Tim Lopes

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A morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, foi um dos crimes mais chocantes que o

Rio já testemunhou. O gaúcho Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, então com 52


anos, desapareceu no dia 2 de junho de 2002, quando fazia uma reportagem sobre
abuso de menores, e tráfico de drogas em um baile funk da Vila Cruzeiro, na Penha,
Zona Norte carioca. Depoimentos de testemunhas e dos envolvidos no caso indicaram
que Tim foi sequestrado, torturado, julgado e executado por traficantes, comandados
por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco. Em 9 de junho, a polícia confirmou o
assassinato do jornalista.
Tim sempre foi conhecido por seu olhar humano e por lutar pelas causas sociais. Sua
primeira matéria para o jornal alternativo O Repórter retratava bem isso. A
reportagem retratava as precárias condições que os operários da construção do metrô
do Rio trabalhavam. Ele sentiu isso na pela. Para produzi-la, trabalhou por um
período na construção.
Em sua carreira, ele também trabalhou na sucursal do Rio de Janeiro da Folha de S.
Paulo, no Jornal do Brasil, O Globo e O Dia. Neste último, inclusive, se destacou
pela série de reportagens intitulada ‘Funk: som, alegria e terror’, no qual
mostrava como os cidadãos das favelas do Rio eram submetidos ao terror sob as leis
dos traficantes. Ele achava que o governo do Rio cedeu o controle de bairros pobre
a traficantes violentos.

Em 1995, foi trabalhar no Fantástico, da Rede Globo, tornando-se produtor do


programa no ano seguinte. Seis anos depois, em 2001, Tim e sua equipe recebeu o
Prêmio Esso, um dos maiores do jornalismo brasileiro, por uma série de
investigações que foi intitulada de Feirão das Drogas.

Usando uma câmera escondida, ele mostrou como traficantes iam às ruas livremente
para venderem cocaína aos pedestres. Além dos mais, ele também registrou
traficantes desfilando em suas motos enquanto estavam armados com algumas AK-47. O
registro foi feito dentro da Grota, uma área conhecida dentro do Complexo do
Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

A matéria foi ao ar no Jornal Nacional no dia 3 de agosto de 2001. A reportagem


recebeu muita atenção e pressionou a administração política do Rio para agir contra
tais atos criminosos. A partir daí, as ações policiais começaram. Primeiro com a
repressão de traficantes na favela da Grota e em outras comunidades, que foram
impedidos de venderem drogas nas ruas e, depois, com a apreensão de alguns deles,
dentre os quais estava Ratinho. Obviamente, a alta cúpula do tráfico não ficou nada
contente com a diminuição das vendas e com a prisão de alguns membros de suas
facções.

Na tarde do dia 2 de junho de 2002, Tim saiu de seu apartamento em um bairro de


classe média de Copacabana, no Rio de Janeiro, e foi até os escritórios da Globo.
Tim ficou sabendo que um grupo de traficantes que comandava a favela de Vila
Cruzeiro realizaria um baile funk naquela noite e que, durante a festa, eles
promoveriam a prostituição infantil.

Durante décadas, a comunidades mais pobres do Rio foram negligenciadas pelas


autoridades, que as considerava como lugares fora do controle do Estado. Com essa
lacuna, o trafico e a venda de drogas se espalhou pelos locais. Além dos
entorpecentes, os bailes funks também eram regados com a exploração de meninas
menores de idade, que eram obrigadas a fazerem sexo em público.

Tim foi informado que as meninas que não participassem dos bailes, seriam alvo de
represálias depois. "Tim Lopes foi chamado porque não havia ninguém para ouvir seus
problemas. A comunidade contou muitas vezes à polícia e nada foi feito", relatou
Nassif Elias Sobrinho, presidente do sindicato de jornalistas do Rio.

