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Encontros • Português, 10.

º ano • Caderno do Professor

Teste de avaliação
Português, 10.º ano

ENC10CP © Porto Editora


Unidade 6  Luís de Camões, Os Lusíadas

Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.


Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Deves riscar aquilo que pretendes que não seja classificado.
Para cada resposta, identifica o grupo e o item.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responderes, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final dos mesmos.

Critérios gerais de classificação


•  As respostas ilegíveis são classificadas com zero pontos.
• Em caso de omissão ou de engano na identificação de uma resposta, esta pode ser classificada
se for possível identificar inequivocamente o item a que diz respeito.
• Se for apresentada mais do que uma resposta ao mesmo item, só é classificada a resposta que
surgir em primeiro lugar.
• A classificação das provas nas quais se apresente, pelo menos, uma resposta escrita integralmente
em maiúsculas é sujeita a uma desvalorização de cinco pontos.

Fatores de desvalorização − correção linguística

Fatores de desvalorização Desvalorização (pontos)

•  Erro inequívoco de pontuação


• Erro de ortografia
(incluindo erro de acentuação, uso indevido de letra
minúscula ou de letra maiúscula e erro de translineação) 1
• Erro de morfologia
• Incumprimento das regras de citação de texto
ou de referência a título de uma obra

• Erro de sintaxe
2
• Impropriedade lexical
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3. Testes de avaliação

GRUPO I (100 PONTOS)

Lê o texto a seguir transcrito, constituído pelas estâncias 80 a 82 e 89 a 91 do Canto X de Os


Lusíadas. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.

80 “Vês aqui a grande máquina do Mundo,


Etérea e elemental1, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que2 é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfícia tão limada,
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.

81 “Este orbe que, primeiro, vai cercando


Os outros mais pequenos que em si tem,
Que está com luz tão clara radiando
Que a vista cega e a mente vil também,
Empíreo3 se nomeia, onde logrando4
Puras almas estão daquele Bem
Tamanho, que ele só se entende e alcança,
De quem não há no mundo semelhança.

82 “Aqui, só verdadeiros, gloriosos


Divos5 estão, porque eu, Saturno6 e Jano7,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
Fingidos de mortal e cego engano.
Só pera fazer versos deleitosos
Servimos; e, se mais o trato humano
Nos pode dar, é só que o nome nosso
Nestas estrelas pôs o engenho vosso.
[…]

89 “Debaxo deste grande Firmamento,


Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaxo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;8
Com três rostos, debaxo vai Diana.9
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Encontros • Português, 10.º ano • Caderno do Professor

90 “Em todos estes orbes, diferente

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Curso verás, nuns grave10 e noutros leve11;
Ora fogem do Centro longamente12,
Ora da Terra estão caminho breve,
Bem como quis o Padre omnipotente,
Que o fogo fez e o ar, o vento e neve,
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro.

91 “Neste centro, pousada dos humanos,


Que não somente, ousados, se contentam
De sofrerem da terra firme os danos,
Mas inda o mar instábil exprimentam,
Verás as várias partes, que os insanos
Mares dividem, onde se apousentam
Várias nações que mandam vários Reis,
Vários costumes seus e várias leis13.

L uís de Camões, Os Lusíadas, leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão,
apresentação de Aníbal Pinto de Castro,
Lisboa, Ministério da Educação, 1989 [pp. 267, 269]

1. elemental: formada pelos quatro elementos.


2. Que: Porque.
3. Empíreo: Paraíso cristão.
4. logrando: usufruindo.
5. Divos: Santos.
6. Saturno: filho do Céu e da Terra.
7. Jano: filho de Apolo, com capacidade para adivinhar o passado e o presente.
8. vv. 1-7: Sete Céus.
9. Lua: três rostos – lua cheia, quarto minguante, quarto crescente.
10. grave: lento.
11. leve: rápido.
12. longamente: a grande distância.
13. leis: religiões.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Localiza o excerto na estrutura interna de Os Lusíadas. (20 PONTOS)

2. Interpreta o sentido da estância 82. (20 PONTOS)

3. Explicita a forma como o cosmos é representado nestas estâncias. (20 PONTOS)

4. Comenta a expressividade do recurso à mitologia na estância 89. (20 PONTOS)

5. Mostra de que forma a contemplação da Máquina do Mundo contribui para


o processo de mitificação do herói de Os Lusíadas. (20 PONTOS)
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3. Testes de avaliação

GRUPO II (50 PONTOS)

Lê o texto seguinte.

