Sinful Serenade 1 - Sing Your Heart Out (PAPA LIVROS)

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lei 9.610/1998.
A Série
Sinful Serenade Novel
Sinopse
Boas garotas não namoram astros do rock.
Elas certamente não têm astros do rock como amigos.
Ainda virgem aos 21 anos, Meg Smart segue um caminho bom. Ela
frequenta as aulas, se destaca no emprego de meio período e evita
problemas: sem bebidas, sem drogas e, principalmente, sem namorados.
O astro do rock Miles Webb não "namora". Ele ignora a intimidade
e o amor em favor da distração fácil: uma mulher bonita debaixo dele,
gritando seu nome.
Meg é atraída pela dor em sua voz linda e torturada. Mas o homem
que ela ouve no rádio não se parece em nada com o jogador que ela
conhece na festa de um amigo em comum. Quando ela entra em um de
seus encontros, ela fica envergonhada o suficiente para morrer. Sua
provocação impiedosa a deixa corada e frustrada, mas ela está intrigada
com o humor, a confiança dele, a oferta casual de lhe dar uma noite que
ela nunca esquecerá.
Nenhum deles quer um relacionamento, então eles fazem um
acordo: serão amigos com benefícios, nada mais, nada menos. Existem
apenas três regras: sem segredos, sem sentimentos, sem se apaixonar.
Mas nenhum deles consegue cumprir os termos.

* Sing Your Heart Out é um novo romance adulto completo e


independente. *
Sinful Serenade, uma nova série de romance adulto, segue os homens da
banda de rock Sinful Serenade e as mulheres que eles amam.
Cada livro pode ser lido como um autônomo.
Capítulo 1

Entre a música eletrônica vibrante, e a pista de dança cheia de


gente bonita se esfregando, é difícil de se mover. É mais difícil ainda
pensar.
Preciso fazer xixi. Agora. Esperar na fila dobrando a esquina, não
é uma opção.
Como pode ter apenas um banheiro no térreo? Cem pessoas e um
banheiro equivalem a muitas bexigas torturadas.
Kara deve saber onde fica o banheiro. Onde quer que ela esteja.
Empurro através da multidão, mas não há sinal da minha melhor
amiga. Alguém esbarra em mim, seu quadril pressiona firmemente contra
a minha pélvis.
Droga, minha bexiga vai explodir nesse ritmo.
Que se dane o andar de cima esta fora dos limites. Não é um
templo. É uma mansão em Hollywood de uma banda em ascensão. Não
vou fazer xixi nas calças, respeitando a santidade dos quartos dos astros
de rock.
Tem um casal se beijando na escada curva. Passo por eles, e vou
para o segundo andar. O barulho da música e da conversa diminuem a
um murmúrio. Fico tentada a ficar aqui até Kara estar pronta para ir
para casa.
Festas não são meu estilo. Até minha bexiga as odeia.
Percorro as paredes, tentando descobrir qual das cinco portas está
ligada à menor sala. Ali. Segunda à esquerda. Deve ser.
Giro a maçaneta e empurro a porta. Não é um banheiro.
Definitivamente não é um banheiro.
Têm duas pessoas sobre uma cama. A mulher está de quatro. O
homem está ajoelhado atrás dela.
Eles estão nus. Eles estão transando.
De repente deixam de estar. O gemido para. Os corpos deixam de
bater juntos. O homem olha para mim. Não há sinal de vergonha ou
constrangimento no seu rosto. Ele não se importa.
A mulher grita. Ela sai da cama, puxando um lençol sobre o peito.
—Miles, seu filho da puta. Eu te disse que não faço sexo a três!
Miles. Há algo familiar nele. Tento lembrar, mas minhas
habilidades de pensamento estão de volta a zero.
Ele é alto, ombros e peito largos, abdômen esculpido, e abaixo do
umbigo...
Ele está duro.
Ele está duro e é enorme.
Exceto pelo preservativo, ele está completamente e totalmente nu.
Um rubor se espalha pelas minhas bochechas. Eu gaguejo,
tentando e falhando em falar. Nunca vi isso antes. Não pessoalmente.
Nos filmes, com certeza. Livros didáticos, é claro.
Mas nunca pessoalmente. E não consigo desviar o olhar.
O cara, Miles, faz contato visual. A voz dele está equilibrada.
Calma. —Você se importa?
Dou um passo para trás. Meu pé afunda no tapete felpudo. Mal
consigo manter o equilíbrio. —Me desculpe. Pensei que este era o
banheiro.
—Ao lado, à esquerda.
Sei que estou vermelha. Vermelho beterraba. —Obrigada.
Fecho a porta, e fico sozinha no corredor. Ao lado, à esquerda.
Entro no banheiro, tranco a porta e morro de vergonha.

São necessários vinte minutos para que minhas bochechas


retornem para a cor normal. Volto para a sala principal, e faço o possível
para me misturar entre os foliões.
Cada centímetro do piso de madeira está cheio de pessoas bonitas
conversando, flertando ou se beijando.
É como se os promissores modelos, atores e músicos fossem
atraídos um pelo outro. Eles têm um certo brilho que os meros mortais
não têm. Eis que pensei, que essa era o tipo de festa universitária com
um barril e vodca barata.
O amigo da Kara nos convidou. Ele está em uma banda. Eles são
realmente tão populares? Não me lembro do nome deles, mas então, é
difícil pensar em nada além do Miles nu na cama, duro e pronto para a
ação.
As linhas dos seus quadris e torso estão queimando no meu
cérebro. E ele…
Droga, não vou por aí.
Encontro a coisa mais próxima de um canto vazio, e tento limpar a
cabeça. Não consigo. Minha mente continua voltando àquela imagem
mental vívida.
Miles. Ele estava imperturbável, como se o sexo não significasse
nada para ele. Como se a garota na sua cama não significasse nada para
ele.
O cara é um jogador. Ele não é o tipo de cara que preciso na minha
vida. Ele não merece meus pensamentos.
Isso acaba. Agora.
Examino a sala em busca de uma maneira melhor de me manter
ocupada.
Não adianta. Ele está aqui. Miles ainda está tranquilo e distante.
Ele ainda não parece afetado.
O cara já se afastou da loira no quarto. Ele está flertando com uma
ruiva num vestido de grife e sapatos de salto alto.
Ela é uma modelo linda, com cabelos e maquiagem perfeitos. Estou
aqui de saia e blusa H&M, meu cabelo castanho é a bagunça habitual e
crespa, meu delineador preto fazendo pouco para melhorar meus olhos
castanhos comum. Delineador, rímel e corretivo sob os olhos são a
extensão do meu conhecimento sobre maquiagem. E acho que sou a
única mulher aqui que não fez o contorno do rosto. Inferno, sei que sou
a única usando sapatilha.
Não pertenço a este lugar.
Não faz sentido que o Miles esteja olhando para mim, em vez da
ruiva bonita.
Mas ele está. Seus claros olhos azuis estão fixos nos meus. Eles
são lindos. Não consegui vê-los no escuro, mas aqui fora, eles estão
praticamente brilhando.
O calor se espalha pelo meu peito. Eu estou olhando. Ele sorri, se
deleitando com a minha atenção.
Fecho meus olhos, para moderar meu rubor fora de controle. Isso
não ajuda. Minha cabeça se enche daquela bela imagem dele em nada
além da camisinha.
Por que deixei Kara me convencer a vir para esta festa?
Ando através da multidão, tentando ficar o mais longe possível do
olhar de Miles. Uma dúzia de degraus e, estou de pé na cozinha limpa e
moderna. Está escura e quase vazia.
—Você não gosta muito de respeitar a privacidade das pessoas, né?
— É a mesma voz que ouvi lá em cima. Miles.
Poderia jurar que já ouvi essa voz antes. Muito mesmo.
Me viro, então estamos frente a frente. Por que Miles parece tão
familiar? Eu não vou a festas. Inferno, tenho andado desaparecida nos
últimos meses.
E não esqueceria seu maxilar forte, seu cabelo castanho bagunçado
ou seus lindos olhos azuis.
Aqueles olhos estão fixos em mim. Ele está me olhando, me
analisando.
E não gosto da análise. Claro, estou me escondendo. Mas não vou
admitir isso para ele.
Limpo minha garganta. —Não sou muito fã de álcool. E não consigo
encontrar outra coisa para beber.
Ele passa por mim. Sua mão roça no meu ombro, enquanto ele abre
a geladeira. Ele acena para uma fileira de garrafas de água na prateleira
do meio. —Fique à vontade.
—Obrigada.
Miles parece tão familiar. E sua voz também é familiar. Quase como
ele ...
Não. Isso é impossível.
Não tem como esse cara ser o cantor da banda de rock alternativo
Sinful Serenade, o cara que canta In Pieces, o cara que assombra meus
pensamentos nos últimos três meses com sua voz ofegante e torturada.
Com toda a dor nos seus olhos penetrantes.
Tento me lembrar do videoclipe da música, mas meu maldito
cérebro volta à imagem de Miles nu na cama.
Porra. Assisti esse vídeo mil vezes. Foi um enorme sucesso. A
música atingiu o top 40 por uma semana ou duas, uma raridade para o
rock alternativo nos dias de hoje.
Mais importante, o vídeo e a música foram direto para minha alma.
O cantor sussurrava no meu ouvido. Ele prometeu que eu não estava
sozinha. Ele prometeu que eu não era a única pessoa que já se sentiu
assim.
O entendi e ele me entendeu. Nós éramos as únicas duas pessoas
no mundo, que sabiam o quanto isso doía, perder tudo o que importava.
O homem que canta In Pieces é uma alma torturada. Ele não fode
uma mulher, toma banho, e passa a flertar com a próxima.
Kara continua fingindo que seu amigo é famoso. Ele mora aqui. Eu
sei disso.
Esse tal de Miles parece morar aqui. Porra.
Por que Kara não me avisou que seu amigo estava naquela banda?
Miles limpa a garganta. —Você está bem?
Aceno com a cabeça um sim, e tento manter seu olhar. —Não
interrompo sexo casual com muita frequência.
—Mhmm.
—Estava procurando o banheiro.
Ele ri. —Isso é o melhor que você pode fazer?
—É a verdade. — Dou um passo para trás. —Com licença. Tenho
de ir.
Sua voz cai uma oitava. —Você não vai deixar eu me apresentar
formalmente?
—Está bem. — Meu estômago palpita. —Sou Meg Smart.
—Miles Webb—. Ele pega minha mão com um forte aperto. Seus
olhos passam por mim como se ele estivesse tentando me investigar. —
Como é que não nos conhecemos antes?
—Não vou a festas.
—Acho que isso faz deste meu dia de sorte. — Sua mão roça no
meu pulso. Então, está de volta ao seu lado. Ele chega mais perto, seus
olhos nos meus. —Por que você decidiu vir esta noite?
Devia ser eu a lhe perguntar isso. —Minha amiga me convenceu de
que não odiaria.
—Qual é o veredicto?
—Ainda não gosto de festas. — Respiro fundo. —Por que você veio
está noite?
—Aquele era o meu quarto que você invadiu. — De alguma forma,
minhas bochechas arderam mais.
Seus olhos passam por mim. —Não posso culpar você por olhar.
Eu faria o mesmo.
Meus joelhos ficam fracos com o tom sedutor da sua voz. É ele, o
cara que canta In Pieces, o homem que assombra meus sonhos.
Essa música é a peça central da minha lista de reprodução para
ouvir e repetir.
Tento formular uma desculpa para sair imediatamente, mas nada
vem. —Você está... você está na banda? Aquela que está dando essa
festa?
—Sim. Sinful Serenade. Sou o vocalista. — Seus olhos passam por
mim novamente. Ele não tem pressa, como se tivesse certeza de que
estarei na sua cama em trinta minutos.
Uma pontada de desejo dispara direto para o meu âmago. Meu
maldito corpo não está obedecendo aos meus comandos. Não posso evitar
de querer o Miles Webb. Há algo atraente nas tatuagens saindo debaixo
da sua camiseta. Sobre a confiança em seus olhos.
Não é do meu feitio me apaixonar pelo bad boy. Ele é tão alto. Pelo
menos, cinco centímetros mais alto que eu. Tenho um metro e oitenta,
uma gigante para uma mulher. Supero a maioria dos homens que
conheço.
Mas não Miles.
Respiro fundo, tentando convencer meu corpo de que não o querer.
Ele é encrenca.
Um jogador.
Uma estrela do rock real.
Mas não consigo parar de olhar.
Limpo minha garganta. —Estava procurando minha amiga, Kara.
Ela é próxima de um cara da sua banda. Eles se conhecem há muito
tempo.
—Ah, sim, amiga do Drew. Ouvi muito sobre ela na última turnê.
—Então, realmente deveria encontrá-la. — Me afasto. —E ir para
casa. Tenho que estudar. Você sabe como é. Ou talvez não, sendo uma
estrela do rock e tudo. Mas tenho uma prova amanhã.
Me viro e saio da cozinha. Ouço passos atrás de mim. —Meg?
Giro, olhos nos olhos com Miles novamente. Mais uma vez, minha
mente pisca com a imagem dele ajoelhado naquela cama, seu pau duro,
os músculos das suas coxas e tronco esticado.
Como é possível que Miles seja o cara que canta para eu dormir?
Ele não é um poeta.
Ele é um mulherengo.
—Sim? — Pergunto.
—Sua amiga não está em condições de dirigir.
Ele aponta para Kara, enrolada no sofá. Seus olhos escuros estão
cheios de uma expressão de excitação bêbada. Ela parece especialmente
baixa e cheia de curvas ao lado do seu amigo alto e musculoso. Esse deve
ser o Drew. Seus cabelos pretos e intensos olhos castanhos são atraentes.
Não é de admirar que ela esteja olhando para ele como se quisesse
devorá-lo.
Ela se levanta e joga os braços em volta de mim. —Você está se
divertindo? Por favor, me diga que não está completamente infeliz.
A abraço de volta. —Apenas parcialmente.
Ela ri. —Isso é um começo!
Bom. Ela ainda está feliz. Kara é uma amiga infinitamente paciente.
Ela tem me arrastando para fora do luto há meses. Não vou estragar a
noite dela.
—Estou prestes a ir para casa—, digo. — Vou de táxi.
—Não. Posso dirigir. Está ficando tarde—, ela diz.
O cara de cabelos escuros, Drew, se intromete. — Kendrick, você
está bêbada demais para dirigir. Se você sequer pensar em entrar no seu
carro, a jogarei por cima do ombro, levarei você para o meu quarto e
amarrarei você na minha cama.
Os olhos dela brilharam no segundo em que ele a chama pelo
sobrenome. —Não sabia que você gostava disso. Você tem corda ou
algemas, ou algo assim?
—Vou chamar a porra de um táxi para você. — Sua voz é partes
iguais em brincalhona e protetora.
Ela o cutuca, e aponta para mim. —Esta é minha amiga Meg, quem
você está tão rudemente ignorando, em favor de me dar uma lição.
Ele se levanta do sofá, e oferece sua mão. —Drew Denton. Prazer
em conhecê-la.
Aperto sua mão. —Meg Smart.
—O Miles está chateando você? — Drew pergunta.
—Posso cuidar de mim mesma—, digo.
—Se você não dá ouvidos à razão — Drew se vira para Kara. —
Então vou levá-la para casa.
Kara olha Drew nos olhos. —Você estava bebendo também.
—Eu consigo. — Mordo minha língua. Droga, o carro da Kara é
manual. Não consigo nos levar para casa. —Deixa para lá.
Miles se intromete. —Vou levar vocês para casa.
Os olhos de Drew se estreitam. Ele lança um olhar incrédulo para
Miles.
—Não vou deixar você dirigir está noite. — Miles lança um olhar
severo para trás. —Você faria o mesmo por mim.
Lentamente, a expressão protetora de Drew derrete. Ele e Miles
compartilham um olhar de entendimento.
O cantor arrogante se vira para Kara. —Suas chaves.
—É um manual. — Ela vasculha sua bolsa.
—Tudo bem.
Ele sorri. —Sei como lidar com o meu bastão.
Capítulo 2

Depois de três minutos dando instruções, Kara descansa sua


cabeça contra a porta do banco de trás e adormece.
É como se já estivesse sozinha com o Miles.
Tento pensar numa conversa fiada, mas nada vem a mim. Tanta
coisa para isso. Provavelmente deveria dar as direções. —Você deve pegar
a saída da Wilshire na 405.
—Mhmmm. — Ele se vira para mim por um momento, então seus
olhos estão na estrada. —Devem ser vinte minutos.
—Certo.
—Mais alguma coisa que você queira conversar? — Ele brinca.
Limpo minha garganta. — Não tenho certeza do que você quer
dizer.
—Sim, você tem.
Preciso acertar as contas aqui. —Kara é minha melhor amiga. Não
sei o quão chegado você e o Drew são, ou quanto tempo você ficará em
Los Angeles, mas, acho que eu e você temos amigos em comum ... então,
que tal concordarmos em nunca mais falarmos sobre isto?
Um sorriso presunçoso se espalha pelo rosto dele. —Não posso
concordar com isso.
—Por que não?
—Você fica muito fofa quando cora.
—Não sou fofa. — Mordo minha língua para não estalar. Quem
diabos ele pensa que é me chamando de fofa? Respiração profunda. Posso
ser tão fria e distante quanto ele. —Vamos fingir que nunca aconteceu.
—Se isso te incomoda tanto. — Ele para em um sinal vermelho. —
Mas não é grande coisa. Nada que você não tenha feito antes.
Certo. Porque sou uma universitária de 21 anos. E nenhuma
universitária normal é tão sexualmente inexperiente.
—Sem dúvida—, digo.
Um sorriso presunçoso se espalha por seu rosto. Seus olhos se
enchem de descrença.
Faço minha voz mais confiante. —Eu tive namorados. — Odeio esse
olhar. Não sou uma flor inocente. —Nós fizemos todos os tipos de coisas.
— No ensino médio, acima da cintura, mas ele não precisa saber disso.
—Não há vergonha em não ter experiência sexual. Mesmo sendo
virgem.
—Eu sei, mas não sou.
Ele arqueia uma sobrancelha.
—Não é realmente da sua conta.
O sinal fica verde. Miles pisa no acelerador. Muda de marcha até
ultrapassar o limite da velocidade. —Qual é a sua posição sexual
favorita?
—Prefiro não discutir isso com um estranho.
—O que aconteceu em termos amigos em comum?
Um ponto de vista convincente. Dou de ombros como se fosse tão
fria quanto ele. —Hum ... papai-mamãe.
Ele ri, não acreditando na minha resposta. —Segunda favorita?
Tento pensar em algo menos óbvio que o papai-mamãe, mas, não
me lembro de nada. Mas que diabos? Minha mente não tem problema em
imaginar eu e Miles no auge da paixão, ele me pressionando contra a
parede, eu subindo nele no banco do motorista, nós dois emaranhados
juntos na sua cama, mas é absolutamente incapaz de articular quaisquer
palavras.
Ele para abruptamente no sinal amarelo. —Posso lhe mostrar
algumas boas.
Respiro fundo, para não ficar na cor de um tomate. —Como é? —
Seus olhos encontram os meus. Sua expressão é o cúmulo da confiança.
—Você quer me foder.
— Não.
Ele balança a cabeça.
—Você esteve me imaginando nu a noite toda.
—Porque vi você nu. Não pude evitar.
—Mhmm. — O semáforo fica verde e ele pisa no acelerador. Ele vira
a esquina e acelera para a rampa de acesso da autoestrada. —E, agora
você está pensando nisso.
—Não estou.
—Sou melhor do que você imagina.
—Você sabe o nome daquela garota?
—Sim.
Não estou convencida. —Qual era?
—Stephanie. Tenho certeza de que era Stephanie. — Ele encolhe os
ombros. —É só sexo. Você saberia se você...
—Minha vida sexual não é da sua conta.
—Não precisa ficar na defensiva. Não há nada de errado em ser
virgem.
Cruzo minhas pernas. Tenho certeza, de que Miles nunca precisa
ficar na defensiva sobre sua vida sexual. Ninguém nunca acha que ele é
chato ou certinho. Ninguém olha para ele como se ele fosse um balde de
água fria.
Ele é um garanhão.
Droga, ele é uma estrela do rock em ascensão.
Quero explicar, justificar minha frustração, mas ele ainda parece
distante como o inferno, e eu ainda estou abalada. Por que se incomodar?
As vidas sociais são superestimadas.
O peso do silêncio se espalha pelo carro. É demais. Tenho que ligar
o rádio. Está sintonizado na KROQ e, Deus me ajude, a estação está
tocando In Pieces.
Os vocais são um gemido baixo, uma voz destinada a expressar
uma manifestação extrema de emoção. Não consigo esquecer o gemido.
É assim que Miles soa, quando está no meio do orgasmo?
Luto para mudar a estação. Rock. Isso não serve. Encontro a
estação das músicas antigas. Certamente estará livre da voz do Miles.
Ele ri. —Você é uma gracinha quando está nervosa.
Cruzo os braços sobre o peito. —Você tem algum problema com as
músicas antigas?
—Foi por isso que você mudou de estação, na esperança de ouvir
Build Me Up Buttercup?
— Não, esperava Happy Together.
Ele sorri e olha para mim. —Você quer que sua primeira vez seja
boa?
—Não estou…
—Fico mais do que feliz em te satisfazer.
Que diabos? Ele está falando sério? Respiro fundo. Não gosto de
como me sinto abalada. Preciso que ele pare. —Não preciso do seu sexo
por piedade.
Ele levanta uma sobrancelha. —Não haveria piedade nisso.
Também quero transar com você.
—Não tem nenhum 'também'. Não quero ... eu não namoro.
—É só sexo. Posso deixar você me comprar o café da manhã, mas
não é um encontro.
Minha mente fica em branco. Ele é direto e confiante. Ele sabe
exatamente o que quer e, então ele vai em frente.
Como diabos ele faz isso?
Minhas palavras somem. Falar é superestimado.
Aumento o volume do rádio, me recosto no banco, e observo o céu
brilhar do lado de fora das janelas.
Parece que passou uma eternidade, mas, finalmente chegamos no
apartamento da Kara. Miles sai do carro, mas fica a uma certa distância.
Subo a Kara pela escada de pedra, e pesco as chaves na bolsa dela.
Ela olha para mim com preocupação. —Obrigado por ter vindo,
mas... , Meg
—Sim?
Seu olhar se volta para Miles encostado no carro. —Cuidado. Miles
é um autêntico prostituto.
—Beba um pouco de água.
Ela entra no apartamento dela. —Ele estava flertando com você.
—Você estava ouvindo?
Ela sorri maliciosamente, claramente não tão bêbada quanto
deixou transparecer. —Me preocupo com você. Tenha cuidado, ok?
Concordo.
Devo parecer mais confiante do que me sinto, porque ela fecha a
porta sem dizer mais nada.
Esta noite precisa terminar. Agora. Desço pelas escadas, um
degrau de cada vez. Então, no chão. Só que não é o chão. Tem um outro
degrau.
Porra. Tento me equilibrar. Não dá certo.
Caio, aterrissando em minhas mãos e joelhos.
Ai. Meus pulsos estão bem, mas meu joelho está gritando.
—Ei. — A voz de Miles está perto.
Ele está a um metro de distância. Como ele chegou aqui tão rápido?
Ele se ajoelha ao meu lado. —Você quer ajuda?
—Estou bem. Posso limpar em casa.
—Deixe-me ver.
—Não preciso da sua ajuda.
—Você está sangrando.
Droga. Ele tem razão. Meu joelho está arranhado e sangrando.
Seus olhos encontram os meus. Ele levanta uma sobrancelha,
como se pedisse permissão. Desta vez, aceno.
Os dedos do Miles roçam minha pele, enquanto ele inspeciona
meus pulsos. Em seguida, eles estão no topo dos meus joelhos. O toque
suave envia calor através do meu corpo.
Não menti para o Miles. Eu não namoro. Tudo na minha vida é
organizado em torno de entrar na faculdade de medicina. Entre os
estudos, e meu trabalho de meio período, tenho pouco tempo e energia.
Já é difícil manter minha vida nos trilhos sem adicionar um namorado
na mistura.
E nunca conheci um cara que valesse a pena. E certamente nunca
tive o toque de um homem que despertasse esse tipo de desejo.
Quero aquelas mãos debaixo da minha roupa.
Meu coração bate contra o meu peito. É aterrorizante o quanto
quero aquelas mãos debaixo da minha roupa.
Miles olha para mim. —Este é um arranhão ruim. Você tem um kit
de primeiros socorros?
—Posso cuidar disso.
—Machuquei muito no punho na minha época de escola. Vou fazer
um curativo. Ou fazemos no seu apartamento ou vamos a uma farmácia
24 horas.
Voltar para minha casa será mais rápido. Concordo com a cabeça,
e o sigo até o carro.
Ele desliza no banco do motorista. —Onde você mora?
—Sawtelle e Idaho. O complexo à esquerda.
Ele dirige sem necessidade de instruções. Depois de algumas voltas
rápidas, chegamos na garagem. Mas o portão da garagem subterrânea
está fechado. Droga. A única maneira de desbloqueá-lo, é inserindo o
código, e meu senhorio não suporta inquilinos o entregando a estranhos.
Isso implica que tenho que me inclinar sobre Miles para fazer isso.
Aceno para a janela. —Você se importa?
Ele assente, e rola o vidro para baixo.
Aqui vou eu. Solto o cinto de segurança, e me inclino sobre ele,
plantando uma mão no peitoril da janela. Isso traz meu corpo sobre o
dele, meu peito sobre sua boca. Sua expiração suave e lenta envia
arrepios na minha coluna.
Seus lábios estão a centímetros do meu peito. Quero que esses
centímetros desapareçam, quero que minha blusa e sutiã desapareçam.
Quero a boca dele na minha pele.
Nunca me senti assim antes. Jamais.
Insiro o código o mais rápido possível. Pronto. A porta da garagem
se abre. Deslizo de volta para o meu assento, e o direciono para minha
vaga no estacionamento.
Agora não há mais nada a fazer, além de levá-lo ao meu
apartamento. Só eu e a estrela do rock playboy, sozinhos no meu
apartamento.
O que poderia dar errado?

Roupas cobrem todo o espaço já limitado do meu apartamento


minúsculo.
A mesa está cheia de papéis e anotações. A cozinha não está
melhor. Porra, parece que uma preguiçosa mora aqui. Eu tenho sido
negligente com a limpeza, com o cuidado comigo mesma, com tudo,
realmente. Desde Rosie ... é difícil fazer qualquer coisa.
E nunca quero nada. Só quero o Miles.
O quero na minha cama.
Quero que tiremos essas roupas estúpidas.
Respiro fundo, tentando me livrar desse sentimento. Acho que
quero algo ruim para mim. É realmente apropriado. Se não tomar
cuidado, cairei na mesma toca de coelho que a destruiu.
Chuto algumas roupas íntimas, e me sento na cama. Miles fica por
perto.
Tem apenas meio metro entre a cama e a parede. Não tem outro
lugar para ele estar. A explicação razoável não faz nada para acalmar o
meu coração acelerado.
Miles examina as paredes, observando os pôsteres dos filmes
dando vida à sala monótona: a trilogia original de Guerra nas Estrelas,
Jurassic Park, Matrix, Cidade das Sombras e O Exterminador.
Seus lábios se curvam em um sorriso. — Gosto da sua decoração.
—Tenho certeza de que você já viu muitos apartamentos femininos
com uma decoração muito melhor.
—E ainda gosto da sua. — Ele me observa sentada na cama. —Kit
de primeiros socorros?
Aponto para o banheiro. Ele desaparece por um momento, e volta
com um frasco de álcool, um saco de bolas de algodão e um curativo
largo. Não me lembro de comprar nada disso. Deve ter sido da Rosie.
Acho que ela não precisa mais deles.
—Você não tem nenhum creme antibacteriano? — Ele pergunta.
—Só tem o kit.
—Pegue um creme para a próxima vez. — Ele abre o álcool,
pressiona a bola de algodão sobre ele, e inclina o frasco. Seus olhos
encontram os meus. —Isso vai doer.
Miles cai de joelhos, se ajoelhando na minha frente, como se
estivesse prestes a puxar minha calcinha e colocar seu rosto entre as
minhas coxas.
A bela imagem mental morre quando ele pressiona a bola de
algodão na minha pele. Ai. Ai. Doeu. Não só doeu. Queima como o inferno.
—Porra —, murmuro.
—Aqui. — Ele pressiona os lábios, e sopra ar fresco sobre a ferida.
Isso diminui a dor, mas coloca o resto do meu corpo em chamas.
Ele observa se minha pele está seca, e coloca o curativo. Pronto. Feito.
Terminamos.
Só que ele ainda está aqui, entre as minhas pernas.
Ele olha para mim. As pontas dos dedos percorrem o interior da
minha panturrilha, enquanto ele puxa as mãos para os lados. —Melhor?
—Eu poderia ter tratado disso. — Pressiono meus joelhos. Eu o
quero. E não posso lidar com isso. Preciso dizer a ele para sair. —Mas
sim. Obrigada.
—O prazer é meu.
Ele ainda está aqui. E ainda estou na minha cama. Seria fácil
lembrá-lo da sua oferta.
Talvez, eu possa ser casual e distante também. Talvez o sexo seja
o segredo para não sentir que meu coração pesa quinhentos quilos.
Ou talvez, eu siga o mesmo caminho da minha irmã.
Limpo minha garganta. —Está ficando tarde. Eu deveria ir para a
cama.
—Claro. — Ele fica de pé. Ele afunda na cama ao meu lado, sua
coxa revestida de jeans pressionada contra a minha pele nua. —Você tem
um celular?
Minhas mãos não compartilham da minha cautela. Elas vasculham
minha bolsa e oferecem a ele meu celular.
Ele toca na tela por um momento e devolve. Lá está ele, no meu
telefone: Miles Webb. Eu tenho o número dele, o e-mail, até o seu
endereço.
Ele olha para mim como se estivesse pensando em como seria fácil
me prender na cama, e puxar a minha calcinha até os joelhos.
Ou talvez eu esteja projetando.
Seus lábios se curvam num sorriso. —Avise-me se você precisar de
alguma coisa.
—Do que precisaria?
—Satisfazer sua curiosidade.
Hora de pôr fim a essa paquera. Limpo minha garganta, e jogo
meus ombros para trás. Eu também posso parecer fria. —Olha, Miles.
Tenho certeza de que você é um cara legal em muitos aspectos, e tenho
certeza de que vou vê-lo novamente, com nossos melhores amigos em
comum.
—Verdade. — Sua voz está calma, totalmente imperturbável.
—Mas apreciaria se você parasse de flertar comigo.
Ele concorda. —Se você parar de me encarar como se estivesse
pensando no que quer fazer comigo.
Eu sei o que quero fazer com ele. Quero dizer para ele se ferrar.
Preparo um insulto, e me viro para encarar o Miles. Mas quando nossos
olhos se conectam, minha boca fica seca.
Ele ri. —Esse olhar, agora, você está pensando em me foder.
—Você está enganado.
—Não, não estou. — Ele olha nos meus olhos. — Não quero deixar
você desconfortável. Se você não estiver interessada, pare de me despir
com seus olhos, e vou parar de flertar.
Tento gaguejar uma objeção, mas não consigo pensar em nada. As
pessoas são realmente tão diretas? É enervante.
Uma corrente elétrica percorre meu corpo, se estabelecendo entre
as minhas pernas. Como seria a sensação das mãos dele nas minhas
coxas? Debaixo da minha saia?
Debaixo da minha calcinha? Meu corpo está me implorando para
descobrir.
—Não vou encará-lo. — Juro com as mãos, mas não sou nada
convincente. Estou olhando para ele. —Vou melhorar isto.
Ele se levanta. —Espero mesmo que não.
Não estou interessada. Abro minha boca para dizer essas palavras.
Nada sai. Estou interessada. Estou insuportavelmente interessada.
Merda. Tenho que dizer alguma coisa. —Tenha uma volta segura
para casa.
Seus lábios se curvam em um sorriso arrogante. —Bons sonhos.
Ele acena um adeus ao sair pela porta. Caramba, essa foi por
pouco.
Desmorono na cama. Meu coração está batendo forte no meu peito.
Meus pulmões estão totalmente sem oxigênio.
Miles Webb, o lindo astro do rock, cantor da banda prestes a ser o
próximo grande sucesso, me quer. Ele poderia ter qualquer atriz ou
modelo que quisesse, e ele me quer. Eu sem seios, desajeitada e tímida.
Capítulo 3

O zumbido do meu celular me tira da minha aula de poesia


induzida. Esta é uma das menores salas de aula. Cabem cerca de cem
pessoas, mas tem apenas quinze nessa turma.
Pego meu celular no bolso da frente da calça o mais discretamente
possível.
Miles: Que tal uma foto do seu ferimento?
Minhas mãos estão escorregadias de suor. Não é por causa da
temperatura. É nervosismo. Não ajuda, que Kara esteja sentada ao meu
lado, tomando uma lata de chá preto, rabiscando notas com sua caneta
roxa.
Ela me lança um olhar intencional. —Quem é?
Limpo minha garganta. —Você não deveria estar de ressaca?
Ela certamente não parece nada má. Seu cabelo e maquiagem estão
perfeitos. Sua blusa sem rugas faz coisas incríveis para destacar seus
peitos grandes.
—Sorte a minha, que minha amiga me lembrou de me hidratar. —
Ela pega uma lata de chá verde da mochila, e a coloca na minha mesa.
—E sei como retribuir o favor.
Sim, doce vício. Abro a lata e bebo a metade dela em um gole. É um
chá verde sencha, fresco, com aroma de nozes, levemente herbáceo.
Caramba, está muito bom. Com o próximo gole, termino a lata.
Meus olhos encontram os da Kara. Ela arqueia uma sobrancelha
como se dissesse que não se faça de boba. Ok, não vou me fazer de boba.
Mas também não vou admitir. Kara e eu temos uma política de não
bisbilhotar. Ou pelo menos tínhamos, antes de tudo com a Rosie, antes
de passar o verão trancada no meu quarto com músicas tristes repetidas
vezes.
Agora, ela faz umas perguntas. Ela faz questão de me arrastar para
fora da minha tristeza. Agradeço sua preocupação, sim, mas estou
cansada das luvas de pelica.
Espero até que ela volte sua atenção para suas anotações, para
mandar uma mensagem para o Miles.
Meg: Algo me diz que enviar fotos é uma má ideia.
Miles: Você é que sabe. Ia te mandar algo muito legal em troca.
Meg: Quão legal?
Miles: Uma foto para uma foto.
Um rubor se espalha pelas minhas bochechas. Ele não pode estar
falando de uma foto daquilo.
Kara limpa a garganta. —Como está Miles?
Dou de ombros, e deslizo meu telefone no meu colo.
—Querida, qualquer que seja a história que você esteja vendendo,
eu não vou comprá-la. — Ela bate a caneta no papel. —Ele continuou
flertando depois que você me deixou?
O professor está explicando algum artifício poético com
absolutamente nenhum entusiasmo. Você pensaria que um cara que
dedica sua vida a uma forma de arte romântica teria um pouco de paixão,
mas não.
—Foi um completo fracasso —, digo.
—O que aconteceu com o seu joelho? — Ela aponta para o curativo
na minha perna.
—Eu caí. Nada demais.
—Jura que ele não te fez passar um mau bocado.
Quem me dera. A imagem dele nu na cama, duro e pronto, brilha
na minha mente. Droga. Não penso em caras durante a aula. Não mando
mensagens durante a aula. A faculdade de medicina é concorrida. E
nunca vou conseguir, se me distrair com facilidade. Isso está fora de
questão.
Tenho que fazer isso. Por mim e pela a Rosie.
Deslizo meu telefone na minha mochila, e viro para Kara. —Miles
está bem. Ele não será meu melhor amigo, mas não vou gritar se você
quiser sair com ele e o Drew. Não um encontro de casais, mas ...
—Nós somos apenas amigos. — Ela olha para mim com cautela,
me examinando. —Você sabe que ele é jogador.
—Percebi. — Ajusto minha camiseta. —Você sabe que tenho vinte
e um anos, né? Posso lidar em ficar sozinha com um cara.
—Ele passa por três garotas por semana.
—Eu sei que ele é um galinha. Consigo lidar com isso. Não sou uma
criança.
Ela se encolhe, magoada. —Só quero ajudar.
—Eu sei. Mas estou melhor do que estava em junho—. Olho
minhas anotações, antes que a incerteza nos meus olhos me denuncie.
—Seria tão errado se eu transasse com ele?
—Não, nada errado. Mas você realmente quer... — ela abaixa a voz
a um sussurro — perder sua virgindade com um mulherengo?
—Talvez.
—Se você tem certeza de que é o que você quer, eu posso ajudar.
—Só estou pensando em voz alta.
—Talvez pense nisso, quando estiver na cama sozinha esta noite.
—Ela pisca.
Minhas bochechas ficam vermelhas.
—Você já pensou isso? — Os olhos dela brilham. —Ele é gostoso.
Muito gato.
Ok, talvez eu tenha. Masturbação não é crime. A noite passada foi
a primeira vez que me diverti há muito tempo.
Foi a primeira vez que adormeci pensando em algo, além de perder
a minha irmã.
Na verdade, é assustador, como se fosse perdê-la novamente.
Mudo de assunto para algo menos constrangedor. — Jurassic Park
vai passar na Nuart sexta-feira à meia-noite.
—Estarei lá.
Todo o dia, meu telefone queima um buraco no meu bolso. Isso me
assombra durante o almoço. Isso me assombra durante o meu teste de
biologia. Isso me provoca durante as calmarias do meu turno no pronto-
socorro.
Escrevo uma dúzia de respostas das mensagens na minha cabeça,
mas nenhuma delas estão corretas. Não posso me importar com o que o
Miles pensa de mim. Escrever trabalhos, estudar, meu trabalho, que não
paga bem, mas é uma ótima experiência, vêm antes dos caras.
Mas, quando chego em casa e desmaio na cama, fico pensando
nele. Quero seu corpo duro pressionado contra o meu, seus lábios macios
na minha pele.
Como diabos essa coisa de paquerar funciona?
Tiro uma foto do meu joelho esfolado, e a envio para ele.
Meg: Não reclame, se você achar nojento.
Ele responde rapidamente.
Miles: O mesmo para você.
Há uma mensagem de imagem anexada: as costas da mão dele.
Seus nós dos dedos estão surrados e cobertos de tecido cicatricial. Ele já
se envolveu em muitas brigas, há muito tempo.
Meg: Não foi o que pensei que você enviaria.
Miles: Imaginava um lugar um pouco mais baixo, e muito mais
excitante?
Intensamente. Visto meu pijama na tentativa de ganhar tempo para
pensar.
Foi fácil evitar complicações até agora. Caras nunca me
interessaram. A faculdade vem primeiro. Ponto final.
Mas, nunca me senti assim. Nunca desejei as mãos de alguém no
meu corpo.
Certamente, nunca esperei que um cara me enviasse uma foto
picante.
Brinco com o meu telefone. Talvez, seja bom que o Miles tenha
experiência. Ele vai saber o que faz. Saber como garantir que eu me
divirta.
Ou talvez, ele ficará todo indiferente e, vou ficar uma bagunça
nervosa com a língua presa.
Caramba, não sei.
Meg: Não, não esperaria que você enviasse uma foto assim, a menos
que eu pedisse.
Miles: Exato.
Meg: Não vou pedir.
Miles: Bom. E eu diria não. Vou tem que conquistar.
Meg: Não, tenho que ir estudar.
Miles: São quase onze horas.
Meg: Acabei de sair do trabalho no pronto-socorro. Não há tempo a
perder.
Miles: Você trabalha num pronto-socorro?
Meg: Sim. Por que a pergunta?
Miles: Seus tempos de reação são um pouco lentos.
Meg: Não faço muito no pronto-socorro. Sou uma escrevente.
Basicamente escrevo as ordens dos médicos, coloco informações no
computador, esse tipo de coisa. Não preciso de reação rápidas.
Miles: Aham.
Meg: Tenho que ir. Tenho muita lição de casa para terminar antes
de dormir. Boa noite.
Telefone em silêncio, dedico minhas próximas duas horas ao meu
livro de biologia. Quando finalmente acabo, meu celular está parado na
minha mesa, de bruços, me provocando.
Eu o viro.
Miles: Bons sonhos.
Foi o que ele disse quando saiu ontem à noite. Ele estava pensando
em mim na cama?
É muito tarde para pensar nisso. Ele já está se tornando uma
complicação. Caras são problemas. Rosie era a mais inteligente, mais
forte e mais experiente em relacionamentos do que eu, e aquele idiota
Jared ainda arruinou sua vida.
Me preparo para dormir e desabo debaixo dos lençóis. Repito meu
manta, a admissão na faculdade de medicina vem em primeiro lugar, mas,
isso não faz nada para afastar a imagem mental do Miles nu na minha
cama, a mão dele envolvida no seu pau duro.
Droga. Não sei como lidar com isso. Rosie saberia. Ela era tão boa
nesse tipo de coisa.
Meu coração afunda. Meus braços e pernas estão pesados. Inferno,
o mundo inteiro é pesado.
Ainda parece impossível fazer isso sem ela, fazer qualquer coisa
sem ela.
Não pensei nela ontem à noite. Não pensei nela quando estava com
o Miles. Talvez valha a pena o risco da complicação.
Não pode ser pior que sentir isso. Nada é pior do quanto isso dói.
Eu pego meu telefone.
Meg: Você quis dizer o que disse no carro? Sobre dormir comigo.
Miles: Isso é um convite?
Meg: Apenas uma pergunta hipotética.
Miles: Hipoteticamente, posso estar no seu apartamento em vinte
minutos.
Meg: Você realmente viria agora? Estamos no meio da noite.
Miles: Esse é o horário habitual para uma transa.
Caramba. Ele faz parecer simples. Ele é assim tão descontraído em
relação a tudo? Não parece possível. O cara que canta In Pieces é
atormentado. Ele está sofrendo. Ele está quebrado.
O Miles que está me mandando mensagens está flertando, claro,
mas, isso é o mais longe que o seu interesse vai.
Meg: Deixa para lá. Tenho de ir para a cama. Esqueça que eu disse
alguma coisa.
Miles: Serei o seu primeiro.
Meg: Não disse que era virgem.
Miles: Você é.
Meg: E como você sabe disso?
Miles: É fofo você ser tão defensiva quanto a isso.
Meg: Não é fofo.
Miles: Por que não admitir?
Meg: O que isso importa para você? Tentando atingir uma cota de
‘virgindades tiradas’?
Miles: Não que tenha fetiche disso. Mas, gostaria de transar com
você, Meg. Vou garantir que sua primeira vez seja boa. Que não doa. Que
você goze comigo. Mas, só se você quiser.

Durante toda a semana meu telefone ficou silencioso. Não recebi


uma palavra do Miles. Nenhuma nova mensagem quando acordo. Não há
novas mensagens quando verifico meu telefone no almoço. Nenhuma
durante o meu intervalo de estudos entre aula e trabalho. Nenhuma
quando chego em casa de um turno no pronto-socorro.
Sua última mensagem está aí, aquela oferta suave e confiante de
tirar minha virgindade. Como se não fosse nada especial.
Para ele não é grande coisa.
Não é como se eu estivesse esperando. Só que, não namorar torna
difícil fazer sexo.
E não quero um namorado. Não quero mesmo. Mas, também não
quero ser um entalhe na cabeceira da cama de alguém.
O Miles é um filho da mãe. Não há nada errado em ele ser um
galinha, mas, não quero perder minha virgindade com um cara que passa
por três mulheres numa semana. Não se ele vai esquecer o meu nome da
maneira que ele esqueceu o nome da outra garota.
A bola está no meu campo. Eu a mantenho lá dentro. Miles e eu
somos amigos por associação. Mais nada.
Na quinta-feira à noite, chego em casa particularmente exausta.
Não tenho energia para fazer o dever de casa. Caio na cama, e ligo o rádio.
A KROQ dá o seu habitual rock anos 90 e 2000, Nirvana, Smashing
Pumpkins. Em seguida, a música dele, In Pieces. Ela ainda me rasga em
pedaços. Ela ainda pressiona todas as magoas.

TRÊS SEMANAS AGORA.


Não consigo dormir.
O buraco no meu peito
não demonstra sinais de recuperação.

AQUELA PALAVRA, UMA PIADA, SUA RISADA.


—Fugindo de novo, garoto? —
Um minuto aqui e,
então, você se foi.

Fecho meus olhos, desejando que meus pensamentos sejam


levados a qualquer lugar, menos aquela lembrança horrível.
Isso não funciona.
Estou naquele quarto de hospital, vendo médicos tentarem salvar
minha irmã. Posso ver seus lábios azuis, sentir suas mãos frias. Elas
estão congelando, sem aderência, sem sinais de vida.

LUZES APAGADAS.
Não consigo dormir.
Cabeça pesada,
mas ninguém vê.
(Ninguém nunca viu).
Um caso perdido,
ainda pior do que antes.
Sem sinais de recuperação.
Ela está morrendo. A vejo morrer repetidamente. O mesmo sonho
estúpido.
Todas as noites. A razão pela qual não posso me permitir um único
minuto de tempo livre. Porque meus pensamentos voltam para ela, e
todas as maneiras pelas quais falhei com ela.
Uma overdose de ópio.
Eu não tinha ideia.
Como eu poderia não ter ideia?

AQUELA PALAVRA, UMA PIADA, SUA RISADA.


—Fugindo de novo garoto? —
Um minuto aqui e,
então, você se foi.

QUATRO SEMANAS AGORA.


Aquele buraco, esse pavor.
Mal posso respirar
Qualquer lugar menos aqui.
Qualquer coisa menos isso.
Quero assumir a sua liderança.

Ela se foi. Faz três meses. Assim como a música fala, o buraco no
meu peito não demonstra sinais de recuperação. Não consigo dormir. Não
consigo respirar.
Como é possível que o Miles tenha passado por algo assim, e saiu
calmo e sem ser afetado?
Tento estudar, mas não consigo me concentrar. A pergunta não sai
da minha cabeça. Como é possível que Miles, o jogador arrogante, seja o
mesmo cara que Miles, o poeta ferido?
Preciso saber
Meg: Posso te perguntar uma coisa?
Miles: Ainda acordada.
Meg: Sempre estou.
Miles: Manda.
Meg: Você escreve as letras para o Sinful Serenade?
Miles: Todas, exceto uma música.
Meg: In Pieces?
Miles: Não. Essa é 100% do Miles Webb.
Meg: Sério?
Miles: Você está pensando alguma coisa?
Meg: É difícil imaginar você passando por algo assim.
Ele não responde. Cinco minutos se passam. Então dez.
Meg: Eu só quis dizer, porque você é muito casual em tudo.
Miles: O que você sabe sobre o quão casual eu sou?
Meg: Você é casual sobre sexo.
Miles: E?
Meg: Você parece distante e frio.
Miles: Quem disse isso?
Meg: Eu disse. O cara que escreveu essa música. Foi ferido. Foi
torturado. Ele está quebrado.
Miles: E, eu não?
Meg: Não parece.
Miles: Você é assim tão rude com todos os seus amigos, ou apenas
comigo?
Meg: Nós não somos amigos.
Miles: Aparentemente não.

Minhas bochechas ardem. Não é isso que quero dizer.


Olho para a minha tela. Aquele peso está de volta. Me sinto horrível.
Se alguém tentasse me convencer, que eu não sabia como era a
dor, que não estava destruída por perder a pessoa que amava mais do
que tudo ...
Daria um soco na cara dele.
Na verdade, não falo sobre a Rosie com ninguém. Eis que Miles
veio, e escreveu uma música inteira sobre perder alguém. Ele contou para
o mundo todo, e o acusei de inventar tudo.
Meg: Me desculpe. Não deveria ter dito isso.
Miles: Já ouvi coisas piores.
Meg: Desculpe, não quis te ofender. Juro.
Miles: Tenho certeza de que você encontrará uma maneira de me
compensar.
Capítulo 4

Miles ocupa meus pensamentos durante toda a sexta-feira. Resisto


ao meu celular até estar sozinha em casa.
Não tem comida de verdade aqui. Faço um jantar de cereais secos.
Não é a opção mais saudável do mundo, mas é rápida e fácil.
Kara: Lembra o quanto você quer dormir com o Miles?
Meg: Não foi bem isso o que eu disse.
Kara: Talvez, tenha mencionado a noite de cinema ao Drew. Ele e
Miles se convidaram. Você quer que diga a eles para desaparecerem, ou
quer que a ajude a levá-lo para casa?
Meg: Nenhuma das duas.
Kara: Você tem certeza de que está tudo bem?
Meg: Razoavelmente certa.
Meu corpo já está tenso só de pensar na proximidade do Miles.
Pensar em todas as coisas que ele poderia fazer comigo num cinema
escuro.
Kara: Então, você não vai cancelar comigo às 11:59 por que está
muito cansada?
Ela me conhece muito bem.
Meg: Não vou deixar ninguém estragar o meu filme favorito.
Kara: Você pode escolher no domingo.
Meg: E, no próximo domingo.
Kara: Combinado. Deseja mesmo usar o Miles para fazer sexo?
Porque posso garantir que vocês dois tenham a chance de ficar sozinhos.
Meg: Ainda não sei.
Kara: Quero que fique registado que é uma péssima ideia. Mas
porra, ele é super gostoso. Mais quente que o sol. Não culpo você por querer
ele.
Meg: Está registrado.
Kara: Então?
Meg: Estou inclinada para isso.
Kara: OMG! Você tem que prometer detalhes.
Meg: Não estamos um pouco velhas para isso?
Kara: De jeito nenhum, querida. Farei com que isso aconteça. E,
peço desculpas. Deveria ter perguntado antes de convidar o Drew. Mas,
ele adora ficção científica tanto quanto você. Eu tinha que mencionar isso.
Meg: Não é porque você o quer.
Kara: Não me venha com essa. Somos amigos, e ele nunca vai
pensar em mim dessa maneira. Não quero ser lembrada, de que isso nunca
vai acontecer. Eu gosto do Drew. Ele é um bom amigo. Estou feliz por tê-lo
como amigo.
Meg: Mas você gosta dele?
Kara: Sério, não comece. Não importa. Ele nunca me verá assim.
Meg: Ele estava olhando para você daquele jeito na festa.
Kara: Ele estava bêbado. Não conta. Vista algo atraente. Se você
quer dormir com o Miles. Uma saia. Nada de preto. Fica bem em você, mas
vai deixá-lo de bom humor.
Meg: Isso não acontece.
Kara: Você quer dormir com a estrela do rock gostosa ou não?
Meg: Entendi.

Minha roupa é simples, uma regata branca e uma saia jeans curta,
mas, Miles está olhando para mim, como se estivesse usando a melhor
lingerie do mundo.
Como se tivesse curvas para preencher a lingerie rendada.
Na maioria das vezes, quando estou ao lado da Kara, me sinto
particularmente alta e reta. Mas agora, me sinto uma supermodelo. Como
se eu fosse a garota mais sexy da sala.
Limpo minha garganta. —Oi.
Miles acena com um olá. —Gosto da sua saia.
—Obrigada.
Drew olha Kara de cima a baixo, olhando seu vestido confortável.
A garota sabe se vestir. E está claro, que Drew aprecia a forma como o
tecido se estende sobre suas curvas.
Ele está olhando para ela daquela maneira, seja lá o que isso
signifique.
Ele praticamente tem vapor saindo dos ouvidos. Isso me deixa mais
consciente do meu desejo, do quanto quero tirar a camiseta justa do
Miles. Porra, aposto que sua pele pareceria bem contra as minhas mãos.
Drew mal consegue desviar os olhos da Kara. Ele acena com a
cabeça um oi. —Espero que você não se importe em nós invadirmos a
noite das garotas.
—Quem poderia resistir à chance de assistir Jurassic Park na
telona? — A alça da minha regata desliza pelo meu ombro. Observo a
expressão do Miles em busca de sinais de interesse. Ele não é tão óbvio
quanto seu amigo, mas seu interesse é claro. Sua língua desliza sobre
seus lábios. Isso causa arrepios na minha espinha, vendo o quanto ele
me quer.
Subo a alça. —Vamos comprar os ingressos? É quase meia-noite.
Kara tira algo da sua bolsa. —Já estou com eles.
Miles entra na conversa —Meg e eu podemos pegar os lugares.
Vocês pegam as bebidas.
—Certo. —Entro no cinema e tomo a porta à direita. The Nuart é
um cinema acolhedor com apenas uma sala de projeção. Tem capacidade
para cerca de cento e cinquenta pessoas. Têm duas dúzias aqui esta
noite.
Miles pressiona a palma da mão contra parte inferior das minhas
costas, me guiando. Meu corpo não deixa de notar isso. O calor se
espalha das minhas costas para o estômago e as coxas.
Por que ficar durante o filme? Deveria atacá-lo agora. Deveria levá-
lo para casa. Preciso me libertar dos meus pensamentos. Preciso de uma
folga da escola e do trabalho.
E preciso parar de me sentir como a esquisita estraga prazeres,
como se fosse a única estudante universitária que nunca fez sexo.
Como se estivesse tão machucada que não consigo respirar. Quero
ser tão casual e tranquila como ele.
Me sento no corredor. Miles cai ao meu lado, mão no apoio de
braço, corpo virado para o meu. Seus olhos passam por mim lentamente.
Eles se concentram nas minhas coxas nuas. —Você fica me olhando
como se estivesse pensando em me jogar na sua cama.
—Eu não quero.
—Mhmm. — Seus lindos olhos azuis penetraram nos meus. —
Alguma opinião que você gostaria de compartilhar?
—Este filme, tem tudo a ver como os homens não devem transar
com fêmeas. Deve ser um aviso para você.
Ele ri. —Verdade.
—Você gosta do Jurassic Park?
—Por quê? Você também não imaginou o cara que escreveu In
Pieces gostando do Jurassic Park?
—Não considerei isso.
—O cara que passou por esse tipo de dor. Ele gostaria de algo
sombrio. Alien —, Miles propõe.
—Talvez Terminator 2.
Solto uma risada profunda. É uma gargalhada autêntica. Posso
sentir isso nas bochechas, nas minhas laterais, até as pontas dos dedos.
Foi a risada mais profunda e completa que tive, desde antes da
morte da Rosie.
Meus olhos encontram os do Miles. Ainda não tenho certeza do que
fazer com ele. Ele trata tudo despreocupadamente. Eu não. E não sei se
consigo aguentar dormir com alguém, se o sexo significa tudo para mim
e nada para ele.
Mas caramba, quero aproveitar esta oportunidade. Quando vou
encontrar outro cara que desperte esse tipo de desejo em mim? Tenho
quatro anos de faculdade de medicina e mais alguns de residência no
meu futuro. Não vou passar a próxima década celibatária.
É melhor começar agora mesmo.
Minha linha de pensamento é interrompida por Drew.
Ele passa por de nós, se sentando ao lado do Miles. —Kara está no
banheiro. — Ele olha para o amigo, balançando a cabeça. —Meg, me
procure se Miles estiver lhe dando problemas. Eu cuidarei disso.
—A seguir, é suposto que você deva recorrer a violência. — Miles
ri. —Então, todos nós sabemos que você é forte.
—Você acha que não vou dar um soco na sua cara? — Drew
pergunta.
—Já fez isso antes. — Miles se vira para mim. —Foi por causa de
um refrão. Eu disse que era genérico e Drew explodiu.
—Foda-se. Era uma melodia incrível. — Drew balança a cabeça.
Sua expressão é dividida entre provocadora e frustrada.
—Não vou mudar de ideia, não importa quantas vezes você me
bata—, diz Miles.
O olhar de Drew parece virar Miles do avesso. Sua expressão muda,
sessenta por cento provocação quarenta por cento frustração. —Porra,
esqueci minha parte favorita deste filme, quando o T-rex come o advogado
de merda.
—Eu ia ser advogado—, Miles informa. —Drew é bem sutil às vezes.
Ele pode ser difícil de entender.
Drew balança a cabeça. Os caras trocam um olhar de
cumplicidade. Eles são até oitenta por cento brincalhões. Mais ou menos.
Me sento no meu lugar, e tento me concentrar na tela. Ainda sinto
o calor das coxas musculosas do Miles.
Vou ajustar minha saia. Instantaneamente, posso sentir seus olhos
na minha pele. Ele está olhando. Em vez de abaixar minha saia, deixei
subir um centímetro, e observo suas reações.
Seus olhos azuis se arregalam. Ele me quer.
Eu o quero.
Talvez, realmente consiga fazer isso.
Capítulo 5

Nunca prestei tão pouca atenção no meu filme favorito. De alguma


forma, é menos interessante do que os dedos do Miles roçando no meu
pulso.
Não passa disso durante o filme inteiro. Ele passa as pontas dos
dedos ao longo do interior do meu pulso.
Ordeno a mim mesma, que me afaste do seu toque, mas não
consigo fazer isso. A sensação da sua mão é muito boa.
O filme termina com o T-rex atacando os Raptors. Os créditos
rolam. As luzes acendem. Miles puxa a mão de volta ao colo, sem dúvida
jogando bem, agora que seu amigo protetor está vendo.
—Com licença. — Saio da cadeira, e vou para o banheiro. Sempre
tenho que fazer xixi depois de um filme. Neste momento, é uma boa hora
para recuperar o controle do meu juízo.
Mal conheço o Miles. Mas, sei que ele é a única coisa que me faz
esquecer o quanto sinto falta da minha irmã mais velha.
Vale a pena correr o risco. Se descobrir como amenizar quaisquer
complicações.

Kara, Drew, e Miles estão esperando fora do cinema.


