Bens Temporais Da Igreja

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LEGIS
LAÇÃO
PARA A
ADMINISTRAÇÃO DOS
BENS TEMPORAIS DA
IGREJA NA
DIOCESE DE VIANA
DO CASTELO
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3
4

Título Legislação para a Administração


dos Bens Temporais da Igreja na
Diocese de Viana do Castelo

Editor Diocese de Viana do Castelo

Ano 2012

Tiragem 1000 exemplares

Design Paulo Gomes

Tipografia Viúva de José de Sousa, Filhos, Lda


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LEGIS
LAÇÃO
PARA A
ADMINISTRAÇÃO DOS
BENS TEMPORAIS DA
IGREJA NA
DIOCESE DE VIANA
DO CASTELO
6
7
DOM ANACLETO CORDEIRO
GONÇALVES DE OLIVEIRA
BISPO DE VIANA DO CASTELO

DECRETO

1. O actual Código de Direito Canónico goza de uma ca-


racterística singular: é um código de legislação comum e uni-
versal para a Igreja latina. Tal característica faz com que a sua
normativa se dirija a todos os seus fiéis espalhados pelo mun-
do e radicados em circunstâncias geográficas, culturais, soci-
ais e políticas diferenciadas.
Para que tal direito sirva a justiça (na sustentabilidade ou
sua reposição), obriga-se a compatibilizar a unidade com a
variedade, através da flexibilização jurídica e da promulgação
do denominado ‘direito particular’ tão apreciado e frequente-
mente proposto, ao longo do texto codicial, pelo supremo le-
gislador aos outros legisladores – entre eles os Bispos dioce-
sanos -, permitindo assim adaptar-se às peculiaridades de cada
povo e de cada território, em ordem a melhor conseguir o seu
fim último, «a salvação das almas» (c. 1752).
Este fim último, como lei suprema da Igreja, identifican-
do-se plenamente com a missão que Jesus Cristo deixou à sua
Igreja, para esta concretizar no mundo, não só matiza o vigen-
te Código de Direito Canónico com uma larga e benéfica ver-
tente pastoral, como também o converte num instrumento efi-
caz de evangelização ao serviço da mesma e única missão da
Igreja.
É esta dimensão pastoral que, vinda da reflexão teoló-
gica, impulsionadora da teologia de comunhão do Concílio
Vaticano II, serve de suposto e deve dar alma à legislação a
promulgar como direito particular de uma diocese.
8
2. Nesse sentido, o nosso predecessor como Bispo de Via-
na do Castelo, D. José Augusto Martins Fernandes Pedreira,
seguindo as linhas doutrinárias e pastorais do referido Concílio
e do Código de Direito Canónico, iniciou a reconversão e orien-
tação dos bens temporais da Igreja, colocando-os, como meios,
ao serviço dos grandes objectivos da Igreja diocesana. Para isso,
aprovou e promulgou, em 18 de Fevereiro de 2006, a ‘Legisla-
ção Eclesiástica para a Diocese de Viana do Castelo’.
Entre outras normas (Estatuto da Casa Sacerdotal), esta
compilação compreende, em matéria de direito patrimonial, a
aquisição, administração, retenção/uso e alienação dos bens
temporais da Igreja, para o que instituiu o Fundo Diocesano
do Clero e o Fundo Paroquial, com a aprovação dos seus res-
pectivos estatutos, e aprovou o Estatuto Económico do Clero
e o Estatuto do Conselho Paroquial para os Assuntos Econó-
micos.

3. Na prossecução da mesma orientação pastoral, em or-


dem à sua organização definitiva e prática objectiva do que,
em matéria de Bens Temporais da Igreja, no Código de Direito
Canónico, nos é proposto, relativamente à administração dos
bens da Diocese e das Paróquias e suas articulações com os
institutos diocesanos/paroquiais a que, de acordo com os câ-
nones 281, 531, 1272 e 1274, se destinam,
depois de longa reflexão e audição em Conselho Episco-
pal, Conselho Presbiteral, Conselho Diocesano para os Assun-
tos Económicos, Colégio de Arciprestes e documentação en-
viada a todos os Sacerdotes, feitas algumas adaptações na le-
gislação diocesana existente, mercê de subsequentes experi-
ências e novas necessidades,

HAVEMOS POR BEM,

a) derrogar a ‘Legislação Eclesiástica para a Diocese de


Viana do Castelo’, aprovada em 18 de Fevereiro de 2006;

b) aprovar a LEGISLAÇÃO PARA A ADMINISTRA-


9
ÇÃO DOS BENS TEMPORAIS DA IGREJA NA DIOCESE
DE VIANA DO CASTELO que consta de uma introdução,
com a FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA E PASTORAL, e
de quatro partes (PARTE I, NORMAS GERAIS; PARTE II,
BENS E INSTITUIÇÕES ADMINISTRATIVAS DA DIOCE-
SE, com a instituição do Fundo Económico Diocesano e a apro-
vação dos Estatutos do Conselho Diocesano para os Assuntos
Económicos e do Ecónomo Diocesano; PARTE III, BENS E
INSTITUIÇÕES ADMINISTRATIVAS DA PARÓQUIA, com
a actualização dos Estatutos do Fundo Económico Paroquial e
do Conselho Paroquial para os Assuntos económicos; PARTE
IV, BENS TEMPORAIS DA IGREJA AO SERVIÇO DO CLE-
RO, com a actualização do Estatuto Económico do Clero e do
Estatuto do Fundo Diocesano do Clero), num total de 101 Ar-
tigos;

c) determinar que, nos termos do cânon 8 do Código de


Direito Canónico, esta legislação entra em vigor, de forma fa-
cultativa, no próximo dia 1 de Março, e de forma obrigatória,
no dia 1 de Janeiro de 2014;

d) exortar todos os diocesanos a que, antes de se fixarem


nas normas promulgadas, leiam e reflictam na Fundamenta-
ção Teológica e Pastoral.

Diocese de Viana do Castelo, 18 de Fevereiro de 2012


(nos 850 anos da morte de São Teotónio)

+ Anacleto de Oliveira, Bispo de Viana do Castelo

E eu, Daniel Jorge da Silva Rodrigues, Chanceler da Cú-


ria Diocesana, o subscrevi.
10
11

FUNDAMENTAÇÃO
TEOLÓGICA E PASTORAL

1. A Igreja comunhão
“A comunhão está no coração da autoconsciência da Igre-
ja”1 – a comunhão com Deus e, por Ele e n‘Ele, entre os cris-
tãos.
Assim, é de Deus, Trindade Santíssima, que a Igreja re-
cebe a sua existência, essência e missão. Sendo obra de Deus
uno e trino, pelas suas intervenções histórico-salvíficas, “toda
a Igreja aparece como «povo reunido na unidade do Pai e do
Filho e do Espírito Santo».”2 Em consequência disso e em
sentido inverso, é primariamente pela Igreja que os fiéis “en-
tram em comunhão com a Santíssima Trindade.”3 Finalmente,
a Igreja, “por todo o seu ser e em todos os seus membros, é
enviada para anunciar e testemunhar, actualizar e derramar o
mistério da comunhão da Santíssima Trindade.”4
Resultado principal e, ao mesmo tempo, expressão privi-
legiada e essencial desta comunhão com Deus é a união frater-
na entre nós cristãos. Somos todos irmãos, ao tornarmo-nos,
nomeadamente pelos sacramentos, filhos de um só Pai que
está nos Céus (Mt 23, 9-10). De facto, num só Espírito, fomos
todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos,
escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito (1 Cor
12, 13). E pela comunhão eucarística com o Corpo de Cristo,
no mesmo pão sagrado que partimos e de que nos alimenta-
mos, nós, embora muitos, somos um só Corpo, porque todos
participamos desse único pão (10, 16-17).
Daí a conclusão de S. Paulo: Vós sois o Corpo de Cristo
e sois seus membros, cada um por sua parte (12, 27). Isto é,
“neste Corpo, a vida de Cristo comunica-se aos crentes que,
através dos sacramentos, se unem de modo misterioso e real, a

1
Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos 7.
2
Lumen Gentium 4, com uma citação de S. Irineu.
3
Unitatis Redintegratio 15.
4
Catecismo da Igreja Católica 738.
12 Fundamentação Teológica e Pastoral

Cristo que sofreu e foi glorificado.”5 E se é assim, de Cristo


morto e ressuscitado, que todos vivemos como membros do
Corpo de que Ele é a cabeça, então essa vida, d’Ele recebida,
tem de sentir-se e manifestar-se na comunhão que nos une uns
aos outros. Na sua concretização, rege-se pelos seguintes prin-
cípios:
- A gratuidade, que deve presidir a tudo o que fazemos
na Igreja. É pela graça que fostes salvos, recorda-nos S. Paulo
(Ef 2, 5). E Jesus indica-nos ao que isso nos leva: Recebestes
de graça, dai de graça (Mt 10, 8). Uma graça (kharis) que está
em acção particularmente nos carismas próprios de cada cris-
tão: Cada um de vós ponha ao serviço dos outros os carismas
que recebeu, como bons administradores da graça de Deus,
tão variada nas suas formas (1 Ped 4, 10).
- A complementaridade dos diferentes dons e serviços
no conjunto da Igreja, Corpo de Cristo: Assim como o corpo é
um só e tem muitos membros e todos os membros do corpo,
apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede
também com Cristo (1 Cor 12, 12). Não pode haver, portanto,
cristão algum que não esteja integrado numa comunidade cristã,
e nela todos somos necessários.
- A corresponsabilidade de todos e cada um pela vida da
Igreja, proveniente da interdependência mútua, isto é, como
membros uns dos outros (Rom 12, 5). Assim, se um membro
sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é hon-
rado, todos os membros se alegram com ele (1 Cor 12, 26).
2. Os bens temporais da Igreja ao serviço da comunhão
A propósito da primeira comunidade cristã de Jerusalém,
modelo para as Igrejas de todos os tempos e lugares, diz-se
que os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à co-
munhão fraterna, à fração do pão e às orações (Act 2, 42). A
comunhão, em que todos tinham um só coração e uma só alma,
concretizava-se sobretudo na partilha de bens: ninguém cha-
mava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum

5
Lumen Gentium 7.
Fundamentação Teológica e Pastoral 13
(4, 32). E era também por isso que o Senhor aumentava todos
os dias o número dos que deviam salvar-se (2, 47).
Isto significa que os bens temporais da Igreja, porque
adquiridos e usados neste âmbito da comunhão com Deus e
entre os cristãos que d’Ele e para Ele vivem, se devem consi-
derar propriedade divina.
São-no, em primeiro lugar pela sua origem. A grande
maioria deles provém de ofertas, directa ou indirectamente
associadas à vivência da fé e prática de vida cristã, a começar
pelo culto. Já S. Paulo exortava os cristãos de Corinto a parti-
ciparem na colecta em favor da comunidade cristã de Jerusa-
lém no primeiro dia da semana (1 Cor 16, 2), o dia por exce-
lência para a celebração da Eucaristia, memorial e anúncio da
morte e ressurreição do Senhor.
O mesmo acontece hoje com muitas ofertas feitas na Igre-
ja: são recolhidas e levadas ao altar juntamente com o pão e o
vinho que são, ao mesmo tempo, dons de Deus (como fruto da
terra e da videira) e do homem (fruto do seu trabalho). Trans-
formados no Corpo e no Sangue do Senhor, são eles, como
pão da vida e vinho da salvação, que levam tantos cristãos a
tornarem-se uma oferenda permanente, pela entrega das suas
vidas como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus (Rom 12,
1), designadamente com as ofertas que fazem dentro e fora
das celebrações da sua fé.
Sendo assim predominantemente oferecidos a Deus, no
âmbito da comunhão que O caracteriza e que Ele cria nas co-
munidades que d’Ele vivem, os bens temporais da Igreja têm
primariamente de destinar-se para fins que se insiram na mis-
são recebida do mesmo Deus.
E, de facto, é para isso que “a Igreja católica, por direito
originário, independentemente do poder civil, pode adquirir,
conservar administrar e alienar bens temporais: para poder
prosseguir, na sociedade humana em que existe e actua, os
fins que lhe são próprios.” E esses fins “são principalmente os
seguintes: ordenar o culto divino, providenciar a honesta sus-
tentação do clero e dos outros ministros, exercer obras do sa-
14 Fundamentação Teológica e Pastoral

grado apostolado e da caridade, especialmente em favor dos


necessitados.”6
São, todos eles, fins de ordem eminentemente pastoral e,
como tal, estão ao serviço da comunhão em que deve viver
toda a Igreja. E é nesse âmbito que se situam e se devem com-
preender as restantes orientações e normas da Igreja sobre esta
matéria, que a seguir se expõem e se baseiam na presente fun-
damentação teológica e pastoral, proveniente do Concílio Va-
ticano II e subjacente ao actual Código de Direito Canónico.
3. Fundo económico da diocese e das paróquias
No âmbito diocesano, determina-se que, “conforme as
possibilidades, se constitua em cada diocese ou região um fundo
comum de bens, com o qual os Bispos possam satisfazer ou-
tras obrigações para com as pessoas que servem a Igreja e ocor-
rer às várias necessidades da diocese, e com que também as
dioceses mais abastadas possam ajudar as mais pobres, de
maneira que a abundância daquelas cubra a penúria destas.”7
De modo semelhante, deve constituir-se, a nível paroqui-
al, um fundo económico para o qual confluam todos os bens e
rendimentos da paróquia, incluindo os que até agora, por di-
reitos de benefício e contributos estáveis, têm sido separada-
mente entregues aos presbíteros que as servem. Estes passam
assim a ser remunerados a partir deste único fundo paroquial
que, simultaneamente, satisfaz todas as outras despesas da
paróquia.8
Sendo constituídos, “em primeiro lugar, pelas dádivas dos
fiéis,”9 estes dois fundos radicam na comunhão, constitutiva
da Igreja e vivida segundo os referidos princípios da gratuida-
de, complementaridade e corresponsabilidade. Também pelo
contributo material, recebido e gerido por estes fundos, se
manifesta a consciência, que todo o cristão deve ter, de perten-
cer a uma comunidade cristã, paroquial e diocesana. Cabe par-

