II - Dividido
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II - Dividido
Cristianismo
Material Teórico
Cristianismo Dividido
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Cristianismo Dividido
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Entender os anseios de mudança na estrutura institucional religiosa e
o contexto ocidental propício para esse evento.
· Apresentar a reação do catolicismo à Reforma Protestante.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Cristianismo Dividido
Introdução
As Reformas Protestantes culminaram um extenso e mui complexo período na
História da Europa. Falar em Reforma Protestante requer um pano de fundo (ba-
ckground) histórico necessário para se entender o que estava realmente ocorrendo
na Europa e quais as causas que levaram a uma ruptura tão grande na cristandade.
Por isso, será necessário apresentar esse pano de fundo que nos ajudará a
entender as Reformas como um processo – e não como uma ação.
Outro ponto importante que você já deve ter notado é que estamos utilizando
o plural: Reformas Protestantes – e não Reforma Protestante. Isso porque não
ocorreu uma Reforma, mas várias Reformas ao longo de um curto período. Muitos
livros tratam as Reformas como uma única ação, coordenada por Martinho Lutero,
como se isso fosse possível. Pois bem, não foi o que ocorreu.
Com a desintegração dos feudos, começou uma migração para as vilas que
logo se tornaram cidades, com um fluxo cada vez maior de pessoas, mercadorias
e dinheiro. No século XII, surgiram as Corporações de Ofício para regulamentar o
processo produtivo artesanal nas cidades.
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As Corporações agregavam pessoas que exerciam o mesmo ofício e delimitavam
sua atuação de forma precisa. Existiam também corporações intermunicipais, cha-
madas hansas, cujo objetivo era defender os interesses de mercadores de um grupo
de cidades.
Porém, o que estava na mão da Igreja começa a se tornar autônoma, com algumas
instituições bancadas por regiões e reinos. Para uma visão sintética, apresentamos:
Após as Cruzadas, a Igreja Católica adquiriu enormes riquezas provindas dos dí-
zimos na Itália, Portugal, Espanha e outros países. Esta riqueza tornou o Papado e
sua corte cada vez mais corrupta e o Papado passou a ser alvo de disputas políticas.
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A peste negra foi uma pandemia que assolou a Europa durante o século XIV e
dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas, um terço da população da época. Essa
pandemia durou de 1346 a 1353.
Explor
Por diversas vezes, quando o assunto era de interesse geral dos nobres ou da
burguesia, a Igreja acabava por concordar e apoiar suas ações contra o povo. Tudo
isso levou ao desgaste da imagem da Igreja perante a população mais pobre.
Após a crise da peste negra, a cúpula da Igreja demonstrava sua opção pelos
ricos e poderosos. O Papado passou a ser disputado por duas facções dentro da
cúria romana. A facção francesa e a facção italiana.
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O Papa Bonifácio VIII acabou ameaçando o rei de excomunhão e, através da
Bula Unam Sanctam, reafirmou a autoridade da Igreja sobre os homens.
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A Igreja tinha uma relação conflituosa em relação aos Estados e à burguesia por
causa dos dízimos e dos vários desmandos que a mesma perpetuava.
Na França, o rei promulgou uma lei para proibição de apelar para Roma como
última instância, limitações dos direitos da Santa Sé nas nomeações para ofícios e
benefícios. Na Alemanha, os príncipes usurparam a jurisdição eclesiástica em seus
territórios com a imposição de taxas sobre os bens eclesiásticos.
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Nesse período conturbado os Papas se sucederam com uma visão ora reformadora,
ora de aumento do poderio da Igreja. Ocorreram assassinatos, traições e a Igreja
entrou em decadência moral. Para uma visão sintética do período, apresentamos:
Cada vez mais a Igreja passava a ser questionada, seja nos círculos das nobrezas
e nos círculos acadêmicos, seja entre as diversas classes camponesas e burguesas.
Dentro da Igreja, também havia uma série de questionamentos sobre a postura da
cúpula, dos bispos, dos arcebispos e mesmo sobre o comportamento dos Papas.
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indignação pela imoralidade do alto clero, abandonou a Igreja e começou a pregar
o Evangelho Genuíno de Cristo em 1104.
Pedro de Bruys declarou guerra ao Papado e aos dogmas de sua Igreja, combateu
a prostituição e perversão do clero, declarando que os ministros deveriam se casar.
O movimento foi extinto em 1148 com a prisão e morte dos líderes, entre eles
Pedro de Bruys (1126) e Henrique de Lausane (1148).