Miles bate seu ombro no meu. O simples gesto acende meu corpo.
—Por que você não leva a Kara para casa? — Miles diz para o Drew.
—Vou passear com a Meg.
Um olhar defensivo se espalha pelo rosto do Drew. Kara me lança
um olhar quase de por favor.
—Sim, estava dizendo ao Miles sobre o ótimo lugar próximo do meu
apartamento para tomar chá de bolhas. Só fica aberto até as três, então
é melhor nos apressarmos—, digo.
—Certo. — Miles pega a dica imediatamente. —Nos vemos mais
tarde.
Drew olha para mim. Mais uma vez, sua expressão é partes iguais,
brincalhona e protetora. —Se Miles te der algum problema, me diga. Eu
cuidarei disso.
Tento rir disso. —É só um chá de bolhas. — Pego Miles pela
camiseta e o puxo na direção do meu apartamento.
E pego a primeira à direita. É mais rápido permanecer na rua
principal, mas prefiro não arriscar, que Drew ou Kara tenham a ideia de
vir com a gente.
As ruas laterais estão escuras. A essa hora da noite, a única
iluminação vem da lua. Tenho que me concentrar para evitar tropeçar na
calçada irregular.
Miles caminha ao meu lado. —Você tem a mesma impressão que
eu?
—Duvido disso.
—Da sua amiga e do meu. Ele precisa transar, e está olhando para
ela da maneira que um cachorro olha para um osso.
—Eles são apenas amigos.
Miles encolhe os ombros. —Duvido.
—Por quê?
—Você não os notou se comendo com os olhos?
—Não notei. Só que ... ela diz que são apenas amigos. E não tenho
nenhum motivo para duvidar dela. — Viro no próximo cruzamento. Meu
apartamento fica a cerca de quatro quarteirões de distância. Não é uma
tonelada de tempo para pensar nisso.
—Gosto da sua saia—, ele afirma.
—Obrigado.
—Você a vestiu para mim?
—Nos seus sonhos.
Uma risada escapa dos seus lábios. —Ah, não, já sonhei com você,
e foi muito mais divertido.
Meu coração bate forte contra o peito, mas não vou demonstrar. —
Você não sonhou.
—Sonhei. E por acaso... — ele chega mais perto — você estava
usando algo parecido com essa saia.
Pressiono meus joelhos juntos.
—Só sem calcinha.
Respiro profundamente. Ele só está fodendo comigo. É uma
história. —Não acredito em você.
—Não guardei meus lençóis pegajosos.
Meus pulmões falham. Eles deveriam estar inspirando e expirando,
mas continuam. —Você não... Você está apenas flertando.
—Não. Já passamos desse ponto. — Ele tira meu cabelo dos
ombros. A voz dele baixa. Está baixa e sincera. —Você me quer, e quero
você. Não há razão para esconder isso.
Ele arrasta as pontas dos dedos sobre meus ombros. Meus quadris
se movem. Aperto minhas coxas, enquanto ele puxa as alças da minha
regata.
A expressão em seus olhos com sinceridade. Ele ainda está calmo,
mas não está totalmente descontraído.
—Tudo bem. — Concordo. Eu o quero, e posso dizer que ele me
quer. —O que isso quer dizer?
Miles olha nos meus olhos. —Depende de você. Não vou forçá-la a
fazer nada que não queira.
—Ah.
—Se você não estiver pronta, vou levá-la para casa. Só isso.
O sigo até a próxima esquina. Agora, apenas dois quarteirões. —E
se eu estiver pronta?
—Então, farei que você goze com tanta força que esqueça o seu
nome.
O elevador nunca pareceu tão lento. ou menor. Miles está a um
metro de distância, mas parece três centímetros. Tenho que responder a
sua proposta.
Quase pulo no tlim. Quase caio quando entro no corredor. São
cinco metros até a minha porta.
Dez.
Cinco.
Zero.
Pego minha chave da bolsa, e a deslizo na fechadura.
Miles se aproxima, me prendendo na porta. Seu peito está contra
as minhas costas. O calor do seu corpo me deixa em chamas.
Isso já é intenso como o inferno.
Miles passa os dedos pela minha bochecha. —Você tomou sua
decisão? — Seus dedos descem pelo meu pescoço e ombros.
Não entendo. Como ele pode ter um toque tão doce, quando age
como se não desse a mínima para nada?
Ele coloca meu cabelo atrás da orelha. —Vire-se.
Solto a chave, e viro. Meus olhos encontram os dele. Ele está me
olhando, dentro de mim, através de mim.
Eu o quero.
Quero fazer isso.
Miles pressiona sua mão na parte inferior das minhas costas,
puxando meu corpo contra o dele. Nossos estômagos, nossas virilhas,
nossas coxas se conectam. Nossos lábios estão a quinze centímetros de
distância. Depois três.
Meus olhos se fecham, enquanto nossos lábios se juntam. Há
muito tempo que não beijo alguém. Deixo-o conduzir. Começa suave, um
beijinho, daí, ele está chupando meu lábio inferior.
Porra, ele é uma delícia. Eu gemo. Derreto no seu toque, o deixando
puxar meu corpo para mais perto.
Sua língua desliza na minha boca. Ele mexe seus quadris, me
prendendo contra a porta.
Ele está duro.
O calor se espalha através de mim como fogo selvagem. Preciso
fazer isso. Agora.
O Miles quebra o beijo, e dá um passo para trás. Isso me dá espaço
para pensar, respirar. Mas eu não quero pensar. Quero o corpo dele
contra o meu novamente.
Respiro lentamente. —Eu quero fazer isso, mas não se for uma
garota cujo nome você não se lembra.
Ele olha de volta para mim. —Não gosto de relacionamentos.
—Eu também não. Mas ... não quero ser mais um entalhe na sua
cabeceira da cama.
Sua expressão suaviza. —Nós somos amigos, né?
—Algo assim.
—O Sinful Serenade estará em Los Angeles até o fim do ano.
Estamos gravando nosso novo álbum. Seria bom ter algo constante.
—Então, sou conveniente?
—Não. Você é sexy. E, diferente. — Seus olhos passam por mim
lentamente. —A maioria das garotas se matam tentando me
impressionar. Você não.
—Isso é tudo o que é preciso para conquistar você?
Ele encolhe os ombros. —Poderíamos ser amigos com benefícios.
—Monogâmico?
Ele concorda.
—Mas você dorme com uma garota diferente todas as noites.
—Apenas na maioria das noites. — Ele mexe, pressionando seus
quadris contra mim novamente. —Não faço jogos, Meg. Se você não
estiver interessada, me diga.
—Não, eu estou. Mas eu...— Meus olhos vão para o chão. —Eu
nunca fiz isso antes.
Ele passa os dedos pelo meu cabelo. —Podemos ir devagar.
—Não. Eu quero fazer isso.
Ele ri. —Você está ansiosa.
—Você está duro.
—Exato. — Ele segura meu quadril com a palma da mão. —Deixa
que eu conduzo. Vou te ajudar com isso.
—OK. — Respiro fundo.
Parece impossível, mas, estou prestes a fazer sexo com Miles. Isso
vai acontecer.
Destranco a porta e a abro. —Entre.
Miles tranca a porta e pressiona as costas contra ela. Seus olhos
passam por mim, me despindo.
O calor se acumula entre as minhas pernas. Preciso me acalmar.
Preciso ter certeza de que estamos na mesma página sobre esse assunto
de amigos com benefícios.
Vou até a pia, e sirvo dois copos de água.
Miles está de pé ao lado da cama. Não que haja outro lugar para
ficar. Entrego um copo para ele e bebo o outro.
A bebida morna não contribui para controlar o calor que corre
através de mim.
Respiração profunda. Consigo fazer isso. —Tenho algumas
condições. Tenho certeza que você também.
Ele concorda. —Manda.
—Quero total honestidade. Sem segredos. Sem mentiras. Sem
nenhuma enganação.
Ele toma um longo gole. —Não quero que você tenha ideia errada.
Isso não vai se transformar em um relacionamento de namorado/
namorada.
—Ótimo. Não quero um namorado. Durante a semana, mal tenho
tempo para estudar. E... — Não vou contar a ele sobre a Rosie. Não agora.
— Não quero esse tipo relação com ninguém. — Não quero confiar em
ninguém o suficiente para me levar pro mau caminho.
Ele coloca o copo de água no balcão, e se aproxima. As pontas dos
dedos dele roçam meus ombros. —Você parece uma boa garota.
—Não, eu não sou.
Ele ri. —Tudo bem. Você está um pouco defensiva, e é muito
grosseiro você presumir que nunca me magoei. — Ele arrasta as pontas
dos dedos sobre o meu queixo. —Gosto de você. Mas, você nunca será
minha confidente. Você nunca será o ombro onde choro.
—Você chora?
Seus lábios se curvam em um sorriso. Ele pressiona a palma da
mão na minha parte inferior das costas. —Honestidade, certo?
—De nós dois.
—Não choro faz tempo. Você?
—Não posso dizer o mesmo.
Sua voz suaviza. Ele me puxa para mais perto. —Eu não sou um
monstro. Não quero te machucar.
—Você não vai. Não, se você for honesto.
A dúvida surge no seu rosto. Ele dá um passo para trás, puxando
a mão para o lado. —Olha, essas condições, elas me preocupam. Me
fazem pensar, que você está procurando mais do que apenas se divertir.
Pressiono meus dedos no meu copo. —Agora você é a pessoa que
está presunçosa.
—É justo. — Seus olhos encontram os meus. —Ok, concordo com
total honestidade. Mas, tenho minha própria condição. No momento em
que você criar sentimentos por mim, isso acaba.
—E se você criar sentimentos por mim? E se você se apaixonar por
mim? — Puxo minha saia. — Isso é possível?
Sua voz está normal e calma. —Não.
—Que seja. — Meu temperamento se inflama. De onde ele tira
coragem? Como ele pode ter tanta certeza de que nunca sentirá nada? —
Vou te dizer se criar sentimentos por você.
—Você é fofa quando fica desconcertada.
—Foda-se. Você não é fofo quando age como se nada importasse
para você.
—É um elogio.
—Não para mim. —Isso de estarmos na mesma página, é
importante para mim.
—Pra mim também.
—Somos amigos com benefícios e não mentimos um para o outro.
— Ele pega meu copo das minhas mãos, e o coloca no balcão. —E você
me dirá se desenvolver sentimentos por mim.
Ele oferece uma mão para apertar.
Apesar da palma da mão suada, seguro sua mão com firmeza.
Damos um aperto.
E, pronto.
Miles é meu amigo com benefícios.
Miles, deus do sexo e astro do rock, é meu amigo com benefícios.
Capítulo 6

Estou em chamas.
Chegamos a um acordo. Somos amigos com benefícios. Estamos
prestes a fazer sexo.
Por que ainda estamos conversando? Por que ainda estamos
vestidos?
Miles é infinitamente paciente. Ele se aproxima. Até estarmos
pressionados um contra o outro. Seus olhos encontram os meus. As
alegações desaparecem, enquanto ele traça o decote da minha regata. —
Já teve conversa suficiente?
Concordo.
—Também acho. — Ele tira as alças da minha blusa dos meus
ombros. Lentamente, ele rola o topo para o meu estômago. —Estive
pensando nisso a semana toda.
—Você pensou?
—Sim. — Ele traça o contorno do meu sutiã. Seus olhos se abrem.
—Primeira vez que passei uma semana sem sexo há muito tempo.
Minha respiração engata. Porra, seu toque é bom. —Por minha
causa?
—Sim. —Sua voz baixa. —Não seria certo foder outra garota se
estava pensando em você.
Ele desliza o polegar no meu sutiã e o usa para provocar meu
mamilo.
Deixo escapar um forte suspiro. Minhas costas arqueiam. Minhas
mãos vão direto para os ombros dele. Tenho que fazer alguma coisa para
me equilibrar.
Ele faz círculos lentos com o polegar. Eles ficam mais rápidos, mais
duros. Cada toque de seus dedos envia disparos de prazer pelo meu
corpo. Já fiquei com caras antes, já senti isso antes. Mas, nunca foi nem
perto disso.
Eu gemo. Não sei o que dizer, como devo reagir aqui. Olho nos olhos
dele, para poder seguir sua liderança.
A única coisa em seus olhos é desejo. Não há presunção em sua
expressão. Ele não está arrogante, informal ou distante.
No momento, ele está sem pretensões.
Tento me livrar do meu impulso de fugir da intimidade. Minhas
pálpebras se fecham. Faço que sim. Não sei o que estou pedindo, apenas
que preciso imediatamente.
Miles abre meu sutiã. Lentamente, ele o rola sobre meus ombros.
Ele solta um gemido baixo. —Seus seios são incríveis.
Eu coro, piscando meus olhos abertos para que possa olhar para
ele. Seus olhos estão fixos no meu peito, como se fosse a melhor coisa
que ele já viu.
Ele leva uma mão ao meu quadril, e puxa meu corpo para o dele.
É bom estar perto dele. É aterrorizante como é bom. Como se
desenvolvesse um vício.
Mais uma vez, fecho minhas pálpebras. Tento não fugir das reações
que ele está causando. Ele segura meu seio, provocando meu mamilo
com o polegar.
A parte de trás das minhas pernas pressionam contra a cama. O
desejo se acumula no meu núcleo. Porra, isso é incrível. Solto um gemido.
E me inclino no seu toque.
Ele continua provocando meu mamilo. Justo quando acho que não
aguento mais, ele se move para o meu outro seio.
Meus dedos cravam nos seus ombros. Em seguida, são minhas
unhas. O que devo fazer aqui?
—Você está nervosa—, ele sussurra.
—Não é nada.
Sua voz suaviza. —Vou devagar. — Ele pressiona seus lábios no
meu pescoço. —Eu a guiarei. Relaxa.
Concordo.
Suas mãos vão para os meus quadris. Ele me senta na cama.
Ponho minhas mãos ao lado, mantendo o equilíbrio para ficar em reta.
Miles se ajoelha. É a mesma posição em que estávamos quando ele
cuidou de mim.
Minha respiração engata. Quero que isso vá mais rápido. Quero
suas mãos debaixo da minha saia.
Ele separa meus joelhos, e se coloca entre eles. Não é o suficiente.
Suas mãos estão na cama, não em mim.
Respiro fundo. É ele que está conduzindo. Consigo aguentar isso.
Ele olha para mim, verificando. Concordo que sim. Agora. Por favor.
Miles traz a boca para o meu mamilo.
Porra. É macio, úmido e quente.
O prazer me domina. Minhas mãos vão para o seu cabelo castanho
bagunçado, enquanto ele me chupa. Caramba, isso é tão bom, que mal
consigo me manter reta. Puxo seu cabelo.
Seu gemido ecoa contra a minha pele. Ele quer isso. Ele me quer.
Miles beija o caminho para os meus lábios. Sua língua mergulha na
minha boca. Suas mãos se movem para as minhas coxas.
Abro minhas pernas. Arqueio minhas costas. Estou praticamente
me oferecendo para ele. É assustador o quanto meu corpo quer o dele, a
forma como toma conta de tudo.
Mas, é bom pra caralho.
Ele aceita o convite. Suas mãos deslizam sob a minha saia. Seus
dedos roçam na minha calcinha.
Ninguém nunca me tocou antes, não ali. É avassalador. Estou
zonza de desejo.
caio de costas, relaxando na cama, relaxando ao seu toque. Então,
ele está na cama. O seu corpo está próximo ao meu.
Deslizo minha mão sob sua camiseta. A pele macia cobre os
músculos duros. É bom tocá-lo. Quero mais. Quero tocar cada centímetro
da sua pele.
É assustador, o quão desesperadamente quero cada centímetro da
sua pele.
Levo um tempo explorando as linhas do seu peito. Ainda estou
zonza. Não sei de que lado é para cima ou para baixo, só que quero que
ele conduza.
Seus lábios encontram os meus. Ele puxa minha calcinha para os
meus joelhos.
Lentamente, meu corpo assume o controle. Meus joelhos se
afastam. Minhas mãos vão para os quadris dele.
Meus pensamentos se afastam. Pela primeira vez, nada dói. Pela
primeira vez, só sinto prazer.
Seus dedos provocam meus mamilos, depois estão no meu
estômago, depois estão abrindo o botão da minha saia, a deslizando pelos
quadris, passando pelos joelhos, até os pés.
Estou nua. Estou nua com um homem que mal conheço. E, quero
muito estar aqui.
Não estou tímida ou preocupada que não sou boa o suficiente.
Estou em chamas.
Ele geme de prazer enquanto arrasta as pontas dos dedos sobre a
minha coxa.
Mais próximo.
Mais perto.
Ali.
Seus dedos roçam meu clitóris. Porra, sim.
Seus olhos ficam em mim, estudando minhas reações. Aceno.
Ele arrasta os dedos sobre mim, provocando meu sexo. —Porra,
você já está molhada.
Solto um gemido.
Miles desliza um dedo dentro de mim. Respiro fundo. É intenso,
mas posso lidar com isso.
Então, ele desliza outro dedo dentro de mim.
Mordo meu lábio. Puxo seu cabelo. Ele demora em deslizar os dedos
mais fundo.
Mais fundo.
Não me importo com o quanto ele se gabará quando terminarmos.
Isso é bom demais. Tenho que gemer.
Arqueio minhas costas para empurrar os dedos mais fundo. É
diferente, ter seus dedos dentro de mim, mas, é uma diferença muito boa.
E quero mais do que os dedos dele. O quero dentro de mim.
Miles traz seus lábios aos meus. Ele beija com intenção. Porra, seu
beijo é quente, agressivo.
Pouco a pouco, ele se move mais fundo, mais rápido, com força. O
prazer se espalha pelas minhas coxas. Estou quase lá. Mas, a pior coisa
imaginável acontece.
O telefone toca.
Não é o meu toque. Deve ser o dele. Ele geme de prazer. —Ignore.
— Ele desliza o polegar sobre o meu clitóris.
A sensação me domina. O nó da pressão é extremamente intenso.
É melhor do que qualquer coisa que já senti antes.
Mas esse telefone estúpido ainda está tocando.
Aquela voz dentro da minha cabeça está gritando. E se for
importante? E se alguém precisa de você, e você chegar tarde demais, de
novo?
Meu corpo fica tenso.
Miles puxa a mão de volta para o seu lado. Sua postura muda, tão
tensa quanto a minha. —Você está bem?
Balanço a cabeça. —O telefone. Você deveria atender.
—Você está prestes a gozar, e você prefere que eu use minhas mãos
para atender o telefone?
Concordo. —Você duvida da sua capacidade de me trazer de volta
aqui?
—Não, mas vou gritar, se não estiver logo dentro de você.
O ar escapa dos meus pulmões. Deus, isso parece incrível. Mas não
se algo estiver errado. Não se alguém precisar de nós.
Ele se levanta da cama com um suspiro pesado. Isso é tão doloroso
para ele quanto para mim.
Ele pega o telefone do bolso e olha para a tela. Balança a cabeça.
Atende. —Sim. — Sua voz está tensa. Como se ele mal pudesse pensar,
muito menos falar. —Me dê uma hora. — Ele suspira. —Tudo bem. Mas
não consigo me tele transportar. Levará pelo menos meia hora. — Ele
termina a ligação, e coloca o telefone no balcão da cozinha. Seus olhos
encontram os meus. —Não precisa se preocupar. Só um pouco drama na
casa em Hollywood.
—E você estará lá em meia hora?
—Perto disso.
—Você realmente acha que vamos ... em trinta minutos?
Ele balança a cabeça. —Não é tempo suficiente para fazer isso bem.
—Ah. — De repente sinto frio, exposta, e não está nada bem. Estou
nua e Miles ainda está vestido. Ele não fez questão em tirar uma única
peça de roupa.
—Acho que você está indo embora—, digo.
Esse relacionamento, acordo, seja o que for, já começou com o pé
esquerdo.
—Odiaria ir embora sem fazer você gozar—, ele diz.
Seus olhos encontram os meus. Aperto minhas coxas, e deslizo de
volta na cama, até ser pressionada contra a cabeceira.
Respiro fundo. Relaxa, caramba. Não posso deixar que ele tenha
tanto poder sobre mim.
Considero pedir para ele ir. Posso terminar isso sozinha. Não vai
ser tão divertido, mas também não vai me deixar confusa.
Sua expressão é muito sincera. Ele parece arrependido, realmente
arrependido. Dou conta do recado.
—Você tem aqui um grave problema de tempo—, digo.
Ele sorri, se senta na cama e posiciona seu corpo próximo ao meu.
Ele parece quente, duro ao toque.
Suas pontas dos dedos roçam meus mamilos. Fico excitada na
hora. Cada centímetro da minha pele queima pelo seu toque.
Miles se senta, as costas contra a cabeceira da cama, suas pernas
esticadas na cama. Ele puxa meu corpo para o dele, meus joelhos por
fora dos seus quadris, então, estou montando nele.
Nossos olhos se conectam. Não sei o que sua expressão quer dizer,
só que gosto dessa intensidade.
Me ajeito na posição. Posso senti-lo através da calça jeans. Ele está
duro. Porra, quero isso.
Mas, isso também serve.
Ele olha para mim. Uma mão envolve meu pescoço. Guiando-me
para um beijo profundo. A outra desliza entre as minhas pernas.
Nada mais é do que ele me dando prazer. Vou aproveitar.
Sua língua desliza na minha boca, enquanto seu polegar desliza
sobre o meu clitóris. Retribuo o beijo com força. É um apelo desesperado
para ele continuar.
Seu toque ainda é paciente. Suave. Então, mais forte. Mais forte.
Perfeito. Gemo, e cavo minhas unhas nos seus ombros.
Ele me lê como um livro, me esfregando com a mesma pressão, a
mesma velocidade.
Porra, sensação boa.
Estou tão perto.
O beijo, como se essa fosse a única chance que terei de beijar
alguém.
A tensão entre as minhas pernas aumenta a um passo da loucura.
É intenso. Mal posso aguentar.
Quase.
Lá.
Com seu próximo golpe, gozo. O prazer se espalha pelas minhas
coxas. É um grande orgasmo. Diferente do que quando estou sozinha.
Melhor.
Cavo minhas mãos pelos seus cabelos. Fecho reflexivamente
minhas pernas com força. A mão dele ainda está entre elas. A mão dele
ainda está em mim.
Ele não vai parar.
Ele me acaricia de novo. Novamente. Seus lábios continuam
pressionados contra os meus. Chupo sua língua. Perco a noção do meu
corpo, arqueando, apertando e derretendo exatamente onde preciso.
Seu toque fica mais forte. Mais rápido. Já estou quase lá. Grito alto,
o suficiente para acordar os vizinhos.
E gozo de novo. Toda aquela tensão no meu corpo libera uma
perfeita onda de prazer. Exalo cada grama de ar nos pulmões.
Derreto na cama. Estou encharcada. Estou disforme.
Miles olha para mim. Seus lábios se curvam em um sorriso. Não
sei se é orgulho ou presunção. Difícil de dizer. Neste momento, é difícil
dizer em que dia ou mês estamos.
Ele me dá um beijo de despedida. —Porra, Meg. Acho que não
preciso perguntar se você sentirá minha falta. — Ele desliza da cama. —
Meu pau não vai me perdoar por ir embora.
Abafo um sorriso.
—Vou compensar você da próxima vez. — Ele pega suas coisas, e
dá um passo em direção à porta. —Bons sonhos.
—Pra você também. Depois que você chegar em casa, claro.
Ele acena ao sair pela porta.
É preciso toda a energia que me resta - quase nada -, mas, me
arrasto para fora da cama, para trancar a porta, escovo os dentes, visto
um pijama, e desmaio na cama.
Miles me levou ao orgasmo. Duas vezes. Os dois orgasmos mais
incríveis da minha vida. E agora, ele está a caminho de casa.
Respiro fundo, mas a calma que tive há pouco, me escapa. Somos
amigos com benefícios. Nada como namorado/namorada.
Nenhuma razão para que eu sinta falta dele.
Não tem motivo para ter uma sensação desconfortável no
estômago. Já é tarde. Estou cansada. Não comi quase nada no jantar.
É isso. Tem que ser isso.
Capítulo 7

— Querida, os filmes do Futurama não contam como filmes—, Kara


diz —Vou deixar você escolher, porque te amo, mas você tem que saber
que é uma grande besteira.
—Você é tão exigente.
—Foi você quem teve a ideia de revezar. Não dou a mínima.
Podemos assistir ficção científica toda semana. Qualquer coisa, exceto
Battlestar Galáctica.
Meu telefone vibra. Tento o ignorar. É difícil. Não tive notícias do
Miles desde que ele saiu tarde da noite do meu apartamento, era
tecnicamente madrugada de sábado.
Faz mais de vinte e quatro horas.
Bato meus dedos na tela do meu celular. —Não é culpa do show,
que todos te chamavam de Starbuck no ensino médio.
Ela observa minhas batidas, e levanta uma sobrancelha. —Você vai
checar suas mensagens?
—Não deve ser nada.
—Uh-huh. — Ela balança a cabeça e vai para a cozinha. — Frosted
Flakes ou Cocoa Puffs?
—Ambos.
Eu e Kara temos uma rotina semanal. Brunch no domingo. Deveria
ser para dever de casa, mas, na maioria das vezes assistimos filmes,
comemos cereais diretamente da caixa, e bebemos quantidades de
cafeína clinicamente insanas.
No último ano, nossas reuniões semanais foram as únicas vezes,
que eu não estava estudando. Estava tão focada naquele estúpido MCAT
(Exame Admissional para Faculdade de Medicina). Era a única coisa que
prestava atenção. Foi por isso que deixei passar. Quando Rosie me disse
que estava bem, mesmo que aquela sensação desconfortável no meu
íntimo, gritasse que ela estava mentindo.
Meu telefone vibra novamente.
Sei que é o Miles. Ele e a Kara são as únicas duas pessoas que me
mandam mensagem. Mas, não quero ficar desesperada para virar o
telefone. Não quero que ele tenha o poder de me deixar tensa.
Meus dedos seguram o telefone. Quero ler sua mensagem. Preciso
saber o que ele está falando.
Debloqueio o celular.
Miles: Está com alguma dor?
Meg: Não. Estou bem.
Miles: Só bem?
Meg: Apenas bem. Estou estudando.
Mais ou menos.
Kara cai ao meu lado. Ela me entrega uma lata de chá verde, e uma
tigela de pipoca com cobertura de açúcar e cacau. Abro minha lata e tomo
um longo gole.
—Terra para a Meg? — Ela bate no meu ombro. —É quem penso
que é?
—Estamos só conversando.
—Isso é uma grande mentira. — Seus olhos parecem sinceros. —
Você tem algum detalhe para compartilhar?
—Estou cuidando disso.
—Que diabos isso significa?
—Significa que posso cuidar disso.
Ela me encara como se estivesse me desafiando a dizer a verdade.
—Se não conseguir, falarei com você, — digo.
Ela brinca com sua camiseta. —Depois do que aconteceu com a
Rosie, não quero ver você se machucando novamente.
Meu olhar volta para o telefone. —Ficarei bem.
Ela estuda a minha expressão por um longo momento, antes de
falar. —Se você vai trocar mensagens durante todo o maldito filme, vou
pôr alguma coisa que eu goste.
—Tudo bem.
—Algo com legendas.
—Vá em frente.
Ela balança a cabeça como se eu não tivesse esperança. Mas, ainda
assim, volto para o meu telefone.
Miles: Temos um show na próxima semana. Por que você não vem?
Então, você pode vir e vir e vir.
Miles: São três. Mas, três é o mínimo.
Viro meu telefone e o coloco no bolso. —Tem um show da Sinful
Serenade no próximo fim de semana?
Kara toca no controle remoto, dando início a algum filme
independente, com um cenário escuro e uma trilha sonora minimalista.
Ela levanta uma sobrancelha como se estivesse me desafiando a explicar.
—Sexta-feira. Começa enquanto você está no trabalho, mas eu posso
esperá-la.
Balanço a cabeça. —Vou de ônibus.
—Você não pode pegar o ônibus para Hollywood tão tarde. Nem
pensar. Venho te pegar.
—Você vai perder...
—Está decidido—, ela disse. —E, você me mandará uma mensagem
se decidir sair com alguém?
—Prometo.

Meu turno no pronto-socorro termina as dez em ponto. Às 10:05,


estou no carro da Kara, em um de seus vestidos colados, aplicando
maquiagem com a mão trêmula. Delineador preto, batom escuro, muito
blush. Uma das vantagens de ter características dramáticas, é que posso
usar muita maquiagem.
Passo um pente no meu cabelo bagunçado. Não adianta. Melhor
deixá-lo num rabo de cavalo apropriado para o trabalho.
Pelo menos o vestido é bonito. Um pouco curto para minhas pernas
longas e, eu certamente não o preencho bem, mas parece melhor do que
eu esperava, considerando os vinte e cinco centímetros que sou mais alta
que Kara. Ou os quatro números no sutiã que ela tem sobre mim.
Olho novamente as mensagens sedutoras com a promessa de
Miles.
Miles: Temos um show na próxima semana. Por que você não vem?
Então, você pode vir e vir e vir.
Miles: São três. Mas três é o mínimo.
Não estou sonhando. Isso está realmente acontecendo.
Kara estaciona a duas quadras do local, num parquímetro
quebrado. Ela sorri. —Vamos lá.
Respiro fundo, puxando toda a confiança que consigo. A
caminhada até o local quase me destrói. Nem sequer são saltos finos. São
plataformas, sandálias anabelas, mas, mal consigo me mover nelas.
Kara dá nossos nomes ao porteiro. Estamos na lista. Nunca estive
em uma lista antes. Nunca estive em nenhum lugar que precisasse de
uma lista.
Tento canalizar a fria indiferença do Miles, mas falho. Estou na
corda bamba. Meu vestido está muito apertado. As pessoas realmente
vão à boate por diversão? Me sinto perdidamente deslocada.
Até ouvir a voz dele.
É um gemido baixo, não são palavras reais, mas ainda tenho
certeza, de que o Miles é o cara que está cantando. O que significa que a
Sinful Serenade está no meio de uma música.
O som ecoa em torno do teto alto. Fica mais alto, à medida que
entramos no clube. Uma guitarra vibra. A bateria bate. A linha do baixo
pulsa. A energia da música flui pelo ambiente.
Deve ter trezentas ou quatrocentas pessoas espremidas, num
espaço destinado a muito, muito menos. Em sua maioria garotas, a maior
parte gritando a plenos pulmões.
Tudo está escuro, quase preto, exceto as luzes brancas brilhantes
do palco.
Miles fica na frente do palco, com os dedos em volta de um
microfone, os olhos fechados como se ele estivesse sentindo a música tão
profundamente, que não aguentasse mantê-los abertos.
Toda a minha atenção está no Miles. A voz dele é linda. Não só bela.
É rouca, gutural e ferida pra caramba. Cada palavra sai com mil quilos
de força emocional por trás. É como se a voz dele estivesse penetrando
através da minha pele e ossos, até a minha alma. É como se sentisse o
que o fez escrever esta canção.
Dói. Não tanto quanto In Pieces, mas o bastante.
A música termina. Não há pausa. A Sinful Serenade transita para
a próxima canção. Esta é mais rápida, mais dura, mais alta. É mais
otimista, mas ainda há uma corrente de mágoa na voz do Miles. Eu capto
algumas das letras. Elas são lindos pedaços de poesia.
Neste momento, ele não é arrogante, presunçoso ou distante. Seu
coração está nas suas palavras. A dor na sua alma está nas suas
palavras.
Meu peito está pesado. Estou sofrendo com ele.
Fecho os olhos e, me perco na sua voz. Tem tanto som ao nosso
redor: os gritos, a guitarra, o baixo, a bateria, mas tudo o que consigo
ouvir é o Miles. É como se ele estivesse cantando para mim.
A música acaba. Abro os olhos, assustada com o rápido retorno à
realidade. O lugar parece mais escuro e brilhante ao mesmo tempo. Miles
parece mais próximo.
O cantor sorri para a plateia com a mesma expressão arrogante em
seu rosto. Ele acena, e sopra um beijo. Uma dúzia de garotas gritam, na
certeza de que sua adoração é para elas.
Ele olha para os membros da banda. Não posso dizer que estou
prestando muita atenção nos outros caras. Parecem estar num estado de
felicidade e meditação. São todos sem esforço tão legais.
Miles olha de volta para a plateia. —Gostaria de dedicar a próxima
música a uma garota muito especial. Não sei se ela pensa bem de mim,
mas Meg, também escrevi essa música.
O baterista bate as baquetas com força nos pratos da bateria. —Só
cante, Romeu.
Miles manda para o baterista um sorriso doce, e seguida, manda
um beijo para ele. Deve ser algum tipo de piada interna. O baterista
balança a cabeça, se levanta e tira a sua camiseta.
Os gritos são tão altos, que nem consigo pensar. A multidão gosta
dele sem camisa. Elas gostam muito.
Não as posso censurar. Ele é um cara atraente: cabelos loiros
escuros ondulados, corpo esculpido, uma tatuagem com grossas linhas
negras no peito e serpenteando pelo braço.
Perto de mim, Kara ri. Ela está encarando Drew, como se esperasse
que o strip-tease desencadeasse algum tipo de reação em cadeia. Não ligo
para ela.
Miles puxa a parte de baixo de sua camiseta, provocando a
multidão a um coro de aplausos. Caminha até o baixista de cabelos
escuros igualmente bonito, e entrega a ele o microfone.
É injusto, ter quatro homens atraentes tão próximos. Não existe
uma mulher viva capaz de resistir aos quatro.
Os olhos do Miles voltam para a plateia. Se não o conhecesse bem,
juraria que ele está olhando para mim. Juraria que ele está fazendo isso
apenas para o meu benefício.
Ele puxa a camisa mais alto, mais alto, mais alto. E então, passa
pela cabeça dele, e no chão.
Mal tem um centímetro de gordura no seu corpo. Ele tem um
tanquinho. E, aquelas linhas em V. Elas tornam difícil pensar. As
tatuagens coloridas que decoram seu peito e braços, fazem meu cérebro
delirar, ele é um tesão.
Miles arrasta as mãos sobre o peito esculpido, como se não pudesse
suportar o quão sexy ele é.
Os aplausos são ensurdecedores. Miles Webb é certamente o objeto
de desejo. Difícil culpar as garotas olhando para ele com os olhos
arregalados e os queixos caídos. Sem dúvida, haverá uma dúzia de
calcinhas no palco até o final da música.
Ele poderia ter qualquer mulher que quisesse e, ele quer a mim.
Ele me fez gozar.
Ele vai me fazer gozar novamente. Três vezes. Ele prometeu três
vezes.
Miles pega o microfone de volta. —Está quente aqui, ou sou só eu?
— A multidão grita.
—Então sou só eu? — Ele pisca para a multidão. Ele aponta para
o guitarrista e depois para o baixista. —Faltam apenas duas músicas.
Acha que conseguimos ficar sem camiseta e de cueca até o final do show?
Há outro par de aplausos. Todos os caras da banda têm os seus
fãs.
Miles sorri com o mesmo sorriso presunçoso. Ele levanta quatro
dedos, e os usa para a contagem regressiva.
A música começa. É um dos singles deles. Toca no KROQ, mas não
com a mesma frequência que In Pieces. Tem um toque de guitarra
habilidoso, uma batida pulsante e, é claro, uma melodia vocal perfeita.
Kara aperta minha mão. Não consigo desviar o olhar do Miles, para
ver sua expressão. Sem dúvida, ela também está em êxtase. Aperto de
volta. Mexo meus quadris com a música. Grito. Apenas mais um fã. Só
mais uma garota que quer aquele garoto sexy no palco, o qual ela nunca
terá.
Só que posso tê-lo. Eu já o tive.
A música muda para a próxima. A última música, de acordo com a
afirmação anterior do Miles. Tem um quê de adeus. É como se todos
estivessem tocando com força. Miles vai com tudo com seus vocais. Ele
não está no modo presunçoso, não está flertando com a multidão. Ele
está lá, na música, no momento que o fez escrever essa música.
É fascinante, sexy e assustador ao mesmo tempo. O Miles é mais
do que um bad boy estrela do rock. Deve ser, ou ele não estaria tão
perdido nas suas palavras.
A música termina com um coro de gritos e aplausos. Os caras da
Sinful acenam adeus. Miles faz uma reverência. O baterista sopra beijos.
Ele até coloca a mão na orelha para fazer o movimento me liga. Eles saem
do palco, e um assistente recolhe suas camisetas descartadas.
Kara me afasta da multidão principal. Ela dá nossos nomes ao
segurança que guarda a área dos bastidores. Ele nos deixa passar.
O pequeno espaço está cheio de equipamentos. Existem outros
músicos aqui, deve ser os do show da abertura, mas, a maioria deles
estão ocupados em absorver a veneração das fãs. Um deles está aos beijos
contra a parede. E, Deus, ele está recebendo uma punheta.
Acho que eles não chamam isso de sexo, drogas e rock em roll, em
vão.
Tem uma porta escrito Sinful Serenade. Está bem menos ocupado
que o resto da área dos bastidores. Drew está sentado sozinho no sofá. O
baterista de cabelos claros está cercado por uma nuvem de fãs. Sua
atenção se volta para nós.
Ele acena para o Drew, e depois para a Kara. —Kara, né?
—Você não vai dormir com as minhas amigas. — Drew dispensa o
cara embora. —Então, por que você não faz o Aiden colocar outra das
nossas músicas num comercial, enquanto estou ocupado?
O baterista oferece a mão. —Sou o Tom.
—Meg. — Aperto.
—Prazer em conhecê-la. E vê-la novamente, Kara. — Ele olha do
Drew para mim. —Às vezes, acho que sou a única pessoa da banda que
se preocupa em ganhar dinheiro. — Tom balança a cabeça com
indignação, e retorna para sua nuvem de fãs.
—Querem uma bebida? — Drew pergunta. Seu olhar se fixa em
algo atrás de mim.
—Talvez uma camiseta.
Eu viro. É o Miles, parado ali, de jeans apertado, ainda sem
camiseta. Ele balança a cabeça, mas pega uma camiseta do sofá e a veste.
Miles lança uma piscadela arrogante para o Drew. Não há desafio
ou animosidade, apenas entendimento mútuo. Eles estão provocando um
ao outro.
Drew vai pegar o pulso da Kara, mas ela o puxa para o peito. Ele
olha para ela meio estranho. Ela encolhe os ombros como se não fosse
nada.
—Vamos lá, Kendrick. Você vai perder uma boa tequila.
Ela assente. —Meg, você quer alguma coisa?
Balanço a cabeça. —Não, obrigada.
Ela segue Drew até uma mesa lá atrás, me deixando sozinha com
o Miles. Ou tão bom quanto sozinho.
Ele passa as pontas dos dedos sobre meus ombros expostos. Fico
excitada instantaneamente. É bom estar perto dele. Parecerá melhor sem
o público, sem o espaço entre nós, sem as roupas.
—Gosto do seu vestido—, ele disse.
—Obrigada.
—E, dos saltos também. Garotas altas geralmente têm medo deles.
Minha boca se recusa a formar palavras.
—Aposto que te dão uma vantagem extra, quando você está
pressionada contra uma parede.
Um rubor se espalha pelas minhas bochechas. Abro a boca para
falar, mas ainda não está acontecendo.
Droga, ele está confortável de novo. E, estou nervosa, e desajeitada
novamente.
Isso é demais, muito rápido. Preciso organizar meus pensamentos.
Dou um passo para trás. —Com licença. Mudei de ideia sobre aquela
bebida.
O bar no canto é principalmente de bebidas alcoólicas de todas as
cores. Têm misturadores. Só um me interessa. Suco de toranja.
Verdadeiramente a fruta mais subestimada do mundo: azeda, doce e
acida ao mesmo tempo. Me sirvo um copo grande, e tomo um gole. Não
foi espremida na hora, mas não está mal.
Quero Miles. Tenho certeza disso.
Mas, há outros sentimentos mexendo na minha intuição. Algo além
do desejo. Algo que posso não ser capaz de lidar.
Quando acabo o suco, o espaço está lotado. As pessoas esbarram
em mim, acenam olá, se apresentam em vozes ofegantes, que sugerem
que sou outra garota aqui para distribuir boquetes a qualquer pessoa
com a capacidade de tocar um instrumento musical.
Saio da sala. A área dos bastidores está igualmente atolada. É uma
verdadeira cena de festa, pessoas bebendo com copos vermelhos,
flertando, beijando, compartilhando histórias e rindo a plenos pulmões.
Encontro a porta mais próxima, e a empurro. Ar. Preciso de ar. E, não
preciso estar aqui.
O estacionamento do beco é um terreno baldio asfaltado. Têm
alguns solitários encostados na parede fumando cigarros. Copio a
posição deles, respirando fundo para sugar o máximo de ar possível. Em
vez disso, recebo um monte de fumaça.
Esquece. Vou para a esquina do estacionamento.
Uma garota de minivestido e salto alto acena para mim. —A gente
não morde. — Ela ri, e faz um gesto para me aproximar. Eu vou.
Tem meia dúzia de pessoas circulando em torno de um carro
estacionado.
Um deles, um homem magro de terno, está colocando pó branco de
um saquinho na parte de trás do celular. Ele arrasta um cartão de crédito
através dele, e o ajeita em linhas retas.
Eles estão consumindo cocaína.
Meu coração dispara. Não posso estar perto disso. É assim que
começa. Como tudo começou para a Rosie. Primeiro era o namorado
idiota que a arrastava para festas em que todos estavam desesperados
para subir ou descer. Em seguida, ela estava usando drogas. Rosie nunca
foi do tipo de desistir de um desafio.
Então, ela morreu.
Aconteceu tão rápido. Só entrando no jogo, sendo uma das garotas
legais da festa, e então, ela se foi. Overdose. Morreu.
O cara magro se inclina, trazendo o nariz para a parte de trás do
telefone. E, como num filme, ele cheira a linha.
Ele cheira outra linha, se senta, e esfrega o nariz. Então, ele volta,
varrendo outra linha, e passando a diante.
Meu telefone vibra na minha bolsa. O ignoro. Tenho de vigiar essas
pessoas, para ver o que elas estão fazendo, para ver por que isso tinha
tanto poder sobre minha irmã.
Eles riem. Olham um para o outro com a mais profunda
expectativa, como se mal pudessem esperar para estar no meio da
felicidade. Outra pessoa cheira. O cara magro bate mais duas linhas.
Inala.
Não consigo me mover. Sou uma presa, e estou olhando
diretamente para os faróis.
Atrás de mim um som. Mais alguém está aqui. Talvez, um fumante
desesperado por algo ainda mais forte.
—Meg.
É o Miles.
Sua voz aumenta. —Que porra você pensa que está fazendo?
Capítulo 8

Ele dá um passo na minha direção, mas, ainda estou presa nos


faróis. Quem diabos são essas pessoas, e por que minha irmã jogou sua
vida fora por isso?
Ele está atrás de mim. Posso sentir seu corpo, ouvir sua respiração.
Seus dedos envolvem meu pulso com tanta força, que perco a
sensibilidade na mão.
—Com licença. — Ele me afasta das pessoas, até a calçada do outro
lado da rua. —Você usa cocaína?
Está escuro aqui. Os faróis finalmente se foram. —Não.
—Então, o que você estava fazendo esperando a sua vez?
Não tenho resposta.
Seu punho aperta meu pulso. —Você usa drogas?
Cavo meu calcanhar no concreto. —Isso não é da sua conta.
—Nós somos amigos. É da minha conta.
Cerro os dentes. —Você deixou claro que não somos confidentes.
Ele pega minha mão e me afasta do local. —Olha nos meus olhos,
e me responda. Você usa drogas?
Meu olhar vai para qualquer lado, menos para os olhos dele. —Não.
Eu não uso drogas. — O céu está escuro o suficiente para que possa ver
as estrelas. Tantas estrelas. —Nem gosto de ficar perto de drogas.
—Vou levá-la para casa. — Ele me puxa para a calçada.
Sou a desmancha prazeres, de novo, a garota que não aguenta
festa, a garota que devia estar em casa.
Puxo libertando minha mão. —Não é necessário.
—Você está pálida. Você mal está respirando. — A voz dele fica
séria. —Parece que você viu um fantasma.
Essas pessoas podem muito bem serem fantasmas. Quanto tempo,
até que um deles estejam deitados numa cama de hospital, com o
batimento cardíaco diminuindo a zero?
Respiro bem fundo. —Não foi nada.
—Sem mentiras. Esse é o nosso acordo.
—Acabo de me lembrar de algo horrível. — Abraço minha bolsa
contra o meu peito, para manter o calor no meu corpo. —Não vou falar
sobre isso.
Ele se move. Sua expressão se suaviza. Seus olhos brilham como
se ele estivesse tentando melhorar o humor. —Você quer me dar uma
pista do que aconteceu?
—Particularmente, não.
—Quanto antes você me contar, mais cedo iremos embora, e o
quanto antes você vai me foder.
Minhas bochechas ficam vermelhas novamente. —Você está...
—Não diga que é um sonho, porque nós dois sabemos como são os
meus sonhos. —Ele se aproxima, segurando meu olhar como se estivesse
me desafiando a explicar.
Não preciso falar sobre isso ou, pensar sobre isso. E, não tem como
pensar nisso, se realmente dormirmos juntos.
Então, tudo bem, direi a ele o que for preciso para mudar de
assunto. —Houve alguém na minha vida, que seguiu um mau caminho
com as drogas. Ainda dói, mas não vou falar sobre isso.
—Ah. — Sua voz está suave. Tem um toque de vulnerabilidade nos
seus olhos. —Vou levá-la para casa.
—Você tem que prometer esquecer esse assunto.
—Está esquecido. — Ele me leva pela esquina. Andamos em
silêncio por alguns quarteirões, então, Miles para.
Na frente de uma moto.
Ele tira dois capacetes de um compartimento, e me entrega um.
Então, ele joga uma jaqueta de couro em volta dos meus ombros. —Isso
pode deixar suas coxas um pouco doloridas.
Subo atrás dele, e seguro como se a vida dependesse disso.
Meus nós dos dedos estão brancos. Meus pulsos estão dormentes.
Cada músculo do meu corpo está tenso com o aperto que tenho na
cintura do Miles.
O cara dirige como um maldito maníaco.
Depois que estacionamos na minha garagem, tiro o capacete da
cabeça, e o enfio nas suas mãos. Como sempre, ele está irresistivelmente
legal e eu estou tremendo. Só conheço o cara há semanas, e já temos um
padrão, que lhe dá todas as cartas e me deixa sem nada.
Ele trava a moto, me olhando como se estivesse tentando ler minha
mente. Ele tira sua jaqueta de couro dos seus ombros. —Você vai querer
uma antes que perceba.
—Pouco provável. — Pego minha bolsa no pequeno porta-malas da
moto.—Você salvou a donzela patética em perigo. Você não precisa ficar.
— Me viro, e passo em direção à porta.
—Meg.
—O que?
—Você está vestindo minha jaqueta.
Ugh. Estou usando sua jaqueta extra, é início de outono em Los
Angeles, mas o ar está frio quando passa a 140 quilômetros por hora.
Devolvo a roupa sem dizer mais nada.
Meu estômago está com um nó. O quero no meu quarto, na minha
cama, mas não, se ele vai me tratar como a garota patética que não
aguenta as merdas dela.
Aquelas pessoas ... Seus olhos estavam vazios. Não consigo tirar
isso da minha cabeça. E preciso disso fora da minha cabeça. Agora,
preciso pensar em outra coisa.
Miles pode fazer isso. Mais alguma coisa realmente importa?
Proponho que ele me siga, e atravesso o saguão. Seus passos
calmos me lembram que ele ainda está indiferente. Ainda sou
desajeitada, e fora da minha zona de conforto.
Aperto o botão do elevador. Minhas mãos estão tudo, menos firmes.
As pressiono nas minhas coxas, e respiro fundo.
Miles se aproxima. Sua voz é firme, tranquilizadora. —Espero que
a moto não tenha cansado suas coxas.
Um rubor ameaça se formar nas minhas bochechas. Mordo meu
lábio. Também posso ser descolada. Também consigo ficar tranquila. —
Isso não aconteceu.
—Ótimo.
As portas do elevador se abrem, e entramos. Miles aperta o botão
do meu andar. Ele não diz nada.
Tlim. Estamos no meu andar. Miles se move firmemente, sua mão
pressionada suavemente contra a parte inferior das minhas costas. Seu
toque reacende o fogo dentro de mim. Não quero provocar ou brigar. Não
quero falar nada.
Ele precisa estar nu na minha cama. Agora.
Respiração profunda. Posso fazer isso. Destranco a porta, e a abro.
—Isso é um convite? — Ele arrasta as pontas dos dedos pelas
minhas costas. —Detestaria ter de ir embora sem fazer você gozar.
A boca desse cara! Não lhe falta confiança. —Vem.
Ele ri da minha escolha de palavras, mas desta vez, sinto que ele
está rindo comigo, não de mim.
Os nervos do meu estômago se acalmam. Isto, fazer sexo pela
primeira vez, é muito importante. Mas consigo lidar com isso.
Merda. Prometi a Kara, que mandaria uma mensagem para ela, se
fosse embora. Paro ao entrar na porta, e vasculho dentro da minha bolsa.
Miles olha para mim interrogativamente. —Alguém com quem você
prefira falar?
Nego com a cabeça. —Kara. Coisas de garotas.
—Diga a ela, que você está prestes a ter o melhor sexo da sua vida.
—Não tem muita concorrência aqui.
Ele desliza as mãos sobre a barra do meu vestido. Essa mão está
tão, tão perto de exatamente onde ela precisa estar.
Encontro meu telefone, e digito uma mensagem para a Kara.

Meg: Fui para casa mais cedo. Está tudo bem. Vejo você no domingo.
Miles pega meu telefone da minha mão, e o coloca no bolso. Ele
vira, me prendendo na parede.
Fecho os olhos, e absorvo o peso do seu corpo. Deus, ele é tão
gostoso. Estamos quase da mesma altura.
Quando seus lábios se conectam com os meus, toda a feiura
desaparece. Minhas lembranças horríveis desaparecem. O mundo
exterior desaparece. Cada momento que não é este se desvanece.
O beijo para. Meu corpo está vibrando. Estou desesperada, mas
não posso deixar transparecer. Canalizo a autoconfiança indiferente do
Miles. Eu estou legal, calma, recolhida. Sem problemas.
Seus olhos passam por mim novamente. —Você está incrível nesse
vestido.
—Eu sei.
—Você deveria me elogiar depois disso.
—Sei disso também.
Seus lábios se curvam em um sorriso. —Você tem que me bajular
um pouco, se me quer nu.
Porra, o cara lê mentes. Ou talvez, ele esteja acostumado com
mulheres querendo ele nu. Não importa. Agora, preciso dele nu.
Pressiono minha coxa na dele. —Você tem tatuagens, né?
—Várias.
—E você as têm só para ter um motivo para tirar sua camiseta.
—Você me pegou. — Ele ri.
—Você tem certeza de que não estava bebendo no show?
Passo os dedos pela bainha da camiseta dele. —Certeza.
Ele move minha mão gentilmente, e puxa sua camiseta por cima
da cabeça. Caramba. Ele é ainda mais atraente de perto. Seu peito e
ombros são fortes. Passo os dedos sobre o abdômen esculpido, e traço as
linhas em V no topo de seus quadris. São como uma flecha apontando
para um prêmio.
Um prêmio que preciso desesperadamente.
Mas não quero me apressar. É uma sensação boa. É a única coisa
que é boa. E vou saboreá-lo.
Suas tatuagens são tão sexys quanto seus músculos. De alguma
forma, as tatuagens o deixam mais gostoso. É como suas músicas, sua
alma está na sua pele para qualquer um ver. É óbvio e misterioso ao
mesmo tempo.
O que significa, o dragão de estilo chinês adornando seu ombro e
bíceps? A rosa e os espinhos no peito? As palavras acima da flor: Seja
Corajoso, Viva?
Gostaria de ter a coragem de desenhar minha alma na minha pele.
Fornecer minha dor numa música para o mundo inteiro ver.
Traço as palavras com os dedos. —Quando você fez essa?
—Há um ano.
—Nenhum nome de mulher?
—O amor é uma coisa temporária. A tatuagem é para sempre.
Seu peito e ombros são fortes. Nem um grama de gordura para
cobrir seu abdômen perfeito. Passo meu dedo pelo seu peito, aquela
linha-V sexy que os caras têm.
Olho de novo nos seus olhos. —Você não vai se apaixonar, ou não
vai se apaixonar por mim?
—Não vou me apaixonar.
—Como você pode ter tanta certeza?
—Eu tenho.
—Mas como?
—Porque sei.
Pressiono minha mão contra seu estômago, para me lembrar
porque o convidei. —Isso não é uma resposta.
—Vamos fazer um acordo. Você aceita minha resposta ou...
—Posso acreditar no que quiser. — Mesmo que isso não faça
sentido. No Miles naquela música, no Miles que tatua um mantra no peito
dele, aquele Miles está comprometido, apaixonado, vulnerável.
O que está sentado ao meu lado... Se não o conhecesse melhor,
teria a certeza de que nada jamais o machucaria.
Miles ignora minha objeção. —Se algum dia me apaixonar, vou
adicionar o nome dela à minha coleção.
—Qualquer coisa que te faça feliz.
Ele enfia a mão pelo meu cabelo. —Isso me faz feliz.
Um rubor se espalha pelas minhas bochechas. Ele está no controle
novamente, e sou sua presa de novo. Também preciso fazer algo que o
afete.
Roço minha mão contra a cintura do seu jeans.
—Está fazendo um pouco mais de investigação aí? — Ele pergunta.
Concordo.
Sua respiração fica pesada. —O que você espera encontrar?
Inclino a cabeça para que meus lábios fiquem a centímetros dos
dele. —A razão pela qual você é tão arrogante.
—Você já me viu nu.
—Estava muito escuro. Não vi muito bem.
Cubro a protuberância no seu jeans. As palavras fogem da minha
mente numa velocidade alarmante. Meu corpo assume o controle. Ele
sabe de uma coisa: precisa tocá-lo.
O esfrego sobre seu jeans.
Seu beijo começa devagar. Ele chupa meus lábios. Então, ele está
raspando os dentes contra eles. Ele tem um gosto incrível, como sal, suor
e Miles.
O empurro na cama, e posiciono meu corpo em cima dele,
montando nele. Suas coxas estão entre as minhas. A virilha dele está
contra a minha. E posso senti-lo através da calça jeans. Ele está duro. E,
ele está quente. E, maldito seja, quero essas roupas estúpidas fora do
caminho para que possa senti-lo apropriadamente.
A ansiedade se espalha pelas minhas coxas e pélvis. Mergulho no
seu corpo, moendo minha virilha contra a dele. O nervoso desaparece.
Não tem espaço para nervos na minha mente. Não tem espaço para nada,
além do desejo irresistível de tocar Miles e ele me tocar.
É bom pra caralho, estar neste momento pensando em nada, além
deste instante.
Sua voz está grossa. —Estava morrendo de vontade de colocar
minhas mãos debaixo desse vestido a noite toda.
Ele também precisa disso. Isso me relaxa, me faz esquecer que ele
tem todas as cartas. Miles puxa as alças dos meus ombros, expondo
meus seios. Sem sutiã esta noite. Não preciso de um sutiã num vestido
que me abraça tão firmemente como este.
Seus olhos se arregalam. Suas pupilas dilatam. —Nossa. — A
ponta do seu polegar massageia o meu mamilo. —Melhor do que me
lembrava.
Engulo em seco. Ele pensou em mim quando estava sozinho? —Do
que se lembrava? — Pergunto.
—O sabor da sua pele. — Ele me aproxima, e pressiona a língua
contra o meu mamilo.
Porra, sensação boa. Cravo meus dedos nos seus ombros. Ele geme
contra a minha pele, enquanto provoca meu mamilo com a língua.
Mal consigo formar palavras. —Não se lembra de mais nada?
Ele rodopia a língua em volta do meu mamilo. A sensação me
domina. Cada movimento da sua língua manda prazer direto para o meu
núcleo. Ele pode demorar o tempo que quiser a responder, se continuar
fazendo isso.
Inferno, ele pode desistir de falar para sempre se continuar fazendo
isso.
Seus dentes raspam contra o meu mamilo. Suspiro por reflexo. Dói
só o suficiente para me sentir incrível.
Ele afasta a boca e a substitui pelos dedos. —E esse som que você
faz.
—Você gosta?
—Não. Amo ouvir você gemer. Quero ouvir isso todos malditos dias.
Ele aperta meu mamilo com força suficiente que quase dói. O
desejo dispara através de mim. Gemo. Suas pupilas dilatam. Seus lábios
pressionam juntos. Ele ama isso.
Eu amo isso.
Finalmente, conseguimos realmente concordar com alguma coisa.
É pensar demais.
Preciso parar de pensar.
Me roço contra o Miles. Ele geme, enquanto traz sua boca de volta
para o meu peito. Ele chupa meu mamilo. Suave então forte, em seguida
suave novamente.
Meu corpo se enche de prazer. Ele é bom demais nisso.
Miles puxa meu vestido sobre meus quadris, estômago, peito.
Levanto meus braços para ajudá-lo. Então a roupa é um monte no chão.
Só estou de calcinha.
Ele desloca nossos corpos. Estou deitada de costas. Ele está em
cima de mim, seus quadris pressionados contra os meus, me prendendo
na cama. Seu pau está contra o meu clitóris. Só que tem todo esse tecido
no caminho.
Sempre odiei a moda. Neste momento, detesto. Ele não deveria ter
permissão para usar roupas. Pelo menos não no meu apartamento.
Abro o botão do seu jeans. —Você está usando muita roupa. — Ele
sorri. Não sei se ele está presunçoso, brincalhão ou confiante. Talvez,
todos os três. No momento, me sinto à vontade. Como se ele não estivesse
me pressionando ou me estimulando. Como se me quisesse confortável,
querendo o meu prazer. Afinal de contas, ele pensa nos meus seios e nos
sons que eu faço quando ele me toca.
Ele quer que eu me sinta bem. Sexualmente. Mas, isso já é alguma
coisa. Já é muito.
Miles arrasta os lábios pelo meu pescoço. Ele se desloca para o
lado, abre o zíper, e desce o jeans. Não tem qualquer esforço. Ele é bom
no controle. Devo parecer um desastre.
Isso está quase acontecendo. Vamos transar. Ele estará dentro de
mim.
O Miles desliza os dedos por cima do meu estômago. —Você está
nervosa outra vez.
Balanço a cabeça, mas, posso sentir o tremor nas minhas mãos.
Quase não tenho experiência, e Miles é sem dúvida meio que um deus do
sexo.
Ele está olhando para mim, seus olhos cheios de sinceridade. Ele
realmente está preocupado comigo.
—Você está—, ele diz.
Ainda assim, nego com minha cabeça.
Seus lábios se curvam em um sorriso. —É fofo que você não queira
admitir.
Não quero ser fofa. Quero ser sexy. Quero fazê-lo tão carente
quanto me sinto.
Confiança. Consigo fazer isso. Arrasto meus dedos sobre seu tórax.
—Você não tem melhor utilização para sua boca?
—Oh. — Sua voz fica baixa. —Você quis dizer isso. — Ele trilha
seus lábios contra o meu peito, parando para desenhar círculos em volta
do meu mamilo com a língua.
—Sim. Isso. — O prazer cresce em mim.
Sua mão desliza no meio das minhas coxas. —Você não precisa
esconder o quanto quer isso. Quero dizer, é fofo e tudo...
—Não sou fofa.
—Tente adorável.
—Não discutimos a utilização adequada para sua boca?
Ele assente e pressiona seus lábios nos meus. É um beijo forte, até
mesmo possessivo. —Que acha disso?
Tenho dificuldade em respirar. Isso é incrível. —É um começo.
Ele sorri, pega minha mão, e a coloca na cintura da sua boxer.
Puxo a maldita coisa para seus joelhos, e envolvo meus dedos em
torno dele. Ele coloca a mão sobre a minha, me guiando. O acaricio com
mais força. Mais rápido.
Seus lábios encontram os meus. É rápido, forte e bagunçado. O
beijo de volta, chupando sua língua, raspando meus dentes contra seus
os lábios.
Ele geme na minha boca.
Ele me quer. Miles o deus do sexo, me quer. Meu batimento
cardíaco acelera. Vamos mesmo fazer isto.
O vejo tirar uma camisinha do bolso do jeans. Minhas mãos ficam
suadas. O nervoso sobre o meu estômago. E se doer um pouco? E se eu
não estiver à altura?
Miles coloca seu corpo ao lado do meu. Ele arrasta a mão pela
minha perna, e acaricia minha parte interna da coxa. —Relaxa. Você não
fará errado.
—Está bem—, respiro.
Ele tira minha calcinha, e pressiona seus lábios no meu pescoço.
Gemo, quando seus dedos roçam meu clitóris.
Ele raspa os dentes no meu pescoço. Sua voz está baixa, faminta.
—Não se segure. Gosto de você gemendo. Gosto de você gritando. Me
excito em saber o que é bom para você.
Não tenho controle sobre minhas vocalizações. Aproveitar essa
experiência, é tudo o que posso suportar.
Ele chupa minha pele, enquanto aproxima os dedos. Mais perto.
Eles deslizam sobre o meu sexo.
É uma boa sensação. Estamos perto de fazer isso.
O nervoso desaparece, enquanto ele me massageia. Respiro fundo,
e olho nos seus lindos olhos azuis.
Sua expressão está intensa de desejo, mas também está atenta. Por
alguma razão, confio nele para me guiar nisso.
Deixo minhas pálpebras fecharem, e afundo na cama. Lentamente,
ele desliza um dedo dentro de mim. Ele me aquece, depois são dois dedos.
Três. Suspiro.
Isso é intenso. Dói. Cravo minhas unhas nos seus ombros.
—Mais? — ele pergunta.
Concordo.
Ele não tem pressa acelerando, indo mais fundo. O desconforto
desaparece com o prazer. Em seguida, é muito prazer.
Depois, seu polegar está no meu clitóris, me acariciando. Gemo,
quando meu sexo aperta. Que sensação incrível. E, o prazer está
crescendo tão rapidamente. Com mais alguns golpes estou no limite.
Prestes a gozar.
Então estou lá. Toda a tensão do meu sexo se transforma em febre,
depois se desenrola, me invadindo. Grito seu nome quando gozo.
Demora alguns instantes para recuperar o fôlego. Pisco meus
olhos, e olho para os do Miles. Ele ainda está atento, mas parece ainda
mais excitado. Como se ele estivesse desesperado para estar dentro de
mim.
Quero isso.
Pressiono minha mão no seu peito. —Eu quero fazer isso. Estou
pronta.
Ele geme algo que se assemelha a um sim, enquanto ele desenrola
a camisinha e a desliza.
Chega de esperar. Isso vai acontecer.
Ele pega meu quadril, me pressionando contra a cama, mudando
minha posição para que seu pau esfregue contra o clitóris. Impulsiono
meus quadris para frente, e sua ponta está contra mim.
Cada nervo do meu corpo está ligado, e todos gritam a mesma
coisa. Preciso dele dentro de mim. Agora.
Movo meus quadris para empurrá-lo um pouco mais fundo. Mais
fundo.
É intenso. Tem dor, mas também tem prazer. Cavo minhas unhas
nas suas costas até termos mais prazer, do que qualquer outra coisa.
Movo meus quadris para empurrá-lo mais fundo. E posso sentir
como meu sexo se estende para levá-lo.
Miles vai com calma. Seus olhos estão nos meus, observando
minhas reações. Não há sinal daquele cara arrogante e distante. Ele está
aqui, neste momento, comprometido com o meu prazer.
Ele vai mais fundo. Mais profundo. Dói, mas não quero que ele
pare. Puxo seu cabelo. —Não pare.
O beijo como se o navio estivesse afundando.
Suas mãos circundam minhas costas. Nossos corpos pressionados.
É íntimo o jeito que ele está me segurando, o jeito que está me beijando,
o jeito que ele está deslizando dentro de mim.
Então ele está lá. Estou satisfeita. Ainda dói, mas o prazer, é muito
superior à dor
Meu corpo assume o comando. Balanço meus quadris para
combinar com seu ritmo constante. É lento. Um bom ritmo lento. Um
infernal ritmo lento intenso.
A pressão aumenta dentro de mim. É uma pressão tão doce e
perfeita.
Fecho os olhos e me rendo à sensação do Miles dentro de mim.
Gemo o mais alto que posso. Algo para que ele saiba o quanto está
me afetando, o quão bom ele está me fazendo sentir.
Depois de mais alguns impulsos, estou perto. Meu sexo aperta.
Cada vez mais apertado. Tão apertado que mal posso aguentar.
Então, estou chegando. Gemo seu nome, quando um orgasmo me
domina. Foi diferente do anterior. Mais intenso. Mais profundo.
Miles pega meus pulsos, e puxa minhas mãos sobre a minha
cabeça. Em seguida, seus lábios estão nos meus. Ele empurra dentro de
mim com tanta força que dói.
Ele geme na minha boca. É bom de uma maneira diferente,
sabendo que ele está próximo, sentindo seu prazer.
Sua postura muda. Seus olhos se fecham. Sua respiração fica
pesada.
Tenho que morder meu lábio para me conter. Ainda é intenso.
Ainda dói. Mas, não quero que ele pare. Há alguma coisa em ouvir seus
gemidos e sentir seus músculos tensos.
É quente como o inferno.
Quero senti-lo gozar.
Seus dentes penetram no meu pescoço. Isso também dói apenas o
suficiente para me sentir bem.
Mais alguns impulsos, e ele chega, gemendo contra a minha pele,
enquanto ele goza.
Ele me abraça por um minuto. Nossos corpos estão pressionados
um contra o outro. É íntimo de uma maneira diferente, esmagador de
uma forma diferente.
Respiro bem fundo, tentando processar a experiência. Transei com
o Miles. Perdi minha virgindade com ele.
É real. Adulto. Perigoso.
Ele pressiona seus lábios nos meus, em seguida, desembaraça
nossos corpos, e cuida da camisinha.
Afundo na cama. Fiz sexo com o Miles. Isso realmente aconteceu.
O peso na cama muda, quando ele aproxima seu corpo do meu. Ele
desliza seus braços em volta de mim, e me puxa para perto.
Isso ainda parece íntimo.
Não tem nenhum fingimento. Não me lembro da última vez que
passei tanto tempo de guarda baixa.
Seus lábios pressionam contra o meu pescoço e, perco a noção do
pensamento consciente. Não é realmente seguro, os braços dele, mas
parece que sim. É confortável.
Mais alguns minutos e, vou dar um jeito. Mais alguns minutos, e
vou colocar meu pijama. Apenas alguns minutos…
Capítulo 9

O chuveiro no banheiro está ligado. A luz flui através das cortinas.


