humana ou natural.
“A lei, em geral, é a razão humana, na medida em que governa os povos da Terra, e as leis políticas e civis de
cada nação devem ser apenas os casos particulares em que se aplica essa razão humana”
(MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Nova cultural, 1973, p. 36).
Além disso, Montesquieu defendia que a história tinha uma ordem e que os eventos históricos não
aconteciam por acaso. Essa ordem não seria determinada por algum princípio metafísico ou divino, mas poderia
ser observada nas relações constantes entre os fenômenos históricos. Para entender a história, o homem deveria,
então, estudar os fatos e suas relações.
(Cena do filme Pantera Negra (2018), dirigido por Ryan Coogler. Wakanda, o país fictício onde se passa o
filme, apresenta um desenvolvimento tecnológico muito superior ao da maioria dos países africanos atualmente, o
que se explica, seguindo o raciocínio de Montesquieu, por alguns fatos históricos determinantes, como a
colonização e a escravização do povo negro).
Por exemplo, um povo não domina o outro por acaso ou pela vontade divina (como pensavam alguns autores
anteriores à Modernidade). Nessa conquista, estão envolvidos interesses de ordem social, política e, sobretudo,
econômica. É preciso estudar os fatores naturais e humanos concretos que levaram a esse acontecimento: a
situação de vida dos dois povos (o dominado e o dominante), suas instituições militares, a política desenvolvida
por seus governantes, os interesses em jogo, clima, posição geográfica etc. Peguemos como exemplo prático o
“Discurso sobre a África”, pronunciado em 18 de março de 1879, pelo escritor francês Victor Hugo.
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Nesse discurso, feito para comemorar o fim da escravidão e, ao mesmo tempo e de maneira paradoxal,
defender a dominação do continente africano, Hugo define a África como um “continente sem história” e que “se
coloca como um obstáculo ao desenvolvimento universal”. Para “salvar” o povo africano, Hugo convida os
europeus a invadirem o continente, apelando inclusive para a religião:
“Vão povos! Se apropriem dessa terra. Tomem-na-la. Tomem essa terra a Deus. Deus dá a terra aos homens.
Deus oferece a África à Europa. [...] Tomem-na-la não pelos canhões, mas pelo arado; não pela espada, mas pelo
comércio; não pela conquista, mas pela fraternidade”
(Victor Hugo. Discurso sobre a África. In: FOÉ, Nkolo. África em diálogo, África em autoquestionamento: universalismo ou provincialismo?.
Curitiba: Educar em revista, 2013, p. 4).
Ora, o discurso parece mostrar uma preocupação de Victor Hugo com o povo africano, povo que seria “salvo”
pelo aprendizado civilizatório, povo que Deus oferecia à Europa, ou seja, a colonização e dominação seria uma
vontade divina. Hoje, 140 anos depois, sabemos que não foi bem por isso que os Europeus invadiram e
colonizaram de maneira violenta e desumana o continente africano; não foi pelo arado, pela fraternidade e pelo
comércio (como citava Hugo), mas foi pela conquista, pelos canhões e pela espada que tal processo se deu, ou
seja, por interesses políticos, geográficos e econômicos.
SAIBA MAIS:
O link abaixo traz uma reportagem sobre a colonização belga no Congo, onde foram assassinados de 8 a 10
milhões de nativos a mando do rei Leopoldo II.
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/genocidio-africa-congo-belga-leopoldo-ii.phtml
(A ocupação belga no Congo foi uma das mais cruéis e desumanas que ocorreram na África. As imagens
acima mostram pessoas com as mãos decepadas pelos belgas e escravos segurando mãos arrancadas pelos
senhores. Em muitos casos, o escravo que não conseguisse alcançar uma cota diária de trabalho, perdia a mão
como punição e para servir de exemplos aos demais).
Ao observar os fatos históricos e suas relações, em outras palavras, Montesquieu defendia que os
acontecimentos eram regidos por leis históricas. Cabia ao ser humano esclarecido compreendê-las e respeitá-
las. Essas leis não eram obrigatórias, necessárias e inflexíveis como as da natureza, mas, de alguma forma,
regulavam os acontecimentos. Vale destacar que elas obedeciam às particularidades do território onde eram
aplicadas, não sendo, portanto, universais.
