Teoria e Prática Da Neuropsicopedagogia
Teoria e Prática Da Neuropsicopedagogia
Teoria e Prática Da Neuropsicopedagogia
NEUROPSICOPEDAGOGIA
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
616.89
M623t Michelli, Cláudia Regina Pinto
Teoria e prática da neuropsicopedagogia /
Cláudia Regina Pinto Michelli. Indaial : Uniasselvi, 2012.
98 p. : il
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830- 602-1
1. Neuropsicopedagogia.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Cláudia Regina Pinto Michelli
APRESENTAÇÃO.......................................................................7
CAPÍTULO 1
Diálogo entre Educação e Saúde ........................................ 9
CAPÍTULO 2
O Laudo e sua Contribuição para a Educação ................. 31
CAPÍTULO 3
Os Encaminhamentos............................................................ 57
CAPÍTULO 4
Implicações dos Laudos para o Contexto Educacional.. 77
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
A cada dia, mais e mais crianças são diagnosticadas com algum tipo de
distúrbio, transtorno ou dificuldade de aprendizagem. Mas, o que será que elas
querem dizer com isso? Você já se perguntou? Por que elas não aprendem? O
que é aprender para cada uma delas?
Bons estudos!
A autora.
C APÍTULO 1
Diálogo entre Educação e Saúde
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
ContextualiZação
Caro(a) leitor(a), neste primeiro capítulo, pretendemos desenvolver uma
compreensão entre a indissociabilidade da educação e da saúde, pois não há
como separarmos essas áreas. Precisamos entender o processo educativo e a
promoção da saúde como o fio condutor da prática neuropsicopedagógica.
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Sinopse:
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
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A busca por atendimento à saúde não foi algo conquistado de forma fácil
e ainda não é. Todos nós temos essa consciência. Mas, foi a partir de muitos
movimentos, interesses e investimentos políticos que a história em torno da saúde
foi sendo tecida em nosso país, assim como a associação dela com a educação.
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
Jean Piaget (1990) foi um dos pioneiros a discutir sobre a base biológica
da aprendizagem do sujeito. Para pensarmos sobre essa questão, precisamos
entender que nosso cérebro se desenvolve a partir da organização, reorganização e
estabilização (Piaget usava os termos: assimilação, acomodação e equilibração) do
conhecimento, considerando as experiências vividas.
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
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Título II
Capítulo I
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Algumas Considerações
Caro(a) leitor(a), neste capítulo você pode conhecer aspectos sobre
a correlação entre a saúde e a educação através de momentos históricos
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Capítulo 1 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE
Salientamos que a medicina teve e ainda tem um grande peso nas decisões
sobre a aprendizagem e a não aprendizagem das crianças na escola. De um lado,
ela pensou e, em algumas circunstâncias, ainda pensa a saúde das crianças e
jovens tendo em vista a base biológica de seu desenvolvimento com maior peso.
Por vezes, a medicina vê que a saúde é uma questão individual e decorrente do
organismo (biológico) do sujeito. Mas não podemos deixar de considerar que a
saúde também é um problema de políticas públicas e que a aprendizagem e não
aprendizagem escolar está relacionada muito fortemente à qualidade de vida do
sujeito, seu meio e sua história.
ReFerÊncias
ARIÈS, Philippe. A História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro:
LTC, 1981.
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PINTO, Alvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo:
Cortez, 2000.
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C APÍTULO 2
O Laudo e sua Contribuição
para a Educação
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
ContextualiZação
Caro(a) leitor(a), neste segundo capítulo, após discutirmos e nos
conscientizarmos da importância de compreender a saúde e a educação como
indissociáveis, apresentaremos a você a importância do laudo médico em
seus aspectos legais e o apoio dos demais profissionais que podem auxiliar no
processo de aprendizagem da criança quando for necessário.