6
Código de Direito Canónico, c. 1254; Presbyterorum ordninis 17.
7
Presbyterorum Ordinis 21; cf. Código de Direito Canónico, c. 1274, § 3.
8
Cf. Código de Direito Canónico, c. 531.
9
Presbyterorum Ordinis 21, a propósito do fundo económico diocesano.
Fundamentação Teológica e Pastoral 15
ticularmente ao Bispo e aos presbíteros chamar a atenção dos
fiéis para este dever, sendo eles próprios modelos no seu cum-
primento.
4. Conselhos para os assuntos económicos da diocese e da
paróquia
Em cada diocese e em cada paróquia deve constituir-se
um Conselho para os assuntos económicos, que assessore, res-
pectivamente, o Bispo e o pároco na administração dos bens
temporais diocesanos e paroquiais.10
O facto de serem de instituição canonicamente obrigató-
ria e de deverem ser constituídos por “fiéis, nomeados pelo
bispo, que sejam verdadeiramente peritos em assuntos econó-
micos e em direito civil, e notáveis pela sua integridade”,11
mostra a importância destes conselhos, relativamente ao lugar
e função dos bens temporais na comunhão da Igreja.
Nesse sentido, espera-se da parte dos membros destes
Conselhos um grande sentido de corresponsabilidade eclesial.
E eles próprios, através deste serviço que prestam à igreja,
podem dar um contributo decisivo para despertar nos restan-
tes fiéis, que de certo modo representam, o mesmo sentido de
corresponsabilidade.
Devem, para tanto, esforçar-se por realizar uma adminis-
tração rigorosa e transparente e dar sinais disso, designada-
mente através da elaboração de orçamentos e da apresentação
de contas, pelo menos anuais. Deste modo, conquistarão mais
facilmente a confiança dos fiéis, motivando-os para uma mai-
or participação na vida da Igreja, neste caso através da oferta e
partilha de seus bens.
5. Estatuto económico do clero
Dado o lugar e a responsabilidade que os sacerdotes têm
em todas as áreas da vida da Igreja, esta estabelece para eles

10
Cf. Código de Direito Canónico, c. 492, § 1, e 537.
11
Ibidem, c. 492, § 1, acerca do conselho diocesano para os assuntos económicos.
16 Fundamentação Teológica e Pastoral

orientações e normas específicas no que toca também à aqui-


sição e ao uso dos bens materiais de que necessitam para o
exercício do seu ministério sacerdotal.
Assim, são finalidades principais do Estatuto Económi-
co do Clero as seguintes:
a) Assegurar bem-estar e segurança económica a to-
dos os membros do Presbitério, para poderem, empenhada e
dignamente, servir a Igreja. São, para isso, “merecedores de
uma justa remuneração, pois o trabalhador merece o seu salá-
rio (Lc 10, 7), e o Senhor ordenou também que aqueles que
anunciam o Evangelho vivam do Evangelho (1 Cor 9, 14).”12
Para ser “condigna com a sua condição”, tem de ser uma re-
muneração que lhes permita:
- poder “prover às necessidades da sua vida e à justa re-
tribuição daqueles de cujo serviço necessitam;”
- desfrutar “da assistência social, com a qual se proveja
convenientemente às suas necessidades, se sofrerem de doen-
ça, invalidez e velhice;”
- poder “gozar todos os anos do devido e suficiente tem-
po de férias, determinado por direito universal ou particular;”13
- poder “eles mesmos auxiliar os necessitados, ministé-
rio em favor dos pobres que a Igreja sempre apreciou muito
desde os primeiros tempos.”14
Para esta finalidade ser atingida, e “onde não se tiver pro-
videnciado de outro modo à justa remuneração dos presbíte-
ros, os fiéis, em cujo benefício trabalham, têm verdadeira obri-
gação de facultar os meios necessários para que eles possam
viver honesta e dignamente.”15
b) Promover, também no que respeita aos bens mate-
riais, a igualdade entre os presbíteros, como membros da
mesma família sacerdotal diocesana. Nesse sentido, estabele-
ce-se que “a remuneração, consoante a natureza do múnus e as

12
Presbyterorum Ordinis 20. Cf. Código de Direito Canónico, c. 281, § 1.
13
Código de Direito Canónico, c 281, § 1 e 2; 283, § 2.Cf. Presbyterorum Ordinis 20
e 21.
14
Presbyterorum Ordinis 20.
15
Ibidem.
Fundamentação Teológica e Pastoral 17
circunstâncias de tempos e lugares, deve ser basicamente a
mesma para todos os que se encontram nas mesmas circuns-
tâncias e proporcional à sua situação.” Mas esta situação tem a
ver, não com a dignidade sacerdotal que é a mesma em todos,
mas com diferentes necessidades, inerentes ao exercício do
ministério, como, por exemplo, “a remuneração dos que se
dedicam ao serviço desses presbíteros.” 16
c) Incentivar os presbíteros ao desprendimento, isto é,
àquela “pobreza voluntária, pela qual mais manifestamente se
assemelham a Cristo e se tornam mais dispostos para o sagra-
do ministério. Cristo, com efeito, sendo rico, fez-se pobre por
amor de nós, para que, com a sua pobreza, nos tornássemos
ricos. Os Apóstolos testemunharam, pelo seu exemplo, que os
dons gratuitos de Deus devem ser distribuídos gratuitamente,
sabendo viver, não só na abundância, mas também na pobre-
za.”17 Nesse sentido, os sacerdotes são exortados a que:
- “não possuam os cargos eclesiásticos para lucro, nem
empreguem os rendimentos deles provenientes para aumento
do próprio património familiar;”
- “evitem sempre toda a ambição e abstenham-se caute-
losamente de qualquer espécie de comércio;”18
- “cultivem a simplicidade de vida e abstenham-se de tudo
o que tenha ressaibos de vaidade;”
- “Os bens recebidos por ocasião do exercício do ofício
eclesiástico, que lhes sobejarem depois de providenciarem à
sua honesta sustentação e ao cumprimento dos deveres do pró-
prio estado, procurem empregá-los para o bem da Igreja e em
obras de caridade.”19
Para tudo isto, “é necessário atribuir primordial impor-
tância à função que os ministros sagrados desempenham. Por
isso, o chamado sistema beneficial deve ser abandonado, ou,
pelo menos, reformado de maneira que a parte do benefício ou

16
Ibidem.
17
Ibidem 17, com alusões a 2 Cor 8, 9; Act 8, 18-25; Fil 4, 12.
18
Prebyterorum Ordinis 17.
19
Código de Direito Canónico, c. 282.
18 Fundamentação Teológica e Pastoral

o direito aos rendimentos dotalícios anexos à função seja con-


siderada secundária, dando-se por direito o primeiro lugar ao
próprio ofício eclesiástico, que para o futuro se deve entender
como qualquer múnus estavelmente conferido para o exercí-
cio de um bem espiritual.”20
Deste modo, o sacerdote é primariamente remunerado,
não pelo trabalho que realiza, mas para bem o realizar. E pode
assim entregar-se também a tarefas que, por diversas razões,
não podem ser materialmente recompensadas. Têm, para isto,
o exemplo de inúmeros cristãos que, de muitos modos,
voluntaria e gratuitamente se entregam a serviços da Igreja.
d) Promover a solidariedade entre os presbíteros, no-
meadamente pela partilha de bens, como vivência da comu-
nhão própria da Igreja. Um dos modos mais estáveis de con-
cretização desta solidariedade é oferecido pelo fundo diocesa-
no do clero.
6. Fundo diocesano do clero
O fundo diocesano do clero responde à orientação do
Concílio Vaticano II, segundo a qual “é da máxima conveni-
ência que, pelo menos nos lugares onde a sustentação do clero
depende total ou parcialmente das dádivas dos fiéis, alguma
instituição diocesana reúna os bens oferecidos para este fim,
administrada pelo Bispo, com a ajuda de sacerdotes para o
efeito delegados, e, onde a utilidade o aconselhe, também de
leigos peritos na matéria.”21
Na diocese de Viana do Castelo, e à semelhança de ou-
tras dioceses do nosso País, o fundo diocesano do clero tem
uma função primariamente supletiva: garantirá o vencimento
completo a sacerdotes que não podem, total ou parcialmente,
ser remunerados pelas instituições que servem, a sacerdotes
que, a tempo inteiro e por decisão do Bispo, se dedicam ao
estudo para completar a sua formação, e a sacerdotes que, por

20
Presbyterorum Ordinis 20. Cf. Código de Direito Canónico, c. 1272.
21
Presbyterorum Ordinis 21. Cf. Código de Direito Canónico, c. 1274, § 1.
Fundamentação Teológica e Pastoral 19
doença, invalidez ou velhice, estão total ou parcialmente inac-
tivos e não usufruem de uma reforma ou outra fonte de rendi-
mentos à altura dos seus direitos e necessidades.
Existindo para os sacerdotes, são primariamente eles que
mantêm o fundo diocesano do clero, através de contributos
fixos e eventuais. Mas ele está aberto também a donativos de
outras pessoas, organismos e instituições, que deste modo
manifestam o seu reconhecimento aos sacerdotes que, directa
ou indirectamente, as servem.
Além de ser instrumento de solidariedade fraterna entre
os sacerdotes, o fundo diocesano do clero assegura a todos
eles a equidade na remuneração, de tal modo que, “sem ansie-
dade, podem cultivar a pobreza com o alegre espírito do Evan-
gelho e entregar-se inteiramente à salvação das almas.”22

22
Presbyterorum Ordinis 21.
20
21

PARTE I
NORMAS GERAIS
22
Parte I Normas Gerais 23
Capítulo I
Gestão dos Bens Temporais da Diocese e suas Paróquias
Artigo 1.º - A Igreja na sua constituição jurídico-administrativa
A Igreja autocompreende-se, na sua origem, essência e
missão, como mistério de fé. Mas, dado que, por vontade do
seu fundador Jesus Cristo, está inculturada na cidade terrena,
tem de aproveitar desta a estrutura administrativa, em que se
organize, actue e regulamente, para, mais fácil e eficazmente,
dialogar com os homens, na sua caminhada terrestre. Assim, é
para cumprir a sua missão salvífica, de evangelização e cate-
quese, celebração dos sacramentos e prática da caridade, que a
Igreja se serve de instituições jurídico-administrativas e de bens
temporais e materiais.
Artigo 2.º - Diocese e paróquias como instituições administrativas
Na sua organização administrativa, além de outras enti-
dades (associações, fundações, etc.), a Igreja tem como insti-
tuições fundamentais a diocese e a paróquia:
a) a diocese é a porção do povo de Deus confiada ao Bis-
po diocesano e por ele governada com a cooperação do presbi-
tério, de tal modo que, aderindo ao seu pastor e por ele congre-
gada no Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia,
constitua uma Igreja particular, em que se encontra e actua a
Igreja de Jesus Cristo una, santa, católica e apostólica (CDC
cc. 368-369);
b) a paróquia é uma certa comunidade de fiéis constitu-
ída de modo estável na Igreja particular, cujo cuidado pasto-
ral, sob a autoridade do Bispo diocesano, está confiado a um
pároco como seu pastor próprio (CDC c. 515).
Artigo 3.º - Poder governativo do Bispo diocesano
Ao Bispo diocesano e àqueles que, à luz do direito, a ele
se equiparam, compete toda a jurisdição ordinária, própria e
imediata, requerida para o exercício do seu múnus pastoral e
da qual faz parte: governar, segundo as normas do direito, a
Igreja particular que lhe foi confiada, com poder legislativo,
24 Parte I Normas Gerais

executivo e judicial, e vigiar para que não se introduzam abu-


sos na disciplina eclesiástica, relativa tanto às actividades pas-
torais como à administração dos bens temporais (CDC cc. 368,
381 §1, 391 § 1 e 392 §2).
Artigo 4.º - Representantes jurídicos da diocese e da paróquia
Em todos os assuntos e negócios jurídicos, relacionados
com o ser e o agir da diocese e da paróquia, são seus represen-
tantes legais, por si mesmos ou por delegado próprio, respecti-
vamente, o Bispo diocesano e o Pároco provisionado (CDC
cc. 393 e 532).
Artigo 5.º - Bens temporais, um direito natural e positivo da Igreja
A diocese e a paróquia, como qualquer outra pessoa jurí-
dica, pública ou privada, independentemente do poder civil,
têm capacidade legal para, de acordo com os modos legítimos
do direito natural ou positivo, adquirir, conservar, administrar
e alienar bens temporais, em ordem à prossecução dos seus
fins próprios, que são principalmente: ordenar o culto divino,
providenciar à honesta sustentação do clero e de outros servi-
dores da Igreja, dinamizar as obras de apostolado e exercer a
caridade, de um modo especial em favor dos necessitados (CDC
cc. 1254 e 1255).