Um desses chama-se Pedro Valdo que acabou por angariar diversos seguidores
que se denominavam de Valdenses (1174). Pedro Valdo, que tinha abandonado
tudo para se dedicar à vida ascética, foi proibido de pregar, mas seu movimento
continuou e se espalhou por diversas cidades. Quando as perseguições se tornaram
mais fortes, seus seguidores se refugiaram nos Alpes. Muitos dos valdenses mais
tarde aceitaram os mensageiros da Reforma e se uniram a eles.
Outra figura histórica importante foi Thomas Bradwardine. Ele foi filósofo, físico
matemático e monge inglês (1295-1349). Um dos autores da Matemática abstrata,
teórica, ligada a fenômenos naturais e questões místicas e religiosas. Realçava a
graça de Deus através da salvação e não da Igreja. Morreu devido à peste negra.
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Nessa ocasião, o Sacro Império estava dividido em diversos feudos, e com forte
dominação estrangeira (papal e espanhola) em vários pontos de seu território. Ha-
via uma crescente insatisfação quanto à presença estrangeira.
A Igreja Católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam
às margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios
alemães que mais impostos rendiam à Igreja. A Igreja era sempre associada a tudo
que estivesse ligado ao feudalismo.
Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Os anseios da burguesia eram de
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uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente,
que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Na época que antecedeu essa Reforma Protestante, Carlos V, rei do Sacro Im-
pério Romano Germânico, estava em grandes dificuldades em relação ao fragmen-
tado Império. Diversos duques questionavam sua liderança e pediam reformas.
Vaticano. Inspirada no Templo de Salomão. Sua decoração em afrescos foi pintada pelos
maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli.
A capela tem o seu nome em homenagem ao Papa Sisto IV, que restaurou a antiga Capela
Magna, entre 1477 e 1480. Estas pinturas foram concluídas em 1482.
O povo e a alta nobreza aguardavam por uma liderança que aglutinasse seus
anseios. Em relação aos pobres, a venda das indulgências e a falta de cuidado
dos necessitados, a péssima imagem dos cardeais e da Cúria romana. As histórias
sobre o Papado e sua corrupção. Por parte dos ricos e poderosos a avidez da co-
brança dos dízimos e a corrupção da Igreja e sua sede de poder e terras eram cada
vez deploradas e motivo de crítica.
Quando Lutero criticou a Igreja, obteve o apoio dos diversos príncipes alemães
que tinham interesse em mudanças na balança de poder junto à Igreja Católica e a
influência que esta exercia sobre Carlos V. É importante ressaltar que Lutero não
pretendia criar outra igreja. Ele fez críticas que já eram conhecidas do povo e já
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Com o apoio do alto clero inglês e do Parlamento, Henrique reconheceu seu di-
vórcio e, em 1534, o Parlamento votou o Ato de Supremacia, tornando Henrique
VIII o chefe supremo da Igreja da Inglaterra (Anglicana).
Em Zurique surgiu outro líder. Seu nome era Ulrico Zuínglio (1484-1531). Estu-
dou na Universidade de Viena, de Basileia e de Berna. Em 1506, Zuínglio tornou-
-se padre. Após anos de atividade sacerdotal, iniciou um trabalho de pregação do
Evangelho, baseando-se tão somente na Escritura Sagrada.
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As Igrejas que surgiram como resultado do movimento iniciado por Zuínglio são
chamadas de Igrejas Reformadas e em outros países adotou-se a nomenclatura de
Igrejas presbiterianas.
Outro importante líder foi João Calvino. Nasceu em Noyon, França. Antes de
completar doze anos, foi nomeado capelão de Lá Gesine, próximo de Noyon.
Com 14 anos ingressou na Universidade de Paris. Tornou-se profundo conhe-
cedor das línguas bíblicas. Foi para Basileia, cidade protestante.
Introduziu o estudo do seu catecismo, o uso de uma nova liturgia, um governo
eclesiástico presbiterial, disciplinou a vida civil, estabeleceu normas para o funcio-
namento do comércio e fez de Genebra uma Cidade-Modelo. Em 1559, fundou a
Academia – Universidade de – Genebra.
Um terceiro líder que iniciou outra Reforma foi John Knox. Reformador escocês
que liderou uma Reforma Religiosa na Escócia segundo a linha calvinista.
Recebeu influências do liberalismo humanista na Universidade de Glasgow. Pro-
fessou a fé protestante em finais de 1545 e fundou a Igreja Presbiteriana na Escócia.