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Seção I
Da Saúde
que apresente
redução funcional Art. 20. É considerado parte integrante do processo de
devidamente reabilitação o provimento de medicamentos que favoreçam
a estabilidade clínica e funcional e auxiliem na limitação da
diagnosticada incapacidade, na reeducação funcional e no controle das
por equipe lesões que geram incapacidades.
multiprofissional
Art. 21. O tratamento e a orientação psicológica serão
terá direito a
prestados durante as distintas fases do processo reabilitador,
beneficiar-se destinados a contribuir para que a pessoa portadora de
dos processos deficiência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua
de reabilitação personalidade.
necessários Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos serão
para corrigir ou simultâneos aos tratamentos funcionais e, em todos os casos,
modificar seu serão concedidos desde a comprovação da deficiência ou do
início de um processo patológico que possa originá-la.
estado físico,
mental ou Art. 22. Durante a reabilitação, será propiciada, se necessária,
sensorial, quando assistência em saúde mental com a finalidade de permitir que
a pessoa submetida a esta prestação desenvolva ao máximo
este constitua
suas capacidades.
obstáculo para
sua integração Art. 23. Será fomentada a realização de estudos
educativa, laboral epidemiológicos e clínicos, com periodicidade e abrangência
adequadas, de modo a produzir informações sobre a
e social. ocorrência de deficiências e incapacidades.
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[...]
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
Atividade de Estudos:
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Laudo NeurolÓgico:
O menor João dos Santos, 9 anos, apresenta atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtorno
opositor-desafiador secundários.
CRM 0101
Neuropediatria
Essa reconstrução iniciou com muito diálogo. Foi a partir da palavra que
começamos a construir o caminho:
Essa “ponte”, escrita por Bakhtin (2004), deu-se a partir de uma construção
em grupo, pois era preciso muita compreensão deste para ser possível o trabalho.
As constantes agressões e demais formas de expressão comportamentais
precisavam ser compreendidas pelo grupo para, então, juntos – pois vivemos
em sociedade – buscarmos um meio de convívio possível. O laudo não pode
criar uma barreira de “pena”, “lamento” ou “exclusão”. Era preciso construir um
significado. Estar diagnosticado para nós, naquele momento, apresentava partes
ditas pelo médico do “estado” do João, naquela circunstância. Havia elementos
que o limitavam, precisávamos descobrir quais eram e ele também precisava
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
entender isso, para tentar controlar-se diante dessas situações. Isso significou
para todos a transposição de obstáculos.
Esse processo não foi fácil, requereu, acima de tudo, muita paciência,
sensibilidade, aceitação e regras. Constantemente precisávamos retomar
conversas e “combinados” para resolver conflitos. Mas, como sabíamos das
razões deles por ter anteriormente já delimitado e deixado tudo claro, era possível
continuar caminhando.
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
Na escrita do João, fica evidente o quanto para ele foi importante aprender
“coisas” na sala de aula. Quando ele diz: “aprendi a ser mais inteligente, mais
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
A partir dessa ideia, temos claro que a combinação entre os dois fatores é
determinante para o processo de aprender. Não há limites para que isso ocorra,
mesmo havendo problemas, transtornos ou dificuldades de aprendizagem, pois o
limite do aprender é o que se constrói como limite.
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
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Algumas Considerações
Caro(a) leitor(a), neste capítulo discutimos sobre a importância legal do laudo
e buscamos compreender, por meio de um exemplo, a importância de construir
um caminho possível de intervenção pedagógica. Além disso, reafirmamos
a importância dos profissionais da educação agirem em relação ao sujeito
diagnosticado e ao seu contexto social, tendo como eixo norteador de trabalho o
sujeito e não a sua dificuldade apenas.
Um moinho
ainda que somente um,
colocado na terra,
ainda que árida,
com a energia dos diversos ventos
e ainda que com tempestades distantes,
encontra atua,
ainda que a mais escondida,
fazendo brotar as sementes,
ainda que as mais imprevistas.
Alicia Fernández.