Capítulo II
Bens temporais da Igreja e seus administradores
Artigo 6.º - Domínio dos bens temporais
O domínio dos bens temporais adquiridos, respectivamen-
te, pela diocese e pela paróquia, pertence, sob a suprema auto-
ridade do Romano Pontífice, à pessoa jurídica que legitima-
mente os adquiriu, isto é, respectivamente, à diocese e à paró-
quia (CDC c. 1256).
Artigo 7.º - Administradores dos bens temporais
A administração dos bens eclesiásticos da diocese e da
paróquia pertence a quem de imediato representa juridicamente
Parte I Normas Gerais 25
e governa legalmente a pessoa à qual pertencem esses bens,
isto é, respectivamente, ao Bispo diocesano e ao Pároco
provisionado (CDC c. 1279 §1).
§ único – Se à paróquia faltar o administrador, o Ordi-
nário do lugar deve escolher, por um triénio, pessoas idóneas
que o façam, as quais podem ser reconduzidas pelo Ordinário
(CDC c. 1279 §2).
Artigo 8.º - Normas e órgãos administrativos dos bens eclesiásticos
§1 - Os bens pertencentes à diocese e à paróquia, institui-
ções canónicas de natureza pública, como bens eclesiásticos
que são, devem ser administrados de acordo com leis próprias,
consignadas no Código de Direito Canónico, na legislação
particular da Conferência Episcopal Portuguesa, na legislação
particular da diocese e nos estatutos próprios (CDC c. 1257
§1).
§2 - A administração dos bens da diocese, cujo adminis-
trador é o Bispo diocesano, está a cargo do mesmo, ajudado
pelo Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos, pelo
Colégio de Consultores e pelo Ecónomo diocesano, nos quais
poderá delegar tarefas de administração (CDC cc. 492, 493,
494 e 1278).
§3 - A administração dos bens da paróquia, cujo adminis-
trador é o pároco provisionado, está a cargo do mesmo, ajuda-
do pelo Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos, no
qual poderá delegar tarefas de administração (CDC cc. 532,
537, 1279 §1 e 1280).
Artigo 9.º - Instituições de bens eclesiásticos
Em ordem à realização da sua missão eclesial, cada dio-
cese deve constituir e ter em exercício, a nível diocesano e
paroquial, uma série de institutos que permitam a sua sobrevi-
vência e ocorrer a diferentes necessidades, procurando para
eles, quanto possível, o reconhecimento e a eficácia jurídicas
perante a legislação civil (CDC c. 1274).
§ único – Neste enquadramento legal, estão instituídos
na Diocese de Viana do Castelo o Fundo Económico Diocesa-
26 Parte I Normas Gerais

no, o Fundo Económico Paroquial, o Fundo Diocesano do Clero


e o Regime Contributivo da Segurança Social do Clero.1

1
A Segurança Social dos Clérigos está regulamentada por legislação promulgada
pelo Estado Português: Portaria n.º 291/74, de 23 de Abril; Despacho n.º 05/83, de 31
de Janeiro; Lei n.º 110/2009, de 16 de Setembro que aprovou o novo Código dos
Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social (para os cléri-
gos, ver Capítulo III, Secção I, Artigo 122 e segts. desta legislação civil).
27

PARTE II
BENS E INSTITUIÇÕES
ADMINISTRATIVAS DA
DIOCESE
28
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 29

TÍTULO I

FUNDO ECONÓMICO DIOCESANO


Artigo 10.º - Instituição e fins
O Fundo Económico Diocesano é instituído à luz da le-
gislação universal da Igreja com a finalidade de proporcio-
nar ao Bispo diocesano poder cumprir as obrigações ineren-
tes à vida económico-pastoral da sua Igreja; além de dar res-
posta às preocupações e exigências codiciais, tal fundo con-
tribuirá para exprimir e promover a comunhão, pela partilha
de bens, entre os diversos organismos, serviços e instituições
da sua diocese, incluindo as paróquias, e para ajudar a Sé
Apostólica e outras Igrejas particulares mais pobres (CDC
cc. 1271 e 1274 §3).1
Artigo 11.º - Constituição dotal
O Fundo Económico Diocesano é constituído pelos ren-
dimentos de todos os bens móveis e imóveis que pertençam à
Diocese de Viana do Castelo, mesmo que, nas repartições ci-
vis e por motivos concordatários, se encontrem inscritos ma-
tricialmente e/ou registados civilmente em nome do Seminá-
rio Diocesano.
Artigo 12.º - Participação dos fiéis na dotação económica à diocese
§ 1 - A diocese tem o direito originário de requerer dos
seus fiéis os bens temporais de que necessita e os fiéis o dever
de prover às suas necessidades, para que a Igreja diocesana
possa cumprir com as suas obrigações e atingir os seus própri-
os fins (CDC cc. 222 §1 e 1260).
§ 2 - Cabe ao Bispo diocesano o dever de advertir os seus
fiéis deste serviço e de o urgir de modo oportuno, baseando-se
na legislação canónica e na consciência que cada cristão deve
ter de pertença à Igreja diocesana (CDC c. 1261 § 2).

1
O Fundo Económico Diocesano, de harmonia com o espírito do Concílio Vaticano II
que, na administração dos bens eclesiásticos, aponta um sistema unitário, vem substi-
tuir o anterior sistema de administração, em separado, da diocese e da mitra.
30 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

§ 3 - Muito se recomenda também que os fiéis, consci-


entes da sua corresponsabilidade eclesial, prestem auxílio à
Igreja diocesana mediante subvenções que lhe sejam solicita-
das pelo Bispo da diocese e segundo as normas estipuladas
pela Conferência Episcopal Portuguesa (CDC c. 1262).
Artigo 13.º - Ofertas livres e voluntárias
Os fiéis gozam de liberdade para disporem dos seus bens
temporais em favor da sua diocese ou de outras instituições a
ela pertencentes (CDC c. 1261 §1).
§ único – Requer-se licença do Ordinário do lugar para
que uma pessoa jurídica pública possa, em matéria patrimoni-
al de maior importância, rejeitar, sem justa causa, as ofertas
que lhe são feitas pelos fiéis; igual licença se requer para acei-
tar as doações que venham oneradas com condições modais
(CDC c. 1267 § 2).
Artigo 14.º - Tributos diocesanos
Para atender às necessidades da diocese, o Bispo dioce-
sano pode estabelecer, depois de ouvir o parecer do Conselho
Diocesano para os Assuntos Económicos e o Conselho Presbi-
teral, dois tributos, ambos moderados: um ordinário, o outro
extraordinário. O tributo ordinário estende-se às pessoas jurí-
dicas públicas, sujeitas ao governo do Bispo, e deve ser pro-
porcional às suas receitas. O tributo extraordinário justifica-se
apenas em casos de grave necessidade diocesana e pode ser
alargado às outras pessoas físicas e jurídicas da diocese (CDC
c. 1263).
Artigo 15.º - Colectas especiais
O Ordinário do lugar pode determinar que, em todas as
igrejas e oratórios da sua diocese, habitualmente abertos ao
público, mesmo de institutos religiosos, se realizem colectas
especiais, para obras diocesanas, paroquiais, nacionais e uni-
versais; o resultado das colectas deve ser enviado à Cúria dio-
cesana (CDC c. 1266).
§ único - Sem licença do Ordinário próprio e do Ordiná-
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 31
rio do lugar, a conceder por escrito, nenhuma pessoa privada,
física ou jurídica, poderá, em território da Diocese de Viana
do Castelo, recolher esmolas para qualquer instituto religioso
ou fim pio ou eclesiástico (CDC c. 1265).
Artigo 16.º - Receitas ordinárias e extraordinárias
§1 - Constituem receitas ordinárias do Fundo Económico
Diocesano:
a) - os rendimentos dos bens móveis e imóveis que lhe
estão afectos;
b) - as receitas dos serviços administrativos da Cúria dio-
cesana e de outros serviços diocesanos;
c) - os rendimentos dos contributos em vigor na diocese,
incluindo o ofertório solene;
d) - as ofertas e donativos recebidos dos fiéis, nomeada-
mente por ocasião de acções pastorais e celebração de sacra-
mentos e sacramentais, realizadas num âmbito diocesano, a
não ser que expressamente sejam feitos a outro título eclesial
ou a título pessoal (CDC c. 1267 §1);
e) - a percentagem, a definir pelo Bispo diocesano, dos
rendimentos anuais das paróquias, quase-paróquais, reitorias,
irmandades, confrarias ou qualquer outra pessoa jurídica, bem
como secretariados, movimentos e obras diocesanas com re-
ceita própria.

§2 - Constituem receitas extraordinárias do mesmo Fun-


do:
a) - quaisquer outras ofertas e doações dos fiéis destina-
das a prover às necessidades da Igreja diocesana e feitas, quer
por actos entre vivos, quer por actos para depois da morte (CDC
cc. 222 §1, 1261 e 1299-1307);
b) - os contributos de entidades públicas ou particulares,
nomeadamente aqueles que forem feitos segundo a lei do me-
cenato ou através de candidaturas a comparticipações estatais
ou simples subsídios;
c) - outras receitas e outros ofertórios que expressamente
32 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

lhe sejam destinados.


Artigo 17.º - Ofertórios consignados
As colectas especiais determinadas pela Sé Apostólica,
Conferência Episcopal Portuguesa e pelo Bispo diocesano são
consideradas receitas consignadas, e quaisquer percentagens
destinadas aos serviços pastorais da diocese constituirão ver-
bas afectas aos fins que lhes foram estipulados (CDC c. 1267
§3).
Artigo 18.º - Despesas ordinárias e extraordinárias
§1 - Constituem despesas ordinárias do Fundo Económi-
co Diocesano as que se referem:
a) - à instalação e subsistência da Casa episcopal e da
Cúria diocesana, bem como à remuneração dos seus servido-
res;
b) - à satisfação dos encargos correntes da administração
diocesana;
c) - ao pagamento das contribuições e impostos fiscais;
d) - aos contributos para a Sé Apostólica (CDC c. 1271),
para os serviços da Conferência Episcopal Portuguesa e para o
Pontifício Colégio Português, em Roma;
e) - a despesas com a formação pastoral e universitária
complementares de sacerdotes diocesanos;
f) - a percentagens relacionadas com a segurança social
do clero e de outros agentes de pastoral, que não sejam abran-
gidas por outra entidade;
g) - a subsídios necessários à organização, manutenção e
actividade dos serviços diocesanos de carácter pastoral;
h) - a subsídios destinados a suprir os encargos orçamen-
tais do Seminário diocesano e outras instituições diocesanas
afins;
i) - a iniciativas, celebrações cultuais, publicações de ca-
rácter pastoral, cultural e apostólico promovidas pela diocese.

§2 - Constituem despesas extraordinárias, as que se refe-


rem a:
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 33
a) - apoios económicos para a construção e restauração
de igrejas e outros edifícios e estruturas da diocese ou de paró-
quias;
b) - contributos certos ou ocasionais que exprimam a co-
munhão e solidariedade com instituições da diocese e com
outras Igrejas particulares (CDC c. 1274 §3).
Artigo 19.º - Inventário dos bens
§1 - Todos os bens móveis e imóveis que constituem o
património da Igreja diocesana devem estar pormenorizada-
mente inventariados, com indicação do seu valor matricial, real,
histórico e artístico (CDC c. 1283, 2.º).
§2 - Conserve-se um exemplar deste inventário no arqui-
vo do serviço diocesano de administração e outro no arquivo
geral da Cúria diocesana, e anote-se em ambos os exemplares
qualquer alteração que o património venha a sofrer (CDC c.
1283, 3.º).
Artigo 20.º - Aplicações económico-financeiras
Os valores financeiros existentes devem ser guardados e
aplicados de forma segura e rendosa pelo Ecónomo, segundo
normas e orientações concretas estabelecidas pelo Bispo da
diocese, depois de ouvir o Conselho Diocesano para os As-
suntos Económicos.