Esses reformadores eram humanistas, ligados aos extratos nobres e ricos da
sociedade. O apoio que obtiveram dos nobres possibilitou o avanço de suas ideias.
Logo a Europa se dividiu em diversas regiões apoiando o Catolicismo e os
diversos Protestantismos.
A Espanha estava em crise na iminência da guerra com os turcos por conta da
queda de Constantinopla (1453). Carlos V não tinha condições de dar atenção
ao que acontecia nas suas possessões germânicas. A França, com Francisco I,
estava em constante disputa com a Espanha. Francisco I não apoiou a Reforma.
A Inglaterra de Henrique VIII faz sua própria Reforma, tornando a Igreja Católica
inglesa submissa ao Estado Britânico. Para uma visão de conjunto, apresentamos:
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Os chamados reformadores (Lutero, Calvino, Zuínglio e John Knox) acabaram
por constituir Igrejas voltadas para a classe média (burgueses) e para os nobres.
A Reforma Radical, expressão como ficou conhecida, foi a revolta das massas
camponesas contra o controle dos anseios por uma Igreja livre e com justiça social.
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Um dos líderes dessa revolta era Thomas Müntzer, quem nasceu por volta de
1490, em Stolberg, na região do Harz. Sua família fazia parte da burguesia, fi-
nanceiramente bem-situada. Estudou em Leipzig (1506) e em Frankfurt (1512).
Assumiu a função de colaborador do ministério eclesiástico e funções de professor.
Eles reivindicavam, a partir de uma leitura própria da Bíblia, uma série de mu-
danças:
• Impostos justos e tratamento humano;
• Volta ao ideal da Igreja primitiva;
• Separação entre Igreja e Estado;
• Batismo de adultos, por imersão;
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O movimento foi abafado pelos nobres com o apoio de Lutero. Thomas e seus
seguidores foram capturados e decapitados. Historiadores estimam que morreram
cem mil camponeses. Um terço de toda a população camponesa do Império.
Concílio de Trento
O Concílio de Trento foi uma reação às Reformas Protestantes. Desde há muito,
como vimos nos chamados pré-reformadores, a Igreja Católica tinha entre seus
membros muitos que desejavam e mesmo trabalhavam para uma revisão de suas
práticas e faziam críticas ao comportamento de muitos Papas.
Explor
O nome do Concílio foi tirado do local onde foi realizado. A Cidade de Trento, na
Itália. O Concílio sofreu diversas interrupções por divergências políticas e religiosas
e se tornou o mais longo da História da Igreja Católica.
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Esse Concílio emitiu o maior número de decretos e produziu os resultados mais
profundos sobre a Fé e a disciplina da Igreja. Como forma de frear o avanço protes-
tante, foram apresentados diversos decretos disciplinares e muitos pontos doutriná-
rios tornaram-se dogmas.
Além disso, foram criados seminários nas dioceses como centros de forma-
ção sacerdotal e confirmou-se a superioridade do Papa sobre qualquer concílio
ecumênico. Foi instituído o Index Librorum Prohibitorum, um novo Breviário
(o Breviário romano) e um novo Catecismo (o Catecismo romano). Para uma
síntese, apresentamos:
As indulgências
A mortificação
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
A História das Doutrinas Cristãs
BERKHOF, Louis. A História das doutrinas cristãs. São Paulo, PES, 1992.
Documentos da Igreja Cristã
BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja cristã. 3. ed. rev. corr. atual. São
Paulo, Aste, 1998.
A Evolução do Capitalismo
BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja cristã. 3. ed. rev. corr. atual. São
Paulo, Aste, 1998.
A Civilização do Ocidente Medieval
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente nedieval. Lisboa, Editorial
Estampa, 1984.
História da Igreja
PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo, Paulus, 1982.
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Referências
BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos
XV-XVIII. São Paulo, Martins Fontes, 1995.
CAIRNS, Earle. O Cristianismo através dos séculos. 2. ed. São Paulo, Vida
Nova, 1995.
LOHSE, B. A Fé cristã através dos tempos. 2. ed. São Leopoldo, Sinodal, 1981.
NICHOLS, Robert H. História da Igreja cristã. 11. ed. rev. São Paulo, Cultura
Cristã, 2000.
SANTOS, Pedro Ivo dos. Renascimento, Reforma e Guerra dos Trinta Anos.
Rio de Janeiro, JCM.
SCHAFF, Phillip. History of the Christian Church. VI Vols. Grand Rapids, 1980.
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VERGER, Jean. As Universidades na Idade Média. São Paulo, Unesp, 1990.
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