Metodologia Do Ensino de Futebol e Futsal
Metodologia Do Ensino de Futebol e Futsal
Metodologia Do Ensino de Futebol e Futsal
IESDE BRASIL
2020
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Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: EnvatoElements
6 A regra do jogo 89
6.1 Regras do futebol 89
6.2 Adaptações para categorias de base no futebol 97
6.3 Regras do futsal 99
6.4 Adaptações para categorias de base no futsal 103
Gabarito 125
APRESENTAÇÃO
Tanto o futebol quanto o futsal têm forte apelo na sociedade brasileira e
possuem vínculos com aspectos culturais. Poucas manifestações artísticas e
esportivas representam tão bem a cultura brasileira como esses esportes, que
possuem estilos próprios e personificam o estereótipo do brasileiro. Com o
tempo, eles evoluíram e ganharam proporção de espetáculo, movimentando
muito dinheiro e interesses às vezes escusos, mas, mesmo assim, sem
perderem sua força de encantamento junto aos jovens e às crianças.
A sociedade também se modificou. As grandes áreas e o espaço fértil
para a brincadeira informal perderam lugar para a urbanização, e o futebol
aprendido em ruas, campinhos e vielas agora passa a ser responsabilidade de
professores em escolinhas e outros ambientes formais.
Nesta obra, são levantadas questões importantes para o desenvolvimento
do jovem nas modalidades, como aspectos pedagógicos e metodológicos
aplicados ao futebol e ao futsal, abordando os meios de potencializar a
aprendizagem técnica, tática, física e psicológica, além de apresentar as
particularidades do processo de crescimento e maturação, as regras, as leis
e os direitos que regem os esportes. Tudo isso sem se desconectar de uma
visão holística, pautada no entendimento de que o futebol e o futsal são
construídos sob relações humanas e aliados à força atrativa que o esporte
tem para ser utilizado como ferramenta de educação e de construção de
valores de cidadania.
O objetivo desta obra é oferecer informações e induzir reflexões para que
você consiga, por meio do senso crítico, encontrar soluções para os diversos
desafios que emergirem durante sua caminhada como educador-treinador.
Bons estudos.
1
A história do futebol
e do futsal
O futebol é, sem dúvida, um dos esportes mais praticados no
mundo. Os números contabilizam algo em torno de 265 milhões
de pessoas o praticando em todo o planeta – além dos adeptos,
torcedores e admiradores mundo afora. Muito mais do que so-
mente uma mera atividade esportiva, esse esporte se tornou um
fenômeno global que influencia costumes e hábitos. No Brasil, o
futebol e o futsal invadem a vida cotidiana das pessoas, o que o
aproxima muito mais de um conceito de dimensão cultural. Para
perguntas como “o que você vai ser quando crescer?”, não é difícil
escutar a resposta: “quero ser jogador(a) de futebol”.
Já reparou que usamos metáforas futebolísticas em nossas con-
versas quase a todo momento? Quando algo nos agrada, foi “show
de bola”, se alguém foi desprezado, foi colocado “para escanteio”,
a quase conquista de um objetivo significa que “bateu na trave”.
Tanta influência na vida das pessoas já justificaria tal curiosida-
de em entender melhor esse fenômeno e como atingiu tamanha
magnitude. Mas compreender a importância dele como elemento
e parte integrante de uma sociedade é um dos papéis do educa-
dor, já que um esporte com tanta força e relevância pode ser uti-
lizado como ferramenta de educação, proporcionando inclusão
social, oportunidades, acesso à informação e assistencialismo.
De fato, não é só futebol, caso seja um apreciador da modali-
dade, você pode, de repente, ter várias informações a respeito do
futebol moderno, mas você sabe como esse esporte começou?
A partir de agora te convidamos a uma viagem na história pelas
lentes do futebol.
12
B
Figura 4
Pintura representando a prática que deu origem ao futebol
Breskit/Wikimedia Commons
Podemos perceber que as dimensões do campo não eram claras. Constantemente, os
expectadores do lado de fora recolocavam a bola em jogo com os pés, não sendo possível
estabelecer quem era jogador ou expectador.
1.2.1 Profissionalismo
Em 1872, foi disputada a primeira Football Association Cup, conheci-
da como FA CUP, uma tradicional competição atualmente. Pelas regras
da Associação de Futebol, os jogadores teriam que continuar sendo
Quadro 1
Copas do Mundo realizadas pela FIFA
brasileiras de futebol.
Quadro 2
Campeonatos organizados pela CBF
Masculino Feminino
las tiveram um grande papel nesse sentido. O país também foi o maior
1982
divulgador da modalidade, incentivando sua internacionalização. No ginásio do Ibirapuera, em São
Paulo, a Fifusa organizou o 1º
Em 1965, o esporte já havia se difundido por toda a América do Sul, Campeonato Mundial de Futebol
de Salão, com a participação
resultando na criação da Confederação Sul-Americana de Futebol de de Brasil, Argentina, Costa
Rica, Checoslováquia, Uruguai,
Salão, composta por Uruguai, Paraguai, Peru, Argentina e Brasil. Após Colômbia, Paraguai, Itália,
México, Holanda e Japão. O Brasil
sua vinculação à FIFA, em 1989, o futsal começou a ter grandes torneios venceu a final contra o Paraguai
por 1 a 0.
organizados, permitindo que a modalidade alcançasse uma grande vi-
1985
sibilidade mundial. Realizou-se, na Espanha, o 2º
Campeonato Mundial de Futebol
Mas qual é o nome correto, futsal ou futebol de salão? Bom, é im- de Salão organizado pela Fifusa.
Novamente o Brasil venceu.
portante que saibamos que não estamos falando do mesmo esporte.
Apesar de ser bastante comum usarmos os dois termos, o futsal teve 1988
sua origem no futebol de salão; inclusive seu nome é uma abreviação Diante das dificuldades da Fifusa
e projetando um futuro melhor
do esporte original. para o futebol de salão, ficou
decidido que a FIFA passasse a
comandar internacionalmente
Devido à sua enorme projeção e na tentativa de normatizar as o esporte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história moderna do nosso país também pode ser contada por meio
da evolução do futebol e do futsal. Ao aprofundar nossa visão histórica da
modalidade, estamos também abrindo caminho para discutir os próximos
rumos e o papel desses esportes como transformadores em uma socie-
dade moderna, tecnológica e mais individualista.
