TJ-RJ Apl 00104201920208190209 72134

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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Décima Primeira Câmara Cível
Apelação Cível nº 0010420-19.2020.8.19.0209
Apelante: Rodrigo Neno Rosa Marcondes
Apelada: Sharleine Teixeira Marcondes
Relator: Des. Luiz Henrique Oliveira Marques

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE COTAS


CONDOMINIAIS. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR FALTA DE INTERESSE
PROCESSUAL. AUTOR PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL EM QUE
RESIDA COM SUA FAMÍLIA. APÓS A SEPARAÇÃO DO
CASAL PERMANCEU NO IMÓVEL SUA EX-MULHER E A
FILHA DO CASAL. PRETENDE O RECORRENTE COBRAR AS
COTAS CONDOMINIAS QUE NÃO FORAM PAGAS PELA RÉ
APÓS A SAÍDA DO APELANTE DO IMÓVEL. OS BOLETOS
APRESENTADOS AUTOS E O ESPELHO DE QUITAÇÃO DE
IPTU EMITIDO PELA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL
COMPRAVAM QUE FORAM EFETUDOS OS PAGAMENTOS.
CABE A PARTE RÉ EM SUA DEFESA REBATER OS
ARGUMENTOS DO AUTOR E PROVAR ATRAVÉS DE
PROVAS DOCUMENTAIS QUE OS FATOS NÃO SE DERAM
NA FORMA EXPOSITADA NA PEÇA INAUGURAL, A FIM DE
AFASTAR A PRETENSÃO AUTORAL. RESTANDO
COMPROVADO NO CURSO DO PROCESSO QUE O AUTOR
FOI QUEM EFETUOU O PAGAMENTO DAS COTAS
CONDOMINIAIS E IPTU’s, ESTE ESTARÁ SUB-ROGADO NO
DIREITO DE RECEBER DO MORADOR DO IMÓVEL AS
QUANTIAS DESPENDIDAS. SENTENÇA QUE SE ANULADA
PARA QUE SE DÊ REGULAR PROSSECUÇÃO AO FEITO COM
A CITAÇÃO DA PARTE RÉ PARA, QUERENDO, COMPOR A
RELAÇÃO PROCESSUAL.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO RECURSO.

ACÓRDÃO

ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Primeira Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos,
em conhecer e dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Desembargador
Relator.

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LUIZ HENRIQUE OLIVEIRA MARQUES:15394 Assinado em 17/05/2021 15:43:12


Local: GAB. DES LUIZ HENRIQUE OLIVEIRA MARQUES
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Décima Primeira Câmara Cível
RELATÓRIO

Rodrigo Neno Rosa Marcondes ajuizou ação de cobrança de taxas


condominiais em face de Sharleine Teixeira Marcondes, alegando que recebeu o
imóvel de doação de seus pais, com cláusula de incomunicabilidade e usufruto dos
seus genitores; que as partes eram casadas e após a separação o imóvel vem sendo
ocupado, exclusivamente, pela ré e a filha do ex-casal; que a ré se encontra em atraso
com as cotas condominiais, desde março de 2020; que em ação de alimentos, o autor
tentou fazer a compensação do valor do condomínio, mas o Juiz não aceitou, de modo
que não restou outro meio, se não a presente ação; que se o condomínio não for pago,
o prejuízo é só do autor, pleiteando, ao final, a condenação da ré ao
pagamento das taxas condominiais, no valor dele R$ 10.430,76, bem como o
pagamento das taxas condominiais que se vencerem até a liquidação final.

Sentença prolatada pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da


Regional de Barra da Tijuca, às fls.82/83, julgando extinto o processo, sem resolução
do mérito em razão da falta de interesse processual do Autor. Fundamentou o
magistrado seu julgado no sentido de que, evidente que a cobrança de taxas
condominiais é de exclusiva iniciativa do Condomínio. Qualquer outro que queira cobrar
pelo pagamento das taxas condominiais há de comprovar que esse pagamento foi
feito, pelo mesmo, em sub-rogação ou que houve decisão judicial, em Juízo de Família,
sobre essa questão. Não sendo esses o caso dos autos, ficou evidente, para o Juízo,
que o autor não tem interesse processual nesta ação.