Camões e o ano da astronomia


Nos objetivos explicitados pela UNESCO ao declarar o ano de 2009 como Ano Inter-
nacional da Astronomia inclui-se a evocação de testemunhos patrimoniais de factos as-
tronómicos – físicos ou imateriais – que tenham produzido marcos na história da ciência
ou da cultura de povos. Nesta perspetiva, Camões, como autor da obra maior da literatura
5 portuguesa, não poderá deixar de ser evocado, particularmente neste mês de julho, em

que se situa a data da partida de Vasco da Gama para a Índia, facto que o poeta descreve
como o maior feito dos portugueses.
Na verdade, Camões exprime factos astronómicos – alguns deles ainda hoje fora do
domínio do cidadão comum – com rigor tal que só um conhecimento profundo permiti-
10 ria integrar na estrutura de Os Lusíadas sem afetar o rigor científico. Por exemplo, o mo-

vimento de precessão da Terra – impulsionado pela nona esfera (exterior à “oitava esfera”
ou “firmamento”) – que origina a alteração regular da posição do polo celeste em relação
às estrelas e cujo deslocamento é de 28 segundos de arco por século, é referido pelo poeta,
que arredonda esse valor para meio grau (30 segundos) para, assim, obter um grau (“um
15 passo”) em cada duzentos anos: “Que enquanto Febo, de luz nunca escasso, / Duzentos

cursos faz, dá ele um passo.” (X, 86).


Obviamente, a citação das duzentas voltas (“cursos”) que o Sol (“Febo”) dá à Terra
recorda o facto de Camões ter adotado o conceito geocêntrico (segundo o qual a Terra era
suposta no centro do Mundo), dado que a aceitação da ideia de Copérnico (o heliocen-
20 trismo) só começou a generalizar-se depois de o poeta ter assimilado os conhecimentos

que lhe permitiram estruturar a sua obra.


Tal movimento da Terra – cujas consequências só são percetíveis ao longo de séculos
– é responsável não só pela alteração da posição do polo celeste (o ponto do céu em torno
do qual todas as estrelas parecem girar), em relação às estrelas, mas ainda pelo facto de o
25 Sol se projetar – em determinada data – na direção de estrelas que não serão as mesmas,

século após século. Por isso, a 8 de julho dos anos da época atual, o Sol projeta-se na dire-
ção de estrelas da constelação dos Gémeos, tendo já estado – na mesma data – no Caran-
guejo, posição que ocupava na ocasião da partida de Vasco da Gama para a Índia. No
entanto, devido à discrepância entre datas e constelações nas quais o Sol se projeta, Ca-
30 mões cita a entrada do Sol (o “eterno lume”) na constelação do Leão (numa referência à

lenda do leão de Nemeia), sendo também curiosa a forma como se refere à data da lar-
gada da armada de Lisboa para a Índia: “Entrava neste tempo o eterno lume / No animal
Nemeio truculento; / […] / Cursos do Sol catorze vezes cento, / com mais noventa e sete,
em que corria, / Quando no mar a armada se estendia.” (V, 2).
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Máximo Ferreira, Super Interessante, n.º 135, julho de 2009


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1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta.

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Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. Este texto pertence ao género textual (5 PONTOS)

a. apreciação crítica.
b. exposição sobre um tema.
c. síntese.
d. relato de viagem.

1.2. N
 a expressão “Camões, como autor da obra maior da literatura portuguesa, não poderá
deixar de ser evocado, particularmente neste mês de julho, em que se situa a data da
partida de Vasco da Gama para a Índia” (ll. 4-6), o valor deíctico é marcado por (5 PONTOS)

a. “Camões”.
b. “neste mês de julho”.
c. “em que se situa”.
d. “a data da partida de Vasco da Gama para a Índia”.
1.3. O marcador discursivo “Na verdade” (l. 8) utiliza-se para (5 PONTOS)

a. confirmar uma afirmação apresentada no parágrafo anterior.


