Decisão-Homologação-oi RJ
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Tribunal de Justiça
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Fls.
Processo: 0203711-65.2016.8.19.0001
Processo Eletrônico
Autor: OI S.A.
Autor: TELEMAR NORTE LESTE S.A.
Autor: OI MÓVEL S.A.
Autor: COPART 4 PARTICIPAÇÕES S.A.
Autor: COPART 5 PARTICIPAÇÕES S.A.
Autor: PORTUGAL TELECOM INTERNATIONAL FINANCE B.V.
Autor: OI BRASIL HOLDINGS COÖPERATIEF U.A.
Interessado: PROCURADORIA FEDERAL JUNTO ANATEL
Interessado: BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A.
Administrador Judicial: ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA ARNOLDO WALD
Interessado: CHINA DEVELOPMENT BANK COORPORATION
Interessado: GLOBNET CABOS SUBMARINOS S.A.
Interessado: PRICEWATERHOUSE COOPERS ASSESSORIA EMPRESARIAL
Representante Legal: JOSE MAURO FERNANDES BRAGA JÚNIOR
Interessado: GOLDENTREE DISTRESSED FUND 2014 LP E OUTROS
Interessado: PTLS SERVIÇOS DE TECNOLOGIA E ASSESSORIA TÉCNICA LTDA
Interessado: MAZZINI ADMINISTRAÇÃO LTDA
Interessado: TIM CELULAR S.A E OUTRO
Interessado: JEAN LEON MARCEL GRONEWEGEN
Interessado: THE BANK OF NEW YORK MELLON S.A
___________________________________________________________
Em 08/01/2018
Decisão
Tratam os autos de ação da recuperação judicial das empresas OI S.A., TELEMAR NORTE
LESTE S.A., OI MÓVEL S.A., COPART 4 PARTICIPAÇÕES S.A., COPART 5 PARTICIPAÇÕES
S.A., PORTUGAL TELECOM INTERNATIONAL FINANCE B.V. e OI BRASIL HOLDINGS
COÖPERATIEF U.A do GRUPO OI.
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não havendo, no seu entender, mais previsão de tratamento diferenciado de credores, sem
critérios razoáveis e objetivos.
Aponta, porém, o Parquet algumas cláusulas que devem ser pontualmente revistas, no seu
entender, pelo Poder Judiciário. Mais especificamente, o MP requer:
- o afastamento da cláusula 4.3.4 do plano, que prevê os termos de pagamento dos créditos não
tributários detidos pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, por entender que os
créditos só podem ser pagos nos termos da legislação vigente (Leis 10.522/2002 e 13.494/2017),
cabendo à AGC apenas "optar por uma ou mais formas de pagamento já estabelecidas em lei,
jamais inovar em relação às suas disposições para beneficiar o devedor com condições mais
brandas";
- seja estendido o pagamento das "fees" previstas no mesmo Anexo a todos os credores
integrantes da Classe III com o mesmo perfil (valor, origem do crédito e higidez de garantias de
aporte), que se comprometam a investir novos recursos na companhia através da subscrição
daquelas ações nas mesmas condições;
- seja determinado aos órgãos diretivos das Recuperandas que convoquem AGE com a finalidade
de adequar os estatutos das companhias às decisões tomadas em AGC, bem como para
formalmente implementar o aumento de capital e a emissão das ações ordinárias pertinentes.
Por fim, o MP considerou superável a exigência inscrita no art. 57 da LRF, tendo em vista a
jurisprudência formada e consagrada sobre o assunto, inclusive no STJ.
A ANATEL também peticionou nos autos, alegando que "as disposições contidas no Plano de
Recuperação Judicial da Oi, mormente a pretensão de parcelamento com o uso dos depósitos
judiciais como entrada e descontos para os juros e multa de mora (Cláusula 4.3.4)" não possuem
efeitos para a Agência em razão de suas ilegalidades. Ressaltou a Agência que as hipóteses de
parcelamento dos seus créditos estão em desconformidade com a Lei 10.522/02 e MP 780/17 e
com as decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça, que determinaram a participação da ANATEL
na AGC desde que as legislações correlatas à autarquia fossem respeitadas.
Passo a decidir.
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Mas, sabendo-se que a negociação com os credores, especialmente com os que detêm créditos
relevantes, é medida que se impõe para o sucesso da recuperação judicial (sucesso no sentido de
satisfação máxima dos credores quanto ao recebimento dos seus créditos, atrelado ao
soerguimento da própria empresa), entendi necessária a atuação firme do Poder Judiciário no
momento conturbado pelo qual passavam as Recuperandas.