Está iluminado. Mal consigo manter meus olhos abertos.
Me arrasto para fora da cama. O quarto está bagunçado – edredom
e roupas amontoadas no chão. Miles esteve aqui ontem à noite. Miles
ainda está aqui. Ele está no meu chuveiro.
Nós transamos, minha primeira vez, e foi incrível.
Pego a camiseta dele no chão, e a coloco sobre minha cabeça. Há
algo de sedutor nisso. É macia e tem o cheiro dele.
Bato na porta do banheiro.
Ele grita alguma coisa, mas é abafada pela água. —Posso entrar?
A água desliga. —A porta está aberta.
Viro a maçaneta. É real. Entro no banheiro.
E, lá está o Miles nu, atrás da porta de vidro do meu chuveiro. Ele
abre a porta. —Bom Dia.
Aceno, murmurando alguma coisa que não é tecnicamente uma
palavra.
Caramba, que vista. A luz flui pelo lugar, o cercando com um brilho
suave. Ele parecia incrível ontem à noite, mas não conseguia vê-lo com
esse nível de detalhes.
Ele é bem definido, como se fosse feito de pedra. A água escorre dos
seus ombros e peito largos, rolando pelo seu tanquinho, até aquele V
perfeito.
Miles limpa a garganta. —Você não precisa deixar tão óbvio que me
quer.
—Não é óbvio.
Ele sorri, e liga a água novamente. Faço o meu melhor para não o
olhar, enquanto escovo os dentes. Seu reflexo, bem no meio do espelho,
dificulta.
Miles é, sem dúvida, o homem mais bonito que já vi. E, ele está nu
no meu banheiro.
Ele me pega olhando para ele, e dá o mesmo sorriso presunçoso.
Seu olhar passa por mim, pousando na minha bunda.
Ele abre a porta do chuveiro alguns centímetros. —Sei que você me
quer, Meg, mas você não precisa vir aqui seminua.
—Não quero nada além de café.
—Não acredito em você.
Enxaguo a escova de dentes e a recoloco. —No que você acredita?
—Você adormeceu na noite passada.
Minhas bochechas ficam coradas. —Você me deixou exausta.
Ele se movimenta, venha aqui. Seus olhos brilham. —Ainda te devo
um...
—O quê?
—Três orgasmos. — Ele faz o mesmo movimento, venha aqui. —
Promessa é promessa. Embora, esteja pensando em quatro.
Mordo meu lábio. Acho que isso me colocará em coma. Nenhum
embasamento médico para essa teoria, mas, estou mantendo-a. —
Quatro no total ou agora mesmo?
—Só há um jeito de descobrir.
Tem uma estrela do rock nu no meu banheiro, me ameaçando por
meio de orgasmos. O que diabos aconteceu com a minha vida normal?
Seus olhos encontram os meus. —Faça-me um favor, e pegue um
desses preservativos. — Ele aponta para o armário dos remédios, agora
abastecido com grande rolo de preservativos. Ele trouxe tudo isso com
ele. O cara é ambicioso.
Respiro fundo. Aqui vou eu. Puxo minha camiseta por cima da
cabeça, pego uma camisinha, e entro no chuveiro. Os braços do Miles vão
para os meus quadris, me segurando firme. Ele se aproxima. Nossas
testas se tocam.
Ele tem aquele olhar, um olhar desesperado e carente. Ele quer isso
tanto quanto eu.
Ele fecha a porta do chuveiro, e com um só golpe, me pressiona
contra a parede de azulejos. É frio e forte, mas não posso dizer se me
importo.
Suas mãos deslizam para a minha bunda. Ele me segura no lugar,
enquanto pressiona seu corpo no meu. Primeiro os quadris, depois o
estômago, o peito, os lábios.
É um beijo agressivo, mas ainda há algo de paciente nisso. Abro a
boca para dar espaço para sua língua. O calor corre direto para o meu
âmago. Ele está escorregadio no chuveiro, e sua pele está tão gostosa
contra a minha.
O beijo de volta, explorando sua boca com a minha língua. Seu
punho ao redor dos meus quadris aperta. Ele vem contra mim, me
prendendo contra a parede.
Estou um pouco dolorida da minha noite, minhas coxas e meu
sexo, mas o quero muito, para que isso importe.
Ele rompe o beijo. Seus olhos encontram os meus. Ele coloca o
cabelo atrás das minhas orelhas. Passa as pontas dos dedos pelo meu
pescoço e ombros. —Você é incrivelmente gostosa.
—Obrigada.
Seus lábios se curvam num sorriso. —Este chuveiro é meio
pequeno. Será complicado.
—Mostre-me.
—Vire-se.
Viro. Isso me coloca bem embaixo do chuveiro. A água bate nos
meus cabelos, ombros e pescoço. Em poucos segundos, estou toda
molhada. Tão escorregadia e deslizante quanto ele está.
Miles desenrola o preservativo e o coloca. Então, toda sua atenção
está em mim.
Ele se posiciona atrás de mim, sua virilha contra a minha bunda,
seu peito contra as minhas costas. Ele coloca minhas mãos na parede de
azulejo, uma de cada vez. Sua cabeça se estabelece entre o meu ombro e
meu pescoço. Ele realmente tem a altura perfeita. Nossos corpos se
encaixam perfeitamente.
Ele arrasta as pontas dos dedos pelo meu peito e estômago. Com
toda essa água, existe apenas o menor sinal de atrito. É suave, e
contínuo.
Ele é tão bom nisso.
Fecho os olhos, mas, só dificulta o equilíbrio. OK. Respiro fundo, e
tento segurar a parede de azulejos. Isso parece muito complicado, mas,
por alguma razão confio nele para me guiar.
—Nós nem começamos. — Ele chupa o lóbulo da minha orelha. —
Relaxa.
Concordo. —Me obrigue.
—Isso é um desafio?
Eu uso a minha voz mais confiante. —Sim.
Ele ri. — Gosto do jeito que você pensa.
Ele me segura contra ele com uma mão. A outra desenha círculos
nas minhas coxas. Começa nos meus joelhos e vai subindo. Quanto mais
ele se aproxima, mais meu corpo vibra. Você pensaria que eletricidade e
água seriam uma combinação perigosa, mas elas só ficam melhores
juntas. Ali. As pontas dos seus dedos deslizam sobre o meu clitóris. É
suave, contínuo. Estremeço, atingida imediatamente com uma onda de
êxtase. Ele realmente é bom nisso.
Ele chupa meu pescoço, enquanto me acaricia. Pouco a pouco,
meus músculos tensos relaxam.
O prazer constrói no meu sexo. Cada toque de seus dedos é mágico.
Deixo meus olhos fechados. Ele me abraça mais forte. Sem dúvida, se
não fosse pela sua pegada, seria uma poça no chão. Já estou na metade
do caminho. Controle. Quem se importa? Contanto que continue me
tocando assim, ele pode ter todo o controle.
É só sexo.
É só prazer. As coisas podem ser boas. Me sinto bem. O mundo
pode ser bom.
Nesse momento, é evidente. Nesse momento, nada pode me
machucar.
Isto é diversão. E vou me divertir. Vou aproveitar cada momento.
Miles planta beijos ao longo do meu pescoço e ombros. Seu toque
fica mais rápido. Mais forte. Quando está perfeito, gemo. Meus olhos se
abrem. A água está batendo contra o meu peito, derretendo meu corpo
no dele. O calor se espalha por mim.
Próximos.
Mudo meus quadris, para combinar com seus movimentos. Minha
bunda pressiona contra sua virilha. Ele está duro.
Deus, amo com me sinto.
Perco o controle da minha respiração. Alcanço a parte de trás do
Miles, agarrando suas coxas. Essas coxas musculosas que são tão
incríveis. Escorregadias devido à ducha, mas isso não vai me deter. Cravo
minhas unhas na sua pele, enquanto ele me acaricia.
A tensão aumenta, aumenta e aumenta. É uma dor tão
maravilhosa, e ele é a única coisa que pode acalmá-la. Gemo, cavando as
unhas na sua pele, até sua respiração ficar pesada. Ele chupa meu
lóbulo, forte, como se fosse a única coisa que pudesse fazer para se
conter.
Só mais um roçar de dedos e, estou lá. No limite. Seu suspiro me
causa um orgasmo intenso. É uma forte dor prazerosa, que se espalha
do meu sexo para o meu estômago, peito e lábios. Cada parte de mim se
sente muito bem.
Sexo.
Diversão.
Isso é tudo o que tem que ser.
Miles geme. Ele roça os lábios no meu pescoço. —Hora de ir para o
quatro.
Pressiono minha bunda contra sua virilha. Sim. Ele ainda está
duro, e agora isso é meu.
—Como está seu equilíbrio? — ele pergunta.
—Poderia estar melhor. — Pressiono meu corpo contra o dele. —
Estou muito distraída.
Seus lábios percorrem meus ombros. —Serei rápido.
Planto minhas mãos no azulejo sem motivo. Ele não perde tempo.
Suas mãos vão para os meus quadris, me inclinando, então estou na
posição. Sinto seu pau pressionando contra o meu sexo.
Ele se move entrando em mim. Exalo com força. É intenso e um
pouco doloroso, mas é muito bom.
Miles me mantém firme, enquanto empurra dentro de mim. Sua
respiração já está pesada. Agora ansiosa. A mão dele vai para o meu peito.
Ele esfrega meu mamilo com o polegar, brincando comigo, até que estou
gemendo tão alto que não consigo ouvir a água. Então, ele se move para
o meu outro seio e faz isso de novo.
Ele é mais talentoso do que qualquer pessoa deveria ser.
Cada centímetro do meu corpo está zumbindo de prazer. Está
clamando por mais. Ele está dentro de mim, me segurando, me tocando,
e ainda quero mais.
Jogo a cabeça para trás, então, minha bochecha está pressionada
contra a dele. Sua mão vai para a parte de trás da minha cabeça, e ele
me vira, até nossos lábios se conectarem.
É uma faísca perfeita para mim. Esse zumbido de prazer vai direto
ao meu âmago. Deslizo minha língua sobre a dele. Chupo seus lábios até
sentir seu gemido na minha boca.
Ele me solta, me colocando de volta no lugar. Não há mais
paciência. Ele se move mais rápido. Mais forte. Suas mãos apertam meus
quadris. Sua respiração fica mais pesada, mais pesada, mais pesada.
Arqueio meus quadris para combinar com seus movimentos. Hoje
não dói nada. Só me sinto bem.
Estou quase lá. É como se o Miles pudesse sentir isso. Ele desliza
uma mão pelo meu estômago e sobre o meu clitóris, me acariciando para
um outro orgasmo.
Desta vez é muito rápido. A tensão aumenta a um passo da
loucura. É quase demais para aguentar. E então, ele empurra em mim.
E grito de prazer, meu sexo pulsa enquanto gozo. O prazer se espalha por
mim em ondas. As minhas mãos escorregam do azulejo. As minhas
pernas ficam fracas. Toda a energia do meu corpo está focada nessa
sensação perfeita.
Mas ele ainda não gozou. Isso ainda não acabou. Miles me levanta.
—Venha.
Ele desliga o chuveiro, e abre a porta. Seus braços deslizam por
baixo de mim. Ele me levanta, me segurando contra o peito, e me leva
para a cama.
Ele me coloca de costas. Ainda estou toda molhada. Os lençóis de
algodão grudam na minha pele encharcada. Me livro deles, abrindo
minhas pernas num convite.
Miles se posiciona na cama. Seu corpo afunda no meu. Ele está
molhado, quente, duro.
Ele pega minha bunda, e me move até estarmos alinhados
novamente. Então, ele entra em mim.
Ofego de prazer. Deus, ele sabe bem.
Os olhos do Miles encontram os meus. Não consigo explicar a
expressão dele. Desejo, sim, mas também tem afeto. Se não parecesse tão
bom, pediria que ele explicasse. Mas as coisas são o que são ...
Fecho meus olhos.
Diversão.
Sexo.
Isso é tudo que interessa.
Ele empurra em mim, forte e rápido. Seu corpo está tremendo, sua
respiração está sem controle. Ele está prestes a gozar. Posso sentir isso,
e meu Deus, eu amo a sensação. Envolvo minhas pernas em torno dele.
Enfio as mãos nos seus cabelos molhados.
Ele geme. O gemido baixo perfeito. Puro instinto. Pura necessidade.
Ali. Posso sentir seu orgasmo, não apenas no meu sexo, mas nos
músculos tensos das suas costas. Abro os olhos para ver o prazer se
espalhar pelo seu rosto. É incrível. Tanto, que mal consigo respirar.
Ele mete em mim uma última vez, gemendo enquanto ele goza.
Seus olhos se abrem. Ele pressiona seus lábios nos meus, e cai na
cama ao meu lado.
—Melhor do que café?
Um rubor ameaça se formar nas minhas bochechas. Sexo e
diversão eu posso entender. Conversar depois é muito mais complicado.
—Melhor.
—Você ainda quer seu café? — Ele fica sobre os cotovelos. As
pontas dos seus dedos percorrem meu peito. —Vou comprar seu café da
manhã.
—Eu realmente deveria estudar.
—Meg, esperava mais de você. — Ele sorri como se estivesse
brincando. —Você não pode me usar para o sexo, e depois me mandar
para casa sem me alimentar.
—Você me deixaria pagar o seu café da manhã?
—Claro que não. — Ele sai da cama. —Eu pago.
Capítulo 10

São vinte minutos na moto perigosa. Andar nas ruas não é tão
aterrorizante, quanto correr pela estrada, mas não deixa de ser muito
assustador.
Depois de estacionar numa rua lateral em Venice Beach, Miles me
leva a um restaurante afastado. É uma casa reformada azul com
persianas brancas e janelas amplas.
Miles abre a porta para mim. Ele puxa a cadeira para mim. Como
se ele fosse um cavalheiro. Como se estivéssemos num encontro de
verdade.
É uma mesa muito pequena. Um pequeno laminado de madeira,
quase sem espaço para dois pratos e dois copos. Eu me sento na beirada
da cadeira com as pernas cruzadas. Miles se recosta na cadeira com seus
pés afastados.
Seus olhos se conectam com os meus. —Devemos ter a conversa
usual do primeiro encontro?
—Este é um primeiro encontro?
Ele nega com a cabeça. —Não é um encontro. Somos amigos.
—Mas é a nossa primeira vez juntos.
Ele levanta a sobrancelha, como se estivesse me desafiando. —OK.
Vamos tentar. O que você faz?
—Estudo o curso pré-medicina na Universidade da Califórnia.
Trabalho como escrevente no hospital, das seis às dez de segunda a
sexta-feira. É muito cansativo, mas é uma ótima experiência. E você?
—Estudei em Stanford. Ciências Políticas.
—É verdade?
Ele sorri. —Você não acredita que estudei em Stanford?
Por alguma razão, acredito nisso. Miles é bonito e carismático.
Consigo vê-lo em qualquer lugar.
—E agora? — Pergunto.
—Trabalho na indústria do entretenimento.
—Esse é o slogan que você normalmente usa?
Ele encolhe os ombros. —A maioria das mulheres sabem quem sou
ou não se importam.
—Você é assim tão famoso?
—Depende de quão recentemente lançamos um videoclipe, o quão
bem está indo. Temos um monte de fãs fanáticas, mas não somos
famosos o suficiente para que todos saibam nossos nomes. As coisas têm
sido diferentes desde a In Pieces. Muitas pessoas me param na rua. Foi
o nosso primeiro sucesso. Nossa única música top 100 até agora.
—Você ganhou muito dinheiro? — Pergunto.
Ele ri. —Gostei que você tenha perguntado isso. A maioria das
pessoas achariam isso indelicado.
Copio seu encolher de ombros casual.
Ele sorri. —Uma boa quantia. Estamos determinados a fazer uma
grande quantia. Mas, ainda não chegamos lá. — Seus olhos vão para a
janela. —Dinheiro não é importante para mim. Herdei muita coisa. Posso
sair da banda amanhã, nunca mais trabalhar, e ainda sim ficar bem.
—Isso é muita coisa.
Ele concorda. —É um jeito de merda de se tornar um milionário.
Limpo minha garganta. Não quero que a conversa se complique.
Falar sobre perda, isso vai doer muito. Certo, me sinto bem. Parece que
é possível ser feliz. Não me sentia assim, desde que a Rosie morreu.
—De onde você é? — Ele pergunta.
Voltamos para um tópico leve. Perfeito. — Orange County.
—Meu tio morou em Irvine há muito tempo. Não é terrível. Um
pouco...
—Estéril? Vazio de personalidade? Cheio de pessoas que se
preocupam com a cor da casa do vizinho mais do que qualquer outra
coisa? —Meu maxilar fica tenso. Lá se vai a conversa descontraída.
Não tenho nada contra Orange County teoricamente. É linda,
segura e cheia de shopping centers perfeitamente renovados. Mas,
também está cheia de pessoas como meus pais, que priorizam manter as
aparências acima de tudo.
—Você adora esse lugar—, ele provoca. —Está pensando em
comprar um daqueles novos condomínios perto de Irvine Spectrum?
Balanço a cabeça.
—Seus pais ainda moram lá?
Limpo minha garganta. Falar sobre meus pais certamente levará
essa conversa para um território sombrio e pesado. Nem sequer falo deles
com a Kara. Não vou partilhar isso com Miles.
—Não gosto de falar da minha família—, digo.
Ele assente com compreensão. —Onde vai fazer faculdade de
medicina?
—Não quero falar sobre isso. — A decisão ainda está me pesando.
Ficar perto de casa, no sul da Califórnia, não parece certo.
Atravessar o país também não parece certo.
Miles se aproxima. Seus olhos perfuram os meus. —Estava dentro
de você há uma hora, mas suas inscrições para a faculdade são muito
pessoais para discutir?
Não consigo identificar sua expressão. Sua voz está leve, como se
ele estivesse brincando, mas, não me parece certo.
—Com licença. — Ele se levanta, e vai para o banheiro.
Minhas costas estão tensas. Não sei como devo agir com ele. Somos
amigos, mas estamos transando. É confuso.
Tiro meu telefone da minha bolsa. Kara não respondeu as minhas
mensagens com mais pedidos de informações, e não sei se estou pronta
para dividir alguma coisa. Meus e-mails não são especialmente
interessantes. Só coisas sobre o curso. Um e-mail antigo horrível de duas
semanas, dos meus pais tentando organizar o feriado de Ação de Graças.
Preciso encontrar um jeito de tornar essa visita menos horrível.
Qualquer coisa serve.
Quebro a cabeça por ideias, enquanto ponho o telefone em silêncio,
e o retorno na bolsa.
A garçonete para na nossa mesa. Peço um café para mim, e uma
água para o Miles. Não tenho ideia do que ele gosta. Inferno, não sei quase
nada sobre ele. Ele é arrogante. Ele é um cantor incrível. E ele passou
por algo horrível que rasgou seu coração em pedaços. Ele teve de escrever
In Pieces.
Mas não é da minha conta. Estamos nos divertindo, sem
sentimentos profundos envolvidos. Respiro fundo, e aperfeiçoo minha
expressão divertida e casual. Isso é péssimo.
Miles retorna do banheiro, enquanto a garçonete serve o meu café.
Ele pede seu próprio café, e volta a se sentar. Seus olhos passam por mim
como se ele estivesse me decifrando.
Minhas bochechas estão quentes. Inferno, elas estão fervendo. —
Não deveria ficar tão defensiva, mas ... nunca fiz nada assim.
Seus olhos encontram os meus. — Na verdade, é muito simples.
Nós nos divertimos.
Misturo leite e açúcar no meu café. —Nada é assim tão simples.
—É sim. Fazemos sexo incrível, conversamos, comemos, vamos a
shows e nos beijamos nos bastidores. Quando isso deixar de ser divertido,
nos separamos.
—Se você é inflexivelmente contra compromisso, por que você quer
uma amizade colorida? — Pergunto.
—Pensei em experimentar algo novo. — Seus olhos se conectam
com os meus. —E gosto de você.
—É assim tão simples?
Ele concorda. —Por que você quer uma amizade colorida comigo?
Não se consegue chegar aos vinte e um anos sem transar, a menos que
você esteja evitando.
—Você é tão gostoso—, provoco. —Tão quente que perdi a cabeça.
—Além disso.
—Preciso da distração.
—Você vai me ferir falando assim
—Com certeza. — Tomo um gole do meu café. Doce, doce cafeína.
É o suficiente para afastar os sentimentos confusos que estão se
formando no meu estomago. Vou me concentrar em me divertir. Vou me
concentrar no hoje, e não quando nos separarmos. —Me candidatei em
Harvard, Johns Hopkins e Columbia.
—Todas estão do outro lado do país.
—Exatamente.
A garçonete retorna com o café do Miles. Pedimos nosso café da
manhã.
Ele espera até estarmos sozinhos. —Vou adicionar outro termo ao
nosso acordo. Qualquer coisa que fizermos juntos, eu pago.
—Posso pagar a minha parte.
—Tenho certeza de que você pode, mas eu insisto. — Sua expressão
é intensa.
—Está bem.
Ele sorri. É diferente do sorriso presunçoso que geralmente está
estampado no seu rosto. Parece que ele se importa comigo, como se isso
fosse mais do que um pouco de diversão.
Mudo o foco para outras áreas da conversa. Explico o processo de
inscrição para a faculdade de medicina, começando com os MCATs e
terminando pressionando o botão – enviar - na minha inscrição on-line.
Se ele acha chato, ele não demonstra. Ele mantém os olhos nos meus,
abertos e com muita atenção.
Ele fala sobre Stanford, se focando quando conheceu Drew, o início
da Sinful Serenade, que se formou bem a tempo de começar a turnê. A
banda tem cerca de três anos. Eles têm dois álbuns. Segundo Miles, o
primeiro é bom, mas não ótimo, enquanto o segundo é incrível. Foi um
sucesso mundial. Importante no quadro alternativo. A última turnê, que
terminou há algumas semanas, esgotou em quase todos as datas.
Eles não são o Maroon Five, mas eles têm potencial para serem o
próximo grande sucesso. Se jogarem as cartas certas.
Ele sabe muito sobre a indústria da música, sobre a máquina pop,
e como o verdadeiro rock luta para subir nas paradas. Muito do que ele
fala não me diz respeito, mas ainda me sinto atraída, pela paixão na sua
voz.
Ele pode agir de forma distante ou arrogante com seus
companheiros de banda, mas ele está claramente comprometido com a
música, e com a Sinful Serenade.
Depois do brunch, espero uma carona rápida para casa, no
acidente iminente, mas Miles insiste em caminhar até o Abbot Kinney. É
um bairro bonito, repleto de butiques, food trucks, e cafeterias muito
caras.
Olhamos as vitrines das lojas, enquanto bebemos nossos chás
verdes gelados. Tem a camiseta falsificada do Guerra nas Estrelas em
uma das butiques. Ela deve estar violando todos os tipos de leis de
direitos autorais.
Miles aponta para ela. —Quer que compre para você?
—Não preciso de ajuda para parecer uma nerd.
—Você não tem consciência de como você afeta os caras, né?
—Não causo nenhum efeito sobre os caras.
Ele desliza a mão pelo meu quadril. —Você tem essa inocência
irresistível. Estou surpreso que não tenha patifes tentando corromper
você vinte e quatro horas por dia.
—Já tenho você.
—Não posso estar perto vinte quatro horas por dia.
—Por que não? — Entro numa pequena loja, e finjo estudar os
vestidos. —O que você faz quando não está torturando mulheres com sua
voz sexy?
Ele passa meu cabelo por um dos meus ombros, e corre as pontas
dos dedos pelo meu pescoço. —Você acha que minha voz é sexy?
Aquele rubor se espalha pelas minhas bochechas. Pego um suéter
e fico olhando como se estivesse pensando em comprá-lo. É uma coisa
feia laranja com listras vermelhas. —Você sabe que é.
Ele pega o suéter das minhas mãos, e o coloca de volta na
prateleira. —Eu vou a shows. Jogo videogame com Drew ou Pete. Tento
tolerar o mandão do Tom.
—E quando você está sozinho?
Ele pega minha mão e me leva de volta para a rua. Ainda está
quente e claro.
—Corro. Penso. Leio—, ele diz.
—Você lê?
—Você é assim tão rude com todos os seus amigos ou apenas com
aqueles que a fazem gozar? — Ele diz isso brincando.
—A última opção. — Caminho pela rua. —O que você lê?
—Livros.
—Quais livros?
—Isso é confidencial.
Ok ... deixo sua estranha não resposta passar, sem revirar os
olhos.
A conversa muda para provocações sem sentido. Compramos
sorvete num daqueles food trucks. Sua língua faz movimentos tão bonitos
na delícia gelada, o lambendo, como se fosse sua coisa favorita no mundo.
Ele me pega olhando, e balança a cabeça. —Você não precisa ficar
me imaginando nu. Fico feliz em ficar nu com você.
—Com certeza.
Ele aponta para um beco entre duas lojas. —Aqui está bom para
mim.
—Não sei se eu... aqui não.
Seu sorriso está tão malditamente presunçoso. Ele pressiona a mão
na parte inferior das minhas costas, me virando de modo a voltarmos
para a moto.
—Tenho que estudar—, digo.
—Que pena.
Ele me provoca durante o caminho de volta até a moto. É uma
viagem rápida até o meu apartamento. Em seguida, ele está me
acompanhando até à porta.
Suas mãos vão para os meus quadris. Ele puxa meu corpo para o
dele, e afunda seus lábios nos meus.
Ele tem um gosto tão bom. É tão bom beijá-lo, ter seu corpo contra
o meu.
Sinto o beijo no meu sangue. Sinto o carinho nos seus olhos azuis
claros.
—Até mais, Meg. — Ele dá um passo para trás.
—Tchau. — Espero até ele entrar no elevador. Ele se foi, mas sua
presença permanece na minha mente.
Sinto falta dele. O quero de uma maneira que não compreendo.
Capítulo 11

Miles e eu trocamos mensagens sobre nada durante toda a semana.


Quarta-feira, no término do meu turno, pego meu telefone. Uma
mensagem com foto me saúda.
É um teste de DST. Do Miles. Ele está totalmente limpo.
Tem data de segunda-feira. Dois dias atrás. Ele fez um teste. Para
mim. Para nós.

Miles: Não quero supor que você está no controle da natalidade.


Mas, achei que você gostaria da opção de ignorar os preservativos.
Meg: Tomo a pílula. Pareceu-me uma boa ideia, quando fui para a
faculdade.
Miles: Vou levar camisinha. Você decide.
Meg: Ok. Vou pensar a respeito.
Miles: Quero levá-la em outro lugar na sexta-feira. A que horas sai
do trabalho?
Meg: Dez horas.
Miles: Envie o endereço e, estarei lá.

Depois do trabalho na sexta, me troco em um dos banheiros para


deficiente.
Essa é a roupa mais sexy que tenho, blusa decotada, saia preta
justa, sandália Anabela preta, mas, acho que serve. Delineador e batom
vermelho não colaboram muito.
É estranho. Me senti sexy quando estava com ele. Me senti
totalmente irresistível. Mas, a roupa me faz sentir constrangida e tensa.
Bem. Não espero passar muito tempo vestida. Caramba, gostaria
de pular direto para Miles e eu na cama juntos. Faria sentido. Seria bom.
Quero me sentir tão bem novamente.
Atravesso o Pronto-Socorro.
Uma enfermeira pisca para mim. —Já era hora de você sair. Você
é jovem demais para trabalhar tanto.
Aceno um educado boa noite. As enfermeiras mais velhas estão
sempre implicando comigo, sobre eu desperdiçar minha juventude. Elas
não entendem, que bares e festas não são divertidos para mim. Fazem-
me pensar na Rosie se perdendo. Não quero explicar isso para ninguém.
Mas, quero explicar para Miles. Quero que ele entenda. Meu
coração acelera. É assustador, o quanto quero que ele entenda.
O Pronto-Socorro está calmo para uma noite de sexta-feira. A sala
de espera está escassa. O balcão está vazio, exceto por um homem com
um curativo no nariz. Ele entrou numa briga.
Parece familiar.
Ele é mais baixo do que eu. Seu cabelo é claro. Ele está vestindo
uma daquelas camisas de algodão. A mesma que o namorado da Rosie
sempre usava.
Não.
Não, não, não.
Esse é o namorado da Rosie. O Jared.
O que diabos ele está fazendo aqui? Ele mora do outro lado da
cidade, mais perto de uma dúzia de hospitais diferentes.
Ele já devia estar na prisão. Ou morto por uma overdose. Não estar
no pronto-socorro com o nariz quebrado.
Fico sem fôlego. Meu coração palpita contra o meu peito. Viro de
costas para ele. Não posso arriscar que me reconheça. Se ele oferecer
suas condolências, vou quebrar outro dos seus ossos.
Ele está machucado. Graças a Deus. Não deveria sorrir de maldade,
futuros médicos nunca devem sorrir maliciosamente das pessoas feridas,
mas é bom vê-lo machucado. Ele merece toda a dor do mundo. Se não
fosse por ele, Rosie ainda estaria viva.
—Nunca vi esse olhar antes. — É Miles. Ele está a um metro de
distância, espalhado numa das feias cadeiras cinza.
—Não é nada.
—Alguma coisa é.— Ele se levanta, e se aproxima o suficiente para
sussurrar. —Talvez você me conte. Você sabe, que vou obrigá-la a falar.
—Talvez eu esteja sorrindo, porque vamos transar.
—Sei como você fica, e implica muito mais do que corar ou apertar
os joelhos.
Então, sou tão óbvia. Não tem importância. Alguém quebrou o
nariz do Jared. Pelo menos sei que ele mereceu.
Miles ri. —Devo ficar com ciúmes?
—Dele...?
—Você estava olhando para aquele cara. — Ele aponta para Jared.
—Ele é seu ex-namorado ou coisa parecida?
—Ou coisa parecida.
—Como... ele partiu seu coração, e você pagou a um dos seus
amigos para quebrar o nariz dele?
—Você acha mesmo que está quebrado?
Miles assente. —Provavelmente. — Seus dedos roçam no meu
pulso. —Ele te traiu ou algo parecido?
—Ou algo parecido.
Ele chega mais perto, baixando a voz a um sussurro. —Quer que
eu chute a bunda dele?
—Você faria isso?
—Por você, sim.
—Não é preciso. Alguém já fez isso. — Sorrio. Foi o maior sorriso
que já sorri. Devia me sentir horrível por desejar esta dor ao Jared, mas
não sinto.
Miles ri, e desliza a mão em volta da minha cintura. —Meg Smart.
Nunca pensei que chegaria esse dia.
Limpo minha garganta, e adoto minha postura mais madura. —
Não existe dia. Agora, vamos para onde?
—Você está feliz que alguém chutou a bunda daquele cara.
—Ele merece.
Os olhos do Miles se conectam com os meus. A alegria se espalha
por seu rosto. —Você confia em mim?
—Vai depender sobre o que estamos falando.
—Esse cara te fez sofrer. Né?
—Pode-se dizer que sim.
Miles me puxa para a parede, para sairmos do caminho. — Vou
fazer algo que o faça sofrer também.
Deveria me sentir mal com a sugestão, mas não sinto. Este idiota
roubou a vida da minha irmã.
Ele precisa sofrer. Ele precisa sangrar.
Concordo. —OK.
Jared ainda está preenchendo a papelada. Não o vejo desde que
Rosie morreu. Ele não foi ao funeral. Na época isso me irritou, mas agora,
ainda bem. O teria matado se o visse naquele dia.
Quero matá-lo agora.
O idiota de duas caras era educado pra caralho comigo. Agia como
um cavalheiro, como se fosse um príncipe e a tratava como uma princesa.
Acho que sua ideia de realeza envolvia uma maciça tolerância a
narcóticos.
Ele precisa pagar pelo que fez.
Ele precisa sofrer.
Miles pega meu braço com força. —Vá esperar lá fora. Agora.
Não. Tenho de dizer ao Jared, que ele é a escória da terra.
—Você não vai se meter em problemas sob a minha supervisão—,
diz Miles.
—Não vou me meter em problemas—, digo.
—Sua expressão não concorda. — Miles abaixa a voz. —Você não
seria capaz de machucá-lo se tentasse. Você não é esse tipo de pessoa.
Minha expressão demonstra irritação. Que diabos Miles sabe sobre
que tipo de pessoa eu sou?
—Confie em mim. — Ele se aproxima. —Bater nele não vai fazer
você se sentir melhor.
—Eu quero ver.
—Espere lá fora, ou não vai acontecer.
Cerro os dentes. —Tudo bem.
Contanto que Jared sofra. Contanto que pague pelo que fez à
minha irmã.
Saio lá fora, e me sento num dos bancos em frente ao prédio. O ar
frio faz meus braços e pernas arrepiarem. Essa roupa não é apropriada
para a brisa da noite de outono.
O tempo passa. Minha excitação vira pânico. E, se Miles machucar
mesmo o cara? E se ele fizer algo ilegal? E se ele se meter em encrenca?
Tento me acalmar, mas a respiração profunda não funciona. Gosto
do Miles. Nós somos amigos. Não quero que nada de ruim aconteça a ele.
Ouço passos atrás de mim. Miles. Ele se senta ao meu lado no
banco, e deixa cair algo no meu colo.
Uma carteira. A carteira do Jared.
—O que faço com isso? — Pergunto.
—Devolva aos achados e perdidos.
—Mas ... como? Por quê?
Miles sorri. —Agora, tenho o endereço dele e o número do seu
cartão de crédito.
—E?
—E, ele comprará algumas dúzias de camisetas personalizadas
sobre o idiota que ele é.
A tensão relaxa no meu pescoço. É uma brincadeira. Uma
brincadeira ilegal, mas apenas uma brincadeira. Não é como se Miles
esperasse do lado de fora da casa do cara com um taco de beisebol.
Miles ficará bem. Ele não vai se machucar.
Ele se inclina próximo o suficiente para sussurrar. —A menos que
você queira fazer algo que realmente o machuque.
Minha respiração fica presa na garganta. —Como o quê?
—As possibilidades são infinitas. Todos os tipos de acidentes, que
jamais poderiam ser ligados a nós. — Miles brinca com a barra da minha
saia. —Depende de quanto ele te machucou.
—Mais do que qualquer um.
—O que aconteceu?
Quero contar a ele, mas minha língua fica pegajosa. Melhor
guardar isso para mim. É menos perigoso. —Eu... não quero falar sobre
isso agora.
—Como quiser. — Ele guarda a carteira no bolso. —Deve tê-lo
amado muito para odiá-lo tanto.
A raiva cresce dentro de mim. Fico doente só de pensar. Minhas
mãos se fecham. —Não.
Miles balança a cabeça. Ele não acredita em mim. Ele acha que
estou presa ao idiota, que destruiu minha irmã. Miles provavelmente
pensa que estou apaixonada pelo Jared, que ele é a razão de não querer
um relacionamento.
—Nunca o amei. Mal o conheço. Ele era o namorado da minha irmã,
e ele ... ele arruinou a vida dela.
—Liga para ela. Deixe-a decidir o que fazer com ele.
Meu coração sai pela boca. —Eu... não posso. Ela morreu há uns
meses.
—Que merda. — Ele se vira para mim, com seus olhos bem abertos,
e preocupados.
Isso não faz parte do nosso acordo. Ele não deve se preocupar, e
não posso deixá-lo cuidar de mim.
—O que aconteceu? — Sua voz está tão suave. É o doce Miles,
aquele que escreveu todas aquelas músicas.
Balanço a cabeça. Não consigo falar disso. Nem consigo dizer em
voz alta.
Sua voz fica mais suave. Ele passa os dedos pelo meu cabelo. —O
que aconteceu, Meg?
—Ela... — É difícil respirar. Aqui. Inalar. Respirar. —Ela teve uma
overdose.
—Acidental?
—Sim. — Aperto meus dedos. Isso é muito próximo, muito pessoal.
Preciso me levantar, sair daqui, quero estar em outro lugar. Jared não
importa. Ele não é nada. Apenas outro perdedor que cavará sua própria
cova.
—Sinto muito—, ele sussurra.
Seus braços me envolvem. Ele me prende num abraço apertado. É
íntimo. Muito íntimo. Ele está vendo dentro de mim, vendo tudo aquilo
que eu tento esconder.
Não posso aceitar. Mas não consigo me mexer. Não posso fazer
nada além de me inclinar ao toque do Miles.
Ele me aperta com mais força. Deslizo minhas mãos sob sua
jaqueta de couro, e as pressiono contra a parte inferior das costas, sobre
o tecido macio da sua camiseta.
Ele está quente. Ele está aqui. Mas ele não é meu. Nunca teremos
esse tipo de relacionamento.
Respiro fundo. — Quero ir para casa. Vamos colocar a carteira nos
achados e perdidos.
—Ok. Onde é?
—Dê para mim. Eu faço isso.
Miles pega a carteira do bolso, e a entrega para mim. Olho para o
céu. Há grandes nuvens cinzentas cobrindo a lua. As estrelas estão
minúsculas e sem brilho, como se não se importassem em brilhar está
noite.
—Meg—. A voz dele é tão suave.
—Estou bem. — Minha garganta está doendo. Meus olhos ardem
de lágrimas. As pisco para longe. Não posso chorar aqui.
—Vou levá-la para casa.
—Não. — Limpo meus olhos com as costas da minha mão. —Vou
dizer que encontrei isso aqui. E então, nós vamos sair.
Se for para casa, vou me afogar em como isso parece horrível.
Tenho que convencê-lo de que estou bem o suficiente para sair.
Entro na sala de espera, entrego a carteira, e volto para Miles.
Ele está parado ali, com os olhos cheios de afeto. É como se
estivesse desesperado para fazer qualquer coisa que diminuísse a dor.
Sua voz é um sussurro. —Venha aqui.
Fico imóvel. Não é isso que vamos fazer. Já falei demais. Ele já viu
demais dentro de mim.
—Podemos ir? — Pergunto.
Ele balança a cabeça, e me abraça. É um abraço apertado. Quero
empurrá-lo, bater no seu peito, até que ele me solte.
Mas não consigo. Sentir o corpo dele é tão bom. Preciso muito do
conforto.
Dou um suspiro profundo. Cravo meus dedos no tecido liso da sua
jaqueta de couro.
Não posso chorar na frente de Miles. Nem mesmo, se essa outra
versão do Miles, é aquela que se machuca profundamente, que escreve
músicas sobre a indescritível agonia de perder tudo o que importa.
—Está tudo bem. — Sua bochecha roça contra a minha. —Sei o
quanto dói.
Quero perguntar a ele como. Quero perguntar quem ele perdeu.
Também quero confortá-lo. Mas, não consigo falar. Não consigo me
mover.
Não consigo fazer nada além, do que absorver a sensação dos seus
braços contra mim. Não é isso que vamos fazer. Somos casuais. Não
confidentes.
Após mais algumas respirações, estou bem calma para liberá-lo. O
afasto lentamente. O frio me atinge. É brutal e repentino, como se
estivesse largado meu casaco favorito para entrar numa tempestade de
neve.
Seus olhos ficam colados aos meus. —Você parece triste.
Balanço a cabeça. —Estou bem.
Seus olhos se voltam para a rua. —Não me obrigue lembrá-la sobre
a nossa cláusula 'sem mentiras'.
—Podemos sair daqui, por favor?
Ele não diz nada.
Preciso mudar o clima para trazer de volta o outro Miles. Pelo
menos sei o que Miles quer. Deixo minha voz clara. —Vou enlouquecer
se tiver que conversar com você por mais um minuto.
Ele sorri, mas não ri. Ele ainda não voltou a ser o sarcástico e
petulante Miles. Ainda não.
E, também não voltei para a amarga Meg. Minhas defesas caíram.
É assustador.
Miles segura o meu pulso e me leva ao seu carro. Ou o carro que
pegou emprestado de um dos seus companheiros da banda.
Me acomodo no banco do passageiro. Minha saia sobe até minhas
coxas, mas, não faz nada para atrair Miles a me tocar.
Ele desliza a chave na ignição. —Você não é tão boa em fingir que
está bem, quanto pensa que é.
—Não quero falar sobre isso.
—Não vou te foder até acabar com o seu sofrimento. — Seus lábios
se curvam em um sorriso. —Eu sei. Nos meus sonhos, né?
Concordo.
—Todo esse sonho. Devo estar muito desesperado. — Ele roça o
meu joelho.
—Escuta, Meg...
—Se as próximas palavras que saírem da sua boca, não forem algo
sobre o quanto sou irresistível, você pode poupar o seu fôlego.
—Você é terrivelmente irresistível. — Ele trilha as pontas dos dedos
pela minha coxa. —Pensei em transar com você durante todo o caminho
até aqui. —Seus olhos encontram os meus. —Quase bati este maldito
carro.
Sim. Agora. Faz sentido. Isso faz me sentir bem. Isso dói. Está
doendo pra caralho.
Miles abaixa a voz. Sussurrante. — Planejava levá-la para Malibu,
e te foder no banco de trás.
—O banco do passageiro não é bom o suficiente?
Ele sorri com malicia. —Só para o segundo round. — Sua mão
desliza sobre a minha coxa, de volta ao meu joelho. —Mas, não vou ser
sua distração. Não faço esse tipo de sexo. Não importa o quanto eu queira
transar com alguém.
Respondo com um suspiro. Bem, Miles não quer transar comigo.
Tenho outras maneiras de me satisfazer sem seus lábios macios ou as
suas mãos fortes.
Não será tão divertido, no entanto, não parece que esta noite será
muito divertida.
Ele vira a chave. —Não fique de mau humor por causa disso.
—Foi você quem me convidou para sair.
—Acabou. Se você quiser passar a noite fazendo beicinho por não
entrar nas minhas calças, vou levá-la para casa.
Ponho o cinto de segurança sobre o peito. —Qual é a alternativa?
—Te levo para Malibu. Temos uma conversa sob as estrelas.
—Não estou com disposição para falar.
Ele ri. —Não me diga.
Respiro fundo. Estou muito irritada. Odeio o quanto me sinto
confusa perto do Miles, o quanto estou perto de me agarrar a ele, e chorar
copiosamente.
É perigoso. Me apaixonar por ele, é o primeiro passo para desabar.
Ele é uma droga. Diferente da heroína que dominou a vida da minha
irmã, mas igualmente mortal.
Preciso ir para casa. Preciso chorar até dormir. Mas não consigo.
Preciso de alguém.
Preciso dele.
—Eu não estou mau humorada. Só estou com fome—, digo. —
Podemos parar para comer alguma coisa?
—Seu desejo é uma ordem.
Ele vira a chave e, felizmente, o rádio enche o carro com barulho.
Será uma noite longa.
Capítulo 12

O único lugar aberto, é uma loja de produtos orgânicos


terrivelmente cara. Tento pagar meu prato de sashimi e chá verde, mas o
Miles insiste. Acho que concordei com essa regra: tudo que fizermos, ele
paga. Estou cansada demais para contestar.
Só para me sacanear, ele compra morangos e um frasco de calda
de chocolate. Não sou tão inexperiente. Sei o que as pessoas fazem com
calda de chocolate. Deus, como quero que ele faça isso comigo, sua língua
lambendo entre minhas coxas e seios.
No carro, faço o possível para me sentir confortável. É uma longa
viagem até Malibu, e quase não há espaço entre nós.
Pressiono as costas no assento de couro, e ligo o rádio num volume
alto. Está alto o suficiente para afogar meus pensamentos. Preciso de
uma pausa de tudo. Preciso não me machucar por uns tempos.
Miles desliza o botão até que a música esteja baixa o suficiente para
conversar. Felizmente, ele não tenta realmente conversar. Sua atenção
permanece na estrada.
Ele dirige tão rápido como na sua moto. A cidade passa. Então,
estamos na Pacific Coast Highway, e estamos rodeados pelo oceano e o
céu.
Abro o teto solar e vejo as estrelas brilharem. Há formações de
nuvens no céu escuro, mas, estamos bem longe das luzes da cidade para
que as estrelas brilhem.
Há uma coisa em estar ao lado do Miles. Me sinto tão exposta e
segura ao mesmo tempo. É como se nada fora deste carro, nem mesmo
minhas lembranças da Rosie, pudessem me machucar.
Ele me vendo, sabendo o quão perto estou de quebrar, isso pode
me magoar.
—Sabe, quando mencionei conversar, presumi que você também
faria um esforço. — Sua voz está leve.
OK. Também posso provocar. —Conversar não é o meu forte.
—Dá para perceber.
—Ou o seu.
Ele ri. —Ambos conhecemos o meu ponto forte. Qual é o seu?
Sou boa nos estudos. Neste momento, é provavelmente a minha
maior habilidade. Não é muito útil fora da faculdade, mas tenho mais
quatro anos à minha frente.
Ainda assim, estamos quase flertando. E flertar pode convencer o
Miles, que o quero mais do que uma distração.
E sei. Quero que ele seja mais do que um parceiro sexual. Isso não
é possível. Isso é uma questão de sexo. Só sexo.
—Espadas—, digo.
—Como diabos você fala espadas?
Tento inventar uma piada, mas as partes não se encaixam —Bem,
obviamente não são corações.
—E não é uma comediante.
Bato contra ele de brincadeira. Meus lábios se curvam num sorriso.
Ele ri. —Você é boa em me enlouquecer.
—Em que sentido?
—Quer dizer, além de quão louco eu fico ao pensar em te tocar de
novo?
Respiro fundo. —Não me provoque, se você vai continuar com essa
ridícula declaração de não transar esta noite.
—Não é o que você esperava?
—Vá para o inferno.
Ele para num semáforo. A primeira luz há tempos. Muda para
verde, e saímos da estrada principal, para um estacionamento vazio na
praia. Tem uma placa com horário marcado: seis da manhã às dez da
noite. Já passa das onze, mas isso não vai impedir o Miles. Ele estava
prestes a queimar a casa de um cara há uma hora.
—Fico lisonjeado—, ele diz. —Que isso te irrite tanto.
Ele estaciona o carro, e tira um cobertor do porta-malas. Talvez
esse fosse seu plano original para a noite: sexo na praia sob as estrelas.
Caramba, isso parece romântico. É melhor não nos alimentarmos
com morangos um ao outro na praia. Não consigo lidar com isso.
Tiro meus sapatos e enfio meus pés na areia áspera. A água está a
trinta metros de distância. O barulho das ondas batendo preenche o ar
de maresia.
Miles coloca o cobertor ao lado de um posto de salva-vidas, e coloca
nossa fartura de guloseimas em cima dele. —Achei melhor não comer no
carro.
—Obrigada.
—Você está com frio?
—Só se você estiver prestes a me oferecer sua camiseta.
—A jaqueta de couro está no banco de trás.
O mesmo banco de trás, onde ele ia me foder. Não que isso importe.
Balanço a cabeça, me sento, e me concentro no meu jantar. Estou com
tanta fome, que até o sashimi da loja tem um gosto bom. Na verdade, tem
um sabor incrível. Atum macio, arroz borrachudo, wasabi picante.
Miles está pensativo, mas não faço ideia do que ele está pensando.
Não faço ideia de como abordar um assunto.
Assim que acabo de comer, passo para minha outra necessidade.
Abro o botão superior da minha blusa, e empurro meu peito para frente.
Seus olhos vão para o meu peito. Sua língua desliza sobre os seus
lábios. Mas, ele não me toca.
Ele quebra o silêncio. —Somos amigos. Você pode conversar
comigo.
—Não estou interessada.
—Certeza que deveria me ofender com isso.
—Então, se ofenda. Apenas não é algo que queira falar. E
certamente não com você. Você deixou claro que não quer esse tipo de
intimidade. Que não somos confidentes.
Sua voz fica baixa. —Você está se afogando em alguma coisa. Não
precisa me dizer o que é, mas não vou assistir sem jogar um colete salva-
vidas.
Ótimo. O Miles sensível está fora de questão, e ele está falando por
metáforas. Tenho que convencê-lo de que estou bem, mesmo que nem
mesmo eu acredite.
Olho nos seus lindos olhos azuis. —Obrigado pela sua intenção.
Mas estou bem. Minha irmã morreu há três meses. Ainda sinto falta dela
às vezes, mas não é nada fora do comum.
—Ela era viciada em drogas, não é?
Franzo a testa. Eu odeio pensar na Rosie assim, mas, ela era
viciada em drogas naquela época. —Não é da sua conta. —
—Se afeta nosso relacionamento, é sim.
—Que tipo de relacionamento é esse? Nós fizemos sexo e tomamos
café da manhã. — Acabo de comer, e largo o garfo no prato.
Tenho um aperto no peito. Não quero discutir isso com o Miles.
Inferno, não quero discutir isso com ninguém. E pensei que estávamos
na mesma página.
Respiro fundo. Posso convencê-lo de que não é nada. —Minha irmã,
Rosie, começou a usar drogas pelas minhas costas. Durou cerca de um
ano. Ela mentiu o tempo todo, e fiz de conta que não vi, porque não queria
acreditar que isso era possível. Estava estudando para o MCAT, e não
tinha energia sobrando para me preocupar com ela.
—Por que está tentando me convencer de que você superou?
—Não estou tentando convencê-lo de nada.
—Você nunca vai superar. Não mesmo.
—Quanto você sabe como vou estar?
—Sei como é perder a pessoa que mais importa para você do que
qualquer um. —Seus olhos vão para a areia.
Meu coração está em conflito. Quero dizer a ele que está errado e
lhe oferecer conforto. —Você vai compartilhar esses detalhes comigo?
—Esse não é o meu ponto.
—É meu. Se você nem me diz quem perdeu, por que deveria lhe
contar algo sobre como me sinto? — Cerro os dentes. — Seja você quem
for, pode trazer de volta o Miles que conheci no mês passado?
—Até aquele cara notaria como você está chateada.
—Tudo bem. Estou chateada. Você cumpriu o seu dever de amigo
e perguntou o que estava errado. Cumpri o meu dever de amiga e lhe dei
os detalhes. Podemos encerrar essa conversa?
—Não.
—Então me leva para casa.
Ele olha para mim.
—Existe uma razão para você estar me interrogando? —
Ele chega mais perto. —É a coisa decente a se fazer.
—Você nunca me pareceu um cara decente.
Ele dá de ombros. —Você tem sorte de eu não me ofender
facilmente.
—Posso me esforçar mais para ofender.
Ele descansa sua mão na minha. Tem algo nos seus olhos. Ele está
inseguro. É a primeira vez que vejo o Miles menos do que confiante.

—Não é algo que costumo falar—, digo. —Não é nada pessoal.


Ele fica de costas, com os olhos nas estrelas. —Tudo bem. Mas,
ainda não vou transar com você esta noite.