“Devem as leis ser relativas ao físico do país, ao clima frio, quente ou temperado; à qualidade do solo, ao seu
tamanho; ao gênero de vida dos povos, agricultores, caçadores ou pastores; devem relacionar-se com o grau de
liberdade que a constituição pode permitir; com a religião dos habitantes, sua inclinações, costumes, maneiras”
(MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Nova cultural, 1973, p. 36).
Para Montesquieu, a liberdade política não consistia em fazer tudo o que se deseja, pois, se cada um
procurasse satisfazer as próprias vontades sem se importar com o efeito que isso traria para a sociedade,
ninguém teria direito nenhum assegurado. Pelo contrário, a liberdade seria o direito de fazer tudo o que as
lei permitem.
Assim, só o respeito às leis poderia garantir que fossem cumpridos os direitos de todos os cidadãos. Mas,
segundo Montesquieu, há outro aspecto fundamental para a liberdade política. Trata-se da limitação dos poderes.
Se uma pessoa ou grupo concentrasse muito poder, a liberdade sempre estaria ameaçada.
Então, é necessário que a sociedade saiba organizar o poder. Montesquieu defendia que o poder do Estado
fosse dividido em três tipos distintos de poderes. Legislativo, Executivo e Judiciário. Assim, o Poder Legislativo
seria responsável pode elaborar as leis; o Poder Executivo seria responsável por executá-las; e o Poder Judiciário,
por julgar os cidadãos conforme os dispositivos legais criados. Cada poder teria a sua autonomia e poderia limitar
e fiscalizar o outro.
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Imagine um governante que, além do Poder Executivo, concentre nas mãos os poderes Legislativo e
Judiciário. Nesse caso, a mesma pessoa que faz as leis também as executa e julga, sem nenhuma outra instância
de poder que possa a limitar ou condenar. Se isso acontecesse, nenhuma pessoa estaria livre da injustiça de leis
absurdas e corruptas ou de julgamentos que obedecessem apenas à vontade do governante. Em uma situação
como essa, não haveria mais garantia de liberdade.
“[...] para que não se possa abusar do poder, é preciso que, por meio da disposição das coisas, o poder detenha
o poder”
(MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Paulus, 1990, p. 749, v. 2).
Nos dias atuais, as principais democracias do mundo adotam essa separação dos três poderes defendida por
Montesquieu durante a modernidade, em apenas uma das inúmeras influências da política moderna e iluminista
nas sociedades contemporâneas.
Atividades
2. A medida provisória (MP) é uma norma legislativa adotada pelo presidente da república que, pela sua
definição, deve ser editada somente em casos de relevância e urgência, permitindo ao presidente o
estabelecimento de decretos que independem da concordância ou proposição do Poder Legislativo e que têm
validade imediata. Segundo Montesquieu, os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário teriam funções
específicas, independentes e autônomas. Podemos dizer que o conceito de Medida Provisória segue
rigorosamente o pensamento de Montesquieu? Explique.
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3. Explique a frase de Montesquieu: “para que não se possa abusar do poder, é preciso que [...] o poder
detenha o poder”.
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Como outros iluministas, embora de maneira mais intensa, o francês Marie Arouet, mais conhecido como
Voltaire (1694-1778), se opôs às instituições religiosas e ao regime absolutista na França. O filósofo foi um grande
defensor da tolerância religiosa e política. Segundo Voltaire, apenas a existência de Deus era certa. Nada além
dela poderia ser afirmado com segurança a respeito do divino. Assim, todas as crenças deveriam ser toleradas.
Apesar disso, acreditava que a única forma de afastar as pessoas das superstições era adotando procedimentos
racionais. Suas ideias foram consideradas polêmicas na época, pelo caráter repressor do regime absolutista
francês, o que o fez ser preso por duas vezes, obrigando-o a exilar-se na Prússia, na Holanda e na Inglaterra.