TÍTULO II

ADMINISTRAÇÃO
DOS BENS DA DIOCESE
Artigo 21.º - Lugar do Bispo na administração dos bens da diocese
O Bispo diocesano realiza uma tríplice função na admi-
nistração dos bens eclesiásticos a ele sujeitos:
a) é o administrador imediato dos bens cujo titular jurídi-
co é a diocese (CDC c. 1279 §1);
34 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

b) é administrador mediato ou remoto dos bens eclesiás-


ticos pertencentes a todas as pessoas jurídicas canónicas da
sua diocese; 2
c) legisla sobre tudo o que se refere à administração dos
bens eclesiásticos, dentro dos limites estabelecidos pelas leis
gerais do Código de Direito Canónico e pelos decretos gerais
da Conferência Episcopal Portuguesa (CDC cc. 1276 e 1277),3
e julga, em primeira instância, em controvérsias relativas aos
bens temporais das pessoas jurídicas que dele dependem
jurisdicionalmente, com a excepção do que determina o cânon
1419 §2.
Artigo 22.º - Prestação anual de contas
§1 - Todos os administradores dos bens eclesiásticos, que
não estejam legitimamente subtraídos ao poder de governo do
Bispo diocesano, têm obrigação de prestar contas anualmente
ao Ordinário do lugar, que as entregará ao Conselho Diocesa-
no para os Assuntos Económicos, a fim de serem examinadas
(CDC c. 1287 §1).
§2 - O Bispo diocesano, por sua vez, informará anual-
mente os seus fiéis diocesanos do relatório de contas, aprova-

2
O Bispo diocesano, à luz do CDC cânon 1276 §1, desempenha um importante traba-
lho de administração sobre todos os bens eclesiásticos da sua diocese, como: vigiando
a administração dos bens eclesiásticos que dele dependem (c. 1276 §1); designando
um administrador próprio para as pessoas jurídicas públicas que o não possuam (c.
1279 §2.); concedendo a autorização para os actos de administração de maior impor-
tância (c. 1277), para o exercício da administração extraordinária (c. 1281), para ini-
ciar ou contestar uma acção judicial no foro civil (c. 1288), para a alienação de bens
eclesiásticos (cc. 1291; 1292 e 1293); e vigiando o cumprimento das pias vontades
(cc. 1301; 1302; 1304 e 1305).

3
O Bispo diocesano tem igualmente um importante trabalho legislativo relativamen-
te à economia da sua diocese: compete-lhe ordenar e regular tudo o que se refere à
administração dos bens eclesiásticos (CDC c. 1276 §2) e determinar quais são os
actos de administração ordinária de maior importância e de administração extraordi-
nária (CDC cc. 1277 e 1281). No uso da mesma competência legislativa, pode o
Bispo diocesano, em matéria de administração de bens temporais, promulgar leis pe-
nais, protegendo com elas uma lei divina ou eclesiástica, podendo acrescentar outras
penas às já existentes no CDC contra algum delito (CDC c. 1315). Pode igualmente
castigar com alguma pena a infracção externa de uma lei divina ou canónica (CDC cc.
1399, 1375, 1377, 1380, 1385, 1741, 5.º, e 1333).
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 35
do em Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos
(CDC c. 1287 §2).
Artigo 23.º - Prazos para a apresentação de relatórios de contas e
orçamentos
De acordo com as normas comuns da Igreja (CDC) e o
direito particular desta Diocese, os responsáveis dos Secreta-
riados diocesanos, Movimentos e Obras de Apostolado, Paró-
quias (Fábricas das Igrejas Paroquiais), Associações de Fiéis
(Irmandades e Confrarias), Fundações canónicas (Centros Pa-
roquiais Sociais, Centros Sociais Paroquiais e Santas Casas de
Misericórdia) e outras instituições e serviços canonicamente
dependentes desta Diocese apresentarão ao Bispo diocesano,
através da Cúria diocesana, o orçamento económico para o
exercício do novo ano, até 30 de Novembro, e o relatório e
mapa de contas do ano anterior, até 31 de Março.

TÍTULO III

CONSELHO DIOCESANO
PARA OS ASSUNTOS ECONÓMICOS
Artigo 24.º - Instituição e fins
Em cada diocese deve ser instituído o Conselho Diocesa-
no para os Assuntos Económicos, cuja função é colaborar com
o Bispo diocesano, nos termos do direito, em ordem à boa ad-
ministração económico-financeira dos bens patrimoniais da
diocese.
Artigo 25.º - Constituição e tempo de mandato
§1 - O Conselho Diocesano para os Assuntos Económi-
cos, ao qual preside o Bispo diocesano ou seu delegado, é cons-
tituído por um mínimo de três fiéis, notáveis pela integridade
da sua vida, devendo haver entre eles membros peritos em as-
suntos económicos e em direito civil (CDC cc. 228 §2 e 492 §
1).
36 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

§2 - Os membros do Conselho Diocesano para os Assun-


tos Económicos são nomeados pelo Bispo diocesano por cin-
co anos, decorridos os quais, podem ser reconduzidos por ou-
tros períodos de cinco anos, se tal for útil para a Igreja dioce-
sana e as pessoas estiverem disponíveis (CDC c. 492 §2).
§3 - Do Conselho Diocesano para os Assuntos Económi-
cos são excluídas as pessoas consanguíneas ou afins do Bispo,
até ao quarto grau (CDC c. 492 §3).
Artigo 26.º - Competências
§1 - O Conselho Diocesano para os Assuntos Económi-
cos, para além do que lhe possa vir a ser encomendado pelo
direito particular diocesano, tem as seguintes funções:
a) - preparar cada ano, segundo as indicações do Bispo
diocesano, o orçamento das receitas e despesas que se prevê-
em para a boa gestão de todos os bens da diocese, no ano se-
guinte (CDC c. 493);
b) - receber anualmente do Ecónomo diocesano o relató-
rio e as contas de fim de ano, resultantes das receitas e despe-
sas aplicadas, para que possa analisar e pronunciar-se sobre a
real situação económico-financeira da diocese, em ordem à
aprovação ou indicação de outros caminhos a seguir (CDC cc.
493 e 494 §4);
c) - aconselhar o Bispo diocesano na nomeação do Ecó-
nomo diocesano e na sua remoção, se esta acontecer antes do
fim do quinquénio (CDC c. 494 §1 e §2);
d) - determinar, sob as indicações do Bispo diocesano, o
modo de administração a seguir relativamente aos bens da di-
ocese (CDC c. 494 §3);
e) - aconselhar e dar parecer ao Bispo diocesano quando
este tiver necessidade de instituir um tributo – ordinário ou
extraordinário – na diocese e quando pretender realizar actos
de administração que se considerem de maior importância, aten-
dendo ao estado económico da diocese (CDC cc. 1263 e 1277);
f) - dar o seu consentimento para os actos de administra-
ção extraordinária, cujas verbas ultrapassem o limite determi-
nado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CDC c. 1277);
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 37
g) - dar o seu parecer em ordem a determinar quais os
actos que excedem o fim ou o modo da administração ordiná-
ria das pessoas jurídicas sujeitas ao Bispo diocesano (CDC c.
1281 §2);
h) - examinar anualmente as contas das pessoas jurídicas
sujeitas ao Bispo diocesano apresentadas na Cúria diocesana
(CDC c. 1287 §1);
i) - dar parecer e, se for o caso, dar consentimento para
que o Bispo diocesano conceda a licença necessária para a ali-
enação de bens eclesiásticos, tanto no caso das pessoas sujei-
tas ao próprio Bispo como relativamente aos bens da própria
diocese, se se trata do valor intermédio fixado pela Conferên-
cia Episcopal Portuguesa ou se há necessidade de solicitar a
licença da Sé Apostólica (CDC c. 1292 §1 e §2);
j) - dar parecer ao Bispo diocesano para proceder à dimi-
nuição dos encargos relativos a causas pias (CDC c. 1310 §2);
k) - promover o espírito de partilha e comunhão de bens
entre todas as instituições e organismos da diocese;
l) - promover uma correcta administração do Fundo Eco-
nómico Diocesano e de todo o património que lhe está ineren-
te;
m) - apreciar e aprovar ou rejeitar os pedidos de subsídi-
os e ajuda económica apresentados ao Bispo diocesano por
pessoas singulares ou colectivas, diocesanas ou não.

§2 - Os membros do Conselho Diocesano para os Assun-


tos Económicos devem dar os seus conselhos e pareceres com
conhecimento e sinceridade e, se a gravidade da matéria o exi-
gir, guardar cuidadoso segredo, que o Bispo diocesano poderá
urgir (CDC c. 127 §3).
Artigo 27.º - Reuniões
O Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos re-
úne-se, ordinariamente, nas datas e horas pré-estabelecidas no
Calendário diocesano e, extraordinariamente, sempre que, por
necessidade urgente, for convocado pelo Bispo da diocese.
38 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

TÍTULO IV

ECÓNOMO DIOCESANO
Artigo 28.º - Nomeação e mandatos
§1 - Para administrar o Fundo Económico Diocesano e o
restante património da diocese que lhe seja atribuível, o Bispo
diocesano, ouvido o Colégio de Consultores e o Conselho Di-
ocesano para os Assuntos Económicos, nomeie um Ecónomo
diocesano que seja verdadeiramente perito em assuntos eco-
nómicos e notável pela sua inteira probidade (CDC c. 494 §
1).
§2 - O Ecónomo diocesano deve ser nomeado por cinco
anos, decorridos os quais, pode ser reconduzido no cargo por
outros quinquénios; durante o exercício do ofício não deve ser
removido sem causa grave a avaliar pelo Bispo diocesano,
depois de ouvidos o Colégio de Consultores e o Conselho Di-
ocesano para os Assuntos Económicos (CDC c. 494 §2).
§3 - Do cargo de Ecónomo diocesano estão excluídas as
pessoas consanguíneas ou afins do Bispo, até ao quarto grau
(CDC c. 492 §3).
Artigo 29.º - Competência ordinária genérica
§1- Compete ao Ecónomo diocesano, segundo as normas
estabelecidas pelo Conselho Diocesano para os Assuntos Eco-
nómicos e sob a autoridade do Bispo, administrar os bens da
diocese, e, com as receitas existentes, satisfazer as despesas
autorizadas pelo Bispo ou por outra pessoa legitimamente de-
putada (CDC c. 494 §3).
§2 - No fim de cada ano, o Ecónomo diocesano deve apre-
sentar ao Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos
o relatório e as contas das receitas e despesas resultantes da
gestão económico-financeira anual dos bens patrimoniais da
diocese (CDC c. 494 §4).
Artigo 30.º - Outras funções administrativas
O Ecónomo diocesano assume ainda as seguintes funções:
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 39
a) - redigir e manter actualizado o inventário exacto e
discriminado de todos os bens móveis e imóveis da diocese;
b) - ordenar devidamente e guardar em arquivo próprio
os documentos e instrumentos que comprovem a propriedade
e posse dos bens da Igreja diocesana, do Seminário diocesano
e de outras instituições e os direitos sobre os mesmos bens;
c) - cuidar convenientemente da segurança e conserva-
ção de todos os bens da diocese, tomando as medidas necessá-
rias, válidas e urgentes perante o foro civil (CDC c. 1284 §2,
n.º 2); no entanto, não se proponha nem conteste qualquer ac-
ção no foro civil, em nome da diocese, sem licença prévia do
Ordinário do lugar, dada por escrito (CDC c. 1288);
d) - cumprir e fazer cumprir a vontade dos doadores e
seus legados, quando os houver (CDC c. 1284 §2, n.º 3);
e) - receber oportunamente as rendas e os produtos dos
bens e aplicá-los segundo as normas estabelecidas;
f) - pagar salários justos aos servidores da Igreja diocesa-
na, proporcionando-lhes a segurança legal no trabalho;
g) - aplicar de forma segura e rendosa, de acordo com as
orientações do Bispo diocesano, o dinheiro que sobrar das des-
pesas;
h) - ter em boa ordem os livros da administração, nome-
adamente o diário de receitas e despesas e das doações e lega-
dos pios;4
i) - administrar o Fundo Diocesano do Clero de acordo
com as normas estabelecidas em estatutos próprios.
Artigo 31.º - Competência extraordinária
O Bispo diocesano pode confiar ao Ecónomo a vigilân-
cia sobre a administração de todos os bens pertencentes às
pessoas jurídicas públicas que estejam sujeitas à sua jurisdi-
ção e, mesmo, confiar-lhe a administração dos bens daquelas
pessoas jurídicas públicas que não tenham administrador pró-

4
A matéria patrimonial das causas pias (legados pios e fundações pias autónomas e
não autónomas) tem um tratamento especial no CDC cc. 1301-1310.
40 Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese

prio (CDC c. 1278).


Artigo 32.º- Tomada de posse e juramento
Ao tomar posse do seu ofício, o Ecónomo diocesano deve
fazer, perante o Ordinário do lugar ou seu delegado, o jura-
mento prescrito no cânone 1283, número 1.º, do Código de
Direito Canónico e realizar o que está determinado nos núme-
ros 2.º e 3.º do mesmo cânone.

TÍTULO V

COLÉGIO DE CONSULTORES
Artigo 33.º - Como órgão de consultoria em questões económicas
Em casos especiais da administração dos bens eclesiásti-
cos, o Bispo diocesano deve consultar, além do Conselho Dio-
cesano para os Assuntos Económicos, também o Colégio de
Consultores.5

§1 - O Bispo diocesano deve ouvir o parecer do Colégio


de Consultores:
a) - quando for necessário realizar actos de administra-
ção ordinária que, atendendo ao estado económico da diocese,
se considerem de maior importância (CDC c. 1277);
b) - quando se trata da nomeação do Ecónomo diocesano
ou da sua remoção antes de terminar o quinquénio do seu man-
dato.
§2 - Torna-se necessário o consentimento do Colégio
de Consultores:
a) - quando o Bispo diocesano pretende realizar, na sua

5
Trata-se de um órgão de consultoria, constituído por presbíteros, livremente nome-
ados pelo Bispo diocesano, que o preside, de entre os membros do Conselho Presbite-
ral da diocese, em número não inferior a seis nem superior a doze, que formam, du-
rante cinco anos, o Colégio dos Consultores. A este Colégio, competem várias fun-
ções de suma importância determinadas no CDC; entre elas, estão as que se referem à
administração dos bens eclesiásticos (c. 502).
Parte II Bens e Instituições Administrativas da Diocese 41
diocese, actos de administração extraordinária (CDC c. 1277);
b) - quando o Bispo diocesano tem necessidade de, ele
mesmo, fazer alguma alienação de bens eclesiásticos6 ou au-
torizar outras pessoas jurídicas, sujeitas à sua jurisdição, a que
a façam, com valores superiores ao valor mínimo determinado
pela Conferência Episcopal Portuguesa para tal efeito (CDC
cc. 1292 §1 e 1295).