Mesmo sem as perguntas de Milles, sinto uma vontade de me


revelar, partilhar minha dor com ele. Quero me sentir do jeito que me
sinto, quando ouço suas músicas, como se ele me entendesse e eu o
entendesse.
Por que essa intimidade é tão evasiva quando falamos?
Fecho os olhos e afundo na areia. A brisa suave arrepia minhas
costas. Esfrego os braços com as palmas das mãos, mas só ajuda um
pouco.
Miles me envolve com seus braços, e atrai meu corpo para ele. É
como vestir meu moletom favorito, quente e reconfortante.
Tudo o que aconteceu com a Rosie dói. Toda vez que vejo alguém
com uma bebida e um sorriso, toda vez que ouço o nome dela, toda vez
que encontro uma de suas coisas, dói em algum lugar tão profundo que
não consigo respirar.
Minutos passam. Talvez horas. Não tenho noção de nada, exceto
as ondas, a brisa e a respiração do Miles. Ele me puxa para mais perto,
passando seu braço em volta de mim, e acariciando meu cabelo. Este não
é o Miles que vi transando com uma garota numa festa. Não é o cara que
brincava comigo por ser virgem. É o cara que escreveu In Pieces, aquele
que sabe como é perder tudo o que importa.
Então, por que não consigo conversar com ele? Meus lábios se
recusam a se mover. Penso em um milhão de maneiras de começar a
conversa. Sobre quem você escreveu a In Pieces? Isso foi há quanto tempo?
Dói menos? Eu morava com Rosie, numa casa de dois quartos. Ela morreu
na semana das provas finais. Fiquei tão deprimida, que perdi duas provas.
Tive de implorar aos meus professores para me deixarem fazê-las. A minha
média foi atingida. Ainda não é o que precisa ser. O que você perdeu? Até
onde você caiu?
Quero contar a ele, contar a alguém. Não converso com ninguém
sobre isso. Nem mesmo com a Kara.
Ainda assim, meus lábios se recusam a se mover.
Tento me concentrar nas estrelas, algo para me centrar, e evitar
que minha mente vá para lugares que não deveriam ir. Isso não funciona.
Formam-se imagens mentais vivas. Miles como meu namorado amoroso,
me levando para às aulas, compartilhando meu sashimi, sussurrando
palavras doces sob as estrelas.
Não quero um namorado. Ele não namora. Deveria ser um arranjo
perfeito. Só que ele continua agindo docemente, como se fosse voltar a
costurar os pedaços do meu coração partido.
Afundo no Miles. Desta vez, absorvo todo o conforto. Minutos
passam. Horas até.
Ele me dá uma tapinha no ombro e sussurra: —Você está
dormindo?
—Sim—, murmuro.
Ele ri. —Sonhando com alguma coisa boa?
—Pode-se dizer que sim.
Ele me levanta, me abraçando, e me carrega sobre a areia. Meu
ouvido está contra o peito dele, e consigo ouvir seu batimento cardíaco.
Seja o que isto for, preciso dele nesta noite.
Ele me coloca no banco do passageiro e pressiona os lábios na
minha bochecha. Ele olha para mim como se soubesse que estou
acordada. —Estava pensando em transar com você naquele posto de
salva-vidas.
—Você deveria saber que eu te odeio.
—Eu sei. — Ele desliza no banco do motorista. —A casa do meu tio
é aqui perto, mas ele não está. Vou levá-la até lá.
Fecho os olhos, e ouço o ar correndo pelo teto solar. Não sinto nada,
exceto as vibrações suaves do carro. Então, os braços de Miles estão ao
meu redor. Suas mãos estão pressionadas na minha coxa. Minha cabeça
está contra os seus ombros. Meu corpo se encaixa perfeitamente no seu,
ainda mais perfeitamente do que quando transamos.
Estamos numa casa estranha, subindo as escadas, num quarto.
Parece um quarto de hóspedes. Está limpo e intocado. A cama está
arrumada.
Miles me deita e me despe. Ele faz isso devagar. As pontas dos
dedos permanecem na minha pele.
Mesmo que seu toque seja mais doce do que sensual, queimo de
desejo. Minha blusa se foi. Em seguida, minha saia. Ainda estou de sutiã
e calcinha. Assim não dá. Essa sensação dolorida não dá. Preciso dele
comigo, me confortando, apagando qualquer outra coisa.
Tiro meu sutiã e o deslizo para fora dos meus ombros. Seus olhos
passam pelo meu corpo, mas ele não me toca.
—Por favor—, digo. —Pode ser rápido.
Ele balança a cabeça. —Não vai fazer você se sentir melhor. Confie
em mim. Eu tentei.
Ele está errado. Empurro minha calcinha para os tornozelos e a
chuto. Os olhos do Miles estão colados a mim. Ele está sob meu controle,
mas apenas o suficiente para observar. Não o bastante para me dar o que
quero.
Abro as minhas pernas, e me espalho sobre a cama num convite
óbvio.
Ele senta ao meu lado, e depois coloca seu corpo atrás do meu. —
Não vou transar com você. — Ele desliza o braço em volta da minha
cintura. —Se perguntar novamente, vou embora.
—Por quê?
—Porque se você perguntar mais duas vezes, direi que sim, e isso
não vai acontecer. — Ele passa os dedos pelo meu cabelo. —Vai dormir.
Você se sentirá melhor pela manhã.
Ele está errado novamente. Vou me sentir pior de manhã. Rosie
ainda continuará morta. E, ainda estarei pesada com a perda.
—Se me sentir pior, você vai me foder de manhã? — Pergunto.
Ele concorda. —Parece justo.
Derreto em torno dele. Ele me atrai para mais perto.
Não vou chorar no seu ombro. Ele não vai se apaixonar por mim.
Mas, ele está na cama comigo, me abraçando.
É bom pra caralho ele me abraçando.
Como se fossemos confidentes. Como se fossemos amantes. Como
se fossemos compartilhar todas as coisas feias em nossos corações.
Capítulo 13

Acordo sozinha.
Ele se foi. O outro lado da cama está frio. Ele saiu há horas.
Estou na casa de um estranho, num quarto estranho inabitado.
Pelo menos a vista é incrível, um longo trecho do Oceano Pacífico
de azul profundo, e do jardim logo abaixo da janela. É digno de um cartão
postal. Piscina aquática. Jardim exuberante. Sol amarelo brilhante.
E lá está Miles, deitado numa espreguiçadeira de cueca, com um
livro de bolso nas suas mãos. Ele não está lendo, mas olhando para o
vazio com uma expressão atormentada.
Não sei quase nada sobre o Miles por trás da sua sagacidade afiada.
Ele tentou bisbilhotar sobre mim ontem à noite. Talvez, não tenha sido
de propósito, mas ele queria mais de mim. Ele queria ouvir sobre a Rosie
e todas as outras coisas que ainda doem.
Mas por quê? Ou isso é casual ou é mais do que isso. Preciso saber
qual é. Preciso saber se é seguro deixá-lo entrar.
Quero ajudá-lo, olhar para todos os lugares que ele machucou e
juntá-lo novamente.
Talvez possamos ter essa intimidade. Talvez isso possa ser mais.
Encontro o banheiro. Há uma caixa de escovas de dente
descartáveis embaixo do balcão. Tento pensar numa explicação, além de
um harém de mulheres igualmente descartáveis, mas falho.
O resto da casa é tão bonito quanto a paisagem. Tudo é muito claro,
brilhante e bege. Os quartos são enormes, o teto é alto, os móveis são
discretos. É como a versão mansão de uma loja da Apple. Tem alguma
coisa intocável nesse lugar, como se ninguém morasse aqui. E lá está o
Miles, no jardim, parecendo tão intocável quanto à mesa de vidro limpo.
Ele se mexe, quando abro a porta de correr. Seus olhos encontram
os meus.
Tenho um peso no peito. Não deveria querer tanto perguntar como
ele se sente, para saber como ele se feriu, e o que posso fazer para
consertar a situação.
Ele se levanta da cadeira, e estica os braços sobre a cabeça. As
boxers deslizam levemente pelo seu estômago. Está a um centímetro
acima dele ...
—Bom Dia. — Ele dá três passos em minha direção. —Você deve
ter dormido bem. Já é quase meio-dia.
—Você deveria ter me acordado.
Ele desliza a mão envolta da minha cintura. —Tentei. Você
escolheu certas palavras sobre isso.
—Como perguntar o que diabos você está fazendo me convidando
para transar, e depois me levando para uma casa estranha para dormir?
—Semelhante, mas com muito mais insultos e palavrões—. Seus
lábios se curvam em um sorriso. —Você fica fofa quando xinga.
Como é possível não me lembrar de nada disso? Devia estar meio
adormecida. Só espero ter dado ao Miles o sermão que ele realmente
merecia. Respiro fundo. —Obrigada.
Seus olhos encontram os meus. Sua expressão muda. Não
brincalhona ou sarcástica, mas séria. Como se ele realmente estivesse
preocupado comigo. —Você está bem?
Bem, calma, serena. É o que ele faz, então é isso que farei. —Você
escreveu aquela música. Você sabe como é perder tudo o que importa
para você.
Ele concorda.
—Você está bem?
—Bom argumento.
É isso. Sem admissão de sentimentos. Sem mágoa na expressão.
Nem sinal, de que alguém ou alguma coisa tenha machucado o Miles. Ele
é absolutamente imperturbável.
Ele me pediu para conversar. Posso pedir a ele a mesma coisa.
Olho em seus claros olhos azuis. —Você quer falar sobre isso?
Ele desloca o peso entre as pernas. —Não falo sobre isso com
ninguém.
A declaração, é uma parede de chumbo. Não tem como passar por
ela, ou contorná-la. Deve ser assim que ele se sentiu ontem à noite,
proibido de entrar na minha cabeça e no meu coração. Dói de uma
maneira que não deveria. Não tendo em conta, o quão casual isso seria.
Vou em direção da cozinha. —Você tem alguma coisa com cafeína?
Ele acena para a cafeteira sobre a bancada interna. —Já tem
algumas horas.
Então, ele está acordado há algumas horas. Essa imagem passa
pela minha mente: Miles deitado naquela espreguiçadeira, seu olhar fixo
no horizonte, seus pensamentos se afastando.
O sigo até a cozinha, e preparo uma xícara de café.
A bebida não ajuda afastar a sensação de desconforto no meu
estomago. Gostaria de saber os pensamentos do Miles, mas, isso não faz
parte do nosso acordo.
Ele me cutuca com o ombro. —Você é mais óbvia do que pensa,
Meg.
Ele passa a mão na parte inferior das minhas costas. Porra, quero
essa mão em mim. Tento parecer que não me importo. Foco no meu café.
Me sento na mesa da cozinha perfeita.
Ignoro o fato de que Miles está usando boxers. Ele pode estar
fazendo isso para me seduzir ou me enlouquecer.
Sorrio, e bebo minha bebida. Sou o cumulo da descolada. Não
poderia ser mais cool.
Ele abre a geladeira e pega uma caixa de ovos. —Mexidos, ok?
—Tudo bem.
Ele pega uma tigela branca perfeita de um armário, quebra meia
dúzia de ovos brancos perfeitos, e mexe com um fouet branco perfeito.
Ele está de costas para mim. Seus músculos estão muito levemente
flexionados. Aqueles ombros e dorsais são fortes. Ele deve fazer muito
mais para malhar do que correr.
Minha mente pisca com outro conjunto de imagens. Essas são mais
atraentes. Miles em todos os tipos de posições comprometedoras comigo,
seus músculos flexionados, sua respiração tensa.
Miles desliga o fogão, e serve os ovos em dois pratos brancos
perfeitos, e os coloca sobre a mesa. Eles estão bem macios, e cozidos
corretamente. Melhor do que qualquer coisa que sei cozinhar.
Nós comemos em silêncio. A tensão paira sobre a mesa. Ele espera
que eu explique o que aconteceu ontem à noite? Gostaria, mas só se ele
me deixar entrar também.
Só quando formos mais do que amigos com benefícios.
Dou minha última mordida, e coloco o garfo ao lado do prato. —
Obrigada pelo café da manhã.
—Você ainda está com fome?
—Tenho comida em casa.
Miles dá um show saindo da cadeira lentamente. A luz do sol cai
sobre seu corpo. Seu tórax parece ainda mais definido. Suas costas
parecem mais fortes.
De certa forma, ele parece ainda mais atraente.
Miles retira uma caixa de morangos da geladeira, os lava numa
peneira branca perfeita e, os despeja sobre um prato branco não menos
perfeito. —Não posso deixá-la ir para casa, até acabar com você.
Lambo meus lábios. Ele me observa, sorrindo.
Aham. — Acabar como?
—A última vez consegui quatro, mas gosto de quebrar recordes.
Aquele calor está de volta. Desta vez, não faço nada para lutar
contra isso. Minha pele formiga, desesperada por seu toque.
Seus olhos passam pelo meu corpo. Não há nada que possa fazer
para esconder minha reação agora. O quero e muito.
Pego um dos morangos, e o pressiono nos meus lábios. A polpa é
macia e doce. Há um modo que deveria reagir aqui, mas não sei qual é.
Miles ri. —Você está nervosa novamente. É fofo.
Como o maldito morango. Lá se vai sua sedução de nível avançado.
—Essa é só uma opinião sobre este assunto.
Ele desliza a língua sobre a ponta de um morango, e o chupa, como
se fosse parte de mim.
Ele quer bater o recorde. Isso significa cinco orgasmos. Deve estar
se referindo a hoje. Cinco orgasmos seguidos me matariam.
Ele se aproxima, abre o meu botão superior, pressiona os lábios no
meu pescoço. —Você estava me implorando ontem à noite.
—Não imploro.
Ele desabotoa outro botão, e a blusa se abre. Ele desliza os dedos
pelas bordas do meu sutiã. —Você estava desesperada.
Cavo minhas unhas nas minhas coxas. —Não totalmente.
—Precisei de todas minhas forças para recusar você. — Ele afunda
os dentes no meu pescoço, e desliza a mão dentro do meu sutiã.
—Por quê?
—Não quero que pense em outra coisa quando te tocar. — Ele
desliza as pontas dos dedos sobre o meu mamilo.
—Não vou. Não posso. Nem sei que dia é hoje.
Sua respiração fica pesada. Ele abre o resto dos botões, e tira a
blusa dos meus ombros. —Preciso ouvir você gozar novamente.
—OK.
Ele ri, sua voz é sincera. —Você é realmente fofa.
—Não.
—Você prefere sexy como o inferno? — Ele tira o meu sutiã.
Suspiro, quando ele segura meus seios.
—Sim. — Fecho os olhos. Estamos falando alguma coisa, mas
parece irrelevante. Não me importo como ele me chama, desde que ele
continue me tocando.
—Será mais fácil no sofá.
—Certo. — Jogo minhas roupas de lado e o sigo.
Seus olhos passam pelo meu corpo. —Definitivamente, sexy como
o inferno.
Tiro minha saia.
As mãos do Miles deslizam sobre meus quadris, sob as laterais da
minha calcinha. Ele crava as pontas dos dedos na minha pele, e
pressiona o seu corpo contra o meu, uma parte de cada vez, seus quadris,
estômago, peito, boca.
Ele tem gosto de morangos.
Poso sentir sua ereção através da sua boxer. Queria tanto envolvê-
lo nas minhas mãos, para provar que sou realmente sexy como o inferno.
Enfio minhas mãos nos seus cabelos como se estivesse segurando
minha vida. O beijo dele é intenso. Isso me consome.
Ele pega meus quadris e me coloca no sofá. Fico deitada de costas,
uma perna pendurada na lateral do sofá, a outra pressionada contra a
almofada. Miles está acima de mim, a luz caindo sobre cada centímetro
perfeito de seu corpo.
Ele olha para mim, em mim, através de mim. Não parece casual,
mas, novamente, o que pode ser casual por ele estar dentro de mim?
Ele se move para o sofá, colocando seu corpo em cima do meu.
Envolvo minhas pernas em torno dele e o puxo para mais perto. Porra,
isso faz me sentir bem.
As pontas dos seus dedos roçam minha barriga, meu estômago,
meu peito. Suas mãos ficam bem na minha pele. Ele nunca deveria poder
fazer nada com as mãos, exceto me tocar.
Arqueio minhas costas, me esticando para sentir seu pau contra o
meu sexo. A roupa íntima está no caminho, mas posso senti-lo através
do fino tecido de algodão. Deus, ele é grande.
Seus lábios encontram os meus. Seu beijo está mais suave. Está
indo mais devagar.
Como o inferno. Deslizo minha língua na sua boca, e a giro em
torno da dele. Seu corpo muda. Balanço meus quadris, apertando minha
virilha contra a dele. O atrito envia ondas de prazer dentro de mim.
Ele geme. Seus lábios vão para o meu pescoço. Minha clavícula.
Então, seus lábios estão no meu mamilo, o sugando como se fosse seu
brinquedo. Eu sou o seu brinquedo. Ele pode fazer o que quiser comigo,
desde que não pare.
Seus dedos roçam minha perna, cada vez mais perto. Os corre
contra o meu clitóris, sobre minha calcinha. —Vou comer você. Você já
fez isso antes?
—Não—, inalo. —Mas, não quero que você vá com calma comigo.
—Nem mesmo seu eu quisesse.
Ele pressiona os lábios no meu estômago. Meu umbigo. No meio
das minhas pernas. Ele puxa minha calcinha até meus pés.
Então, sua boca está em mim. É diferente das suas mãos. Mais
suave. Úmido.
Inclino a cabeça para trás, e me rendo à sensação. Sua língua
atinge todos os nervos que tenho. O prazer invade meu corpo, reunindo
no meu sexo. E já estou perto.
—Miles—, gemo. Enterro minhas mãos nos seus cabelos.
Ele me lambe diversas vezes. Balanço meus quadris numa
tentativa de conter a sensação. É intenso, muito mais intenso do que o
sexo.
Estou leve. Estou livre. Estou voando. Porra, estou voando. Quase.
Só mais uma lambida, e vou além do limite. É incrível pra caralho.
Toda tensão no meu corpo se liberta. Uma onda de êxtase paira sobre
mim.
Gemo o nome dele mais vezes do que posso contar.
—Mhmm. — Ele me prende no sofá, suas mãos firmes contra meus
quadris.
Ele segue firme. Sua língua desliza do meu sexo para o meu clitóris.
Ao redor dos meus lábios externos. Ele se move com golpes longos e
lentos. Com rápidos e duros. De frente para trás, lado a lado, ziguezague.
O prazer aumenta. Está mais intenso. Quase intenso demais.
Jogo minha cabeça para trás, e cravo minhas unhas nos seus
ombros. Mesmo assim, é muito intenso.
Com o próximo movimento de sua língua, um orgasmo cai sobre
mim. Grito o nome dele quando gozo.
O mundo é lindo. É difícil acreditar, que alguma coisa já doeu
antes.
Desmaio no sofá, imersa em cada gota de prazer.
Miles se levanta num impulso. Ele passa as pontas dos dedos pelas
minhas coxas, um convite para continuar.
Concordo que sim.
Ele me puxa do sofá. Não sei para onde estamos indo, só que quero
estar aqui, com ele, o fazendo se sentir tão bem quanto eu.
Subimos as escadas, até a porta no final do corredor. É um
banheiro imenso com um chuveiro enorme.
É tão deslumbrante quanto tudo o mais nesta casa, paredes de
vidro, acessórios de alumínio, tapete antiderrapante sobre o chão.
Miles liga a água, e me move debaixo dela. Inclino minha cabeça
para trás para lavar meu cabelo.
Um pequeno gemido escapa dos seus lábios. Ele olha como se
quisesse me consumir, como se estivesse desesperado para me tocar.
Agora, o tenho onde o quero.
O poder é excitante. Vou me divertir com isso.
Ele se move para baixo do chuveiro, inclinando a cabeça para trás
como eu. Seu corpo está perto do meu. A água escorre pelo seu peito e
estômago.
Ele volta à posição normal, e aponta para uma prateleira no canto.
—Shampoo.
—Claro. — A prateleira está cheia até a borda com sabonetes e
xampus ecológicos. Escolho a única marca que reconheço, o aperto nas
minhas mãos, passo pelos meus cabelos, e o devolvo na prateleira.
Ele sorri. maliciosamente —Você vai pagar por essa insolência.
—Adoraria que você tentasse.
Vou passar uma mão pelo meu cabelo, mas Miles me para. Ele enfia
os dedos no meu couro cabeludo. Gemo, deslocando instintivamente meu
corpo em direção ao dele.
Paciência está fora de questão. Preciso dele gemendo no meu
ouvido. Preciso dele. Ponto final.
Ele passa as mãos pelos meus cabelos, me traz de volta ao chuveiro
e me ajuda a enxaguar.
—Isso não parece uma punição—, digo.
—Mhmm. — Ele pressiona seus lábios no meu pescoço. —Será.
Minha respiração fica presa na garganta. —Quando?
—Quando você sair do chuveiro sem me foder.
Sou totalmente incapaz de conter um suspiro. —Isso vai te punir
mais do que a mim.
Ele murmura outro —Mhmm. — Ele pressiona seus lábios nos
meus. Suas mãos encontram meu peito, e ele massageia meus mamilos.
A água flui sobre nós. Está tudo escorregadio e molhado. Cada
movimento das suas pontas dos dedos é suficiente para me enlouquecer.
Ele dá um beijo. —Isso foi só para começar.
—Eu gosto de preliminares.
Ele sorri. —Você é tão fofa, que pode arruinar meu plano.
Volto para a prateleira, aperto o xampu nas mãos, e volto para ele.
—Já falamos sobre isso. — Corro minhas mãos pelos seus cabelos
grossos.
O guio debaixo d'água para que ele possa se enxaguar.
Mesmo assim, não vou lembrá-lo com palavras.
Fazemos o mesmo com o condicionador, nos beijando entre a
aplicação e o enxague. Em seguida, é o sabonete. Aperta o sabonete
líquido nas mãos, e esfrega cada centímetro da minha pele. Preciso de
todas as forças para não gritar, para não implorar que ele me foda aqui e
agora.
Ele ajuda a me enxaguar, e é a minha vez de torturá-lo. Ainda tenho
o controle e quero mantê-lo. Esfrego o sabonete líquido sobre cada
centímetro dele. Uma vez que minhas mãos não são nada além de água,
esfrego seu pau para completar. Ele está duro.
Gosto da sensação dele nas minhas mãos, do jeito que geme,
quando o acaricio.
Agora, ele é meu brinquedo, e sei exatamente o que quero fazer com
ele.
Envolvo minhas mãos em torno de seu pau e o acaricio. Ele me
beija com força, gemendo na minha boca. Ele está tremendo. Por minha
causa.
Neste momento, ele é todo meu.
Afasto meus lábios dos dele. Beijo seus ombros e peito, segurando
seus quadris em busca de apoio.
—Meg ...
—Sim? — Fico de joelhos, e pressiono meus lábios contra seu
estômago perfeito.
Ele enfia as mãos no meu cabelo. —Você é muito gostosa.
Ocorre-me que nunca fiz isso. Com o Miles na minha frente, não
fico hesitante nem tímida. Sei tudo o que preciso saber. Vou fazer o que
for preciso para fazê-lo se sentir tão bem quanto me senti no sofá.
Deslizo a língua ao redor da cabeça do seu pau. Ele estremece,
então, faço de novo. Novamente. Outra vez. Chupo a ponta dele. Ele está
duro, mas sua pele é macia. E tem gosto do Miles.
Levo o máximo que posso dele. Seu gemido profundo ecoa ao redor
do vidro do chuveiro. Isso me dá confiança. Preciso desse som nos meus
ouvidos. Preciso fazê-lo gozar.
Pressiono minha língua contra sua base, sugando com mais força.
Seus gemidos ficam mais altos. —Sexy por todas definições da
palavra. — Mais difíceis.
Seguro as coxas dele. Ele puxa meu cabelo. Perfeito. Meu corpo se
move com prazer. Preciso levá-lo lá. Preciso senti-lo gozar.
O levo mais fundo. Passo minha língua contra sua cabeça. Ele
geme, beliscando meus mamilos forte o suficiente para enviar pontadas
de prazer ao meu núcleo.
—A garota mais sexy que já conheci—, ele exala.
Corro a língua em torno da sua cabeça, até ele tremer. Até seus
gemidos ficarem baixos e profundos. Sua respiração elevada preenche o
espaço.
Ele aperta o meu mamilo. —Mhmm.
Ele está quase lá. Quase meu. Pressiono minhas mãos na sua
bunda, o empurrando mais fundo.
Suas mãos enrijecem. Suas coxas se fecham.
Ele goza, enchendo a minha boca. É doce e salgado e um pouco
estranho, mas, é gostoso sentir seu orgasmo, saboreá-lo. Quando acaba,
engulo com força.
A satisfação se espalha por mim. Diferente do orgasmo, mas
igualmente bom. O fiz gozar. O deixei desesperado.
Ele me levanta, e me abraça. Em seguida, seus lábios estão nos
meus, e sinto um tipo diferente de prazer.
O mundo todo se reorganiza. Não tenho ideia de onde estou, o que
isso significa, o que estamos fazendo aqui.
Capítulo 14

Minhas roupas não estão no quarto de hóspedes. Ainda estão no


andar de baixo. Abraço a toalha no meu peito, e vou para a sala de estar.
Miles está sentado no sofá. Ao lado da minha roupa
cuidadosamente arrumada.
Então, tudo bem.
Levo meu tempo vestindo meu sutiã. Miles ainda está sob o meu
controle. Ainda me observando com muita atenção.
Porra, gosto de ter a atenção dele.
Coloco a saia e deslizo a blusa sobre meus ombros. Fecho apenas
os três botões do meio.
Mas, minha calcinha não está em lugar nenhum.
Miles tem um sorriso diabólico no rosto. Tenho certeza de que ele
tem alguma coisa a ver com isso, mas não vou admitir que é um
problema. Então, não tenho calcinha, e daí?
—Vamos comer sushi no almoço. — Ele retira uma camisinha do
bolso da frente do jeans, e me puxa para seu colo. —Você poderá ter sua
calcinha quando eu terminar com você.
Ele pressiona seus lábios nos meus, e desliza sua mão sob a minha
saia. Seria tolice me opor.

O restaurante japonês Fusion fica sobre a água. O oceano e o céu


azul são cenário para o terraço sombreado.
Nós somos os únicos aqui fora. É meio da tarde, aquele horário
entre o almoço e o jantar. Uma brisa sopra sobre nos meus ombros.
Tremo e abraço o meu peito. Miles tira sua jaqueta de couro, e a coloca
sobre meus ombros.
Um perfeito cavalheiro.
Meu batimento cardíaco aumenta. Tenho certeza de que estou
tendo uma ideia errada novamente. Sou apenas mais uma garota numa
longa lista dos joguetes de Miles.
Ponho as minhas preocupações de lado. Não é sempre que saio
para jantar, bem, sequer janto, com um rock star gostoso. E certamente,
não é todos os dias, que ele me faz gozar inúmeras vezes.
Miles me observa abrir o menu. Ele ri tipo, estou claramente
tirando um sarro da Meg. Tenho certeza de que meu queixo caiu, mas os
preços aqui são insanos.
—Você é realmente adorável—, ele disse.
Dobro o cardápio, e cruzo as pernas. Vou mostrar a ele a adorável.
—Essas não foram suas palavras no chuveiro.
Ele morde o lábio e seus olhos brilham. É sexy como o inferno, mas
não é um olhar de derrota.
—Peça o que quiser—, ele diz. —Eu pago.
—Eu sei.
Ele está rindo novamente. O entretenho. Não, é pior. Eu o divirto.
Ok, ótimo. Só há uma maneira de acabar com isso. Preciso
convencer o Miles que estou no nível dele. Que não me intimido com o
seu dinheiro, ou com seu corpo, ou com sua linda voz.
Quando nosso garçom chega, escolho o sashimi mais caro do menu
e peço dois de cada. Bem, quatro de cada, desde que, o sashimi vem em
duas porções a cada pedido. Peço sal em vez de molho de soja. Fecho o
menu, e o entrego ao garçom.
—E para beber? — Ele pergunta.
Caramba. Peço um chá verde, e dou o meu melhor sorriso. A coisa
toda imperturbável parece um pouco fria, e não serei o tipo de pessoa que
é uma idiota com o garçom.
Miles continua olhando para mim como seu eu fosse um
cachorrinho. Aparentemente, não está impressionado com a minha
exibição. Ele pede o de sempre.
O garçom sai. Tomo um longo gole da minha água. Olho para o
oceano, a apenas dez metros de distância, para evitar olhar nos seus
olhos.
—Você realmente gosta de sashimi—, ele diz.
—Sim.
Ele ri. —Você está bem, Meg? Você parece um pouco fora de si.
Trago meu olhar de volta para ele. —Estou bem. — É mentira. Não
estou bem. Estou desmoronando. Seus olhos são lindos, e estão cheios
de afeto.
—Não sou fofa—, digo.
— Aí, temos que concordar em discordar.
—Ótimo. Mas, prefiro que você não continue falando nisso. —
Cruzo e descruzo as pernas. Essa cadeira de repente parece
desconfortável. Não quero diverti-lo. Quero afetá-lo. Quero ser importante
para ele.
Ele baixa a voz. —Qual o problema de ser fofa?
—É o que você diz sobre sua irmãzinha. Ou sobre alguém que é
ingênuo e totalmente chato.
—Não—, ele diz. —É a garota que fica vermelha quando você a
elogia, que tenta provar que é durona, pedindo sashimi suficiente para
três pessoas.
—Vou comer tudo.
Ele sorri. —E isso: você fica na defensiva com tudo.
—Não estou na defensiva. — Isso não me ajuda a provar o meu
ponto de vista. Desisto. —Tudo bem. Você está certo. Sou fofa, ingênua e
desajeitada, e você é sexy, gracioso e controlado. Devo continuar?
Ele abaixa o tom. —Não é uma competição. Gosto de você do jeito
que você é.
—Mas... — Mordo meu lábio. Não vou ajudar meu caso. —OK.
—Nós somos amigos. — Seus olhos encontram os meus. —Quero
que você aproveite isso tanto quanto eu, Meg. Se te chamar de fofa te
deixa assim tão infeliz, eu paro. Mas prefiro que não. Adoro ver você
corar.
Engulo em seco. —Tudo bem.
—Tem certeza?
Concordo. Tem alguma coisa na sua voz quando ele me chama de
fofa. Odeio me sentir fofa, mas amo o som de sua voz quando ele diz isso.
Estou o afetando. Talvez, não esteja o enlouquecendo de desejo. Talvez,
não o tenha sob o meu feitiço. Mas estou o afetando.
—Não acho você divertida—, diz ele. —Acho você graciosa.
Charmosa de uma maneira única.
Minhas bochechas ficam vermelhas.
—Você tem um sorriso lindo. Isso é raro. Faz-me sentir como se
tivesse ganho um prêmio, quando consigo fazer você sorrir.
Sua expressão é muito sincera. Ele pensa assim tanto de mim?
Suas palavras não são nada casuais. São palavras de alguém com grande
carinho. São as palavras de um namorado, não de um amigo colorido.
Limpo minha garganta. —Você realmente acha que somos amigos,
e não apenas duas pessoas transando?
Ele concorda.
—Então, você me diria se houvesse algo que eu precisasse saber
sobre você? Qualquer coisa que você costuma manter em segredo.
Ele levanta uma sobrancelha. —Onde você quer chegar?
—Apenas ... você tem insistido muito na Rosie. Pensei que talvez
você tenha passado por algo parecido.
—Meu tio morreu no ano passado.
—Então, aquela casa...
—É minha.
—Foi dele que você herdou?
Miles assente.
—Oh, lamento que o tenha perdido.
—Obrigado. — Seus olhos vão para o oceano. —Levei seis meses
para sorrir depois que ele morreu. Ainda é uma luta alguns dias. Por isso,
sei que ainda te magoa, que sua irmã mentiu para você. Imagino. — Sua
expressão se enche de vulnerabilidade. —Não vou mentir para você desse
jeito.
Pela primeira vez, Miles não está confiante. Tem o rosto cheio de
incertezas. Sua testa está enrugada, seus olhos voltados para baixo.
—Não há nada que você precise saber—, ele disse. —Eu juro.
As palavras não se encaixam, mas não posso exigir que ele me
conte.

De volta à casa do seu tio – sua casa, me visto com uma boxer extra
e uma camiseta. Suas roupas extras. Não é uma coisa qualquer que ele
guarda para as mulheres descartáveis que traz aqui.
Nós nos acomodamos no sofá.
Miles coloca seu braço em volta do meu ombro. Descanso minha
cabeça no seu peito. É confortável estar aqui com ele. É normal.
Ele liga a TV e o PS4, e percorre um serviço de streaming. Ele passa
a mão pelo meu cabelo. —Isto é o que você quer assistir, né?
Ele vai para The Lost World. Ele está brincando comigo.
—Esperto—, digo.
—A fala é 'uma garota inteligente', e está no primeiro filme.
—Garoto esperto.
—Adoraria ver os dinossauros destruírem San Diego, mas, se
preferir assistir outra coisa, vá em frente. — Ele me entrega o controle
remoto.
—Você vai zombar de mim seja lá o que eu escolher.
Seu hálito está quente no meu ouvido. Ele passa a mão pelo decote
da minha camiseta, sua camiseta. —Provavelmente.
Arqueio as costas, pressionando meu peito nas suas mãos. —
Convença-me a escolher alguma coisa.
—Convencer você como? — As pontas dos seus dedos roçam minha
pele.
—Desse jeito—, inalo.
—Gosto da autoconfiança.
—Você está enrolando.
Ele desliza a mão na minha camiseta, as pontas dos dedos roçando
meu mamilo. —Por que faria isso?
—É inteligente, na verdade. Você está pressionado contra mim no
sofá. Você pode zombar de mim, e fazer o que quiser comigo
paralelamente.
Ele sorri. —Alguma parte disso que você não gosta?
—Não. — Me inclino ao seu toque. —Continue.
—Depois que você escolher um filme.
Não vou fazer nada com ele me tocando. Fecho os olhos, apertando
o controle remoto para me conter. Ele passa os dedos pelo meu peito,
segurando meu corpo contra o dele.
—Podemos assistir qualquer coisa—, digo.
—Mhmm. — Ele chupa meu lóbulo da orelha. —Você escolhe. —
—Você vai tirar sarro de mim.
—Seja como for, você não vai prestar atenção ao filme. Você
escolhe.
Seus dentes raspam contra o meu lóbulo da orelha enquanto ele
aperta meus mamilos. Não consigo mais me conter. Gemo e pressiono
meu corpo no dele.
—Miles ...
—Não conheço um filme com esse nome.
Ele está tentando me matar. Não há outra explicação razoável.
Ele leva os lábios ao meu pescoço, e me puxa para o seu colo.
Então, suas mãos estão na minha boxer, bem, na sua boxer. Ele a puxa
para meus joelhos.
—Miles ... você não pode ... não me provoque...
—Eu, provocar? Nunca. — Ele afunda os dentes no meu pescoço e
puxa a boxer dos meus quadris.
—O filme não me interessa.
—Eu sei.
Ele acaricia minhas coxas com um leve toque. Ele se aproxima, se
aproxima mais perto. Jogo minha cabeça para trás, e relaxo meu corpo
no dele. Os filmes são estúpidos. Os filmes são muito menos
surpreendentes do que isso.
Levanto os braços, e Miles puxa minha camiseta, sua camiseta, por
cima da minha cabeça. Estou no colo dele nua, no meio da sala, a TV
idiota ainda esperando minha seleção de filmes.
De jeito nenhum vou escolher um filme agora.
Ele pega meus pulsos, e planta minhas mãos no sofá, do lado de
fora das suas coxas. Seus lábios encontram o meu pescoço novamente.
Ele chupa a minha pele. O desejo se espalha pelos meus membros.
Ele pode me provocar o quanto quiser, se vai acabar assim.
Pressiono minhas mãos no sofá. Sou o brinquedo dele, e não vou
me opor a essa performance.
Ele acaricia minhas coxas com um leve toque, se aproximando cada
vez mais e mais. Ele está a um centímetro do meu sexo.
Ele desenha ziguezagues na minha coxa com as pontas dos dedos.
Meu corpo zumbe de desejo. O toque do Miles é tudo o que preciso. A
única coisa que preciso.
—Nunca me importei menos com um filme—, digo.
—Eu sei.
Sua respiração está quente no meu pescoço, minha orelha. Ele
chupa meu lóbulo novamente. A pressão é intensa, e cada movimento da
sua língua envia outra onda de prazer dentro de mim.
O Miles só pode me dar sexo, mas, meu Deus, ele pode me dar sexo.
—Toque em mim—, inalo.
—As coisas boas vêm para aqueles que esperam.
—Odeio esperar. —
—Eu sei. — Ele afunda os dentes no meu pescoço novamente,
apenas o suficiente para me sentir incrível. Seus dedos roçam meu sexo.
—Porra, Meg, como você está tão molhada?
—Você.
Ele geme e afunda os dentes no meu pescoço novamente.
Finalmente, as pontas dos seus dedos roçam no meu clitóris. Oh Inferno.
Sim. Seu toque envia faíscas através do meu corpo. Preciso de todas as
forças para não ofegar.
Arqueio as costas, balançando os quadris para me pressionar
contra a sua mão. Ele me acaricia com atenção lenta e constante. Seu
toque é leve e delicado, e cada parte de mim está desesperada por ele.
Não consigo conter a respiração. Não consigo fazer nada além de me
render à sensação.
Ele afunda os dentes no meu pescoço. Agora, é mais duro, e cada
mordida amplifica o prazer que cresce dentro de mim. Seu toque fica mais
duro, mais rápido, mais áspero. Ele esfrega meu clitóris com longas
passadas, seus dedos deslizando no meu sexo.
Ele desliza um dedo dentro de mim. Suspiro. É exatamente do que
preciso. Em seguida, são dois dedos.
Arqueio as costas para empurrá-lo mais fundo. Ele pressiona a mão
livre contra o meu peito, segurando meu corpo contra o dele, pela frente
contra o seu peito.
A pressão aumenta. Perto. É intenso. Pensei que meu corpo não
tinha mais nada, mas estou quase lá de novo. Respiro fundo, absorvendo
o som dos seus gemidos, a sensação da sua camiseta de algodão nas
minhas costas.
Estou nua no colo dele. Estou prestes a gozar. Ele tem todas as
cartas, e não dou a mínima. Desde que continue a me tocar, faz-me sentir
tão bem.
Meu corpo se enche de prazer. Começa dentro de mim, e irradia
através do meu núcleo, para o meu estômago, quadris, peito, coxas,
lábios. O fogo dentro de mim é tão intenso, que nada poderia apagá-lo.
Gemo. Quase. Quase. Aperto o sofá, quando um orgasmo penetra
dentro de mim. O prazer se espalha até os dedos das mãos e dos pés.
Ele me abraça durante algum tempo. Até minha respiração voltar
ao normal. Até quase acreditar que posso andar.
Seus lábios pressionam contra o meu pescoço. —Isso ajudou você
a decidir sobre um filme?
—Cale a boca.
—Isso não é maneira de agradecer o homem que a fez gritar tão
alto, que quase você quebrou o copo.
—Não seja arrogante—, murmuro.
—Se você prometer continuar tão barulhenta. Eu gosto. — Ele me
ajuda a sair do sofá, e pega minha mão. —Vamos lá. Quero te mostrar
uma coisa.
O sigo lá para cima. Ele abre a porta de um quarto, e acende as
luzes.
Ocorre-me que, mais uma vez, estou nua, e ele está completamente
vestido. De alguma forma, não me incomoda. Amo o jeito que ele olha
para mim, como se quisesse me consumir. Isso me faz sentir poderosa e
desejável.
Ele aponta para uma estante de livros. —Notou alguma coisa?
Puta merda. Têm três ou quatro dúzias de livros do Guerra nas
Estrelas ali. —Você é um nerd—, digo.
—Nosso segredo. — Ele desliza o braço à volta da minha cintura.
—Tenho de manter a minha reputação.
Concordo. Miles me contou um segredo. Temos um segredo. Além
da coisa de amigos com benefícios. Não é um grande segredo, mas parece
íntimo.
Meus lábios se curvam num sorriso. —Você se importa com o que
as outras pessoas pensam de você.
—Todo mundo faz isso.
—Mas você age como se não o fizesse. Você age como se nada
pudesse magoá-lo.
—Você sabe que isso não é verdade.
Deslizo minha mão em torno da sua cintura, e olho nos seus olhos.
—Conte-me outro segredo.
—Caramba, é difícil dizer não para uma mulher nua.
—Você disse na noite passada.
—Você sabe por que eu disse. — Ele passa os dedos pelo meu
cabelo. —Quão secreto?
—Muito secreto.
Ele ri. —Fui de Harry Potter no Halloween durante todo o ensino
médio.
—Você não fez isso.
Ele assente. —Eu era mais baixo, menor. Minha mãe adorava fazer
minha fantasia. Ela adorava esse tipo de coisa, a mágica, a justiça —
Seus olhos vão para o chão. —Eu tinha doze ou treze anos. Um garoto
mais velho pegou meus óculos falsos, e os jogou no chão pisando neles.
—O que você fez?
Tentei acertá-lo, mas não consegui. Ele era maior, mais forte. Pelo
resto do ano, nunca mais ouvi falar dele. Aprendi o valor de não reagir às
coisas. Então, fiquei maior, aprendi a bater com força. Foi só isso.
—Você parou de demonstrar suas emoções e começou a espancar
as pessoas, por que um valentão pegou sua fantasia de Harry Potter?
—Não. Como é que você sempre me chama?
—Indiferente.
—Sou indiferente, porque não quero que ninguém conheça minhas
fraquezas. Não quero que ninguém saiba o que me magoa. — Sua
expressão fica tensa.
—Mas suas músicas. Você está confessando para o mundo todo.
—Sim.
—Qual é a diferença?
—Estou no controle. Eu é que estou no palco, comandando
atenção, fazendo as garotas gritarem. — Seus olhos encontram os meus.
Ele passa as pontas dos dedos pelas minhas costas. —A maioria não ouve
com atenção as palavras. Não enxergam o que está na frente dos seus
rostos.
Me inclino ao seu toque. É difícil me concentrar com suas mãos no
meu corpo nu. Mas, posso dizer que isso é importante. Isso é realmente
um segredo.
Olho para trás. —Sim. Ouvi aquela música mil vezes. Aquele cara
que estava cantando. Ele era o meu melhor amigo. Ele era a única pessoa
que sabia onde me doía.
—Ainda sei onde dói em você. —
—Mas, eu não ... é diferente.
—Você sabe. — Ele dá um passo para trás. —Você sabe mais do
que ninguém.
Ele se senta na cama, seus olhos cheios com uma expressão que
não consigo identificar. É uma tristeza, mas não é só isso. Talvez,
saudade.
Esta era a casa do seu tio. Deve significar muito para ele. —Esta
casa parece intacta—, digo.
—Não venho aqui sozinho. Parece vazio sem Damon. Parece quieta
sem a risada dele.
Observo a estante de livros. Está atualizada. Tem três livros do
Guerra nas Estrelas que foram lançados durante o verão. Então, ele está
aqui às vezes. Pelo menos uma vez.
—Você tem um favorito? — Aceno para os livros.
—Não.
—Você gosta de outras ficções científicas ou só Guerra nas
Estrelas?
—Principalmente Star Wars. E Futurama.
Meus olhos encontram os dele. —Você já jogou Podracer ou Rogue
Squadron?
Agora, ele olha para mim como se eu fosse uma nerd.
—Nunca tive a chance.
—Você sabe o que isto significa?
Ele sorri. —O quê?
—Vamos assistir Guerra nas Estrelas.
—Qual?
—Todos eles.
—Você vai ficar aqui até as quatro da manhã.
—Você tem algo melhor para fazer?
Ele ri. —Você é muito fofa.
—Ok, tudo bem. Eu sou fofa. Mas, você não tem nada melhor para
fazer do que assistir doze horas de Guerra nas Estrelas.
—Não me ocorre nada que eu queira fazer.
Nem ligo que ele me chame de fofa. Há meses que não me sentia
tão animada. Estou praticamente saltando.
Miles parece muito animado.
É bom estar com ele, e fazer pequenas coisas. Fazer nada.
—Se você só quiser assistir um ou dois filmes, eu entendo. Não
quero incomodar—, digo.
—Não, gosto de ter você aqui. — Ele me puxa para a cama. — Gosto
da sua companhia.
—É assim que os jovens chamam?
—Eu amo transar com você. Mas também, gosto de conversar com
você. — Ele desliza as mãos sob a minha bunda, e me guia de costas. —
Gosto de você aqui. A casa não parece vazia. — Ele puxa a camiseta por
cima da cabeça. —Os caras da banda, talvez você não tenha notado, mas
eles me olham em busca de sinais de que vou voltar a quebrar.
—Quando você quebrou a primeira vez?
Ele não diz nada.
Passo minhas mãos pelos cabelos dele. —Ainda dói?
—Não tanto. Já faz quase um ano. — Ele pressiona seus lábios no
meu pescoço. — Gosto de conversar com você, Meg, mas, você precisará
colocar algumas roupas, se quiser continuar falando. — Ele arrasta as
pontas dos dedos sobre o meu peito. —Você quer conversar ou quer fazer
isso?
Respondo desabotoando seu jeans.
Capítulo 15

Assistimos todos os filmes do Guerra nas Estrelas. Miles conhece


todas as falas, e se deleita em recitá-las para mim. Bem, ele também
gosta de zombar de mim, brincando sobre minha óbvia paixão pelo Han
Solo.
O que posso dizer? Talvez tenha uma queda por canalhas.
Está quase amanhecendo quando vamos para a cama, mas desta
vez, Miles não me coloca no quarto de hóspedes. Dormimos juntos na sua
cama, no seu quarto. Não é uma cama grande, mas é tão bom ficar
pressionada contra ele. Seu corpo se encaixa perfeitamente no meu.
Adormeço quase instantaneamente, e acordo nos seus braços.
Miles se mexe quando saio da cama. Ele me arrasta para o banheiro
e tomamos outro banho juntos. É tão incrível quanto antes. Nós nos
beijamos, tocamos, e nos ajudamos com o sabonete e o xampu.
Depois, ele me faz café da manhã e café. É como se estivéssemos
brincando de casinha, como se estivéssemos fingindo ser adultos em um
relacionamento adulto. Sei que tenho 21 anos, e ele não deve ser mais do
que alguns anos mais velho, mas nunca me senti realmente adulta. Mas,
estar nessa casa sozinha com ele, parece real.
Miles ri quando vamos para a casa de Kara. —Você está com essa
roupa há quase três dias.
—Mesmo?
—Algo me diz que você normalmente não usa blusas decotadas e
saias curtas para sair com sua melhor amiga. Não que me incomode.
Ele tem razão. Nunca me arrumo para ver a Kara. Na melhor das
hipóteses, visto uma camiseta e jeans. Preciso de roupas limpas,
principalmente roupas íntimas limpas. Nem pensar que vou sair sem
calcinha com a minha melhor amiga. —Então, me deixe em casa. Vou me
trocar.
Ele balança a cabeça. —Não, vou te levar numa boutique que
conheço.
—Não sou uma boneca.
—E você não ficará em exposição para ninguém além de mim. —
Ele me leva até a porta da frente. —Mas, vou me sentir mal por ter
rasgado sua calcinha se não comprar outra.
—Não, você não vai.
Ele sorri. —Ok, não vou. Mas mesmo assim, vou comprar algo para
você vestir neste momento.
—Não é necessário.
—Você não vai ganhar esta, Meg. Você deveria desistir de resistir
se não quiser chegar atrasada para se encontrar com a sua amiga. —
—Não preciso de roupas. E, não preciso que você me compre
nenhum tipo de lingerie.
Ele pressiona seus lábios na minha bochecha. —Todo esse tempo
você está gastando resistindo. Poderíamos passá-lo juntos no provador.
—Ah. — Ah
Entro no carro sem mais objeções.

A boutique é melhor do que poderia imaginar. Não as roupas, não


dou a mínima para as roupas. Miles me arrasta para o provador. Uma
mão debaixo da minha saia, outra mão em cima da minha boca, ele me
massageia até eu mal conseguir abafar meus gritos, em seguida, me
massageia um pouco mais. Gozo três vezes, apesar do meu medo de que
a vendedora nos expulse.
Escolho uma calça jeans, uma blusa e um conjunto de lingerie
preta rendada. Tudo aqui é absurdamente caro, mais do que ganho num
mês, mas, ele insiste.
Nós, bem, eu, chego bem na hora à casa da Kara. Ela abre a porta,
e olha minhas roupas com curiosidade.
—Nunca vi essa roupa antes.
—É nova.
Ela balança a cabeça, não acreditando na minha versão da história.
—Essa calça jeans é cara.
Concordo.
—Existe alguma razão para você manter isso em segredo?
—Não quero que você surte.
—Cite uma vez que surtei. — Ela me dá um segundo olhar. —
English Breakfast, está bem?
—Claro.
Ela vai para a cozinha, e liga a chaleira elétrica.
Revejo minhas opções, enquanto ela prepara o chá. Confio na Kara,
mais do que em qualquer pessoa. E deveria querer contar a ela tudo o
que se passa com o Miles.
Ela volta para a sala principal com duas canecas de chá. Ela coloca
uma na mesinha, e entrega a outra para mim. Tem uma paciência infinita
nos seus olhos, como se ela pudesse esperar oito milhões de anos por
uma explicação.
Bebo meu chá para ganhar mais dez segundos. —Estava com o
Miles—, digo.
Ela se engasga, e limpa a garganta como se quisesse esconder sua
surpresa. —E o que você estava fazendo com o Miles?
—Transando.
—Puta merda, Megara Smart. Como diabos você não me contou
isso?
—Não é nada demais.
—Besteira. Não aja como se não desse a mínima. Você perdeu a
virgindade com o Miles. Isso é enorme. Será que ele é enorme?
Minhas bochechas queimam.
—Ele é! — Ela grita. —Vamos deixar de lado por um momento a
questão do seu segredo. —Kara se aproxima, com os olhos arregalados.
—Como foi transar com ele?
—Bom.
Ela olha para mim. —Bom? Você chama isso de detalhe? Quero
maiores detalhes, porra!
—Ótimo, é um detalhe melhor?
—Tecnicamente, ótimo é melhor do que bom.
—Você parece uma professora de inglês.
—Obrigada. — Ela bate os dedos no jeans. —Tão…
—Muito, muito bom mesmo. Ele é bom em tudo e, é mais terno do
que seria de esperar. Mas, é só sexo. Na verdade, não é nada demais.
—Não acredito nisso, querida. — Ela muda para o outro lado do
sofá. —Foi apenas uma vez, ou você tem saído com ele?
—Algumas vezes. Somos ... amigos com benefícios.
—E o que mais, ele te buscou ontem à noite, e te deixou aqui com
uma muda de roupa? —Ela me estuda como se estivesse procurando
rachaduras.
—É por isso que não queria contar nada.
—O que é?
—Pare de me olhar como se eu fosse frágil. Não vou quebrar por
causa de um pouco de sexo casual.
—Tudo bem. Contanto que pareça casual para você. Parece?
Porra, ela é uma leitora de mentes? Não parece muito casual. Mas,
ele foi bem claro quanto a não querer mais. E, não quero mais. — Não
quero ter sentimentos por ninguém. E, se uma faculdade de medicina em
Nova York for a minha melhor opção? Não quero que nada afete minha
decisão. Muito menos sentimentos por um cara.
—Mas, você sente alguma coisa por ele?
—Nós somos amigos. — Acho. Espero.
—Humm. — Ela assente. —Tudo bem. Você é adulta. Deixo pra lá,
se você me der todos os detalhes!
— Todos os detalhes?
—Não os pormenores. — Ela ri. —Só me conte o que está
acontecendo. Entende, como se fossemos melhores amigas ou algo assim.
—Já seria alguma coisa.
—Não seria?
—OK. — Respiro fundo, e começo do início. Sou vaga sobre o sexo,
e sobre como ele me deixa confusa, mas incluo todos os outros detalhes
importantes.
Quando termino, ela cria um plano. Vai ter um show da Sinful
Serenade no sábado, e nós duas devemos impressionar. Ela tem a roupa
perfeita para me emprestar. Nossas diferenças de altura e busto não são
um problema.
—Você sabe, como somos melhores amigas, e contamos coisas uma
a outra? — Pergunto.
—Não gosto de onde isso está indo.
—Por que você está tentando causar uma boa impressão, se pensa
em ser só amiga do Drew? Você gosta dele.
—Não se trata de gostar ou não dele. Ele nunca vai me querer
assim. E não vale a pena arriscar que as coisas mudem. Quando ele
entrou em contato no inverno passado, parecia que tinha encontrado
meu vestido favorito. Não percebi o quanto senti sua falta, até ouvir sua
voz de novo. Como era bom estar ao seu lado no jantar ou durante um
filme. —Seus olhos ficam sonhadores. — Ele é um bom amigo.
Superprotetor, sim, mas ele é muito gentil. E me faz rir. Não posso perder
isso. Nada seria pior do que perder isso.
—E se ele começar a namorar outra pessoa?
Ela franze a testa. —Isso acabará acontecendo. Ele é bonito e
famoso. As garotas sempre o param para pedir seu autógrafo. Elas estão
sempre tocando nele. Suas mãos estúpidas no seu braço, como se
merecessem tocá-lo.— Ela balança a cabeça. —É tão errado que quero
que ele olhe para mim como se estivesse desesperado para arrancar
minhas roupas?
—Depende o que você faria, se ele se oferecesse para rasgar suas
roupas.
—Ele não vai.
—Mas se ele fizesse?
Ela solta um suspiro de prazer. — Preciso ler quinhentas páginas
esta noite. Não posso pensar no Drew rasgando minhas roupas, ou não
vou conseguir passar da primeira frase. Ela puxa os joelhos para o peito.
—O que você faria se Miles criasse sentimentos por você?
—Ele não vai.
—Mas se ele fizesse?
—Não faço ideia.

Fico em transe o resto de brunch. Na maior parte falamos sobre a


escola. Provas. Seus planos de ir para sua casa em São Francisco, para
o feriado de Ação de Graças. Minhas tentativas de evitar ir para casa ver
meus pais, por um único fim de semana. A casa ainda machuca muito.
Em casa, há algo esperando na porta do meu apartamento, uma
caixa embrulhada com um laço azul marinho. O cartão é simples.
Boa sorte nos estudos esta noite.
Miles
Trago para dentro, me jogo na cama, e desembrulho a caixa. É um
Nintendo 64, e dois jogos de cartucho cinza desbotados: Star Wars
Episódio I: Racer e Star Wars: Rogue Squadron.
Como diabos ele localizou dois jogos de vinte anos? Não vejo
nenhum desses, ou um Nintendo 64 há anos.
Conecto os fios à TV da mesma maneira que fiz quando criança,
vermelho com vermelho, branco com branco, amarelo com amarelo.
Envio uma mensagem para o Miles.
Meg: Obrigada. Eu amei.
Miles: Fico sempre feliz em te proporcionar prazer.
Meg: Você me distrai muito. Minhas notas vão sofrer.
Miles: Posso devolvê-lo, se você não confia em si mesma.
Meg: Não! Você não pode! É o presente mais gentil que alguém já me
deu.
Miles: Você é uma nerd.
Meg: Você também é.
Miles: Esse é o nosso segredo.
Nós temos um segredo. Temos outros segredos. Temos um nível de
intimidade que não entendo muito bem.
Será que Miles sente algo por mim? É possível. Os caras não
compram videogames difíceis de encontrar para garotas com quem são
apáticos.
Meu telefone vibra.
Miles: Kara te falou sobre o nosso show no sábado?
Meg: Ela falou. Até fiz planos para ir com ela. Não sei como. Hoje
não estou muito rápida. Alguém me manteve acordada a noite toda, depois
gastou toda a minha energia esta manhã.
Miles: Você não gostou de gozar no provador?
Meg: Não estou reclamando.
Miles: É sábado. Vamos por volta das nove. Estamos trabalhando no
nosso novo material. Foi ideia do nosso empresário. Vou colocá-la na lista.
Meg: Ok.
Miles: Vou buscá-la. Dar a Kara a chance de levar o Drew para casa.
Meg: Acho que isso não vai acontecer.
Miles: Ainda não. Mas, pode acontecer. Sua amiga é gostosa, e o
Drew não está transando com ninguém. Todo mundo na banda sabe que
ele não está transando com ninguém. Ele fica irritado sem parar. O cara
precisa muito transar.
Meg: Você acha que a Kara é gostosa?
Miles: Não tanto quanto você, mas sim, ela é atraente. E, ela é um
doce de garota. Não tenho nenhum interesse. Não tenho nenhum interesse
em tocar em ninguém além de você.
Meg: Que conversa fiada estranha.
Miles: Você pode me dizer que acha que o Drew é gostoso, se te faz
se sentir melhor.
Meg: De certa forma, sim. Ele é gostoso.
Miles: Como pode dizer isso? Você está acabando com a minha
confiança, Meg. Não acredito que você olha para outros homens.
Meg: Eu não. Na verdade, não.
Miles: Ótimo.
Meg: Você realmente acha que ele fica irritado sem transar? Isso não
é uma coisa agradável de se dizer sobre seu amigo.
Miles: Digo isso na cara dele. O cara sabe que ele não é todo arco-
íris e luz do sol.
Meg: Né
Miles: Sim. Ele tem uma concepção. Só que Tom tem uma visão
diferente. A merda fica quente no estúdio.
Meg: Ele te deu um soco na cara uma vez?
Miles: Sim. Eu estava sendo um idiota.
Meg: Você, um idiota? Estou chocada.
Miles: Eu sei. Normalmente sou muito educado.
Meg: E, nem um pouco convencido.
Miles: Nem um pouco.
Meg: Você também tem uma concepção?
Miles: Sim, mas abordo as músicas de forma diferente deles. Tom
quer ser popular. Drew quer fazer esse rock assassino. E acha que é uma
lenda da guitarra. E, tem razão. Ele é bom. Mas não é propriamente o que
mais tocará no rádio. Então o Pete, nosso baixista, fica fora da briga, para
que ninguém perceba que ele pode fazer o que quiser com o baixo.
Meg: E você?
Miles: Sou dono dos vocais, das letras, da carga emocional
necessária das músicas. A banda sabe que não deve foder isso.
Meg: Provavelmente, é porque você é tão bonito. Eles fazem o que
podem para te apaziguar, para que você fique por perto.
Miles: Sem dúvida. Você deve estar cansada. Você geralmente não
é tão sincera.
Meg: Estou cansada.
Miles: Diga a sua amiga que o Drew não fode ninguém há um tempo.
Meg: Não sei se ela quer saber. Ela insiste que eles precisam
continuar amigos.
Miles: Confie em mim. Não é assim que essas coisas funcionam.
Meg: É assustador, mas acho que acredito em você.
Miles: O suficiente para seguir sem camisinha na próxima vez?
Meg: Sim.
Miles: Porra. Para sábado ainda faltam seis dias?
Meg: Sim, da última vez que verifiquei.
Miles: Posso ir aí agora.
Meg: Tenho que estudar. É muito melhor sem camisinha?
Miles: Foda. Mal me lembro. A última vez que fiquei sem camisinha
foi no ensino médio. Tentei um relacionamento monogâmico por um mês
inteiro.
Meg: Você não tentou.
Miles: Tentei. Falhei. Horrivelmente. Tem certeza de que você está
ocupada? Você pode me chutar da cama quando terminarmos.
Meg: Mas, não consigo te chutar da cama.
Miles: Sim, você provavelmente me imploraria para gozar
novamente. OK. Vá estudar. Vou contar os minutos para sábado.
Meg: Eu também.
Capítulo 16

O clube está iluminado em tons de roxo neon. O térreo já está


lotado. A maioria do pessoal está informal, jeans, camisetas, tênis. Um
grupo de mulheres estão vestidas para impressionar.
Kara e eu nos encaixamos no último grupo. De certa forma, não me
importo que esteja pisando na linha entre o chique e vulgar. Entre a blusa
justa e decotada, e a saia curta, sei que vou fazer Miles me querer tanto
quanto o quero.
Kara aperta minha mão e me arrasta escada acima. Ela passa entre
outro grupo de músicos até o Drew. Ela o encontra, como se ele tivesse
um localizador.
Ele esfrega os olhos quando vê a roupa dela. Missão cumprida. —
Quem te deixou sair de casa vestida assim? — Ele ergue uma
sobrancelha.
Ela encolhe os ombros, como se usasse isso em todos os lugares.
Eles se abraçam. Me afasto, para dar espaço a eles. Não sei onde Kara
fica insegura. O Drew está com certeza olhando para ela, como se
quisesse transar com ela. Ele não é tão óbvio quanto o Miles, mas ele é
bem óbvio.
Ele me pega olhando para ele, e redireciona seu olhar para a parede
oposta.
Procuro pelo Miles no espaço. Ali. Ele está encostado na parede,
conversando com uma mulher peituda com longos cabelos loiros. Pois
bem.
Seus olhos encontram os meus, e ele imediatamente pede licença.
Inferno, ele praticamente joga a loira peituda para fora do caminho.
Aceno, mas fico onde estou.
Hoje, ele virá até mim.
Uma dúzia de passos, e ele está ao meu lado. Desliza seu braço em
volta da minha cintura, e se inclina para sussurrar no meu ouvido.
—Vamos lá para trás. Não serei capaz de pensar até que esteja
dentro de você. — Ele arrasta as pontas dos dedos pela cintura da minha
saia. —Você está incrível pra caralho.
—Eu sei.
—Porra, gosto quando você é confiante. — Ele acena com a cabeça
para as escadas.
—Dá tempo? — São oito e meia. Ele deve estar no palco em meia
hora.
Miles assente. Seus olhos estão pesados. É como se ele me quisesse
tanto, que não consegue articular uma única palavra.
—Ei, Megan. — Uma voz familiar interrompe. É o baterista loiro.
Tom.
—É Meg—, digo.
O Miles lança um olhar incrédulo para o amigo. —Isso não pode
esperar?
—Não, não pode. — Tom me dá um sorriso de desculpas, e volta
para o Miles. —Agora.
Miles franze a testa. Ele está chateado. Tão chateado como ele
estava na praia. Ainda mais. Ele recupera a sua expressão, mas ainda
está lá, nos seus olhos, e na sua postura. Ele está inseguro com alguma
coisa.
Quero saber o que é.
Vejo Tom puxar Miles de lado. Não tem muito espaço aqui em cima.
Eles estão quase ao alcance do ouvido. Me sento no sofá, e aproximo
mais. Até estarem ao alcance do meu ouvido.
—Você está transando com ela? — Tom pergunta.
—De repente, você tem problemas com sexo casual?
—Ela sabe?
—Não.
—Porra, Miles. Você está tentando me dar dor de cabeça? — Tom
balança a cabeça. —Você vai contar a ela?
—Como essa porra é da sua conta? — Miles pergunta.
—Se você não contar a ela, eu vou—, Tom diz.
A voz de Miles está baixa e irritada. —Vai à merda.
Há mudança de peso no sofá. Alguém se senta ao meu lado. É um
homem mais velho, num terno laranja brilhante. Ele é careca, mas ele
ainda mantém seu cabelo em um rabo de cavalo.
—Meg, certo? — Ele oferece a mão. — Sou Aiden. Sou empresário
da Sinful Serenade.
Ok... não sei o que posso ter a dizer a esse cara, mas posso ser
educada. —Sim, Meg. Prazer em conhecê-lo.
Ele olha para o Tom e o Miles, ainda numa discussão acalorada. —
Não tem uma maneira educada de dizer isso, Meg, mas preciso que você
vá embora.
—Como é?
—Miles não pode ter uma namorada. Ele nunca escreveu uma
canção de amor. Garotas gostam disso. Gostam que ele esteja destruído,
que ele seja território não conquistado. Mas agora, ele está escrevendo
essa música. Não é bem uma canção de amor. Mas está muito perto.
— Não há consciência nos olhos redondos do Aiden. Ele entrega
sua ideia, como se estivesse recitando o boletim meteorológico. —Ele será
o próximo Adam Levine. Você quer ficar no caminho dele?
—Nós somos... — Não amigos, mas não estamos juntos. —Nós não
somos namorados. Mas isso não é da sua conta.
—Todo mundo tem um preço, querida. Não me faça trabalhar para
encontrar o seu.
Eis uma mão em volta do meu braço. Que me tira do sofá, e me
pressiona contra um corpo forte. Miles.
—Você está bem? — Ele sussurra.
Aceno.
Miles olha para o Aiden. —Não fale com as minhas amigas.
Tom e Miles trocam um olhar compreensivo. Então, Tom é que está
no sofá, tendo palavras duras com o empresário.
A fama é uma merda.
Miles passa os braços em volta de mim. Sua voz está suave, gentil.
—Ele tocou em você?
—Não.
—Bom ... ele tem uma certa reputação. É uma longa história, mas
fique longe dele.
Concordo. Miles parece preocupado. Ele está preocupado comigo.
Ele se importa comigo. Mas do que Tom estava falando? Existe um
segredo. O Miles escreveu uma nova música, uma canção de amor?
Minha mente está a mil. Não consigo acompanhar. —Sobre o que seu
amigo queria conversar? — Pergunto.
—Coisas da banda.
—Certeza que não era sobre mim?
—O que o Aiden te disse? — Miles pergunta.
—Ele não quer que você tenha uma namorada. Para sua imagem.
Parece que as garotas precisam pensar que você é um garanhão.
Miles ri. —Sim, ele diria isso. Mas você não é minha namorada.
Então, estamos bem.
—É. Devo me preocupar em estar numa página de fofocas? Meus
pais vão surtar comigo namorando uma estrela do rock.
—Quer apostar?
—Talvez.
Seus olhos encontram os meus. —Seus pais vão me amar.
—Você é arrogante. — Mas é possível que ele esteja certo. Ele é
formado em Stanford. Ele é charmoso. Ele é bonito. Exceto pelas
tatuagens, ele parece um bom rapaz.
Miles ri. —Você sabe que sim.
—Mas como você sabe?
—Porque te conheço. — Ele corre as pontas dos dedos sobre minha
blusa. —E, conheço os pais de Orange County. Onde os seus moram?
— Newport Beach.
—Menina rica mimada. — Ele balança a cabeça com falsa
indignação.
—Sim, e sua mansão em Malibu é só para você descansar?
Ele confirma. —Quando foi a última vez que você os viu?
—Você está tentando me fazer esquecer que você e Tom estavam
sussurrando segredos.
—Não era nada. Quando foi a última vez que você viu seus pais?
Não foi nada. Há tensão no rosto do Miles. Sua testa está franzida.
Seus ombros estão tensos.
Ele está chateado. É um grande segredo. Confio nele o suficiente
para deixar pra lá? Não sei.
O de volta para seus lindos olhos azuis. —Não os vejo desde o dia
em que fui para a faculdade.
—Eles sentem sua falta? Pedem sua visita?
—O tempo todo.
—Convidam para almoçar ou jantar?
—O tempo todo. Invento desculpas.
—Avise-me da próxima vez. Eu irei com você. Como seu namorado.
—Você quer conhecer meus pais?
Ele traça o decote da minha blusa. —Vou mantê-los longe de você.
Sua voz está pesada de desejo, mas não sei, se ele está desesperado
por mim ou pelo fim desta conversa.
Preciso pensar.