O futebol está longe da neutralidade. Ele serviu, em diferentes contex-
tos, contra os poderes opressivos, e para ações revolucionárias. Desde sua
origem, o esporte vem servindo para ideais nobres, como a paralisação de
guerras civis, a luta a favor da liberdade e o combate à fome e ao racismo,
mas também já serviu de ferramenta para ditadores e políticos oportunistas.
Portanto, contextualizar o futebol e o futsal dentro da sociedade
possibilita aos educadores a criação de estratégias de utilização dessas
modalidades de forte apelo cultural e aproximá-las de outras disciplinas e
ATIVIDADES
1. Estudar a história do futebol nos permite valorizar suas origens e
manter seus valores. O futebol nasceu como um esporte lúdico e,
como se vê, tornou-se uma grande indústria. Discuta essa ideia.
2. Apesar de ser um ambiente sempre recheado por machismo, hoje
podemos ver mulheres na arbitragem e em competições nacionais
organizadas pela CBF. Você acha que já podemos considerar que a
mulher já conquistou seu espaço no país do futebol?
3. O futebol brasileiro é reconhecido por ser celeiro de craques, pois a cada
geração temos um novo destaque chamando atenção dos grandes clubes
europeus. Descreva esse fenômeno pelo viés sociocultural e histórico.
REFERÊNCIAS
AGOSTINO, G. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. 2. ed. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2011.
BASTOS, P. V.; NAVARRO, A. C. O futsal feminino escolar. Revista Brasileira de Futsal e
Futebol, São Paulo, v.1, n.2, p.144-162, 2009.
CARVALHO J. E. Geopolitica: 150 anos de futebol. São Paulo: Ed. SESI-SP, 2012.
FIFA. London’s football history: Laws of the Game. FIFA, 2017. Disponível em: https://
www.fifa.com/the-best-fifa-football-awards/news/london-s-football-history-laws-of-the-
game-2902981. Acesso em: 21 maio 2020.
FIFA. From 1863 to the Present Day. FIFA, 2020a. Disponível em: https://origin.fifa.com/
about-fifa/who-we-are/the-laws/index.html. Acesso em: 21 maio 2020.
FIFA. History of the Laws of the Game - 1990-2000. FIFA, 2020b. Disponível em: https://
www.fifa.com/news/history-the-laws-the-game-1990-2000-435. Acesso em: 21 maio 2020.
FIFA. Archive. FIFA, 2020c. Disponível em: https://www.fifa.com/fifa-tournaments/archive/.
Acesso em: 21 maio 2020.
FUTEBOL brasileiro. CBF, 2020. Disponível em: www.cbf.com.br/futebol-brasileiro. Acesso
em: 21 maio 2020.
GOLDBLATT, D. The Ball is round: A Global History of Football. Ed Penguin UK, 2007.
KITCHING, G. Feature: modern sport: society and competition: the origins of football:
history, ideology and the making of ‘the people’s game’. History Workshop Journal, v. 79, n.
I, p. 127–153, 2015.
O ESPORTE da bola pesada que virou uma paixão. CBFS, 2020. Disponível em: https://www.
cbfs.com.br/futsal-origem. Acesso em: 21 maio 2020.
OLIVEIRA, A. F. Origem do futebol na Inglaterra no Brasil. Revista Brasileira de Futsal e
Futebol, São Paulo, v.4, n.13, p.170-174, set./out./nov./dez. 2012.
SARMENTO, C. E. A regra do jogo: uma história institucional da CBF. Rio de Janeiro: CPDOC,
2006.
(Continua)
26 Metodologia do ensino de futebol e futsal
Ensinar O professor-técnico deve estar alinhado às práti-
cas pedagógicas esportivas e, ao mesmo tempo,
mais do não deve esquecer que o futebol, pela sua força
que futebol sociocultural, tem papel preponderante na educa- Livro
a todos ção e formação humana.
Sugerimos a leitura do li-
vro Fora de Série – Outliers,
de Malcolm Gladwell. O
autor descreve, em dife-
Em modalidades como o futebol e o futsal, caracterizadas pela im-
rentes capítulos, histórias
previsibilidade, mecanizar o ensino parece ser pouco útil. Devemos re- que reforçam que o
talento surge do ambien-
pensar no método muito além do oferecimento de respostas prontas,
te onde o indivíduo está
de modo que possamos fazer as perguntas corretas e os alunos sejam inserido e da quantidade
de horas aplicadas para
capazes de construir suas respostas. O talento esportivo, assim como o
a construção de tal
talento em qualquer área, surge da qualidade e quantidade de estímu- habilidade.
los oferecidos, portanto, a responsabilidade do professor de potencia- Rio de Janeiro: Sextante, 2008.
lizar e otimizar o tempo do aluno em cada aula é crucial.
FFFFFF
Garganta (2015), o futebol, assim como os demais esportes
FFFFFF
coletivos, tem como característica a riqueza de situações im-
F F FF FFF
previsíveis. Durante o jogo, surgem tarefas motoras de
FFF
F
grande complexidade para as quais não existe um mo-
delo de execução e resolução fixo. Nesse contexto, não
há preocupação com a forma de execução, mas sim
com o cumprimento da tarefa. Assim, não há jeito certo
de fazer algo, contanto que seja feito. O futebol, por ser um jogo, deve
ser aprendido como tal, ou seja, jogando. O ensino pautado na fragmen-
tação do jogo em partes exclui a relação espaço-jogador e jogador-bola
e restringe drasticamente a eficiência do ensino (SCAGLIA et al., 2013).
Defende que, na fase funda- O jogo assume papel de conteú- Sua finalidade é a transformação
mental do desenvolvimento do e estratégia, sendo o princi- social, tendo os temas cultura
motor, as crianças devem pal meio de ensino. Ele deve ser corporal e visão histórica como
ser envolvidas na exploração utilizado em um ambiente praze- parte fundamental e integrante
e experimentação das suas roso para o praticante. dos conteúdos. Além disso, visa
capacidades motoras. A aula desenvolver o senso crítico e
deve privilegiar a aprendiza- questionador do indivíduo, esti-
gem motora, cognitiva e afe- mulando sua compreensão de
tiva de acordo com o nível mundo.
de crescimento e desenvolvi-
mento do aluno.
