Relatóriofinal v.2 (Ingrid Farias)

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PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÃO JUDAS

FORMULÁRIO QUE ACOMPANHA O RELATÓRIO FINAL – DATA DE


ENTREGA: 02/08/2021

Nome completo do aluno: Ingrid Caroline Siqueira de Farias

Curso: Direito RA: 819223336

e-mail do aluno:[email protected]

Nome completo do Orientador: Gabriel Antônio Silveira Mantelli

Curso em que o orientador leciona: Direito

e-mail do orientador: [email protected]

Título do Relatório Final:

Palavras 1)MFPA 2) 3) política do


Chave: Decolonial esquecimento

Assinatura do Aluno

Assinatura do Orientador
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÃO JUDAS

TÍTULO DO RELATÓRIO FINAL: A POLÍTICA DO ESQUECIMENTO COMO


FALHA NA REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA:
O MOVIMENTO FEMININO PELA ANISTIA EM ANÁLISE DECOLONIAL

Relatório final de pesquisa apresentado à


coordenação da Iniciação Científica da
Universidade São Judas, como requisito
parcial para a conclusão das atividades de
pesquisa.

INGRID CAROLINE SIQUEIRA DE FARIAS


GABRIEL ANTONIO SILVEIRA MANTELLI

SÃO PAULO, 2021


Resumo do Pesquisa

A partir das discussões de poder e suas funções dentro do Estado Democrático de Direito,
pretende-se compreender como o Movimento Feminino pela Anistia figura um símbolo de
resistência contra um sistema autoritário e qual a relação dessa representação com a política do
esquecimento. Para isso, utilizar-se-á o aporte das teorias decoloniais, entrelaçando-o as formas
de governança da época. O objetivo é entender como durante o desenvolvimento da nova
democracia foram criadas políticas de esquecimento, tanto com as práticas autorizadas pelo
Estado quanto pelos movimentos de resistência, com um objetivo específico. Para tanto, a
análise recairá sobre a Lei da Anistia (Lei nº 6.683/1979) a fim de esclarecer a partir da norma,
ou seja, no contexto fático jurídico, como os mecanismos mencionados se firmaram. A
colonialidade forma o novo Estado democrático de Direito e durante a construção e lutas do
MFPA é possível observar os efeitos dos mecanismos de poder que foram mantidos e
continuaram inabaláveis sendo responsáveis, dentre outros fatores, para que a transição não seja
de fato uma redemocratização do sistema, mas sim uma nova roupagem democrática que
mascara instituições de poder coloniais e por sequência, autoritárias. Dentre os achados da
pesquisa, pretende-se questionar a formação do modelo jurídico-político desse Estado
instaurado e observar como as decisões e memórias daquela época se perpetuam e promovem
consequências até hoje nas instituições democráticas, reprimindo sempre aqueles intitulados
como marginalizados que não fazem parte da cultura do homem branco, é o maior objetivo da
discussão.
Introdução/justificativa

“Imagine um país que ganhou o seu nome de uma árvore, Pau- Brasil. Sua tinta
vermelha a levou a beira da extinção, só ficou o nome. Onde mais escravos morriam
do que nasciam, era mais barato importar outro da África. Onde todas as rebeliões
foram brutalmente esmagadas e a República veio através de um Golpe Militar. Um
país que depois de 21 anos de Ditadura reestabeleceu sua Democracia e se tornou uma
inspiração para muitas partes do Mundo. Parecia que o Brasil tinha quebrado a sua
maldição, mas aqui estamos, com uma presidente destituída, um presidente preso e o
país avançando rapidamente rumo ao seu passado autoritário. Hoje enquanto sinto o
chão se abrir embaixo dos meus pés, temo que a nossa democracia tenha sido apenas
um sonho efêmero”

Muitas coisas se alteraram desde 2019, quando esse texto foi publicado. A lembrança de uma
presidenta destituída se tornou temporária. O presidente preso foi solto e já não mais nos
encontramos rumo a um caminho autoritário. Agora estamos na linha de chegada. Texto que
introduz o filme “Democracia em Vertigem” de Petra Costa (2019) elucida de forma muito
clara o que pretendo trazer no presente trabalho de pesquisa: o nosso passado manchado de
vermelho sangue que não gosta de ser rememorado, mas que independente disso continua a
ecoar a cada dia de forma mais expressiva. É nesse sentido que o presente trabalho tem a
expectativa de recontar uma história. O Brasil não ficou famoso por ser um bom contador de
suas próprias histórias. Desde pequenos, logo no primeiro ano do ensino fundamental
aprendemos que existem alguns tipos de narrador. O primeiro é o que se propõe ser o
personagem, que participa ativamente da história como integrante dela. O segundo narrador é
observador, que apenas pretende narrar os fatos sem nenhuma interferência a partir de uma
perspectiva neutra. O terceiro e último tipo de narrador é onisciente que pretende ser Deus da
história, ele conhece todos os elementos internos e externos da narrativa propondo-se a contá-
los ao leitor de forma fiel. Dado ao que se propões discutir, o Brasil foi capaz de criar um novo
tipo de narrativa, com todos os elementos em jogo ele preferiu contar uma única versão, a sua
versão, a versão deles, a versão do Estado Soberano. Toda e qualquer narração que se difere é
a desviante. Quero nesse trabalho então ser digressiva caros leitores. A versão feminina em sua
essência é a subversiva.

A memória de poder no Brasil é antiga, e ela se inicia em 1500 com a invasão às terras de
Abya Yala (ALMEIDA; MANTELLI, 2021). Tem seu turno marcado pela invasão as terras
latino-americanas empunhando a ferro a centralidade do saber. “A América constitui-se como
o primeiro espaço/tempo de um padrão de poder de vocação mundial e, desse modo e por isso,
como a primeira id-entidade da modernidade”(QUIJANO, 2000, p.117). Esse poder tem cor,
tem raça, tem forma, nacionalidade e endereço. Aqueles que o detinham o impuseram, se
disseminando de forma que a modernidade e por tanto a colonialidade (MIGNOLO, 2017)
trouxe para os países colonizados pela Europa uma hegemonia, um padrão, o eurocêntrico. Essa
autoridade, tão pouco questionada, presumida pré-existente foi titulada pelos próprios
detentores como a mais avançada, aquele que possui o “saber”, firmando dessa maneira além
de um padrão uma superioridade cultural. Conforme Quijano (2013, p. 69):

A incorporação de tão diversas e heterogêneas histórias culturais a um único mundo


dominado pela Europa significou para esse mundo uma configuração cultural,
intelectual, em suma intersubjetiva, equivalente à articulação de todas as formas de
controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. Com
efeito, todas as experiências, histórias, recursos e produtos culturais terminaram
também articulados numa só ordem cultural global em torno da hegemonia europeia
ou ocidental. (QUIJANO, 2013, p.69)

O conceito de poder não é teorizado sozinho, com ele outros termos pela sua própria
natureza o acompanham, como o de padrão. Alguém que detém o poder retém consigo uma
série de características que os qualificam para ser detentor desse predicado. Não
necessariamente esses adjetivos se formam com espontaneidade. No caso de um mundo
globalizado essa característica é marcada por aquele que detém capital.