A este último foi conferida a missão de apresentar até o dia 12/12/2017 o plano de recuperação,
independentemente de aprovação pelo Conselho de Administração, o que foi cumprido após
intensas negociações.
A referida decisão do Juízo foi atacada por agravo de instrumento e por nova petição nos autos na
qual o acionista Société Mondiale pediu inclusive o adiamento da AGC designada para o dia 19.
Tanto em primeiro grau como em segundo grau, a decisão foi mantida. Nos termos da decisão
proferida pela Des. Monica Maria Costa no AI 0072315-31.2017.8.19.0000:
"Não há como deixar de reconhecer que, no cenário de uma recuperação judicial, o princípio da
função social da propriedade, bem como da empresa, devem balizar o exercício dos direitos dos
acionistas, disciplinados notadamente nos art.116 e 154, ambos da LSA, que não mais se
encontram adstrito ao interesse do empresário, mas sim da sociedade empresarial e do interesse
social indissociável ao soerguimento da empresa viável, de forma a ser preservada a fonte
produtora e geradora de empregos, bens e serviços, a fim de que seja promovida sua função
social e estimulando a atividade econômica. (...) As causas elencadas pelo magistrado de piso
para a adoção das medidas determinadas na condução da recuperação judicial, quais sejam, a
existência de indícios de abuso de poder, a possível interferência de terceiros potencialmente
conflitados, eventual resistência a deliberações já tomadas na recuperação judicial e atuação
independente dos Diretores nomeados tanto em relação aos acionistas controladores, quanto aos
credores, demandam dilação probatória mínima, a qual desborda o juízo de cognição percuciente.
De outro lado, não há qualquer prova no sentido de que a antiga Diretoria, que vem sendo a
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A Assembleia Geral de Credores foi então realizada no dia 19/12/2017 e a prova de que um
ambiente tranquilo era fundamental para que a Diretoria negociasse com os credores foram os
pedidos de suspensão formulados no curso da AGC por relevantes credores das recuperandas,
como os bondholders, bancos públicos e bancos de fomento estrangeiros, de forma a que últimas
negociações e ajustes fossem feitos ao plano.
Como destacado pelo parecer do Ministério Público que opinou pelo indeferimento do pedido de
adiamento da AGC formulado pelo referido acionista, o aprimoramento do plano e a dissipação
dos impasses na negociação podem e devem ser realizados no curso da AGC:
"Ocorre, no entanto, que seu aprimoramento é possível até mesmo durante o conclave que se
aproxima, sendo de responsabilidade de todos aqueles que dela participam produzir algo passível
de aprovação pelo juízo. TAL INCOMPLETUDE NÃO DEVE SER ÓBICE À REALIZAÇÃO DA
ASSEMBLEIA, MAS SIM MAIS UM MOTIVO PARA QUE ELA SE INSTALE E DISSIPE UMA
SÉRIE DE IMPASSES DE NEGOCIAÇÃO QUE SE MOSTRARAM EVIDENTES AO LONGO
DESSES ÚLTIMOS MESES. Ademais, como é comum em processos dessa magnitude, nada
impede que uma vez instaurada, obtenha-se avanço em pontos de consenso com a suspensão
para discussões mais aprofundadas acerca dos entraves."
Dito e feito, como vaticinado pelo Ministério Público. As negociações ocorridas durante a AGC
dissiparam diversos impasses, e, após as suspensões realizadas no curso do conclave, cujos
trabalhos duraram cerca de 20 horas (o cadastramento dos credores se iniciou às 8:30h do dia
19/12 e a ata foi assinada às 4:45h do dia 20/12, como informado pelo AJ), o plano foi aprovado
pela maioria esmagadora dos credores.
Assim, parece ter sido acertada a decisão que conferiu ao Presidente do Grupo OI a prerrogativa e
a responsabilidade de negociar com os credores um plano que atendesse aos interesses da
coletividade.
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A presente recuperação, como já salientado nos autos, traz números nunca antes vistos em um
processo de recuperação judicial. E esse gigantismo é obviamente um reflexo do tamanho das
Recuperandas. Não custa lembrar que o Grupo OI é um dos maiores conglomerados empresariais
do Brasil, com forte impacto na economia brasileira e recolhedor de valores bilionários aos cofres
públicos a título de impostos.