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ReFerÊncias
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec,
2004.
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C APÍTULO 3
Os Encaminhamentos
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
ContextualiZação
Aquilo do qual as crianças precisam não é de
resignação, mas de paixão. Elas sonham com um
mundo onde os atores possam falar em nome próprio
escapando da obrigação de parecerem conformes.
(MAUD MANNONI)
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Agora que você assistiu ao vídeo e para dar continuidade a essa ideia,
convidamos você a fazer a leitura do poema de Chico Buarque: Ciranda da
Bailarina.
Ciranda da Bailarina
Chico Buarque
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
É sempre importante ao(à) professor(a) refletir sobre o(a) aluno(a) que não
aprende e pontuar quais foram as alternativas utilizadas para a construção da
aprendizagem deste(a). Lembrando, como afirma Fernández (1991, p. 32):
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
Para finalizar esse item e abrir o próximo, vale refletir a partir da frase de
Fernando Pessoa:
(Alicia Fernández)
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
sendo o(a) primeiro(a) a detectar isso no(a) aluno(a) que será, então, necessária
a intervenção terapêutica especializada através da: psicologia, psicopedagogia,
assistência social, pediatria, neurologia, fonoaudiologia, entre outras áreas.
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
• Ouvir as crianças, seus pais e seus argumentos. Para poder entender o que
acontece com eles é necessário ouvi-los. Muitas vezes, são ditos e outros não
ditos, ou seja, silêncios.
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
(Lucia, 3 anos)
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• Vou aprender a nadar – diz Silvina com alegria dos seus seis anos recém-
feitos.
• Vai nadar? – intervém a irmã, três anos mais jovem.
• Não, vou aprender a nadar.
• Eu também vou brincar na piscina.
• Não é o mesmo. Eu vou aprender a nadar, diz Silvina.
• O que é aprender?
• Aprender é... como quando papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria
muito andar de bicicleta. Então ...papai me deu uma bici ... menor do que a dele.
Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando...
• Eu fico com medo de andar sem rodinhas.
• Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta
grande e disse “ assim se anda de bici” ... não, ele ficou correndo ao meu lado
sempre segurando a bici ... muitos dias e, de repente, sem que eu me desse
conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. Então, eu disse: -
Ah! Aprendi!
Uma mulher que escutava a conversa de longe não pode deixar de ver a
alegria com que foi pronunciado “aprender”, que se transfere para o corpo da mais
moça e surge no brilho de seus olhos.
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
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Também temos outra questão a frisar. Por vezes, quando se tem o laudo,
muito da autoestima da criança já se desgastou. Nesse caso, “[...] mais importante
do que o conteúdo ensinado é certo molde relacional que se vai imprimindo na
subjetividade do aprendente.” (FERNÁNDEZ, 2001b, p. 29). Ou seja, a forma
como se conduz a dinâmica do ato de relacionar-se com esse sujeito e com a
aprendizagem poderá ser determinante na reconstrução do processo de aprender.
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Capítulo 3 OS ENCAMINHAMENTOS
Algumas Considerações
Caro(a) pós-graduando(a), neste capítulo você pode conhecer um pouco mais
sobre a questão da individualidade dos sujeitos e sua forma de aprender. Também
foi possível refletir sobre a prática pedagógica a ser construída a partir do laudo
feito por profissional da área da medicina ou saúde, bem como a importância de
acreditar no sujeito como eixo central para possibilitar a reconstrução do processo
de aprender.
ReFerencias
BRASIL. Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de
20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L9394.htm>. Acesso em: 14 ago. 2012.
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
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C APÍTULO 4
Implicações dos Laudos para
o Contexto Educacional
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
ContextualiZação
Ultimamente venho sendo consumidor forçado de drágeas,
comprimidos, cápsulas e pomadas que me levaram a
meditar na misteriosa relação entre a doença e o remédio.