6
Por alienação entende-se, no sentido lato, qualquer operação da qual possa tornar-se
pior a condição patrimonial da pessoa jurídica em causa (CDC c. 1295); no sentido
estrito, trata-se da venda de bens que constituem o património estável da pessoa jurí-
dica em causa e cujo valor supere a quantidade estabelecida pelo direito (c. 1291).
Para ambos os tipos de alienação se requer a licença oportuna, isto é, não se podem
alienar validamente bens eclesiásticos sem cumprir os requisitos estabelecidos pelos
cânones 1292-1294. Além destas exigências, torna-se necessária também a autoriza-
ção dada pela Sé Apostólica para os seguintes casos: quando o valor dos bens a alie-
nar supera o limite máximo fixado pela Conferência Episcopal Portuguesa (c. 1292
§1); quando se trata de ex-votos dados à Igreja, isto é, objectos oferecidos pelos fiéis
a um altar ou imagem em consequência de um voto (c. 1292 §2); quando se trata de
bens preciosos por razões artísticas ou históricas, isto é, bens pertencentes ao patri-
mónio cultural da Igreja diocesana (c. 1292 §2); quando se alienam relíquias insignes,
imagens preciosas e/ou veneradas com grande devoção nas igrejas e oratórios perten-
centes a instituições da diocese (cc. 1189-1190).
42
43

PARTE III

BENS E INSTITUIÇÕES
ADMINISTRATIVAS DA
PARÓQUIA
44
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 45

TÍTULO I

A PARÓQUIA COMO ESTRUTURA


ADMINISTRATIVA

Capítulo I
Princípios e normas gerais
Artigo 34.º - A Paróquia e a Fábrica da Igreja Paroquial nos
direitoscanónico e civil
Tendo em vista a eficácia da acção pastoral, as dioceses, de
acordo com a lei canónica, são divididas em circunscrições
jurisdicionais, a que o direito denomina por paróquias (CDC cc.
374 e 515 §1). Por ser assim uma instituição importante na vida da
Igreja, a paróquia, quando legitimamente erecta, goza pelo próprio
direito de personalidade jurídica pública (CDC cc. 515 §3 e 116).
§ 1 - Para que tal personalidade jurídica canónica seja
reconhecida pelo Estado Português e a paróquia seja declara-
da ‘pessoa colectiva religiosa’, com um número de identifica-
ção fiscal (NIF), é necessário que, de acordo com o actual di-
reito concordatário, a sua erecção canónica, acompanhada de
um estatuto, seja participada e inscrita no Governo Civil do
distrito a que pertence.1
§ 2 - Como pessoa canónico-jurídica pública, a paróquia
tem capacidade para adquirir, conservar, administrar e alienar
bens temporais, segundo as normas do direito (CDC c.1255).
§ 3 - A Fábrica da Igreja Paroquial, reconhecida pelo Es-
tado Português como pessoa colectiva religiosa, configura ju-
ridicamente, perante o direito civil, a paróquia e, em conse-
quência, é detentora dos direitos e obrigações que o Código de
Direito Canónico atribui às paróquias, pelo que deve ser man-

1
Cf. Concordata 2004 (Santa Sé – Portugal), Artigo 10, n.3.
46 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

tida tal designação, enquanto não for determinada outra coisa.


§ 4 - Em cada paróquia há uma só Fábrica da Igreja. Se,
além da igreja paroquial, existirem outras igrejas ou capelas
sem administração própria, autorizada ou reconhecida pelo
Bispo diocesano, que não sejam propriedade de particulares,
compete à Fábrica da Igreja Paroquial administrar os bens que
lhes estão afectos.
Artigo 35.º - Desempenho administrativo da Fábrica da Igreja Paroquial
A Fábrica da Igreja Paroquial tem por finalidade adquirir
os bens eclesiásticos necessários à paróquia e proporcionar ao
pároco todos os meios indispensáveis para ele, como pastor
próprio e segundo as normas do direito, exercer o seu ofício
pastoral em favor da comunidade paroquial.2 Neste sentido,
compete à Fábrica da Igreja Paroquial:
a) - assumir a administração, construção e conservação
da igreja paroquial;
b) - adquirir as receitas e satisfazer as despesas para a
edificação e conservação dos imóveis necessários para a vida
pastoral, nomeadamente a igreja paroquial, residência paro-
quial, centro paroquial e outros lugares de formação religiosa
e de culto a implementar nos lugares da paróquia, onde as exi-
gências pastorais o requeiram;

2
O Estatuto da Fábrica da Igreja Paroquial apresentado pela Autoridade Eclesiástica
e reconhecido pelo Estado Português na sequência da aprovação da Concordata de
1940 e que vem impresso no documento fundacional de cada paróquia estabelece:
«Fábrica da Igreja Paroquial de ..., a qual: a) tem por fim principal adquirir e possuir
bens destinados ao conveniente exercício do culto divino e ao ensino religioso na
freguesia sobredita; b) representa e promove os interesses e direitos relativos ao seu
mencionado fim; c) é administrada, de harmonia com as regras canónicas, pelo páro-
co legítimo da freguesia, que poderá ser assistido dum “conselho de fábrica”; d) é
representada, em juízo e fora dele, pelo mesmo pároco, com observância dos precei-
tos canónicos; e) goza da capacidade jurídica definida na legislação canónica e na
Concordata, especialmente nos seus artigos quarto e quinto; f) sucede, substituindo-a
para os devidos efeitos, em todos os direitos e haveres, na parte que, segundo o direito
canónico, deva pertencer-lhe, à corporação encarregada do culto na dita freguesia ou
Corporação Fabriqueira Paroquial de ..., que foi instituída pela autoridade eclesiásti-
ca e está reconhecida pela autoridade civil em conformidade com o Decreto n.º 11.887,
de 6 de Julho de 1926».
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 47
c) - constituir e sustentar um Fundo Económico Paroqui-
al destinado a subvencionar as despesas com as obras apostó-
licas, com o culto divino, com a sustentação do pároco e de
outros ministros (se os houver) e com os salários devidos aos
funcionários dedicados ao serviço da paróquia;
d) - assegurar os meios necessários à assistência caritati-
va de responsabilidade paroquial e velar pela administração
das instituições de solidariedade social de âmbito paroquial;
e) - adquirir, conservar, administrar e alienar, de harmo-
nia com o direito, os bens patrimoniais, móveis e imóveis, da
paróquia, salvaguardados os direitos de outras entidades ca-
nónicas que, por concessão da legítima autoridade, gozem de
personalidade jurídica e, em consequência, possuam bens e
administração próprios.

Capítulo II
Fundo Económico Paroquial
e Conselho Paroquial para os Assuntos Económico
Artigo 36.º - Administração unificada dos bens da paróquia
A nova legislação canónica determina a centralização
de todos os rendimentos paroquiais num único fundo econó-
mico paroquial, cuja adequada normativa é de direito particu-
lar. Compete, pois, ao Bispo diocesano, ouvido o Conselho
Presbiteral, «estabelecer as prescrições com que se providen-
cie ao destino destas ofertas e ainda à remuneração dos cléri-
gos que desempenhem o mesmo ministério» (CDC c. 531).

Artigo 37.º - Órgão de aconselhamento na administração dos bens da


paróquia
Em cada paróquia deve existir um Conselho para os As-
suntos Económicos, que, regendo-se pelo direito canónico
universal e particular e por este Estatuto, deve auxiliar o páro-
co na administração dos bens paroquiais, sem esquecer que é
ao pároco que compete a representação jurídica da paróquia, a
48 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

administração dos seus bens e, se delegou em alguém a admi-


nistração dos bens da mesma, velar por que os seus bens sejam
administrados de acordo com o direito patrimonial canónico
(CDC cc. 532; 537 e 1280 - 1289).

TÍTULO II

ESTATUTO DO FUNDO ECONÓMICO


PAROQUIAL

Capítulo I
Natureza e finalidades
Artigo 38.º - Constituição
O Fundo Económico Paroquial, referido no Código de
Direito Canónico, é constituído por todos os bens temporais
da paróquia, seus rendimentos e demais direitos paroquiais,
de tal modo que para esse Fundo revertem e dele saem, res-
pectivamente, todas as receitas e todas as despesas relativas à
vida da paróquia.
§ 1 - No Fundo Económico Paroquial entram os rendi-
mentos de todos os bens, móveis e imóveis, que pertencem à
paróquia (mesmo em nome de Fábrica da Igreja), todos os
emolumentos que resultam da celebração dos sacramentos e
sacramentais, ofertas livres ou solicitadas dos fiéis, taxas re-
sultantes do serviço administrativo do cartório paroquial, fo-
lares pascais e côngruas paroquiais.
§ 2 - O Fundo Económico Paroquial substitui o anterior
sistema de administração, em separado, da Fábrica da Igreja
Paroquial e do Benefício paroquial, e ordena-se à satisfação
de todas as despesas havidas com o culto e o apostolado, cria-
ção e conservação de estruturas pastorais, prática de caridade
e sustento do pároco e demais pessoas ao serviço da paróquia.
§ 3 - O Fundo Económico Paroquial é administrado pelo
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 49
pároco, ouvindo nos assuntos de maior importância e na ad-
ministração extraordinária o seu Conselho Paroquial para os
Assuntos Económicos.
Artigo 39.º - Administração
No Fundo Económico Paroquial estão compreendidas,
numa só administração, as receitas e as despesas de todas as
igrejas pertencentes à paróquia.
§ 1 - Para este efeito, não se consideram pertencentes à
paróquia as igrejas que sejam património de outras pessoas
jurídico-canónicas (institutos religiosos, confrarias, etc.).
§ 2 - Relativamente às igrejas que não são sede de paró-
quia e onde podem existir comissões encarregadas da admi-
nistração dos respectivos bens, procure-se que elas entrem no
regime geral unitário, considerado neste Estatuto, nomeada-
mente quanto a prestação de contas, à comparticipação tribu-
tária para a paróquia e à gestão dos depósitos bancários.
§ 3 - Se houver conveniência em uma igreja não paroqui-
al (capela) ter alguma autonomia administrativa, deve o páro-
co requerê-la ao Bispo da diocese, indicando os motivos que a
justificam, ficando em tudo sujeita a esta legislação, também
no que diz respeito ao regime normativo sobre as Missas com
intenções acumuladas.

Capítulo II
Receitas e despesas
Artigo 40.º - Receitas ordinárias
Constituem receitas ordinárias do Fundo Económico Pa-
roquial, designadamente:
a) - os ofertórios nas Missas destinados à paróquia;
b) - as ofertas depositadas nas caixas de esmolas ou en-
tregues particularmente a quem de direito, desde que não exis-
ta indicação em contrário;
c) - os donativos entregues por ocasião da celebração de
sacramentos e sacramentais, a não ser que, no tocante às ofer-
50 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

tas voluntárias, conste a vontade contrária dos oferentes (CDC


cc. 531 e 1267 §1). Os estipêndios das Missas não estão inclu-
ídos.
d) - os contributos periódicos, como a côngrua/primícia
paroquial e o folar por ocasião da Páscoa, bem como outros
donativos tradicionais ou ocasionais oferecidos pelo exercício
do ministério sacerdotal paroquial;
e) - as taxas relativas a processos e serviços de cartório
paroquial, conforme as normas em vigor;
f) - os rendimentos dos bens móveis e imóveis que, em
propriedade plena, pertencem à paróquia (também os rendi-
mentos dos antigos bens pertencentes ao Benefício paroqui-
al), bem como os rendimentos dos títulos, dividendos, juros e
alugueres, etc..
Artigo 41.º - Receitas extraordinárias
Constituem receitas extraordinárias do Fundo Económi-
co Paroquial, designadamente:
a) - o produto dos legados, heranças e doações (bens que
devem estar em nome da paróquia);
b) - os saldos das festas religiosas celebradas na igreja
paroquial e noutras igrejas não paroquiais pertencentes à pa-
róquia, salvaguardando o que está estabelecido no Artigo 39
§2, deste Estatuto;
c) - os resultados económicos de outras actividades oca-
sionais promovidas ou permitidas pelo pároco, desde que não
se destinem a um fim específico;
d) - o resultado da alienação de bens;
e) - o contributo de pessoas singulares e os subsídios e
comparticipações de entidades públicas e particulares;
f) - o contributo previsto no Artigo 39 §2 deste Estatuto,
estabelecido para as igrejas não paroquiais.
Artigo 42.º - Despesas
Constituem despesas do Fundo Económico Paroquial,
designadamente as que se referem:
a) - à evangelização, catequese e culto divino;
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 51
b) - à formação dos agentes da pastoral;
c) - às obras de espiritualidade e apostolado;
d) - ao exercício da caridade, especialmente em favor
dos necessitados;
e) - à remuneração do clero e de outras pessoas que pres-
tam serviço remunerado à comunidade paroquial;
f) - à manutenção da igreja paroquial, outras igrejas e
demais imóveis;
g) - ao apetrechamento e funcionamento do cartório pa-
roquial;
h) - ao contributo para o Fundo Diocesano do Clero e
para outras instituições diocesanas (cf. Artigo 97, alínea e)
do Estatuto do Fundo Diocesano do Clero);
i) - à ajuda a serviços e organismos diocesanos e arci-
prestais;
j) - ao apoio a outras paróquias mais necessitadas;
l) - aos contributos estabelecidos pelo Bispo diocesano,
nomeadamente para o Fundo Económico Diocesano (cf. Ar-
tigo 16, alínea e), do Estatuto do Fundo Económico Diocesa-
no).