Exemplo com
Estilos de ensino Filosofia
treinamento de passe
É tudo que está presente fisica- Rege o jogo, fazendo ele funcionar,
mente no jogo, como bola, baliza, como a lógica do jogo, as operações
dimensão do campo, número de e as regras.
jogadores etc.
ATIVIDADES
1. É comum olharmos um jogador de futebol habilidoso e pensarmos
que ele nasceu para jogar. Porém, o talento esportivo parece ter pouca
relação com o inatismo. Discorra sobre esse tema.
REFERÊNCIAS
BETTEGA, O. B. et al. Formar o treinador e o jogador nas categorias de base do futebol:
Engendrando na interação e/ou na especificidade? Movimento, Porto Alegre, v. 25, e25021,
jan./dez. 2019. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/88087/52673.
Acesso em: 15 jun. 2020.
FINCK, S. C. M. A educação física e o esporte na escola. Curitiba: Ibepex, 2011.
3.1 Passe
Vídeo O passe, caracterizado pelo ato de impulsionar a bola e fazê-la che-
gar a um companheiro de equipe, é uma das ações mais importantes
do jogo coletivo, aliás, é esse fundamento que dará sentido à coletivi-
dade, permitindo a interação entre os integrantes da equipe. A palavra
passe por si só já é autoexplicativa no que concerne à manutenção da
posse de bola.
Iesde Brasil
Vídeo
No canal SoccerCoachTV,
6m trajeto da bola
há vários vídeos que
intenção do jogador permitem visualizar, por
meio do método de jogo,
modelos de treinamento
técnico de aprimoramen-
to de passe praticados
por grandes equipes do
6m futebol mundial.
Esse exercício estimula os jogadores a treinar o passe dentro de Disponível em: https://www.
youtube.com/channel/UCgKCQ-
uma brincadeira comum e em situação de jogo. Com isso, os atletas
JCkYrRKwqr-17inQsQ. Acesso em:
precisam estar ativos, preparados para orientar o corpo de modo a 3 jun. 2020.
executar o movimento, já que a bola se apresenta em condições alea-
tórias, aumentando o repertório dos participantes.
3.2 Domínio
Vídeo O domínio, também chamado de controle ou recepção, é caracteriza-
do pelo ato de interferir na trajetória da bola, reduzindo sua velocidade
e a amortecendo, ao ponto de o jogador tê-la completamente sobre
seu controle. Assim como o passe, ele apresenta ações técnicas e graus
de complexidade bastante variados.
Iesde Brasil
trajeto da bola
6m
intenção do jogador
Livro
A obra Futsal: metodolo- 6m
gia da participação, de
Santana, traz métodos O jogo se assemelha ao anterior e pode ser usado como progressão.
de ensino do futsal para
crianças, privilegiando a
O domínio é fundamental para que o jogo funcione e os jogadores
participação e desen- precisam estar atentos e dominar rápido para não perderem a bola.
volvendo o prazer pelo
esporte.
A orientação corporal mudará de acordo com a direção em que a bola
vem e o componente cognitivo (concentração, raciocínio, elaboração
SANTANA, W. C. 3. ed. São Paulo:
Companhia Esportiva, 2018. de estratégias e atenção) está presente mais uma vez, assim como no
exercício anterior.
3.3 Condução
Vídeo A condução consiste no ato de se deslocar em campo ou em quadra
mantendo a bola sob seu controle. Esse fundamento caracteriza uma
ação individualizada por meio de toques contínuos, normalmente utili-
zando os pés que garantem mais velocidade e precisão, porém outras
partes do corpo também podem ser utilizadas.
ednal/Shutterstock
ação fica limitada devido à irregularidade do terreno.
trajeto da bola
intenção do jogador
3.4 Drible
O drible é uma das técnicas mais difíceis e admiradas pelos torce-
Vídeo
dores. A habilidade nessa técnica depende muito da criatividade, da
versatilidade e da ousadia do executor. Esse recurso é utilizado para
transpor e se desvencilhar, desconstruir e desorganizar o sistema de-
fensivo do adversário por meio do duelo um contra um. Muito associa-
do à beleza do jogo, o jogador driblador normalmente é o protagonista
do momento ofensivo.
Iesde Brasil
Conceitos e Metodologias
de Treinamento, de Belozo um, com o objetivo de fazer o
e Lopez, apresenta con-
ceitos voltados ao trei-
máximo de gols em um minuto
namento dos aspectos de jogo.
10 m
técnicos, táticos e físicos
G G
por meio dos jogos, tema O jogo vai exigir coragem e
bastante pertinente
para complementar os
induzir a criatividade. O partici-
estudos na área. pante irá tentar diversas vezes
BELOZO, F.; LOPEZ, C. Jundiaí: Paco fazer o gol com base no en-
Editorial, 2017.
frentamento. Podem ser utili-
zados goleiros ou golzinhos 10 m
– sem goleiro. trajeto da bola
intenção do jogador
3.5 Chute
Vídeo O chute, também conhecido como remate ou finalização,
é o ato final da construção da jogada, é a concretização da
estratégia de ataque e tem como objetivo fazer com que
a bola adentre a meta e vença o goleiro adversário. O
ednal/Shutterstock
15 m
3.6 Cabeceio
Vídeo O cabeceio é um recurso muito comum nas bolas altas. Nos mo-
mentos ofensivos do jogo, ele também é utilizado como passe para um
colega e para a finalização da jogada ao gol. Nesse caso, os protagonis-
tas da ação são os atacantes, especialistas em golpear a bola para o gol
adversário. Nos momentos defensivos, o recurso é utilizado para inter-
ceptação de um passe aéreo ou para afastar a bola para o mais longe
possível de sua meta em situações de perigo. Variações são observadas
no modo de contato com a bola dependendo da velocidade, força e
altura pretendida com a ação. Para a finalização ao gol no momento
ofensivo, é mais comum observarmos a utilização da área frontal da
cabeça, a chamada testada. Essa técnica é menos comum no futsal
do que no futebol, já que o esporte de quadra se caracteriza
por menos jogadas aéreas e mais bola no chão.
ednal/Shutterstock
Fundamentos técnicos do futebol e do futsal 49
Para o treino das técnicas dessa posição, são recomendados os jo-
gos com o goleiro. É um pequeno jogo de cinco contra cinco. Em um
campo de dimensões reduzidas, 40 x 30 m, esse jogo ficará extrema-
mente dinâmico e ocorrerão finalizações a todo momento, exigindo ex-
Vídeo trema atenção e reações rápidas dos goleiros.