... Ninguém sai de uma farmácia sem ter comprado, no
mínimo, cinco medicamentos prescritos pelo médico, pelo
vizinho ou por ele mesmo, cliente. Ir à farmácia substitui hoje
o saudoso hábito de ir ao cinema ou ao Jardim Botânico.
Antes do trabalho, você tem de passar obrigatoriamente
numa farmácia, e depois do trabalho não se esqueça de
voltar lá. Pode faltar-lhe justamente a droga para fazê-lo
dormir, que é a mais preciosa de todas. A consequente noite
de insônia será consumida no pensamento de que o uso
incessante de remédios vai produzindo o esquecimento
de comprá-los, de modo que a solução seria talvez montar
o nosso próprio laboratório doméstico, para ter à mão, a
tempo e a hora, todos os recursos farmacêuticos de que
pode necessitar o homem, doente ou sadio, pouco importa,
pois todo o sadio é um doente em potencial, ou melhor,
todo ser humano é carente de remédio. Principalmente, de
remédio novo, com embalagem nova, propriedades novas
e novíssima eficácia, ou seja, que se não curar este mal,
conhecido, irá curar outro, de que somos portadores sem
sabê-lo. ... Estou confuso e difuso, e não sei se jogo pela
janela os remédios que médicos, balconistas de farmácia
e amigos dedicados me receitaram, ou se aumento o
sortimento deles com a aquisição de outras fórmulas que
forem aparecendo, enquanto o Ministério da Saúde não as
desaconselhar. E não sei, já agora, se se deve proibir os
remédios ou o homem. Este planeta anda meio inviável.
A epígrafe acima foi escrita no ano de mil novecentos e oitenta, por Carlos
Drummond de Andrade. Intitulada: “O homem e o remédio: Qual o problema?” e
publicada no Jornal do Brasil. O texto abre alguns questionamentos que temos
como meta discutir com você, caro(a) leitor(a).
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Não precisamos fazer muito esforço para pensar esta questão na prática.
Apenas refletiremos sobre nossa sala de aula e os alunos que a compõem.
Se tivermos uma turma de vinte alunos, serão vinte personalidades que agem,
reagem, aprendem e se relacionam de formas distintas. Seria isso um problema?
Ou isso faria parte do caráter da pessoa? Muitas vezes, essas reflexões são
feitas no período de entrega de avaliações ou notas de alunos, com o fechamento
dos bimestres ou semestres. Então, acabamos por fazer comparações entre a
aprendizagem deles, tentamos padronizar subjetividades.
Atividade de Estudos:
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Certamente será preciso fazer um recorte histórico para que não tornemos
nossa leitura uma sucessão de datas e acontecimentos que desencadearão o
entendimento da problemática, justamente por acreditarmos que a história não é
apenas isso e não há uma linearidade para essa compreensão.
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
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Para refletir sobre isso, convidamos você para ler um trecho da dissertação
de Maria Helena do Rego Monteiro de Abreu que fala sobre a questão do olhar
do(a) professor(a) frente ao processo de aprendizagem e não aprendizagem do(a)
aluno(a):
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
(FREUD, 2010).
Escolhemos a epígrafe acima para apresentar uma das angústias com a qual
nos deparamos com certa frequência em sala de aula. Essas angústias giram em
torno da prática de “chão de sala”. O que fazer com um(a) aluno(a) que apresenta um
laudo de algum transtorno, distúrbio, deficiência ou dificuldade de aprendizagem?
Quais “equipamentos” precisamos para construir o caminho possibilitador de
aprendizagens para esse(a) aluno(a)? O que a escola poderá fazer nesse caso?
O trabalho com o primeiro ano sempre foi um grande desafio. Aliás todo
novo ano letivo sempre trará novos desafios. Que bom, afinal é com eles que
crescemos e nos desenvolvemos como profissionais e pessoas.