As Recuperandas têm mais de 70 milhões de usuários, geram mais de 140 mil empregos, é
responsável por sistema de telecomunicações que viabilizam atividades fundamentais ao país,
como as eleições estatais, têm cerca de 3.000 municípios que dependem exclusivamente de sua
rede e está presente em quase 100% do território nacional. Assim, por essas peculiaridades, o
soerguimento do Grupo tem especial relevo no contexto sócio-político-econômico do país.
Por isso, reunir em AGC os inúmeros credores do Grupo que estão espalhados por todo o Brasil, e
também no exterior, era uma tarefa complexa e que demandou uma primorosa atuação do
Administrador Judicial, que desenhou, estruturou e organizou um evento que estivesse apto a
receber todos os interessados.
Como se extrai do resumo da lista de presença anexado à ata da AGC e colacionado abaixo para
facilitar a visualização, a Assembleia contou com a participação maciça dos credores das
Recuperandas:
CLASSE I TRABALHISTAS
Total de Credores: 4075 / Total de presentes 3383
83.02% dos credores presentes
Total do valor dos Credores: 883.824.793,07 / Total do valor dos presentes: 815.561,515,41
92,28% dos valores presentes
CLASSE IV - MICROEMPRESA
Total de Credores: 1927 / Total de presentes: 994
51.58% dos Credores Presentes
Total do valor dos Credores: 50.704.412,75 / Total do valor dos presentes: 29.934.973,26
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O resultado da votação revela que também foi maciço o apoio dos credores ao plano. Confira-se,
por oportuno, o laudo de votação anexado pelo Administrador Judicial:
CLASSE I - TRABALHISTA
Total de votos Cabeça Total de Votos Crédito
Total SIM: 3104 (100%)
789.681.310,63 (100%)
Total Não: 0 (0%)
0,00 (0%)
CLASSE IV - MICROEMPRESA
Total de Votos Cabeça Total de Votos Crédito
Total SIM: 992 (99,8%) 29.855.923,04
(99,74%)
Total NÃO: 2 (0,2%) 79.050,22
(026%)
Ou seja, depois de mais de 20 horas de trabalhos, a AGC foi concluída com a expressiva
aprovação do plano, em todas as classes de credores.
Computando-se o voto por cabeça, o plano foi aprovado por 100% dos credores das classes I e II,
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Computando-se o voto por valor, o plano foi aprovado por 100% dos credores das classes I e II,
por 72,17% da classe III e por 99,7% da classe IV
A classe III (valor) apenas não alcançou percentual próximo de 100, como as demais, em razão do
voto desfavorável da ANATEL que desde o início do processo se insurge quanto (i) à submissão
do seu crédito ao processo de recuperação, sendo certo de que já há decisão deste Juízo,
confirmada pelo e. Tribunal de Justiça, afirmando que seu crédito está inteiramente submetido à
recuperação judicial e (ii) ao parcelamento do crédito da Agência Reguladora.
Este resultado mostra que a esmagadora maioria dos credores acredita que o plano apresentado
irá soerguer as empresas que têm papel relevantíssimo para a economia do nosso país e,
portanto, anseiam pela homologação do plano pelo Poder Judiciário.
Como se sabe, com intuito inovador, a Lei 11.101/2005 trouxe ao nosso mundo jurídico um
instituto que, diferentemente da antiga concordata, busca satisfazer o maior número de credores
da empresa devedora, contudo, sobre um ângulo mais amplo, onde se visa também a proteção
jurídica do mercado, que deve sempre que possível se desenvolver de um modo sadio em
benefício da sociedade e do crescimento econômico num todo, mediante a preservação da
empresa (art. 47).
Segundo Manoel Justino Bezerra Filho "Esta lei pretende trazer para o instituto da falência e da
recuperação judicial nova visão, que leva em conta não mais o direito dos credores, de forma
primordial, como ocorrera na anterior. A lei anterior, de 1945, privilegiava sempre o interesse dos
credores, de tal forma que um exame sistemático daqueles artigos demonstra a ausência de
preocupação com a manutenção da empresa como unidade produtiva, criadora de empregos e
produtora de bens e serviço, enfim, como atividade de profundo interesse sócia, cuja manutenção
de ser procurada sempre que possível" (Nova Lei de Recuperação e Falência comentada, 3 ed,
São Paulo, RT, 2005, pg 129).
Ao contrário, a nova lei priorizou, com destaque em seu art. 47, o princípio basilar da recuperação
judicial, que é o da preservação da empresa, cirando novos mecanismos para alcance deste
objetivo, onde deixaram os credores de ter posição passiva, para participarem ativamente desse
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novo procedimento.