Segundo Souza Junior e Fonseca (2017), a colonialidade do poder se expressa na


universalização, ou seja, padronização do modelo de organização social do Estado-nação
moderno, que possibilitou a expansão do sistema econômico capitalista. A estrutura de poder
mantido pelo Brasil não foi de ruptura dos marcos coloniais, adverso disso, se esforçou para
garantir a lógica desse discurso, concentrando o poder em um grupo específico de pessoas,
perpetuando a exclusão social, de raça e etnia validando a ideologia de inferiorizarão. Como
um belo padrão ele se repete e mostra evidente a sua forma de controle a partir da coerção. A
única coisa que pode fazer a autoridade é obrigar, ou persuadir, os indivíduos a submeter-se a
essas relações e a esse sentido geral do movimento da sociedade que os habita (QUIJANO,
2013).

Essa identidade nacional construída por eles e mantida por nós é um elemento que serve
ao controle de grupos sociais que representam uma ameaça à estrutura hegemônica de poder e
que, para se manter, produz silenciamentos e massacres de qualquer identidade considerada
“diversa” da propagada como a única possível. (SOUSA JUNIOR; FONSECA, 2017, p.2884
apud LACERDA, 2014, p. 57). Essa afirmação exemplifica claramente como decorreu as
relações de poder no período da Ditadura Militar, mostrando como a figura do pensamento
contrário a hegemonia ideológica, política e social foi procurada, torturada e linchada com o
objetivo de ser exterminada. Dia 1º de abril de 1964, o dia que durou 21 anos, tendo seu fim
no ano de 1985. Período marcado pelo autoritarismo, centralização do poder, hierarquização,
repressão e violação dos direitos humanos, civis, políticos e constitucionais. Quando recortamos
essa análise para a figura da mulher nesse período percebemos que as violações ultrapassam
suas intenções para uma questão de gênero, de forma que subversivos já eram penalizados se
fossem mulheres subversivas a repressão e violação atingia um novo patamar, de penalização
por ser mulher e por não seguir as ordens do Estado autoritário. (COLLING; JUNIOR, 2019).

Para que todas essas colisões de narrativas sejam elucidas, permita-me voltar anos antes
desse período histórico para explicar como a figura feminina era vista e representada durante
os anos dourados (década de 50 e 60) para que possamos entender de que local, sociedade e
época estamos tratando. Tal regressão é de fato importante para que possa se chegar à conclusão
final de que o ato da mulher se emancipar é um ato democrático e que foi de extrema
importância para instaurar um Estado Democrático de Direito.

Os anos dourados no Brasil, mostram como o ideário do que era ser uma mulher
brasileira carrega uma herança do Brasil Colônia. Apesar das grandes modernizações ao mundo
industrial e operário, trazendo avanços nas conquistas das mulheres, o embate ainda se via
nitidamente claro, afirmando que esse não era o lugar da mulher, mas sim o do homem. Nesse
sentido, esclarece Carla Pinsky (2015):

Na família modelo dessa época, os homens tinham autoridade e poder sobre as


mulheres e eram os responsáveis pelo sustento da esposa e dos filhos. A mulher ideal
era definida a partir dos papéis femininos tradicionais – ocupações domésticas e o
cuidado dos filhos e do marido – e das características próprias da feminilidade, como
instinto materno, pureza, resignação e doçura. Na prática, a moralidade favorecia as
experiências sexuais masculinas enquanto procurava restringir a sexualidade feminina
aos parâmetros do casamento convencional. (PINSKY, 2015, p. 608-609)

Como hoje, naquela época os veículos midiáticos tiveram uma atuação grandiosa na
legitimação desse papel e permanência dos status quo trazendo em suas colunas e jornais as
formas de promoção “dos valores de classe, raça e gênero dominantes de sua época”
(BASSANEZI, 2004, p.509). Entende-se que esse imaginário não é uma marca dos anos 50 ou
60, mas sim iniciados em 1500, quando começa o projeto da colonização brasileira e
posteriormente da modernização.
Para compreendermos essas relações de dominação e submissão em que o corpo da
mulher foi alocado, é necessário entender que a colonialidade do poder teorizada por Quijano
(2000) trata sobre relações conflituosas em que há uma hierarquização dos papéis pautados na
ideia de raça e gênero. O poder está estruturado em formas de dominação, exploração e conflitos
entre figuras sociais, que exercem controle sobre 4 eixos essenciais para a vida humana, que
são “sexo, trabalho, autoridade coletiva e subjetividade/intersubjetividade, e recursos e
produtos” (apud LUGONS,2008). O poder, ainda, está inserido dentro de um sistema capitalista
e portando um poder capitalista, que faz ligação com outras duas esferas: a colonialidade do
poder e a modernidade. Essas por sua vez, são responsáveis pelas disputas de controle de cada
segmento da vida humana. Dessa forma, as lutas que marcam o controle do “acesso sexual, seus
recursos e produtos” (QUIJANO 2001 apud LUGONS,2008) irão definir a esfera de
sexo/gênero e, portanto, estabelecer os padrões e regras que favorecem o controle das vidas e
dos corpos. Quem detém esse controle em uma sociedade marcada pelos ensinamentos da
colônia é o homem branco, que na sua figura centraliza as narrativas e poder. Na mesma linha,
ressalta Teles (1993) que:

No Brasil colônia, as índias, as negras e as brancas, cada uma com a sua


especificidade, foram exploradas pelos colonizadores e pela população masculina.
Ingenuamente serviram ao pai, ao patrão e ao marido, manipuladas pela Igreja.
Ocuparam um lugar secundário na incipiente sociedade brasileira da qual foram desde
o início, excluídas. Não sem rebeldia e resistência: as mulheres negras, com ações
coletivas; e as brancas, quase sempre individualmente. (TELES, 1993, p. 17-18)

Entendendo essas relações de poder e suas implicações, podemos compreender melhor