Voltaire afirmava que os seres humanos eram fracos e incoerentes, o que os sujeitava igualmente ao erro,
independentemente da religião por eles professada. Por isso, o filósofo defendia que deveria existir tolerância
mútua entre os homens, já que todos tinham as mesmas condições de errar. A tolerância seria o remédio contra a
intransigência, que leva à discórdia, aos conflitos, às guerras e mortes cruéis.
Por isso, Voltaire pregava o convívio pacífico entre budistas, hindus, judeus, cristãos, maometanos, deístas e
pessoas com quaisquer religiões, tradições e crenças. Ele defendia a ideia de que o homem civilizado deveria
seguir o princípio universal expresso nas seguintes palavras: “Não faça aos outros o que você não gostaria que
fizessem a você”.
Voltaire se opôs a ideia de que a história humana é a realização de um projeto divino. Ele procurou retirar dos
estudos historiográficos qualquer tipo de superstição, mito, ideia sobrenatural ou dogma religioso. Para ele, esses
estudos deveriam se apoiar apenas nas ações humanas e nas relações entre os eventos.
Em Voltaire (e no pensamento iluminista como um todo), a ideia de que existe uma ordem histórica vinha
acompanhada da noção de progresso. Para ele, com o desenvolvimento da razão e da ciência ao longo do tempo,
a humanidade progrediria. As condições econômicas e de vida também iriam melhorar à medida que a ciência
avançasse, pois seriam criadas novas condições para que o ser humano conquistasse uma vida feliz. Assim, a
história humana seria um processo gradual de libertação do ser humano da ignorância em direção ao
esclarecimento e à felicidade.
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Você se lembra do pensamento de Hobbes sobre o ser humano em seu “estado de natureza”? O filósofo
defendia que, em seu estado natural, no estado e na forma de vida do ser humano antes do estabelecimento da
sociedade e de regras, leis e normas de conduta, os homens viveriam em constante guerra de todos contra
todos, sob a ameaça do próprio ser humano. Sua famosa frase afirma que, nessa situação, “o homem é o lobo do
próprio homem”, isto é, todos seriam vítimas e predadores em potencial de si mesmo, já que não haveria
nenhuma limitação ao que as pessoas pudessem fazer umas com as outras. Por isso Hobbes afirmava que era
necessário os homens se reunirem para formar uma sociedade política em que todos estivessem minimamente
protegidos. A criação da sociedade “salvaria” o homem de viver como um selvagem no estado de natureza.
(Para Hobbes, a vida humana antes da socialização/civilização era uma constante “guerra de todos contra todos”).
Rousseau discordava diametralmente da ideia de estado de natureza de Hobbes. Para o filósofo suíço, no
estado de natureza, o ser humano seria livre, respeitaria seus instintos e não carregaria consigo nada de
supérfluo, pois seria completo. Uma vez que, para Rousseau, o homem é bom por natureza, a criação de leis, na
verdade, tem outros motivos, sobretudo, a defesa da propriedade privada, como aponta o filósofo no livro Discurso
sobre a origem da desigualdade. A criação de um Estado para servir e proteger a propriedade privada e o
acúmulo da mesma seria a razão e a origem da desigualdade.
O surgimento e o desenvolvimento da sociedade é que teriam criado no ser humano sentimentos e desejos
ruins, tornando-o injusto, mau e opressor. Vivendo em sociedade, o homem encontrou oportunidade para
desenvolver vícios, como a ganância por riqueza, a vaidade, o prazer em dominar o seu semelhante, o amor-
próprio e o apego a confortos que escravizam.
Rousseau defendeu que as sociedades fossem organizadas com o objetivo de afastar os cidadãos dos vícios
que prejudicavam a vida civil. A preocupação central desse filósofo era conciliar a vida em sociedade com a
liberdade individual de cada sujeito. Como o indivíduo poderia ser livre e viver em sociedade ao mesmo tempo?
A dificuldade dessa questão está no fato de que, por vezes, a vida em sociedade e a liberdade individual parecem
prejudicar uma à outra.
Pensa na sociedade em que vivemos atualmente. Você se sente livre para agir como bem entender?