Assista ao vídeo Treina-
Iesde Brasil
mento Específico Global de
Goleiros, publicado pelo
canal Luis Henrique de
Moraes, em que identifi-
camos o desenvolvimento
30 m
de algumas habilidades
técnicas por meio do
G G
treinamento específico
para goleiros com ações
combinadas.
ATIVIDADES
1. As ações técnicas são importantes para o desenvolvimento e a
construção do jogo, porém especialistas defendem que o ensino não
deve estar pautado só na execução do gesto. Discuta esse tema.
REFERÊNCIAS
GARGANTA, J. et al. Fundamentos e práticas para o ensino e treino do futebol. In: TAVARES,
F. (org.). Jogos Desportivos Coletivos. Ensinar a jogar. Porto: Editora FADEUP, 2013.
GONÇALVES, G. Á.; NOGUEIRA, R. M. O. O treinamento específico para goleiros de futebol:
o uma proposta de macrociclo. Estudos, vida e saúde, Goiânia, v. 33, n. 4, p. 531-543,
jul./ago. 2006. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/
view/136. Acesso em: 2 jun. 2020.
JUNIOR, N. B. A Ciência do esporte aplicada ao Futsal. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.
ferentes momentos de jogo, ou seja, o modelo de jogo será construído São classificados como esportes
de invasão aqueles que possuem
com base no que se espera do comportamento da equipe nesses vários
características comuns na sua ló-
momentos. O treinador pode se perguntar: “o que eu quero que a mi- gica de progressão e de conquista
nha equipe faça assim que recupera a bola? Finalize a jogada o mais rá- de terreno do adversário para
chegar à meta, como o futebol,
pido possível ou mantenha a bola por mais tempo?”, “e quando minha futsal, basquetebol, handebol,
equipe perde a bola? Pressione o adversário ou feche os espaços de rúgbi, futebol americano etc.
progressão?”. Esses são exemplos genéricos e mais adiante estudare-
mos melhor os diferentes momentos e exemplos de comportamentos. Site
Para buscar mais
Dias (2014) e Gouveia (2019) ainda salientam que não existe um mo- informações sobre
delo de jogo melhor ou pior, a criação depende de todo um processo o assunto, não deixe
de acessar o site
de acumulação de experiências e autocríticas para aprendizagem cons- da Universidade do
tante. O modelo vai se construindo na ideia original do treinador e nas Futebol. Lá é possível
acessar diversos
interações com os jogadores, sendo, também, importante a capacidade artigos, reportagens e
do treinador de se adaptar às intercorrências que afetam o processo. vídeos produzidos por
renomados especialistas
Assim, fica claro que o sistema tático, apesar de ser alvo das análises do futebol e do futsal.
de comentaristas e torcedores, não é o ponto mais importante, mas
Disponível em: https://
deve ser entendido como a estrutura que permitirá a execução mais universidadedofutebol.com.br/.
Acesso em: 24 jun. 2020.
adequada do modelo pensado.
Figura 1
Os momentos do jogo
Organização
ofensiva
Transição Transição
ofensiva defensiva
Organização
defensiva
Adaptada pelo autor com base em Gouveia, 2019.
finalização
treinamento.
ou seja, é uma orientação e se torna evidente somente no plano didá- Disponível em: https://
tico, pois durante os jogos esses momentos acontecem aleatoriamente pedagogiadofutsal.com.br/. Acesso
em: 24 jun. 2020.
e de modo imprevisível (GOUVEIA, 2019).
O goleiro tem como função proteger sua meta e, para isso, é permitido
a esse jogador o uso de qualquer parte do corpo dentro da área. Segundo
Guimarães et al. (2014), a posição de goleiro foi a que mais evoluiu, devido
às modificações das regras, como a proibição do uso das mãos no recuo
para dentro da área, o que aumentou a frequência do uso dos pés. Dessa
forma, passes médios e longos são pré-requisitos de um bom goleiro,
além de boa agilidade e rapidez nas decisões para saídas de gol.
Figura 4
Formações 4-4-2 e variações (com quadrado no meio/com losango/com 2 linhas)
softpixel/Shutterstock
Livro
Para maior aprofunda-
mento nesse assunto
recomendamos o livro
Periodização Tática: o
futebol arte alicerçado
em critérios, que destaca
conceitos e aplicações
práticas destes, além de
propostas de organização Sistema 4-1-4-1 Sistema 3-5-2
e planejamento de treino,
como a estruturação do O sistema tático nada mais é que operacionalizar as ideias. Para
treino semanal dentro do
modelo de jogo. Leitão (2009), por exemplo, o esquema tático só faz sentido como re-
PIVETTI, B. São Paulo: Phorte, 2012. ferência se potencializar a ação dos jogadores e os comportamentos in-
dividuais e coletivos da equipe, para o cumprimento da lógica do jogo,
Figura 5
Posições tradicionais e distribuição em quadra
Goleiro
Fixo
Ala
Pivô
O goleiro tem como papel principal o uso das mãos para evitar gols
da equipe adversária. Fisicamente, ele se destaca pela agilidade e pelas
reações rápidas. Além dessas características já conhecidas, o goleiro de
NAVARRO, A. C.; ALMEIDA, R. São O pivô é o jogador referência do momento ofensivo, tanto para re-
Paulo: Phorte, 2008. ceber e distribuir as bolas comandando o ataque quanto para se mo-
vimentar, abrindo, assim, espaços para os demais jogadores chegarem
por trás. Normalmente o jogador que recebe essa função tem boa orien-
tação corporal para jogar de costas para o gol e boa capacidade física
para giros rápidos, além de excelente finalização (BATISTA et al., 2014).