Com uma câmera escondida em um pacote em sua cintura — e sem celular, carteira e a
camisa social que ele havia deixado na Rede Globo — Lopes foi fazer imagens ao
longo da Rua Oito, na Vila Cruzeiro. Ele tinha o objetivo de gravar imagens de
traficantes com drogas e armas, assim como havia feito em 2001 na favela da Grota.
Posteriormente, foi descoberto que Tim havia filmado a Vila Cruzeiro em três
ocasiões antes daquela noite.

Tim estava na calçada de um bar, onde havia comprado uma cerveja, quando foi
abordado por André da Cruz Barbosa, o André Capeta, e Maurício Lima Matias, o
Boizinho. Os traficantes foram alertados por um menino que havia visto uma pequena
luz vinda da cintura do jornalista.
Ao ser confrontado, Tim Lopes revelou ser jornalista, mas com estava sem
credencial, acabou sendo espancado. Os traficantes que o abordaram entraram em
contato com o chefe do narcotráfico do local, Elias Pereira da Silva, o Elias
Maluco.

Eles receberam ordens para levá-lo até o topo da favela da Grota. O jornalista
ainda foi alvejado por tiros em seus pés ou pernas antes de ser jogado no porta-
malas de um carro. Atravessando cerca de 5 quilômetros de favela adentro , Tim foi
ne sede do tráfico, onde Elias Maluco o estava esperando.
Segundo as investigações, no local do julgamento de Tim, havia cerca de 20 homens.
Todos traficantes ligados a bocas de fumo importantes da região. Houve uma votação,
e apenas 9 desses bandidos quiseram participar do processo. Boa parte deles se
absteve ou achou um péssimo negócio matar um jornalista da Rede Globo, ainda mais
Tim Lopes, o qual tinha origem na comunidade, portanto, bastante conhecido e aceito
pela população.
Mas, mesmo com a discussão e sem consultar a alta cúpula da organização criminosa
da qual faziam parte, pois Fernandinho Beira-Mar estava preso, Elias Maluco,
Ratinho e André Capeta queimaram os olhos de Tim com cigarros, amarram-no em uma
árvore e o espancaram por mais de meia hora.

Depois dos intermináveis socos e pontapés, Elias Maluco finalizou o crime decepando
as mãos, braços e pernas do jornalista, usando uma espada ninja, tudo isso com o
jornalista ainda vivo. O corpo foi carbonizado dentro de vários pneus, que os
traficantes chamavam de micro-ondas e depois jogado dentro de uma vala que foi
coberta de terra, em um local com o sinistro nome de Pedra do Sapo.
O crime chegou aos ouvidos de todos os bandidos cariocas, que realizaram debates
para conjecturar como sairiam daquela situação, pois entendiam que a polícia
ocuparia boa parte dos morros por meses a fio, atrapalhando o comércio de
entorpecentes e armas.

Após dias de investigação, a polícia chegou aos restos mortais de Tim e começou uma
caçada incessante para prender Elias Maluco. Alguns jornais chegaram a publicar que
membros de uma organização criminosa o teriam escondido em São Paulo. Mas, no final
de 2002, o criminoso foi capturado, exposto, julgado e condenado por tráfico de
drogas e homicídio triplamente qualificado, pegando 28 anos de prisão. O destino
dos outros 8 participantes do crime foi parecido: três deles morreram em confronto
com a polícia, os outros 5 foram julgados e condenados pelas mesmas práticas.
A morte de Tim foi um marco para a história do jornalismo e política de segurança
no Rio de Janeiro. Após o caso, as equipes de TV passaram a rever questões
envolvendo a segurança de seus funcionários, além disso, toda a crueldade e sistema
de julgamentos e mortes impostas por traficantes vieram à tona em filmes e
produções literárias e jornalísticas posteriores. O delito também levantou a
discussão sobre o poder paralelo nos morros e a insuficiência do Estado em ocupar
com a força policial e demais serviços públicos as comunidades cariocas.

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