o momento de quebra à norma padrão feminina estabelecida, essa última mantida
sistematicamente pelo Estado que não rompe com os marcos colônias de exploração ao corpo
da mulher, mas que ao decorrer da história insistiu em perpetuá-los. Sobre isso, entende-se que
pensar o controle sobre o corpo da mulher a partir do poder coercitivo do Estado aborda-se não
somente de leis ou normas que regulam seu ser, mas toda a constituição do que significa ser um
Estado, então nas relações econômicas, na sua filiação com suas igrejas, em seu (não)
desamarro com as percepções da mulher (BASSANEZI, 2004). Isso significa que o comando
não é emanado a partir de um único veículo, mas sim intencionalmente articulado sobre a soma
de todos que constroem o papel social indicando o que uma mulher deveria ser. Visto isso, a
questão paira em entender como mulheres que mecanicamente são reprimidas surgem liderando
movimentos em que a voz feminina prevalece, para contestar o Estado em meio a Ditadura
Militar lutando para a instauração de um Regime Democrático de Direito. É sobre isso que
passo a tratar a partir de agora.
Tudo começou antes de 1975. Esse é o começo do título de um texto escrito por Annete
Goldeberg (1989) com o fim de explicar que a movimentação dessas mulheres não se inicia ao
final da Ditadura Militar, mas sim dentro do processo brasileiro de modernização e criação de
emancipação do imaginário. Na mesma linha, a autora Cynthia Sarti (1998) entende que mesmo
havendo uma junção de fatores para ascensão da luta feminina nesse período “o feminismo no
Brasil surge como consequência da resistência das mulheres à ditadura militar, depois da derrota
da luta armada e no sentido da elaboração política e pessoal desta derrota”.
Dentro do processo de criação do feminismo e da liberação das mulheres no Brasil
Goldberg (1989), em comparação com as figuras europeias e norte americanas ( que ampliaram
os debates sociais de forma articulada e acadêmica, produzindo reflexões mais profundas de
autoconsciência sobre a questão de gênero ) percebe que dentro do processo de modernização
e ascensão política autoritária no Brasil
(i) criou limitações para ascensão dos movimentos feministas que já eram
observados em sociedades liberais em mulheres que se encontravam na mesma
classe social com processos individuais muitos semelhantes
(ii) (ii) institucionaliza-se com o Ato Institucional nº5 formalizando as ameaças aos
direitos sociais, civis e políticos, fazendo com que houvesse a associação das
mulheres à esquerda brasileira, que por sua vez era composta por homens e
mulheres que juntos puderam desenvolver um feminismo “bom” para o Brasil,
esse foi consolidado em 1975 com os vários movimentos contrarregime ,
incluindo o MFPA e;
(iii) (iii) estimula a inexistência de um movimento para a liberação das mulheres no
Brasil,
Essas implicações são capazes de explicar basicamente duas coisas. A primeira é a
complexa relação estabelecida entre a área de “pesquisa sobre a mulher “, o Estado, a esquerda
e o movimento feminista que em diversos momentos não se convergiam por perceberem que a
mulher em todos esses espaços não foi considerada como uma figura autônoma capaz de ocupar
lugares de representatividade na esfera política, mas sim de forma subsidiária. Segundo a
inexistência de estudos propriamente feministas (enquanto ensino de pesquisa) até a abertura
(redemocratização).

Em contrapartida a autora Ana Rita Fonteles Duarte (2005) explica que outros 3 fatores
são importantes para entendermos a conquista de espaço dessas mulheres, sendo eles: (i) O
plano de fundo: O cenário da construção de gênero relevante do período; (ii) A ideia de que a
luta da mulher passa ser uma luta geral; (iii) resposta teórica de mecanismos criados por regimes
autoritários. Analisando o último ponto levantado, podemos dizer que de acordo com Capdevila
(2001), as ditaduras pela sua natureza autoritária em que ocorre a quebra dos instrumentos de
interlocução entre o Estado e a sociedade, faz com que surjam novos protagonistas,
responsáveis por restabelecer essas ferramentas. Essa nova forma, instaurada pelo regime não
se valem mais as hierarquias institucionais, sexo, idade e títulos, por mais que eles ainda
existam, ocorre uma ruptura no foco das lutas que antes eram difusas, agora são concentradas
na figura do Estado.
Dentro desse processo, da construção do novo imaginário das mulheres brasileiras,
percebe-se que as violações a elas se dão por um fator comum, propiciando a fomentação da
consciência do coletivo e do seu estado perante a sociedade, ou seja, levando em conta as diárias
opressões impostas ao corpo da mulher, entendeu-se que, para além das repressões individuais
a sua existência, havia as mesmas violações com todas as mulheres, em níveis diferentes de
reprimenda, mas ocorriam. Dessa forma, a resistência deveria surgir de um espaço coletivo.
Ultrapassando essa ideia, a importância se revela ao entender que o surgimento de um
movimento de mulheres que se unem pelo coletivo e posteriormente pela consolidação de um
lugar democrático, criando a autonomia de corpo e mente da mulher está diretamente ligado em
viver e em existir um regime democrático. Nesse sentido:

Os pequenos grupos de autoconsciência representam por si só um micro experimento


social de tipo utópico, onde as participantes, já poderiam ir pondo em prática uma
alternativa existencial num lugar de individualização e singularização, ter um espaço
de liberdade, democracia, pluralismo e autonomia e autonomia, nos qual seriam
desenvolvidas práticas solidárias de irmandade (GOLDBERG,1989, p.9)

Portanto, mostrar que os movimentos de libertação da mulher não são iniciados em


1975, com o ano internacional da mulher, mas sim com o desenvolvimento do projeto que foi
a liberação da mulher ou o feminismo no Brasil, e crucial para entender que o objetivo se revela
em mostrar como as ideias de liberdade e democracia, intrínsecas dessa movimentação, são
capazes de surgir em momentos de “infusão do processo político nacional: O golpe militar de
1964 e o endurecimento da ditadura trazido em 1968.” (GOLDEBERG 1986) e inaugurar novos
períodos históricos, na tentativa de se livrar das amarras da colônia ainda que de forma não
pensada.
O Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) foi o primeiro Movimento em prol da
Anistia pelos perseguidos políticos, organizado por mulheres inicialmente paulistanas em busca
da anistia ampla e geral (nas palavras da líder, Terezinha Zerbine, fundadora do Movimento,
era um compromisso das mulheres com a paz, o manifesto era a “forma pela qual a mulher
assumiria as suas responsabilidades de cidadã, participando da vida política nacional”.
(PAULA, 2016). Criado em março de 1975 em São Paulo, lutava contra o regime da Ditadura
Militar instaurado em 1964. A origem dessa interlocução tem início antes de 1975, como já
suscitado anteriormente, começando pela junção de mulheres mães que formam uma comissão
para a libertação de seus filhos presos em Ibiúna em 1968, nascendo assim, mesmo que de
forma incipiente, o movimento de mulheres contra a anistia.

O Movimento esteve na linha de frente de manifestações e campanhas a favor


da anistia e na defesa aberta dos presos políticos, na sua luta por melhores condições
de vida, nas cadeias e presídios, além de dar aporte jurídico e apoio a familiares, na
peregrinação em busca de parentes desaparecidos ou presos (DUARTE, 2009,p.11)

Esse novo coletivo elucida um símbolo de resistência protagonizado por mulheres que
meio a repressão faz surgir a revolução. A visão de um corpo não político, incapaz de lutar e
reivindicar, mas sim, passível de obedecer, se altera, e por essa concepção a mulher foi
considerada uma figura duplamente subversiva, primeiro por ser quem ela é e segundo pelo que
ela faz. (COLLING; JUNIOR, 2019). Essa ruptura do imaginário criado pela estrutura colonial
começa a surgir dentro das casas, dos bairros, das reuniões, dentro das reivindicações dessas
mulheres que percebem que sua dor não é individual, mas sim compartilhada e mecanicamente
repetida entre elas. Durante a luta feminina, foi perceptível a criação de uma identidade oposta
à ideologia autoritária. Se formou dois polos, criou-se aquilo que não se queria ser, uma
identidade em repulsa a aquela que se implantou. Nesse sentido, Paula (2016, p. 70) afirma
que:
Ao tratar de identidade nos movimentos sociais, estamos nos referindo a um processo
que envolve tanto à identificação de seus participantes a mesma causa como ao fato
dessa causa representar resistência a uma lógica de dominação. ( PAULA, 2016, p.70)