Figura 6
Formações de jogo
Sistema 2x2
Sistema 3x1
Sistema 1x3
Sistema 4x0
ATIVIDADES
1. Neste capítulo, foi abordada a importância de se adotar um modelo de
jogo, pois este parece ser um ponto fundamental para que as unidades
de treino tenham sentido e objetivo. Por qual razão o sucesso do
modelo depende da compreensão do contexto local?
REFERÊNCIAS
BATISTA, N. R. et al. Modelo do jogo de futsal e subsídios para o ensino. Movimento, Porto
Alegre, v. 20, n. 3, p. 1039-1060, jul./set. 2014. Disponível em: http://www.redalyc.org/
articulo.oa?id=115332101010. Acesso em: 24 jun. 2020.
CORREIA, P.; RIBAS, T.; SILVA, V. Uma ideia de jogo, momento de organização ofensiva, 1 ed.
Estoril: Prime Books, 2014.
COSTA, I. T. et al. Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação. Motriz, Rio
Claro, v. 15, n. 3, p. 657-668, jul./set. 2009.
DIAS, H. Sport Lisboa e Benfica 2013/2014: uma visão sobre o modelo de jogo de Jorge Jesus e
sua operacionalização. Estoril: Prime Books, 2014.
Figura 1
Distribuição das médias de velocidade da distância total percorrida por uma equipe em uma partida
de 14,1 a 19 km/h
de 11,1 a 14 km/h
Podemos observar, pelo gráfico, que uma pequena parte desse to-
tal corresponde a altas intensidades, o que representaria, de acordo
com FIFA (2020), 500 a 800 m de corridas em alta intensidade (19 a
23 km/h) e 200 a 350 m de arranques (+ de 23 km/h). Apesar de haver
grande predominância dos deslocamentos de média e baixa intensida-
Figura 2
Variação da frequência cardíaca durante uma partida
100
90
% de FC máx.
80
70
60
00:00:00
00:15:00
00:30:00
00:45:00
01:00:00
01:15:00
01:30:00
01:45:00
Tempos de partida (hr:min:seg)
Fonte: FIFA, 2020, p. 125.
Tabela 1
Princípios do treinamento de velocidade e treinamento de velocidade resistida
Intensidade Número de
Exercício(s) Recuperação
(%) repetições
Resistência de
>5x o tempo
velocidade 10 - 40 seg. 70 - 100 2 -10
de exercício
(produção)
Resistência de
<3x o tempo
velocidade 10 - 90 seg. 40 - 100 2 - 15
de exercício
(manutenção)
Figura 3
Capacidades condicionantes aplicadas ao futebol
Desempenho anaeróbio:
• máxima potência
Velocidade
anaeróbia;
• capacidade anaeróbia;
• frequência de
produção de energia.
Força Resistência
• excêntrica; aeróbia;
/
05
r13
• frequência de
produção de força.
Fonte: Elaborada pelo autor.
A ciência atual já reconhece que é possível aumentar e desenvolver ARRUDA, M. de; HESPANHOL, J. São
Paulo: Phorte, 2009.
a força sem impor altas cargas, por meio de um modelo em que uma
Figura 4
Representação do modelo de desenvolvimento esportivo em meninos e meninas
Idade
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 +
cronológica
PRÉ-
MATURAÇÃO INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA ADULTO
-INFÂNCIA
Movimentos fundamentais
Movimentos
específicos
QUALIDADES Força
FÍSICAS
Velocidade
Agilidade
Hipertrofia
Movimentos funda-
mentais
Movimentos
específicos
QUALIDADES
FÍSICAS Força
Velocidade
Agilidade
Hipertrofia
Fonte: Adaptada de Lloyd e Oliver, 2012.
Figura 6
Curva do pico de velocidade de crescimento
PVC
10 PVC 10
Meninas - altura cm/ano
9 9
Meninos - altura cm/ano
8 fase de menarca 8
7 estirão 7
6 6
5 5
4 início do período 4
3 de estirão 3
2 2
1 1
0 0
4 6 8 10 12 14 16 18 4 6 8 10 12 14 16 18
a
seios b pênis
idade
pelos pubianos idade pelos pubianos
testículos
Fonte: Adaptada de Balyi, 2016.
Tabela 2
Exemplo de formatos de jogos condicionantes em espaço reduzido
Número de Dimensão
Tempos Notas
jogadores do campo
Dois dos testes mais conhecidos são o Counter Moviment Jump (CMJ)
e o Squat Jump. Esses são testes utilizados e validados para a potência
de membros inferiores e força de membros inferiores, respectivamente
(TURNER, STEWART, 2014). Além de permitirem o acompanhamento da
evolução do atleta, de modo prático e rápido, também têm sido usados
como ferramenta para indicar fadiga no controle de carga.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os treinos de futebol e de futsal devem estar intimamente ligados às
ações que ocorrem durante o jogo. Logo, entender bem as características
do esporte com o qual estamos lidando é um dos pilares para potencializar
as ações dos atletas. Dependendo da posição ou função do jogador, suas
demandas fisiológicas são diferentes. Então, o modelo de jogo adotado pela
equipe, a sincronia e a organização desta estão associados às exigências
motoras durante a partida. Uma equipe desorganizada será evidentemen-
te mais exigida; as dimensões física, tática, técnica e psicológica, apesar de
serem interdependentes, estão interagindo o tempo todo durante uma par-
ATIVIDADES
1. Foi destacada a questão da idade biológica versus idade cronológica.
Descreva como esse aspecto pode influenciar a formação e o
desenvolvimento de crianças e jovens no esporte.
REFERÊNCIAS
BALYI, I. et al. Long-term athlete development. 2. ed. Victoria: Sport for Life Society, 2016.
BANGSBO, J. Performance in sports – With specific emphasis on the effect of intensified
training. Scandinavian journal of medicine & science in sports, v. 25, n. 4 , p 88–99, dez. 2015.
BARBANTI, V. J. Treinamento esportivo: as capacidades motoras dos esportistas. Barueri:
Manole, 2010.
BARROS NETO, T. L. de; GUERRA, I. Ciência do futebol. Barueri: Manole, 2004.