De acordo com Lídia Valério Marzagão "a adesão dos credores às medidas preventivas de
recuperação de empresas é de salutar importância passando estes a ter papel de destaque,
relevante no procedimento da recuperação de empresas, na medida em que darão assentimento
expresso, em assembleias de credores, sobre as condições propostas no plano de pagamento
apresentado pelo devedor. O credor passa da condição passiva, que lhe era imposta na lei
anterior, a ter voz ativa, participando do processo, concordando ou desaprovando as condições
entabuladas no plano de recuperação apresentado pelo devedor" (A Recuperação Judicial.
Comentários à nova lei de recuperação e falência de empresas: doutrina e prática. Coord Rubens
Approbato Machado. São Paulo. Quartier Latim, 2005, pg. 80).
Temos, então, a inovadora participação ativa dos credores no projeto de recuperação a ser
executado, ao mesmo tempo em que o legislador não olvidou em dar entusiástico destaque à
preservação da empresa, como fonte geradora de empregos e recursos econômicos, e relevante
função social.
No caso dos autos, os interesses dos credores são claros em aprovar o plano apresentado pelas
devedoras, amplamente discutido e negociado, não cabendo ao juiz interferir na vontade
manifestada no conclave, que é soberana.
Neste sentido:
RECURSO ESPECIAL Nº 1.359.311 - SP (2012/0046844-8) RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE
SALOMÃO RECORRENTE : BRAIDO-LEME INDUSTRIA QUIMICA LTDA "ADVOGADO : PAULO
HOFFMAN E OUTRO(S) RECORRIDO : REI FRANGO ABATEDOURO LTDA ADVOGADO :
JÚLIO KAHAN MANDEL E OUTRO(S) EMENTA: DIREITO EMPRESARIAL. PLANO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO EM ASSEMBLEIA. CONTROLE DE LEGALIDADE.
VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONTROLE JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. 1.
Cumpridas as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano
tenha sido aprovado em assembleia (art. 58, caput, da Lei n. 11.101/2005), não lhe sendo dado se
imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de exclusiva
apreciação assemblear. 2. O magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de
recuperação - no que se insere o repúdio à fraude e ao abuso de direito -, mas não o controle de
sua viabilidade econômica. Nesse sentido, Enunciados n. 44 e 46 da I Jornada de Direito
Comercial CJF/STJ. 3. Recurso especial não provido."
A insatisfação pessoal de alguns credores faz parte do processo, mas deve se subjugar ao
interesse do que fora decidido pela maioria do colegiado, sobretudo a maioria esmagadora que
votou pela aprovação do plano em questão. No caso dos autos, mesmo diante da magnitude de
credores e interesses envolvidos, o plano conseguiu agradar a quase todos, o que é raro e deve
ser levado em consideração pelo julgador.
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O d. Ministério Público, com a competência que lhe é peculiar, apresentou parecer no qual pugnou
pela homologação do plano aprovado, concedendo-se a Recuperação Judicial nos termos do art.
58, caput, reputando-se, todavia, como ilegais algumas cláusulas do plano, conforme acima
relatado, cabendo, assim, a análise detida de cada um dos pontos levantados pelo Parquet.
a) Crédito da ANATEL
Entendo, contudo, que a aludida legislação não invalida a cláusula do plano, já que tal legislação
apenas institui uma faculdade ao devedor, de submeter-se ou não a um programa que prevê a
quitação parcelada do seu débito; não cria, pois, um limite de parcelamento ao crédito público a
ser observado em casos de recuperação judicial.
Não há, pois, afronta à Lei 13.494/17, até porque o crédito da Agencia não se sobrepõe ao
interesse da coletividade de credores, pois se trata de crédito submetido a um regime de
recuperação previsto em lei especial (LRJ). A Anatel deve se curvar à decisão soberana da
Assembleia de Credores.
A submissão dos créditos da ANATEL à recuperação judicial já foi enfrentada à exaustão por esse
juízo, que por diversas vezes já decidiu que a natureza do crédito da Agência não a coloca em
posição de primazia em relação aos demais credores, sendo considerando dignos de tratamento
privilegiado e específico apenas aqueles credores expressamente previstos na legislação de
regência.
Não cabe, assim, repristinar matéria já decidida por esse juízo e que não foi objeto de reforma por
órgão superior.