Com a mobilização de mães esposas, amigas, parentes que possuíam laços próximos
aos mortos e exilados pela Ditadura o processo emancipatório se inicia. Assim identifica
Goldberg (1989) que a reunião de mulheres, identificadas enquanto um grupo consciente que
lutaria contra as consequências feitas pelo regime ditatorial em um momento de grande
acirramento jurídico político criado pelo AI-5 em 1968 “fizeram-no num empreendimento de
tipo salvador, fazendo valer justamente suas identidades legitimadas e reconhecidas
socialmente de mães, para protestar contra a violência das ações policiais dirigidas contra
estudantes e operários”. Posteriormente, para a organização dessa nova movimentação ocorre
a criação de comissões, reuniões e assembleias que fortaleceram a resistência e a comunicação
entre as integrantes. Com a sua expansão, novas mulheres que não faziam parte do núcleo
familiar ou que era marcado por relações afetivas começam a surgir. Em um primeiro momento
portanto, o que se revelou não foi uma luta a favor da democracia, mas sim uma reivindicação
que transparecia a relação afetiva com os afetados do regime (DUARTE,2007). A participação,
ou seja, a ocupação do espaço das mulheres na política institucional no país foi e ainda é
marcada pelas oligarquias familiares, que se perpetuam no poder (AVELAR, 2001; BLAY,
1981), mas o que não significa sua deslegitimidade. Entende-se que adentrar esses novos
lugares que lhe foram negados (pelo único e exclusivo feito de ser mulher) é um ato
revolucionário, justamente por ser conquistado pelo mesmo fato que fez com que ela se
afastasse desse local, ou seja, suas relações afetivas a nível privado e familiar, elucidando ainda
mais a razão de ser um ato emancipatório. Sobre isso que se trata os jogos dos gêneros entendida
por Butler (2003) como performance de gênero, em que a mulher, entendendo o espaço
designado a ela por terceiros, instrumentaliza-o para ser utilizado ao seu favor, para conquistar
espaço, fala, respeito e protagonizar a luta que até então tinha a figura masculina como centro
de poder. Na mesma linha Ana Rita Fonteles Duarte explica que:
As mulheres, pouco presentes no espaço político, fazem a interface entre o
privado e o público, em contato direto com o agressor. Acabam saindo da defesa
exclusiva do lar e passam a liderar
movimentos de defesa coletiva,o que demanda ação política maior: a metamorfose
de uma reivindicação arcaica em movimento de protesto moderno. (DUARTE,2009,
p.23)

Dessa forma podemos observar o primeiro movimento de transformação que “marcou


para essas mulheres a saída do isolamento doméstico e a entrada como sujeitos políticos no
espaço público” (OLIVEIRA,1990; SADER 1998). Antes vista como figura central para o
mundo privado que se restringia a afazeres domésticos e papéis marcados de como se vestir, se
portar, de falar e de ser, agora mesmo que de forma incipiente passa ter voz e representar algo
maior, a liberdade. Essa mudança, indica a alteração de uma reivindicação milenar em uma
reivindicação moderna e integrada por todos, visto que antes a luta era pautada pelo
reconhecimento como cidadã e pessoa que integrava um campo social e por isso ter o direito de
ser representada e reconhecida, passa a ser uma necessidade geral em que todos, homens e
mulheres, das mais diversas peculiaridades a frente de uma ditadura necessitam.

Nós, mulheres brasileiras, neste ano Internacional da Mulher, assumimos nossas


responsabilidades de cidadã no quadro político nacional. Através da História,
provamos o espírito solidário da mulher fortalecendo aspirações de amor e justiça. Eis
porque, neste ano Internacional da Mulher, nós nos antepomos aos destinos da nação,
que só cumprirá sua finalidade de paz, se for concedida a Anistia ampla e geral a todos
aqueles que foram atingidos pelos atos de exceção. Conclamamos todas as mulheres,
no sentido de se unirem a este movimento, procurando apoio de todos quantos se
identifiquem com a ideia de necessidade imperiosa da Anistia, tendo em vista um dos
objetivos nacionais: a unidade da nação

Esse trecho faz parte do Manifesto da Mulher Brasileira, escrito por Therezinha Zerbini,
que transcorreu todo o território brasileiro, “de norte a sul, com adesão de estudantes,
advogados e outros profissionais liberais, mães de família e trabalhadoras” (TELES,1993, p.
82) inaugurando o Movimento Feminino pela Anistia. O Ano Internacional da Mulher,
promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), marca o início formal do Movimento.
É notório a importância da organização dentro do reconhecimento do Movimento das mulheres,
tanto com a visibilidade quanto com a legitimidade da ação. Como explica Sarti (1998):

O reconhecimento oficial pela ONU da questão da mulher como problema social


favoreceu a criação de uma fachada para um movimento social que ainda atuava nos
bastidores da clandestinidade, abrindo espaço para a formação de grupos políticos de
mulheres que passaram a existir abertamente, como o Brasil Mulher, Nós Mulheres,
o Movimento Feminino pela Anistia, citando apenas os de São Paulo. (SARTI, 1998,
p. 5)

De acordo com Maria Almeida Teles (1993) Como a repressão política ocorria nas
fábricas e sindicatos, onde a vigilância do Estado era mais ativa, as periferias se mostram
espaços de resistência, essa estimulada pelas próprias mulheres que viviam nesses bairros. Essa
perspectiva desmistifica o fato de que só mulheres intelectuais, formadas, acadêmicas e
profissionais se integraram na luta contra o regime. A resistência operou em diversos locais e
momentos, sendo suscitada não só pela classe média, mas pelas classes inferiores também.
Essas mulheres, mencionavam o “governo distante do povo” durante suas reuniões de tricô,
onde conseguiam debater sobre os assuntos políticos, sanitários, econômicos e políticas de
educação, mesmo que de forma incipiente, concluindo que o Estado não era capaz de atender
suas necessidades, sendo então reivindicadoras ativas dentro dos bairros e reuniões,
aumentando o ingresso de mulheres no MFPA. No mesmo sentido ressalta Sarti (1998) que:

A ampla bibliografia sobre o assunto já apontou as especificidades do feminismo


brasileiro, nascido neste contexto. Iniciado nas camadas médias, o feminismo brasileiro,
que se chamava de movimento de mulheres, pela sua pluralidade, expandiu-se através
de uma articulação peculiar com as camadas populares e suas organizações de bairro,
constituindo-se num movimento intercalasses (apud Schmink, 1981)

A ONU na visão da autora, foi um “excelente instrumento legal para fazer algo público,
fora dos pequenos círculos das ações clandestinas”. Para Moraes (1985) o Ano internacional da
Mulher foi:
Um ponto de referência fundamental para a compreensão do movimento de mulheres
brasileiras por ter propiciado um espaço de discussão e organização numa conjuntura
política marcada pelo cerceamento das liberdades democráticas. (MORAES, 1985, p.
71)