BRADLEY, P. S. et al. High intensity running in english FA Premier League soccer matches,
Journal of sports sciences, v. 27, n. 2, p. 159-168. jan. 2009. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1080/02640410802512775. Acesso em: 26 jun. 2020.
BOURDON, P. C. et al. Monitoring athlete training loads: consensus statement. International
journal of sports physiology and performance, v. 12, n. 2, p. 161-170, 2017. Disponível em:
https://doi.org/10.1123/IJSPP.2017-0208. Acesso em: 26 jun. 2020.
DIAS, H. A construção de um jogar. 1. ed. Lisboa: Prime Books, 2016.
FIFA. Departamento de educación y desarrollo técnico de la FIFA. Youth football training
manual. Suíça: Galledia AG, 2020. Disponível em: https://resources.fifa.com/image/upload/
youth-football-training-manual-2866317-2866318.pdf?cloudid=dfy8m3wrgr1bdxxjiu2c.
Acesso em: 26 jun. 2020.
A regra do jogo 89
justiça no jogo, o futebol passou a contar com o árbitro de vídeo a partir
da Copa do Mundo de 2018, fato marcante para o esporte que passou
por poucas alterações ao longo dos anos. Conforme destacado na intro-
dução, nesta seção apresentaremos ao aluno um resumo das 17 regras
do futebol. Esse resumo está baseado no manual de regras mais recente
publicado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2019).
Shutterstock/MaksymA
Linha de meio campo
16,5 m
5,5 m Grande
Meio de campo área
Gol
45 – 90 m
11 m
40,3 m
Círculo 7,31
9,15 m
9,1 central x
5m Marca 2,44 m
5,5 m do
pênalti
11m
1m
Fonte: Elaborada pelo autor.
90 Metodologia do ensino de futebol e futsal
Os postes de meta possuem duas traves verticais, unidos por uma
barra transversal horizontal chamada de travessão. A altura dos postes
é de 2,44 m e a distância entre eles é de 7,32 m.
Regra 2 – A bola
grebeshkovm
empatado haja a prorrogação, será permitida uma substituição a mais.
Em partidas amistosas, é possível a flexibilização dessa regra em co-
axim/Shutte
mum acordo entre as duas equipes e os árbitros para promover maior
participação (CBF, 2019).
A regra do jogo 91
Regra 5 – O árbitro
wikimedia.commons
(CBF, 2019).
A regra do jogo 93
mãos e ela entre na meta adversária, não será marcado gol, mas sim
um tiro de meta. O time que conseguir o maior número de gols vence
a partida. Se duas equipes obtiverem o mesmo número de gols ou não
marcarem, será decretado empate (CBF, 2019).
Regra 11 – Impedimento
A regra do jogo 95
Em geral, as infrações devem ser punidas com advertência verbal.
Além disso, a reiteração dessas infrações ou as de natureza flagrante
podem ser punidas com cartão amarelo ou cartão vermelho. O cartão
amarelo é utilizado para comunicar uma advertência e o cartão ver-
melho para comunicar uma expulsão (CBF, 2019).
É lateral para uma equipe quando seu adversário toca pela última
vez na bola antes desta sair pela linha lateral do campo, ultrapassan-
A regra do jogo 97
Foi aprovada pela International Board a possibilidade de as federa-
ções e associações de cada país adotarem adaptações para as catego-
rias de base, principalmente nas fases iniciais. As adaptações podem
ser nas dimensões do campo, no tamanho e peso da bola, na altura e
largura das traves, no número de jogadores, no tempo de duração da
partida, no número de substituições, nas medidas disciplinares etc.
5m
A quadra deve conter uma linha que di-
vide suas duas metades. No ponto médio
10 m dessa linha há uma marca em forma de cír-
culo medindo 10 cm, usado para o início e
reinício de jogo e um círculo maior de 3 m
de raio.
3m
possui raio de 6 metros. O ponto do tiro de
canto está nos cantos da quadra. Há ainda
uma marca para o tiro livre direto sem bar-
reira, também chamado de segundo ponto
penal, que fica a 10 m da meta adversária e
de frente para o gol e uma demarcação a 5 m
da linha de meta, que determina o limite do
goleiro na cobrança desse tiro (FPFS, 2020).
6m
3x2m
Fonte: Elaborada pelo autor.
A regra do jogo 99
Figura 8 Regra 2 – A bola
Bola oficial
O padrão da bola deve obedecer às medidas de no mínimo 62 cm
e de no máximo 64 cm, pesando de 410 a 430 g, e deve ser feita
BB
BB
Uma recente modificação proposta pela FIFA determina que dos jogado-
res reservas somente 5 poderão permanecer em processo de aquecimen-
to, os demais deverão estar sentados no banco (FPFS, 2020).
Será gol quando uma equipe conseguir fazer com que a bola aden-
tre a meta adversária, ultrapassando completamente a linha de meta
(FPFS, 2020).
Regra 11 – Impedimento
Acontece toda vez que a bola sai de jogo pela linha lateral da qua-
dra. Deve ser executado com os pés, no local onde a bola saiu. O exe-
Site
cutor deve estar de frente para a quadra e o adversário deve respeitar
Indicamos o site oficial da
uma distância mínima de 3 m para a execução. Se o chute saído da
Confederação Brasileira
lateral for para o gol, deverá ser validado somente se houver desvio de de Futebol de Salão, que
traz diversas informações
outro jogador (FPFS, 2020).
sobre o mundo do futsal,
além de disponibilizar
Regra 16 – Arremesso de meta
o livro de regras mais
Será concedido um arremesso de meta sempre que a bola, após ter recente, notícias sobre
a seleção brasileira e as
sido tocada pela última vez por jogador da equipe atacante, sair pela li- principais competições
nha de meta, ultrapassando-a completamente. Para a execução, a bola nacionais.
deve estar nas mãos do goleiro e este deve lançá-la de qualquer ponto Disponível em: https://www.cbfs.
com.br/. Acesso em: 3 jul. 2020.
de dentro da área (FPFS, 2020).