Certamente você responderá que não, pois sabe que cada um de nós deve respeitar regras e leis sociais para
conviver bem um com os outros. Isso em certa medida limita sua liberdade, mas Rousseau não pensava que o
respeito às leis fosse um prejuízo para a liberdade individual. Ao contrário, ele defendia que um pacto entre todos
os cidadãos poderia garantir que cada um gozasse de sua liberdade. Vejamos o pensamento do filósofo a respeito
da sociedade civil.
Para formar uma sociedade civil por meio de um pacto, deve haver consenso entre as pessoas. Rousseau
defendia que, diferentemente dos governos desiguais de seu tempo, era possível formar uma sociedade na qual
prevalecesse o bem comum. Assim, nesse caso, os indivíduos abririam mão de seus direitos naturais em favor de
um soberano. E quem seria esse soberano? Seria a vontade geral, isto é, não seria a vontade particular deste ou
daquele governante ou indivíduo, e sim a vontade de todos que participaram do pacto social.
Todo pactuante, ou seja, todo cidadão partícipe dessa sociedade, trocaria a frágil liberdade individual de agir
como bem entender e promoveria o bem comum, incluindo aí o bem para si mesmo. A liberdade civil, vivida em
sociedade, garantiria a proteção e o convívio justo, organizado e igualitário entre todos os cidadãos.
Para Rousseau, para formar uma sociedade que realmente promovesse e garantisse a liberdade e a
igualdade (pilares iluministas), os homens não deveriam fazer um acordo com Deus, com um rei ou com apenas
um grupo social, aos quais os indivíduos transfeririam seus direitos naturais. O acordo ou pacto realmente,
vantajoso para a sociedade seria aquele estabelecido livremente por entre todos os cidadãos, instituindo um
governo ao qual todos, sem exceção, estivessem igualmente subordinados como membros.
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Atividades
1. Escreva (H) quando o item se tratar de Hobbes, (M) quando se tratar de Montesquieu, (V) de Voltaire e (R)
de Rousseau:
( ) Foi crítico da civilização e do desenvolvimento científico.
( ) Para preservar a liberdade, é necessária a divisão dos poderes políticos.
( ) Opôs-se a ideia de que a história humana é uma realização divina.
( ) No estado de natureza o homem é o lobo do próprio homem.
( ) A criação de um Estado para servir e proteger a propriedade privada e o acúmulo da mesma seria a razão e
a origem da desigualdade.
( ) Pregava o convívio pacífico entre hindus, judeus, cristãos, maometanos e pessoas de quaisquer religiões.
2. Voltaire era um pensador otimista em relação à capacidade de as ciências e as artes colaborarem para o
progresso da humanidade. Identifique o pensador que discordou dessa ideia e explique por quê.
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3. Observe a ilustração de Ziraldo e, com base na ideia iluminista de igualdade, responda à pergunta feita pelo
Menino Maluquinho na charge.
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4. Observe a charge de Amarildo abaixo e responda: qual sério problema social é abordado pela charge e com
qual pensador do capítulo ela pode ser relacionada?
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2. Quais os fatos, para Rousseau, foram desencadeados com a fundação da sociedade civil? Você concorda?
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3. O que significa dizer que foram necessários muitos “progressos” e muitas “luzes” para que o humano
chegasse à condição descrita?
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CAPÍTULO 02
Liberdade e sociedade
Nos últimos capítulos, estudamos o movimento iluminista, alguns de seus pensadores e as noções históricas
sobre acerca da ética e da moral. Alguns dos pensadores estudados, como Rousseau e Montesquieu, tratam da
relação entre liberdade e sociedade, bem como os estudos éticos e morais estabelecem que só há um sujeito
ético quando ele tem liberdade de ação dentro de um determinado contexto social e moral. Esse tema é recorrente
na filosofia porque expressa um dos mais fortes anseios humanos: o desejo de ser livre. Mas como definir a
liberdade? Por exemplo, podemos dizer que os dois poemas abaixo trazem o mesmo “conceito” de liberdade?