Apesar da grande importância da organização em viabilizar e expandir o Movimento,


principalmente por se tratar de um período de exceção é interessante pensar como organizações
internacionais surgem com um papel de legitimação e porque é necessária essa ação de outorga
aos Movimentos sociais e nesse caso o Feminino.
Por ser intitulado como um movimento feminino, composto somente por mulheres, os
primeiros debates sobre o que se constituía sua formação começam a surgir, divergindo entre a
luta de mulheres que buscavam paz, justiça e liberdade e a luta de mulheres feministas que
buscavam sua libertação das amarras e estigmas. Isso, para entender qual era o objetivo final
que essas mulheres almejavam, resultando em duas opções: o MFPA era uma luta feminista, ou
não, integrava somente uma luta pela democracia. Duarte (2007) traz o debate sobre a temática
relatando os principais autores: Para Moraes (1990) Zerbini (fundadora do MFPA) “nunca
disfarçou a pouca importância concedida à luta feminista”, Para Pinto (2003) havia de fato um
embate entre a luta feminista e as ideias do movimento, Já Goldberg (1987) acredita que houve
uma diluição entre os movimentos femininos pelo forte peso que carregava o termo na época
as mulheres do MFPA, portanto declarava que não se vinculava a essa luta. A autora Rita
Fontenele, acredita que esse debate limita as intenções do MFPA. Em compasso com a última
autora, entendo que o ponto focal da discussão não pode se limitar a entender que de fato trata-
se de um movimento feminista ou um movimento democrático, as atenções devem se voltar a
evidenciar que o grupo foi uma mobilização de mulheres contra a ordem de um Estado
autoritário.
A marca da luta dessas mulheres era pela prática da cidadania, ter direito a inserção
sociopolítica na sociedade e especificamente naquele momento, para que não só elas, mas
também a todos que lhe foram tirados pela Ditadura, como os presos políticos. A declaração
dos Direitos Humanos e seus decretos apesar de serem criados em 1948 ganharam grande
visibilidade em 1970 com o surgimento de acordos internacionais. O discurso dessas mulheres,
pela luta de seus direitos foi de extrema importância para a consolidação dos Direitos Humanos
aqui no Brasil, tornando-se uma forma de consolidação e representação. Era utilizado como a
principal defesa a Liberdade, que foi exterminada no regime militar. Além dessas, as mulheres
que ocuparam cargo de administradoras de movimentos sociais da oposição como Elizabeth
Teixeira existem diversas outras mulheres que lutaram pelo seu espaço e não recebem o devido
reconhecimento. O movimento feminista não foi o único a lutar por aquilo que deveria ser seu
de direito, durante o período outros grupos sociais, como negros, homossexuais e indígenas
firmaram suas guerras.

Em meio a essas constatações por mim feitas até agora, chego à pergunta tema do
presente trabalho, que é entender qual é a relação da representação feminina exercida pelo
MFPA com a política do esquecimento? Bom, a resposta será desmembrada em alguns tópicos,
mas já antecipo que o Movimento Feminino pela Anistia, entendido aqui por um movimento
em sua essência democrático não é rememorado, assim como como os episódios que passam
na ditadura também não o são e o nosso exemplo mais cabal é a própria lei de anistia (nº
6.683/1979) que até hoje não faz questão de ser ressignificada e repensada. Isto significa que ,
nós não rememoramos nossos episódios sombrios que constituem a Ditadura Militar Brasileira,
quase admitindo que ele nem existiu, e não rememoramos a história de mulheres que em meio
a repressão criam o próprio conceito de democracia dentro de um Movimento, porque ele
simboliza o caminho subversivo . O que estamos deixando passar? Acredito que a resposta seja
a política do esquecimento. Que para além de não lembrar implica nessa ação de forma repetida
e sistematizada. Implica em negar as mortes, não se responsabilizar por elas e fingir que elas
nunca ocorreram. Implicam em nunca saber qual foi de fato a verdade por mais que já tenhamos
instaurado uma comissão para que ela viesse à tona. Implicam, na saudação ao torturador Carlos
Alberto Brilhante Ustra, pelo atual Presidente da República. Temos deixados passar nossas
heranças coloniais.

Para que todas essas questões sejam identificadas, primeiro é importante compreender
o que entendemos como memória e quais são as acepções cientificas que circundam esse termo.

Os estudos sobre a Memória foram iniciados por volta do século XIX, e nesse primeiro
momento, eram preocupações da Filosofia e Psicologia. Lembrar, aqui, era entendido e
estudado de forma individualizada, isto é, o ato e capacidade de um ser humano lembrar e criar
memórias. Com os estudos de Maurice Halbwachs, a memória começa a ser entendida como
um elemento coletivo que transpassa a vivência de apenas um ser para ocupar e influenciar
ambientes maiores e mais amplos. Nas palavras de Enzo Bello e Eric Conceição (2017)
“Halbwachs (1991) identifica na memória um processo social de reconstrução do passado
vivido e experimentado por determinado grupo, comunidade ou sociedade.” (p.82). Na busca
de expandir esses entendimentos, criou-se as “teorias Políticas da memória” contendo uma
linguagem marxista em que a ideia principal, assim como de Marx, eram que as memórias
estavam sujeitas as relações de dominação imperantes na sociedade de classes, surge então
como uma “ delimitação da memória como instrumento de dominação pelos regimes políticos”
(BELLO; CONCEIÇÃO, 2017, p.83). O autor mais conhecido dessa vertente é Eric Hobsbawm
(2012), entende em sua concepção de memória que essa é fruto de uma narrativa divulgada pela
esfera política que vende a memória oficial, entendendo que toda e qualquer que destoe dessa
não é válida ou constituída como memória. As nossas memórias coletivas, ou seja, aqueles que
surgem a partir da interlocução com a sociedade e história, são memórias “inventadas”, isso
porque elas surgem de narrativas controladas e manipuladas que não correspondem com o que
ocorre no plano real. Continuando nossa trajetória para entender a que memória buscamos, a
abordagem da memória popular é essencial para compreenderemos que não podemos negar as
memórias não oficiais. E nesse sentido o conceito de contra memória (FOUCAULT,1966)
marca de forma clara as divergentes e múltiplas memórias que instauram novas narrativas as
hegemônicas. De acordo com Lizete Quelha de Souza (2012):

Na realidade, se o conceito da memória considerada oficial tem relação com a história


linear, a contra memoria, por sua vez, faz-se compreender pela leitura da história
descontínua e das memórias múltiplas e singulares, ou seja, enquanto a leitura da
memória hegemônica busca uma continuação lógica de eventos e uma espécie de
registro linear dos indivíduos, apontando para a considerada memória coletiva que o
tempo preservou, a perspectiva foucaultiana, em sua genealogia, problematiza-se nas
descontinuidades e nas fissuras que a história traz, de forma que se realçam aqui as
diferenças entre as pessoas, sem que se virem as costas para discussões mais
marginais, tais como a sexualidade e a loucura (SOUZA, 2012, p. 82)

Portanto inexiste uma verdade única, o que torna a disputa pela memória “um cenário
típico e dicotômico da resistência e negociação de significados” (SOUZA, pag. 84). Desse
modo estimular a produção de contra memória é reconstruir as representações do pretérito que
foram sistematicamente silenciadas e marginalizadas por destoarem daquelas denominadas
como oficiais.