Pressiono meus lábios nos dele. Porra, seus lábios são macios.
Consigo sentir o beijo da cabeça aos pés. Isso não me ajuda pensar.
—Desculpe. — Dou um passo para trás. —Banheiro. —Ele assente.
Tem algo nos seus olhos, algo que não consigo reconhecer. Me viro,
e desço as escadas.

Tudo nesse lugar é vermelho e brilhante, e as luzes acima de nossas


cabeças são de um roxo particularmente fluorescente.
E Kara está aqui. Ela está em pé na pia, retocando o batom. Ela faz
contato visual através do espelho. —Você está bem?
Confirmo.
—Você parece chateada.
—Não é nada. — Acho que não é nada. Vou ao espelho, e verifico
minha maquiagem. Está tudo bem, mas preciso de uma desculpa para
estar aqui.
Mais batom não faz mal. Também pode não ajudar. Miles já quer
me foder. O que preciso, é de algo para convencê-lo de que mereço sua
confiança.
Eles fazem uma sombra chamada ‘a garota que você conta seus
segredos?’ A minha é um jogo de vermelho cereja.
—O que quer que esteja acontecendo com o Miles, não deve deixar
você com essa expressão no seu rosto. — Ela brinca com o tubo do batom.
—Como se você tivesse sido atropelada por um caminhão.
Limpo minha garganta. —Não é nada. Só não estou mais com
vontade de ficar numa festa.
—Quer conversar?
Balanço a cabeça. —Não. Eu... ainda bem que posso confiar em
você. Você é a única pessoa na minha vida em que posso realmente
confiar.
—Não sei se temos a mesma definição da palavra confiança—, ela
diz. —Olhe para mim e jure pelo seu amor, hum, como se chama aquele
personagem? O robô que bebe muito?
—Bender.
—Jura pelo seu amor ao Bender, que você está bem.
Realmente pareço tão infeliz? Me sinto insegura. Por que de repente
o Miles está se afastando? É suposto termos um acordo. Sem mentiras.
Sem segredos.
Não posso fazer isso, se ele vai sussurrar segredos com seu
companheiro de banda. Talvez, ele me diga. Vou perguntar de novo, dar
a ele outra chance de me dizer. Kara desliza sobre o balcão.
—Não amo tanto o Bender. — Deslizo sobre o balcão ao seu lado.
—Alguma coisa acontecendo com o Drew?
—Você não vai me distrair, a menos que jure.
—Juro que ficarei bem. — Algum dia. —Sabe, Miles me disse que o
Drew não dorme com ninguém faz tempo.
—Sério. Isso é interessante. — Ela limpa a garganta, lutando contra
seu rubor. —Ele me convidou para jantar depois do espetáculo. Mas acho
que todos foram convidados.
—Duvido que alguém se sentará nesse trem. Inclusive eu. Vou dizer
que não, e fico por aqui.
—Tem certeza?
—Sim. Bem, posso pegar um táxi. Mas, vou ficar bem.
—Você sabe, o Miles escreveu uma música sobre você. Ouvi dizer
que ele vai tocar esta noite.
—AH.
Kara é minha melhor amiga, e confio nela em quase tudo. Só não
como me sinto em relação ao Miles. Nem consigo dizer isso em voz alta.
Seria admitir ceder à tentação que destruiu a minha irmã.
Limpo minha garganta. —Então, nós duas somos totalmente
ineptas com os homens.
—Sim, parece ser esse o caso.
Kara corrige sua maquiagem e a minha, e me arrasta de volta para
o setor VIP no andar de cima. A banda não está mais aqui. O empresário,
Aiden nos assegura que Sinful Serenade está se preparando para subir
ao palco.
Me acomodo num dos cubos pretos colocado como um assento
normal. Kara se senta ao meu lado. Está muito barulho para uma
conversa relevante, então, trocamos fofocas sobre o professor Rivers,
nosso professor de poesia.
As luzes do palco se apagam. Está quase na hora do show. O
público começa a gritar. Este é um espaço pequeno. Afinal, a banda está
trabalhando no seu novo repertório. Miles vai cantar uma música sobre
mim. Eles não podem mostrar isso para um grande público. Não
enquanto não está terminada.
Como ele pode estar escrevendo uma música sobre mim? As luzes
acendem. A música começa.
É In Pieces.
Não consigo olhar para o palco. Muito menos olhar para o Miles.
Fecho meus olhos.
Sua voz penetra nas minhas veias.

Três semanas.
Não consigo dormir.
Duas semanas.
O buraco no meu peito não mostra sinais de recuperação.

Aquela palavra, uma piada, sua risada.


—Fugindo de novo, garoto? —
Um minuto aqui
e então, você se foi.

Sua dor gira em torno de mim, se misturando à minha. Isso é uma


montanha-russa. Tudo o que posso fazer, é me segurar e tentar
sobreviver ao passeio.
Abro minhas pálpebras. Não consigo reconhecer a expressão no
rosto dele. Mas, sei o que a música significa. Sei que significa que ele está
magoado. E, eu magoada. Mas juntos, nos magoamos um pouco menos.
Ou entendi tudo errado?
Sua voz atravessa o salão. —Vocês gostariam de ouvir uma coisa
do novo álbum?
O público aplaude. Cada garota nesse clube está gritando de
alegria, incluindo Kara, que está num volume estridente. Tenho certeza
de que vinte pares de calcinhas caem, mas quem sou eu para julgar?
—Chama-se No Way in Hell. Sobre alguém muito especial. — Seus
olhos estão em mim.
Drew dedilha sua guitarra. A música começa. É algo rápido e forte,
e há um desespero na música.
A voz do Miles ocupa o espaço.
Três da manhã, e não consigo dormir.
Um refrão comum, eu sei.
Como um sentimento, é caro.
Alguém para ligar, abraçar, amar.
Nem pensar nessa palavra
ela sorri e eu me afasto
Oh inferno, não.
Não é possível.
Nem pensar em mim,
nem pensar nela.
Mais, alguém, talvez, mas, eu não.
Não faço esse tipo de coisa.

Não há dúvida disso. Ele está cantando sobre mim. Não é como
antes. Essa música é sobre mim. E, ele está cantando para mim. Fecho
os olhos, querendo que meus ouvidos se fechem, desejando que meus
pulmões respirem, desejando que meu coração fique firme.

Amanhece, e não consigo pensar em nada


além da sua risada, gemidos
o som que ela faz quando eu afundo
meus dentes. Oh, uau, esses detalhes
são meus, mas ela não é
E de repente eu quero ...
Oh inferno, não.
Não é possível.
Nem pensar em mim,
nem pensar nela.
Mais, alguém, talvez,
mas, eu não.
Não faço esse tipo de coisa.
Meu corpo se recusa a se comportar. Ele se recusa a fazer qualquer
coisa, exceto absorver a música do Miles. Toda a emoção em sua voz está
caindo em cima de mim. Ele sente dor. Em algum lugar no fundo dele,
ele sente dor, e Deus me ajude, quero ser eu a tirar essa dor.
Capítulo 17

Após o set, a banda reaparece na área VIP. Drew e Kara


praticamente desaparecem. Um segundo aqui, então, eles não estão
exatamente de mãos dadas a caminho da porta dos fundos.
E agora, estou sentada no estúpido cubo preto, com os outros caras
da banda ao meu redor. Tom tem uma ruiva bonita no colo. Ela ri,
olhando para ele como se ele fosse um prêmio.
O baixista de cabelos escuros se apresenta. —Meg, certo?
Confirmo. —Meg Smart.
—Pete Steele. — Ele balança a cabeça, e se vira para Tom. —Você
tem um quarto.
Tom encolhe os ombros. Ele toma um gole da bebida, envolvendo
casualmente o braço em torno da ruiva como se ela fosse um troféu
bonito.
Ela parece feliz. Acho que não cabe a mim julgar.
Miles cai ao meu lado. Ele abre os joelhos, como se fosse me seduzir
a cair de joelhos e chupá-lo na frente dos seus amigos.
Não que não esteja pensando em levá-lo para a minha casa e rasgar
suas roupas.
Não posso fazer isso. Não posso tocá-lo, até dar a ele uma chance
de explicar. —Porra, você é muito brega. — Pete se dirige a Tom. —Quase
tão ruim quanto o Drew que fugiu sem se despedir. Deve estar
desesperado.
Tom se dirige a mim. — Essa é a melhor amiga dela.
Miles sorri maliciosamente, arrastando seus dedos pela minha
coxa.
Mordo minha língua para não reagir ao seu toque. — Tenho um
nome, e é Meg.
—Você sabe o que se passa com eles, Meg? — Pete pergunta.
—Eles são apenas amigos—, digo.
Pete assente. —Sim, eu aposto. Com todo o respeito à sua amiga,
se fosse o Drew, não faria outra coisa senão arrastá-la para o banco de
trás.
—Quer dizer, se você não estivesse muito ocupado mandando
mensagens sexuais para a Cindy? — Tom pergunta.
—Invejoso, por que seu relacionamento mais longo foi de três
minutos? — Pete pergunta.
—Foram três horas—, diz Tom.
—Vocês são uns fofoqueiros idiotas—, diz Miles.
—Deveria ouvir o que ele fala sobre você. — Pete digita algo no seu
telefone.
—Você deveria tentar não se meter em problemas—, diz Tom. —
Assim, não teria de fofocar.
Miles estreita os olhos. —Ou que tal isso, Tom? Mantenha sua boca
fechada. Então, não terei que usar meu punho para te calar.
Tom revira os olhos.
Pete balança a cabeça.
Sem dúvida, essa é uma conversa de história. E não faço parte da
história. Não estou no círculo de amigos.
Talvez, haja algo na ideia de perguntar gentilmente. Faço contato
visual com o Tom. —Em que tipo de problema Miles se meteu?
Tom e o Miles trocam um olhar de compreensão. Lá se vai a
pretensão do Tom de me dizer, se o Miles não o deixar. É óbvio, que os
caras têm algum tipo de código.
Isso não me deixa mais confiante.
Miles me puxa para o colo dele. Seu pau está bem debaixo do meu
sexo. Estou usando a calcinha de renda que ele me comprou na boutique.
Está praticamente tudo transparente.
Fecho meus joelhos. Não faz sentido mostrar aos outros caras da
banda.
Miles pressiona seus lábios no meu pescoço, me segurando do jeito
que o Tom está segurando a linda ruiva, como se eu fosse um troféu.
Ele se dirige aos outros caras. —Não fale isso para o Guitar Prince,
ok?
—Você chama Drew de Guitar Prince? — Pergunto.
O Pete assente. —Devia ouvir do que chamamos o Tom pelas
costas.
—Vai se foder—. O baterista faz beicinho.
Pete aponta para a ruiva no colo do Tom. —Não sou de esperar na
fila. — Ele joga a mão sobre o lado da boca, como se fosse sussurrar. —
É Sticks for Brains (Baquetas nos Miolos). Não é muito criativo, mas
transmite a ideia.
—O Guitar Prince e Miles podem aproveitar o talento. Que diabos
você está oferecendo? — Tom pergunta.
—Sensualidade. — Pete sorri.
—Deixa pra lá, Sticks —, diz Miles. —Todos sabemos, que você não
vai demitir o seu irmão.
Olho do Pete para o Tom. Tom tem olhos verdes e cabelos loiros
escuros, uma mistura dos jovens Brad Pitt e Kurt Cobain. Pete tem olhos
escuros e cabelos preto. Eles são bonitos e robustos, mas não são nada
parecidos.
—Não se preocupe comigo, Meg—, diz Pete. —Não partilho
nenhuma linhagem com o Sticks. Somos irmãos adotivos.
—Adotado—, Tom corrige.
Mordo minha língua, rezando silenciosamente por qualquer outro
tópico de conversa. Qualquer coisa além de família.
Tom beija sua linda garota na bochecha e, a manda embora. Assim
que ela sai, ele se aproxima, e olha diretamente para o Miles. —Não sei o
que vocês dois estão fazendo, mas Drew vai te matar se você ferrar tudo
com aquela vadia, e então, serei o cantor e guitarrista.
Contorço as mãos. —Ei babaca, é a minha melhor amiga e, ela não
é uma vadia. Ela só tem peitos grandes. E mesmo que fosse, ela não ia
gostar que que você falasse dela assim. Então, por que você não cala a
boca?
—Ou vai pedir ao Miles para me calar—, o Tom propõe.
Miles pressiona seus lábios no meu pescoço. —Por favor, peça.
Adoraria ter um pretexto.
Balanço a cabeça. —Não quero ouvir outra palavra sobre minha
amiga ou sobre o Drew. Entendido?
Tom assente. Sua expressão demonstra muita irritação, mas ele
assente.
Pete ri. —Porra, você nem está pegando essa boceta, e está sendo
pau mandado. Bater essas baquetas deve estar fritando seu cérebro.
—Você toca baixo numa banda emo, imbecil. Você realmente faz
alguma coisa? — Tom pergunta.
—Você ainda dúvida que sou o membro mais sexy da Sinful
Serenade? — Pete pergunta. —Meg, me apoie. Sou muito mais gostoso do
que o seu namoradinho, né?
Tom se intromete antes que eu possa sequer imaginar uma
resposta. —Por causa daquela garota toda, você sabe que eu tenho ritmo
constante, é tão quente.
Pete pisca para mim. —Meg sabe do que estou falando.
Coro e aperto minhas pernas novamente. Miles ri e ele me inclina
para que meus joelhos estejam voltados para longe dos caras, então só
corro o risco de mostrar para parede.
—Cindy sabe do que ele está falando—, diz o Miles. —E ouvimos
sobre o que ele está falando em detalhes sórdidos.
O Pete cora, mas tem muita confiança nos seus olhos. —Você tem
que admitir, duro muito tempo.
—E, ele também é bem criativo—, diz o Miles.
Estou perdida. Me viro para o Miles. —Você vai ter que me explicar
isso.
Miles passa as pontas dos dedos pelas minhas coxas, logo abaixo
da barra da minha saia. —O Pete adora sexo por telefone.
O Pete encolhe os ombros, se fazendo de envergonhado, mas
claramente orgulhoso como o inferno. —Vocês entenderiam se tentassem
ter um relacionamento na estrada. — Ele ri. —Ou, se já tivessem tentado
um relacionamento. Ponto final.
Me viro levemente, para olhar nos olhos do Miles. Ainda não
consigo decifrar sua expressão.
Emoções brotam no meu estômago. É assim que são as relações?
Tenho afeição por ele, tenho. Só não sei onde a linha para. Nós somos
amigos. Nós transamos. Mas tem mais do que isso?
—Caramba, agora o Miles tem que provar que tem mãos
habilidosas—, o Tom diz.
Pete balança a cabeça. —Miles convence as garotas que ele é
torturado por dentro, que precisa delas para tirar a sua dor.
— Perfeito —, Tom diz.
Pete ri. —Ele tem uma boca e sabe usá-la.
—É isso mesmo, Meg? — Tom pergunta.
Me viro para eles. —Os meus lábios estão selados.
Miles sussurra no meu ouvido: —Quer sair daqui?
Uma onda de calor passa por mim. Eu quero sair daqui. Quero que
Miles me leve para casa e me leve para a cama. Mas não assim, não com
ele guardando todos os seus segredos.
Viro para ele o melhor que posso. —Só se você explicar sobre o que
o Tom estava falando. Ou devo perguntar a ele agora?
Miles pega meus quadris, e me desliza para fora de seu colo.
Estamos quase de frente um para o outro, e sua expressão é quase séria.
A coisa mais próxima da seriedade que vi em um bom tempo.
Ele assente.
Concordo.
E de repente, essa conversa com a banda é a conversa mais chata
da qual já participei.

Pegamos um taxi para a minha casa, nos tocamos em vez de


conversar.
Ele passa os dedos pelas minhas coxas, por baixo da minha saia,
tão, tão perto, mas não exatamente onde eles precisam estar.
O meu corpo está em guerra com o meu coração. Suas mãos são
tão boas. Sua respiração é tão boa. Inferno, suas palavras são tão boas,
tão perfeitas, tão tranquilas.
Ele me quer. Talvez, seja a única maneira de ele me querer. Talvez,
isso seja o melhor que pode chegar.
Mas, estabeleci nossos termos por uma razão. Sem segredos, sem
mentiras. Ele está escondendo um segredo de mim.
Não posso permitir isso. Não depois do que aconteceu à Rosie.
Não importa o quanto meu corpo esteja gritando, implorando ao
meu cérebro para dar um passeio pelo resto da noite, eu não posso ceder.
Ele desliza a mão sob o tecido da minha blusa. Todo esse calor
corre através de mim. Não consigo pedir para ele parar. Nem consigo
admitir que preciso que ele pare.
Em vez disso, fecho os olhos e, me rendo à sensação que ele
desperta dentro de mim. Suas mãos pertencem ao meu corpo. Seus lábios
pertencem à minha pele. É tão bom, nós dois juntos.
Não quero desistir.
Mas, talvez precise. Ele tem uma chance de me dizer a verdade. Só
isso.
O carro para. Droga. Estacionamos à porta do meu apartamento.
Já chega. Temos que voltar para o mundo feio, e preciso exigir uma
explicação.
Miles paga o taxista, e me acompanha até o meu apartamento. O
elevador parece minúsculo. O corredor parece menor. A chave está
escorregadia nas minhas mãos, e minhas pernas nunca estiveram tão
tremulas.
Entramos no meu apartamento. Miles fecha a porta atrás de mim.
Pega minhas mãos, as puxa para cima da minha cabeça, e me prende na
porta.
Seu corpo pesa contra o meu. Seu beijo é quente, carente. Como se
isso fosse mais do que sexo para ele.
Como se ele precisasse mais do que meu corpo.
Miles puxa a saia até meus joelhos. Arrasta a mão para as minhas
coxas. Sem provocações desta vez. Ele me acaricia por cima da calcinha.
—Preciso de você. — Ele puxa a minha blusa, e a tira dos meus
braços.
Estou pressionada contra a porta, quase nua, e ele ainda está com
todas as suas roupas.
Ele ainda tem todas as cartas.
Saio do seu alcance, planto na cama, e envolvo um lençol ao redor
do meu peito. Miles olha nos meus olhos. —Megan.
—É Megara. Não Megan. Está na minha carteira de motorista. E,
não, não é do filme da Disney. É um lance de mitologia.
—Você tem uma carteira de motorista?
—Sim.
—Você nunca dirige.
—Não é bem esta a questão.
—O Tom estava apenas falando demais. Não é nada.
—Se não é nada, me conta. — Respiro fundo. Tenho que ser forte
aqui. Tenho que resistir ao quanto eu o quero. —Só saí com você, porque
disse que conversaria comigo.
Ele passa a mão pelos cabelos. A testa dele dá um nó de frustração.
—Miles. Nós combinamos. Sem segredos. Sem mentiras. Ouvi
vocês dois conversando. Ele perguntou se você me tinha dito alguma
coisa. Ele ameaçou me contar, se você não o fizer...
— Não é nada. —Miles se senta ao meu lado. Seus olhos se voltam
para o chão. Sua voz suaviza. —Tom é intrometido. Só isso.
—Se não é nada, me conta.
—Não posso falar sobre isso. — Ele se inclina mais perto. —É assim
que as coisas são. Combinamos que é casual.
—Combinamos em não guardar segredos.
Os olhos dele escurecem. —Não vou falar sobre isso. É pegar ou
largar. —Sua voz cai em algo. Está carente. —Isso não deveria ser
complicado.
—Você é quem está complicando. — Saio da cama, e pressiono as
costas contra a parede. Coloco só um metro entre mim e Miles. É o melhor
que posso fazer neste apartamento. —Por que não me conta, se não é
nada?
—Meg. Não faça isso. Temos uma boa relação.
—Você é quem está fazendo isso. — Aperto o lençol em volta do
meu peito. —Você me perguntou se confio em você. Confio. Quero
continuar confiando em você. Por favor. É só me contar.
Ele engole em seco. —Não posso.
—Então, você precisa ir embora.
Miles se levanta. Seus olhos encontram os meus. —Não prefere que
eu vá embora depois?
—Não estou mais no clima. — Não importa o quanto meu corpo se
oponha.
—Era para ser divertido.
—Sim, bem, já não é divertido para mim. — Pressiono a mão contra
o peito dele. —Se você não vai me contar, então, vá embora, porra.
—Meg...
—Agora.
Ele segura meu olhar por um momento. Há alguma coisa em seus
olhos, a mesma dor que vi antes, mas, ele pisca e acabou.
Fecho meus olhos apertados. A porta bate com força. É isso. Ele se
foi.
Eu o afeto.
Mas, de alguma forma, não é nenhum consolo.
Capítulo 18

A rotina apaga qualquer sinal do Miles. Vou para a aula. Vou


trabalhar. Vou a casa da Kara no domingo, e tento evitar qualquer tema
relacionado a homens ou música, especialmente homens que fazem
música.
O objetivo se prova ser impossível. Ela faz 21 anos no final de
outubro, e dará uma festa de aniversário, no Halloween, antes da semana
das provas do meio do ano, na Mansão Sinful, em Hollywood. Penso em
ligar para Drew e implorar que ele assuma minhas obrigações como
melhor amiga.
As próximas duas semanas são péssimas. A Sinful Serenade
lançou seu novo single No Way in Hell, a música sobre mim.
É um sucesso da noite para o dia. Atinge o topo das paradas no
gráfico alternativo, o número quatro na parada de sucesso. O videoclipe
atinge dez milhões de downloads no final da sua primeira semana. O clipe
é lindo e forte. É em preto e branco. Metade é a banda tocando na praia,
ondas batendo em torno deles. A outra metade, é Miles num quarto vazio,
com seus olhos cheios de mágoa.
Entendi In Pieces, como se as palavras estivessem escritas na
minha alma. Por que não consigo entender essa música? Tenho certeza
de que é sobre mim. Mas, não sei bem o que significa.
Como ele pode escrever uma música sobre mim num suspiro, e me
dizer que não mereço olhar para o seu coração no próximo?
A música me segue por toda parte. Está em todas as playlists do
Spotify, e no Google Play Music. Essa porcaria toca a cada hora na KROQ.
Não posso entrar numa loja, restaurante ou cafeteria sem ouvi-la.
As palavras zombam de mim.

Três da manhã e não consigo dormir.


Um refrão comum, eu sei.
Como um sentimento, é barato.
Alguém para ligar, abraçar, amar.
Nem pensar nessa palavra
- Ela sorri e eu me afasto -
Oh inferno, não.
Não é possível.
Nem pensar eu,
nem pensar nela.
Mais, alguém, talvez, mas, eu não.
Não faço esse tipo de coisa.

Amor. Ele está usando a palavra amor para se referir a mim. Ele
consegue compartilhar seus sentimentos com o mundo, mas não
consegue compartilhá-los comigo.
Ele não quer falar comigo. Não me manda mensagens. Ele não
pediu desculpas. Ele nem sequer pediu para manter nossos benefícios.
Não significo nada para ele.
Capítulo 19

A sexta-feira antes do Halloween é particularmente movimentada.


Mal tenho energia para aguentar o meu turno. A festa da Kara é amanhã
à noite. Não faço ideia de como vou sobreviver à guerra que meu coração
e meu corpo vão travar no mesmo espaço que Miles.
Uma adolescente é levada às pressas para o pronto-socorro. Ela
está inconsciente, mal respirando. Os lábios dela estão azuis. Ela está
tão magra que o vento poderia quebrá-la, e seus braços estão cobertos de
marcas de seringa.
Uma delas é recente.
Algumas horas no máximo.
A mãe dela está ao seu lado. Não tem noção. Está perdida. Confusa.
Ela não sabia que a filha estava se drogando.
Como ela pode não fazer a mínima ideia? É impossível essa garota
ter mais de dezesseis anos. Ela está coberta de marcas de seringa. Como
diabos a mãe não viu isso?
A garota está morrendo.
Dr. Anderson, o médico para quem escrevo, me afasta do caminho.
—Tire uma folga, Meg.
Não consigo me mover. Não consigo desviar os olhos da garota.
Uma das enfermeiras me tira do caminho. Eles estão correndo para
ela. Mas, é tarde demais. Não vai dar certo.
Sei como funciona. Os paramédicos deveriam ter dado a ela
Naloxone. Deveria combater os opiáceos na heroína. Deveria reiniciar seu
coração e sua respiração.
Os sons à minha volta rodopiam juntos, até que são essa horrível
mistura de ar condicionado, solas de borracha rangendo, o bipe irregular
do monitor de batimentos cardíacos, à medida que o pulso da garota
diminui. Nada do que eles estão fazendo está funcionando. Essa garota
já está muito longe. Não há mais nada a se fazer.
Tal como com a Rosie.
Me escondo num dos banheiros, tentando e falhando em querer ir
para casa. Não consigo ficar na minha cama sozinha. Só vou sentir a
ausência dela. Morávamos juntas num apartamento de dois quartos no
mesmo prédio. O proprietário foi compreensivo quando ela morreu, e
ajudando a trazer todas as minhas coisas para um estúdio, e oferecendo
um aluguel com desconto.
Sinto tanta falta da minha irmã mais velha. Ela era engraçada,
inteligente e cheia de vida. Ela entendia das coisas que voavam sobre a
minha cabeça. Pensei que ela tinha tudo planejado, que sabia o segredo
para equilibrar a faculdade e ter uma vida.
Que ela era sem nenhum esforço muito feliz.
Queria que ela estivesse aqui. Gostaria de poder dizer a ela o
quanto sinto sua falta, o quanto nossos pais pioraram depois da sua
morte. Eles sempre fingiram, mas agora são conchas de si mesmos. Eles
estão partidos.
Ela saberia o que fazer para consertá-los. Saberia como me animar.
Ela com certeza, saberia o que fazer com Miles. Ela sairia comigo, me
embebedaria, e me mandaria para casa com o cara perfeito para limpar
minha memória. Então, ela me levaria para um brunch, me encheria com
panquecas e gritaria comigo por estar finalmente crescendo.
Ela me enganou. Ela parecia bem por tanto tempo. Ela me olhava
nos olhos e sorria, e eu sentia isso no meu íntimo, tudo correria bem, se
minha irmã podia sorrir assim. Mesmo sabendo que não, acreditava que
estava tudo bem. Ela nunca mentiu para mim antes, não desse jeito.
Ligo para Kara. Guardei toda a minha dor para mim por tanto
tempo. Não posso mais fazer isso. Preciso estar com alguém que entenda,
para que possa chorar compulsivamente. Foi estúpido não ter feito isso
antes. O pai da Kara morreu quando ela estava no ensino médio. Ela sabe
como é sentir isso, sabe o suficiente para me arrastar para o meu próprio
bem, sabe o suficiente para não pressionar para obter mais detalhes.
Droga. Caixa postal. Ligo de novo. Caixa postal novamente. Mais
uma tentativa.
—Oi, Kara, só queria dizer oi... me mande uma mensagem amanhã.
— Termino a ligação e enrolo os dedos no plástico liso do meu telefone.
Preciso sentir outra coisa, algo além do quanto sinto falta da minha
irmã. Não há mais ninguém para ligar. Nenhum dos meus outros amigos
entenderia. Meus pais certamente não entendem. Ninguém sabe como é
isso.
Ninguém, a não ser Miles.
Disco antes que meu bom senso possa me alcançar. Droga. Caixa
postal.
—Oi, Miles. Pensei que queria falar com você, mas agora, não sei.
Vejo você amanhã, acho. Eu...— Desligo antes que eu possa dizer a ele
que sinto sua falta.

É uma caminhada de meia hora até o topo da colina, onde eu e


Rosie costumávamos passear. Nós chamávamos nossos passeios de
caminhadas, mas passávamos a maior parte do tempo conversando sobre
a escola e os amigos e, principalmente, sobre nossos pais.
Têm casas caras por aqui. Costumávamos zombar sobre a mesmice
delas. Todas são bege. Todos dirigem um sedan preto ou carro de luxo.
Todos parecem perfeitos por fora. Como nossos pais são.
Como ela foi.
Encontro um descampado, e aprecio a vista da cidade. Consigo ver
todo o campus da UCLA. À esquerda fica Century City. Para a direita está
o oceano. A noite está nublada. Não consigo ver o centro da cidade. Não
consigo ver as estrelas.
Não consigo ver o caminho para ficar bem sem ela. Meu telefone
vibra. É Miles. Retornando minha ligação.
Olho para a tela. Meus dedos se recusam a se mover. Não sei se
consigo aguentar ouvir a sua voz. Já está na minha cabeça, cantando
essa música repetidamente.
Mais uma vez, meu telefone vibra. Desta vez, é uma mensagem.
Miles: Você está bem?
Meg: Não.
Miles: Onde você está? Vou te buscar.
Meg: Será que é uma boa ideia?
Miles: Te levo para casa. Se você quiser que eu vá embora depois
disso, eu irei.
Envio o endereço da casa mais próxima. Por puro impulso. Eu o
quero aqui. Quero seus braços envolta de mim.
Miles: O que aconteceu?
Meg: Houve uma garota no pronto-socorro ... Não sei se devo falar
sobre isso com você.
Miles: Deixe-me ajudá-la. Eu quero.
Meg: Você me deixaria ajudá-lo?
Olho o telefone por alguns minutos, mas não há resposta. É o
mesmo que um não.
O mundo é difícil. Encosto os joelhos no meu peito, e olho para o
céu. Sem estrelas, mas a meia-lua tem um lindo tom prateado.
O bairro está em silêncio. Nenhum som, só o vento. Em seguida,
vem um carro. Estaciona. A porta se abre. Passos se aproximam.
Alguém se ajoelha ao meu lado.
—Oi. — Miles me abraça. —Venha. Você ficará bem.
Duvido muito. Mas, de qualquer maneira, absorvo todo o conforto
dos seus braços.
Capítulo 20

Ele não se abre comigo, mas está aqui, no meu apartamento,


cuidando de mim, cantando canções para mim.
Como é que vou entender isso?
Puxo o zíper do meu moletom, e dou de ombros. —Quer algo para
beber?
—O mesmo que você.
—Quer beber?
—Beber o quê? — Ele coloca minha bolsa no balcão.
—Bebida alcoólica.
—Não tem bebida alcoólica na sua geladeira.
—Não tem nenhuma na sua casa em Malibu?
Sua testa franze. —Você checou?
—Não, mas estou errada?
—Você está certa. Não tem bebida alcoólica lá.
Olho para as bebidas disponíveis. Tem chá verde, água, ou suco de
grapefruit. Sirvo dois copos de suco, e entrego um para o Miles.
—Obrigado. — Ele toma um gole, e coloca o copo no balcão. É um
movimento delicado. Cuidadoso.
—Você bebe? — Pergunto.
—Não—, ele diz. —Você também não.
—Por que não?
—Não gosto da pessoa que me torno. — Ele vai para a cozinha.
Seus olhos encontram os meus. —Quero ajudá-la, Meg. Sei como é perder
alguém.
—Não quero conversar. — Me mantenho forte. Desta vez, sou eu
quem quer transar, e ele é quem quer conversar. Mas, não é como se ele
estivesse arrancando seu coração por mim. Ainda é ele a esconder o que
quero. —E quero transar com você.
—Não serei seu brinquedo.
—Você não será meu passatempo. Você não divide seus segredos.
O que você fará?
—Ouvir você.
—Vai me ouvir abrir meu coração, enquanto você continua
fechado?
Ele não diz nada. Há toda essa vulnerabilidade nos seus olhos, mas
ainda assim, ele não diz nada.
Engulo o suco num longo gole, e coloco o copo na pia. —Primeiro
vou tomar banho.
—O que faz você ter certeza de que haverá um segundo?
—Se você for embora, tranque a porta quando sair. Ok?
Mantenho meus olhos nos dele, enquanto tiro minha camiseta e a
calça. Miles assiste com muita atenção. Mas, ele fica parado. Mesmo
enquanto deslizo o sutiã sobre meus ombros, e empurro a calcinha para
os joelhos.
Ele resmunga com aprovação, mas não se mexe.
Foi uma longa semana. A água quente acalma os músculos tensos.
Mas o calor não é suficiente. Preciso do corpo dele contra o meu. Preciso
dele aqui comigo.
Passo meu tempo com a sabonete, o xampu e o condicionador. O
chuveiro está seguro e quente. Estou sozinha. Ninguém pode me ver
desmoronar.
O ar frio me rodeia, quando saio da minha bolha de segurança.
Entro na sala principal. Miles ainda está aqui, mas agora, ele tem uma
toalha nas mãos. Ele mantém os olhos nos meus, enquanto me enrola na
toalha e a aperta bem.
Por que ele teve que esconder esse segredo? Quero manter as coisas
divertidas. Quero me sentir como quando cheguei ao show, como se
tivesse passado uma noite infernal.
Como se o mundo fosse bonito.
Supõe-se que seja uma distração agradável.
Mas não é. Ele vê através de mim. Ele vê tudo o que escondo de
todos os outros.
Sua voz está baixa. —Você virou meu pau contra mim.
—É?
Ele assente. —É uma agonia fazer qualquer coisa, além de arrancar
a toalha do seu corpo.
Deixo cair a toalha. Sua língua desliza sobre seus lábios. Seus
dedos entram no jeans.
Ainda assim, ele fica parado.
—Você está me matando aqui—, ele geme.
Me sento na cama. —Você está se matando.
—Não vou entrar nisso. Não com você tão infeliz.
—Então, não. Mas você, é que está virando seu pau contra você.
Ele e eu temos a mesma ideia de como isso deve ser.
Ele assente e desliza na cama ao meu lado. Ele leva um tempo para
tirar a camiseta e chutar os sapatos. Em seguida, são suas meias. O seu
jeans.
Há uma intimidade casual, como se ele estivesse se despindo antes
de dormir, como se fossemos antigos amantes.
Me deito do meu lado. Ele está atrás de mim, com sua cabeça
aconchegada na dobra do meu pescoço. Sua respiração arrepia minhas
costas.
Mordo a língua para não implorar.
—Dorme comigo. — Ele passa as pontas dos dedos sobre meus
ombros.
Me derreto no seu toque. O que quiser, quero que ele faça comigo.
Seu peito está pressionado contra as minhas costas, sua virilha
contra a minha bunda. —Meu tio. Ele tinha câncer. No pâncreas. Não
reagi muito bem. Pirei. Me meti em brigas. Bebi demais. Fodi um monte
de mulheres sem trocar o primeiro nome. Ele puxa o edredom sobre nós.
—Perdi o controle. Pior do que nunca.
—Como assim?
—Ou seja, fiz merda, e não o ajudei. O cara estava morrendo, e eu
estava morrendo de pena de mim mesmo. Os mesmos problemas com os
quais me recusei a lidar durante anos.
Ele me puxa para mais perto, a mão contra o meu estômago. Seu
coração bate nas minhas costas, sua respiração aquece meu pescoço.
Tem alguma coisa faltando nas suas palavras. Algo que não disse.
Ele pressiona seus lábios contra minha bochecha. — Sei que dói. Sei que
você sente falta dela. Sei que parece que nunca vai parar de doer. Mas,
você precisa entender que a culpa não é sua.
—Como você sabe?
—Porque sei. — Sua voz vacila. —Confia em mim.
—Como? Diga-me como. Quero confiar em você, Miles. Mesmo.
Diga-me o que você está escondendo, e vou.
—Não consigo.
Seus lábios roçam meu pescoço. Ele passa as pontas dos dedos
sobre meus quadris como se estivesse rabiscando letras num pedaço de
papel.
Meu coração acelerado abranda. Um a um, os músculos relaxam.
Mais uma vez, estou alagada, se perdendo dentro nele.
O mundo desaparece. Somos só nós nesta cama, nossos corpos
perfeitamente emaranhados.
—Tem certeza de que não quer falar sobre isso? — Sua voz está
suave e doce. É como se ele se importasse, como se ele fosse o sensível
Miles, que canta todas aquelas músicas.
Balanço a cabeça.
—Bem que você poderia—, diz ele. —Já que não vai transar.
Solto um rosnado.
Ele ri. —Você se sentirá melhor.
—Me sentirei melhor com seu pau dentro de mim.
Ele geme.
Talvez, consiga convencê-lo. —É assim que preciso da sua ajuda.
Não me importo como você faz, mas preciso parar de pensar.
—Você precisa desabafar.
Meu peito parece pesado. Talvez ele esteja certo. —Se eu fizer, e
continuar a me sentir uma merda, você admite que tenho razão?
—Sim. Mas, mesmo assim não vou ser seu brinquedo. — Sua voz
vibra, como se ele estivesse considerando ser o meu brinquedo.
Respiro fundo. Consegui convencê-lo. —Houve uma paciente hoje.
Ela era jovem, adolescente. Sua mãe estava com ela, gritando, mas
completamente sem noção. Ela não sabia que sua filha era viciada em
drogas. Havia marcas em todos os braços e pernas da garota, mas sua
Mamãe não sabia.
—Eu sinto muito.
—Rosie era a pessoa mais importante da minha vida. Era minha
melhor amiga, e nós nunca mentíamos uma para a outra. Era o que os
nossos pais não faziam. Eles mentiam na nossa cara. Quando meu primo
fugiu, e se juntou ao exército, eles fingiram que não foi por causa de uma
discussão com os pais. Quando minha mãe perdeu o emprego no
hospital, disseram-me que ela decidiu sair.
Ela ficou infeliz todos os dias em que ficou desempregada, mas
dizia que estava tudo bem. Sempre que algo dava errado, fingiam que não
era nada, como se tudo estivesse bem. Rosie era mais velha. Ela lidou
com isso por mais tempo, e percebeu antes de mim. Então, ela me fez
jurar que nunca nos enganaríamos assim.
—Certo?
—Sim. E funcionou. Entramos em tantas brigas por causa da
nossa honestidade, mas sempre fizemos as pazes. Quando ela se formou,
tudo começou a dar errado. Disse que queria tirar um ano sabático. Era
uma mentira. Uma mentira óbvia, que deveria ter notado. Bombou no
seu MCAT. Passou os próximos seis meses estudando, mas, mesmo
assim, bombou pela segunda vez. Na terceira vez. Ela parou de falar em
refazer a prova. Foi como se ela tivesse desistido de ser médica. Foi a
primeira vez que ela falhou em alguma coisa, e ficou infeliz com isso.
Deprimente, com essa expressão grande e feliz, está tudo bem. Tenho
certeza de que ela pensou que estava me ajudando, minha vida tem sido
aula, trabalho, e estudar para o MCAT desde o segundo ano, mas não
ajudou em nada. Foi a primeira mentira que nos separou.
—Não é sua culpa, Meg. É isso que as drogas fazem às pessoas.
Elas as envolvem em toda essa merda. Os viciados em drogas são grandes
mentirosos. Não há nada que você poderia ter feito.
—Aí é que está. No início, não foram as drogas. Foi uma prova.
Então, foi o futuro dela. Ela desistiu.
Miles respira fundo.
—Partiu meu coração quando ela morreu.
—Eu sei. — Ele passa as pontas dos dedos pelo meu braço. —Eu
sinto muito.
Engulo em seco. —É por isso, que não posso fazer isso com você.
Não se você vai esconder alguma coisa de mim.
Sua respiração está baixa, desesperada. —Se você soubesse a
história toda, me expulsaria novamente.
—Isso não é verdade. Você realmente confia em mim tão pouco?
—Não. Confio em você mais do que em qualquer pessoa.
—Então, por que você não me conta?
—Ainda não consigo falar sobre isso. — Ele arrasta as pontas dos
dedos sobre meus ombros. —Nunca, fiquei desapontado por um final de
relacionamento.
—Isso é um relacionamento?
—Nós, sendo amigos de benefícios. Não vou te contar o meu
segredo. Estou quebrando os termos. — Ele me puxa para mais perto. —
Depende de você. Não quero ir embora. Não quero parar.
—Eu não quero parar. Quero poder confiar em você.
—Mas, se você não puder ter isso?
—Só quero parar de pensar. — Me aproximo do seu toque. — Quero
me sentir bem.
—Para mim, ainda estamos juntos. Ainda monogâmicos.
—Já faz semanas.
—Só quero você. — Ele desliza a mão para o meu quadril. —Você
ainda quer transar sem camisinha?
Concordo com a cabeça, e me viro para encará-lo. Tem toda essa
dor nos seus olhos azuis claros. É o fim? Não quero que isso acabe.
Ele arrasta as pontas dos dedos sobre o meu peito.
Deve haver uma maneira de mantê-lo meu por mais algum tempo.
—Fale comigo, Meg. — Ele provoca meu mamilo com o polegar. —
Tenho andado louco pensando em você.
—Você pensa em mim?
—O tempo todo. — Ele pressiona seus lábios no meu pescoço. —
Sinto falta do seu gosto.
—Você tem pensado em transar comigo.
Ele balança a cabeça. —Sobre você. Sinto falta dos seus gemidos.
Sinto falta da sua risada. Sinto falta da maneira como seu corpo se
encaixa no meu.
É como se ele pudesse me dar tudo, menos a si próprio. Mas,
consigo viver com isso. Se conseguir, posso viver com isso.
Olho de novo nos seus olhos. —Será do meu jeito, Miles. É só sexo.
Você faz o que quero. Você vem quando ligo.
Seus lábios se curvam num sorriso. —Gosto como isso soa.
Rio, de contragosto. —Quero dizer, venha.
Seus dedos traçam o contorno do meu sorriso. —Adoro a sua
risada.
—Não. Não diga essas coisas. Isso é sexo. Só isso. Não pode dizer
que sente a minha falta, que você ama minha risada, que quer voltar a
colar o meu coração. Não, você manterá tudo para si mesmo.
Ele assente, e pega os meus quadris. Ele me vira, então, fico deitada
de costas. Em seguida, está em cima de mim, sua virilha roçando contra
a minha.
Também sentia falta dele.
Enfio as mãos nos seus cabelos, e trago meus lábios para o dele. O
beijo está quente, elétrico.
É exatamente disso que preciso. Agora, ele está me dando
exatamente o que preciso.
Miles passa os dedos pelos meus mamilos. Gemo na sua boca,
empurrando meus quadris, raspando minhas unhas contra sua pele.
—Você é tão gostosa—, ele geme.
Ele chupa meus mamilos com força, primeiro um e depois o outro.
Meu corpo grita de desejo. É tudo o que temos, mas é perfeito.
Ele beija o meu estômago. Por cima da minha coxa. —Tenho
sonhado com isso.
Ele se aproxima mais. Quase.
Palmas das mãos contra o interior dos meus joelhos, empurra
minhas pernas na cama, então, fico aberta para ele. O brinquedo dele de
novo, mas Deus, amo o jeito que ele me toca.
Ele passa a língua pelo meu sexo. O prazer grita através de mim,
enquanto o meu corpo se lembra de como isso é bom, o quanto sente falta
dele.
Ele chupa meus lábios externos. Em seguida, é o suave arranhão
dos seus dentes. Vai até o meu clitóris, seus dedos passando por cima
das minhas coxas.
—Miles—, gemo. Enfio minhas mãos nos seus cabelos. Sua língua
desliza sobre o meu clitóris.
Qualquer coisa provocante ou gentil se foi. Sua boca está em mim,
e ele está me lambendo em todos os lugares que anseiam por sua língua.
Meu corpo reage rapidamente. O nó dentro de mim é intenso, e ele é o
único que pode desfazê-lo.
Ele é o único que faz me sentir bem.
Ele me lambe, arrastando as pontas dos dedos pelas minhas coxas.
Eu gemo. Todas as partes feias do dia desaparecem. Agora, me sinto bem.
Neste momento, há prazer no mundo.
Inferno, o mundo é lindo pra caralho.
Sua língua, boca, lábios: são perfeitos. Ele explora meu sexo até eu
tremer, em seguida, se concentra exatamente naquele ponto.
Sua boca é macia, quente, tão perfeitamente molhada. Aquele nó
de prazer dentro de mim cresce e incha, até ficar tão apertado, tão intenso
que grito.
Os vizinhos vão bater nas paredes. E não ligo. Grito, até ter a
certeza de que estou quebrando o vidro.
Ele me chupa de novo, e isso me leva ao limite. Esse nó se
desenrola, e o prazer percorre meu corpo. Meus músculos relaxam,
minhas pernas debatendo contra a cama.
Ele arrasta os lábios sobre o meu estômago, parando nos meus
seios, para desenhar círculos em volta dos meus mamilos. —Você é mais
sexy do que me lembrava. — Ele chupa meu mamilo até eu gritar.
Ele morde meu mamilo. A luxúria dispara contra mim novamente,
lavando qualquer pensamento que se forma na minha cabeça. Conversa
... já não precisamos disso. O único som apropriado é um gemido gutural.
Ele se move para o meu outro mamilo, e chupa suavemente. Gemo,
balançando meus quadris contra ele, raspando minhas unhas nas suas
costas.
—Senti sua falta—, ele diz.
—Você sentiu falta disso.
—Não. — Ele encosta a língua no meu mamilo. —Senti sua falta.
— Suas mãos estão em volta dos meus ombros, e ele encontra o meu
olhar. —Você acredita em mim?
Ele está olhando para mim, olhando através de mim. Mas há algo
em seus lindos olhos, acredito nele.
—Me fode—, exalo.
—Claro que sim.
Miles segura a minha bunda, trazendo meu corpo para o dele. E,
aí está. A ponta do seu pau se torce contra o meu sexo.
Sem preservativo. Não há nada entre nós. Nada além de nossos
corpos se unindo. Ele suspira quando entra em mim. Qualquer sinal de
tensão ou dúvida foge do meu corpo.
Aqui é exatamente onde preciso estar. Inferno, isso é tudo o que
preciso.
Arqueio minhas costas, e trago minhas pernas para o seu peito,
meus tornozelos sobre seus ombros. Está mais apertado e profundo, do
que estava antes.
Miles me beija. Ainda está carente, continua desesperado. Ele geme
contra os meus lábios, sua língua girando em torno da minha, explorando
cada centímetro da minha boca.
Ele tem o meu gosto.
Ele empurra em mim. Trago minhas mãos de volta ao seu cabelo,
o segurando perto. Miles faz um movimento para retirar sua boca da
minha, para gemer ou suspirar ou talvez gritar o meu nome, mas o seguro
perto. Agora, ele é meu.
Agora, o mundo é lindo.
Arqueio minhas costas, e balanço meus quadris, o empurrando
mais fundo. Ele segue meu exemplo. Mais rápido. Mais forte. Mais
profundo. Então, ele é meu, e sou dele, e está tão profundo dentro de
mim, que posso gritar.
Mas, não quero. Gemo na sua boca, puxo seus cabelos, e o beijo
como se nunca tivesse outra chance de beijá-lo novamente.
Aquele nó retorna. É tão bom ele dentro de mim, e quanto mais ele
treme, mais ele geme, mais seus dedos cravam na minha pele ...
A pressão dentro de mim aumenta. Está tão apertado, tão intenso.
Miles retira sua boca da minha. Ele geme no meu pescoço,
enviando vibrações pelos meus ombros e costas.
Seus olhos encontram os meus. É como se pudesse ver dentro dele,
ver todas aquelas coisas que o fazem sofrer. É demais. Fecho meus olhos
e o beijo.
Ele empurra para dentro de mim novamente, e novamente,
gemendo na minha boca, puxando meus cabelos. Tudo dentro de mim
acaba até ficar tão, tão apertado. E, em seguida ele está tremendo, e ele
está gritando, e está afundando os dentes na minha pele.
Tudo dentro de mim é libertado numa onda de êxtase. O seguro
com força, montando o máximo que posso. Ele também está lá. Seu pau
pulsa dentro de mim, enquanto me embala através de outro orgasmo.
Ele geme.
Seus dentes afundam no meu pescoço, mais uma vez, e ele goza,
me enchendo. Miles desmaia ao meu lado. Ele me puxa para perto, me
segurando do jeito que ele fez ontem à noite.
—Melhor do que me lembrava—, ele geme.
—Você tem péssima memória.
—Ou é como aquela música, eu amo te foder mais hoje do que
ontem, mas não tanto quanto amanhã.
Murmuro algo que deveria soar como calado, mas sai mais como,
um infernal sim, por favor, teste esta hipótese comigo amanhã.