Poema 1: Poema 2:
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De início, o termo liberdade pode nos trazer a ideia de que ser livre significa fazer o que quiser. Mas já vimos
com Montesquieu que, se cada um vivesse como quisesse, a vida em sociedade não seria possível, pois os atritos
entre as pessoas se multiplicariam. É só pensar em um jogo sem regras. Se cada jogador puder fazer o que bem
entender, não haverá jogo algum. Assim também se passa com a vida em sociedade. A convivência social implica
seguir regras ou obedecer a leis (escritas ou não verbais).
Por exemplo, há certas normas de conduta que são esperadas na escola para o bom andamento das aulas.
São normas de conduta que todos têm de obedecer para que o processo educacional se desenvolva da melhor
maneira possível.
Há outras normas e leis que também devem ser compartilhadas entre os membros de uma sociedade.
Imagine se não houvesse respeito pelas normas de trânsito, e parar em sinal vermelho fosse opcional. Já pensou
que tipo de tráfego teríamos?
A reflexão de John Locke sobre essa questão pode nos ajudar. Para ele a liberdade natural do ser humano
consiste em estar livre de qualquer poder superior, tendo por regra apenas a lei da natureza. Mas a liberdade em
sociedade só é possível se seus membros viverem de acordo com as leis elaboradas pelo poder criado para isso
(Poder Legislativo). Isto é, a vida social pressupõe, em algum grau, um acordo de obediência às leis entre todos
os cidadãos. Essa seria uma característica fundamental da convivência política e social (política aqui significando
seu sentido original, de membros da polis, ou “cidade”, em grego).
Há uma abordagem sobre a liberdade que ressalta a relação entre o indivíduo e a sociedade. Para os
filósofos Locke e Rousseau, a sociedade é estabelecida por uma espécie de acordo ou contrato. Esse contrato
social seria firmado entre as pessoas, que abririam mão de sua liberdade quase sem fim no estado de natureza
(ou seja, liberdade ilimitada de fazer o que quiser de acordo com sua força e astúcia), em troca da segurança
estabelecida pela vida com outros em uma sociedade.
Como na natureza a vida está constantemente em risco, vide a vida dos animais selvagens, os indivíduos se
reuniriam em uma sociedade política e criariam regras de convivência. De acordo com esse entendimento, a
sociedade organizada não se contrapõe a liberdade individual. Ela a atenua para garantir direitos que de outra
forma estariam ameaçados.
Condenados à liberdade
O filósofo francês Jean-Paul Sartre contribuiu muito para essa discussão. Ele afirmou o que parece ser uma
contradição: nós, seres humanos, somos condenados à liberdade? O que isso quer dizer? Como é possível estar
condenado e ser livre ao mesmo tempo?
Compare o ser humano com outros animais. Os demais agem segundo os instintos, reproduzindo padrões
naturais de comportamento. Não pensam sobre como agir nem refletem se suas ações são boas ou más, corretas
ou incorretas.
Quando Sartre afirma que estamos condenados à liberdade, está chamando atenção para uma característica
humana única e central: somos seres que decidimos sobre nossas ações, isto é, pensamos antes de agir. Temos
instintos, buscamos satisfazê-los mas nossas ações não são determinadas de maneira absoluta por eles, como
ocorre com os animais. Somos livres para decidir o que fazer diante das circunstâncias em que vivemos.
A liberdade, então, seria uma característica central da existência humana. Somos obrigados a decidir. Até
mesmo quando não decidimos ou evitamos uma decisão, trata-se de uma escolha. Ou seja, somos obrigados a
sermos livres o tempo todo e somos responsáveis por cada coisa que fazemos.
Outros pensadores investigaram a influência controladora das instituições sociais e do Estado na vida
pessoal dos indivíduos. Para os filósofos Michel Foucault e Gilles Deleuze, temos apenas uma sensação de
liberdade, mas que, na verdade, é enganadora.
Para Foucault, o Estado e instituições sociais como a Escola, os hospitais psiquiátricos e as prisões,
cumpririam um papel de disciplinamento das pessoas, criando formas de explorar numerosas e diversas técnicas
para subjugar os corpos e controlar a população, limitando a liberdade social das pessoas, mesmo que de
maneiras legais. Tais instituições buscariam criar cidadãos que aceitem os padrões sociais estabelecidos direta e
indiretamente por uma sociedade de controle. Somos “docilizados” ou “disciplinados” à medida que passamos a
aceitar, sem qualquer questionamento, o que é “normal”, o que é “aceito pela maioria”. A isso Foucault chamou de
Biopoder, um controle e um poder exercidos sobre a vida das pessoas.