Ao passo que as memórias visam reconstruir e ressignificar as histórias do passado


visando diferentes projeções no futuro a Política do esquecimento “é uma das principais
ferramentas utilizadas pela elite para manter a aparência democrática desse regime autoritário”
(MONTARDO; MARIA, p. 7). Estudamos a política do esquecimento porque a não memória
política e coletiva ao período ditatorial acarreta grandes consequências para a nossa efêmera
democracia. Em 2020 tivemos uma manifestação pró-intervenção militar em frente ao quartel
general do Exército. No mesmo ano temos a Nota de um General dizendo que o cumprimento
da lei pode “comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis
para a estabilidade nacional” .Em 2021, Deputado eleito democraticamente faz um vídeo
defendendo a instituição do Ato Institucional nº5 e pede pela destituição do Supremo Tribunal
Federal (nosso poder judiciário). Mais recentemente houve a seguinte declaração “ Ou fazemos
eleições limpas no Brasil (refere-se ao voto impresso) ou não temos eleições em 2022,
proferidos pelo Presidente da República que também foi eleito democraticamente. Esses fatos
demonstram com clareza o que Connerton (1999) explica que “ as nossas experiências do
presente dependem, em grande medida do conhecimento que temos do passado e que as nossas
imagens do passado servem para legitimar a ordem vigente” (p.4).

Conforme as discussões de Ansara (2012) os processos de imposição de poder que


ocorrem por meio da repressão e violência constituem a Colonialidade do Poder e nesse sentido
a política do esquecimento, para além de somente esquecer, ou não rememorar, é utilizada como
ferramenta de propagação da matriz colonial. Quando estudamos a memória coletiva e nesse
momento política da repressão no Brasil é possível entender essa relação entre colonialidade
do poder e potencial de esquecimento como forma de apagar o passado, mostrando que ao longo
do processo de redemocratização brasileira as estratégias utilizadas culminaram em uma
existência de uma memória oficial e um descarte as confrontosas. A consequência dessa ação é
literalmente o esquecimento de determinados eventos políticos com por exemplo o MFPA e
toda a luta feminina da época, desde a luta armada até os clubes de tricô em que as ideias do
regime eram contestadas e debatidas. Nas palavras da autora, os acontecimentos repressivos
tendo gerado uma esfera de normalidade, a ponto de muitos brasileiros desconhecerem os fatos
e efeitos da ditadura militar no Brasil. (ANSARA, 2012, p. 301).

Entende-se, portanto a necessidade das políticas de memória frente as políticas do


esquecimento. O termo política aqui pode ser entendido conforme os escritos de Ranciére
(1996) que difere da ideia de consenso. De acordo com Jacques Rancière, o conceito nasce em
Atenas, baseando-se na ligação entre a polis, a cidade e a mediação da organização social. “A
política, portanto, é a forma de lidar com o que está no cerne dessa organização social, o
desentendimento”(CUNHA, 2019). O desentendimento, elemento chave na criação da
organização social e sua mediação, não ocorre pela divergência sobre fatores diferentes, mas a
divergência sobre os mesmos fatores. Dessa forma, o ser político passa de uma mediação
simples que determina contratos para promover justiça, o bem comum, o bem maximizado. O
autor entende as políticas e a própria democracia com uma ideia de dissenso. Esses elementos
não tratam de uma organização, concessão ou negociação de ideias, mas sim um espaço em que
as ideias são opostas e são capazes de coexistir em um mesmo ambiente. Portanto o que se
estabelece como política, na visão do autor é “ o conjunto de atividades que vêm perturbar a
ordem da polícia” ” (apud Rancière, 1996, p.372). Isto é importante porque, assim como o
Movimento Feminino pela Anistia , a ideia de novo nasce dentro do dissenso do que já está
estabelecido (Ditadura Militar) e agora política do esquecimento. A ideia de se construir uma
política de memória como uma forma de concerto a nossa falha na redemocratização e,
portanto, uma falha na nossa democracia atual, parte da necessidade do “conflito para fazer
emergir uma cena pública, na qual se exponha a existência dos dois mundos e se estabeleça
uma relação que só é possível existir se nós fazemos ouvir, entender, enxergar, ou seja, se nos
tornamos visíveis” ( ANSARA, 2012, p. 303).
A promoção de uma política de memória pode ser entendida como uma das formas de
rompimento com os marcos coloniais ou matriz colonial como assevera Mignolo e como uma
maneira de conquistar o direito ao passado. Por mais que não possamos confundir políticas de
memória como políticas de preservação do patrimônio histórico por terem sentidos diferentes
se mostra importante elucidarmos os dispositivos legislativos que asseguram nosso direito ao
passado. Nessa perspectiva jurídica a memória constitui o patrimônio cultural da sociedade, da
mesma forma que temos a memória individual como pertencente a identidade do indivíduo. A
preservação da memória é inclusive um direito estabelecido Na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira […]

Ainda nessa ideia, a ONU declara que a memória coletiva está ligada ao Direito à
Verdade, o que permite que a sociedade tenha conhecimento da sua própria história. “[...] a
preservação de arquivos e de outra documentação alusiva às violações dos direitos humanos é
crucial para assegurar um registo histórico verdadeiro e a preserva o da
memória”(UNRIC,20217) .
A justiça de transição e os estudos delas decorrentes tem assumido um papel muito
importante nas discussões de retomada ao passado histórico brasileiro com o objetivo de
esclarecer as verdades de forma que elas se tornem universais e reconhecidas por toda a
sociedade. Esse, também é a finalidade da Comissão Nacional da Verdade criada no final de
2011 no governo da presidenta Dilma Rousseff. Diversos estudos sobre a Justiça de Transição
têm destacado o papel constitutivo e seletivo do direito e das instituições judiciais e quase
judiciais na construção da memória e no estabelecimento de medidas de justiça relativas às
atrocidades cometidas no passado (TEITEL, MARKOVITS, BOOTH, BILSKY, apud
MCDOWELL, 2010). De acordo com Zilda Lokoi, tratou-se de uma “transição metaforizada”,
indicativa de uma retórica de mudanças (BAUER, 2014, p.153).

É importante perceber os limites dessas comissões e como elas em parte não atingem
seu objetivo indireto de responsabilização dos crimes cometidos, pensando que seu
desenvolvimento ocorreu a partir da Lei da Anistia de 1979 promulgada aqui no Brasil. Não há
de fato um culpado, ou os culpados, não se fala em nomes, pelo contrário, surge a ideia de
perdão pelos crimes políticos, perdão concedido pelo Estado. Sabe-se que Direito não se
confunde com as inúmeras teorizações de justiça, mas, pergunta-se por que ter uma lei
simbólica, que teria um propósito justo se tornar apenas mais um aparato estatal para a exclusão
da sua responsabilidade.

A criação da Lei da Anistia que em sua essência continha outro propósito, promove um
silêncio sobre o período da Ditadura Militar, como já questionado aqui, como se esse episódio
fosse digno apenas de esquecimento. É nessa linha que Martinez (2014) assevera:

[...] considerar a violência ocorrida no período de ditadura militar como algo não dito,
subliminar, por meio de um silêncio oficial do Estado, configura-se como tentativa de
induzimento de um reconhecimento de inexistência de um período histórico,
desconsiderando todas as pessoas que se doaram e deram sua vida na formação da
identidade e da democracia de seu país (MARTINEZ,2014,pag.74 apud ALTMAYER
,2017, pag.5) .