Capítulo III
Verbas com tratamento especial
Artigo 43.º - Ofertas extraordinárias com um fim específico
(consignadas/indexadas)
As ofertas de carácter extraordinário, devidamente auto-
rizadas em orçamento aprovado, destinadas a construção ou
grande reparação de igrejas ou outros imóveis, para que no
fim do ano económico possa haver um juízo certo relativa-
mente ao movimento pecuniário da paróquia, podem ser in-
cluídas na contabilidade geral do Fundo Económico Paroqui-
al, com entrada nas receitas e saída, de igual valor, nas despe-
sas. Tais verbas, porém, devem ser tratadas em administração
própria, a fim de serem dirigidas para o seu fim específico.
52 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

Artigo 44.º - Ofertórios determinados pela Santa Sé, Conferência


Episcopal e Diocese
As colectas determinadas pela Santa Sé, pela Conferên-
cia Episcopal Portuguesa e pelo Bispo diocesano, obrigatoria-
mente recolhidas, em dias próprios, nas igrejas onde houver
celebração eucarística, devem ser lançadas na contabilidade
do Fundo Económico Paroquial, com entrada nas receitas e
saída de igual valor nas despesas, para a sua entrega quam
primum na Cúria diocesana, a fim de serem enviadas aos seus
destinatários.
§ 1 - Estas colectas devem ser feitas em todas as igrejas
da área da paróquia, com concurso de fiéis - também nas per-
tencentes a Institutos Religiosos -, sempre que nelas haja a
celebração de preceito, vespertina ou do dia.
§ 2 - O que se diz relativamente aos ofertórios refere-se
também ao contributo penitencial ou renúncia quaresmal. O
destino destas ofertas dos fiéis obedece a critérios especiais
definidos anualmente pelo Bispo da diocese.
Artigo 45.º - Estipêndios de Missas
Não se inscrevem na receita do Fundo Económico Paro-
quial:
a) - o estipêndio da Missa, nos termos admitidos pelo
direito, e as demais ofertas voluntárias feitas ao pároco, ex-
pressa e claramente, a título pessoal. É, entretanto, lícito ao
sacerdote destinar o estipêndio que lhe pertence a outros fins,
nomeadamente ao Fundo Económico Paroquial ou ao Fundo
Diocesano do Clero, para assim evidenciar a gratuidade da
Eucaristia e a sua dimensão comunitária;
b) - os estipêndios das Missas binadas e trinadas (e
quaternadas, quando autorizadas), deduzida a parte a que os
celebrantes têm direito, a título de pro labore, devem ser envi-
ados na totalidade à Cúria diocesana, a fim de serem aplicados
em benefício do Seminário Diocesano;
c) - os estipêndios colectivos, resultantes de Missas plu-
rintencionais, deduzindo, em cada celebração, um em favor
do celebrante. Estes estipêndios, por determinação da Sé Apos-
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 53
tólica, devem ser entregues na Cúria diocesana, em ordem a
serem aplicados segundo os fins determinados pelo Bispo dio-
cesano.
Artigo 46.º - Depósitos bancários
Os valores financeiros existentes, colocados em depósito
bancário, deverão figurar em nome da paróquia (para já, Fá-
brica da Igreja Paroquial), exibindo o número fiscal de ‘pes-
soa colectiva religiosa’, processando-se a sua movimentação,
pelo menos, com duas assinaturas, sendo obrigatória a do pá-
roco.

Capítulo IV
O pároco, como responsável pela paróquia
Artigo 47.º - Direitos do pároco
O pároco, para além dos deveres e direitos expressos no
CDC, como responsável imediato pela comunidade de fiéis
domiciliados no território da paróquia, consciente de que a vida
dos clérigos deve testemunhar simplicidade e sobriedade (CDC
c. 282 §1), goza do direito a:
a) - receber da paróquia uma remuneração adequada à
sua condição e, com base no Estatuto Económico do Clero,
previamente estabelecida pelo Bispo da diocese;
b) - uma casa (residência paroquial) para habitar, com o
mobiliário indispensável, água, luz e comunicações (CDC c.
533 §1);
c) - usufruir dos benefícios da Segurança Social, de acor-
do com as leis em vigor e mediante os descontos necessários
(CDC cc. 281§2. e 1274 §2);
d) - gozar anualmente um tempo de férias, que não deve-
rá exceder um mês, contínuo ou descontínuo (CDC c. 533 §2)
Artigo 48.º - Garantia de remuneração condigna
Se alguma paróquia ou conjunto de paróquias, que por
provisão lhe foram confiadas, não conseguirem satisfazer, por
completo, as obrigações referidas no artigo anterior, exposto o
54 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

assunto ao seu Arcipreste, este, em diálogo com o Bispo dio-


cesano e a direcção do Fundo Diocesano do Clero, procurará
encontrar o caminho, em ordem a uma solução adequada (cf.
Artigo 99 do Estatuto do Fundo Diocesano do Clero).

Capítulo V
O Pároco, como administrador dos bens eclesiásticos
da paróquia
Artigo 49.º - Configurante jurídico da paróquia
O pároco, ou quem faz canonicamente as suas vezes, re-
presenta a paróquia em todos os assuntos jurídicos, e, em con-
sequência, é ele o administrador de todos os bens patrimoniais
paroquiais, função que, sob a autoridade do Bispo diocesano,
deve exercer de acordo com o direito (CDC cc. 532 e 1279
§2).
Artigo 50.º - Tomada de posse e inventário
Ao tomar posse da paróquia, nos termos do direito, o pá-
roco deve conferir o inventário de todos os bens móveis e imó-
veis a ela pertencentes, para que possa responder por eles; se
tal inventário não existir, providenciará para que seja feito
quanto antes (CDC c. 1283).3
§ único - Deverá ser enviada à Cúria diocesana uma có-
pia do inventário, quer se trate de um novo ou somente de uma
rectificação, bem como cópias autênticas dos documentos e
instrumentos jurídicos, que justificam a propriedade ou posse
do património existente em nome da paróquia (CDC c. 1284).
Artigo 51.º - Defesa do espólio valioso
Tenha o pároco preocupação pela limpeza e dignidade,

3
Muito se recomenda que, quando há substituição de pároco, o pároco cessante, antes
de se desligar das suas funções, confira com o seu sucessor o inventário dos bens
patrimoniais da paróquia; entregue pessoalmente ao novo pároco os livros do registo
paroquial, devidamente escriturados e assinados e encerre as contas da paróquia, no
tocante aos meses decorridos desde Janeiro do ano em curso e as apresente ao ‘visto’
e aprovação.
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 55
segurança e conservação dos bens pertencentes à paróquia,
sobretudo daqueles que, pelo seu valor histórico, artístico ou
devocional, são especialmente valiosos (CDC c. 1220).
§ único - Os livros e documentos mais antigos e imagens
preciosas, se não gozarem de segurança nos seus lugares pró-
prios, feita a informação à comunidade e elaborado minucioso
inventário das peças, devem ser guardados em lugares segu-
ros, entre eles, o Arquivo e o Museu Diocesanos, de harmonia
com o direito particular (CDC c. 535 §5).
Artigo 52.º - Cartório e registo paroquial
Sendo os livros de registo paroquial uma das áreas im-
portantes na administração da paróquia, cuidará o pároco de
que não só sejam devidamente preenchidos, mas também dili-
gentemente guardados e conservados no cartório paroquial
(CDC c. 535).
§ único - Para além dos livros do registo paroquial acima
referidos, haverá igualmente um livro próprio, no qual se es-
criturem, com o devido rigor, as receitas e despesas do Fundo
Económico Paroquial, guardando a documentação correspon-
dente (CDC c. 1284 §2., 7.º).
Artigo 53.º - Visto dos livros paroquiais
No referente ao ano anterior, é obrigação dos párocos
apresentarem ao ‘visto’ os livros do registo paroquial e enviar
à Cúria diocesana, por intermédio dos respectivos Arciprestes
(CDC c. 555), os extractos dos assentos de baptismo, confir-
mação, casamento e óbito, até ao fim do mês de Março.
Artigo 54.º - Apresentação anual de contas
É obrigação de cada pároco apresentar ao Ordinário dio-
cesano, através da Cúria, para aprovação, o relatório de contas
relativas à administração anual da paróquia, durante o primei-
ro trimestre do imediato ano civil.
Artigo 55.º - Prestação de contas aos paroquianos
O pároco, pelo menos, anualmente, deverá prestar contas
aos paroquianos dos bens por eles oferecidos à paróquia, bem
56 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

como da sua aplicação e despesas decorrentes, e do estado de


conservação do património paroquial, segundo as normas es-
tabelecidas pelo direito particular (CDC c. 1287 §2).

Capítulo VI
Administração ordinária e extraordinária
Artigo 56.º - Administração ordinária
O pároco, por força do direito, goza das faculdades ne-
cessárias para o exercício dos actos de administração ordiná-
ria na paróquia e só dentro dos limites deste tipo de adminis-
tração lhe é permitido fazer doações para fins de piedade ou
caridade cristã (CDC c. 1285). Quanto aos actos que excedem
esses limites e que, por isso, são actos de administração extra-
ordinária, só os pode executar mediante licença do Ordinário
diocesano, dada por escrito (CDC c. 1281 §1).
Artigo 57.º - Administração extraordinária
De acordo com o direito (CDC c.1281 §2), o Bispo dio-
cesano, na gestão dos bens da paróquia, declara como actos de
administração extraordinária quanto segue:
a) - aceitar ou rejeitar ofertas ou doações feitas à paró-
quia, directamente ou por interposta pessoa, desde que onera-
das com quaisquer encargos modais ou condições (CDC c. 1267
§2);
b) - adquirir, de modo oneroso, também por permuta, bens
imóveis;
c) - conceder ou contrair empréstimos com os bens da
paróquia;
d) - edificar, modificar ou restaurar igrejas, residências
paroquiais, salões paroquiais, bem como adquirir terrenos des-
tinados à construção dos mesmos; excluem-se os casos de res-
tauro, quando se trate de obras de pequeno vulto, cuja necessi-
dade se manifeste urgente, se respeitem as estruturas existen-
tes e se aplique o mesmo tipo de materiais;
e) - dar ou tomar bens de arrendamento, nos termos defi-
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 57
nidos pela Conferência Episcopal Portuguesa (CDC c. 1297);
f) - alienar bens móveis ou imóveis ou celebrar contratos
de compra e venda que, por força da lei civil, exijam escritura
pública (CDC c.1291).
§ 1 - Deve considerar-se alienação e, para este efeito,
administração extraordinária, tudo o que possa tornar pior a
situação patrimonial dos bens da paróquia, bem como outros
actos que o direito, universal ou particular, declare ou venha a
declarar não poderem praticar-se sem licença da autoridade da
Igreja (CDC c. 1295).
§ 2 - A alienação de bens eclesiásticos, cujo valor exceda a
quantia fixada pela Conferência Episcopal Portuguesa, ou de ex-
votos oferecidos à Igreja, ou de coisas preciosas, em razão da arte
ou da história, requer, juntamente com a licença do Ordinário di-
ocesano, licença da Sé Apostólica (CDC cc. 1290 e 1292 §2).
g) - vender, alugar ou dar de arrendamento bens eclesiás-
ticos a parentes do pároco, até ao quarto grau de consanguini-
dade ou afinidade (CDC c. 1298);
h) - aceitar ou recusar legados pios e vontades pias, parti-
cularmente quando estas assumem a forma de fundação pia,
autónoma ou não autónoma (CDC cc. 1302 e 1304);
i) - propor e contestar, em nome da paróquia, qualquer
acção, no foro civil, relacionada com a administração dos bens
paroquiais (CDC c. 1288).
Artigo 58.º - Delegação de competências nos leigos
O pároco, para que se possa dedicar inteiramente à vida
pastoral, pode delegar a administração dos bens da paróquia
numa pessoa que manifeste qualidades próprias de bom admi-
nistrador (à maneira de um ecónomo ou tesoureiro) que pode
ser escolhida de entre os elementos que constituem o Conse-
lho Paroquial para os Assuntos Económicos. O pároco, po-
rém, será sempre o primeiro responsável pela administração
que, sendo danosa, o obriga à restituição (CDC c. 1289), o
sujeita a penas canónicas (CDC c. 1377) e pode mesmo justi-
ficar a sua remoção da paróquia (CDC c. 1741, 5.º).
58 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

Capítulo VII
Disposições finais
Artigo 59.º - Quase-paróquias, párocos in solidum e outros
O que se diz da paróquia e do pároco deve entender-se,
respectivamente, como referido à quase-paróquia (CDC c. 516
§1), ao pároco in solidum (CDC c. 517), ao administrador pa-
roquial (CDC c. 539) e, servatis servandis, também às reitori-
as (CDC cc. 556 - 563).
§ único - As paróquias e quase-paróquias entregues a um
sacerdote de um Instituto Religioso Clerical ou de uma Socie-
dade Clerical de Vida Apostólica estão igualmente sujeitas ao
que esta legislação determina, em tudo quanto não se opuser
ao acordo celebrado, para o efeito, entre o Bispo diocesano e o
competente Superior religioso (CDC c. 520).