Já Deleuze aprofundou o conceito de sociedade de controle. Para ele, os modelos de funcionamento de tais
instituições de controle (escola, igreja, prisão, hospitais psiquiátricos) já não serve mais e estão sendo
ultrapassados ou substituídos por novas formas de poder e controle. Na sociedade atual, o controle é aberto e
geral: o ensino a distância mostra que você não precisa estar confinado em uma escola para ser “controlado” pela
educação; muitas empresas flexibilizam os horários e o local de trabalho e, mesmo de casa, o funcionário está
“sob controle” do trabalho; os hospitais psiquiátricos já não recebem tantos internos quanto no século passado,
mas a venda de remédios para transtornos do tipo serve para “controlar” essas pessoas em qualquer lugar e
horário, mesmo fora do hospital.
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Esses seriam, para Deleuze, exemplos de que as instituições disciplinares estão mudando. O que pra muitos
traria uma sensação de liberdade, para Deleuze só indica que o controle social é cada vez mais intenso, apesar
de diferente. Como isso acontece?
(Mark Zuckerberg, um dos criadores do Facebook, testemunha no Senado norte-americano em 2018. Ele
admitiu que o Facebook vazou os dados de 87 milhões de usuários, que foram usados com fins eleitorais).
Os serviços que substituem os antigos modelos disciplinares se baseiam no controle de informações. Isso é
percebido nos serviços via internet. Se você quer comprar alguma coisa pela internet, tem de passar um conjunto
de informações pessoais para o site; se quer baixar um aplicativo no celular, tem de permitir o acesso à
informações pessoais das suas redes sociais. Essas informações são valiosas para a publicidade e, por isso, são
formados bancos de dados com elas, para posterior comercialização.
Há um mapeamento crescente do comportamento de todos. O uso do celular conectado à internet não é só
um instrumento de comunicação e entretenimento, mas também de controle. Por meio do GPS, pode-se saber
onde alguém esteve ou está, ou até mesmo o que ela estava fazendo. As fotos tiradas pelo celular
instantaneamente compõem o mundo virtual. Tudo é mapeado: os sites que você mais acessa, sua formação, seu
posicionamento político, seu gosto musical, as viagens que realiza e eventos que participa etc.
Ouse pensar!
O filme Snowden: herói ou traidor, produção de 2016 dirigida por Oliver Stone (classificação indicativa: 12
anos), conta a história real do ex-funcionário da Agência de Segurança dos Estados Unidos, Edward Snowden,
que torna-se inimigo número um dos EUA ao divulgar uma série de documentos sigilosos que comprovam atos de
espionagem ilegais praticados pelo governo norte-americano contra cidadãos comuns e lideranças internacionais.
O filme nos leva a pensar: até que ponto estamos seguros ao usar a internet?
Então, e a liberdade?
A liberdade não é algo absoluto nem definitivo. Muda no tempo e no espaço. Está relacionada a forma como
a sociedade se organiza e à mentalidade da época. A liberdade tem de ser exercida diariamente contra os
poderes que a limitam ou que buscam anulá-la.
Se vivemos em uma sociedade hipertecnológica, temos de aprender a exercer a liberdade nesse contexto.
Assim, o melhor exercício de liberdade em relação às novas tecnologias depende do reconhecimento dos
mecanismos de controle criados na internet e do uso atento e crítico das ferramentas como as redes sociais, por
meio do qual fornecemos inúmeros dados de nós mesmos.
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Atividades
1. Explique a relação estabelecida entre liberdade e sociedade pelo contratualismo de Rousseau e Locke.
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2. Explique por que, para Sartre, somos ao mesmo tempo condenados e livres.
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JARDIM DA PENHA
(27) 3025 9150
JARDIM CAMBURI
(27) 3317 4832
PRAIA DO CANTO
(27) 3062 4967
VILA VELHA
(27) 3325 1001
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