Acordo sozinha. A cama está vazia. O apartamento está vazio. Ele


não está aqui.
Não tem um bilhete, mensagem, nenhum recado dele.
Ele está honrando meu pedido para manter as coisas estritamente
sexuais, ou está fugindo antes que eu possa começar a arrombar a
fechadura que guarda o seu coração?
Não tenho certeza. Mas a dor no meu estômago me convence de
uma coisa: eu o quero aqui.
E vou tê-lo aqui.
Vou fazer com que seja impossível ele resistir a mim.
Capítulo 21

Eu pego uma carona com Kara, e fico largada no sofá, enquanto ela
se prepara para sua festa. Tom tenta conversar. Depois, Pete. Mando os
dois embora, alegando um desejo urgente de ler, e me escondo no terraço
do andar de cima.
Na verdade, estou tentando ganhar confiança para trocar de roupa.
Está na minha bolsa, no carro da Kara. Sei que afetará Miles. Sei
exatamente a reação que ela causará, seu queixo cairá, e seus dentes
afundarão no seu lábio inferior, mas estou preocupada com a reação que
causará nos outros.
Não é que lembrar ao Miles que me quer, vai me ajudar. Ele sabe
que me quer. O problema é que ele não se entrega para mim. Tenho que
aceitar. É só sexo. Apenas prazer. Apenas me sentir bem, morreu. Ele me
deixando fora do seu coração, isso não é bom. Isso dói mais do que tudo,
desde Rosie.
Meu coração precisa superar o quanto quer o dele. Não acontecerá.
O pôr do sol lança um brilho laranja sobre as colinas. A paisagem é linda,
o letreiro de Hollywood, o horizonte do centro de Los Angeles, as ruas
congestionadas por todo o trajeto até o litoral.
As estrelas do rock têm todas as oportunidades.
—Por que toda vez que te vejo, parece que você está esperando para
ser montada? — Miles coloca seu corpo ao lado do meu.
Instantaneamente, meus sentidos estão sobrecarregados. Me
lembro de que a intimidade emocional está fora de questão, mas meu
maldito coração se recusa a compreender.
Olho nos seus lindos olhos azuis. Ele ainda está na defensiva. Não
aguento mais.
Me levanto. —Com licença.
—Fala comigo.
—Você se foi esta manhã. Nenhum bilhete, não se despediu, nada.
—Tive de tratar de uma coisa.
—O quê?
—Merda de banda. Nada interessante. — Ele esfrega meu ombro.
—Não posso dizer que sinto sua falta. Não posso dizer que amo sua
risada. Faz parecer, que você não deveria esperar que te deixasse um
bilhete dizendo onde vou estar.
Ele faz um argumento convincente. Odeio que cria um bom
argumento. Detesto como ele é sensato. A agitação de ácido no meu
estômago parece totalmente irracional.
Fui eu que exigi que esquecêssemos os sentimentos. Por que meu
coração não pode aceitar isso?
Limpo minha garganta. —Você tem razão. Como sempre. Não se
cansa de ter razão? — É meio provocante, meio ofensivo.
—Às vezes.
—Por que você veio ontem à noite? — Pergunto. —Por que você me
abraçou e perguntou sobre a minha irmã?
—Você me ligou. — Miles olha para mim. —Estou respeitando seus
termos, Meg.
—É isso que você quer, para que tudo isso seja benéfico, sem
amizade incluída?
—É com o que concordamos. — Sua expressão muda, volta a ser
fria e imperturbável.
Meu batimento cardíaco acelera. Ainda não consigo causar a
reação que quero. Mas, posso recuperar o meu poder. Posso estar no
controle dele.
—Com licença. Preciso me trocar para a festa. — Aceno adeus. —
Vejo você mais tarde.
Seus olhos ficam em mim, mas, mesmo assim, ele não diz nada.
No térreo, a festa está enchendo. Passei por duas dúzias de pessoas
para encontrar Kara. Ela já está alegre. Quase bêbada.
Ela balbucia as palavras. —Querida, onde você esteve? Você quer
uma bebida? Você deveria tomar uma bebida.
OK. Passou dos limites, e completamente bêbada. É aniversário
dela. Não é momento para sermões.
—Talvez mais tarde. Agora, preciso da minha fantasia—, digo.
—Certo! — Ela salta para a bolsa, vasculha, e me entrega as chaves
do carro. —Arrasa com eles.
Troco de roupa no banco de trás do carro, enfio minhas roupas
numa mochila, e a jogo na cadeira do jardim. Não importa quantas vezes
ajusto o traje, me sinto desconfortável. Essa coisa é muito pequena. O
biquíni dourado da Princesa Leia parecia uma boa ideia esta manhã. No
momento, estou presa em quantos centímetros de pele que estou
expondo.
Respiro fundo, e verifico meu reflexo na janela. Estou linda. Nerd,
mas sexy.
E estou no controle. Vou afetar Miles.
Depois de mais três respirações profundas, vou para dentro. A festa
não está tão cheia como a última. São mais estudantes universitários do
que pessoas bonitas. Foi legal a banda deixar Kara convidar todos seus
amigos para a casa deles.
Luto contra o meu desejo de me esconder da ação. Sorrisão,
ombros para trás, estou confiante. Posso não gostar de festas, mas adoro
ter Miles nas minhas mãos.
Esta noite, sou a casual, a legal sem esforço.
Drew me vê e acena. Aceno de volta, muito prazer em vê-lo, mas por
favor Deus, me deixe aqui neste sofá sozinha acenando.
Não funciona. Ele se aproxima, e se senta ao meu lado. Está vestido
de policial. Combina com ele.
O tom da sua voz está sério. —Posso te perguntar uma coisa
pessoal?
Meu coração bate contra o meu peito. Por favor, não envolva Miles.
—Claro.
—Você está infeliz porque odeia festas, ou é por causa do Miles?
Caramba. Sem sorte hoje. —Não estou infeliz.
—Mal te conheço, e ainda sei que isso é mentira.
—Não estou. Não estou feliz, mas estou ... É difícil de explicar.
Ele levanta uma sobrancelha. —Não precisa explicar suas
intenções com essa roupa.
Dou de ombros como se usasse isso em todos Halloweens.
Ele observa as pessoas. Não consigo decifrar a expressão no seu
rosto. Drew é ilegível.
—Mantenho o que disse sobre Miles, vou chutar a bunda dele se te
magoar.
—Isso parece exagerado.
—Tenho estado por muito tempo em torno do extremista para
notar.
—Posso te perguntar uma coisa?
Ele concorda. —Justo é justo.
—Você quer ficar com Kara? Como o namorado dela?
Ele tem uma expressão indiferente. —Kara é incrível. Ela é
inteligente, engraçada, doce. Teria que ser cego para não perceber que
ela é linda. Mas, não vou jogar fora o que tenho com Kara, num
relacionamento que está fadado ao fracasso.
—E se não estiver fadado ao fracasso?
—Não vale o risco.
Um mês atrás, teria concordado. Relacionamentos são um saco.
Eles sempre falham. Olha para Rosie e Jared.
Mas agora, não sei se concordo. Miles e eu temos algo especial, um
acordo, uma intimidade. Nunca me senti assim com ninguém antes.
Está me rasgando por dentro, o quanto o quero. Mas é bom quando
o tenho. Estar com ele é melhor do que qualquer outra coisa.
OK. Meu coração se recusa a aceitar que isso seja casual. Pelo
menos estou ciente das suas falhas.
Algo chama a atenção do Drew. É a Kara. Ela está vestida de sereia.
O vestido decotado azul petróleo tem um padrão em escamas. Lantejoulas
adornam o decote em forma de coração, enfatizando seus seios grandes.
O vestido brilha no joelho, criando uma cauda de sereia adequada. Com
seu cabelo comprido e escuro sobre os ombros, ela tem toda a coisa da
sereia deusa do sexo no papo.
Drew ofega como um cachorro. Ele leva um minuto para recuperar
o fôlego.
Ele acena um adeus, na boa, como se ele não estivesse pensando
em jogar Kara na sua cama, e usar as algemas presas ao seu cinto para
mantê-la lá.
—Avise-me se você precisar de uma carona. — Ele abaixa a voz. —
Têm preservativos em todos os banheiros. Só não foda no meu quarto.
—Eu não vou...
Ele levanta uma sobrancelha, incrédulo. —Vou manter essa
conversa entre nós.
—Obrigada.
—Não é da minha conta. — Ele vai até Kara.
Quem o cara acha que está enganando? A reação dele é exatamente
a que estou tentando causar em Miles. Não tem como o Drew e a Kara
resistirem um ao outro por muito tempo. Não com o modo como eles se
provocam.
Fico perto da mesa de bebidas, tomando um copo grande de suco
de toranja.
Tom interrompe minha paz. —Todos os casais com fantasias iguais
têm que dançar juntos.
—Do que você está falando?
Tom não está vestindo uma fantasia. A menos que sua fantasia seja
o cara que não guarda segredos. Talvez Miles pegou essa.
Tom me leva para a pista de dança subitamente vazia.
Aparentemente, todo mundo abriu espaço para os otários com fantasias
de casais. Há dois super-heróis, um Buttercup e um Dread Pirate
Roberts, e lá está o Miles, vestido como o raio do Han Solo.
Suas pupilas dilatam. Sua língua desliza sobre seus lábios. Ele me
quer. Desesperadamente. Estou o afetando.
O tenho na minha mão.
Seus lábios se curvam em um sorriso. Ele oferece a sua mão. —
Princesa.
Não consigo parar de sorrir. Não tenho a mínima dúvida, ele está
usando aquela fantasia para mim. Ele está deixando outras pessoas
verem a nerdice, que ele geralmente guarda em segredo para mim.
Seguro sua mão. Meu sorriso se espalha de orelha a orelha. —
Canalha.
Ele envolve os braços na minha cintura, e me puxa para perto.
Algumas pessoas aplaudem. Tom dá a volta, forçando mais pessoas se
juntarem. Tenho certeza de que ele está fazendo isso a pedido da Kara,
mesmo assim, não gosto de estar tão perto dos holofotes.
A música é rápida, uma música pop que não conheço. Não consigo
acompanhar. Mas, não preciso.
Miles se move devagar. Abraço o seu pescoço, e aproximo meu
corpo do dele. Independente das circunstâncias, seus braços parecem
agradáveis. Melhor do que agradável. Seus braços me fazem sentir
melhor do que qualquer coisa.
Estou fodida. Não tem como resistir à atração que ele tem sobre o
meu coração.
Dançamos a música toda. E acabou, e seus braços estão ao seu
lado. Murmuro um com licença, e desapareço na multidão. Todos ao meu
redor estão dançando, gritando ou tirando fotos! Está pior na cozinha.
Uma dúzia de pessoas está aglomerada em volta de uma mesa, jogando
Kings Cup. Conheço alguns deles da faculdade. Mas o pior, eles me
conhecem como aquela garota que não bebe e nunca se diverte.
Uma das minhas colegas de classe, acho que o nome dela é Sally,
acena para mim. —Ei, Meg, quer jogar?
—Não, obrigada. Eu tenho ...— Tento pensar numa desculpa que
não termine com alguém perguntando por que não estou bebendo.
—Aí está você. — Miles desliza os braços em volta da minha
cintura. Ele acena para os meus colegas. —Desculpe levar Meg para longe
de vocês, mas preciso dela desesperadamente.
O rosto da Sally se ilumina de alegria. Inferno, a garota parece que
está prestes a se molhar. Concordo com a cabeça, sim, obviamente, não
posso jogar seu jogo de bebida, porque a estrela do rock gostoso precisa
de mim desesperadamente. Veja, sou divertida. Sou legal. Não sou uma
estraga prazeres.
Miles me leva para fora. Está escuro e frio, e ele está lindo sob a
luz da lua.
Ele tira meu cabelo dos meus olhos.
Consigo ver sua respiração, aquele pouco de calor escapando de
seu corpo. Inferno, consigo ver bem nos seus olhos. Não me diz o
suficiente. Não sei o que ele pensa.
—Você está sóbrio, não está? —Pergunto.
Ele assente.
—Acho que somos as únicas duas pessoas sóbrias nesta festa.
—Você quer uma carona para casa? — Ele pergunta.
—Não. — Vou para o sofá no terraço. Minha mochila ainda está
sobre a mesa. Me sento ao lado dele. —Sei lá. Você estava à procura de
sair daqui?
Ele se senta ao meu lado. —Em breve. E a sua amiga?
—Ela está bem. Drew limpou o quarto para ela.
—O quarto ou a cama dele?
—Não dá para ver pelo humor dele?
Miles ri. —Eu posso, na verdade. Ele não vai transar com ela.
—Ele é assim tão óbvio?
Miles assente. —Ela é?
—Mais ou menos. Há muito tempo não conversamos de caras.
Tenho me esforçado para não pensar em nada além dos exames e na
faculdade de medicina.
—Você já tomou alguma decisão sobre onde vai se candidatar?
—Ainda não. — Volto a olhar para os olhos do Miles. Há tanta coisa
neles que nunca vou descobrir. —Mas, não quero pensar sobre isso está
noite.
—Princesa, acho que você está se aproveitando de mim.
Meus lábios se curvam num sorriso.
—Só porque você é da realeza, isso não significa que você pode me
usar pelo meu corpo. Mesmo que eu seja um canalha.
—Não? — Pego a mão dele, e a coloco sobre a curva do meu quadril,
então, seus dedos roçam minha pele nua. —Você não está desesperado
para tirar isso?
Ele balança a cabeça.
—Por isso, você está desesperado para eu deixar isso acontecer? —
Pressiono meu corpo contra o dele. —Você tem uma fantasia de transar
com a princesa?
—Você tem certeza de que é isso que você quer?
Concordo.
—Então vamos.
—Onde?
—Minha casa em Malibu.
—Agora?
Ele se levanta e oferece sua mão. —Ei, princesa, tenho a nave mais
rápida da galáxia. Posso levá-la pra onde você quiser num piscar de
olhos.
—Você quer dizer a moto da morte, não é?
Ele sorri. —Você vai ferir os sentimentos dela.
Capítulo 22

Volto a vestir as roupas para carona na casa dele. Ainda está frio e
aterrorizante na moto. Mas, isso não é nada comparado a todas as
emoções que se agitam dentro de mim.
Passamos a noite no sofá, assistindo filmes de ficção científica.
Verdade seja dita, não há muito para ver. Sobretudo beijo, toque, foda. É
uma sensação incrível, estar tão perto dele. É como se estivéssemos no
nosso próprio mundinho. Nossa própria bolha.
Como se nada pudesse nos derrubar.
Passamos a noite juntos na sua cama. Passamos a manhã no sofá,
tomando café e se beijando, e nem sequer assistindo os filmes do Matrix.
A casa é linda e brilhante, mas desta vez é tocável. É íntimo. É
minha. Ele é meu. Sei que não é, concordamos em manter todos os
benefícios, sem amizade, mas parece que ele é meu.
Pressiono meus lábios nos dele. Ele tem um gosto bom. Suas
pernas ficam bem entre as minhas. Seu peito fica bem contra o meu.
Mas há esse som. Essa melodia irritante. É familiar. Está alto.
Droga.
Esse é o toque que designei para os meus pais. E, tenho evitado as
mensagens deles há semanas. Não há mais como evitar. Uma vez que
eles mudam para a ligação, eles ligam, ligam e ligam.
—Desculpa, preciso atender. — Me levanto do sofá, e pego o meu
telefone. Respiração profunda. —Oi, mãe. Como você está?
—Estou preocupada. Você recebeu minha mensagem sobre o Dia
de Ação de Graças?
—Sim.
Miles passa os dedos por cima do meu ombro. Ele sussurra: —Diga
a eles que você tem andado ocupada, porque está saindo com alguém.
—Desculpe. — Coloco o telefone no viva-voz e no mudo, e viro para
Miles. —Você está louco?
—Confie em mim. Diga a ela que tem um namorado. Isso dará a
você algo para conversar além da faculdade de medicina e da sua irmã.
Ele faz um argumento convincente.
—Ainda vou com você—, ele diz —No Dia de Ação de Graças.
Inferno, convide-os para nos encontrar no Nobu hoje à noite. Vou
impressioná-los pagando.
—Isso os impressionaria.
—Eu sei. — Ele tira meu cabelo dos olhos. —Você tem que admitir
que sou encantador. Para um canalha.
—Não tenho que admitir isso, não!
—Mas você sabe que é verdade.
—Megara —. A voz da mamãe flui pelo viva-voz. —Você está aí?
—Diga a ela—, Miles murmura.
Ele tem razão. Deveria contar a ela. É uma distração perfeita. A
visita será um milhão de vezes mais fácil, se tiver o Miles ao meu lado.
Estar naquela casa sozinha, ou apenas com a mamãe e o papai ... Ainda
dói.
—Sinto muito, mãe. Isso é... esse é o Miles. Meu namorado. —
Respiro fundo. —Estamos namorando há alguns meses. E isso me
manteve ocupada.
—Você está saindo com alguém? — A voz dela está neutra.
—Sim. Ele é maravilhoso. Muito, muito legal. Inteligente. — Porra,
o que ela quer ouvir? Nunca me preocupei que minha mãe aprovasse um
cara.
—Diga a ela que fui para Stanford—, sussurra Miles.
Isso é bom. —Ele é um pouco mais velho. Formou-se em Stanford
há alguns anos.
—Que bom, querida. Miles, é? — Ela pergunta.
—Sim. Miles. Você vai gostar dele.— Por que ela gostaria dele?
Droga, como é que funciona essa coisa dos pais conhecerem o seu
namorado?
—Como sua mãe gosta de se divertir? — O Miles sussurra.
—Me dá um segundo, mãe. — Cubro o fone com a mão e sussurro
para Miles. —Ela não tem tempo para se divertir. Ela é uma cirurgiã. —
Quebro minha cabeça. Ninguém na minha família se diverte há muito
tempo. —Ela gosta de mitologia. E filmes estrangeiros.
—Pule essa parte. Convide-me para o Dia de Ação de Graças—, ele
diz. —Confie em mim. Ela ficará animada por você querer me apresentar.
Isso não parece coisa da minha mãe, mas vou tentar. Volto para o
celular. —Desculpa, mãe. Ele é um pouco perturbador. Ele quer muito
conhecer vocês. Você acha que ele poderia ir comigo no Dia de Ação de
Graças?
—Você está vindo para casa? — Sua voz se anima. —Claro, querida.
Esperávamos que você voltasse para casa. Você não tem que trabalhar?
—Não. Meu chefe me deu a semana toda de folga. — Mordo minha
língua. Não há como sair dessa agora. —Miles não tem muita família por
aqui. Sei que ele gostará.
—Sim. Será bom ter companhia, já que nós não... — Sua voz
rompe. —Vocês dois podem passar o fim de semana. Ou só a quinta-feira.
Seu pai está trabalhando na sexta-feira, mas é no turno da manhã.
Então, no fim de semana, bem, você já conhece a rotina.
Ah, as vantagens de ter uma cirurgiã e um médico de Pronto
Socorro como pais. Eles estão sempre trabalhando. Se fosse do tipo que
se metesse em problemas, poderia ter me aproveitado das suas agendas
ocupadas durante o ensino médio.
Na verdade, é notável que ambos tenham folga no Dia de Ação de
Graças. Normalmente, jantamos fora do horário para satisfazer suas
agendas.
—Você já pensou nas faculdades? — Mamãe pergunta. —O curso
da UCI está melhorando. Você poderia ficar aqui. Pouparia o trabalho de
você encontrar um lugar.
—Estou pensando numa faculdade na Costa Leste. — Não é onde
quero que essa conversa vá. Olho para Miles em busca de orientação.
Ele balança a cabeça. —Pergunte a ela como ela está. Sobre o
trabalho ou hobby.
Sim, claro. Parece tão óbvio quando ele diz isso. Volto minha
atenção para o telefone —Como está o trabalho?
—Agitado, é claro. A Dra. Lee está abrindo um consultório
particular. Ela me convidou para participar, mas, não sei se consigo sair
do hospital. — A voz da mamãe se eleva. Isso é algo que ela pode falar. —
Miles está na sua casa, querida? Ou você está na casa dele?
—Na dele
—E, estão sendo seguros?
Meu Deus. Vou morrer de vergonha. Mas isso não é nada. Mamãe
é uma cirurgiã especializada em ginecologia. Estou chocada, por ela não
estar usando palavras mais explícitas.
—Sim, estamos—, digo.
Miles ri.
Coloco minha mão sobre o microfone do telefone. —Isso não tem
graça.
—Você está sorrindo—, ele diz.
Porra, estou sorrindo. Ok, é um pouco engraçado.
Ele pede o telefone.
Não é uma má ideia, ele falar com ela. —Mãe, o Miles quer falar
com você. Para dizer oi. Ele está muito animado para conhecê-la. Tudo
bem?
—Parece um jovem educado.
Agora isso é engraçado. Rio. É uma gargalhada, uma das melhores
risadas que já tive faz tempo. Minha mãe acha que meu amigo de foda
rock star é um jovem educado.
Isso é um absurdo.
Entrego o telefone para o Miles.
Miles ri. Ele cobre o fone com as mãos. —Você é tão ruim nisso.
Bato nele de brincadeira.
—Oi, Dra. Smart. É Miles. Meg me falou muito sobre você. — Seus
olhos fixam nos meus. Ele está sorrindo de orelha a orelha.
Ele bajula minha mãe. Posso dizer daqui que ela está encantada.
Ele é bem-vindo para ficar o tempo que quiser. Ele está feliz por
finalmente conhecer minha mãe, a qual supostamente ouviu falar muito.
Ele até se despede, e termina a ligação sem passar de volta para
mim.

Depois do almoço, Miles me leva em casa. É a semana das provas


do meio do semestre. Não terei tempo para nada, além da faculdade. Dou
um beijo nele de despedida, o aviso que estarei indisponível, e dedico toda
a noite para estudar.
Não paro até que estou prestes a adormecer na escrivaninha.
Escovo os dentes e me jogo na cama. O celular ainda está piscando.
Há uma mensagem de Miles.
Miles: Você está preparada para as provas intermediárias?
Meg: Ainda não. Tenho que estudar. Não sei se algum dia terminarei
de estudar. Sem tempo para distrair a estrela do rock com uma boca muito
perturbadora.
Miles: E mãos.
Meg: Sim, e podemos adicionar paus, enquanto estamos nisso.
Miles: Só tenho um. Não é suficiente para você?
Meg: Você entende o que quero dizer!
Miles: Vou comprar um brinquedo sexual.
Meg: Não comece. Tenho que ir para a cama. A primeira prova é às
nove da manhã.
Miles: Estudando a noite toda amanhã?
Meg: A noite toda, todas as noites.
Miles: Estive pensando. Certamente seria benéfico se você pudesse
fazer uma pausa nos estudos relaxando em casa.
Meg: Sim?
Miles: Sem sair da cama.
Meg: Estou ouvindo. Bem, lendo.
Miles: Me mande uma mensagem amanhã, quando você terminar de
estudar. Para a sua recompensa.
Meg: Não sou um cachorrinho.
Miles: Você vai gostar.
Meg: Vou pensar. Boa noite.
Miles: Bons sonhos.
Sonho com as provas. O mesmo sonho horrível em que acordo
tarde, e chego quando a turma está saindo. Nunca vai acontecer. Chego
cedo em todas as provas. Em casa. Desmorono, tomo chá, estudo pra
caramba, e durmo na escrivaninha. Quando acordo, o celular está
vibrando com uma mensagem de Miles.
Miles: Acho que isso é um fracasso. Não se preocupe. Você pode
receber sua recompensa amanhã.
Miles: Sonhei com você.
Miles: Conto pra você depois.
Misterioso, como sempre. Tento tirar sua sedução da cabeça.
Tenho uma prova cedo. Preciso dormir.
Mas não adianta. Viro de um lado para o outro. Meu corpo se
recusa a relaxar quando se trata de Miles Webb.
Ele o quer. O que quer que ele esteja oferecendo, ele quer.
Respondo.
Meg: Estou acordada e já estudei.
Miles: Você é uma boa garota.
Meg: E você é um garoto muito mau.
Miles: Isso é tão clichê, Megara. Esperava mais de você.
Eu tremo ao ver meu nome completo. Não surgiu desde aquela
noite. Meus pensamentos se voltam direto para aquela luta horrível. Eu
estava bem aqui, desesperada por uma única carta de merda para jogar
e não ter nada.
Eis o som de uma introdução de guitarra. Meu telefone está
tocando com um tom que nunca defini. De acordo com a tela, Miles está
me ligando.
Caiu a ficha. Está tocando a música No Way In Hell. Ele a
programou no meu telefone como toque personalizado.
Atendo, me fazendo de boba. —Quem é?
—Apenas um cara que é muito bom com a boca.
Meus lábios se curvam num sorriso. Minhas preocupações
desaparecem. Ele está fazendo me sentir bem. É isso que importa.
—Não é mesmo? — Provoco de volta.
Ele ri. —Mhmm. Você jura que terminou de estudar.
—Pelo meu amor ao Jurassic Park.
—E você está acordada?
É diferente ouvi-lo no telefone. Ele está mais próximo e mais longe
ao mesmo tempo. É como se sua respiração e sua voz estivessem bem no
meu ouvido. Ou talvez, seja o seu tom de voz. Ele quase parece nervoso.
—Bem acordada—, digo.
—Coloque seu telefone no viva-voz.
Eu faço.
—O que você está vestindo?
—Short e uma regata.
—Mhmm. — Sua voz fica grossa. —Tire o short.
Espero um sinal de que ele está brincando, mas não há.
—Você quer me ouvir gozar, ou quer ir dormir sozinha?
Capítulo 23

Estou quente em todos os lugares. Não só as bochechas, mas


também, meu peito, estômago e costas. Abro a janela. O ar frio não
diminui o calor acumulado no meu corpo.
Miles quer me ouvir gozar? O cara faz sons sensuais para viver, e
ele quer ouvir o meu pelo telefone.
Estou de volta na noite do nosso quase término novamente, só que
desta vez estou no clube, ouvindo Miles e Tom zombando do Pete por seu
constante sexo por telefone. A noite voa, e eu estou aqui, seminua e
prestes a chorar, porque o Miles não consegue se explicar.
Meu corpo pula a parte do coração partido. O calor me atravessa
entre as pernas. Essa coisa maldita não pode ser evitada. Miles é um
vício. Não há outra explicação.
Minha mente está falhando em recuar, fracassa ao me proteger.
Acho que os estudos realmente a cansaram.
A respiração do Miles flui pelos alto-falantes. Ele está esperando, e
não está fazendo isso pacientemente. Tecnicamente falando, a bola está
na minha quadra. Posso dizer sim ou dizer não.
Tecnicamente falando, este acordo é inteiramente nos meus
termos.
Meus olhos se fecham. A brisa faz um arrepio subir pelas minhas
pernas e coxas. Sem calcinha esta noite. Sem sutiã. Apenas essa
minúscula regata e short, como quando eu estava no sofá com Miles.
Não, não posso fazer isso. Se vou fazer isso, eu preciso estar neste
momento. E caramba, quero aproveitar.
—Você jura que não está brincando comigo? — Pergunto.
—Vou te provar.
Ele fica calado por um minuto. Então meu telefone vibra com uma
mensagem com foto. É de Miles, na cama dele, sozinho. Sua mão está
puxando a cintura de sua cueca.
Deus, ele é tão gostoso que é ridículo.
—Você quer mais? — Ele pergunta.
Um rubor se espalha pelas minhas bochechas. Não é como se
estivesse acostumada a homens que se oferecem para me enviar nudes.
OK. Ele me enviou uma foto de boxer. É justo que eu faça o mesmo.
Mesmo que eu não esteja usando calcinha. Puxo minha blusa para o
umbigo para que meus seios fiquem à mostra.
Nunca tirei uma foto sexy de mim antes. Sei como isso é uma má
ideia, de como isso pode me prejudicar, mas não me importo.
Isso é bom demais para me importar.
Tiro uma foto do meu peito e pescoço e a envio para o Miles. Ele
solta um gemido. —Porra, Meg, você está me matando.
Sim. Perfeito. Serei a única no controle aqui. —Como?
—Sinto falta dos seus seios.
—Você os viu semana passada.
—Quero vê-los todos os dias. Para ver aquela expressão no seu
rosto, quando sugo os seus mamilos.
Lá se vai o controle. Estou derretendo. O calor corre pelo meu
corpo. Seja o que for que estamos fazendo, não posso parar até conseguir
o que ele me prometeu, até que esteja gemendo no meu ouvido.
—O que mais? — Pergunto.
—Tire o seu short—, ele diz.
Eu faço. —Tire sua boxer.
Há um gemido baixo, e depois silêncio. Um momento depois, meu
telefone vibra. Ele tirou a boxer e me enviou uma foto. Deve ser…
Olho para a minha nova mensagem com foto. É de Miles. Por
inteiro. Ele está nu e duro, com a mão em volta do seu pau. Sempre achei
estranho quando as mulheres queriam essas fotos, mas agora, eu
entendo. É Miles, duro, desesperado, e louco por minha causa.
—Nunca fiz isso —, digo.
— Nem eu.
—Sério?
—Sério.
Puxo minha blusa por cima da cabeça, e a jogo de lado. Estou nua
na minha cama. Se fechar os olhos, quase sinto que ele está aqui, como
se estivesse me observando. Passo as pontas dos dedos sobre o peito. —
Não sei o que dizer.
—Não ligo para o que você diz. Só quero ouvir você gozar.
Droga, estou em chamas. Isto é perfeito.
Não quero ouvir nada, exceto sua respiração e seus gemidos. Talvez
meu nome saia de sua boca, como se estivesse tão desesperado, que não
conseguisse encontrar outra palavra para explicar o seu prazer.
Coloco o telefone na cama ao meu lado, entre a minha boca e meus
ouvidos. Minha mão desliza sobre o peito, provocando meus mamilos do
jeito que o Miles faz.
Já está bom. Não é tão bom como ele, mas perto. Brinco com os
mamilos, até que a sua respiração fique tão pesada e tensa quanto a
minha. Em seguida, passo a mão pelo estômago, abaixo do umbigo, entre
minhas pernas.
Minha respiração trava na garganta. —Você tem que fazer isso,
também.
Sua voz está grossa. —Depois. Quero ouvir você primeiro.
Meus olhos tremem fechados. Não é como se nunca tivesse me
tocado antes. Cheguei aos vinte sem nunca ter feito sexo. Me toquei
bastante. Mas, nunca com uma audiência.
A minha respiração vai até o meu âmago. Ele também nunca fez
isso antes. Não há razão para ficar constrangida.
Deslizo a mão entre as pernas com um toque suave. É uma
provocação, a princípio, o tipo de coisa que Miles faria. Vou até o clitóris,
e depois recuo novamente. Lentamente. Até não aguentar mais.
Nos alto-falantes, sua respiração está forte. Urgente. Desperta algo
em mim. Também me deixa muito desesperada.
Chega de esperar. Não há mais gentileza. Me esfrego com força.
Não é tão bom como quando Miles me toca. Falta em mim uma
certa paciência, um certo calor. Mas ainda é muito bom.
A pressão dentro de mim aumenta a uma velocidade recorde. Perco
o controle da respiração. Dos sons que escapam dos meus lábios. Solto
um gemido suave. Em seguida, um mais alto. Movo a mão mais rápido,
desenhando círculos sobre o meu clitóris. Faço os círculos menores e
mais apertados até que estejam no lugar certo.
—Oh. — Minha voz aumenta. Estou quase gritando.
Não há espaço para timidez agora. Sua voz está mais alta, mais
pesada, mais desesperada. Estou afetando-o, e isso é tão bom.
Me esfrego até estar no limite. No fundo, sei que isso não será
suficiente para satisfazer o meu desejo. Preciso mais do que a respiração
de Miles no meu ouvido. Eu preciso das suas mãos, e da boca, e do seu
pau.
A dor entre as minhas pernas é muito intensa. Quase mais do que
consigo aguentar. O prazer nos meus braços, pernas e peito gira para
dentro, se acumulando no meu núcleo até que seja uma pressão
profunda e desesperada.
Um gemido flui pelos alto-falantes. Isso me deixa louca. Esse prazer
me leva um pouco mais fundo, me apertando até não conseguir respirar.
Mais uma pincelada dos meus dedos, e gozo. O orgasmo é pulsações de
êxtase. A pressão libera pouco a pouco, derramando na mais pura e mais
profunda felicidade.
Miles solta um gemido baixo. —Não sei como posso acompanhar
isso.
Minhas bochechas ficam vermelhas. —Você geme mais do que isso,
numa música da Sinful Serenade.
—Depende da música. — Ele rosna. —Você parece tão sexy. Não
me lembro da última vez que estive tão duro.
—Eu também quero ouvir você. — Sem constrangimento. Preciso
dizer isso. —Quero ouvir você chegar.
Sem replica rápida. Há alguma mudança, lençóis em movimento,
um corpo plantado na cama. Ele deve estar se posicionando.
Sua respiração está cada vez mais pesada. Não deve ter mais
controle sobre isso. Está tenso e desesperado. Relaxo na cama, deixando
os sons do seu prazer tomarem conta de mim. Ele geme, baixo, profundo
e puramente animal. Os gemidos ficam cada vez mais altos. É muito
melhor do que qualquer coisa em qualquer música e, presto muita
atenção.
—Mhmm.
Ele também não perde tempo. Tudo o que flui pelos meus alto-
falantes, é desesperado e necessitado, como se ele quisesse isso tanto
quanto eu. Seus gemidos correm juntos. Mais forte. Mais elevado. Como
se ele não pudesse controlá-los.
Daí. Ele vem. Não sei como, mas sei. Sua voz está tensa. Sua
respiração fica agitada. Ele solta um último gemido, mais alto do que
alguma vez ouvi. Então, ele suspira de prazer. Sua respiração se
estabiliza. Ainda tensa, mas não completamente fora de controle.
—Relaxante? — Ele pergunta.
—Mais para excitada, e desejando que você estivesse aqui.
—Fico feliz em ouvir você novamente.
—Tenho que ir dormir.
—Quando é a sua última prova?
—Sexta à noite. Por quê?
—Nada. — Ele exala devagar. —Boa noite, Meg. E, boa sorte.
—Boa noite.
Desligo o telefone, puxo os lençóis sobre a cabeça, e tento
desesperadamente preencher o desejo que tenho pelo Miles.
E falho.

A semana é um borrão de apostilas e provas. Na sexta-feira à tarde,


a única coisa que quero, é o doce abraço dos meus lençóis. Preciso de um
milhão de horas de sono.
O elevador está no último andar, então subo as escadas para o meu
apartamento. Cada passo é pura agonia.
E lá está ele, a única coisa melhor, do que aquelas milhões de horas
de sono. Miles está encostado na porta, as mãos nos bolsos da jaqueta
de couro, os lábios contraídos como se houvesse algo na ponta da língua.
—Você sobreviveu. — Ele sorri.
Concordo.
—Aposto que você gostaria de comemorar isso.
—Tudo bem.
—Se não for um problema para você.
—Posso limpar minha agenda. — Tiro minhas chaves da mochila,
abro o apartamento, e puxo Miles para dentro comigo.
O quarto está uma bagunça comprovada. Papel por toda parte,
roupas espalhadas pelo chão, pratos empilhados na pia.
Miles balança a cabeça. —Gostei do que você fez com o lugar.
—Obrigada. Estou tentando algo novo com os pratos. E a roupa. E
o chuveiro.
—Garota malvada.
Meus lábios se curvam num sorriso. —Ainda não. — Jogo minha
mochila no chão. —Quanto tempo você esperou?
—Não muito. — Ele passa as pontas dos dedos sobre o meu queixo,
inclinando minha cabeça, para olhar nos meus olhos. —Mas, valeria a
pena esperar mais tempo.
—E o que você está esperando?
Ele pressiona seus lábios nos meus. Suas mãos deslizam nos meus
cabelos, enquanto sua língua gira em torno da minha. O beijo pausa, e
ele se afasta. —Isso.
Meu coração bate contra o peito. Há dias que ignoro o meu corpo.
É hora de dar a ele um pouco de atenção.
Seus dedos roçam meus pulsos. —Pensei em você a semana toda.
Ok, está na hora de nos divertimos. Eu o provoco. —Pensei nas
provas durante toda a semana.
Ele tira a camiseta por cima da cabeça. —No que você está
pensando agora?
—Havia uma questão da velocidade angular.
—Você só tem aulas de ciências?
Traço as linhas do seu peito. —Quem está pensando em provas
agora?
Ele me puxa para a cama. O gesto foi confuso. Escorrego e caio do
meu lado. Ele balança a cabeça como se fosse me punir.
—Você se acha inteligente? — Ele pergunta.
—Sem dúvida.
Ele abre o zíper do meu casaco. Então, suas mãos estão no meu
estômago. Minha pele queima com o seu toque. As provas parecem tão
irrelevantes agora, mas ainda não terminei de provocá-lo. É muito
divertido para mim.
—E biologia molecular—, digo.
—Isso era impossível. — Ele puxa minha camiseta. Levanto meus
braços para ajudá-lo a tirá-la.
Seus olhos passam por mim lentamente. Em seguida, são os dedos
dele deslizando pelos meus lados. —Você deveria ter dito duro.
Minhas bochechas ficam vermelhas. —Eu, hum ...
Ele abre meu sutiã e o puxa dos meus braços. —Hum ...?
Planto minhas mãos no seu peito, e pressiono minha virilha na
dele. Duro. Sim, ele está absolutamente duro.
Respiro fundo. O quero desesperadamente, mas, quero o sorriso
dele tanto quanto quero o seu pau. —E, minha matéria opcional Poesia
Romana.
Ele abre o zíper do meu jeans e o puxa da minha bunda. —Essa é
uma escolha de merda para uma matéria opcional.
Ele passa as pontas dos dedos pelo cós da minha calcinha. Um
suspiro escapa dos meus lábios. Provas. Matéria opcional. São tão
peculiares, tão distantes, tão menos importantes que isso.
Esfrego minha virilha contra a dele. —É melhor do que você
esperava. — Ele balança a cabeça. —Você está dificultando as coisas.
—Consigo perceber.
Ele sorri. —Mas, vou vencer as provas.
—Não pode mesmo. — Pressiono meus lábios nos dele. Porra, ele
tem um gosto bom. E me sinto bem. Leve. Como se pudesse flutuar.
—Assim?
Concordo. —É tudo uma questão de biologia.
Ele ri.
Então, ele me faz esquecer em que ano estamos.
Capítulo 24

As próximas três semanas são um borrão. Miles se infiltra cada vez


mais na minha vida. Ele me manda uma mensagem durante o dia. Eu
respondo entre as aulas, enquanto almoço, a caminho de casa do
hospital. É uma coisinha de nada, piadas sobre Guerra nas Estrelas ou
promessas de me fazer gozar até gritar seu nome ou detalhes sobre o
nosso dia, mas, sorrio sempre que vejo uma nova mensagem dele.
A sensação é boa. Melhor do que deveria.
Pela primeira vez, me permito absorver a alegria. Ele vem me
buscar no trabalho todas as sextas à noite, e me deixa na casa da Kara
todos os domingos de manhã. O tempo que passamos na casa dele em
Malibu é só nosso. É como se o resto do mundo não existisse. Como se
nada pudesse nos magoar.
O tempo passa tão rápido. De repente, é um dia antes do Dia de
Ação de Graças, e Miles está na faculdade. Uma surpresa e tanto. Ele me
leva para comer sushi, e uma exibição especial do Matrix. Depois, me leva
para casa, e me faz gozar tantas vezes que perco a conta.

Quando acordo, Miles já está vestido, e pronto para ir. Acelero a


minha rotina matinal, faço as malas e me visto o mais rápido possível.
Aí. Pronto. Então, vou passar dois dias na casa dos meus pais.
Consigo aguentar isso.
Os olhos do Miles passam por mim. —Você está legal.
Legal não é o elogio que esperava de Miles, mas está exatamente
correto. Estou com a roupa mais agradável para os pais, um cardigã de
bolinhas, jeans skinny, botinas.
—Obrigada.
Ele se concentra no decote em v do meu pulôver. —Você está
usando alguma coisa por baixo?
—Sim. Meus pais não ficaram bem com a gente dando uns amassos
na frente deles.
—Não sei. Sua mãe perguntou se você está fazendo sexo seguro.
—Eu vou embora! Juro que vou.
Ele ri. —E vai para onde?
—Onde não tenha que morrer de vergonha.
Ele me puxa me dando um abraço, e pressiona seus lábios nos
meus. —Você não vai morrer. Prometo.
—Não sei se consigo fazer isso—, sussurro.
—Você consegue. Vamos lá. — Ele pega minha mão, e me leva para
o seu carro no térreo.
O deixei assumir a liderança, colocando nossas coisas no porta-
malas, abrindo a porta para mim. Em seguida, estamos no carro, o motor
está ligado, estamos indo para Newport Beach.
—Você está com fome? — ele pergunta.
Balanço a cabeça. Não sei se consigo comer agora.
—Quer café?
—Mais tarde.
O carro se move rápido, mas não é tão rápido como na noite em
que nos conhecemos. Está aceitável.
Ligo o rádio. Está sintonizado na KROQ, e quem diria, No Way in
Hell sai dos alto-falantes.

Três da manhã e não consigo dormir.


Um refrão comum, eu sei.
Como um sentimento, é barato.
Alguém para ligar, segurar, amar,
nem pensar, essa palavra
– ela sorri e eu me afasto –
Minhas bochechas ficam vermelhas. Gaguejo algo incompreensível
e mudo de estação.
—Sabia que, a maioria das meninas se sentem lisonjeadas quando
alguém escreve uma música sobre elas—, diz ele.
Pressiono minhas costas contra o assento. —Você nunca disse que
é sobre mim.
Seus dedos se enrolam ao redor do volante. —É.
—Ah.
—Você é fofa quando está nervosa.
Volto minha atenção para a janela, mas não há nada para ver.
Somente viadutos, sinais de saída, filas de condomínios. —Por que você
escreveu uma música sobre mim?
—Algo tomou conta de mim, uma coceira, e a música era a única
maneira de coçá-la.
Respiro fundo. —Isso não é uma resposta.
—Sim, é. — Ele se vira para mim por um momento, então seus
olhos voltam à estrada. —Apenas não é a resposta que você quer.
Quero que ele olhe para mim, e me conte seus sentimentos, para
explicar o que isso significa: a coceira que ele não consegue coçar.
A música parece ser sobre se apaixonar. Ele está se apaixonando
por mim?
A estação do rádio entra no comercial. É para promoção de um
restaurante fast-food, um café da manhã supostamente barato e
delicioso. O zumbido da estrada, o vento vazando pelas janelas não
completamente fechadas, enche o carro. Miles deveria ser minha arma
secreta para aguentar este fim de semana horrível. Se ele vai ficar na
defensiva, e inventar besteiras sobre porque escreveu uma música sobre
mim ... não dá para aturar isso.
Acho que cabe a mim mudar o clima. —Este carro é seu? —
Pergunto.
—Sim.
—Então, por que você sempre anda na moto da morte?
—Gosto de ter algo poderoso entre as minhas pernas.
—Além do seu pau?
Ele ri. —Você não deveria especificar a brincadeira.
—Sim, mas gosto de pensar no seu pau. — Respiro fundo. Isso não
ajuda a me acalmar. Como ele está escrevendo canções sobre se
apaixonar por mim, em seguida insistir que estou arruinando nosso
relacionamento, o tornando sério?
Bato os dedos contra o parapeito da janela. É frustrante, a forma
como ele é tão pouco claro sobre suas intenções.
—Não sei explicar. Se conseguisse, não precisaria escrever a
música. — Sua voz fica baixa. —Eu senti algo. E escrevi a música. Fim.
—Obrigada. Você realmente esclareceu as coisas.
—Você está de mau humor hoje.
—Foda-se.
—Vamos parar para o café da manhã.
—Não estou com fome.
Fecho os olhos e finjo cochilar. Apesar da minha insistência, Miles
pega a próxima saída.
Ele estaciona num Starbucks. —Vamos lá. Vou comprar café, chá
verde, o que você quiser.
Meu estômago ronca. Estou com fome. Mas, não é por isso que
estou mau humorada.
Ele deve saber que estou mau humorada com a sua não resposta.
Ele sentiu uma coceira, a música a coçou. Que monte de besteira.
Sigo Miles até a cafeteria. Ele desliza o braço em volta da minha
cintura, me puxando para mais perto. É como se fossemos um casal
normal. Como se estivéssemos realmente felizes por estarmos indo
passar o feriado com a minha família.
A garota atrás do balcão reconhece Miles instantaneamente. Os
olhos dela brilham. Sua língua desliza sobre os lábios. —Bem-vindo!
Miles sorri. —Você quer se sentar?
—Então, você pode flertar com a funcionária?
Ele arrasta os dedos pela borda do meu cardigan de lã, sobre a
minha pele. —Só flerto com você. — Sua mão desliza para a parte inferior
das minhas costas. —Só não quero sujeitar mais ninguém ao seu humor
provocado pela fome.
—Talvez meu humor tenha sido provocado por besteira.
—Apenas uma maneira de descobrir. — Ele vai até o caixa. Planta
as palmas das mãos, e se inclina na direção da funcionária como se ele
estivesse prestes a compartilhar um segredo. —Café simples para mim.
Grande. E para a minha amiga ...—Ele faz um gesto para mim.
—Cappuccino. Dose extra.
—E—, Miles diz.
—Um dos sanduíches de ovos. Um com espinafre.
A garota assente. Ela olha com adoração para Miles. —Eu amo a
Sinful Serenade.
Ele pisca para ela. —Obrigado, querida.
—Você pode me dar um autografo? — Os olhos dela se arregalam.
Ela enfia a mão debaixo do balcão e entrega a ele uma caneta.
Ele assente, assina um guardanapo, e o devolve a ela.
Caio numa das poltronas confortáveis, e verifico meu telefone.
Nada além de um texto da minha mãe para dirigir com segurança. Todo
mundo está longe, muito longe. Kara está em São Francisco. Envio uma
mensagem de feliz Dia de Ação de Graças.
Miles desliza na cadeira confortável perto da minha. Ele me dá
minha bebida e meu sanduíche de ovo.
Sua expressão está atenta. O que diabos faço com isso?
Me levanto para o açúcar e um palito de madeira. Posso sentir seus
olhos em mim, enquanto preparo minha bebida. Está bom. Doce e
cremoso e incrivelmente cheio de cafeína.
Respiro fundo. Volto ao meu lugar com elegância. Estou calma. Vou
aproveitar ao máximo as coisas.
Meus olhos encontram os dele. —Por que você realmente se
convidou para a minha casa?
—A resposta a essa pergunta é mais que evidente.
—Caramba, esqueci que você ia ser advogado. — Tomo outro gole.
Mais doce, doce cafeína. Como as pessoas viviam antes do café? Deve ter
sido um inferno.
—Quero ajudar você. Com seus pais.
—Você não prefere visitar sua família? — Pergunto.
— Sinful Serenade é minha família. — Sua voz fica baixa. —Não
costumo falar sobre a minha família.
—Não vou pressionar você. — É claro que forçá-lo a falar comigo
falha. E, não é só pressionar alguém que prefere ficar fechado.
Seus olhos se voltam para o chão. —O negócio é o seguinte, Meg.
Só estou dizendo isso para que entenda, porque nunca vou me apaixonar
por você.
Minha respiração fica presa na garganta. —Eu sei. Somos amigos.
Miles olha através de mim. —E, tem certeza de que isso não é
importante para você?
—Sem dúvida. — Pressiono a mão no meu jeans. —Esse
relacionamento é só sexo.
Ele concorda. —Meu pai foi embora, quando eu estava no ensino
médio. Cansado de toda aquela coisa suburbana. Fiquei com raiva. Só
tocava guitarra e me metia em problemas. Mas minha mãe...
desmoronou. Ela não conseguia sair da cama, nem se incomodava em
tomar banho. Isso partiu o coração dela. É isso que o amor faz, parte seu
coração.
Os olhos do Miles se enchem com essa mistura de ódio e decepção.
A partida do seu pai deve ter doído muito. E depois a mãe dele... ele nunca
falou sobre ela antes.
—Mas ela ... agora ... — Não tenho coragem de fazer a pergunta. Já
sei que leva a um caminho escuro e tempestuoso. Ele não tem família
que se importe. A mãe dele não deve estar...
Seu olhar se dirige para a janela. Ele se concentra em algo distante,
como se estivesse perdido em pensamentos. Leva um minuto inteiro
antes que ele olhe para mim.
—Ela se matou—, ele disse.
Meu estômago cai com uma pancada. Meus dedos escorregam. Ah,
não. Minha xícara bate no chão. Em seguida, tem café por toda parte. —
Meu Deus. É melhor eu consertar isso.
Pulo da cadeira. Guardanapos. Preciso de guardanapos. Eles estão
no balcão, com a funcionária atrevida, que não sabe que Miles não
namora, que ele acredita que o amor só pode quebrar você.
Pego uma pilha.
A funcionária atrevida vê a poça de café. —Vou limpar isso.
—Não, está tudo bem. — Ela não está ouvindo. Ela desliza para
fora do balcão com um pano branco, corre até Miles, se ajoelha, e limpa
o café.
Seus olhos encontram os meus, mas ele não diz nada. Tento me
transformar em pedra. Tento não revelar nada, mas tudo ao meu redor
parece pesado.
Ele passou por muita coisa. Ele sofreu muito. E, menciona isso
casualmente no meio de uma cafeteria. Por acaso, minha mãe se matou
e, é por isso, que tenho todos esses problemas de intimidade. Quer transar
no banheiro?
Respiro fundo.
A funcionária termina a limpeza. Ela sorri para Miles. Para mim.
Totalmente alheia à mudança na atmosfera.
—Vou fazer outro para você. Cappuccino., dose extra., né? — Ela
pergunta.
Aceno, e volto para o meu lugar. —Desculpe.
—Isso é o que eu esperava. — Ele pega a metade restante do meu
sanduíche e o entrega para mim. —Você é desastrada quando está com
fome.
—Lamento que você tenha passado por tudo isso.
Há vulnerabilidade na sua expressão. —Sobrevivi.
Meu coração bate contra o meu peito. —Você está sozinho.
Sua expressão endurece. —Estou sozinho há muito tempo. É mais
fácil assim.
—Oh.
Miles está calado. Claro que ele está calado. Ele está sozinho há
muito tempo. É mais fácil assim.
Sozinho.
Sem ninguém.
Sem mim.
É mais fácil assim.
É melhor assim.
Ele é mais feliz assim.
Ele é mais feliz sem mim.
Capítulo 25

Estacionamos na entrada da casa dos meus pais em Newport


Beach. Miles pega nossas malas no porta-malas. Tento ajudar, mas ele
tira as malas fora do meu alcance. OK. Acho que minha mãe vai gostar
dele agindo como um cavalheiro.
A porta de madeira está trancada. Bato em vez de pegar minhas
chaves. Mamãe também apreciará a chance de entrar em cena.
Os nervos sobem no meu estômago. A última vez que estive aqui,
senti como se estivesse sufocando. Tudo estava fora e errado, e a
ausência de Rosie estava me assombrando.
Miles coloca as malas no concreto.
Em seguida, seu braço está em volta da minha cintura, e tenho
certeza de que vai ficar tudo bem. Mamãe atende a porta. —Querida, senti
sua falta. — Ela olha bem para Miles e acena um olá. — Sou Susan
Smart.
—Miles Webb. Prazer em conhecê-la. — Ele aperta a mão dela. —
Posso ver de onde vem a aparência da Meg.
Mamãe cora. —Obrigada. Entrem. — Ela empurra a porta para
abrir. —Como foi a viagem?
—Bem. Não tinha muito trânsito. — Entro, e olho a sala de estar.
Está tão linda e intocada quanto me lembro. Mas, falta alguma coisa.
Havia troféus na lareira, os troféus de vôlei da Rosie. Sumiram. Mais um
pedaço dela se foi.
—Posso trazer alguma coisa para vocês? Café? Chá? Um lanche,
talvez?
Mordo a boca. —Que tal guardarmos nossas malas primeiro?
Ela assente e nos leva até as escadas. Havia meia dúzia de fotos
emolduradas nessa parede, fotos de família, as bregas enviadas como
cartões de Natal, mas todas se foram.
Mamãe sorri. —Você, jovem, quer ficar no quarto da Meg ou
gostaria de ficar no quarto de hóspedes, Miles?
Meu queixo cai. Não temos um quarto de hóspedes. Temos o quarto
da Rosie.
Sei que um dia temos que seguir em frente. Sei que as pessoas
sofrem de maneiras diferentes. E talvez, magoe muito a mamãe ter as
coisas da Rosie aqui...
Mas como ela pode chamar aquele de quarto de hóspedes?
Como ela pode tirar todas aquelas fotos e esconder todos aqueles
troféus? Miles entra em cena. É como se ele soubesse que estou prestes
a quebrar.
—Muito obrigado, Dra. Smart. — Miles olha para mim. —O que
você acha, querida? Quer que eu fique com você?
Concordo.
Ele se vira para mamãe. —Você tem certeza de que está tudo bem?
Ela assente. —Sim, é bom para você dormir ao lado de alguém que
ama. O toque produz ocitocina. Esse é o hormônio do amor. É o que faz
você se sentir amado e confuso. — Ela oferece um meio sorriso. —
Dopamina também.
—Conheço dopamina. O hormônio do prazer. — Miles oferece a ela
um grande sorriso.
—Sim. — Mamãe se vira para mim. —Estou feliz que você
encontrou alguém inteligente.
—Ele foi para Stanford, o exibido. — Faço que posso. Estou me
divertindo tanto com o meu namorado sorridente. É horrível.
Ele coloca nossas malas no meu quarto, e desliza o braço em volta
de mim. Ele se inclina para sussurrar: —Devo dizer a ela que tenho uma
moto?
Dou risada. Estou tentada a contar a ela eu mesma. Não faço ideia
de como mamãe vai agir em relação à versão bad boy do Miles. Desde que
Rosie morreu, ela tem sido imprevisível.
Mamãe nos leva lá embaixo. —Como vocês se conheceram? Meg
não fala sobre caras com muita frequência.
—Ela é estudiosa. — Miles brinca com meu cabelo. —Na verdade,
ela é uma grande nerd.
Mamãe sorri. —Ela foi como a Princesa Leia por cinco anos
seguidos no Halloween.
—Este ano também—, ele disse. —Sou amigo da Kara. Bem, amigo
de um amigo.
Ela assente. —O que você faz, Miles? Meg não disse.
—Trabalho na indústria do entretenimento. — Ele pisca para mim.
—Nada muito interessante.
—Você precisa de ajuda com o jantar? — Pergunto.
—Não, está tudo preparado, exceto o peru, e está no forno. — Ela
aponta para a mesa, direcionando para nos sentar. —Café ou chá, vocês
dois?
—Chá verde. — Miles sorri. —Se não for muito trabalho.
Não sei se ele está me provocando ou cuidando de mim. Talvez,
ambos. Seja o que for, eu gosto.
Me inclino para sussurrar: —Obrigada. Isso já está melhor.
—Você quer que eu conte a ela sobre a Sinful Serenade?
—Você decide.
—A maioria dos pais não reage bem ao conhecimento de que sua
filha está tendo um tórrido romance com uma estrela do rock.
—Por que você conheceu os pais de muitas meninas?
—Vi isso acontecer.
—Com quem?
Ele encolhe os ombros.
Mamãe entra na sala. Ela coloca um bule de chá e três xícaras. —
Não uso isso há séculos. — Ela olha para Miles. —Meg é muito ocupada.
Não consegue vir muito para casa.
—Tenho certeza de que em parte a culpa é minha. — Ele sorri largo,
o charme se transformou em mil.
—Você parece familiar, Miles. Você é daqui?
—Morei em Irvine durante um tempo. Mas, provavelmente não é
isso. Estou numa banda. A Sinful Serenade. Temos uma música que toca
cem vezes por dia na KROQ.
Mamãe sorri. —Não escuto a KROQ desde o ensino médio.
—É a mesma coisa. Foo Fighters, Red Hot Chili Peppers e Nirvana
o tempo todo.
Mamãe cora, totalmente encantada. —Você é um doce, mas, essas
bandas vieram muito depois que terminei o ensino médio.
—Não acredito nisso.
Ela se vira para nós, amigável, mas maternal também. —Você está
indo bem?
Ele concorda. —Bem o suficiente. — Debaixo da mesa, ele desliza
a mão sobre a minha coxa. —Escrevo as músicas paralelas. Faça certo,
ou vá embora, mas, tive alguns sucessos.
Os olhos da mamãe se iluminam. —Verdade?
Miles cita algumas músicas que o faz popular no pop. A atitude da
mamãe muda. Não é que ela seja terrivelmente superficial. Por aqui, o
dinheiro manda. É preciso muito para impressionar uma família de
médicos. Aparentemente, ‘compositor milionário com lindos olhos azuis’ é
suficiente para conseguir.
Me desligo, enquanto a mamãe interroga Miles. Ele é perfeito e
charmoso, a imagem de um namorado doce e solidário. Ele encosta a
cabeça no meu ombro, e elogia minha inteligência, minha beleza, minha
excelente ética de trabalho. Ele especula sem parar sobre um futuro que
nunca veremos, onde ele viaja com base na minha agenda escolar, e se
instala na cidade onde moro.
Para um cara que não namora, ele com certeza é bom em
interpretar um.
Temos um jantar tardio. A mesa na sala de jantar está coberta com
a melhor toalha de linho, a melhor porcelana, os melhores talheres. É o
tipo de refeição que a realeza come.
Papai está sentado ao lado de mamãe, amassando as batatas
distraidamente. Ele não está bem, não parece ter muito a dizer. Ele não
fala muito desde que a Rosie morreu, e está na mesma sintonia, nunca
mais vamos discutir isso novamente, como a minha mãe.
Ele presta muita atenção ao Miles, mas não há sinal de que papai
se oponha ao meu suposto namorado.
Papai nem se incomoda com as tatuagens que aparecem na
camiseta do Miles.
Era isso que eu queria, a atenção no Miles, e não em mim. Mas,
parece errado que eles o aceitem tão facilmente. Eles não deveriam estar
curiosos sobre suas intenções? Eles não deveriam estar preocupados com
a sua filha?
Miles é muito charmoso, muito bom em convencê-los que ele me
adora.
Mamãe limpa a garganta. —Sabem, estou muito grata por ter
minha filha e seu amigo aqui. E, ela está saudável, e vai para a faculdade
de medicina no próximo ano. — Ela levanta a taça de vinho como se
estivesse brindando a mim. —Você vai se sair bem em qualquer lugar.
—Obrigada. — Seguro minha água no meu peito, evitando qualquer
coisa perto de um brinde. —Será bom finalmente sair do sul da
Califórnia. Abrir minhas asas e ver o mundo. —E, ficar longe desta casa
e a maneira como ela rasga um buraco no meu íntimo.
—Se é o que você quer. — Mamãe toma lentamente um gole de
vinho. Ela abaixa a taça, dobra as mãos, e olha diretamente para mim.
—Megara, querida, pelo que você agradece?
Mordo o lábio, lutando contra a tentação de dizer besteiras. Este
deveria ser um agradável jantar de família. Não vou estragar tudo,
ressaltando o quanto estamos fingindo que Rosie não está aqui.
—Por honestidade—, digo.
Mamãe franze a testa, sem saber o que pensar. —É importante. —
Ela dá uma tapinha na mão do papai. —Especialmente numa relação.
O humor muda, e sua tentativa desesperada de fingir que a minha
irmã nunca existiu desaparece. Sua expressão é miséria. A memória deve
estar batendo nela como uma tonelada de tijolos.
Conheço essa sensação. É uma sensação horrível. Metade de mim
quer correr para confortá-la. Mas, a outra metade não consegue perdoá-
la por ter anulado Rosie da casa.
Sei que não é justo. Ela está lidando da única maneira que sabe.
Mas, continua sendo errado, que não há sinal de Rosie ter existido.
Mamãe balança a cabeça, e o sofrimento desaparece. Volta com um
sorriso está tudo bem. —Eu também sinto falta de Rosie. Gostaria que
ela estivesse aqui. Mas ela não está. Ela se foi, e guardar suas coisas, não
vai trazê-la de volta.
Apresento meu melhor sorriso. Essa conversa não vai a lugar
algum, a menos que sejamos honestos, e posso dizer que ela não está
pronta para admitir o quanto dói. Também não sei se estou pronta.
Miles interrompe. —Sou grato por sua hospitalidade. — Ele sorri,
todo charmoso.
—O prazer é meu—, diz mamãe. Ela se vira para mim. —Você
realmente encontrou um jovem simpático.
Faço contato visual com o Miles. —Ele é o namorado perfeito.
Ele levanta uma sobrancelha.
—Ele me comprou um N64—, digo. —Você se lembra de como Rosie
e eu costumávamos brincar com o nosso? A prima de Jimmy nos deu.
Por um tempo, ela adorava games de corrida.
Mamãe faz uma careta. —Sim, eu lembro. Lembro muito da sua
irmã. Mais do que quero lembrar. — Uma lágrima se forma nos seus
olhos.
Tento arranjar algum tipo de pedido de desculpas, alguma maneira
de me conectar sobre o quanto isso dói.
Nada se encaixa. Não faço ideia do que devo dizer.
Mamãe se levanta da mesa. —Com licença, Megara, Miles. Estou
com dor de cabeça. Vou me deitar.
Papai olha para ela com preocupação. Ela acena como se estivesse
bem, e sobe as escadas. Seus passos estão calmos e uniformes, mas
tenho certeza de que suas mãos estão tremendo.