Disponível em: https:// No futsal, as bolas têm tamanhos e pesos diferentes para adequar-
www.youtube.com/ -se às categorias de base, conforme apresentado na tabela a seguir.
watch?v=4XZUwkvVQ7w. Acesso
em: 3 jul. 2020. Tabela 1
Classificação das categorias e suas respectivas bolas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor de futebol e futsal não precisa ter necessariamente forma-
ção em arbitragem para ser capaz de ensinar as modalidades em questão,
porém é imprescindível que tenha o domínio das regras para poder trans-
mitir os valores do jogo. O esporte não tem a pretensão de resolver todos
os problemas da educação, mas por trás do respeito às regras do jogo
está o respeito por toda regra, respeitar a ética do jogo ensina a respeitar
as éticas de civilidade e convivência.
O professor de Educação Física é o transmissor e divulgador das regras
do jogo por meio das aulas, dos treinos e das competições. É com ele que
ATIVIDADES
1. Imagine que você é um árbitro de futsal e momentos antes de iniciar
a partida uma das equipes compareceu com apenas três jogadores.
Durante o jogo, um desses atletas foi advertido com o segundo cartão
amarelo e foi, consequentemente, expulso. Qual postura deve ser
adotada nesse caso? E se a competição fosse na categoria sub-9?
REFERÊNCIAS
CBF. Livro de regras 2019-2020. CBF, 23 out. 2019. Disponível em: https://www.cbf.com.br/a-
cbf/arbitragem/aplicacao-regra-diretrizes-fifa/livro-de-regras-2019-2020-portugues. Acesso
em: 2 jul. 2020.
FIFA. Manual FIFA de futebol base. Grassroots, 2016. Disponível em: https://grassroots.fifa.
com/fileadmin/user_upload/pdfs/grassroots_2016__e.pdf. Acesso em: 2 jul. 2020.
FPFS. Livro nacional de regras 2020. FPFS, 2020. Disponível em: http://www.
federacaopaulistadefutsal.com.br/novo/wp-content/uploads/2020/03/Livro-Nacional-de-
Regras-2020-Paraguassu-em-PDF.pdf. Acesso em: 2 jul. 2020.
2
Planificar os treinos em função de jogos, campeonatos e torneios, além
de não prestigiar o calendário escolar, como provas, férias, trabalhos.
Vídeo
6
Indicamos o vídeo
Reprimir o erro, desencorajando a tentativa e a descoberta.
Passaporte SporTV: projeto
da federação alemã de
futebol desenvolve esporte
no país, publicado pelo
7
Comportar-se de maneira autoritária e inibir opiniões e expressões
site SporTV. Nesse vídeo
individuais. é apresentado o modelo
de desenvolvimento
esportivo para o futebol
O professor de Educação Física, como personagem mediador do pro- na Alemanha, onde es-
porte e educação andam
cesso ensino-aprendizagem no futebol e no futsal, deve estar ciente das
juntos.
suas responsabilidades na vida dos jovens e das crianças. A ele cabe a
Disponível em: http://sportv.
busca pelo conhecimento e a continuidade de seu processo evolutivo por globo.com/videos/copa-2014/t/
meio de capacitações e trocas de experiências com colegas. Além disso, es- ultimos/v/passaporte-sportv-
projeto-da-federacao-alema-
pera-se que ele seja autocrítico e se permita momentos de autorreflexão. de-futebol-desenvolve-esporte-
no-pais/3410696/. Acesso em: 6
Analisar os pontos positivos e negativos, após uma sessão de treino jul. 2020.
ou uma aula, por exemplo, é um exercício importante no processo
Quadro 1
Faixas etárias e respectivos conteúdos dos momentos ofensivos e defensivos
Defesa Ataque
5 anos – 8 anos
Jogos variados e diversificados com passagens pelas funções ofensivas e defensivas de maneira livre.
9 anos – 11 anos
Referências baseadas no oponente, pouca limitação Desenvolver jogo direto (passes longos), mas apre-
de espaço, ênfase na devesa por setor, ocupação sentando opções para um jogo de passes curtos.
de espaços e aproximação com abordagem, dobra Procurar equilíbrio setorial na distribuição dos joga-
de marcação, fechamento de linha. Posicionamento dores, pois as movimentações centram-se muito na
atrás e à frente da linha da bola, principalmente nos trajetória da bola. Referenciais que facilitem a orga-
momentos de recomeço do jogo (tiro de meta, falta, nização ofensiva no momento de recomeço do jogo.
lateral e escanteio). Busca por situações de superioridade numérica.
12 anos – 14 anos
Educar a defesa individual por setor em espaço de- Inserção de jogo de passes curtos. Reforçar movi-
limitado. Estimular compactação em largura e pro- mentos em compactação, movimentos com alter-
fundidade. Priorizar ações mais setoriais do que in- nância simples de posições durante a construção
dividuais. Pressionar o portador da bola, induzindo ofensiva. Incrementar movimentos com e sem bola
para o lado mais fraco. Apresentação de noções de para situações de superioridade numérica dese-
retorno para trás da linha da bola em momentos de quilibrando a defesa adversária. Usar espaços nos
quebra de marcação. Bloqueio de corredores, prin- corredores laterais do campo ofensivo por meio da
cipalmente o central. Desenvolvimento de ações ini- circulação da bola, para, assim, propiciar situações
ciais com o goleiro atuando na cobertura. de finalização.
(Continua)
15 anos – 17 anos
Aperfeiçoar a defesa individual por setor com refe- Jogo com maior frequência de passes curtos, apro-
rências zonais. Constituir linhas defensivas e com- ximação e abertura de linhas de passe. Criação de
pactação do bloco. Criação de zonas de pressão. linhas de passe em todos os setores. Utilização do
Movimentações que consigam induzir a bola para goleiro como linha de passe facilitadora da manuten-
zonas de pressão. Estratégias coletivas para reequi- ção da posse de bola. Criação de movimentos mais
líbrio após quebras de linhas defensivas. Desenvol- frequentes com alternância de posições. Movimenta-
vimento de ações de pressing na busca da retomada ções para quebra de linhas defensivas do adversário
da posse de bola. e consequente abertura de espaços para infiltrações.
≥ 17 anos
Quadro 2
Manifestações do esporte e princípios fundamentais
ESPORTE
Formas de exer-
cício do direito Esporte-educação Esporte-lazer Esporte-desempenho
ao esporte
Participação
Educação Desenvolvimen- Participação
Desenvolvimento esportivo
Cooperação to esportivo Prazer
Princípios Competição – Êxitos
Responsabili- Espírito espor- Desenvolvimento
Superação
dade tivo esportivo
Inclusão
Fonte: Tubino, 2010, p. 44.