b. reformular algo que foi dito no final do parágrafo anterior.
c. estabelecer uma relação de causa-efeito relativamente à informação apresentada
no parágrafo anterior.
d. apresentar uma restrição ao que foi dito no parágrafo anterior.
1.4. Nas linhas 11 e 12, as aspas são utilizadas para delimitar (5 PONTOS)

a. arcaísmos.
b. neologismos.
c. palavras utilizadas com sentido conotativo.
d. citações de Os Lusíadas.
1.5. O advérbio “Obviamente” (l. 17) marca, relativamente ao que vai ser dito, (5 PONTOS)

a. a concordância do autor.
b. a discordância do autor.
c. o desinteresse do autor.
d. a desaprovação do autor.
1.6. Para Máximo Ferreira, a adoção do modelo geocêntrico por parte de Camões revela (5 PONTOS)

a. a desvalorização dos factos astronómicos em oposição à valorização excessiva da


harmonia da estrutura interna da epopeia.
b. a ignorância do poeta relativamente a um facto já conhecido na época em que
Os Lusíadas foram escritos.
c. a aceitação de uma crença da época.
d. a descrença no modelo heliocêntrico proposto por Ptolomeu.
1.7. O determinante relativo “cujas” (l. 22) tem como antecedente (5 PONTOS)

a. “a sua obra” (l. 21).


b. “Tal movimento da Terra” (l. 22).
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c. “a Terra” (l. 22).


d. “consequências” (l. 22).

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3. Testes de avaliação

2. Responde aos itens apresentados.


2.1. Classifica a palavra “UNESCO” (l. 1) quanto ao processo de formação que lhe deu
origem. (5 PONTOS)

2.2. Identifica a função sintática desempenhada pelo constituinte frásico “de Vasco
da Gama” (l. 6). (5 PONTOS)

2.3. Classifica a oração “que arredonda esse valor para meio grau” (l. 14). (5 PONTOS)

GRUPO III (50 PONTOS)

Sintetiza o texto abaixo, constituído por trezentas e noventa e quatro palavras, num texto que
contenha entre cem e cento e trinta palavras.

Astronomia de “Os Lusíadas”


Em 1972, por ocasião das comemorações do IV centenário da publicação de Os Lusíadas,
a então Junta de Investigações do Ultramar promoveu a reedição da obra A Astronomia de
“Os Lusíadas”, esgotada muito tempo antes e considerada “fundamental para a análise do
Poeta”. Trabalho publicado inicialmente na Revista da Universidade de Coimbra, de 1913 a
5 1915, e depois integrado nas Obras Completas do autor, em 1943, a sua reposição constituiu

iniciativa notável para a preservação e divulgação de um estudo que evidencia uma das di-
versas áreas do conhecimento em que Camões revela um saber profundo, dir-se-ia mesmo
“completo”, de tudo o que então era tido como certo, no domínio da Astronomia.
Ao longo de dez secções, a obra apresenta a interpretação do seu autor – Luciano Pereira da
10 Silva, professor de matemática na Universidade de Coimbra na transição entre os séculos XIX e

XX, que dedicou muitos anos à “investigação em História da Astronomia e da Arte de Navegar”
– com rigor e clareza que deliciam quem, tendo estudado a obra de Camões, terá, certamente,
sentido dificuldades em entender conteúdos, apesar de o poeta ter deles o conhecimento sem
o qual não seria possível cumprir exigências poéticas sem faltar ao rigor dos factos.
15 Por exemplo, a data da saída de Vasco da Gama de Lisboa em direção à Índia – 8 de
julho de 1497 – é descrita pelo poeta com base no conhecimento da posição do Sol em
relação aos signos (não das constelações) do Zodíaco: “Entrava neste tempo o eterno
lume, / No animal Nemeio truculento, / […] / Cursos do Sol catorze vezes cento, / Com
mais noventa e sete […]”. Na verdade o Sol (o “eterno lume”) “entrava” então na constela-
20 ção do Caranguejo, região da esfera celeste que a generalidade dos astrólogos considera

“dominada” pelo Leão, o animal lendário que aterrorizou os habitantes de Nemeia.


Antecedida por um prefácio de um outro notável professor de matemática da mesma
universidade e também ele muito dedicado à “história das navegações” – Luís de Albu-
querque –, a obra evidencia conceitos bem conhecidos por Camões e ainda hoje não
25 completamente entendidos por uma larga faixa de investigadores e curiosos da sua obra,

como a precessão dos equinócios e as suas consequências, os “regimentos” da Polar ou


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do Cruzeiro ou a razão por que quase todos os astrolábios da época dos descobrimentos
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eram graduados no sentido contrário ao da medição da altura dos astros.


Máximo Ferreira, Super Interessante, n.º 147, julho de 2010

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