Miles conversa sem esforço com o meu pai, sem perder o ritmo. São
esportes, filmes, pedidos de histórias embaraçosas sobre mim. Depois do
jantar, eles vão à TV. Papai muda os canais, e acaba aceitando uma
reprise qualquer.
Rastejo escada acima. Se minha mãe quer mesmo falar sobre a
Rosie, quero estar lá com ela.
A porta do seu quarto está aberta uma fresta. Ela está sentada na
cama, no escuro, com as mãos em volta de uma moldura de prata.
Esse quadro costumava estar na parede. Uma das fotos da família.
Um antigo, quando éramos crianças, antes de tudo dar errado.
Lágrimas escorrem por suas bochechas. Estão caladas, como se ela
não quisesse que ninguém soubesse que dói.
Seguro a maçaneta, mas não consigo empurrar a porta. O que vou
dizer?
Não tenho as respostas. Não faço ideia de como lidar com isso.
Minha mão na maçaneta libera. Melhor ir para o quarto sozinha.
Melhor chorar sozinha, onde não machucarei mais ninguém.
Algumas horas se passaram. Puxo meu edredom sobre a cabeça, e
leio um dos meus livros do Guerra nas Estrelas. As palavras não causam
impacto. Tudo nesta casa é sufocante.
Meu pai vai dormir. As luzes se apagam. Miles se junta a mim na
cama, e passa os braços a minha volta. Vai direto atrás do ouro. Suas
mãos deslizam sob o meu cardigan, traçando o contorno do meu sutiã.
—Podemos tirar isso agora—, ele disse.
O calor que percorre meu corpo é a primeira coisa agradável que
senti durante todo o dia, mas meus pais estão três portas abaixo. —Aqui
não.
Seus lábios roçam meu pescoço. —Você está certa. — Ele afunda
os dentes na minha pele. —Sem chance de você conseguir ficar quieta.
—Eu consigo. Mas, você gosta quando faço barulho.
—Porra, sim. — Ele passa os dedos pelas minhas coxas. —Tem um
lugar que quero te levar.
—Mesmo?
—Você vai gostar. — Ele me tira da cama. —Claro, você virá com
tanta força que mal vai perceber o que a rodeia.
Já comecei a gostar.
Capítulo 26

Pegamos o sul da Pacific Coast Highway, para uma rua longa e


vazia que cortava as colinas. Tudo está escuro, exceto as estrelas e a lua.
Descanso meus olhos. É tarde, e esse dia durou para sempre. Miles
tem minha cabeça girando. Não sei para que lado é para cima ou para
baixo. É o suficiente para me enlouquecer, mas a casa, meus pais ... é
como se a minha irmã nunca tivesse existido.
O carro desacelera até parar. Estamos no sinal vermelho. Miles tem
a mesma expressão determinada. Ele sabe para onde estamos indo. Ele
sabe o que está fazendo. Sabe exatamente o que está ganhando nesse
relacionamento.
Ele vira para uma estrada íngreme e sinuosa. Há um tipo de
laboratório no topo da colina. Paramos perto dele para tirar um grande
pedaço de terra. É um mirante improvisado.
Miles desliga o carro. —Dá uma olhada.
Andamos até a beira da colina. Os subúrbios tranquilos são
eternos, essa massa de luzes cintilantes. O céu negro está pontilhado de
estrelas que nunca tinha visto.
—Essa foi a coisa mais próxima que tivemos de um ponto de
amasso na escola—, ele disse.
Miles morou em Irvine durante algum tempo. É só a vinte minutos
daqui. Inferno, a UCI fica a apenas quinze minutos da casa dos meus
pais.
Faria sentido estudar lá. Isso me pouparia tempo, dinheiro e
esforço.
Mas também doeria.
Limpo minha garganta. —Você ... vinha muito aqui?
—Sim. Mas, estava sempre sozinho.
Meus músculos tensos relaxam. —Sempre?
—A não ser que alguém tenha mudado a definição de sempre, para
que signifique às vezes.
Não me incomodo com a resposta. Há muito para assimilar. Este
lugar é lindo, e sou a primeira garota que Miles trouxe aqui. Tento não
deixar isso significar alguma coisa. Meu coração bate contra o meu peito.
Puxo meus braços sobre ele, para manter todo o calor do meu
corpo. Miles desliza o braço em volta dos meus ombros. —Frio?
—Sim.
—Venha aqui. — Ele desliza para o banco de trás, me puxando com
ele.
Seu corpo está perto do meu. Centímetros de distância. Só há luz
suficiente para ver a expressão no seu rosto. Ele parece triste. Mas, não
sei o que isso significa.
Ele está quente e cheira bem. Preciso disso, preciso que ele me
conforte. Seus dedos roçam meu queixo. Ele me guia para um beijo. É
suave e doce, o tipo do beijo que deveria significar eu te amo. Mas este
não pode. Isso não é possível.
Puxo sua jaqueta de couro. Preciso dele mais perto. Preciso que
isso signifique eu te amo. Quando o beijo termina, Miles olha nos meus
olhos. —Você está bem?
Balanço a cabeça. Ele não devia perguntar essas coisas. Ele não
devia ser tão doce.
—O que houve?
Meus pulmões falham. Minhas cordas vocais falham. Minha boca
está pegajosa e confusa. Não há uma maneira fácil de explicar isso, mas
quero tentar. —Meus pais ... eles apagaram a existência da minha irmã
da casa. Não está certo.
—Eles estão tentando lidar com a situação.
—Eu sei. Mas isso não facilita as coisas.
Ele passa a mão pelo meu cabelo. —Eles se preocupam com você.
Deixe-os.
Fecho meus olhos. Seu toque é delicado. Sua voz é suave. Mas ele
nunca vai me amar, e é melhor ele ficar sozinho.
Recuo. —Quem diabos você pensa que é para me dizer para deixar
alguém se importar comigo?
Ele não vacila. —É justo.
Ele não se importa. Odeio que isso não o incomode.
Seus lábios roçam meu pescoço. O calor passa por mim. Tudo o
que preciso fazer é fechar os olhos, e me render ao seu corpo contra o
meu. Não importa, se ele vai partir meu coração mais tarde. Não importa,
que meus pais estejam apagando a existência da minha irmã.
Este momento é a única coisa que importa.
Me inclino nos seus lábios. Ele se move mais rápido, raspando os
dentes contra a minha pele, puxando o meu cardigan.
—Isso é tudo o que posso te oferecer—, ele fala.
Cada lugar que ele toca está em chamas, desesperado por mais
dele, tudo o que ele possa oferecer. —Eu sei.
Ele puxa meu suéter por cima da minha cabeça. —Você se
machucou muito. Não posso piorar a situação.
Seus olhos encontram os meus. Eles estão muito sérios, e há tanta
doçura no seu olhar. Ele se importa comigo, mesmo que seja o suficiente
para não me desprezar completamente.
Me viro, olhando para a vista perfeita lá fora. —Então, para de dizer
essas coisas. Se você se importa comigo, não aja como se fosse se
apaixonar por mim.
Sua voz está igual. —É justo.
—E, coisas assim. Pare com isso. Você tem todas as cartas nessa
relação. Para de se gabar de como você é tão controlado.
Ele passa as mãos nos meus ombros, puxando as alças do meu
sutiã para baixo. —Eu não sou controlado. — Ele abre meu sutiã, e
esfrega meus mamilos. —É que toda a minha atenção já está focada em
outro lugar. — Ele pega minha mão e a desliza sobre a saliência no seu
jeans.
Minha respiração fica presa na garganta. —Não é a mesma coisa.
Ele belisca meus mamilos, enviando dores de desejo até os dedos
dos meus pés. Meu corpo grita de desejo. Não me perdoará se fizer algo
além de tocá-lo.
—Gosto de você. — Ele tira meu jeans e calcinha pelos meus pés
de uma só vez. —Mas, esta é a única maneira que posso te mostrar.
—Eu sei.
As pontas dos dedos dele roçam minhas coxas. —Tem certeza de
que você está bem com isso?
Fecho os olhos. — Tenho que pegar ou largar.
Miles passa a mão na minha panturrilha, na parte interna do meu
joelho, na minha coxa. —Você pode largar.
—Acreditaria em você, se não estivesse prestes a me foder.
Ele pega meus joelhos, e me arruma para eu ficar por cima dele. —
Eu consigo parar. Acho melhor não, mas consigo.
—Não. Quero que me mostre o quanto você gosta de mim. — Fecho
minhas pálpebras.
Se isso é realmente tudo o que Miles pode oferecer, isso tem que
ser o suficiente. Preciso que ele me mostre como se importa, mesmo que
seja com seu pau dentro de mim.
Ele massageia meus ombros, trazendo meu corpo para o dele. O
banco traseiro é muito pequeno para duas pessoas altas. Uma das
minhas pernas está espremida entre ele e o assento. A outra está roçando
o assoalho.
Miles está a cinco centímetros de mim. Ele passa um fio de cabelo
atrás da minha orelha. Seus dedos deslizam sobre a curva do meu queixo.
É suave e doce, como ele gosta de mim.
—Está tudo bem? — ele pergunta.
—Mostre-me.
Ele pressiona a palma da mão nas minhas costas. —Olha para
mim.
Abro meus olhos. Ele está olhando para mim, olhando através de
mim. É como se ele pudesse ver dentro de mim, ver como estou perto de
desmoronar.
—Você não parece bem. — Sua voz é tão suave e doce quanto seu
toque.
—Não finja que isso importa para você.
—Incomoda. — Ele me envolve nos seus braços, e me abraça. —
Parece que você está prestes a chorar.
Me levanto, assim, estamos olho no olho. — Seja lá o que isso
significa, me mostre, ou me leve para casa.
Ele sustenta meu olhar. Parece uma eternidade, mas não deve ter
sido mais que um minuto. Então, seus olhos se fecharam, e seus lábios
encontraram os meus.
É o mesmo beijo de antes. Um que significaria eu te amo numa
relação normal. Suas mãos deslizam para minha bunda, o seu toque
suave e delicado.
Estamos a centímetros de distância. Seu pau está logo abaixo do
meu sexo.
Ele pega meus quadris e me guia até ele. É lento e gentil, e então,
ele está dentro de mim.
Planto as mãos em seus ombros e aproximo meu corpo. Ficamos
frente a frente. Olhando nos olhos um do outro. Ele mantém sua mão
nos meus quadris, guiando os meus movimentos, para levar seu pau
mais fundo dentro de mim.
Ele olha para mim como se me amasse.
Fecho os olhos, e pressiono meus lábios nos dele. Suave. Gentil.
Perfeito. Ou, pelo menos, seria, se toda essa situação não estivesse
irremediavelmente fodida.
Ele me abraça com força, entrando em mim num ritmo constante.
Seus lábios ficam nos meus. Sua língua explora minha boca. É gentil e
delicado, como se ele quisesse mais de mim.
Eu o beijo de volta. Giro minha língua em torno da dele. Esfrego
meu corpo contra o dele. O prazer cresce da mesma maneira suave e
lenta, até que seja demais para aguentar.
Miles rompe o beijo. Olha nos meus olhos, passa a mão pelos meus
cabelos. Suas pupilas dilatam. Seus dedos penetram na minha pele.
—Meg ...— É um gemido suave, mas cheio de desejo.
Ele mantém as coisas lentas. Meu sexo aperta. Mais. Mais. Mais.
Parece que vai durar para sempre, como se nunca fosse parar.
Pressiono meus lábios nos dele, o beijando com mais força. Mas,
mesmo assim, ele continua lento. Ele balança dentro de mim. Ele me
abraça.
A pressão dentro de mim aumenta. Mais. Mais. Mais. É demais. É
muito. Um orgasmo brota em mim. Gemo na sua boca. Mais. Ainda
preciso de mais. O beijo com mais força, o seguro mais perto.
O prazer passa por mim até os dedos dos meus pés. Mas, sou
gananciosa, e ainda quero mais.
Enfio minhas mãos em seus cabelos. Aperto minhas coxas contra
as dele. Balanço meus quadris ao seu encontro.
Miles geme na minha boca. Seus dedos penetram na minha pele.
Ele empurra um pouco mais forte. O prazer ressurge em mim. Desta vez
é mais rápido, mais intenso.
Ele rompe o beijo. Olha nos meus olhos. A inquietação passa por
mim. Ele está dentro de mim. Estou prestes a gozar. Mas, o jeito como
ele está me olhando... não faço ideia o que significa.
O olho de volta. Enterro minhas unhas nos seus ombros.
O prazer invade meu corpo. Não consigo resistir. Grito, quando um
orgasmo derrama através de mim, misturando todos as sensações dentro
de mim, então, estou meio em êxtase, meio no inferno.
Ele me abraça com força, empurrando dentro de mim com o mesmo
ritmo perfeito. Seguro seu olhar, gemendo enquanto outro orgasmo
cresce.
Ele geme, ainda me abraçando forte, ainda empurrando em mim.
Um arrepio percorre seu corpo. Perto. Os dentes afundam nos seus
lábios.
Mesmo assim, ele se move com o mesmo ritmo, lento e constante.
Ele balança cada vez mais forte.
Seus olhos ficam colados aos meus. Vejo seu rosto se contorcer.
Sua respiração fica mais pesada. Seus gemidos saem mais baixos, mais
altos. Ele aperta meus quadris. Aí. Seus olhos reviram quando ele vem.
Ele balança em mim uma última vez, e me enche.
Isso me leva ao limite novamente. Durante alguns instantes, todo
o resto desaparece. Só sinto o prazer me atravessando da cabeça aos pés.
Só me sinto bem.
Minha determinação diminui. Derrubo meu corpo no dele,
tentando me agarrar a tudo que é bom.
Miles relaxa no banco. Ele me aperta mais forte, segura meu corpo
contra o dele.
Seu coração está acelerado contra o peito, contra o meu peito. Sua
respiração está no meu cabelo. Isso significa alguma coisa, tenho certeza
disso. Mas, não faço ideia o que é.
Capítulo 27

Acordo sozinha. Ninguém está em casa. Papai está no trabalho.


Sabe-se lá onde mamãe está. Provavelmente, ela está tão desconfortável
nesta casa quanto eu.
Não há uma palavra no meu telefone. Também não sei onde Miles
está.
Como o café da manhã com a TV. Mesmo com duzentos canais, não
há nada que possa desviar minha atenção dele. Onde ele estiver. O que
quer que ele esteja fazendo.
Preparo uma xícara de café. Uma segunda. Uma terceira. Minha
boca fica seca. Meus dedos tremem. É um monte de café, mas, é uma
agitação bem agradável, provavelmente a coisa mais agradável que
sentirei o dia todo.
Ainda me lembro do último Dia de Ação de Graças. Merda, já era
ruim com Rosie. Ela já estava fingindo, já usava drogas. Mas, o feriado
de quatro dias foi um descanso perfeito. Éramos quatro, mas na verdade,
nós duas. Assistimos filmes a noite toda, devorando a torta de abóbora,
a torta de nozes, a torta de chocolate. Havia muita torta. Passamos o dia
todo fazendo compras, esvaziando nossas contas. E, pela primeira vez
desde que ela começou a namorar aquele horrível do Jared, parecia que
ela era minha irmã, e não minha inimiga. Parecia que estávamos sendo
sinceras.
Ela provavelmente estava chapada o tempo todo.
Levanto-me do sofá, e inspeciono a lareira. Há pequenas marcas no
gesso em todos os lugares que costumavam guardar os troféus da Rosie.
Eu tinha tanta inveja desses troféus. Rosie tinha tudo, notas perfeitas,
amigos perfeitos, namorado perfeito. Ela era atlética, inteligente,
divertida.
Mas com as drogas, ela já não era mais nada. Todas essas partes
dela desapareceram.
A porta dos fundos se abre.
—Posso pular o café da manhã, e em vez disso comer você? — Miles
fecha a porta. Ele está na frente das elegantes janelas de vidro, sem
camisa e pingando suor. Seus olhos encontram os meus. —Você está
bem?
—Não. Odeio estar aqui. Odeio tudo nesta casa.
—Vai melhorar.
—Como? Você não fica na casa do seu tio em Malibu sozinho. Diga-
me como as coisas melhoram.
—Eu fico lá com você. — Ele se aproxima. —Você quer se juntar a
mim no chuveiro?
Nego com a cabeça. Não posso lidar com isso agora.
—Conversa comigo, Meg. Estou aqui porque quero ajudá-la.
—Qual é? Você quer me ajudar ou quer ficar sozinho? Você se
importa comigo ou isso é estritamente sexual?
Ele franze a testa. —Como preferir.
Ele sobe as escadas, e bate à porta atrás de si.
Quero tanto me juntar a ele. Quero tanto ter meu corpo
pressionado contra o dele, nada entre nós, exceto a água corrente.
Quero ser o seu brinquedo. Mas, preciso ser tudo para ele.

É Black Friday. É melhor fazer umas compras. Interrogo a mamãe


sugerindo que nos encontremos para jantar no shopping mais próximo,
o Fashion Island e escolhemos um restaurante e um horário. Um lugar
orgânico, sete horas.
Deixa a maior parte do dia para mim e Miles.
Ele está sentado no sofá, rabiscando algo em um pequeno caderno.
Música, provavelmente. Ele tem outra coceira que precisa coçar?
Me sento ao lado dele. —Vamos encontrar com os meus pais para
jantar às sete no Fashion Island.
—Mhmm.
Seus olhos permanecem no papel. Seu corpo se afasta do meu, me
bloqueando.
Respiração profunda. —Você quer ir agora? Podemos andar por aí.
Ver a carpa nadar.
—Claro. — Ele fecha a agenda, e a coloca no bolso. Seus olhos se
voltam para mim, me estudando, me analisando. —Você tomou o café da
manhã?
—Sim.
—Então você não ficará rabugenta?
—Cala a boca. — Pego minha bolsa e vou até a porta. —Você vem
ou não?
—Essas são ameaças de alguém que não tem as chaves do carro.
—Eu sei dirigir. Mas, não quero.
—Por que não? — Ele me encontra na porta.
Tem um aperto no meu peito. —Dividia o carro com Rosie. Ela o
usava mais, então, quando ela morreu, o trouxe de volta para cá. Posso
ir para o trabalho e para a escola a pé.
—E isso faz você pensar nela?
—Sim.
—É por isso que seus pais guardaram as coisas dela. — Seus olhos
encontraram os meus. —Os magoa ter as coisas dela por perto.
—Eu sei disso. — Abraço meu peito. —Mas, isso não me faz sentir
melhor, admitindo que sou uma hipócrita.
Ele me leva para o carro.
Eu me acomodo no banco do passageiro. —Quero me sentir bem
por um tempo. — Respiro fundo. —Podemos não discutir ou falar da
minha irmã?
Ele assente, e liga o carro.
O shopping não está mais lotado que o normal. É caro o suficiente,
para que o público habitual ignore as pechinchas.
Após uma hora de vitrine e compras, outra rodada de café, e almoço
na praça de alimentação, me sinto um pouco melhor.
Miles insiste em fazer mais compras. Ele segura minha mão, me
guiando pelo shopping ao ar livre. Está um lindo dia. O céu está azul
brilhante. O sol brilha alto. Quase não existem nuvens.
Aproximo-me um pouco mais do Miles. Não estamos falando muito,
mas também não estamos brigando.
Isso já é alguma coisa.
Paro numa boutique multimarcas. Era uma das lojas favoritas da
Rosie. O manequim está vestindo um vestido rosa choque. Parece um
vestido que a Rosie costumava usar. Só que é cumprido o suficiente para
o trabalho ou a escola, não muito apertado para boates ou encontros. É
mais decotado, a cintura é mais baixa. Caso contrário, seria um par
perfeito para o seu vestido favorito.
A estante de vestidos fica nos fundos da loja. Está em outra cor,
preto, algo que ela nunca usava.
Miles passa os braços em volta de mim. Ele me puxa para o seu
peito, e traz sua boca ao meu ouvido. —Você está pensando em alguma
coisa?
—Só fazer compras.
Ele chupa o lóbulo da minha orelha. —Você não é tão boa em
esconder seus sentimentos.
Dou um passo à frente, rompendo seu domínio. —Nada importante.
Só pensei que, se minha irmã estivesse aqui, ela me faria comprar esse
vestido. — Aceno para o vestido rosa choque.
—Ficaria bem em você. —
—Não. Não consigo usar cores brilhantes.
—Por que não? — Ele se aproxima, me envolvendo nos seus braços
novamente.
Me aproximo dele. — Vou me destacar.
Miles ri. —Você já se destaca. Você é linda.
Minhas bochechas coram. —É muito gentil de sua parte dizer isso,
mas, não é verdade. Sou muito alta, muito magra, sem peito.
Miles pega meus ombros, e me faz virar, assim, estamos olhos nos
olhos. Sua expressão se torna séria. —Mais uma palavra negativa sobre
seus seios, e vou arrastá-la para o provador, e forçá-la a apreciá-los.
Essa pontada dispara direto para o meu sexo. Ele é tão bom em me
fazer esquecer tudo, menos o quanto eu o quero.
—Talvez devêssemos ir para outra loja—, digo.
Ele balança a cabeça. —Experimente o vestido.
—Você quer que eu experimente roupa?
Ele pressiona seus lábios nos meus. —Quero pensar em você nua,
naquele vestiário minúsculo. Vá. — Ele se afasta, e se planta numa das
cadeiras do namorado do lado de fora do provador.
Na verdade, ele não é meu namorado, mas acho que a cadeira não
sabe disso. Pego o vestido em algumas numerações, e entro em um
provador. Enquanto me visto, vejo o meu reflexo. Quase posso me ver
através dos olhos dele, pelo menos fisicamente. Alta e magra não tem que
significar esquisita. Pode significar modelete. E meus seios podem ser
pequenos, mas eles têm um contorno bonito. Ele certamente parece
gostar deles.
O vestido é muito bonito. Quando coloco meu cabelo atrás das
orelhas, do jeito que minha irmã usava o dela, consigo ver a semelhança.
Está lá nas minhas feições, meu nariz, o formato dos meus lábios. Ela
saiu da casa dos meus pais, mas ainda está aqui no meu rosto. Ainda me
pareço com ela. O que quer que façam, não podem tirar isso.
Saio do provador para mostrar para o Miles, mas, ele está
conversando com outra pessoa. Uma jovem da minha idade. Ela deve ser
uma fã. Ela tem aquele olhar deslumbrado nos seus olhos.
—Eu amo aquela música No Way in Hell —, ela fala. —É verdade
que se trata de se apaixonar?
Miles dá de ombros, indiferente. —Os meus lábios estão selados.
— Meu coração bate forte. Ela também acha que é sobre amor.
Não sou só eu.
Corro a letra na minha cabeça. As malditas coisas são a única pista
que tenho do que o Miles sente, e não estão me fazendo bem.
Seus olhos se voltam para mim. —Vou comprar esse vestido para
você.
—Não é preciso.
—Já escolhi algumas coisas para colocar por baixo dele.
A fã cora loucamente. Ela olha para nós, chocada, como se tivesse
acabado de pegar Brad Pitt e Angelina Jolie fazendo sexo.
Recolho minhas roupas no provador, e volto para o Miles. Gosto do
vestido. Vou ficar nele. Já estava na hora de usar algo brilhante.
A fã ainda está nos observando, mas não ligo. Sento-me ao lado do
Miles, me inclino e sussurro no seu ouvido.
—É sobre se apaixonar? — Pergunto.
Ele olha direto nos meus olhos, expressão de aço não revelando
nada. —É sobre o que você quer que seja.
—Isso não é uma resposta.
—É a única que você vai conseguir.
Capítulo 28

O queixo da minha mãe cai, quando entro no restaurante. O


reconhecimento brilha no seu rosto. E então, está lá, a dor de perder a
Rosie. Sei como se sente. Algumas manhãs acordo, e penso em enviar
uma mensagem para ela, só para perceber que não posso.
Algumas noites me viro, desesperada para pedir conselhos à minha
irmã mais velha. Mas não posso. Ela se foi.
Sei que é errado pressionar mamãe assim. Deveria deixá-la sofrer
do seu jeito, no seu próprio tempo. Mas não aguento mais. Não consigo
continuar fingindo.
Estamos todos nos escondendo. Miles se esconde por trás de suas
músicas. Meus pais se escondem sendo sua imagem perfeita.
E, eu me escondo, no meio dos meus trabalhos escolares. Me afogo
nos meus estudos numa tentativa de escapar da dor, mas, só dói mais
quando volto à superfície.
Vou me sentar à frente da minha mãe.
Ela acena coma cabeça um olá educado. —Seu vestido é adorável.
Novo?
—O encontrei hoje. Foi uma boa compra.
Ela me estuda. Sua boca se abre como se estivesse prestes a falar,
mas ela não diz nada. Acho que é uma Tradição familiar inteligente. As
palavras estão sempre nas pontas das nossas línguas, só que nos falta.
Miles olha para mim como se eu fosse um vaso que ele está
verificando rachaduras. Seu olhar volta para os meus pais. —Este é um
restaurante adorável. — Debaixo da mesa, ele pega minha mão. —
Infelizmente Meg e eu precisamos ir embora depois disso.
—Já? — Mamãe pergunta.
—Ela tem uma prova na terça-feira, e tenho um prazo a cumprir.
—O que você faz, filho? — Meu pai pergunta.
—Sou um compositor. — O Miles omite a parte da estrela do rock,
deus do sexo. —Pop, principalmente. Os prazos são rígidos, mas me
divirto com elas.
—Algo que eu conheça? — Papai pergunta.
Miles nomeia mais algumas músicas. Diferentes. O olhar de mamãe
dispara para mim. Seu humor muda agora que ela tem algo agradável
para se agarrar. Sua única filha tem um namorado bem sucedido. Só que
isso é mentira, porque sou eu que mantenho as aparências.
Deixo Miles ficar no centro das atenções. Ele é sempre encantador,
implorando aos meus pais por histórias sobre minha infância,
perguntando se sempre fui um nerd adorável. Ele é muito convincente,
age realmente como meu doce, calmo e amoroso namorado.
Esse restaurante serve comida orgânica cara. Geralmente é uma
delícia, mas não hoje. Meu chá não tem sabor. Até o camarão com curry,
um prato que geralmente está cheio de especiarias, não tem sabor.
Finalmente, terminamos de comer. Miles insiste em pagar a conta.
Meus pais fingem se oporem. Olham para mim com orgulho. Sempre fui
a boa garota, que não se metia em problemas. Futura médica. Notas
perfeitas. Namorado amoroso. Sigo tão bem os passos deles, mantendo
essas aparências fraudulentas.
Meus pais nos convidam a se juntar a eles na adega do outro lado
da rua do shopping. Nós recusamos.
Depois de algumas despedidas e abraços tensos, Miles e eu
partimos.
Vamos até o carro em silêncio. Dirigimos para a casa dos meus pais
em silêncio. Nossas malas já estão prontas. Parece que ele pensou em
tudo.
Ele realmente é um ótimo namorado. Mesmo que seja tudo mentira
para agradar aos meus pais.
Permaneço no quarto limpo da Rosie. O quarto de hóspedes. Está
completamente transformado. Não há sinais dela, sem pôsteres das
princesas pop, sem toques de púrpura brilhante, sem a penteadeira
decorativa. Não há nada aqui além de uma cama e uma cômoda.
Talvez, seja assim que é seguir em frente. Seria melhor manter o
quarto dela intacto, um santuário para uma garota que não existe mais?
Não sei.
Tudo o que sei é que esta casa é muito ampla, muito silenciosa.
Vou me sufocar.
Levo minha mala lá para baixo. Miles está sentado na beira do sofá.
Seus olhos estão nos meus.
O que significa esse olhar?
Também não sei. Mas sei uma coisa. Preciso me sentir melhor. Ele
é a única pessoa que me faz sentir bem.
Pego as mãos dele e o puxo do sofá.
Ele se inclina para mais perto. Há vontade nos seus olhos. Existem
palavras na ponta da sua língua.
Mas, ele não fala. Ele me beija.
O beijo de volta. Finalmente, sinto alguma coisa. Finalmente, gosto
de algo. Finalmente, preciso de alguma coisa.
Moo a virilha contra a dele. Enfio as mãos nos seus cabelos. Preciso
que ele apague tudo o que dói.
Ele se afasta. Seus olhos encontram os meus. Estão cheios de
preocupação. Passo as pontas dos dedos pelo pescoço dele. —Transa
comigo.
—Não sou sua distração.
—Por favor. Preciso sentir algo de bom.
Pressiono meus lábios nos dele. Por um momento ele não retribui.
Então, algo nele toma conta, e suas mãos estão na minha bunda. Sua
língua está na minha boca, deslizando ao redor da minha, como se ele
não pudesse fazer nada além de me foder.
Miles rompe o beijo. —Me olhe nos olhos, e me diga que é porque
você me quer, e não porque você está infeliz.
—Eu quero você. — Ok, já cansei de brincadeiras. Ponho a mão
debaixo do meu vestido, e deslizo a calcinha pelos meus joelhos. — Quero
que você goze dentro de mim.
Toda a determinação no seu rosto desaparece. Sou eu quem está o
afetando, fazendo-o se curvar à minha vontade.
—E se seus pais voltarem para casa? — ele pergunta.
—Eles não vão. Eles odeiam esse lugar tanto quanto eu.
Ele se aproxima, pressionando seus lábios no meu pescoço, sua
virilha contra a minha. —Diga outra vez.
—Quero você dentro de mim. — Me inclino para o seu beijo. —
Quero sentir você gozar.
Ele geme. Seus dedos cravam nos meus quadris. Ele não consegue
se controlar mais. Ele quer isso tanto quanto eu.
Ele me prende na parede, me beija com força e profundo.
Fecho os olhos. Este é o Miles que entendo. Todo lugar que ele toca
está em chamas, queimando tudo que me magoa.
Seus dentes afundam no meu pescoço. Ele abre o meu vestido, e o
desliza pelos meus ombros. Sua mão desliza sobre o meu sutiã. Gemo, e
seguro seus ombros, mas, ele agarra meus pulsos e os prede contra a
parede.
—Ainda não—, ele rosna.
Ele empurra seus quadris nos meus. Estou pressionada
firmemente contra a parede, não tenho como me mover, nenhum lugar
para ir, nada para sentir, exceto isso.
Me transformo no seu abraço. Balanço meu corpo no dele.
Miles me morde novamente. A dor envia ondas de prazer através
do meu corpo. Tudo o que ele faz é tão bom. É difícil acreditar que ele já
me causou dor.
Ele tira meu sutiã do caminho, expondo meus seios. Geme,
afundando os dentes no meu pescoço novamente.
Afasto tudo o que me pesa, até ficar leve o suficiente para flutuar.
Esta é a minha chance de me sentir bem.
Esta é a minha chance de ser dele. Para ele ser meu.
Faço outro movimento por suas costas, mas suas mãos estão nos
meus pulsos quase que instantaneamente.
Ele me prende na parede novamente. Arqueio as costas. Esfrego
meus quadris nos dele. Sua ereção está pressionada contra o meu
estômago, e eu quero mais. Quero senti-lo nas minhas mãos, na minha
boca, no meu sexo.
Ele coloca a mão no meu seio, e desenha círculos em volta dos
meus mamilos, um de cada vez. Gemo. Preciso muito dele agora. Ele é o
único que pode me libertar.
—Por favor, Miles.
—Mhmmm.
Cada parte do meu corpo implora por seu toque, mas suas mãos
estão tão boas nos meus seios. Sou um instrumento e estou sintonizada
com perfeição. Perco a noção de tudo, menos do prazer. Seu toque é tão
leve que mal consigo senti-lo. De alguma forma, isso o torna mais intenso
O prazer dispara através do meu corpo. Mordo o lábio. Esfrego
minha virilha na dele.
—Por favor—, gemo.
Ele coloca uma mão entre as minhas pernas. Lentamente, as
pontas dos seus dedos roçam minha coxa. Em seguida, estão em mim.
Ele solta um gemido baixo. —Você está molhada pra caralho.
Ele traz seus lábios de volta aos meus. Seu beijo é intenso, porém
estável. Ele me acaricia repetidas vezes. Gemo. Tremo. Chupo seus
lábios.
Mas ele não cede. Minha vagina agoniza. Perto.
Gemo na sua boca, o beijo com mais força. Balanço meus quadris
para combinar com seus movimentos. Poças de prazer dentro de mim.
Perto. Sim, quase.
Ele esfrega meu mamilo com o polegar. Não consigo fazer nada,
exceto gemer, e beijá-lo com mais força.
A pressão dentro de mim aumenta. É demais, tão intenso. Me
afasto do seu beijo para gritar.
—Miles—, gemo.
O orgasmo passa por mim. É só bom, apenas prazer. Fecho os
olhos, e o seguro, o máximo que posso. Meu corpo está quente, relaxado,
livre.
Meus braços caem de lado. Ele solta o meu sutiã, e o joga de lado.
Em seguida, é o meu vestido novo. Tem uma pilha no chão.
Seus olhos encontram os meus. Eles estão pesados com desejo,
como se perdesse nisso também. Como se ele precisasse disso tanto
quanto eu.
Em algum lugar dentro dele dói. Nos próximos minutos, vou limpá-
lo.
Puxo a camiseta por cima da sua cabeça, e exploro seu corpo com
as minhas mãos. Cada centímetro dele é duro. Sua pele é quente, macia.
Pertence aos meus dedos.
Pertencemos um ao outro. Talvez, nossos corações e nossas
cabeças estejam fodidos, mas nossos corpos são perfeitos juntos.
Ele tira o jeans e o chuta para o chão. Sua boxer vai atrás.
Ele está nu. Ele está nu e, por enquanto, é meu.
Miles desliza a mão por baixo da minha coxa, e envolve minha
perna à volta da sua cintura. —Nunca tentei isso antes.
—Você diz isso para todas as garotas que você encosta na parede.
—Não. — Ele pressiona seus lábios no meu pescoço. —Só você.
Ele pega minha outra coxa, e passa a perna em volta da cintura.
Fico no ar. O aperto com as minhas coxas. Abraço seus ombros.
Suas mãos deslizam para a minha bunda. Ele me puxa para a
posição. Meu sexo está pairando sobre o seu pau. Então, estamos lá. Sua
ponta se estica contra mim, me provocando.
Eu gemo.
É realmente possível precisar tanto de alguém?
O mundo se encaixa, quando ele entra em mim. É difícil acreditar
que nunca senti nada além da felicidade. Difícil de acreditar que poderia
pertencer a qualquer lugar, além de pressionada contra Miles.
Ele segura minha bunda e empurra para dentro de mim. Ele já está
no fundo. Agora se sente feliz.
O seguro o mais forte que posso, e me entrego ao passeio. Pressiono
minhas costas e cabeça contra a parede para dar a ele alavancagem, e
ele empurra mais fundo. Mais profundamente.
Suas unhas cravam na minha bunda.
Ele geme contra a minha boca, me segurando com mais força.
—Mais forte—, respiro. Preciso de mais dele. Preciso de tudo dele.
Ele se move com mais força, mais fundo. Fecho os olhos, e balanço
meus quadris para encontrá-lo. Mordo o meu lábio. Viro a cabeça,
oferecendo a ele meu pescoço.
Ele corre os lábios contra a minha pele. Então, são os dentes dele.
Ele me morde com força, como se estivesse me marcando, como se
sentisse tão bem que não pudesse evitar.
Abraço seus ombros. —Com força.
Sua mão em volta dos meus quadris aperta. Ele me prende na
parede e me fode. Sem ilusões de fazer amor. Somos duas pessoas
desfeitas que encontraram uma maneira de nos sentirmos bem.
Fecho os olhos, absorvendo cada parte de prazer e dor.
Perto. Perto. Quase. O nó dentro de mim aumenta até que não
possa mais aguentar.
O orgasmo passa por mim. É rápido e intenso. Tenho que gritar
para contê-lo.
Sua respiração está tensa. Ele grunhe, perdido na sensação. E
estou quase gozando novamente.
Eu gemo.
Ele bate meus quadris na parede.
Mais um impulso, e toda essa tensão se liberta dentro de mim.
Gemo, arranhando suas costas, gritando seu nome repetidamente.
Ele me mantém firme, balançando em mim, enquanto gozo. Sua
respiração fica mais pesada. Suas pálpebras se apertam.
Ele me prende na parede, enquanto empurra mais e mais. Então,
ele está lá. Posso sentir seu pau pulsando dentro de mim assim que ele
goza.
Ele me segura por um instante, em seguida, desenrola minhas
pernas e coloca meus pés no chão.
Por um minuto, está tudo bem. Nós nos beijamos
desesperadamente, lentamente, como se acreditássemos nisso. Então, o
beijo rompe, e ele recua. Nós nos limpamos e nos vestimos.
Há uma mudança de humor. Nenhum de nós quer conversar. Eu
rolo minha mala para a porta.
—Você está pronta para voltar para Los Angeles? — Ele pergunta.
Balanço a cabeça. —Não. Tem outro lugar que quero ir.
—Onde?
—Visitar Rosie.

A grama está seca. Não há perigo de escorregar nos meus tênis de


lona. Aperto a mão de Miles, e vou até o túmulo da minha irmã. Logo à
esquerda da linha central, entre uma avó querida, e outra garota que
morreu muito jovem.
Minhas mãos estão vazias. Sem flores, sem bugigangas, nada para
lhe oferecer. É tolice. Sei que ela não está aqui, que seu espírito está em
algum outro plano de existência. Mas, quase posso senti-la. Ela odiaria
isso aqui, tão sem graça e monótono e totalmente comum.
Me sento, de pernas cruzadas, no chão, sem se preocupar com as
marcas de grama que podem se formar no meu vestido. Miles se ajoelha
atrás de mim. Ele me envolve nos seus braços, e se inclina.
—Você quer ficar um pouco sozinha? — Ele pergunta.
Balanço a cabeça. —Não, gosto da sua companhia. Mesmo quando
você está me enlouquecendo.
—Meg, não somos...
—Eu sei. É só que ... você sabe como é. Dói há tanto tempo. Então,
um dia você acorda e não dói tanto, e você não sabe como deveria lidar
com isso.
Ele se desloca, fundindo em mim. Sua respiração aquece meu
pescoço, mas, ele não diz nada.
Volto minha atenção para a lápide. —Rosie teria me advertido sobre
você.
—É mesmo?
—Com certeza. — Brinco com uma lâmina de grama. Meus ombros
estão tensos. Os reviro, e respiro fundo. É um pouco mais fácil. Um pouco
mais leve.
Os últimos meses foram difíceis entre a escola e o trabalho, e Miles
me fez perder a noção do que é certo ou errado. Mas, já não dói tanto. É
uma dor chata em vez de uma dor esmagadora.
—Sinto muito—, digo a alguém, talvez à Rosie, talvez para mim. —
Quem me dera ter parado de fugir mais cedo. Nunca deveria ter deixado
você mentir para mim. Mas agora, entendo como isso começa. É uma
mentira, uma tentação. Depois, ela se transforma numa coisa que você
não consegue controlar. — Corro meus dedos sobre a lápide, traçando
as letras do seu nome. —Sinto muito. Eu te amo, sinto sua falta e,
sobretudo, eu te perdoo.
A minha respiração está longa e profunda. É como se não houvesse
um pingo de oxigênio no meu corpo. Perdoo minha irmã por ter mentido
para mim. Perdoo meus pais por tentarem superar isso. Perdoo-me por
perder todos os sinais de que ela estava se afogando.
Me perdoo por fugir da dor. Mas, estou cansada de fugir.
Os músculos das minhas costas relaxam. Sou uma poça
novamente, tomando forma à volta de Miles. Ele me abraça do jeito que
faria se realmente me amasse.
Ficamos assim por alguns minutos. Está tudo calmo, íntimo.
Lentamente eu me levanto, e volto para o carro.
Ele passa os dedos pelo meu pescoço. —Ei.
—Ei.
—Olha para mim.
Me viro, então estamos olho no olho.
—Ainda temos os mesmos termos, sem mentiras?
—Sim.
Sua expressão fica séria. —Tenho que te perguntar uma coisa.
Miles está me lembrando sobre honestidade? Que piada, mas acho
que posso entretê-lo. —O quê?
—Você sente alguma coisa por mim?
Capítulo 29

Se sinto alguma coisa por ele? Sentimentos me vêm à mente:


frustração, confusão, desejo. Mas, não é isso que ele está perguntando.
Ele está perguntando se eu o amo. Se estou apaixonada por ele.
É difícil respirar. Não posso amar Miles. Ele não confia em mim.
Ele não me respeita.
Minha inspiração quebra a tensão na minha garganta. Ele faz tudo
casual. Eu posso fazer o mesmo.
—Na maior parte frustração—, digo. — É o que você quer dizer?
—Você sabe o que estou perguntando.
Ele está me olhando, dentro de mim. É o suficiente para me rasgar
ao meio. Olho para o chão para não desmoronar. Claro que sei o que ele
está perguntando. Mas, não posso responder.
Encontro o seu olhar. —Você sabe o suficiente sobre os meus
sentimentos.
—Meg.
—Sei em que pé estamos. Somos amigos que fazem sexo. Nada
mais, nada menos.
Ele estuda minha expressão. Finalmente, ele libera meu olhar, e
entra no carro.
Faço o mesmo.
Tem algo diferente na sua atitude, algo preocupante. Num piscar
de olhos desaparece. Ele volta para o velho Miles, o brincalhão que vive
para me provocar.
—Estou atrasado em bater meus recordes de orgasmo—, diz ele. —
Quer mudar isso neste fim de semana?
Aí. O Miles que entendo. Concordo. —Minha casa ou a sua?
—Malibu é muito longe. Vou levá-la para Hollywood. — Ele liga o
carro. —Há alguns lugares que quero marcar como nossos.
Tom fixa seu olhar em mim, as sobrancelhas erguidas. Ele é o
retrato da preocupação.
Miles fecha a porta. Dá um aceno agressivo passivo na direção de
Tom. —O que você está fazendo aqui?
—Pete está visitando a Cindy em Nova York. Mamãe tem um
encontro. Diz que não quer que eu empate sua foda.
Miles ri. —Sua mãe é uma bunda durona.
Tom assente. —Volto amanhã de manhã. — Os olhos dele se
estreitam. —Nós precisamos conversar. Agora.
—Mais tarde. Tenho que colocar Meg na cama. Ela está muito
cansada.
—Não. Agora. — Ele me dá um olhar de desculpas. —Precisamos
de um pouco de privacidade.
—Não peça a minha hóspede para concordar com suas besteiras.
—Você não vai querer ter essa conversa na frente dela—, diz Tom.
O sorriso cai do rosto do Miles. Ele não está mais se divertindo,
nem está de brincadeira.
Ele abaixa a voz. —Dê-nos um minuto.
Tom me dá um olhar de desculpas. —Temos TV a cabo. Qualquer
canal que você quiser. Até os sujos.
—Tudo bem, obrigada. — A imagem mental de Tom assistindo
pornô no sofá está gravada na minha cabeça. Fantástico.
Miles evita o meu olhar. Suas mãos estão cerradas e seu maxilar
está tenso.
—Meu quarto ou o seu? — Tom pergunta.
—O seu.
Eles sobem as escadas com passos pesados. Não será uma
conversa divertida, presumo. Deve ser sobre mim. Sobre aquele segredo,
Tom não contaria, e de que forma isso significa problemas para a minha
tórrida relação com o Miles.
Mordo meu lábio. Como isso pode ser tão importante? Me sento no
sofá, tentando tirar a conversa deles da minha mente.
É impossível. Preciso saber o que eles estão discutindo.
Subo as escadas. Passos leves, mas, ainda soam altos pra caralho.
Todas as portas do corredor estão fechadas, mas, há som e luz vindo de
uma delas. Deve ser o quarto do Tom.
—É casual. Ela entende isso muito bem—, Miles diz.
—Você acabou de passar o Dia de Ação de Graças com ela.
—E daí?
—Então, você a traz para cá pelo resto do fim de semana. — Tom
suspira. —Como isso é casual?
—Lamento, que você não consiga pensar em conviver com uma
garota, depois de ter transado com ela. Embora, eu entenda. Até parece
que uma garota já te deu essa oportunidade.
—Isso não se diz, imbecil. Pelo menos, sou honesto sobre as coisas
serem sem compromissos.
Alguém pressiona contra a porta. Recuo para trás. Não tem onde
me esconder, por isso me pressiono contra a parede.
Não há movimento da porta. Ninguém está saindo.
Miles começa. —Tenho tudo sob controle. Sem descontrole, nem
recaída, nada. Estou tão limpo quanto... bem, limpo não é o seu forte,
por isso, não consigo encontrar a metáfora perfeita.
—Você se lembra do que aconteceu da última vez que perdeu
alguém de quem gostava?
—Aquele era meu tio. Não uma garota.
Meu coração bate forte contra o meu peito. Minha mente gira,
tentando juntar as peças, para chegar a uma resposta adequada. Não
sou só uma garota.
Ele realmente acha isso?
—Você continua fugindo, passando os fins de semana sozinho. Ou
com ela. Não sei, porra. — A voz de Tom está pesarosa. —Ela merece
saber com o que está lidando.
—Não tem essa. Tenho estado bem na porra do último ano.
—Está bem? E depois daquela garota em Detroit?
—O que tem ela? — Miles estala.
—Encontrei você de bruços na sua cama junto a uma garrafa de
vodka meio vazia, e Deus, nem sei o que mais tomou. Só que foi o
suficiente para você quase entrar em coma. Estava se comportando bem?
—Ela ameaçou se matar. Esse assunto é delicado para mim.
—Você está cego, porra? Até eu vejo isso. Essa garota é louca por
você. O que acontecerá quando você foder tudo? E, se ela ameaçar se
matar porque não consegue viver sem você?
Recaída. Vodka. Drogas suficientes para entrar em coma. Os
opiáceos prescritos e o álcool são uma combinação perigosa.
As palavras ressoam na minha cabeça. Miles pode ser alcoólatra.
Um viciado em drogas. Mas, ele é tão descontraído em relação a não
beber, e depois do que eu disse sobre Rosie... o quanto isso me
machucou, o quanto não suporto ficar perto de drogas ... ele teria me
contado.
Não pode ser verdade.
—Meg não é assim—, Miles disse. —Ela nem sequer bebe.
Tom faz aquele som perturbador de aham, que geralmente significa
sim, claro.
—É só sexo. É assim que ela quer.
—Você conheceu os pais dela!
—E?
—Você precisa dizer a ela que você é viciado em drogas.
—Viciado em recuperação.
Meu estômago revira. Miles. É. Um. Viciado. Em. Drogas. Em
recuperação, mas ainda um viciado em drogas. E porra, ele não me
contou.
—Miles, não vou ver você ter uma recaída. Não vou passar minhas
noites me perguntando se você está em algum quarto de hotel engasgado
com seu próprio vômito. Não vou sair em turnê com você naquele estado
de merda autodestrutivo.
—Não vou fazer isso.
—Você quer ser mais uma manchete de tabloide 'A Estrela do Rock
Morre de uma Overdose de Drogas’?
Perco a noção das suas palavras. A mesma frase continua correndo
pela minha mente. Miles é um viciado em drogas em recuperação.
É uma mentira por omissão.
Naquela noite em Malibu, enquanto chorava por minha irmã, ele
não disse nada.
No dia seguinte, perguntei se havia algo que eu precisava saber, e
ele disse nada.
Ele teve um milhão de chances para me contar e, toda vez, não
disse nada. Minhas pernas oscilam. Atinjo o chão com força. Merda. Isso
foi barulhento.
A porta se abre e Tom aparece no corredor.
Ele oferece a sua mão. Seus olhos verdes se enchem com uma
mistura de simpatia e preocupação. —Você ouviu tudo?
Concordo. —Preciso ir para casa agora.
Miles sai. Seu rosto está carregado de pavor. É uma expressão que
nunca vi nele antes. Arrependimento, angústia, algo assim.
Talvez ele esteja realmente arrependido.
—Espera. — Miles estende a mão para mim.
—Esperar? Pra quê? Eu sou 'uma garota' e tudo isso é casual. O
que importa para você se eu for embora?
—Meg...
—Sem essa de 'Meg' comigo. Nós tínhamos uma regra, e você a
quebrou. — Me levanto e dou um passo para trás.
Ambos olham para mim, nervosos, como se eu fosse aquela garota
em Detroit que ameaçou se matar.
Poderia prometer minha força mental, mas que se dane, Miles
merece se preocupar. Ele merece a mesma sensação de afundamento no
seu estômago que está no meu.
—Vão se foder os dois—, digo. —Não me ligue de novo. E não
escreva mais músicas sobre mim!
Não espero por uma explicação. Não tem ninguém no caminho. Me
viro e desço correndo as escadas.
Droga. Tropeço. Agarro o corrimão, mal conseguindo recuperar o
equilíbrio.
Alguém corre atrás de mim. Talvez seja Miles. Talvez seja Tom. Mas,
não ligo. Minha mala está no carro dele.
Dane-se a mala.
Desço correndo as escadas, pego minha bolsa e saio de lá.
Capítulo 30

O ônibus demora uma eternidade. Tudo o que quero fazer é gritar,


mas estou rodeada de estranhos. Gritar me faria ir à delegacia, ou talvez
à ala psiquiátrica.
Desço duas paradas antes, e ando até o meu apartamento. Está
escuro. Não há nada ao meu redor que mantenha a minha atenção longe
daquele idiota, então, cubro meus ouvidos com fones de ouvido, e ouço
qualquer coisa, exceto música rock.
Está frio hoje esta noite, mas não o sinto. Estou com calor por toda
parte. É como se meu sangue estivesse fervendo. Sabia que havia
mentiras em tudo o que Miles dizia, mas ouvir minha história sobre
Rosie, e me dizer que posso falar com ele, que posso confiar nele ...
Estou muito irritada para pegar o elevador. Subo as escadas até o
meu apartamento com a chave na mão. Preciso estar em outro lugar. O
corredor é muito pequeno. Ele não pode conter a raiva brotando no meu
íntimo.
Porra.
Ele está aqui. Miles está encostado na minha porta. Num relance,
é a imagem legal e prevista, jeans desgastado, cabelos castanhos
bagunçados, jogados na frente dos seus olhos azuis penetrantes, mãos
nos bolsos da sua jaqueta de couro.
Mas, há sinais de frustração no seu rosto. Na sua testa franzida,
nos seus olhos pesados, na contração dos seus lábios.
Não é problema meu. Ele teve toda a chance para me contar. Foi
ele quem causou essa decepção.
Mantenho minha posição. —Saia da minha frente.
Ele sai. Ele pega os meus ombros, e se aproxima. —Eu vou explicar.
Empurro passando por ele, colocando a chave na fechadura. —
Explique isso para a porta.
Seu punho aperta enquanto me segura no lugar. —Ouça.
—Não.
Alcanço a maçaneta da porta. Ele pega meu pulso, e o segura com
força.
Meu coração dispara. Meu corpo está confuso. Ele acha que isso
significa que ele está prestes a me jogar contra a parede e rasgar a minha
calcinha. Mas, isso não vai acontecer.
Isso nunca mais vai acontecer.
Sua expressão está desesperada. —Não saio daqui até te explicar.
Considero chutá-lo. Um joelho rápido nas bolas faria maravilhas
para empurrá-lo. Mas, não tenho coragem de tirá-lo do mercado.
Luto contra ele. —Me solte.
Ele solta. Mas então, ele abre a porta e entra.
Ele está no meu apartamento, como se eu devesse algo a ele.
Ele abre mais a porta. —Você vai entrar?
—E se eu não quiser?
—Vou ter que te perseguir onde quer que você vá.
—Isso parece irritante.
Ele faz um gesto para eu entrar. —Você pode poupar tempo.
Mordo meu lábio. Bem. Seria divertido vê-lo tentar explicar como
sair disso.
Entro.
Miles fecha a porta e me pressiona contra ela. —Sente-se e ouça.
—Difícil de mover quando você está me prendendo na parede. —
Fecho os olhos. Não vou por esse caminho novamente.
—Tudo bem. — Miles dá um pequeno passo para trás. —Mas, não
saio daqui até conversarmos sobre isso.
—A definição de conversa mudou recentemente? Porque, da última
vez que verifiquei, envolve duas pessoas trocando opiniões, não uma
pessoa sentada e escutando.
—Meg.
—Miles—. Vou me sentar, mas não significa que vou ouvir. —É
melhor você ser rápido. Tenho que estudar.
Ele suspira. —Sabia que isso ia acontecer.
—Você quer dizer que a mentira explodiria na sua cara? Como
diabos você adivinhou isso?
—Que você reagiria exageradamente à minha recuperação.
O ácido mexe no meu estômago. —Vai se foder.
—Quase te contei naquela noite em Malibu, mas não poderia me
adicionar à sua raiva.
Olho para a janela. Não há nada para ver, exceto o céu azul escuro.
— Assuma a responsabilidade por suas decisões. Você não me disse,
porque queria me foder novamente.
—Poderia ter te fodido ali mesmo.
—Tudo bem. Porque você queria que isso, como quer que chame,
continuasse.
—Meg.
—Sem mentiras, sem segredos. Esse era o nosso acordo. Mas, você
ainda manteve isso em segredo.
—Eu não queria te chatear.
Tento ficar calma. Ele é mais esperto que isso. Ele deve saber que
é um mentiroso. Olho de volta para Miles. —Você estragou tudo. Estou
chateada.
Ele não tem nenhuma resposta espertinha.
—Você nem me respeita o suficiente para admitir que mentiu.
—Não é assim.
—Então me olhe nos olhos e peça desculpas por esconder isso de
mim.
—Você teria terminado com tudo.
—Isso não é um pedido de desculpas. — Me afasto dele. —Você
deve ir embora.
—Meg...
—Você não confia em mim. E não confio em você. — Meu coração
está na garganta. Respiro fundo, qualquer coisa para manter minha voz
firme. —Por que diabos estamos fazendo isso?
Seus olhos se voltam para os meus. —Não pude te contar. Ainda
me dói muito. — Ele coloca as mãos nos bolsos.
—Sinto muito Miles, mas você foi bem claro ontem. Hoje também.
Eu sou 'uma garota' para você. E você quer lidar com tudo sozinho. Onde
diabos há espaço para mim nisso?
Ele suspira. —Acho que você está certa.
Meu estômago dá voltas. Ele não está lutando contra isso. Nem um
pouco. É o pouco que eu significo para ele.
Miles abaixa a voz. —Deveríamos ter terminado isso antes. Agora,
têm sentimentos envolvidos.
—Como é que é?
—Tom estava certo. O jeito que você olha para mim...
—Que se foda. — Me viro, então, estou olhando diretamente nos
olhos dele. —Têm sentimentos envolvidos? Os sentimentos foram
envolvidos. Como diabos você chama me abraçar a noite toda? Ou
prometer que posso dizer a você qualquer coisa? Você insistiu em
conhecer meus pais. Você disse que se importava comigo. Você olhou nos
meus olhos, e me beijou como se me amasse. Como diabos você chama
isso?
—Não era minha intenção dar esperança para você.
Ele ainda está tão calmo.
—Sim, você deu—, digo. —Você sente prazer em eu gostar de você.
—Meg.
—Você me ama?
Seus lábios se curvam numa careta. —Eu te disse quando isso
começou, relacionamentos não é comigo.
—Não, você só me trata como sua namorada, age como meu
namorado e espera que eu saiba a porra da diferença! — Olho através
dele, do jeito que ele olha através de mim. —Não importa. Você não me
respeita. Você desperdiça o que eu sinto. Você mente bem na minha cara.
Você não é nada para mim.
Ele cruza os braços.
—Não vou mais tolerar isso. Vá. Embora. Agora.
—É isso mesmo que você quer?
Não. Quero que ele peça desculpas. Seja sincero. Quero que ele me
convença de que me ama e me respeita.
Isso não vai acontecer. Isso significa que ele precisa ir embora.
Minha respiração está instável, mas eu luto. Esta é a última coisa
que preciso para fugir. —Sim.
—Tudo bem. — Ele abre a porta e vai para o corredor. E, ele se foi.
Capítulo 31

Passo o fim de semana olhando para os meus livros. Faço cem


cartões de memória, e os passo centenas de vezes. Reescrevo todas as
minhas anotações com minha caneta roxa favorita.
E não absorvo nada.
Tento dormir, mas sempre que fecho os olhos, vejo Miles. Vejo
aquele olhar no seu rosto, aquele desespero e dor que ele tem tanta
certeza de que quer lidar sozinho. Ele mentiu um milhão de vezes e ainda
é a única coisa em que consigo pensar.
Este é o fim. Miles e eu terminamos para sempre, fim. Inferno,
nunca tivemos nada que valesse a pena discutir. Nem por isso.
É melhor assim. Ele pode ir enganar outra garota. Posso concentrar
toda a minha atenção na faculdade de medicina. Um cara só
atrapalharia.
Miles só iria atrapalhar.

—Querida, você está péssima. — Kara se larga no assento ao lado


do meu. —Mas, você sabe que tenho o que você precisa.
Ela tira uma lata de chá verde da bolsa.
Doce, doce vício. A aula começará em cinco minutos, e preciso de
toda a atenção que tenho para a palestra.
Pressiono a lata contra o meu peito. O alumínio está tão frio, e
estive quente o fim de semana todo. Não sei se foi de raiva, frustração ou
gripe.
—Acho que seus pais foram difíceis—, ela diz.
—Colocaram tudo do quarto da Rosie no depósito. —
—Isso é péssimo.
— E os troféus dela também. As fotos da família. Tudo se foi. Tudo.
É como estar na casa de um estranho com os pais de um estranho. —
Abro a lata, e tomo um gole guloso. Aprendi bastante sobre antioxidantes,
leva vinte minutos para absorver a corrente sanguínea, mas, sinto que
vai direto para o meu cérebro. —Obrigada. Como foi seu fim de semana?
—Vi minha mãe. Comi um pouco de comida. Nada que valha a pena
discutir. — Uma careta aparece no seu rosto.
Tem coisas que vale a pena discutir. —Nós poderíamos conversar
sobre essas coisas.
Kara se vira para mim. Ela está prestes a dizer algo, quando o
professor Rivers entra na sala. Todas as conversas cessam.
Ela sussurra: —Prefiro falar sobre você e o Miles.
Aceno para o professor.
Kara balança a cabeça. Ela abre o caderno e rabisca uma
mensagem: Aconteceu algum coisa ruim. Posso dizer pela sua expressão.
Não precisa fingir que está bem. Seja o que for, você não tem que lidar com
isso sozinha. Quero ajudar, mesmo que isso signifique assistir à Guerra
nas Estrelas cinquenta vezes.
Aceno e agradeço com a boca. Kara levanta as sobrancelhas, uma
conversa a sério comigo agora, raios me partam.
Faço um gesto para o professor.
—Esta é opcional para você—, ela diz.
—Preciso manter uma boa GPA.
—A sua GPA do último ano, não será incluída nas suas aplicações
da faculdade de medicina.
—Se eu me candidatar este ano—, digo.
—Desde quando você está pensando num ano sabático?
O cara sentado ao meu lado bate na minha mesa. Ele se inclina
para mim e para a Kara. —Vocês duas podem por favor calarem a boca?
Kara o ignora. Reprimo um sorriso. Ela realmente é uma grande
amiga. Ela pega a caneta e rabisca outra coisa.
Você não pode continuar se esquivando de uma conversa comigo. Do
que você está se escondendo?
—Nada—, digo.
—Ei! Silêncio—, o cara fala.
Kara vira a página, escreve VAI SE FODER, e a mostra para o cara.
— Quer que eu chame o professor Rivers? — ele pergunta.
Ela revira os olhos.
—Podemos conversar depois da aula—, digo.
—Daí, depois da aula, você fala que precisa estudar e desaparece,
e cancela o nosso brunch para evitar essa maldita conversa.
—Não vou fazer isso.
O cara se inclina para frente. —Podem calar a boca, por favor?
Kara estala. —Ei! Minha melhor amiga e eu estamos passando por
um problema. Por isso, por que você não cuida da sua própria vida?
Alguns estudantes à nossa volta se viram. Até o professor percebe.
Seus olhos vão direto para a Kara.
—Eu sei que é difícil voltar após uma pausa, mas vamos olhar os
slides, está bem? — Ele pressiona o botão para mudar para o próximo
slide.
Kara arranca uma folha de papel do seu caderno. Ela vasculha a
bolsa, pega uma caneta, e a bate na minha mesa.
Escreve se for preciso, mas, me diga por que você está com essa cara
péssima. Não é apenas sobre seus pais e sua irmã. É mais do que isso.
Ela agora fala demais.
Rabisco no papel: não quero falar sobre isso.
Ela escreve: Pelo menos me conte o que aconteceu com Miles.
Está bem. Escrevo duas palavras: Está acabado.
—Não é só isso—, ela sussurra.
—É isso.
—Obviamente, não é isso, mas, tudo bem. Essa é a amizade que
você quer ter, é isso que teremos.
O cara chato se inclina para frente, mas ela o interrompe.
—Estou indo embora, ok? — Kara enfia suas coisas na bolsa, sai
da cadeira, e se dirige para a porta.
Ela vai embora depois de dez minutos na sala de aula.
Dane-se. Enfio as minhas coisas na bolsa e sigo Kara pela porta.
Têm alguns estudantes no corredor, olhando seus livros, mas tirando
isso, está vazio.
Sigo a Kara em direção à porta da frente. —Não quero falar sobre
Miles, mas ainda podemos falar sobre outras coisas.
Ela abre a porta, e desaba no banco mais próximo.
Me sento ao lado dela, descansando minha cabeça no seu ombro.
— Não quero brigar.
—Nem eu—, diz ela.
—Desculpa ter estado distante.
—Está tudo bem—, ela diz. —Tenho muita coisa para lidar nas
próximas duas semanas. Então, são as finais. Podemos nos encontrar
depois disso, assistir a um filme idiota e comer muita pipoca. — Kara se
vira para olhar para mim. —Se você quiser conversar, eu estou aqui. A
qualquer hora, dia ou noite, ok?
Concordo.
—Existe alguma chance de você me ligar?
—É possível.
Kara me aperta. —Mesmo assim, prometa.
—Prometo.