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Têm razão o Ministério Público quando afirma a invalidade das cláusulas previstas na Seção 11 do
Anexo denominado Subscription and Commitment Agreement do PRJ) que facultam às
Recuperandas realizarem reembolso de despesas incorridas pelos credores na busca pela
satisfação de seus créditos no processo de recuperação, por manifesta violação ao art. 5º, II, da
LRF.
Do mesmo modo, assiste razão ao MP quando vislumbra tratamento não isonômico injustificado
no pagamento das fees previstas no mesmo Anexo. Tal como já decidi anteriormente, por força do
art. 5º, II, da LRF, deve ser garantido a todos os credores integrantes da Classe III com o mesmo
perfil (valor, origem do crédito e higidez de garantias de aporte), que se comprometam a investir
novos recursos na companhia através da subscrição daquelas ações nas mesmas condições, o
pagamento ali previsto.
Por fim, embora reconheça que os acionistas da companhia devem dar o devido cumprimento às
medidas aprovadas pela AGC, sob pena de incorrerem no disposto no art. 64 da LRF e em sua
responsabilização pelos prejuízos que assim causem as companhias, aos seus credores e demais
acionistas, o MP entende necessária a convocação de AGE para obter a devida formalização e
concretização das decisões dos credores relativas à governança e ao aumento de capital.
Submeter a eficácia das decisões da AGC à realização de AGE em que se vislumbra a real
possibilidade de descumprimento do plano, convertendo-se eventual descumprimento em
imposição de sanções a seus acionistas e ressarcimento por perdas e danos, seria medida, no
entender desse juízo, contrária ao princípio da preservação da empresa, aos arts. 35, I, 50, III e IV,
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O art. 50 da Lei de Recuperação Judicial contém regra especial com relação à Lei das S/A. Tal
regramento prevê legítimos instrumentos jurídicos que visam a reestruturação e ao soerguimento
econômico da empresa recuperanda.
A cláusula do plano que regula a governança durante a fase de transição está em consonância
com o citado artigo 50 da LRJ, e não viola a Lei das S/A, até porque visa conferir estabilidade
institucional aos órgãos sociais e aos administradores das recuperandas para fins de cumprimento
do plano de recuperação judicial aprovado pela manifestação soberana dos credores.
A vontade dos credores deve ser respeitada, sendo até mesmo vedada a prática de qualquer ato -
seja por acionista, membro do conselho ou administrador da companhia - que tenha o fim de
inviabilizar o cumprimento do plano de recuperação aprovado na forma da lei. Cabe, inclusive, ao
Presidente do Conselho de Administração dar imediato e efetivo cumprimento ao plano aprovado,
tão logo homologado, assegurando, dentre outras, as condições provisórias de governança
corporativa e conversão de dívida em ações, conforme decisão soberana dos credores.
No mais, não se vislumbra outra cláusula do plano que mereça questionamento. Nas lições de
Luiz Roberto Ayoub e Cássio Cavalli, "na esteira do quanto se afirmou acerca da soberania de
assembleia geral de credores, uma vez aprovado o plano em assembleia, o juiz deverá conceder a
recuperação, sem que se lhe reserve grande margem de discricionariedade" (A construção
jurisprudencial da recuperação judicial de empresas. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 296).
Assim sendo, entendo que o PRJ deve ser homologando, com as seguintes ressalvas:
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Com relação ao pedido das Recuperandas para que seja concedida a recuperação
independentemente da apresentação das certidões de que trata o art. 57 da LRF, faz-se
necessário tecer algumas considerações sobre a referida norma.
Dispõe o art. 57 da Lei de Recuperação Judicial: "após a juntada aos autos do plano aprovado
pela assembleia-geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção
de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts.
151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional".
Sobre este tema, tanto a jurisprudência do STJ como a dos Tribunais firmaram posicionamento
inicial de que, diante da falta de políticas públicas que conferiam às empresas em recuperação
judicial parcelamento dos créditos fiscais, atendendo assim o art. 68 da Lei 11.101/2005, não
haveria necessidade do cumprimento da regra impositiva do art. 57.
Neste sentido:
Não é o caso da recuperação judicial em apreço, que teve seu início em junho de 2016. Contudo,
ainda assim, as certidões não podem ser exigida .