A afirmação de que precisamos voltar ao passado para que possamos entender a situação
atual sociopolítica brasileira é uma necessidade urgente. O processo de anistia, de acordo com
Ricoeur (2010) “Trata-se mesmo de um esquecimento jurídico limitado, embora de vasto
alcance, na medida em que a cessação dos processos equivale a apagar a memória em sua
expressão de atestação e a dizer que nada ocorreu” (p.462). O resgate a memória e aqui no
presente trabalho o resgate a Lei de Anistia visa a recomposição do sentimento de justiça e a
busca pela construção de um Estado Democrático de Direito.

O trabalho de Soraia Ansara é excelente para entendermos os tipos de políticas de


esquecimento que se instalaram na América Latina como um todo depois dos períodos
autoritários, mas mais especificamente no Brasil. Segundo sua classificação temos (i) a
fabricação de consensos ou de memória consensual coletiva (ii) o processo de anistia (iii)
manipulação política e ideológica (iv) queima de arquivos e (v) impunidade.

O primeiro, fabricação de consensos ou de memória consensual coletiva é descrito por


Perrone (2002) é uma estratégia utilizada pelos governos pós-ditatoriais, a fim de recuperação
da harmonia nacional, que busca apagar o passado e promover esquecimento (Ansara, 2012).
A segunda estratégia são os processos de anistia. Processos de anistia proporcional harmonia
social a partir do esquecimento institucional. Isto significa que para além do apagamento
técnico jurídico há um silenciamento da memória. Importante ressaltar que o processo da
política do esquecimento não ocorre apenas um período pós ditadura mas também dentro do
espaço em que Generais comandavam o Brasil. Isso se mostra claro pelo ocultamento dos
assassinatos de presos políticos, pelos corpos que foram tidos como desaparecidos, os supostos
suicídios, balas perdidas etc. Ou seja, esse não saber, a ocultação de informação assim como o
seu não averiguamento está incluso dentro dos feitos da Política do Esquecimento. A
manipulação política e ideológica como terceira estratégia é a forma como essas ocultações
eram feitas com o poder político e midiático centrados nos poderes do estado autoritário. O
quarto, queima de arquivos são fundamentais para que haja uma sustentação da memória oficial
que suprima as outras. Ao final da ditadura muitos arquivos foram queimados, o livro “
Memórias de uma guerra suja” escrito por Claudio Guerra, ex delegado do Departamento de
Ordem Político Social (DOPS) do Espírito Santo elucida como ocorriam, quem foram os
responsáveis e alvos por essas queimas. E por último, mas tão importante quanto os outros
tópicos, a impunidade. Ela é o ponto chave dessa e de muitas outras discussões, porque é ela
que provoca um maior abalo na justiça de transição e na redemocratização brasileira, uma vez
que torturadores e assassinados, generais e militares nunca foram punidos . Perceba que a
responsabilização pelo Estado Brasileiro sobre os crimes praticados durante a ditadura militar
não ecoa para as vítimas secundárias (mortes de confrontos com a polícia e suicídios motivados
pelo regime) e não significam uma punição pelos crimes cometidos enquanto nação, e enquanto
indivíduos. O Brasil justamente fez o caminho contrário homenageando os torturadores do seu
povo. Hoje contabilizamos ao menos 197 lugares públicos que carregam nomes de generais,
são eles: São eles: Humberto Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto
Geisel e João Figueiredo (FOLHAPRESS, 2021)

Pensando nessas estratégias é importante ainda tratar do papel que o judiciário teve para
a política do esquecimento dentro do Regime Militar. Durante todo o processo da ditadura e
posteriormente no período da redemocratização, o papel do Direito é de legitimação, tornar o
discurso válido e vigente, e claramente utilizado nesse período como uma forma de caução. Os
atos institucionais constituíram a forma legal, a prática, escrita e imposta na lei de como esse
poder poderia ter algum tipo de segurança jurídica.

O Ato Institucional número 1, de 9 de abril de 1964, dizia que a “revolução legitima a


si própria” e afastou qualquer possibilidade de o povo influir no destino político do Brasil.
(GABRECHT; PEREIRA; OLIVEIRA, 2005), o que não foi norma necessária para barrar
mulheres que lutavam pela democracia. De acordo com Renato Lemos, comparativamente mais
burocratizada e previsível do que suas congêneres latino-americanas, a ditadura brasileira se
distingue também pela importância que a esfera jurídica veio a assumir nas relações de
dominação política (PAIXÃO; BARBOSA, 2008).

Um dos exemplos da legitimação e, portanto, seu acobertamento foram as cartas de


1967 e de 1969 que excluíam da apreciação do judiciário os atos do comando Supremo da
Revolução. Segundo Paixão e Barbosa (2008) além dos atos praticados diretamente pelo “poder
revolucionário”, as Cartas autoritárias ratificaram e excluíram da apreciação judicial os atos
praticados pelo governo federal com base nos Atos Institucionais e Complementares.

De toda forma, o entendimento é que havia uma grande movimentação do judiciário


em apoiar as decisões do regime e realmente havia essa preocupação para que houvesse
instrumento de poder legitimado como proteção às atrocidades cometidas. O direito também
foi utilizado nas políticas de redemocratização e durante a Justiça de Transição. Aqui é
importante mostrar como essa matéria é uma ferramenta que acompanha um quadro social com
o objetivo de trazer “certezas” de um tempo e como de alguma forma ele relata a história de um
determinado local em um certo período histórico.

Em parte, essas limitações se restringem a política do esquecimento fomentado no


processo de redemocratização brasileiro em sua opção de não memória à ditadura e a às
mulheres que lutaram contra o regime, sendo lembradas, primordialmente pela sua relação
afetiva estabelecida e que determina a mutação indenitárias1. De acordo com Soraia Ansara
(2012)
O estudo da memória política da ditadura militar no Brasil é hoje uma importante
referência para compreensão da cultura política brasileira. Ele se insere no âmbito dos
conflitos violentos vividos nas últimas décadas pela sociedade latino-americana e seu
ulterior processo de democratização

Essas relações são importantes para entender como se faz a memória dessas mulheres
e porque isso se torna um problema quando pensamos na construção de um Estado democrático
de Direito. O Movimento feminino pela anistia, dentre inúmeras formas de resistência que se
criaram durante período, é um exemplo que elucida como a política do esquecimento pode ser