No fim de semana minha concentração está de volta. Passo o


sábado todo estudando. Está na hora de uma pausa, quando alguém bate
à porta.
Meu coração bate contra o meu peito. Por um segundo, estou cara
a cara com aquela sensação horrível, esperança.
Me afasto dela. Não pode ser Miles. Me levanto, e abro a porta. É
Kara.
Ela brande uma sacola de comida para viagem. —Trouxe sushi. Sei
que não é tão bom quanto um namorado gostoso e estrela do rock, mas,
tenho quatro porções de sashimis de salmão. — Ela coloca a bolsa no
balcão, e pega dois pratos.
—O que você está fazendo aqui? — Pergunto.
—Você é minha melhor amiga. Preciso de um descanso. Você está
deprimida. Isso nos leva a sair. — Ela olha para mim. —Você jantou?
—Ainda é cedo.
—São quase dez horas. — Ela coloca uma lata de chá verde no
balcão, e faz um gesto. —Você tem molho de soja?
—Na geladeira. Mas, você sabe que como meu sashimi puro.
—Sim, mas não sou tão hardcore como você. — Ela pega molho de
soja e afoga o sushi nele.
—Não deveríamos conversar ou algo parecido?
—Você quer falar sobre Miles?
Pego um pedaço de sashimi de salmão com meus pauzinhos. —Na
verdade não.
—Você quer pensar nele?
—Nunca mais.
Ela sorri. —Esperava que você dissesse isso. — Ela pega um garfo
e apunhala um Califórnia Roll. —Porque tenho a maneira perfeita de
desligar seus neurônios. Bebida alcoólica opcional.
—Estou com medo.
—Você vai gostar. Garanto.
—Você vai me contar?
—Primeiro concorde em fazê-lo.— Ela me olha nos olhos. —Você
precisa se sentir melhor.
Respiro fundo. Eu confio muito em Kara, e realmente não quero
pensar em Miles. —Tudo bem.
Os olhos dela brilham. —Nós vamos dançar.
—Odeio dançar.
—Você acha que odeia dançar, porque se senta sozinha no canto.
— Ela toma um longo gole do chá. —Mas esta noite, você vai pegar o cara
mais gostoso que conseguir, e voltará a entrar em contato com o que seu
corpo quer.
—Não vou transar com um cara qualquer.
—Só dançar. É um ótimo alívio.
—Não sei. — Um alívio parece incrível. E, adoro a ideia da ‘house
music’ abafar todos os pensamentos da minha cabeça. Mas, não gosto de
caras aleatórios nas baladas. —Não quero um estranho me tocando.
—Então dance comigo. — Ela pega o sashimi no meu prato, e o
ergue para comer. —Mas, não vou deixar você sozinha esta noite. Você
precisa relaxar um pouco, e eu preciso ter certeza de que minha melhor
amiga está bem.
—O Drew não assumiu o meu lugar?
—Nos seus sonhos.
Capítulo 32

A boate está super lotada. Deve ter duzentas pessoas na pista de


dança. É uma mistura de turistas e moradores, celebridades e pessoas
comuns, os quase legais e os quarentões.
O público tem uma coisa em comum, um estilo incrível. Os caras
estão de terno. As mulheres estão de vestidos de festa apertados, e
sapatos altos brilhantes.
Kara cruza os braços comigo. —Vamos começar com uma bebida.
Se você quiser.
Meus ombros estão tensos. Eu os reviro, mas não os relaxa.
Respiração profunda. Tenho vinte e um anos. É normal beber. Diversão.
Talvez a única maneira de aceitar dançar com um estranho. —Sim. Eu
quero.
—Você tem certeza?
—Certeza.
Kara se inclina sobre o bar, unindo os braços juntos para destacar
seu decote. O barman percebe na hora.
—O que vai beber? — Ele olha para o peito dela.
—Um Paloma para a minha amiga. Na verdade, duas Palomas. —
Ela se vira para mim. —É como uma margarita de toranja. Você vai
adorar.
Meu coração palpita. —OK.
Examino o lugar. Tem uma área VIP num canto. Consigo distinguir
alguns rostos famosos, uma cantora conhecida por suas roupas
estranhas, e as estrelas daquela horrível novela adolescente, que eu com
certeza nunca assisti.
—Aqui está, senhoritas. — O barman oferece nossas bebidas.
Kara paga, e me leva para uma cabine de veludo. Ela é de veludo e
macia, e há uma cortina na frente. Fecho a cortina, e de repente estamos
escondidas de todos. Ela vai além dos nossos joelhos, e bloqueia o resto
do clube.
São cortinas para transar.
Kara abre a cortina. —Não tenha ideias. — Ela toma um gole da
sua bebida espumante rosa. —Porra, você realmente vai amar isso.
Tomo um gole. É incrível, azeda e doce com o leve sabor do álcool.
Meu rosto fica vermelho. Já me sinto mais relaxada.
—Quero cinquenta desses, — digo.
—Indo de zero a bêbada muito rápido. — Ela desliza o braço em
volta do meu ombro. —Mas percebo. Você não quer pensar naquele
idiota, mas nem todos os seus neurônios estão cooperando.
—Eles podem também absorver ou serem destruídos.
Kara ri. —Senti falta dessa Meg.
—Eu também.
Ela bebe metade da bebida. Ela olha para mim, como se estivesse
lendo um gabarito. —Vejo alguns caras gostosos, e parecem solitários.
Quer dar um jeito nisso?
Arremato a bebida, levanto e aliso meu vestido. —Bem, não
podemos ter caras solitários e gostosos.
Vamos para a pista de dança.
Quase não há espaço para nos mexer. Nunca fui uma grande
dançarina, mas há algo inebriante na batida da música, e na suave
iluminação azul-púrpura. Jogo meus braços sobre a minha cabeça, e
balanço os quadris no ritmo da batida.
Kara ri. Ela me arrasta ainda mais para a multidão. Nós dançamos
como se fossemos as únicas duas pessoas aqui. Olho ao redor do clube.
É exatamente como o lugar onde Sinful Serenade teve seu show secreto,
só que com um palco menor e mais espaço para sentar.
A música se desvanece na próxima música. Círculo os quadris e
rolo meus ombros. Normalmente, me sinto tão insegura com a minha
dança. Mas, está noite, vale tudo.
Um cara fofo vem até mim. Ele está vestindo um terno cinza, e está
um pouco rígido. Um empresário. Ele faz um gesto como se me pedisse
para dançar. Olho para a Kara. Ela gesticula com a boca, vai nessa.
Então, eu faço.
Pressiono minhas costas contra seu peito. Ele pega os meus
quadris, segurando meu corpo contra o dele. Fecho os olhos, tentando
tragar a sensação, mas não há nada. Não chega aos pés de Miles.
Me viro, então encaro o empresário. Ele é atraente. Olhos bonitos,
cabelo curto limpo. Deslizo meus braços em torno dos seus ombros. Ele
move as mãos para a minha cintura.
Ele realmente é muito atraente. E, cheiroso. Seu corpo está duro.
Não seu pau, não estou tão perto, mas seus braços e o seu peito.
Ele é seguro e confortável. Não vou me apaixonar por ele. Pode ser
uma noite tranquila.
Ele se inclina mais perto, sua boca alguns centímetros abaixo da
minha orelha. Ele é um pouco mais baixo do que eu, e estou usando
saltos de oito centímetros.
—Posso te pagar uma bebida? — Ele pergunta.
—Sim. — Aceno um adeus para a Kara, ela já está dançando com
um atleta, e sigo o empresário até o bar.
Ele desliza a mão pela minha cintura e sobre o meu quadril. É um
pouco prematuro, mas há algo de bom no seu toque. Nada eletrizante.
Apenas agradável.
—Sou Johnathan—, diz ele.
—Meg.
—O que você está bebendo, Meg?
—Paloma.
Ele sinaliza para o barman e pede nossas bebidas. Uísque com gelo
para ele. Paloma para mim. Parece que estou bebendo algo feminino e
rosa.
Dou outra olhada no empresário. Johnathan. É uma gracinha. E,
ele parece ser legal. Deve ter casa própria. Não uma mansão em Malibu,
mas uma casa modesta em algum lugar agradável. Ele provavelmente me
levaria para tomar café da manhã, e nunca mais me ligaria.
O barman chega. As bebidas estão prontas. Johnathan me entrega
a rosa, e levanta seu copo para brindar.
Tanto faz. Vou brindar. A todas as pessoas solitárias na boate.
Ele examina meu corpo. É sexy quando Miles me olha, mas isso é
constrangedor. Puxo o braço sobre o peito. Não quero Johnathan me
imaginando nua.
—Você estuda por aqui? — ele pergunta.
—UCLA.
—Deixe-me adivinhar o seu curso.
Oh, Senhor. Tomo um longo gole da bebida e aceno educadamente.
Ele me comprou essa deliciosa mistura de toranja. Vou entreter seu jogo
de adivinhação.
—Claro—, digo.
Ele coça o queixo. —Tem algo de intelectual em você.
Sim, realmente pareço uma intelectual neste vestido prateado
apertado. Ele usa essa linha em todas as garotas que conhece, ou só nas
que ele considera ingênuas?
Tomo outro gole. É perfeito. Acho que consigo entretê-lo por mais
trinta segundos. —Tem?
—Sim ... consigo vê-la enrolada na cama com um bom livro.
—Que tipo de livro?
Ele sorri. —História.
Meu copo está vazio, mas a boa notícia, é que minha cabeça está
girando. Johnathan tem algo engraçado. Faz tempo que não fico bêbada,
mas tenho certeza de que é o álcool falando.
—Com licença. — Uma voz familiar atravessa o salão.
E Miles fica entre mim e o empresário. Johnathan. Que diabos
Miles está fazendo aqui?
—Você se importa, companheiro? — Johnathan diz.
—Me importo, na verdade. — Miles coloca a mão no meu quadril.
—Desde quando você bebe?
—Desde esta noite. — O afasto, como se meu corpo não estivesse
zumbindo com seu toque. —Estou conversando.
—Você não parece interessada—, Miles diz.
—Não é mais da sua conta o que pareço. Com licença. — Me afasto
de Miles, e me inclino sobre o bar da mesma forma que a Kara fez. —
Outro Paloma, por favor!
—Quantas já bebeu? — Miles pergunta.
—Oh, deixe-me ver. Hummm. Isso também não é da sua conta.
—Estou conversando com a senhorita—, diz Johnathan.
Miles se vira, e olha furioso como se fosse enfiar um soco bem na
boca do Johnathan. Funcionou.
Johnathan dá um passo atrás. Murmura algo baixinho, e
desaparece na multidão.
Miles me chama à atenção. —Que diabos você está fazendo?
—Você foi quem me seguiu até aqui. O quê, Kara me denunciou
para você?
—Drew.
—O idiota agiu como se pudesse guardar um segredo. — Balanço
a cabeça. —Ele pelo menos disse para você pedir desculpas?
Miles assente. —Ameaçou quebrar meu maxilar, se eu partir seu
coração.
—Sabia que havia algo que eu gostava nele.
Miles pega minha mão.
Dou um passo para trás. —Na última vez que verifiquei, não somos
nada. Então, o que diabos você está fazendo me seguindo em clubes?
—Queria ver você.
—Para quê ... gozar comigo uma última vez? Me deixe em paz.
Ele se inclina mais perto, até seu peito estar pressionado contra as
minhas costas. —Não consigo.
—Claro que você consegue. Isso se chama autocontrole. Você se fez
claro centenas de vezes. Você não namora. Não se apaixona. Inferno, você
quer ficar sozinho. Você não tinha o direito de assustar aquele cara.
—Você prefere que ele fique pressionado contra você?
Mordo minha boca. —Não interessa. Não somos nada.
Sua boca paira sobre a minha orelha. —Sinto sua falta.
—Você sente falta de me foder.
—Não, sinto sua falta. — Ele enfia os dedos nos meus quadris e
puxa meu corpo para mais perto. —Vamos conversar em particular.
—Ah, você quer conversar agora que não pode me ter.— Pressiono
as mãos contra seus quadris. Pretendo afastá-lo, mas minhas mãos
gostam tanto dos seus quadris que ficam lá. —Você teve um milhão de
chances para conversar. Não estou mais interessada em conversar com
você.
—Mas, você me foderia.
Olho nos olhos do Miles. Como sempre, ele está inabalável.
Olhando através de mim como se ele fosse intocável.
O calor surge dentro de mim. Certamente gostaria de transar com
ele. Seu corpo ainda parece tão gostoso.
—Sim—, digo. —Eu faria aqui mesmo.
—Você está bêbada?
—Ainda não.
Bem na hora, o barman serve minha bebida. Miles tira 20 da
carteira, bate no bar e acena para o barman.
Pego a bebida, e avanço para as mesas. Miles me segue, mas o
ignoro.
Me sento, e envolvo os lábios em torno do canudo. Está tão doce e
azedo quanto meu primeiro drinque, mas desta vez estou muito mais
desesperada pela libertação das minhas inibições. Existe um pouco de
educação desagradável no meu cérebro, que me impede de dizer
exatamente ao Miles quanto idiota ele é.
Miles se senta ao meu lado. Ele está usando jeans, camiseta, e um
tênis converse. Até suas roupas são legais e casuais.
Bebo metade da bebida. —Posso ajudá-lo de alguma forma?
—Eu deveria ter lhe contado sobre minha recuperação.
—Humm, tão perto de um pedido de desculpas, mas falta algo.
Seus olhos encontram os meus. —Me desculpe, ter escondido
aquilo de você.
Acabo a bebida e a coloco na mesa. —Agradeço o pedido de
desculpas, mas não é suficiente.
—Meg —. Sua voz está baixa, desesperada. Ele fecha a cortina para
ficarmos escondidos de todos.
—Você está fazendo um jogo, mas nada mudou. Você não me
respeita. Você não me ama. Você não confia em mim.
Ele coloca um fio de cabelo atrás da minha orelha. —Eu respeito
você.
—E os outros dois?
—Eu não sei. — Ele traça o contorno da minha clavícula. — Nunca
experimentei os outros dois antes.
As pontas dos seus dedos roçam o decote do meu vestido. Meu
corpo vibra com desejo. Ele parece muito melhor que o empresário. Ele
parece muito melhor do que qualquer coisa.
—Deixe-me levá-la a algum lugar sossegado—, diz ele.
Comprimo minhas coxas. —Eu não quero conversar.
Ele puxa a alça do meu vestido para o lado, e desliza a mão no
sutiã. —Eu quero.
Mordo o lábio. —Você não está exatamente encorajando a conversa.
Ele esfrega meu mamilo. —Isso é mesmo tudo o que você quer de
mim?
Seus olhos encontram os meus. Há um desespero na sua
expressão. Ele quer dizer isso. Ele quer mais de mim, mais do que sexo.
Mas, não tenho tanta a certeza.
Sua mão faz sua mágica no meu seio. Porra, ele é bom nisso. Quer
construir no meu núcleo.
Preciso de Miles. Agora.
Os olhos dele brilham. Ele sabe que está me tirando fora da porra
da minha mente. —Será que alguém vai ver? — Pergunto.
—Não. — Ele me massageia com o polegar. —Você se importaria se
eles vissem?
No momento, não me importo com nada, além dele me tocando.
Mal consigo balançar a cabeça.
Miles se aproxima. —Responda-me. Por favor. Isso é mesmo tudo o
que você quer de mim?
Seus lábios estão a centímetros dos meus. Fecho os olhos e o beijo.
Ele é macio e quente, e tem gosto do Miles. Como voltar para casa.
—Não—, inalo. —Mas, nunca vou conseguir o que quero de você.
—Como você sabe disso?
Copio suas palavras, as que ele usou para explicar por que ele tinha
tanta certeza de que nunca se apaixonaria. —Simplesmente sei.
Ele arrasta o polegar sobre o meu mamilo, enviando pontadas de
desejo a cada canto do meu corpo.
Minha respiração fica presa na garganta. —Devem ter duzentas
pessoas nessa boate.
—Eu sei. — Ele desliza a mão entre as minhas coxas. —Mas, não
saio daqui até ouvir você gozar.
—Miles—. Um gemido escapa dos meus lábios.
—Já é um começo. —Ele solta meu sutiã.
Em seguida, suas mãos estão na minha calcinha. Ele não perde
tempo. Ele a puxa para os meus joelhos, e passa as pontas dos dedos
sobre o meu clitóris.
Mordo o lábio para não gritar. Deus, senti falta disso. Senti falta
dele. Eu senti falta de tudo.
Pressiono meus lábios nos dele. Ele beija com força, como se
estivesse me reivindicando como sua. Minha cabeça está girando. Isso
está errado, isso é perigoso, mas isso é bom pra caralho.
Ele me puxa para o colo dele. E planto os joelhos no banco,
montando nele. Afundo no seu corpo. Ele está duro. Preciso disso.
Puxo sua camiseta. —Vamos para algum lugar tranquilo. Como
você disse.
Sua respiração está quente no meu pescoço. As pontas dos seus
dedos são leves nas minhas coxas. —Hmm ... deixe-me verificar. Já ouvi
você gozar?
Balanço a cabeça.
Ele sorri. —Então, ainda não vou embora
Com a cortina fechada, estamos longe de todos os olhares. Ainda
assim, parece impertinente e perigoso, se despir em público.
É excitante.
Todos aqueles horríveis pensamentos que você não deveria fazer
isso, rodopiam na minha mente, mas no meu estado de embriaguez, eles
simplesmente desaparecem. Isso está longe de ser a minha melhor ideia.
Alguém pode ver. Miles pode pensar que o perdoei. Que isso significa que
sou dele.
Continuo sem saber, se posso ser dele a longo prazo. Mas, por esta
noite, está perfeito.
Seu toque é gentil enquanto ele me acaricia. O beijo com força,
cravando minhas unhas nos seus ombros.
O barulho à nossa volta desaparece. Estou no topo da porra do
mundo. Isso é fácil.
A vida é fácil.
Estar com ele é fácil.
O prazer preenche meu corpo. Ele se espalha do meu núcleo até os
dedos das minhas mãos e dos meus pés.
Ele me acaricia num ritmo uniforme. De novo e de novo e de novo.
O orgasmo brota dentro de mim. É tão apertado, tão tenso, incrível pra
caralho.
Levo minha boca ao ouvido dele, e gemo seu nome repetidamente.
Uma onda de prazer toma conta de mim. Toda a tensão no corpo se
liberta.
Me sinto bem pra caralho.
Ele me beija. Me afundo nele, meu peito contra ele, minhas coxas
contra as dele. Ainda o sinto, duro através de seu jeans.
Moo minha virilha contra a dele. —Foda-me. Por favor.
Seus olhos estão cheios de desejo. —Porra, senti sua falta. — Ele
puxa meu vestido, expondo meus seios. Ele joga meu sutiã de lado. —
Tenho andando louco pensando em você.
—Com o que?
Ele abaixa meu vestido. —Com tudo. — Ele pega meus quadris e
me levanta. —Isso vai ser mais rápido do que eu gostaria.
—Não me importo. — Me aproximo dele. —Desde que você esteja
dentro de mim.
—Mhmm. — Ele abre o zíper do jeans, empurra a boxer para o lado,
e envolve a sua mão em volta do seu pau.
Sim, por favor. Movo meus quadris para pairar sobre ele. Ele me
pega, me derruba com força.
Suspiro, quando Miles entra em mim. É como voltar para casa,
como se estivesse exatamente onde preciso estar. Seguro seus ombros, e
me desloco sobre ele, o empurrando mais fundo.
Ele afunda as unhas na minha bunda me guiando. Nossos olhos
se encontram. Ele está olhando para mim, através de mim. Antes, era
demais. Mas, sinto que é o correto. Em todo seu interior. Ele ainda não é
honesto, ainda não é meu, mas talvez consigamos chegar lá.
Ele pressiona a palma da mão contra as minhas costas, trazendo
meus seios para a sua boca. Seus lábios se fecham ao redor do mamilo.
O prazer invade meu corpo. Ele é muito melhor do que lembrava.
Ele é perfeito.
Ele me chupa enquanto me fode. Aperto minhas coxas,
pressionando minhas mãos contra seus ombros para alavancar. Meu
corpo grita. Não quero que isso acabe. Nunca.
Enfio as mãos nos seus cabelos, o segurando perto. Todo o resto
sobre esse relacionamento está uma bagunça, mas isso é perfeito.
Aqui, somos perfeitos.
Gemo, arqueando minhas costas para empurrá-lo mais fundo. Meu
coração bate forte. Minha respiração está tensa. O prazer brota dentro de
mim novamente. É tão tenso, tão apertado, imenso.
Miles crava os dentes no meu mamilo, uma pequena pitada de dor.
Então, seus olhos estão nos meus. Ele está olhando para mim como se
me amasse. E quase acredito nele.
Arqueio até que ele estar mais fundo, até que ele esteja tão fundo
quanto possível. Mais um impulso, mais um puxão no nó dentro de mim,
e um orgasmo toma conta de mim. Foi mais difícil, mais intenso, e foi
preciso de todas as minhas forças para resistir a gritar o nome dele.
Miles agarra nas minhas costas. Segura meu corpo contra o dele,
enquanto empurra em mim
Ele solta um gemido forte.
Ele geme e treme, e arranha suas unhas contra a minha pele.
Ele está prestes a gozar. Posso sentir isso no seu corpo, ouvi-lo na
sua voz. A pressão brota em mim novamente. Estou fazendo ele gozar.
Estou dando a ele todo esse prazer.
—Mhmm.
Ele me segura contra ele enquanto me fode. É duro e rápido. Tenho
que apertar seus ombros para ficar em pé.
Então, ele está lá. Seu pau pulsa, me enchendo. Ele cai, afundando
no banco.
Seus olhos encontram os meus. Seus lábios se separam como se
fosse falar, mas ele não diz nada.
Me afasto dele, encontro minha calcinha, e a visto. Não tem como
melhorar. Isso terá de servir.
Não há sinal do meu sutiã. Paciência. Não é nada especial.
Ele pega meu pulso. —Venha para casa comigo.
—Isso não é uma boa ideia.
—Então, me diga o que foi isso.
—Não sei. — Encontro minha bolsa, e a deslizo por cima do ombro.
—Mas eu gostei.
—Venha a um lugar comigo.
Meu coração palpita. —Onde?
—É uma surpresa. — Ele passa as pontas dos dedos pelo meu
pulso. —Vou te foder lá. Se você ainda estiver no clima.
—Isso também não é uma boa ideia.
Ele olha nos meus olhos. —Deve haver uma maneira de te
convencer.
Aquele olhar me corta a alma. Não importa o que faça, não consigo
lutar contra isso. Ainda quero acabar com toda a dor dele.
Engulo em seco. —Tudo bem. Eu vou.
Capítulo 33

O ar da noite corre a minha volta. Porra, esse frio trinca. As tardes


do sul da Califórnia são ensolaradas e quentes. Fica fácil esquecer a
queda de temperatura nas noites de inverno.
Arrepios se espalharam pelos meus braços. Tremo e abraço meu
peito. Um vestido de festa não é o traje mais quente.
Miles tira sua jaqueta de couro, e a joga em volta dos meus ombros.
Ele me puxa para mais perto. —Acho que isso significa que sua agitação
está acabando.
Não rio. Não sei o que isso significa. Ou o que diabos significa essa
viagem.
Meus sapatos de salto alto fazem pequenos buracos na grama. Faço
o que posso me inclinando para a frente, com o peso nos dedos, mas um
dos calcanhares fica preso. Tropeço.
Miles me pega. Ele me salva de arranhar o joelho numa das lápides
cinza.
Sim, estamos no cemitério, aquele em Ladera Heights. Está muito
escuro para ver a maior parte do lugar, mas ainda percebo um grande
crucifixo de pedra e uma estátua da Virgem Maria.
É engraçado. Tem um shopping a quatro quarteirões daqui. À
minha esquerda, está a sombria lembrança da morte. À minha direita,
tem uma Target, uma Forever 21, e um estacionamento com luzes
fluorescentes.
Miles se ajoelha ao meu lado, e cuidadosamente tira meus sapatos,
um de cada vez. Ele os puxa dos meus pés, com as suas pontas dos dedos
permanecendo no meu tornozelo.
Deveria ser criminoso que algo assim parecesse tão bom.
Especialmente num lugar onde tudo geralmente parece tão ruim.
—Você está bem? — Ele pergunta.
—Não estou propriamente vestida para o luto.
—Discordo. — Ele pega meus sapatos com uma mão, e me abraça
com a outra. —Você está comemorando a vida. A morte é apenas mais
uma parte desse ciclo. —Seus olhos encontram os meus. —Você sabe
aquela tatuagem no meu peito.
—Adoraria ser lembrada.
Ele puxa a camiseta para baixo, expondo seus lindos e perfeitos
músculos peitorais. Lá está, seja corajoso, viva, em grossas letras negras.
—Sempre achei que era uma nova era para você—, digo.
—É lance de recuperação. Um lembrete para experimentar a vida,
em vez de tentar me entorpecer a qualquer coisa que possa machucar.
É uma boa sensação, mas não vejo como é relevante para a
discussão em questão. Se ainda existe uma discussão. É mais como
mostrar e informar. Miles mostra, e o Miles informa, e eu posso pegar ou
largar.
Ele estuda minha reação. Corre os dedos pela minha bochecha até
o meu queixo, me inclinando para que fiquemos olhos nos olhos. Aqueles
seus olhos azuis estão tão malditamente ardentes.
—Eu sei que você odeia quando as pessoas são enigmáticas—, diz
ele.
—Exato.
—Mas, me dê um minuto. — Ele coloca a mão na parte inferior das
minhas costas, e me leva para outra fileira.
Caminhamos mais um pouco, e o Miles para em frente a uma lápide
cinza. Damon Webb. Pai, tio, amigo. Ele morreu no ano passado, assim
como o Miles disse.
—Ele me adotou legalmente depois que minha mãe morreu. Fiquei
com o nome dele, ao invés do meu pai—, Miles explica. Ele coloca meus
sapatos no chão, se vira para mim, e pega minhas mãos. —A frase. É
cafona. Mas, era algo que meu tio sempre dizia, quando eu começava a
causar problemas. Ele via através das minhas besteiras. Quando eu era
suspenso por brigar, ele me sentava no sofá de couro, e jogava um saco
de ervilhas congeladas nas minhas mãos. Então, se ajoelhava ao meu
lado, olhava nos meus olhos, e dizia que se quisesse fugir, estaria fugindo
para a toda vida.
—Né?
—É, ele era um cara esperto. Fez fortuna sozinho, conhecia tudo
sobre o negócio, que me entediava até as lágrimas. Ele sabia como eu me
senti perdendo minha mãe, ainda mais por suicídio. Isso o machucava
também. Ele também estava com raiva. — Mas, eu me metia em brigas
toda as semanas. Fui suspenso quinze vezes. Quebrei todos as minhas
guitarras.
Respiro fundo. Quero confiar no Miles, mas não sei se estou pronta
para baixar minha guarda novamente. Ainda não.
Mesmo assim, somos amigos, ou algo próximo disso. Neste
momento, quero estar aqui por ele. Talvez não amanhã, ou semana que
vem, mas agora.
Ele aperta minhas mãos. —Depois da minha vigésima briga,
fizemos um acordo. Ele me compraria mais uma guitarra, se concordasse
em ser corajoso, e confrontar o quanto doeu perder minha mãe. Eu
poderia me lamentar naquela guitarra o dia todo. Poderia gritar meus
pulmões, escrever uma música que não passava de 'Foda-se Simon'. Esse
era o nome do meu pai. Mas, se me metesse em problemas, mais uma
vez, ponto final. Eu iria para o colégio interno.
—E?
—E, foi isso. Escrevi uma música sobre isso. E me senti um pouco
melhor. Toda vez que queria bater em alguém, escrevia uma música.
Abraço meu peito. —Como você começou a usar drogas?
—Não foi um problema no início. Ou, pelo menos, não pensei que
fosse. Gostava da maneira como me relaxava. Me fez ficar calmo. Me fez
sentir que se não precisava enfrentar o mundo. Mas, se tornou um
hábito. Tom me confrontou. Reduzi o suficiente para que pudesse
escondê-lo. Mas, quando Damon teve câncer... enlouqueci. Fugia nisso.
Não conseguia ficar cinco minutos sóbrio. Não conseguia lidar com
aqueles pensamentos. — Ele massageia meus ombros. —É por isso que
sei que você é forte, Meg. Você enfrenta sua dor de cabeça. Você nunca
chega perto de ceder.
—Não posso dizer que alguém já tenha me elogiado por não usar
drogas—. Rio.
—Realmente amo sua risada.
—Eu também amo a sua. — De verdade.
Ele volta ao tom sério. —Só parei porque Tom ameaçou me expulsar
da banda, e não queria que meu tio morresse pensando que eu era o
mesmo garoto estúpido que continuava fugindo.
Meu coração bate contra o peito. Miles passou por muita coisa. Seja
corajoso, viva.
Este não é o tipo de dor que desaparece com alguns abraços e
beijos. Eu consigo tirar a dele. Ele não consegue tirar a minha. Estamos
presos até encontrarmos a saída.
Ele baixa a voz para um sussurro. —Estava na reabilitação quando
ele morreu. Essa foi a parte que mais doeu, que ele estava sozinho,
porque eu me mantinha mergulhado na autopiedade.
—Mas você não estava mais remoendo. Você estava enfrentando
isso de frente.
—Sim. Talvez. — Ele desliza a mão pelo cabelo. —Desculpa, não ter
te contado sobre a minha recuperação. No início, não achei que isso
ficaria sério o bastante para importar. No momento em que percebi o
quanto você se magoou, tudo o que passou, tive medo de perdê-la, se eu
te contasse.
Me abraço um pouco mais forte. —Tudo bem.
—Não é uma boa desculpa. Eu estava errado. E, realmente sinto
muito.
—Obrigada. — Olho nos olhos de Miles, com toda a dor que não
consigo tirar. Quero perdoá-lo, quero muito. Mas ainda, o meu coração
não chegou lá.
—Eu gosto de você, Meg. De verdade. E, tenho certeza de que você
também gosta de mim. —
—Eu gosto, mas...
—Sem, mas. — Ele pega minhas mãos e puxa meu corpo para o
dele. —É tudo o que precisamos saber.
Ele está quente e, é muito bom estar pressionada contra ele. Mas,
essa tensão ainda está no meu peito.
Dou um passo para trás. —Sinto muito. Entendo por que você
mentiu, mas, ainda não sei se estou pronta para confiar em você. Quero.
Mas, não está aqui por enquanto. Não me sinto assim.
—Você poderia?
—Não sei. Mas, Miles, quero estar com alguém que me ama, que
queira compartilhar seus sentimentos comigo, porque me ama e confia
em mim, e não porque é a única maneira de me conquistar.
Ele considera minhas palavras como se fossem poesia. —Eu
consigo fazer isso.
—Talvez. Mas, não me parece. — Aperto a jaqueta à volta do meu
peito. A rua vizinha é larga, limpa e completamente vazia. —Você pode
me levar para casa?
—Claro. — Ele pressiona a palma da mão nas minhas costas. —Eu
realmente sinto muito.
—Eu também.
De várias formas.

Miles ainda tem a minha mala no seu porta-malas. Ele a traz até a
porta do meu apartamento.
—Eu gostaria de entrar—, ele diz.
Balanço a cabeça. —Não estou com saco pra isso ... nada disso,
nesse momento. — Mexo na minha chave. —As provas começam na
segunda-feira. Tenho que me desligar de tudo para conseguir estudar.
Ele concorda. —Quando termina?
—No dia doze.
—A gente se vê no dia doze.
Ele desliza as mãos pela minha cintura, puxa meu corpo para o
dele, e me beija. O calor invade o meu corpo. É doce, quente e delicado,
tudo ao mesmo tempo.
Tiro sua jaqueta de couro dos meus braços, e tento entregá-la. Ele
acena para longe. —Quero que fique com ela.
Concordo.
—Tchau, Meg.
—Tchau.
Não respiro direito, até ouvir as portas do elevador se fecharem
atrás dele.
Capítulo 34

As provas passam num emaranhado de ansiedade. Após o nosso


último exame, Kara e eu caímos no sofá dela, e nos revezamos escolhendo
filmes para a maratona. Por volta da meia-noite, ligo o telefone.
Faz uma semana que não vejo nada, além do e-mail da escola.
A tela pisca. Aquelas pequenas barras aparecem ao lado do ícone
de conexão. Aparecem notificações, uma dúzia de novas mensagens de
texto e uma caixa postal.
Verifico os textos. A maioria são pequenas coisas, uma da minha
mãe sobre as férias, uma da Kara, um monte das pessoas do meu grupo
de estudo.
O correio de voz é de Miles.
Kara consegue ler a expressão no meu rosto. —Coloca na viva voz?
—OK. — Preciso de alguém que me convença.
Aperto o play. Há uma explosão de estática, em seguida, é o Miles.
—Oi, Meg. Sei que você me pediu, bem, gritou comigo, enquanto
saia correndo da minha casa, para não escrever mais músicas sobre você.
Mas, não consegui respeitar esses termos, pode não sair no álbum, mas
o single será lançado na terça-feira. Estará por toda parte. É a versão
acústica. Drew se encolheria se ouvisse minha tentativa do seu solo de
guitarra, mas você entenderá.
Meu coração bate na garganta. Uma canção. Ele escreveu outra
música sobre mim.
É o que ele faz, quando não quer fugir dos seus sentimentos. Há o
dedilhar numa guitarra. É uma melodia agradável, mas desperta algo
dentro de mim. Algo desconfortável. Vou apagar a mensagem, mas Kara
pega o telefone.
—Sem chance. — Ela sobe em cima do sofá, para segurar o telefone
sobre a minha cabeça.
Está tudo acabado.
Estou fora de mim,
um daqueles idiotas
Sempre tirei sarro deles.
Todo mundo dizia:
— cara, você não vê que essa garota é louca por você—?
Só balançava a minha cabeça.
—Nem pensar, não ela, ela é igual a segunda. —

Sua voz está intensa, mas também há algo doce nela.

Está tudo acabado.


Esse aperto no meu peito.
Amor, palavra engraçada,
o que diabos isso significa?
Todo mundo dizia:
— cara, você não vê que essa garota é louca por você—?
Só balançava a minha cabeça
—Nem pensar, não ela, ela é igual a segunda. —

O ar escapa dos meus pulmões. É perfeito.

Está tudo acabado.


Eu me rendo.
É a primeira vez que sinto alguma coisa.

—Puta merda. — O queixo de Kara cai. —Estava esperando para te


mostrar isso. — Ela pula para o seu computador, e abre um site de
fofocas. —No caso de nunca mais você querer ouvir falar dele.
Ela vira a tela para ficar de frente para mim. Cantor da banda
Sinful Serenade Obtém Nova Tatuagem Quente. Embaixo tem uma foto
do Miles, sem camisa, é claro, e logo acima do seu peito, ao lado de Seja
corajoso, Viva, diz Megara.
Caramba.
Tento respirar fundo. Não acontece nada. Meu estômago dá voltas.
Estou enjoada. Ele colocou meu nome como uma tatuagem. Ele tem meu
nome como tatuagem. O meu nome. Tatuagem.
—Tem mais. — Kara aponta para o meio da matéria.

Quando procurado para comentar, Miles Webb respondeu de forma


atrevida como sempre.
—Fiz um acordo com essa minha amiga que, se eu me apaixonasse
por alguém, tatuaria o nome dela no meu peito. O que posso dizer? Sou um
homem de palavra.
Perguntamos como ele achava que isso afetaria sua reputação por
causa das suas atividades extracurriculares (sejamos sinceros, o cara é
um galinha!) E, ele riu bem na nossa cara, direto nos nossos celulares.
— Duvido que dificultará levar mulheres para casa. Isto é, olha para
mim. Mas, não me importo com outras mulheres. A única mulher que quero,
é a Meg. Se ela não me quiser, então ficarei sozinho. Ninguém se compara
a ela.

Kara pega meus ombros, me virando, para ficarmos frente a frente.


—Você está bem? Quer que eu bata nele, e quebre cada computador que
viu um trecho do MP3 dessa música?
Balanço a cabeça.
—Fala comigo, querida.
—Ele me ama.
—Sim, tenho certeza de que sim—, ela diz.
—Ele é tão... como diabos reajo a isso?
Ela sorri. —Tenho uma ideia.
Capítulo 35

Kara pressiona o telefone no ouvido. Ela anda pelo apartamento


balançando a cabeça. Ela está totalmente frenética.
—Como você não está pirando? — Ela pergunta.
—É muita coisa para assimilar. Não sei bem como me sinto.
Ela balança a cabeça e joga o telefone no sofá. —Drew não está
atendendo. Mas eles provavelmente estão em casa.
—É quase uma da manhã.
—E, o cara que você ama te enviou uma declaração. Não é hora de
esperar! — Ela pega sua mochila, e quase a rasga em busca das suas
chaves e carteira. —Você está bem usando isso?
Olho para a minha roupa da escola. Jeans e uma camiseta, nada
romântico. Deveria vestir um vestido de princesa e salto alto, algo que
pareceria tão dramático quanto isso parece.
—Que se dane, usa isso ou vou te vestir. Você tem cinco segundos
para decidir—, ela diz.
—Será vulgar?
—Três segundos.
—Ok, me vista. Não. Não importa. Vamos logo.
—Bem pensado. — Ela pega o seu telefone, segura o meu pulso, e
quase me arrasta para fora. —Gostaria que você soubesse dirigir com
câmbio manual. Estou tão nervosa por você.
Meu coração bate contra o peito. Minha cabeça ainda está girando.
Miles me ama. Ele confia em mim. Ele me respeita. É tudo o que quero.
—Estou tão nervosa por mim—, digo.
Ela se atrapalha com a fechadura. Verifica a porta duas vezes. Em
seguida, ela me arrasta para o seu carro.
Kara dirige como uma louca. Ela passa pelas luzes amarelas a
caminho da autoestrada. Ela está a setenta, oitenta, quase noventa.
—Prefiro chegar lá viva—, digo.
Ela diminui a velocidade, mas seus dedos estão apertados em volta
do volante. Ela está quase mais nervosa do que eu, mas não acho que
isso seja tecnicamente possível.
Meu estômago está amarrado em nós. Meu coração está batendo
contra o meu peito como se fosse o tema do Tubarão. E minha respiração,
está fisicamente impossível, mas tenho certeza, de que não respirei desde
que ouvi a música.
Kara sai da autoestrada. A mansão Sinful fica no alto de Hollywood
Hills. Ainda faltam dez minutos para a casa deles. Respirar ajudaria
muito a chegar viva.
Me obrigo a inspirar, mas só aumenta a sensação de formigamento
no meu corpo. A música pode não significar que ele me quer. Pode ser
um pedido de desculpas, ou uma confissão que termina em desculpa,
mas acabou.
Fecho os olhos, e me forço a expirar. Kara está aqui. Aconteça o
que acontecer, vou sobreviver.
Mas prefiro sobreviver com Miles.
Viramos numa das ruas locais, e subimos, subimos, e subimos as
estradas sinuosas nas colinas. As luzes estão acesas na casa, e o carro
de Miles está na garagem. A moto dele também está ali.
Ele deve estar aqui.
Kara estaciona e salta fora do carro. Ela está firme novamente,
pronta para derrubar qualquer coisa no seu caminho. Ela está do meu
lado dessa vez. Graças a Deus. Preciso de uma aliada.
Saio do carro. Meus pés estão bambos. Estou de tênis, mas mal
consigo ficar de pé. Geleia. Minhas pernas estão tremendo. Pressiono a
palma da mão contra o carro para ficar de pé.
E se ele me pedir para desaparecer? E, se interpretei
erroneamente? —Vamos. —Kara pega minha mão, e me puxa pelos
degraus de pedra.
De alguma forma, não escorrego. Caminho até a enorme porta da
frente. Bater. Preciso bater. Enrolo os dedos num punho, e bato contra a
porta. Mal faz barulho.
—Acho que vou desmaiar—, sussurro.
Kara balança a cabeça. —Você vai conseguir. — Ela aperta a
campainha.
Ding. Dong. Esse som realmente parece, como o jogo que
brincávamos quando éramos crianças, onde tocávamos a campainha do
vizinho, saíamos correndo e observávamos para ver se eles saíam.
Ding Dong Ditch. E, me parece uma ideia fantástica. Sair correndo,
sem enfrentar Miles, sem receber a notícia esmagadora de que ele não me
ama.
A porta se abre. Droga. Isso significa que perdemos o jogo. É Tom,
e ele está quase despido. Jeans. Sem camiseta, sem sapatos. Há
risadinhas no fundo. Ah, tem uma mulher seminua na cozinha. Sua
conquista do dia.
Ou, a conquista do dia de Miles.
Meu coração bate forte. Se continuar batendo tão rápido e forte, vai
sair do meu peito.
—Jesus, o que ele fez agora? — Tom pergunta.
Kara mostra a língua, e entra.
—Entrem, por favor. — Ele revira os olhos. —Devo chamá-lo? Nem
sei por onde começar.
Kara revira os olhos. —Fico mais do que feliz em ir ao quarto de
Miles, e arrastá-lo até aqui.
—Me dê um minuto—, Tom diz. Ele faz algum tipo de sinal para a
mulher seminua, e depois se volta para nós. Seus lábios franzem e ele
exala em um suspiro dramático. —Ele está arrasado, você sabe.
—Apenas vá buscá-lo—, digo.
—Você quer me dizer do que se trata?
—Meg precisa falar com o Miles. Vá buscá-lo ou eu vou—, diz Kara.
— Sobre o que eles precisam falar? — Tom cruza os braços.
Ela o olha como se ele fosse a fonte de todo mal no universo. —Eles
estão apaixonados.
Tom levanta uma sobrancelha. Ele me olha como se perguntasse,
essa merda é verdade?
Concordo. Até onde sei.
Ele finalmente desfaz o beicinho. —Espero que você tenha razão.
Mas, vou fazer isso à moda antiga. — Ele pega o telefone, e liga para o
Miles.
Há um som fraco de um toque. Uma porta se abre. Passos.
O Miles aparece no topo da escada. —Você não consegue sair num
maldito voo, Tom? — Seus olhos encontram os meus, e a expressão
carrancuda irritada cai do seu rosto.
Ele parece nervoso. Miles, a estrela do rock deus do sexo, está
nervoso por minha causa.
—Meg. Oi. — Ele aperta o corrimão enquanto desce as escadas. —
Tudo bem?
Abro a boca, mas nenhum som sai. Respiro fundo. —Ouvi sua
música.
Seus lábios se curvam num minúsculo sorriso. —Sim?
—Sim. — Pressiono os dedos contra os quadris. —Essa é sobre mim
também?
Ele chega ao pé da escada. —Não me apaixonei por outras garotas
este ano.
Minha respiração fica presa na garganta. Ele disse... ele deve
querer dizer ... ele deve ... Estou zonza. Minhas pernas estão bambas. —
Você, hum, quis dizer o que disse?
—Cada palavra. — Ele dá um passo em minha direção. —Embora,
tecnicamente, eu as tenha cantado.
—Tecnicamente.
Miles envia ao Tom o olho do mal. —Um pouco de privacidade, pode
ser?
—Nem pensar. — Ele levanta a voz. —Drew, Pete, seus filhos da
puta, estão aqui para ver isso?
—Está tudo bem—, digo. —Eles podem ficar.
Miles está a cinco passos de distância. —Costumo escrever
músicas, para evitar esse tipo de declarações.
—Você está ferrado agora. Você tem uma plateia e expectativas.
Ele sorri. —Se há algo que eu sei fazer, é dar um show.
—Apenas quero a verdade.
Mais um passo. Ele está a quinze centímetros de mim. Ele penteia
meu cabelo atrás da orelha. —Eu te amo, Meg. Eu tinha uma coisa
perfeita debaixo do meu nariz, e levei uma eternidade para perceber isso.
Mas agora eu sei.
Tom grita. —Seus filhos da puta estão perdendo!
A porta de um quarto bate, e Pete aparece no topo da escada. Ele
avista Miles. —Ele saiu do seu quarto?
Miles balança a cabeça. —Eles estão realmente arruinando o
momento.
—Não, está perfeito.
Ele desliza a mão pela minha cintura. —Não sou bom nessa coisa
de relacionamento, mas quero tentar com você.
—Você tem certeza?
—Certeza. — Ele me atrai para mais perto. —Se você estiver
disposta a me perdoar por ter sido um completo idiota.
—Sim. — Me inclino para ele. —O maior idiota.
—Vou entender isso como um sim. — Ele pressiona seus lábios nos
meus.
Todos os nossos outros beijos foram incríveis. Todos os nossos
outros beijos incendiaram o meu corpo. Mas este está noutro nível. É
como se cada pedaço da sua necessidade estivesse se derramando em
mim, como se ele estivesse se abrindo para mim e me mostrando todas
as formas que ele se magoa.
O beijo rompe, e recuo. E olho nos seus lindos olhos. —Eu também
te amo.
E, juro por Deus, ele derrete.
O mundo está girando ao meu redor. Tem aplausos. É o Tom, acho.
Em seguida, são Kara e Pete. Olho em volta da sala e o Drew também
está lá.
Estão batendo palmas, mas não é como se isso fosse bobagem. É
como se falassem sério. Miles se inclina um pouco mais para perto. —
Idiotas, estavam convencidos de que eu morreria infeliz e sozinho.
—Completos idiotas.
—Digamos que vamos dar a eles um show gratuito, mas quero você
só para mim.
Ele pressiona seus lábios nos meus novamente. É tão doce quanto
o primeiro beijo da noite, mas é mais sexy. É tão excitante, que tenho
certeza de que vou pegar fogo.
—Ok, acho que essa é a minha deixa—, diz Kara. —Você a levará
para casa amanhã.
—Fique—, Pete clama. —Teremos que explodir um filme se
quisermos ouvir algo além do Miles gritando em êxtase. — Ele ri. —Mas
Meg, você é livre para fazer tanto barulho quanto quiser.
—Essa é minha namorada, idiota—, Miles diz. —Se você concordar.
Meu corpo se enche de calor. —Sem dúvida.
—Você tem sorte que estou ocupado, ou chutaria sua bunda. —
Miles me leva pelas escadas. —Tom, repreenda Pete sobre o sexo
barulhento pelo telefone.
—Sempre. — Tom nos manda uma saudação.
Passamos por Drew e Pete. Minhas bochechas ardem. Digo
obrigado, embora nem sei a quem estou agradecendo. Todo mundo, acho.
Todos estão felizes por nós.
Pete pisca para mim. Tenho a certeza de que o Miles vê, mas não
acho que ele se importe. Nós vamos ficar ocupados pelo resto da noite.
Epílogo

Miles aperta minha mão. —Está pronta?


Respiro fundo. Quase. Sim. Acho que estou. Não, com certeza
estou. Concordo. —Sim.
—Faça as honras. — Ele pega minha mão, e a coloca no mouse do
computador.
Olhos abertos. O cursor passa sobre “Enviar inscrição”. OK. Eu
consigo fazer isso. Pressiono o dedo até o mouse clicar.
Enviando…
Obrigado por se inscrever para a Harvard Medical School. Verifique
seu e-mail para obter uma confirmação de envio.
Soltei algo suspeito perto de um grito. —Oh meu Deus. — Abraço
Miles e o beijo como se o navio estivesse afundando.
Seu corpo relaxa no meu. Ele enfia as mãos nos meus cabelos, e
separa nossos lábios. —Amor, você tem seis dessas para enviar. Não
consigo aguentar as bolas azuis se você fizer isso todas as vezes.
—Que pena.
—Seus pais vão ouvir.
—Azar deles.
—Ah, é? — Ele desliza a mão sob a minha saia de lã e passa os
dedos sobre a costura da minha meia-calça. —Melhor tirar isso.
—Tudo bem, entendi. — Navego para a próxima página. Yale.
Sonhar alto, né? Passamos a manhã preenchendo tudo isso. Agora não
há mais nada a fazer a não ser enviá-los.
Aperto Miles com uma mão, e com a outra...
Clique!
Enviando ...
Obrigado por se inscrever para a Yale Medical School.
Miles pressiona seus lábios no meu pescoço. —Você é uma
pequena nerd.
—Com ciúmes?
—Ei! Sou uma estrela do rock. Tenha um pouco de respeito. — Ele
encontra a parte superior da minha meia-calça, e a puxa com muita
delicadeza. —Ou então, vou forçá-la a me respeitar.
—Ainda temos cinco para enviar.
—Você pode fazer enquanto goza.
—Ok, não quero que meus pais ouçam—, digo. —Eles foram muito
hospitaleiros ao aceitar um convidado de última hora. E, um astro do
rock depravado.
—Seus pais me amam mais do que você.
O beijo na testa. —Isso é impossível.
É o dia depois do Natal, e Miles já está por aqui, na casa em
Newport Beach dos meus pais, há uma semana. As coisas entre mim e
meus pais ficaram tensas no começo, mas tive uma conversa franca com
eles. Ficamos sentados à mesa da sala de jantar até a meia-noite,
chorando e rindo, contando histórias da Rosie, e o quanto sentíamos sua
falta. Mamãe até colocou uma das fotos da família de volta.
—Bem, sabemos que você nunca conseguirá ficar em silêncio—, ele
diz.
—Então, você terá que viver com as bolas azuis.
—Nem, vou ter que inventar algum tipo de catástrofe para que seus
pais sejam chamados ao hospital, e tenhamos a casa só para nós.
—Eles vão jantar fora esta noite—, digo.
—Isso ainda vai demorar várias horas.
Ele desliza os braços em volta da minha cintura, me puxando para
mais perto. Minha bunda está pressionada contra a sua ereção. Claro,
seria incrível transar com Miles novamente, mas estou meio ocupada.
—No devido tempo—, digo. —Você deveria estar me apoiando.
Ele pega o mouse, e navega para a próxima página. UCSF. —Você
quer que eu faça as honras?
—Sim, por favor.
Clique.
Enviando…
Obrigado por se inscrever para a UCSF!
—Por que você vai embora amanhã? — Pergunto. —A Sinful
Serenade realmente precisa tanto do cantor?
—Desesperadamente. — Ele passa as mãos por cima dos meus
ombros. —Por que você não vem comigo?
Próxima solicitação. Stanford. Clique. Enviando ... Concluído.
—Não posso—, digo. — Tenho faculdade. E trabalho.
—Está de folga até o semestre começar. É uma turnê internacional.
Nossa primeira turnê internacional. Você pode fazer parte da história. —
Ele pressiona seus lábios no meu pescoço. —E termina no segundo dia
de aula.
Próxima solicitação. UCLA. Clique. Enviando ... Concluído.
—Você quer me levar para Tóquio, Osaka, Madri e Londres? —
Pergunto.
—E, Paris e Berlim e algumas outras cidades que não me lembro.
— Ele me gira, então estamos frente a frente. —Venha. Podemos ficar nos
bastidores todas as noites, e percorrer cidades fantásticas todos os dias.
—Você tem certeza?
—Certeza. — Ele massageia meus ombros. —Quero que você
venha. E faça uma turnê comigo.
Um milhão de desculpas surgem na minha cabeça, mas nenhuma
delas importa. Viajar pelo mundo com meu namorado gostoso estrela do
rock. Seria uma idiota se dissesse não.
—Está bem—, digo.
—É só isso, está bem?
—Que se lixe, sim! Melhor?
—Muito.
Me viro, e fico de frente do computador. Só mais uma inscrição. A
que eu temia por um milhão de anos.
UCI.
Não sei onde estarei no próximo ano, mas onde quer que esteja,
não fugirei de nada.
Clique. Enviando... Concluído.
Miles chupa o lóbulo da minha orelha. —Você sabe que temos que
comemorar.
—Quando meus pais saírem.
—Agora. — Ele puxa a meia-calça até os meus joelhos. —E, quando
aos seus pais saírem.
Não me importo.
Trecho de Strum Your Heart Out
KARA + DREW

Uma fã vaidosa passeia na minha direção. Mas ela não está


interessada em mim. Sou invisível para ela.
Seus olhos estão no Drew. Ela sorri. Ela enfia a mão no rosto dele
como se eu não estivesse aqui. —Oh meu Deus. Você deve ser Drew
Denton. Sou uma grande fã.
Ele aperta a mão dela, sem sinais de interesse em seu rosto. —Eu
sou.
Ela arrasta as unhas vermelhas falsas sobre o antebraço de Drew
e empurra o peito para ele. —Amo a Sinful Serenade—, ela insinua. —
Você é muuuuito bom com as mãos.
A pior parte de ter um amigo guitarrista de estrela do rock é ouvir
essa frase repetidamente.
Os lábios de Drew se curvam em um sorriso. Uma expressão
presunçosa surge em seu rosto. —Foi o que me disseram.
E há a segunda pior parte, ouvi-lo dar a mesma resposta insana a
todos os fãs que são rudes demais para reconhecer a garota sentada ao
lado dele. É óbvio que somos apenas amigos ou ela está desesperada
demais para se importar?
—Você acha ... Oh, Deus. Você poderia assinar o meu, um ...— Ela
ri. —Meu peito?
Seus olhos disparam para o peito. É difícil culpá-lo quando o top
dela é cortado no umbigo. Sem julgamento. Já usei coisas muito mais
vadias. Inferno, minha aparência atual poderia ser igual à de uma garota
que está mostrando a maior competição de peitos.
Uma garota tem que fazer o que pode para conseguir o que quer.
Aparentemente, essa garota quer a atenção de Drew em suas tetas.
Está funcionando. Os olhos dele estão arregalados. A boca dele está
aberta. Ele está olhando como se estivesse pensando em enterrar o rosto
entre os peitos dela.
Não que isso me incomode ou algo assim. Não que queira que ele
me olhe dessa maneira. Não é nada disso.
Ajusto minha parte superior do busto para o máximo potencial de
decote e me levanto do meu assento. Drew olha para mim por um
segundo e então sua atenção volta para a fangirl.
Ela arrasta as unhas vermelhas pelos bíceps dele. —Como você fica
tão ... duro em turnê?
Ele sorri. —No chão.
Ela engasga como se não estivesse familiarizada com o conceito de
flexões. Ele sorri, todo arrogante, convencido e totalmente legal.
Ele nunca flerta assim. Nunca.
Isso não deveria me incomodar. Ele é meu amigo e pode flertar com
quem quiser.
Não significa que tenho que assistir.
Vou até o salão de baile. Através da horda de vinte e poucas
pessoas bonitas aqui para a boate e não para a música.
É uma coisa pulsante, latejante e eletrônica. Perfeito. Entro na
pista. Olhos fechados. Braços acima da minha cabeça. Mudo meus
quadris para frente e para trás. Sem movimentos sofisticados. Apenas
instinto.
A risada de hiena da fangirl atravessa a sala. Devo estar
imaginando coisas. Não tem como ela ser mais alta que a música.
Drew ainda está conversando com a fangirl. Não tanto flertando
com ela. Mas certamente olhando suas tetas.
Essa tensão aumenta entre as omoplatas. Está tudo errado. Meu
corpo está solto e livre quando danço. A tensão não faz parte da equação.
E Drew é meu amigo. Ele está flertando com um fã. E daí? Ele é uma
estrela do rock. Ele flerta com muitas groupies.
Ele provavelmente as fode também.
Minhas narinas estão fumegantes. Balanço a cabeça e pressiono
minhas pálpebras. Não. Me recuso a sentir isso agora. Me recuso a sentir
qualquer coisa, exceto a música.
Me jogo na dança. O mundo derrete, um pedaço de cada vez. O
resto do clube. A risada de hiena. O sorriso de Drew, de olhos arregalados
e luxuriosos, quando a fangirl o derruba.
Nem está na minha cabeça.
Aproximo-me dos alto-falantes. Eles abafam todos os outros
pensamentos dentro do meu cérebro. Sou apenas um navio para a
música. Meus quadris se movem por vontade própria. Meu peito muda.
Meus braços balançam.
Estou livre.
E então há mãos nos meus quadris. Mãos fortes. As mãos de um
cara. É uma parte normal das discotecas. Geralmente uma que eu gosto.
Mas isso parece ótimo. Dou um passo à frente para me libertar das
mãos, então não somos nada além de mim e da música. Melhor. Essa
tensão entre as omoplatas relaxa. Divido em êxtase ...
As malditas mãos estão de volta! Me viro para encarar esse cara.
Ele é alto. Amplo. Ele se parece com um ator bonito, mas não exatamente
quente. Em qualquer outra noite, eu o receberia como parceiro de dança.
Jogo meus braços acima da cabeça e sigo seus movimentos. Ele é
um bom dançarino, perfeitamente em sintonia com o ritmo. Não é
totalmente horrível.
Ele dá um passo em minha direção e está pressionado contra mim.
Essas mãos vão para os meus quadris novamente. Não há mais
felicidade. Estou totalmente tensa, tensa e tensa em todos os lugares
errados.
—Desculpe. — Vou para o bar. Alguma área livre de caras com
poucas maneiras de pedir permissão.
O cara me segue. —Posso te pagar uma bebida?
—Não, obrigada.
—Vamos lá. Vai ser divertido. — Ele agarra meu pulso. A esquerda.
Logo acima do meu relógio de prata.
Puxo minha mão no meu peito. Boas maneiras, da próxima vez que
ele fizer isso, vou dar um tapa nele.
Ofereço meu sorriso mais educado e balanço a cabeça. —Não,
obrigado. Estou aqui com alguém.
—Quem?
Bem. Odeio usar essa linha, mas é a única coisa que funciona em
caras como este. —Meu namorado.
O cara lança um olhar longo e duro para mim. No meu decote,
principalmente. Essa tensão constrangedora e terrível se constrói entre
minhas omoplatas novamente.
Que diabos? Isso deveria parecer bom. Um cara gostoso está me
olhando. Um cara gostoso quer pressionar seu corpo contra o meu em
sintonia com a música.
—Seu namorado deixa você sair assim? — Ele pergunta.
—Acredite ou não, tenho essa coisa engraçada chamada livre-
arbítrio. — Eu dou um passo para trás. —E não deixo os caras me
dizerem o que vestir.
—Seu namorado parece uma boceta
—Vou contar a ele saber seus sentimentos. — OK. A coisa do bar
não está funcionando. Hora da opção nuclear. Vou para o banheiro
feminino.
O cara segue. —Eu só quero conversar.
—E eu não.
Dou um passo rápido, mas mesmo com os calcanhares, tenho
pernas curtas e esse cara é todo tipo de altura. Ele é mais rápido do que
eu.
Ele agarra meu pulso. O direito. Balanço. Não é necessário dar um
tapa. Ainda. —Você não precisa ser tão rude—, diz ele.
Obviamente, sim, porque ele não está entendendo. Me viro, então
estou de frente para o imbecil. A raiva arde no meu estômago. Consigo
segurar minha língua. Há méritos em dizer a esse cara o que ele pode
fazer com a mão, mas parece bobagem causar uma cena. É mais fácil
escapar com uma desculpa cuidadosa. Não é necessário conflito.
—Com licença, banheiro feminino—, digo.
Ele me alcança novamente. Pulso esquerdo desta vez. Ok, é isso.
Puxo minha mão livre e vou dar um tapa nele.
Mas alguém me para. Sua mão se fecha ao redor do meu tríceps.
Há algo certo sobre isso. Algo mágico.
É o Drew. A mão de Drew está apertada no meu braço. Drew está
me tocando. Ele olha para o cara idiota. —Posso ajudar?
O cara olha para mim com descrença. —Este é seu namorado?
Jogo a Drew um olhar por favor. —Sim. E estamos muito ocupados
esta noite.
—Esse cara está te incomodando? — Drew pergunta.
—Está tudo bem.
—Não parece bem. — Os olhos de Drew se estreitam. Ele olha para
o cara. —Você a seguiu pelo salão de dança.
Ele estava me observando?
—Estávamos conversando—, diz o cara.
—Você a agarrou. Faça de novo e será a última vez que você tocará
em alguém ou em algo bonito—, diz Drew.
O cara segura o olhar de Drew. Tentando algum tipo de intimidação
e falhando miseravelmente. Quase me sinto mal por ele. O idiota não tem
ideia do que ele é.
O cara dá um passo atrás. Ele murmura baixinho. —Ela nem é tão
gostosa.
—Nós dois sabemos que isso não é verdade. — Drew desliza a mão
pela minha cintura. Mas o cara ainda está olhando para nós.
—Se você não sair nos próximos dez segundos, meu primeiro
contato será com seu rosto. E farei com que você valha a pena. Significa
que não poderei tocar minha guitarra amanhã. — Drew olha para o cara.
—Drew, querido. — Tento o meu melhor, somos totalmente uma
voz de casal. —Não. Ele não vale a pena. — Me viro para Drew. Deslizo
meu braço em volta do pescoço dele para vender tudo, somos claramente
duas coisas.
Mas o cara ainda está olhando para mim.
Drew olha para ele. —Você tem cinco segundos restantes. —Não
faz nada para assustar o cara.
Agarro o braço de Drew e aperto o mais forte que posso. De jeito
nenhum serei responsável pelo tipo de luta que nos expulsará do clube.
Drew se vira para mim. Ele pega minha mão e a coloca em seu
ombro. É como se ele estivesse prometendo que isso não sairia do
controle.
Seus olhos encontram os meus. Ele mexe com a boca você confia
em mim? Concordo. Sim. Claro.
Sua palma pressiona minha parte inferior das costas, empurrando
meu corpo contra o dele. Ele se inclina para mais perto. Os olhos dele se
fecham.
Os meus fazem o mesmo. Reflexo puro. Subo na ponta dos pés.
Seus lábios roçam nos meus. Um beijo rápido para começar. Então
é mais. Ele chupa meu lábio inferior. Ele enfia a outra mão no meu
cabelo.
Meu coração dispara até que esteja indo tão rápido que não consigo
acompanhar. Estou ciente de cada centímetro do meu corpo. A sensação
de luz no meu peito e estômago. A tensão das minhas panturrilhas. O ar
mais frio entre as minhas pernas.
É por isso que eu danço.
Drew me libera. Ele dá um passo para trás e parece que deseja
verificar se as costas estão limpas. Seu comportamento muda. Não é mais
meu namorado falso. Apenas o meu melhor amigo —Você está bem?
—Sim.
O braço dele volta para o lado dele. Seu corpo se afasta do meu.
Meu coração ainda está acelerado. Meu peito ainda está leve. Ainda estou
ciente de todos os lugares que se estendem ou se esforçam, de todas as
fugas, pressões ou zumbidos de eletricidade.
Drew me beijou. Para show, mas ainda.
Drew me beijou e meu corpo inteiro está excitado. Drew. Me.
Beijou.
E Deus, quero que ele me beije novamente.
FIM.

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