TÍTULO III

ESTATUTO DO CONSELHO
PAROQUIAL PARA OS ASSUNTOS
ECONÓMICOS

Capítulo I
Natureza e finalidades
Artigo 60.º - O Pároco, representante jurídico da paróquia
Sendo a paróquia uma comunidade certa de fiéis, confia-
da, por meio de provisão, pelo Bispo diocesano ao pároco,
como pastor próprio, este, por inerência de ofício, é o respon-
sável jurídico por tudo quanto à paróquia diz respeito, incluin-
do os bens e sua administração (CDC cc. 515 §1, 532 e 1279)
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 59
Artigo 61.º - Direito e dever de consultoria
Na sua função de administrador, o pároco deve rodear-se
de colaboradores peritos e experimentados em matéria de ges-
tão de bens temporais, que deve ouvir, constituindo com ele, e
sob a sua presidência, o Conselho Paroquial para os Assuntos
Económicos, de acordo com o direito universal, as normas
dadas pelo Bispo diocesano e este Estatuto. Os conselheiros,
por sua vez, devem auxiliar o pároco na administração dos
bens da paróquia, sem prejuízo do prescrito no cânone 532
(CDC cc. 537 e 1280).

Capítulo II
Constituição, nomeação e tomada de posse
Artigo 62.º - Constituição
Para a constituição do Conselho Paroquial para os As-
suntos Económicos, devem ser escolhidos fiéis leigos, homens
ou mulheres, de maior idade, com vida familiar regularizada,
dotados de sentido eclesial e pastoral e reconhecidos, na paró-
quia, pela sua seriedade e competência administrativa.
§ 1 - Os conselheiros não devem ocupar lugares políticos
de carácter partidário. Se, entretanto, para eles forem eleitos,
devem suspender as suas funções neste Conselho, enquanto os
ocuparem, salvo se, aceite a justificação apresentada, por es-
crito, foi autorizada pelo Ordinário diocesano a sua perma-
nência.
§ 2 - Com o fim de evitar suspeições de falta de isenção,
não se escolham para este Conselho consanguíneos ou afins
do pároco, até ao quarto grau.
Artigo 63.º - Nomeação
Os elementos propostos para formarem o referido Con-
selho Paroquial, por princípio em número de três a sete, serão
apresentados pelo pároco ao Ordinário diocesano, que, se achar
por bem, os nomeará por um período de três anos, podendo ser
reconduzidos por mais um ou, no máximo, mais dois triénios,
60 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

só podendo exceder este prazo quando se verificarem razões


muito fortes para a sua permanência neste serviço e houver
acordo do Ordinário diocesano, dado por escrito.
§ único - A renovação do Conselho Paroquial para os
Assuntos Económicos, excepto em caso de morte, demissão
ou exoneração de algum membro, deve ser requerida à Cúria
diocesana, no último trimestre do último ano do mandato. O
novo mandato começará com o novo ano civil.
Artigo 64.º - Remoções
Por razões graves, devidamente fundamentadas, o Ordi-
nário diocesano pode remover todos ou alguns membros do
Conselho, depois de ouvir o pároco e respectivos membros
(CDC c. 193 §2).
Artigo 65.º - Vacância da paróquia
Durante a vagatura da paróquia, por transferência ou morte
do pároco ou por outra causa, o Conselho continuará em fun-
ções, agora sob a presidência do vigário paroquial ou adminis-
trador paroquial, devendo evitar, durante esse tempo, gastos
supérfluos e inovações.
§ único - As funções do Conselho cessam com a tomada
de posse do novo pároco que, se achar por bem, o pode recon-
duzir.
Artigo 66.º - Tomada de posse
Após a nomeação feita pelo Ordinário diocesano, o Con-
selho deve tomar posse, fazendo juramento de fidelidade à Igre-
ja e à missão que lhe é confiada, na presença do pároco e da
comunidade paroquial. Por conveniência pastoral, em conjunto
com outros Conselhos da mesma natureza e da mesma zona, a
tomada de posse e juramento pode acontecer diante do bispo ou
seus vigários. Em reunião imediata, o pároco dar-lhe-á a conhe-
cer o inventário dos bens da paróquia e da sua situação patrimo-
nial. Do acontecido, deve ser lavrada acta, em livro próprio.
Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia 61
Capítulo III
Competência jurídico-pastoral
Artigo 67.º - Voto consultivo
O Conselho tem voto meramente consultivo. No entanto,
o pároco não deve afastar-se do seu parecer, sobretudo em
matérias de maior importância, administração extraordinária e
se tal parecer foi concorde, a não ser por motivo prevalente
que, em diálogo com o Bispo Diocesano, avaliará (CDC c.
127 §2., 2.º).
Artigo 68.º - Obrigação de consulta
O pároco deve ouvir o Conselho Paroquial para os As-
suntos Económicos em todos os assuntos de maior importân-
cia ou de administração extraordinária e, para poder prosse-
guir o processo em ordem à obtenção da necessária autoriza-
ção do Ordinário diocesano, precisará do voto afirmativo da
maioria dos elementos do Conselho expresso em acta.
Artigo 69.º - Distribuição de competências
O pároco pode confiar aos membros do Conselho Paro-
quial para os Assuntos Económicos, ou, pelo menos, a alguns
deles, mais preparados para o efeito, o encargo de secretário,
de orientar ou esboçar a elaboração das contas e do orçamento
paroquiais, bem como de fazer, no fim de cada ano, o relatório
geral da administração, de vigiar o estado de conservação dos
bens da paróquia, de zelar e defender o património da Igreja,
de rever o inventário, etc., ficando assim o pároco mais livre
para o serviço pastoral.
Artigo 70.º - Limites de competência
O Conselho não pode intervir nos assuntos patrimoniais,
cuja apreciação compete a instâncias eclesiásticas superiores,
nem em assuntos patrimoniais de associações/confrarias ou de
outros organismos que existam na paróquia e gozem de auto-
nomia administrativa.
62 Parte III Bens e Instituições Administrativas da Paróquia

Artigo 71.º - Múnus espiritual


O Conselho não pode imiscuir-se no que respeita ao mú-
nus espiritual e pastoral, nomeadamente ao exercício do culto
divino, ao preenchimento e guarda dos livros de registo paro-
quial e à designação dos servidores da igreja paroquial, a não
ser que o pároco lhes endosse tal tarefa.
Artigo 72.º - Reuniões
O Conselho deve reunir, de forma ordinária, mensalmen-
te e, de forma extraordinária, sempre que a urgência ou natu-
reza dos assuntos o exija.
§ 1 - A convocatória será feita pelo pároco, com a antece-
dência e o modo combinados na primeira reunião.
§ 2 - De cada reunião, tanto ordinária como extraordiná-
ria, deverá ser lavrada uma acta, em livro próprio, na qual cons-
tem, além das presenças, os assuntos tratados e as sugestões
propostas.
Artigo 73.º - Relacionamento entre os Conselhos Económico e Pastoral
da paróquia
Atendendo à finalidade pastoral dos bens eclesiásticos,
tenha-se em conta o seguinte:
§ 1 - O Conselho Paroquial para os Assuntos Económi-
cos deve estar representado, por um dos seus elementos, no
Conselho Pastoral Paroquial.
§ 2 - Antes de iniciar o novo ano pastoral, sem prejuízo
do § anterior, é conveniente que o pároco convoque, sob a sua
presidência, uma reunião com estes dois Conselhos, em or-
dem a que todos os seus elementos se inteirem das actividades
pastorais previstas para o novo ano, possam programar inves-
timentos de acordo com as disponibilidades económicas da
paróquia e ajudem a encontrar as soluções adequadas para ul-
trapassar a eventual carência de meios financeiros.
63

PARTE IV

BENS TEMPORAIS DA
IGREJA AO SERVIÇO DO
CLERO
64
Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero 65

TÍTULO I

ESTATUTO ECONÓMICO DO CLERO

Capítulo I
Objectivo e destinatários
Artigo 74.º - Objectivo
O Estatuto Económico do Clero tem como objectivo ajus-
tar a situação económica do clero ao espírito e exigências do
Concílio Vaticano II, em especial do Decreto sobre o Ministé-
rio e Vida dos Presbíteros (PO), e às determinações do Código
de Direito Canónico.
Artigo 75.º - Destinatários
Os direitos e deveres consignados neste Estatuto dizem
respeito:
a) - a todos os sacerdotes incardinados nesta Diocese de
Viana do Castelo que nela trabalham ou, trabalhando noutras
instituições eclesiásticas ou civis, tenham recebido do Bispo
diocesano a necessária provisão ou autorização;
b) - aos sacerdotes que não pertencem ao clero da Dioce-
se e estão ao serviço da mesma, com nomeação canónica, ten-
do presente, no entanto, o que se dispõe no número 5. do Arti-
go 91.º;
§ único - Aos sacerdotes mencionados na alínea anteri-
or que forem Religiosos, a aplicação deste Estatuto terá as par-
ticularidades que expressamente constarem do acordo a esta-
belecer, em cada caso, entre o respectivo Instituto Religioso e
a Diocese;
c) - aos diáconos permanentes, se os houver, regulando-
se, porém, a sua situação pela legislação canónica (CDC c.
281 §3) e o que está determinado pela Conferência Episcopal
Portuguesa.
66 Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero

Capítulo II
Deveres e direitos económicos do clero
Artigo 76.º - Aspectos fundamentais
Os dois aspectos fundamentais que caracterizam o Es-
tatuto Económico do Clero são o da definição de uma remune-
ração mensal/base e de uma assistência social condigna, de
forma a dar-se cumprimento ao que se dispõe no CDC c. 281
§§1 e 2.
Artigo 77.º - Critérios para a remuneração
1 - Considerando a igual dignidade de que se encontram
revestidos os sacerdotes, a remuneração mensal:
a) - será basicamente a mesma para todos (PO n. 20);
b) - garantir-lhes-á a honesta sustentação a que têm direi-
to (CDC c. 281 §1);
c) - proporcionar-lhes-á condições para um nível de vida
digno do seu ministério;
d) - corresponderá ao espírito de desprendimento e sim-
plicidade de vida a que são chamados a dar exemplo (CDC c.
282 §1; PO n. 17).
2 - A diversidade de circunstâncias pode justificar um
suplemento, compensação ou subsídio conforme o disposto
nos Artigos 81.º, 82.º e 86.º, 2 deste Estatuto.
Artigo 78.º - Fixação da remuneração
A remuneração mensal dos sacerdotes é fixada pelo Bis-
po da Diocese, ouvido o Conselho Presbiteral (CDC c. 531), o
Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos, o Colégio
de Consultores (CDC c. 1277) e a Comissão a que se refere o
Artigo 98.º do Estatuto do Fundo Diocesano do Clero.
Artigo 79.º - Actualização da remuneração
A remuneração base deverá ser actualizada anualmente
de harmonia com a inflação e tendo presente a realidade das
outras Igrejas diocesanas.
Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero 67
Artigo 80.º - A quem incumbe o dever de remunerar
Os sacerdotes são remunerados pelas paróquias, quase-
paróquias, instituições ou serviços em que exercem o seu mi-
nistério.
§ único - Tal remuneração só poderá ser superior à fixa-
da, quando é garantida por instituições sobres as quais o Ordi-
nário diocesano não possui jurisdição. E, neste caso, tenha-se
em conta o que é estabelecido no Artigo 83.º do presente Esta-
tuto.
Artigo 81.º - Suplemento de remuneração
1- A remuneração pode ser acrescida de um suplemento,
a determinar caso a caso, quando circunstâncias particulares o
exigirem ou aconselharem.
2- Tais circunstâncias podem ser:
a) - de ordem pessoal ou familiar;
b) - relativas aos que garantem o serviço doméstico;
c) - relacionadas com o próprio ofício eclesiástico, mor-
mente quando este, pela sua dispersão ou acumulação de paró-
quias ou serviços, implicar despesas de transportes.
Artigo 82.º - Acumulação de funções
Ao sacerdote que tiver a seu cargo mais do que uma pa-
róquia ou quase-paróquia ou qualquer outro serviço pastoral,
a remuneração e os suplementos, se necessários, devem ser
garantidos pelas paróquias ou serviços em causa e na propor-
ção das suas possibilidades.
§1 - À entrada em vigor deste Estatuto, o caso daqueles
sacerdotes que estão numa situação de acumulação de funções
deve ser revisto, se for necessário e logo que possível, de modo
a estar de acordo com o que é estabelecido neste Estatuto.
§2 - A percentagem a suportar pelas paróquias ou servi-
ços deve ser determinada no acto de nomeação que provoca a
acumulação de ofícios.
Artigo 83.º - Rendimentos excedentários
1 - Em virtude da igualdade e da comunhão entre os mem-
68 Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero

bros do presbitério diocesano e a exemplo da gratuidade com


que a grande maioria dos cristãos leigos serve a Igreja, os sa-
cerdotes que recebam dos serviços que prestam, mesmo civis,
um quantitativo superior à remuneração fixada a nível dioce-
sano, devem entregar, para o Fundo Diocesano do Clero, pelo
menos 50% do valor líquido do excedente.
2 - A parte do excedente que provenha da remuneração
ordinária por serviços paroquiais ou diocesanos, deve ser en-
tregue na sua totalidade, para o Fundo Diocesano do Clero.
3 - São dispensados do contributo mencionado na alínea
g) do Artigo 97.º do Fundo Diocesano do Clero os sacerdotes
que, dos excedentes, entregarem para o Fundo Diocesano do
Clero a quantia superior ao mesmo.
Artigo 84.º - Estipêndio das Missas e outras ofertas pessoais
1 - De harmonia com o direito da Igreja, “é lícito a qual-
quer sacerdote, que celebre ou concelebre a Missa, receber o
estipêndio oferecido para que a aplique por determinada in-
tenção”. Muito se lhe recomenda, todavia, “que, mesmo sem
receber estipêndio, celebre a Missa por intenção dos fiéis, em
particular, dos mais pobres” (CDC c. 945). No caso em que o
receba, o estipêndio pertence-lhe, independentemente da re-
muneração que lhe for atribuída.
2 - Pertencem-lhe também outras ofertas não estipula-
das, se constar, expressa e claramente, que lhe são entregues a
título pessoal (CDC cc. 531 e 1267 §1).
Artigo 85.º - Intervenção supletiva do Fundo Diocesano do Clero
Se as possibilidades económicas da instituição em que o
sacerdote exerce o ministério não lhe permitem a sua remune-
ração na íntegra, mesmo incluindo qualquer outra receita que
lhe advenha de eventual acumulação de ofícios, o que faltar
para o total estabelecido é concedido, a título supletivo, pelo
Fundo Diocesano do Clero.
Artigo 86.º - Direito a residência
1 - Os sacerdotes têm direito a alojamento oferecido:
a) - pelas respectivas paróquias, quando se trate de clero
Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero 69
com ofício paroquial (CDC c. 533). Tal encargo inclui a casa
convenientemente mobilada e em bom estado de conservação,
mas não as despesas de alimentação e outras, decorrentes do
facto de nela se habitar, tais como as de consumo de água,
electricidade e telefone, à semelhança da situação dos inquili-
nos, segundo a lei civil.
b) - pela Diocese, quando se trata de clero sem ofício
paroquial que exerce o seu ministério nos Serviços Centrais
da Diocese;
c) - por outras instituições, quando, para tal serviço, fo-
ram designados mediante nomeação canónica.
2 - Quando qualquer das entidades a que se refere o nú-
mero 1. não puder proporcionar residência ao sacerdote que
nela exerce o ministério, ser-lhe-á atribuído um suplemento
de residência, a determinar em cada caso.
Artigo 87.º - Direito a férias
1 - Os sacerdotes têm direito a gozar anualmente 30 dias
de férias, contínuos ou descontínuos. Os párocos, porém, para
que possam ausentar-se por mais de uma semana, devem dar
conhecimento do facto ao Ordinário diocesano (CDC c. 533
§3) e prover o acompanhamento pastoral da paróquia.
2 - Não se contam como tempo de férias os dias reserva-
dos anualmente ao retiro espiritual, cursos promovidos pela
Diocese para a formação permanente do clero e outros cursos
de actualização, mesmo que não promovidos pela Diocese.
Artigo 88.º - Direito a assistência social
1 - O sacerdote tem direito à segurança e assistência so-
ciais que, de acordo com o CDC (cc. 281 §2 e 1274 §2), impli-
ca que se proveja convenientemente às suas necessidades em
caso de doença, invalidez ou velhice.
2 - Nestes casos, os sacerdotes merecem particularíssima
solicitude por parte do presbitério em geral, segundo o modo e
pelos meios, quer institucionais quer ocasionais, que melhor
exprimam a caridade fraterna entre os presbíteros.
70 Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero

Artigo 89.º - Apoio da Casa Sacerdotal


Independentemente de outros direitos, os sacerdotes po-
derão usufruir das várias valências oferecidas pela Casa Sa-
cerdotal, incluindo a assistência na doença, invalidez ou ve-
lhice, nos termos do respectivo Estatuto.
Artigo 90.º - Inscrição nos institutos de previdência
1- Para garantia da conveniente assistência em caso de
doença, invalidez ou velhice, os sacerdotes devem inscrever-
se na Segurança Social e são vivamente exortados a fazerem-
se sócios da Fraternidade Sacerdotal de Braga/Viana do Cas-
telo.
2 - Em caso de negligência no cumprimento destes prin-
cípios, o Fundo Diocesano do Clero não se sentirá obrigado a
assegurar os benefícios que daí proviriam, sentindo-se apenas
na obrigação de contribuir com a percentagem que lhe couber
cumulativamente, de harmonia com o Artigo 91.º deste Esta-
tuto.
Artigo 91.º - Reforma
1 - Os sacerdotes têm direito aos valores de reforma, se-
gundo os descontos feitos para a Segurança Social/Caixa de
Previdência, Funcionalismo Público ou outros.
2 - A reforma por motivo de doença ou invalidez dá-lhes
direito a uma pensão igual à remuneração de base, fixada para
os que se encontram ligados ao serviço pastoral activo, mas
não direito aos suplementos, compensações ou subsídios de
que até aí beneficiavam, excepto se se mantiverem os motivos
que lhes serviam de justificação, a estudar caso a caso.
3 - O limite mínimo de reforma referido no número ante-
rior deste Artigo será assegurado cumulativamente:
a) - pelos valores referidos no número 1;
b) - por um subsídio do Fundo Diocesano do Clero, se tal
subsídio for necessário e na medida em que o for, até se perfa-
zer a totalidade da remuneração a que tinham direito no exer-
cício do ministério, tendo-se em conta os números 1 e 2 do
Artigo 90.º deste Estatuto.
Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero 71
4 - Os sacerdotes que, por razões graves de saúde, não
podem exercer uma missão canónica têm direito à reforma de
base, mesmo quando não estejam ainda reformados civilmen-
te.
5 - Quando se tratar de sacerdotes que, não estando in-
cardinados na Diocese, exercem nela o ministério pastoral com
nomeação canónica, o disposto na alínea b), do número 3 des-
te Artigo, aplica-se somente aos que, ao atingirem a reforma,
se encontrem ao serviço da Diocese. O montante a atribuir
pelo Fundo Diocesano do Clero achar-se-á com base na pro-
porção dos anos de serviço prestado à Diocese.
Artigo 92.º - Direito de renúncia
1 - A afirmação dos diversos direitos mencionados neste
Estatuto não prejudica a possibilidade de renunciar, no todo
ou em parte, a qualquer deles.
2 - Se mudarem as circunstâncias em que se haja exerci-
do o direito de renúncia, poderá este, com a aprovação do Bis-
po diocesano, dar-se como findo, sem direito a retroactivida-
des de benefícios.
Artigo 93.º - Passagem ao novo regime
A passagem do regime beneficial ao do presente Estatuto
torna-se obrigatória:
a) - para os sacerdotes com ofício paroquial, a partir da
determinação da existência do Fundo Económico Paroquial
(da Fábrica da Igreja Paroquial);
b) - para os sacerdotes cujo ministério é exercido nos ser-
viços centrais da Diocese, a partir da instituição do Fundo Eco-
nómico Diocesano;
c) - para os sacerdotes não contemplados nas alíneas an-
teriores, deverá tal assunto ser tratado caso a caso.
72 Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero

TÍTULO II

ESTATUTO DO FUNDO DIOCESANO


DO CLERO

Capítulo I
Natureza e finalidades
Artigo 94.º - Instituição e objectivo
A instituição do Fundo Diocesano do Clero tem como
objectivo genérico providenciar à condigna sustentação dos
sacerdotes (CDC c. 1274 §1).
Artigo 95.º - Prossecução do objectivo
O Fundo Diocesano do Clero prossegue o seu objectivo:
a) - garantindo aos sacerdotes, no todo ou em parte, a
remuneração a que têm direito, na medida em que não o pos-
sam fazer, por si, as paróquias, quase-paróquias e outras insti-
tuições ou serviços onde exercem o ministério sacerdotal;
b) - atribuindo-lhes, para efeitos de reforma, o subsídio
previsto no Artigo 91.º, n. 3, alínea b), do Estatuto Económico
do Clero;
c) - proporcionando-lhes, mediante autorização do Bispo
diocesano, eventual contributo, em situações a que se não pos-
sa responder a outro título.
Artigo 96.º - Beneficiários
1 - Podem beneficiar do Fundo Diocesano do Clero to-
dos os clérigos abrangidos pelo articulado do Estatuto Econó-
mico do Clero (cf. Artigo 75.º desse Estatuto).
2 - Quaisquer outros sacerdotes, idosos ou inválidos, re-
sidentes na área da Diocese, poderão, ocasionalmente, e de
harmonia com o Artigo 99.º deste Estatuto, beneficiar do Fun-
do Diocesano do Clero, se se encontrarem em situações de
Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero 73
carência a que não possa acudir-se por outra via e tenham o
seu Bilhete de Identidade Sacerdotal actualizado.
Artigo 97.º - Receita
Constituem receita do Fundo Diocesano do Clero:
a) - os rendimentos dos bens móveis ou imóveis que vie-
rem a pertencer ou a estar consignados ao Fundo Diocesano
do Clero, de acordo com o Código de Direito Canónico (cc.
1272 e 1274 §1);
b) - a participação atribuída pelo Fundo Económico Dio-
cesano;
c) - o ofertório diocesano do Domingo do Bom Pastor;1
d) - a parte a determinar pelo Bispo diocesano sobre os
estipêndios acumulados das Missas plurintencionais;
e) - o tributo anual de 3% sobre o saldo positivo das re-
ceitas anuais das paróquias ou quase-paróquias (CDC cc. 531
e 1263);
f) - o tributo anual de 3% sobre o saldo positivo das re-
ceitas anuais de reitorias, irmandades, confrarias ou qualquer
outra pessoa jurídica pública, bem como de secretariados,
movimentos e obras diocesanos com receita própria;
g) - o contributo de 3% sobre a remuneração anual de
cada sacerdote;
h) - a ajuda pessoal com que os sacerdotes queiram parti-
cipar, para além do disposto na alínea anterior, segundo o es-
pírito do Decreto Presbyterorum Ordinis (nn. 17 e 21);
i) - as ofertas das Casas dos Institutos de Vida Consagrada e
das Sociedades de Vida Apostólica, existentes na área da Diocese;
j) - as dádivas dos fiéis.
Artigo 98.º - Administrador e Comissão de Administração
1 - O Fundo Diocesano do Clero é administrado pelo
Ecónomo diocesano, em colaboração com uma Comissão pre-
sidida pelo Bispo da Diocese e constituída por três sacerdotes

1
Decretado pelo Bispo diocesano, em 03 de Abril de 1989.
74 Parte IV Bens Temporais da Igreja ao Serviço do Clero

eleitos pelo Conselho Presbiteral de entre os seus membros.


2 - Esta Comissão dará anualmente conhecimento da si-
tuação financeira do Fundo Diocesano do Clero, em reunião
do Conselho Presbiteral.
Artigo 99.º - Competência da Comissão de Administração
À Comissão compete apreciar e dar parecer ao Bispo da
Diocese sobre:
a) - os quantitativos a fixar nos casos previstos no Estatu-
to Económico do Clero, nos Artigos 81.º, 82.º e 85.º;
b) - a existência de circunstâncias que aconselhem o re-
curso às excepções previstas no Estatuto Económico do Clero,
no Artigo 91.º, nn. 2, 3b) e 5;
c) - a situação dos sacerdotes normalmente impossibili-
tados de beneficiar do Fundo Diocesano do Clero para efeitos
do que dispõe o número 2 do Artigo 96.º deste Estatuto;
d) – a resolução das dúvidas suscitadas na interpretação e
aplicação do presente Estatuto, à luz do seu Artigo 101.º.
Artigo 100.º - Audição das pessoas interessadas
1 - A Comissão não deve dar os pareceres que lhe compe-
tem, sem previamente se avistar, em ambiente de diálogo, com
os sacerdotes em causa.
2 - Sendo estes do clero com ofício paroquial, a Comis-
são deve, além disso, avistar-se também com o respectivo Ar-
cipreste e estudar cuidadosamente a situação económica da
paróquia ou quase-paróquia, ouvido, sempre que possível, o
seu Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos.
Artigo 101.º - Resolução das dúvidas
As dúvidas que surgirem na interpretação e aplicação do
presente Estatuto são resolvidas pelo Bispo da Diocese, ouvi-
da a Comissão referida no Artigo 98.º.
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