Figura 2
Professor em momento de integração com os alunos
Shutterstock/ Rawpixel.com
UNIDADES ATIVIDADES
Conversa inicial
Ativação e preparação
Parte principal
– 40 minutos Jogo mais complexo
Transferência
Volta à calma
Feedback de aprendizagem
TOTAL = 60 minutos
Por que não utilizarmos o futebol, por exemplo, para despertar o in-
teresse por geografia, conhecendo a localização e as características dos
países que disputarão a próxima Copa do Mundo? Ou que tal discutir
história ou política usando os países-sede, talvez debatendo estatística
e matemática para probabilidades de uma equipe ser bem-sucedida
em um torneio, além de outros aspectos que podem ser aproximados,
como saúde, meio ambiente, sexualidade, ética etc.
vas devem ser compreendidos como um fenômeno Na obra Metodologia dos jogos condicionados
para o futsal e educação física escolar, o professor
social e imprescindível para assegurar os direitos à Balzano propõe reflexões sobre o jogo e sua
cidadania. Esse pressuposto reforça o reconheci- relação com o desenvolvimento humano. Além
disso, o autor destaca diretrizes metodológicas
mento do esporte como direito de todo cidadão já para o ensino do futsal na escola e oferece uma
garantido pela nossa constituição. O esporte é fruto coletânea de 178 jogos, divididos por objetivos,
idades e fundamentos, entre outros aspectos.
das relações humanas e esse princípio deve ser sem-
BALZANO, O. N. 1. ed. São Paulo: Fontoura, 2012.
pre lembrado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O esporte em suas mais diversas manifestações deve ser estimula-
do dentro da escola, porém com viés mais profundo, ou seja, além da
visão do esporte vendido pelos veículos midiáticos, trazendo significado
para o aprendizado da modalidade. Observamos atualmente as aulas
de Educação Física e manifestações esportivas perdendo cada vez mais
espaço na escola, sendo delegada essa função a clubes e outros espa-
ços específicos. Na contramão a esse movimento, a sociedade contem-
porânea vem valorizando cada vez mais os valores contidos no esporte.
Características como competitividade, senso de coletividade, trabalho em
equipe, respeito a regras e hierarquia, responsabilidade e disciplina, re-
siliência e flexibilidade são exigências do mercado de trabalho atual, por
exemplo, e claramente inerentes ao esporte.
Nesse processo, o professor tem papel fundamental e sua atuação nas
aulas de Educação Física deve incluir ações pedagógicas que favoreçam
a inserção do esporte na cultura e na vivência do indivíduo por toda a
vida, desenvolvendo os hábitos saudáveis que a prática esportiva pode
proporcionar. É importante sabermos que qualidades como amorosida-
de, empatia, respeito e tolerância são fundamentais para a bem-sucedida
prática pedagógica.
Independentemente da vertente do esporte e dos objetivos aos quais
se propõe, está claro que o futebol e o futsal são fenômenos culturais que
se manifestam por meio das relações humanas. Enxergá-los apenas pelo
viés da performance é reduzir a visão sobre uma condição humana com-
plexa. Independentemente da idade a qual se destinam e do ambiente em
que são oferecidos, o futebol e o futsal, pela sua magnitude, devem cumprir
o papel de promover a saúde mental e física.
REFERÊNCIAS
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composição de uma proposta pedagógica. Movimento, v. 21, n. 3, p. 791-801, jul./set. 2015.
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Brasília, DF, 24 mar. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/
L9615consol.htm. Acesso em: 3 jul. 2020.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília, DF: Senado Federal, Coordenação
de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/
handle/id/534718/eca_1ed.pdf. Acesso em: 3 jul. 2020.
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Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
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CAVALCANTI, L. A. Fatores que motivam alunos, professores e gestores na prática e
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FINK, S. C. M. A Educação e o esporte na escola. Cotidiano, saberes e formação. 2 ed. Curitiba:
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GALATTI, L. R.; PAES, R. R. Fundamentos da Pedagogia do esporte no cenário escolar.
Movimento & percepção, v. 6, n. 9, jul./dez. 2006.
GARGANTA, J., et al. Fundamentos e práticas para o ensino e treino do futebol. In: TAVARES,
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REZER, R. Pressupostos orientadores para o ensino dos “futebóis” na educação física
escolar. Cadernos de Formação RBCE, v. 1, n. 1, p. 71-87, set. 2009.
TUBINO, M. J. G. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá:
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UNESCO. Carta Internacional da Educação Física, da Atividade Física e do Esporte. Unesdoc,
2015. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000235409_por. Acesso
em: 3 jul. 2020.
3. Para que seja útil como ferramenta de ensino, o jogo deve contemplar
principalmente as competências das crianças de modo coerente com
as fases de desenvolvimento e momento biológico. Dessa forma,
deve principalmente atrair as crianças com tarefas plausíveis às suas
capacidades, senão a atividade será desmotivadora.
Gabarito 125
3 Fundamentos técnicos do futebol e do futsal
1. O ensino das técnicas deve estar pautado na ideia de contextualizar o
que está sendo aprendido. O foco somente no movimento desfavorece
o aprendizado do esporte como um todo, mecanizando e criando
repetidores de gestos e não pensadores do jogo.
6 A regra do jogo
1. No caso citado, em uma partida oficial, o árbitro não deve permitir a
continuidade do jogo, encerrando-o, pois segundo a Regra 3, não é
permitida a realização de uma partida com uma equipe com menos de
três jogadores. Porém, a segunda parte da questão traz a necessidade
de enxergar com outros olhos a rigidez da regra. Caso não haja um
regulamento específico para essa competição nessa situação, caberá o
bom senso dos organizadores e professores envolvidos, ou seja, uma
suspensão temporária ou uma advertência verbal pode fazer com que a
regra seja mais flexível e não haja a necessidade de excluir o jovem.
Gabarito 127
na utilização de qualquer gesto dos braços que dê margem a uma
interpretação contrária dessa citada, será assinalado o pênalti.