1
De acordo com Hall (2000), esse fenômeno marca o ponto de encontro entre discursos e práticas que tentam nos
interpelar, falar ou convocar para assumir lugares como sujeitos sociais, em discursos determinados, e processos
que produzem subjetividades que nos constroem como sujeitos aos quais se pode falar. Ou seja, o momento em
que os caminhos da vida privada e da vida pública se cruzam registram essa mutação indenitária que cede espaço
para novos lugares de fala e construção
eficaz em não alterar as estruturas autoritárias, deixadas pela colônia, criando consequências
nos frutos democráticos de hoje e na fácil criação de instrumentos que altere essa ordem como
o autoritarismo furtivo. A presente análise, apesar de se restringir ao Movimento feminino pode
ser utilizada/replicada em outros movimentos que lutam contra a herança colonial porque ela
não se foi, o período da redemocratização e a formação do novo Estado de Direito não foi capaz
de promover quebras a essas heranças. O direito, por integrar o campo social da história se vê
responsabilizado em todas as partes desse processo.
Diante do exposto, entende-se que é importante tomar conhecimento das relações de poder
de uma época, e isso significa aspirar suas origens e suas consequências, porque elas tendem a
se reproduzir e de forma direta produzem consequências na atualidade. Se indagar sobre a
estrutura de poder, como ela se mantém, porque a partir dela há a exclusão de determinados
grupos sociais, como esse confronto pode afetar o mundo jurídico, como essas relações se
desenvolveram em um regime autoritário governado por militares e como a sociedade e as
instituições mostrou um resultado alternativo é de extrema importância para a construção de
uma sociedade consciente que repugna esses atos e não pretende reproduzi-los. É preciso
entender problemas, para que se possa resolvê-los.
Objetivos

Por meio da análise da relação jurídica entre a aplicação da norma vigente e a estruturação
histórica do direito, em termos decoloniais, o projeto visa pesquisar e entender a relação entre
as a políticas do esquecimento, a redemocratização brasileira e o Movimento feminino pela
Anistia elucidando em que momento elas se convergem como uma resposta para as falhas no
regime democrático. Em termos específicos, pretende-se:

a. Identificar os marcos da colonialidade dentro do Movimento Feminino pela Anistia e


seu momento posterior de redemocratização;

b. Identificar em que pontos e de que modo o direito acompanha as metamorfoses de uma


sociedade e entender como ocorre o processo da legitimação, a partir da promulgação
da lei da Anistia em 1979;

c. Entender a forma de construção de um poder colonial;


d. Transparecer as lutas enfrentadas pelos grupos de mulheres durante o regime e a
redemocratização;

e. Entender por que a memória da ditadura se manter ativa é tão importante para a
construção de uma sociedade atual;

f. O que é a política do esquecimento e porque ela representa uma falha democrática;

g. Identificar como a Lei de Anistia pode ser uma isenção da responsabilidade do Estado
através da política do esquecimento
h. Entender em que medida as memórias de resistência das mulheres se contrapõem as
memórias oficiais.
Metodologia/Método

O método utilizado pela pesquisa será o do caso alargado (Santos, 1983). É um método
de pesquisa que consegue investigar os pontos mais importantes para que o resultado do estudo
seja atingido. Ele possibilita ter uma maior profundidade de pesquisa e compreensão para além
do caso investigado, já que pode ser observado uma repetição de estruturas de pensamento. De
acordo com Boaventura de Sousa Santos (1983), este método consiste em alargar a
compreensão da realidade através de um caso particular estudado e estendendo as conclusões
desse estudo a casos mais amplos. Desta forma, o método se diferencia do estudo de caso
convencional quando amplia as conclusões da pesquisa alargando os fatos, ao possibilitar
comparar a realidade local com uma outra, em outro lugar, mas com as mesmas condições
sociais, propiciando conclusões mais profundas do caso estudado. É importante ressaltar que a
metodologia não se trata de uma generalização, mas sim de encontrar padrões e elementos
estruturais que se repetem podendo localizar casos não estudados que são semelhantes aos já
estudados. O tipo de abordagem será qualitativa pós-positivista (Prasad) no qual o colonialismo
enquanto estudo faz parte, que questiona as formas padronizadas e tradicionais de estrutura,
resistindo a forma como a modernidade perpetua modelos antigos de ideias principalmente em
relação a colonização dos arranjos sociais e dessa forma consegue trazer vozes que foram
silenciadas durante o processo.

Ademais, a pesquisa se insere no grupo de pesquisa “Núcleo de Direito e


Descolonização”, coordenado pelo Professor Gabriel Antonio Silveira Mantelli. Este grupo de
pesquisa realiza investigações a fim de compreender como os fenômenos do desenvolvimento
e da descolonização interagem com o direito.(MANTELLI; ALMEIDA, 2019). As ideias de
desenvolvimento e descolonização são aqui compreendidas de forma ampla, com a intenção de
englobar tanto os aspectos institucionais desses fenômenos, quanto elaborações teóricas e
epistemológicas que adensem ou problematizem as relações entre direito e sociedade. No caso
deste projeto de pesquisa, a intenção é avançar na compreensão da interação entre a construção
da história e da verdade de um Estado pós-colonial.
Considerações Finais

Me parece que o Brasil tem caminhado, cantado e seguindo a canção. Não sei ao certo
dizer se nossa democracia tenha sido um sonho efêmero, também não sei se ainda é possível
falar em democracia dentro do contexto brasileiro atual. O que posso com certeza afirmar são
os insurgentes, assim como o Movimento Feminino pela Anistia, surgem em meio ao caos das
violações do direito a vida, a dignidade da pessoa humana, dos direitos civis e políticos, para
ascender em espaços que não lhe foram designados e creio ser esse o verdadeiro entendimento
sobre Democracia.

Recapitulando os feitos do MFPA, reúno a um primeiro momento 4 pontos


fundamentais que explicam o porquê de o movimento ser tão importante do ponto de vista
histórico, mas também sob a perspectiva de tentar entender os embates que ocorreram e ainda
ocorrem na Democracia Brasileira. O primeiro deles é a sua constituição ser feita plenamente
por mulheres, como elucidado, mulheres não tinham voz e muito menos espaço político para
suas expressões. Se empoderar de discursos que não foram designados a sua posição, enquanto
papel social da mulher, nos mostra a potencialidade a que me refiro. O MFPA foi um
movimento coletivo, o que nos leva ao segundo ponto: participação social na vida política , um
dos pilares mais fundamentais da democracia. Sua constituição não se limitava a apenas
mulheres letradas e intelectuais de classe média e alta, mas também continha mulheres das
periferias das cidades em que residiam seus núcleos, mulheres brancas, mulheres negras,
mulheres indígenas, mulheres sertanejas, mulheres periféricas, mulheres. Mulheres de classe
alta média e baixa. São elementos que evidenciam a interdisciplinaridade entre classe, raça e
gênero que justamente é o que falta ser pensado na nossa democracia atual e não foi pensando
na nossa redemocratização. Por último destaco como o MFPA foi um ambiente de debate,
produção de ideias, discussão sobre o regime, mas também discussões do que era ser mulher
dentro da sociedade brasileiro e no que isso implicava. Todos esses elementos reunidos e que
caracterizo o movimento, constituído por mulheres, coletividade, alta participação social, local
de desenvolvimento e discussão de ideias são valores que sustentam uma forte democracia e
por isso precisam ser remorados. Precisos praticar políticas de memórias ao tempo e ecos da
Ditadura Militar e também ao nosso passado colonial, só assim poderemos acordar de um sonho
efêmero para uma realidade em que não mais haja homenagem a memória de torturadores.
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