Certamente para saber sobre alguns desses alunos não era possível ir até a
Instituição que haviam estudado no ano anterior, então, no início das atividades
letivas, buscava solicitar aos pais a ficha de avaliação dos anos anteriores e
entregava para eles também uma ficha com a seguinte questão:
“Escreva nas linhas abaixo como foi o desenvolvimento de seu filho (a) do
nascimento até a presente data. Sua escrita deve contemplar: O desenvolvimento
inicial dele: condições de gestação e parto, alimentação, sono, desenvolvimento
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
No ano de 2009 recebi uma turma com trinta alunos, todos muito ativos:
crianças, apenas isso. Dentre eles o Rafael. A mãe de Rafael o trouxe até a sala
de aula e me disse: professora, fica de olho porque ele faz cocô e xixi na calça.
Também ele é muito nervoso, apronta direto, bate nos outros, não me obedece,
mente. Ele não sabe fazer letras e nem o nome. Ele não consegue aprender as
coisas muito rápido. Não sei como vai ser aqui na escola.
Todo professor que no primeiro dia letivo recebe um aluno com essa fala
proferida pela mãe fica assustado. Eu fiquei assustada. Rafael tinha seis anos na
época.
Na ficha desse menino a mãe havia escrito que teve uma boa gestação,
mas que enfrentara problemas conjugais. Porém não se queixou de nada
especificamente em termos pré-natais.
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
De tudo isso que Rafael fazia, havia um caminho. Rafael era apaixonado por
Trens. Consegui desenvolver algumas de suas potencialidades com um trem de
brinquedo, com histórias de trens, textos de diversos gêneros que tratavam desse
assunto, trabalhos na área da matemática com essa temática e, assim, o tempo
foi seguindo com situações de conflitos extremos, mas também de aprendizagem
para todos. Sentia que com o Rafael sua aprendizagem não aconteceria da forma
convencional: quadro, caderno, lápis, professor, aluno.
Rafael levou para casa muitos bilhetes em sua agenda, solicitando a presença
da mãe na escola, a fim de cobrar da família uma postura frente à questão. Todas
as vezes que a família foi chamada à escola era solicitado encaminhamento a
um neurologista. Inicialmente a família apresentava disposição a levar Rafael ao
médico, mas sempre havia uma “desculpa” para o ato não se consumar.
Cada quinze dias a família era chamada na escola. Teve uma vez que eu fiz
um documento, cobrando da Direção da Escola uma postura. Foi uma forma de
registrar a angústia e cobrar das políticas públicas o desfecho para esta história. O
referido documento foi entregue à Secretaria da Educação e, então, foi conseguido
encaminhamento para neurologista, mas apenas para o início do ano seguinte.
Segue o laudo:
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Após o laudo, o Rafael já não era mais o meu aluno. Mesmo assim, o laudo
foi uma conquista para conseguir o segundo professor na turma e, assim, facilitar o
trabalho pedagógico em sala tanto para o professor como para o próprio aluno. Mas,
havia outra questão que implicava o trabalho com Rafael. Não havia uma prática
pronta e aplicável. Era preciso construir uma prática para que ele se desenvolvesse.
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
Muitas vezes, a família não tem conhecimento necessário para buscar seus
direitos quando seus filhos apresentam problemas na escola, e também não tem
conhecimento sobre os seus deveres em torno dessas questões. É importante
haver esses esclarecimentos para que cada um exerça o seu papel da melhor
forma, pensando no desenvolvimento da criança, que é o foco da discussão.
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Chegamos ao final de nosso caderno de estudos e certamente não somos
os mesmos após as leituras e discussões diante de assuntos tão importantes que
vivenciamos nele.
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Capítulo 4 IMPLICAÇÕES DOS LAUDOS PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL
__Me lembrei que ela me olhava como que dizendo: VOCÊ PODE...
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Teoria e prática da neuropsicopedagogia
ReFerencias BibliograFicas
ABREU, Maria Helena do Rego Monteiro de. A medicalização da vida escolar.
2006. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
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