Conforme bem destacado pelo Ministério Público, "o tempo decorrido e a reflexão sobre a
jurisprudência formada e consagrada inclusive no STJ tem levado a modificação do entendimento
no âmbito das Promotorias de Justiça das Massas Falidas na Comarca da Capital. De fato, a
exigência da apresentação de CND´s no momento presente apenas levaria a esperada conclusão
das controvérsias surgidas nesse processo para momento futuro e incerto. Não é demais prever
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que a deterioração das atividades e das relações das recuperandas com seus credores e
investidores seria um desdobramento inevitável. Enquanto não homologado o plano nenhum
pagamento ou providência nele prevista seriam possíveis pois não se iniciaria a fase de
cumprimento." (fl. 9 do parecer)
Ressalte-se inovadora posição lançada no mundo jurídico em acórdão deste Egrégio Tribunal,
quando da apreciação do agravo de instrumento nº 0050788-91.2015.8.19.0000, assim ementado:
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Tal posicionamento tem respaldo não somente no princípio maior da norma específica analisada -
da preservação da empresa, contido nos termos do art. 47 -, mas na convicção de que enquanto
não sobressaírem normas práticas e eficazes no sentido de conceder efetivas medidas para que
as empresas em dificuldade econômico-financeira saldem satisfatoriamente os seus créditos
fiscais - em qualquer esfera estatal -, não há como impor a essas sociedades empresárias em
crise obrigação de quase impossível cumprimento.
A Lei 13.043/2014 causa certa perplexidade, pois além de se referir ao parcelamento apenas de
créditos fiscais da União, traz no seu bojo medidas de parcelamento de débitos bem mais
desvantajosas para as sociedades em recuperação, do que as que supostamente estão com a
saúde econômico-financeira em dia.
Não por outra razão parte da doutrina levanta dúvidas sobre a inconstitucionalidade da referida
Lei, diante de dois pontos básicos: o primeiro, no que toca à exigência do contribuinte em incluir
no parcelamento a totalidade de seus débitos tributários, inscritos ou não em dívida, mesmo que
discutidos judicialmente; e o segundo, na necessidade da desistência expressa, e de forma
irrevogável, de qualquer impugnação, ação ou recurso e, cumulativamente, a quaisquer alegações
de direito sobre as quais se fundem as lides administrativas e judiciais.
De modo geral, com o advento da Lei 13.043/2014, a mitigação jurisprudencial construída não
mais pode ser entendida como absoluta, cabendo assim interpretar a regra contida no artigo 57
como cogente apenas em casos em que não atente aos princípios informadores da recuperação:
preservação e função social da empresa.
110 FERNANDOVIANA
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Tribunal de Justiça
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Cartório da 7ª Vara Empresarial
Av. Erasmo Braga, 115 Lna Central 706CEP: 20020-903 - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 3133 2185 e-mail:
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Não podemos olvidar que os créditos fiscais não são afetados pela Recuperação Judicial, e nem
ao menos a ela se sujeitam, o que torna a exigência da apresentação de certidões negativas ou
positivas com efeito negativo por empresa em recuperação, de certa forma contrária ao objetivo
maior da Lei.
Portanto, inobstante o advento da Lei 13.043/2014, que além de alcançar apenas os débitos
fiscais da União, não atenta no caso, aos princípios norteadores da LRF, deve continuar a ser
posto em sobreposição o objeto maior do processo de Recuperação Judicial que é a preservação
da empresa pelo seu fim social, pela sua natural capacidade de gerar riquezas, empregos e de
pagar tributos.
Com efeito, coadunado com o posicionamento firmado no referido acórdão acima exposto, e com
a promoção do Ministério Público, afasto a exigibilidade da apresentação, por parte das
devedoras, das certidões negativas fiscais exigidas na forma do art. 57 da Lei 11.101/2005.
Ante todo o exposto, considerando a aprovação do plano pela maioria expressiva dos credores
das recuperandas, na AGC realizada em 19/12/2017, que aguardam a homologação do PRJ pelo
Poder Judiciário, e uma vez examinados os aspectos de legalidade do plano, resta ao Juízo
Recuperacional ratificar por homologação a decisão soberana dos credores.
A decisão de homologação deve ser imediata não apenas por força da lei, mas porque milhares de
credores terão seus créditos satisfeitos mais rapidamente, lembrando que os credores que
mediaram com o Grupo OI, que são mais de 30 mil, receberão o saldo residual em até 10 dias
depois da homologação; e os credores trabalhistas começarão a receber em 180 dias contados da
homologação. Confiram-se as cláusulas 4.4.1 e 4.1 do plano aprovado:
Também depende da homologação do plano o início do prazo para que os credores escolham
entre as opções de pagamento de seus créditos na plataforma das Recuperandas, como se extrai
da cláusula 4.5 do plano.
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Intimem-se e cumpra-se.
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