Interpôs o Autor Recurso de Apelação às fls.102/106, aduzindo o Recorrente


que o magistrado sentenciante laborou em equívoco. Que, o Apelante foi claro no
sentido de que estaria cobrando as cotas condominiais por ele pagas, pois caso
contrário ele seria o maior prejudicado em razão do imóvel ser fruto de doação dos
seus pais e portanto de sua exclusiva propriedade. Que o imóvel é ocupado com
exclusividade pela ré e a filha do ex-casal, existindo pensão de alimentos fixada
judicialmente. Que foram anexadas todas as cotas condominiais e IPTU pagos pelo
apelante. (fls.19/21) (87/100). Que, o apelante comprovou ao Juízo que o imóvel
ocupado pela Ré foi fruto de doação dos seu pais com clausula de
incomunicabilidade e usufruto aos mesmos. E que, o não pagamento do
condomínio colocaria em risco a propriedade do imóvel. Que, o apelante também
informou que tentou compensar os valores de condomínio com o pagamento da
pensão, o que foi recusado pelo Juízo de Família. Ressaltou que o não
reconhecimento do direito do apelante em cobrar as taxas condominiais por ele
suportadas sem estar morando no apartamento e pagando pensão alimentícia,
configura grave privilégio ao enriquecimento sem causa da apelada. Requer, por
final, seja conhecido e provido o recurso para reformar a sentença de fls. 82/83, para
que seja reconhecida a legitimidade do autor em propor a presente ação de
cobrança, visando o pagamento das cotas condominiais por ele pagas, cujo o

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valor atualizado é de R$ 55.083,32 (cinquenta e cinco mil, oitenta e três reais e
trinta e dois centavos). Que seja considerado os boletos anexados às fls.19/21 e
87/100 para efeitos de comprovação da cobrança, e, a determinação imediata da
citação da Ré.

É o Relatório.

VOTO

Encontram-se presentes os requisitos para o conhecimento do presente


Recurso de Apelação.

Cuida-se de Ação de Cobrança em que o Autor objetiva receber as cotas


condominiais e IPTU’s por ele pagos, sendo esta obrigação da parte Ré, sua ex-esposa
que reside no imóvel com a filha do casal.

O magistrado de primeiro grau de jurisdição julgou extinto o processo sem


resolução do mérito, por entender inexistir interesse processual do Autor, não tendo
comprovado que efetuou o pagamento das cotas condominiais e dos IPTU’s.

Se insurge o Recorrente contra a sentença expondo que o magistrado


laborou em equívoco uma vez que o Autor apresentou aos autos comprovantes de
pagamentos, sub-rogando-se no direito no direito em receber da Ré devedora as
quantias pagas, o que ampara a pretensão autoral.

Dispõe o art. 349 do Código Civil que:

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e
garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e fiadores.”

Analisando atentamento os documentos acostados aos autos,


especialmente os de fls. 19/21 e 87/100, se observa que, da fato, no final do boleto de
pagamento do condomínio há menção de operação efetuada de pagamento através do
Sispag. Apresentou o Autor, também, espelho que quitação de IPTU emitido pela
Fazenda Fiscal da Municipalidade.

Os respectivos documentos demonstram o pagamento. Cabe a parte Ré


demonstrar no curso do processo o contrário, ou seja, que não foi o Autor quem
efetuou o pagamento, sendo necessário, assim, a apresentação do contraditório.

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Pois bem, interesse de agir deve ser demonstrado por quem irá demandar
em juízo. Sem interesse inexiste utilidade da demanda, e sem utilidade não há por que
demandar em juízo.

In casu, o Autor comprovou de forma mínima que foram efetuados os


pagamentos, cabendo a Ré demonstrar que os mesmos não foram efetuados pelo
autor, a fim de demonstrar os fatos impeditivos do direito perseguido.

EM FACE DO EXPOSTO, voto no sentido de conhecer e dar provimento ao


recurso para anular a sentença e determinar o prosseguimento do feitos em seus
trâmites regulares, com a citação da parte Ré para compor a lide.

Rio de Janeiro, data da assinatura digital.

LUIZ HENRIQUE OLIVEIRA MARQUES


Desembargador Relator

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